O despertar do sonhador (Vol. 3 O Sonhador)
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Sobre este e-book
Esta é a história da família Lynch.
Niall e Mór escaparam de sua terra natal para buscar um novo começo e se perderam naquilo que encontraram.
Declan cresceu como o filho responsável, o irmão certinho — apenas para descobrir que não há como manter sua família segura.
Ronan sempre viveu no limite entre os sonhos e a vigília... mas agora esse limite se foi, e ele está desmoronando.
Matthew era a criança feliz, o raio de sol. Mas agora a rebeldia o chama, porque tudo parece uma ilusão.
O universo não foi feito para uma família como essa — uma família com o poder de criar um mundo e destruí-lo. E, se eles não conseguirem salvar uns aos outros ou a si mesmos, estaremos todos condenados.
"O despertar do sonhador não é nada menos que um triunfo, demonstrando a habilidade da autora de encontrar o equilíbrio perfeito entre o enredo mágico e a caracterização de personagens realista e complexa." - The Hoya
"A conclusão desta série é perfeita, e eu adorei as revelações incríveis ao longo do caminho. A escrita de Stiefvater tem um estilo único, particular, que eu amo. Mal posso esperar pelo seu próximo livro." - Hidden in Pages
"O despertar do sonhador é verdadeiramente o fim de uma era, o volume final da saga de sete livros que começou com Os garotos corvos. Eu não estava pronta para dizer adeus, mas fui obrigada..." - K. Hanna
"A Saga dos Corvos e a trilogia O Sonhador são histórias maravilhosas, com personagens que eu nunca vou esquecer e que serei eternamente grata por ter conhecido." - Two Women, So Many Books
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O despertar do sonhador (Vol. 3 O Sonhador) - Maggie Stiefvater
VeruTítulo original
Greywaren
ISBN: 978-65-5924-156-9
Copyright © Maggie Stiefvater, 2022
Todos os direitos reservados.
Edição publicada mediante acordo com Scholastic Inc., 557
Broadway, Nova York, NY, 10012, EUA.
Tradução © Verus Editora, 2023
Direitos reservados em língua portuguesa, no Brasil, por Verus Editora. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora.
Verus Editora Ltda.
Rua Argentina, 171, São Cristóvão, Rio de Janeiro/RJ, 20921-380
www.veruseditora.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S874d
Stiefvater, Maggie
O despertar do sonhador [recurso eletrônico] / Maggie Stiefvater ; tradução
Monique D'Orazio. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Verus, 2022.
recurso digital (O sonhador ; 3)
Tradução de: Greywaren
Sequência de: Sonhador impossível
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5924-156-9 (recurso eletrônico)
1. Ficção. 2. Literatura infantojuvenil americana. 3. Livros eletrônicos. I. D'Orazio, Monique. II. Título. III. Série.
22-81521
CDD: 808.899282
CDU: 82-93(73)
Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária - CRB-7/6439
Revisado conforme o novo acordo ortográfico.
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para todos os leitores que já acordaram com flores ou penas
Ainda assim, se observar atentamente seu modelo, analisar as formas das sombras e seus contornos e registrá-las em termos de valor, você obterá um retrato convincente.
— WILLIAM L. MAUGHAN, THE ARTIST’S COMPLETE GUIDE TO DRAWING THE HEAD
Leva muito tempo para um homem se parecer com seu retrato.
— JAMES MCNEILL WHISTLER
Se o sonho é uma tradução da vida desperta, a vida desperta também é uma tradução do sonho.
— RENÉ MAGRITTE
PRÓLOGO
No início desta história, anos e anos atrás, dois sonhadores chegaram ao paraíso.
Niall Lynch e Mór Ó Corra tinham acabado de comprar um lindo e secreto pedaço de terra no interior da Virgínia. Campos oblíquos e abertos. Sopés cobertos de carvalhos. E, ao longe, as fantasmagóricas Blue Ridge Mountains, agindo como sentinelas. Para Niall e Mór, a aquisição daquela fortaleza verdejante parecia um truque de mágica. Sim, a casa de fazenda no coração da propriedade estava cheia das pilhas de tralhas de caráter duvidoso do acumulador que havia morrido antes de chegarem. E o aglomerado de construções anexas que davam o nome ao lote — Barns
, ou celeiros
— encontrava-se em estado ainda mais decrépito, cada uma delas meio desconjuntada e com a pintura descascada.
