César Paro
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UFPB - Universidade Federal da Paraíba
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Papers by César Paro
Os usuários dos serviços de saúde, reconhecidos em sua integralidade, são parte fundamental do desenvolvimento das ações de educação em saúde. No que tange ao protagonismo social e à participação popular, são várias as possibilidades de garantir espaços participativos que proporcionam a atuação efetiva de tais usuários no processo educativo – integrando-os na discussão, identificação e busca de soluções para problemas que emergem de suas vidas – como, por exemplo, a utilização das linguagens artísticas. Este estudo teve como objetivo compreender como o teatro pode contribuir para a construção das práticas educativas junto aos usuários no contexto da Atenção Primária à Saúde. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva e exploratória. Realizou-se a observação participante de uma prática educativa em saúde com intervenções artísticas sobre a formação de educadores juvenis para educação entre pares. A prática educativa observada neste estudo privilegiou a participação ativa dos educandos, mas não os incluiu em todas as etapas da atividade, como no planejamento, na criação e na execução da ação. Faz-se necessário diversificar a formação em saúde, valorizando a educação popular em saúde como forma genuína de processo de construção compartilhada de conhecimento.
Palavras-chave
Educação Popular. Educação Popular em Saúde. Práticas Educativas em Saúde. Teatro na Saúde. Intervenções Artísticas em Saúde.
Abstract
A fundamental part of the development of a health education practice is to consider the actual users of the health service. With regard to social protagonism and popular participation, there are several possibilities for guaranteeing participatory spaces that allow the effective participation of those involved in the educational process - integrating them in the discussion, identification and search for solutions to problems that emerge from their lives - such as the use of artistic languages. This paper aims to understand how participating in theater can give the users practical education in Primary Health Care. It was a qualitative, descriptive and exploratory research. The researcher observed a “Train the Trainer” programme for Young Educators. The educative practice observed had the participation of students, but it did not include them in the whole process (as planning, creation and presentation). Alternatively, there was a one-way communication, with the “teacher” explaining the processes and limited interaction from the audience. In order to have a genuinely collaborative health education there must be participation from all interested parties.
Keywords
Health Promotion. General Health Education. Health Education Practices.Theater in Health Care; Artistic Intervention in Health Care.
Daí, convidamos para conferencistas-provocadores das JITOU, pessoas que pensam e agem na Educação em áreas e formas diferenciadas: uma vereadora do PSOL, uma educadora do SESC e um filósofo da UNIRIO. A ideia era transversalizar as discussões sobre Teatro do Oprimido impactando os participantes das JITOU com práticas político-educativas a partir de outros olhares e análises da conjuntura social brasileira atual. Deu certo! Ah, e ainda fomos brindados com uma mesa sobre Teatro Legislativo com as companheiras e companheiros da Gabinetona de Belo Horizonte/MG!
O Teatro do Oprimido no Brasil e no mundo é uma metodologia utilizada em várias áreas da produção de conhecimento e, particularmente, no campo da Educação, formal e informal, onde teve início. Sua prática começa com esta nomenclatura, em 1973, no ALFIN – Programa de Alfabetização Integral – baseado na Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, no Peru. E irá se reunir aos outros títulos publicados no mesmo período como Psicoterapia do Oprimido, Filosofia do Oprimido e Teologia da Libertação (do Oprimido), todos ancorados na discussão proposta pelo filósofo Salazar Bondi.
Em 1986, após o fim do seu exílio político forçado pela ditadura militar, Boal volta ao Brasil para atuar outra vez na área da Educação, desta vez convidado pelo sociólogo e educador Darcy Ribeiro para usar a método teatral com os Animadores Culturais comunitários nos Centros Integrados de Educação Popular (CIEP)! É nos CIEP, carinhosamente chamados pelo povo de Brizolão, que surge a Fábrica de Teatro Popular, embrião do Centro de Teatro do Oprimido (CTO).
De 1973 a 2017, o Teatro do Oprimido se expande aos cinco continentes e se consagra como uma metodologia libertadora que acredita no diálogo e na escuta do outro para o desenvolvimento e transformação da sociedade contra a opressão!
As teorias de Augusto Boal são, hoje, base para teses, dissertações e estudos na academia, mas, principalmente, aplicadas no movimento social, nas questões de gênero, raça, saúde mental, política, entre outras.
