Wacquant, L. Que É Gueto

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

DEBATE

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA N 23: 155-164 NOV. 2004

QUE GUETO?
CONSTRUINDO UM CONCEITO SOCIOLGICO
Loc Wacquant
RESUMO
Ao invs de produzirem um conceito analiticamente robusto de gueto, as Cincias Sociais utilizam o termo de maneira descritiva, no raro lhes conferindo significados do senso comum emprestados das sociedades em que o fenmeno identificado. A partir da produo historiogrfica sobre a dispora judaica na Europa renascentista, da Sociologia da experincia negra na metrpole fordista dos EUA e da Antropologia da marginalidade tnica na sia Oriental, este artigo constri um conceito relacional de gueto como um instrumento bifacetado [Janus faced] de cercamento e controle etno-racial. Por meio desse procedimento, o gueto revela-se como um dispositivo scio-organizador composto de quatro elementos (estigma, limite, confinamento espacial e encapsulamento institucional) que emprega o espao para reconciliar seus dois propsitos contraditrios: explorao econmica e ostracismo social. O gueto no uma rea natural, produto da histria da migrao (como Louis Wirth defendia), mas sim uma forma especial de violncia coletiva concretizada no espao urbano. A articulao do conceito de gueto possibilita o desvelamento da relao entre guetizao, pobreza urbana e segregao, assim como o esclarecimento das diferenas estruturais e funcionais entre guetos e aglomeraes tnicas. Esse proceder tambm possibilita que realcemos o papel do gueto como matriz e incubador simblico da produo de uma identidade maculada, indicando que seu estudo seja feito por analogia a outras instituies voltadas para o confinamento forado de grupos despossudos e desonrados como o campo de refugiados, a reserva e a priso. PALAVRAS-CHAVE: gueto; conceituao; cercamento etno-racial; controle social.
1

I. INTRODUO Enquanto as Cincias Sociais fazem uso corrente do termo gueto de maneira descritiva, elas paradoxalmente no produziram uma definio analtica para o mesmo. Tanto na historiografia da dispora judaica do comeo da era moderna e durante o nazismo, como na Sociologia da experincia negra na metrpole do sculo XX e na Antropologia sobre a marginalidade tnica na frica e na sia Oriental, ou seja, nas trs reas em que o termo empregado, o gueto denota uma rea urbana restrita, uma rede de instituies ligadas a grupos especficos e uma constelao cultural e cognitiva (valores, formas de pensar ou mentalidades) que implica tanto o isolamento scio-moral de uma categoria estigmatizada quanto o truncamento sistemtico do espao e das oportunidades de vida de seus integrantes. Mas ne-

nhuma dessas linhas de pesquisa tomou para si o nus de especificar o que faz do gueto uma forma social, ou quais de suas caractersticas so constitutivas e quais so derivativas; pelo contrrio, as diferentes pesquisas tm, em suas pocas respectivas, adotado a definio do senso comum que prevalece na sociedade examinada o que explica o fato de o conceito, que parece bvio, no aparecer em grande parte dos dicionrios de Cincias Sociais, nem mesmo nas edies anteriores desta enciclopdia. II. UM CONCEITO OPACO E MUTANTE Dessa maneira, o campo semntico do conceito gueto na sociedade e nas Cincias Sociais norte-americanas, cujo domnio da investigao sobre esse tpico tem sido tanto quantitativo quanto temtico, tem sucessivamente se expandido e se contrado, acompanhando assim a maneira como elites polticas e intelectuais conceituam o nexo perverso entre etnia e pobreza no meio urbano (WARD, 1989). Inicialmente, na ltima metade do sculo XIX, o termo era usado para referir-se a concentraes residenciais de judeus eu-

1 Este artigo ser publicado em Smelser e Baltes (2004).

Traduo de Zena Eisenberg e Joo Feres Jnior.

