Ate o Fim Dos Tempos - Amelia Rodrigues
Ate o Fim Dos Tempos - Amelia Rodrigues
Ate o Fim Dos Tempos - Amelia Rodrigues
AT O FIM DOS
TEMPOS
PELO ESPRITO DE
AMLIA RODRIGUES
Amigo(a) Leitor(a),
Se voc leu e gostou desta obra, colabore com a divulgao dos ensinamentos trazidos
pelos benfeitores do plano espiritual. Adquira um bom livro esprita e oferea-o de presente a
algum de sua estima.
O livro esprita, alm de divulgar os ensinamentos filosficos morais e cientficos dos
espritos mais evoludos, tambm auxilia no custeio de inmeras obras de assistncia social,
escolas para crianas e jovens carentes, etc.
Porque ns somos cooperadores de Deus
Paulo. (1 Epstola aos Corntios, 3 versculo 9.)
O ser humano sentia-se relativamente feliz quando podia desfrutar dos jogos da ilusria
ribalta dos prestgios econmicos, sociais e polticos, cujas vantagens sempre deixavam um
gosto azinhavrado de decomposio.
Sem uma viso profunda do significado da existncia, sem uma psicologia pessoal mais
lcida, aps as mentirosas vitrias sentia-se frustrado, atirando-se nos fossos da
promiscuidade moral ou nas rampas da perversidade guerreira, quando esmagava outros e
consumia nas chamas da crueldade seus bens, seus animais, seus descendentes, que eram
reduzidos nfima condio de escravos.
A esperana de um libertador pairava em todas as pessoas de Israel, que desejava, por
outro lado, tornar-se uma Nao escravizadora, em revanche contra todos aqueles outros
povos que a afligiram. No era um anseio justo e nobre para a conquista da liberdade, mas
uma ambio de vingana.
Surge Jesus e os olhos ansiosos das massas voltam-se para Ele com variados anelos que
se diversificam desde as necessidades orgnicas, s ambies guerreiras, s alucinadas
questes de supremacia de raa e de religio, esses pensamentos permanentes adversrios
do processo de evoluo do esprito humano.
A Sua, no entretanto, era outra misso: libertar o indivduo de si mesmo, da inferioridade que
lhe predomina no carter e nos sentimentos. natural, portanto, que no fosse
compreendido, sequer por aqueles que estavam ao Seu lado, j que os interesses em pauta
eram to divergentes.
A harmonia das Suas lies iam cantando uma sinfonia de esperana nos coraes e a
msica do seu contedo lentamente fixava-se na memria dos companheiros de ministrio,
que ainda no haviam dado conta da magnitude do empreendimento. As revelaes faziamse lentamente, e como suave calor amadurece os frutos, assim Ele necessitava preparar os
seres para o entendimento.
Desse modo, aps o formidando fenmeno da multiplicao dos pes e dos peixes, e aps
orar, interrogou os amigos que estavam a Seu lado, sem a presena de estranhos no
convvio ntimo:
-
Tomados de surpresa com o inesperado da interrogao, Ele, que jamais indagava, por
conhecer a profundeza dos sentimentos humanos e a poca em que estava, responderamlhe, quase em unssono, vrios deles:
- Joo Batista - ; outros, - Elias - ; outros, - um dos antigos profetas ressuscitados.
Houve um silncio quebrado levemente pela harmonias ambientais. Aps alguns instantes,
Ele indagou sem rebuos:
-
A pergunta pairava no ar, quando Simo Pedro, tomando de sbita inspirao respondeu,
emocionado:
-
O Messias de Deus.
Retomando a postura de condutor e no de dirigido, o Mestre, com energia, retrucou: Afasta-te Satans! Tu s para mim um estorvo, porque os teus pensamentos no so os de
Deus, mas os dos homens.
O dilogo fora rpido. Nem mesmo os companheiros que se encontravam mais prximos
perceberam-no, exceto a face severa do Rabi que se encontrava contrada pela energia que
desprendera.
Pedro assustou-se e recuperou a serenidade.
Tudo agora lhe parecia mais grave e complexo. Ele se dera conta do medo que o havia
tomado e da fora estranha que o induzira atitude infeliz, como se fosse capaz de alterar a
programao delineada pelo Senhor.
O Amigo, tomado de compaixo, esclareceu: - "Se algum quiser vir a mim, renegue-se a
sim mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser salvar a sua vida perd-la-. Que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se, depois, perde sua alma? Ou que poder dar
o homem em troca da sua alma?...
"...Muitos dos que aqui esto presentes ho de experimentar a morte, antes de terem visto
chegar o Filho do Homem com seu reino."
Eram informaes eloqentes e de altas conseqncias, porque falavam do testemunho, do
sacrifcio, da entrega total.
Naquela noite, quando as estrelas cintilantes como poeira de luz adornavam o zimbrio,
Pedro acercou-se do Mestre, que se encontrava sentado sobre algumas razes de valha
figueira, e porque houvesse permanecido sem entender a ocorrncia, tomando de angstia,
indagou com respeito:
- Serei eu, Senhor, Satans, que me hei constitudo um estorvo para o Teu santo labor? E se
assim o sou, porque me entregaste a responsabilidade pela preservao das Tuas palavras,
cuidando de ligar almas ao Teu messianato, que confirmas no cu?
O Amigo compassivo, que houvera percebido o vu de tristeza que ensombrecia a face do
discpulo, esclareceu docemente:
- Simo, o homem na Terra um canal por onde vertem a inspirao e o pensamento da
Imortalidade, sempre em contato com os transeuntes do vale de sombras, a fim de que
possam desfrutar de claridades espirituais e terem renovadas as suas foras. Nem sempre
porm, a onda que envolve o ser de procedncia superior.
Fazendo uma pausa natural, a fim de que o humilde pescador pudesse apreender todo o
significado da informao profunda, logo prosseguiu, esclarecendo:
- Quando me identificasse como Messias, meu Pai comandava o teu pensamento e foste
instrumento de vida. Por isso te disse que no havia sido a carne nem o sangue, porque no
se tratava de raciocnio, de uma concluso do teu crebro. A revelao te alcanava a mente
em sintonia com a Verdade e te tornaste intermedirio dela.
" Logo depois, porque o medo te perturbasse a razo, esquecendo-te de que a nossa uma
jornada para o sacrifcio, que o cordeiro segue para o matadouro, a fim de que a Sua
mensagem se perpetue pelo exemplo, foste instrumento de Satans, o Esprito infeliz que
procura ser estorvo em relao ao ministrio de libertao das criaturas.
J me viste expuls-lo de vrios enfermos e, no obstante, ele investe, infeliz e perturbador,
ganhando adeptos no mundo, em contnuas tentativas de criar embaraos aos que andam
em justia e eqidade.
" Certamente no me enfrenta, porque media entre ns um abismo de distncia vibratria, no
entanto, direciona sua onda mental, que captada pelos que se fragilizam e temem a perda
das coisas vs do mundo."
Fez um silncio proposital, enquanto o discpulo luarizava a preocupao e dava-se conta do
significado do ensinamento a respeito do intercmbio entre os Espritos e os homens, os
vivos e os mortos, os visveis e os invisveis...
De imediato concluiu:
- No me a ti, mas fora satnica que te utilizava, com o objetivo de intimidar-me, de fazerme desviar daquilo para o que vim, que o holocausto, aps as lies incessantes de amor.
Por isso, necessrio vigiar as nascentes do corao de onde procedem os bons como os
maus pensamentos, a fim de manter-te em sintonia com o Pai e no com o esprito do mal.
Estava sancionada a mediunidade e o seu exerccio lcido. Pedro fora o exemplo excelente
da sintonia psquica com o Mundo superior que o inspirava na revelao, mas tambm com a
Entidade perversa que se comprazia no mal.
Todos os ministrios de Jesus esteve assinalado pelas interferncias espirituais de uma
como de outra ordem, e no foi o motivo, que Ele foi denominado com Senhor dos Espritos,
em razo da Sua ascendncia sobre todos eles que se comunicavam.
O Seu nascimento foi anunciado por seres anglicos atravs dos sculos que precederam
Sua chegada. Os profetas referiram-se ao Seu momento, como o da libertao e Ele foi
esperado como o Eleito. Mas tambm, depois da Sua morte, ei-lo que retorna, confirmando a
indestrutibilidade da vida, como igualmente o intercmbio medinico.
E para tornar a definitiva a mensagem lcida de intercmbio entre as esferas de vibraes
que se espraiam pelo Universo, seis dias do majestoso dilogo, Ele tomou Pedro, Tiago e
Joo e levou-os ao monte Tabor, onde se transfigurou diante de Moiss e Elias, que
10
passaram a dialogar com Ele, demonstrando a Sua superioridade moral sobre os mesmos e
os companheiros singularmente impressionados com a Sua grandeza e autoridade espiritual.
Naquele ato, em que Moiss participava em esprito, o grande legislador hebreu tambm
liberou a mediunidade e confirmou o relacionamento entre os Espritos e os homens, sob as
bnos sublimes de Jesus, que ali se apresentava como Mdium de Deus.
Desde ento, a mediunidade, que pode ser considerada como um novo arco-ris, que
identifica a aliana simblica de Deus com as criaturas humanas, passou a ser a ponte de luz
sublime entre a vida e a morte, a Terra e os Cus.
___________________
(*) Mateus 16 - 16 a 19
Nota da autora espiritual
11
12
Terminada a tarefa junto dos aflitos pelos prprios erros, aos amarrados a tresvarios
obsessivos por conscincia culpada, aos desesperados por haverem perdido a direo de
sim mesmos, o Mestre retirou-se, para sintonizar com Deus, a Inexaurvel Fonte de Vida.
Procurando insistentemente pelas sucessivas ondas de necessitados que chegavam,
intrminas, Ele explicou: - Tenho tambm que anunciar a Boa Nova do reino de Deus s
outras cidades, pois para que isso fui enviado.
... E saiu a pregar nos campos, nas aldeias, nas sinagogas, nas praas, nas praias, em toda
a parte onde se fizesse necessrio.
