Crisma - DES - 2024 - A Vida Públic de Jesus

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Crisma – 04/05/2024 – A vida pública de Jesus

O que foi a vida pública de Jesus?

Na Bíblia, as leituras do Tempo Comum se concentram, em boa parte, na vida


pública de Jesus. Uma etapa de sua trajetória terrena em que os homens puderam
conhecer o Filho do Homem. O Deus que se encarnou e viveu como eles todas as
realidades humanas, exceto o pecado.

Uma escola de humanidade

Antes de conviver com os discípulos, Jesus viveu na maior escola do ordinário da


vida humana: a escola de Nazaré, ou seja, a Sagrada Família. Foi ali que aprendeu
as tradições do seu povo, a responsabilidade do trabalho, como lidar com o
próximo, como rezar e, assim, ia tomando consciência de sua missão.

Jesus, Maria e José não tinham anjos realizando o trabalho deles ou os afazeres
domésticos. Eram eles mesmos a desempenharem essas funções e, nesse
ambiente tão comum e tão íntimo, cresciam nos laços humanos e divinos.

Podemos imaginar Maria fazendo comida e servindo o alimento a José e a Jesus


enquanto trabalhavam. Podemos “viajar no tempo” e imaginar quando se
preparavam para ir às festas (lembrando que o povo judeu é muito festivo.
Diversas são as celebrações durante o ano), quando recebiam visitas em casa,
quando cumpriam os preceitos de sua cultura. Podemos imaginar a oração em
família, a ternura e o amor entre eles! Como devia ser acolhedora, apaixonante e
feliz aquela atmosfera de humanidade!

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Como era a sociedade no tempo de Jesus?

Jesus de Nazaré, ao assumir a natureza humana, compartilhou com o gênero


humano de sua história. Essa foi marcada por aspectos religiosos, políticos e
culturais. Assim, o Eterno entra no tempo em um lugar marcado por conflitos e
turbulências em níveis religiosos e políticos.

O ambiente escolhido foi a antiga Canaã ou Palestina Romana que, na época, vivia
sob a ditadura do Império Romano desde o século I A.C., quando foi invadida pelo
general Pompeu. Esse império oprimia a população por meio de inúmeras
imposições oriundas de diversos impostos, bem como pela cultura da violência,
tornando muitos judeus como escravos e cúmplices de sua corrupção. O império
era auxiliado por um exército bem formado, o que aterrorizava ainda mais a
população. A sua pior ferramenta não era a espada, e sim a crucifixão.

Assim, no tempo de Jesus, a brutalidade fazia parte da vida cotidiana. Esse foi o
lugar geográfico em que nasceu, viveu e morreu Jesus de Nazaré, fazendo-se
participante das esperanças e dos sofrimentos do Seu povo.

Durante a maior parte de Sua vida terrena, Jesus viveu sob o domínio do imperador
Tibério César (14-37 d.C.). As funções das autoridades locais da Palestina
Romana eram distribuídas da seguinte forma: Pôncio Pilatos governava a Judeia;
Herodes Antipas era o tetrarca da Galileia; e seu irmão, Filipe, tetrarca da Itureia.
Os sumos sacerdotes eram Anás e Caifás.

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A existência judaica se caracterizava principalmente pela religião. A presença dos
grupos político-religiosos divergentes entre si era uma realidade proveniente de
conflitos perduráveis entre as autoridades religiosas que compunham a história
de Israel.

Quais foram as correntes religiosas?

No tempo dos Macabeus, por volta do ano 152 A.C., surgiram as correntes
religiosas que perduraram no tempo de Jesus, inclusive, foi neste contexto em que
Ele nasceu.

O que é claro ao nível dos princípios para aqueles que, com Matatias, ‘têm o zelo
pela Lei e sustentam a Aliança’ (1Mc 2,27), é menos claro na prática: a fidelidade à
Lei exige o fixismo absoluto? E se se admite uma evolução possível, até onde se
pode chegar? Aí é que os grupos vão divergir” (c.f. SAULNIER; ROLLAND, 1983, p.
53).

Tais correntes religiosas atuantes no tempo de Jesus são conhecidas como:


Saduceus, Zelotas, Fariseus, Essênios, Herodianos e Movimentos Batistas. Em
síntese, caracterizam-se da seguinte forma:

Saduceus – Centrados no Pentateuco, desprezavam os escritos dos profetas.


