Análise Funcional e Teoria Espectral
(Notas de aula)
Programa de Doutorado em Matemática
(Instituto de Matemática-UFAL)
José Ivan da Silva Santos
Maceió
2013
Contents
1 Análise Funcional
1.1 Teoremas de Hahn-Banach real, complexo e geométrico . . . . . . . . . . . .
1.2 Teoremas da aplicação aberta e do gráfico fechado . . . . . . . . . . . . . . .
1.3 Topologias fracas e o Teorema de Banach-Alaoglu . . . . . . . . . . . . . . .
1.4 A representação de Riesz em espaços de Hilbert e o operador adjunto de
Hilbert. Representação em espaços pré-Hilbertianos . . . . . . . . . . . . . .
1.5 Espaços reflexivos e compacidade sequencial . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.6 Operadores compactos em espaços de Hilbert: operadores de posto finito, de
Hilbert-Schmidt e densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
1.7 Teorema espectral para operadores compactos auto-adjuntos . . . . . . . . .
2 Teoria Espectral
2.1 Espectro e componentes espectrais. Espaços invariantes associados. Semicontinuidade de componentes espectrais e continuidade de espaços associados
2.2 Teorema espectral: Cálculo funcional contı́nuo e mapeamento espectral para
operadores auto-adjuntos e normais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.3 Teorema espectral: projeções espectrais. Critério de Weyl. Espectros essencial
e discreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.4 Teorema espectral para operadores normais: forma multiplicativa. Dedução
da forma multiplicativa a partir do Cálculo Funcional contı́nuo e vice-versa .
2.5 Teorema Espectral para operadores normais limitados: Cálculo Funcional Mensurável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.6 Operadores Fechados e Fecháveis. Critérios, Teorema Espectral para operadores ilimitados auto-adjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2.7 Grupos fortemente Contı́nuos e o Teorema de Stone . . . . . . . . . . . . . .
2.8 Transformada de Fourier no Rn , funções do operador Laplaciano e espaços de
Sobolev . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Referências Bibliográficas
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1 Análise Funcional
1.1 Teoremas de Hahn-Banach real, complexo e geométrico
Teorema 1 (Hahn-Banach) Sejam X um espaço vetorial real e p uma função a valores
reais definida sobre X satisfazendo
p(x + y) ≤ p(x) + p(y) e p(αx) = αp(x)
para todos x, y ∈ X e todo α ∈ [0, +∞). Suponha que λ é um funcional linear definido sobre
um subespaço Y ⊂ X que satisfaz λ(x) ≤ p(x) para todo x ∈ Y . Então, existe um funcional
linear Λ, definido sobre X, satisfazendo Λ(x) ≤ p(x) para todo x ∈ X tal que Λ(x) = λ(x)
para todo x ∈ Y .
Demonstração. Seja Y 6= X, caso contrário não há o que provar, escolha x1 ∈ X\Y e
defina
Y1 = {x + tx1 ; x ∈ Y, t ∈ R}.
É claro que Y1 é um subespaço vetorial de X. Como
λ(x) + λ(y) = λ(x + y) ≤ p(x + y) ≤ p(x − x1 ) + p(x1 + y)
temos que
λ(x) − p(x − x1 ) ≤ p(y + x1 ) − λ(y), x, y ∈ Y.
Seja α o menor limite superior do lado direito de (1), pois x percorre Y . Donde
λ(x) − α ≤ p(x − x1 ), x ∈ Y
e
λ(y) + α ≤ p(y + x1 ), y ∈ Y.
Defina Λ1 sobre Y1 por
Λ1 (x + tx1 ) = λ(x) + tα, x ∈ Y t ∈ R.
3
(1)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Então, para todo x ∈ Y Λ1 (x) = λ(x) ≤ p(x) que é equivalente a escolher t = 0 e Λ1 é linear
sobre Y1 . De fato, sejam u = u1 + tx1 e v = v1 + sx1 , segue que para todo β ∈ R
Λ1 (u + βv) = Λ1 (u1 + βv1 + (t + βs)x1 )
= λ(u1 + βv1 ) + (t + βs)α
= λ(u1 ) + tα + βλ(v1 ) + βsα
= Λ1 (u) + βΛ1 (v).
Agora, se t > 0 temos
λ(t−1 x) − α ≤ p(t−1 x − x1 ), x ∈ Y
e
λ(t−1 y) + α ≤ p(t−1 y + x1 ), y ∈ Y
e multiplicando por t obtemos
λ(x) − tα ≤ p(x − tx1 ), x ∈ Y
e
λ(y) + tα ≤ p(y + tx1 ), y ∈ Y
daı́ temos
Λ1 (x − tx1 ) = λ(x) − tα ≤ p(x − tx1 )
e
Λ1 (x + tx1 ) = λ(x) + tα ≤ p(x + tx1 ),
isto é, Λ1 ≤ p sobre Y1 .
Agora, seja P a coleção de todos os pares ordenados (Y ′ , Λ′ ), onde Y ′ é um subespaço de
X contendo Y e Λ′ é um funcional linear sobre Y ′ que estende λ e satisfaz Λ′ ≤ p, observe
que P =
6 ∅ pois Y1 ∈ P.
Ordene P parcialmente declarando que (Y ′ , Λ′ ) (Y ′′ , Λ′′ ) se Y ′ ⊂ Y ′′ e Λ′ = Λ′′ sobre
Y ′ . Tomando qualquer subcoleção totalmente ordenada, por inclusão, a união de todos os
subespaços é uma cota superior da subcoleção, logo pelo Lema de Zorn P tem um elemento
maximal. Seja Y‹ o elemento maximal de P, então se x ∈ Y‹ tem-se que x ∈ Y ′ para algum
Y ′ ⊂ Y‹ , então defina Λ(x) = Λ′ (x), é claro que Λ é linear, está bem definido em Y‹ e Λ ≤ p.
Agora, se Y‹ for um subespaço próprio de X a primeira parte da prova nos dá uma extensão
de Λ contradizendo a maximalidade de Y‹ , donde Y‹ = X.
Teorema 2 (Hahn-Banach) Sejam X um espaço vetorial complexo e p uma função a valores reais definida em X satisfazendo p(αx + βy) ≤ |α|p(x) + |β|p(y) para todos x, y ∈ X
e α, β ∈ C com |α| + |β| = 1. Seja λ um funcional linear complexo definido sobre um
subespaço Y ⊂ X satisfazendo |λ(y)| ≤ p(y) para todo y ∈ Y . Então existe um funcional
linear complexo Λ definido sobre X tal que |Λ(x)| ≤ p(x) para todo x ∈ X e Λ(y) = λ(y)
para todo y ∈ Y .
4
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Seja ℓ(x) = Re(λ(x)). ℓ é um funcional linear real sobre Y , isto é, Y é
considerado como um subespaço vetorial real e
ℓ((a + bi)x) = aℓ(x) + bℓ(ix)).
Como
ℓ(ix) = Re(λ(ix)) = Re(iλ(x)) = −Im(λ(x))
temos que λ(x) = ℓ(x) − iℓ(ix). Sendo ℓ um funcional linear real, p(αx + (1 − α)y) ≤
αp(x) + (1 − α)p(y) para α ∈ [0, 1] e ℓ(x) ≤ |λ(x)| ≤ p(x) segue que ℓ tem uma extensão
linear real L definido em todo X obedecendo L(x) ≤ p(x), pelo caso real do Teorema de
Hahn-Banach. Para todo x ∈ X, defina Λ(x) = L(x) − iL(ix), então para todo y ∈ Y temos
Λ(y) = L(y) − iL(iy) = ℓ(y) − iℓ(iy) = λ(y),
isto é Λ estende λ e é linear, pois para quaisquer x, y ∈ X e α ∈ R
Λ(αx + y) = L(αx + y) − iL(iαx + iy)
= αL(x) + L(y) − i(αL(ix) + L(iy))
= α[L(x) − iL(ix)] + L(y) − iL(iy)
= αΛ(x) + Λ(y).
Além disso,
Λ(ix) = L(ix) − iL(−x) = L(ix) + iL(x) = iΛ(x),
donde Λ é um funcional linear complexo. Para completar a prova, só falta mostrar que
|Λ(x)| ≤ p(x). Primeiro, note que p(αx) = p(x) se |α| = 1. Se θ = Arg(Λ(x)) e usando o
fato que Re(Λ) = L, temos que
|Λ(x)| = e−iθ Λ(x) = Λ(e−iθ x) = L(e−iθ x)
≤ p(e−iθ x) = p(x).
Corolário 3 Sejam X um espaço vetorial normado e Y um subespaço de X. Se λ ∈ Y ∗ ,
então existe um funcional Λ ∈ X ∗ extensão de λ e satisfazendo kΛkX ∗ = kλkY ∗ .
Demonstração. Se Y = {0}, então λ ≡ 0 e a extensão é Λ ≡ 0. Seja Y 6= {0}, para todo
y∈Y
|λ(y)| ≤ kλkY ∗ kyk,
isso motiva a tomar p(x) = kλkY ∗ kxk para todo x ∈ X. Assim, se |α| + |β| = 1 temos
p(αx + βy) = kλkY ∗ kαx + βy)k
≤ |α|kλkY ∗ kxk + |β|kλkY ∗ kyk
= |α|p(x) + |β|p(y).
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J. Ivan S. S.
Portanto pelo Teo. de Hahn-Banach existe Λ ∈ X ∗ extensão de λ, satisfazendo |Λ(x)| ≤ p(x).
Além disso,
kΛk = sup |Λ(x)| ≤ sup kλkY ∗ kxk = kλkY ∗ .
kxk=1
kxk=1
Como Λ estende λ sua norma não decresce, isto é, kΛk ≥ kλkY ∗ e, portanto kΛkX ∗ = kλkY ∗ .
Corolário 4 Seja y um elemento qualquer do espaço vetorial normado X. Então existe
Λ ∈ X ∗ não nulo tal que Λ(y) = kΛkkyk.
Demonstração. Seja Y = span{y} e defina λ(ay) = akyk e observe que kλk = 1.
Usando o Corolário 3, existe Λ ∈ X ∗ , com kΛk = kλk = 1, extensão de λ, mas
Λ(y) = λ(y) = kyk = kΛkkyk.
Corolário 5 Seja Z um subespaço de um espaço vetorial X e suponha que y é um elemento
de X cuja distância de Z é d. Então existe Λ ∈ X ∗ tal que kΛk ≤ 1, Λ(y) = d e Λ(z) = 0
para todo z ∈ Z.
Demonstração. Seja Y = span{y, Z} e d = d(y, Z) = inf ky − zk. Defina λ : Y → C por
z∈Z
λ(αy + βz) = αd = α inf ky − zk.
z∈Z
Então λ
Z
é tal que λ(0y + βz) = 0d = 0. Além disso, λ(y) = d e para α 6= 0
|λ(αy + βz)| = |α|d ≤ |α| y +
β
z = kαy + zk,
α
logo |λ| ≤ 1. Pelo Corolário 3 existe uma extensão Λ de λ com a mesma norma de λ.
Exercı́cio 6 Em geral, a extensão de Hahn-Banach não é única.
Solução:
Sejam X = l1 e Y o subespaço de X definido por Y := {(0, x2 , . . . , xn , . . .) ∈ X} e
f : Y → C o funcional linear dado por f (x) = x2 . Então,
|f (x)| = |x2 | ≤ kxkl1 ,
donde kf k ≤ 1. Observe que f é dominado por p(x) = kxkl1 e que todos os funcionais lineares
definidos em l1 por F (x) = x2 + nx1 , onde n ∈ N é qualquer, são tais que |F (x)| ≤ kxkl1 e
F |Y = f , logo são extensões distintas de Hahn-Banach de f .
O exemplo abaixo mostra que se existe duas extensões de Hahn-Banach distintas, então
existem infinitas.
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J. Ivan S. S.
Exemplo 1 Sejam Y um subesapço do espaço vetorial X e p, λ como no Teorema de HahnBanach. Se existem duas extensões distintas de Hahn-Banach Λ0 , Λ1 : X → C de λ, então
para qualquer s ∈ [0, 1] considere o funcional Λs dado por
Λs (ξ) = sΛ1 (ξ) + (1 − s)Λ0 (ξ),
ξ ∈ X.
Observe que Λs é linear e para todo ζ ∈ Y , temos que
Λs (ζ) = sΛ1 (ζ) + (1 − s)Λ0 (ζ) = sλ(ζ) + (1 − s)λ(ζ) = λ(ζ),
logo Λs é uma extensão linear de λ. Como |Λ1 (ξ)| ≤ p(ξ) e |Λ0 (ξ)| ≤ p(ξ) segue que
|Λs (ξ)| ≤ s|Λ1 (ξ)| + (1 − s)|Λ0 (ξ)| ≤ p(ξ),
isso nos diz que Λs é uma extensão de Hahn-Banach de λ para cada s ∈ [0, 1]. Portanto, ou
a extensão é única ou existem infinitas extensões.
Agora veremos as formas geométricas do Teorema de Hahn-Banach. Iniciamos com os
pré-requisitos para a prova de tais Teoremas:
Definição 1 Seja X um espaço vetorial real. Um hiperplano (afim) é um conjunto da forma
H = {x ∈ X : f (x) = α}
onde f : X → R é um funcional linear não identicamente nulo e α ∈ R.
Diremos que H é o hiperplano de equação [f = α].
Definição 2 Seja X um espaço vetorial sobre K = {R ou C}. Diremos que C ⊂ X é
convexo, se
tx + (1 − t)y ∈ C sempre que t ∈ [0, 1] e x, y ∈ C.
Proposição 7 O hiperplano de equação [f = α] é fechado se, e somente se, f é contı́nuo.
Demonstração. É claro que se f é contı́nuo, então H = f −1 (α) é fechado.
Reciprocamente, se H é fechado, seja x0 ∈ X\H := H c e suponha que f (x0 ) < α. Seja
r > 0 tal que B(x0 , r) ⊂ H c . Então, para todo x ∈ B(x0 , r) temos que f (x) < α. De fato, se
f (x1 ) − α
< 1 que
houvesse x1 ∈ B(x0 , r) tal que f (x1 ) > α, terı́amos para t =
f (x1 ) − f (x0 )
f (tx0 + (1 − t)x1 ) = tf (x0 ) + (1 − t)f (x1 )
Ç
å
f (x1 ) − α
f (x1 ) − α
f (x0 ) + 1 −
f (x1 )
=
f (x1 ) − f (x0 )
f (x1 ) − f (x0 )
f (x1 )f (x0 ) − αf (x0 ) − f (x1 )f (x0 ) + αf (x1 )
=
f (x1 ) − f (x0 )
α(f (x1 ) − f (x0 ))
=
=α
f (x1 ) − f (x0 )
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mas tx0 + (1 − t)x1 ∈ B(x0 , r) desde que B(x
o äfato de
Ä
Ä 0 , r) éä convexa e isso contradiz
r
r
c
B(r, x0 ) ⊂ H . Assim, se kzk = 1 temos que x0 + 2 z ∈ B(x0 , r) donde f x0 + 2 z < α e
consequentemente
Å
r ã
r
2(α − f (x0 ))
f x0 + z = f (x0 ) + f (z) < α ⇒ f (z) <
2
2
r
e portanto
kf k <
2(α − f (x0 ))
.
r
Definição 3 Se A, B ⊂ X diremos que o hiperplano de equação [f = α] separa A e B no
sentido fraco se
f (x) ≤ α ∀ x ∈ A e
f (x) ≥ α ∀ x ∈ B.
Diremos que o hiperplano de equação [f = α] separa A e B no sentido forte se existe ε > 0
tal que
f (x) ≤ α − ε ∀ x ∈ A e
f (x) ≥ α + ε ∀ x ∈ B.
Definição 4 Seja C ⊂ X um conjunto convexo e aberto com 0 ∈ C. A aplicação p : X → R
definida por
p(x) = inf{α > 0 : α−1 x ∈ C}
é chamada funcional de Minkowski.
Proposição 8 O funcional de Minkowski possui as seguintes propriedades:
(i) p(bx) = bp(x) para todo b > 0 e todo x ∈ X.
(ii) C = {x ∈ X : p(x) < 1}.
(iii) Existe M > 0 tal que 0 ≤ p(x) ≤ M kxk para todo x ∈ X.
(iv) p(x + y) ≤ p(x) + p(y) para quaisquer x, y ∈ X.
Demonstração. (i).
p(bx) = inf{α > 0 : α−1 bx ∈ C}
= b inf{α > 0 : α−1 x ∈ C}
= bp(x).
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(ii). Se x ∈ C, então como C é aberto, existe ε > 0 tal que (1 + ε)x ∈ C. Assim,
x
∈C
(1 + ε)−1
e
p(x) ≤ (1 + ε)−1 < 1.
Donde C ⊂ {x ∈ X : p(x) < 1}.
Reciprocamente, se p(x) < 1, então da definição de ı́nfimo, existe 0 < α < 1 tal que
α−1 x ∈ C. Logo,
Å ã
x
+ (1 − α).0 ∈ C, pois C é convexo.
x=α
α
Portanto {x ∈ X : p(x) < 1} ⊂ C e consequentemente C = {x ∈ X : p(x) < 1}.
(iii). Que p(x) ≥ 0 segue de sua definição. Seja r > 0 tal que B(0, r) ⊂ C. Logo, se
s < r, temos
x
∈ C para todo x ∈ X, x 6= 0.
s
kxk
x
Assim −1 ∈ C e
ks xk
å
Ç
1
x
≤ .
p
kxk
s
Pelo item (i), temos
kxk
s
para todo x ∈ X não nulo. Mas, para x = 0 a desigualdade acima é trivial, logo ela vale
para todo x ∈ X e o resultado está provado com M = 1/s.
p(x) ≤
(iv). Se x, y ∈ X, então, dado ε > 0 temos
x
∈C
p(x) + ε
Com efeito, por (i)
Ç
x
p
p(x) + ε
e
å
=
y
∈ C.
p(y) + ε
1
p(x) < 1,
p(x) + ε
e o mesmo vale para y. Assim, por (ii), segue a afirmação. Como C é convexo, seja
t=
temos que 0 < t < 1 e
t
p(x) + ε
p(x) + p(y) + 2ε
x
y
+ (1 − t)
∈ C,
p(x) + ε
p(y) + ε
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mas
Ç
å
x
y
p(x) + ε
p(x) + ε
x
y
+ (1 − t)
=
+ 1−
t
p(x) + ε
p(y) + ε
p(x) + p(y) + 2ε p(x) + ε
p(x) + p(y) + 2ε p(y) + ε
å
Ç
p(x) + ε
x
y
p(y) + ε
=
+
p(x) + p(y) + 2ε p(x) + ε
p(x) + p(y) + 2ε p(y) + ε
p(x) + ε
x
y
=
+
p(x) + p(y) + 2ε p(x) + ε p(x) + p(y) + 2ε
y
xp(x) + xε
+
=
(p(x) + p(y) + 2ε)(p(x) + ε) p(x) + p(y) + 2ε
xp(x) + xε + yp(x) + yε
=
(p(x) + p(y) + 2ε)(p(x) + ε)
t
y
(x + y)(p(x) + ε)
x
+ (1 − t)
=
p(x) + ε
p(y) + ε
(p(x) + p(y) + 2ε)(p(x) + ε)
x+y
=
∈ C.
p(x) + p(y) + 2ε
Pelos itens (i) e (ii), respectivamente, temos
Ç
x+y
p
p(x) + p(y) + 2ε
å
=
1
p(x + y) < 1
p(x) + p(y) + 2ε
donde
p(x + y) < p(x) + p(y) + 2ε.
Pela arbitrariedade de ε, o resultado segue.
Lema 1 Seja C ⊂ X um aberto, convexo, não vazio e C 6= X. Seja x0 ∈ X\C, então existe
f ∈ X ∗ tal que f (x) < f (x0 ) para todo x ∈ C.
Demonstração. Se C = 0, o resultado segue pelo Corolário 4. Se 0 6= C, escolha z0 ∈ C
e considere D = {x − z0 ; x ∈ C}, y0 = x0 − z0 . Temos que y0 ∈
/ D, mas o ∈ D e D é aberto
e convexo, então podemos definir o funcional de Minkowski
p(x) = inf{α > 0; α−1 x ∈ D}.
Defina G = span{y0 } e g(ty0 ) = t para todo t ∈ R. Então g(x) ≤ p(x) para todo x ∈ G, pois
como y0 ∈
/ D temos que p(y0 ) ≥ 1, assim para todo x ∈ G obtemos
t
g(x) = g(ty0 ) =
≤ tp(y0 ) = p(ty0 ), se t > 0
t ≤ 0 ≤ p(ty0 ).
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Assim pelo Teorema de Hahn-Banach, existe f : X → R linear tal que f (x) = g(x) sobre G
e f (x) ≤ p(x) sobre X. Pelo item (iii) da Proposição 8, existe M > 0 tal que
f (x) ≤ p(x) ≤ M kxk,
donde f é contı́nuo. Como p(y) < 1 para todo y ∈ D, segue que
f (y) ≤ p(y) < 1
e
f (y) < 1 = g(y0 ) = f (y0 ) = f (x0 − z0 )
para todo y ∈ D. Pela definição de D, temos então
f (x − z0 ) < f (x0 − z0 )
para todo x ∈ C, e
f (x) < f (x0 ).
Teorema 9 (Hahn-Banach. Primeira forma geométrica) Seja X um espaço vetorial
normado sobre R e sejam A, B ⊂ X dois conjuntos convexos, não vazios e disjuntos. Se A
é aberto, então existe um hiperplano fechado que separa A e B no sentido fraco.
Demonstração. Seja C = A − B = {a − b; a ∈ A e b ∈ B}. Note que
(1) C é aberto, pois
C=
[
(A − {b}).
b∈B
(2) C é convexo, pois se 0 < t < 1,
t(a1 − b1 ) + (1 − t)(a2 − b2 ) = [ta1 + (1 − t)a2 ] − [tb1 + (1 − t)b] ∈ A − B.
Assim C é aberto, convexo e 0 ∈
/ C pois A ∩ B = ∅. Pelo Lema anterior, existe f ∈ X ∗ tal
que f (x) < f (0) para todo x ∈ C. Logo f (a − b) < f (0) = 0 para todo a ∈ A e b ∈ B donde
f (a) < f (b).
Daı́
sup f (a) ≤ inf f (b)
b∈B
a∈A
e escolhendo c ∈ R tal que
sup f (a) ≤ c ≤ inf f (b),
b∈B
a∈A
temos que [f = c] separa A e B no sentido fraco.
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Teorema 10 (Hahn-Banach. Segunda forma geométrica) Sejam X um espaço vetorial normado real, A e B convexos, não vazios e distintos em X. Suponha que A é fechado
e B é compacto. Então existe um hiperplano fechado que separa A e B no sentido forte.
Demonstração. Sejam Aε := A + B(0, ε) e Bε := B + B(0, ε), ε > 0, então Aε e Bε são
abertos, pois
[
[
[{a} + B(0, ε)] =
B(a, ε)
Aε =
a∈A
e
Bε =
[
a∈A
[{b} + B(0, ε)] =
b∈B
[
B(b, ε)
b∈B
além disso também são convexos, pois para 0 < t < 1
t(a1 + v1 ) + (1 − t)(a2 + v2 ) = ta1 + (1 − t)a2 + tv1 + (1 − t)v2 ∈ Aε
analogamente se verifica que Bε é convexo e é claro Aε e Bε são não vazios. Para ε > 0
pequeno Aε e Bε são disjuntos, pois como A é fechado d(b, A) > 0 para todo b ∈ B e como B
é compacto inf d(b, A) = d(B, A) > 0. Segue da primeira versão que existe um hiperplano
b∈B
fechado que separa Aε e Bε no sentido fraco. Logo
f (x + εz) ≤ c ≤ f (y + εz) ∀ x ∈ A, y ∈ B, z ∈ B(0, ε).
Donde
f (x) − εkf k ≤ c ≤ f (y) + εkf k ∀ x ∈ A, y ∈ B
e o resultado segue, pois f 6= 0.
1.2 Teoremas da aplicação aberta e do gráfico fechado
Para a demonstração do Teorema da aplicação aberta vamos precisar dos seguintes resultado,
o primeiro é devido a Baire.
Definição 5 Sejam X um espaço topológico e A ⊂ X. Dizemos que A é magro (nowhere dense) se A tem interior vazio
Teorema 11 (Categoria de Baire) Um espaço métrico completo nunca é união enumerável de conjuntos magros.
Demonstração. Seja X = (X, d) um espaço métrico completo. Por contradição, vamos
supor que X é união enumerável de conjuntos magros. Então, existem An ⊂ X tais que An
têm interior vazio e
∞
X=
[
n=1
12
An .
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Para cada n, considere Fn = An . Assim, temos que X\F1 é aberto e não vazio. Então,
existem um número real r1 > 0 e x1 ∈ X tais que
B(x1 , r1 ) ⊂ X\F1 .
Além disso, temos que (X\F2 ) ∩ B(x1 , r1 /4) é aberto e não vazio. Com efeito, se essa
interseção fosse vazia, terı́amos que B(x1 , r1 /4) ⊂ F2 , que e absurdo desde que int(F2 ) = ∅.
Logo existem x2 ∈ X e r2 > 0 tais que
B(x2 , r2 ) ⊂ (X\F2 ) ∩ B(x1 , r1 /4).
Pelo mesmo raciocı́nio, encontramos x3 ∈ X e r3 > 0 tais que
B(x3 , r3 ) ⊂ (X\F3 ) ∩ B(x2 , r2 /4).
Por indução, construı́mos uma sequência de bolas abertas B(xn , rn /4) tais que rn+1 ≤
B(xn+1 , rn+1 ) ⊂ (X\Fn+1 ) ∩ B(xn , rn /4).
Notamos que, como rn+1 ≤
rn
4
para todo n, temos rn ≤
rn
4
e
(2)
r1
.
4n−1
Pela desigualdade triangular, é fácil ver que {xn } é uma sequência de Cauchy em X. De
fato,
d(xn , xn+p ) ≤
≤
p
X
j=1
p
X
j=1
d(xn+j−1 , xn+j ) ≤
p
X
rn+j−1
j=1
r1
.
n+j−1
4
4
A segunda desigualdade acima, deve-se ao fato de xn+j ∈ B(xn+j−1 , rn+j−1 /4) como pode-se
ver de (2). Como X é completo, existe x ∈ X, que é limite da sequência {xn }. Como
B(xn+1 , rn+1 ) ⊂ (X\Fn+1 ) ∩ B(xn , rn /4)
podemos escrever
d(xn , xn+p ) ≤ d(xn , xn+1 ) + d(xn+1 , xn+2 ) + . . . + d(xn+p−1 , xn+p )
rn+p−1
rn rn+1
+
+ ... +
≤
4
4
4
rn
rn rn
+ 2 + . . . + p−1 .
≤
4
4
4
Fixado, arbitrariamente, n em (3) e fazendo p tender a infinito, temos que
d(xn , x) ≤ rn
donde x ∈ B(xn , rn ). Logo x ∈
/
∞
[
∞
X
1
1/4
rn
=
r
=
< rn
n
p
3/4
3
p=1 4
An = X, que é absurdo.
n=1
13
(3)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Lema 2 Sejam X e Y espaços normados, com X completo e T ∈ L(X, Y ). Se existirem
R, r > 0 tais que
(4)
BY (0, r) ⊂ T (BX (0, R)),
então
BY (0, r/2) ⊂ T (BX (0, R)).
(5)
Demonstração. Como para todo M ⊂ X e a ∈ K tem-se aM = aM , segue de (4) que
BY (0, ar) ⊂ T (BX (0, aR))
(6)
para todo a ∈ R positivo.
Seja y ∈ BY (0, r/2). Por (6) existe x1 ∈ BX (0, R/2) tal que
r
ky − T x1 k < , isto é, y − T x1 ∈ BY (0, r/4).
4
Novamente por (6), existe x2 ∈ BX (0, R/4) tal que
r
k(y − T x1 ) − T x2 k < .
8
Procedendo por indução, podemos, para cada j = 1, . . . , n, achar xj ∈ BX (0, R/2j ) tal que
ky − T x1 − . . . − T xn k <
Assim
∞
X
kxn k <
n=1
Como X é completo, a série
de T temos
∞
X
r
2n+1
.
(7)
∞
X
R
= R.
n
n=1 2
xn converge para um certo x. Além disso, pela continuidade
n=1
Ñ
Tx = T
lim
n→∞
e
kxk ≤
n
X
é
xj
=
j=1
∞
X
j=1
kxn k < R
n=1
donde x ∈ BX (0, R).
∞
X
Fazendo n → ∞ em (7) obtemos
ky − T xk ≤ 0
donde T x = y. Daı́
y ∈ T (BX (0, R)).
14
T xj
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Teorema 12 (Aplicação aberta) Sejam X e Y espaços de Banach e T : X → Y uma
aplicação linear contı́nua e sobrejetiva. Então T é uma aplicação aberta. Em particular, se
T é bijetiva, então T −1 é contı́nua.
Demonstração. Escreva
∞
[
X=
BX (0, n),
n=1
como T é sobrejetivo temos que
Y = T (X) = T
∞
[
!
BX (0, n) =
n=1
∞
[
T (BX (0, n)).
n=1
Como Y é completo então, pelo Teorema de Baire, existe n0 natural tal que T (BX (0, n0 ))
tem interior não vazio. Assim, existe uma bola de centro y ∈ Y e raio r > 0 tal que
BY (y, r) ⊂ T (BX (0, n0 )).
Como
T (BX (0, n0 )) = −T (BX (0, n0 ))
Assim,
BY (−y, r) = −BY (y, r) ⊂ T (BX (0, n0 )).
1
1
Como x = (x + y) + (x − y), segue que
2
2
1
1
BY (0, r) ⊂ BY (y, r) + BY (−y, r) ⊂ T (BX (0, n0 )).
2
2
Pelo Lema anterior
BY (0, ρ) ⊂ T (BX (0, n0 ))
para ρ = r/2. Assim, temos que
BY (0, cρ) ⊂ T (BX (0, cn0 ))
para todo número real positivo c. Como
BX (x, cn0 ) = x + BX (0, cn0 )
temos que
T (BX (x, cn0 )) = T x + T (BX (0, cn0 ))
⊃ T x + BY (0, cρ)
= BY (T x, cρ),
isto é, BY (T x, cρ) ⊂ T (BX (x, cn0 )).