A primavera espiritual que Ele iniciava jamais se transformaria em outono de desesperana
ou de inverno de sofrimento insuportvel, porque Ele permanecia para sempre como o
incomparvel dispensador de bnos, renovando as paisagens do mundo moral da criatura
humana de todos os tempos futuros.
_______________
(*) Lucas: 4 - 38 a 44
Nota da autora espiritual
14
15
outros que sero enviados ao exlio em mundo inferiores, mais primitivos e infelizes, onde
recomearo a jornada interrompida em condies menos propiciatrias. Ser realizada a
seleo natural pelos valores espirituais de cada qual, que compreender a insnia que se
permitiu, envidando esforos hercleos para se recuperarem.
"Enquanto isso, os justos resplandecero como o Sol, no reino do seu Pai, porque estaro
em paz consigo mesmos, sintonizados com a imortalidade em triunfo, livres das paixes e
vinculaes com o crime, a hediondez, a sombra que antes neles predominavam."
Um silncio, feito de uno de alegria e de paz, se abateu sobre a sala modesta onde Ele
acabara de falar.
A sua voz permanecia fixada na memria deles para sempre, que se recordariam daquele
momento de mgica poesia e grandiosa sinfonia para todos os dias do porvir.
As ansiedades da natureza no entardecer cediam lugar s primeiras manchas de sombras
desenhando figuras estranhas no firmamento adornado de luz e calor.
A partir daquele momento as responsabilidades cresciam e delineavam com maior preciso
os compromissos que firmariam com o suor do trabalho e sangue do sacrifcio.
J no eram menos, aqueles homens simples arrebanhados entre os pescadores, os de
menos cultura, os cobradores de impostos, os exegetas, os indagadores. Eles eram uma
sntese da humanidade, sem os vernizes sociais enganosos e alguns envolvidos pela ganga
dura que ocultava o diamante precioso. O Amigo se encarregava de trabalh-los a todos
para as tarefas que teriam que executar at o fim dos milnios.
... Eram homens tocos e modestos, sem dvida, no corpo, mas antes de tudo, Espritos
convidados para o grande banquete da Boa Nova, para o qual vieram...
_________
(*) Mateus 13 - 36 a 43.
Nota da autora espiritual
17
discutidores inteis, mas que fizessem todo o bem possvel, curando as doenas, afastando
as perturbaes, mas anunciando a Era que logo mais se iniciaria.
Era como a apotetica Abertura de uma Sinfonia de incomparvel beleza, anteriormente
jamais ouvida.
- Eu vos envio - disse Ele - como ovelhas para o meio dos lobos; sede prudentes como as
serpentes e simples como as pombas. Tende cuidado com os homens: ho de entregar-vos
aos tribunais...Mas no os temais, porque o Pai falar por vossas bocas.
Os amigos partiram emocionados, cantando esperanas no corao, sem ter idia de como
reagiriam as criaturas nova proposta.
Ensinaram pelos caminhos e veredas, detiveram-se nas praas e nas praias, narraram o que
haviam visto e ouvido, expuseram o pensamento do Rabi, mas no foram tomados em
considerao.
Somente quando as palavras foram coroadas pelos feitos, arrancando das traves invisveis
das doenas, aqueles que as padeciam, que lhes concediam alguma ateno, dando-lhes
as costas de imediato e sugerindo que viesse pessoalmente o Messias...para que o vissem e
pudessem testific-lo.
Por sua vez, Jesus foi tambm pregar em outras cidades, especialmente a respeito de Joo,
o Batista, causando espanto a sua coragem, em razo do filho de Zebedeu e Isabel
encontrar-se prisioneiro na Peria por ordem de Herodes, insuflado por sua mulher e
cunhada Herodades, com quem vivia em concubinato.
Os ventos generosos da estao perfumada levaram a Mensagem de boca-a-boca,
disseminado-a por toda a parte at os confins das fronteiras no alm Jordo.
Uma grande calmaria emocional passou a viger nas almas em expectativa. Os comentrios
se faziam freqentes e as interrogaes levantavam-se nos grupos que se reuniam nos
diferentes lugares.
A msica do Seu verbo iria inflamar os coraes e provocar incndios nos sentimentos e nas
mentes apaixonadas, que no estavam preparadas para a mudana radical de
comportamento que Ele propunha.
J agora no era mais possvel deter a odissia em pleno desenvolvimento.
Quando os discpulos retornaram e relataram os acontecimentos que tiveram lugar sua
volta, o Mestre definiu que aquele era o momento de dar curso ao messianato.
Ergueu-se como um gigante e se exps por amor, arrostando todas as conseqncias dos
Seus severos sermes, Suas graves admoestaes, Suas generosas concesses.
19
Esclareceu que o reino de Deus se encontrava dentro da criatura humana, que dever
alcan-lo com muito empenho e arrojada deciso, negociando tudo que transitrio para a
aquisio eterna.
Abrindo os braos s multides que sempre o cercariam, naquela oportunidade abenoou o
mundo e os seus habitantes, compondo a mais notvel sinfonia de todos os tempos,
musicada pelas Suas palavras e atos ao compasso do inefvel amor.
_____________________
(*) Mateus : 10 - 1 e seguintes
Nota da autora espiritual
20
21
Ficaram para trs Nazar, os interesses da famlia, os hbitos que foram mantidos por quase
trs dcadas, a simplicidade do lar e a singeleza dos Seus contemporneos. Tudo isso
tornou-se passado. A complexidade do compromisso humano cedeu lugar ao imenso
mergulho no oceano da humanidade. Servir a Deus em toda a extenso da palavra,
abandonando os labores dos homens, a fim de envolv-los na Mensagem de libertao.
As construes at aquele momento foram realizadas na areia transitria da vacuidade
terrestre, mas a partir de ento sero realizadas na rocha perene da verdade para todos os
tempos, e a solido que estabelece os primeiros alicerces, escavados no basalto duro dos
coraes, para que sobrevivam aos tempos...
A partir daquele momento, no ter lar, nem alforje, nem parentes, seno aqueles que
estejam dispostos a associar-se Sua empresa, a do reino dos Cus.
Embora as raposas possuam o seu covil e as aves dos cus tenham os seus ninhos, o Filho
do Homem, porm, no possuir nada que o aprisione, que limite, porque todas as noites
imensas, o dossel de estrelas, as nuvens carregadas, os dias sem fim, os coraes
confiantes, e andar de porta em porta, por caminhos tortuosos, chamando e clamando at
que se d o triunfo do Amor.
Por isso tudo, o deserto importante para a meditao, a busca interior, o Encontro...
Depois de vrios dias Ele desceu e iniciou a maratona da fraternidade apoiada nos passos
da compaixo pelos homens.
Chamou a alguns homens que haviam sido escolhidos antes de serem, e deu-lhes as
primeiras instrues.
Um deles, Mateus Levi, o Filho de Alfeu, que era detestado, porque cobrava impostos, vira-O
porta da alfndega, na manh de Sbado, muito prximo sua porta. No saberia explicarse porque, naquele horrio fora at l, onde lhe era habitual estar, menos nesse horrio,
nessa circunstncia. Pde ver o magote que se aproximava, tendo o Estranho que vinha
frente. medida que se acercavam aqueles homens, Levi passou a sentir-se diferente,
comovido, especialmente aps sentir-lhe o relmpago do olhar. Nunca mais O esqueceria,
passando a segui-Lo, anotando os Seus ditos, os Seus feitos, Sua beleza...
Naquela mesma tarde, como de hbito, compareceu Sinagoga e O ouviu, num timbre que o
revigorava interiormente, trazendo indefinveis ressonncias ao seu corao tristonho, face
ao desprezo que sofria do seu povo, por ser escrevente da coletoria...
Quando a multido O acompanhou aps o ofcio religioso, ele se manteve a uma regular e
prudente distncia, a que se adaptara, embora anelasse por convivncias saudveis,
sorrisos joviais, confiana, amizade, to pouco e tanto de que necessitava.
Passava as horas com ansiedade e adormeceu sob lnguido torpor que o levara a estranho
sono, no qual via-se carregando os livros da alfndega, mas, nos quais, alm da inexistncia
22
Levi, tem vontade de gritar, estourar o peito em uma sinfonia de felicidade dantes jamais sentida.
Os seus amigos esto ali, todos aguardam o acontecimento com ansiedade e desconfiana.
Quando Jesus e grupo se aproximam, Mateus avana, curva-se e esfuziante de jbilo, abre os
braos e envolve o nobre visitante.
Sorrindo, o Senhor lhe diz:
- Mateus, s realmente muito feliz, porque hoje a felicidade se adentra pelo teu lar.
O banquete transcorre ao som de pfanos e flautas, pandeiros e delicados sinos, enquanto que o
ar balsmico da tarde est carregado de perfumes de madeiras preciosas que ardem em
pequeninas piras fumegantes em volta da mesa farta.
Jesus fez a refeio ao entardecer com os convidados do seu convocado, publicanos como ele,
da mesma alfndega, que se interessavam pelo reino que Ele traz. Esclarece uns e orienta
outros, explica-lhes qual a estratgia e desenvolver, para que se implante o reino especial, e toda
uma conversao afetuosa se estabeleceu.
Ao terminar o banquete, Jesus se preparava para sair, entre sorrisos e gratides, quando alguns
no convidados da vizinhana, dentre os quais diversos fariseus que se acotovelavam, picados
pela inveja e pelo cimes, amargos e censores, interrogaram cnicos, a Mateus, tentando
humilh-lo:
- Por que razo vosso Mestre se senta mesa e come com os publicanos e os pecadores?
A presuno egocntrica faz que pensem estar isentos de pecados, somente porque so
formais, pusilnimes - o que j um pecado - e conservadores de superadas e vazias tradies.
Imperturbvel, por conhec-los interiormente, Jesus, redargu:
- No necessitam de mdicos os sos, mas sim os doentes.