Recebido em 8 de novembro de 2003 Aprovado em 10 de junho de 2004

Rev. Sociol. Polt., Curitiba, 23, p. 155-164, nov. 2004

155

QUE GUETO?
ropeus nos portos do Atlntico e era claramente distinto de slum2 enquanto rea de moradia precria e de patologia social. O conceito expandiuse durante a Progressive Era e passou a incluir todos os distritos urbanos degradados3 onde imigrantes exticos juntavam-se mais especificamente, imigrantes pobres do Sudeste europeu e afro-americanos fugindo do regime Jim Crow de submisso de castas no Sul dos EUA. Na medida em que o termo refletia preocupaes da classe dominante com relao assimilao desses grupos ao padro anglo-saxo predominante no pas, o gueto referia-se, nesse contexto, interseco entre bairros tnicos e slums, em que a segregao juntava-se ao abandono fsico e superpopulao, exacerbando assim males urbanos como a criminalidade, a desintegrao familiar, a pobreza e a falta de participao na vida nacional. O conceito recebeu autoridade cientfica com o paradigma ecolgico da Escola de Sociologia de Chicago. Em seu livro clssico, The Ghetto, Louis Wirth (1928, p. 6) junta ao gueto judeu da Europa medieval outros guetos: Pequenas Siclias, Pequenas Polnias4, Chinatowns e cintures negros das cidades grandes, assim como reas do vcio, pululando com tipos marginais tais como vagabundos, bomios e prostitutas todas eles consideradas reas criadas naturalmente a partir de um desejo universal de diferentes grupos de preservar seus hbitos culturais peculiares, e cada uma cumprindo sua funo especfica no grande organismo urbano. O conceito foi modificado depois da II Guerra, sob a presso do movimento dos direitos civis e passou a referir-se aos enclaves compactos e saturados a que os afro-americanos eram relegados quando migravam para os centros industriais do Norte dos EUA. Havia ento um forte contraste entre o crescimento de uma metrpole negra no seio de outra branca, onde os negros desenvolviam instituies distintas e paralelas para compensar e proteger-se do isolamento imposto pelos brancos (DRAKE & CAYTON, 1945), e a disperso residencial dos euro-americanos de descendncia estrangeira. Durante o pice das revoltas negras dos anos 1960, Kenneth Clark (1965, p. 11) escreveu sobre a relao de subordinao etnoracial e fez dela o epicentro de sua anlise do Gueto escuro e seus infortnios: Os EUA adicionaram ao conceito de gueto a restrio das pessoas a uma rea especfica e a limitao de sua liberdade de escolha com base na sua cor. As paredes invisveis do gueto escuro foram erigidas pela sociedade branca, por aqueles que tm o poder. Esse diagnstico foi confirmado pela Comisso Kerner (1989 [1968], p. 2), uma fora-tarefa supra-partidria indicada pelo Presidente Johnson, cujo relatrio oficial sobre a desordem civil que abalou a metrpole norte-americana ganhou fama por culpar a intransigncia racial dos brancos pelo fato de os EUA estarem transformando-se em duas sociedades, uma negra e outra branca segregadas e desiguais. Contudo, nas duas dcadas seguintes, o gueto escuro entrou em decadncia devido desindustrializao e s polticas estaduais de reduo da previdncia e compactao urbana, tornando-se um territrio abandonado, foco de terror e desintegrao. Alm disso, na medida em que a dominao racial tornava-se cada vez mais difusa e difratada atravs do prisma de classe, o conceito foi substitudo por uma dade maneirada pelo eufemismo geogrfico centro urbano e pelo neologismo underclass5, este ltimo referindose a um substrato de residentes do gueto associados a comportamentos anti-sociais, altas taxas de desemprego e isolamento social (WILSON, 1987). Nos anos 1990, a neutralizao do termo gueto na pesquisa orientada ao planejamento de polticas pblicas culminou com o expurgo de qualquer trao de raa ou poder, redefinindo assim o termo como qualquer grupo de pobreza extrema, independente de sua composio populacional ou institucional. Dessa forma, o conceito de gueto

2 Um slum uma rea de dilapidao imobiliria que, por

extenso, tende a designar uma vizinhana de m reputao e indesejvel para as classes baixas. Essa palavra descreve um tipo de ocupao urbana similar das favelas brasileiras, mas que tambm pode ser aplicada para descrever algo similar aos cortios (nota dos tradutores).
3 O termo no original inner city, uma expresso que

nomeia os indesejados bairros centrais das cidades norteamericanas, ocupados primeiramente pelas indstrias e depois pelas populaes de classes baixas e que, a partir da dcada de 1950, comearam a ser abandonados pela brancos (white flight), o que acarretou uma desvalorizao imobiliria drstica, e conseqente deteriorao do tecido urbano (N. T.).
4 No original, Little Sicilies, Little Polands: uma refern-

cia aos nomes que alguns bairros tnicos receberam nos Estados Unidos, em relao s regies ou aos pases de onde vieram essas etnias (N. T.).

5 Para uma exegese sociolgica dessa noo, cf. Wacquant

(1997) (N. T.).

