A estética do filme aposta no surrealismo não como um artifício de choque, mas como um reflexo da interioridade confusa do protagonista. As fronteiras entre o real e o delírio são borradas, evocando uma sensação de vertigem. A fotografia, assinada por Sayombhu Mukdeeprom (colaborador de Me Chame Pelo Seu Nome), constrói um jogo de luzes e sombras que intensifica a alienação do personagem. O México de Queer é ao mesmo tempo paradisíaco e opressor, saturado por tons quentes e contrastes…

O filme não julga suas personagens, mas as expõe em sua crueza. Dagmar (Trine Dyrholm) e Karoline (Vic Carmen Sonne) não são arquétipos de heroínas ou vilãs, mas figuras moldadas pela violência do tempo em que vivem. Seus atos não são guiados por um senso de moralidade convencional, mas pela urgência de sobreviver e, de alguma forma, oferecer alternativas a outras mulheres que, como elas, foram deixadas à margem.

Dagmar, com sua postura firme e olhar calculado, poderia ser vista…

O roteiro, quase tímido em suas palavras, confia no poder do silêncio — que grita, preenche, incomoda. Não há necessidade de explicações longas quando um olhar diz mais que um discurso. O silêncio, aqui, é o idioma da dor. É a maneira como Eunice Paiva carrega sua história: na quietude dos gestos, no peso da memória. Walter Salles entende que há momentos em que falar é insuficiente, e deixa que o vazio preencha a tela com mais significado do que…