A resposta verdadeira surpreende-os, desmascara-os, porque se sabem enfermos tambm, mas
o desmedido orgulho os impedem de buscarem medicao. Assim so as criaturas humanas,
presunosas das suas pobres prerrogativas. Esto prximas da luz e evitam-na; sentem a
presena da paz e recusam-na; experimentam o perfume da felicidade mas impedem-se a
harmonia...
Doentes que tambm, eram no seu farisasmo os inquisidores, Jesus deixou-os aturdidos e foise, tranqilo, na direo da noite formosa.
Mateus Levi mudara de atividade, encontrando sua real vocao - anotar almas para o banquete
do reino de Deus.
___________________
(*) Mateus 9 - 9 a 13.
Nota da autora espiritual.
24
26
Era ento um caldeiro de fermento maligno que crescia sem controle no mundo subterrneo
do pas e j explodia na convivncia externa, divididos os seus membros e mal vistos
respectivamente.
Passando serenos nesse conflito de paixes desconcertantes havia os essnios, estranhos
habitantes das montanhas s margens do mar morto, que pregavam a abstinncia aos vcios
de qualquer na natureza, a indulgncia, o arrependimento, o jejum e a orao, os flagcio
como forma de libertao dos desejos, a reencarnao como meio eficiente para a evoluo
do Esprito. Eram humildes e mansos, sbios, pacificadores, nunca se envolvendo nas
disputas de sabor farisaico ou poltico-religioso.
Nas diferenas existentes no povo hebreu havia tambm a presena dos gentios, que eram
todos aqueles no judeus, que vinham de regies distantes e tentavam mesclar-se nessa
sociedade dspar e confusa, tidos como inferiores, porque adoravam esttuas, alimentavamse de carne proibida, nunca seguiam as prescries da Lei a respeito do Sbado, que
desconsideravam, entregando-se luxuria e extravagncia, como alguns deles tambm o
faziam, e eram os seus carniceiros dominadores. Eles viviam em Tiro e Sdon, provinham do
Egito e de outras regies da sia com seus dialetos e costumes odientos, os gregos de todos
os matizes, os perversos romanos, abrangendo a imensa faixa de terra desde a Sria at ao
Edon.
Os governantes, que cuidavam dos interesses de Csar, somente interferiam nas lutas
travavam os grupos quando as mesmas ameaavam a ordem social, e usavam de mtodos
to cruis como os prprios litigantes.
Nesse povo dividido e odiento no havia lugar para a presena do amor, nem oportunidade
para os cnticos da misericrdia e da compaixo. Tudo eram implacabilidade e violncia,
cimes e intrigas, perseguio e desmandos.
Reis e governantes que por ali passaram, celebrizaram-se pelo saque, pela perversidade,
pela srdida indiferena aos interesses nacionais e aos do povo, pelos assassnios que
atingiram seus palcios e os prncipes, o Sindrio e o Templo...
De Herodes a Arquelau, seu herdeiro, as atrocidades foram tamanhas e o rio de sangue to
volumoso, que o prprio Csar deps o ltimo, quando no trono, aps a morte hedionda do
genitor.
O servilismo, a bajulao e a vilania tinham presena garantida no mundo de ento, e
particularmente em Israel.
No havia lugar para os sentimentos humanos e somente guias, corvos, chacais e outras
feras eram vivenciadas pelas criaturas, que lhes assumiam a conduta.
Foi nesse clima moral nesse cultura perversa, nessa sociedade enferma e desapiedada, que
Jesus veio construir o Seu reino. Natural que no houvesse lugar para Ele, como at o
momento tem parecido no existir, tais as ambies que norteiam os destinos de muitas
naes e de muitos governantes, das pessoas, suas especulaes e seus interesses.
27
Com Ele, no entanto, nasceram uma nova humanidade, um conceito diferente de felicidade,
uma forma especial de vida que vo instalando e terminaro por dominar, qual uma estrela
da manh que comeasse radiosa no cu das sombras, - perodo de Joo, o Batista - mas
cedesse lugar ao brilho do Sol, que era Ele, um triunfo durante o dia.
impossvel deter o progresso de espiritualizao da Humanidade, e Jesus o seu pioneiro
e condutor, que no cessa de agir.
A luz veio ao mundo e o mundo procurou ignor-la, mas superando as dificuldades naturais a
luz se espraiou desde os confins da Terra de um lado para o outro ..
28
ridcula e mesquinha, percebendo que o seu ministrio j se vai encerrando, como o dia
festivo se apaga com a chegada da noite, para que, mais tarde volte a brilhar e esplender o
Sol...
Fazia tempo que ele aguardava o Anunciado.
Recordou-se de quando se despiu e vestiu-se com pele de um animal, segurando o tosco
cajado, saindo a proclamar os dias venturosos, em meio desconfiana e perversidade em
toda parte. Evocou as austeridades a que se submeteu, a fim de captar o pensamento divino
e adquirir autoridade para perdoar pecados, limpar as impurezas morais, saciar a sede de
esperana e nutrir com a paz que vem de Deus. Reviveu os primeiros momentos nas covas
onde se escondem para o repouso os animais selvagens, que nunca lhe fizeram qualquer
mal, e num caleidoscpio de bnos reviu todas as cenas do seu ministrio que agora
comearia a silenciar.
Retornando ao mundo objetivo, enquanto os discpulos aguardavam-lhe a resposta, Ele disse
em tom festivo:
- O homem no pode receber coisa alguma se lhe no for dada no cu. Vs mesmos sois
testemunhas de que eu disse: no sou o Cristo, mas sou enviando diante dele.
Fez-se uma pausa suave, como dando a oportunidade a que ficasse bem compreendida a
sua resposta, e logo prosseguiu:
- Aquele que tem a esposa o esposo, mas o amigo do esposo que o assiste e ouve,
alegra-se com a voz do esposo. Assim, pois, este meu prazer est cumprido.
Jesus encontrava-se distante, nas terras da Judia e batizava, convocando os coraes
purificao pelo crepitar das labaredas do arrependimento, de forma que no voltassem aos
equvocos, nem se permitissem a degradao moral. O smbolo do batismo que Ele no mais
aplicaria, era para que todos O pudesse identificar, conforme j o fizera Joo e o fora
anunciado pelos Profetas que vieram antes...
Sucediam as curas, Ele dava testemunho de ser o Enviado, Aquele que poderia mudar o
destino de Israel e de toda a Humanidade. No entanto, sabia que no seria fcil a tarefa
herclea e incomum, que somente os tempos conseguiriam culminar o que ento iniciava.
Estavam lanadas as primeiras pedras angulares do edifcio do reino de Deus, e isso era o
que importava.
Do outro lado, aqueles que ouviram a resposta de Joo
hebetados. No podiam ou no queriam compreender.
ouviu, mas ningum recebe o seu testemunho. Quem recebe o seu testemunho certifica-se
de que Deus verdadeiro. Porque aquele a quem Deus enviou refere as palavras de Deus,
pois Deus no lhe d o Esprito por medida. O Pai ama o Filho e ps todas as coisas nas
Suas Mos.
E a voz do Batista se ergue como um canto forte e ele diz, emocionado:
- Quem acredita no Filho tem a vida eterna. Quem se recusa a crer no Filho no ver a
Vida...
A msica altissonante se cala na boca do Profeta. Ele mergulha em profundo
ensimesmamento. Recorda-se do encontro que tivera, fazia pouco, em ntipas, e no pde
deixar de perceber o olhar cruel de Herodades, a concubina infeliz, que o odiava, por saber
que ele lhe condenava a conduta moral.
Penetrando nos dias do amanh viu desenhar-se na mente sombria construes da fortaleza
de Masqueros e compreendeu que estava chegando o momento de despedir-se do mundo,
calar a voz, para que brilhasse a Grande Luz e fosse escutada a incomparvel sinfonia.
... necessrio que Ele cresa e que eu diminua...Ele como a palmeira verdejante e eu sou
como a relva crestada que ser arrancada e posta no fogo. Ele o relmpago que risca os
cus da ignorncia e eu sou como a dbil lamparina que se extingue por falta de leo.
Joo iniciara o ministrio e Jesus aprofundava-o, assinalando-o nas almas de maneira
indelvel.
Desde Jeric at a Betnia e auspiciosos ventos da esperana carreiam as notcias do
Esperado, que difere de todos quantos j passaram por ali. A Sua no preocupao com as
coisas comuns e vulgares do dia-a-dia, a que os fariseus, doutores e escribas do exagerada
importncia, porque dizem respeito ao exterior. As Suas so as questes profundas da alma,
do ser em si mesmo, os valores eternos, e por isso, Ele cuida da liberao do Esprito
enjaulado nos prejuzos morais.
Os que no significam muito so os Seus eleitos, para os quais Ele veio trazendo a paz e
convidando-os ao incomum milagre da prpria transformao.
A Terra, a partir daqueles dias, nunca mais ser a mesma, assim como as criaturas agora
dispem de uma bssola e um mapa que lhes facilitaro a travessia pelo oceano
tempestuoso das paixes.
(*) Joo 3:22-36
Nota da Autora Espiritual
31
Sinfonia de Feitos
Arma de alto teor mortfero a murmurao dos intrigantes. Ela no silencia, porque os seus
autores se comprazem em malsinar todos quantos lhes so antipticos, averso essa que
nasce da prpria inferioridade por no os poder superar no palco infeliz das srdidas
competies.
Pem-se em viglia permanentemente e filtram todos os acontecimentos atravs das suas
lentes sombreadas de perversidade. Do incio s redes de intrigas, so hbeis na arte de
confundir e de alterar palavras, possuindo incomum capacidade para discutir vmente,
porque so preguiosos para o trabalho, e no possuindo idealismo legtimo se aglomeram
em torno dos verdadeiros combatentes, para serem vistos e aclamados, tornando-se-lhes
rudes provocaes.
Nem mesmo Jesus escapou-lhes sanha. Sempre estiveram Sua volta, tentando
espizinh-lo, deturparem as Suas informaes, e colh-lo em algum item que o lanasse
contra a Lei e os doutos astutos.
