SicyurbVolumeV PDF
SicyurbVolumeV PDF
SicyurbVolumeV PDF
net/publication/305342494
CITATIONS READS
0 473
2 authors:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
All content following this page was uploaded by João Pedro Silva Nunes on 15 July 2016.
SICYUrb • vol. V
Recomposing
the Urban Fabric
Centralities and Peripheries Revisited
Vol I Mobility and Urban Flows. From Transnational Movements to Virtual Flows
(organizado por Rita d’Ávila Cachado e Joana Azevedo)
Vol II Urban Culture in Action. Politics, Practices and Lifestyles
(organizado por Lígia Ferro, Otávio Raposo e Pedro Abrantes)
Vol III Making the City Work. Agency in a Changing World
(organizado por Gonçalo Gonçalves e Bruno Monteiro)
Vol. IV City in Movement. Activism, Social Participation and Urban Reinventions
(organizado por Inês Pereira, Nuno Nunes e Ioana Florea)
Vol V Recomposing the Urban Fabric. Centralities and Peripheries Revisited
(organizado por João Pedro S. Nunes e Pedro Costa)
Vol VI Building and Living the Urban Space. Housing, Tourism and Segregation
(organizado por Patrícia Pereira e João Martins)
Vol VII Public Sociability and Spatial Forms. Meanings and Relations
(organizado por Graça Indias Cordeiro, Renato Carmo e Sofia Santos)
João Pedro S. Nunes e Pedro Costa (eds.)
SICYurb · Proceedings of the Second International Conference of Young Urban Researchers, vol. V
Adrienne Csizmady
Andrea Pacheco Pacifico
Anna Dewaele
Camila Saraiva
Cristina Soares Cavaco
Elli Alessandro
Gábor Csanadi
Gabrielle Cifelli
Gergely Olt
Gonçalo M. Furtado C. L.
Henrique Botelho Frota
Henrique Fernandes Campos
Luiz Eduardo Chauvet
Rômulo José da Costa Ribeiro
Rosa Macedo
Saurabh Tewari
Sílvia Jorge
Vanessa Melo
Lisboa, 2013
© João Pedro S. Nunes e Pedro Costa (eds.), 2013
ISBN: 978-989-732-152-8
em repositório ISCTE-IUL: http://hdl.handle.net/10071/4307
Contactos:
ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa, Av. Das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa
Tel.: +351 217903000 • Fax: +351 217964710
E-mail: geral@iscte.pt
Página: http://www.iscte-iul.pt/home.aspx
Índice
1 Introdução ............................................................................................. 1
João Pedro Silva Nunes e Pedro Costa
v
vi RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Figuras
vii
viii RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Quadros
Este volume aborda a recomposição do tecido urbano das cidades, a sua pro-
dução e reprodução, à luz do questionamento dos conceitos de centro e de pe-
riferia e das múltiplas formas de hibridez por que as realidades
tradicionalmente associadas a esses conceitos têm sido marcadas, no actual
quadro de globalização e de profunda reestruturação económica e social. Os
textos agora publicados sugerem como a estruturação dos territórios metro-
politanos está intimamente relacionada com a urbanização do planeta, com a
intensificação da divisão do trabalho entre cidades (num processo em que a
oferta de especificidade, baseada na combinação de factores endógenos e
exógenos a cada território, conduz a sua busca de competitividade em con-
textos globais e, ao limite, marca indelevelmente o seu processo de desenvol-
vimento), e com a crescente diferenciação de actividades e de populações nas
grandes cidades (a qual pode ser lida à luz dos tradicionais argumentos da di-
mensão, densidade e heterogeneidade de práticas sociais em meio urbano,
mas também das lógicas de individuação e das novas dinâmicas sociais que
marcam os espaços urbanos contemporâneos). É nesses territórios que as no-
vas relações entre os espaços centrais das metrópoles e as suas zonas ou secto-
res periféricos surgem com mais nitidez; é aí também que as suas hibridações
e subversões mais se fazem notar, com tantos “centros” desvitalizados e tan-
tas “períferias” vibrantes; e é aí também que melhor se revelam as condições
económicas e políticas, culturais e sociais que condicionam e facilitam a re-
composição do tecido urbano. Mas os textos englobados neste volume suge-
rem também como novos mundos sociais urbanos emergem e se consolidam
partir da acção e da prática dos citadinos, a par do planeamento e das múlti-
plas dinâmicas de governança patentes nos tecidos metropolitanos, por
exemplo, no interior ou em contiguidade aos centros históricos em reabilita-
ção, em sectores culturais e “bairros criativos”, ou na antiga periferia indus-
trial e operária que se tornou menos precária e menos polarizada
socialmente. No seu todo, os capítulos que compõem este volume permitem
1
2 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
cidades brasileiras são por eles engendradas dinâmicas assentes nos usos tu-
rísticos e no marketing urbano, bem como as consequentes exclusões so-
cio-espaciais (Gabrielle Cifelli, “Uso turístico e exclusão sócio espacial nos
centros históricos das cidades brasileiras consagradas como Patrimônios da
Humanidade”). O oitavo capítulo remete para a questão das dinâmicas de
gentrificação e os conflitos de uso nos centros históricos, designadamente no
caso das cidades pós-socialistas e, a partir da análise à reabilitação urbana em
Budapeste, analisa as condições de emergência de práticas de produção cul-
tural e criativa, bem como de novas formas de consumo (Gergely Olt et al.,
“The social effects of urban rehabilitation, cultural and creative production
and new ways of consumption in the inner city of Budapest”).
O volume encerra com um terceiro conjunto de capítulos, nos quais a inter-
venção especializada no tecido urbano é o principal objecto de análise e reflexão.
As dinâmicas de planeamento da cidade, nas suas diversas vertentes, os princí-
pios de actuação no campo das políticas urbanas e as múltiplas lógicas de gover-
nança e articulação interinstitucional são aqui abordadas, dando-nos algumas
perspectivas, complementares, sobre a sua ampla diversidade. O capítulo nono
convoca, uma outra vez, mas numa perspectiva distinta, a reabilitação de centros
históricos, entendendo-a como uma prática produtora de camadas físicas como
de significações urbanas, e portanto, como marca de um novo paradigma de ac-
tuação dos planeadores da cidade (Rosa Fernandes Macedo e Gonçalo Furtado,
“The new urban layers. Mutation paradigms of rehabilitation in historic cen-
ters”). Em seguida, no capítulo décimo, a implementação do instrumento clássi-
co do Plano Director é avaliada e interrogada de modo a aferir o seu impacto no
crescimento urbano e desenvolvimento social de Maceió, Brasil (Henrique Fer-
nandes Campos e Andrea Pacheco Pacífico, “O Plano Diretor como instrumento
de implementação da função social da propriedade urbana: O Plano Diretor de
Maceió, Brasil”). No capítulo décimo primeiro, e dando actualidade à velha mo-
nografia de cidade, partindo da noção de desterritorialização são analisados o
crescimento urbano e os modos de vida na cidade de Gurgaon, Índia (Saurabh
Tewari, “Urbanism in Gurgaon”). A questão dos modos de vida e da informali-
dade urbana no Rio de Janeiro (Brasil) é o objecto do capítulo décimo segundo,
no qual a expressão a “Outra cidade”, associada a um conjunto de grupos e orga-
nizações sociais centrais na luta pela habitação e pela reforma urbana nesta cida-
de, permite colocar em evidência como as vivências populares e informais da
cidade se confrontam amiúde com programas e políticas públicas de habitação
(Luiz Eduardo Chauvet, “A outra cidade”). Por fim, no capítulo décimo terceiro,
é equacionada a relação entre novas morfologias urbanas — e lógicas de renova-
ção dos espaços residenciais peri-urbanos nas cidades francesas — e o paradig-
ma que, em termos do planeamento urbano, se centra nos desafios da
sustentabilidade urbana (Alessandro Elli, “Quelle(s) morphologie(s) urbaine(s)
pour quelle(s) ville(s) durable(s)”).
Capítulo 1
Anna Dewaele
École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS); Centre d’Étude de l’Inde
et de l’Asie du Sud (CEIAS) (anna.dewaele@gmail.com)
Résumé
5
6 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
5 On estime que près de 5 millions d’Hindous et de Sikhs ont traversé la frontière entre
l’Union Indienne et le Pakistan occidental. Les évaluations sont pourtant difficiles dans
la mesure où seule la population masculine est prise en compte. Source: The First Fi-
ve-Year Plan: a Summary Government of India, 12 décembre 1952.
10 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
6 En 1966 suite à un redécoupage territorial, le Pendjab tel qu’il avait été délimité en 1947
est divisé en trois Etats: l’Himachal Pradesh, le Pendjab et l’Haryana.
7 Il s’agit d’un statut territorial particulier en Inde. Les Territoires de l’Union sont au nombre
de sept et peuvent être organisés de deux manières différentes. Certains sont directement
dirigés par le gouvernement central et possèdent un administrateur (Chandigarh, Iles
Andaman-et-Nicobar, Dadra et Nagar Haveli, Daman et Diu, Lakshadweep). D’autres
Territoires ont un véritable gouvernement et les citoyens y élisent une assemblée (Pondi-
chéry et Delhi).
DES VILLES NOUVELLES AUX “NOUVELLES VILLES” DE LA MONDIALISATION EN INDE 11
développement à Bidhannagar, bien que ce dernier prenne ici des formes dif-
férentes de celui de Gurgaon.
Concernant Navi Mumbai, l’idée de la création d’une ville satellite de
l’autre côté de la baie de Thane pour contrôler la croissance de Mumbai est
évoquée dès l’Indépendance pour résoudre la question du développement ur-
bain de la métropole indienne qui ne cesse de s’étendre vers le nord. Il s’agissait
alors de créer une dynamique est-ouest par le développement d’une ville nou-
velle dans un espace délimité au nord et à l’est par les ghâts occidentaux, à l’ouest
par la mer, et où l’on trouve déjà deux zones industrielles, Thane-Belapur et Talo-
ja. Dans le même temps, la construction d’un pont reliant la ville centre à la ville
satellite est envisagée. Il faut pourtant attendre 1964 pour que les recommanda-
tions alors formulées par l’architecte urbaniste Charles Correa, l’ingénieur Pravi-
na et l’ingénieur urbaniste Shinish Patel soient véritablement prises en compte.
Ala fin des années 1960, un plan de développement urbain pour la métropole in-
dienne est élaboré en parallèle de la constitution du Mumbai Metropolitan and Re-
gional Planning Board en 1967. Finalement, c’est en 1971 qu’est créée dans le but de
développer cette ville nouvelle la City and Industrial Development Corporation
(CIDCO) et que débute la construction de New Bombay.
Dans un premier temps, l’objectif était de créer une ville jumelle pour
Mumbai afin de la désengorger, d’accueillir les vagues de migrations à venir
et de diminuer ainsi la pression à laquelle elle est soumise. Les concepteurs
cherchaient par ailleurs à valoriser une nouvelle forme de développement ur-
bain planifié et de proposer aux futurs habitants une ville à l’esthétique de la
modernité où ils pouvaient vivre et travailler tout ne parcourant que des dis-
tances quotidiennes raisonnables (Mehotra R., 2007).
En un sens, nous pouvons rapprocher la fondation de Navi Mumbai de
celles d’autres villes nouvelles construites au lendemain de l’Indépendance.
Navi Mumbai participe en effet d’une tentative de réguler la croissance de Mum-
bai et témoigne d’une volonté de symboliser l’Inde Indépendante et l’optimisme
qui lui est associé. D’autre part, Navi Mumbai n’a connu dans un premier temps
qu’un succès mitigé. Elle a alors davantage été perçue comme une ville-dortoir
où le manque de connectivité avec Mumbai et l’absence d’une vision partagée
avait eu raison d’un projet urbain novateur. Dans le même temps, l’extension de
Mumbai au nord à Vasai-Vihar au début des années 1980 a renforcé le sentiment
d’échec lié au projet de cette ville nouvelle et a donné aux habitants comme aux
autorités l’impression d’un retour en arrière.
Pourtant, la singularité de Navi Mumbai par rapport à d’autres villes
nouvelles doit être reconnue dans la mesure où il s’agit de l’un des plus grands
projets de planification urbaine au monde. La ville s’étend en effet sur 344 kilo-
mètres carrés et elle compte plus de 1, 1 million d’habitants.12 Par ailleurs, nous
Références
Biswas S. P. (2002), “The Ghost of Modernity. Architecture and Urbanism in the Era
of Globalization” in Architecture+Design Volume 19, Numéro 6.
Carroue L. (2007), Géographie de la mondialisation Armand Colin.
Chaline C. (1985), Villes nouvelles dans le monde Presses Universitaires de France
Collection Que sais-je?
Chatteerjea D. P. (1990), “Bidhannagar : from Marshland to Modern City” in
Chaudhuri S. (dir.) Calcutta. The Living City. Volume 2 : The Present and the
Futur Oxford University Press.
Chauvin S., Lemoine F. (2004), “L’économie indienne en bonne voie” in L’économie
mondiale 2005 Editions La Découverte, Collection Repères.
13 Banque Mondiale.
18 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Abstract
Over the past fifty years, cities have grown and developed a great pace. Practi-
cally in the entire world occurred an inversion between the number of rural and
urban population, the urban population much exceeded in number the rural
population. According to the 2010 Brazilian Demographic Census, 84.4% of the
population located in Brazilian urban centers. Given this situation, which tends
to become increasingly critical, cities have grown rapidly with little or no con-
trol. This causes the generation of urban tensions of various kinds as well as the
increased costs of maintaining this reality. The governments increasingly have
to spend more to try to meet the demands that come with urban growth. The
analysis generated by this study are descriptive, based on mathematical and
statistical procedures, since, for a more complete analysis would require wor-
king together with researchers in each metropolitan area, knowing the history
of the development of urban space, so we would have a systemic view of the
study area. This step will take place afterwards. We propose an expansion in ur-
ban studies, seeking a more accurate understanding of how urban form affects
humans, and vice versa, especially with regard to urban areas excluded or se-
gregated. Depending on the spatial clustering of different populations, we can
enhance the results obtained by the spatial configuration, through a joint analy-
sis of the dispersion index and spatial location of population below the poverty
line.
Introdução
A cidade é uma estrutura moldada pela população que nela habita, pois são
os processos sociais que a definem, incluídos ou não procedimentos formais
19
20 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Índice de Dispersão
população realizados por Bertaud & Malpezzi (1999; 2003), Koga (2003) e Oji-
ma (2007). Esses autores, de uma forma ou de outra trataram a realidade ur-
bana de forma segmentada, pois normalmente estudaram uma única
dimensão dessa realidade. Mesmo os autores que trataram mais de uma di-
mensão fizeram-no de forma separada. A análise urbana deve ser feita de for-
ma sistêmica, a fim de se ter uma visão mais próxima dessa realidade.
Costa & Silva (2007) afirmam que a desigualdade de acesso ao espaço
urbano é causadora de segregação. A noção de segregação está ligada a novas
formas de ocupação espacial, excludentes da classe superior. Para Lago (2000
apud Costa & Silva, 2007) forma de ocupação como condomínios fechados,
horizontais e verticais, afastados do centro, e direcionados para a classe mé-
dia, tem se expandido cada vez mais. Isso se dá em função do baixo valor da
terra, o que viabiliza a aquisição desse espaço pelas classes menos abastadas.
O autor lembra que não apenas o preço da terra é um fator de segregação,
mas, especialmente, muros e controle de segurança, que intentam manter
afastados todos que não pertencem àquele lugar.
O modelo brasileiro de cidades caracterizava-se tradicionalmente por
ter as classes superiores no centro e quanto menor o poder aquisitivo, mais
afastada desse centro a população se localizaria. Após a década de 1970, em
algumas cidades brasileiras, surgiram ocupações semelhantes ao modelo
norte-americano de subúrbios, condomínios para população de alta renda,
fechados e afastados do centro. Esse tipo de ocupação é caracterizado como
disperso (REIS, 2006), e acarreta diversos custos ao poder público para sua vi-
abilização (rede elétrica, abastecimento de água, coleta de esgoto, asfalta-
mento, etc.).
Esse tipo de ocupação difusa gera redes descontínuas, desorganizadas,
ineficientes e altamente dependentes de veículos (públicos e privados) (Has-
se & Lathrop, 2003). Isso tem causado um aumento no consumo energético e
na quantidade de particulados e gases poluentes oriundos da excessiva circu-
lação veicular.
Segundo Ojima (2006) um dos fatores que condicionam as modificações
do espaço urbano são as mudanças no modo de produção capitalista. Com a
globalização houve mudanças sociais profundas, que afetaram não só as for-
mas de consumir, mas também de produzir o espaço. De acordo com o autor,
não basta apenas analisar as mudanças estruturais que ocorreram nas cida-
des, é necessária a análise do contexto social e como esse afetou a forma de
consumir o espaço urbano. A questão socioeconômica é um forte elemento es-
truturante da cidade, mas não pode ser considerada como único, pois há ou-
tros elementos que influenciam e são influenciados pela socioeconomia, de
forma que se pode caracterizar uma relação de dependência entre esses
elementos.
Costa & Silva (2007) colocam que a dispersão urbana é fruto da estrutu-
ra socioeconômica da localidade analisada. Eles afirmam que a disparidade
22 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
(...) desde os aspectos estéticos até impactos nos gastos públicos (consumo de
água, energia elétrica e combustíveis fósseis, afastamento das áreas agrícolas,
alocação de bens e serviços públicos), nos aspectos sociais (heterogeneização
socioespacial, segregação social, aumento das distâncias diárias de locomoção)
e nos aspectos ambientais (poluição da água e do ar, ilhas de calor, mudança nos
regimes de precipitação, aumento de áreas alagáveis e alterações na incidência
de doenças e problemas de saúde associados). (Ojima, 2006:3)
Figura 2.1 Grau de Urbanização, População Urbana e População Rural entre 1940 e 2005
Fonte: Adaptado de OJIMA, 2006; IBGE, 2007.
a( x + 1) 2( y - b)
y= + bÞ x = -1
2 a
åd p
i
i i
r=
PC
funcional para a capital. Em torno dele localizam-se cerca de 82% dos empre-
gos formais do Distrito Federal, segundo o Ministério do Trabalho. O CCS
para as demais 13 capitais é definido de acordo com critérios do IBGE para lo-
calização da sede municipal, para o qual se utiliza o centro histórico como
referência.