156

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA N 23: 155-164 NOV. 2004


regrediu sua condio anterior de slum. O significado do termo foi ainda mais dissolvido ao ser aplicado ao estudo dos padres scioculturais especficos dos homossexuais em cidades de sociedades avanadas em resposta ao estigma e libertao gay, depois das revoltas de Stonewall (LEVINE, 1979, p. 31); na Europa Ocidental, o conceito foi dissolvido por meio de animados debates cientficos e polticos sobre as ligaes entre a imigrao ps-colonial, reestruturao econmica ps-industrial e a dualizao urbana (MINGIONE, 1996). Mesmo assim, pode-se extrair dessas diferentes literaturas algumas semelhanas e propriedades recorrentes na construo de um conceito relacional de gueto como um instrumento de cercamento e controle, o que esclarece grande parte da confuso que o circunda e faz dele um instrumento poderoso de anlise social da dominao etno-racial e da desigualdade urbana. Para isso, basta que retornemos s origens histricas da palavra e do fenmeno que o termo descrevia, na Veneza da Renascena. III. UMA INSTITUIO BIFACETADA DE CERCAMENTO E CONTROLE TNICO Cunhado por derivao do italiano giudecca, borghetto ou gietto (ou do alemo gitter ou do hebreu talmdico get, de etimologia controversa), a palavra gueto inicialmente se referia consignao forada de judeus a distritos especiais por parte de autoridades polticas e religiosas da cidade. Na Europa medieval, os judeus comumente se agrupavam em uma rea urbana, onde administravam seus negcios e seguiam seus costumes. Essas reas eram doadas ou vendidas como um privilgio para atra-los para as cidades e principados onde ocupavam cargos importantes de credores, fiscais e comerciantes. No entanto, entre os sculos XIII e XVI, no incio dos motins causados pelas Cruzadas, os favores aos poucos tornaram-se obrigaes (STOW, 1982). Em 1516, o Senado de Veneza ordenou que todos os judeus fossem relocados para o ghetto nuovo, uma fundio abandonada em uma ilha isolada, cercada por dois muros altos cujas janelas exteriores e portas eram vedadas. Vigias guardavam suas duas pontes e patrulhavam de barco os canais adjacentes. Os judeus eram autorizados a sair durante o dia para suas ocupaes, mas tinham que vestir um traje distintivo e retornar para dentro dos portes antes do pr do sol, sob pena de um castigo grave caso no o fizessem. Essas medidas eram desenhadas como alternativa expulso, pois assim a cidade-Estado beneficiava-se economicamente da presena dos judeus (incluindo aluguel, impostos e coletas foradas) enquanto protegia seus residentes cristos da contaminao por corpos concebidos como sujos e sensualmente perigosos, que carregavam sfilis e eram vetores de heresia, alm de portar a mcula da usura e do dinheiro, algo que a Igreja Catlica igualava prostituio (SENNETT, 1994, p. 224). Esse modelo veneziano disseminou-se pelas cidades da Europa e pelas margens do Mediterrneo (JOHNSON, 1997, p. 235-245). Se por um lado a fixao e a excluso territorial acarretados por esse processo trouxeram a superpopulao, a deteriorao das condies de moradia, o empobrecimento e altas taxas de morbidade e mortalidade, por outro levaram tambm ao florescimento institucional e consolidao cultural. medida que os judeus respondiam a restries cvicas e ocupacionais cada vez maiores, criavam uma teia extensa de organizaes que serviam como instrumentos de ajuda coletiva e de solidariedade: mercados, associaes empresariais, grupos de caridade e de ajuda e locais de adorao e de estudos religiosos. O Judenstadt de Praga, o maior gueto da Europa do sculo XVIII, tinha at sua prpria prefeitura, o Rathaus, que era emblema da autonomia relativa e fora comunitria de seus residentes. s suas sinagogas confiava-se no s a liderana espiritual, como tambm a superviso administrativa e judicial da populao. A vida social do gueto judeu era voltada para dentro, quase que superorganizada (WIRTH, 1928. p. 62), de maneira que reforava tanto a integrao interna como a excluso do externo. Podem ser detectados nesse momento inaugural os quatro elementos que constituem o gueto, isto , o estigma, o limite, o confinamento espacial e o encapsulamento institucional. O gueto um meio scio-organizacional que usa o espao com o fim de conciliar dois objetivos antinmicos: maximizar os lucros materiais extrados de um grupo visto como pervertido e perversor e minimizar o contato ntimo com seus membros, a fim de evitar a ameaa de corroso simblica e de contgio. Esse mesmo raciocnio duplo de explorao econmica cum ostracismo social dominou a gnese, a estrutura e o funcionamento do gueto afro-americano na metrpole fordista durante a