Negavam a ressurreição e apoiavam-se numa retribuição imediata e material.
Atuavam também na política;

Zelotas – Conhecidos pela ortodoxia e pelo conservadorismo. Apoiavam-se na Lei


e consideravam o Templo como instituição divina. Acreditavam que o extermínio
dos ímpios tornava iminente a vinda do Messias;

Fariseus – Julgavam alcançar a salvação do povo judeu por meio da vivência da lei
escrita e oral, lei essa que deveria ser aprofundada para lhes proporcionar maior
piedade. Foram os piores adversários de Jesus no campo da doutrina;

Essênios – Caracterizavam-se como um grupo que buscava dedicar-se


inteiramente a Deus e eram rigorosos às regras de pureza. Para eles a santidade de
vida era mais importante dos que os holocaustos. Há indícios de que boa parte
vivia em Qumrã;

Herodianos – Eram os partidários da dinastia de Herodes o magno. Estavam


atentos a qualquer grupo messiânico que se opusesse ao poder Herodiano;

Movimentos Batistas – Conhecidos como seguidores de João Batista e, também,


de Jesus, visto que seus discípulos também batizavam. Compreendiam que a
salvação era para todos.
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O vilarejo de Nazaré no tempo de Jesus

Nazaré é conhecida como a “flor da Galileia”, como afirmou São Jerônimo.


Localizada sobre uma colina a 350 metros em relação ao Mar Mediterrâneo, a
cidade é rodeada por outros montes mais altos. Ao sul da cidade está a planície
de Esdrelon, que fica na parte sul da Baixa Galileia.

O vilarejo de Nazaré era, no tempo de Jesus, um pequeno povoado de não mais de


30.000 metros quadrados (200 metros de comprimento por 150 de largura).

As casas eram compostas geralmente por uma única sala, ligadas a uma gruta
escavada à mão devido à fragilidade das rochas do local. Recentemente foi
encontrada uma casa desse período com vários cômodos.

A cidade se tornou famosa porque o anjo Gabriel anunciou o nascimento de Jesus


neste lugar (cf. Lc 1,27) a uma Virgem chamada Maria, prometida em casamento a
um jovem chamado José (cf. Mt 1,18). Em Nazaré a Santíssima Virgem disse “sim”
ao anúncio do Arcanjo. Foi onde também a Sagrada Família - composta por Jesus,
Maria e José - viveu. Foi ali que Jesus Cristo viveu toda a vida oculta até que desse
início à vida pública.

Os Evangelhos nos fornecem poucas notícias para sabermos os pormenores da


aldeia: Vemos a pouca estima de Natanael pelo povo do vilarejo (cf. Jo 1,46), o
relato na Anunciação (Lc 1,26ss), José que tomou Maria por esposa e a levou para
sua casa (Mt 1,24). Quando retorna do Egito a Sagrada Família volta para Nazaré
(Lc 2,39-51); Jesus depois da cerimônia de entrada na fase adulta aos doze anos
no Templo também retorna para Nazaré com a família, onde ia crescendo em
sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens (cf. Lc 2,52). Adulto,
Cristo vai à Sinagoga e apresenta a realização da profecia de Isaías na Sua própria
pessoa (cf Mt 13,53-58; Mc 6,16; Lc 4,16-3-). Ao iniciar Sua missão publicamente
Ele deixa Nazaré e vai para Cafarnaum (cf Mt 4,13); até a morte foi conhecido
como o “Nazareno” (cf. Jo 19,19), apelido que assinalou os primeiros discípulos
judeus que se tornaram cristãos.

A Nazaré dos relatos do Evangelho, segundo as escavações, está sob a


administração da Custódia dos franciscanos da Terra Santa. O espaço está sob a
Basílica da Anunciação e de São José. Quanto ao precipício relatado no Evangelho
de Lucas (cf. Lc 4,29) não se sabe nada preciso sobre sua posição geográfica. A
Sinagoga antiga poderia estar a uns 300m desses lugares.

Hoje a cidade possui cerca de 71.500 habitantes: 25.000 árabes muçulmanos,


22.500 árabes cristãos e 24.000 hebreus. É a comunidade árabe mais importante
de Israel depois de Jerusalém.