Ainda assim, poucas são as instituições de ensino que possuem em seus currículos uma disciplina sobre o Teatro do Oprimido; outras, o apresentam como “técnicas paralelas”, “disciplina optativa”, “curso de extensão”, etc. Paradoxalmente, Boal é título certo nas bibliografias de concursos acadêmicos para professor efetivo, para pós-graduações e para as redes públicas de ensino. Já nas organizações civis, responsáveis pela educação não formal e nas lutas sociais e políticas, o Teatro do Oprimido, muitas vezes, surge como a única ferramenta capaz de abrir o campo da reflexão teórica e da ação!
De forma científica ou empírica, muitos registram, praticam e pesquisam o Teatro do Oprimido e são estas pessoas reunidas e seus materiais que foram apresentados, discutidos, rebatidos e debatidos na quinta edição das JITOU por uma dezena de professores e pesquisadores do país e do exterior que compuseram a sua comissão científica, proferiram conferências e ministraram minicursos para agentes sociais, artistas, artivistas, estudantes e professores de teatro que se inscreveram no evento, infelizmente, o único do gênero no Brasil de trabalho continuado na atualidade.
Esperando que ele se propague e, como o pássaro multiplicador da Árvore do Teatro do Oprimido, ganhe asas e venha a inseminar e semear novos campos, publicamos, neste dia 16 de março de 2018 – Dia Mundial do Teatro do Oprimido e aniversário de nascimento de seu criador –, os anais das 5ª JITOU, um panorama das experiências, novas teorias, pesquisas e práticas político-pedagógicas do Teatro do Oprimido na Educação.
Licko Turle
Professor Visitante do PPGAC da UFBA
Books by César Paro
“Dos Becos da Memória aos Becos da Maré: escrevivências que alimentam a alma”. Foi assim que Marielle Franco intitulou a conferência em que nos contava sobre os seus caminhos de vida e de resistências, na quinta edição das Jornadas Internacionais de Teatro do Oprimido e Universidade (JITOU), em novembro de 2017. Mulher, mãe, negra, favelada, lésbica: eram muitos os motivos para que as suas andanças no mundo da política institucional incomodasse a tantos. Em março de 2018, foi brutalmente assassinada junto com o seu motorista Anderson Gomes, num atentado que tentou calar as vozes das minorias.
Somado a tal golpe, vivíamos ainda a prisão de Lula para que ele não concorrese às eleições, o governo de Temer tido por parcela da população como ilegítimo destruindo direitos sociais e a exacerbação de todos os tipos de fascismos, conservadorismos e reacionarismos nos nossos cotidianos.
Tais contextos, ao invés de nos silenciarem, nos mobilizaram ao eixo temático da sexta edição das JITOU “Ensaios para a revolução: resistir… é preciso!!!!!”, combinando uma das definições dada por Augusto Boal ao Teatro do Oprimido e a necessidade de resistirmos ao golpe.
Neste ano, as jornadas, tradicionalmente realizadas no Rio de Janeiro-RJ, foram acolhidas em terras soteropolitanas. Fruto da parceria do Grupo de Estudos em Teatro do Oprimido (GESTO) com a Escola de Teatro e a Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o evento ocorreu de 30 de julho e 01 de agosto de 2018, no Campus de Ondina desta universidade, em Salvador/BA. Foi o resultado de múltiplas vozes, mãos e cabeças, que, coletivamente, geraram um evento rico e plural. No âmbito das parcerias institucionais, pudemos contar com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e da Pró-Reitoria de Extensão da UFBA, assim como da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Centro do Teatro do Oprimido (CTO).
Os Anais das VI JITOU também mudaram o seu padrão nesta edição: ao invés de serem publicados os manuscritos completos das/dos autoras/autores de comunicações orais que optavam por produzir posteriormente esse material, optou-se pela publicação dos resumos simples de todas/todos as/os apresentadoras/apresentadores que submeteram comunicações orais. Totalizamos, portanto, 29 resumos, que incluem desde discussões teórico-conceituais até reflexões a partir das práticas com/do/no/pelo Teatro do Oprimido. Nos preocupamos em publicizar, por meio das notas de rodapé, as trajetórias destas/destes 35 autoras/autores e seus respectivos contatos eletrônicos, afim de que seja possível o contato e formação de redes das/dos pesquisadoras/pesquisadores e praticantes do método para intercâmbio e construção de saberes, fazeres, sonhos, resistências e transformações.