157

QUE GUETO?
maior parte do sculo XX. Negros eram recrutados nas cidades norte-americanas depois da I Guerra Mundial pelo seu trabalho no qualificado, que era indispensvel nas indstrias que formavam o centro da crescente economia industrial. Ao mesmo tempo, no havia perigo de eles misturarem-se ou confraternizarem com os brancos, que os consideravam vis, naturalmente inferiores e com orgulho tnico maculado pela escravido. medida que os negros migravam do Sul aos milhes, a hostilidade branca aumentava e os padres de discriminao e segregao, que at ento eram inconsistentes e limitavam-se esfera informal, no s se tornaram mais rgidos na moradia, escola e nas acomodaes pblicas, como tambm se estenderam economia e poltica (SPEAR, 1968; OSOFSKY, 1971). Os afro-americanos ento no tiveram escolha, a no ser fugir para dentro do permetro do Cinturo Negro [Black Belt] e tentar desenvolver uma rede de instituies prprias que cuidassem das necessidades bsicas da comunidade refugiada. Surgiu assim uma cidade paralela fundamentada em igrejas e jornais para negros, clubes negros, penses para negros, escolas e empresas para negros e associaes polticas e civis negras. Essa cidade paralela ficava no centro da metrpole branca, ainda que isolada por uma cerca construda por costumes, dissuaso legal, discriminao econmica (por bancos, corretores e pelo Estado) e, tambm, da violncia manifesta dos aoites, bombas incendirias e motins que intimidavam aqueles que ousassem atravessar a linha racial. Esse paralelismo institucional imposto, que se predicava no isolamento espacial inflexvel e no na pobreza extrema, condies subumanas de moradia, diferena cultural ou no simples isolamento residencial , o que tem diferenciado os afro-americanos de outros grupos na histria dos EUA, como j sugeriram importantes estudiosos da experincia urbana negra, de W. E. B. Du Bois e E. Franklin Frazier a Drake e Cayton, Kenneth Clark e Oliver Cox (WACQUANT, 1998). Esse fenmeno tambm pode ser observado na trajetria dos burakumins na cidade japonesa aps o fim da era Tokugawa (HANE, 1982). Na condio de descendentes do eta, a casta mais baixa das quatro que compem o sistema feudal japons, os burakumins eram intocveis aos olhos das religies budista e xintosta e ficavam confinados por lei, desde o pr do sol at o levantar, a pequenos vilarejos (buraku). L eram obrigados a vestir uma coleira amarela e a andar descalos, a ficar de quatro quando falassem com pessoas de outras castas e a casar somente com pessoas da mesma casta. Apesar de oficialmente emancipados em 1871, ao migrarem para cidades foram forados a restringir-se a bairros prximos aos depsitos de lixo, crematrios, prises e aougues, lugares vistos como ninhos de criminalidade e imoralidade. Excludos de empregos na indstria, sobravalhes apenas os empregos mal pagos e de baixo prestgio. Os burakumins eram mandados para escolas separadas e compelidos endogamia devido pecha perene em seu sangue, prtica feita possvel por meio dos registros de famlia (DEVOS & WAGATSUMA, 1966). No fim dos anos 1970, de acordo com a Liga de Defesa dos Burakumins [Burakumin Defense League], estimava-se que eles j eram 3 milhes, todos confinados em 6 000 guetos espalhados por aproximadamente 1 000 cidades da ilha. Espalhados por trs continentes e cinco pases, casos como os dos judeus, afro-americanos e burakumins demonstram que o gueto no , a despeito de Wirth (1928, p. 284-285), uma rea natural que surge pela adaptao ambiental governada por uma lgica bitica parecida com a cooperao competitiva em que se baseia a comunidade vegetal. O erro da primeira Escola de Chicago consiste em converter histria em histria natural e considerar a guetizao uma manifestao da natureza humana que seria parte da histria das migraes (idem, p. 285), quando na verdade uma forma muito peculiar de urbanizao modificada por relaes assimtricas de poder entre grupos etnoraciais: uma forma especial de violncia coletiva concretizada no espao urbano. Essa guetizao no um processo descontrolado e sem concepo, como Robert E. Park defendeu em seu prefcio para O gueto (idem, p. viii). Isso ficou claro a partir da II Guerra quando o gueto negro foi reconstrudo de cima para baixo por meio de polticas pblicas de habitao, renovao urbana e desenvolvimento econmico das periferias, aes que visavam remediar a separao rgida entre os negros e brancos (HIRSCH, 1983). A guetizao ainda mais aguda no contexto das cidades de casta construdas pelo poder colonial para demarcar o espao da organizao tnica hierrquica de suas posses transocenicas, como Rab sob o domnio francs no Marrocos ou a Cidade do Cabo depois da passagem do Group Areas Acts [Leis de reas de

158

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA N 23: 155-164 NOV. 2004


Grupos] durante o regime do apartheid na frica do Sul (AUB-LUGHOD, 1980; WESTERN, 1982). O reconhecimento de que o gueto um produto e um instrumento de poder de um grupo permite-nos a apreciao de que na sua forma completa ele uma instituio de duas faces, na medida em que serve a funes opostas para dois coletivos aos quais une em uma relao assimtrica de dependncia. Para a categoria dominante, sua funo circunscrever e controlar, o que se traduz no que Max Weber chamou de cercamento excludente da categoria dominada. Para esta ltima, no entanto, trata-se de um recurso integrador e protetor na medida em que livra seus membros de um contato constante com os dominantes e permite colaborao e formao de uma comunidade dentro da esfera restrita de relaes criada. O isolamento imposto pelo exterior leva a uma intensificao do intercmbio social e cultural dentro do gueto. O gueto o produto de uma dialtica mvel e tensa entre a hostilidade externa e a afinidade interna que se expressa como uma ambivalncia no nvel do consciente coletivo. Por exemplo, mesmo que os judeus europeus protestassem contra sua relegao a distritos isolados, eles tambm tornaram-se profundamente ligados a esses lugares, apreciando a relativa segurana e as formas especiais de vida coletiva por eles proporcionadas. O gueto de Frankfurt do sculo XVIII no era apenas um cenrio de confinamento e perseguio, mas um lugar onde os judeus estavam completamente em casa (GAY, 1992, p. 67). Assim tambm os negros tinham orgulho de ter construdo uma comunidade sua prpria imagem, mesmo ressentindo o fato de t-lo feito sob coero, resultado da intransigente excluso branca, cujo objetivo era espantar o fantasma da igualdade social representado pela miscigenao (DRAKE & CAYTON, 1945, p. 115). IV. DISTINGUINDO POBREZA, SEGREGAO E AGLOMERAO TNICA Articular o conceito de gueto permite-nos distinguir a relao entre guetizao, pobreza urbana e segregao e, assim, esclarecer as diferenas estruturais e funcionais entre os guetos e os bairros tnicos. Tambm nos permite salientar o papel do gueto como um incubador social e matriz na produo de uma identidade maculada. 1. A pobreza uma caracterstica freqente, porm derivativa e varivel, dos guetos: o fato de a maioria dos guetos historicamente terem sido lugares de misria endmica e no raro aguda, devido carncia de espao, densidade demogrfica e da explorao econmica e do maltrato generalizado de seus residentes, no implica que o gueto necessariamente seja um lugar de destituio ou um lugar uniformemente desprovido. O Judengasse de Frankfurt, institudo em 1490 e abolido em 1811, passou tanto por perodos de prosperidade como de penria e continha reas de opulncia acentuada, na medida em que judeus da corte ajudavam a cidade a tornar-se um centro atrativo de troca e finanas parte de seu encanto at hoje vem de ter sido o lar da dinastia dos Rothschild (WIRTH, 1928, cap. 4). James Weldon Johnson (1937, p. 4) afirmou que o Harlem nos anos 1930 no era um slum ou periferia, mas a capital cultural dos negros dos EUA, onde as vantagens e oportunidades dos negros eram maiores do que em qualquer outro lugar do pas. Da mesma forma o Bronzeville de Chicago era muito mais prspero em meados do sculo do que as comunidades negras do Sul e continha tambm a burguesia afro-americana mais afluente da poca (DRAKE & CAYTON, 1945). O fato de um gueto ser pobre depende de fatores externos como a demografia, ecologia, polticas pblicas e o estado da economia que o circunda. Por outro lado, nem todos os distritos despossudos e dilapidados so necessariamente guetos. Por exemplo, os bairros brancos decadentes das cidades desindustrializadas do CentroOeste norte-americano, as Midlands na Inglaterra, os vilarejos rurais deprimidos na Alemanha Oriental e Sul da Itlia e as villa miserias da grande Buenos Aires no fim do sculo XX so todos territrios de decadncia e decomposio da classe trabalhadora, mas no cpsulas tnicas dedicadas a manter um grupo excludo numa relao de subordinao separatista. Independentemente de sua pobreza, eles no so guetos, a no ser no sentido metafrico. Se ndices extremos de pobreza fossem suficientes para constituir um gueto, ento grande parte da Unio Sovitica e a maioria das cidades do Terceiro Mundo seriam guetos gargantuanos. As favelas das metrpoles brasileiras, que so freqentemente retratadas como refgios de abandono e desorganizao, nada mais so do que bairros da classe trabalhadora com laos bem definidos tanto com a indstria como com os bairros afluentes, aos quais fornecem servios caseiros. Assim tambm ocorre nos ranchos da Venezuela e nas poblaciones do Chile,