A seara grande e os obreiros dispostos para trabalh-la ainda so poucos. Ele ter que
fazer tudo: encontrar o solo, prepar-lo, nele semear, cuidar no perodo da germinao para
que as pragas no causem danos e seguir o crescimento das plntulas at que se
robusteam, tornando-se ricas de flores e doando frutos em abundncia.
Os caminhos so longos e difceis de ser vencidos. As multides se revezam e os tumultos
no cessam.
Em menos de trs anos Ele percorreu aqueles stios ridos, passando pela Galilia vrias
vezes, de um a outro ponto; depois visitou a Jerusalm desptica por diversas ocasies,
especialmente para ver o lugar onde deveria ser executado; alongou os Seus passos pelas
longnquas regies de Tito e Sdon, na fronteiria Fencia; nas barcas enfunadas atravessou
o lago de mais de dez quilmetros de largura e alcanou a Decpole, a Batania,
conseguindo levar a voz e o exemplo Cesaria de Felipe.
Nunca repousava. O tempo, que urgia, voava ao Seu lado, que o ultrapassava em atividades
ineterruptas.
As batalhas so cruis e as armas que usavam os Seus inimigos gratuitos - os permanentes
adversrios da Humanidade - so a traio e a infmia, o suborno dos sentimentos e a
mentira, que se espalham como rastilhos de plvora e so do agrado de todos quantos as
aceitam.
A Sua fama precede-O e Ele no tem o direito a pouso de paz nem o repouso da
recuperao, seno nos grandes silncios com Deus.
32
O prprio Mestre exulta. Uma alegria domina-O e Ele sente que o reino se espraiar como os
gros daquela seara que somente aps triturados alimentam e do vida. Ento ser
necessrio que Ele tambm experimente o martrio, sejam triturados os Seus ossos, para
que o Seu sangue prepare as carnes amassadas, o po da luz que sustentar a humanidade
por todos os dias do futuro.
A Natureza em festa prepara-se para se transformar na pauta musical em que Ele cantar a
Sinfonia do eterno amor.
Ao cair da tarde chegam a Cafarnaum e seguem diretamente para a casa de Simo Pedro.
Os comentrios antecederam-nos e alguns murmrios chegaram aos ouvidos dos fariseus:
Tanto Jesus como os Seus comeram alguns gros de trigo na viagem, dominados pela fome,
e isso era proibido no dia de Sbado - colher e alimentar-se.
Os covardes, porm, sem maiores argumentos silenciaram e aguardaram.
Uma semana depois, no prximo Sbado, ei-lo na sinagoga de Cafarnaum, onde dever
falar.
O Seu verbo se ergue e as interpretaes das Escrituras passam a ter diferenciadas
musicalidade - so os anncios do reino de Deus.
Estimulados por algum malicioso, que desejava provocar um escndalo e surpreender o Rabi
em desrespeito para com a Lei, algum sugere a um enfermo que tem uma das mos
mirradas, para que lhe pea a bno de cura, o que era proibido atender-se naquele dia.
Seria grave ofensa Lei, em plena sinagoga, no dia da proibio, reservado ao repouso,
atrever-se a operar, diante dos representantes sacerdotes e deles mesmos, dos funcionrios,
do povo e dos prprios rprobos, que eram os fariseus, o milagre solicitado, mesmo que sob
a ajuda de Deus.
Percebendo toda a trama, que se exteriorizava dos escusos abismos do carter venal dos
Seus inimigos, o Mestre, sentindo-se desafiado, e j disposto a enfrentar a tempestade
poltica, antegozando o sacrifcio a que se iria submeter, props ao enfermo:
- Levanta-te, e fica de p no meio da sala.
O enfermo, que no se dera conta da ocorrncia maldosa, ps-se em p, aturdido, e o
Mestre, sereno e nobre, voltou-se para a massa que acompanhava o desenrolar do
acontecimento, e interrogou:
- Quero que me respondais a uma pergunta. lcito, nos sbados, fazer bem ou fazer o mal?
Salvar uma vida ou matar?
36
Incapazes de amar, de servir e de tornar-se modelos, odeiam a todos aqueles que o so.
Levantam-se sempre para anatematizar, discutir e apontar erros.
Jesus nunca lhes deu importncia. O mesmo devem fazer aqueles que estejam iluminados
pelos convites do Evangelho e da Vida.
_________________
(*) Lucas 6 - 6 11.
Nota da autora espiritual.
38
39
Os ancios, por quase todos desdenhados, sentiam-se apoiados no cajado da Sua palavra
vigorosa; as crianas, bulhentas e pouco compreendidas, silenciavam enquanto eram
atradas pela luz dos Seus olhos, e os Espritos perversos fugiam da Sua presena.
Mesmo aqueles que se haviam tornado Seus adversrios, movidos pela inveja doentia e pela
perversidade em que se compraziam, ao enfrentarem-no receavam o Seu poder, ante o qual
se sentiam amesquinhados.
E Ele falava a respeito do reino dos cus em uma dimenso a que no estavam
acostumados aqueles que o buscavam.
No obstante, as criaturas humanas, afligidas pelas prprias infinitas necessidades,
pensavam exclusivamente nas questinculas do dia-a-dia, nos problemas da sobrevivncia
fsica e do conjuntos social.
Faltava-lhes amplitude mental e largueza de viso para penetrar nas propostas libertadoras
que a Boa Nova lhes trazia.
Ele, no entanto, no se incomodava, ensinando sem cessar.
Naquela oportunidade, a multido se fizera superior a qualquer expectativa, de tal forma que,
reunida em alguns milhares, estavam a ponto de se pisarem uns aos outros, quando Ele
comeou a ensinar, despertando para as realidades profundas do ser espiritual.
- Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que a hipocrisia. Nada h encoberto que no
venha a descobrir-se nem oculto que no venha a conhecer-se.
Havia na voz enrgica uma ressonncia de advertncia a respeito da conduta que se deveria
manter. A hipocrisia morbo da alma que contamina e deixa seqelas devastadora por onde
passa, e se tornara caracterstica predominante no comportamento dos fariseus, que se
perdiam em discusses estreis a proveito prprio, sem nenhuma considerao por quem
quer que seja.
Todos os comportamentos hediondos, mesmo aqueles que ficam desconhecidos e so
mascarados pelos processos perversos do poder transitrio dos homens, tornam-se
conhecidos e malsinam aqueles mesmos que se lhes entregaram. A vida uma cano de
luz, sempre renovadora e rica de realidades.
Prosseguindo, acentuou com a mesma energia:
- Por isso, tudo quanto tiverdes falado nas trevas ouvir-se- em plena luz, e o que tiverdes
dito ao ouvido em lugares retirados, ser proclamado sobre os telhados. Digo-vos: Meus
amigos ! No temais aqueles que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. Vou
mostrar-vos a quem deveis temer: Temei quele que, depois de matar, tem o poder de
lanar na Geena. Sim, eu vo-lo digo, a esse que deveis temer.
*
40
O relacionamento humano e social exige lealdade de uns indivduos para com os outros, de
respeito e comportamento de cada qual, buscando-se sempre a prpria melhor conduta e a
imensa tolerncia para com as defeces do prximo, porquanto aquele que erra fica
assinalado em si mesmo a sua aflio, no necessitando de maior carga de punio.
Por isso mesmo, a maledicncia, a calnia, a informao mals no tm lugar na convivncia
saudvel, naquela que inspirada pelo Evangelho, porquanto tudo se torna conhecido e
desvelado.
Nesse sentido, a divulgao da verdade, no pode ser prejudicada pelos temores
injustificados em torno das ocorrncias punitivas aplicadas pelos homens, que so
transitrios e no vo alm das fronteiras do corpo. No entanto, Aquele que o Poder e que
acompanha o ser aps o decesso celular, este sim, merece respeito e considerao,
porquanto Quem julga as condutas, encaminhando os infratores para as regies de
sombras e sofrimentos.
No silncio que se faz natural, Ele se proclamou Filho de Deus, exigindo fidelidade a quantos
desejassem segui-lo, declarando a sua convico na Mensagem e na entrega total ao novo
padro de vida.
Definiu rumos do futuro e as vicissitudes que aguardam os idealistas e semeadores da
esperana nos solos castigados pela cancula das paixes selvagens e perversas.
Tambm os animou com a promessa de que sempre e em qualquer situao os Espritos
sublimes inspirariam aos Seus seguidores, jamais os deixando a ss e sempre oferecendolhes os recursos de sabedoria e paz.
Pairava no ar uma dlcida consolao que pulsava nos sentimentos emocionados.
No obstante, algum, rompendo do silncio natural, gritou:
- Mestre, diz a meu irmo que reparta comigo a herana!
No poderia ser mais inusitada e absurda a solicitao, destituda de contedo nobre,
porquanto as propostas diziam a respeito a outro reino, distante do mundo fugaz, e a criatura
se encontrava encurralada no interesse mesquinho e imediato do poder e do prazer.
Conhecedor da alma humana e do labirinto pelo qual transita, o Mestre respondeu sem
perturbar-se:
- Homem, quem me constitui juiz ou repartidor entre vs? Olhai, guardai-vos de toda a
cobia, porque mesmo que um homem viva na abundncia, a sua vida no depende dos
seus bens.
Silenciou por um pouco e narrou, comovido, uma incomparvel parbola:
41
- Havia um homem rico, cujas terras lhe deram uma grande colheita. E ps-se a discorrer,
dizendo consigo: Que hei de fazer, pois no tenho onde guardar a minha colheita? Depois
continuou: J sei o que vou fazer, deitarei abaixo os meus celeiros e construirei uns maiores
e guardarei l o meu trigo e todos os meus bens. Depois direi minha alma: Alma, tens
muitos bens em depsito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te. Deus, porm
disse-lhe: - Insensato! Nesta mesma noite pedir-te-ei a alma: e o que acumulaste para quem
ser? - Assim acontecer ao que entesoura para si e no rico em relao a Deus.
