Os filhos do pôr-do-sol
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Os filhos do pôr-do-sol - Anna Fagundes Martino
I. Os restos do reino
NÃO HAVIA ESPOSAS
ou mães em Amaranthe Hall em 1947. Havia mulheres, era bem verdade — cinco delas, todas empregadas da casa: uma cozinheira, duas arrumadeiras e duas garotas que vieram para cuidar dos soldados que ainda estavam na casa de repouso. Nenhuma delas era casada ou tinha filhos, vivos ou mortos. Ou eram muito velhas, ou muito novas, ou não muito interessadas naquele tipo de papel.
Talvez por isso elas se dedicassem tanto aos hóspedes da casa. Aqueles pobres garotos que tinham sobrevivido ao front no Oriente Médio eram fonte de todos os paparicos possíveis da parte das funcionárias do casarão. Não era nem pena, nem sadismo aproveitando-se do fato de eles não estarem em condições de responder à altura. Era simplesmente uma tentativa de equilíbrio de poder, algo que pudesse trazer um mínimo de paz para aquele casarão tão assustador, tão imenso e tão insalubre, ocupado por fantasmas de carne e osso — mais osso do que carne quando eles chegavam ao sanatório, com olhos que pareciam feitos de vidro como as estátuas de santos, andando sem propósito e olhando para o horizonte sem ver nada.
Os gritos dos pesadelos ecoando pelos corredores durante a noite, as tentativas de suicídio com ou sem sucesso, as famílias que tentavam entender porque o seu filho ou pai ou irmão não respondia quando eles chamavam, ou porque lhes olhavam com terror ou então como se fossem invisíveis; tudo só fazia as mulheres agradecerem em suas preces por nenhum daqueles sujeitos destroçados serem mesmo seus filhos ou maridos. E, ao sentirem-se culpadas por aquele sentimento nada cristão, elas redobravam os esforços para cuidar dos soldados no dia seguinte.
Aquela casa não tinha sido planejada para receber tanta gente. Seus muros pintados de um amarelo muito pálido tinham sido erguidos para receber gente nobre, não ex-combatentes dependentes de caridade alheia. Mas o destino do território tinha sido decidido naquela mesma guerra que criara aqueles fantasmas de osso e carne, porque o antigo dono da casa tinha falecido sem herdeiros. O mais velho de seus filhos morrera na batalha de Dunquerque; o outro fora deserdado por causa do que chamavam, em um eufemismo inútil, de comportamento indecente
.
O suicídio do rapaz mais moço — um ato inexplicado, palavras perdidas entre o vão do Oceano Atlântico, ninguém nunca disse em voz alta o como
ou o porquê
— foi o motivo que apressou a morte do lorde de Amaranthe Hall, diziam as funcionárias da casa. Verdade ou não, o fato é que, na falta de outros herdeiros, um homem chamado Éamonn Delaney — alto e de braços grossos, ligeiramente calvo e de cabelo da cor de um pôr-do-sol de verão, com um sotaque de terras distantes que soava como uma canção — fora transformado da noite para o dia no dono de Amaranthe Hall.
Delaney era o cunhado do antigo dono das terras. O som de sua voz explicava-se por sua origem: ele era irlandês de nascimento. A transformação da casa em um sanatório explicava-se por seu passado: ele tinha sido da Guarda Irlandesa no lamaçal da Grande Guerra na Bélgica, e sabia bem como os soldados precisavam de apoio para voltarem a serem homens depois do trauma da batalha.
E tinha sido ele quem telefonara para o convento procurando, segundo ele dissera à madre superiora, alguma noviça que entenda de feridos e ferimentos e que seja bem aferrada a seus votos
.
Margaret tinha sido escolhida a dedo. Com vinte e dois anos recém-completos, ela tinha passado a guerra em um hospital, servindo como auxiliar de enfermagem. A madre superiora achou que aquela noviça precisava de mais contato com o mundo exterior: talvez um teste para sua fé, ou talvez uma maneira de se livrar da criatura irritante que Margaret conseguia ser quando estava inspirada, aquela que fazia mais jejuns e passava mais tempo de joelhos rezando pela paz do mundo e pelas almas das mulheres perdidas como sua própria mãe.
Margaret chegou em um dia gelado de fevereiro, sem querer prestar atenção na opulência um tanto gasta do casarão de fachada amarelada, a única construção por quilômetros na estrada, tão isolada quanto possível, mesmo em tempos de carros rápidos e estradas com asfalto. Ela prestou atenção no que seu novo patrão tinha para dizer e tentou ignorar a bagunça da sala de trabalho, mas era impossível não ver as plantas em cima das mesas e das escrivaninhas, a papelada espalhada por todos os cantos, os vasos nas janelas e as manchas de terra nas cortinas de renda. Ou ainda o vermelho gasto dos cabelos do senhor Delaney, as rugas de expressão em seu rosto cheio de sardas, o terno que já tinha visto dias melhores, as mãos calejadas: o senhor das terras parecia mais um escravo do