159

QUE GUETO?
onde as famlias que vivem nesses acampamentos irregulares variam muito de cor e tm laos genealgicos fortes com famlias de maior poder aquisitivo. Elas no so social ou culturalmente marginalizadas, mas sim estigmatizadas e excludas de um sistema de classes fechado (PERLMAN 1976, p. 195; tambm QUIJANO, 1968). Dado que nem todos os guetos so pobres e que nem todas as reas pobres so guetos, no se pode simplificar e confundir a anlise da guetizao com o estudo de slums e outros distritos de classe baixa da cidade. 2. Assim, todos os guetos so segregados mas nem todas as reas segregadas so guetos. Os bairros seletos do Oeste de Paris, os subrbios exclusivos da classe alta de Boston ou de Berlim, as comunidades cercadas que cresceram muito em cidades globais como So Paulo, Toronto e Miami, so todos iguais em termos de riqueza, renda, ocupao e em muitos casos etnia, mas nem por isso so guetos. A segregao neles inteiramente voluntria e eletiva e por isso no so inclusivos ou perptuos. Enclaves fortificados de luxo proporcionam segurana, excluso, homogeneidade social, amenidades e servios, que permitem que famlias burguesas escapem do que consideram o caos, sujeira e o perigo da cidade (CALDEIRA 2000, p. 264-265). Essas ilhas de privilgio servem para aumentar, e no deprimir, as oportunidades de seus residentes, assim como para proteger seus modos de vida. Elas irradiam uma aura positiva de superioridade e no uma sensao de infmia ou de pavor. Isso sugere que a segregao residencial uma condio necessria mas no suficiente para a guetizao. Para que um gueto surja, o confinamento espacial deve ser primeiramente imposto e abrangente e, em segundo lugar, deve revestir-se de uma srie de instituies bem definidas e duplicativas que permitam ao grupo que se isola reproduzir-se dentro do permetro estabelecido. Se os negros so o nico grupo tnico a ser hipersegregado na sociedade norte-americana (MASSEY & DENTON, 1992), isso ocorre porque eles so a nica comunidade a combinar segregao involuntria com paralelismo organizacional, o que os prenderam dentro de um cosmos social separado e inferior, o que por sua vez acentuou o seu isolamento fsico. Mas at a segregao involuntria na base da ordem urbana no produz guetos eo ipso e isso est demonstrado no fim que levaram os banlieues franceses depois dos anos 1980. Apesar de serem extensamente deplorados como guetos pelo discurso pblico e de seus componentes compartilharem a percepo da excluso em um espao penalizado, pleno de tdio, angstia e desespero (PTONNET, 1982), a relegao de seus habitantes a essas concentraes deprimidas de moradia popular na periferia urbana baseada em classe e no em etnia. Como resultado, as concentraes so culturalmente heterogneas, tipicamente contendo tanto famlias francesas nativas como imigrantes de dezenas de outras nacionalidades. Seus habitantes sofrem no de duplicao institucional, mas, pelo contrrio, de uma falta de estrutura organizacional que seja capaz de sustent-los na ausncia de um emprego rentvel e de servios pblicos adequados. Assim como as cidades britnicas e holandesas e os conglomerados de imigrantes da Alemanha urbana ou da Itlia, os banlieues franceses so, sociologicamente, antiguetos (WACQUANT, 2001). 3. Guetos e bairros tnicos tm estruturas diferentes e funes opostas: se movermos a anlise para alm da perspectiva gradativa e focarmos o padro peculiar das relaes sociais dentro do gueto, ou entre o gueto e a cidade que o circunda, veremos uma diferena grande entre gueto e os conglomerados tnicos e bairros de imigrantes que se formaram nas metrpoles de diversos pases. As colnias de estrangeiros da Chicago do entreguerras, que Robert Park, Ernest Burgess e Louis Wirth e, mais tarde, a tradio liberal da Sociologia e historiografia assimilacionistas confundiram com guetos brancos, eram na verdade constelaes mveis e dispersas, advindas da afinidade cultural e concentrao ocupacional. A segregao nessas constelaes era parcial e porosa, um produto da solidariedade dos imigrantes e da atrao tnica, e no imposta por um grupo hostil externo a elas. Assim, a separao residencial no era uniforme ou rgida entre esses grupos: em 1930, quando o bairro negro de Bronzeville continha 92% da populao afro-americana da cidade, a Pequena Irlanda de Chicago continha uma mistura tnica de 25 nacionalidades compostas apenas por um tero de irlandeses e apenas 3% da descendncia irlandesa da cidade (PHILPOTT, 1978, p. 141-145). Alm disso, as instituies caractersticas dos enclaves de imigrantes europeus viravam-se para