Após a atualização e cálculo do Índice de Dispersão para as 13 cidades
brasileiras, normalizou-se os dados das 60 cidades. Assim, foi obtido o Índice
de Dispersão Normalizado.
Resultados e Discussões
Quadro 2.1 Percentual de cidades por região em função do Índice de Dispersão Normalizado (IDN)
Figura 2.3 Relação entre o Índice de Dispersão Normalizado e a População em Área Urbana.
Verifica-se que não há um comportamento homogêneo para os dados, nem a formação
de agrupamentos
Figura 2.4 Relação entre o Índice de Dispersão Normalizado e a área urbana construída.
Verifica-se que não há um comportamento homogêneo para os dados, nem a formação
de agrupamentos
a) b)
c) d)
Região Nordeste
e) f)
g)
URBAN DISPERSION AND POVERTY IN THE BRAZILIAN METROPOLITAN AREAS 35
Região Sudoeste
h) i)
j)
Região Sul
l) m)
n)
Região Nordeste
c) Natal
c) Fortaleza
e) Recife f) Salvador
g) João Pessoa
URBAN DISPERSION AND POVERTY IN THE BRAZILIAN METROPOLITAN AREAS 37
Região Sudoeste
j) São Paulo
Região Sul
l) Curitiba m) Florianópolis
n) Porto Alegre
Figura 2.6 Ilustração tridimensional da dispersão urbana para as 13 capitais brasileiras analisadas
38 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Considerações finais
Referências bibliográficas
Sílvia Jorge
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (aivlisjorge@gmail.com)
Vanessa Melo
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
(vanessa.p.melo@gmail.com)
Resumo
A cidade de Maputo apresenta uma dicotomia ainda vincada entre o seu centro
e a sua periferia, não só no que se refere à capacidade económica e estilo de vida
dos seus residentes, como também em aspectos como: a qualidade e quantida-
de de infra-estruturas, de equipamentos básicos e de transportes públicos, a di-
versidade de usos do solo, principalmente no que se refere à oferta de serviços e
actividades económicas, e as características habitacionais. A separação só-
cio-espacial presente na estrutura actual do território urbano resulta de dife-
rentes processos e dinâmicas de intervenção, variando consoante os diferentes
contextos históricos que os enquadram. Neste artigo, propõe-se analisar os pro-
cessos e dinâmicas actuais de (re)produção do espaço (peri)urbano de Maputo,
centrando-se em duas áreas onde as intervenções urbanas têm sido mais signi-
ficativas: a área que envolve o centro urbanizado (área de transição do centro
para a periferia) e a área de expansão (próxima dos municípios limítrofes). Pro-
cura-se compreender de que forma estes processos e dinâmicas contribuem
para o (des)equilíbrio entre centro e periferia, bem como para fenómenos de se-
gregação e exclusão socio-espacial.
Introdução
A cidade de Maputo, com cerca de 308 km2, é composta por um centro urbani-
zado, que ocupa aproximadamente 8% do território, e por uma área, aqui glo-
balmente designada por peri-urbana, dependente deste núcleo central e
diferente do mesmo em aspectos como: a qualidade e quantidade de in-
fra-estruturas, de equipamentos básicos e de transportes públicos, a
43
44 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
cop. 2008, p.6-7) têm na sua maioria baixos recursos e níveis de escolaridade,
e o seu território e vivências quotidianas forjam-se na “interacção entre dois
mundos bipolares”: o urbano, resultante do modelo da cidade ocidental es-
pelhado no centro, e as referências rurais que marcam a estória dos seus mo-
radores (Raposo e Salvador, 2007, p.136).
Estas diferenças socio-económicas acompanham diferenças territoriais,
relacionadas com os distintos processos e dinâmicas de (re)produção do es-
paço (peri)urbano e com os contextos em que se desenvolveram e consolida-
ram. O centro urbanizado, de origem colonial, foi planeado pela
administração pública portuguesa. As suas características mantêm-se prati-
camente inalteradas, apresentando: uma malha regular, geralmente ortogo-
nal e composta por vias asfaltadas; um predomínio de edifícios habitacionais
infra-estruturados, plurifamiliares e, em menor número, unifamiliares (Hen-
riques, 2008, p.163); uma maior concentração de equipamentos de saúde e de
educação, de espaços de lazer e de áreas administrativas, comerciais e de ser-
viços, predominando as duas últimas nos bairros mais centrais, sujeitos a
uma verticalização nas décadas de 1960 e 1970.
Embora algumas destas características estejam presentes em certas
áreas da primeira cintura, esta apresenta uma configuração distinta do
centro. Na sua maioria, os bairros estruturam-se segundo uma malha or-
gânica densa, composta por ruas de terra batida, onde predominam habi-
tações unifamiliares, com níveis consideráveis de precariedade
construtiva e de saneamento, abastecimento de água e fornecimento de
electricidade, mas onde, segundo Henriques (2008, p.127), se encontra
uma percentagem significativa de áreas dedicadas a equipamentos, in-
fra-estruturas,2 serviços públicos e actividades económicas. Em parte, es-
tas características devem-se ao facto da primeira cintura, também de
origem colonial, ter sido ocupada pela população autóctone de forma não
planeada pelo poder público (exemplo de Mafalala e Chamanculo C, hoje
densamente ocupados), uma vez que o planeamento urbano durante este
período beneficiou essencialmente o centro, destinado à população colo-
na. A sua existência está contemplada pela legislação respeitante ao edifi-
cado pelo menos desde 1912 (Morais, 2001, p.149), mas é com o
crescimento acelerado da cidade, sem um desenvolvimento económico e
industrial compatível, que ela se expande e consolida. Após a independên-
cia do país, em 1975, vários factores continuam a contribuir para a crescen-
te atracção da população à capital, dos quais se destaca a guerra civil
(1976-1992). Alguns bairros da primeira cintura (exemplo de Polana Cani-
ço A), consolidam-se apenas durante este período e apresentam diferenças
— do qual se destaca a Lei dos Municípios (1994), a Lei de Terras (1997), o Re-
gulamento do Solo Urbano (2006) e a Lei do Ordenamento do Território
(2007) — que permitiu a elaboração e aprovação do Plano de Estrutura Urba-
na do Município de Maputo (PEUMM), em 2008, e dos Planos Parciais de
Urbanização de alguns bairros, como o Zimpeto e Magoanine B e C, em De-
zembro de 2010.
Na sequência destes acontecimentos e em pleno contexto neoliberal,
identificam-se actualmente diferentes paradigmas de intervenção no territó-
rio peri-urbano, em função dos interesses e percepções dos actores envolvi-
dos no processo de (re)produção do espaço:
5 O DUAT é introduzido pela Lei de Terras, segundo a qual a terra é propriedade do Esta-
do, mas é possível obter um direito de uso e aproveitamento da mesma. A sua atribuição
tem sido limitada por motivos como: o surgimento tardio da legislação, a excessiva buro-
cracia do processo e as condicionantes legais à sua atribuição (Tique et al, 2011). Contu-
do, a inexistência deste título não impede a utilização da terra, caso se trate de uma
ocupação efectuada de boa-fé há mais de dez anos ou segundo as normas e práticas cos-
tumeiras, que não contrariem a Constituição.
48 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Legenda
C. Centro urbanizado
2. Bairro Sommerschield II
4. Bairro Maxaquene A
5. Bairro Mafalala
6. Bairro Chamanculo C
7. Bairro Zimpeto
8. Bairro Magoanine B
9. Bairro Magoanine C
Legenda
Mafalala e Chamanculo C
Zimpeto, Magoanine B e C
Figura 3.5 Zimpeto, esboço de nova centralidade e ocupação segundo malha regular e orgânica
Fonte: Fotografia aérea do Google Earth de 2010.
Outras áreas foram ocupadas por processos não reconhecidos nem pla-
neados pelo poder público, embora possam contar com o envolvimento de
autoridades locais e técnicos municipais (Tique et al, 2011). Podem apresen-
tar uma composição regular, seguindo o modelo das áreas planeadas (Niel-
sen, 2010, p.163-166), ou orgânica, em ocupações ditas “espontâneas” e,
segundo Jenkins e Andersen (2011, p.10-11), em parcelamentos promovidos
por famílias que ocupavam previamente grandes áreas do território. Inicial-
mente, a população não provinha de Maputo, mas recentemente vem sobre-
tudo das suas áreas mais centrais, deslocando-se voluntariamente — na
procura de primeira ou segunda habitação, de casa própria ou maior, de au-
mentar o rendimento através do arrendamento da casa que possui no centro,
entre outros — ou devido a processos de gentrification.
Recentemente, estes bairros têm vindo a ser alvo de intervenções de
qualificação urbana — geralmente de iniciativa pública, mas contando tam-
bém com investidores privados, agências internacionais e organizações da
sociedade civil — centradas na melhoria de infra-estruturas (pavimentação
de vias principais e abastecimento de água e electricidade) e na disponibiliza-
ção de equipamentos e serviços. Neste âmbito, destaca-se o esboço de uma
PROCESSOS E DINÂMICAS DE (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO (PERI)URBANO 55
10 Segundo Lehman-Frisch (2009, p.13-15), a mistura social nas áreas residenciais tem sido
defendida por alguns urbanistas como forma de evitar a segregação, mas esta relação
nem sempre se estabelece, verificando-se situações em que a sua promoção tem efeitos
contrários. Para autores como Lévy e Dureau (2002, apud Lehman-Frisch, 2009, p.15), a
promoção de igualdade no acesso de todos os cidadãos à cidade revela-se mais eficaz
neste âmbito. A relação da diversidade socioeconómica e cultural com processos volun-
tários de segregação é também uma vertente importante de análise. Assim, a referência à
distância social é aqui efectuada apenas enquanto indicador de diferenças entre ambas as
áreas.
58 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Conclusão
Referências bibliográficas
Abstract
63
64 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Introdução
Quadro 4.1 Crescimento da população do estado do Ceará e do município de Fortaleza (1940 a 2010)
Ceará Fortaleza
Ano População Crescimento População Crescimento
intercensitário intercensitário
Fonte: IBGE - Censos Demográficos de 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.
Figura 4.1 Mapa de renda média mensal dos chefes de família, 2000
Fonte: Prefeitura Municipal de Fortaleza.
Ao longo das três ultimas décadas, os bairros da região leste da cidade rece-
bem muitos investimentos públicos privados, recebendo equipamentos de
grande porte, como novos shopping centers, universidades, centro de conven-
ções, restaurantes e hotéis. Souza (2006) lembra ainda que uma política de de-
senvolvimento do turismo é posta em prática em Fortaleza a partir de meados
da década de oitenta. A cidade passa a ser produzida para o turista, com mai-
ores investimentos em infra-estrutura e serviços no setor leste, onde estavam
localizados os hotéis e centros comerciais. Tantos investimentos levam ao
adensamento da área com a construção de grandes edifícios comerciais e
68 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
[...] Esse direito busca reverter a predominância dos valores econômicos sobre
as funções sociais da cidade. O direito à cidade é interdependente a todos os di-
reitos humanos internacionalmente reconhecidos, concebidos integralmente, e
inclui os direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais.
Inclui também o direito à liberdade de reunião e organização; o direito ao exer-
cício da cidadania e da participação no planejamento, produção e gestão da ci-
dade; a produção social do habitat; o respeito às minorias e à pluralidade étnica,
racial, sexual e cultural; o respeito aos imigrantes e a garantia da preservação e
herança histórica e cultural. O direito à cidade inclui também o direito ao desen-
volvimento, a um meio ambiente sadio, ao desfrute e preservação dos recursos
naturais e à participação no planejamento e gestão urbanos.
Considerações finais
impedida de interferir nas decisões sobre os projetos ou, quando o faz, suas
deliberações não são efetivadas.
Referências bibliográficas
Camila Saraiva
Doutoranda em Planejamento Urbano e Regional, IPPUR/UFRJ
(lacamisaraiva@gmail.com)
Resumo
77
78 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Introdução1
1 Este artigo reúne parte das reflexões de minha dissertação de mestrado defendida em
2008 no IPPUR/UFRJ.
A PERIFERIA CONSOLIDADA COMO CATEGORIA E REALIDADE EM CONSTRUÇÃO 79
As parcelas do território da cidade que têm baixa renda diferencial. [...] A renda
diferencial é o componente da renda fundiária que se baseia nas diferenças en-
tre as condições físicas e localizações dos terrenos e nos diferenciais de investi-
mentos sobre eles, ou no seu entorno, aplicados (Bonduki; Rolnik, 1979b: 147).
Enquanto nas áreas de fronteira urbana — que em alguns casos estava crescen-
do a mais de 10% ao ano — tudo está por construir (incluindo arruamentos, es-
colas, postos de saúde e saneamento básico), na periferia consolidada grande
parte dos equipamentos sociais está presente, e a política social tende a implicar
outros elementos, como melhoria do ensino básico e das condições de moradia
e acesso ao mercado de trabalho e ao crédito (Torres, 2005: 108).
A periferia consolidada, eu fiz dois vôos de helicóptero sobre São Paulo, ela é de
uma monotonia total, é uma cor cinzenta meio amarelada e é contínua, é uma
casa em cima da outra, ruelas e sem de fato ter havido um planejamento urba-
nístico que desse uma diretriz, são quilômetros e quilômetros e de repente um
ponto verde, então eu diria que há uma consolidação muito precária tanto das
casas como dos bairros do ponto de vista de qualidade de vida urbana.
aquilo que foi o espaço produzido pelo mercado e pelo Estado dentro da nor-
malidade e da legalidade e aquilo que é o habitat que foi produzido socialmen-
te, um conceito interessante que os movimentos usam [...] o habitat
auto-produzido, pelos próprios moradores, tem sua lógica econômica, territo-
rial, inclusive sua lógica de contratos, de relações contratuais, de registros de
propriedade, de transferências e etc.
Apreender ao mesmo tempo o que é instituído, sem esquecer que se trata so-
mente da resultante, num dado momento, da luta para fazer existir ou”inexis-
tir” o que existe (...) restituir ao mesmo tempo as estruturas objetivas e a relação
com estas estruturas, a começar pela pretensão a transformá-las, é munir-se de
um meio de explicar mais completamente a “realidade” (Bourdieu, 1989)
Quando fui para Habi,8 tive uma noção mais clara daquilo que já tinha aparecido
no trabalho Periferias, dez anos antes: existem estágios diferentes de periferia. Por
conta de Habi, eu fui pra todos os cantos da cidade e verifiquei que existiam aque-
las periferias absolutamente ermas, sem nada, e outras bastante equipadas. Eu me
lembro o susto que levei no primeiro dia que fui para a avenida Matteo Bei, em São
Mateus, que era uma rua comercial. Tinha Casas Pernambucanas, agências de ban-
cos, era um centro comercial constituído (Bonduki, 2001: 96).
Você tem sempre uma situação mais periférica, mais longínqua, sem serviços,
com problema de conflito de terra e altos índices de homicídio. E isso é uma
constante criação, a cidade vai crescendo e à medida que essa consolidação,
mesmo precária, chega o preço das casas e dos terrenos aumenta e faz com que a
população mais pobre só possa ir para zonas desprovidas, até que daqui dez
anos, vinte anos, quando essas zonas também vão ser incorporadas, dessa ma-
neira muito desprovida, muito sem planejamento, muito caótica. [...] A literatu-
ra aponta, de uma maneira geral, que quando chegam investimentos, o aluguel
aí sobe, geralmente o inquilino não pode pagar e chega uma faixa de renda mai-
or, então há sempre um processo também de expulsão de população que não
pode pagar o assim chamado preço do progresso.
Destaca Kowarick, por fim, que a grande diferença dos anos 1970, além da
melhora nas condições urbanísticas, “é que houve um aumento muito grande
da violência, da criminalidade, que é um fenômeno que nos anos 70 pratica-
mente não existia”.
No entanto, segundo Eduardo Marques,11 pesquisa recente coordenada
por ele no Jardim Ângela, bairro localizado na zona sul de São Paulo, cuja
ocupação mais intensa iniciou-se após os anos 1970, indica que o tempo entre
a compra de um lote em loteamento clandestino, o provimento de in-
fra-estrutura e a regularização foi de cerca de dez anos, ou seja, “o processo é
idêntico ao descrito pelo Kowarick nos anos 1970 de produção do loteamento,
só que está comprimido no tempo, isso é uma coisa muito interessante e faz
com que seja diferente o processo”. O exame das etapas desse processo, se-
gundo Marques, mostra que o caminho para a obtenção das melhorias foi
praticamente institucional, sem a intermediação de políticos clientelistas, o
que indicaria que “na intermediação entre Estado e sociedade aconteceu mui-
ta coisa importante que está pouco conhecida”.
É possível que a observação empírica de Marques esteja relacionada
com as mudanças na orientação das políticas governamentais. Na década de
1980, além da regularização jurídico-administrativa dos loteamentos, que já
havia sido incorporada à rotina das administrações anos antes (GROSTEIN,
1987) começa a se consolidar, em contraposição às remoções das favelas, polí-
ticas de melhoria de seus padrões de urbanização.