Mas para Niall e Mór era um novo reino.
— Claro, vai dar tudo certo — disse Niall, cheio de seu otimismo habitual.
Niall era um jovem encantador, bonito, persuasivo, de fala rápida. Se era possível convencer o lixo dentro da casa e dos celeiros a se mover sozinho, ele era o homem para fazer isso.
Mór (ainda não chamada Mór na época) disse:
— Vamos ter que cuidar para que o bebê não se perca em todo esse matagal.
Mór era uma jovem heroína durona, não sentimental, inabalável. Um ano antes, ela havia cortado o cabelo dourado na altura do queixo para não atrapalhar, e um mês antes disso havia feito o mesmo com seu passado.
Niall sorriu aquele sorriso grande e repentino dele, colocou o cabelo comprido atrás da orelha, ficou bonito para ela olhar.
— Você gosta?
Ajeitando o jovem Declan nos braços, ela virou seu olhar sólido para a propriedade. Era tudo o que Niall tinha dito que seria. Adorável. Enorme. A quilômetros do vizinho mais próximo e a oceanos do familiar mais próximo.
Mas isso não era o mais importante para ela.
— Não vou saber até que eu tenha dormido, não é? — disse Mór.
Tanto Niall quanto Mór eram sonhadores — literalmente. Eles adormeciam e, algum tempo depois, acordavam com seus sonhos realizados. Mágica! Mágica rara, inclusive — eles nunca tinham conhecido ninguém que pudesse fazer o mesmo… ou, pelo menos, ninguém mais que admitisse fazer o mesmo, aliás era realmente uma surpresa? Era fácil ver como alguém com más intenções poderia tentar explorar um sonhador para obter lucro.
Na verdade, em termos de exploração, era mais fácil falar do que fazer. Sonhar era um negócio escorregadio. Niall e Mór muitas vezes se perdiam enquanto caminhavam nas trilhas do próprio subconsciente. Eles pretendiam sonhar, digamos, com dinheiro e, em vez disso, acordavam com, digamos, punhados de post-its com as palavras libra e dólar impressas.
Os sonhos mais úteis eram os sonhos focados.
Os sonhos mais focados eram os sonhos da floresta.
A Floresta.
Na superfície, a Floresta se parecia muito com uma floresta decídua comum, mas, quando Mór estava dentro dela, podia dizer que suas raízes eram muito mais profundas. Passavam a terra. Passavam a rocha. Passavam qualquer coisa que os humanos já tivessem visto, procurando não por água, mas por algo além. Quando a visitava em seus sonhos, Mór podia dizer que algo senciente vivia dentro da Floresta, mas nunca tinha visto o que era. Ela só ouvia. Ou sentia.
Fosse o que fosse, esse ser estava muito interessado nela.
Ela estava muito interessada nesse ser.
— Claro, não se preocupe — Niall tranquilizou Mór, estendendo a mão para pegar a dela. — Você encontrará a Floresta aqui.
Porque ele também sonhava com a Floresta. O ser estava interessado nele também.
(Niall estava interessado na Floresta, mas estava interessado principalmente em Mór.)
Ele tinha feito seu melhor para encontrar um lugar onde sonhar fosse bom e claro, onde fosse fácil escolher visitar a Floresta todas as noites. Parte dele esperava que ela também pudesse se apaixonar pela beleza do lugar, com a promessa de como seria a vida deles juntos, mas Niall sabia o que Mór realmente queria.
Então, naquela primeira noite, Mór sonhou, e Niall esperou. Por fim, quando o sol nasceu, Mór se juntou ao seu jovem parceiro na varanda frágil da casa da fazenda. Niall estendeu os braços para Declan e o abraçou enquanto eles olhavam para os campos enevoados.
Ele não perguntou a Mór se ela havia sonhado com a Floresta naquela noite. Ele sabia. Eles sonhavam com a Floresta; a Floresta sonhava com eles.
