Quando chega o final é tanta informação, são tantas personagens, tantas complicações na trama que fica difícil não ficar com a sensação de que você não entendeu bem alguns detalhes ou que eles nem mesmo foram explicados.
Mais importante do que isso, porém, é que toda a jornada até esse momento final é uma experiência fascinante.
Uma pessoa miserável só pode conceber um mundo que exala miséria.
As paisagens brutas de concreto, aço e vidro de Tóquio que aparecem em vários planos gerais de certa forma ecoam a vida árida dos personagens que vivem num mundo regido pelo dinheiro, pelo sexo e pela ambição. Quando surge um sinal de rompimento com essa ordem dentro desse mundo, ele é soterrado no colapso de um plano que é justamente a reafirmação da ordem da cobiça. Resta, então, ao sobrevivente disso reconstituir as memórias e tentar recuperar o mundo.
Não há interesse por uma representação realista do mundo, mas pela criação de um mundo de fábula, onde a cada momento irrompe o inesperado: há viagens ao sol, trens que passam por dentro de casas, vagões que são despedaçados em ribanceiras e explodidos no mar (mas sempre com todos os passageiros sobreviventes), lulas gigantes que tentam capturar um submarino, pessoas que congelam em blocos ao fugir do calor solar. Monumento da imaginação, da vocação ilusória do cinema.