15
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Agora seja U ⊂ X aberto. Sejam x ∈ U e c > 0 tais que
BX (x, cn0 ) ⊂ U.
Então
T (U ) ⊃ T (BX (x, cn0 )) ⊃ BY (T x, cρ).
Portanto T (U ) é aberto. O caso particular é conhecido como Teorema da aplicação inversa.
As hipóteses de X e Y serem completos ou normados não podem ser retiradas no Teorema
da aplicação aberta como mostram os exemplos abaixo.
Exemplo 2 Seja T : C([0, 1]) → C([0, 1]) dado por
(T ψ)(t) =
Z t
0
ψ(s)ds.
Sabemos que C([0, 1]) não é completo com a norma de L1 ([0, 1]). Além disso, T é limitado,
pois
Z t
1
|ψ(s)|ds ≤ kψkL1
k(T ψ)(t)kL =
0
−1
′
e é claro que (T ψ)(t) = ψ (t) que não é contı́nuo. De fato, considerando a sequência
ψn (t) = sen(nt) temos que
k(T −1 ψn )(t)kL1 =
=
Z t
0
Z t
0
|ψn′ (s)|ds
|n cos(ns)|ds
≤ nt → ∞.
Exemplo 3 Considere Rn com a topologia discreta cuja métrica é dada por d(x, y) = 1 se
x 6= y e d(x, x) = 0 e considerando Rn com a topologia usual temos que a aplicação identidade
I : (Rn , d) → Rn é continua e inversı́vel, no entanto, I não é uma aplicação aberta e sua
inversa não é contı́nua. O problema é que (Rn , d) é completo mas não é normado, pois a
métrica discreta não é induzida por uma norma.
Agora, nosso objetivo é provar o Teorema do gráfico fechado.
Sejam X e Y espaços normados e T : X → Y um operador linear. O gráfico de T é o
subespaço de X × Y
Γ(T ) = {(x, y) ∈ X × Y ; y = T x}.
Dizemos que T é fechado se Γ(T ) é fechado em X × Y .
No espaço X × Y consideramos as operações usuais e a norma é dada por
k(x, y)k = kxk + kyk.
16
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Teorema 13 (Gráfico fechado) Sejam X e Y espaços de Banach e T : X → Y um operador linear. Então T é limitado se, e somente se, o gráfico de T é fechado.
Demonstração. Suponha que Γ(T ) é fechado. Então, como X e Y são espaços de Banach
temos que X × Y também é, e segue que, Γ(T ) é um subespaço fechado do espaço de Banach
X × Y e consequentemente Γ(T ) também é um espaço de Banach na norma
k(x, T x)k = kxk + kT xk.
Considere as aplicações contı́nuas
π1 : Γ(T ) → X
(x, T x) 7→ x
e
π2 : Γ(T ) → Y
(x, T x) 7→ T x.
Como π1 é bijeção, temos pelo Teorema da aplicação aberta que π1−1 é contı́nua. Mas
T = π2 ◦ π1−1 ,
donde T é contı́nuo.
Reciprocamente, se T é contı́nuo e (xn , yn ) → (x, y) com (xn , yn ) ∈ Γ(T ). Então,
y = n→∞
lim yn = n→∞
lim T xn = T x,
portanto y = T x e (x, y) ∈ Γ(T ) que consequentemente é fechado.
1.3 Topologias fracas e o Teorema de Banach-Alaoglu
Definição 6 Seja N um espaço vetorial normado. A aplicação ˆ: N → N ∗∗ definida por
ˆ ) = f (ξ), ∀ f ∈ N ∗
ξ(f
é chamada de aplicação canônica.
Denotaremos a imagem da aplicação canônica por N̂ ⊂ N ∗∗ .
Proposição 14 A aplicação canônica ˆ: N → N ∗∗ é uma isometria linear.
17
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Para ξ1 , ξ2 ∈ N , f ∈ N ∗ e a ∈ K = {R ou C} temos que
¤
ˆ
ˆ
(ξ
1 + aξ2 )(f ) = f (ξ1 + aξ2 ) = f (ξ1 ) + af (ξ2 ) = ξ1 (f ) + aξ2 (f ).
Como
ˆ )| = |f (ξ)| ≤ kf kkξk
|ξ(f
ˆ ≤ kξk. Segue do
temos que ξˆ é um funcional linear limitado sobre N ∗ com norma kξk
∗
Teorema de Hahn-Banach, que dado ξ ∈ N podemos achar f ∈ N tal que
kf k = 1
logo
e f (ξ) = kξk,
ˆ = sup |ξ(f
ˆ )| = sup |f (ξ)| ≥ kξk
kξk
kf k=1
donde
kf k=1
ˆ = kξk
kξk
mostrando que ˆ é uma isometria de N em N ∗∗ .
Definição 7 Dado um espaço normado N , dizemos que uma sequência {fn } ⊂ N ∗ converge
w∗
ˆ n ) = ξ(f
ˆ ) para todo ξˆ ∈ N̂ . fn −→
fracamente* a f ∈ N ∗ se n→∞
lim ξ(f
f indicará essa
convergência.
ˆ n ) = fn (ξ) → f (ξ), a convergência fraca* corresponde a conNotamos que, como ξ(f
vergência pontual de funcionais de N ∗ .
w∗
Proposição 15 Se fn −→ f em N ∗ , então o limite é único. Além disso, N̂ separa pontos
de N ∗ e, se N é Banach, então {kfn k} é um conjunto limitado.
ˆ ) = ξ(g),
ˆ
Demonstração. Suponha que para todo ξ ∈ N tenha-se ξ(f
f, g ∈ N ∗ . Então,
f (ξ) = g(ξ) para todo ξ ∈ N , isto é, f = g. Isto mostra a unicidade do limite e como
corolário, que N̂ separa pontos de N .
Para mostrar que {kfn k} é limitado será usado o Teorema de Banach-steinhaus, por isso a
w∗
ˆ n )| = |fn (ξ)|
necessidade de N ser completo. Como fn −→ f temos que para todo ξ ∈ N , |ξ(f
é convergente, logo é limitado. Segue por Banach-Steinhaus, que {kfn k} é limitado.
Definição 8 A topologia forte em N é a topologia métrica induzida pela norma de N . Uma
base (aberta) dessa topologia é dada pelas bolas abertas BN (ξ, r) com ξ ∈ N e r > 0.
Definição 9 A topologia fraca em N é a topologia τ (N , N ∗ ) gerada pelos funcionais lineares
em N ∗ , ou seja, é a topologia menos fina em N na qual todos os elementos de N ∗ permanecem
contı́nuos. Uma sub-base (aberta) de τ (N , N ∗ ) é a coleção
V (ξ, f, r) = f −1 (BK (f (ξ), r)) = {η ∈ N ; |f (ξ) − f (η)| < r},
com ξ ∈ N , r > 0 e f ∈ N ∗
18
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Lembramos que uma base da topologia é dada pela famı́lia de interseções finitas de elementos da sub-base.
Claramente, a topologia fraca em N ∗ é τ (N ∗ , N ∗∗ ).
Proposição 16 Se dim N < ∞, então a topologia fraca e a topologia forte coincidem.
Demonstração. Sabemos que todo aberto da topologia fraca é também aberto da topologia forte, por definição. Devemos mostrar que todo aberto da topologia forte é aberto da
topologia fraca.
Seja U um aberto, não vazio, da topologia forte e u0 ∈ U . Para provar que U é aberto na
topologia fraca, basta mostrar que u0 é ponto interior de U para a topologia fraca. Escolha
r > 0 suficientemente pequeno tal que B(u0 , r) ⊂ U . Seja {e1 , . . . , en } uma base de N tal
que kej k = 1 para todo j. Defina, para cada i = 1, . . . , n
x=
fi
n
X
:N →K
xj ej 7→ xi .
j=1
Note que cada fi é linear e contı́nuo, pois dim N < ∞. Temos que
kx − u0 k =
≤
=
n
X
(xj − uj )ej
j=1
n
X
|xj − uj |
j=1
n
X
|fj (x − u0 )|.
j=1
Agora defina
r
, i = 1, . . . , n
V = x ∈ N ; |fi (x) − fi (u0 )| <
2n
e note que V é um aberto da topologia fraca e se x ∈ V , então
kx − u0 k ≤
n
X
|fj (x − u0 )| ≤
j=1
n
X
r
r
= .
2
j=1 2n
Portanto V ⊂ B(u0 , r).
Agora será introduzida outra topologia útil no espaço dual N ∗ .
19
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Definição 10 A topologia fraca* em N ∗ é a topologia τ (N ∗ , N̂ ) gerada pelos funcionais lineares em N̂ , ou seja, é a topologia menos fina em N ∗ em que todos os elementos de N̂
permanecem contı́nuos. Uma sub-base (aberta) de τ (N ∗ , N̂ ) é a coleção
ˆ ), r) = {g ∈ N ∗ ; |ξ(f
ˆ ) − ξ(g)|
ˆ
V ∗ (ξ, f, r) = ξˆ−1 BK (ξ(f
< r}
∗
= {g ∈ N : |f (ξ) − g(ξ)| < r}.
Um elemento tı́pico da base gerada pela sub-base acima da topologia τ (N ∗ , N̂ ) é dado
por
V ∗ (ξ1 , . . . , ξn , f, r) = {g ∈ N ∗ : max |ξˆj (f ) − ξˆj (g)| < r}
1≤j≤n
De forma análoga obtêm-se os elementos da base de τ (N , N ∗ )
V (ξ, f1 , . . . , fn , r) = {η ∈ N : max |fj (ξ) − fj (η)| < r}.
1≤j≤n
Proposição 17 Seja N um espaço normado. Então:
(1) A topologia fraca* em N ∗ é menos fina do que a topologia fraca em N ∗ .
(2) Se N é reflexivo as topologias fraca e fraca* em N ∗ coincidem.
(3) As topologias fraca em N e fraca* em N ∗ são de Hausdorff.
Demonstração. (1). É óbvio, pois N̂ ⊂ N ∗∗ .
(2). Também é óbvio, pois sendo N reflexivo temos que N̂ = N ∗∗ .
(3). Se x, y ∈ N e x 6= y, então pelo Teorema de Hahn-Banach existe f ∈ N ∗ tal que
f (x) − f (y) = f (x − y) = kx − yk = δ > 0.
Assim, temos que Vx = f −1 (B(f (x), δ/3)) e Vy = f −1 (B(f (y), δ/3)) são vizinhanças abertas
fracas de x e y, respectivamente, tal que Vx ∩ Vy = ∅.
Para a topologia fraca*, se f, g ∈ N ∗ e f 6= g, então existe ξ ∈ N tal que
ˆ ) − ξ(g)|.
ˆ
0 < δ = |f (ξ) − g(ξ)| = |ξ(f
Donde V ∗ (ξ, f, δ/3) e V ∗ (ξ, g, δ/3) são vizinhanças abertas não vazias e disjuntas de f e g,
respectivamente, logo a topologia fraca* é de Hausdorff.
Lembramos que:
Definição 11 O produto cartesiano
de uma famı́lia {Xs }s∈S de conjuntos é o conjunto
[
Y de
todas as funções f : S →
Xs tal que f (s) ∈ Xs para todo s ∈ S, é denotado por
Xs ,
ou por
∞
Y
s∈S
s∈S
Xi no caso de uma sequência X1 , X2 , . . . de conjuntos.
i=1
20
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Teorema 18 (Alaoglu) Se N é um espaço normado, então a bola fechada B ∗ = B N ∗ (0, 1) =
{f ∈ N ∗ : kf k ≤ 1} é compacta na topologia fraca*.
Demonstração. A cada ξ ∈ N associe Kξ = {z ∈ K : |z| ≤ kξk} o qual é compacto
em K e, pelo Teorema de Tychonoff, o produto cartesiano K de todos os Kξ é compacto na
topologia produto.
Cada elemento de K é, por definição, uma função f que a cada ξ ∈ N associa f (ξ) ∈ Kξ ,
donde |f (ξ)| ≤ kξk. Assim a bola unitária B ∗ é o subconjunto de K obtido pela restrição as
funções f ∈ K que são lineares. Para f ∈ B ∗ considere as famı́lias V ∗ (ξ, f, r) e
U (ξ, f, r) := {g ∈ K : |f (ξ) − g(ξ)| < r},
para ξ percorrendo N e todo r > 0. Tais famı́lias são sub-bases locais de vizinhanças de
f ∈ B ∗ na topologia fraca* e na topologia produto, respectivamente. Como B ∗ ⊂ K ∩ N ∗
vem que
V ∗ (ξ, f, r) ∩ B ∗ = U (ξ, f, r) ∩ B ∗
e assim a topologia fraca* de B ∗ e a topologia induzida de K em B ∗ coincidem. Assim, para
terminar a demonstração, basta mostrar que B ∗ é um subconjunto fechado de K.
Seja g um elemento do fecho de B ∗ em K, assim existe uma sequência {fn } ⊂ B ∗ tal que
para todo ξ ∈ N
|g(ξ)| = lim |fn (ξ)| ≤ kξk,
n→∞
∗
de forma que para mostrar que g ∈ B é suficiente verificar que g é linear. Toda vizinhança
de g em K intersecta B ∗ , assim dados x, y ∈ N e ε > 0 existe h ∈ B ∗ tal que
|g(x) − h(x)| < ε
|g(y) − h(y)| < ε
e para α ∈ K
|g(αx + y) − h(αx + y)| < ε,
usando a linearidade de h, obtemos
|g(αx + y) − αg(x) − g(y)| = |g(αx + y) − h(αx + y) − αg(x) + αh(x) − g(y) + h(y)|
≤ |g(αx + y) − h(αx + y)| + |α||g(x) − h(x)| + |g(y) − h(y)|
≤ (2 + |α|)ε,
como ε é arbitrário segue que
g(αx + y) = αg(x) + g(y).
Portanto, g é linear e B ∗ é fechado em K e consequentemente é compacta.
A primeira aplicação do Teorema de Alaoglu é uma caracterização dos espaços normados.
21
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Proposição 19 Se N é um espaço normado, então existe um espaço topológico compacto
X em que N é isomorfo (via aplicação linear isométrica) a um subespaço de C(X).
Demonstração. Pelo Teorema de Alaoglu basta escolher X = B N ∗ (0, 1) com a topologia
fraca* e a aplicação canônica ˆ : N → N̂ ⊂ N ∗∗ sendo a isometria linear entre N e um
subespaço de C(X).
Proposição 20 Seja A : X → Y um operador compacto, onde X e Y são espaços de
Banach. Então A′ é compacto.
Demonstração.
Seja fn ∈ Y ∗ uma sequência de funcionais lineares tais que kfn k ≤ C, então para todo
ξ ∈ X temos que
|(A′ fn )(ξ)| = |fn (Aξ)| ≤ kfn kkAkkξk ≤ CkAkkξk
isso mostra que os funcionais (A′ fn ) ∈ X ∗ e são pontualmente limitados, pelo Teorema da
limitação uniforme segue que os funcionais (A′ fn ) são uniformemente limitados, isto é, existe
uma constante k > 0 tal que k(A′ fn )k ≤ k para todo n. Pelo Teorema de Alaoglu a Bola
B[0, k] é compacta em X ∗ na topologia fraca∗ e como (A′ fn ) ∈ B[0, k], segue que (A′ fn ) tem
uma subsequência (A′ fnj ) que converge fraca∗ para algum g ∈ X ∗ .
Temos que, para todo ξ ∈ X
ˆ ′ fn ) → ξ(g),
ˆ
ξ(A
j
ou seja
fnj (Aξ) → g(ξ),
(8)
Agora seja xn ∈ X uma sequência tal que kxn k = 1, pela compacidade de A, Axn tem
uma subsequência
Axni → η.
Como {xni } é uma sequência limitada ela possui uma subsequência convergente, digamos
xnk → η, mas sendo Axnk subsequência de Axni , temos pela continuidade de A que
Axni → η = lim Axnk = Aη.
k→∞
Pela continuidade dos fnj temos que
(A′ fnj )(xnk ) = fnj (Axnk ) → fnj (Aη),
assim
k(A′ fnj − g)(xnk )k ≤ kfnj (Axnk ) − fnj (Aη)k + kfnj (Aη) − g(η)k + kg(η) − g(xnk )k
agora observe que
kfnj (Axnk ) − fnj (Aη)k → 0
kfnj (Aη) − g(η)k → 0
22
por (9),
por (8)
(9)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
e
kg(η) − g(xnk )k → 0
pela continuidade de g.
Portanto, k(A′ fnj − g)(xni )k → 0 e pela arbitrariedade da sequência unitária xn segue que
A′ fnj → g fortemente.
1.4 A representação de Riesz em espaços de Hilbert e o
operador adjunto de Hilbert. Representação em espaços
pré-Hilbertianos
Seja H um espaço pré-Hilbertiano a aplicação ξ 7→ fξ (η) = hξ, ηi é uma isometria anti-linear
de H em H ∗ . De fato, a antilinearidade da aplicação segue da antilinearidade do produto
interno. Por outro lado, a linearidade de fξ é óbvia e
|fξ (η)| = |hξ, ηi| ≤ kξkkηk,
isto é, fξ ∈ H ∗ e kfξ k ≤ kξk. Pela continuidade de fξ temos que
kξkkfξ k ≥ |fξ (ξ)| = kξk2
⇒
kfξ k ≥ kξk.
Portanto, kfξ k = kξk.
O Teorema de representação de Riesz fornece a recı́proca do resultado acima quando H
é de Hilbert, mais precisamente:
Teorema 21 (Representação de Riesz) Sejam H um espaço de Hilbert e f ∈ H ∗ , então
existe um único ξ ∈ H tal que
f (η) = hξ, ηi, ∀ η ∈ H.
Além disso, kf k = kξk.
Demonstração. Admitindo que (10) vale, temos que
|f (η)| = |hη, ξi| ≤ kηkkξk ⇒ kf k ≤ kξk
e pela continuidade de f temos que
kξkkf k ≥ |f (ξ)| = kξk2 ⇒
kf k ≥ kξk
logo kf k = kξk, isso também mostra que a aplicação ξ 7→ hξ, ηi =: f (η) é injetiva.
23
(10)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Agora vamos mostrar que todo funcional linear contı́nuo tem a forma (10). Se f é o
funcional nulo tome ξ = 0, caso contrário o ker(f ) é um subespaço fechado, pois f é contı́nuo,
e próprio de H, pois f 6= 0, donde
H = ker(f ) ⊕ ker(f )⊥ ,
daı́ existe um ζ ∈ ker(f )⊥ com kζk = 1. Além disso, para todo η ∈ H o vetor f (η)ζ − f (ζ)η
pertence ao ker(f ), pois pela linearidade de f temos
f (f (η)ζ − f (ζ)η) = f (η)f (ζ) − f (ζ)f (η) = 0
e consequentemente
0 = hζ, f (η)ζ − f (ζ)ηi = f (η) − f (ζ)hζ, ηi
donde f (η) = hf (ζ)ζ, ηi. A unicidade é imediata, pois se
f (η) = hξ, ηi = hξ1 , ηi
⇒
hξ − ξ1 , ηi = 0 ∀ η ∈ H
⇒
ξ = ξ1 .
O Teorema de Representação de Riesz nos diz que H e H ∗ são isométricos através da
aplicação antilinear ξ 7→ hξ, · i = f ( · ) ∈ H ∗ .
O Teorema de Representação de Riesz também vale para funcionais antilineares contı́nuos,
mas precisamente, temos
Teorema 22 Sejam H um espaço de Hilbert e f : H → C um funcional antilinear contı́nuo,
então existe um único ξ ∈ H tal que
f (η) = hη, ξi, ∀ η ∈ H.
Além disso, kf k = kξk.
Demonstração. Relembre que um operador T : N1 → N2 é antilinear se
T (αx + y) = α T x + T y.
Admitindo que vale o resultado em (11), temos que
|f (η)| = |hη, ξi| ≤ kηkkξk ⇒ kf k ≤ kξk
e pela continuidade de f temos que
kξkkf k ≥ |f (ξ)| = kξk2 ⇒
kf k ≥ kξk
logo kf k = kξk, isso também mostra que a aplicação ξ 7→ hη, ξi = f (η) é injetiva.
24
(11)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Agora vamos mostrar que todo funcional antilinear contı́nuo tem a forma (11). Se f é o
funcional nulo então ξ = 0, caso contrário o ker(f ) é um subespaço fechado, pois f é contı́nuo,
e próprio de H, pois f 6= 0, donde
H = ker(f ) ⊕ ker(f )⊥ ,
daı́ existe um ζ ∈ ker(f )⊥ com kζk = 1. Além disso, para todo η ∈ H o vetor f (ζ)η − f (η)ζ
pertence ao ker(f ), pois pela antilinearidade de f temos
f (f (ζ)η − f (η)ζ) = f (ζ)f (η) − f (η)f (ζ) = 0
e consequentemente
0 = hf (ζ)η − f (η)ζ, ζi = f (ζ)hη, ζi − f (η)
donde f (η) = hη, f (ζ)ζi. A unicidade é imediata, pois se
f (η) = hξ, ηi = hξ1 , ηi
⇒
hξ − ξ1 , ηi = 0 ∀ η ∈ H
⇒
ξ = ξ1 .
O Teorema acima nos diz que H e o espaço dos funcionais antilineares contı́nuos são
isométrico através da aplicação linear ξ →
7 fξ (η) = hη, ξi.
No caso de espaços de Hilbert obtemos um caso especial do Teorema de Hahn-Banach.
Teorema 23 Seja f um funcional linear limitado definido sobre um subespaço E de um
espaço de Hilbert H. Então existe um g ∈ H ∗ tal que
(1) f (x) = g(x) para todo x ∈ E,
(2) kf k = kgk.
Demonstração. Se E é um subespaço fechado, então E é um espaço de Hilbert e pelo
Teorema de Representação de Riesz existe um único x0 ∈ E tal que f (x) = hx0 , xi para todo
x ∈ E. Então, definimos g por g(x) = hx0 , xi sobre H. Claramente, (1) e (2) são satisfeitas.
Se E não é fechado, então primeiro estendemos f para um funcional linear limitado
definido no fecho de E de maneira natural e aplicamos o raciocı́nio anterior.
Para o próximo resultado, lembramos que a norma de um espaço vetorial é induzida por
um produto interno se, e somente se, ela satisfaz a lei do paralelogramo
kx + yk2 + kx − yk2 = 2(kxk2 + kyk2 ).
Proposição 24 Seja H um espaço de Hilbert. Então H ∗ é um espaço de Hilbert com o
produto interno
hfξ , fη iH ∗ := hη, ξi, fξ , fη ∈ H ∗ ,
onde fξ (x) := f (x) = hξ, xi.
25
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Como a aplicação ξ 7→ hξ, · i = f ( · ) ∈ H ∗ é uma isometria a lei do
paralelogramo é satisfeita, portanto a norma do espaço de Banach H ∗ é induzida por um
produto interno hh· , ·ii. Usando a identidade de polarização junto com a isometria antilinear
do Teorema de Riesz, obtemos
1
hhfξ , fη ii = (kfξ + fη k2 − kfξ − fη k2 + ikfξ + ifη k2 − ikfξ − ifη k2 )
4
1
= (kξ + ηk2 − kξ − ηk2 + ikξ − iηk2 − ikξ + iηk2 )
4
1
= (kη + ξk2 − kη − ξk2 + ikη + iξk2 − ikη − iξk2 )
4
= hη, ξi = hfξ , fη iH ∗ .
Definição 12 Uma forma sesquilinear sobre dois espaços normados N1 e N2 é uma aplicação
B : N1 × N2 → C, linear na segunda variável e antilinear na primeira variável. B é limitada
se sua norma
|B(ξ1 , ξ2 )|
kBk := sup
< ∞.
06=ξ1 ∈ N1 kξ1 kkξ2 k
06=ξ2 ∈ N2
Proposição 25 Sejam H1 e H2 espaços de Hilbert. Se B : H1 × H2 → C é uma forma
sesquilinear limitada, então existe um único operador T ∈ L(H1 , H2 ) satisfazendo
B(x, y) = hT x, yi,
∀ x ∈ H1 , y ∈ H2 .
Além disso, kT k = kBk.
Demonstração. Para cada x ∈ H1 o funcional Lx : H2 → C definido por Lx (ξ) = B(x, ξ) é
linear, e como
|Lx (ξ)| = |B(x, ξ)| ≤ kBkkxkkξk,
segue que kLx k ≤ kBkkxk e consequentemente Lx ∈ H2∗ .
Pelo Teorema de representação de Riesz existe um único η0 ∈ H2 tal que Lx (ξ) = hη0 , ξi
para todo ξ ∈ H2 . Defina T : H1 → H2 por T x = η0 para o qual B(x, y) = hT x, yi para todo
x ∈ H1 e todo y ∈ H2 e é linear. De fato, para todo x, y ∈ H1 , z ∈ H2 e α ∈ C temos
hT (αx + y), zi = B(αx + y, z)
= αB(x, z) + B(y, z)
= αhT x, zi + hT y, zi
= hαT x + T y, zi
donde
T (αx + y) = αT x + T y.
26
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Note que T = 0 se, e somente se, B = 0. Assim, se B 6= 0, como hT x, T xi = B(x, T x) para
todo x ∈ H1 , obtemos
kT k = sup
06=x
06=T x
hT x, T xi
kT xk
= sup
≤ kBk
kxk
06=x kxkkT xk
06=T x
|hT x, yi|
= sup
06=x kxkkyk
06=y
≤ sup
06=x
06=y
kT xkkyk
= kT k,
kxkkyk
mostrando que T ∈ L(H1 , H2 ) e kT k = kBk. A unicidade do operador segue da relação
hT x, yi = hSx, yi, para quaisquer x ∈ H1 e y ∈ H2 implica que S = T .
O exemplo padrão de forma sesquilinear limitada é o produto interno num espaço préHilbertiano, nesse caso H1 = H2 e T = Id.
Os resultados acima permitem definir o operador adjunto de Hilbert para cada T ∈
L(H1 , H2 ), o qual será denotado por T ∗ .
Dado T ∈ L(H1 , H2 ), então
B(y, x) := hy, T xi, x ∈ H1 , y ∈ H2 ,
define uma forma sesquilinear B : H2 × H1 → C, e como |B(y, x)| ≤ kT kkykkxk, segue
que B é limitada com kBk ≤ kT k. De forma similar a proposição anterior, mostra-se que
kBk = kT k. Também pela proposição anterior, existe um único T ∗ ∈ L(H2 , H1 ) satisfazendo
hT ∗ y, xi = B(y, x) = hx, T yi, para todo x ∈ H1 , y ∈ H2
e ainda, kT ∗ k = kBk = kT k.
Definição 13 Se T ∈ L(H1 , H2 ), então o único operador T ∗ ∈ L(H2 , H1 ) construı́do acima
é chamado de operador adjunto de Hilbert de T .
Definição 14 Um operador T ∈ L(H) é normal se T ∗ T = T T ∗ . Se T ∗ = T , então T é
chamado de auto-adjunto.
Proposição 26 Sejam A, T ∈ L(H). O operador adjunto tem as seguintes propriedades:
(1) (AT )∗ = T ∗ A∗ .
(2) Para λ ∈ C, (λA)∗ = λA∗ e (A + B)∗ = A∗ + B ∗ .
(3) A∗∗ = A.
27
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
(4) A possui inversa limitada se, e somente se, A∗ também possui e nesse caso (A−1 )∗ =
(A∗ )−1
Demonstração. (1). Para todos x, y ∈ H temos
h(AT )∗ x, yi = hx, AT yi = hT ∗ A∗ x, yi ⇒ (AT )∗ = T ∗ A∗ .
(2). h(λA)∗ x, yi = hx, λAyi = hλA∗ x, yi ⇒ (λA)∗ = λA∗ . Para a segunda parte
h(A + B)∗ x, yi = hx, (A + B)yi = hx, Ayi + hx, Byi
= hA∗ x, yi + hB ∗ x, yi
= h(A∗ + B ∗ x, yi,
donde (A + B)∗ = A∗ + B ∗ .
(3). hA∗∗ x, yi = hx, A∗ yi = hAx, yi ⇒ A∗∗ = A.
(4). Se A tem inversa A−1 limitada, então como I = I ∗ obtemos usando (1)
I = I ∗ = (AA−1 )∗ = (A−1 )∗ A∗
e
I = I ∗ = (A−1 A)∗ = A∗ (A−1 )∗
mostrando que A∗ é inversı́vel, (A∗ )−1 = (A−1 )∗ e que (A∗ )−1 é limitada, pois pelo item (3)
k(A∗ )−1 k = k((A∗ )−1 )∗ k = k(A−1 )∗∗ k = kA−1 k
e como A−1 é limitada segue que (A∗ )−1 é limitada.
Proposição 27 Se A ∈ L(H), então:
(1) ker(A) = A∗ (H)⊥ .
(2) ker(A∗ ) = A(H)⊥ .
(3) A(H) = ker(A∗ )⊥ .
(2) A∗ (H) = ker(A)⊥ .
Demonstração. (1). Se x ∈ ker(A), temos para todo y ∈ H
0 = hAx, yi = hx, A∗ yi,
donde x ∈ A∗ (H)⊥ .
Reciprocamente, se x ∈ A∗ (H)⊥ temos
0 = hx, A∗ yi = hAx, yi,
28
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
donde Ax = 0, isto é, x ∈ ker(A).
(2). Se y ∈ ker(A∗ ), então
hy, Axi = hA∗ y, xi = 0
para todo x ∈ H, logo y ∈ A(H)⊥ . Reciprocamente, se y ∈ A(H)⊥ , então
hA∗ y, xi = hy, Axi = 0
para todo x ∈ H, logo A∗ y = 0 e y ∈ ker(A∗ ).
(3). Por (2) ker(A∗ )⊥ = A(H)⊥⊥ = A(H).
(4). Por (1)
ker(A)⊥ = A∗ (H)⊥⊥ = A∗ (H).
Teorema 28 Seja A ∈ L(H) um operador auto-adjunto em um espaço de Hilbert H. Então
kAk = sup |hAx, xi|.
kxk=1
Demonstração. Pela desigualdade de Cauchy-Schwarz
sup |hAx, xi| ≤ sup kAxkkxk = kAk,
kxk=1
kxk=1
isto é,
sup |hAx, xi| ≤ kAk.
kxk=1
Agora, dado y ∈ H com kyk = 1 e escrevendo
hAx, yi = |hAx, yi|eiθ
temos que
hAx, eiθ yi = |hAx, yi|,
Por outro lado, um simples cálculo mostra que
1
|hAx, yi| = |hA(x + y), x + yi − hA(x − y), x − yi|.
