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Estela Funerária de Gouveia (Alfândega da Fé, Bragança)

UNIVERSIDADE DE COIMBRA FACULDADE DE LETRAS FICHEIRO EPIGRÁFICO (Suplemento de «Conimbriga») 102 INSCRIÇÕES 451- 455 DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E ARTES SECÇÃO | INSTITUTO DE ARQUEOLOGIA 2012 ISSN 0870-2004 FICHEIRO EPIGRÁFICO é um suplemento da revista CONIMBRIGA, destinado a divulgar inscrições romanas inéditas de toda a Península Ibérica, que começou a publicar-se em 1982. Dos fascículos 1 a 66, inclusive, fez-se um CD-ROM, no âmbito do Projecto de Culture 2000 intitulado VBI ERAT LVPA, com a colaboração da Universidade de Alcalá de Henares. A partir do fascículo 65, os volumes estão disponíveis no endereço http://www.uc.pt/luc/iarq/documentos_index/icheiro. Publica-se em fascículos de 16 páginas, cuja periodicidade depende da frequência com que forem recebidos os textos. As inscrições são numeradas de forma contínua, de modo a facilitar a preparação de índices, que são publicados no termo de cada série de dez fascículos. Cada «icha» deverá conter indicação, o mais pormenorizada possível, das condições do achado e do actual paradeiro da peça. Far-se-á uma descrição completa do monumento, a leitura interpretada da inscrição e o respectivo comentário paleográico. Será bem-vindo um comentário de integração histórico-onomástica, ainda que breve. Toda a colaboração deve ser dirigida a: Instituto de Arqueologia Secção de Arqueologia | Departamento de História, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Palácio de Sub-Ripas P-3000-395 COIMBRA A publicação deste fascículo só foi possível graças ao patrocínio de: Composto em ADOBE inDesign CS4, Versão 6.0.6 | José Luís Madeira | IA | DHAA | FLUC | UC | 2012 451 ESTELA FUNERÁRIA DE GOUVEIA (ALFÂNDEGA DA FÉ, BRAGANÇA) (Conventus Emeritensis) Estela de cabeceira semicircular, incompleta, de granito rosado de grão médio a ino, trabalhada nas quatro faces. Conserva íntegro o campo epigráico e quase toda a cabeceira, apenas afectada por fractura no topo. Abaixo da cartela não se vislumbra vestígio de qualquer outro registo, pelo que é possível que se completasse com pé sem qualquer lavor, embora convenientemente acabado. Deste modo, a ornamentação da peça cingir-se-ia à cabeceira, na qual tem lugar de destaque, pela sua centralidade, um círculo insculpido contendo motivo ultra-semicircular reduzido a simples linha obtida, pela mesma técnica e com as extremidades marcadas por pontos ligeiramente mais largos e profundos. Este pormenor parece-nos signiicativo na interpretação do elemento ornamental em causa, posicionado na parte superior do espaço deinido pelo círculo e dele equidistante, tanto mais que o seu desenho excede a semicircularidade. Assim, apesar de uma observação supericial, eventualmente respaldada pela sensação de um trabalho de execução pouco minucioso, poder sugerir a iguração de um crescente lunar de pontas invertidas, os elementos invocados parecem-nos concitar a interpretação como torques. A representação deste elemento de prestígio tem paralelo na epigraia transmontana da época romana, como Ficheiro Epigráico, 102 [2012] exemplarmente ilustram peças integráveis no designado tipo Picote.1 A acompanhar a metade inferior do círculo, par de esquadros de extremidades bíidas rebaixados, estando o da direita lateralmente alinhado com a composição principal. Imediatamente abaixo, surge o campo epigráico de formato quadrangular executado em rebaixe. O delineamento de ambos os registos sobre a face da estela denota um trabalho preparatório frouxo, nomeadamente se olharmos à ligeira diferença de largura dos rebordos laterais criados pelo rebaixe da cartela ou ao deslocamento do círculo da cabeceira para a direita em relação ao eixo central da face anterior do suporte. Não obstante, no centro do círculo observase vestígio de um ponto que decerto remeterá para a marcação, prévia à execução biselada, dos elementos circulares, com auxílio de compasso ou de técnica expedita que o substituísse. Lateralmente, apresenta acabamento