Dessa maneira é possível afirmar que a consolidação de antigas periferi-
as e reprodução de novas formas precárias de moradia, sejam loteamentos
em áreas cada vez mais distantes, favelas ou cortiços ainda se faz presente e é
parte da própria lógica de reprodução das cidades no Brasil, onde a política e
os instrumentos de planejamento urbano, embora existam e tenham
Quando toda a periferia tiver água, luz, asfalto, esgoto — e estamos nos encami-
nhando para isso — então, vai acabar a periferia? Eu acho que não. Por causa do
elemento social (Bonduki, 2001: 97).
considerada periferia? Para sugerir uma resposta possível a esta questão ana-
lisa-se a seguir a atuação do mercado imobiliário na região.
O crescimento e a diversificação do comércio na região são apontados,
pelo diretor de marketing do Grupo Waled — empresa que lançou, em 2000,
dois condomínios fechados de casas em Itaquera — como os principais fato-
res responsáveis pelo potencial de desenvolvimento imobiliário: “Quando o
centro comercial começa a crescer é porque a região tem potencial para o de-
senvolvimento imobiliário” (O Estado de São Paulo, 16/01/2000).
Além das cooperativas, incorporadoras e construtoras de maior porte
passaram a atuar, na região, produzindo imóveis voltados para as famílias de
baixa e média baixa renda. Nesse movimento, o pequeno especulador, ator
urbano espalhado por todas as camadas sociais e protagonista da expansão
periférica, até então, cede lugar na dinâmica de constituição do espaço cons-
truído à grande empresa de imobiliária (Ribeiro; Lago, 1994).
A mesma técnica utilizada por cadeias de fast food na periferia passa en-
tão a ser utilizada por construtoras, como registra o proprietário da constru-
tora Tenda:
A esfiha popular, que vende bastante, custa 39 centavos, mas tem menos carne
que uma de 2 reais. Ela é um sucesso. O nosso objetivo é semelhante [...].Não te-
mos o direito de inventar. Parede curva em banheiro, só em Paris. Comprador
de baixa renda não se importa com isso (Revista Veja, 17/01/2007).
12 A expressão é uma referência à obra de C.K. Prahalad, consultor indiano radicado nos
Estados Unidos, que desenvolve estratégias de obtenção de lucro através do consumo
dos mais pobres. Seu livro “A riqueza na base da pirâmide” foi publicado no Brasil em
2005.
13 Consideramos uma renda média de cerca de 900 reais, conforme indica o Critério de
Classificação Econômica Brasil, divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de
Pesquisa, em 2003. No entanto, salientamos que o fator que mais influi nesta classificação
é a posse de bens duráveis como geladeira, máquina de lavar, televisão e automóvel. Cf.
http://www.abep.org/codigosguias/ABEP_CCEB.pdf
A PERIFERIA CONSOLIDADA COMO CATEGORIA E REALIDADE EM CONSTRUÇÃO 89
14 Uma parte da classe média, formada, principalmente, por filhos de prósperos comerciantes,
embora tenha boas condições materiais, não participa do campo de produção cultural e me-
nospreza o debate intelectualizado e político, procurando assegurar sua distinção dos mais
pobres justamente pela qualidade de seu consumo (O’Dougherty, 1998).
90 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Considerações finais
Referências bibliográficas
Racionalidade suburbanas
Formas, processos e modelos na produção do espaço urbano
contemporâneo
Resumo
Introdução
93
94 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
sentimos muitas vezes que os lugares onde habitamos são pouco satisfatóri-
os, são espaços desconfortáveis, feios, monótonos, pouco eficazes em termos
de economia de tempo e espaço, pobres de sentido e aquém das imagens
aprazíveis que povoam os nossos imaginários. Mas servir-nos-á, esta ima-
gem de fealdade, de caos e irracionalidade, para registar e qualificar, sem he-
sitações nem constrangimentos, o espaço urbano contemporâneo? Ou serão
estas caracterizações e predicados uma espécie de apreciação, lesta mas rudi-
mentar, talvez mesmo um subterfúgio, para qualificar um espaço urbano que
quotidianamente habitamos, mas que na verdade não compreendemos?
Centrados nesta problemática e na hipótese de que os territórios subur-
banos não são, afinal, os tecidos caóticos e irracionais que normalmente con-
sideramos, o presente artigo tem por principal objetivo discutir e escrutinar a
ordem de razões que estão na base da produção da forma e espaço urbano
contemporâneos. Desta forma, a heterogeneidade, a fragmentação e as des-
continuidades que caracterizam as paisagens suburbanas não são simples-
mente sinónimo de ausência de ordem ou o resultado descomprometido de
crescimentos empíricos de grande espontaneidade, mas antes o produto da
aplicação e da acumulação de uma série de regras e princípios, e da reprodu-
ção e combinação de determinados modelos formais e de espaço, e mesmo da
sua transfiguração ou transgressão. É pois necessário questionarmo-nos so-
bre: Que narrativas contam estes diferentes fragmentos de cidade? Que dife-
rentes formas de racionalidade estão subjacentes na génese destas várias
configurações e padrões territoriais suburbanos?
Tendo por base a investigação para doutoramento realizada na Faculdade
de Arquitectura — UTL (2009), a apresentação começa por sistematizar a leitura
e o entendimento da forma do território segundo a fórmula dos três Ps — produto
(artefacto), projecto (conceito) e processo (função) (A. Corboz, 1983) — procuran-
do, a partir daqui e tomando como referência a obra de Françoise Choay (1980)
— La Règle et le Modèle, encontrar as diferentes ordens de razão e as narrativas
que estruturam o espaço construído da contemporaneidade.
O artigo propõe, desta feita, uma interpretação morfológica, ao nível
dos modelos e dos processos, dos assentamentos e padrões de ocupação su-
burbana que têm vindo a caracterizar, desde a última metade do século XX,
sensivelmente, o território e a paisagem metropolitanas de Lisboa, estrutu-
rando para isso uma nova tipologia para as formas da suburbanização na
Área Metropolitana de Lisboa.
Kiril Stanilov e Brenda Case Sheer (2004) e ainda Peter Larkham (2006) corro-
boram. Em Portugal, não obstante os esforços que têm sido feitos nos últimos
anos com o surgimento de uma série de publicações de referência (Portas et al,
2003; Tenedório, 2003; Font, 2004; George & Morgado, 2004; Domingues,
2006), este défice tem-se confirmado uma realidade.
alternativas que permitissem desde logo olhar o território sob outros pris-
mas. É o caso daquilo a que chamámos fórmula dos três “P” de André Corboz
(1983) que, no quadro de uma abordagem morfológica e fenomenológica,
permite começar a perspetivar o urbano, não apenas como uma forma passí-
vel de ser percebida (Lynch, 1960) mas, sobretudo, como um sistema simulta-
neamente legível e inteligível.
Entendendo a cidade como um palimpsesto, Corboz dedica uma especial
atenção à forma do território — para ele o território tem e é uma forma — reco-
nhecendo-o simultaneamente como produto, processo e projeto. Por um lado o
território ou o urbano é um artefacto, um objeto de construção cuja forma física
constituiu, ela própria, uma plataforma e um conteúdo de leitura, um terreno
de imaginabilidade. Mas nem por isso deixa de ser igualmente um processo e
um projeto: um processo ou função porque o território é determinado por uma
série de funções humanas ativas que, por sua vez, se encontram em constante
mudança e transformação; um projeto porque qualquer ação e produto do ato
se constituiu simultaneamente como ideia ou conceito formado na imagina-
ção. É neste sentido, enquanto processo e projeto, que o território se oferece
como uma estrutura inteligível, uma estrutura que encerra uma inteligibilida-
de passível de ser conhecida e compreendida através das diversas narrativas
que se estabelecem entre projeto (o território como conceito), processo (o terri-
tório como função) e o produto (o território como artefacto).
CATEGORIAS ENQUADRAMENTO
HISTÓRICO/INSTITUCIONAL
Figura 6.3 Pegadas de arranque da Suburbanização: a área central de Almada Nascente decorrente
dos Planos Gerais de Urbanização (DL nº 24.802 de 1934) de Étienne de Gröer, Faria
da Costa e José Rafael Botelho. Do ponto de vista dos modelos, desenvolveu-se sob
as referências da cidade-jardim howardiana e das cidades-novas inglesas
Fonte: Cavaco, 2009.
RACIONALIDADE SUBURBANAS 103
espaço urbano da modernidade, uma vez que é precisamente nesta altura que
a rutura do espaço urbano enquanto sistema canónico, linear, de forte direc-
cionalidade e hierarquia, é anunciada.
Ora, esta rutura, que ocorre num período de névoa urbanística, com o
princípio da queda do planeamento físico das nossas cidades, e que decorre
essencialmente daquilo a que chamámos um divórcio procedimental entre
regras e modelos, não só representou uma forte ameaça à legibilidade do ur-
bano, como acabou por introduzir precedências determinantes para o desen-
rolar do processo suburbano daí em diante e, por conseguinte, para a
legibilidade e inteligibilidade das formas da cidade contemporânea.
Figura 6.5 Intervalos Eruditos de Exceção: Almada Poente decorrente do Plano Integrado de Almada
dos anos 70. De iniciativa pública, esta área esteve ligada a programas de urbanização
comparticipada e habitação social que decorreram da nacionalização do solo por
processos de expropriação. O plano baseou-se num processo generativo referenciado em
conceitos como pattern language e timeless qualities
Fonte: Cavaco, 2009.
108 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Figura 6.7 Operações Urbanísticas de Grande Escala: a área das Colinas do Cruzeiro em Odivelas é um
loteamento de iniciativa privada que ilustra um novo paradigma em termos de urbanização
associado a novas lógicas territoriais de cariz topológico e a novas estratégias empresarias
em termos de marketing urbano. Denota a emergência de modelos híbridos de urbanização
determinados pela infraestruturação rodoviária do território que, em termos processuais,
derivam da aplicação de mecanismos de contratualização entre o sector público e o sector
privado, no âmbito de novas lógicas de planeamento e gestão municipal
Fonte: Cavaco, 2009.
Conclusões
Referências bibliográficas
Ascher, F. (2001), Los Nuevos Principios del Urbanismo. El fin de las ciudades non está a
la orden del día, Madrid, Alianza Editorial, 2004. 93pp. ISBN:84-206-4198-7
Cavaco, C. (2006), “The Rule and the Model. Tracking New Methods and Tools to
Analyze and Design the Zwischenstadt” in Wang, C., Sheng, Q., Sezer.C. ed.
International Forum on Urbanism 2006. Modernization & Regionalism.
Re-Inventing the Urban Identity, Vol I. Delf: IFoU. 83-89pp,
ISBN: 90-78658-01-0
Cavaco, C. (2009), Formas de Habitat Suburbano. Tipologias e Modelos Residenciais na
Área Metropolitana de Lisboa, Tese de Doutoramento, Lisboa, FAUTL.
Cavaco, C. (2009), “The Rule and the Model. An approach to the contemporary
urban form” in The New Urban Question — Urbanism beyond Neo-Liberalism,
4th Conference of International Forum on Urbanism, Delft, 2009, pp. 899-908.
Choay, F., (1980), La Règle et le Modèle. Sur la Théorie de l’Architecture et de
l’Urbanisme, 2ª Ed. Paris, Éditions Seuil, 1996, 379pp. ISBN: 2-02-030027-3
Corboz, A. (1983), “El Territorio como Palimpsesto” in Ramos, A.M. (ed.). Lo
Urbano en 20 Autores Contemporáneos, Barcelona, Ediciones UPC, 2004,
25-34pp. ISBN: 84-8301-752-0.
Domingues, A. (coord) (2006), Cidade e Democracia. 30 Anos de Transformação Urbana
em Portugal. Lisboa: Argumentum, pp.372-377, ISBN: 972-8479-39-8.
Font, A. (ed.) (2004), L’Explosió de la Ciutat. Morfologies, mirades i mocions sobre las
transformacions territorials recents en les regions urbanes de L’Europa Meridional,
Barcelona, COAC, 424pp, ISBN: 84-96185-18-4.
George, P., Morgado. S. (2004), “Área Metropolitana de Lisboa 1970-2001. De la
monopolaridad a da matricialidad emergente” in Font, A. (ed.) (2004).
L’Explosió de la Ciutat. Morfologies, mirades i mocions sobre las transformacions
territorials recents en les regions urbanes de L’Europa Meridional, Barcelona:
COAC, pp.60-83, ISBN: 84-96185-18-4.
Graham, S., Marvin, S. (2001), Splintering Urbanism. London, New York, Routledge,
2003, 479pp., ISBN: 0-415-18965-9.
Gregotti, V. (1965), El Territorio de la Arquitectura, Barcelona, Editorial Gustavo Gili,
1972, DL nº B. 42379 — 1972.
Kostof, S. (1991), The City Shaped. Urban Patterns and Meanings through History,
London, Thames & Hudson, 2001, 352pp., ISBN: 0-500-28099-1.
Lynch, K. (1960), A Imagem da Cidade, Lisboa, Edições 70, 1989, 205pp., DL nº26386/89.
Lynch, K. (1981), A Boa Forma da Cidade, Lisboa, Edições 70, 1999, 446pp.,
ISBN: 972-44-1025-0.
Mangin, D. (2004), La Ville Franchisée. Formes et Structures de la Ville Contemporaine.
Paris: Éditions de la Villette, 398pp., ISBN:2-903539-75-8.
RACIONALIDADE SUBURBANAS 113
Oswald, F., Baccini, P. (2003), Netzstadt. Designing the Urban, Basel, Boston, Berlin,
Birkhäuser, 303pp., ISBN: 3-76436-963-9.
Panerai, P., Castex, J., Depaule, J-C. (1975-1997), Formes Urbaines. De L’îlot à la barre,
3ªEd. Marseille, Éditions Parenthèses, Collection Eupalinos, 2004, 196pp.,
ISBN:2-86364-602-8.
Portas, N. (1969), A Cidade como Arquitectura, 2ªEd., Lisboa, Livros Horizonte, 2007,
212pp. ISBN: 972-24-1463-1.
Portas, N., Domingues, Á., Cabral, J. (2003), Políticas Urbanas. Estratégias, Tendências
e Oportunidades, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2003, 295pp.,
ISBN: 972-31-1061-X.
Portas, N., Domingues, Á., Cabral, (2011), J. Políticas Urbanas II. Transformações,
regulações e projectos, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2011.
Rowe, C., Koetter, F. (1978), Collage City, Cambridge and London, The MIT Press,
186pp., ISBN: 0-262-68042-4/978-0-262-68042-4.
Shane, D.G. (2005), Recombinant Urbanism. Conceptual Modeling in Architecure, Urban
Design and the City Theory, Wiley- Academy, 2005, 344pp.,
ISBN: 0-470-09331-5.
Sieverts, T. (1997), Cities Without Cities. An Interpretation of the Zwischenstadt,
London & New York, Spon Press, 2003, 187pp., ISBN: 0-415-27260-2.
Souza Lôbo, M. (1993), Planos de Urbanização. A Época de Duarte Pacheco, 2ª Ed.,
Porto, FAUP Publicações, 1995, 305 pp., ISBN: 972-99483-14-0.
Stanilov, K., Scheer, B.C. (2004), Suburban Form. An International Perspective, London
& New York, Routledge, 2004, 270pp., ISBN: 0-415-31476-3.
Tenedório, J.A. (2003), Atlas da Área Metropolitana de Lisboa, Lisboa, AML, 2003,
321pp., ISBN: 972-98655-7-4.
Vidler, A. (1976), “The Third Typology” in Nesbitt, K. ed. (1996), Theorizing a New
Agenda for Architecture. An Anthology of Architecture Theory 1965-1995, New
York, Princeton Architectural Press, pp.258-263, ISBN:1-56898-054-X.
Viganò, P. (1999), La Città Elementare, Milano, Skira Editores, 1999, 206pp.,
ISBN: 88-8118-642-X.
Capítulo 7
Gabrielle Cifelli
Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual de Campinas.
Bolsista Capes, programa PDEE, doutorado sanduíche, Centro de Estudos Sociais,
Universidade de Coimbra (gcifelli@gmail.com).
Resumo
115
116 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Introdução
ao longo de mais de vinte anos e que, bem ou mal, abriram caminho para sua
apropriação como um centro turístico e cultural, no início dos anos 90, a si-
tuação do centro histórico continuava mais ou menos a mesma do final dos
anos 60 (Sant’anna, 2003 ,p. 45).
O tombamento do Pelourinho pelo IPHAN, em 1984 e o seu reconhe-
cimento pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade em
1985 reiterou a relevância histórica e cultural da localidade, tanto pelo
acervo arquitetônico existente, dotado de edificações do período colonial,
como pelas referências culturais marcada por fortes traços da cultura afro
presente na musicalidade, na religiosidade, na culinária, entre outras ma-
nifestações culturais. Tais aspectos legitiman um estatuto diferencial do
Pelourinho frente a outros centros históricos que não gozam deste reco-
nhecimento, responsável pelo aumento do prestígio nacional e internacio-
n a l d a l o c a l i d a d e , e l e va n d o o s e u t e o r d e a t r a t i v i d a d e . Ta l
reconhecimento, porém, não foi suficiente para alavancar o turismo, pois o
centro histórico de Salvador, incluindo o Pelourinho, carecia de in-
fra-estrutura e de equipamentos comerciais e de serviços destinados a su-
prir as necessidades de seus visitantes. Além disso, a deterioração das
edificações e os problemas sociais consistiam em grandes entraves para a
execução de qualquer plano de promoção turística.
As experiências exitosas de desenvolvimento do turismo em cidades e
centros históricos demonstraram que a atividade constitui-se numa das prin-
cipais formas de transformação da cultura em commodites, pois se aproveita
da promoção das particularidades e singularidades do local para a auferição
do que Harvey (2005), denomina renda monopolista, referente à possibilida-
de dos atores sociais aumentarem seu fluxo de renda a partir da comercializa-
ção de produtos e eventos culturais que sejam únicos e irreplicáveis (Harvey,
2005, p. 221-222).
