O surgimento da guardiã
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Sobre este e-book
Após descobrir que o colar é uma chave para o Espelho das Almas, portal que dá acesso a um vilarejo incomum, ligado a cinco poderosas insígnias, Diana embarcará em uma aventura sem volta: a de aceitar a sua tarefa de guardiã, tendo como missão procurar pela Insígnia do Tempo que está desaparecida há mais de um século.
Porém, quando um alquimista cruza o caminho da guardiã, sua tarefa é colocada em xeque, pois cada um deles possui objetivos e missões diferentes.
Será que esse encontro a impedirá de seguir em frente?
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O surgimento da guardiã - Marina Maul França
CAPÍTULO I
Sentimentos
ignorados
Em uma manhã de inverno, os dedos de Diana congelavam. Sua respiração estava serena. Sozinha, a garota olhava a bela paisagem de um céu sem nuvens. Linda paisagem. E esta era sua mente.
Diana era uma garota magra de estatura média. De pele bem pálida, tinha cabelos longos e loiros, extremamente lisos. Seus olhos eram castanhos e ela possuía um nariz pequeno. Tinha o péssimo costume de fechar os olhos enquanto pensava profundamente e o de mexer as pernas quando estava impaciente. Costumes que sua mãe detestava.
O sol não trazia nenhum calor, somente a imagem de um falso astro presente no céu. Isso a fazia sorrir e, com os olhos fechados, imaginar histórias de romance. Talvez não um puro romance como naqueles livros em que o final simboliza o felizes para sempre
, mas mais ou menos como um conto: o importante era que a imaginação e a criatividade andassem juntas. Palavras escritas em um papel tentando passar uma única mensagem, mas com tantos detalhes, tantas aventuras. E isso era normal para ela.
Diana era escritora. Quando escrevia, sentia-se libertada da negatividade dos pensamentos, como se fugisse com um príncipe para bem longe em um belo cavalo. E o destino final? A imaginação.
Ela estava em casa. Desta vez, deixara os livros de lado, pois se dera um tempo livre deste hobby. Se tudo desse certo, ele viraria o seu futuro trabalho.
Talvez um dia, Diana pensava.
Embora soubesse do seu grande amor pela escrita, era cem por cento racional em sua vida e raramente se deixava levar por emoções.
Diana não acreditava, até então, em espíritos ou fantasmas. Eles eram apenas crendices, mesmo que soubesse da existência de milhões de relatos a respeito de experiências paranormais. Nada ia além de um simples sensacionalismo.
Contudo, algo estranho surgiu das suas criações. Era somente ficção ou havia vestígios da realidade?
Algo emergiu do papel, e o que não passava de uma história mal elaborada, escrita com uma letra péssima, virou uma parte de sua realidade.
Uma nova vida foi criada. Um personagem visitou sua casa. Ela sentiu o medo do desconhecido. O pior medo, sem escapatória e sem controle.
Diana adorava histórias irreais; faziam-na sonhar com o impossível. Fantasia e suspense eram os seus gêneros favoritos, pois a tiravam do tédio após abusar de sua rotina nada emocionante.
Mas ela também adorava filmes de terror e, como esse gênero era exibido na programação bem tarde da noite, a garota assistia a eles ao lado da mãe, Greta, que não os apreciava nem um pouco.
Algo saltou dos seus papéis, que eram cheios de contos com muitos mistérios. Forças ocultas não faziam parte da sua vida. Até agora.
Aconteceu à noite sua primeira experiência com o além. A garota assistia a um filme de suspense. A noite estava linda, sem estrelas, e uma neblina encobria com suavidade as outras casas e prédios e, por demasiado devastadora, preenchia a rua com seu lado negro e sombrio.
Diana escutou o bater de uma porta. Ela morava em uma casa de dois andares, muito antiga. Os móveis eram quase todos feitos em couro marrom e os lustres eram de cristal.
Sobre a mesa de centro da sala de estar, repousavam os rascunhos dos seus próximos livros e poemas, todos desalinhados. Ela não acreditava em organização.
Seu coração acelerou. A jovem estava na sala, sentada no sofá de couro marrom. Atenta a qualquer movimento suspeito, olhava para todas as direções, com medo de que alguma coisa ruim acontecesse.
As luzes se apagaram. Suas pupilas se dilataram.
Seu medo foi intensificado quando ela se deu conta de que as outras casas ainda estavam com eletricidade.
Diana virou-se para trás. Algo anormal aconteceu. Batidas cardíacas eram poucas para demonstrar o que estava sentindo – medo.
Definido no dicionário como: pavor, falta de coragem. Palavras que tinham de ser eliminadas de sua vida. Diana gostaria de ficar o mais longe possível delas, mas foram justamente estas que arrombaram a porta de sua mente.
Inspirou de modo profundo. Expirou. Após gastar uma tentativa em vão para se acalmar, ouviu passos apressados, porém ninguém estava em casa, além dela.