idêntico ao da face anterior, ao passo que a posterior não recebeu mais que o desbaste realizado em sentido vertical. Algumas mossas afectam as arestas da peça, sendo mais vincadas as que ladeiam o campo epigráico. O desgaste que apresentam indicia danos não recentes. Tanto a perda da parte inferior, como a fractura horizontal da extremidade da cabeceira talvez se devam relacionar com a reutilização como soleira, na ediicação onde foi identiicada. Dessa fase são indubitavelmente os resquícios de alcatrão observáveis na face lateral esquerda da peça, originados na pavimentação da rua, tal como algum do desgaste que se estende a toda a face anterior. A habitação em ruínas, situada junto à capela de Nossa Senhora do Rosário,2 foi adquirida, em 2010, por Alberto Paulo Designação cunhada por Alain Tranoy, La Galice romaine: recherches sur le Nord-Ouest de la Péninsule Ibérique dans l’Antiquité, Paris, 1981, p. 349-350. Sobre o tema vejam-se, ainda, os trabalhos de Milagros navarro Caballero, Las estelas en brecha de Santo Adrião: observaciones tipológico-cronológicas, Boletín del Seminario de Estudios de Arte y Arqueologia, 64, 1998, p. 175-206, e de Armando redenTor, Epigraia romana da região de Bragança, Lisboa, 2002. 2 O local de achado tem as seguintes coordenadas: N 41º 17’ 24,38’’ / O 6º 59’ 56,14’’ (WGS 84) = X: 667557,64 / Y: 4572893,55 (Lisboa); Altitude: 500 m. 1 Ficheiro Epigráico, 102 [2012] Pinheiro Teixeira, residente na área urbana de Penaiel. A peça foi retirada do local em 2 de Fevereiro de 2012, em virtude da realização de obras de reconstrução do imóvel, e encontra-se presentemente depositada na sede da Junta de Freguesia de Gouveia. 3 Não está documentado povoamento romano nas imediações da aldeia, mas a topograia do seu assentamento e a existência de silhares e outras pedras em reutilização nalgumas casas, bem como na base da capela deste aglomerado serrano, poderão indiciar uma ocupação romana com ele coincidente. Sobranceiro a Gouveia, posiciona-se o sítio designado por Castelo, plausivelmente amuralhado, cuja diacronia de ocupação ainda não se encontra devidamente apurada.4 Dimensões da peça: (79) x 45 x 16,5. Campo epigráico: 32,5 x 32,5. SVLLA / PROCVLI / F(ilius) AN(norum) XXXV / S(it) · T(ibi) · T(erra) · L(evis) Sula, ilho de Próculo, de 35 anos. Que a terra te seja leve. Altura das letras: l. 1: 5,5/6; l. 2: 6/7; l. 3: 6,4/7 (nexo = 9,5); l. 4: 5,5/6. Margens (sup. / inf. / esq. / dir.): 1,8; 1,8; 3,5; 0/9,5. Espaços: 1: 1,3/1,7; 2: 1,8/3,6; 3: 1,4/2. O desgaste sofrido pela face anterior da peça não afecta a perfeita leitura do epitáio gravado na cartela quadrangular. A paginação e, sobretudo, o ductus das letras denotam irregularidade, embora tenha sido alcançado o efeito geral de alinhamento à esquerda, apenas escapando ao preceito seguido a última linha por se ter chegado ainda mais ao limite sinistro. Cumpre-nos agradecer ao proprietário da casa, Alberto Paulo Pinheiro Teixeira, e ao Presidente da Junta de Freguesia de Gouveia, Alcino João Vieira, pelo empenho na preservação da peça e facilidades concedidas para o seu estudo. 4 Francisco Sande lemos, Povoamento Romano de Trás-os-Montes Oriental, Braga, 1993 [tese de doutoramento policopiada], vol. IIa, p. 25, n.º 508. 3 Ficheiro Epigráico, 102 [2012] A l. 2 confronta com o limite direito da cartela. Gravação biselada pouco aferida, denotando fraca irmeza na execução, produzindo caracteres comuns marcados pela tendência para o alongamento. Na l. 1, a graciosidade da curva superior do S cede lugar à angulosidade na inferior; o V apresenta hastes com inclinações desiguais; os LL destacam-se pela brevidade das barras; o A tem a haste esquerda quase vertical, sendo a direita inclinada, ligando-selhe curto travessão um pouco subido. Na linha seguinte as panças do P e do R são substancialmente diferentes uma da outra, pois, enquanto a do primeiro se apresenta reduzida à metade superior, a do segundo é fechada, nascendo na sua ligação à haste a perna oblíqua que completa o carácter; o O é tendencialmente ovalado, ao passo que o C se