Outra novidade é a edição temática número 40 dos Cadernos do GIPE-CIT em Teatro do Oprimido, que acolheu artigos por chamada homônima ao eixo escolhido nas VI JITOU. Seu lançamento ocorrerá em breve e representa mais uma das profícuas parcerias conquistadas pelo GESTO, na sua busca de fortalecer o método no âmbito acadêmico, por meio da sua multiplicação e reflexão crítica. Para o diálogo sobre este e outros projetos desenvolvidos pelo grupo, deixamos aqui o nosso contato eletrônico (gesto.teatrodooprimido@gmail.com) e convidamos você a acompanhar a nossa página oficial no Facebook (https://www.facebook.com/GestoAldeia/).
Em tempos difíceis em que buscam reprimir a duros golpes os oprimidos, continuaremos aqui, com vocês, resistindo e ensaiando a revolução.
Boa leitura!
César Augusto Paro
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Licko Turle
Professor Visitante do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Com aquelas palavras, Boal finaliza o discurso proferido no 9º Fórum Social Mundial, realizado em Belém do Pará em janeiro de 2009. Naquele momento, felicitava o Ministério da Cultura pela implantação de centenas de Pontos de Cultura por todo o país, possibilitando a criação de pontes que ligassem o Brasil “real” ao Brasil por ele sonhado, capaz de produzir sua própria cultura ao invés de consumir a cultura imposta pelos meios de comunicação de massa e a mídia jornalística. Falecido poucos meses depois, deixou-nos como legado a certeza de que o país com o qual ainda sonhamos “com a cabeça nas alturas” só poderá ser conquistado pelo trabalho, com “os pés no chão” – premissa essa, adotada integralmente pelo CTO, que se manteve com as “mãos à obra” em todos esses anos de sonho e luta.
A 4ª edição das JITOU foi realizada na UNIRIO durante três dias (26, 27 e 28 de outubro), em parceria com o NEPPA e o CTO, mobilizando mais uma vez um grande número de pesquisadores, educadores e estudantes de diversas instituições de educação básica e superior, do Brasil e exterior, assim como praticantes de Teatro do Oprimido que atuam em ações sociais junto a comunidades do Rio de Janeiro.
Nesta edição, os integrantes do GESTO apresentaram a sua primeira produção bibliográfica: “Teatro do Oprimido e Universidade: experimentos, ensaios e investigações”, coletânea de artigos de pesquisadores brasileiros que utilizam o TO em distintos contextos.
Nestes anais, foram congregados as diversas discussões acadêmicas e reflexões sobre experiências práticas apresentadas no interior das IV JITOU que buscam, por meio do Teatro do Oprimido, manter a cabeça nas alturas, pés no chão e mãos à obra com vistas à transformação social.
Licko Turle
Jussara Trindade
Com isto, o Grupo de Estudos em Teatro do Oprimido (GESTO) pretendeu alcançar, com cada vez mais profundidade, os objetivos primordiais deste evento acadêmico-cultural: compartilhar reflexões sobre o pensamento e a obra de Boal, a disseminação de pesquisas, o intercâmbio artístico e o aperfeiçoamento técnico dos profissionais que utilizam o método do Teatro do Oprimido em suas práticas pedagógicas e de ação social.
Deste modo, a edição de 2015 das JITOU ampliou uma intensa programação de três dias (conferências, apresentação de comunicações orais, mesas temáticas, exibição de filmes, oficinas, apresentações de teatro-fórum e lançamento de livros) em mais dois dias, inteiramente dedicados ao contato direto com a sociedade, expandindo a ação cultural da universidade para além de seus muros, onde pesquisadores, artistas, docentes e estudantes de teatro das redes pública e privada participaram junto à comunidade em geral, de espetáculos de Teatro-Fórum e Teatro Legislativo realizados no Largo do Machado e no Complexo da Maré, com o apoio do Centro de Teatro do Oprimido (CTO).