Um sentido exclusivo tem a existncia humana: a preparao para a sua imortalidade
espiritual. Todos quantos transitam no carro fsico, deixam-no e seguem com os valores
amealhados emocionalmente, sejam quais forem.
A Vida estua alm da dimenso do corpo carnal, exuberante e luminosa, aguardando todos
que a enfrentaro.
Amealhar para as necessidades humanas constitui um dever, porm repartir e multiplicar
atravs da diviso em favor dos outros que padecem carncia, tornar-se rico de plenitude e
de recursos que nunca se consomem, porque de sabor eterno.
Jesus no juiz inquo, nem severo julgador para impor aos outros o que devem fazer e a
programao das leis j estabeleceu o que indispensvel a uma existncia harmnica.
o Embaixador de Deus, que veio despertar a conscincia humana para a realidade imortal.
Ainda por muitos anos Ele ser buscado para solucionar pendengas e paixes, atender a
caprichos e resolver problemas, que so necessrios para o crescimento individual do ser
como na coletividade na qual se encontra. No obstante, a Sua mensagem pairar
soberanamente acima das dissidncias e dos caprichos das criaturas e grupos, seitas e
doutrinas, trabalhando pela fraternidade legtima e pela unio de todas as pessoas que
anelam pela felicidade total.
Mesmo desfigurados Seus ensinos, rejeitadas Suas lies, subestimados Seus conceitos
pela presuno de alguns, Ele permanecer como o grande divisor dos tempos, aguardando
e inspirando.
(*) Lucas 12- 1 a 21
Nota da Autora espiritual.
42
Sem dvida, fazia-se mister predispor-se renncia aos bens terrenos, aqueles que
enferrujam, que so transferidos de mos e causam perturbao.
O indispensvel seria a harmonia interior, vinculada irrestrita confiana em Deus,
porquanto, no momento da eleio daquilo que deveriam preferir, nenhum apego os
vinculasse aos haveres transitrios, que so acumulados e logo se tornam peso insuportvel
sobre os ombros frgeis das criaturas que perecem na sombra do corpo para ressurgirem na
luz inapagvel da imortalidade.
Ningum pode ambicionar o reino de Deus disputando os valores terrestres que acumula
com avidez insacivel, nem consegue harmonizar-se no ideal da fraternidade, se no realiza
o equilbrio interior para vitalizar os ideais soberanos da vida.
Somente quem se afeioa ao verdadeiro bem capaz de transpor os obstculos colocados
pelo egosmo, sentindo a ldima solidariedade apossar-se dos sentimentos e espraiar-se
como aroma de esperana em favor de todos.
A vivncia evanglica, pois, uma incurso aos domnios do deus interno, de onde se
emerge no rumo glorioso de Deus.
natural que as criaturas, mergulhadas no corpo denso, sonhem e busquem o prazer, a
alegria que resulta da posse, da comunho afetiva. No entanto, viver em funo de tais
anelos, arriscado empreendimento que dificulta o despertamento para as realidades mais
significativas da vida real.
Enquanto se permanece em estado de infncia moral as coisas se apresentam como de
fundamental importncia, perdendo o significado vagarosamente, medida em que se
adquire maturidade psicolgica, evoluo espiritual.
Conhecendo em profundidade os Espritos que houvera convidado para o ministrio, Jesus
esclareceu-os, dizendo:
- No penseis que vim trazer a paz; no vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar
o filho da sua me e a nora da sogra, de tal modo que os inimigos do homem sero os seus
familiares.
Naqueles rostos curtidos de Sol e naqueles coraes ingnuos o desafio soara como um
estranho vaticnio de guerra sangrenta, de batalhas dilaceradoras, de combates insistentes
contra os familiares e de todos com quem convivessem.
No entanto, fitando o Mestre que os envolvia em dlcida vibraes de ternura,
compreenderam que a Mensagem iria separ-los dos afetos mais queridos, gerando
dificuldades nos relacionamentos, porque seria necessrio investir no futuro do Esprito,
mesmo que a prejuzo das alegrias presentes.
44
Quem, no lar, poderia compreender a doao de algum na famlia com maior intensidade a
Deus do que ao cl? Qual o afeto que estaria disposto a repartir a ternura que devotasse a
outrem, ante um competidor que exigisse entrega total? Seria crvel ser aceito aquele que
renunciasse ao poder terrestre, perseguindo o gudio metafsico da Espiritualidade?
A proposta de Jesus, realmente era como o fio da espada que separa, nunca para destruir,
porm para voltar a unir mais tarde.
Naquele tempo, e por muito tempo, no poderiam caminhar dois interesses to antagnicos
como os prazeres que exaurem os sentimentos e aqueles que desgastam o corpo e as
paixes convencionais para a vivncia da plenitude.
Seria, sem dvida, uma opo terrvel aquela que eles, os convidados, deveriam fazer:
prosseguir como at ento ou alterar os ideais at as cumeadas da conquista de Deus.
Os homens e as mulheres do mundo est acostumados s respostas imediatas dos
investimentos emocionais e fsicos, de tudo quanto redunde em projeo e poder, da
exaltao das vaidades e do domnio da fora, destacando-se aqueles que lhes constituem a
famlia.
*
Os homens e mulheres do mundo esto acostumados s respostas imediatas dos
investimentos emocionais e fsicos, de tudo quanto redunde em projeo e poder, da
exaltao das vaidades e do domnio da fora, destacando-se aqueles que constituem a
famlia.
A nova ordem se inspira em uma famlia universal, em sentimentos de solidariedade, em
atitudes de pacificao.
Num mundo de combates armados e ferozes esto excludos os pacificadores e os
geradores de esperana, porque eles dificultam o processo guerreiro de predominncia dos
temenrios combatentes.
Mas esses - pacificadores e geradores de esperana - so perenemente os construtores da
sociedade feliz, os alicerces das edificaes nobres do Esprito, sem os quais a vida volveria
ao primarismo do comeo.
Ainda hoje, sem as excruciantes dores dos testemunhos que assinalaram os mrtires da f,
no comeo do Cristianismo, permanecem as palavras de Jesus como espada que separa as
ligaes enganosas do conbio carnal, trabalhando sentimentos humanos, para que
entendam a necessidade de integrao nos postulados de sabor eterno.
As aragens dos Seus ensinos permanecem diminuindo a ardncia das canculas dos
desequilbrios e das conseqncias na sociedade atormentada e inquieta destes dias
insanos.
45
Amar em profundidade, saber selecionar interesses que devem e merecem maior soma de
ateno, entregar-se renovao ntima, a fim de suportar o testemunho que se derivam das
incompreenses geradas no crculo das mais caras afeies, eis o incio do ministrio
desafiador a que Jesus nos entregou a todos.
Suas palavras permanecem ecoando e o mundo no as tem ouvido, resultando na hediondez
e no crime, na desenfreada correria por nada e na auto-entrega aos estados de depresso e
de dor nos quais grandes grupos da sociedade hodierna se consomem.
_____________________
(*) Mateus 10:34 e 35
Nota da Autora espiritual
46
sempre assim que se d o amadurecimento moral, que faz do pigmeu um gigante e do ser
simples, que a fornalha do sofrimento modela, um verdadeiro heri.
Aquele era o material humano disponvel para a constituio da Era do Esprito Imortal e se
tornava necessrio trabalh-lo com carinho e firmeza.
*
A pergunta permaneceu no ar, sem reposta.
A princpio, sentiram-se constrangidos, embaraados.
Deram-se conta da pouca importncia da questo do debate, mas constavam novamente o
poder do Mestre no insondvel dos seus pensamentos.
Por fim, vencendo o conflito, sem agastamento, responderam alguns:
- Vnhamos discutindo em torno de quem de ns era o maior, o mais amado, o de
importncia mais significativa.
" Todos reconhecemos que Joo distinguido pelo vosso amor; Pedro merecedor da mais
expressiva confiana; Judas guarda as moedas e se encarrega do controle de nossas
modestas finanas ... E os demais? Que somos e que papel desempenhamos no grupo?
" Afinal, qual de ns o maior?"
Certamente se sentiam contristados pela disputa, mas houve-a, era justo serem honestos,
libertando-se das dvidas.
Jesus envolveu-os na luz da compaixo, e com a sabedoria habitual, respondeu-lhes:
- O gro de mostarda, menor e mais insignificante que qualquer outra semente, reverdece
com o mesmo tom o sol abenoado pelo trigo vigoroso. A bolota do carvalho desenvolve a
rvore grandiosa que nela jaz, assim como o plen quase e invisvel de todas as flores se
encarrega de transmitir beleza e perpetuar a espcie em outras plantas...Todos so
importantes na paisagem terrestre.
" O gro de areia se anula ante outro para construir a praia imensa que recebe o carinhoso
movimento das ondas arrebentando-se no seu leito reluzente".
"Tudo importante diante do meu Pai, no pela grandeza, mas pelo significado de que cada
coisa se reveste para a utilidade da vida".
"Entre os homens, o maior sempre aquele que se esquece de si mesmo, tornando-se o
melhor servidor, aquele que no cansa de ajudar, que se encontra sempre disposto para
cooperar e servir sem outra preocupao, qual no seja a de beneficiar ... Quem se apaga
para que outro brilhe, torna-se o combustvel, sem o qual a luminosidade desaparece".
49
" H uma grande importncia em ser pequeno, graas a cuja contribuio se apresenta o
conjunto grandioso ".
Fez um oportuno silncio, a fim de ensejar aos amigos a reflexo para que nunca mais se
esquecessem do enunciado e prosseguiu:
Aquele que, dentre vs, desejar ser o maior, o mais importante, o mais amado, torne-se o
melhor servidor, o mais atento amigo, sempre vigilante para ajudar e desculpar, porque esse,
sim, far falta, ser notado como ausente, se tornar alicerce para a construo do edifcio
do Bem.
No silncio que se fez natural, os viajantes dispersaram-se pelas diversas peas da casa de
Simo, enquanto l fora, o Sol de vero dardejava os seus raios de fogo sobre a terra que
abrasava.