A mercantilização de bens materiais e das manifestações da cultura
imaterial pode acarretar em ganhos econômicos significativos para os seus
promotores, a partir da promoção estratégica do capital simbólico existente
no território em que se encontram, elevando seu poder de atração.
Tal plano, segundo suas diretrizes e práticas, serviu como uma impor-
tante estratégia de marketing urbano e governamental, destinada a promo-
ção da imagem de um governo empreendedor voltado à promoção da Bahia
como um dos principais destinos turísticos do Brasil, não apenas pelas suas
belezas naturais, mas também pela valorização dos seus atributos históricos e
culturais. A promoção mercadológica desta imagem positiva de Salvador e
da própria Bahia seria sintetizada pelo Pelourinho revitalizado. Este tipo de
intervenção se enquadra dentro das perspectivas de um planejamento urba-
no de viés culturalista em que a cultura assume um papel central nas estraté-
gias de valorização e desenvolvimento local.
Para Arantes (2000, p. 31), “rentabilidade e patrimônio arquitetôni-
co-cultural se dão as mãos” neste processo de revalorização urbana — sem-
pre, evidentemente, em nome de um alegado civismo (como contestar?...).
Dessa forma, tal imagem positiva projetada pelo desenvolvimento de tais
projetos ratificam um certo consenso público quanto às necessidades e a rele-
vância cultural e econômica de tais intervenções, omitindo, muitas vezes,
seus aspectos contraditórios.
Esta ênfase na valorização cultural, por meio da estetização patrimoni-
al, resulta na tentativa de criação de uma “falsa” identidade coletiva pautada
na promoção de imagens estilizadas de um patrimônio, valorizado enquanto
forma, mas desqualificado enquanto fonte de significação social. Tal projeto
deu um novo sentido aos territórios do patrimônio, como o Pelourinho, trans-
formado num centro de consumo e lazer destinado a uma pequena parcela da
população local e de turistas que podem usufruir de suas benesses. Este mo-
delo de planejamento urbano destinado, principalmente, ao redesenvolvi-
mento das áreas centrais degradadas apresenta, em diversas cidades do
mundo onde foi implantado, contradições sociais expressivas, pois acarreta
num processo de exclusão sócio-espacial induzido pelo poder público e pe-
las forças do mercado, já que os usos seletivos do patrimônio refuncionali-
zado pelo turismo e do território são socialmente excludentes. Se em alguns
casos a expulsão da população se dá pela introdução dos novos usos às edi-
ficações, inacessíveis para a população de baixa renda, em outros, ocorre
pela valorização econômica do solo urbano, processo que leva a população
mais pobre a vender seus imóveis e migrar para as áreas periféricas da cida-
de (Paes Luchiari, 2005, p. 46-47).
No caso do Pelourinho, o processo foi mais rápido e mais grave, pois im-
plicou na expulsão da população de baixa renda das edificações mediante de-
sapropriações e o pagamento de indenizações módicas a seus habitantes.
Como a ocupação das edificações ocorreu de forma irregular e a grande maio-
ria da população residente não tinha o registro de propriedade dos imóveis
ocupados, o governo do Estado utilizou-se de tal estratégia para induzir a
uma verdadeira “limpeza social” do Pelourinho, acelerando o processo de re-
funcionalização turística do patrimônio cultural e a conseqüente valorização
124 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
imobiliária das edificações. Com isso, o uso residencial desta porção do terri-
tório foi preterido em detrimento de novas formas de uso que assegurassem
uma maior rentabilidade econômica aos seus investidores por meio da dina-
mização do turismo.
Um dos principais ônus sociais resultantes da intervenção refere-se ao
esvaziamento populacional, como pode ser observado a partir dos dados do
censo do IBGE. Enquanto Salvador ganhava 1,4 milhões de habitantes entre
1970- 2000, apenas 66,8 mil pessoas moravam nos bairros do Centro histórico
de Salvador e seu entorno (2,8% dos soteropolitanos). O CHS, especificamen-
te, era habitado por 13,5 mil pessoas.3 A população local do centro histórico,
outrora expulsa de seu território de referência, passou a ocupar ruínas e casa-
rões abandonados localizados nos arredores do centro histórico. No início
dos anos 2000 observa-se um retorno de parte desta população e um novo en-
cortiçamento das edificações de interesse histórico.
O fluxo turístico intenso na metade da década de 1990 reduziu-se
gradativamente nos anos seguintes, resultando numa perspectiva de ga-
nhos econômicos aquém do esperado. Segundo Sant’Anna (2003), apenas
20% do público freqüentador do Pelourinho era formada por turistas no
início dos anos 2000, sendo a maioria dos frequentadores compostos pelos
próprios habitantes da cidade. Além disso, a semelhança das mercadorias
comercializadas nas lojas de artesanato e souvenirs inibiu a rentabilidade
esperada para este tipo de empreendimento, levando muitos comerciantes
a fecharem suas portas e abrindo espaço para o retorno do comércio infor-
mal para o Pelourinho, fonte de sustento de parte considerável da popula-
ção local.
Tal processo implicou numa redução significativa dos investimentos
públicos e privados no Pelourinho nos últimos anos, resultando no retorno
dos problemas sociais que nas décadas anteriores estigmatizavam a localida-
de e seus habitantes. O insucesso do plano acarretou numa revisão das ações
efetuadas e na tentativa, por parte do poder público, de reverter a dinâmica
de usos do centro histórico por meio de uma política de desenvolvimento do
uso habitacional do centro histórico destinado à população de renda média e
baixa. Tal programa teve início em 1999 e, ainda em fase de execução, não lo-
grou os objetivos propostos. Enquanto isso, a população local retorna ao cen-
tro histórico e adjacências na tentativa de restabelecer os laços sociais,
econômicos e simbólicos com seu território de referência. Esta mudança do
perfil dos moradores e usuários do centro histórico acarreta numa alteração
das características sócio-econômicas do Pelourinho.
Considerações parciais
Referências bibliográficas
Arantes, Otília B. F. (2000), “Uma Estratégia Fatal: A cultura nas novas gestões
urbanas”, Otília Arantes & Carlos Vainer & Ermínia Maricato, A Cidade do
Pensamento Único: desmanchando consenso, Petrópolis, Vozes.
Bahia, Governo do Estado, Secretaria da Cultura; Escritório de Referência do
Centro Antigo; UNESCO, Centro Antigo de Salvador: Plano de Reabilitação
Participativo, Escritório de Referência do Centro Antigo, UNESCO. —
Salvador, Secretaria de Cultura, Fundação Pedro Calmon.
Harvey, David (2005), A Produção Capitalista do Espaço, São Paulo, Annablume.
Leite, Rogério Proença (2004), Contra-usos da cidade: lugares e espaço público na
experiência urbana contemporânea, Campinas, Ed. Unicamp.
Leite, Rogerio Proença (2010), “A exaustão das cidades: antienobrecimento e
intervenções urbanas em cidades brasileiras e portuguesas”,. Revista brasileira
de Ciências Sociais, vol 25, n. 72, pp. 73-88.
Paes-Luchiari. Maria Tereza Duarte (2006), “Centros históricos — mercantilização e
territorialidades do patrimônio cultural urbano”, in Geographia, Ano 7,
No 14, pp. 43-57.
Gábor Csanadi
Eötvös Loránd University of Budapest, Faculty of Social Sciences, Centre for Urban
and Regional Research (gcsanadi@tatk.elte.hu)
Adrienne Csizmady
Eötvös Loránd University of Budapest, Faculty of Social Sciences, Centre for Urban
and Regional Research
Gergely Olt
Eötvös Loránd University of Budapest, Faculty of Social Sciences, Centre for Urban
and Regional Research (olt.gergely@gmail.com)
Abstract
The transformation of the inner city society is influenced indirectly by new eco-
nomic and social trends, but also by direct public involvement of the local au-
thority and the state, like urban rehabilitation and social housing policies.
The indirect processes can be labelled as the new economy of the inner city
(Hutton, 2004), when landscapes of urban decay are turned into fashionable ur-
ban milieus (Pratt, 2009). Embeddedness (Granovetter, 1985) of cultural and
creative industries seems to be an important feature of this development, there-
fore some urban areas can become increasingly attractive for real estate inves-
tors, and end up in gentrification and displacement of the artistic communities
as well (Zukin, 1987; Indergaard, 2009). Conflicts caused by gentrification like
displacement and affordability crisis (Newman and Wyly, 2006) can be ampli-
fied by conflicts of different lifestyles (Eldridge, 2010). Expansion of higher ed-
ucation is also connected to these trends (Smith, 2005).
Urban politics recognised these effects and integrated culture in rehabilitation
processes, to reinvent the image of the city. Displacement induced by market
forces is complemented by rehabilitation policies of local and central govern-
ments, like mixed income neighbourhoods in the UK (Lees, 2008; Manzi, et al.,
2010) and in the Netherlands (Bolt and van Kempen, 2010). These policies re-
ceived strong criticism, since displaced low status residents can end up in new
segregated low status areas, producing a “splintering” urban landscape (Buzar
et al., 2007).
The authors examine these questions of western urban debates on the example
of Budapest with careful attention to the effects of cultural and institutional
129
130 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Introduction
The inner city of Budapest lacked renovation for a long time, and quality of
the housing stock declined rapidly. About ten years ago a new scene of hospi-
tality venues and cultural projects started in one of these inner city areas. Af-
ter a short drawback in the middle of the 2000s, a new boom of night time
economy and tourism can be observed here, followed by a series of design
shops and creative enterprises. This could also be interpreted as a new cul-
tural cluster (Mommaas, 2004) or a “signifying new economy precinct”
(Hutton, 2004, p.94). On the other hand it is also a scene of rehabilitation and
gentrification. In my research project I conducted field research and inter-
views with agents of the creative/hospitality fields and local residents as well.
In this paper I try to outline the connections between social changes in
the inner city of Budapest, and the emergence of creative industries and cul-
tural and hospitality venues. In the first part of the paper I shortly review the
recent literature of these topics. Links between gentrification and creative mi-
lieus were discussed before, and there are recent findings exploring these
processes. The second part of the article is about the trends of the real estate
market and social changes in the inner city of Budapest, after the political
changes in 1989. In this section I mostly refer to findings of several research
THE SOCIAL EFFECTS OF URBAN REHABILITATION, 131
The reasons for gentrification are still being debated. Some researchers think
the roots of this process lie in the accumulation of capital and the revaluation
of real estate in the city centre. Some of these areas became less valuable dur-
ing deindustrialisation and because of other reasons of disinvestment, and an
ever-widening gap emerged between the market value and potential value of
central locations. This gap between market and potential value can be nar-
rowed by the residential renewal of city centres or, in other words, by gentrifi-
cation (Smith, 1979, 1987). With this approach, if the movement of capital is
explained, all the other processes become explainable.
Other research suggests that cultural changes are the most important
factors in gentrification. These assume that more highly educated mid-
dle-class consumers have demands that they can satisfy only in the city centre
and not in the characterless malls and hypermarkets of the suburbs (Ley,
1980, 1986).
Some explanations attribute a central role to the changes in proportions
among employment sectors. The ever-increasing importance of the tertiary
sector has resulted in growing number of professional occupations in the in-
ner city followed by changing allocation of the workforce (Hamnett, 1991). In
this sense changing occupational class structure is the reason of changing ur-
ban population and the process is explained by the increasing demand of the
middleclass professionals for housing in the inner city (Hamnett, 2003).
Gentrification is a global process, and in many cases it resembles colo-
nial-era enclaves that were segregated from other areas of the city. Because of
the expansion of multinational companies, their employees have become res-
idents in various cities all around the globe with the same demands for con-
sumption and amenities that are typical in western city centres. A new service
class has emerged in these cities to satisfy their needs (Sassen, 2000). These
processes are forming neighbourhoods in city centres worldwide, making
them like the colonial enclaves of global capitalism (Atkinson & Bridge,
2005).
As soon as living in the city centre becomes fashionable and venture
capital sees an opportunity, newcomers become people that buy things sim-
ply because they can (Lees, 2003). It can also change the use of space in the
1 The research was sponsored partly within the framework of the EEA/Norwegian
132 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
area and make the signs of social problems vanish by force. The result is an
empty, boring, nonliving urban space.
Critical researchers, based on recent and older findings, strongly deny
any positive effects of gentrification and social mixing. Their concerns about
social mixing as a government agenda are summarized, for example, at Lees
(2008). Displacement of the poor and vulnerable residents further away from
the city centre was the main concern about gentrification (Slater, 2006). How-
ever, some empirical evidence about displacement may show this issue less
significant (Freeman, 2005; Vigdor, 2002). Alternative explanations of gentri-
fication argue that changing occupational class structure causes replacement
of the decreasing working class by professional middle class workers, rather
than displacement (Hamnett, 2003).
Still, the affordability crisis in high demand, growing economy areas
like many parts of New York, seems to harm the interests of the least affluent
residents the most (Newman and Wyly, 2006).
Changes in the typical use of these inner city areas can lead to other con-
flicts, like the emergence and externalities of the night time economy, namely
the constant noise of these venues, and the changing character of these areas.
This could be another reason for leaving the area, but it is a less likely option
for poor residents. Inner city accommodation can also be constraint rather
than choice, since many social housing units can be found in inner city areas.
This kind of commercial gentrification raises the question “who belongs to
the city at night” (Eldridge, 2010).
The connection and conflict of creative scenes with real estate develop-
ment and gentrification and commercialisation was described by Zukin
(1987) earlier and by Indergaard (2009) and Pratt (2009) recently.
According to the examples shown by Hutton (2004) new economy en-
terprises can flourish in inner city areas and change the production and
consumption patterns of the cities in general. This branch of production is
mostly contains creative intellectual products (from computer
programmes to alternative marketing campaigns) and non standardised
material products (like fashion, other design products, and art pieces).
These industries can operate in the inner city environment, while also
change it, and amenities and clustering of different types of production
create a new urban landscape. These changes can also generate social con-
flicts as high demand results in growing rents and new use of space that
can force out former residents.
One example of these new economy areas, Hoxton is analised more
closely by Pratt (2009). He found that the new fashionable image of the area
was also responsible for growing rents and the original creative production
neighbourhood turned to be high price residential and consumption area. On
the other hand the nearby social housing of Hackney did not gain much from
these changes.
THE SOCIAL EFFECTS OF URBAN REHABILITATION, 133
In this paper, “central Budapest” refers to parts of districts VI, VII, VIII and IX
(all of them on the Pest side of the city), where most of the residential dwell-
ings were constructed at the end of the nineteenth and beginning of the twen-
tieth century and show the traditional architectural design of Pest.
Unfortunately, there are no up-to-date census data available that clearly
show signs of gentrification. Nonetheless, there are neighbourhoods where
signs of the process can be detected. In addition, we are able to use the results
of our representative survey2 conducted in a specific part of the city centre
(the inner part of District VII, or Erzsébetváros — our research area).
First we examined the history of the area of possible gentrification in
Budapest. This part of the city was almost untouched until the collapse of
communism. The most important features of the built environment were
2 We conducted a representative survey concerning social changes in the inner part of Dis-
trict VII (Erzsébetváros). The total sample size was 1,585.
134 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
3 In Budapest it was only District IX (Ferencváros) that enforced its right and prohibited
the sale of real estate in a renovation area. Because of this and in spite of strong pressure
by the residents, 7,300 dwellings remained banned from sale.
THE SOCIAL EFFECTS OF URBAN REHABILITATION, 135
VI 5 51 31 43 269 219 73
VII 44 54 49 204 434 222 273
VIII 84 247 199 512 259 315 331
IX 504 653 625 987 1008 663 1065
twelve in District VII, eight in District VIII and six in District IX. In addition,
the demolished dwellings were often not those in the worst condition or
without bathrooms.
The demolitions were followed by construction: Between 2002 and 2007
ten to sixteen times more dwellings were built in districts VI and VII than in
the previous years. There was a smaller but also significant change in District
IX, where this number is 3.5, and in District VIII, where the number of newly
built dwellings was 2.5 times more than before. Most of these flats were built
for sale.4
The developers, most of whom were Spanish and Israeli, were looking
for sites to build large projects sometimes containing several hundred units,
and the results of these combined with the former appearance and use of the
street were often very disparate. In addition, whereas the re-
turn-on-investment calculations of real-estate developers and demand were
already pushing the market towards smaller dwellings,5 the average size of
the flats in this area was even smaller (47 to 59 m²). Researchers and analysts
dealing with this topic had had concerns for a long time about the long-term
negative effects caused by small flats (see for example Nelson, 2010). The
common interests of developers with less capital and buyers with limited
spending capacity contributed to the lack of change in the trends.
Developers expected rising social status of the area, so the prices of the
large new projects in the Old Jewish Quarter of Pest were set higher than for old
dwellings in the area. The developers believed that their future clients would
also have faith in the rising real-estate prices in the quarter, and so there would
be customers looking for luxury in a run-down neighbourhood in the city centre.
Because of the growth of developer interest since 2003, there was a rise in
real-estate value in central Pest, which constitutes a good basis for gentrification.
All of the changes (demolitions, building projects and renovation ef-
forts) set the real-estate market in motion, and in the six years between 2002
4 Developer interest was highest in District VIII (30 projects), followed by District IX (20
buildings), District VII (19 project) and District VI (10 projects).
5 In 2000 the average flat size was 102 m², in 2004 it was 71 m² and in 2007 it was only 54 m².
136 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
and 2008 there were rising real-estate prices in central Pest. Large-scale reno-
vation projects or simply expectations about them raised prices most signifi-
cantly. In the Old Jewish Quarter, the rise has been about 40% and it reflects
the temporary success of demolition. There are many signs showing that this
rise in real-estate value will be short lived. On the one hand, these prices were
calculated on an overheated real-estate market. On the other hand, the qual-
ity of buildings is often insufficient.