São, estas, experiências exemplares, sobretudo para os profissionais que atuam ou pretendem atuar com o método em comunidades populares, pela diversidade dos olhares com que são confrontadas, pela complexidade dos temas que emergem e pelas discussões e reflexões que delas decorrem, e que publicamos agora, nos anais desta edição das III JITOU.
Licko Turle
Jussara Trindade
Os usuários dos serviços de saúde, reconhecidos em sua integralidade, são parte fundamental do desenvolvimento das ações de educação em saúde. No que tange ao protagonismo social e à participação popular, são várias as possibilidades de garantir espaços participativos que proporcionam a atuação efetiva de tais usuários no processo educativo – integrando-os na discussão, identificação e busca de soluções para problemas que emergem de suas vidas – como, por exemplo, a utilização das linguagens artísticas. Este estudo teve como objetivo compreender como o teatro pode contribuir para a construção das práticas educativas junto aos usuários no contexto da Atenção Primária à Saúde. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva e exploratória. Realizou-se a observação participante de uma prática educativa em saúde com intervenções artísticas sobre a formação de educadores juvenis para educação entre pares. A prática educativa observada neste estudo privilegiou a participação ativa dos educandos, mas não os incluiu em todas as etapas da atividade, como no planejamento, na criação e na execução da ação. Faz-se necessário diversificar a formação em saúde, valorizando a educação popular em saúde como forma genuína de processo de construção compartilhada de conhecimento.
Palavras-chave
Educação Popular. Educação Popular em Saúde. Práticas Educativas em Saúde. Teatro na Saúde. Intervenções Artísticas em Saúde.
Abstract
A fundamental part of the development of a health education practice is to consider the actual users of the health service. With regard to social protagonism and popular participation, there are several possibilities for guaranteeing participatory spaces that allow the effective participation of those involved in the educational process - integrating them in the discussion, identification and search for solutions to problems that emerge from their lives - such as the use of artistic languages. This paper aims to understand how participating in theater can give the users practical education in Primary Health Care. It was a qualitative, descriptive and exploratory research. The researcher observed a “Train the Trainer” programme for Young Educators. The educative practice observed had the participation of students, but it did not include them in the whole process (as planning, creation and presentation). Alternatively, there was a one-way communication, with the “teacher” explaining the processes and limited interaction from the audience. In order to have a genuinely collaborative health education there must be participation from all interested parties.
Keywords
Health Promotion. General Health Education. Health Education Practices.Theater in Health Care; Artistic Intervention in Health Care.
Daí, convidamos para conferencistas-provocadores das JITOU, pessoas que pensam e agem na Educação em áreas e formas diferenciadas: uma vereadora do PSOL, uma educadora do SESC e um filósofo da UNIRIO. A ideia era transversalizar as discussões sobre Teatro do Oprimido impactando os participantes das JITOU com práticas político-educativas a partir de outros olhares e análises da conjuntura social brasileira atual. Deu certo! Ah, e ainda fomos brindados com uma mesa sobre Teatro Legislativo com as companheiras e companheiros da Gabinetona de Belo Horizonte/MG!
O Teatro do Oprimido no Brasil e no mundo é uma metodologia utilizada em várias áreas da produção de conhecimento e, particularmente, no campo da Educação, formal e informal, onde teve início. Sua prática começa com esta nomenclatura, em 1973, no ALFIN – Programa de Alfabetização Integral – baseado na Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, no Peru. E irá se reunir aos outros títulos publicados no mesmo período como Psicoterapia do Oprimido, Filosofia do Oprimido e Teologia da Libertação (do Oprimido), todos ancorados na discussão proposta pelo filósofo Salazar Bondi.
Em 1986, após o fim do seu exílio político forçado pela ditadura militar, Boal volta ao Brasil para atuar outra vez na área da Educação, desta vez convidado pelo sociólogo e educador Darcy Ribeiro para usar a método teatral com os Animadores Culturais comunitários nos Centros Integrados de Educação Popular (CIEP)! É nos CIEP, carinhosamente chamados pelo povo de Brizolão, que surge a Fábrica de Teatro Popular, embrião do Centro de Teatro do Oprimido (CTO).
De 1973 a 2017, o Teatro do Oprimido se expande aos cinco continentes e se consagra como uma metodologia libertadora que acredita no diálogo e na escuta do outro para o desenvolvimento e transformação da sociedade contra a opressão!
