Sobre este e-book
Na superfície de um mar revolto, corre a vida, aparentemente normal, de uma comunidade de amigas. Um drama psicológico para não ser deixado de lado nem por um minuto, até que se chegue ao final.
Verão é o primeiro romance da série não sequencial "As estações".
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Verão - Veronica Botelho
Verão de 1998
Existe uma diferença entre crescer num lugar onde é verão o ano todo e crescer num lugar onde as estações são bem definidas.
Verão o ano todo insinua festa a cada noite, amores incessantes, corpos sempre suados. Insinua intensidade. Há quem diga que insinua promiscuidade.
Para Rebecca, verão o ano todo significava desejo de fugir. Escapar para lugares seguros, definidos no tempo e no espaço. A jovem esperava as férias para ir correndo visitar os avós paternos. Algumas vezes partiam os três juntos para algum lugar onde as estações confundiam a percepção e ela se perdia ainda mais nas suas sensações e no seu desejo de fugir. Nessa época, enquanto suas amigas estavam curtindo as primeiras festas e os primeiros namorados, a jovem mergulhava nos livros e nos estudos.
Quando completou dezoito anos, a única certeza de Rebecca era de querer ir morar bem longe do verão o ano todo. Sonhava com o barulho das folhas que aos poucos iam caindo e deixando de presente explosões de odores e cores. Às vezes conseguia sentir o cheiro da lareira que aquecia as noites de inverno. Antes de dormir, se imaginava caminhando em estradas cobertas por diferentes aromas de flores. Com arcos de jasmim alternados com partes de lavanda.
A verdade é que Rebecca, inspirada pelos livros que lia, os filmes que assistia e as viagens que fizera com seus avós paternos, passou a maior parte da vida imaginando o lugar perfeito para morar. Preferivelmente onde as quatro estações fossem bem definidas.
Seus avós eram de Niterói, mas, desde que seu avô tinha se aposentado, o casal morava na serra fluminense. Lá pelo menos ela já conseguia dividir o ano em duas estações: verão e inverno. O verão era um mix entre muita chuva e um pouco de calor, e às vezes dava para usar botas e seu casaco preferido, de crochê. No inverno, em certos dias, dava para tomar banho de piscina. Lá ela não conhecia ninguém, não tinha ligações afetivas, a não ser com os avós e com dona Sônia, por isso era fácil continuar sonhando com lugares perfeitos para onde partir.
Com os avós, Rebecca fizera algumas viagens para fora do Brasil, e também por cidades próximas à casa na serra, ocasiões em que conversavam animadamente. Eles eram pessoas de muitas palavras quando se tratava de assuntos ligados a viagens e temas aleatórios, como o tempo ou o presente. Mas eram lacônicos quando se tocava no passado. Aquele passado por ela desconhecido, aquele tempo com gosto de tristeza, segredos e muita dor.
A jovem não entendia por que eles se calavam cada vez que ela perguntava sobre seus pais. Será que não percebiam o quanto seus olhares falavam entre si e de que forma aquele silêncio brusco soava como confissão de que algo deveria ficar sempre oculto? E a intensidade com que isso a machucava?
Quando falavam do passado, repetiam as mesmas histórias que ela escutava desde pequena. O mesmo lugar definido no tempo e no espaço que lhe transmitia segurança, lhe provocava medo. Às vezes ela se perguntava se a sua zona de conforto seria para sempre marcada pela existência de um passado desconhecido.
Rebecca morava com o tio paterno e sua esposa em Natal. Seu pai tinha morrido num acidente quando ela tinha cinco anos. As únicas lembranças dele eram três fotos reveladas, das quais ela já tinha feito várias cópias; um casaco de crochê, feito por ele quando ela ainda era bebê, mas que só coube nela quando completou treze anos; um telescópio; as mesmas histórias repetidas sobre ele por seus avós; as passagens que seus tios nunca quiseram contar; e os relatos de dona Sônia, mas sempre de quando ele era criança e adolescente.
Rebecca nunca saberia o passado que o pai iria querer lhe contar.
Rubens adulto e Rubens pai eram uma incógnita. Faziam parte de um passado que todos pareciam ignorar, se não fosse por Rebecca, que, mesmo sem falar uma só palavra, era a demonstração de uma história que todo mundo insistia em esquecer.
A jovem sabia que tinha mais fotos com seu pai, mas elas foram desaparecendo aos poucos, em cada visita que sua mãe lhe fazia.
Por incrível que possa parecer, o que a deixava mais triste não era a falta que sentia dos pais, pois com isso ela achava que já tinha se acostumado, mas não lembrar da voz, do cheiro, do caminhar dele... eram as coisas que realmente a machucavam. Era pensar que, se um dia tivesse filhos, eles nunca iriam conhecer seu avô. Era lembrar de cada vez que chorou por ele tê-la deixado tão cedo e sozinha. Era imaginar as histórias que nunca escutaria da sua boca. O que a deixava mais triste era a presença de um passado sentido, mas desconhecido. Era a ausência de uma história própria, de um porquê da sua existência. Seus pais se amavam? Como se conheceram? Por que ninguém falava neles? Por que ela não morou com a mãe após a morte do pai?