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Vida política e religiosa se fundem na cultura judaica da Palestina
Romana

Ordinariamente, fala-se muito nos milagres que Ele realizou, nas palavras que
pronunciou e nos ensinamentos que deixou. Contudo, se for desconsiderado
contextos mais específicos, como os acadêmicos, pouco interesse é dado para os
aspectos políticos, religiosos e culturais da Palestina, no tempo de Jesus.

Explorar esses aspectos, pelo menos um pouco, nos permite entender melhor a
vida de Jesus como um todo, suas decisões, o que Ele sofreu, a visão de mundo
que Ele e seus conterrâneos tinham, e muito mais.

Os aspectos religiosos

Em primeiro lugar, é necessário mencionar a grande dificuldade em apresentar,


isoladamente, as instituições de Israel. Afinal, toda a existência judaica, seja nos
seus aspectos econômicos, sociais e políticos, é marcada pela religião. Portanto,
ao se falar de vida religiosa em Israel, não se pode perder de vista que toda a vida
desse povo é a expressão religiosa, no pleno sentido da palavra.

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O cardeal Joseph Ratzinger, na sua clássica obra “Jesus de Nazaré”, nos dá uma
visão muito interessante a esse respeito. Ele afirma que, na Palestina, no tempo
de Jesus, não “existia o político ‘sozinho’, nem o religioso ‘sozinho’. O templo, a
Cidade Santa e a Terra Santa com o seu povo não eram realidades somente
políticas, mas também, não eram realidades apenas religiosas”.

Assim, em se tratando desses três aspectos – templo, povo e terra – estavam em


jogo, acima de tudo, o fundamento religioso e as consequências religiosas da
política. Portanto, “defender ‘o lugar’ e ‘a nação’ era, em última instância, uma
questão religiosa, porque tinha a ver com a casa de Deus e o povo de Deus”
(RATZINGER, 2011, p. 157).

Algumas informações sobre o Templo

Sabe-se, por exemplo, que para o povo de Israel, o Templo é o lugar mais sagrado.
Sabe-se, também, que era obrigação absoluta para todos os adultos, isto é, a
partir dos treze anos, recitar as orações no decurso das horas. Há, nas Sagradas
Escrituras, diversas passagens que confirmam esta ideia.

Uma delas, talvez a mais conhecida, apresenta os pais de Jesus como bons fiéis.
Eles viviam de acordo com os mandamentos da lei mosaica e eram respeitadores
dos ensinamentos e das tradições rabínicas.

No segundo capítulo do Evangelho de São Lucas, José e Maria visitavam, todos os


anos, o templo de Jerusalém no período da Festa da Páscoa. Em uma dessas idas,
quando Jesus tinha doze anos, aconteceu aquele contratempo em que José e
Maria se perderam de Jesus e tiveram de retornar ao Templo. E, ao chegarem
novamente no Templo, os pais de Jesus o encontraram conversando com os
doutores da lei (cf. Lc 2, 41-51).

O Templo de Jerusalém destacava-se como o centro religioso de Israel,


reconstruído por Herodes, o magno, inaugurado em 515 A.C., após a volta do exílio
dos Israelitas. A sua arquitetura mais sóbria que a de Salomão, estava dividida em
compartimentos destinado às funções sagradas e de forma hierárquica.

Economia:

Em nível econômico o Templo era fonte de comércio, visto que vendiam animais
para os sacrifícios, objetos de grande valor, além de ser o lugar de cambistas. O
sumo sacerdote ficava com a maior parte do lucro. Essa realidade comercial
tornou-se um meio de corrupção principalmente para as autoridades máximas de
Israel.

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Como esses meios nem sempre satisfaziam os apetites do sumo sacerdote e os
de sua família, às vezes, ele se servia de outros: apropriava-se pela força das peles
dos animais degolados que deveriam pertencer aos outros sacerdotes; ia aos
sítios roubar o dízimo que lhes é igualmente destinado. Ou usava a intriga, a
chantagem e até o assassinato. (c.f. SAULNIER; ROLLAND 1983, p. 39).

As Sinagogas se destacavam nas cidades da Palestina Romana. Elas foram


construídas pelos judeus depois da volta do exílio babilônico, e também tinham a
sua importância por se tratar do lugar onde era formada a consciência e a piedade
do Israelita.

Em termos da agricultura, o trigo; as figueiras; as oliveiras e as vinhas constituíam


a base da alimentação. No que diz respeito ao âmbito industrial, destacavam-se
as construções; a fiação e a tecelagem; a indústria do couro; a cerâmica; o
betume e o artesanato de luxo.