A eletricidade voltou.
Foi nesse momento que a garota viu pela janela um vulto lá fora, se aproximando bem devagar. Era parecido com o de uma mulher.
De repente, a televisão deu pane. Diana presenciou chuviscos para todos os lados na tela. Será que o vulto interferiu no sinal?, ela cogitou.
Alguém a observava atentamente.
Sua mãe abriu a porta.
– Oi, mãe! – disse mais tranquila, suspirando de alívio.
– Diana, só voltei porque preciso de uns documentos para a apresentação de amanhã. – Entrou na casa a passos apressados. – Os investidores estão cada vez mais cautelosos – disse firme.
Greta vestia um blazer preto, calça social também na cor preta e calçava scarpins pretos. Era uma mulher alta e magra. Tinha cabelos castanhos, lisos e curtos. Seus olhos eram verdes.
Ela sempre usava óculos de grau de armação grossa e preta, embora Diana a tivesse presenteado no dia do seu aniversário com uma outra armação, colorida, para que a mãe pudesse variar um pouco seu estilo. Porém, Greta era inflexível.
Diana observou a mãe subir as escadas e, em poucos minutos, ela estava de volta.
– Diga que ficará menos tempo desta vez – disse em um tom meloso.
Sua mãe balançou negativamente a cabeça.
– Não posso, querida. Você vai ficar bem sem sua mãezinha, e estes quatro ou cinco meses passarão rápido. – Sorriu.
Greta andou a passos largos até a porta da entrada e a fechou.
Diana escutou o ruído emitido quando a mãe trancou a porta.
Suas palavras tinham acalmado a garota. Todavia, ela ainda sentia uma presença dentro da casa. Diana não sabia o que ou quem realmente era. Algo jazia ali: quieto, morto, porém vivo em espírito e preparado para revelar-se como uma cobra pronta para dar o bote em sua presa.
Diana ficou desanimada ao saber que ela insistira em fazer aquela viagem. Embora fosse uma oportunidade única em sua carreira, a vontade e o egoísmo de Diana falavam mais alto.
Greta tinha de viajar a negócios e somente aparecera para pegar alguns documentos antes de dizer adeus à garota. E Diana nada comentara sobre a presença estranha que sentira. Sua mãe era tão cética quanto ela.
Talvez fosse melhor desta forma, pois Greta poderia pensar que Diana estava tomada pela insanidade ou realmente se preocuparia com a possibilidade de alguma coisa estar perseguindo a filha e, com isso, decidiria ficar em casa e cancelar aquele compromisso importante.
Algo se mexeu.
Novamente, Diana se virou e, ainda sentada no sofá, tentou espiar pela janela da sala, mas nada de incomum foi detectado.
Para piorar a situação, escutou um chamado. Seu coração acelerou novamente. Ela suspirou. O medo havia retornado com toda a intensidade.
Ela escutou seu nome dito por uma voz feminina e muito doce.
Pulou do sofá ao ouvir um ruído agudo vindo do segundo andar da casa.
– Missy? – disse com a voz fina.
Chamara pela gata persa, de 7 anos de idade. Ela tinha pelos longos, cinza e brancos, e um focinho curto e bem pequeno.
Diana a viu descer as escadas. Seus olhos amendoados e amarelos pareciam assustados.
Poucos instantes depois, a gata decidiu correr atrás de algo invisível. Missy sabia que havia algo errado. Algo que os olhos de sua dona eram incapazes de enxergar.
Diana fora alertada, quando resolvera dar um lar para Missy, de que gatos possuem um sexto sentido e, embora fosse totalmente descrente a respeito disso, ela não descartava a possibilidade de que eles tivessem a visão e a audição bem mais aguçadas que as dos seres humanos. Talvez, por essa razão, esses fantásticos animais tivessem alguns pontos ao seu favor.
Caminhou em direção à janela da sala. Olhou para a paisagem deserta. Nada havia lá além de um anoitecer desprovido de estrelas.
Diana sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Cerrou os olhos castanhos e deu um longo suspiro.
Por um breve momento, pensou em uma de suas histórias criadas recentemente: a de uma garota que temia a luz do sol e a luz do luar. Pensar em uma de suas criações podia surtir efeito calmante ou, na melhor das hipóteses, agir como um sonífero.
Mas um som abafado interrompeu seus pensamentos.
Quando a jovem se virou, viu algo preocupante: Missy havia se engasgado.
Diana correu para ajudá-la.
Agachou-se. Colocou a ponta dos dedos na pequena boca do animal e sentiu um objeto miúdo ali. Tirou-o.
Era um papel amassado, parecido com um pergaminho. Levantou-se.
Ao desamassá-lo, Diana notou a presença de gotas que poderiam ser de sangue, as quais não pertenciam a Missy, pois pareciam estar impregnadas naquele papel desde antes de a gata tê-lo enfiado na boca.