As teorias de Augusto Boal são, hoje, base para teses, dissertações e estudos na academia, mas, principalmente, aplicadas no movimento social, nas questões de gênero, raça, saúde mental, política, entre outras.
Ainda assim, poucas são as instituições de ensino que possuem em seus currículos uma disciplina sobre o Teatro do Oprimido; outras, o apresentam como “técnicas paralelas”, “disciplina optativa”, “curso de extensão”, etc. Paradoxalmente, Boal é título certo nas bibliografias de concursos acadêmicos para professor efetivo, para pós-graduações e para as redes públicas de ensino. Já nas organizações civis, responsáveis pela educação não formal e nas lutas sociais e políticas, o Teatro do Oprimido, muitas vezes, surge como a única ferramenta capaz de abrir o campo da reflexão teórica e da ação!
De forma científica ou empírica, muitos registram, praticam e pesquisam o Teatro do Oprimido e são estas pessoas reunidas e seus materiais que foram apresentados, discutidos, rebatidos e debatidos na quinta edição das JITOU por uma dezena de professores e pesquisadores do país e do exterior que compuseram a sua comissão científica, proferiram conferências e ministraram minicursos para agentes sociais, artistas, artivistas, estudantes e professores de teatro que se inscreveram no evento, infelizmente, o único do gênero no Brasil de trabalho continuado na atualidade.
Esperando que ele se propague e, como o pássaro multiplicador da Árvore do Teatro do Oprimido, ganhe asas e venha a inseminar e semear novos campos, publicamos, neste dia 16 de março de 2018 – Dia Mundial do Teatro do Oprimido e aniversário de nascimento de seu criador –, os anais das 5ª JITOU, um panorama das experiências, novas teorias, pesquisas e práticas político-pedagógicas do Teatro do Oprimido na Educação.
Licko Turle
Professor Visitante do PPGAC da UFBA
“Dos Becos da Memória aos Becos da Maré: escrevivências que alimentam a alma”. Foi assim que Marielle Franco intitulou a conferência em que nos contava sobre os seus caminhos de vida e de resistências, na quinta edição das Jornadas Internacionais de Teatro do Oprimido e Universidade (JITOU), em novembro de 2017. Mulher, mãe, negra, favelada, lésbica: eram muitos os motivos para que as suas andanças no mundo da política institucional incomodasse a tantos. Em março de 2018, foi brutalmente assassinada junto com o seu motorista Anderson Gomes, num atentado que tentou calar as vozes das minorias.
Somado a tal golpe, vivíamos ainda a prisão de Lula para que ele não concorrese às eleições, o governo de Temer tido por parcela da população como ilegítimo destruindo direitos sociais e a exacerbação de todos os tipos de fascismos, conservadorismos e reacionarismos nos nossos cotidianos.
Tais contextos, ao invés de nos silenciarem, nos mobilizaram ao eixo temático da sexta edição das JITOU “Ensaios para a revolução: resistir… é preciso!!!!!”, combinando uma das definições dada por Augusto Boal ao Teatro do Oprimido e a necessidade de resistirmos ao golpe.
Neste ano, as jornadas, tradicionalmente realizadas no Rio de Janeiro-RJ, foram acolhidas em terras soteropolitanas. Fruto da parceria do Grupo de Estudos em Teatro do Oprimido (GESTO) com a Escola de Teatro e a Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o evento ocorreu de 30 de julho e 01 de agosto de 2018, no Campus de Ondina desta universidade, em Salvador/BA. Foi o resultado de múltiplas vozes, mãos e cabeças, que, coletivamente, geraram um evento rico e plural. No âmbito das parcerias institucionais, pudemos contar com o apoio do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas e da Pró-Reitoria de Extensão da UFBA, assim como da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Centro do Teatro do Oprimido (CTO).