Quando sonhava com a primavera, ouvia a voz do pai que a chamava enquanto ela corria pelas vinhas. Sonhar com outono era sentir as folhas que desciam das árvores, enquanto os dois passeavam pelos bosques. A verdade é que ela nunca mais escutaria a voz do pai. Nunca mais sentiria sua mão acariciando o rosto dela. Por mais histórias que escutasse dos seus avós, por mais que usasse o casaco, por mais que olhasse as estrelas, ela nunca iria correr pelas vinhas e escutar seu pai chamá-la. Por mais que tentasse senti-lo, ele já não fazia mais parte do seu presente, nem faria do seu futuro. O passado parecia ser a única coisa que lhe restava dele, mas até isso tinha morrido com ele.
O que a jovem não imaginava que aconteceria, quando ela completasse dezoito anos, é que todos aqueles sonhos do lugar perfeito, das vinhas, das estações... estavam próximos de se tornar realidade.
– Rebecca, eu e seu tio temos uma coisa para lhe comunicar.
– Elvira, deixa a menina se sentar pelo menos...
Elvira lançou aquele olhar que Rebecca tinha visto várias vezes nos últimos treze anos. O olhar de quando ela queria que o marido se calasse.
A tia nunca tinha gostado dela, na verdade nunca tinha gostado nem mesmo do pai dela – Rubens. E jamais fez questão alguma de esconder essa aversão a todos.
– Seu pai tinha feito um seguro de vida e você é a beneficiária. Fizemos o melhor que pudemos para que não lhe faltasse nada e principalmente para lhe dar uma boa educação.
– Sabemos que às vezes você queria alguma coisa e a gente negava, mas era para o seu bem.
– Exato. Agora que você tem dezoito anos, você é a única responsável por esse dinheiro.
– Elvira, espera, não é bem assim, somos a sua família!
– Carlos, a gente já conversou sobre isso, ela agora é maior de idade, está na hora de viver sua própria vida e ser responsável pelas suas finanças. Foram treze anos de muita dor de cabeça e sacrifícios.
– Elvira, você está assustando a menina.
– Carlos, é o que ela sempre quis, por que a estaria assustando?!
– Elvira...
Ao mesmo tempo que Rebecca tentava acompanhar a discussão dos dois, se esforçava para assimilar as informações que eles tinham acabado de dar: Como assim seu pai tinha feito um seguro de vida? Por que ele teria feito isso? Ele morreu com apenas vinte e nove anos. Quem faz um seguro de vida nessa idade?! Sua mãe também fora beneficiária? Se sim, o que será que ela tinha feito com o dinheiro? Ela não parecia estar muito bem economicamente nas poucas vezes em que a visitara durante esses treze anos.
– Licença.
– Viu, Elvira, você assustou a menina!
– Que assustei coisa nenhuma, essa aí não se assusta por nada. É igualzinha à mãe!
– Elvira, já falei para você parar com isso!
– Carlos, pra mim acabou; ela já pode ir amanhã mesmo. Eu prometi aguentar até o dia em que ela completasse dezoito anos e acabasse a escola.
No dia seguinte, Rebecca sabia bem o que queria fazer. Pediu que seu tio a acompanhasse até o banco.
– Rebecca, minha filha, desculpa tua tia. Você sabe que ela sempre teve essa birra com sua mãe. Não é culpa tua.
– Tranquilo, tio. Estou bem.
Como já havia se organizado, a jovem fez o exame da carteira de motorista e a teve em mãos no mesmo dia. Pegou uma mochila, onde colocou duas calças, três vestidos, cinco camisetas, um pijama, escova e pasta de dentes, um vidrinho de óleo de amêndoas, o diário, o casaco, as três fotos, seu walkman, quatro fitas cassete. Se despediu do sagui, Guinho, das duas gatas, Nina e Tina, do cachorro, Fred, dos seus tios, e foi para a rodoviária.
Escreveu uma pequena carta para suas duas amigas e os três amigos da escola, sem explicar o que iria fazer. Seja porque ela não sabia, seja porque achou que soaria mais dramático. Para a jovem, deixar aquele lugar foi fácil; ela sempre tinha se sentido uma intrusa nele.
Havia resolvido que iria desaparecer, como sua mãe. Mas não como seu pai. Antes de sumir no mundo, decidiu visitar seus avós.
O ônibus saiu de Natal em direção ao Rio de Janeiro, e Rebecca tinha a impressão que nunca viajara num deles. Suas lembranças de viagens se limitavam àquelas para visitar seus avós e, as vezes em que viajou para fora do país com eles, sempre fora de avião – que teria sido sem dúvida o meio mais rápido para fugir. Mas o mais fácil para desaparecer por uns dias até decidir para onde ir de vez era o ônibus – afinal de contas, ela teria quase três mil quilômetros para pensar e decidir o que faria depois de visitar