4
29
(12)
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Por simplicidade seja z = eiθ y, então para todo x ∈ H unitário
1
|hAx, yi| = |hAx, zi| = |[hA(x + z), x + zi − hA(x − z), x − zi]|
4Æ
Æ
∏
∏ô
ñ
x+z
x−z
1
2 A(x − z)
2 A(x + z)
− kx − zk
,
,
kx + zk
=
4
kx + zk kx + zk
kx − zk kx − zk
Ç
å
1
2
2
≤
kx + zk sup |hAv, vi| + kx − zk sup |hAv, vi|
4
kvk=1
kvk=1
Ç
1
(kx + zk2 + kx − zk2 ) sup |hAv, vi|
=
4
kvk=1
Ç
1
(2kxk2 + 2kzk2 ) sup |hAv, vi|
=
4
kvk=1
Ç
1
4 sup |hAv, vi|
=
4 kvk=1
å
å
å
= sup |hAv, vi|,
kvk=1
isto é,
|hAx, yi| ≤ sup |hAv, vi| ≤ kAk.
sup
kxk=1,kyk=1
(13)
kvk=1
Acima, a quinta igualdade é devida a regra do paralelogramo.
Mas sabemos que hAx, yi =: B(x, y) é uma forma sesquilinear tal que
kAk = kBk :=
sup
|hAx, yi|.
kxk=1,kyk=1
Portanto
kAk =
|hAx, yi| ≤ sup |hAv, vi| ≤ kAk,
sup
kxk=1,kyk=1
(14)
kvk=1
isto é,
kAk = sup |hAv, vi|.
kvk=1
Proposição 29 Seja H um espaço vetorial pre-Hilbertiano. A aplicação que a cada x ∈ H
associa o funcional linear f (y) := hx, yi é uma isometria antilinear. Além disso, se essa
aplicação é sobrejetiva, então H é um espaço de Hilbert.
Demonstração. A primeira parte do Teorema já foi mostrada inicialmente. Para a segunda
parte, suponhamos que a aplicação x 7→ fx (·) := hx, ·i é sobrejetiva. Dada uma sequência
xn ∈ H tal que kxn −xm k → 0, então como kfxn −fxm k = kxn −xm k → 0 segue que fxn é uma
sequência de Cauchy em H ∗ que é completo. Assim, existe f ∈ H ∗ tal que kfxn − f k → 0.
Por hipótese f = fx para algum x ∈ H, assim
kxn − xk = kfxn − fx k = kfxn − f k → 0.
30
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J. Ivan S. S.
Portanto xn → x, logo toda sequência de Cauchy em H é convergente, isto é, H é completo.
Combinando o Teorema de Representação de Riesz com o Teorema acima obtemos:
Teorema 30 Seja H um espaço pré-Hilbertiano. Então a aplicação x 7→ fx (·) := hx, ·i é
sobrejetiva se, e somente se, H é um espaço de Hilbert.
Agora note que, se H é um espaço pré-Hilbertiano e f ∈ H ∗ esse se estende, devido
f o completamento de H. Da mesma forma
ao B.L.T., de maneira única a um fe sobre H,
∗
f pode ser restrito a H, gerado por um único f ∈ H ∗ . Em outras palavras
cada fe ∈ H
f∗ . Mas em H
f vale o Teorema de representação de Riesz, isto é, dado fe ∈ H
f∗
H∗ = H
f tal que fe(·) = hw,
f então existe w ∈ H tal que
‹ ∈ H
‹ ·i. Como w
‹ ∈ H,
existe um único w
n
e
‹ assim f (·) = lim hwn , ·i. Em particular, isso significa que os funcionais da forma
wn → w,
n→∞
f∗ .
fw = hw, ·i w ∈ H é denso em H
1.5 Espaços reflexivos e compacidade sequencial
Seja X um espaço vetorial, denotaremos por X ∗∗ := (X ∗ )∗ o bidual de X. Há uma forma
natural de identificar elementos de X com elementos de seu bidual: a cada ξ ∈ X associa-se
ξˆ ∈ X ∗∗ definido por
ˆ ) := f (ξ), f ∈ X ∗ .
ξ(f
Essa aplicação é chamada de aplicação canônica de X em X ∗∗ , e vale
Proposição 31 Seja X um espaço vetorial normado. Então a aplicação canônica ˆ: X →
X ∗∗ é uma isometria linear.
Demonstração. Para ξ1 , ξ2 ∈ X, f ∈ X ∗ e a ∈ K temos que
¤
ˆ
ˆ
(ξ
1 + aξ2 )(f ) = f (ξ1 + aξ2 ) = f (ξ1 ) + af (ξ2 ) = ξ1 (f ) + aξ2 (f ).
portanto a aplicação canônica é linear.
Como
ˆ )| = |f (ξ)| ≤ kf kkξk
|ξ(f
ˆ ≤ kξk. Pelo Teorema de Hahn-Banach,
segue que ξˆ é um funcional linear limitado e kξk
dado 0 6= ξ ∈ X existe f ∈ X ∗ tal que kf k = 1 e f (ξ) = kξk assim, temos
ˆ = sup |ξ(f
ˆ )| ≥ kξk
kξk
kf k=1
donde
ˆ = kξk.
kξk
31
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Definição 15 Se a aplicação canônica é sobrejetiva, então o espaço normado X é chamado
reflexivo. Em outras palavras, X é reflexivo se ele é isomorfo a X ∗∗ e o isomorfismo sendo
a aplicação canônica. Indicaremos a imagem da aplicação canônica por X̂.
Proposição 32 Todo espaço normado reflexivo é Banach e se dim X < ∞, então X é
reflexivo.
Demonstração. Ora, como todo espaço métrico isométrico a um espaço de Banach é
também de Banach. Então, sendo X reflexivo, ou seja, X é isométrico ao espaço de Banach
X ∗∗ segue que X é de Banach. Como dim X < ∞, então dim X ∗∗ = dim X ∗ = dim X < ∞
e como a aplicação canônica é injetiva segue que também é sobrejetiva, donde X é reflexivo.
Proposição 33 Todo subespaço vetorial fechado de um espaço normado reflexivo é também
reflexivo.
Demonstração. Seja E um subespaço fechado, suposto próprio, de um espaço reflexivo
X, observe que pela proposição anterior X é Banach e consequentemente E também é Banach.
Se f ∈ X ∗ , sua restrição fE := f |E ao subespaço E é um elemento de E ∗ e pelo Teorema
de Hahn-Banach, cada g ∈ E ∗ se estende a algum f ∈ X ∗ . Assim, para todo h ∈ E ∗∗ basta
considerar h(fE ), e o objetivo é encontrar ξh ∈ E tal que h = ξˆh .
Defina o funcional linear H : X ∗ → K por H(f ) = h(fE ) com f ∈ X ∗ e como
|H(f )| = |h(fE )| ≤ khkkfE k ≤ khkkf k
segue que H ∈ X ∗∗ e sendo X reflexivo, existe um ξh ∈ X tal que H = ξˆh . Por construção
h(fE ) = H(f ) = ξˆh (f ), ∀ f ∈ X ∗ .
O próximo passo é mostrar que ξh ∈ E. De fato, se ξh ∈
/ E, então pelo Teorema de
∗
Hahn-Banach existe f ∈ X tal que f (ξh ) 6= 0 e fE = 0 mas isto contradiz a relação acima,
pois
0 6= f (ξh ) = h(fE ) = 0.
Portanto ξh ∈ E.
Assim h(fE ) = f (ξh ) = fE (ξh ), para todo f ∈ X ∗ e como E ∗ = {fE ; f ∈ X ∗ }, segue que
h(g) = g(ξh ) para todo g ∈ E ∗ , ou seja, h = ξˆh , sendo agora ˆ a aplicação canônica E 7→ Ê.
Portanto essa aplicação é sobrejetiva, concluindo-se que E é reflexivo.
Proposição 34 Todo espaço de Hilbert é reflexivo.
Demonstração. Devemos mostrar que Ĥ = H ∗∗ , ou seja, se g ∈ H ∗∗ , então existe ζ ∈ H
tal que ζ̂ = g. Pelo Teorema de representação de Riesz, todo f ∈ H ∗ é da forma fξ (η) =
f (η) = hξ, ηi e a aplicação ξ 7→ fξ é uma isometria antilinear.
32
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Lembramos que, como H é de Hilbert isso implica que H ∗ e H ∗∗ também são de Hilbert.
Além disso, o produto interno em H ∗ é dado por
hfξ , fη iH ∗ = hη, ξiH ,
pata todo ξ, η ∈ H.
Pelo Teorema de representação de Riesz, aplicado a g ∈ H ∗∗ , existe um único elemento
fζ ∈ H ∗ , para algum ζ ∈ H tal que
g(fξ ) = hfζ , fξ i = hξ, ζi = fξ (ζ) = ζ̂(fξ ),
ou seja, g = ζ̂.
Teorema 35 Seja X um espaço de Banach. Então, X é reflexivo se, e somente se, X ∗ é
reflexivo.
Demonstração. Suponha que X é reflexivo. Sejam J : X → X ∗∗ e J ∗ : X ∗ → X ∗∗∗ as
aplicações canônicas, isto é,
(Jx)(f ) = f (x)
(J ∗ f )(f ∗ ) = f ∗ (f ).
Seja f ∗∗ ∈ X ∗∗∗ . Para provar que X ∗ é reflexivo, precisamos encontrar f ∈ X ∗ tal que
f ∗∗ = J ∗ (f ). Considere f := f ∗∗ ◦ J ∈ X ∗ :
f ∗∗
J
X −→ X ∗∗ −→ K.
Logo,
f ∗∗ (J(x)) = f (x) = (Jx)(f )
para todo x ∈ X. Como X é reflexivo, para todo f ∗ ∈ X ∗∗ existe x ∈ X tal que f ∗ = Jx.
Substituindo na última equação acima, segue que
f ∗∗ (f ∗ ) = f ∗ (f )
para todo f ∗ ∈ X ∗∗ , ou seja,
f ∗∗ = (J ∗ f ).
Reciprocamente, suponha que X ∗ é reflexivo. Para provar que X é reflexivo, observamos
em primeiro lugar que, sendo X um espaço de Banach, o subespaço vetorial J(X) é um
subespaço fechado de X ∗∗ . De fato, como J é uma isometria, se Jxn → f ∗ ∈ X ∗∗ , então em
particular {xn } é uma sequência de Cauchy em X. Logo existe x ∈ X tal que xn → x em
X, donde pela continuidade de J temos Jxn → Jx e portanto f ∗ = Jx ∈ J(X).
Suponha por absurdo que J(X) 6= X ∗∗ . Seja f ∗ ∈ X ∗∗ \J(X). Pelo Teorema de HahnBanach, existe f ∗∗ ∈ X ∗∗∗ tal que f ∗∗ = 0 em J(X) e f ∗∗ (f ∗ ) 6= 0. Como X ∗ é reflexivo,
existe f ∈ X ∗ tal que f ∗∗ = J ∗ f . Daı́, para todo x ∈ X vale que
f (x) = (Jx)(f ) = (J ∗ f )(Jx) = f ∗∗ (Jx) = 0,
33
J. Ivan S. S.
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isto é, f é o funcional nulo. Mas
f ∗ (f ) = (J ∗ f )(f ∗ ) = f ∗∗ (f ∗ ) 6= 0,
contradição.
Definição 16 Seja X um espaço métrico. Dizemos que X é sequencialmente compacto
quando toda sequência de pontos de X possui subsequência convergente.
Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass (um espaço topológico S é compacto se, e somente
se, todo net de S possui subnet convergente), temos que todo espaço métrico compacto é
sequencialmente compacto, a recı́proca não vale em geral, pois nem todo net é uma sequência.
Assim, temos que
Lema 3 Se X é um espaço vetorial normado. Todo subconjunto compacto de X ∗ na topologia
fraca* é sequencialmente compacto. Em particular, pelo Teorema de Alaoglu, BX ∗ [0, 1] é
sequencialmente compacto.
Proposição 36 Seja X um espaço vetorial normado e separável, então toda sequência limitada em X ∗ possui uma subsequência convergente na topologia fraca*.
Demonstração. Seja {xn } ⊂ X um subconjunto enumerável e denso e {fn } ⊂ X ∗ uma
sequência limitada, digamos
kfn k ≤ M, para todo n.
A sequência {fn (x1 )} é limitada pois |fn (x1 )| ≤ M kx1 k, logo possui uma subsequência convergente {fn1 (x1 )}. Considere a subsequência {fn1 (x2 )} que sendo limitada, possui uma
subsequência convergente {fn2 (x2 )}. Procedendo dessa maneira, para cada k ∈ N obtemos
uma subsequência convergente {fnk } da subsequência limitada {fnk−1 }. Defina
gn := (fnn )n
(isto é, gn é o n-ésimo termo da subsequência fnn ; método da diagonal de Cantor). Então gn
é uma subsequência de fn tal que {gn (xk )} converge qualquer que seja o k ∈ N.
Afirmamos que {gn (·)} converge para todo x ∈ X. De fato, dados x ∈ X e ε > 0, existe
k ∈ N tal que
ε
.
kx − xk k <
3M
Daı́
kgn (x) − gm (x)k ≤ kgn (x) − gn (xk )k + kgn (xk ) − gm (xk )k + kgm (xk ) − gm (x)k
≤ kgn kkx − xk k + kgn (xk ) − gm (xk )k + kgm kkxk − xk
2
< kgn (xk ) − gm (xk )k + ε,
3
34
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como {gn (xk )} é de Cauchy, {gn (x)} também é.
Defina g : X → K por
g(x) = n→∞
lim gn (x).
Então g é claramente linear e é limitada, pois
|g(x)| ≤ lim |gn (x)| ≤ M kxk.
n→∞
Portanto {gn } é uma subsequência fracamente* convergente de {fn }. Lembre que a convergência fraca* é equivalente a convergência pontual de funcionais lineares.
Diz-se que, neste caso, todo subconjunto limitado de X ∗ é fracamente* sequencialmente
compacto.
1.6 Operadores compactos em espaços de Hilbert: operadores de posto finito, de Hilbert-Schmidt e densidade
Definição 17 Um operador linear T : X → Y entre espaços normados é compacto, também
chamado de completamente contı́nuo, se a imagem T (A) de qualquer subconjunto limitado
A ⊂ X é precompacta em Y , isto é, T (A) é compacto.
Lema 4 Um operador linear T : X → Y é compacto se, e somente se, T xn tem uma
subsequência convergente para qualquer sequência limitada xn ∈ X.
Demonstração. Se T é compacto e {xn } é limitada, então o fecho de T xn é compacto,
assim qualquer sequência no fecho de T xn possui subsequência convergente e essa é uma
subsequência de T xn .
Reciprocamente, assuma que toda sequência limitada {xn } contém uma subsequência
{xnk } tal que T xnk converge em Y . Considere qualquer subconjunto limitado B ⊂ X e seja
{yn } qualquer sequência em T (B). Então, yn = T xn para algum xn ∈ B, e {xn } é limitada
pois B é. Por hipótese, T xn contém uma subsequência convergente. Então, pelo Teorema
de Bolzano-weierstrass T (B) é compacto, pela arbitrariedade da sequência yn . Por definição,
isso mostra que T é compacto.
Lema 5 Sejam X e Y espaços normados. Então:
(1) Todo operador linear compacto T : X → Y é limitado.
(2) Se dim X = ∞, o operador identidade I : X → X (que é contı́nuo) não é compacto.
Demonstração. (1) A esfera unitária U = {x ∈ X ; kxk = 1} é limitada. Como T é compacto, temos T (U ) é compacto e consequentemente é limitado (pois, todo subconjunto compacto de um espaço métrico é limitado), ou seja,
kT k = sup kT xk < ∞.
kxk=1
35
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(2). Como a bola fechada M = {x ∈ X ; kxk ≤ 1} é limitada. Se dim X = ∞, então M não
é compacta, donde I(M ) = M não é compacto.
Observação: É fácil ver que, com as operações naturais de soma e multiplicação por
escalar o conjunto dos operadores compactos T : X → Y é um subespaço do espaço vetorial
L(X, Y ), o conjunto de todos os operadores lineares contı́nuos.
Lema 6 Sejam T : X → Y e S : Y → X operadores lineares limitados entre espaços
normados. Então, se T é compacto temos que T S e ST também são.
Demonstração. Se A é um conjunto limitado, então S(A) também é limitado, e assim,
T S(A) é precompacto. Portanto T S é compacto.
A imagem por T de qualquer sequência limitada {ξn } ⊂ X possui subsequência {T ξnj }
convergente, pois T é compacto. Como S é contı́nuo, {ST ξnj } também é convergente. Donde,
ST é compacto.
Obsevação Note que no Lema acima a linearidade (multiplicação por escalar) dos operadores não foi necessária, de modo que tal Lema vale para operadores antilineares.
Definição 18 Um operador T ∈ L(X, Y ), onde X e Y são espaços vetoriais normados é
dito ser de posto finito se dim(T (X)) < ∞.
Proposição 37 Sejam X e Y espaços normados. Se dim(X) < ∞, então todo operador
T : X → Y tem posto finito.
Demonstração. Se dim(T (X)) = ∞, então escolhendo n vetores T x1 , . . . , T xn L.I. em
T (X) tal que n > dim(X), temos que x1 , . . . , xn são L.I. em X. Com efeito, se
n
X
aj xj = 0
j=1
então
aj
n
X
T xj = 0
⇒
a1 = a2 = · · · = 0
j=1
e isto contradiz o fato de que a dim(X) < n. Portanto T tem posto finito.
Proposição 38 Todo operador linear limitado de posto finito é compacto.
Demonstração. Se T ∈ L(X, Y ) é um operador linear de posto finito e A ⊂ X é um
subconjunto limitado. Então, como T é limitado, T (A) também é limitado e seu fecho T (A)
é um conjunto fechado e limitado e, como dim(T (X)) < ∞, segue que T (X) é de Banach e
como todo subconjunto limitado e fechado em um espaço métrico completo é compacto segue
que T (A) é compacto.
36
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Teorema 39 Sejam Tn : X → Y uma sequência de operadores lineares compactos, onde X
é normado e Y é Banach, e T : X → Y um operador linear tal que kTn − T k → 0. Então T
é compacto.
Demonstração. Dada {xn } ⊂ X uma sequência limitada, que podemos supor sem perda
de generalidade que kxn k ≤ 1, então para mostrar que T é compacto vamos mostrar que T xn
tem uma subsequência convergente.
Pela compacidade dos elementos da sequência {Tn } seja:
{x1n } uma subsequência de {xn } tal que T1 x1n é convergente, digamos T1 x1n → u1 .
{x2n } uma subsequência de {x1n } tal que T2 x2n é convergente, digamos T2 x2n → u2 .
Continuando indutivamente, obtemos para cada k, uma subsequência xkn de xk−1
tal que
n
Tk xkn → uk .
Podemos arrumar os xkn na seguinte matriz retangular
x1 x12
12
x1 x22
..
..
.
.
k
x1 xk2
..
..
.
.
. . . x1k
. . . x2k
.
..
. ..
. . . xkk
.
. . . ..
...
. . .
. . .
. . .
...
Donde, a k-ésima linha é por construção uma subsequência da (k−1)-ésima linha. Considere a
k+2
sequência diagonal x11 , x22 , x33 . . . , xkk . . .. Para cada k a sequência xkk , xk+1
k+1 , xk+2 . . . é claramente
uma subsequência da k-ésima linha, e consequentemente
lim Tk xnn = uk para k = 1, 2, 3, · · · .
n→∞
Afirmamos que T xnn é uma sequência de Cauchy. Dado ε > 0, fixe qualquer ı́ndice k tal
que kTk − T k < ε. Para todo m e n
n
m
m
n
n
kT xm
m − T xn k ≤ k(T − Tk )xm k + kTk xm − Tk xn k + k(Tk − T )xn )k
n
< 2ε + kTk xm
m − Tk xn k.
n
Como Tk xnn → uk , existe um ı́ndice N tal que kTk xm
m − Tk xn k < ε sempre que m, n ≥ N .
n
n
Então kT xm
m − T xn k < 3ε sempre que m, n ≥ N . Isto mostra que a subsequência T xn é de
Cauchy e como Y é completo ela converge. Portanto T é compacto.
Corolário 40 Sejam X e Y espaços normados com Y de Banach. Então o conjunto de
todos os operadores lineares compactos de X em Y é um subespaço fechado do espaço vetorial
L(X, Y ), e assim é um espaço de Banach, pois L(X, Y ) é de Banach.
Demonstração. Imediata, pelo o Teorema.
37
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Corolário 41 Sejam X e Y espaços normados com Y de Banach. Se {Tn } é uma sequência
de operadores de posto finito e Tn → T em L(X, Y ), então T é compacto.
Demonstração. Como cada Tn é de posto finito, segue que Tn é compacto pela Proposição
38, donde pelo Teorema T é compacto.
Agora veremos que, um operador compacto leva sequências fracamente convergente em
sequências fortemente convergente.
Proposição 42 Seja T ∈ L(X, Y ) um operador linear compacto entre espaços normados.
Se xn ⇀ x em X, então T xn → T x em Y .
Para todo g ∈ Y ∗ temos que (T ′ g) ∈ X ∗ e como xn ⇀ x temos que
0 = lim |(T ′ g)(xn ) − (T ′ g)(x)| = lim |g(T xn ) − gT (x)|,
n→∞
n→∞
pela arbtrariedade de g ∈ Y ∗ segue que T xn ⇀ T x.
Como {xn } é limitada segue da compacidade de T que T xn tem uma subsequência T xnj →
η, mas sabemos que toda sequência fortemente convergente é fracamente convergente e com o
mesmo limite, isto é, T xnj ⇀ η e pela unicidade do limite fraco temos que η = T x. Portanto,
T xnj → T x e T xn ⇀ T x. Agora, se T xn não converge a T x, então existem um ε > 0 e uma
subsequência T xni tal que kT xni − T xk ≥ ε. Pela compacidade de T , T xni tem subsequência
convergente, digamos T xnk → ξ, e isso implica que T xnk ⇀ ξ. Como T xnk é subsequência
de T xn ⇀ T x temos que T xnk ⇀ T x = ξ, isto é, T xnk → T x, portanto
kT xnk − T xk → 0 e kT xni − T xk ≥ ε
que é absurdo, donde T xn → T x.
Proposição 43 Sejam X um espaço reflexivo e T ∈ L(X, Y ), onde Y é um espaço vetorial
normado. Então T é compacto se, e somente se, {T xn } é convergente em Y para toda
sequência {xn } fracamente convergente em X.
Demonstração. Se T é compacto, então ele leva sequências fracamente convergente em
sequências convergente, pela Proposição 42.
Por outro lado, como X é reflexivo, sabemos que toda sequência limitada {xn } possui
uma subsequência fracamente convergente {xnj } e por hipótese T xnj é convergente. Portanto
T é compacto.
O próximo resultado mostra que os operadores de posto finito são densos no conjunto dos
operadores compactos, mais precisamente:
Teorema 44 Sejam H1 e H2 espaços de Hilbert. Um operador T ∈ L(H1 , H2 ) é compacto
se, e somente se, existe uma sequência de operadores de posto finito {Tn } que converge a T
em L(H1 , H2 ).
38
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Se T é o limite de operadores de posto finito, então T é compacto pelo
Corolário 41.
Reciprocamente, suponhamos que T é compacto. Seja P a projeção ortogonal sobre
ker(T )⊥ , assim
H1 = ker(T ) ⊕ ker(T )⊥ ,
P (H1 ) = ker(T )⊥
e
T (H1 ) = T (ker(T )⊥ ) = T P (H1 )
⇒
T = T P.
Se dim(ker(T )⊥ ) < ∞, então P é de posto finito, donde é compacto e consequentemente
T = T P é compacto, pela Proposição 38. Suponha então, que dim(ker(T )⊥ ) = ∞ e escolha
uma base ortonormal (ej )∞
j=1 . Denote por Pn a projeção ortogonal sobre o span{e1 , . . . , en }.
Assim, o operador Tn = T Pn é de posto finito. Mostraremos que Tn → T .
Para cada n existe xn ∈ H1 , kxn k = 1, satisfazendo
1
kT − Tn k ≤ k(T − Tn )xn k = kT (P − Pn )xn k.
2
Como (P − Pn ) → 0 fortemente e para todo y ∈ H1 temos, pelo Teorema de representação
de Riesz,
|hy, (P − Pn )xn i| = |h(P − Pn )y, xn i| ≤ k(P − Pn )yk,
tem-se (P − Pn )xn → 0 fracamente. Sendo T compacto, segue pela Proposição 42 que
T (P − Pn )xn → 0 e, da desigualdade acima segue que kT − Tn k → 0.
Corolário 45 Seja T ∈ L(H1 , H2 ). Então T é compacto se, e somente se, T ∗ é compacto.
Demonstração. T é compacto se, e somente se, existe uma sequência {Tn } de operadores
de posto finito tal que Tn → T . Como Tn∗ também é de posto finito e
kT ∗ − Tn∗ k = k(T − Tn )∗ k = kT − Tn k,
conclui-se que T é compacto se, e somente se, T ∗ é compacto
Corolário 46 Seja A ∈ L(H1 , H2 ). Então A é compacto se, e somente se, A′ , o adjunto de
Banach, é compacto.
Demonstração.
Lembramos que
A∗ = S1−1 A′ S,
39
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
onde S1 e S são as isometrias antilineares dadas pelo Teorema de Representação de Riesz
em H1 e H2 respectivamente. Assim, pelo corolário anterior se A é compacto, então A∗ é
compacto e pelo Lema 6 temos que
A′ = S1 A∗ S −1
é compacto.
Reciprocamente, se A′ é compacto, então novamente pelo Lema 6 temos que
A∗ = S1−1 A′ S
é compacto e pelo corolário anterior temos que A é compacto.
Agora iniciamos o estudo dos operadores de Hilbert-Schmidt que é uma classe importante
de operadores compactos.
Definição 19 Diz-se que um operador T ∈ L(H1 , H2 ) é de Hilbert-Schmidt se existe uma
base ortonormal {ej }j∈J com
Ñ
kT kHS :=
X
é1
2
2
kT ej k
< ∞.
j∈J
O conjunto dos operadores de Hilbert-Schmidt entre espaços de Hilbert será denotado
por HS(H1 , H2 ), por HS(H) se H1 = H2 = H.
Proposição 47 Seja T ∈ L(H1 , H2 ) um operador de Hilbert-Schmidt. Então
(1) kT kHS não depende da base ortonormal considerada.
(2) T ∈ HS(H1 , H2 ) se, e somente se, T ∗ ∈ HS(H2 , H1 ).
Demonstração. Se {ej }j∈J e {fk }k∈K são bases ortonormais de H1 e H2 respectivamente,
então por Parseval
X
j∈J
kT ej k2 =
X
|hT ej , fk i|2 =
X
j∈J
k∈K
j∈J
k∈K
|hej , T ∗ fk i|2 =
X
kT ∗ fk k2 .
j∈J
Sendo essas bases arbitrárias, vem que kT kHS = kT ∗ kHS , e tais valores não dependem das
bases ortonormais consideradas.
É possı́vel mostrar que HS(H1 , H2 ) é um subespaço de L(H1 , H2 ) e é um espaço de Hilbert
com a norma k · kHS , chamada norma de Hilbert-Schmidt, a qual é induzida pelo produto
interno
X
hT, SiHS :=
hT ej , Sej i, T, S ∈ HS(H1 , H2 ),
j∈J
40
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
sendo {ej }j∈J uma base ortonormal qualquer de H1 . Além disso, também é possı́vel mostrar
que
kT k ≤ kT kHS .
Nosso interesse é mostrar que todo operador de Hilbert-Schmidt é compacto, que é o conteúdo
do Teorema abaixo.
Teorema 48 HS(H1 , H2 ) ⊂ L0 (H1 , H2 ) o subespaço dos operadores lineares compactos de
L(H1 , H2 ).
Demonstração. Sejam T ∈ HS(H1 , H2 ) e xn ⇀ x em H1 . Pela Proposição 43, para
mostrar que T é compacto basta verificar que T xn → T x. Notamos que por linearidade é
suficiente considerar o caso xn ⇀ 0. De fato, pois se xn ⇀ y temos que xn − y ⇀ 0 e se isso
implica que T (xn − y) → 0 segue que T xn → T y.
Seja {ej }j∈J uma base ortonormal de H2 . Por Parseval,
kT xn k2 =
∞
X
|hej , T xn i|2 =
≤
|hT ∗ ej , xn i|2 +
j=1
j=1
N
X
N
X
|hT ∗ ej , xn i|2 + M
j=1
∞
X
|hT ∗ ej , xn i|2
j=N +1
∞
X
kT ∗ ej k2 ,
j=N +1
onde M = supkxn k2 , pois xn é fracamente convergente, segue que é limitada e M é finito.
n∈N
Dado ε > 0, escolha N com
∞
X
kT ∗ ej k2 <
j=N +1
∗
ε
,
M
o qual existe pois T ∈ HS(H1 , H2 ). Agora, como xn ⇀ 0, existe K tal que
N
X
|hT ∗ ej , xn i|2 < ε
se
n ≥ K.
j=1
Assim, se n ≥ K tem-se kT xn k2 < 2ε, e conclui-se que T xn → 0.
1.7 Teorema espectral para operadores compactos autoadjuntos
Os resultados que seguem são as ferramentas que precisaremos para provar o Teorema espectral para operador compacto normal.
Lema 7 (Lema de Riesz) Sejam X um subespaço vetorial fechado e próprio de um espaço
normado (N , k . k). Então, para cada 0 < α < 1, existe ξ ∈ N \X com kξk = 1 tal que
inf kξ − ηk ≥ α.
η∈X
41
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Sejam ζ ∈ N \X e c = inf kζ − ηk. Como X é fechado, c > 0. Assim,
η∈X
para todo d > c existe ω ∈ X com c ≤ kζ − ωk ≤ d. O vetor
ξ=
ζ −ω
kζ − ωk
pertence a N \X, pois caso contrário ζ pertenceria a X o que contradiz a nossa escolha de
ζ ∈ N \X. Além disso, para todo η ∈ X tem-se
kξ − ηk =
1
c
c
kζ − (ω + kζ − ωkη)k ≥
≥ .
kζ − ωk
kζ − ωk
d
Portanto, para 0 < α < 1 dado escolhe-se d = c/α e segue o resultado desejado
inf kξ − ηk ≥ α.