160

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA N 23: 155-164 NOV. 2004


fora: elas operavam de maneira a facilitar a adaptao de seus habitantes ao novo meio da metrpole norte-americana. As instituies no reproduziam as organizaes do pas de origem e tampouco perpetuavam o isolamento social e a distino cultural, que tipicamente desapareciam aps duas geraes, conforme as pessoas aumentavam seu contato com os norte-americanos e subiam de classe social ou mudavam-se para bairros melhores (NELLI, 1970; um processo similar de difuso espacial por meio da incorporao de classe de belgas, italianos, poloneses e imigrantes ibricos na cidade industrial francesa analisado por NOIRIEL, 1989). Tudo isso contrasta fortemente com a exclusividade racial imutvel e a alteridade institucional perene do Cinturo Negro norte-americano. Esse exemplo de Chicago demonstra o fato de o bairro de imigrantes e de o gueto terem funes diametralmente opostas: o primeiro serve de apoio para a assimilao por meio do aprendizado cultural e da mobilidade scio-cum-espacial, enquanto o segundo uma ilha de isolamento material e simblico direcionada desassimilao. O primeiro melhor representado pela figura de uma ponte e o segundo por uma parede. V. UMA MQUINA DE IDENTIDADE MACULADA O gueto no s o meio concreto de materializao da dominao etno-racial por meio de uma segmentao espacial da cidade, como tambm uma mquina de identidade coletiva potente, pois ajuda a incrustar e a elaborar justamente a diviso da qual expresso de duas formas complementares e associadas. Primeiramente, o gueto reafirma o limite entre a categoria marginalizada e a populao que a circunda, uma vez que intensifica o abismo scio-cultural entre elas: ele faz que seus residentes sejam objetiva e subjetivamente diferentes de outros residentes urbanos ao submet-los a condies nicas, de maneira que os padres de cognio e conduta sejam compreendidos como singulares, exticos ou at aberrantes (WILSON, 1987, p. 7-8; SENNETT, 1994, p. 244). Isso s serve para alimentar as crenas preconceituosas j existentes. Em segundo lugar, o gueto um motor de combusto cultural que derrete as divises dentro do grupo confinado e alimenta o orgulho coletivo ao mesmo tempo em que fortifica o estigma que o assola. A armadilha espacial e institucional esconde as diferenas de classe e corri as diferenas culturais dentro da categoria etno-racial. Assim, o ostracismo cristo fundiu os judeus asquenazes com os sefarditas sob uma identidade judia que evoluiu em um tipo social e em uma forma de pensar comum aos diversos guetos da Europa (WIRTH, 1928, p. 71-88; 1964). O gueto escuro dos EUA tambm acelerou a amalgamao sciosimblica de mulatos e negros transformando-os em uma raa nica e tambm transformou a conscincia racial em um fenmeno de massa, motivando a mobilizao da comunidade contra a contnua excluso de classe (DRAKE & CAYTON, 1945, p. 390). Ainda assim, essa identidade unificada acaba sendo marcada pela ambivalncia, j que continua maculada pelo fato de a guetizao proclamar o que Weber chama de avaliao negativa da honra do grupo confinado. Dessa maneira, ela promove em seus membros sentimentos de dvida e dio em relao a si mesmos, dissimulao de sua origem, desvalorizao perniciosa de si mesmos e at a identificao fantasiosa com o dominador (CLARK, 1965, p. 63-67). Porque a guetizao tipicamente ligada a etnia, segregao e pobreza, fica difcil discernir empiricamente quais das propriedades exibidas pelos habitantes do gueto so traos culturais especficos ao gueto, em oposio s propriedades expressivas de classe, comunidade ou masculinidade (HANNERZ, 1968, p. 79). Assim tambm formas culturais que so fabricadas no gueto atravessam as fronteiras e circulam pela sociedade que o circunda, onde freqentemente se transformam em sinais manifestos de rebelio cultural e excentricidade social como se v na fascinao de adolescentes burgueses mundo afora pelo gangster rap afroamericano. Isso dificulta a distino entre formas culturais efetivamente usadas pelos residentes de guetos e a imagem pblica delas que difundida na sociedade como um todo, inclusive por meio de escritos acadmicos. til pensar o gueto e o conglomerado tnico como duas configuraes ideal-tpicas situadas em extremidades opostas, em um contnuo em que diferentes grupos situam-se ou pelo qual transitam, dependendo da intensidade com que as foras do estigma, do limite, do confinamento espacial e da duplicao e completude institucional coalescem-se mutuamente e impem-se sobre eles. A guetizao torna-se ento uma varivel

