O Homem Das Estrelas
De Ney Alencar
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O Homem Das Estrelas - Ney Alencar
O Homem das
Estrelas
e
Outras Histórias
de Horror
Cósmico
1
Direitos reservados em língua portuguesa por Ney Rolim de Alencar Filho. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (Eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópias e gravações) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita do autor.
O Homem das Estrelas é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, locais e acontecimentos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com eventos, locais e pessoas vivas ou falecidas é mera coincidência.
O Homem das Estrelas é uma publicação independente do autor.
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4
Poema
O Homem das Estrelas grita
Girando em seu Tempo,
Como as garras do Vazio
Que rompem o Espaço!
O Homem das Estrelas clama
Na Cacofonia dos astros,
Com as mãos em cúspides
Cheias de átomos brilhantes!
O Homem das Estrelas dorme
Dentro dos interstícios da matéria,
Gizando seus pesadelos
Além do zênite do Universo!
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6
Conteúdo:
I – O Homem das Estrelas
09
II – O Chamado das Estrelas Uivantes
28
III – Aqueles que Dormem
71
IV – Uma Vez Além da Atrocidade
103
V – No Sibilar da Aurora
139
VI – Todas as Cores da Escuridão
147
7
8
O Homem das
Estrelas
I – A Loucura das Estrelas
1890, região de Manacapuru, Amazônia.
O Homem das Estrelas olhava para o mundo daquele lugar escuro no centro do céu onde as estrelas não brilham e onde toda a luz some!
Huaorini sabia que ele estava lá!
Sua voz abominável falava com ele, às vezes cantando sobre o coro sem som daquelas criaturas horrendas de escuridão que se alimentavam de estrelas nos confins do espaço distante.
Às vezes ela lhe falava de sua fome medonha pela carne macia que habitava a terra e os prazeres hediondos que seria poder devorá-la.
E Huaorini escondia a cabeça no meio das pernas e ficava em silêncio, pois sabia que seu choro era apenas um antepasto para aquela coisa abominável lá fora.
O povo de Huaorini o havia banido da aldeia.
9
Ele havia sido pajé famoso e conhecido por trinta e sete anos, curara muitos índios das moléstias trazidas pelos homens brancos, lutara contra Curupira e Saci e afugentara o horrendo Mapinguari quando este ousara raptar e devorar alguns curumins da aldeia.
Um dia ele ouviu a voz que o chamava pelo nome.
Ela falava em uma língua que Huaorini não conhecia, mas ele entendia suas palavras.
Ela lhe dizia que era o Homem das Estrelas e que estava adormecido no céu, esperando!
O que ele esperava, havia perguntado Huaorini.
A voz lhe dissera que devia esperar até todas as estrelas estarem na posição correta e então ela acordaria e devoraria toda a Terra.
— Porque? — perguntara o índio confuso — Não havia comida no céu?
Houve um silêncio prolongado e quando Huaorini pensava que a voz havia desistido de lhe falar escutou uma coisa horrenda.
Era como um cacarejar apócrifo, uma tosse ecoante ou uma gargalhada de desdém de alguma coisa que nunca gargalhara, dito, porém, em uma voz inumana em um tom abominável e alienígena que jamais poderia ter sido pronunciado por nada que vivesse na Terra.
10
O sangue esfriou nas veias de Huaorini e foi como se seu coração parasse de bater por um momento, o ar fosse expulso de seus pulmões e seus olhos perdessem a visão.
Ele sentiu-se só e nu em um lugar escuro numa parte do céu onde não havia estrelas.
Mas ele sabia que não estava sozinho.
Poia sentir algo monstruoso e amorfo ali ao seu lado.
Ouvia seu som abominável.
Na escuridão ele sentiu o toque rígido e lascivo de algo que não era humano, de dedos que não estavam em uma mão.
Membros enrijecidos e fantasmais o tocaram.