η∈X
Proposição 49 Seja T : X → X um operador linear compacto sobre o espaço vetorial
normado X. Então, para todo λ 6= 0 o ker(Tλ ) tem dimensão finita, onde Tλ := λI − T .
Demonstração. Mostraremos que a bola fechada unitária B[0, 1] ⊂ ker(Tλ ) é compacta.
Seja {xn } ⊂ B[0, 1]. Então, xn é limitada, e pela compacidade de T segue que {T xn }
tem subsequência convergente, digamos {T xnk }. Como xn ∈ B[0, 1] ⊂ ker(Tλ ) isso implica
que Tλ xn = λxn − T xn = 0 e xn = λ−1 T xn , por hipótese λ 6= 0. Consequentemente,
{xnk } = {λ−1 T xnk } também converge. Como B[0, 1] é fechada o limite pertence a B[0, 1] e,
portanto B[0, 1] é compacta Teorema de Bolzano-Weierstrass.
Teorema 50 (Hilbert-Schmidt) Se T ∈ L(H) é um operador compacto e auto-adjunto,
então
Onde Tλ := λI − T .
H=
M
06=λ ∈ σp (T )
ker(Tλ ) ⊕ ker(T ).
Demonstração. Como T é auto-adjunto ker(Tλ ) ⊥ ker(Tµ ) para λ 6= µ e a soma direta
acima está bem definida. Seja
M
E=
ker(Tλ ),
06=λ ∈ σp (T )
como cada ker(Tλ ) é fechado, pois tem dimensão finita, é fácil ver que E também é fechado.
Se η ∈ E ⊥ , então para todo ξλ ∈ ker(Tλ ), λ 6= 0, temos que
hT η, ξλ i = hη, T ξλ i = λhη, ξλ i = 0,
42
(15)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
isso mostra que T η ∈ ker(Tλ )⊥ , como λ é arbitrário no σp (T ), segue que T η ∈ E ⊥ , donde E ⊥
é invariante por T e é claro que H = E ⊕ E ⊥ .
A equação (15) também mostra que ker(T ) ⊂ E ⊥ . Vamos mostrar que E ⊥ = ker(T ) e
isso demonstrará o Teorema. Como E também é invariante por T , conclui-se que S = T |E ⊥ ,
a restrição de T a E ⊥ , está bem definida e é um operador auto-adjunto e compacto. Se
S 6= 0, então existe um autovetor não nulo ζ de S com autovalor não nulo, pois como S é
compacto e auto-adjunto −kSk ou kSk é autovalor de S. Assim, por construção, ζ ∈ E e
ζ ∈ E ⊥ donde necessariamente ζ = 0. Isso mostra que S = 0, ou seja, E ⊥ = ker(T ).
Corolário 51 Se T ∈ L(H) é um operador compacto e auto-adjunto, então H possui uma
base ortonormal de autovetores de T .
Demonstração. Para cada autovalor λ 6= 0 de T , denote por dλ = dim(ker(Tλ )) < ∞, pela
λ
Proposição 49, e escolha uma base ortonormal {ξjλ }dj=1
do ker(Tλ ). Seja {ηj }j∈J uma base
ortonormal do núcleo de T . Pelo Teorema
[
06=λ,∈ σp (T )
λ
{ξjλ }dj=1
∪ {ηj }j∈J
é uma base ortonormal de H.
Esse último resultado se generaliza para operadores normais compactos. Para sua verificação, o seguinte lema será útil.
Proposição 52 Se R, S ∈ L(H) são compactos, auto-adjuntos e comutam, então H possui
uma base ortonormal de autovetores simultâneos de R e S.
Demonstração. Para cada autovalor λ de S tal que Sξ = λξ, temos que
S(Rξ) = R(Sξ) = λRξ
donde ker(Sλ ) é invariante por R bem como seu complemento ortogonal. Como a restrição
R|ker(Sλ ) é auto-adjunto e compacto, podemos escolher uma base ortonormal do ker(Sλ ) formada por autovetores de R, pelo corolário anterior, e logicamente é também autovetores de
S. Tomando a união sobre todos os autovalores de S o resultado segue, novamente pelo
corolário anterior.
Corolário 53 Se T ∈ L(H) é compacto e normal, então H possui uma base ortonormal de
autovetores de T e vale a decomposição de H como no Teorema de Hilbert-Schmidt.
Demonstração. Basta lembrar que podemos escrever T = TR + iTS , com TR e TS autoadjuntos, compactos e comutam entre si, e então usa-se o Lema anterior. Assim, se TR ξ = λ1 ξ
e TS ξ = λ2 ξ temos que T ξ = TR ξ + iTS ξ = (λ1 + iλ2 )ξ, ou seja, ξ é autovetor de T .
43
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Proposição 54 Sejam E um espaço de Banach e A : E → E um operador compacto, então
para todo ε > 0 o número de autovalores λ de A (contados com multiplicidade) com |λ| ≥ ε
é finito.
Demonstração. Por contradição, suponha que possamos escolher ε > 0 de modo que
existam infinitos autovalores {λj }j∈N de A com |λ| ≥ ε. Pela Proposição 49, os λj podem ser
considerados distintos. Denotando os respectivos autovetores por {ξj }, segue que {ξj } é um
conjunto linearmente independente, pois a autovalores distintos correspondem autovetores
ortogonais.
Sejam E0 = {0} e En = span({ξ1 , . . . , ξn }), que é fechado para todo n, pois é um
subespaço de dimensão finita. Pelo Lema de Riesz, para todo ξ ∈ En−1 podemos achar
uma sequência {ηn }, ηn ∈ En com kηn k = 1 e kηn − ξk ≥ 1/2. Vamos mostrar que
kAηn − Aηm k ≥ ε/2 para todos n, m distintos, assim Aηn não possui subsequência convergente, contradizendo a compacidade de A.
Supondo m < n, temos
Aηn − Aηm = λn ηn + [(A − λn I)ηn − Aηm ].
Como ηk ∈ Ek temos que ηk =
k
X
ai ξi , donde Aηk =
(A − λn I)ηn =
i=1
λi ai ξi − λn
λi ai ξi ∈ Ek , assim
i=1
i=1
" n
X
k
X
n
X
#
ai ξi =
i=1
"n−1
X
#
ai (λi − λn )ξi ∈ En−1 ,
i=1
de forma que
ζm := −
(A − λI)ηn − Aηm
∈ En−1 , pois Aηm ∈ En−1 já que m < n.
λn
Portanto
kAηn − Aηm k = kλn ηn − λn ζm k
= |λn |kηn − ζm k
ε
|λn |
≥ ,
≥
2
2
donde Aηn não possui subsequência convergente.
Daı́ é fácil ver que os autovalores de A são um número finito ou é uma sequência convergindo a zero, basta tomar ε = n1 e fazer n → ∞.
Teorema 55 (Espectral) Sejam T ∈ L(H) um operador linear compacto e normal em um
espaço de Hilbert H, {λj } ⊂ C os autovalores não nulos de T e, para cada j, Pj é a projeção
ortogonal sobre ker(Tλj ). Então
X
T =
λ j Pj .
j
44
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Pela Proposição 49 temos que dim(ker(Tλj )) < ∞. Seja P0 a projeção
ortogonal sobre o ker(T ). Pelo Corolário 53 temos que
I = P0 +
X
Pj .
(16)
j
Assim, para todo ξ ∈ H
T ξ = T P0 ξ + T
X
Pj ξ =
j
X
T Pj ξ =
X
λj Pj ξ.
j
j
Disto e de Pk Pj = 0 se j 6= k, segue que
Ñ
T−
n
X
é
λ j Pj
2
ξ
=
j=1
=
å
max |λj |
2
j≥n+1
å
Ç
j=1
λj Pj
λj Pj ξ,
∞
X
∫
λj Pj ξ
j=n+1
|λj |2 kPj ξk2
≤
n
X
∞
X
j=n+1
Ç
Portanto, T −
=
λ j Pj ξ
j=n+1
∞
X
j=n+1
≤
∞
2
∞
X
max |λj |
2
j≥n+1
∞
X
kPj ξk2 ,
por (16)
j=n+1
kξk2 .
≤ max |λj |2 . Como, pela Proposição 54, os λj formam uma
j≥n+1
sequência convergindo a zero, vem que T = n→∞
lim
n
X
λj Pj em L(H).
j=1
Agora faremos um cálculo funcional para operadores compactos normais. Primeiramente,
explicitaremos o conjunto das funções para as quais teremos o cálculo funcional.
Definição 20 Denote por L ∞ (C) o conjunto de todas as funções limitadas f : C → C. Se
T ∈ L(H) é compacto e normal defina f (T ) : H → H por
f (T ) =
∞
X
f (λj )Pj + f (0)P0 ,
j=1
onde P0 é a projeção ortogonal sobre ker(T ).
Teorema 56 (Cálculo funcional) Se T é um operador compacto e normal sobre um espaço
de Hilbert complexo H, então a aplicação f 7→ f (T ) de L ∞ (C) → L(H) tem as seguintes
propriedades:
(1) f 7→ f (T ) é uma aplicação linear e multiplicativa de L ∞ (C) em L(H). Se f ≡ 1,
então f (T ) = I. Se f (z) = z no σp (T ) ∪ {0}, então f (T ) = T .
45
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
(2) Se T ξ = λi ξ, então f (T )ξ = f (λi )ξ.
(3) f (T )∗ = f (T ).
(4) kf (T )k = sup{|f (λ)|; λ ∈ σp (T )}.
(5) Se A ∈ L(H) e AT = T A, então Af (T ) = f (T )A para toda f ∈ L ∞ (C).
Demonstração. (1). Se f, g ∈ L ∞ (C), então (f g)(z) = f (z)g(z) para todo z ∈ C e para
todo ξ ∈ H
f (T )g(T )ξ = f (0)P0 +
X
f (λi )Pi
i
!Ñ
g(0)P0 ξ +
X
é
g(λj )Pj ξ
.
j
Como Pi Pj = 0 para i 6= j, isso nos dá que
X
f (T )g(T )ξ = f (0)g(0)P0 ξ +
f (λj )g(λj )Pj ξ = (f g)(T )ξ.
j
Mostrando que f 7→ f (T ) é multiplicativa. Para a linearidade, sejam α, β ∈ C, então
(αf + βg)(T )ξ = (αf + βg)(0)P0 ξ +
= αf (0)P0 ξ +
X
X
(αf + βg)(λj )Pj ξ
j
αf (λj )Pj ξ + βg(0)P0 ξ +
j
X
βg(λj )Pj ξ
j
= αf (T )ξ + βg(T )ξ.
P
Agora, se f (z) = 1 para todo z ∈ C, então f (T ) = 1(T ) = P0 + Pj = I, pois {P0 , P1 , . . .}
é uma partição da identidade. Se f (Z) = z, temos f (λj ) = λj e, portanto, f (T ) = T .
(2). Como ξ ∈ Pi H temos que Pj ξ = 0 para todo j 6= i, logo
f (T )ξ = f (0)P0 ξ +
X
f (λj )Pj ξ = f (λi )Pi ξ = f (λi )ξ.
j
(3). Para toda f ∈ L ∞ (C), como as projeções Pj são operadores auto-adjuntos temos
Ñ
f (T )∗ =
f (0)P0 +
n
X
é∗
f (λj )Pj
j=1
= f (0)P0 +
n
X
f (λj )Pj = f (T ).
j=1
(4). Como, cada projeção Pj tem posto finito e
f (T ) = f (0)P0 + lim
n→∞
46
n
X
j=1
f (λj )Pj ,
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
temos que f (T ) é limite de operadores de posto finito e, portanto f (T ) é compacto. Por
outro lado, para toda f ∈ L ∞ (C) temos que
f (T )f (T )∗ = f (T )f (T ) = (f f )(T ) = (f f )(T ) = f (T )f (T ) = f (T )∗ f (T ),
portanto f (T ) é normal. Como todo ponto 0 6= λ no espectro de um operador compacto
e normal pertence ao espectro pontual e a norma de um operador normal é igual ao raio
espectral, temos pelo item (2) que
kf (T )k = rσ (f (T )) ≥ sup |f (λ)|.
λ∈σp (T )
Por outro lado
kf (T )k = sup kf (T )ξk
kξk=1
= sup kf (0)P0 ξ +
kξk=1
n
X
f (λj )Pj ξk
j=1
∞
X
≤ sup ksup{f (λj )}
kξk=1
j
Pj ξk
j=1
= sup{f (λj )} sup kξk
j
kξk=1
= sup{f (λj )}.
j
Portanto,
kf (T )k = sup{|f (λ)|; λ ∈ σp (T )}.
(5). Se AT = T A, então Pj H e (Pj H)⊥ = ker(Pj ), para todo j ≥ 0, são invariantes por A.
De fato, se ξ ∈ Pj H então (λj − T )ξ = 0, logo
(λj − T )Aξ = A(λj − T )ξ = 0
⇒
Aξ ∈ Pj H.
Se ξ ∈ (Pj H)⊥ , então para todo x ∈ H temos
hAξ, Pj xi = hPj Aξ, xi = hAPj ξ, xi = 0
⇒
Aξ ∈ (Pj H)⊥ .
Agora, fixe ξj ∈ Pj H, j ≥ 0. Se f ∈ L ∞ (C), então Aξj ∈ Pj H e assim
f (T )Aξj = f (λj )Aξj = A(f (λj )ξj ) = Af (T )ξj .
Se ξ ∈ H, então ξ =
∞
X
ξj ,onde ξj ∈ Pj H. consequentemente
j=0
f (T )Aξ =
∞
X
f (T )Aξj =
∞
X
j=0
j=0
47
Af (T )ξj = Af (T )ξ.
2 Teoria Espectral
2.1 Espectro e componentes espectrais. Espaços invariantes associados. Semi-continuidade de componentes espectrais e continuidade de espaços associados
Definição 21 Seja A ∈ L(E), onde E é um espaço vetorial. Um número complexo λ é dito
que está no resolvente de A, ρ(A), se (λI − A)−1 ∈ L(E). Rλ (A) := (λI − A)−1 é chamado
o resolvente de A em λ. Se λ ∈
/ ρ(A), então λ é dito que está no espectro A, σ(A).
A proposição abaixo nos dá um critério para sabermos se um número complexo λ está no
ρ(A).
Proposição 57 Sejam E um espaço vetorial completo e A ∈ L(E) com kAk < 1, então
(I − A)−1 existe como operador linear limitado sobre todo E e
(I − A)−1 =
∞
X
An = I + A + A2 + . . . .
(17)
n=0
Em particular, se kI − Ak < 1, temos que A é inversı́vel e
A−1 =
∞
X
(I − A)n .
n=0
Ademais, se λ ∈ C e |λ| > kAk, então (λI − A) é inversı́vel e
(λI − A)−1 =
∞
X
An
.
n+1
n=0 λ
Demonstração. Temos que kAn k ≤ kAkn . Como a série geométrica
∞
X
n=0
kAkn converge, pois
kAk < 1. Temos que a série em (17) converge absolutamente. Como E é Banach, temos que
L(E) também é de Banach e consequentemente a série em (17) converge.
48
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Denotando a soma da série em (17) por S. Vamos mostrar que S = (I − A)−1 . Para isso,
observamos que
(I − A)(I + A + . . . + An ) = (I + A + . . . + An )(I − A)
= I − An+1 .
Fazendo n → ∞, segue que An+1 → 0, já que kAk < 1. Assim temos
(I − A)S = S(I − A) = I.
Isso mostra que S = (I − A)−1 .
Em particular, trocando A por I − A, temos que I − (I − A) = A é inversı́vel e
[I − (I − A)]−1 = A−1 =
∞
X
(I − A)n .
n=0
Ademais, se |λ| > kAk, então kA/λk < 1, como
Ç
å
1
(λI − A) = λ I − A ,
λ
Ä
ä
então pela, primeira parte I − λ1 A é inversı́vel, donde (λI − A) também é, e
Ç
(λI − A)
−1
1
1
=
I− A
λ
λ
∞
n
X
1
A
=
λ n=0 λn
∞
X
An
.
=
n+1
n=0 λ
å−1
(18)
Observe que a proposição acima mostra que, se λ ∈ C e |λ| > kAk, então λ ∈ ρ(A).
Lema 8 Seja A ∈ L(E) onde E é de Banach. Então o ρ(A) 6= ∅ e aberto e σ(A) é compacto.
Demonstração. Para ver que ρ(A) 6= ∅, basta escolher λ ∈ C tal que |λ| > kAk, que
existe pois A é limitado, e o Teorema acima garante que λ ∈ ρ(A) 6= ∅ e consequentemente
σ(A) ⊂ B[0, kAk] é limitado.
Agora seja λ1 ∈ ρ(A), então existe Rλ1 (A) = (λ1 I − A)−1 . Afirmamos que para
r=
1
>0
kRλ1 (A)k
49
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
a bola aberta B(λ1 , r) ⊂ ρ(A). De fato, se λ ∈ B(λ1 , r), então |λ − λ1 | <
1
. Mas
kRλ1 (A)k
λI − A = λ1 I − A + (λ − λ1 )I
= λ1 I − A + (λ − λ1 )Rλ1 (A)(λ1 I − A)
= (λ1 I − A)(I + (λ − λ1 )Rλ1 (A)),
assim λI − A é inversı́vel se, e somente se, I + (λ − λ1 )Rλ1 (A) for inversı́vel. Mas
kI − (I + (λ − λ1 )Rλ1 (A))k = k(λ − λ1 )Rλ1 (A))k
= |λ − λ1 |kRλ1 (A))k < 1,
donde, pela Proposição 57, I + (λ − λ1 )Rλ1 (A) é inversı́vel. Portanto, λI − A é inversı́vel e
pelo Teorema da aplicação inversa (λI − A)−1 é contı́nuo, logo B(λ1 , r) ⊂ ρ(A) e, portanto,
ρ(A) é aberto e consequentemente σ(A) é fechado e como é limitado segue que é compacto.
Definição 22 Seja A ∈ L(E).
(a) Qualquer vetor 0 6= x ∈ E que satisfaz Ax = λx para algum λ ∈ C é chamado de
autovetor de A e λ é chamado o autovalor correspondente. O conjunto de todos os
autovalores é chamado de espectro pontual de A e é denotado por σp (A).
(b) Se λ não é um autovalor e se Im(λI − A) não é densa, então λ é dito que está no
espectro residual de A e é denotado por σr (A).
(c) O espectro contı́nuo, σc (A), é o conjunto dos λ ∈ C tais que (λI − A)−1 existe e está
definido em subconjunto denso de X mas é ilimitado.
É fácil ver que σ(A) = σp (A) ∪ σr (A) ∪ σc (A) e essa união é disjunta por definição.
Definição 23 Sejam E um espaço de Banach e A ∈ L(E) o raio espectral de A é
rσ (A) := sup |λ|.
λ∈σ(A)
Lema 9 Sejam E um espaço de Banach e A ∈ L(E). Se λ ∈ σ(A), então λn ∈ σ(An ) e o
raio espectral de A é dado por
r(A) = n→∞
lim kAn k1/n .
Demonstração. Ora, (λn I −An ) = (λI −A)(λn−1 I +λn−2 A+. . .+An−1 ), como λ ∈ σ(A)
segue que (λI − A) não é inversı́vel logo (λn I − An ) não é inversı́vel, donde λn ∈ σ(An ).
Como kAn k ≥ rσ (An ) ≥ |λ|n para todo λ ∈ σ(A), logo |λ| ≤ kAn k1/n , donde
rσ (A) ≤ lim infkAn k1/n .
50
(19)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Por outro lado a série
(λI − A)−1 =
diverge se seu raio de convergência R satisfaz
1<R=
∞
X
An
n+1
n=0 λ
1
⇒ lim supkAn /λn+1 k1/n < 1
lim supkAn /λn+1 k1/n
donde
lim supkAn k1/n < |λ| ⇒ lim supkAn k1/n ≤ rσ (A).
O resultado acima junto com (19), nos dá
lim supkAn k1/n ≤ rσ (A) ≤ lim infkAn k1/n ,
donde
rσ (A) = n→∞
lim kAn k1/n .
Proposição 58 Seja H um espaço de Hilbert e A ∈ L(H) um operador normal, então
kA2 k = kAk2 e kAk = rσ (A).
Demonstração. Por um lado temos que
kAk2 = sup kAvk2 = sup hAv, Avi = sup hA∗ Av, vi
kvk=1
kvk=1
∗
kvk=1
∗
≤ sup kA Akkvk = kA Ak ≤ kA∗ kkAk = kAk2 ,
2
kvk=1
donde kA∗ Ak = kAk2 . Por outro lado para todo v ∈ H unitário temos
kA∗ Avk2 = hA∗ Av, A∗ Avi = hA2 v, A2 vi = kA2 vk2 ⇒ kA∗ Avk = kA2 vk,
portanto, kAk2 = kA∗ Ak = kA2 k.
Por fim, temos que kA2n k = kAk2n e consequentemente
rσ (A) = lim kAn k1/n
n→∞
= n→∞
lim kA2n k1/2n
= n→∞
lim kAk = kAk.
Lema 10 Seja E um espaço dotado de produto interno e seja A ∈ L(E) um operador autoadjunto. Então qualquer autovalor de A é real. Além disso, autovetores correspondentes a
autovalores distintos são ortogonais.
51
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Seja v um autovetor associado a λ, então
hAv, vi = hλv, vi = λkvk2
como A é auto-adjunto
λkvk2 = hAv, vi = hv, Avi = hv, λvi = λkvk2
donde λ = λ e, portanto, λ é real.
Se v1 e v2 são autovetores associados λ1 e λ2 , respectivamente com λ1 6= λ2 . Temos
λ2 hv1 , v2 i = hv1 , Av2 i
= hAv1 , v2 i
= λ1 hv1 , v2 i
donde
(λ1 − λ2 )hv1 , v2 i = 0
⇒
hv1 , v2 i = 0.
Proposição 59 Se A ∈ L(H) é um operador linear auto-adjunto, então σr (A) = ∅.
Demonstração. Basta mostrar que, se λ ∈ σ(A) e λ não é autovalor e (λI − A)(H) 6= H,
então (λI − A)(H) é denso. De fato, se (λI − A)(H) 6= H mas (λI − A)(H) não é denso,
então existe 0 6= v ∈ [(λI − A)(H)]⊥ , logo para todo u ∈ H temos que
0 = h(λI − A)u, vi = hu, (λI − A)vi
donde (λI − A)v = 0, isto é, λ é autovalor, mas pelo Lema 10 λ = λ que é uma contradição.
Portanto, σr (A) = ∅.
Proposição 60 Seja H um espaço Hilbert e seja A ∈ L(H) um operador auto-adjunto.
Então σ(A) ⊂ R.
Demonstração. Suponha que λ ∈ σ(A) é tal que λ = a + bi ∈ C \ R, então
k(λI − A)vk2 = h(aI + biI − A)v, (aI + biI − A)vi
= h(aI − A)v, (aI − A)vi − bih(aI − A)v, vi + b2 kvk2 + bihv, (aI − A)vi
= k(aI − A)vk2 + b2 kvk2 ,
para todo v ∈ H donde k(λI − A)vk ≥ |b|kvk. Isso significa que λI − A é injetivo e
consequentemente λ ∈
/ σp (A). Além disso, (λI − A)(H) é fechado, pois dado ε > 0 se
(λI − A)xn → y, temos que para n e m suficientemente grande
ε > k(λI − A)(xn − xm )k ≥ b2 kxn − xm k2 ,
52
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
donde {xn } é de Cauchy em H e, portanto, xn → x e por continuidade
(λI − A)xn → y = (λI − A)x.
Por outro lado, como A não tem espectro residual temos que (λI − A)(H) = H consequentemente (λI − A)−1 é uma bijeção donde, pelo Teorema da aplicação inversa, é contı́nuo
e assim λ ∈
/ σc (A). Portanto, λ ∈
/ σ(A) que é uma contradição.
Lema 11 Sejam H um espaço de Hilbert e T ∈ L(H) um operador normal. Se v é um
autovetor de T com autovalor λ, então v é um autovetor de T ∗ com autovalor λ.
Demonstração. Seja Eλ = {v ∈ H; T v = λv}. Como T T ∗ v = T ∗ T v = λT ∗ v, segue que
T ∗ v ∈ Eλ . Por outro lado, para quaisquer w ∈ Eλ
hT ∗ v − λv, wi = hT ∗ v, wi − λhv, wi
= hv, T wi − λhv, wi
= λhv, wi − λhv, wi = 0
Como T ∗ v − λv ∈ Eλ , segue que T ∗ v = λv.
Proposição 61 Sejam H um espaço de Hilbert e T ∈ L(H) um operador normal, então
σr (T ) = ∅.
Demonstração. Por contradição, suponhamos que λ ∈ σr (T ), então
ker(λI − T ∗ ) = Im(λI − T )⊥ 6= {0},
portanto existe 0 6= v ∈ H tal que T ∗ vλv, logo pelo lema anterior isso significa que λ é
autovalor de T que é uma contradição.
Sejam E um espaço de Banach, A ∈ L(E) e F(A) o conjunto das funções analı́tica
complexa em alguma vizinhança, com bordo C 1 por partes, do σ(A).
Se f ∈ F(A), seja C o bordo do domı́nio de f orientado no sentido positivo, o qual
intersecta o σ(A). Definimos
1
f (A) :=
2πi
Z
C
f (λ)ρ(λ)dλ
chamada função de operador.
A função de operador tem as seguintes propriedades, as quais serão admitidas.
(i) (cf + g)(A) = cf (A) + g(A).
(ii) (f g)(A) = f (A)g(A).
53
J. Ivan S. S.
(iii) Se f (z) =
J. Ivan S. S.
∞
X
an (z − z1 )n converge absolutamente em uma vizinhança do σ(A), então
n=0
f (A) =
∞
X
an (A − z1 I)n ,
n=0
em particular, se f (z) = z, então f (A) = A e se f (z) = 1 temos f (A) = I.
Teorema 62 (Mapeamento espectral) Seja f ∈ F(A). Então σ(f (A)) = f (σ(A)), em
particular, se A é inversı́vel então σ(A−1 ) = {µ−1 , µ ∈ σ(A)}
Demonstração. Primeiramente mostraremos que f (σ(A)) ⊂ σ(f (A)). Sejam λ ∈ σ(A) e
f (λ) − f (x)
g(x) =
λ−x
f ′ (λ)
se x 6= λ
se x = λ
assim g ∈ F(A) e f (λ) − f (x) = (λ − x)g(x). Donde f (λ)I − f (A) = (λI − A)g(A). Se
f (λ)I −f (A) fosse bijetiva implicaria que λI −A também seria bijeção que é uma contradição.
Portanto f (λ)I − f (A) não é bijetiva, donde f (λ) ∈ σ(f (A)).
Agora mostraremos que σ(f (A)) ⊂ f (σ(A)). Suponha, por absurdo, que existe µ ∈
σ(f (A)) mas µ ∈
/ f (σ(A)), isto ocorre, se e só se não existe (µI − f (A))−1 e µ − f (λ) 6= 0,
para todo λ ∈ σ(A). Seja
1
∈F
g(λ) =
µ − f (λ)
logo g(A)(µI − f (A)) = (µI − f (A))g(A) = [g · (µ − f )](A) = I, logo existe (µI − f (A))−1
que é absurdo.
1
Para o caso particular. A−1 existe se e só se 0 ∈
/ σ(A), logo f (z) =
é holomorfa
z
Ç å
1
z (A) = I, e segue que
numa vizinhança do espectro, isto é, f ∈ F(A), e daı́ f (A)A =
z
f (A) = A−1 e
σ(A−1 ) = σ(f (A)) = f (σ(A)) = {µ−1 ; µ ∈ σ(A)}.
Definição 24 (Componente espectral e projeção espectral) Seja X ⊂ σ(A). X é
chamado de componente espectral se X é aberto e fechado no σ(A). A projeção espectral ΠX
associada a X é ΠX := PX (A), onde PX é uma função holomorfa com domı́nio desconexo
que é 1 numa vizinhança de X e 0 numa vizinhança de X c := σ(A)\X.
Teorema 63 Sejam A ∈ L(E) e ∅ =
6 X ⊂ σ(A) uma componente espectral. Então existe
‹ = E tal que σ(A| ) = X e σ(A| ) = X c e tal que
uma decomposição A-invariante E ⊕ E
e
E
E
‹
ΠX é a identidade em E e zero em E.
54
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Π2X = PX (A)PX (A) = PX2 (A) = PX (A) = ΠX , donde ΠX é projeção.
AΠX = APX (A) = (xPX )(A) = (PX x)(A) = PX (A)A = ΠX A,
logo
AΠX (E) = ΠX A(E) ⇒ A(ΠX (E)) ⊂ ΠX (E) ⇒ A(E) ⊂ E
| {z }
| {z }
⊂E
E
‹ = Π c (E). Como P c = 1 onde P = 0 e P = 1 onde
Analogamente obtemos E
X
X
X
X
PX c = 0. Daı́ segue que (PX + PX c )(A) = 1(A) = I e (Px PX c )(A) = 0A = 0 isso implica que
‹ = {0}
ΠX ΠX c (E) = ΠX (E)
ΠX c ΠX (E) = ΠX c (E) = {0}
‹ = {0} pois
daı́ E ∩ E
ΠX |E = Id|E
ΠX c |Ee = Id|Ee.
Logo, ΠX + ΠX c = (PX + PX c )(A) = 1(A) = I, isso implica que dado um vetor v = Iv =
‹ = E.
ΠX (v) + ΠX c (v). Portanto, E ⊕ E
Observamos que λI − A é inversı́vel se e só se (λI − A)|E é inversı́vel e (λI − A)|Ee é
inversı́vel se e só
(20)
σ(A) = σ(A|E ) ∪ σ(A|Ee)
Seja fX := xPX + rPX c , onde r = kAk + 1 ∈
/ σ(A). Logo, pelo mapeamento espectral,
(relembre que onde PX = 1 tem-se PX c = 0 e vice versa)
σ(fX (A)) = fX (σ(A)) = [xPX + rPX c ](σ(A))
= [xPX + rPX c ](σ(A|E ) ∪ σ(A|Ee))
= [xPX + rPX c ](σ(A|E )) ∪ [xPX + rPX c ](σ(A|Ee))
= X ∪ {r}.
