Literatura e minorias: Diálogos
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Literatura e minorias - Adaylson Wagner Sousa de Vasconcelos
Apresentação
Sob a égide do apagamento histórico-social, a literatura produzida pelos estratos marginalizados da população foi, durante séculos, desconhecida pela maioria dos leitores. O cânone literário, até então, era partícipe da representação de valores inculcados por uma sociedade falaciosamente homogênea. A desconstrução de modelos literários pré-concebidos é um processo gradual e contínuo; cabe a nós, enquanto pesquisadores e críticos da área de Literatura, a ação de deslindar as vozes obliteradas. Neste sentido, a obra aqui apresentada vai ao encontro dessa reflexão.
Literatura e Minorias: diálogos está dividida em três seções. A primeira - TESSITURAS TEÓRICAS
– enceta as discussões a partir de epistemologias teóricas outras que possam viabilizar possíveis análises literárias. TEORIAS SÓCIO-FILOSÓFICAS E A NATUREZA DO GÊNERO FEMININO: O PROTO-FEMINISMO E SUA INCURSÃO NOS ILUMINISMOS INGLÊS E FRANCÊS
, de Izaias Geraldo de Andrade e Maria das Dores Andrade de Barros, demonstra alguns dos pensamentos basilares para a construção do gênero feminino, antes mesmo de as discussões feministas adquirem relevo.
O capítulo MINORIAS E POLÍTICAS MENORES EM DELEUZE
, de Alessandro Carvalho Sales, traz em seu bojo a própria conceituação deleuziana de minoria, a partir de suas dimensões políticas e coletivas, que partem de fatores de ordem qualitativa, não quantitativa.
A temática ambiental corresponde também a eixo relevante para os estudos literários; ECOCRÍTICA: O ENLACE ENTRE LITERATURA E MEIO AMBIENTE
, de Adaylson Wagner Sousa de Vasconcelos e Vanessa Riambau Pinheiro, apresenta o conceito inaugural para essa corrente teórico-crítica e os principais pontos questionadores que a baseiam. De todo modo, é visível, principalmente nos dias atuais, a necessidade de reestabelecer um pacto entre homem e meio ambiente, de modo que as nossas práticas, enquanto sociedade sejam revisitadas e produzam novos meios de estabelecimento de diálogo com os elementos naturais, de modo a respeitar esse outro sujeito e inaugurar uma nova sociedade para os humanos. Essa urgência alcança não só a ordem social, política e econômica, mas também a literatura.
A segunda parte da obra – FEMINISMO NEGRO
– é dedicada aos estudos de autoras afro-brasileiras que reivindicam seu protagonismo na historiografia literária. O capítulo de Grácia Lorena da Silva Jorge e Cecilia Conceição Moreira Soares, MULHER NEGRA NA LITERATURA: A PALAVRA COMO INSTRUMENTO DE LUTA E RESISTÊNCIA
, mostra de que modo a palavra pode vir a ser uma forma de subversão da invisibilidade histórica; para isso, são analisados de autoras emblemáticas da nossa literatura, como Conceição Evaristo e Carolina de Jesus.
Ainda nessa esteira, os pesquisadores Demétrio Alves Paz e Letícia Gabriele Drey, em TRÊS MODELOS DE ESCREVIVÊNCIAS: CONCEIÇÃO EVARISTO, LIA VIEIRA E MIRIAM ALVES
, analisa a produção literária dessas três autoras afro-brasileiras contemporâneas (Conceição Evaristo, Lia Vieira e Miriam Alves) que, tendo iniciado suas carreiras nos anos 80, despontam ao grande público apenas no século XXI, trazendo em suas narrativas diferentes percepções acerca da dura condição feminina da mulher negra.
A última seção, intitulada OUTRAS MARGENS
, revela outros olhares acerca das literaturas periféricas. Sérgio Wellington Freire Chaves e Wellerson Bruno Farias dos Reis, em "O BÊBADO E A PROSTITUTA: AS ALEGORIAS DOS MARGINALIZADOS NO ROMANCE VERISSIANO INCIDENTE EM ANTARES", apresentam a dupla vertente da subalternização social: a primeira visualizada nos sujeitos, a prostituta e o bêbado, a segunda marcada no espaço, Antares. Desse modo, por meio da alegoria, discute como a sociedade exercita seu silenciamento.
O capítulo AVENTURA E SENTIMENTO: CAROLINA INVERNIZIO E A AMBIGUIDADE DA LITERATURA POPULAR
, de Silvia La Regina, resgata, na literatura italiana, as contribuições de Carolina Invernizio, para problematizar o silenciamento crítico dirigido às mulheres daquele século.