Os vendilhões do templo

Em outro episódio, também, no período da Páscoa, Jesus subiu até Jerusalém e foi
até o Templo. Convém lembrar que, neste episódio, Jesus já era adulto. Chegando
ao Templo, Jesus encontros os que vendiam bois, ovelhas e pombas, além dos
cambistas em suas bancas. Jesus, então, confeccionou um chicote com cordas e
acabou com feira livre que havia se formado dentro do Templo.

Logo à frente, nos versículos seguintes, a Palavra apresenta o motivo que levou
Jesus a agir dessa forma tão incisiva: o zelo pela casa de Deus. Ora, só se zela por
aquilo que é muito importante. Nota-se, portanto, a grande importância que o
Templo tinha para Jesus. Certamente, esse zelo e cuidado com as coisas de Deus,
Jesus aprendeu pelo testemunho de seus amados pais.

Convém salientar que, o Templo em que Jesus frequentava para rezar, não era
aquele que Salomão havia construído, nem mesmo o segundo templo
reconstruído após o regresso do exílio, mas outro Templo bem mais recente. Por
sinal, era tão recente que ainda estava em construção.

As festas, as cerimônias e os grupos religiosos da época de Jesus


As festas, cerimônias do culto e as reuniões na sinagoga não se tratavam de uma
espécie de “complemento” na vida cotidiana daquele povo, mas, faziam corpo
com ela, tamanha a sua importância. A vivência dessas celebrações procede do

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mesmo espírito que regula todos os acontecimentos da vida, seguindo a tão
conhecida tríade “crer, celebrar e viver”.

Na participação das celebrações a divisão das pessoas era conforme as classes:


sumo-sacerdote, sacerdotes, levitas, homens, mulheres e pagãos. Em certas
ocasiões, especialmente nas festas da Páscoa, de Pentecostes e das Tendas, os
judeus de todas as regiões costumavam fazer peregrinações ao Templo, para
comemorar os grandes feitos de Deus, libertador do seu povo.

De modo geral, o judaísmo admitia certas divergências consideráveis entre seus


membros, contanto que mantivessem algumas verdades essenciais e aceitassem
certas práticas. Dessa forma, motivados por acontecimentos históricos, vários
grupos político-religiosos, com diferentes maneiras de pensar, foram surgindo
dentro dessa religião. Pode-se citar, por exemplo, Os Saduceus, os Zelotas, os
Fariseus, os Essênios, os Herodianos, os Samaritanos e outros.

A Cruz geradora da crise entre o político e o religioso

Como se percebe, a dimensão política e a religiosa eram absolutamente


inseparáveis entre si. Salientar essa realidade é fundamental, tendo em vista o
julgamento, a condenação e a morte de Jesus que estaria por vir.

Não é por acaso que, na decisão que levou Jesus à morte, verifica-se a
sobreposição de dois níveis: por um lado, a legítima preocupação de tutelar o
templo e o povo (o religioso) e, por outro, a ambição egoísta de poder por parte do
grupo dominante (o político).

Assim, com anúncio e com o agir de Jesus, inaugurou-se um reino não político do
Messias. Isso fez com que, essas duas dimensões, até então inseparáveis (político
e religiosa), começassem a separar uma da outra. Segundo o cardeal Ratzinger,
essa separação só foi possível, em definitivo, por meio da Cruz, ou seja, só por
meio da fé n’Aquele que está desprovido de todo o poder terreno. Surge, portanto,
o novo modo como Deus reina no mundo.

Os Samaritanos não pertenciam ao judaísmo e não constituam uma corrente


religiosa, porém, faziam parte da Palestina Romana. Além de observadores da Lei
de Moisés representada no Pentateuco, mas não aceitam os demais livros
do Antigo Testamento. Não reconhecem Jerusalém como capital religiosa e nem o
Templo como o lugar central da religião. Para eles o Messias esperado não é
descendente de Davi, o que contribuiu para aumentar ainda mais a tensão entre
os judeus.

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Neste âmbito político-religioso destaca-se principalmente a corte suprema
religiosa de Israel conhecida como Sinédrio, composto pelo sumo sacerdote
como presidente e por seus assistentes: os anciãos, os sumos sacerdotes
destituídos, os sacerdotes saduceus, os escribas e os fariseus. Tinha como
finalidade julgar as transgressões contra a lei, estabelecer a doutrina e controlar a
vida religiosa. Esse Sinédrio, com um maior números de participantes, vivia
em Jerusalém. Porém, constata-se que nas demais localidades da Palestina
existiam pequenos Sinédrios e, entre os seus membros, um juiz.