‹ são invariantes por A, temos
Como E e E
fX (A|E ) = A|E e
fX (A|Ee) = r I|Ee.
Assim, usando (20) e o mapeamento espectral, obtemos
X ∪ {r} = fX (σ(A))
Ä
= fX σ(A|E ) ∪ σ(A|Ee)
Ä
ä
ä
= fX (σ(A|E )) ∪ fX σ(A|Ee)
Ä
ä
= σ (fX (A|E )) ∪ σ fX (A|Ee)
= σ(A|E ) ∪ {r},
55
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
donde σ(A|E ) = X e consequentemente σ(A|Ee) = X c .
Sejam M um espaço métrico e K(M ) = {K ⊂ M ; K é compacto}. Dado K ⊂ M
compacto o subconjunto Kε = {x ∈ M ; d(x, K) < ε} é chamada de ε-vizinhança de K.
Definição 25 Sejam M e N espaços métricos. Uma aplicação Φ : N → K(M ) é chamada
semicontı́nua superior em x ∈ N se dado V ∋ Φ(x) existe W ∋ x aberto de N tal que
Φ(y) ∈ V para todo y ∈ W .
O próximo resultado nos diz que as componentes espectrais variam semicontinuamente
superior.
Teorema 64 Sejam E um espaço vetorial de Banach, A ∈ L(E) e X ⊂ σ(A) uma componente espectral com X ⊂ V uma vizinhança tal que V ∩ σ(A) = X. Dada uma vizinhança,
‹ ⊂ X . Em outras
‹ < δ tem-se que V ∩ σ(A)
Xε , ε > 0, existe δ > 0 tal que se kA − Ak
ε
‹
‹
palavras, a aplicação F (A) = V ∩ σ(A) é semicontı́nua superior.
‹∈
Demonstração. Seja W = V \Xε . Para cada λ ∈ W escolha rλ tal que para todo A
‹ < 1, assim, pelo Teorema 57, (λI − (A − A))
‹ −1 existe
BL(E) (0, rλ ) tem-se kλI − (A − A)k
−1
‹∈ B
para todo A
existe para
L(E) (0, rλ ), afirmamos que isso implica que (λ1 I − (A − Â))
todo  ∈ BL(E) (0, rλ /2) e todo λ ∈ B(λ, rλ /2). De fato, basta observar que
λ1 I − A + Â = λI − A + (λ1 − λ)I + Â
e
k(λ1 − λ)I + Âk ≤ |λ1 − λ| + kÂk <
rλ rλ
+
= rλ ,
2
2
ou seja, o operador (λ1 − λ)I + Â ∈ BL(E) (0, rλ ).
Portanto
W ⊂
[
B(λ, rλ /2).
λ∈W
Como W é compacto, existe uma subcobertura finita B(λ1 , rλ1 /2), . . . , B(λk , rλk /2) de
W ⊂
[
B(λ, rλ /2).
λ∈W
Tome
δ=
1
min{rλ1 , . . . , rλk }.
2
Dado  ∈ B(A, δ) temos que (A − Â) ∈ B(0, δ) ⊂ B(0, rλj /2), j = 1, 2, . . . , k. Mas
λI − Â = λI − A − (Â − A)
= λj I − A + (λ − λj )I − (Â − A)
56
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
como
k(λ − λj )I − ( − A)k ≤ |(λ − λj | + k − Ak <
rλ
rλ j
+ j = rλ j
2
2
donde [(λ − λj )I − (Â − A)] ∈ BL(E) (0, rλj ) e consequentemente λI − Â é inversı́vel. Portanto,
σ(Â) ∩ W = ∅, donde
σ(Â) ∩ V = σ(Â) ∩ Xε ⊂ Xε .
‹ é semicontı́nua superior.
‹ = V ∩ σ(A)
Portanto, F (A)
Corolário 65 O σ(A) varia semicontinuamente superior.
Demonstração. Obvio, já que σ(A) é uma componente espectral.
2.2 Teorema espectral: Cálculo funcional contı́nuo e mapeamento espectral para operadores auto-adjuntos e normais
Lema 12 Seja A : N → N um operador linear sobre o espaço normado N , então o produto
(composição)
P :=
n
Y
(λi I − A)
i=1
é inversı́vel se, e somente se, cada fator (λi I − A) é inversı́vel, onde λi ∈ C.
Demonstração. Se cada fator (λi I − A) for inversı́vel claramente
n
Y
(λi I − A)
i=1
é inversı́vel. Então, suponhamos que P seja inversı́vel e S seja a sua inversa. Fixado j, seja
P :=
n
Y
(λi I − A) temos que SP (λj I − A) = I e (λj I − A)SP = (λj I − A)P S = I, pois como
i6=j
S comuta com P ele comuta com P já que S comuta com todos os fatores (λi I − A).
Sejam E um espaço vetorial, A ∈ L(E) e p(x) =
n
X
aj xj um polinômio complexo, então
j=1
p(A) :=
n
X
aj Aj = Ia0 + · · · + an−1 An−1 + an An ,
j=0
onde A0 := I, o operador identidade de L(E).
As propriedades abaixo são facilmente verificáveis.
57
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Lema 13 Sejam H um espaço de Hilbert e A ∈ L(H), então para todo polinômio e α ∈ C
temos
(1) (αp1 + p2 )(A) = αp1 (A) + p2 (A).
(2) (p1 p2 )(A) = p1 (A)p2 (A) = p2 (A)p1 (A).
(3) p(A)∗ = p(A).
(4) Se Aξ = λξ, então para todo polinômio, p(A)ξ = p(λ)ξ.
Teorema 66 Seja A ∈ L(E), onde E é um espaço vetorial normado, se p é um polinômio
então
σ(p(A)) = p(σ(A))
Demonstração. O resultado é óbvio se p for constante. Então, suponhamos que o grau
de p é maior ou igual a 1 e seja λ ∈ σ(A), fatore o polinômio p(λ) − p(z) como
p(λ) − p(z) = c(λ − z)(λ2 − z) . . . (λn − z),
onde c 6= 0 e λj são números complexos com λ = λ1 , daı́ temos
p(λ)I − p(A) = c(λI − A)(λ2 I − A) . . . (λn I − A).
Agora, se p(λ)I − p(A) fosse inversı́vel, isto é, se p(λ) ∈ ρ(p(A)), então todos os fatores
(λj I − A) seriam inversı́veis, mas assim (λI − A) seria inversı́vel o que é absurdo pois λ ∈
σ(A), portanto p(λ)I − p(A) não é inversı́vel e consequentemente p(λ) ∈ σ(p(A)), isto é,
p(σ(A)) ⊂ σ(p(A)).
Agora, para ver que σ(p(A)) ⊂ p(σ(A)) seja µ ∈ σ(p(A)). Fatore o polinômio µ − p(z)
como
µ − p(z) = c(β1 − z) . . . (βn − z)
assim
µI − p(A) = c(β1 I − A) . . . (βn I − A)
logo como µI − p(A) não é inversı́vel segue que algum dos fatores (βj I − A) não é inversı́vel,
pelo Lema 12, daı́ algum βj ∈ σ(A), que podemos supor que é β1 . Mas µ − p(β1 ) = 0, isto
é, p(β1 ) = µ isso mostra que σ(p(A)) ⊂ p(σ(A)) e finaliza o resultado.
Teorema 67 (Cálculo funcional contı́nuo) Seja A ∈ L(H) um operador auto-adjunto
sobre um espaço de Hilbert H. Então existe um único ∗-homomorfismo algébrico
Φ : C(σ(A)) → L(H),
isto é,
Φ(f g) = Φ(f )Φ(g)
Φ(af + g) = aΦ(f ) + Φ(g)
Φ(f ) = Φ(f )∗ .
Φ(1) = I
tal que:
58
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
(1) Φ é uma isometria, em particular Φ é contı́nuo e consequentemente se {fk } ⊂ C(σ(A))
e f ∈ C(σ(A)) são tais que fk → f uniformemente, então Φ(fk ) → Φ(f ).
(2) Φ(f ) = A para a função f (x) = x.
(3) Φ leva funções positivas em operadores positivos.
(4) Se Aξ = λξ, então Φ(f )ξ = f (λ)ξ.
Demonstração. Seja p um polinômio em C(σ(A)), segue do fato de A ser auto-adjunto que
p(A) é um operador normal, logo
kp(A)k = rσ (p(A)).
Do mapeamento espectral para polinômio, Teorema 66, temos que
kp(A)k = rσ (p(A)) = sup |p(λ)| = kpksup .
λ ∈ σ(A)
Daı́ definindo Φ como Φ(p) := p(A) temos que Φ é uma isometria nos polinômios sobre σ(A),
em particular segue que Φ é contı́nua.
É fácil ver que Φ é um ∗-homomorfismo, por exemplo, temos que Φ(xn ) = An e se p1 e
p2 são polinômios reais temos
Φ(p1 + ip2 ) = Φ(p1 − ip2 )
= p1 (A) − ip2 (A)
= (p1 (A) + ip2 (A))∗ .
Pelo B.L.T. Φ se estende de maneira única ao completamento dos polinômios que é pelo
Teorema Weierstrass C(σ(A)) com a norma do sup e como essa extensão é linear e contı́nua
segue que, Φ(fk ) → Φ(f ) se fk → f uniformemente em C(σ(A)).
Para a unicidade, se Φ for outro ∗-homomorfismo tal que Φ(x) = A, então Φ e Φ coincidem
nos polinômios e se Φ for contı́nuo então Φ e Φ coincidem em C(σ(A)) pelo B.L.T..
Agora, seja f ≥ 0, então existe g ∈ C(σ(A)) tal que f = g 2 e consequentemente f (A) =
g(A)2 , logo para todo v ∈ H
hf (A)v, vi = hg(A)2 v, vi = hg(A)v, g(A)vi ≥ 0.
Finalmente, se Aξ = λξ temos que An ξ = λn ξ. Dado um polinômio p(x) =
n
X
j=0
p(A)ξ = an An ξ + · · · + a1 Aξ + a0 ξ
= an λn ξ + · · · + a1 λξ + a0 ξ
= p(λ)ξ.
59
aj xj , obtemos
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Assim, se f ∈ C(σ(A)), então por Weierstrass existem polinômios pk → f e consequentemente
pk (A) → f (A) em norma, donde
Φ(f )ξ = lim pk (A)ξ = lim pk (λ)ξ = f (λ)ξ.
k→∞
k→∞
Teorema 68 (Mapeamento espectral) Seja A ∈ L(H) um operador auto-adjunto em um
espaço de Hilbert H. Se f ∈ C(σ(A)), então
σ(f (A)) = f (σ(A)).
Demonstração. Mostraremos que, se λ ∈
/ f (σ(A)), então λ ∈
/ σ(f (A)). Então, suponhamos que λ ∈
/ f (σ(A)), então a função g(x) := (λ − f (x))−1 é contı́nua no σ(A) e
g(x) . (λ − f (x)) = 1, logo pelo cálculo funcional contı́nuo, temos
g(A)(λ − f )(A) = (λ − f )(A)g(A) = I,
isso significa que g(A) = (λI − f (A))−1 , portanto λ ∈
/ σ(f (A)) donde σ(f (A)) ⊂ f (σ(A)).
Para mostrar que f (σ(A)) ⊂ σ(f (A)), seja λ ∈ f (σ(A)), então existe µ ∈ σ(A) tal que
λ = f (µ) e como A é auto-adjunto o σr (A) = ∅ e consequentemente (µI − A) não é injetivo
se µ ∈ σp (A) ou (µI − A)(H) é densa se µ ∈ σc (A). Em qualquer caso, existem ψn ∈ H com
kψn k = 1 e tais que
k(µI − A)ψn k → 0.
Seja p(x) =
m
X
aj xj um polinômio. Temos que
j=0
(p(µ)I − p(A))ψn =
m
X
(aj µj I − Aj )ψn
j=0
= q(A)(µI − A)ψn → 0,
isto nos diz que p(µ) ∈ σ(p(A)), pois se p(µ) ∈ ρ(A) terı́amos que
1 = kψn k = kRp(µ) (p(A))(p(µ)I − p(A))ψn k → 0
(21)
que é um absurdo.
ε
Agora, dado ε > 0, escolha um polinômio p tal que kf − pksup <
e seja n0 tal que
3
ε
k(p(µ) − p(A))ψn k < para todo n ≥ n0 . Assim obtemos
3
k(λI − f (A))ψn k = k[(f (µ) − p(µ))I + (p(µ)I − p(A)) + (p(A) − f (A))]ψn k
≤ kf − pksup + k(p(µ)I − p(A))ψn k + k(p − f )(A)ψn k
ε ε ε
< + + <ε
3 3 3
60
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
onde na segunda desigualdade acima usamos o fato do ∗-homomorfismo ser uma isometria.
Daı́ segue, pelo mesmo argumento usado em (21), que λ ∈ σ(f (A)) e portanto f (σ(A)) ⊂
σ(f (A)).
Sejam H um espaço de Hilbert e T = A + iB ∈ L(H) um operador normal, onde A e B
são auto-adjuntos e comutam. Dado qualquer polinômio p : R2 → C, definimos
p(T ) = p1 (T ) + ip2 (T ) := p1 (A, B) + ip2 (A, B),
onde p1 e p2 são polinômios reais tais que p(x) = p1 (x) + ip2 (x). Notamos que, se p é um
polinômio real e T ∈ L(H) é um operador normal, então p(T ) é auto-adjunto. De fato, se
p(x, y) =
n
X
aij xi y j é um polinômio real temos
i,j=0
p(A, B)∗ =
=
=
=
n
X
i,j=0
n
X
i,j=0
n
X
i,j=0
n
X
aij (Ai B j )∗
aij (B j )∗ (Ai )∗
aij B j Ai
aij Ai B j = p(A, B).
i,j=0
Para o que segue admitiremos o seguinte resultado:
Teorema 69 Seja T = A + iB ∈ L(H) um operador normal sobre um espaço de Hilbert
H. Então σ(A) = Re(σ(T )) e σ(B) = Im(σ(T )). Além disso, se p é um polinômio a duas
variáveis reais temos que σ(p(A, B)) = {p(a, b); a + bi ∈ σ(T )} = p(σ(T )).
Lema 14 Se p : R2 → C é um polinômio e T = A + iB ∈ L(H) é um operador normal,
então kp(T )k = sup |p(x, y)|.
x+iy ∈ σ(T )
61
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração.
kp(T )k2 = suph[p1 (A, B) + ip2 (A, B)]v, [p1 (A, B) + ip2 (A, B)]vi
v=1
= sup[kp1 (A, B)vk2 + ih p1 (A, B) v, p2 (A, B) vi − ihp2 (A, B)v, p1 (A, B)vi + kp2 (A, B)vk2 ]
|
v=1
{z
}
é auto-adjunto
= sup[kp1 (A, B)vk2 + kp2 (A, B)vk2 ]
v=1
|
{z
}
é auto-adjunto
= sup[h[p1 (A, B)]2 v, vi + h[p2 (A, B)v]2 v, vi]
v=1
= sup[h([p1 (A, B)]2 + [p2 (A, B)v]2 )v, vi]
v=1
= sup[h(p21 + p22 )(A, B)v, vi]
=
v=1
k(p21
|
+ p22 )(A, B)k
{z
é auto-adjunto
}
= rσ (p21 + p22 )(A, B)
= sup (p21 + p22 )(x, y)
x+iy ∈ σ(T )
=
|p(x, y)|2
sup
x+iy ∈ σ(T )
Teorema 70 (Cálculo funcional para operadores normais) Seja T ∈ L(H) um operador normal sobre um espaço de Hilbert H. Então, existe um único ∗-homomorfismo algébrico
contı́nuo Φ : C(σ(T )) → L(H) tal que Φ(f ) = T para a função f (z) = z. Escrevendo
T = A + iB, onde A e B são auto-adjuntos e comutam entre si, temos para polinômios reais
que p(A, B) é auto-adjunto e para polinômios positivos p(A, B) é positivo.
Demonstração. Primeiro observamos que a decomposição T = A + iB é única. De fato,
se T = Â + iB̂, então
A − Â = i(B − B̂),
como A − Â é auto-adjunto e i(B − B̂) não é auto-adjunto a igualdade acima vale se e só
A − Â = 0, donde A = Â e B = B̂.
Como visto acima, T determina de maneira única A e B tal que T = A + iB. Assim
p1 (x, y) := x ⇒ p1 (T ) = A
p2 (x, y) := y ⇒ p2 (T ) = B,
donde para o polinômio p = p1 + ip2 temos p(T ) = p1 (A, B) + ip2 (A, B) = T . Por outro lado,
subs. por T
p(T ) =
X
X
X k̂ ĵ
xk y j + i
x y (T ) =
z
}|
{
[(x + iy) +(x − iy)]k [(x + iy) − (x − iy)]j
(T )+
2
2i
X [(x + iy) + (x − iy)]k̂ [(x + iy) − (x − iy)]ĵ
+i
(T ) + . . . .
2
2i
62
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Definindo Φ(p) := p(T ), obtemos um ∗-homomorfismo que, nos polinômios, é unicamente
determinado. Vimos que esse ∗- homomorfismo é uma isometria, isto é,
kp(T )k = sup |p(z)| = kpksup .
z∈σ(T )
Pelo B.L.T., esse homomorfismo, Φ(p) = p(T ), se estende de maneira única a uma isometria
(em geral, não sobre) Φ : C(σ(T )) → L(H). Além disso, se Ψ é outro ∗-homomorfismo
contı́nuo e tal que Ψ(f ) = T para a função f (z) = z, então Φ e Ψ coincidem nos polinômios,
logo o B.L.T. garante a unicidade de Φ.
Se p é um polinômio real já vimos anteriormente que p(T ) é auto-adjunto. Por outro
lado, se p for positivo, então existe um polinômio q tal que p = q 2 , daı́ temos que para todo
v∈H
hp(A, B)v, vi = hq 2 (A, B)v, vi = hq 2 (A, B)v, q 2 (A, B)vi ≥ 0.
Teorema 71 (Mapeamento espectral) Seja T ∈ L(H) um operador normal sobre um
espaço de Hilbert H. Então dada f ∈ C(σ(T )) temos
σ(f (T )) = f (σ(T )).
Demonstração. Seja λ ∈ σ(f (T )) e suponha que λ ∈
/ f (σ(T )). Defina g(z) := (λ − f (z))−1 ,
claramente g ∈ C(σ(T )), assim g(z)(λ − f (z)) = (λ − f (z))g(z) = 1 e pelo cálculo funcional
(λI − f (T ))g(T ) = g(T )(λI − f (T )) = [g · (λ − f )](T ) = 1(T ) = I
isto significa que λ ∈
/ σ(f (T )) que é uma contradição, donde σ(f (T )) ⊂ f (σ(T )).
Por outro lado, se λ ∈ f (σ(T )), então λ = f (µ) para algum µ ∈ σ(T ) e consequentemente
(µI − T ) não é injetivo se µ ∈ σp (T ) ou (µI − T )H é denso em H se µ ∈ σc (T ), pois operador
normal não possui espectro residual. Em qualquer um dos casos, existe uma sequência ψn ∈ H
tal que (µI − T )ψn → 0. Seja
p(x, y) =
n
X
j k
aj,k x y + i
j,k=0
n
X
aĵ,k̂ xĵ y k̂
n
X
aĵ,k̂ αĵ β k̂ ,
ĵ,k̂=0
escrevendo µ = α + iβ temos
p(α, β) =
n
X
aj,k αj β k + i
n
X
aj,k Aj B k + i
j,k=0
p(A, B) =
ĵ,k̂=0
j,k=0
n
X
ĵ,k̂=0
63
aĵ,k̂ Aĵ B k̂
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J. Ivan S. S.
e
[p(µ)I − p(A, B)]ψn =
n
X
aj,k (αj β k I − Aj B k ) + i
j,k=0
n
X
ĵ,k̂=0
aĵ,k̂ (αĵ β k̂ I − Aĵ B k̂ ) ψn
= [p1 (A, B)(αI − A) + ip2 (A, B)(βI − B)]ψn → 0
pois (αI − A)ψn → 0 e (βI − B)ψn → 0, desde que, (µI − T )ψn → 0, pelo mesmo argumento
de (21), temos que p(µ) ∈ σ(p(T )).
ε
Dado ε > 0. Tome um polinômio p tal que kf − pksup < e para tal polinômio tome n0
3
ε
tal que k(p(µ) − p(A, B))ψn k < . Temos, portanto, que
3
k[λI − f (T )]ψn k = k[f (µ)I − p(µ)I]ψn + [p(µ)I − p(T )]ψn + [p(T ) − f (T )]ψn k
≤ kf (µ)I − p(µ)I]ψn k + k[p(µ)I − p(T )]ψn k + k[p(T ) − f (T )]ψn k
≤ kf − pksup + k[p(µ) − p(T )]ψn k + kf − pksup < ε
donde, pelo mesmo argumento de (21), segue que λ ∈ σ(f (T )) e consequentemente f (σ(T )) ⊂
σ(f (T )) e isso finaliza a prova.
2.3 Teorema espectral: projeções espectrais. Critério de
Weyl. Espectros essencial e discreto
Definição 26 Seja A uma σ-álgebra de qualquer conjunto X e E um espaço de Banach.
Dizemos que µ : A → E é uma medida se:
i) µ(∅) = 0;
ii) µ
∞
[
n=1
!
Sn =
∞
X
µ(Sn ), onde S1 , S2 , . . . ∈ A são dois a dois disjuntos.
n=1
Definição 27 Seja A : H → H um operador auto-adjunto em um espaço de Hilbert H.
Dado um Boreliano Ω ⊂ R definimos (via cálculo funcional mesurável)
PΩ := χΩ (A),
onde χΩ é a função caracterı́stica de Ω.
Obs.: Se não explicitado o contrário A denotará a σ-álgebra de Borel.
Proposição 72 Considere A : H → H um operador auto-adjunto sobre o espaço de Hilbert
H. A famı́lia {PΩ } é uma famı́lia de projeções ortogonais, chamada de famı́lia das projeções
espectrais de A. A aplicação P : A → L(H) dada por Ω 7→ PΩ é uma medida. Além disso,
se Ω1 , Ω2 ∈ A vale que:
64
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
(1) PΩ1 ∩Ω2 = PΩ1 PΩ2 .
(2) P(−a,a) = I para algum a ∈ R.
(3) P(Ω1 ∪Ω2 ) = PΩ1 + PΩ2 − PΩ1 ∩Ω2 .
Demonstração. Pelo teorema espectral versão mensurável temos
χ2Ω = χΩ ⇒ PΩ2 = PΩ
donde PΩ é projeção. Como χΩ é uma função real, segue que PΩ é auto-adjunto e, portanto
é uma projeção ortogonal.
P é uma medida. Se Ω = ∅, então PΩ = χΩ (A) = 0A = 0. Agora, dados Ωn ∈ A
dois a dois disjuntos seja Ω =
∞
[
k
[
χΩn . Por outro lado, considerando
n=1
n=1
Ωk =
∞
X
Ωn , então χΩ =
Ωn temos que χΩk (x) → χΩ (x) e
n=1
kχΩk ksup ≤ 1
∀ k.
Pelo cálculo funcional, versão mensurável, temos que
∞
X
PΩn = lim
n=1
k→∞
k
X
χΩn (A) = χΩ (A) = PΩ .
n=1
(1). PΩ1 ∩Ω2 = χΩ1 ∩Ω2 (A) = χΩ1 χΩ2 (A) = χΩ1 (A)χΩ2 (A) = PΩ1 PΩ2 .
(2). Se σ(A) ⊂ (−a, a), então
χ(−a,a) |σ(A) = 1|σ(A)
donde
P(−a,a) = χ(−a,a) (A) = I.
(3). Como
Ω1 = [Ω1 \(Ω1 ∩ Ω2 )] ∪ (Ω1 ∩ Ω2 )
Ω2 = [Ω2 \(Ω1 ∩ Ω2 )] ∪ (Ω1 ∩ Ω2 )
⇒
⇒
PΩ1 = P[Ω1 \(Ω1 ∩Ω2 )] + P(Ω1 ∩Ω2 )
PΩ2 = P[Ω2 \(Ω1 ∩Ω2 )] + P(Ω1 ∩Ω2 )
(22)
(23)
e
Ω1 ∪ Ω2 = [Ω1 \(Ω1 ∩ Ω2 )] ∪ [Ω2 \(Ω1 ∩ Ω2 )] ∪ (Ω1 ∩ Ω2 )
(24)
P(Ω1 ∪Ω2 ) = P[Ω1 \(Ω1 ∩Ω2 )] + P[Ω1 \(Ω1 ∩Ω2 )] + P(Ω1 ∩Ω2 ) .
(25)
donde
65
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Subtraindo (22) e (23) de (25), obtemos
P(Ω1 ∪Ω2 ) = PΩ1 + PΩ2 − PΩ1 ∩Ω2 .
Proposição 73 Seja A ∈ L(H) um operador auto-adjunto em um espaço de Hilbert H.
Então λ ∈ σ(A) se, e somente se, P(λ−ε, λ+ε) 6= 0, para todo ε > 0.
Demonstração. (⇒) Seja λ ∈ σ(A) e suponha que exista ε0 tal que P(λ−ε0 , λ+ε0 ) = 0, então
P(λ−ε, λ+ε) = 0 para todo ε ≤ ε0 , pois
P(λ−ε, λ+ε) = P(λ−ε, λ+ε)∩(λ−ε0 , λ+ε0 ) = P(λ−ε, λ+ε) P(λ−ε0 , λ+ε0 ) = 0.
Seja f ≥ 0 uma função contı́nua tal que f (λ) = 1 e f ≤ χ(λ−ε, λ+ε) , ε ≤ ε0 , daı́
−f (A) = P(λ−ε, λ+ε) − f (A) ≥ 0
e
f (A) ≥ 0 ⇒ f (A) = 0
consequentemente σ(f (A)) = {0}. Como f é contı́nua, segue que f (σ(A)) = σ(f (A)) = {0},
donde λ ∈
/ σ(A), pois f (λ) = 1 e isso é uma contradição.
(⇐) Seja P(λ−ε, λ+ε) 6= 0, para todo ε > 0 e, por absurdo, suponha que λ ∈
/ σ(A). Então,
como σ(A) é compacto, existe um intervalo (λ − ε0 , λ + ε0 ) tal que
(λ − ε0 , λ + ε0 ) ∩ σ(A) = ∅.
Daı́ χ(λ−ε0 , λ+ε0 ) é contı́nua, se restrita ao σ(A), pois aı́ ela é a função identicamente nula,
isso implica que
P(λ−ε, λ+ε) = χ(λ−ε, λ+ε) (A) = 0 ∀ ε ≤ ε0 ,
que é absurdo.
Definição 28 Seja A : H → H um operador auto-adjunto em um espaço de Hilbert H. O
espectro essencial de A é o conjunto
σess (A) := {λ ∈ σ(A); dim(P(λ−ε, λ+ε) (H)) = +∞, ∀ ε > 0}.
O espectro discreto é o conjunto σdisc (A) := σ(A) \ σess (A).
Proposição 74 σess (A) é compacto.
Demonstração. Como σ(A) é compacto basta mostrar que σess (A) é fechado. Para isso,
seja λn ∈ σess (A) tal que λn → λ, então para todo ε > 0 existe n0 tal que para n ≥ n0 tem-se
que λn ∈ (λ − ε, λ + ε), daı́ escolhendo um ε0 > 0 tal que (λn − ε0 , λn + ε0 ) ⊂ (λ − ε, λ + ε)
obtemos
P(λn −ε0 , λn +ε0 ) (H) = P(λ−ε, λ+ε)∩(λn −ε0 , λn +ε0 ) (H) = P(λ−ε, λ+ε) P(λn −ε0 , λn +ε0 ) (H),
isto mostra que
P(λ−ε, λ+ε) (H) ⊃ P(λn −ε0 , λn +ε0 ) (H)
e como dim(P(λn −ε0 , λn +ε0 ) (H)) = +∞ segue que dim(P(λ−ε, λ+ε) (H)) = +∞.
66
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Teorema 75 Seja A ∈ L(H) um operador auto-adjunto em um espaço de Hilbert H. Então
λ ∈ σdisc (A) se e só se valem:
(a) λ é isolado.
(b) λ é um autovalor de multiplicidade finita.
Demonstração. (⇐) Como λ é isolado, então a função g : σ(A) → R dada por g(x) =
χ{λ} (x) é contı́nua. Definindo h(x) := (λ − x)g(x) segue que h ≡ 0 e
0 = h(A) = (λI − A)P{λ} ,
logo se v := P{λ} ψ 6= 0, pois λ ∈ σ(A), temos que
(λI − A)v = h(A)ψ = 0,
isto é Av = λv e portanto v é autovetor associado a λ.
Seja ε > 0 tal que (λ − ε, λ + ε) ∩ σ(A) = λ, então
P(λ−ε, λ+ε) (H) = P{λ} (H),
como P{λ} (H) é o auto-espaço associado a λ, temos por (b) que dim(P{λ} (H)) < +∞ e
consequentemente λ ∈ σdisc (A).
(⇐) Suponha que λ ∈ σdisc (A). Então, existe ε0 > 0 tal que
dim(P(λ−ε0 , λ+ε0 ) (H)) < +∞.
Se λ não fosse isolado, então existiria {λn } tal que λn → λ. Considere intervalos dois a dois
disjuntos
(λn − εn , λn + εn ) ⊂ (λ − ε0 , λ + ε0 ) ∀ n
daı́ para quaisquer m 6= n
P(λn −εn , λn +εn ) P(λm −εm , λm +εm ) (H) = 0
isto significa que
P(λm −εm , λm +εm ) (H) ⊂ ker(P(λn −εn , λn +εn ) ).
Como as projeções espectrais são ortogonais segue por (26) que os espaços
Hn := P(λn −εn , λn +εn ) (H)
são ortogonais e, não triviais pela Proposição 73. Além disso,
P(λ−ε0 , λ+ε0 ) (H) ⊃ Hn ∀ n
donde
P(λ−ε0 , λ+ε0 ) (H) ⊃ ⊕Hn
67
(26)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
e portanto dim(P(λ−ε0 , λ+ε0 ) (H)) = +∞ que é absurdo.