— Ouvi uma palavra na Floresta ontem à noite, amor — disse ele. — Não era em inglês e também não era em irlandês.
— Eu também vi uma palavra ontem à noite — respondeu Mór. — Escrita em uma pedra.
Ela escreveu no pólen sobre o cercado da varanda assim que ele disse em voz alta:
Greywaren.
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
1
Ocrime de arte costumava ser engraçado.
Não engraçado ha-ha, mas engraçado do tipo esquisito. Muitos crimes entram e saem de moda, mas o crime artístico está sempre em alta.
Alguém poderia pensar que os amantes da arte seriam os menos propensos a tolerar roubo ou falsificação; mas, na verdade, muitas vezes eles são os que acham esses crimes os mais intrigantes. É a apreciação artística com esteroides. A apreciação artística como jogo de tabuleiro, um esporte coletivo. Muita gente nunca vai roubar uma estátua ou forjar uma pintura, mas muita gente acha interessante quando outra pessoa o faz. Diferente de quando vemos alguém roubando uma bolsa ou um bebê, neste caso um número razoável de espectadores pode torcer secretamente pelo ladrão.
Os riscos nunca pareciam tão altos. Arte era algo valioso, mas nunca questão de vida ou morte.
Mas o mundo havia mudado.
Agora, se alguém possuía uma obra de arte, significava que outra pessoa não a possuía.
E isso era questão de vida ou morte.
Ninguém olhou para Bryde enquanto ele entrava no Museu de Belas Artes. Ele era apenas um homem de cabelos castanhos com uma jaqueta cinza leve demais para o inverno de Boston, ofuscado pela escala do museu com fachada em colunata enquanto subia as escadas com uma corridinha, as mãos nos bolsos, os ombros encolhidos contra o frio. Ele não parecia alguém que destruía coisas valiosas no passado recente ou alguém que pretendia roubar coisas valiosas em um futuro próximo, embora fosse ambos.
Situações desesperadas etc.
Fazia apenas trinta e seis horas que dezenas de milhares de pessoas e animais haviam adormecido em todo o mundo. Caíram todos de uma vez, todos juntos. Não importava se estivessem correndo pela calçada ou jogando o filho no ar ou subindo em uma escada rolante: eles adormeceram. Aviões caíram do céu. Caminhões desabaram de pontes. Aves marinhas choveram no oceano. Não importava se os dorminhocos estivessem em uma cabine ou atrás do volante de um ônibus; não importava se os outros passageiros estivessem gritando; os adormecidos continuavam dormindo. Por quê? Ninguém sabia.
Bem, alguns sabiam.
Bryde caminhou rápido e sem impedimentos até a bilheteria. Ele soprou em seus dedos frios e estremeceu um pouco. Os olhos brilhantes olhavam aqui, ali, atrás de novo, apenas pelo tempo suficiente para notar o guarda fazendo hora perto dos banheiros e o guia do museu conduzindo um grupo para outra sala.
A jovem atrás do balcão de ingressos não ergueu os olhos da tela. Ela perguntou:
— Ingresso de acesso geral?
No noticiário, um elenco rotativo de especialistas usava frases como distúrbios metabólicos ou doenças zoonóticas ou inversões de gases tóxicos para explicar todas as pessoas e animais que estavam em coma, mas essas explicações se transformavam à medida que os especialistas lutavam para encontrar uma explicação que incluísse as centenas de moinhos de vento, carros e eletrodomésticos que também pararam de funcionar. Teria algo a ver, postulou um especialista, com os bilhões de dólares de sabotagem industrial que vinha acontecendo na Costa Leste? Talvez fosse tudo um ataque à indústria! Talvez o governo revelasse mais dados pela manhã!
Mas pela manhã não chegou nenhuma informação nova.
Ninguém reivindicou a responsabilidade. Os adormecidos continuaram dormindo.
— Preciso de um ingresso para a exposição Viena — disse Bryde.
— Estão esgotados até março — respondeu a atendente do balcão, no tom de quem já havia repetido isso muitas vezes. — Posso colocar seu e-mail em uma lista de espera.