Jesus traz uma nova proposta para o povo

Foi neste contexto que viveu Jesus de Nazaré, além de iniciar o Seu ministério,
apresentando-lhes uma nova proposta de vida fundada no amor pela Verdade. Ao
Seu encontro, o Nazareno atraía pessoas de todas as classes sociais e
hierárquicas, pois trazia na Sua doutrina o selo da Verdade. Enfrentou
constantemente adversidades por parte dos judeus, principalmente por meio dos
fariseus, e os vencia sempre pela força da Verdade, cunhando assim a separação
doutrinal com os seus concidadãos.

De acordo com o filme “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, para as autoridades


judaicas daquela época, o novo modo de vida apresentado por Jesus de Nazaré,
significava uma grande ameaça. A veracidade desse filme mostra que essa nova
forma de aprimorar as leis judaicas (cf. Mt 5,17-18), inflamou os “tidos” como
“Doutores da Lei” que, tomados pela inveja, tudo fizeram para lhe oferecer o grau
máximo da humilhação oferecido pelos Romanos por meio dos seus algozes: a
crucifixão.

Verifica-se, portanto, que Mel Gibson demonstrou a Paixão e Morte de Jesus,


também, do ponto de vista histórico. Pois retratou fielmente por meio da violência
dos algozes, a cultura do Império Romano que se caracterizava por sua dureza,
crueldade, violência e pela instabilidade política e religiosa.

Ainda no citado filme, pode-se constatar que as autoridades judaicas tiraram


proveito dessa cultura violenta para causar a morte de Jesus, visto que não
conseguiam com as suas maquinações calar a Sua voz e nem destruir Sua
doutrina.

Assim, sob a autoridade de Pôncio Pilatos, o pragmático que lavou as mãos diante
desse crime por medo de perder o seu alto posto, por meio dos algozes do seu
império, depois de dura flagelação e outros tormentos, crucificaram a Jesus de
Nazaré.

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Portanto, conclui-se que esse foi o julgamento mais infundado e injusto da história
humana, visto que Jesus foi o Homem mais inocente que passou pela face da
terra. A história nos mostra que a Sua voz ressoa até hoje, e que nem os “gritos” da
modernidade conseguem silenciá-la. Assim sendo, Jesus de Nazaré sai do tempo
histórico e entra o Cristo

Jesus foi proclamado Rei pelo povo

Todos nós conhecemos aquela emblemática passagem, narrada nos quatro


evangelhos canônicos, onde, Jesus, o grande Rei, entra em Jerusalém montado
em um jumentinho. Essa passagem, aliás, é lindamente explorada na liturgia
do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.

Neste episódio, Jesus é apresentando como alguém importante. Enquanto Jesus


ia passando pela rua, a numerosa multidão, estendia mantos pelo caminho e
espalhava ramos das árvores. Tudo isso em meio a cânticos de aclamação que
diziam: “Hosana ao Filho Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no
mais alto dos céus” (cf. Mt 21,9). Jesus é proclamado Rei por aquele povo.

Jesus se autoproclamou Rei dos Judeus

Mais adiante, quando Jesus foi levado até o governador Pilatos para ser
interrogado, Ele mesmo se declarou Rei. Mas seu reinado não é como os reinados
do seu tempo. Jesus mesmo afirmou que o Seu Reino não era deste mundo (cf. Jo

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18, 33-37). Aliás, essa “confissão” de Jesus, insere Pilatos numa circunstância
bastante curiosa. Ele estava diante de alguém que se declarava Rei, mas não
possuía, nem ao menos, poder militar. Sendo assim, não representaria nenhuma
ameaça para os ordenamentos romanos. Pilatos estava diante de uma ocasião
sem precedentes, um Rei que não possuía arma e nem exército.

O cardeal Ratzinger faz um lindo comentário a respeito dessa passagem. Segundo


ele, o centro da mensagem, contida neste episódio, encontra-se na nova realeza
que Jesus representa. Que realeza, afinal, seria essa? Ratzinger responde: a
verdade. Ele ainda completa: “a instauração dessa realeza como verdadeira
libertação do homem é o que interessa” (RATZINGER, 2011, p. 178).