(*) Lucas 9 - 46
Nota da Autora Espiritual
50
51
No era, pois, de causar surpresa que as mulheres O seguissem, que oferecessem recursos
em favor do ministrio espiritual e fraternal que Ele inaugurara, agradecidas e comovidas
ante o Seu amor.
Como conseqncia, a Ele se devem os primeiros gestos em favor da libertao feminina
dos grilhes a que foram submetidas atravs dos milnios.
...E foram as mulheres que no temeram as circunstncias inditosas da via dolorosa,
seguindo- O e compungidas, e ficando a Seu lado e ao lado de Sua me na tragdia da
Cruz.
Como resposta de amor, foi arrependida Magdalena, a que Ele apareceu por primeira vez
depois da morte, entoando o hino incomparvel de louvor Vida, embora Joo e Pedro
tambm houvessem visitado a sepultura onde fora inumado.
*
Narra o Evangelista Lucas (*), que algumas mulheres que haviam sido curadas de Espritos
malignos e de enfermidades, acompanhavam-no e aos doze, dentre as quais, Maria,
chamada de Madalena, da qual haviam sado sete demnios, Joanna, mulher de Cusa,
administrador de Herodes, Suzana e muitas outras que os serviam com os seus bens.
No foram poucos aqueles a quem Ele libertara de Espritos perversos, a quem restitura os
movimentos, abrira os olhos luz, descerrara os ouvidos ao som, limpara o corpo das mais
diferentes enfermidades, e todos O abandonaram.
Nenhuma voz se ergueu para defend-Lo ou sequer para justific-Lo.
As mulheres, no entanto, sem qualquer receio, estiveram na entrada triunfal de Jerusalm
como no meio da soldadesca desvairada e do populacho ingrato, seguindo-O com
fidelidade.
Sabia Jesus que o sentimento feminino, preparado para a maternidade, no teme sacrifcios
nem receia situaes penosas, porque constituda para a renncia de si mesma e para a
abnegao at o holocausto, havendo-lhe sido confiada o ministrio de amar as criaturas
desde o momento da sua formao no seio.
Desse modo, investiu na sua sensibilidade e nobreza, conferindo-lhe confiana e
concedendo-lhe a dignidade que lhe havia sido retirada pelas paixes subalternas dos
legisladores antigos e dos profetas fanticos.
Deus a todos fez com igualdade, estabelecendo polaridades para o elevado princpio da
reproduo, sem qualquer inferioridade, como parte de outrem.
O Criador, que concebeu e gerou o Universo, jamais necessitaria de adormecer o homem
para extirpar-lhe a costela elaborando a mulher. O processo da vida o mesmo, organizando
molcula por molcula sob a Lei de transformaes incessantes e renovao intrminas.
52
No Seu cdigo de amor, no h lugar para o mal, para discriminao, para a treva...Tudo so
bnos edificantes em situaes especficas para a finalidade geral da perfeio que est
destinada a tudo e a todos.
As mulheres, ao lado de Jesus, eram as mos do socorro, atendendo os enfermos, as
criancinhas aturdidas e rebeldes que lhe eram levadas, providenciando alimentos e roupas,
auxlio de todo jaez nas jornadas entre as aldeias e cidades, povoados e ajuntamentos.
A multido sempre O seguia; a massa informe e sofrida, que se comove e se irrita, que
segue o rumo e se extravia, que aplaude e apedreja conforme a situao, necessitando
sempre de ajuda na retaguarda, colocando equilbrio e esclarecimento, a fim de acalmar os
nimos e refundir coragem nos desalentos.
Eram suas vozes meigas e compassivas que tranqilizavam os exasperados antes de
chegarem at o Mestre; sua pacincia e gentileza que amainava a ira e a rebeldia
precedentes ao contato com Ele, constituindo segurana e alvio para as provas que os
desesperados carregavam em clima de reparaes dolorosas.
Conhecidas j, aos seus afagos recorriam muitas outras mulheres sofridas e amarguradas,
que experimentavam o oprbrio e a humilhao domstica, e s quais confortavam com o
seu prprio exemplo e f.
Jesus as necessitava, nelas depositando esperanas em favor de um mundo novo onde no
mais existissem as discriminaes, nem os preconceitos de qualquer natureza.
Jesus e as mulheres!
... E as crianas, e os homens de todos os tempos!
Por isso, Sua mensagem nunca mais desaparecer da humanidade e jamais se apagar da
memria dos tempos, at o momento do grande encontro com Ele, alm das formas e da
transitoriedade do mundo material.
_____________
(*) 8 - 2 e 3
Nota da Autora Espiritual
53
Libertao Total
Por entender a alta significao e profundidade da lio que deveria passar posteridade
como advertncia valiosa, o Mestre continuou:
- A morte nunca poder interromper a vida. Desse modo, aqueles que se comprazem no erro
e na ao malvola, despem a indumentria carnal, mas prosseguem infelizes, tentando
prejudicar aqueles que com eles se homiziam mentalmente. Por muito tempo assim ser,
como o resultado da cegueira que predomina em a sociedade humana - " A expressiva
maioria das criaturas humanas, ainda prefere o engodo, a paixo , o gozo escravizador.
natural, portanto, que a morte apenas os coloque em outro campo de vibraes, porm com
os seus hbitos e interesses. este o inferno que os aguarda, na sua loucura como prmio a
que cada qual faz jus..."
Interrompeu a exposio, para dar prosseguimento:
- A conquista do cu que meu Pai oferece feita mediante a conduta correta, os deveres
retamente cumpridos, o amor em predomnio no imo, na condio de recursos que facilitam a
instalao no ser.
" Certamente, por enquanto, os interesses pelos sunos predominam em a conscincia
coletiva, aguardando que se abram espaos para a implantao dos postulados da Boa Nova
que liberta as mentes e os coraes."
"Dia vir, no muito longe porm, em que o Evangelho estuar na Terra e os seres humanos
compreendero que o reino dos cus comea aqui mesmo e no corao de cada um, no
instante em que seja tomada a deciso libertadora."
Silenciando, levantou-se e se dirigiu praia.
L fora, o dia adornado de ouro cantava um hino, conclamando luta e felicidade.
Gadara e seus filhos ao longe, no cimo da cordilheira da Decpolis, prosseguiram cuidando
de sunos, enquanto a Voz anunciava a Era Nova que se acerca...
56
Correes Libertadoras
As salmodias da Natureza em festa anunciavam a chegada da Primavera, que renovava os
escombro com flores midas e reverdecia a terra antes crestada e triste.
O arrebentar de cores e a exploso de perfumes balsamizavam o ar, oferecendo poentes em
ouro, por onde bailando passavam esvoaantes nuvens garas, demandando regies
longnquas.
O lago tranqilo refletia nas guas lmpidas e transparentes as embarcaes que singravam
ligeiras, de velas enfunadas sob o sopro de ventos generosos.
A paisagem humana igualmente se apresentava enriquecida pelos jbilos dos clidos dias de
Sol que chegavam aps a demorada invernia.
A luz que clarifica sempre consegue fazer que se esquea a noite tenebrosa.
As gentes das margens do Genesar, que repletavam as aldeias gentis e cidades prsperas,
movimentavam-se pelas ruas e praas, particularmente as dos mercados, comentando os
acontecimentos cujas notcias lhes chegavam de fora pelos viajantes e itinerantes em
trnsito contnuo.
Herodes, fazia pouco, havia silenciado a voz do Batista na sua fortaleza da rida Peria.
Concomitantemente, a balada envolvente da Boa Nova comovia aquelas massas humildes e
sofridas, que acorriam s pregaes.
Enquanto as tricas e rixas farisaicas se multiplicassem em constante ameaa ao Rabi,
impertrrito e dcil, Ele prosseguia ensinando e arrebatando as multides.
Talvez aquela fosse a ltima estao de flores na qual os companheiros compartiriam a Sua
presena.
As notcias das curas prodigiosas alcanavam as terras distantes e se renovavam os
enfermos que, aps curados se iam, sendo substitudos por novos magotes que chegavam.
A falta de renovao moral das criaturas respondia, como at hoje, pelo acmulo das
enfermidades e aflies.
Incansvel e bom, Jesus atendia os infelizes, admoestando-os a que mudassem de atitude
em relao ao comportamento, abrindo-se ao amor e a Deus.
Na insnia que a muitos peculiar, aqueles sofredores desejavam somente libertar-se do
fardo dos sofrimentos, sem que se dessem conta da sublime cano que os Seus lbios
entoavam, apontando a Era de felicidade ao alcance de todos.
57
Numa noite adornada de estrelas, depois das fadigas do dia estuante de beleza, o Mestre
meditava defronte do mar em Cafarnaum, na casa de Simo, quando o amigo, que lhe
acompanhava em silncio, tendo a mente ardente de interrogaes, endereou-lhe algumas
dvidas, pedindo esclarecimentos.
- Senhor! - exps timidamente - Eu gostaria de entender por que a dor chibateia com tanta
fora o dorso das criaturas indefesas. Para onde direcionamos o olhar, defrontamos a
misria, a enfermidade, as agonias e a morte ceifando as vidas. Mesmo nos lares abastados
o sofrimento faz residncia, ferindo os mais delicados sentimentos e dilacerando as mais
caras aspiraes...
Silenciou por um pouco, para logo prosseguir, organizando as reflexes:
- Pessoas laboriosas dedicam-se produo das coisas corretas e no progridem, enquanto
que outras, desonestas e mesmo cruis prosperam a olhos vistos?! Tenho amigos que se
empenham pelo ganha-po honrado, amargando dificuldades e carncias sem nome. Como
entender-se o magnnimo amor do Nosso Pai nessas situaes?
- Simo - inquiriu o Mestre - como se comporta o pai responsvel cujos filhos desobedientes,
no lhe seguem as orientaes?
- Repreende-os, Senhor - redargiu o pescador interessado.
- E, se apesar das advertncias, os mesmos permanecem inconseqentes?