Para provar (b), defina h(x) = (λ − x)χ{λ} (x) = (λ − x)χ(λ−ε0 , λ+ε0 ) (x) que é contı́nua,
desde que λ é isolado, e claramente h ≡ 0. Daı́ temos que
h(A) = (λI − A)χ{λ} (A) = 0
isso significa que
P{λ} (H) = P(λ−ε0 , λ+ε0 ) (H) ⊂ ker(λI − A)
e como P{λ} (H) é não trivial segue que λ é autovalor. Por outro lado, dado v ∈ ker(λI − A)
temos que v ∈ P{λ} (H). De fato, pelo cálculo funcional, como Av = λv temos
P{λ} v = χ{λ} (A)v = χ{λ} (λ)v = v.
Isto nos diz que ker(λI − A) ⊂ P{λ} (H), logo ker(λI − A) = P{λ} (H). Mas como λ ∈ σdisc (A)
segue que dim(P{λ} (H)) < ∞ e λ é um autovalor de multiplicidade finita.
Teorema 76 Seja A ∈ L(H) um operador auto-adjunto em um espaço de Hilbert H. Então
λ ∈ σess (A) se e só se ocorre uma ou mais das seguintes alternativas:
(a) λ é autovalor de multiplicidade infinita.
(b) Se λ está no conjunto de acumulação dos autovalores de A.
(c) λ ∈ σc (A) .
Demonstração. (⇐). Se vale (a), então λ ∈
/ σdisc (A) logo λ ∈ σess (A) pois σ(A) =
σdisc (A) ∪ σess (A) é união disjunta.
Se vale (b), então existe autovalores {λn } distintos tais que λn → λ. Assim para todo
ε > 0 existe n0 tal que se n ≥ n0 temos que λn ∈ (λ−ε, λ+ε), daı́ os espaços Hn := P{λn } (H)
são não triviais pela Proposição 73 e são dois a dois ortogonais. Além disso,
P(λ−ε, λ+ε) (H) ⊃ Hn ∀ n ≥ n0
donde
P(λ−ε, λ+ε) (H) ⊃ ⊕Hn
e portanto dim(P(λ−ε, λ+ε) (H)) = +∞ e λ ∈ σess (A).
Agora, se λ ∈ σc (A) temos que λ não é autovalor. Então se λ ∈
/ σess (A) segue que
λ ∈ σdisc (A) e pela proposição anterior λ é um autovalor isolado de multiplicidade finita que
é uma contradição.
Reciprocamente, se λ ∈ σess (A), é claro que λ ∈ σ(A), e pela Proposição 75 se λ é
autovalor isolado, então ele tem multiplicidade infinita, donde vale (a) e se λ não for isolado
vale (b). Se λ não é autovalor, então, como A é auto-adjunto temos que σr (A) = ∅, logo
λ ∈ σc (A), donde vale (c). E é claro que, se λ ∈ σess (A), então (a) e (c) não podem falhar
simultaneamente.
Na demonstração do critério de Weyl usaremos o seguinte resultado:
68
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Lema 15 Seja T ∈ L(E) um operador linear sobre um espaço de Banach E tal que 0 ∈
σ(T ) \ σr (T ), então existe {ξn } ⊂ E, kξn k = 1, tal que T ξn → 0.
Demonstração. Se 0 ∈ σp (T ), temos que T não é injetivo, então ker(T ) 6= {0}, portanto
existe ξ ∈ E tal que T ξ = 0.
Agora, se 0 ∈ σc (T )), então T é injetivo mas não é sobre e sua imagem é densa, logo
existe T −1 : T (E) → E que é sobrejetivo, mas por definição T −1 não é contı́nuo.
Como T −1 não é contı́nuo, existe {ξn ∈ E}, kξn k = 1 tal que kT −1 ξn k → ∞, logo
ψn :=
ξn
T −1 ξn
⇒ T ψn =
−1
−1
kT ξn k
kT ξn k
e
kT ψn k =
1
kT −1 ξ
nk
−→ 0.
Teorema 77 (Critério de Weyl) Seja A ∈ L(H) um operador auto-adjunto sobre um
espaço de Hilbert H, então λ ∈ σ(A) se, e somente se, existe ψn , kψn k = 1, tal que
(λI − A)ψn → 0. Além disso, λ ∈ σess (A) se, e somente se, a sequência {ψn } pode ser
tomada de vetores ortonormais.
Demonstração. (⇒) Se λ ∈ σ(A) seja T := λI − A, como A é auto-adjunto T também é
donde seu espectro residual é vazio e 0 ∈ σ(T ), pois caso contrário λ ∈
/ σ(A), logo aplicando
o Lema 15 é imediato.
(⇐) Se existe {ψn } ⊂ H, kψn k = 1, tal que (λI − A)ψn → 0 e λ ∈
/ σ(A), então
1 = kψn k = kRλ (T )(λI − A)ψn k → 0
que é um absurdo, portanto λ ∈ σ(A).
Agora, para a segunda parte, assuma que λ ∈ σess (A). Então dim(χ(λ−1/n,λ+1/n) (A)) = ∞
para todo n, assim podemos escolher uma sequência ortonormal {ψn } ∈ Im(χ(λ−1/n,λ+1/n) )(A))
e, pelo cálculo funcional,
k(λI − A)ψn k ≤
sup
|λ − x| ≤
x ∈ (λ−1/n,λ+1/n)
1
→ 0.
n
Por outro lado, assuma que existe uma sequência ortonormal {ψn } tal que (λI − A)ψn → 0
mas λ ∈ σdisc (A). Notamos que a sequência {ψn } converge fracamente a zero, pois, por
Bessel, para todo ξ ∈ H
∞
X
|hξ, ψj i|2 ≤ kξk2 ,
j=1
donde
lim |hξ, ψj i|2 = 0
j→∞
69
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
e isso significa que ψn ⇀ 0. Como λ ∈ σdisc (A), escolha ε > 0 tal que dim[χ(λ−ε,λ+ε) (A)(H)] <
∞, isto significa que o operador χ(λ−ε,λ+ε) (A) tem posto finito e, portanto, é um operador
compacto, logo pela Proposição 42, χ(λ−ε,λ+ε) (A)ψn → 0.
Por outro lado
kλψn − Aψn k2 =
≥
=
Z
Z
Z
|λ − t|2 dµψn
R
R\(λ−ε,λ+ε)
R
≥ε
2
|λ − t|2 dµψn
(1 − χ(λ−ε,λ+ε) )|λ − t|2 dµψn
Z
R
(1 − χ(λ−ε,λ+ε) )dµψn
= ε2 (kψn k2 − kχ(λ−ε,λ+ε) (A)ψn k2 )
= ε2 (1 − kχ(λ−ε,λ+ε) (A)ψn k2 )
isso mostra que (λ − A)ψn não converge a zero quando n → ∞ que é uma contradição.
Definição 29 Seja g : R → C uma função mensurável e limitada no σ(A), onde A é autoadjunto. Definimos
Z
gPλ := g(A),
σ(A)
onde g(A), dado pelo cálculo funcional mensurável, é o único operador tal que
Z
σ(A)
gdµψ = hψ, g(A)ψi,
para todo ψ ∈ H. Em particular
A=
Z
σ(A)
λPλ .
Do cálculo funcional mensurável, sabemos que se {gn } é uniformemente limitada e gn → g
pontualmente, então
Z
σ(A)
gn dPλ →
Z
σ(A)
gdPλ e se g ≥ 0, então
Z
σ(A)
gdPλ ≥ 0.
Teorema 78 (Projeções espectrais) Seja Adj ⊂ L(H) a coleção dos operadores autoadjuntos em um espaço de Hilbert H. Seja M (L(H)) a coleção das medidas Borelianas
P : A → L(H) tal que para todo Ω ∈ A , PΩ é projeção ortogonal, PΩ1 ∩Ω2 = PΩ1 PΩ2 e existe
a ∈ R tal que P(−a,a) = I. Então, existe uma bijeção entre Adj e M (L(H)).
Demonstração. Dado A ∈ L(H) auto-adjunto, já sabemos que a aplicação Ω 7→ χΩ (A) =
‹ ∈ L(H) definem
PΩ define uma medida como no enunciado e de maneira única, pois se A, A
as mesmas projeções espectrais, digamos {PΩ } temos que
A=
Z
[−a,a]
‹
λPλ = A,
70
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
‹ ⊂ [−a, a].
onde σ(A), σ(A)
A sobrejetividade segue do Teorema seguinte, pelo qual existe um único operador autoadjunto A ∈ L(H) tal que
Z
A=
R
λdPλ .
Teorema 79 Sejam H um espaço de Hilbert e P uma medida a valores de projeção ortogonal
sobre H. Então para toda função de Borel limitada f : R → C existe um único operador
T ∈ L(H) tal que
Z
hT v, vi =
R
f (λ)dµv
(27)
para todo v ∈ H, onde µv é a medida de Borel dada por
µv (Ω) = hPΩ v, vi
(28)
para todo Ω na σ-álgebra de Borel A. Este operador é denotado por
T =
Z
Além disso,
T∗ =
f (λ)dPλ .
R
Z
R
f (λ)dPλ ,
finalmente, T é auto-adjunto, se f é uma função real.
Demonstração. Para cada v ∈ H fixado, mostraremos primeiramente que µv definida por
(28) é um medida de Borel. Como toda projeção ortogonal é positiva segue que µv é positiva.
Além disso, é claro que µv (∅) = 0 e µv (R) = kvk2 pois?? PR = I. Agora se Ωn é uma
sequência de subconjuntos de Borel disjuntos com união Ω, então
µv (Ω) = hPΩ v, vi =
∞
X
hPΩn v, vi =
∞
X
µv (Ωn ).
n=1
n=1
Portanto µv é uma medida finita. Em particular, se f é uma função mensurável e limitada
sobre R a integral
Z
f (λ)dµv
R
existe para todo v ∈ H. Se existe um operador T ∈ L(H) tal que
hT v, vi =
Z
R
f (λ)dµv
para todo v ∈ H, sabemos que T é único, pelo Teorema anterior.
Para a existência, iniciamos definindo para todo Boreliano Ω ⊂ R
Z
R
χΩ (λ)dPλ := PΩ .
71
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Logo, para f = χΩ temos
∑
≠Z
R
f (λ)dPλ v, v = hPΩ v, vi = µv (Ω) =
Z
R
f (λ)dµv .
(29)
Por linearidade, estendemos essa integral para funções escada
f=
n
X
aj χΩj
j=1
com Ωj ⊂ R disjuntos, mensuráveis e limitados. Assim
Z
R
f (λ)dPλ =
n
X
aj P Ω j .
j=1
Novamente, por linearidade, a equação (29) vale para toda função escada f e não depende
da representação de f como combinação linear de funções caracterı́stica.
Sabemos que para toda função mensurável e limitada f ≥ 0, podemos achar funções
escadas sn ≥ 0, n ≥ 1, tais que {sn } converge uniformemente para f . De fato, se 0 ≤ f ≤ B
podemos definir
iB
, onde 0 ≤ i ≤ n − 1 é tal que f (x) ∈ [iB/n, (i + 1)B/n)
n
e sn (x) = B/n se f (x) = B, assim |f (x) − sn (x)| ≤ B/n para todo x.
sn (x) =
Vamos mostrar que
Tn =
Z
R
sn (λ)dPλ
converge em L(H) para um operador T tal que (29) vale. De fato, para toda função escada
s, podemos escrever
s=
n
X
ai χΩi , com Ωi disjuntos,
s2 =
n
X
a2 χ
i
Ωi
i=1
i=1
e por definição obtemos
ã
ÅZ
R
para todo v ∈ H, donde
sdPλ v
2
=
n
X
a2 kP
i
2
Ωi vk
≤ max |ai |2 kvk2
(30)
i=1
Z
R
sdPλ ≤ kskL∞ .
Aplicando o resultado acima a s = sn − sm , obtemos que a sequência {Tn } é de Cauchy em
L(H), consequentemente converge para algum operador T ∈ L(H). Donde, por continuidade,
temos
Z
Z
hT v, vi = n→∞
lim hTn v, vi = n→∞
lim
sn dµv = f dµv
R
72
R
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
pelo Teorema de convergência dominada, pois 0 ≤ sn ≤ f que é limitada e consequentemente
é integrável com respeito a medidas finita. Isto significa que T satisfaz (29) como desejado.
Agora dada uma função limitada f : R → C, escrevemos
f = [(Re f )+ − (Re f )− ] + i[(Im f )+ − (Im f )− ]
onde cada um dos quatro termos são não negativos. Definimos
expressão (31), isto é,
Z
R
f dPλ =
Z
R
(Re f )+ dPλ −
Z
R
Z
(Re f )− dPλ + i
R
R
(31)
f dPλ pela linearidade da
(Im f )+ dPλ − i
Z
R
(Im f )− dPλ ,
(32)
Daı́, para todo v ∈ H
ã
≠ÅZ
R
∑
ã
≠ÅZ
∑
R
≠ÅZ
ã
+i
R
ã
≠ÅZ
(Re f )+ dPλ v, v −
f dPλ v, v =
R
∑
ã
≠ÅZ
(Im f )+ dPλ v, v − i
∑
(Re f )− dPλ v, v +
R
∑
(Im f )− dPλ v, v
= hT1 v, vi − hT2 v, vi + ihT3 v, vi − ihT4 v, vi
= h(T1 − T2 + iT3 − iT4 ) v, vi
|
{z
}
T
= hT v, vi.
Por fim temos que
∗
hT v, vi = hT v, vi =
isto mostra que
∗
T =
Z
Z
R
R
f (λ)dµv =
Z
R
f (λ)dµv ,
f (λ)dPλ ,
se f for uma função real temos
T∗ =
Z
R
f (λ)dPλ =
Z
R
f (λ)dPλ = T.
2.4 Teorema espectral para operadores normais: forma
multiplicativa. Dedução da forma multiplicativa a partir
do Cálculo Funcional contı́nuo e vice-versa
Definição 30 Sejam E um espaço vetorial normado e T ∈ L(E). Dizemos que um vetor v
é cı́clico para o operador T se o span{T n v, n ≥ 0} é denso em E.
Obs.: Os operadores idempotentes, A2 = A, não possuem vetor cı́clico.
73
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Lema 16 Sejam H um espaço de Hilbert separável e A ∈ L(H). Então existe uma sequência
de subespaços (finita ou enumerável) não triviais H1 , H2 , . . . tais que
(1) H = H1 ⊕ H2 ⊕ . . ..
(2) Cada Hn contém um vetor cı́clico ξn para A|Hn , n = 1, 2, . . ..
Demonstração. Considere uma famı́lia F cujos elementos são coleções de subespaços
Hα ⊂ H, não triviais, fechados, mutuamente ortogonais tais que A|Hα tem vetor cı́clico. Essa
famı́lia é não vazia, pois escolhendo qualquer 0 6= ξ ∈ H o fecho do conjunto
Hξ = span{An ξ, n ≥ 0} ⊂ H
é um elemento de F com vetor cı́clico ξ.
Ordenando F por inclusão, temos que cada subfamı́lia totalmente ordenada tem uma cota
superior, Hα , obtida pela união de todos os elementos da subfamı́lia. Portanto, pelo lema de
Zorn F tem um elemento maximal
{Hα : α ∈ J}.
Como H é separável e os Hα são ortogonais, o conjunto de ı́ndices é enumerável ou finito
e podemos escrever nosso elemento maximal como
{H1 , H2 , . . . , }.
L
Como, cada Hn é fechado, segue que H := Hn é fechado e consequentemente é invariante por A e A∗ . De fato, que H é invariante
por A segue da sua construção e como H é
M
um espaço de Hilbert temos que Hj⊥ =
Hi e como Hj é invariante por A segue que Hj⊥ é
i6=j
invariante por A∗ e isso implica que H também é invariante por A∗ .
Agora basta mostrar que H = H. Supondo o contrário, então o complemento ortogonal
K de H é não vazio e invariante por A. De fato, se x ∈ K, então como H é invariante por
A∗ obtemos
hAx, H i = hx, A∗ H i = 0.
Escolhendo qualquer vetor ξ 6= 0 em K obtemos um subespaço H0 := span{An ξ, n ≥ 0} ⊂ K
no qual A tem vetor cı́clico ξ, assim {H0 , H1 , H2 , . . . , } ∈ F e isso contradiz a maximalidade
de {H1 , H2 , . . . , }.
Lema 17 Sejam H um espaço de Hilbert e A ∈ L(H) um operador normal que possui
vetor cı́clico ξ. Então existe uma única medida µ σ-finita no σ(A) e um operador unitário
U : L2 (σ(A), µ) → H tal que para toda g ∈ L2 (σ(A), µ) temos
(U −1 AU g)(x) = xg(x).
74
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Usando o Teorema 70, definimos um funcional linear sobre C(σ(A))
por ρ(f ) = hf (A)ξ, ξi, logo se f ≥ 0 existe g ∈ C(σ(A)) tal que f = g 2 , donde
ρ(f ) = ρ(g 2 ) = hg(A)g(A)ξ, ξi = hg(A)ξ, g(A)ξi = kg(A)ξk2 ≥ 0,
portanto ρ é positivo. Pelo Teorema de Riesz-Markov existe uma única medida de Borel µ
σ-finita sobre σ(A) tal que
Z
σ(A)
f (x)dµ = hf (A)ξ, ξi, f ∈ C(σ(A)).
Por outro lado, para f, g ∈ C(σ(A)) temos
hf (A)ξ, g(A)ξi = hg(A)∗ f (A)ξ, ξi = ρ(gf )
=
Z
σ(A)
f (x)g(x)dµ
= hf, giL2 (σ(A),µ) .
Em particular para f = g temos kf (A)ξk = kf kL2 . Assim a aplicação U : C(σ(A)) → H
dada por U (f ) = f (A)ξ é uma isometria do subespaço denso C(σ(A)) ⊂ L2 (σ(A), µ)
sobre o subespaço {f (A)ξ; f ∈ C(σ(A))}
⊂ H que é denso em H pois ξ é cı́clico e
p(A)ξ =
m
X
j=1
aj Aj ξ; p é polinômio ⊂ {f (A)ξ; f ∈ C(σ(A))}.
Pelo B.L.T. U se estende de maneira única a
U : L2 (σ(A), µ) → {f (A)ξ} = H.
Finalmente para g contı́nua temos
(U −1 AU g)(x) = (U −1 Ag(A)ξ)(x)
= (U −1 (xg)(A)ξ)(x)
= xg(x).
Se g ∈ L2 (σ(A), µ) o resultado segue por continuidade.
Teorema 80 Sejam H um espaço de Hilbert separável e A ∈ L(H) um operador normal.
Então, existe uma medida σ-finita µ e um operador unitário U : L2 (σ(A), µ) → H tal que
para toda g ∈ L2 (σ(A), µ)
(U −1 AU g)(x) = xg(x).
Demonstração. Se A tem vetor cı́clico o resultado é imediato pelo lema anterior. Agora, se
A não tem vetor cı́clico, então pelo Lema 16, existe uma decomposição H = H1 ⊕ H2 ⊕ . . .
invariante por A tal que Aj := A|Hj tem vetor cı́clico, donde pelo Lema 17 existe um
75
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
operador unitário Uj : L2 (σ(Aj ), µj ) → Hj tal que (Uj−1 Aj Uj g)(x) = xg(x) para toda g ∈
L2 (σ(Aj ), µj ). Como σ(A) =
∞
[
σ(Aj ) é união disjunta, definimos a medida µ em σ(A) por
j=1
µ(Ω) =
∞
X
µj (Ω ∩ σ(Aj )),
j=1
para qualquer Boreliano Ω ⊂ σ(A). Como as µj são σ-finitas µ também é. Portanto,
L2 (σ(A), µ) é isometricamente isomorfo a L2 (σ(A1 ), µ1 ) ⊕ L2 (σ(A2 ), µ2 ) ⊕ . . . via a aplicação
g ∈ L2 (σ(A), µ) 7→ (g1 , g2 , . . .) onde gn = g|σ(An ) .
Por outro lado,
U := (U1 ⊕ U2 ⊕ . . .) :
∞
M
L2 (σ(A), µn ) → H
n=1
é um operador unitário sobre
∞
M
L2 (σ(A), µn ) tal que
n=1
(U −1 AU g)(x) = xgn (x).
Teorema 81 Seja H um espaço de Hilbert separável e A ∈ L(H) um operador normal. Se
existem uma medida µ σ-finita e um operador unitário U : L2 (σ(A), µ) → H que satisfaz
para toda g ∈ L2 (σ(A), µ)
(U −1 AU g)(x) = xg(x)
então, existe um único ∗-homomorfismo Φ : C(σ(A)) → L(H) tal que
(1) Φ é contı́nuo.
(2) Φ(f ) = A para a função f (x) = x.
(3) Se h ∈ C(σ(A)) é não negativa, então Φ(h) é um operador positivo.
Demonstração. (1). Seja Mf := U −1 AU : L2 (σ(A), µ) → L2 (σ(A), µ) o operador de
multiplicação pela função f (x) = x em L2 (σ(A), µ). Dada h ∈ C(σ(A) definimos
h(A) := U Mh U −1 ,
onde Mh é o operador de multiplicação pela função h em L2 (σ(A), µ). Como Φ(h) := h(A)
é composição de operadores lineares limitados segue que Φ é um operador linear limitado de
L2 (σ(A), µ) em L(H), além disso
kΦ(h)k = kh(A)k
= kU Mh U −1 k
≤ kU kkMh kkU −1 k
= kMh k ≤ khk
76
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
(2). Para a função f (x) = x, temos
Φ(f ) = f (A) = U Mf U −1 = A.
Por outro lado,
Φ(1) = 1(A) = U M1 U −1 = U IL2 U −1 = IL(H) .
Φ é multiplicativa. Com efeito, dadas h1 , h2 ∈ C(σ(A)) temos
Φ(h1 h2 ) = U Mh1 h2 U −1
= U h1 h2 U −1
= U h1 U −1 U h2 U −1
= Φ(h1 )Φ(h2 ).
Analogamente, mostra-se que Φ(h2 h1 ) = Φ(h2 )Φ(h1 ). Além disso
Φ(h)∗ = (U Mh(f ) U −1 )∗
∗
∗
= (U −1 )∗ Mh(f
)U
= U Mh(f ) U −1
= Φ(h).
Φ é único, pois se Ψ é outro ∗-homomorfismo contı́nuo tal que Φ(f ) = Ψ(f ) = A para a
função f (x) = x, então Φ e Ψ coincidiram também nos polinômios e pelo B.L.T. também
coincidiram em C(σ(A)).
Consequentemente, h é uma função real temos que Φ(h) é um operador auto-adjunto.
(3). Se h ∈ C(σ(A)) é positiva, então existe g ∈ C(σ(A)) tal que h = g 2 , logo para todo
x∈H
hx, Φ(h)xi = hx, Φ(g 2 )xi = hx, Φ(g)Φ(g)xi = hΦ(g)x, Φ(g)xi ≥ 0.
2.5 Teorema Espectral para operadores normais limitados: Cálculo Funcional Mensurável
Teorema 82 (Cálculo funcional mensurável) Sejam H um espaço de Hilbert e T ∈
L(H) um operador normal. Então, existe um único ∗-homomorfismo Ψ : B(σ(T )) → L(H),
onde B(σ(T )) denota o conjunto das funções f : σ(T ) → C mensuráveis e limitadas.
77
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Pelo cálculo funcional contı́nuo, para quaisquer x, y ∈ H a aplicação
C(σ(T )) ∋ f 7→ hx, f (T )yi
(33)
é um funcional linear contı́nuo e positivo sobre C(σ(T )). De fato, para a positividade, se
f ≥ 0, então existe g ∈ C(σ(T )) tal que f = g 2 , logo
hx, f (T )xi = hx, g 2 (T )xi = hg(T )x, g(T )xi ≥ 0
e para a continuidade temos
|hx, f (T )yi| ≤ kf (T )kkxkkyk ≤ kf ksup kxkkyk.
Assim, pelo Teorema de Riesz-Markov, existe uma única medida de Borel µx,y sobre C(σ(T ))
tal que
Z
hx, f (T )yi =
f dµx,y .
(34)
σ(T )
As medidas µx,y são chamadas de medidas espectrais do operador normal T .
Denotando o funcional em (33) por ℓ(f ) := hx, f (T )yi temos
kℓk =
sup
kf k=1
f ∈ C(σ(T ))
Z
σ(T )
f (z)dµx,y =
|hx, f (T )yi| ≤ kxkkyk.
sup
kf k=1
f ∈ C(σ(T ))
Além disso, para todo Boreliano Ω ⊂ σ(T ), temos que µx,y é sesquilinear, isto é,
µax+y,z = aµx,y + µy,z
µx,ay+z = aµx,y + µx,z
e
(35)
(36)
Por exemplo, para a igualdade (35), dado qualquer Ω ⊂ σ(T ) temos
µax+y,z (Ω) =
Z
Ω
1dµax+y,z = hax + y, 1(T )zi
= ahx, 1(T )zi + hy, 1(T )zi
=a
Z
Ω
1dµx,z +
Z
Ω
1dµy,z
= aµx,z (Ω) + µy,z (Ω).
Analogamente, se mostra (36). Além disso, µx,y = µy,x . De fato,
µx,y (Ω) =
=
Z
Z
Ω
Ω
1dµx,y = hx, 1(T )yi = h1(T )x, yi = hy, 1(T )xi
1dµy,x = µy,x (Ω).
78
(37)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Agora para cada f ∈ B(σ(T )) (com a norma do sup), definimos uma forma sesquilinear B
em H × H por
Z
Bf (x, y) :=
f (z)dµx,y .
σ(T )
Assim, temos
|Bf (x, y)| =
Z
σ(T )
f (z)dµx,y ≤ kf ksup
Z
σ(T )
dµx,y = kf ksup |hx, yi| ≤ kf ksup kxkkyk.
Portanto, B é uma forma sesquilinear limitada. Assim, pelo Teorema de representação de
Riesz existe um único operador linear limitado, que denotaremos por f (T ), tal que
hx, f (T )yi =
Z
σ(T )
f (z)dµx,y .
(38)
A equação (38) define o cálculo funcional mensurável
Ψ : B(σ(T )) → L(H)
f
7−→ f (T )
de tal maneira que
kΨ(f )k = kf (T )k = kBf k ≤ kf ksup ,
a igualdade vale se f for contı́nua, pois Ψ estende Φ e note que Ψ é injetivo por construção.
Agora, vamos mostrar as propriedades de ∗-homomorfismo de Ψ.
Como Ψ = Φ em C(σ(T )) temos
(1) Ψ(1) = Φ(1) = I.
(2) Para a função f (z) = z, Ψ(f ) = Φ(f ) = T .
(3) Ψ é multiplicativa.
Primeiramente, se f, g ∈ C(σ(T )). Seja S := Φ(g) = Ψ(g), então para x, y ∈ H temos
f gdµx,y = hx, Ψ(f g)yi = hx, Ψ(f )Syi =
Z
hx, Ψ(f g)yi = hx, SΨ(f )yi = hS ∗ x, Ψ(f )yi =
Z
Z
σ(T )
e
σ(T )
σ(T )
f dµx,Sy
(39)
f dµS ∗ x,y
(40)
donde, para todo x, y ∈ H
Z
σ(T )
f gdµx,y =
Z
σ(T )
f dµx,Sy =
Z
σ(T )
isto é,
gdµx,y = dµx,Sy = dµS ∗ x,y .
79
f dµS ∗ x,y
(41)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Integrando a equação acima com f ∈ B(σ(T )) temos
Z
σ(T )
f gdµx,y = hx, Ψ(f g)yi = hx, Ψ(f )Syi = hS ∗ x, Ψ(f )yi = hx, SΨ(f )yi
consequentemente Ψ(f g) = Ψ(f )S = Ψ(f )Φ(g) = SΨ(f ) = Φ(g)Ψ(f ). Portanto, para
g ∈ C(σ(T )) e f ∈ B(σ(T )) vale que
Ψ(f g) = Ψ(f )Ψ(g) = Ψ(g)Ψ(f ).
(42)
Repetindo as contas em (39), (40) e (41) usando (42) obtemos para f ∈ B(σ(T )) e
S = Ψ(f )
f dµx,y = dµx,Sy = dµS ∗ x,y
e integrando com f, g ∈ B(σ(T )) temos
Z
σ(T )
f gdµx,y = hx, Ψ(f g)yi = hx, Ψ(f )Syi = hS ∗ x, Ψ(f )yi = hx, SΨ(f )yi
daı́ Ψ(f g) = Ψ(f )Ψ(g) = Ψ(g)Ψ(f ), para quaisquer f, g ∈ B(σ(T )).
(4) É imediato que Ψ(af + g) = aΨ(f ) + Ψ(g), a partir de
hx, f (T )yi =
Z
σ(T )
f (z)dµx,y .
(5) Ψ(f )∗ = Ψ(f ), Ψ(f ) é um operador normal para toda f ∈ B(σ(T )) e se f for uma
função real tem-se que Ψ(f ) é um operador auto-adjunto.
De fato, para todo x, y ∈ H
hx, f (T )∗ yi = hf (T )x, yi = hy, f (T )xi
=
=
=
Z
Z
Z
σ(T )
σ(T )
σ(T )
f (z)dµy,x
f (z)dµy,x
f (z)dµx,y
= hx, f (T )yi,
donde Ψ(f )∗ = Ψ(f ), observe que na terceira igualdade usamos (37). Portanto, se f é
uma função real Ψ(f )∗ = Ψ(f ) é auto-adjunto. Além disso,
Ψ(f )∗ Ψ(f ) = Ψ(f f ) = Ψ(f f ) = Ψ(f )Ψ(f )∗
donde Ψ(f ) é um operador normal.
80
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
(6) Se f ≥ 0, então Ψ(f ) ≥ 0. De fato, sendo f ≥ 0 existe g ∈ B(σ(T )) tal que f = g 2 ,
donde
hx, Ψ(f )xi = hx, Ψ(g 2 )xi = hΨ(g)x, Ψ(g)xi ≥ 0 ∀x ∈ H.
(7) Se fn → f uniformemente em B(σ(T )), então fn (T ) → f (T ) uniformemente, pois
kfn (T ) − f (T )k = k(fn − f )(T )k ≤ kfn − f k → 0.