A exposição itinerante oportunidade-única-na-vida de artistas da Secessão de Viena esgotou no dia em que foi anunciada. Só podia esgotar. No centro estava O beijo, de Gustav Klimt, uma pintura que nunca havia deixado seu país de origem. O beijo é um arraso de pintura que a maioria das pessoas já viu, mesmo que não pense que já viu. Apresenta dois amantes completamente consumidos por um manto dourado e um pelo outro. O homem beija a mulher na bochecha. Ele usa hera no cabelo; suas mãos tocam a mulher em oração. A mulher está ajoelhada serenamente sobre as flores; sua expressão é de quem tem a certeza de ser adorada. Adorada como? Difícil dizer. Os Klimts anteriores, menos famosos, haviam sido vendidos por cento e cinquenta milhões de dólares.
— Eu preciso entrar hoje — disse Bryde.
— Senhor… — A atendente do balcão ergueu o olhar para Bryde pela primeira vez. Ela hesitou. Ela o encarou por muito tempo. Seus olhos, seu rosto. — Bryde — ela sussurrou.
Não foi só a vida dos adormecidos que mudou no dia em que os aviões caíram do céu. Os sonhadores — que eram um número bem menor que os adormecidos — também haviam perdido a capacidade de tirar coisas de seus sonhos. A maioria deles ainda não sabia, porque sonhava muito raramente. E grande parte já vinha falhando (no sonho, na vida desperta) havia muito tempo.
Bryde tinha visitado alguns deles em seus sonhos.
— A exposição Viena — Bryde repetiu baixinho.
Desta vez não houve hesitação. A atendente tirou o próprio crachá do pescoço.
— Coloque seu, hum, dedo sobre a foto.
Enquanto ele se afastava, prendendo o cordão no pescoço, ela levou os dedos à boca e abafou um gritinho.
Pode ser uma coisa poderosa saber que não se está sozinho.
Alguns minutos depois, Bryde calmamente ergueu O beijo da parede da movimentada exposição Secessão de Viena. Ele a pegou com a calma certeza de alguém que deveria estar pegando uma pintura da parede, e talvez tenha sido por isso que nenhum dos outros visitantes percebeu que algo estava errado a princípio.
Então o alarme sensível ao peso começou a berrar.
Ladrão, ladrão, ladrão, o tom eletrônico penetrante advertiu.
Desta vez, os visitantes olharam.
Bryde cambaleou para trás com a pintura, tão grande quanto ele. Que obra de arte era aquela cena: um homem de cabelos claros com nariz de falcão, com algo em suas proporções que era arrumado e previsível, e aquela bela pintura, com seu próprio equilíbrio elegante.
O canto do quadro bateu no chão. Bryde começou a arrastá-lo para a saída.
Agora era óbvio que a pintura estava sendo roubada. Não era assim que se carregavam obras-primas de valor inestimável.
E, no entanto, os espectadores não pararam Bryde; eles assistiram. Afinal, era isso que se devia à arte, não era? Eles o viram parar por tempo suficiente para vasculhar e tirar algo que parecia um avião de papel de sua jaqueta e arremessá-lo em um guia do museu que se apressava em entrar na exposição. Assim que o avião o atingiu no peito, derreteu em uma camada de lodo que o grudou no chão. Outro guia do museu ficou com o rosto cheio de pó brilhante que chiou e faiscou quando tocou sua pele.
Um terceiro guia derrapou até parar enquanto a grama e os arbustos cresciam rapidamente do chão, liberados de uma bola de tênis de aparência comum que Bryde havia atirado de seu bolso.
Com dificuldade, Bryde prosseguiu.
A cada curva ele enfrentava mais guardas, e a cada curva encontrava ainda mais bugigangas estranhas nos bolsos para distraí-los, como se as estivesse tirando de uma galeria de obras de artistas díspares. Os objetos eram lindos, estranhos, assustadores, alucinantes, barulhentos, apologéticos, vergonhosos, entusiasmados — todos sendo presentes colecionados nas últimas trinta e seis horas daqueles que pensavam que estavam sozinhos antes que Bryde os alcançasse. No passado, ele poderia ter sonhado novas armas para manter os guardas afastados, mas não agora. Ele tinha que se contentar com sonhos talentosos de antes.