161

QUE GUETO?
de nveis mltiplos para a anlise comparativa e especificao emprica. Ela pode ficar atenuada a ponto de, por meio da eroso gradativa de seus limites espaciais, sociais e mentais, involuir e tornar-se uma concentrao tnica eletiva, operando como propulsora na integrao estrutural e/ou assimilao cultural dentro da formao social geral. Isso descreve bem a trajetria das Chinatowns dos Estados Unidos do comeo do sculo XX (ZHOU, 1994) e o status do enclave imigrante cubano em Miami, que promoveu a integrao por meio do biculturalismo depois do xodo de Mariel em 1980 (PORTES & STEPICK, 1993). Isto tambm caracteriza as Kimchee cities, para as quais os coreanos convergiram das reas metropolitanas do Japo, e que tm uma mistura de qualidades que as tornam um hbrido de gueto e aglomerao tnica (DEVOS & CHUNG, 1981): so lugares de infmia que surgiram a partir da inimizade e do confinamento, mas cujas populaes tornaram-se um misto tnico por meio dos anos e permitiram aos coreanos socializar e casar com seus vizinhos japoneses, assim como obter cidadania japonesa por meio da naturalizao. Este esquema tambm se encaixa no gueto gay, que mais bem caracterizado como uma comunidade quase-tnica j que a maior parte das pessoas gay podem passar e no precisam ficar restritas interao com os seus e ningum forado a residir em reas de concentrao de instituies gay (MURRAY, 1979, p. 169). A dupla face do gueto como arma e escudo implica que, na medida em que sua completude institucional e autonomia minguam, seu papel protetor para o grupo subordinado diminui, restando somente a fora de sua funo exclusivista. Nos casos em que residentes deixam de ter valor econmico para o grupo dominante, o encapsulamento etno-racial pode aumentar a ponto de o gueto servir como um aparato que simplesmente aloja o grupo ou prepara-o para a pior forma de ostracismo, i. e., sua destruio fsica. O primeiro cenrio ilustra a evoluo do hipergueto afro-americano na era ps-direitos civis: tendo perdido sua funo de reservatrio para o poder do emprego desqualificado, ele ligou-se de maneira simbitica ao sistema carcerrio hipertrofiado dos Estados Unidos, por meio de uma relao de homologia estrutural, substituio funcional e fuso cultural (WACQUANT, 2004). O segundo cenrio foi implementado pela Alemanha nazista, que reavivou o Judenghetto entre 1939 e 1944, primeiramente para empobrecer e concentrar os judeus por meio do processo de relocao; depois, quando a deportao macia tornou-se um incmodo, para direcion-los aos campos de extermnio (FRIEDMAN, 1980; BROWNING, 1986). A intensificao de sua natureza exclusivista sugere que o gueto talvez seja melhor estudado no em analogia s favelas, aos bairros de classe baixa ou aos enclaves de imigrantes, mas s reservas, aos campos de refugiados e priso, pertencendo assim a uma categoria maior de instituies de confinamento forado de grupos despossudos e desonrados. No por acaso que Bridewell de Londres (1555), o Zuchthaus de Amsterdam (1654) e o Hospital gnral de Paris (1656), cuja finalidade era ensinar a disciplina do trabalho assalariado a vagabundos, pedintes e criminosos por meio do encarceramento, foram inventados na mesma poca que o gueto judeu. Tambm no por acaso que o aumento de campos de refugiados em Ruanda, Sri Lanka e nos territrios ocupados da Palestina assemelham-se cada vez mais a uma mistura entre os guetos do final da Europa medieval e gulagui gigantescos.

Loc Wacquant (loic@uclink4.berkeley.edu) Professor de Sociologia na Universidade da Califrnia (Berkeley) e Pesquisador do Centre de sociologie europenne do Collge de France.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ABU-LUGHOD , J. L. 1980. Rabat : Urban Apartheid in Morocco. Princeton : Princeton University. BROWNING, C. R. 1986. Nazi Ghettoization Policy in Poland, 1939-1941. Central European History, Leiden, n. 19, v. 4, p. 343-368, Dec. CALDEIRA, T. 2001. City of Walls : Crime, Segregation and Citizenship in So Paulo. Berkeley, Calif. : University of California. CLARK, K. B. 1965. Dark Ghetto : Dilemmas of Social Power. New York : Harper.