Quite a few university students or young employees (often moving to
the city from the countryside) chose a first flat to start their independent lives
in this area. The third reason was the availability of cheap low-cost new
dwellings, known as “small flats” (26 to 35 m²). The long-term negative ef-
fects of this process can already be seen, and the lack of larger flats will be a
problem in the future. On the other hand, it could be a short-term advantage
for students because they can find accommodation available in the city centre
close to their university. This process could lead to studentification of the city
centre (Smith, 2005).
The new trend of events was strongly influenced by the crisis. The de-
mand generated by foreigners decreased in the city centre last year (for the
newly built flats in districts VII-IX). In District VIII, real-estate prices rose
more slowly than building costs, so it was not worth starting new projects.
Finally, developers were planning smaller, 100- to 150-unit projects instead of
200- to 400-unit ones, so they were also looking for smaller building sites. (Ur-
ban planners find this change a good sign, although they still claim that even
these smaller projects are too large for an area that is already densely popu-
lated.) The economic crisis had a negative effect on the market (and, naturally,
developers recognised this as a problem); on the other hand, it at least tempo-
rarily stopped demolition.
After examining the real-estate market, we discuss the situation of resi-
dents in this area. Our main question is whether there is a certain part of the
city that can be called a gentrified neighbourhood. In general, according to
statistical data and other sources of data (e.g., surveys, local council data-
bases, case studies, etc.), there is currently no large-scale, radical gentrifica-
tion in our research area. However, at the same time the slowdown of
population loss is a clear sign of the beginning of gentrification. During the
1990s, the population loss was significant: by 2001 in districts VI and VII the
fall was about 25.8 to 22.6%, in District IX 19.7% and in District VIII 11.5%. Af-
ter 2001, the decline became slower and the data from 2007 show only a few
percent (2 to 5%) loss (whereas the average in Budapest was 4.6%).
The changes in other dimensions are characteristic as well. For example,
the age structure is shifting to the younger strata. Although the population of
this part of the city is still older than in others, the rate of the elderly decreased
moderately within the research area, and strongly outside the Boulevard.
Among young adults, the share of twenty- to thirty-year-olds is exceptionally
THE SOCIAL EFFECTS OF URBAN REHABILITATION, 137
high around Mikszáth Square and along Ráday Street. Both areas were sub-
ject to public spatial renovation and this could indicate the success of these
initiatives from a certain aspect. These facts could be a sign of gentrification
or studentification (Smith, 2005). The Jewish Quarter, with its central location
and relatively low prices, is very similar to these places. The cheaper flats
close to Semmelweis University could also be places for students. Currently it
is typical for some students to share a large flat in this neighbourhood be-
tween Illés Street and Korányi Street. The thirty- to forty-year-old group is
more typical in the central part of District IX (Ferencváros) because it was
only here that the sizes of flats were suitable for raising children. In the fol-
lowing section I take a closer look of social changes in our research area.
The case of District VII is the most interesting in respect of population change
because the natural decrease was higher here than in other parts of the city
centre, but the new residents moving in counterbalanced this, so the popula-
tion loss was only 3.3%. The first sign of gentrification is visible here: the pop-
ulation of the run-down area is still decreasing, but it is balanced by the new
occupants. Our survey data show that during recent (i.e., pre-economic cri-
sis) years the influx was substantial. These new residents are most likely pio-
neer gentrifiers, like students looking for cheap and still central
accommodation, artists and other workers of the new economy. High number
of hospitality venues and artistic and design projects can be signs of commer-
cial gentrification in the area.
However, according to the changes in population dynamics we can only
presume gentrification because these data cannot show the social status
changes in the area. Nonetheless, according to our 2010 survey, in the last
eight years the proportion of more highly educated residents grew further
and the share of less-educated residents decreased in the Jewish Quarter. It is
138 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Moving in between %
1916-1969 025.6
1970-1989 022.1
1990-2001 019.9
2002-2005 009.1
2006-2010 023.3
Total 100.0
N 1,541
Source: survey, 2010. Note: Those who were born in the area are categorized according to date of birth.
Table 8.4 Level of education in the survey area, 2001 and 2010
even more important that the proportion of higher-status groups among the
newcomers is growing and the share of low-status strata is decreasing. The
two sets of data shown in Tables 3 and 4 together show that the population
change accelerated in the last period and that the status of newcomers is
higher than that of the population moving out. This could be a first sign of
gentrification because in gentrification literature one of the most important
status indicators is the proportion of residents with a higher education (see
Atkinson, 2000; Seo, 2002).
The new development projects play important parts in these changes.
Usually developers paid compensation for the former residents in local au-
thority housing units, and these residents presumably left the area or the city
as well. By demolition and new building projects real estate investment
started to change the whole character of the neighbourhood.
However we do not have statistical data about conversions to
touristic purposes of the older owner occupied housing or about long term
market renters of these older and cheaper dwellings because many of these
contracts are not official to avoid taxation. Maybe population change was
even.
THE SOCIAL EFFECTS OF URBAN REHABILITATION, 139
One of the most important new real estate projects in our research area,
Gozsdu Court, was finished almost exactly when the first wave of the crisis
occurred. The sale of overpriced flats and retail spaces progressed slowly. Be-
cause of the typical size and the central location of the dwellings, it is easy to
imagine the clients the developer anticipated: foreigners or a segment of
younger clients that found it important to have a new, “clean” and above all
safe flat. (These notions often came up in our interviews, especially with peo-
ple moving to Budapest from the countryside.) They wanted to see the neigh-
bourhood as a place where the run-down environment (which is due to be
cleaned up) is compensated for by the advantages of the central location. This
decaying but still fascinating area with buildings from the late nineteenth and
early twentieth century was attractive and repulsive at the same time. The
prices of the flats were almost twice those of others in a similar neighbour-
hood. As a result, most of the new owners (foreigners and locals) bought their
flats as speculators, many flats remained unsold and therefore only a few
people actually moved in.
After a year of silence and neglect of the area, alternative usage of these
premises emerged. The developer tried to advertise the retail spaces for cul-
tural venues (like art galleries) but in the first round this campaign was not as
successful as predicted. In 2010 new hospitality and artistic venues emerged
and in 2011 a weekly art and design fair started up. The dwellings became
touristic apartments, working with lower prices than hotels, but still giving
more privacy than hostles. In the summer of 2011 we could observe that res-
taurants and pubs created bigger traffic in the passage and some artistic and
design projects seem to be well established here, but owners of these places
still think there is much more potential in the Gozsdu Court, since only one
side of the passage is really inhabited, the other is still empty. As we can see on
this example, the usual arrival pattern of pioneer artists changed, and they
could occupy the space after a failed luxury investment.
When the whole so called “ruin bar” scene started to emerge about 10
years ago it was a really different neighbourhood, mostly a residential area
for lower status and middle class residents. For a detailed description of the
history of the “ruin bars” see Lugosi et al. (2008; 2010). As mentioned in the
second part of the paper, local authority did not privatise all dwellings for
their occupants here, and renovation was out of the question as well, since
local authority planned demolition of the old housing stock to open space
for new avenue. For the first part of the 2000s the rehabilitation process of
the local authority meant emptying of the old houses, and these empty bad
condition buildings waited for investors. In the meantime pub owners who
recently started their enterprise in the area had the chance to rent these
places from the local authority for the summer period. These open air inner
city pubs were a great novelty and started to put the forgotten area on the
mental map of residents of Budapest and tourists as well. Because of
140 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
institutional insecurities these open air bars often changed places and
names. In the election year of 2006 there was a major drawback in this scene,
since local authority did not cooperate with pub owners anymore, mostly
because they wanted to gather the votes of residents protesting for peace
and for quiet. Another reason for this turn could be that the real estate mar-
ket started to rise, and local authority sold buildings for investors who com-
pensated local authority tenants in cash. During this process (according to
the ongoing trial against the mayor and his associates in crime) a massive
fraudulence of the local authority assets occurred. The sell out of buildings
by the authority also meant that demolition of the 19th century housing stock
could start. Since the neighbourhood is the buffer zone of the UNESCO
world heritage site Andrássy Avenue, civil organisations, and grassroots
groups protested against the demolition. Later UNESCO officials visited
the area and the Office of Cultural Heritage gave protection to many houses
threatened by demolition. Some developers got into a situation where they
have permission for demolition but a marble sign of the heritage protection
is also on the building. This institutional uncertainty and the crash of the
real estate market left the investors little choice. Many buildings stood there
empty for ages, and some developers let these places for rent, mostly for
“ruin bars”. The emergence of the hospitality scene got a new boost, when
Hungarian government liberated strict local bureaucratic control of open-
ing pubs and other enterprises. In 2010 and 2011 so many new places
opened, that it is even hard to count for protesting local residents, and this
process did not stop. The area became a must see attraction in tourists
guides as well, and many flats became hostels, or in new buildings apart-
ment for short term stay. The conflict about the noise still goes on and many
believe there is no simple legislative way to solve it.
Creative and artistic projects are often connected to these hospitality
venues. The question is how original artistic production and commercial use
of these spaces can coexist. For a detailed typology of these clusters of pro-
duction and consumption see Mommaas (2004). The artistic milieu emerged
somewhat spontaneously in our research area (like graffiti on the wall of a
ruin pub). Many of our interviewees referred on the artistic and cultural heri-
tage of the Old Jewish Quarter. It is also true, that some artistic enterprises
could start their projects for nominal fees in empty local authority owned
buildings, and in some cases without any proper contract. The pubs within
these artistic micro-clusters should be responsible for the financial basis of
these projects. This makes a strong connection between hospitality venues,
tourism and creative production. On the other hand, many of these artistic
projects depend on state funding for arts as well. Some start up projects be-
come successful abroad as well, like an installation made for the Buring Man
festival. The often unclear status of these venues and buildings also holds a
lot of uncertainty in these projects. After the local authority elections in 2010,
THE SOCIAL EFFECTS OF URBAN REHABILITATION, 141
one of these artistic communities had to leave the area, because of the lack of
cooperation by the local authority.
There are other types of creative and design producers as well, with
more capital. They are trying to present themselves as a cluster of entrepre-
neurs changing the reputation of the area, making it a cultural and design
quarter. They often complain about the “quality of people” living in the
neighbourhood, and that they expected a much bigger growth in social status
in the last decade.
Independent, small scale design and artistic shops opened up recently
because of the new popularity of the neighbourhood. Still many retail spaces
stay empty, and some shop owners lamented about irrationally high rents.
The result is a very mixed area, with cheap shops for stockings right beside a
fancy design shop followed by a small grocery shop next to squatted art
gallery.
In our research area, urban politics and rehabilitation unwillingly as-
sisted the emergence of a new cultural and hospitality quarter followed by
creative and design shops. The neglected, run-down, empty housing stock
became sites of intermediate use (Louekari, 2006). Later because of the global
crisis and uncertainty of institutions (and corruption) intermediate use
emerged in privately owned buildings waiting for demolition.
Conclusions
6 Developers were able to defend their interests not only at the local level, but also at higher
levels.
142 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
After the economic crisis we can see touristic conversions of these new
developments in our research area while many retail spaces remained empty
or become the scene of an intermediate art project. The abandoned buildings
owned by real estate investors (waiting for a better turn of the market or judi-
cial decision), became new hospitality venues. While bad quality of the local
authority housing stock and also owner occupied (privatised) old buildings
is still a huge problem. In 2010 night time economy in the area shifted gear
and caused great conflicts in the densely populated inner city residential
area.
As we can see in the Budapest example the emergence of the new cul-
tural scenes highly depends on real estate markets similarly to other cities
mentioned in this paper. However the Budapest case is also somewhat differ-
ent because of smaller demand for inner city housing. Still, rehabilitation ef-
forts of the local authority resulted displacement of many residents, even if
the planned high status developments were not realised yet. This part of the
process is one of the most concerning effects of inner city changes in Buda-
pest. In some cases, moving away from their neighbourhood is desirable for
these residents as well. Because of the constant uncertainty in the renovation
process and the fear that they have to leave their home, many of the residents
postponed refurbishments and now they feel trapped in their own social
housing. It seems impossible to sell or trade these flats. Many residents only
want to move into a less insecure situation (Csanádi et al., 2007). For pol-
icy-makers, the “de-concentration of poverty” often seems to be good idea in
the form of exporting it to other parts of the city, or to the countryside. The
well-known policy is to buy cheap houses or apartments in the outskirts or in
poor villages. The result is new concentration in less-developed areas (de-
scribed in Ladányi, 2008; Csanádi et al., 2010). On the other hand, these social
groups are the most vulnerable and powerless ones in the articulation of their
interests, so the question of price remains: do these social groups have to pay
for renovation that was carried out to benefit higher-status social groups?
Moving to the city centre can be an alternative for a particular segment
of the middle class. They can find a better quality of life there, and force the re-
novation of the neighbourhood. Also new creative enterprises could bring
economic upgrading and new investment after decades of disinvestment.
Nonetheless segregation — sometimes in other parts of the city or in the
countryside — can become stronger, and the falling living standards of the lo-
wer status groups could be a high price to pay for a more vibrant and liveable
city centre.
References
Rosa Macedo
FAUP(arq.rosamacedo@gmail.com)
Gonçalo M. Furtado C. L.
FAUP (gmfcl@hotmail.com)
Abstract
147
148 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Introdução
1.
dividem-se, por um lado os que entendiam a sua demolição uma vez que
“obstaculizan la formación de la ciudad moderna [por outro lado os que con-
sideravam que se deveria] preservarlos en justa coherencia con una cultura
ilustrada que hace del historicismo un valor moderno”.4
Do século XIX até ao século XX, as estratégias urbanas que se iriam des-
tacar, compreendiam planos de articulação e hierarquia do território, geomé-
tricos, influenciados pelo conhecimento dos engenheiros e militares,
confiantes na aplicação do conceito de redes urbanas, que se demarcavam
desde a construção territorial à configuração das infra-estruturas. Confirma-
da a impossibilidade de adaptação territorial dos centros antigos face à cida-
de moderna, em 1850 presenciamos à afirmação da postura do Barão
Haussmann (1809-1891) na cidade de Paris, como representativa de modelos
que posteriormente caracterizariam as cidades modernas. O método “Hauss-
manniano”, como designa Françoise Choay,5 iria ser mais tarde considerado
em estratégias urbanas por toda a Europa e fora de seus limites, pela capaci-
dade que este apresentava na sistematização e racionalização da cidade se-
gundo uma estratégia urbana, que sobrepunha ao conjunto edificado
existente, um sistema planimétrico triangular (que permitia a maior extensão
das vias com comércio) que compreendia os conjuntos heterogéneos da cida-
de num mesmo plano global de intervenção; por substituir a muralha medie-
val por um sistema hierarquizado de vias que no limite, conectavam Paris
com as restantes cidades circundantes; e pelo facto de se representar como
um plano capaz de traduzir a modernidade urbana pretendida.6
Dos exemplos que seguiram a sua teoria salientamos, a cidade de Lyon
nos domínios do perfeito Claude-Marius Vaisse (1799-1858); o plano do bur-
gomestre Jules Anspach (1829-1879) para a cidade de Bruxelas; o plano urba-
no de Giuseppe Poggi (1811-19019) para a cidade de Florença; a construção
do Ring de Otto Wagner (1841-1918) para Viena; o plano de ampliação da ci-
dade de Barcelona por Iidefons Cerdá (1815-1876); as grandes obras públicas
e a primeira rede metropolitana de Londres definidas por Joseph Bazalgette
(1819-1891); o plano para a cidade de Colônia de Joseph Stubben (1845-1936);
e o plano urbano para a cidade de Estocolmo de Albert Lindhagen
(1823-1887).
A distinção de contextos urbanos, relativamente ao método aplicado em
Paris, veio permitir que, do conjunto das propostas anteriormente referidas
se destaque, o plano para a cidade de Viena e para a cidade de Barcelona, pelo
simples facto de considerarem o centro antigo das cidades na sua base
11 Ibid.
12 Arquitecto, urbanista, crítico de história, seguidor de C. Boito. Veja-se Giovannoni, Gus-
tavo. Vecchie Citté ed Edilizia Nuova, Milano: CittàStudi, 1995.
13 Arquitecto e historiador de arte austríaco, criador de reflexões e estratégias muito em
volta do urbanismo. Veja-se o livro, “Construção das Cidades Segundo seus Princípios
Artísticos”.
14 “Carta de Veneza”, Cadernos de Sóciomuseologia, nº15, 1999, p. 105. Disponível em:
http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/viewFi-
le/334/243, acedido 2010.
15 Pavia, Rosario, “El miedo al crecimiento urbano”, in Ramos, Ángel(dir.) Lo Urbano,Bar-
celona: Edicions UCP, 2004, p.112.
OS NOVOS LAYERS URBANOS 153
16 Mancuso, Franco. Las experiencias del Zoning, Barcelona: [s.e.], 1980, pp. 16-17.
17 Benevolo, Leonardo, op. cit., p.216.
18 Cf. Pavia Rosario, Op.cit.,p.113.
19 Pavia Rosario, Op.cit.,p.107.
154 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
29 C.f. Richards, James, “Elementos velhos e novos no coração da cidade”, in op. cit. . Ro-
gers, Ernesto Nathan. SERT, Josep. TYRWHITT, Jaqueline, pp. 60-66.
30 “Carta de Veneza”
31 Aguiar, José. Cor e cidade histórica. Porto: FAUP publicações, 2002, p.85.
32 Rossi, Aldo. A arquitectura da cidade, Lisboa: Cosmos, 2001.
33 Ibid.
34 Capitel, Antón. Op.Cit., p.44.
35 C.f Rossi, Aldo. “Qué hacer com las viejas ciudades?”, in Rossi, Aldo, Para una arquitec-
tura de tendencia. Escritos: 1956-1972. Barcelona: Gustavo Gili, 1977, pp. 227-230.