Mas ele não tinha o suficiente para tirá-lo do museu.
Havia mais walkie-talkies estalando nas profundezas do prédio e mais alarmes soando e muitas escadas faltando para chegar à porta.
Ele não estava nem perto de escapar.
Não se podia simplesmente entrar em um dos maiores museus do mundo, escolher um Klimt da parede e arrastá-lo para fora.
Estava fadado ao fracasso desde o início.
— Vocês não querem que eles acordem? — Bryde rosnou para os espectadores.
Essas palavras aterrissaram com mais força do que qualquer um dos apetrechos de sonhos. Elas invocavam aqueles que não estavam lá, os adormecidos, que dormiam e dormiam e dormiam. Nos quartos vagos dos entes queridos. Em berçários com portas esperançosamente entreabertas, as baterias das babás eletrônicas acabando. Nas enfermarias geriátricas dedicadas aos adormecidos que ninguém havia reivindicado como seus.
Um punhado de espectadores correu para ajudar Bryde a carregar a pintura.
Agora era realmente uma obra de arte, Bryde e esse grupo de visitantes do museu empurrando O beijo, passando pelos painéis que descreviam o processo de Klimt, a jornada árdua que essa pintura já havia feito, os atos de rebelião que Klimt realizara repetidamente em sua vida artística.
E lá foram eles persistindo, cinco, seis, sete pessoas carregando a pintura até a entrada principal do museu, outros frequentadores se aproximando para bloquear os guardas.
Na grande escadaria do museu, a polícia aguardava, armas em riste.
Já que seus sonhos talentosos haviam se esgotado, Bryde era apenas um homem segurando firme uma pintura famosa nas mãos. Foram necessários apenas alguns policiais para livrá-lo de seu fardo. Realmente o fracasso do roubo não surpreendeu. O que surpreendeu foi a demora para fracassar. Mas eis a arte aí para você: difícil prever o que ia dar certo e o que não ia.
Enquanto escoltavam Bryde algemado a uma viatura estacionada, ele tropeçou.
— Calma aí — disse um dos policiais, em um tom não indelicado.
— Não há necessidade de ninguém se machucar — disse o outro policial.
Atrás deles, O beijo era levado de volta ao museu. Quanto mais longe de Bryde, mais lentos os passos de Bryde se tornavam.
— Em que você estava pensando? — perguntou o primeiro policial. — Você não pode simplesmente entrar lá e pegar uma pintura, cara.
Bryde disse:
— Foi a única coisa em que consegui pensar.
Ele já não se parecia com a pessoa que havia entrado no museu mais cedo. Toda a intensidade tinha desaparecido de seus olhos. Ele caiu no chão, um homem com uma jaqueta vazia de sonhos.
— Um dia — disse ele aos policiais —, vocês também vão dormir.
Adormecido.
2
Todos querem ser poderosos.. Os anúncios dizem a todos os consumidores: Somos importantes e vistos.. Os professores dizem a todos os alunos: eu acredito em você.. Abrace seu poder.. Seja a sua melhor versão.. Você pode ter tudo.. São só mentiras.. A energia é como gasolina e sal.. Parece abundante, mas existe em quantidade limitada.. Lâminas afiadas querem poder para ganhar espaço e cortar.. Lâminas cegas querem poder para as lâminas afiadas não as cortarem.. Lâminas afiadas querem poder para fazer o que devem fazer.. Lâminas cegas querem poder apenas para ocupar espaço na gaveta.. Vivemos em um mundo nojento.. A gaveta está cheia de lâminas feias feitas para nada..
— NATHAN FAROOQ-LANE,
O fio cortante das lâminas, PÁGINA 8
3
Ao malho, dia de trabalho.
