O palhaço está em greve
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Sobre este e-book
Mas o palhaço Zé Hilário cansou da situação. Afinal, desde que casou com La Konga, a charmosa mulher-gorila, e constituiu família, a grana anda muito curta. E não é só ele quem reclama! O contorcionista Edmar Apior se desdobra e não vê o dinheiro esticar! Malaquias, o malabarista, está enlouquecido com tantos pratos, copos, contas. Mas o equilibrista, Caio Calado, garante que é simples. Basta manter o olho na balança. Já o esquentado cuspidor de fogo logo avisa: o mágico — ele é que fazia o dinheiro desaparecer. Como um coelho na cartola!
Mesmo sem grande apoio, Hilário cansou de fazer papel de palhaço e decretou: greve. Por melhores salários, melhores condições de trabalho. Ninguém pode viver só de sorriso, certo? Mas uma surpresa promete deixar seu nariz ainda mais vermelho. Sua história ultrapassou a tenda do circo. E inflamou a plateia. E agora? O que acontecerá neste picadeiro?
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O palhaço está em greve - Marco Túlio Costa
1
A notícia do homem acorrentado às grades do Fórum da Justiça libertou o repórter da masmorra da preguiça. Em poucos minutos ele já descia do carro acompanhado do cinegrafista. Procuraram o melhor ângulo: no primeiro plano, o homem de roupas amarrotadas, barba por fazer, cara muito triste. As correntes mantinham seus braços abertos, elevados um pouco acima da linha dos ombros. Com o Fórum da Justiça em segundo plano, estava composta uma imagem dramática.
— Bom dia, senhor, sou da TV Realidade — apresentou-se o repórter, com um bloco de notas nas mãos.
O cinegrafista fez sinal de positivo. Recebeu instruções para captar alguns detalhes: as mãos, os pés, as grades, a cara triste, as bandeiras tremulando no alto dos mastros, as correntes e os cadeados. Enquanto isso, as informações eram anotadas no bloco.
— Qual é seu nome?
— José.
— Você tem um sobrenome?
— Claro que tenho.
A caneta atônita.
— Hilário. Zé Hilário.
— Hilário. Por que o senhor se acorrentou?
— Eu estou em greve.
— Por quê? Onde o senhor trabalha?
— No Circo Nacional. Eu sou o palhaço.
A caneta duvidou. A folha do bloco ficou lívida. O jovem repórter abriu um sorriso.
— O senhor é um palhaço... Eu não acredito!
— Risolito.
— Um palhaço! E se chama Hilário!
— Não, Risolito. Hilário sou eu. Risolito é o personagem que eu criei. E que graça tem isso? — questionou o homem triste, agora aborrecido.
O jovem havia farejado uma boa reportagem, uma curiosidade jornalística, uma história que tinha apelo emocional. Era matéria para o horário nobre! Sacou o telefone celular e passou a manchete do dia à redação.
— O palhaço está em greve! — anunciou, ajeitando a gravata e posicionando-se, já com o microfone sem fio na mão, para que o cinegrafista gravasse a chamada.
— Um momento! — disse o cinegrafista, chegando-se ao colega da TV Realidade e cochichando alguma coisa.
As palavras do cinegrafista surtiram efeito. O outro abriu um sorriso. Positivamente, a segunda-feira mais promissora do ano. O repórter voltou-se ao homem acorrentado.
— Escute, se o senhor é palhaço, não seria melhor fazer a maquiagem? Colocar a peruca laranja, o chapéu-coco, o nariz vermelho. Tudo?
O homem acorrentado firmou-se sobre os pés. Ergueu os ombros, o queixo, o nariz. Respirou fundo.
— Nada disso.
— Por que não? — insistiu o repórter.
— Porque eu quero que as pessoas me levem a sério. Minha história não tem graça nenhuma. O palhaço aqui está em greve!
2
O rosto do homem triste está no meio da tela. Está na padaria entre pães e bolos. Está nos magazines entre ofertas da estação, nas copas e salas entre conversas familiares. Está no saguão de entrada dos condomínios, sob o olhar de porteiros. Nas salas de espera dos hospitais, prenunciando emergências. Está entre as gôndolas dos supermercados, entre anúncios de ocasião. Acima das esteiras das academias, tirando o fôlego de quem se esforça por prazer. A cara do homem triste compadece a casa simples, intriga o apê duplex.
Enquanto o repórter