OS NOVOS LAYERS URBANOS 157
2. A cidade contemporânea.
Bolonha. Destaca-se do autor o livro: “La Storia Verde DI Bologna: Strutture, Forme E
Immagini DI Orti, Giardini E Corti”.
44 Ibid (pp.18,19).
45 Disponível em: http://5cidade.files.wordpress.com/2008/03/cartaeuropeiadopatrimoni-
oarquitectonico.pdf, acesso 2010.
46 Carta Europeia do Património Arquitectónico, (Cit in: Aguiar, José et.al., Guia Técnico de
Reabilitação Habitacional. Instituto Nacional de Habitação & Laboratório Nacional de Engenha-
ria Civil, Lisboa, 2006, p.89.
OS NOVOS LAYERS URBANOS 159
52 Ibid.
OS NOVOS LAYERS URBANOS 161
função de nós próprios (…) para acrescentar ao passado algo de presente e al-
gumas possibilidades do futuro”.53
Relativamente à actualidade, interessa também não esquecer que cada
vez mais se projecta, numa condição global, para uma população flutuante
que acentua a necessidade de debate com o repensar dos mecanismos, mode-
los interventivos, estratégias que contrariem a fragmentação (urban sprawl),
a diluição dos limites (rurubano) ou ainda a perda de identidade (não luga-
res); dinâmicas, políticas, decretos de lei, determinados para cidades do país.
Neste sentido será também importante levar o zoom de reflexão a território
nacional, analisando o potencial de relação entre cidades, centro e periferia,
assim como a própria condição das cidades de diferentes dimensões, actual-
mente abandonadas a uma mera lógica de competição urbana. O necessário
renascimento da nossa urbanidade e qualidade de vida global futura depen-
de da capacidade que tivermos em permitir a continuidade deste debate ao
longo das próximas décadas.
Referências bibliográficas
Resumo
163
164 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Introdução
Do Plano Diretor
longe. Foi discutido tudo isso. Todos esses pontos que atinjam o exigido pela
Constituição. Aos poucos, com o decorrer dos anos, isso vá ocorrer, porque já
foi elaborado.”
Já Lins (2010), professora da UFAL e entrevistada para a p pesquisa, en-
tende que, de acordo com sua análise da lei, a função é atingida de forma par-
cial. Para Pereira (2010), nem o PDM nem qualquer outro plano atingirá a
função social da propriedade, advertindo que o plano diretor deve somente
estabelecer os critérios para que a propriedade cumpra a função social. Se-
gundo esta última, faltou o PDM estabelecer tais critérios de maneira clara.
Enfim, para Santos (2010), professor e detentor de cargos na área social/edu-
cação/união dde moradias em Lagoas, também entrevistado para a pesquisa,
o PDM conseguirá atingir a função social se ocorrer desapropriações de gran-
des latifúndios para construir moradias onde as pessoas possam morar e
trabalhar.
Sugestões
Conclusões
O PDM é uma política pública, ou seja, uma atividade do Estado com o fim de
melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, por meio de uma norma que bus-
ca a organização do crescimento da cidade, adaptando as peculiaridades ao
texto da lei para atender aos interesses coletivos. Dessa forma, a criação do
PDM necessitou de um estudo prévio das informações básicas necessárias
para a sua elaboração, que foi o Documento de Informações Básicas (DIB), au-
xiliando o PDM a determinar, com certa exatidão, a melhor forma de cresci-
mento da cidade, determinando as diretrizes a serem seguidas pela
propriedade para atingir o interesse coletivo e, consequentemente, sua fun-
ção social. Portanto, o PDM não define o que seria a função social, e sim apre-
senta os critérios que as propriedades obedecerão para alcançá-la.
Para fazer valer a função social determinada em lei, o PDM tem instru-
mentos que se concretizam pela intervenção Estatal na propriedade, a fim de
que ela se coadune com os interesses coletivos. Isso demonstra a preocupação
do Estado com o cumprimento da função social da propriedade. O PDM é
norma programática, pois as matérias tratadas por ele devem ser regulamen-
tadas para gerar efeitos, e de eficácia limitada, o que torna seu conteúdo não
IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DIRETOR NA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE URBANA 171
Referências bibliográficas
Machado, Paulo Affonso Leme (2010), Direito Ambiental Brasileiro, 18ª. Ed., São
Paulo, Malheiros.
Mattos, Liana Portilho (2003), Efetividade da Função Social da Propriedade Urbana à
Luz do Estatuto da Cidade, 1ª Ed. Rio de Janeiro, Temas e Idéias.
Mendes, Gilmar Ferreira, Coelho, Inocêncio Mártires e Branco, Paulo Gustavo
Gonet (2009), Curso de Direito Constitucional, 4ª. Ed. rev. e atual., São Paulo,
Saraiva.
Moraes, José Diniz de (1999), A Função Social da Propriedade e a Constituição Federal
de 1988, São Paulo, Malheiros.
Oliveira, Regis Fernandes (2005), “Comentários ao Estatuto da Cidade”, 2ª Ed. São
Paulo, Revista dos Tribunais.
Pacífico, Andrea M. C. Pacheco (2006), “O Valor da Propriedade no Estado
Moderno e Atual”, Revista da APG, São Paulo, PUC/SP, v. 32, p. 25-38.
Paulo, Vicente e Alexandrino, Marcelo (2007), Direito Constitucional Descomplicado,
Rio de Janeiro, Impetrus.
Pereira, Luis Portella (2003), A Função Social da Propriedade Urbana, Porto Alegre,
Síntese.
Rabahie, Marina Mariani de Macedo (1991), “Função Social da Propriedade”, in
Temas de Direito Urbanístico II, São Paulo, Revista dos Tribunais.
Silva, José Afonso da (2006), Direito Urbanístico Brasileiro, 4ª Ed. São Paulo,
Malheiros.
Sundfeld, Carlos Ari (2002), “O Estatuto da Cidade e suas Diretrizes Gerais”, in
Estatuto da Cidade, Comentários a Lei Federal 10.257/01, São Paulo, Malheiros.
Capítulo 11
Urbanism in Gurgaon
Saurabh Tewari
Assistant Professor, Amity School of Architecture and Planning, AUUP Lucknow
Campus Uttar Pradesh INDIA (thinksaurabh@gmail.com, stewari1@lko.amity.edu)
Abstract
The paper talks about the urban interfaces in the post-millennial city of
Gurgaon. It observes the phenomenon of Deterritorialization in Gurgaon by
defining the users or the residents in the city based on their ethnicity, financial
capacity, purchasing power, media exposure and mobility in the city. It looks
into the space-time matrix to define user categories, to identify the interfaces
which are often seen but never acknowledged.
Introduction
173
174 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
interactions within its users. There is absence of true public places where inter-
action of different classes can occur, to lead to a true democratic and equal so-
ciety, which India claims to through its constitution. Nevertheless, the
individuals from different classes interact at different instances, the research
started with a belief or hypothesis that “there can be a public interface which can
act after identifying different user-groups and appropriate functions.”
The foundation of the arguments here are deeply inspired from the
works of modern thinker, Arjun Appadurai. His commentaries over modern-
ization, migration and globalization, which can be realistically, visualized in
a city like Gurgaon, which is fighting a battle between its own razed but hid-
den embedded tradition, a conflict of a present physicality versus a common
past. According to Appadurai, Deterritorialization is one of the central forces
of the modern world. It brings populations into the lower class sectors and
spaces of relatively wealthy societies, while societies creating exaggerated
and intensified sense of criticism or attachment to politics in home state.
Deterritorialization, primarily a concept given by Giles Deleuze and Felix
Guattari, in their work Anti Opedius, in a minimal sense is the
re-appropriation of the established relationships and beliefs with a new terri-
tory. The ‘territory’ here is spatial as well as temporal. It is also continuously
taking references from the earlier established norms.
URBANISM IN GURGAON 175
The city of Gurgaon can be seen as a part of the above discussed phenomenon
of deterritoalizaion, where various social classes have migrated from various
territories and painted this blank canvas with their imagery. Every single mi-
grant has created his micro-environment under the macro-environment of
Gurgaon. This macro-environment has only been able to survive due to the
presence of a macro-culture of this new city. This macro-culture can be under-
stood as a regional-cosmopolitan in a sense as it absorbs people and cultures
from various parts of the country. Not just formal citizens who officially
bought the properties in the rich enclaves, but people from neighbouring
countries too, with weak borders have infiltrated and settled in this city and
have started acting as the city-dwellers performing within the rules and regu-
lations of the city.
The macro-culture of the city is superficially inspired by the develop-
ment of South-east Asian cities like Kuala Lumpur and Singapore. It propa-
gates a ‘consumption’ culture through which it boldly invites the population
around to participate in a consumption process. Then, it is succeeded by a
process of commodification, where various cultures and resources are com-
mercialized. If we look back at the political history of Gurgaon, this com-
modification was a result of ‘open door’ policy of the state government to
compete with the developments in the adjacent National Capital Region. The
urban pressures, like densification on the capital region, have made this city
to commodify through newer means/tools of development. The value of this
commodification depends on its ‘alien’or say the ‘Western/Modern’content.
The consumption culture when mixed with individual local and mi-
grated imageries creates an absolutely new breed of culture. Be it the Bangla
dwellers of Chakkarpur or the Tamil Techies working in an IT company,
when they paint their imagery over an existing settlement, a new type of ar-
chitecture is evolved. If we look at the minute pattern of this imagery, one
can easily distinguish its influence on architecture and lifestyle. Evidently,
this proves that architecture of the city is not untouched by this
macro-culture too.
176 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
The idea of Formal and Informal, rich and poor, has always emphasized on a
dichotomy and separation. It also leads to a dogmatic perception of the soci-
ety. Alienating views in two poles may not present a clear picture. The subjec-
tivity has also to be brought in. Looking things in temporal and spatial
dimensions can bring in more clarity in the perspective. Hence, in this re-
search, the general perspective of looking things in Black and White like on a
pattern of ownership is disposed for the time being, and a new perspective of
looking things in space-time matrix is employed. If not ten, a permutation al-
lows/defines three categories, which becomes the three classes of the user or
‘stakeholder’ in the region:
This category is the people who are dynamic with space and dynamic with
time. This category is deterritorialized from its original space and after their
arrival in a new space, there is an attempt of resettling (reterritorializing) the
memories. Through the course, they try to recreate the original/native space
by first capturing its nature and later the essence. In a post-millennial context
like Gurgaon they are using materials from the dynamic age of production.
These materials or the media they are exposed to, contribute to the evolution
or modernizing their originally practiced rituals/traditions. Therefore, they
are dynamic with time too as they accept an assimilation and are adaptive in
nature. They are forward looking people and are not hesitant to accept a
‘change’. They live in a state of temporariness with time, and space as well
and seek permanence in change.
Example: The population based in Gurgaon and working in its Multi Na-
tional Companies (MNCs) or Business Process Outsourcing Offices (BPOs)
but are not originally from this city, can be classified as constituents of this
category. They are progressive with time and space. They have adapted to the
city conditions and have contributed in its making. But, given an opportunity,
they are willing to change their job and can leave the city. Different ethnicities
within this category include the technologically educated people from vari-
ous parts of India, who are working in/for IT companies and BPOs.
There is another set of people who see Gurgaon as their ‘new’ home and
have joined the city to be associated for its ‘branded’ development. This set of
people is from the adjacent national capital. The people who have found a new
job in the city or have retired after spending their working life. There is also a set,
who came back after spending their life in foreign countries expecting the city to
offer them a balance between the original sense of ‘home’ and the left behind
modern ‘living’. Through the time, they adjust to the city’s actuality.
URBANISM IN GURGAON 177
The people in this category are highly influenced by the memories and associ-
ation they carry from their native base. The difference between the first cate-
gory and this class is their capability of changing with time. This capability is
manufactured by resources, opportunities, power and finance. Ironically,
this capability is overpowered by the associations and memories they carry
with themselves. As, this new space is unable to offer them an association as
the previous one. They live in a state of temporariness with space. After being
overpowered by the nostalgia, they become static and restrict themselves to
change with time.
urban-villages from the city. This category is not contributing to the city’s de-
velopment formally, but they contribute in creating a balance by cutting
down the cost of living index acting as affordable service providers and
cheap human resource. The same story is with Chhattisgarhi migrants who are
working here as construction workers, and give services to the building con-
struction process through their manpower at nominal prices. Also, the Nepa-
lese immigrants which are often seen working at different tandoori
restaurants provide an unlimited man-supply to the retail food and catering
industry.
The people belonging to this classification were not influenced by the phe-
nomenon of Deterritorialization as they were never dislocated spatially. The
only dislocation within them or that they have seen, is the change of time.
The whole character of this category is changed by an increase/decrease in a
capability like money, local political power etc. A sudden change in avail-
ability of opportunities can change this capability. The whole progress is
governed by the progress in time and the innovations/opportunity with the
development.
One more landscape can be seen, specifically for the context of Gurgaon, one
more ‘scape’ can be introduced, f. Kinetiscape. It is the capability of a person
or a group to move within a defined domain, here Gurgaon city. The options
available to physically move within a city, like a motor or a rickshaw. It is also
the quality of navigation including the footpath or the road. This particular
capacity aspect is to examine the accessibility issues within a human con-
struct know as city.
Table 11.1
Three User 1 2 3
Categories vs. Dynamic with space, Dynamic with Space, Static with Space,
Appadurai's Dynamic with Time Static with time Dynamic with Time
Scapes (MNC Pros) (Nepalis,Bangladeshis, (Original inhabitants
Biharis) ofChakkarpur)
Design Input Creating a space which Giving them an equal This class seen here is a
has highly defined their opportunity, which they can mediator between the city
character. manage. The 'Phad / the and the 'newcomers'.
Hence, a BPO. labourer-mason pick-up A property dealer's office.
spot'.
Design Input Cinema theatre, performing Video Seasonal social spaces like
areas like in a cultural Cinemas. a Ramlila Ground.
center.
Finanscape Quiet active, high Living in Gurgaon make They are spending to coup
onlinezation. them spend each of their with modernity.
pennies.
Kinetiscape With a high Technoscape Low, absence of public Most of the informal means
they have a high Capability transports worsens their of transport are owned by
with means of condition. this category. They include
transportation like cars. city-buses and 3-wheelers.
Design Input Space for their capabilities, The Rickshaw Stand. Bus Stand.
a Parking.
URBANISM IN GURGAON 181
The functions discussed in the above table are elaborated to explain their role
in acting as interfaces.
a. Ethnoscape
1. BPO: The BPO has become Gurgaon’s image to the world. BPO was the
function which made Gurgaon’s buildings different from the others. The
architecture which a BPO demanded was interpreted by various archi-
tects, and most of them resulted in creating a ‘type’ for its function. Even-
tually, a ‘Closed Glass-Box’ has become a BPO’s type and its image also.
182 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
2. Adda (Phad): The large numbers of inhabitants of the category2 are in-
volved in construction work and areas near the site, Chakkarpur,
houses them its logical to respond to the derived ethnoscape of this
category.
3. Property Dealer Office: Selling off properties has been taken as a major
occupation by the original natives of Gurgaon. This phenomenon can be
traced back to the time when the Private Developers collaborated with
these natives to create a real-estate market in Gurgaon. The local social
knowledge and a familiarity to the working system made them perfect
‘mediators / introducers’ between.
b. Technoscape
c. Mediascape
1. Internet Café: The social networks have been created within the virtual
space. The internet café provides an opportunity to the populace to in-
teract and share.
2. Vocational Institute: Despite being a large scale construction site, there
is no formal training institute for the construction workers in the city.
There has been no centralization or any organization assistance. A voca-
tional centre with various training / skill-improving programs can add
to their value.
3. Chaupal: Incorporating a ‘Chaupal’ comes under the idea of recreating
the traditional medium of interaction and communication. The Cate-
gory 3 is well aware of this function.
URBANISM IN GURGAON 183
d. Ideoscape
1. Parking: The absence of any formal transport system has compelled this
category to equip their Kinetiscape with motor cars. Within a small pe-
riod of 5 Years Gurgaon has started feeling a tough situation of parking
the cars in any public and residential spaces. The parking facilities for
any public function prove inadequate and create problems at a larger
level of influence.
2. Rickshaw Stand: A huge chunk of male population is involved in rick-
shaw-riding in city. They are surviving due to absence of any formal
transport system. Moreover, Rickshaws can always be used for cove-
ring smaller distances.
3. Bus Stand: Incorporating a Bus Stand is a part of the larger idea ‘Gurga-
on with a Public Transport System’.
184 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Conclusion
References
Nayar, Pramod (2006), Reading Culture: Theory, Praxis and Politics, Sage Publications
Papadakis, Dr. Andreas (1984), “Leon Krier: Houses, Palaces and Design”,
Architecture Design Profile.
Rowe, Colin ( ), Collage City, MIT Press.
Toffler, Alvin (1990), Powershift: Knowledge, Wealth, and Power at the Edge of the 21st
Century, Bantam Books, New York.
Tewari Saurabh (2007), Informal in Formal, AsiaLink AsiaUrbs, Emerging South Asian
Urban Design Practices and Paradigms.
Glossary
A outra cidade
Resumo
Introdução
187
188 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
1 Górki, Maksim. A Mãe. Tradução de Shura Victoronovna. Editora Círculo do Livro S.A.
São Paulo. P. 5.
2 Polanyi, Karl. A Grande Transformação: as Origens de Nossa Época. Tradução de Fanny
Wrabel. Editora Campus. Rio de Janeiro, 2000. P. 51.
3 Campos, Raymundo. Estudos de História Moderna e Contemporânea. Atual Editora
Ltda. São Paulo, 1998. P. 126.