Diana concluiu que eram antigas e derramadas no papel havia muito tempo.
Leu o que estava escrito:
Virei buscá-la, mais cedo ou mais tarde.
As pernas de Diana estremeceram. Suas cordas vocais quase foram ativadas. Ela desejou gritar. Diana levou as mãos à boca e começou a tremer. Missy foi ao seu encontro.
A garota deu alguns passos para trás e mordeu sua boca ao pensar que um terceiro ser ocupava a casa. Apertou suas vestes. Diana usava um moletom azul-turquesa e uma calça jeans. Seus pés estavam descalços.
Missy parecia estar melhor, até bocejou. Após farejar boa parte da sala, deu um grunhido e foi embora, correndo para seus aposentos muito confortáveis no segundo andar.
Diana voltou a encarar aquele pequeno papel. Nele não havia nenhum nome. Talvez se tivesse um, ficaria mais aliviada, pois poderia ter pistas para uma investigação.
Seria uma brincadeira?, pensou por alguns instantes.
Ela imaginou o pior. Uma pessoa que agia daquela forma não estava para brincadeiras inocentes. A temperatura da casa parecia ter caído. Diana sentiu o piso de madeira ficar ainda mais frio. Seus pés precisavam de um chinelo.
A garota correu para o seu quarto.
Após muita insistência, Greta a deixara colocar um mural gigantesco em formato de coração na parede, com recortes e colagens de revistas, panfletos e cartazes de propagandas. Em sua maioria, imagens de pessoas sorrindo ou dançando.
Seu quarto tinha uma decoração bem peculiar: os móveis de madeira foram todos pintados de rosa-claro por um bom profissional. Ela queria dar um toque feminino àquela decoração.
O lustre nada mais era que uma junção de quatro bolas de plástico de diversos tamanhos, unidas por um cabo de metal. As lâmpadas eram de colorações diferentes: verde, rosa, alaranjada e azul.
Ela escolhera uma colcha de veludo rosa para cobrir sua cama. As fronhas dos travesseiros eram da mesma tonalidade.
Diana calçou os chinelos. Seus pés se aqueciam lentamente enquanto ela dava uma última volta no quarto antes de descer as escadas.
Voltou para a sala e sentiu um frio incomum percorrer o cômodo. Nenhuma janela estava aberta. Ela estranhou o acontecido.
Seu celular tocou. A música de chamada era Diamonds, da Rihanna. A garota desconhecia aquele número, portanto resolveu ignorar a chamada.
Àquela altura, julgou que dormir seria sua atitude mais sábia.
Diana retornou ao quarto e resolveu, por um momento, fechar fortemente os olhos para acabar com aquele pesadelo. Ao terminar de subir todos aqueles degraus, suspirou. Ela não era muito fã de exercícios.
Olhava atenta para o quarto. Deitou-se na cama de barriga para cima e sentiu aquele suave toque do veludo encostar em sua pele alva.
Embora os fios de seus cabelos fossem muito lisos e sedosos, eles se emaranhavam à medida que ela se virava na cama, de um lado para o outro.
Missy subiu no colchão e se deitou ao seu lado. Diana sorriu ao ver a gata também de barriga para cima.
O frio maior passara, mas ainda a deixava desconfortável. A garota poupou energias ficando com aquela roupa mesmo; afinal, se sentia confortável com aquele moletom.
Também julgou ser melhor assim, pois, se houvesse uma emergência, poderia correr, pegar a gata no colo e sair de casa – provavelmente com um ar desesperado, mas sem acabar de pijama na rua.
Ao pensar naquelas besteiras, balançou a cabeça.
O imprevisto aconteceu: Diana estava completamente sem sono. Assistir à televisão não era uma boa ideia para quem desejava dormir.
Missy se levantou e deu alguns miados antes de pular da cama. Diana a seguiu. Foi levada até a cozinha.
Greta deixara aquele cômodo com uma decoração nada moderna. Uma cozinha totalmente monocromática e sem nenhum atrativo estava longe de se encontrar nos padrões atuais.
Os armários e utensílios eram todos brancos, assim como a bancada de mármore e o piso, feito com o mesmo material. Diana achava aquela cozinha sem graça. As pequenas luzes eram embutidas no teto.
Ela notou a gula visitando o estômago de Missy. A gata só parou de miar quando a garota abriu o armário e tirou de lá o grande pote de vidro que continha ração.
Ao despejar um pouco no pote branco de porcelana, viu sua gata focar toda a atenção na comida.
Saiu de lá às pressas. Ao chegar à sala, subiu novamente as escadas e andou bem devagar em direção ao seu quarto.
Diana acendeu as luzes e sentou-se em sua cama. Deu corda na caixinha de música com a qual sua mãe a presenteara em seu aniversário de 6 anos. Surpreendentemente, ainda funcionava.
Depois de escutar aquela doce melodia, resolveu se levantar. Caminhou