Pilatos optou pela conveniência, não pela Verdade

Pilatos, portanto, depois do interrogatório, percebeu que aquele Jesus não era um
revolucionário político e que a sua mensagem e o seu comportamento não
constituíam um perigo para a dominação romana. Se Jesus havia transgredido a
Torá, isso não lhe interessava.

Por fim, Pilatos decidiu-se pela “interpretação pragmática do direito: mais


importante do que a verdade do caso, é a força pacificadora do direito”, diz o
teólogo Ratzinger ao analisar esse acontecimento. Ele completa: “Uma absolvição
do inocente podia prejudicá-lo não só a ele pessoalmente […] mas podia,
também, provocar novos dissabores e desordens que, precisamente nos dias da
Páscoa, havia que evitar” (RATZINGER, 2011, p. 183).

Pilatos estava mais preocupado em manter o seu cargo, sua autoridade, sua
imagem diante do império Romano, do que reconhecer a Verdade que lhe
apresentava.

A inscrição da Cruz de Jesus

Se Jesus era Rei, Ele precisava de um trono e, de fato, o recebeu. Acima do seu
trono havia uma inscrição: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”. Essa inscrição,
portanto, confirma inequivocamente o seu reinado. “A cruz é o seu trono […].
Desse lugar […], Ele, a seu modo – um modo que, nem Pilatos nem os membros do
Sinédrio puderam compreender -, domina como verdadeiro Rei” (RATZINGER,
2011, p. 193).

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A morte de Jesus, de fato, trouxe tranquilidade para Jerusalém e tudo parecia
andar bem. Contudo, a paz não pode ser estabelecida contra a verdade que mais
tarde se manifestou.

Os mistérios da vida pública de Jesus (Catecismo da Igreja


Católica)
O BATISMO DE JESUS

535 O início (251) da vida pública de Jesus é o seu baptismo por João, no rio Jordão
(252). João pregava «um baptismo de penitência, em ordem à remissão dos
pecados» (Lc 3, 3). Uma multidão de pecadores, publicanos e soldados (253),
fariseus e saduceus (254) e prostitutas vinha ter com ele, para que os baptizasse.
«Então aparece Jesus». O Baptista hesita, Jesus insiste: e recebe o baptismo.
Então o Espírito Santo, sob a forma de pomba, desce sobre Jesus e uma voz do
céu proclama: «Este é o meu Filho muito amado» (Mt 3,13-17). Tal foi a
manifestação («epifania») de Jesus como Messias de Israel e Filho de Deus.
536. Da parte de Jesus, o seu baptismo é a aceitação e a inauguração da sua
missão de Servo sofredor. Deixa-se contar entre o número dos pecadores (256). É
já «o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29), e antecipa já o
«baptismo» da sua morte sangrenta (257). Vem, desde já, para «cumprir toda a
justiça» (Mt 3,15). Quer dizer que Se submete inteiramente à vontade do Pai e
aceita por amor o baptismo da morte para a remissão dos nossos pecados (258).
A esta aceitação responde a voz do Pai, que põe toda a sua complacência no Filho
(259). O Espírito que Jesus possui em plenitude, desde a sua conceição, vem
«repousar» sobre Ele (Jo 1, 32-33) (260) e Jesus será a fonte do mesmo Espírito
para toda a humanidade. No baptismo de Cristo, «abriram-se os céus» (Mt 3, 16)
que o pecado de Adão tinha fechado, e as águas são santificadas pela descida de
Jesus e do Espírito, prelúdio da nova criação.

A TENTAÇÃO DE JESUS

538. Os evangelhos falam dum tempo de solidão que Jesus passou no deserto,
imediatamente depois de ter sido baptizado por João: «Impelido» pelo Espírito
para o deserto, Jesus ali permanece sem comer durante quarenta dias. Vive com
os animais selvagens e os anjos servem-n'O (263).
No fim desse tempo, Satanás tenta-O por três vezes, procurando pôr em causa a
sua atitude filial para com Deus; Jesus repele esses ataques, que recapitulam as
tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto; e o Diabo afasta-se d'Ele «até
determinada altura» (Lc 4, 13).