162

REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLTICA N 23: 155-164 NOV. 2004


DEVOS, G. & DEAKYUN, C. 1981. Community Life in a Korean Ghetto. In : LEE, C. & DEVOS, G. (eds.). Koreans in Japan : Ethnic Conflict and Accomodation. Berkeley, Calif. : University of California. DEVOS , G. & HIROSHI , W. (eds.). 1966. Japans Invisible Race : Caste in Culture and Personality. Berkeley, Calif. : University of California. ST. CLAIR, D. & CAYTON, R. C. 1993 [1945]. Black Metropolis : A Study of Negro Life in a Northern City. Chicago : University of Chicago. FRIEDMAN, P. 1980. The Jewish Ghettos of the Nazi Era. In : _____. Roads to Extinction : Essays on the Holocaust. New York : The Jewish Publication Society of America. GAY, R. 1992. The Jews of Germany : A Historical Portrait. New Haven : Yale University. HANE, M. 1982. Peasants, Rebels, and Outcastes : The Underside of Modern Japan. New York : Pantheon. HANNERZ, U. 1969. Soulside : Inquiries into Ghetto Culture and Community. New York : Columbia University. HIRSCH, A. 1983. Making the Second Ghetto : Race and Housing in Chicago, 1940-1970. Cambridge : Cambridge University. JOHNSON , J. W. 1981 [1930]. Black Manhattan. New York : Da Capo. JOHNSON, P. 1987. Ghetto. In : _____. A History of the Jews. New York : Harper Perennial. KERNER COMMISSION. 1989 [1968]. The Kerner Report. The 1968 Report of the National Advisory Commission on Civil Disorders. New York : Pantheon. LEVINE, M. P. 1979. Gay Ghetto. Journal of Homosexuality, v. 4, n. 4, Summer. MASSEY, D. & DENTON, N. 1992. American Apartheid : Segregation and the Making of the Underclass. Cambridge, Mass. : Harvard University. MINGIONE, E. (ed.). 1996. Urban Poverty and the Underclass. Oxford : B. Blackwell. MURRAY, S. O. 1979. The Institutional Elaboration of a Quasi-Ethnic Community. International Review of Modern Sociology, n. 9, p. 165-177, July. NELLI, H. S. 1970. Italians in Chicago : A Study in Ethnic Mobility. New York : Oxford University. NOIRIEL, G. 1988. Le creuset franais. Paris : Seuil. OSOFSKY, G. 1971. Harlem : The Making of a Ghetto. Negro New York, 1890-1930. 2nd ed. New York : Harper and Row. PERLMAN, J. 1976. The Myth of Marginality : Urban Poverty and Politics in Rio de Janeiro. Berkeley, Calif. : University of California. PTONNET, C. 1982. Espaces habits. Ethnologie des banlieues. Paris : Galile. PHILPOTT , T. L. 1978. The Slum and the Ghetto : Neighborhood Deterioration and Middle-Class Reform, Chicago 1880-1930. New York : Oxford University. PORTES, A. & STEPICK, A. 1993. City on the Edge : The Transformation of Miami. Berkeley, Calif. : University of California. QUIJANO, A. 1968. Notas sobre el concepto de marginalidad social. Santiago de Chile : Commission for Latin American Report. SENNETT, R. 1994. Fear of Touching. In : _____. Flesh and Stone : The Body and the City in Western Civilization. New York : W.W. Norton. SMELSER, N. J. & BALTES, P. B. (eds.). 2004. International Encyclopedia of the Social and Behavioral Sciences. Revised edition. London : Pergamon. SPEAR, A. H. 1968. Black Chicago : The Making of a Negro Ghetto, 1890-1920. Chicago : University of Chicago. STOW, K. R. 1992. Alienated Minority : The Jews of Medieval Europe. Cambridge, Mass. : Harvard University. WACQUANT, L. 1997. A underclass urbana no imaginrio social e cientfico norte-americano. Estudos Afro-asiticos, Rio de Janeiro, n. 31, p. 37-50, out. _____. 1998. A Black City Within the White : Revisiting Americas Dark Ghetto. Black Renaissance, New York, v. 2, n. 1, p. 141-151.

163

QUE GUETO?
_____. 2001. Os condenados da cidade. Estudo sobre marginalidade avanada. Rio de Janeiro : Revan. _____. 2004. Deadly Symbiosis : Race and the Rise of Neoliberal Penality. Cambridge, Mass. : Polity. WARD, D. 1989. Poverty, Ethnicity, and the American City, 1840-1925. Cambridge : Cambridge University. WESTERN , J. 1981. Outcast Cape Town . Minneapolis : University of Minnesota. WILSON, W. J. 1987. The Truly Disadvantaged : The Inner City, the Underclass and Public Policy. Chicago : University of Chicago. WIRTH , L. 1928. The Ghetto . Chicago : University of Chicago. WIRTH, L. 1964 [1956]. The Ghetto. In : _____. On Cities and Social Life. Chicago : The University of Chicago. ZHOU, M. 1992. Chinatown : The Socioeonomic Potential of an Urban Enclave. Philadelphia : Temple University.

164

Você também pode gostar