Os Anais das VI JITOU também mudaram o seu padrão nesta edição: ao invés de serem publicados os manuscritos completos das/dos autoras/autores de comunicações orais que optavam por produzir posteriormente esse material, optou-se pela publicação dos resumos simples de todas/todos as/os apresentadoras/apresentadores que submeteram comunicações orais. Totalizamos, portanto, 29 resumos, que incluem desde discussões teórico-conceituais até reflexões a partir das práticas com/do/no/pelo Teatro do Oprimido. Nos preocupamos em publicizar, por meio das notas de rodapé, as trajetórias destas/destes 35 autoras/autores e seus respectivos contatos eletrônicos, afim de que seja possível o contato e formação de redes das/dos pesquisadoras/pesquisadores e praticantes do método para intercâmbio e construção de saberes, fazeres, sonhos, resistências e transformações.
Outra novidade é a edição temática número 40 dos Cadernos do GIPE-CIT em Teatro do Oprimido, que acolheu artigos por chamada homônima ao eixo escolhido nas VI JITOU. Seu lançamento ocorrerá em breve e representa mais uma das profícuas parcerias conquistadas pelo GESTO, na sua busca de fortalecer o método no âmbito acadêmico, por meio da sua multiplicação e reflexão crítica. Para o diálogo sobre este e outros projetos desenvolvidos pelo grupo, deixamos aqui o nosso contato eletrônico (gesto.teatrodooprimido@gmail.com) e convidamos você a acompanhar a nossa página oficial no Facebook (https://www.facebook.com/GestoAldeia/).
Em tempos difíceis em que buscam reprimir a duros golpes os oprimidos, continuaremos aqui, com vocês, resistindo e ensaiando a revolução.
Boa leitura!
César Augusto Paro
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Licko Turle
Professor Visitante do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Com aquelas palavras, Boal finaliza o discurso proferido no 9º Fórum Social Mundial, realizado em Belém do Pará em janeiro de 2009. Naquele momento, felicitava o Ministério da Cultura pela implantação de centenas de Pontos de Cultura por todo o país, possibilitando a criação de pontes que ligassem o Brasil “real” ao Brasil por ele sonhado, capaz de produzir sua própria cultura ao invés de consumir a cultura imposta pelos meios de comunicação de massa e a mídia jornalística. Falecido poucos meses depois, deixou-nos como legado a certeza de que o país com o qual ainda sonhamos “com a cabeça nas alturas” só poderá ser conquistado pelo trabalho, com “os pés no chão” – premissa essa, adotada integralmente pelo CTO, que se manteve com as “mãos à obra” em todos esses anos de sonho e luta.
A 4ª edição das JITOU foi realizada na UNIRIO durante três dias (26, 27 e 28 de outubro), em parceria com o NEPPA e o CTO, mobilizando mais uma vez um grande número de pesquisadores, educadores e estudantes de diversas instituições de educação básica e superior, do Brasil e exterior, assim como praticantes de Teatro do Oprimido que atuam em ações sociais junto a comunidades do Rio de Janeiro.
Nesta edição, os integrantes do GESTO apresentaram a sua primeira produção bibliográfica: “Teatro do Oprimido e Universidade: experimentos, ensaios e investigações”, coletânea de artigos de pesquisadores brasileiros que utilizam o TO em distintos contextos.
Nestes anais, foram congregados as diversas discussões acadêmicas e reflexões sobre experiências práticas apresentadas no interior das IV JITOU que buscam, por meio do Teatro do Oprimido, manter a cabeça nas alturas, pés no chão e mãos à obra com vistas à transformação social.
Licko Turle
Jussara Trindade
Com isto, o Grupo de Estudos em Teatro do Oprimido (GESTO) pretendeu alcançar, com cada vez mais profundidade, os objetivos primordiais deste evento acadêmico-cultural: compartilhar reflexões sobre o pensamento e a obra de Boal, a disseminação de pesquisas, o intercâmbio artístico e o aperfeiçoamento técnico dos profissionais que utilizam o método do Teatro do Oprimido em suas práticas pedagógicas e de ação social.
Deste modo, a edição de 2015 das JITOU ampliou uma intensa programação de três dias (conferências, apresentação de comunicações orais, mesas temáticas, exibição de filmes, oficinas, apresentações de teatro-fórum e lançamento de livros) em mais dois dias, inteiramente dedicados ao contato direto com a sociedade, expandindo a ação cultural da universidade para além de seus muros, onde pesquisadores, artistas, docentes e estudantes de teatro das redes pública e privada participaram junto à comunidade em geral, de espetáculos de Teatro-Fórum e Teatro Legislativo realizados no Largo do Machado e no Complexo da Maré, com o apoio do Centro de Teatro do Oprimido (CTO).