aproxima mais de um contorno semicircular, ainda que com a parte inferior ligeiramente descendente; segue-se-lhes V estreito e de hastes ligeiramente encurvadas, L de barra curta à semelhança dos da l. 1 e I reduzido a traço simples, com leve inclinação para trás paralela à da haste da letra anterior e pouco destoante da que ostenta a do segundo dos L antecedentes. Na composição da l. 3, lançou-se mão de dois nexos: um duplo para a abreviatura an(norum), relativamente usual, e outro de carácter numérico, mais infrequente, nomeadamente na epigraia regional. No nexo AN, o travessão, ligeiramente descendente, surge apenas ligado à haste esquerda. O que se lhe segue é quádruplo, ligando-se os XXX ao vértice da haste esquerda do V por haste ascendente comum aos três. Antecede-os F de barras de larguras iguais, mais desenvolvidas do que as que se observam nos LL e TT, estando a inferior acima do meio da haste. O S da última linha apresenta a curva de cima mais esguia que a inferior, seguindo-se-lhe os TT de barras curtas – mostrando-se descentrada relativamente à haste a do segundo – e um L cuja barra é ligeiramente curva e não tão curta como as dos restantes. Sem garantia absoluta, julgamos vislumbrar indícios de interpontuação redonda associada a cada uma das iniciais da fórmula inal, posicionada sensivelmente a meio da altura das letras e a seguir ao F que abre a linha anterior, neste caso sob a sua barra inferior. O texto corresponde ao epitáio de um peregrino, conforme indica a estrutura onomástica composta por idiónimo e patronímico em genitivo seguido da inicial do aposto ilius. Para além da identiicação do defunto, indica-se a idade de falecimento, rematando Ficheiro Epigráico, 102 [2012] a mensagem a fórmula funerária siglada sit tibi terra leuis. O patronímico Proculus tem forte distribuição no âmbito hispânico,5 com representatividade assinalável nas terras ocidentais,6 onde granjeia boa penetração nos meios indígenas, aspecto ao qual poderiam não ser alheios a sua frequência na onomástica latina e o seu signiicado.7 O nome do defunto aparece muito menos documentado na Hispânia, sendo no contexto lusitano, ao extremo do qual poderá ainda pertencer a área de proveniência da estela, que se acantona metade dos testemunhos.8 Embora o nome Sula tenha sido considerado peninsular,9 5 Barnabás LörinCz, Onomasticon Prouinciarum Europae Latinarum, Wien, Vol. 3: Labareus - Pythea, 2000, p. 166-167. Conjuntamente com a forma feminina, ocupa a sétima posição no rol de Juan Manuel abasCal Palazón, Los nombres personales en las inscripciones latinas de Hispania, Murcia e [Madrid], 1994, p. 471. 6 Cf. Alain Tranoy, ob. cit., p. 364; navarro Caballero, Milagros y ramírez Sádaba, José Luis (coord.), Atlas Antroponímico de la Lusitania romana, Mérida e Bordéus, 2003, p. 272-273, mapa 247. 7 A forma cognominal latina está entre as decorrentes de praenomina, sendo inclusive a mais bem representada da categoria, conjuntamente com os seus derivados: veja-se Iiro KajanTo, The Latin Cognomina, Helsinki, 1965, p. 39-40. Todavia, no respeitante ao seu signiicado, se a relação com o advérbio procul é aceite, as interpretações antigas do nome lembradas por Festo (251, 14) vêm considerando-se fantasiosas, conforme também expõe Iiro KajanTo, ob. cit., p. 42, n. 1. 8 AE 1967, 157: Idanha-a-Velha, Castelo Branco; AE 1990, 508: Idanha-aVelha, Castelo Branco; CIL II 757: Alcántara, Cáceres. A estes testemunhos acrescem dois do âmbito da Hispania citerior (HEp 7, 526: Oimbra, Orense; CIRPB 3: Belorado, Burgos) e um da Baetica (CIL II 1044: Castilblanco de los Arroyos, Sevilla). 