Agora, se Ψ é outro ∗-homomorfismo contı́nuo tal que Ψ(f ) = T para a função f (z) = z,
então Ψ coincide com Φ = Ψ em C(σ(T )), isto é,
hΨ(f )x, yi =
Z
σ(T )
f (z)dµx,y = hΨ(f )x, yi
portanto, Ψ e Ψ determinam as medidas espectrais para T , logo pelo Teorema de representação de Riesz Ψ = Ψ em B(σ(T )).
2.6 Operadores Fechados e Fecháveis, Critérios, Teorema Espectral para operadores ilimitados auto-adjuntos
Definição 31 Sejam N1 e N2 espaços vetoriais normados. Um operador linear T : D(T ) ⊂
N1 → N2 , onde D(T ) é um subespaço de N1 , é dito fechado se para toda sequência convergente
{ξn } ⊂ D(T ) com ξn → ξ ∈ N1 e {T ξn } ⊂ N2 também converte, T ξn → η, então ξ ∈ D(T )
e T ξ = η. Em outras palavras, T é fechado se e só se o gráfico de T , Γ(T ) = {(x, T x) ∈
N1 × N2 } é um subespaço fechado de N1 × N2 .
Definição 32 Um operador linear T : D(T ) ⊂ N1 → N2 é dito fechável se possui uma
extensão linear fechada. Todo operador fechável tem uma menor extensão fechada chamada
de fecho de T , que denotaremos por T .
Um operador S : D(S) ⊂ N1 → N2 estende T : D(T ) ⊂ N1 → N2 significa que
D(T ) ⊂ D(S) e S|D(T ) = T .
Lema 18 Se H é um espaço de Hilbert e T : D(T ) ⊂ H → H é fechável, então Γ(T ) = Γ(T ).
Demonstração. Dada qualquer extensão fechada S de T é claro que Γ(S) ⊃ Γ(T ).
Por outro lado, definindo D(A) := {φ ∈ H; (φ, ψ) ∈ Γ(T )}, onde A : D(A) → H é tal
que Aφ = ψ. Temos que A está bem definido já que Γ(T ) está contido no gráfico de S,
obrigando tal ψ ser único (por exemplo, A poderia ser S). Claramente Γ(A) = Γ(T ) e como
A é estendida por qualquer extensão fechada de T , segue que A = T .
Os conceitos de operador limitado e de operador fechado não são equivalentes, como
mostram os exemplos abaixo.
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J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Exemplo 4 (Limitado e não fechado) Seja I : D(I) ⊂ E → E, onde E é espaço de
Banach, com D(I) denso e próprio, o operador identidade Iξ = ξ para todo ξ ∈ D(I). Tal
operador é claramente limitado. Seja ξn → ξ ∈ E \ D(I). Como ξn → ξ, mas ξ ∈
/ D(I), este
operador não é fechado.
Exemplo 5 (Fechado e não limitado) Seja C 1 [0, π] ⊂ C[0, π], com topologia da convergência uniforme, o subespaço das funções continuamente diferenciáveis em [0, π] e D :
C 1 [0, π] → C[0, π], dado por (Dψ)(t) = ψ ′ (t). D não é contı́nuo, já que ψn (t) = sen(nt)/n →
0, enquanto (Dψn )(t) = cos(nt) não converge uniformemente a zero. Por outro lado, esse
operador é fechado. De fato, se ψn → ψ e Dψn = ψn′ → ϕ, então como os limites são
uniformes temos
Z t
0
ϕ(s)ds =
Z t
0
lim ψ ′ (s)ds = n→∞
lim
n→∞ n
Z t
0
ψn′ (s)ds = ψ(t) − ψ(0).
(43)
Assim, ψ ∈ C 1 [0, π] e (Dψ)(t) = ϕ(t) para todo t, pois derivando (43) obtemos
φ(t) = ψ ′ (t) = (Dψ)(t)
e, portanto D é fechado.
Lema 19 Se N ⊂ E, onde E é um espaço de Banach, então T ∈ L(N , E) é fechado se, e
somente se, N é fechado.
Demonstração. Seja (xn , T xn ) → (x, y), isto é, xn → x e T xn → y, se T é fechado temos
pela continuidade de T que T x = y donde x ∈ N e assim N é fechado. Reciprocamente, se N
é fechado e (xn , T xn ) → (x, y), então x ∈ N e pela continuidade de T temos que T xn → T x
donde T x = y. Portanto T é fechado.
Observe que o lema mostra, em particular, que todo operador contı́nuo entre espaços de
Banach é fechado.
Lema 20 Sejam X e Y espaços normados. Se dim(X) < ∞, então todo operador linear
T : D(T ) ⊂ X → Y é fechado.
Demonstração. Sendo dim(X) < ∞ segue que dim(D(T )) < ∞ e consequentemente
dim(Im(T )) < ∞. Portanto, dim(Γ(T )) < ∞, logo é um subespaço fechado de X × Y .
Definição 33 Sejam T : D(T ) ⊂ H → H um operador linear densamente definido, isto é,
D(T ) = H, e D(A∗ ) o conjunto de todos os y ∈ H para os quais existe z ∈ H tal que
hT x, yi = hx, zi ∀ x ∈ D(T ),
o operador definido por T ∗ y = z é chamado o operador adjunto de T . Note que T ∗ é linear.
Lema 21 Um operador T : D(T ) ⊂ H → H é densamente definido se, e somente se T ∗ está
bem definido, isto é, para cada y ∈ D(T ∗ ) existe um único z ∈ H tal que T ∗ y = z.
82
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. Suponha que D(T ) não é denso em H, ou seja, que D(T ) 6= H, então
existe y1 6= 0 tal que y1 ⊥ x para todo x ∈ D(T ). Assim, para y1 6= y ∈ D(T ∗ ) temos
hT x, yi = hx, zi = hx, zi + hx, y1 i = hx, z + y1 i ∀ x ∈ D(T ),
logo z = T ∗ y = z + y1 donde T ∗ não está bem definido.
Agora suponhamos que D(T ) é denso em H, logo D(T )⊥ = {0}. Portanto, se
hx, zi = hT x, yi = hx, z1 i ⇒ z − z1 ∈ D(T )⊥ = {0} ⇒ z = z1 .
Assim T ∗ esta bem definido.
Para o próximo teorema precisaremos do seguinte lema:
Lema 22 Sejam H1 e H2 espaços de Hilbert e U : H1 → H2 um operador unitário, então
para todo subespaço E ⊂ H1
U (E ⊥ ) = [U (E)]⊥ .
Demonstração. Seja x ∈ U (E ⊥ ), então U −1 x ∈ E ⊥ e para todo y ∈ E temos que
hx, U yi = hU ∗ x, yi
= hU −1 x, yi = 0.
Donde, U (E ⊥ ) ⊂ [U (E)]⊥ .
Por outro lado, se x ∈ [U (E)]⊥ , então para y ∈ E temos
0 = hx, U yi = hU −1 x, yi
⇒
z = U −1 x ∈ E ⊥
⇒
U z = x ∈ U (E ⊥ ).
Portanto, [U (E)]⊥ ⊂ U (E ⊥ ) e consequentemente
U (E ⊥ ) = [U (E)]⊥ .
Teorema 83 Seja T um operador densamente definido em um espaço de Hilbert H. Então:
(a) T ∗ é fechado.
(b) T é fechável se, e somente se, D(T ∗ ) é denso, e nesse caso T = T ∗∗ .
(c) Se T é fechável, então (T )∗ = T ∗ .
Demonstração. (a). Definamos o operador unitário V : H × H → H × H por
V (φ, ψ) = (−ψ, φ).
83
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
O produto interno no espaço de Hilbert H × H é dado por
h(x, y), (u, v)i = hx, ui + hy, vi.
Sendo V unitário, segue-se que V (E ⊥ ) = [V (E)]⊥ para todo subespaço E. Assim, (η, θ) ∈
V (Γ(T )⊥ ) = [V (Γ(T ))]⊥ se e só se
h(η, θ), (−T φ, φ)i = 0, ∀ φ ∈ D(T ),
ou seja, se e só se
hη, T φ)i = hθ, φi, ∀ φ ∈ D(T ) ⇔ (η, θ) = (η, T ∗ (η)).
Isto nos diz que Γ(T ∗ ) = [V (Γ(T ))]⊥ .
Como [V (Γ(T ))]⊥ é um subespaço fechado de H × H, segue-se que T ∗ é fechado.
(b). Como Γ(T ) e Γ(T )⊥ são subespaços de H × H e V 2 (φ, ψ) = (−φ, −ψ) segue que
V 2 (E) = E para qualquer subespaço de H × H. Além disso,
Γ(T ) = [(Γ(T ))⊥ ]⊥
= [V 2 ((Γ(T ))⊥ )]⊥
= [V (V (Γ(T ))⊥ )]⊥
= [V (Γ(T ∗ ))]⊥ ,
logo, se T ∗ é densamente definido o item (a) implica que T ∗∗ é fechado e consequentemente
Γ(T ) = [V (Γ(T ∗ ))]⊥ = Γ(T ∗∗ ).
Donde T é fechável e pelo Lemma 18
Γ(T ) = Γ(T ) = Γ(T ∗∗ )
⇔
T = T ∗∗ .
Reciprocamente, se T é fechável, suponha por absurdo que D(T ∗ ) não seja denso. Escolha um ψ ∈ D(T ∗ )⊥ , ψ 6= 0. Claramente (ψ, 0) ∈ (Γ(T ∗ ))⊥ e portanto (0, ψ) ∈ Γ(T ) =
V ((Γ(T ∗ ))⊥ ) isso implica que Γ(T ) não é gráfico de aplicação linear, ou seja, T não seria
fechável.
(c). Se T é fechável, então pela parte (b) T = T ∗∗ , logo (T )∗ = T ∗∗∗ = T ∗ = T ∗ .
Definição 34 (Operador simétrico) Um operador T : D(T ) ⊂ H → H é dito simétrico
se
hT x, yi = hx, T yi, ∀ x, y ∈ D(T ).
Isto é equivalente a dizer que T ∗ estende T . De fato, pois sendo D(T ) denso e
hx, T ∗ yi = hT x, yi = hx, T yi,
∀ x, y ∈ D(T )
temos que hx, T ∗ y − T yi = 0, daı́ T ∗ y = T y em D(T ) pois é denso. A recı́proca é óbvia.
84
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Teorema 84 Seja T : D(T ) ⊂ H → H um operador simétrico em um espaço de Hilbert H.
São equivalentes:
(a) T é auto-adjunto.
(b) T é fechado e ker(T ∗ ± iI) = {0}.
(c) (T ± iI)(D(T )) = H.
Demonstração. (a) ⇒ (b). Como T ∗ é sempre fechado, então sendo T auto-adjunto
segue que T é fechado. Agora se φ ∈ ker(T − iI) temos que T φ = T ∗ φ = iφ. Daı́
ihφ, φi = hφ, T φi
= hT ∗ φ, φi
= −ihφ, φi ⇒ φ = 0.
Analogamente, vale para o operador T + iI.
(b) ⇒ (c). Como ker(T ∗ + iI) = {0}, segue-se que (T − iI)(D(T )) é denso em H. De
fato, se ψ ∈ [(T − iI)(D(T ))]⊥ temos que h(T − iI)φ, ψi = 0 para todo φ ∈ D(T ) isso
implica que hφ, (T ∗ + iI)ψi = 0 para todo φ ∈ D(T ) que é denso, donde (T ∗ + iI)ψ = 0
e consequentemente ψ = 0, pois ker(T ∗ + iI) = {0}. Portanto [(T − iI)(D(T ))]⊥ = {0}
e consequentemente (T − iI)(D(T )) é denso em H. Analogamente, se faz para o operador
(T − iI).
Agora, para φ ∈ D(T )
k(φ, T φ)k2 = kφk2 + kT φk2
e
k(T ± iI)φk2 = h(T ± iI)φ, (T ± iI)φi
= hT φ, T φi + hφ, φi ∓ ihT φ, φi ± ihT φ, φi
= kφk2 + kT φk2
isso significa que (T ± iI)(D(T )) é isométrico ao Γ(T ) ⊂ H × H. Dessa isometria, concluı́mos
que (T ± iI)(D(T )) é fechada em H e como é densa segue que é igual a H.
(c) ⇒ (a) Seja ψ ∈ D(T ∗ ). Como (T − iI)(D(T )) = H, existe φ ∈ D(T ) tal que
(T − iI)φ = (T ∗ − iI)ψ.
Como T é simétrico, então T ∗ estende T e temos que
(T ∗ − iI)(φ − ψ) = 0.
85
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Ademais, note que de (T +iI)(D(T )) = H implica que ker(T ∗ −iI) = {0}, pois caso contrário,
existe 0 6= v ∈ ker(T ∗ − iI) logo
h(T + iI)φ, vi = hφ, (T ∗ − iI)vi = 0
para todo φ ∈ D(T ), isso implica que (T + i)(D(T )) 6= H, que é uma contradição, logo
ψ = φ ∈ D(T ), D(T ) = D(T ∗ ) e T é auto-adjunto.
Definição 35 Um número complexo λ está no conjunto resolvente, ρ(T ), de T se existe
(λI − T )−1 : H → D(T ) ⊂ H e é contı́nuo, onde T : D(T ) ⊂ H → H, e σ(T ) := C \ ρ(T ) é
chamado o espectro de T .
As definições de espectro, pontual, residual e contı́nuo para operadores densamente definidos são análogas aos de operadores T : H → H.
Lema 23 (Identidade do resolvente) Se λ, µ ∈ ρ(T ) com λ 6= µ. Então
Rλ (T ) − Rµ (T ) = (µ − λ)Rλ (T )Rµ (T )
e
Rλ (T )Rµ (T ) = Rµ (T )Rλ (T ).
Demonstração.
Rλ (T ) − Rµ (T ) = Rλ (T )(µI − T )Rµ (T ) − Rλ (T )(λI − T )Rµ (T )
= Rλ (T )[(µI − T )Rµ (T ) − (λI − T )Rµ (T )]
= Rλ (T )[µRµ (T ) − T Rµ (T ) − λRµ (T ) + T Rµ (T )]
= Rλ (T )[(µ − λ)Rµ (T )]
= (µ − λ)Rλ (T )Rµ (T ),
logo
Rλ (T ) − Rµ (T ) = (µ − λ)Rλ (T )Rµ (T ).
(44)
Rµ (T ) − Rλ (T ) = (λ − µ)Rµ (T )Rλ (T ).
(45)
Daı́
Somando 44 com 45, obtemos
(λ − µ)Rµ (T )Rλ (T ) = −(µ − λ)Rλ (T )Rµ (T ) ⇒ Rµ (T )Rλ (T ) = Rλ (T )Rµ (T ).
Lema 24 Seja T um operador linear densamente definido em um espaço de Hilbert H.
(a) Se Im(T ) é densa em H e T é injetivo, então T ∗ é injetivo e (T ∗ )−1 = (T −1 )∗ . Em
particular, se T é auto-adjunto e T −1 existe, então T −1 também é auto-adjunto.
(b) Se z ∈ ρ(T ), então Rz (T )∗ = Rz (T ∗ ).
(c) Se T é fechado, então σ(T ∗ ) = σ(T ), a barra indica o conjugado complexo.
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J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração. (a). Como ker(T ∗ ) = (Im(T ))⊥ , obtemos que ker(T ∗ ) = {0}, logo T ∗ é
injetivo. Mas Γ(T ∗ ) = [V (Γ(T ))]⊥ e Γ(T −1 ) = W (Γ(T )), onde W (ξ, η) = (η, ξ) é unitário e,
portanto, W (E ⊥ ) = [W (E)]⊥ para todo E ⊂ H × H. Além disso W −1 = W e V W (E) =
−W V (E) = W V (E), pois E = −E qualquer que seja o subespaço E. Assim, temos que
Γ((T −1 )∗ ) = [V (Γ(T −1 ))]⊥
= [V (W (Γ(T )))]⊥
= [W (V (Γ(T )))]⊥
= W ([V Γ(T )]⊥ )
= W (Γ(T ∗ ))
= Γ((T ∗ )−1 )
donde (T −1 )∗ = (T ∗ )−1 .
(b). Se z ∈ ρ(T ), então zI − T é injetivo com Im(zI − T ) = H. Assim, por (a), (zI − T )∗
é injetivo e
((zI − T )−1 )∗ = ((zI − T )∗ )−1 = (zI − T ∗ )−1 ,
isto é Rz (T )∗ = Rz (T ∗ ).
(c). Por (b), temos que ρ(T ) ⊂ ρ(T ∗ ). Como T é fechado, temos que T = T ∗∗ e,
novamente por (b), ρ(T ∗ ) ⊂ ρ(T ∗∗ ), isso implica que ρ(T ∗ ) ⊂ ρ(T ∗∗ ) e consequentemente
ρ(T ) ⊂ ρ(T ∗ ) ⊂ ρ(T ∗∗ ) = ρ(T ) ⇔ ρ(T ) = ρ(T ∗ ).
Portanto, σ(T ∗ ) = σ(T ).
Teorema 85 (Teorema espectral, versão multiplicativa) Sejam H um espaço de Hilbert separável e T : D(T ) ⊂ H → H um operador auto-adjunto. Então existe um espaço de
medida (M, µ), onde µ é uma medida σ-finita, e um operador unitário U : L2 (M, µ) → H e
uma função, definida em µ q.t.p, fˆ : M → R tal que
(1) ψ ∈ D(T ) ⇔ fˆ( · )(U −1 ψ)( · ) ∈ L2 (M, µ).
(2) Se g ∈ U −1 (D(T )), então
(U −1 T U g)(y) = fˆ(y)g(y).
Demonstração. (1). Como T é auto-adjunto, segue que σ(T ) ⊂ R e pelo Teorema 84 T
é fechado, ker(T ± iI) = {0} e Im(T ± iI) = H. Pela identidade do resolvente (T + iI)−1 e
(T − iI)−1 comutam e pelo lema anterior temos
[(T + iI)−1 ]∗ = (T ∗ − iI)−1 = (T − iI)−1 ,
donde (T + iI)−1 : H → D(T ) ⊂ H é normal.
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J. Ivan S. S.
Da versão multiplicativa para operadores normais existem um espaço de medida (M, µ)
com µ σ-finita, uma função ĝ : M → C em L2 (M, µ) e um operador unitário U : L2 (M, µ) →
H tal que
[U −1 (T + iI)−1 U (g)](y) = ĝ(y)g(y) ∀ g ∈ L2 (M, µ).
Note que, como ker(T +iI)−1 = {0}, então ĝ(y) 6= 0 µ q.t.p., pois U (χĝ−1 ({0}) ) ∈ ker(T +iI)−1 ,
já que
(T + iI)−1 U (χĝ−1 (0) ) = U ĝχĝ−1 (0) = 0
como U é unitário e
ker(T + iI)−1 = {0} ⇒ µ(ĝ −1 ({0})) =
Z
ĝ −1 ({0})
χĝ−1 ({0}) dµ = 0
⇒ ĝ(y) 6= 0 µ q.t.p. .
Assim podemos definir, fˆ(y) := ĝ(y)−1 − i µ q.t.p.. Dado ψ ∈ D(T ) existe um único
ϕ ∈ H tal que (T + iI)−1 ϕ = ψ, que implica em U −1 ψ = U −1 (T + iI)−1 ϕ = ĝU −1 ϕ. Uma
vez que fˆĝ é uma função limitada, concluı́mos que
fˆ( . )(U −1 ψ)( . ) = fˆĝ U −1 ϕ ∈ L2 (M, µ).
|{z} | {z }
limitada
∈L2
Reciprocamente, se fˆ( . )(U −1 ψ)( . ) ∈ L2 (M, µ), então existe um único ϕ tal que
(fˆ + i)U −1 ψ = U −1 ϕ,
logo
|
{z
∈L2
}
U −1 ψ = ĝ(fˆ + i)U −1 ψ = ĝU −1 ϕ = U −1 (T + iI)−1 ϕ ⇒ (T + iI)−1 ϕ = ψ,
donde ψ ∈ D(A).
(2). Se g = U −1 ψ, com ψ ∈ D(T ), então existe um único ϕ ∈ H tal que (T + iI)−1 ϕ = ψ,
donde T ψ = ϕ − iψ. Além disso, U −1 ψ = ĝU −1 ϕ isso implica que U −1 ϕ = ĝ −1 U −1 ψ, logo
U −1 T ψ = U −1 ϕ − iU −1 ψ = ĝ −1 U −1 ψ − iU −1 ψ = (ĝ −1 − i)U −1 ψ = fˆU −1 ψ.
Agora vamos mostrar que fˆ é uma função real. Suponha por absurdo que existe S ⊂
M, µ(S) > 0 tal que Im(fˆ(y)) > 0 para todo y ∈ S. Por argumento padrão de teoria da
medida podemos supor sem perda de generalidade que existe α > 0 tal que fˆ(y) > α > 0
para um certo Ŝ com µ(Ŝ) > 0.
Considere uma bola B(0, r) ⊂ C tal que
µ(fˆ−1 (B(0, r) ∩ Ŝ)) > 0.
88
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Escolha g0 = χfˆ−1 (B(0,r)∩Ŝ) , assim fˆg0 é limitada e consequentemente fˆg0 ∈ L2 (M, µ) e
U (g0 ) = ψ0 ∈ D(T ). Por outro lado
R ∋ hT ψ0 , ψ0 i = hT U (g0 ), U (g0 )i
= hU −1 T U (g0 ), g0 i
= hfˆg0 , g0 i
=
=
mas
i
Z
M
Im(fˆg02 )dµ ≥ α
Z
Z
ZM
M
fˆ−1 (B(0,r)∩Ŝ
fˆg02 dµ
Re(fˆg02 )dµ + i
Z
M
Im(fˆg02 )dµ,
χfˆ−1 (B(0,r)∩Ŝ) dµ ≥ αµ(fˆ−1 (B(0, r) ∩ Ŝ)) > 0
que é absurdo.
Teorema 86 (Cálculo funcional) Seja A um operador auto-adjunto sobre um espaço de
Hilbet separável H. Então existe uma única aplicação Φ do conjunto das funções de Borel
limitadas sobre R, B(R), em L(H) tal que
(1) Φ é um ∗-homomorfismo.
(2) Φ é contı́nua em norma, isto é, kΦ(h)kL(H) ≤ khk∞ .
(3) Seja hn (x) uma sequência de funções de Borel limitadas com hn (x) → x para cada x e
|hn (x)| ≤ |x| para todo x e n. Então, para qualquer ψ ∈ D(A),
lim Φ(hn )ψ = Aψ.
(4) Se hn (x) → h(x) pontualmente e se a sequência khn k∞ é limitada, então Φ(hn ) → Φ(h)
fortemente.
(5) Se h ≥ 0, então Φ(h) ≥ 0.
Demonstração. Para cada função limitada de Borel g definamos
Φ(g) := U Tg◦fˆU −1 ,
onde Tg◦fˆ é o operador de multiplicação pela função g ◦ fˆ e fˆ e U são dados pelo Teorema
85. Vamos mostrar que Φ tem as propriedades desejadas. Φ é um ∗-homomorfismo, pois
Φ(g)Φ(h) = U Tg◦fˆU −1 U Th◦fˆU −1
= U Tg◦fˆTh◦fˆU −1
= U T(gh)◦fˆU −1
= Φ(gh).
89
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Para todo α ∈ C
Φ(αg + h) = U T(αg+h)◦fˆU −1
= U Tαg◦fˆ+h◦fˆU −1
= αU Tg◦fˆU −1 + U Th◦fˆU −1
= αΦ(g) + Φ(h).
Φ(1) = U T1◦fˆU −1
= U U −1 = I.
Como U −1 = U ∗ obtemos,
Ä
Φ(g)∗ = U Tg◦fˆU −1
ä∗
∗
= (U −1 )∗ Tg◦
U∗
fˆ
= U Tḡ◦fˆU −1
= Φ(ḡ).
Isto prova o item (1).
kΦ(h)kL(H) = kU Th◦fˆU −1 k
≤ kTh◦fˆk ≤ khk∞
isto prova o item (2).
Como |hn (x)| ≤ |x| temos
khn k2 =
≤
Z
R
Z
|hn (x)|2 dµ
|x|2 dµ = kxk2
R
⇒
khn k ≤ kxk.
Assim, pelo teorema da convergência dominada
lim kΦ(hn )ψ − Aψk = lim kΦ(hn )ψ − Φ(x)ψk
n→∞
n→∞
= lim kΦ(hn − x)ψk
n→∞
≤ n→∞
lim kΦ(hn − x)kkψk
≤ n→∞
lim khn − xk∞ kψk = 0
isso prova o item (3).
90
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Para todo ψ ∈ H temos
lim kΦ(hn )ψ − Φ(h)ψk = lim kΦ(hn − h)ψk
n→∞
n→∞
≤ lim kΦ(hn − h)kkψk
n→∞
≤ lim khn − hk∞ kψk = 0
n→∞
pelo teorema da convergência dominada e isso prova o item (4).
Como h ≥ 0 existe uma função a valores reais g tal que h = g 2 , logo para todo ψ ∈ H
temos
hΦ(h)ψ, ψi = hΦ(g 2 )ψ, ψi
= hΦ(g)Φ(g)ψ, ψi
= hΦ(g)ψ, Φ(g)ψi ≥ 0
isso prova o item (5).
Para a unicidade de Φ, note que, como Φ(id) = A e Φ é multiplicativa segue que Φ coincide
com o cálculo funcional contı́nuo e como C(R), conjunto das funções contı́nuas limitadas em
R, é denso em B(R) (teorema Vitali-Luzin) segue pelo BLT que Φ é único.
2.7 Grupos fortemente Contı́nuos e o Teorema de Stone
Definição 36 Uma aplicação U : R → L(H) é chamada um grupo unitário a um parâmetro
em um espaço de Hilbert H se:
(1) U (t) é um operador unitário para todo t ∈ R e
(2) U (t + s) = U (t)U (s).
Proposição 87 Seja A : D(A) ⊂ H → H um operador auto-adjunto em um espaço de
Hilbert H e defina U (t) = eitA . Então:
(1) Para todo t ∈ R, U (t) é um operador unitário e U (t + s) = U (t)U (s).
(2) U : R → L(H) é fortemente contı́nua, isto é, para todo ξ ∈ H vale que U (t)ξ → U (t0 )ξ
quando t → t0 .
U (s)ξ − ξ
= iAξ.
s→0
s
(3) Fixado ξ ∈ D(A), lim
U (s)ξ − ξ
, então ξ ∈ D(A).
s→0
s
(4) Se existe lim
91
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Demonstração.
(1). Para cada t ∈ R fixado usamos o cálculo funcional mensurável na função f (λ) = eitλ ,
para a qual obtemos
I = Φ(1) = Φ(eitλ e−itλ) = Φ(eitλ )Φ(e−itλ) ) = eitA (e−itA )∗ = U (t)U (t)∗
e
I = Φ(1) = Φ(e−itλ eitλ ) = Φ(e−itλ) )Φ(eitλ ) = (eitA )∗ e−itA = U (t)∗ U (t),
donde U (t) é unitário e
U (t + s) = Φ(ei(t+s)λ ) = Φ(eitλ )Φ(eisλ ) = U (t)U (s).
Notamos que para todo t ∈ R, U (t) = U (t + 0) = U (0)U (t), donde U (0) = I e daı́ I =
U (0) = U (t − t) = U (t)U (−t) donde U (−t) = U (t)−1 = U (t)∗ .
(2). Se ξ ∈ H, temos
kU (t)ξ − U (t0 )ξ)k = kU (t − t0 + t0 )ξ − U (t0 )ξ)k
= kU (t0 )[U (t − t0 )ξ − ξ)]k
= kU (t − t0 )ξ − ξ)k
na última igualdade usamos o fato de U ser isometria. Portanto, basta mostrarmos que
kU (t)ξ − ξ)k → 0 quando t → 0.
Como U (t) = eitA ∈ L(H), temos que se ξ ∈ H então
keitA ξ − ξk2 =
Z
R
|eitλ − 1|2 d(Pλ ξ, ξ).
(46)
Como |eitλ − 1|2 ≤ 4 e para cada λ ∈ R
|eitλ − 1| → 0
quando t → 0,
logo aplicando o teorema da convergência dominada de Lebesgue a equação (46) obtemos
que U (t)ξ → ξ quando t → 0 e o resultado segue.
(3). Seja ft (λ) =
eitλ − 1
eitA − I
− iλ, temos que ft (A) =
− iA. Então se ξ ∈ D(A)
t
t
eitA ξ − ξ
− iAξ
t
2
= kft (A)ξk2
=
Z
2
R
eitλ − 1
− iλ d(Pλ ξ, ξ).
t
eitλ − 1
− iλ = (eitλ )′ (0) − iλ = 0 para todo λ ∈ R. Além disso |eis − 1| ≤ |s| para
t→0
t
todo s ∈ R. De fato, observando que |sen s| ≤ |s| para todo s ∈ R
Mas lim
92
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
temos
|eis − 1| = |(cos s − 1) + isen s|
= (2 − 2 cos s)1/2 .
Como
sen2 s =
(47)
1 − cos 2s
2
obtemos
|s|2 ≥ |sen s|2 =
1 − cos 2s
.
2
Trocando s por s/2 obtemos
|s|2 ≥ 2 − 2 cos s,
substituindo em (47), obtemos
|eis − 1| ≤ |s|.
Consequentemente |ft (λ)| ≤ |t|−1 |eitλ − 1| + |λ| ≤ 2|λ|. Usando novamente o teorema da
convergência dominada de Lebesgue, obtemos
eitA ξ − Iξ
− iAξ → 0 quando t → 0,
t
isto é
U (s)ξ − ξ
= iAξ.
s→0
s
lim
®
´
U (t)ξ − ξ
(4). Seja D := ξ ∈ H; lim
existe . Pelo item (3) D(A) ⊂ D, logo D é denso.
t→0
t
93
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Para ξ ∈ D seja T definido por
U (t)ξ − ξ
.
t→0
t
T ξ = −i lim
T é claramente linear e para ξ, φ ∈ D temos
Æ
U (t)ξ − ξ
,φ
hT ξ, φi = −i lim
t→0
t
∏
de U (t)∗ = U (−t) vem
Æ
∏
U (−t)φ − φ
hT ξ, φi = −i lim ξ,
t→0
t
Æ
∏
U (−t)φ − φ
= lim ξ, −i
t→0
−t
= hξ, T φi,
isso mostra que T é simétrico. Pelo item (3), se ξ ∈ D(A) temos que
T ξ = −i(iAξ) = Aξ.