- Aplica-lhes corretivos mais severos, a fim de os ajudar.
- Respondeste bem, Simo. Nosso Pai a todos criou para a conquista da felicidade espiritual
e eterna. A estncia na Terra transitria, como oportunidade de realizar-se uma saudvel
aprendizagem para a posterior aplicao dos conhecimentos. A vida real a do Esprito,
enquanto que o corpo uma roupagem transitria com a finalidade especfica: facultar o
desenvolvimento moral no convvio com as demais criaturas. Quando saudveis, atiram-se
pelos srdidos labirintos do prazer insano, assumindo comportamentos desvairados.
Utilizam-se dos recursos valiosos que lhes so concedidos para o uso extravagante e
abusivo do prazer corporal, afligindo o prximo em alucinada correria pelas satisfaes vis,
incessantes, perturbadoras...
Fez breve pausa e olhou o velrio da noite ornada de brilhantes estelares, e prosseguiu:
- Por amor, o Pai faculta prosseguir sob chuvas de cido e calhaus que acumulam sobre as
prprias cabeas, experimentando as conseqncias da insensatez. Ao invs de tratar-se de
punio, saudvel de ensinamento de amor, convocando os calcetas reparao,
reflexo, ao trabalho de autodepurao. Ningum convocado ao sofrimento sem uma
anterior causa justa. Que ocorre, porm, com o ser humano, nessas circunstncias?
Podendo aproveitar as lies para reequilbrio, atiram-se nos abismos da rebeldia,
58
blasfemam, ameaam, vociferam, mais complicando o quadro das prprias dores. Cada qual
, portanto, responsvel pelo que lhe sucede, em razo da justia das Soberanas Leis...
Aps ligeiro silncio, para facultar ao discpulo absorver o contedo do ensinamento,
continuou:
- Quando arrojamos algo para cima, inevitavelmente ele retorna...Assim tambm so os
pensamentos, palavras e atos que so direcionados Vida. Eles volvem com as cargas
emocionais ampliadas, aps serem atirados para a frente.
"O Pai generoso compreende a rebeldia dos filhos em aprendizado e concede-lhes o livrearbtrio para que se sintam responsveis pela existncia. Todavia, a qualquer ao sempre
corresponde uma reao equivalente. Cessada a oportunidade de opo, se foi mal
aproveitada, aplicado no infrator o necessrio corretivo, a fim de evitar-lhe danos mais
graves na conduta."
Enquanto a suave brisa perfumada perpassava no ar, confundiu-se com o aroma do lago
imenso, Jesus concluiu:
- So felizes, Simo, aqueles que se encontram em correo libertadora, porque se purificam
para o reino dos cus.
A existncia terrena, tida como feliz, isto , sem preocupaes financeiras, sem problemas
sociais, com sade perfeita, no representa muito para quem a desfruta, mas concesso
divina para ser utilizada, delineando as futuras experincias iluminativas. Desse modo, quem
a malbarata, retorna em escassez; aquele que a perverte, volve excruciado pela sua
ausncia; todo e qualquer caminho, recolhendo os calhaus e os espinhos que deixou em
abundncia...
"O sofrimento bno que o Pai oferece aos Seus eleitos, a fim de que no se percam,
tornando-se escolhidos. Bem sei que, no atual estgio da evoluo humana, considera-se a
felicidade como sendo a ausncia de problemas e a alegria na condio de faltas de
preocupaes...Mas o reino dos Cus diferente das conjunturas humanas, comeando nas
fronteiras do comportamento terrestre."
Calando-se, permitiu ao discpulo sincero que auscultasse o prprio ntimo, enquanto, no
Alto, lucilavam os astros embalando a noite de paz...
59
Os sinais do sofrimento
Ao tempo de Jesus, o Templo de Salomo era uma das mais belas construes existentes,
em plena magnificncia.
Erguido, inicialmente por Salomo, de quem herdou o nome mais tarde, substitudo por
Jerusalm, pela sua localizao, foi construdo com requintes de luxo, desde as madeiras
preciosas at os mrmores que deslumbravam.
Erigido no sculo X a. C., foi destrudo pelos caldeus mais tarde, em 583 a. C., deixando
desolados os hebreus.
Novamente levantado pelos judeus, que vieram do exlio da Babilnia, foi terminado por
Zorbatel, em 516 a. C., que o ornamentou com ouro e colunas deslumbrantes, enquanto
governador da Judia.
Por fim, foi reedificado e embelezado por Herodes, que o dotou de mxima glria como
edificao arquitetnica incomum, entre as anos 20 e 10 a. C., com madeiras de cedro do
Lbano e painel de ouro entrada, expressando a grandeza de Nova Era.
Somente no ano 64 d. C., seria concludo, para ser novamente destrudo, logo depois, por
Tito, que assim humilhou o povo judeu, reduzindo-o posio de gal e impondo a
Dispora...
Era, no entanto, a glria do povo eleito. Ali se decidiam as questes relevantes da f, da
poltica e da economia do pas.
O Sumo-sacerdote era autoridade de destaque na comunidade, respeitado e orgulhoso,
exercendo poderes religiosos, sociais e administrativos quase absolutos.
Vez por outra Jesus entrou nele durante Seu Ministrio.
*
Aproximavam-se os momentos decisivos. A onda de intriga avolumava-se e os espies de
vrios matizes buscavam surpreend-lo em falta real ou imaginria para O denunciarem.
Os Seus passos eram seguidos socapa e Suas palavras eram adulteradas, de modo a
atenderem aos fins escusos dos Seus futuros verdugos.
Ele permanecia, no entanto, impertrrito.
A Verdade nEle era to natural, que no a podiam dissociar da Sua vida.
60
61
"Naquela ocasio que h de vir, o Sol perder sua luz, as estrelas cairo sobre a Terra e a Lua se
cobrir de sangue."
Percebia a alucinada carreira armamentista das atuais grandes Naes, sonhando em tornar a lua
uma base para disparar msseis.
As grandes trevas que dominariam o Sol, quando se ergueram os cogumelos das exploses
atmicas, atemorizando o mundo e marcando vidas com sinais irreversveis da contaminao
nuclear, eram previstos naquele momento.
Tambm descortinou a queda de estrelas sobre o planeta em treva - os Espritos de Luz que vieram
preparar a Era Nova e instalar o reino de Deus...
Aps larga reflexo, concluiu:
" - Ento vereis o Filho do Homem em toda a Sua glria, pairando acima dos escombros e coroando
os justos com a paz. O que vos digo a vs, digo-o a todos. Vigiai!
Anunciados os torpes acontecimentos que visitariam a humanidade dos tempos futuros, Jesus
envolveu os discpulos ingnuos em uma onda de ternura e confiana, asserenando-os com palavras
de estmulo e f.
" - Aqueles que perseverarem fiis - assegurou-lhes - sero poupados."
A f rutilante, vivida integralmente, conduz com equilbrio e poupa a criatura da desnecessria aflio,
mesmo porque luariza a alma, equipando-as de energias e foras para operar as ocorrncias
dilaceradoras.
Perseguindo os ideais de enobrecimento, o homem supera-se a si mesmo e arrosta quaisquer
consequncias infelizes com ardor, sem dar-se conta do preo a pagar pela honra de imolar-se, dos
testemunhos a enfrentar pela felicidade de ser fiel.
Jerusalm cobria-se de sombras lentamente, e as estrelas coruscavam de longe, enormes como
gigantescos crisntemos de luz, enquanto o silncio da natureza era musicado pelas onomatopias.
Contemplando a cidade, orgulhosa e infeliz, adormecendo, Jesus e os Seus avanavam no futuro e
anteviam a Jerusalm libertada nas almas, sem construes suntuosas de pedra, que o tempo
derruba, nem opulncia, que perde o valor na sucesso dos evos.
Na memria dos sculos esto as runas do grandioso Templo, quase imperceptveis em Jerusalm,
que o Mestre previu desaparecer.
Das famosas oliveiras do monte fronteirio, aps a devastao determinada por Tito, que as
derrubou, para transform-la em cruzes, restam apenas trs, atormentadas e retorcidas como os
povos que ali tm passado at hoje...
________________
(*) Marcos 13: 1 a 37
Nota da autora espiritual.
63
Um Lugar Solitrio
Narra o evangelista Marcos (*) que, de manh, muito cedo, Jesus levantou-se e saiu; retirouse para um lugar solitrio e ali se ps em orao.
O mundo estava repleto de lugares solitrios.
A multido de massa informe, volumosa, que atropela, aturde, esmaga. Em um momento fazse tranqila para, logo depois, agitar-se, crescer e arrebentar-se contra tudo quanto est
frente.
Ameaadora, difcil de ser controlada, em razo dos impulsos que nascem nas suas
paixes devastadoras.
Jesus sempre a enfrentava tomando a compaixo pela sua loucura, sua ansiedade, sua
irreflexo.
No raro, por isso mesmo, Ele procurava um lugar solitrio para orar e reabastecer-se em
Deus.
As criaturas vidas, que formavam a multido, sempre tomam, sem dar, querem mais, at a
exausto, sem retribuir; renovam-se, incessantemente, sem considerao pelo agente do
seu conforto...
Rebelam-se com facilidade e os lbios que sorriem se crispam de ira, as mos que
aplaudem, esbofeteiam, o entusiasmo se converte em dio.
H lugares solitrios, geograficamente, nos quais se ouvem a msica do silncio e a voz de
Deus. Ali possvel reencontrar-se, revitalizar-se, pensar...para depois enfrentar-se a
multido.
Quem no os busca, exaure-se com facilidade, atormenta-se, perde o contato com Deus e
consigo mesmo.
Arrastado para toda parte e lugar nenhum, o incauto se desconserta e se estiola, vencido
pela ingrata, incansvel multido.
Tambm existem pessoas que so lugares solitrios, porque se fazem ridas, amargas,
abandonando-se autocompaixo, descrena.
Esvaziadas de idias, nada as preenche.
Mortificam-se e acusam, sem dar-se oportunidade de renovao e plenitude.