A discussão da afirmação identitária entre crianças ciganas é o ponto central de IDENTIDADE ÉTNICA E CONSTRUÇÃO DE PERSONAGENS INFANTIS ENTRE CRIANÇAS CIGANAS CALON
, de Grecy Kelle de Andrade Cardoso e Mariana Bonomo, que enfatiza os sujeitos Calons e como a inserção de personagens infantis nas histórias corresponde a artefato representativo na construção desse reconhecimento enquanto sujeitos e membros pertencentes a este grupo.
Conforme mencionado anteriormente, o deslindar das vozes literárias marginalizadas é um ato que deve ocorrer de forma contínua, ainda que não seja célere como desejado. Obviamente, ainda há muito o que ser feito para se reverter este apagamento da representação autoral das minorias na literatura. Entretanto algumas dessas vozes estão começando, finalmente, a ser ouvidas. E algumas delas podem ser vistas aqui.
Desejamos o estabelecimento de fecundos diálogos e reflexões.
Adaylson Wagner Sousa de Vasconcelos
Vanessa Riambau Pinheiro
Os Organizadores
I_Tessituras_teoricas1. Teorias sócio-filosóficas e a natureza do gênero feminino: o proto-feminismo e sua incursão nos iluminismos, inglês e francês
Izaias Geraldo de Andrade
Maria das Dores Andrade de Barros
Introdução
O século XVIII entre outras coisas marca o fim da Idade Moderna e o início da Contemporânea, por si só, foi um período de grande ebulição intelectual, que direciona a história da humanidade. Por isso, a reflexão aqui proposta tem por objeto demonstrar a importância da análise de obras produzidas, na Europa, chamadas filosóficas, aceitas ou não pelos cânones da filosofia, tentando encontrar as raízes do movimento feminista. Tendo em vista, o contexto acima, nosso problema de pesquisa se configura na negação da mulher como ser pensante no século XVIII, capaz de produção de conhecimento. Nossa hipótese é que há na verdade uma estratégia social de negação que atinge todas as formas de expressão, a voz pública da mulher é negada na filosofia, na literatura, no âmbito social, na família. Como homens e mulheres viam a ordem de papeis sociais impostos ao feminino em seus discursos filosóficos
? Como a Filosofia se colocava nessa questão? Os questionamentos acima se interligam através do constructo social do gênero feminino. É fato que movimentos extraoficiais dão conta de que há muitos escritos do período, que fogem à regra do reforço da submissão da mulher. Com tal perspectiva o problema da negação feminina, possa ganhar várias argumentações, escrevendo na memória filosófica o grito de insubmissão da mulher.
Utilizaremos a metodologia bibliográfica de cunho qualitativo, para analisar as obras do período, com ajuda de comentadores destes textos. O foco do nosso trabalho será comparar dois movimentos em busca dos precursores do discurso feminista do século XVIII. Objetivamos no geral: analisar textos do século XVIII que discutem filosoficamente o papel da mulher na sociedade. E especificamente: analisar textos filosóficos
do século XVIII; compreender como se dá o discurso ideológico sobre as mulheres nos citados textos; comparar as diferentes posições discursivas e as filiações ideológicas entre os autores de tais discursos. Para verificarmos se nossa hipótese de que é um posicionamento político de gênero, o fato de importantes filósofos se manterem em suas observações contra a obtenção dos direitos femininos. Como a análise qualitativa de textos filosóficos
poderia contribuir com o desobscurecimento do papel da mulher na sociedade do século XVIII, na Europa? Como homens e mulheres viam a ordem de papeis sociais impostos a mulher em seus discursos filosóficos
? Como a filosofia oficial se colocava nessa questão? As respostas as perguntas devem encontrar-se nos desenvolvimentos das seguintes etapas; Catálogo de textos bibliográficos; Análise da literatura e de dados coletados; e, produção de nossa reflexão. Através de um estudo bibliográfico, qualitativo. E os resultados serão produzidos com o tratamento de dados da análise descritiva dedutiva, com a confrontação entre sínteses de textos filosóficos do século XVIII.