9 Manuel Palomar laPesa, La onomástica personal pre-latina de la antigua Lusitania: estudio lingüístico, Salamanca, 1957, p. 98, havia catalogado como indígena uma forma Sulia, por má leitura de CIL II 757 – cf. Juan Manuel abasCal Palazón, ob. cit., p. 54 –, associando-a ao radical Sull-, Sul- que considerava aparecer noutros nomes peninsulares. María de Lourdes alberTos FirmaT, La onomástica personal primitiva de Hispania: Tarraconense y Bética, Salamanca, 1966, p. 213, realçando a existência do radical quer dentro quer fora da Hispânia, propôs a relação com o indo-europeu *sul – ‘sol’ – cf. Julius PoKorny, Indogermanisches etymologisches Wörterbuch, Bern e München, 1959, p. 881 –, a propósito de CIL II 5326, inscrição de Talavera que contém a forma simples Sula. Ficheiro Epigráico, 102 [2012] argumentou-se recentemente que, à semelhança da forma geminada, deveria descartar-se da antroponímia indígena, argumentando-se com a presença de Sulla / Sylla / Sula em Roma, ultrapassando aí as duas centenas de casos, bem como com a existência de um gentilício Sullius, aspectos que demonstrariam uma nítida inluência latina.10 Apesar disto, cremos dever ser cautelosos quanto ao assunto, pois nada obsta a que determinada raiz possa ter sido produtiva em âmbitos distintos. E não há que olvidar que a própria forma cognominal latina, que vemos aventada pela associação a nomes incontornáveis da história republicana, nomeadamente associados à gens Cornelia,11 é provavelmente de origem etrusca.12 O registo do nome do defunto em nominativo associado à fórmula inal s. t. t. l. apartada de h. s. e., bem como a ausência de invocação aos Manes, a par da paleograia – pese embora a irregularidade do ductus – e das técnicas aplicadas à execução dos registos que estruturam a face anterior da estela, conciliando a incisão com o rebaixe,13 concitam uma datação por volta da primeira metade da segunda centúria. Fernando vaz sérgio Pereira armando redenTor Assim raciocina José María vallejo ruiz, Antroponimia indígena de la Lusitania romana, Vitoria-Gasteiz, 2005, p. 508, reforçando que a maioria dos exemplos hispânicos se incluem em estruturas onomásticas romanas, apesar das dúvidas apontadas relativamente a duas inscrições em concreto (AE 1967, 157 e ERClunia 60). 11 Destaque maior para o ditador L. Cornelius Sulla Felix (c. 138 a. C. – 78 a. C.), mas também para o seu sobrinho P. Cornelius Sulla (? - 45 a. C.) – implicado na conjuração de Catilina, vindo a beneiciar da defesa realizada por Cícero (pro Sulla), e partidário de César na segunda Guerra Civil, exercendo o comando militar sob as suas ordens na batalha de Farsália. Cf. Arthur Keaveney, Sulla: The Last Republican, New York, 2005 e Erich S. gruen, The Last Generation of the Roman Republic, Berkeley, 1995. 12 Iiro KajanTo, ob. cit., p. 106, descartando a ideia de se tratar de diminutivo de sura. 13 Veja-se a este propósito a evolução técnico-estilística associada aos exemplares do tipo Picote avançada por Milagros navarro, ob. cit., com o qual já paralelizámos o motivo ornamental da cabeceira. 10 Ficheiro Epigráico, 102 [2012] 451 Ficheiro Epigráico, 102 [2012] 452 FRAGMENTO DE INSCRIÇÃO FUNERÁRIA ROMANA DO PAÇO DA EGA (Conimbriga – Conventus Scallabitanus) Pequeno fragmento, mui provavelmente de inscrição funerária romana, de calcário de cor acinzentada, identiicado em Abril de 2007, no âmbito dos trabalhos de acompanhamento arqueológico das picagens dos paramentos realizadas ao abrigo do Projecto de Recuperação do Paço da Ega (localidade que é freguesia do concelho de Condeixa-a-Nova), edifício donde provieram as inscrições publicadas no Ficheiro Epigráico 98 (2012) sob os números 442444, pelo que faz parte integrante de um valioso acervo no qual deverá ser correctamente enquadrado. A investigação da documentação disponível associada à análise dos aparelhos construtivos permite-nos concluir pelo reaproveitamento das epígrafes romanas, nos inícios do século XVI e com provável proveniência das imediações, na sequência das obras levadas a cabo no antigo castelo templário de fundação islâmica. À altura do seu achado, o fragmento encontrava-se inserido na fachada interna, posicionado debaixo de uma janela e sob um painel de azulejos aqui colocados aquando da construção de uma instalação sanitária já em período contemporâneo, compartimento contíguo à cozinha e à despensa do então antigo 1º andar. Nunca tendo sido removido, permanece no mesmo local, ou seja, na escadaria interior que dá acesso à sala de refeições do 1º piso. Tem cerca de 18 x 18 cm de