4 Campos, Raymundo. Loc. Cit.
A OUTRA CIDADE 189
Tendo por foco esta última característica citada, cumpre ressaltar que as
sociedades do século XVIII não eram urbanas. Suas relações econômicas e
suas estruturas sociais estavam intimamente relacionadas à terra.
Contudo, num processo que se inicia já no século XV, a partir das gran-
des navegações e do descobrimento da América, houve um gradual processo
de estruturação da sociedade européia ocidental em direção ao modo de pro-
dução capitalista, o qual, posteriormente, seria expandido à quase totalidade
do globo terrestre, vez que, com a expansão colonial, a Europa exerceu a cha-
mada “colonialidade do poder”.5
Dizer que a sociedade se estrutura sobre o modo de produção capitalis-
ta, significa, entre outras afirmações, dizer que a sociedade passa a se desen-
volver sobre “precondições [que] ocorreram no seio da sociedade feudal...”6
Segundo Aquino et alli, “dentre essas precondições da Revolução
Industrial, a acumulação de capitais e a liberação da mão-de-obra constituem
as mais importantes, pois representam dois aspectos fundamentais do siste-
ma capitalista: o capital e o trabalho.”7
Nessa esteira, dentre as diversas transformações que decorreram dessa
nova configuração econômico-social sobre a qual se estruturava a sociedade,
a necessidade de acumulação de capital e de fornecimento de matéria-prima
e mão-de-obra à nascente indústria inglesa, gerou a situação em que, “no se-
tor agrícola, a operação [acumulação de capitais] ligou-se ao cercamento dos
campos em virtude do qual a burguesia aumentou suas rendas e passou a
controlar gradativamente um dos setores de produção econômica: a terra.”8
Esse fenômeno gerou o conseqüente despovoamento dos campos, a de-
sarticulação da população e o êxodo às nascentes cidades industriais, geran-
do graves problemas sociais, abrangendo todos os setores tangentes às
a estória já foi contada inúmeras vezes: como a expansão dos mercados, a pre-
sença do carvão e do ferro, assim como de um clima úmido propício à indústria
do algodão, a multidão de pessoas despojadas pelos novos cercamentos do sé-
culo dezoito, a existência de instituições livres, a invenção das máquinas e ou-
tras causas interagiram de forma tal a ocasionar a Revolução Industrial.9
Nesse período, foi ainda o progresso na sua escala mais grandiosa, que acarre-
tou uma devastação sem precedentes nas moradias do povo comum. Antes que
o progresso tivesse ido suficientemente longe, os trabalhadores já se amontoa-
vam em novos locais de desolação, as assim chamadas cidades industriais da
Inglaterra; a gente do campo se desumanizava em habitantes de favelas; a famí-
lia estava no caminho da perdição e grandes áreas do país desapareciam rapi-
damente sob montes de escória e refugos vomitados pelos” 10 moinhos
satânicos...
Michel Foucault afirma que, no século XIX, formou-se “um certo saber do ho-
mem, da individualidade, do indivíduo normal ou anormal, dentro ou fora
da regra, saber este que, na verdade, nasceu das práticas sociais, das práticas
sociais do controle e da vigilância.”14
Para o autor, “saberes sujeitados”,15 “saber das pessoas (e que não e de
modo algum um saber comum, um bom senso, mas, ao contrário, um saber
particular, um saber local regional...)”16 foram suplantados por saberes erudi-
tos, pretensos discursos da verdade e que se impuseram como mecanismos
de exercício disciplinar do poder.
Dessa forma, práticas políticas, baseadas nos discursos do poder das
Ciências Médicas, da Higiene, do Urbanismo ou mesmo do Direito, justifica-
ram, através de um discurso de verdade, a configuração de políticas públicas
no mundo ocidental, do que se pode ter como exemplo, no Brasil, as reformas
de Pereira Passos no início do século XX.17
1987. In: Penalva, Angela Moulin Simões Santos; Motta, Marly Silva da. O “bota-abaixo”
revisitado: o Executivo municipal e as reformas urbanas no Rio de Janeiro (1903-2003).
Revista Rio de Janeiro, nº 10 , maio-agosto, 2003. In: http://www.forumrio.uerj.br/docu-
mentos/revista_10/10-Angela-Marly.pdf. Consulta realizada em 7 de julho de 2010.
18 O Direito à Moradia passou a fazer parte do já citado rol dos direitos sociais no Brasil, so-
mente a partir da Emenda Constitucional 26, de 14 de fevereiro de 2000. Embora antes já
fossem localizadas expressões da proteção do referido direito na Carta Magna, há que se
observar que a sua entrada no rol do artigo 6º tem a força de alçá-lo à condição de cláusula
pétrea constitucional, recebendo o tratamento privilegiado do artigo 60, parágrafo 4º da
Constituição.
19 “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana; (...)” BRASIL. Constituição
da República Federativa do Brasil, 1988.
20 Brevemente, informa-se que o Direito Civil Constitucional é um movimento teórico de
análise do Direito Civil surgido na Itália — a partir dos estudos, dentre outros, do profes-
sor Pietro Perlingieri — e que é eivado pela chamada “descodificação”, entendida esta
não como uma perda do fundamento do ordenamento civilista, mas sim como a perda de
A OUTRA CIDADE 193
passam a dever mitigar direitos até então considerados absolutos, como o Di-
reito de Propriedade, os quais encontraram limites constitucionais à sua con-
cessão e ao seu exercício.
Baseado nesse novo aspecto, vê-se possível avançar contra um “senso
comum” histórico de organização do espaço urbano, que procura privilegiar
os detentores do capital em detrimento dos que destinam, a esse espaço, ver-
dadeira função social.
Entretanto, embora o ordenamento já aponte saídas hermenêuticas
para os novos valores constitucionais trazidos pelo legislador originário, a
questão da habitação está intimamente relacionada às políticas públicas refe-
rentes à sua efetivação, que estejam de acordo com os anseios sociais, aos an-
seios dos destinatários das próprias políticas.21
Com isso, veremos, ainda neste estudo, um caso-referência, no qual se
apresenta a organização social frente à ausência do poder público na garantia
do Direito à Moradia e no desempenho das funções sociais da cidade, bem
como a necessidade de se analisarem especificidades no desempenho das di-
ferentes políticas estatais.
Antes, contudo, vejamos um conceito de Emancipação Social, que será
fundamental à análise proposta.
sua centralidade, sendo entendido como aquele em que “o papel unificador do sistema,
tanto nos seus aspectos mais tradicionalmente civilísticos quanto naqueles de relevância
publicista, é desempenhado de maneira cada vez mais incisiva pelo Texto
Constitucional.
21 No que tange as políticas de habitação no espaço urbano, inseridas no contexto da Políti-
ca Urbano, tem-se o seguinte: “Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executa-
da pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes.” *grifos nossos+. BRASIL. Constituição da República Fede-
rativa do Brasil, 1988.
22 Mészáros, Istvan. Filosofia, Ideologia e Ciência Social: Ensaios de Negação e Afirmação.
Tradução: Ester Vaisman. Editorial Boitempo. P. 157-168.
23 Mészáros, Istvan. op. cit. P. 158.
194 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Marx critica o fato de que as mesmas teorias que defendem os direitos do ho-
mem também defendem a “alienabilidade universal e posse exclusiva”,25
afirmando que a solução para essa contradição somente pode se dar no terre-
no da prática social, através da extinção da posse exclusiva.
Para tanto, “Marx formula sua estratégia de transformação social a par-
tir do interesse do conjunto da sociedade”,26 através da “emancipação huma-
na universal”,27 descrevendo as condições de liberação dos indivíduos
esmagados em suas capacidades pela voracidade do capital, instituidor de
classes e gerador de dominação de minorias sobre maiorias desprovidas de
posses e propriedades.
A visão de Marx, amplamente influenciada pelo contexto
pós-Revolução Industrial, momento em que a desregulamentação dos direi-
tos trabalhistas, bem como dos demais direitos sociais era uma realidade uni-
versal, é tão radical quanto as disparidades sociais que ele enxergava e para as
quais pretendia trazer alternativas eficazes.
Assim sendo, ele cria seu modelo tendente à extinção da sociedade de
classes e, portanto da sociedade capitalista mesmo, distinguindo, segundo
Mészáros, três maneiras de aplicação dos direitos humanos no contexto do
desenvolvimento social:
(1) sob as condições da sociedade capitalista, o apelo aos direitos humanos en-
volve a rejeição dos interesses particulares dominantes e a defesa da liberdade
pessoal e da autoridade individual, em oposição às forças de desumanização e
de reificação ou de dominação material crescentemente mais destrutivas;
(3) em uma fase mais adiantada da sociedade comunista. (...), a sociedade ob-
tém, de cada um, de acordo com sua habilidade e dá a cada um de acordo
com suas necessidades. A necessidade de aplicação de um padrão igual não
existe mais, uma vez que o desenvolvimento completo de um indivíduo de
modo algum interfere na auto-realização dos outros como indivíduos
verdadeiros. (...)
Segundo Maria da Glória Gohn, dois motivos foram determinantes para que
os movimentos sociais urbanos tenham passado a se tornar, a partir dos anos
1.970, objeto central de pesquisa de cientistas sociais:
28 Gohn, Maria da Glória. Movimentos Sociais e Lutas pela Moradia. Edições Loyola. P. 33.
196 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Conclusão
Referências bibliográficas
Elli Alessandro
consultant indépendant(ales.elli@hotmail.it)
Abstract
203
204 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Introduction
différents groupes sociaux au sein de l’espace urbaine), par la forme des tra-
cés (étude du plan géométrique de la ville), par la forme des tissus urbains (in-
terrelations entre espaces vides et pleins, forme du parcellaire…), ou encore
les approches privilégiant la dimension environnementale (répartition des
nuisances, ambiances urbaines, approches sensibles...).
D’une manière générale, l’étude des morphologies urbaines repré-
sente un enjeu majeur pour le développement durable. Car ce cadre réflexif
permet de penser à la fois la façon dont la société s’approprie et occupe
l’espace, le fonctionnement global de la ville, et la manière dont celle-ci uti-
lise, valorise, et partage ses ressources entre ses habitants. Dans cette pers-
pective, une question se pose : quelles sont les morphologies les plus
adaptées pour répondre de manière systémique à ces divers enjeux, et qui
permettraient in fine d’envisager un développement urbain durable? Ou au-
trement dit, quelle(s) morphologie(s) urbaine(s) pour quelle(s) ville(s) du-
rable(s)? Ainsi il ne s’agit pas de produire des modèles utopiques mais
plutôt de savoir comment la ville d’aujourd’hui, avec ses héritages et ses po-
tentialités, pourrait être transformée et accompagnée vers cet horizon. Pour
répondre de manière constructive à ces questionnements, nous proposons
tout d’abord un état des lieux sur la manière dont la notion de morphologie
urbaine est mobilisée, à la fois de manière théorique pour répondre aux en-
jeux du développement durable, et aussi de manière pratique, à travers la
façon dont ces modèles théoriques pourraient être mis en œuvre. Des expé-
riences déjà conduites peuvent ainsi être mobilisées dans cette perspective.
Enfin, le processus de transformation de la ville sera analysé en interrogeant
les conceptions de l’action territoriale. Les réflexions sur l’implication des
différents acteurs territoriaux dans les processus de coordination, de cons-
truction des représentations de l’avenir de la ville et de son territoire envi-
ronnant, auront donc ici toute leur importance.
Il s’agira donc tout d’abord (partie 1) de faire un état des lieux critique
des recherches sur les morphologies urbaines. Nous interrogerons les princi-
paux modèles morphologiques présentés comme des incarnations possibles
de la ville durable. Ville compacte, ville dense, ville lente, ville creuse... Le foi-
sonnement des propositions nous amènera à la fois à comprendre les implica-
tions de la morphologie urbaine pour l’écologie générale de la ville mais aussi
à nous positionner quant à leur opérabilité. Nous étudierons ensuite (partie
2) quelques expérimentations concrètes, variées par leurs contextes, leurs
échelles d’action, et par les acteurs qu’elles mobilisent. D’une manière parti-
culière, le cas de Marne-la-Vallée nous amènera à comprendre comment les
héritages matériels de la planification étatique pourraient être réutilisés dans
une perspective de durabilité. La réutilisation et l’adaptation sont aussi le mot
d’ordre des quartiers durables, et nous les étudierons dans la mesure où ils
sont souvent mis en avant comme un moyen de transformer la ville. Mais les
idées dont ils sont porteurs peuvent aussi être mises en œuvre sans la
206 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Les débats actuels sur la ville durable semblent en partie nourris par une atti-
tude réactionnaire face à l’urbanisation récente. Pour Clerc, Chalon, Magnin
et Vouillot (2008), le constat est ainsi sans appel : la ville contemporaine est
l’histoire d’un échec. Ils reviennent, disent-ils, sur “cinquante ans d’errance,
dont le médiocre bilan montre qu’il devient urgent de changer le modèle” (2008, p.9).
En large partie, les grands ensembles font partie de ce modèle. Construits
pour résoudre la crise du logement, ils n’ont constitué qu’une étape dans le
parcours résidentiel des classes moyennes qui se sont massivement dirigés
vers la maison individuelle. Les tours et les barres, de plus en plus décriées,
sont devenus des lieux et symboles de la relégation sociale et des quartiers
“difficiles”. Dans le même temps, la fuite des classes moyennes alimenta un
processus de périurbanisation qui finit également par susciter de vives criti-
ques aujourd’hui. Accusé d’être ségrégatif et consommateur d’espaces, ce
type de développement urbain reste néanmoins une tendance forte. Un des
enjeux majeurs serait désormais d’infléchir cette tendance, et d’enrayer ce
processus engagé il y a près de 40 ans.
En conséquence, la ville comme entité finie et délimitée n’existe plus.
Au contraire, elle est discontinue, diffuse, diluée dans un urbain généralisé
(F. Choay). Selon Francis Beaucire (2006, conférence ville compacte, ville dif-
fuse), cette ville diffuse ne se définit pas par le bâti, mais par le mouvement de
ses habitants. Cette interprétation est partagée par l’INSEE, qui définit au-
jourd’hui les aires urbaines non plus seulement par la continuité du bâti, mais
par le mouvement quotidien des individus entre leur domicile et leur lieu de
travail. Toutefois, cette augmentation de la vitesse ne s’est pas nécessairement
traduite par un gain de temps dans les déplacements. En effet, de nombreux
observateurs (Orfeuil, 2008; Fouchier, 2000; Wiel, 2008) ont montré que
l’usage massif de l’automobile s’est plutôt traduit par un gain d’espace, tant
pour les individus que pour les entreprises. Ce “gain d’espace” peut se
QUELLE(S) MORPHOLOGIE(S) URBAINE(S) POUR LA VILLE DURABLE? 207
La ville compacte est censée répondre aux maux dont on accuse la ville dif-
fuse : consommations d’espaces naturels, dépendance à l’automobile dans un
contexte d’incertitude énergétique, ségrégations socio-spatiales, pollution
208 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
et dense, plusieurs chercheurs (Orfeuil, 2008, Héran, 2009) ont aussi mis en
évidence un “effet barbecue” : si les habitants des quartiers très denses se dé-
placent en métro, en vélo ou à pied la semaine, ils ont davantage tendance à
partir en week-end, surtout lorsque leurs revenus leur permettent un mode
de vie aisé. Les déplacements à longue distance qui en résultent sont très
consommateurs d’énergie (notamment lorsqu’ils sont effectués en avion).
Même à revenus équivalents et à situation familiale similaire, il semblerait
qu’on se déplace plus le week-end si on habite un centre dense que si on ha-
bite un quartier pavillonnaire périphérique. Ainsi, vraisemblablement, la
densité demanderait des périodes de décompression, tandis que la présence
d’un jardin ou d’espaces verts à proximité suffirait à satisfaire les demandes
de nature en fin de semaine. La question de la densité, comme corolaire de la
ville compacte, se positionne ainsi au cœur des débats sur les morphologies
durables.
Dans l’imaginaire collectif, la densité est associée aux grands ensem-
bles, composés de barres et de tours, peu à peu médiatisés et stigmatisés pour
leur concentration de difficultés sociales. De ce fait, la densité est aussi as-
sociée au sentiment d’entassement, qui correspond à un état psychologique
de stress. La relation entre les deux termes est difficile à établir pour les psy-
chologues (Fischer, 1990). Au moment où, dans les années 1970, la densité fut
plus vivement critiquée, certains urbanistes montrèrent que les grands en-
sembles et les villes nouvelles étaient moins denses que les centres-villes at-
tractifs et jugés généralement d’une manière positive par les habitants. Mais
la mesure de la densité ne peut se réduire au nombre d’êtres humains au
mètre carré. Chacun appréhende la densité à partir de ses expériences et des
images véhiculées par les médias, lesquels font apparaître certains lieux den-
ses comme insupportables et cauchemardesques ou, tout au contraire, re-
cherchés et désirés. Les avantages immatériels que l’on peut attendre de la
densité, qui tiennent tout d’abord à la multiplication des possibilités
d’interactions sociales (Wiel, 2007, p.122), peuvent dans certains cas perdre
toute vertu. Ainsi, dans les quartiers défavorisés, certains individus sont ten-
tés par un repli sur soi, le voisinage reflétant leur propre sentiment d’échec
(Pan Ké Shon, 2005). Pour reprendre Marc Wiel, l’enjeu se situe autant, sinon
plus, au niveau de “l’agencement urbain” que de la densité. C’est-à-dire au ni-
veau de “la disposition relative des constituants urbains dans leur quantité ou dans
leur qualité.” (idem, p.121). Aujourd’hui, les lieux denses dépourvus de quali-
té urbaine tendent à concentrer la précarité. A l’opposé, ceux disposant de
qualités urbaines recherchées connaitraient un processus de gentrification.
(ibid., p.122). Par ailleurs, on ne peut concevoir une ville en ayant en tête une
densité “idéale” appliquée de manière homogène, car les attentes sont extrê-
mement variées selon les individus.