1. Política e religião fazendo a sociedade se configurar
Alguns autores como, James Frazer, J. J. Bachofen, Walter Burkert, Robert Graves, James Mellaart e Marija Gimbutas, afirmam que todas as divindades da Europa seriam oriundas de uma deusa matriarca proto-indo-européia (do Neolítico). Para eles a base de toda a Pré-história e das civilizações antigas estariam na religião da Deusa-mãe, e, o fundamento sócio religioso do matriarcado estaria nesta figura da Deusa-mãe. Algumas lendas, principalmente nórdicas referenciam sociedades matriarcais, que seriam segundo o Grande Dicionário da Língua Espanhola (2016). Substantivo masculino kaðo
matɾiaɾ
, e, configura-se com expressão de um poder feminino sobre a política de grupos sociais e na linearidade de parentesco através da mulher. Para o dicionário Etimológico a raiz da palavra, matr
tem origem indo-europeia sendo acompanhada pelo sufixo grego arkhés
, assim, dando a ideia de guiar, conduzir etc. Vejamos alguns significados do radical matr:
1. s. m. Sociologia - Forma de organização social, atribuídos a alguns povos primitivos, em que as mulheres detêm o poder. 2. Situação Sociológica onde organizações, empresas ou grupos em que as mulheres são substantivo masculino;
Também pode ser: 1. Autoridade feminina em um grupo social O matriarcado prevalece na minha família
. 2. organização social onde as mulheres são responsáveis matriarcado Aborígene
. (Grande Dicionário da Língua Espanhola, 2016)
O Antropólogo Suíço, Johann Jakob Bachofen (1815-1887) em 1861 publicou o livro Direito matriarcal: uma investigação do caráter jurídico e religioso do matriarcado no Mundo Antigo¹, sua principal teoria buscava comprovar que a maternidade foi à fonte de todas as sociedades humanas. E o de direito-de-mãe
, sua teoria foi contextualizada dentro de uma religião matriarcal. Para essa teoria, o patriarcalismo só teria surgido para substituir o já existente matriarcado de sociedade, que nasce com a religião pré-histórica.
Para o antropólogo Suíço a abordagem mítico-religiosa de uma religião matriarcal prevaleceu entre as civilizações antigas e nos respectivos mitos. Ele se baseia em descobertas arqueológicas que revelaram a existência de arte rupestre e de estatuetas de culto ao corpo feminino e suas consequências, gerando uma noção de origem da vida e do mundo a partir da representação da vida feminina. A religião matriarcal de adoração à Grande Deusa (Deusa Mãe), e, os ritos de adoração à natureza, fertilidade e sacralidade eram priorizados.
O poeta e escritor inglês Robert Graves em seu, "A Deusa branca², colabora com as hipóteses de Bachofen ao também narrar um período pré-histórico de religião matriarcal. E, uma das discípulas de Bachofen e Graves, Merlin Stone, ao estudar as estatuetas de Vênus do Paleolítico de culto universal, a serpente, toma como evidências de uma religião matriarcal desde a pré-história até as civilizações antigas do politeísmo pré-helênico. Para Stone (1976), a religião matriarcal tinha como culto universal a serpente que era o símbolo fundamental de sabedoria espiritual, fertilidade, vida e força. Acredita que a religião matriarcal foi disseminada desde a Pré-História até as civilizações antes da Bíblia. O culto da serpente seria o resultado para substituir da adoração à
Grande Deusa" favorecendo a transição para religião patriarcal de um Deus hebraico.
Então se diz que matriarcado é um sistema sócio-político em que a mãe ou a mulher exerce a primazia da autoridade sobre a família ou um grupo. E o processo pode abarcar vários outros, como a matrilinearidade, onde as crianças são identificadas em função das mães em vez dos pais, e famílias estendidas e alianças tribais formam linhas consanguíneas femininas conjuntas. Também a matrifocalidade, onde a autoridade materna é proeminente nas relações domésticas, devendo o marido juntar-se à família da esposa, em vez de a esposa mudar-se para a vila ou tribo do marido. O matriarcado, podemos dizer é a combinação de múltiplos fatores em que o mais importante, as mulheres são encarregadas da distribuição de bens do clã, e, das fontes de sustento da sociedade, o que tornaria dependente cada membro do clã e garantiria às mulheres uma posição de destaque nestas sociedades. Sobre o assunto vejamos o que nos diz Engels:
Com base no direito materno, isto é, enquanto a descendência só se contava por linha feminina, e segundo a primitiva lei de herança imperante no gen, os membros dessa mesma genes herdavam, no princípio, do seu parente gentílico falecido. Seus genes deveriam ficar, pois, dentro da gênese. Devido à sua pouca importância, esses genes passavam, na prática, desde os tempos mais remotos, aos parentes gentílicos mais próximos, isto é, aos consanguíneos por linha materna. Entretanto, os filhos de um homem falecido não pertenciam a genes daquele, mas a de sua mãe; ao princípio, herdavam da mãe, como os demais consanguíneos desta; depois, provavelmente, foram seus primeiros herdeiros, mas não podiam sê-lo de seu pai, porque não pertenciam à genes do mesmo, na qual deveriam ficar os seus gens. Desse modo, pela morte do proprietário de rebanhos, esses passavam em primeiro lugar aos seus irmãos e irmãs, e aos filhos destes ou aos descendentes das irmãs de sua mãe; quanto aos seus próprios filhos, viam-se eles deserdados. (2009, p. 70)
Engels no seu A origem da família, da propriedade privada e do estado
(1884), faz um levantamento preciso de como as sociedades saíram do matriarcado para o patriarcado e como politicamente estas questões afetam as condições de vida da mulher. Colaborando com nossa tese de que a permanência de uma situação educativa inferiorizada da mulher ao longo da história da humanidade tem a ver com o modo de construção de uma sociedade