Declan Lynch acordou cedo. Ele não tomava café da manhã, porque o café da manhã era a refeição mais provável de fazer mal ao seu estômago. Ele bebia café, embora isso lhe fizesse mal ao estômago, porque, sem o gemido urgente da cafeteira pela manhã, ele não teria um motivo convincente para sair da cama na hora. De qualquer forma, Matthew dissera uma vez que as manhãs cheiravam a café, então agora tinham que continuar cheirando a café.
Depois que a cafeteira começou, ele ligou para Jordan Hennessy — o dia de trabalho dela estaria terminando naquela hora, assim como o dele estava começando. Enquanto a ligação chamava em seu ouvido, ele com cuidado limpava o pó de café caído no balcão e as impressões digitais do interruptor de luz. Ele gostava da maioria das coisas em seu apartamento em Boston, especialmente a localização de Fenway, a pouco mais de um quilômetro e meio de Jordan, porém o prédio mais antigo nunca seria tão patologicamente limpo quanto o lugar sem alma que ele havia deixado para trás em Washington, DC. Declan gostava das coisas arrumadas. Ele raramente conseguia o que queria.
— Pozzi — Jordan disse animado.
— Você ainda está acordada?
Essa era uma questão maior do que tinha sido apenas alguns dias antes.
— Chocante — ela respondeu. — Por incrível que pareça. A multidão assiste com expectativa; nem os técnicos têm ideia do que esperar.
Acordada, acordada — por que ela estava acordada quando tantos outros estavam dormindo? O que ele faria se no dia seguinte ela não estivesse?
— Quero ver você hoje à noite — disse ele.
— Eu sei — ela respondeu, então desligou.
Ao malho, dia de trabalho. A camisa social de Declan estava um pouco amassada, então ele a pendurou no banheiro e ligou a ducha. No espelho, o jovem Declan Lynch o encarou. Não era o mesmo Declan Lynch que olhara para ele meros meses antes. Aquele Declan tinha sido esquecivelmente montado a partir de peças produzidas em massa: sorriso branco perfeito, cachos escuros domados, grisalho discreto, uma postura confiante e não ameaçadora. Esse Declan, por outro lado, gravado na memória. Atrás daqueles olhos azuis existia algo tenso e mal contido.
Ele nunca havia achado que se parecesse muito com seu irmão Ronan, mas agora…
(Não pense em Ronan)
Depois de vestido, cafeinado e cuidando de uma queimação de café no estômago, Declan começou a trabalhar um pouco. Desde que viera para Boston a fim de ficar perto de Jordan, este havia se tornado seu trabalho: babá de luxo. Os clientes deixavam os telefones durante o fim de semana, durante o mês, enquanto estavam fora da cidade, fora do país, na prisão. Alguns clientes deixavam os celulares com ele em caráter permanente. Em seus mundos de alto risco, nem sempre era fácil para eles abordar os clientes com a cabeça fria ou sem prometer involuntariamente algo emocional ou físico. Então eles tinham Declan para falar por eles.
Declan vinha treinando para isso a vida toda: tornar as coisas emocionantes o mais tediosas possível.
Seus clientes queriam um sócio discreto, fluente na linguagem tácita dos docemetais, as raras peças de arte com o poder de acordar os adormecidos. Esse era Declan. Ele sabia chamar aqueles vulneráveis para se tornarem dependentes adormecidos. Ele sabia ser discreto ao perguntar sobre a origem de um dependente, ao nunca fazer referência a sonhos ou magia: a maioria de seus clientes havia adquirido seus dependentes por meio do casamento, mas alguns os herdaram por meio de testamento e outros ainda compraram um filho dependente ou cônjuge no mercado clandestino. Esses clientes geralmente não sabiam nada sobre como os dependentes haviam adquirido um risco tão perigoso de adormecer. Eles não queriam saber. Só queriam saber como manter a família acordada.
Declan entendia aquilo perfeitamente.
Ele consultou o relógio e ligou para Adam Parrish.
— Você tem algo para mim?
A voz de Adam cortava e cortava; ele estava andando.
— A linha ley continua desativada. Em toda parte. Nenhuma mudança.
— Alguma palavra de…
Adam não respondeu. Isso significava não. Não era um bom sinal. Adam Parrish era a pessoa mais importante que qualquer outra no mundo para Ronan. Se Ronan não estava telefonando para ele, não estava telefonando para ninguém.