La notion de densité a fait du chemin ces dernières décennies, tout
comme le modèle de la compacité. Les milieux urbains denses, autrefois
210 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
une entité urbaine peu attractive? Selon Vincent Fouchier (2009), l’idée selon
laquelle le pavillon est le rêve de tous les Français serait une fausse image,
une icône dépassée. Prenant appui sur les prix élevés des logements en
centre-ville, il rappelle qu’il “existe une compétition bien réelle pour vivre au plus
près du centre, pour bénéficier de son animation et de son offre multifonctionnelle”.
Mais le modèle pavillonnaire reste recherché, en témoigne le cas de Rennes
cité plus haut. On observe une mise en tension finalement, entre l’aspiration à
la maison individuelle assortie d’une envie de proximité avec la campagne, et
le besoin de proximité du centre-ville et de ses services. Ce que Luginbühl
(2001) appelle la “demande sociale de paysage”, traduit pour beaucoup par
une demande de nature, prend alors toute son importance. En effet, on ob-
serve depuis plus de dix ans une demande croissante de nature en ville1. Se-
lon une étude menée par le PUCA et le CERTU en 2002, sept Français sur dix
choisiraient aujourd’hui leur lieu de vie en fonction de la présence d’espaces
verts à proximité. Peut-on associer la proximité d’espaces verts et de loisirs et
la proximité des fonctions offertes par les centres?
Le modèle de la ville creuse de Maupu (2006) semble proposer un com-
plément intéressant aux débats entre ville dense et compacte et ville diffuse.
L’approche prône un nouvel agencement des circulations et des lieux. Ni
compacte ni dispersée, la ville creuse dessine autour d’un grand creux de ver-
dure un chapelet de quartiers mixtes, desservis par une boucle de tramway
doublée d’une rocade routière. Elle consommerait peu d’énergie et d’espace,
en offrant des proximités favorables à la marche à pied et au vélo. Si ce mo-
dèle semble idéal pour les villes nouvelles, Maupu pense qu’il pourrait dans
certains cas s’appliquer à l’existant, par exemple à la ville de Cler-
mont-Ferrand, qui pourrait facilement constituer un anneau avec son trans-
port collectif. La force de ce modèle réside dans l’accessibilité offerte à tous les
points de l’agglomération. Afin que le territoire puisse profiter des potentiali-
tés de ce modèle morphologique, il doit prendre la forme d’un anneau, dont
la boucle est le squelette. Chaque ville est ainsi un point au bord des grands
creux du réseau maillé régional. Chaque boucle entoure un beau creux de
verdure; chaque quartier abrite les creux conviviaux des cours, places et jar-
dins; la dalle couvre d’autres creux; chaque volume est un creux… Toutefois,
derrière ce modèle de ville il y a aussi l’idée que la ville soutenable ne pourrait
guère dépasser un seuil de 300 000 habitants. On est donc bien loin des pro-
blèmes soulevés par les énormes agglomérations qui appellent des solutions
(Emelianoff, 2009). Ce modèle de ville creuse paraît dans bien des cas uto-
pique lorsque l’impératif est de composer avec l’existant, et de proposer des
1 A ce sujet : Manola T., Plocque M., Tronquart C., del Rio R., 2009, “Nature en ville et pay-
sages: vers des objets et outils urbains durables?”, Intervention au Séminaire Défis des
villes durables, Universidade Federal de Pernambuco (Programa de Pós-graduação em
Desenvolvimento Urbano y em Geografia), 19 et 20 mars, Recife, 20 p.
212 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
modèle de ville plus durable. Des efforts ponctuels, comme les onze projets
de quartiers dits “durables”, pourraient contribuer à cet objectif.
Les quartiers dits durables sont aujourd’hui une des formes privilégiées de
l’action urbaine dans la perspective d’un développement durable. Ils posent
directement la question de la réutilisation de la ville existante et en particulier
des espaces délaissés ou en friche et questionnent aussi les modes de produc-
tion de la ville (quel acteur, pour quels objectifs, par quels outils et pour quels
résultats).
Aujourd’hui en France comme en Europe, nous trouvons des opéra-
tions qualifiées de “quartiers durables” ou d’“ écoquartiers “dans de nom-
breuses villes. Les acteurs semblent préférer travailler à l’échelle du quartier à
cause de son importance dans la vie urbaine, mais aussi parce qu’ils
s’approprient et appréhendent plus facilement le quartier que l’échelle ur-
baine. Les quartiers dits durables sont le plus souvent portés par des volontés
politiques fortes. Ils croisent de plus en plus des objectifs en matière de quali-
té environnementale avec des mesures qui visent un développement so-
cio-économique équilibré (renforcement des mixités sociale, fonctionnelle ou
intergénérationnelle, de l’emploi local,..). Derrière la dénomination” quartier
durable “nous retrouvons des projets et démarches multiples allant de pro-
jets construits visant la visibilité politique, des objets urbains fétiches, jusqu’à
des initiatives encourageantes qui accueillent des nouveaux modes de vie
plus” durables “. Ces derniers cas s’inspirent pour beaucoup des quartiers
nommés” écovillage “qui datent des années 1960. Est-ce que ces quartiers
permettent réellement de s’approcher de l’idéal de la ville durable? Sous
quelles conditions? Les dits” écovillages “auraient-ils des choses à nous en-
seigner sur le plan de la durabilité et son rapport à la morphologie?
La ZAC de Bonne : une volonté politique forte pour une image territoriale
“durable”
L’un des projets phares de quartiers durables français engagés par des pou-
voirs locaux est la ZAC de Bonne. Ce projet, financé par le programme euro-
péen d’exemplarité en matière de performance énergétique des bâtiments
“CONCERTO”, est aujourd’hui considéré par le MEEDDM comme le
2 A ce sujet : Manola T., Tribout S., Guilly-Castillo Y., Ardila A., 2008, “Les quartiers Dura-
bles en Europe : entre génie de l’environnement et développement urbain durable”,
Intervention au colloque Les défis du développement durable : une réflexion croisée entre Brésil
et France, Sao Paulo et Aguas de Sao Pedro - Brésil, 17-18-19 mars 2008, 27 p.
216 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Certains des projets des quartiers dits durables illustrent la prise en compte
de ce fait. Le quartier Vauban à Fribourg (Allemagne), initié par les habitants
des locaux de l’ancienne caserne qui occupait le site auparavant, représente
un exemple de réalisation d’un projet participatif de développement durable.
Il s’inspire des dits “écovillages” : des initiatives locales d’élaboration de
quartiers dans des espaces urbains et le plus souvent périurbains basés sur
une communauté locale impliquée.
Wilhelmina Gasthuis Terrein à Amsterdam3 est un quartier de 12 ha
construit autour d’un ancien hôpital. Il a été réhabilité à l’initiative des popu-
lations habitant alors le quartier au début des années 1980. Issu d’une forte
mobilisation habitante, afin de lutter contre la démolition du Wilhelmina
Gasthuis Hospital, ce projet s’inscrit dans un parfait contraste avec les deux
précédents, puisqu’il s’agit d’un projet de renouvellement urbain défini et
mené en auto-gestion par ses habitants, en partenariat avec la ville. Le quarti-
er épouse d’un point de vue processuel (légitimation des savoirs vernaculai-
res) et substantiel (durabilité écologique, sociale et économique) les
réflexions menées dans le cadre de la politique de planification urbaine de la
ville d’Amsterdam. Les multiples interventions qui se sont succédées depuis
près d’une trentaine d’années selon la même ligne de conduite (participation
des habitants dans le processus de planification et de gestion, mise en œuvre
des études de faisabilité avec l’aide des groupes de travail locaux, établisse-
ment des arrangements financiers socialement “acceptables”, réhabilitation
écologique des bâtiments existants, mise en avant d’une volonté de promoti-
on des modes de déplacements doux automobiles, soutien des valeurs de so-
lidarité) révèle une approche du projet en tant que processus de construction
territoriale inscrit dans le temps long plutôt que comme une initiative
3 Ce cas est etudié dans le cadre du projet de recherche en cours : Faburel G. (resp scient.),
Manola T., Tribout S. (LAb’URBA-IUP-Paris Est) en collaboration avec Davodeau H., Ge-
isler E. (LAREP-ENSP Versailles), “Les quartiers durables : moyens de saisir la portée
opérationnelle et la faisabilité méthodologique du paysage multisensoriel?” dans le ca-
dre du Programme Interdisciplinaire de Recherche Ville et Environnement (PIRVE) du
CNRS, Financement : PUCA et CNRS (janv. 2009 — déc. 2010) et aussi dans le cadre de la
thèse en cours : Manola T., Paysage urbain multisensoriel comme médiation sensible : entre por-
tée opérationnelle et faisabilité méthodologique. L’épreuve par les quartiers durables, dir. P.
Ingallina et G. Faburel, Institut d’Urbanisme de Paris, Paris Est Créteil Val-de-Marne.
218 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
ponctuelle et achevée une fois les opérations réalisées. Bien que le projet initi-
al date du début des années 1980, et que depuis, de nouveaux immeubles ont
vu le jour de part et d’autre de l’ancien hôpital, la recherche constante de mi-
xité sociale, et fonctionnelle, mais également de cohabitation de morphologi-
es urbaines diverses (petites unités d’habitation, villas urbaines, pavillons
centraux), le soutien des activités culturelles et notamment artistiques mais
aussi de la petite industrie et de l’artisanat, ont permis au quartier de concen-
trer différentes fonctions et infrastructures urbaines et d’assurer le maintien
de la population (départs non motivés par la hausse de loyers notamment).
La réalisation des espaces publics, micro-localisés ou plus centraux, avec
l’implication des populations locales, a permis d’une part de créer des lieux
de sociabilité divers, mais également d’assurer leur appropriation par les ha-
bitants. Certes, il existe des pratiques écologiques sur ce site de recyclage ter-
ritorial, des pratiques qui ressemblent à celles utilisées dans le projet du
quartier dit durable de la ZAC de Bonne : un usage des matériaux aussi natu-
rels et locaux que possible et des énergies renouvelables (même si les installa-
tions sont vétustes), une gestion sélective des déchets ou encore un
éloignement des voitures... Toutefois, cet espace est avant tout un lieu où des
liens plus solidaires se tissent. L’idée de la construction d’un projet sociétal
est au fond de cette opération de réaménagement. Le projet collectif est porté
et clairement exprimé par une association locale, et accompagné par une
charte de valeurs communes. Les décisions de réaménagement se prennent
par les habitants, qui sont également gestionnaires du quartier. Les espaces
collectifs ponctuent une morphologie urbaine insérée dans le tissu alentour.
A travers ces cas d’études, nous avons pu voir comment se traduit l’idée
d’une ville durable à différentes échelles d’action, qu’il s’agisse du repérage
d’atouts structuraux d’une agglomération dans son ensemble, et des actions
pour renforcer ses héritages bénéfiques et contrer les tendances à une ville
diffuse; ou encore à une échelle plus fine d’utiliser les friches urbaines et la
création des quartiers dits “durables” pour agir sur la morphologie de la ville
existante. Mais une morphologie urbaine “durable” ne peut se réaliser sans la
participation des habitants, et l’exemple des quartiers durables, fondés sur
des valeurs collectives portées par les habitants, permet d’entrevoir une autre
manière d’agir. Car c’est surtout la gouvernance qui évolue à travers la ville
durable, et qui implique une autre manière de réaliser la ville et sa morpholo-
gie. Ainsi, il nous reste à comprendre comment ces idées de la ville durable
sont utilisées de manière prospective, notamment dans les documents de pla-
nification à l’échelle d’une agglomération urbaine. Car la mise en œuvre des
morphologies urbaines durables impose nécessairement une forme de gou-
vernance rénovée et adaptée aux nouveaux enjeux territoriaux. Cette mise en
action devrait s’accompagner d’un nouvel outil de planification et
d’aménagement du territoire, capable d’articuler dans le temps et l’espace
toute une série de démarches d’urbanisme et de projets urbains, et
QUELLE(S) MORPHOLOGIE(S) URBAINE(S) POUR LA VILLE DURABLE? 219
L’un des enjeux nouveaux auxquels la planification territoriale doit faire face
pour répondre activement aux impératifs environnementaux est de mettre en
place des partenariats entre territoires et acteurs institutionnels, ainsi
qu’entre projets ponctuels et stratégie globale. Mais, dans un cadre marqué
par un emboitement des territoires, ayant chacun une dynamique, une identi-
té et une gouvernance propres, comment cette planification pourrait-elle ex-
primer une vision acceptée par tous, au moyen et long terme, alors que
l’intérêt général est lui-même revendiqué par de nombreux acteurs aux inté-
rêts divergents? Comment cette vision pourrait-elle garantir la cohérence du
développement urbain?
En Île-de-France, cette priorité demeure fondamentale : le territoire mé-
tropolitain est composé par 1281 municipalités (dont le maire est responsable
de l’urbanisme), une centaine d’intercommunalités (dont le président est gé-
néralement responsable de la planification), mais aussi huit départements
(dont les politiques ont un impact sur le territoire). La planification renvoie
dès lors nécessairement à la gouvernance. Une stratégie métropolitaine effi-
cace repose nécessairement sur une “autorité collective” où chacun doit trou-
ver sa place : il s’agit alors de concevoir une occasion de s’exprimer dans un
processus transparent qui permettrait de partager les priorités entre les acte-
urs. Dans ce contexte, le parti d’aménagement, traduisant la vision descen-
dante d’une légitimité qui s’impose, laisse place à un projet spatial plus
négocié, lui-même porteur de cohérence de politiques sectorielles. La planifi-
cation glisse nettement vers une démarche plus collaborative, plus flexible,
garante d’une mise en œuvre mieux respectée. La planification change, elle
doit devenir intégratrice, vecteur de cohérence territoriale face à des
222 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Bibliographie
Ouvrages
Ascher François (1995), Metapolis ou l’avenir des villes, Odile Jacob, 354 p.
CERTU (2000), La forme des villes, Caractériser l’étalement urbain et réfléchir à de
nouvelles modalités d’action, Lyon, 178 p.
Charmes Eric, Taoufik Souami (2009), Villes rêvées, villes durables?, Gallimard.
Clerc Denis, Chalon Claude, Magnin Gérard, Vouillot Hervé (2008), Pour un nouvel
urbanisme, la ville au cœur du développement durable, Editions Yves Michel,
157 p.
Cuillier Francis (dir.) (2008), Fabriquer la ville aujourd’hui, Les débats sur la ville 7,
Editions Confluences, 187 p.
D’Erm Pascale (2009), Vivre ensemble autrement : écovillages, écoquartiers, habitat
groupé, ed. Les nouvelles utopies, 144 p.
Eleb-Harlé Nicole, Barles Sabine (dir.) (2005), Hydrologie et Paysages urbains en
ville nouvelles, Rapport final pour le Ministère de l’Equipement,
Laboratoires IPRAUS et TMU -UMR 7136
Emelianoff Cyria, Peuportier Bruno et al. (2008), Imaginer une ville durable, Les
carnets de l’Université populaire de l’Eau et du Développement durable,
Conseil général du Val-de-Marne.
Exposition internationale d’architecture et d’urbanisme Emscher-Park. Laboratoire pour le
futur des anciennes régions industrielles, Institut d’Aménagement et
d’Urbanisme de la région Ile-de-France, janvier 2010, http://www.iaurif.org/
Fischer Gustave-Nicolas (1990), Les Domaines de la psychologie sociale. Le champ du
social, Dunod, Paris, 278 p.
L’IBA Emscher Park. Une démarche innovante de réhabilitation industrielle et urbaine,
Agence d’urbanisme pour le développement de l’agglomération lyonnaise,
recherche et prospective 2008, www.urbalyon.org
Luginbühl Yves, La demande sociale de paysage, rapport pour le Conseil national du
paysage, 28 mai 2001. www.ecologie.gouv.fr/IMG/pdf/20010528_2.pdf
Maupu Jean-Louis (2006), La ville creuse pour un urbanisme durable, nouvel
agencement des circulations et des lieux, l’Harmattan.
Orfeuil Jean-Pierre (2008), Une approche laïque de la mobilité, Descartes et Cie, coll.
les urbanités.
224 RECOMPOSING THE URBAN FABRIC
Mémoires et colloques
Articles
Allain Rémy (2005), Par delà le bien et le mal, l’évaluation de la ville compacte, 14 p.,
consultable sur :
http://www.unil.ch/webdav/site/ouvdd/shared/Colloque%202005/Communic
ations/C)%20Mise%20en%20oeuvre/C3/R.%20Allain.pdf.
Emellanoff Cyria (2009), “A quoi servent les éco-quartiers?” in Alternatives
Economiques, Hors-série, La ville autrement, p. 85-87.
Ferrier Jacques (2009), “Peut-on faire des éco-tours” in Alternatives Economiques,
Hors-série, La ville autrement, p.102- 105.
Fouchier Vincent (2009), “Le pavillon n’est pas le rêve de tous” in Alternatives
Economiques, Hors-série, La ville autrement, p. 23-25.
Kermen Pierre (2009), “Gérer la ville durable” in Alternatives Economiques,
Hors-série, La ville autrement, p. 52-54.
Kroll Lucien (2009), “Quelles place pour la nature en ville” in Alternatives
Economiques, Hors-série, La ville autrement, p. 106-108.
Pan Ké Shon Jean-Louis (2005), La représentation des habitants de leur quartier : entre
bien-être et repli, in Economie et Statistique n° 386, p. 3-35.
Paquot Thierry (2009), “Des tour pour quoi faire?” in Alternatives Economiques,
Hors-série, La ville autrement, p. 99-102.
Peissel Gilles (2009), “Des outils pour changer la ville” in Alternatives Economiques,
Hors-série, La ville autrement, p.47-51