Portanto, A ⊂ T isso implica que T ∗ ⊂ A∗ , daı́
A ⊂ T ⊂ T ∗ ⊂ A∗ = A.
Portanto A = T e D = D(A).
Quando a aplicação U : R → L(H) cumpri a condição (2) do Teorema acima, U é
chamado de grupo unitário fortemente contı́nuo a um parâmetro.
Teorema 88 (Stone) Seja U : R → L(H) um grupo unitário fortemente contı́nuo a um
parâmetro em um espaço de Hilbert H. Então existe um operador auto-adjunto A : D(A) ⊂
H → H tal que U (t) = eitA .
Demonstração. Sejam Cc∞ o conjunto das funções infinitamente diferenciáveis com
suporte compacto e f ∈ Cc∞ . Se ϕ ∈ H, definimos a integral
ϕf :=
Z ∞
−∞
f (t)U (t)ϕ dt ∈ H.
Seja D ⊂ H o espaço gerado pelas combinações lineares finitas de ϕf , f ∈ Cc∞ . Como U (t)
é fortemente contı́nuo, dado ε > 0 existe um δ > 0 com sup kη − U (t)ηk < ε e para uma
t∈[−δ,δ]
94
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
função positiva g ∈ Cc∞ com suporte em [−δ, δ] e
Z
kη − ηg k =
Z
=
[−δ,δ]
[−δ,δ]
R
g(t)ηdt −
R
Z
g(t)dt = 1 temos
[−δ,δ]
g(t)U (t)ηdt
g(t)(η − U (t)η)dt
≤ sup kη − U (t)ηk
t∈[−δ,δ]
Z
[−δ,δ]
g(t)dt
= sup kη − U (t)ηk < ε,
t∈[−δ,δ]
mostrando que D é denso em H.
Para ϕf ∈ D
Ç
U (s) − I
s
å
ϕf =
Z ∞
−∞
f (t)
U (s + t) − U (t)
ϕ dt
s
1 ÅZ ∞
=
f (t)U (s + t)ϕ dt −
s −∞
Z ∞
−∞
ã
f (t)U (t)ϕ dt
fazendo τ = s + t obtemos
Ç
U (s) − I
s
å
ã
∞
1 ÅZ ∞
f (τ − s)U (τ − s)ϕ dτ
f (τ − s)U (τ )ϕ dτ −
s −∞
−∞
Z ∞
ã
ÅZ ∞
1
=
f (τ )U (τ )ϕ dτ
f (τ − s)U (τ )ϕ dτ −
s −∞
−∞
Z ∞
f (τ − s) − f (τ )
U (τ )ϕ dτ
=
s
−∞
Z ∞
f (t) − f (t + s)
=
U (t + s)ϕ dt
s
−∞
Z ∞
f (t + s) − f (t)
U (t + s)ϕ dt
=−
s
−∞
Z
ϕf =
donde
Ç
U (s) − I
lim
s→0
s
å
ϕf = −
Z ∞
−∞
f ′ (t)U (t)ϕ dt = −ϕf ′ ,
assim para ϕf ∈ D definimos Aϕf = −iϕf ′ , ou seja,
Ç
U (s) − I
Aϕf = i lim
s→0
s
95
å
ϕf = −iϕf ′ .
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Notamos que U (t)(D) ⊂ D, ∀t ∈ R, pois dado ϕf ∈ D
U (t)ϕf =
=
=
Z ∞
−∞
Z ∞
−∞
Z ∞
−∞
f (τ )U (t)U (τ )ϕ dτ
f (τ )U (t + τ )ϕ dτ
f (s − t)U (s)ϕ ds = ϕf (· −t)
(48)
Claramente A : D → D e A comuta com U , pois
U (t)Aϕf = U (t)(−iϕf ′ )
= −iU (t)ϕf ′
= −iϕf ′ (· −t)
= Aϕf (· −t)
= AU (t)ϕf .
por (48)
A também é simétrico. Com efeito, se ϕf e ϕg ∈ D temos
Æ Ç
å
∏
U (s) − I
ϕ f , ϕg
hAϕf , ϕg i = lim i
s→0
s
Æ
Ç
å ∏
U (−s) − I
= lim ϕf , −i
ϕg
s→0
s
Æ
Ç
å ∏
U (−s) − I
= lim ϕf , i
ϕg
s→0
−s
= hϕf , Aϕg i.
Agora mostraremos que A é auto-adjunto. Para isso, verifiquemos que ker(A∗ −iI) = {0}.
Seja u ∈ ker(A∗ − iI), dado ϕf ∈ D, observe que de (48) obtemos
U ′ (t)φf = φf ′ (· −t) = iAφf (· −t) = iAU (t)φf ,
daı́
d
hU (t)ϕf , ui = hiAU (t)ϕf , ui
{z
}
dt |
h(t)
= ihU (t)ϕf , A∗ ui
= ihU (t)ϕf , iui
= hU (t)ϕf , ui = h(t)
e
h(0) = hϕf , ui,
96
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
daı́ h(t) = hϕ, uiet . Mas h(t) é limitada, por Cauchy-Schwarz |h(t)| ≤ kϕf kkuk, logo
hϕf , ui = 0 para todo ϕf ∈ D que é denso, logo u = 0 e consequentemente A auto-adjunto
pelo Teorema 84.
Definamos V (t) = eitA , vamos mostrar que V (t) = U (t). Dado ϕf ∈ D, temos que
V (t)ϕf ∈ D, pelo item (4) da proposição anterior, e pela continuidade do cálculo funcional
temos
V ′ (t)ϕf = Φ((eitλ )′ )ϕf = Φ(iλeitλ )ϕf = Φ(iλ)Φ(eitλ )ϕf = iAV (t)ϕf .
Considere W (t)ϕf = U (t)ϕf − V (t)ϕf isso implica que W é diferenciável e
W ′ (t)ϕf = iAU (t)ϕf − iAV (t)ϕf = iAW (t),
portanto
d
kW (t)k2 = hiAW (t), W (t)i + hW (t), iAW (t)i
dt
= −ihAW (t), W (t)i + ihAW (t), W (t)i = 0.
Isso mostra que W é constante, mas
W (0)ϕf = U (0)ϕf − V (0)ϕf = ϕf − ϕf = 0.
Donde U = V .
2.8 Transformada de Fourier no Rn, funções do operador
Laplaciano e espaços de Sobolev
Como é tradicional, N = {0, 1, 2, . . .} e denotaremos por Nn o produto cartesiano de n cópias
de N. Os elementos de Nn são n-uplas de inteiros não negativos, α = (α1 , . . . , αn ) chamados
multi-ı́ndices. Se α é um multi-ı́ndice e x = (x1 , . . . , xn ) ∈ Rn escreveremos
|α| =
xα =
n
X
α1 + α2 + . . .
j=1
xα1 1 xα2 2 . . . xαnn
+ αn
e
Ç
α
∂ =
∂
∂x1
åα1 Ç
∂
∂x2
åα2
Ç
...
∂
∂xn
åαn
=
∂ α1 +...+αn
∂xα1 1 . . . ∂xαnn
Definição 37 O espaço de Schwartz (ou das funções que decrescem rapidamente), S(Rn ), é
o espaço das funções f : Rn → C tais que
f ∈ C ∞ (Rn )
97
e
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
kf kα,β := sup |xα ∂ β f (x)| < ∞
x∈Rn
para todo par de multi-ı́ndice α, β.
Definição 38 Suponha que f ∈ L1 (Rn ). A transformada de Fourier de f é a função fˆ
definida por
Z
1
e−ix.ξ f (x)dx
fˆ(ξ) =
(2π)n/2 Rn
onde x. ξ =
n
X
xi ξi . A transformada de Fourier inversa de f , denotada por fˇ é a função
i=1
fˇ(ξ) =
1
(2π)n/2
Z
Rn
eix.ξ f (x)dx
A transformada de Fourier e a transformada inversa são operadores lineares. Com efeito,
para quaisquer f, g ∈ L1 (Rn ) e a ∈ C temos
Ÿ
(f
+ ag)(ξ) =
=
Z
Z
Rn
Rn
(f + ag)(x)e−ix·ξ dx
f (x)e
−ix·ξ
= fˆ(ξ) + aĝ(ξ).
dx + a
Z
Rn
g(x)e−ix·ξ dx
Analogamente, mostra-se que a transformada de Fourier inversa é linear. Além disso,
fˆ(−ξ) =
1
(2π)n/2
Z
Rn
eix.ξ f (x)dx = fˇ(ξ)
É claro que o conjunto das funções infinitamente diferenciáveis com suporte compacto,
C0∞ (Rn ), está contido em S(Rn ) e esse por sua vez está contido em Lp (Rn ) para todo
1 ≤ p < ∞ e como C0∞ (Rn ) é denso em Lp (Rn ) para 1 ≤ p < ∞ temos, portanto, que
S(Rn ) é denso em Lp (Rn ) para 1 ≤ p < ∞.
Teorema 89 Se f ∈ S(Rn ), então fˆ ∈ S(Rn ) e valem as fórmulas
÷
α f )(ξ) = (∂ α fˆ)(ξ)
(−i)|α| (x
(49)
÷
α f )(ξ) = ξ α fˆ(ξ)
i|α| (∂
(50)
Demonstração. Precisamos mostrar que fˆ ∈ C ∞ (Rn ) e que
kfˆkα,β := sup |xα ∂ β fˆ(x)| < ∞
x∈Rn
98
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
para todo par de multi-ı́ndice α, β. Como f ∈ S(Rn ) podemos derivar sob o sinal de integral
tanto quanto for necessário para obter
fˆ(α) (ξ) = (2π)−n/2
= (2π)−n/2
Z
Z
Rn
Rn
(−ix)α f (x)e−ix·ξ dx
(−i)|α| xα f (x)e−ix·ξ dx
÷
α f )(ξ)
= (−i)|α| (x
para qualquer multi-ı́ndice α, donde fˆ ∈ C ∞ (Rn ) e
÷
α f )(ξ).
(∂ α fˆ)(ξ) = fˆ(α) (ξ) = (−i)|α| (x
(51)
Por outro lado,
α ˆ(β)
ξ f
(ξ) = (2π)
−n/2
= (2π)−n/2
Z
Z
ξ α (−ix)β e−ix·ξ f (x)dx
Rn
Rn
= i|α| (2π)−n/2
(−i)−|α| ∂xα (e−ix·ξ )(−ix)β f (x)dx
Z
Rn
e−ix·ξ ∂xα [(−ix)β f (x)]dx
(52)
onde a última igualdade é devida a integração por partes, pois como o domı́nio de integração
é Rn temos que a integral sobre a fronteira é zero. Daı́, concluı́mos que
kfˆkα,β = sup |ξ α fˆ(β) (ξ)| ≤ (2π)−n/2
ξ∈Rn
Z
Rn
|∂xα (xβ f (x))|dx < ∞.
Em particular, fazendo β = 0 na equação (52) obtemos
÷
α
ξ α fˆ(ξ) = i|α| (∂
x f )(ξ).
Lema 25 Se f ∈ S(Rn ) e f (0) = 0, então
f (x) =
n
X
j=1
com gj ∈ S(Rn ), j = 1, 2, . . . , n.
Demonstração. Como f (0) = 0 temos que
99
xj gj (x)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
f (x) = f (x) − f (0) =
Z 1
=
n
X
d
f (tx)dt
0 dt
Z 1X
n
∂f
(tx)xj dt
=
0 j=1 ∂xj
=
xj
Z 1
0
∂f
(tx)dt
∂xj
j=1
n
X
xj gj (x),
Z 1
∂f
(tx)dt ∈ S(Rn ).
∂xj
j=1
onde
gj (x) =
0
Teorema 90 Se f ∈ S(Rn ), então
f (x) = (2π)
−n/2
Z
Rn
fˆ(ξ)eiξ·x dξ.
(53)
Demonstração. Em primeiro lugar notamos que basta provar (53) no caso em que
x = 0, ou seja, que
Z
−n/2
fˆ(ξ)dξ
(54)
f (0) = (2π)
Rn
para toda f ∈ S(Rn ). De fato, suponha que vale (54) e observe que
fˆ(ξ)eiξ·x = (2π)−n/2 eiξ·x
= (2π)−n/2
= (2π)
−n/2
Z
Z
Rn
Rn
Z
Rn
f (y)e−iξ·y dy
f (y)e−iξ·(y−x) dy
f (x + z)e−iξ·z dz
para todo ξ, x ∈ Rn . Defina gx (z) := f (x + z), segue que gx ∈ S(Rn ) para cada x fixado, de
modo que podemos escrever
fˆ(ξ)eiξ·x = ĝx (ξ)
daı́ segue usando (54)
(2π)
−n/2
Z
Rn
fˆ(ξ)eiξ·x dξ = (2π)−n/2
Z
Rn
ĝx (ξ)dξ
= gx (0) = f (x)
100
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
portanto, como afirmado, basta provar (54). Para isto, consideraremos primeiro o caso
especial em que f (0) = 0, ou seja, se f ∈ S(Rn ) e f (0) = 0, então
(2π)
−n/2
Z
Rn
fˆ(ξ)dξ = 0 = f (0).
(55)
Pelo Lema 25 podemos escrever
f (x) =
n
X
xj gj (x)
j=1
daı́
fˆ(ξ) = (2π)−n/2
= (2π)
n
X
Z
Rn
n
X
xj gj (x)e−ix·ξ dx
j=1
n Z
X
−n/2
n
j=1 R
i
∂
=
i
(2π)−n/2
j=1 ∂ξj
=
n
X
i
j=1
ó
∂ î
gj (x)e−ix·ξ dx
∂ξj
Z
Rn
gj (x)e−ix·ξ dx
∂
ĝj (ξ)
∂ξj
donde
Z
Rn
fˆ(ξ)dξ = i
n Z
X
n
j=1 R
∂
ĝj (ξ)dξ
∂ξj
mas
Z
Rn
∂
ĝj (ξ) =
∂ξj
Z +∞
−∞
...
Z +∞
−∞
∂
ĝj (ξ)dξj . . . dξn
∂ξj
e como
Z +∞
−∞
∂
ĝj (ξ)dξj = lim [ĝj (R) − ĝj (−R)] = 0,
R→∞
∂ξj
portanto,
Z
Rn
fˆ(ξ)dξ = 0 = f (0).
Isto prova (55). Agora seja f ∈ S(Rn ) arbitrária e seja
h(x) = f (x) − f (0)γ(x),
101
pois ĝj ∈ S(Rn )
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
2
onde γ(x) = e−kxk /2 ∈ S(Rn ) e sabemos que γ̂ = γ e sua integral é precisamente igual a
(2π)n/2 . Então h ∈ S(Rn ) e h(0) = 0 donde por (55)
0 = (2π)−n/2
Z
Rn
fˆ(ξ)dξ − f (0)(2π)−n/2
Z
Rn
portanto
f (0) = (2π)
−n/2
provando o Teorema.
γ̂(ξ)dξ = (2π)−n/2
Z
Rn
Z
Rn
fˆ(ξ)dξ − f (0)
fˆ(ξ)dξ
ˇ
O Teorema acima mostra que fˆ = f = fˆˇ.
Corolário 91 Sejam f, g ∈ S(Rn ). Então
hf, gi =
Z
Rn
f (x)g(x)dx =
Equivalentemente,
Z
Rn
fˆ(ξ)ĝ(ξ)dξ = hfˆ, ĝi.
kf kL2 = kfˆkL2
(56)
para toda f ∈ S(Rn ).
Demonstração. Pelo Teorema
hf, gi =
Z
Rn
f (x)g(x)dx
= (2π)
−n/2
= (2π)−n/2
= (2π)−n/2
=
Z
Rn
Z
Z
Z
Rn
Rn
Rn
Z
Z
Rn
Rn
fˆ(ξ)eiξ·x g(x)dξdx
fˆ(ξ)g(x)e−iξ·x dξdx
fˆ(ξ)
Z
Rn
g(x)e−iξ·x dxdξ
fˆ(ξ)ĝ(ξ)dxdξ
= hfˆ, ĝi.
Tomando f = g obtemos (56) e usando a identidade de polarização
1
hf, gi = [kf + gk2 − kf − gk2 + ikf + igk2 − ikf − igk2 ]
4
1
= [kfˆ + ĝk2 − kfˆ − ĝk2 + ikfˆ + iĝk2 − ikfˆ − iĝk2 ] = hfˆ, ĝi.
4
obtemos a equivalência.
O Corolário acima mostra que a transformada de Fourier é uma isometria no espaço de
Schwartz com a norma de L2 (Rn ). No entanto, a transformada de Fourier não pode ser
102
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
definida em L2 (Rn ) como a definimos anteriormente, mas como a transformada de Fourier
e sua inversa são operadores lineares contı́nuos, o B.L.T. garante que esses operadores se
estendem unicamente a L2 (Rn ). Portanto, se f ∈ L2 (Rn ) e {fn }∞
n=1 é uma sequência qualquer
em S(Rn ) convergindo a f em L2 (Rn ) definimos
fˆ := n→∞
lim fˆn
e
fˇ := n→∞
lim fˇn
(onde o limite é no sentido de L2 (Rn )) e consequentemente, por continuidade
ˇ
fˆ = f = fˆˇ
para toda f ∈ L2 (Rn ). Portanto, acabamos de provar
Teorema 92 A transformada de Fourier
ˆ : L2 (Rn ) −→ L2 (Rn )
f 7−→ fˆ
definida como a única extensão da transformada de Fourier em S(Rn ) é um operador unitário.
Agora, escolhendo multi-ı́ndices da forma α = (0, . . . , 2, . . . , 0) que tem todas as entradas
iguais a zero exceto a j-ésima que vale dois, obtemos usando (50) que
−
∂2
f (ξ) = (ξj2 fˆ)ˇ(ξ)
∂ξj2
donde
−∆f (ξ) = −
n
X
∂ 2f
(ξ) = (kξk2 fˆ)ˇ
2
∂ξ
j
j=1
para toda f ∈ S(Rn ). Portanto é natural introduzir o operador (−∆ em L2 (Rn ), denotado
por H0 , através das fórmulas
D(H0 ) = H 2 (Rn ) = {f ∈ L2 (Rn ) : kξk2 fˆ ∈ L2 (Rn )},
e
(57)
H0 f = (M0 fˆ)ˇ = F −1 M0 Ff, f ∈ D(H0 )
onde M0 é o operador de multiplicação por kξk2 e F denota a transformada de Fourier em
L2 (Rn ), isto é,
D(M0 ) = {g ∈ L2 (Rn ) : kξk2 g ∈ L2 (Rn )}
e
(M0 g)(ξ) = kξk2 g(ξ), g ∈ D(M0 ).
103
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
O espaço H 2 (Rn ) introduzindo em (57) é um dos famosos espaços de Sobolev (de tipo L2 ).
Ele é um espaço de Hilbert quando munido do produto interno
hf, gi =
Z
Rn
(1 + kξk2 )2 fˆ(ξ)ĝ(ξ)dξ
(58)
Além disso, é conveniente notar que S(Rn ) é denso em H 2 (Rn ) e
H0 f = (M0 fˆ)ˇ = (kξk2 fˆ)ˇ = −∆f, para toda f ∈ S(Rn ).
Agora introduzimos as funções do operador H0 . Para isso, seja G : R → C uma função
mensurável. Definimos o operador G(H0 ) através das fórmulas
D(G(H0 )) = {f ∈ L2 (Rn ) : G(kξk2 )fˆ(ξ) ∈ L2 (Rn )}
G(H0 )f = (G(M0 )fˆ)ˇ = F −1 G(M0 )Ff, f ∈ D(G(H0 ))
onde G(M0 ) é o operador de multiplicação por G(kξk2 ) em L2 (Rn ), isto é,
D(G(M0 )) = {φ ∈ L2 (Rn ) : G(kξk2 )φ(ξ) ∈ L2 (Rn )}
(G(M0 )φ)(ξ) = G(kξk2 )φ(ξ), φ ∈ D(G(M0 )).
Para a função G(s) = s temos
G(H0 )f = (G(M0 )fˆ)ˇ = (kξk2 fˆ)ˇ = H0 f, isto é , G(H0 ) = H0 .
Por outro lado se G é uma função limitada temos
kG(H0 )φkL2 = kG(M0 )φ̂kL2 ≤ kGkL∞ kφ̂k = kGkL∞ kφk
de modo que tanto G(H0 ) quanto G(M0 ) são operadores limitados com norma menor ou igual
a kGkL∞ .
Agora vamos descrever o operador resolvente de H0 obtido através da função
Gz (kξk2 ) = (kξk2 − z)−1 , com ξ ∈ Rn , z ∈ C \ [0, ∞)
e tem a seguinte ação para toda f ∈ L2 (Rn )
Gz (H0 )f = ((kξk2 − z)−1 fˆ)ˇ,
onde, por simplicidade, escrevemos diretamente o resultado da composição de Gz (s) = (s −
z)−1 com a função ξ 7→ kξk2 .
Proposição 93
(1) Se f ∈ L2 (Rn ) e z ∈ C \ [0, ∞), então Gz (H0 )f ∈ D(H0 ) e
(H0 − zI)Gz (H0 )f = f,
onde I denota o operador identidade em L2 (Rn ).
104
(59)
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
(2) Se f ∈ D(H0 ) e z ∈ C \ [0, ∞), então
Gz (H0 )(H0 − zI)f = f.
(60)
Demonstração. (1). Para mostrar que Gz (H0 )f ∈ D(H0 ), temos de mostrar que
2
n
⁄
kξk2 G
z (H0 )f ∈ L (R ).
Com efeito,
2
⁄
kkξk2 G
z (H0 )f kL2 =
=
=
=
Z
n
ZR
n
ZR
Z
Rn
Rn
|kξk2 F(Gz (H0 )f )(ξ)|2 dξ
|kξk2 F(F −1 ((kξk2 − z)−1 Ff (ξ)))|2 dξ
|kξk2 (kξk2 − z)−1 Ff (ξ))|2 dξ
|kξk2 (kξk2 − z)−1 |2 |Ff (ξ))|2 dξ
≤ kkξk2 (kξk2 − z)−1 k2L2 kFf k2L2 < ∞
onde a desigualdade é por Cauchy-Schwarz, isso mostra que Gz (H0 )f ∈ D(H0 ). Por outro
lado, temos
(H0 −zI)Gz (H0 )f (ξ) = (H0 −zI){F −1 [(kξk2 −z)−1 Ff (ξ)]}
= H0 {F −1 [(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)]} − z{F −1 [(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)]}
= F −1 {kξk2 F[{F −1 [(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)]}]}−z{F −1 [(kξk2 −z)−1 Ff (ξ)]}
= F −1 {kξk2 (kξk2 − z)−1 Ff (ξ)} − z{F −1 [(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)]}
= F −1 {kξk2 (kξk2 − z)−1 Ff (ξ) − z(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)}
= F −1 {(kξk2 − z)(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)}
= F −1 {Ff (ξ)} = f (ξ).
(2).
Gz (H0 )(H0 − zI)f (ξ) = Gz (H0 )[F −1 (kξk2 Ff (ξ)) − zf (ξ)]
= Gz (H0 )[F −1 (kξk2 Ff (ξ))] − zGz (H0 )f (ξ)
= F −1 {(kξk2 − z)−1 F[F −1 (kξk2 Ff (ξ))]} − zF −1 {(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)}
= F −1 {(kξk2 − z)−1 kξk2 Ff (ξ)]} − zF −1 {(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)}
= F −1 {(kξk2 − z)(kξk2 − z)−1 Ff (ξ)]}
= F −1 {Ff (ξ)} = f (ξ)
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J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Definição 39 O conjunto das distribuições temperadas, denotado por S ′ (Rn ), é o dual topológico de S(Rn ) , ou seja, T ∈ S ′ (Rn ) se e só se T : S(Rn ) → C é um funcional linear
contı́nuo.
Usando o Teorema de representação de Riesz para espaços pré-Hilbertianos podemos
identificar cada f ∈ L2 (Rn ) com um único T ∈ S ′ (Rn ) pela equação
T g = hf, gi,
em outras palavras podemos identificar L2 (Rn ) com um subespaço de S ′ (Rn ).
Vamos agora considerar a transformada de Fourier em S ′ (Rn ). Se f ∈ S(Rn ), mostramos
que fˆ ∈ S(Rn ) e define uma distribuição temperada pela fórmula
hfˆ, gi =
mas
hfˆ, gi =
=
Z
n
ZR
Rn
Rn
(2π)−n/2
(2π)−n/2
= hf, ĝi,
ou seja,
Z
fˆ(ξ)g(ξ)dξ,
Z
n
ZR
Rn
f (x)e−ix·ξ dxg(ξ)dξ
e−ix·ξ g(ξ)dξf (x)dx
hfˆ, gi = hf, ĝi para toda g ∈ S(Rn )
(61)
Assim, definimos a transformada de Fourier de f ∈ S ′ (Rn ) por (61). Analogamente a transformada inversa é definida por
hfˇ, gi = hf, ǧi para toda g ∈ S(Rn ).
Consequentemente
(62)
fˆˇ = f = fˇˆ.
Seja s ∈ R. Os espaços de Sobolev (de tipo L2 ) em Rn são os seguintes subconjuntos de
S (Rn )
H s (Rn ) = {f ∈ S ′ (Rn ) : (1 + kξk2 )s/2 fˆ ∈ L2 (Rn )}.
(63)
′
É possı́vel mostrar que o espaço H s (Rn ), s ∈ R é de Hilbert quando munido do produto
interno
hf, gis =
e
kf k2s
Em particular, H 0 (Rn ) = L2 (Rn ).
=
Z
Rn
Z
(1 + kξk2 )s fˆ(ξ) ĝ(ξ)dξ
Rn
(1 + kξk2 )s |fˆ(ξ)|2 dξ.
106
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
Proposição 94 Sejam s, s′ ∈ R. Temos
′
(1) H s (Rn ) ⊆ H s (Rn ) se s ≥ s′ . Além disso, esta inclusão é contı́nua e densa.
(2) O dual topológico de H s (Rn ), isto é, a coleção de todos os funcionais lineares contı́nuos
de H s (Rn ) em C, é isometricamente isomorfo a H −s (Rn ).
′
Demonstração. (1). É claro que s ≥ s′ implica (1 + kξk2 )s ≤ (1 + kξk2 )s . Portanto, se
f ∈ H s (Rn ) segue que
Z
kf k2s′ =
′
ZR
≤
(1 + kξk2 )s |fˆ(ξ)|2 dξ
n
Rn
(1 + kξk2 )s |fˆ(ξ)|2 dξ
= kf k2s < ∞.
′
Isto prova que H s (Rn ) ⊆ H s (Rn ) e que a inclusão é contı́nua. Para obter a densidade, basta
mostrar que
\ s n
H ∞ (Rn ) :=
H (R )
s∈R
r
n
é denso em H (R ) para todo r ∈ R. Seja f ∈ H r (Rn ) e considere
2
ft = (e−tk·k fˆ)ˇ,
t ≥ 0.
Então ft ∈ H ∞ (Rn ) se t > 0. De fato,
Z
Rn
Z
(1 + kξk2 )s |fˆt (ξ)|2 dξ =
Z
=
≤
Rn
(1 + kξk2 )s−r (1 + kξk2 )r |fˆt (ξ)|2 dξ
(1 + kξk2 )s−r (1 + kξk2 )r e−2tkξk |fˆ(ξ)|2 dξ
2
"R
n
sup (1 + kξk2 )s−r e
−2tkξk2
ξ ∈ Rn
#
kf k2r < ∞
quaisquer que sejam r, s ∈ R. Por outro lado
kft −
f k2r
=
=
=
=
Z
n
ZR
Z
Z
Rn
Rn
Rn
2
Ÿ
(1 + kξk2 )r |(f
t − f )(ξ)| dξ
(1 + kξk2 )r |(fˆt − fˆ)(ξ)|2 dξ
2
(1 + kξk2 )r |e−tkξk fˆ(ξ) − fˆ(ξ)|2 dξ
2
(1 + kξk2 )r |e−tkξk − 1|2 |fˆ(ξ)|2 dξ
e a última igualdade tende a zero quando t → 0 pelo Teorema de convergência dominada.
Isso mostra a densidade.
107
J. Ivan S. S.
J. Ivan S. S.
(2). Se f ∈ H s (Rn ) e g ∈ H −s (Rn ), a desigualdade de Hölder implica
Z
Rn
|fˆĝ|dξ =
Z
Rn
(1 + kξk2 )s/2 |fˆ(ξ)|(1 + kξk2 )−s/2 |ĝ(ξ)|dξ
≤ kf ks kgk−s < ∞.
Portanto, para cada g ∈ H −s (Rn ) fixada, a aplicação
s
n
f ∈ H (R ) 7→ Ψg (f ) =
Z
Rn
fˆ(ξ) ĝ(ξ)dξ
é um funcional linear contı́nuo. Reciprocamente, se Ψ : H s (Rn ) → C é um elemento do dual
topológico de H s (Rn ), o Teorema de representação de Riesz garante que existe uma única
h ∈ H s (Rn ) tal que
Z
(64)
(1 + kξk2 )s fˆ(ξ) ĥ(ξ)dξ
Ψ(f ) =
Rn
para toda f ∈ H s (Rn ). Seja g tal que ĝ(ξ) = (1 + kξk2 )s ĥ(ξ), temos que g ∈ H −s (Rn ), pois
kgk2−s
=
=
=
=
Z
Z
Rn
Z
Rn
Z
Rn
Rn
(1 + kξk2 )−s |ĝ(ξ)|2 dξ
(1 + kξk2 )−s |(1 + kξk2 )s ĥ(ξ)|2 (ξ)dξ
(1 + kξk2 )−s (1 + kξk2 )2s |ĥ(ξ)|2 (ξ)dξ
(1 + kξk2 )s |ĥ(ξ)|2 (ξ)dξ
= khk2s < ∞.
Portanto
Ψ(f ) =
Z
Rn
fˆ(ξ) ĝ(ξ)dξ = Ψg (f ).
Consequentemente, todo funcional linear contı́nuo em H s (Rn ) pode ser escrito de maneira
única na forma (64). Além disso, pelo Teorema de representação de Riesz,
kΨg k2 = khk2s =
=
Z
n
ZR
Rn
(1 + kξk2 )s |ĥ(ξ)|2 dξ
(1 + kξk2 )−s |ĝ(ξ)|2 dξ = kgk2−s .
Isto encerra a prova.
108
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