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“O REINO DE DEUS ESTÁ PRÓXIMO”

541. «Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia. Aí proclamava a
Boa-Nova da vinda de Deus, nestes termos: "Completou-se o tempo e o Reino de
Deus está próximo: convertei-vos e acreditai na Boa-Nova!"» (Mc 1, 14-15). «Por
isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos
céus» (267). Ora a vontade do Pai é «elevar os homens à participação da vida
divina» (268). E fá-lo reunindo os homens em torno do seu Filho, Jesus Cristo. Esta
reunião é a Igreja, a qual é na terra «o germe e o princípio» do Reino de Deus»
(269).
542. Cristo está no centro desta reunião dos homens na «família de Deus». Reúne-
os à sua volta pela sua palavra, pelos seus sinais que manifestam o Reino de
Deus, pelo envio dos discípulos. E realizará a vinda do seu Reino sobretudo pelo
grande mistério da sua Páscoa: a sua morte de cruz e a sua ressurreição. «E Eu,
uma vez elevado da Terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12, 32). Todos os homens são
chamados a esta união com Cristo (270).

O ANÚNCIO DO REINO DE DEUS

543. Todos os homens são chamados a entrar no Reino. Anunciado primeiro aos
filhos de Israel (271), este Reino messiânico é destinado a acolher os homens de
todas as nações (272). Para ter acesso a ele, é preciso acolher a Palavra de Jesus:
«A Palavra do Senhor compara-se à semente lançada ao campo: aqueles que a
ouvem com fé e entram a fazer parte do pequeno rebanho de Cristo, já receberam
o Reino; depois, por força própria, a semente germina e cresce até ao tempo da
messe» (273)

544. O Reino é dos pobres e pequenos, quer dizer, dos que o acolheram com um
coração humilde. Jesus foi enviado para «trazer a Boa-Nova aos pobres» (Lc 4, 18)
(274). Declara-os bem-aventurados, porque «é deles o Reino dos céus» (Mt 5, 3).
Foi aos «pequenos» que o Pai se dignou revelar o que continua oculto aos sábios e
inteligentes (275). Jesus partilha a vida dos pobres, desde o presépio até à cruz:
sabe o que é sofrer a fome (276), a sede (277) e a indigência (278). Mais ainda:
identifica-se com os pobres de toda a espécie, e faz do amor activo para com eles
a condição da entrada no seu Reino (279)
545. Jesus convida os pecadores para a mesa do Reino: «Eu não vim chamar os
justos, mas os pecadores» (Mc 2, 17) (280). Convida-os à conversão sem a qual
não se pode entrar no Reino, mas por palavras e actos, mostra-lhes a misericórdia
sem limites do Seu Pai para com eles e a imensa «alegria que haverá no céu, por
um só pecador que se arrependa» (Lc 15, 7). A prova suprema deste amor será o
sacrifício da sua própria vida, «pela remissão dos pecados» (Mt 26, 28).

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OS SINAIS DO REINO DE DEUS

547. Jesus acompanha as suas palavras com numerosos «milagres, prodígios e


sinais» (Act 2,22), os quais manifestam que o Reino está presente n'Ele.
Comprovam que Ele é o Messias anunciado (289)
548. Os sinais realizados por Jesus testemunham que o Pai O enviou
(290).Convidam a crer n'Ele (291). Aos que se Lhe dirigem com fé, concede-lhes o
que pedem (292). Assim, os milagres fortificam a fé n'Aquele que faz as obras do
seu Pai: testemunham que Ele é o Filho de Deus (293). Mas também podem ser
«ocasião de queda» (294). Eles não pretendem satisfazer a curiosidade nem
desejos mágicos. Apesar de os seus milagres serem tão evidentes, Jesus é
rejeitado por alguns (295); chega mesmo a ser acusado de agir pelo poder dos
demónios (296).
550. A vinda do Reino de Deus é a derrota do reino de Satanás (302):«Se é pelo
Espírito de Deus que Eu expulso os demónios, então é porque o Reino de Deus
chegou até vós» (Mt 12, 28). Os exorcismos de Jesus libertam os homens do poder
dos demónios (303). E antecipam a grande vitória de Jesus sobre «o príncipe deste
mundo» (304). É pela cruz de Cristo que o Reino de Deus vai ser definitivamente
estabelecido: «Regnavit a ligno Deus - Deus reinou desde o madeiro» (305).