dimensões conservadas e as letras apresentam cerca de 5 cm de altura. […] [?] / […]ANA[…] / […]GISO[…] / […] [PII]SSIM[O] […] / […][?] Ficheiro Epigráico, 102 [2012] Apesar da exiguidade do fragmento, pode airmar-se que terá havido cuidadosa paginação, inclusive com recurso a linhas auxiliares, que se sentem na regularidade dos caracteres e, até, na existência do breve traço horizontal que encima o primeiro vértice superior do N. Os caracteres, do tipo monumental quadrado, muito regulares e simétricos, geometricamente gravados com goiva, não deixam dúvida de que são, pela sua graia, de época romana, inclusive do século I da nossa era: N largo, A com travessão, O absolutamente circular. ANA será, decerto, a terminação de um nome único ou de um cognomen. Na l. 2, parece-nos ler um G, de que se enxerga a curvatura superior e a breve haste vertical inferior. Antes do S, um I. -GISO remete-nos para a terminação, em dativo, de um cognomen ou nome único, cuja reconstituição não ousamos propor. Na l. 3, apesar de a fractura ter levado a metade inferior das letras (do M apenas se vê metade do seu lado esquerdo), a reconstituição do superlativo típico de textos funerários parece-se-nos plausível. ana lima revez JoSé d'enCarnação 452 Ficheiro Epigráico, 102 [2012] 453-455 INSCRIPCIONES EN EL MONTE DE AHIGAL (Cáceres) La razón de ser de este artículo es dar a conocer como caso sorprendente tres inscripciones inéditas idénticas en el texto, al mismo personaje. Como consecuencia de la extracción de piedras, así como al desbroce y limpieza de arbustos y matojos en una zona de conglomerados graníticos, para aprovechamiento del terreno para la siembra, ha permitido descubrir tres inscripciones romanas en el mismo lugar. Pese a que las tierras del derredor fueron removidas para la extracción de piedras, pudimos comprobar que la tumba pudo haber estado realizada con lajas de piedras hincadas formando la caja. Las tierras fueron analizadas y no observamos ningún fragmento que pudiera corresponden a algún ajuar. La simplicidad de las piedras y el lugar nos hace pensar en un enterramiento de gentes humildes, posiblemente vinculados al funcionamiento de la villa agrícola. La villa romana relacionada con este enterramiento y otros en otro lugar, se encuentra a escasos 100 mts de este enterramiento; por el entorno se observan fragmentos cerámicos que por su tipología y composición morfológica podríamos fecharlos entre los siglos I hasta comienzos del siglo IV, no obstante en un futuro esperamos se realicen nuevos estudios sobre este yacimiento, que permitan proporcionar nuevos datos que amplíen o reduzcan las fechas citadas. La primera de las inscripciones está realizada en una roca de Ficheiro Epigráico, 102 [2012] granito redondeada con un lado ligeramente liso donde se grabó la inscripción. Letras rusticas con distintas dimensiones todas ellas. La inscripción de la roca está desarrollada en dos líneas, a la derecha existen unos desgastes que no permitían completar el texto en su totalidad y en ese momento no podíamos deducir la iliación de la fallecida. Las piedras que se observaron sobre el terreno removido, nos hizo pensar que a los pies de esta roca estaba la sepultura o lo que pudiera quedar de ella. Lo más signiicativo de este hallazgo fue que, al observar las tierras removidas, descubrimos que pegada a la roca en su parte baja, sobresalían varios fragmentos de una tegula utilizada al parecer como cabecera de la tumba y a modo de lápida recordatoria, en este caso del nombre de una mujer, que conservaba grabado posteriormente a la cocción de la tegula, un texto análogo al de la roca. La inscripción de la tegula la componían varios fragmentos. Tiene el texto completo, lo que nos ha permitido deducir que la inscripción de la roca es el mismo. En ambos no aparece ni la edad de la fallecida ni los característicos formularios funerarios. Roca: 160 x 120 x 140. BOVTIA / ARREINI·F(ilia) Boutia, hija de Arreino. Letras: 10/18 cms. Tegula: 28 x 15. BOVTIA / ARREINI·F(ilia) Boutia, hija de Arreino. Letras: 2/4 cms. Tanto en la inscripción