— Você sabe onde me encontrar — Declan disse a Adam, e desligou.
(Ronan estava morto?)
Ao malho, dia de trabalho. A Boston do início da manhã estava acordando e resmungando quando Declan saiu: caminhões de lixo ressoavam, ônibus silvavam, pássaros se agitavam. Sua respiração formava uma nuvem visível quando ele destrancou o carro apenas o tempo suficiente para recuperar o difusor do purificador de ar pendurado no retrovisor.
Ele foi casual no gesto.
Apenas um aromatizador. Não minhas economias de vida. Nada para ver aqui.
— Bom dia! — uma de suas vizinhas exclamou. Ela era médica residente. Declan tinha feito uma verificação de antecedentes a respeito dela, junto com a do resto das pessoas na rua. Boas cercas faziam bons vizinhos. — Ei, é… Seu irmão está bem? Marcelo disse que ele desmaiou ou algo assim?
Ela poderia ser um sonho ou uma sonhadora; havia algumas coisas que as verificações de antecedentes não conseguiam descobrir. Era improvável, mas não impossível. Quando tudo aquilo começou, ele pensava que fosse o único que vivia com sonhos. Agora ele sabia, pelas notícias, que havia outros. Não muitos. Porém mais do que ele havia imaginado.
Mais do que havia docemetais, com certeza.
— Pressão baixa — Declan mentiu de leve. — Congênito. É da família da minha mãe. Você mexe com esse tipo de coisa?
— Oh! Ah, oh, não, eu mexo, eu mexo com tripas e sujeira — ela respondeu, gesticulando para a cintura. — Estou feliz que ele esteja bem.
— Estou feliz que você tenha perguntado — ele mentiu novamente.
Dentro, parado a uma boa distância das janelas, ele abriu o difusor, revelando o pingente escondido dentro. O pingente era uma coisa delicada, elaborada com primor, um cisne de prata enrolado no número sete. Quem sabia o que o símbolo originalmente significava; algo importante para alguém, ele supôs, ou o pingente não teria valor para ele agora. Ele parecia se lembrar de uma história que Aurora costumava contar sobre sete cisnes, mas os detalhes lhe escapavam. Sua bela armadilha de memória parecia ter funcionado apenas para armazenar as histórias de seu pai.
O pingente de docemetal tinha custado muito.
Ele já sentia falta da obra de arte que vendera para obtê-lo.
— Hora da escola! — ele anunciou enquanto subia as escadas para o quarto de Matthew. Na porta, seus pés se enroscaram em um par de tênis enormes e feios. Ele tentou se desvencilhar, mas o calçado acolchoado e brilhante estava à procura de sangue. Declan voou. Ele se segurou na beirada do colchão com um grunhido; os cachos dourados de Matthew não se moveram contra o travesseiro.
— Matthew — disse Declan. Seu estômago nervoso queimava.
O menino na cama parecia ter dezessete anos, parecia ter sete. Essa era a magia das feições angelicais de Matthew. Ele continuou dormindo. Declan pressionou o pingente de cisne diretamente contra o pescoço de Matthew. A pele do irmão estava quente e tinha sinais vitais sob os dedos.
— Mmmf. — Matthew tateou, sonolento, para agarrar a corrente do colar. Com força. Como se fosse um cobertor de segurança, e não era? — Estou levantando.
Declan soltou a respiração.
O docemetal ainda não havia sido gasto.
— Ande logo — disse ele. — Você tem vinte minutos.
Matthew resmungou:
— Você poderia ter me acordado mais cedo.
Mas Declan não poderia. Os docemetais mais poderosos tendiam a ser pinturas inconvenientemente conhecidas: o Retrato de madame X, de John Singer Sargent; O beijo, de Klimt; Black Iris III, de Georgia O’Keeffe. Esses e outros sorrisos de Mona Lisa pendurados em museus, em coleções particulares e emprestados por corporações e gente super-rica. Docemetais um pouco menos poderosos viviam nas mãos de CEOs e herdeiras sonhados, ou de CEOs