Ele queria gritar, mas sua voz não saiu, sue garganta estava seca e a língua pastosa.
O horror blasfemo arrebatou sua sanidade com apenas um toque medonho, morno e úmido de algo enrijecido e lúbrico que pulou em sua mão e pulsando cuspiu algo quente e pegajoso em seu rosto assombrado.
Quando seus olhos se abriram ele viu que estava gritando ainda.
Gritando dentro de sua oca, sem parar.
Avassalado por aquele terror louco que consumira sua sanidade.
Foi assim que fora banido!
11
Agora vivia na mata, sozinho. Não ele não estava sozinho, mas queria estar!
Construíra uma choça para si longe da vila de seus ancestrais.
Longe de qualquer outro ser humano.
Ali ele cultuava em silêncio o horrendo Homem das Estrelas que lhe falava naqueles estertores impuros, naquelas manifestações cósmicas!
E gritava nas noites sem lua!
Quando aquilo vinha até ele!
II – O Horror do Rio Amazonas
1920, região de Manacapuru, Amazônia.
O velho pescador remou devagar saindo das águas turbulentas do Amazonas e entrando pelo canal estreito que levava à um dos remansos do rio.
O vento ali era quase parado.
Não havia pássaros e ele não vira animais pelas margens.
Parou no meio das águas pretas e esperou, olhando com curiosidade a superfície parada, lisa como se fosse feita de obsidiana.
Um momento depois um barulho de peixe pulando quebrou o silêncio sinistro.
12
O pescador jogou a rede nas águas paradas, uma, duas, várias vezes.
Mas ela sempre voltava vazia.
A tarde se escoou rápida, o sol desceu pelo horizonte e o crepúsculo caiu devagar com sua mágica supersticiosa e todo o lugar encheu-se de sombras.
A última vez que jogou a rede ela ficou presa em algo no fundo das águas, provavelmente um galho submerso.
Ele remou até o lugar e colocou a mão na água.
Estava fria, mais do que de costume, um frio tenebroso que lhe chegava até os ossos, deixando sua mão entorpecida.
Subitamente uma nuvem cobriu o pequeno remanso com uma sombra agourenta, apagando a luz dos últimos raios de sol.
Ele olhou para cima amedrontado.
Não era uma sombra de nuvem, ela se mexia e revoluteava pelo ar.
Então ele percebeu que eram mariposas, voando ao redor do remanso, pousando nas árvores e no barco.
Esticou a mão e uma delas pousou sobre ela.
Seu toque era estranho, quase como algo alienígena.
Era diferente das outras que já vira, tinha asas largas e macias, coloridas de uma forma que nunca vira, cores tão 13
estranhas que não sabia que existiam, matizes de roxo e azul, verde e negro esmeraldino, que brilhavam na escuridão reinante com uma luz fantasmagórica como grandes vagalumes.
Um odor pungente de mel encheu o ar.
A nuvem agora revoava à sua volta e ele podia ouvir, baixinho, um som assobiado quase como um trinado.
O velho pescador, paralisado com aquela cena surreal, sentiu uma pequena fisgada na mão e viu correr um fio de sangue.
A mariposa que estava pousada ali esticou sua língua coriácea e lambeu o sangue.
Logo outras vieram pousar em sua mão atraídas pelo leve odor ferruginoso.
Temeroso o velho balançou a mão, espantando os insetos.
Acendeu o lampião, afastando a nuvem de mariposas que ainda ficaram revoando em torno do barco.
Voltou-se para a rede. Tentou puxá-la, mas ela estava bem presa.
Aumentou a luz do lampião e colocou-o na ponta do barco para iluminar as águas negras.
Desceu do barco e entrou na água.
O frio molhado o fez tremer, subiu pelas pernas e adormeceu-as até sua cintura.
14
As águas eram fundas.
Mergulhou devagar e nadou até o fundo onde estava presa a rede.
As profundezas