en la roca como en la tegula, la escritura es irregular, descuidada y desproporcionada así lo indican algunos rasgos característicos como la A sin trazo horizontal, la V con el ángulo descentrado y curvo la N tendida. Todo ello, junto a la tendencia cursiva de algunas letras, señala una cronología tardía característica de inales del siglo II al III, Ficheiro Epigráico, 102 [2012] debemos destacar que la E de Arreini corresponde a signos de tipo arcaicos. Boutia: Antropónimo de origen indígena, con más de 95 testimonios en Hispania, 59 son masculinos y 36 femeninos. De este total algo más de 70 testimonios corresponden a la provincia lusitana1. Arreinus: Cognomen solo documentado en Lusitania, con 7 testimonios hasta hoy conocidos, todos ellos masculinos, 1 en Portugal, 1 en Badajoz y 5 corresponden a la provincia de Cáceres, 2 de los que 3 al área de Cáparra. El tercer epígrafe es una estela funeraria, en granito claro y grano grueso, fragmentada en su parte superior e inferior, así como toda la parte derecha, presenta dos campos epigráicos separados por una moldura en relieve, creemos que hubiera tenido en origen una moldura superior por el estilo de este tipo de estelas. El texto conservado se compone de cuatro líneas con letras del mismo estilo que los epígrafes anteriores y que están relacionados familiarmente entre ellos citándonos nuevamente al personaje Boutia. Dimensiones: 28 x 16,5-13 x 12,2. [---] / IM[---] / BO(utia) [?] / LVT[---] / TA[---] Altura de las letras: 3,5-5,5 cms. En l. 1 apreciamos un rasgo vertical ligeramente inclinado hacia la derecha, posiblemente sea una I, la siguiente letra conserva rasgos que nos hace pensar que se trate de una M, los rasgos verticales o patas están desgastados, al inal de esta línea Boutius/a: navarro Caballero (Milagros) e ramírez Sádaba (José Luís) [coord.], Atlas Antroponímico de la Lusitania Romana, Mérida (Fundación de Estudios Romanos) – Bordéus (Ausonius Éditions), 2003, p. 117-119, mapa 60. 2 Arreinu[s]: AE 1977 390; Arreinus: AE 1977 425; Dartua Arr[(einus)] (nueva lectura): Oliva de Plasencia, Revista Ahigal 7/2001, p.5; Arreinus Viro[ni]: FE 85, 385. 1 Ficheiro Epigráico, 102 [2012] se conserva otra letra cuyo rasgo dado su desgaste es inapreciable. La siguiente línea la primera de sus letras es una B, su parte superior menos abombada que la inferior que es más saliente, sigue una O de menor tamaño que la b, las dos primeras letras corresponden claramente a nuestro personaje Boutia. En la tercera línea, comienza con una L seguida de V y el tercer signo queremos interpretarlo como T. Después de esta línea, el texto esta separado con una moldura redondeada simple de 3,5 cms, de ancho. En la última línea del texto conservado vemos un trazo vertical inclinado hacia la derecha y en su parte superior otro horizontal que conformaría una T; le sigue una A, aunque sus trazos son distintos: el izquierdo algo mas supericial e inclinado hacia la derecha y el derecho mas profundo y rectilíneo, continua con lo que interpretamos una I o L, poco profunda de su mitad hacia abajo. Las letras, capitales rústicas, están grabadas profundamente, como en los otros dos testimonios han sido realizados por el mismo lapicida con un mismo estilo en sus letras, irregulares tanto en su tamaño como en su conformación, por las características y la tipología de sus letras, vivieron en un periodo de tiempo que iría desde inales del siglo II hasta principios del siglo III. Lo que no cabe duda es que nos encontramos ante un hallazgo extraordinario, no por la calidad de sus soportes sino en que sus familiares se esforzaron en dedicar a Boutia tres inscripciones. Por otro lado, muy aventurado pensar en que la familia de este singular personaje fueran los propietarios de este complejo agrícola, ya que los restos que hemos llegado a conocer de esta villa, y por las características constructivas de sus restos, sus dueños fueran gentes con mayor poder económico. Jaime rio-miranda alCón mª Gabriela iGleSiaS domínGuez Ficheiro Epigráico, 102 [2012] 453 454 455 Ficheiro Epigráico, 102 [2012]