“AS CHAVES DO REINO”

551. Desde o princípio da sua vida pública, Jesus escolheu alguns homens, em
número de doze, para andarem com Ele e participarem na sua missão (306).Deu-
lhes parte na sua autoridade «e enviou-os a pregar o Reino de Deus e a fazer
curas» (Lc 9, 2). Estes homens ficam para sempre associados ao Reino de Cristo,
porque, por meio deles, Jesus Cristo dirige a Igreja:
«Eu disponho, a vosso favor, do Reino, como meu Pai dispõe dele a meu favor, a
fim de que comais e bebais à minha mesa, no meu Reino. E sentar-vos-eis em
tronos, a julgar as doze tribos de Israel» (Lc 22, 29-30)
552. No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar (307). Jesus
confiou-lhe uma missão única. Graças a uma revelação vinda do Pai, Pedro
confessara: «Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16). E nosso Senhor
declarou-lhe então: «Tu és Pedro: sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela» (Mt 16, 18). Cristo, «pedra viva»
(308), garante à sua Igreja, edificada sobre Pedro, a vitória sobre os poderes da
morte. Pedro, graças à fé que confessou, permanecerá o rochedo inabalável da
Igreja. Terá a missão de defender esta fé para que nunca desfaleça e de nela
confirmar os seus irmãos (309)
553. Jesus confiou a Pedro uma autoridade específica: «Dar-te-ei as chaves do
Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que
desligares na terra será desligado nos céus» (Mt 16, 19). O «poder das chaves»

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designa a autoridade para governar a Casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, o «bom
Pastor» (Jo 10, 11), confirmou este cargo depois da sua ressurreição: «Apascenta
as minhas ovelhas» (Jo 21, 15-17). O poder de «ligar e desligar» significa a
autoridade para absolver os pecados, pronunciar juízos doutrinais e tomar
decisões disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo
ministério dos Apóstolos e particularmente pelo de Pedro, o único a quem confiou
explicitamente as chaves do Reino.

A SUBIDA DE JESUS PARA JERUSALÉM

557. «Ora, como se aproximavam os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele
tomou a firme resolução de Se dirigir a Jerusalém» (Lc 9, 51) (321). Por esta
decisão, indicava que subia para Jerusalém pronto para lá morrer. Já por três vezes
tinha anunciado a sua paixão e a sua ressurreição (322). E ao dirigir-Se para
Jerusalém, declara: «não se admite que um profeta morra fora de
Jerusalém» (Lc 13, 33)
558. Jesus recorda o martírio dos profetas que tinham sido entregues à morte em
Jerusalém (323). No entanto, continua a convidar Jerusalém a reunir-se à sua
volta: «Quantas vezes Eu quis agrupar os teus filhos como a galinha junta os seus
pintainhos sob as asas!... Mas vós não quisestes» (Mt 23, 37b). Quando já avista
Jerusalém, chora sobre ela (324) e exprime, uma vez mais, o desejo do seu
coração: «Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz!
Mas agora isto está oculto aos teus olhos» (Lc 19, 42).

A ENTRADA MESSIÂNICA DE JESUS EM JERUSALÉM

559. Como vai Jerusalém acolher o seu Messias? Embora tenha sempre evitado as
tentativas populares de O fazerem rei (325), Jesus escolheu o momento e
preparou os pormenores da sua entrada messiânica na cidade de «David, seu
pai» (Lc 1, 32) (326). E é aclamado como filho de David e como aquele que traz a
salvação («Hosanna» quer dizer «então salva!», «dá a salvação»). Ora, o «rei da
glória» (Sl 24, 7-10) entra na «sua cidade», «montado num jumento» (Zc 9, 9). Não
conquista a filha de Sião, figura da sua Igreja, nem pela astúcia nem pela
violência, mas pela humildade que dá testemunho da verdade (327). Por isso é
que, naquele dia, os súbditos do seu Reino, são as crianças (328) e os «pobres de
Deus», que O aclamam, tal como os anjos O tinham anunciado aos pastores
(329). A aclamação deles: «Bendito o que vem em nome do Senhor» (Sl 118, 26) é
retomada pela Igreja no «Sanctus» da Liturgia Eucarística, a abrir o memorial da
Páscoa do Senhor.
560. A entrada de Jesus em Jerusalém manifesta a vinda do Reino que o Rei-
Messias vai realizar pela Páscoa da sua morte e da sua ressurreição. É com a sua
celebração, no Domingo de Ramos, que a Liturgia da Igreja começa a Semana
Santa.

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