São, estas, experiências exemplares, sobretudo para os profissionais que atuam ou pretendem atuar com o método em comunidades populares, pela diversidade dos olhares com que são confrontadas, pela complexidade dos temas que emergem e pelas discussões e reflexões que delas decorrem, e que publicamos agora, nos anais desta edição das III JITOU.
Licko Turle
Jussara Trindade
Sob a responsabilidade do Prof. Dr. Zeca Ligiéro, coordenador do Núcleo de Estudos das Performances Afro-Ameríndias (NEPAA)/UNIRIO, e com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), o Acervo Boal permaneceu por dois anos na UNIRIO. Durante esse período, prestou um valioso auxílio a diversas pesquisas, como trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses. Mesmo curta, a sua permanência na instituição aprofundou o contato do público universitário com a obra de Boal: na graduação, com o estudo de textos dramatúrgicos de Augusto Boal como conteúdo da disciplina “LED - Leitura Dramatizada” e a oferta da disciplina de “Técnicas Paralelas - Teatro do Oprimido de Augusto Boal”; e, na pós-graduação, com a realização dos cursos “Augusto Boal: Arte, Política e Pedagogia” (que, em 2015, foi publicado em livro homônimo) e “Do distanciamento de Bertold Brecht ao Teatro do Oprimido de Augusto Boal”, além de oficinas livres de extensão universitária.
Outro importante legado foi a criação do Grupo de Estudos em Teatro Oprimido (GESTO) por estudantes e pesquisadores do NEPAA/UNIRIO interessados na difusão das ideias de Boal e na investigação das funções sociais, educativas, terapêuticas, políticas e artísticas do seu método, praticado hoje em mais de setenta países. Surge então, a ideia de instaurar na UNIRIO um espaço acadêmico de compartilhamento dessas práticas, realizadas a partir do pensamento de Boal: nascem as Jornadas Internacionais de Teatro do Oprimido e Universidade - JITOU.
O tema Teatro do Oprimido: teoria e prática orientou a dinâmica do evento em sua primeira edição, que contou com a participação de pesquisadores de treze nacionalidades diferentes. Na parte da manhã, foi realizada uma grande oficina com estudantes de Teatro do Oprimido da Universidade do Sul da Califórnia e da disciplina de Técnicas Paralelas da UNIRIO. À tarde, em uma ampla mesa redonda, pesquisadores da Inglaterra, Itália, Chile, EUA e Brasil apresentaram exposições orais sobre o ensino do Teatro do Oprimido em seus respectivos países e, em seguida, aberto um debate com o público presente na Sala de Audiovisual da Escola de Teatro da UNIRIO.
Devido ao caráter inaugural e, até mesmo, experimental do evento, não houve, na primeira edição, o registro da oficina e o envio dos textos das miniconferências proferidas na mesa redonda. Contudo, o entusiasmo dos participantes e a riqueza das discussões suscitadas na ocasião levaram o GESTO a redimensionar o seu potencial, de modo a preencher tal lacuna no ano seguinte.
As II JITOU trouxeram o tema Teatro do Oprimido: arte, política e pedagogia, abordando as três grandes áreas em que Boal atuou: o Teatro de Arena, o Teatro Legislativo e o ensino do teatro. A programação, mais extensa, incluiu conferências, comunicações orais de trabalhos acadêmicos, oficinas, apresentações artísticas, lançamento de livros, e contou com a participação de quase trezentos inscritos oriundos de onze países.
Durante dois dias, a UNIRIO foi palco de relatos de práticas, projetos e experiências realizadas no Brasil e no exterior por profissionais de áreas diversas, e de apresentações de pôsteres e espetáculos de Teatro-Fórum, uma das técnicas do Teatro do Oprimido mais difundidas por todo o mundo.
Os textos das comunicações orais e das conferências seguem, agora, devidamente registradas nestes Anais das II JITOU, como testemunhos vivos da importante contribuição de Augusto Boal para o Brasil e o mundo, sobretudo no vasto campo multidisciplinar do Teatro do Oprimido.
Licko Turle
Jussara Trindade