64
brutalizado,
gozador,
Amanhecer de esperanas
Os acontecimentos se precipitavam incontrolveis.
A regio desrtica e triste, que reverdecera sob a chuva de esperanas da palavra do
Batista, seria o cenrio de inusitadas ocorrncias, preparando o amanhecer de uma nova e
demorada Era - a do amor.
*
O amor ainda no abrasava os coraes. Apenas em pequenos grupos vicejava, unindo
familiares e greis que se prendiam a interesses recprocos.
Raramente o sentimento de amor a Deus oferecia equipamentos para uma vida de confiana
e irrestrita dedicao f.
Da mesma forma, o amor Ptria esmaecera nos coraes e o mercenarismo era o recurso
legal para formar os exrcitos e defensores da sociedade.
O sentimento de fraternidade espontnea quo desinteressada cedia lugar mesquinhez
moral do comportamento que assinalava pela traio, discrdia e realizao do ego.
O amor comearia naquele momento a distender as suas razes e desabrochar-se pela
aridez das criaturas, alternando o comportamento humano.
No se tratava de uma tarefa simples e fcil, porquanto iria alterar os conceitos da Filosofia
hedonista, do imediatismo, ensejando uma transformao da sociedade, que s os lentos
milnios conseguiriam materializar.
Para tanto, fazia-se inadivel comear; para isso veio Jesus.
*
As tribulaes que Ele experimenta foram rudes.
Era necessrio macerar-se, a fim de permanecer em Deus e o Pai nEle.
Por isso, o demorado jejum se fizera indispensvel.
Tratava-se da preparao silenciosa, mortificadora, a fim de poder enfrentar a algaravia, o
tumulto e as competies traioeiras que logo mais viriam.
As tentaes foram rechaadas pelo Seu carter rigoroso e o momento havia chegado.
67
Havia sede e fome de paz, de justia e de po, e como Ele prometia Boas notcias em torno
do reino de amor e fartura, o que interessava era consegui-lo de imediato.
Estavam sendo, porm lanadas as primeiras balizas; tornava-se preciso reunir os obreiros,
aqueles que iriam trabalhar nas fundaes da nova sociedade humana.
Ele saiu, portanto, aps o primeiro discurso e rumou na direo das bandas do mar da
Galilia.
Seria aquela regio capital do reino na sua face terrestre.
Ali estavam as gentes simples, sofridas, necessitadas, mais fceis de ser trabalhadas, mais
susceptvel ao amor.
Logo viu Simo e Andr, seu irmo, que lanavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
As criaturas humanas, mergulhadas no oceano das paixes, necessitavam de ser
resgatadas. Desse modo, ele disse aos dois homens, que se detiveram a olh-lo:
- Vinde aps mim e farei de vs pescadores de homens.
Dominados pela voz e pela magia da Sua presena, sem qualquer discusso ou comentrio,
eles, de imediato, deixaram as redes e seguiram-no.
Iniciava-se uma odissia como jamais houvera antes e nunca mais volveria a acontecer.
Os convidados deixavam tudo e acompanhavam-no.
Pareciam conhec-Lo e o conheciam. Sentiam-se amados e amavam apesar dos seus
limites.
Logo aps, a pequena distncia, Ele viu Tiago, filho de Zebedeu, e Joo, seu irmo, que
estavam no barco a consertar as redes, e tambm os chamou.
A Sua voz penetrava a acstica da alma, e sem outra alternativa, como se O aguardassem,
eles deixando no barco seu pai com os assalariados seguiram-no e dirigiram-se a
Cafarnaum.
Eles no conheciam qualquer plano ou projeto, como era a empresa e qual o seu
desempenho nela nada sabiam...Apenas de seguiram-no.
Era original a Sua mensagem.
Os potentados do mundo, quando desejam algo, planejam-no, estudam-no e discutem os
programas.
69
70
As bnos da unio
Naqueles tumultuados dias, a presena de Jesus era um refrigrio para as almas.
Suave-doce, o Seu verbo no se compadecia dos erros e das defeces, advertindo com
energia e orientando com segurana todos aqueles que se dispunham em segui-Lo.
A longa ausncia da disciplina moral e emocional dos companheiros, que haviam vivido
longe das severas condutas que ora se deviam impor, gerava dificuldades comportamentais
compreensveis, que o Amigo sereno corrigia apresentando a excelncia do bem proceder
em favor do prprio indivduo.
Nos intervalos das pregaes no se descuidava de orientar os que deveriam ficar com a
incumbncia de levar s futuras geraes os Seus ensinamentos, na condio de Educador
vigilante que percebe os perigos do caminho e norteia com sabedoria.
Amava-os, e por essa razo, entendia quanto lhes seria exigido, talvez, sem que se
apresentassem equipados com os instrumentos hbeis para os enfrentamentos cruis.
Por sua vez, os amigos distrados ainda no se haviam dado conta da magnitude da tarefa
que deveriam desempenhar, face s limitaes que lhes bloqueavam o raciocnio, recurso
que lhes fora aplicado antes do nascimento, e que seria liberado no momento prprio, aps a
crucificao...
Por enquanto, eram homens comuns, lutando contra as deficincias carnais no jogo ilusrio
do corpo. Espritos dignificados alguns, estavam preparados para as atividades
dilaceradoras, mesmo sem dar-se conta do significado da adeso aos postulados da Boa
Nova.
Momentaneamente jaziam esquecidos os compromissos assumidos e a gravidade do
empreendimento que aceitaram desenvolver pelos dias do futuro.
O amor, que os alimentava, serviria de base de sustentao para o sofrimento que
experimentariam, funcionando como buril lapidador das arestas espirituais, a fim de facilitar o
despertamento das responsabilidades internas, que assumiriam com o magnfico
desempenho, quando chamados ao confronto do mundo.
Naquela ocasio inicial, entretanto, agiam como os demais, sofriam as presses com
tormentos infantis, no percebendo a magnitude do significado de se encontrarem ao lado do
Mestre nesse ministrio transformador da Humanidade.
Agastavam-se, uns aos outros, disputavam mesquinharias, invejavam-se em relao
afetividade do Amigo, cuja presena dilua as incompreenses com um olhar de compaixo
ou uma palavra de esclarecimento.
71
Calou-se por um pouco, permitindo que fossem ouvidas as vozes inarticuladas da noite
festiva, para logo prosseguir:
" - A doutrina de amor, que o Pai me deferiu para apresentar ao mundo, como o punhal que
fere fundo o mal e extirpa-o, ou como um raio de luz que cinde a noite e se derrama em
claridade inapagvel, vencendo a escurido. Chamar a ateno e encontrar adversrios
hbeis que esto ocultos na conscincia humana, qual deve atingir, alterando-lhe o campo
do discernimento. Assim, ainda que o denso primarismo, erguer a clava destruidora para
silenciar as vossas vozes e interromper os vossos passos."
" No temais, porm. O que vier de fora servir de combustvel para o vosso labor. No
entanto, haver inimigos mais perigosos, que se levantaro contra o vosso ministrio:
aqueles que dormem no ntimo dos companheiros invigilantes que sintonizaro com o Mal,
atraindo-o das suas furnas para o combate inglrio."
"Dormem ou se agitam nas regies do Hades muitos que fracassaram no mundo e no
despertaram para Deus, contra Ele se levantando em alucinadas competies..."
"Impossibilitados de enfrentar o Supremo Pai, vigiar-vos-o, inspirando-vos dissenes e
controvrsias, ironizando-vos a pureza e simplicidade, anatematizando-vos nas realizaes
edificantes, combatendo-vos, oculta ou publicamente, a fim de destrurem alm de vs a
Obra do Senhor..."
" No duvideis da interferncia desses seres infelizes e perversos, nossos irmos
infortunados que se acreditam deuses e por um tempo dominaram o panteo mitolgico de
muitos povos, que exigiam sacrifcios humanos, a fim de saciarem a sua fome de volpia."
"Retidos os dolorosos stios onde se homiziam, acompanham o processo de libertao da
Terra entre odientos e desditosos."
"Orai sempre e servi com abnegao desmedidas, no vos deixando atingir por eles e por
aqueles de quem se utilizem, mesmo sendo coraes afetuosos a quem amais..."
"Lutai, para preservardes a unio, evitando separar-vos, porque a vara fcil de ser
quebrada, duas ainda podem ser arrebentadas, no entanto, todo um feixe harmnico ope
grande resistncia e nem sempre despedaado..."
" Assim suceder convosco, se permanecerdes identificados pela unio de propsitos em
nome do Senhor."
"O Senhor a Vida, que merece total dedicao."
Os companheiros entreolharam-se surpresos. Muitas vezes tinham a sensao de que outras
mentes pensavam nas suas mentes, utilizando suas vozes e aes contra a prpria vontade,
em cujos momentos nasciam agresses e susceptibilidades que o Divino Terapeuta dilua.
73
Davam-se conta das injunes penosas que lhes surgiriam, dificultando o entendimento
fraterno, gerando perturbaes e desordem emocional, ira e queixa...
Compreendiam, por fim, a interferncia de outros seres infelizes nos seus campeonatos de
insensatezes.
Alguns deixaram-se comover, e lgrimas, de profundo sentimento, escorriam-lhes nas faces
crestadas pelo Sol.
O Mestre, porm, prosseguiu:
- Eu vos escolhi a vs, no fostes vs quem me escolhestes. Eu vos chamei, porque vos
conheo, embora ainda no me conheais, como seria de desejar. Por isso, tende coragem e
no desanimeis nunca.
" No importante como ajam os outros, mas como vos conduzais. A vs, vos cabe semear,
servir e passar."
" O Pai o Grande Ceifeiro, e Ele saber quem foi o semeador e quem descuidou da seara,
permitindo que a erva m igualmente medrasse junto ao trigo bom."
" Fica em paz, e no vos atemorizeis nunca. Jamais o mal venceu o bem, ou a sombra
predominou ante o impacto da luz."
" Eu me irei, mas nunca vos deixarei...Seguirei somente um pouco antes, a fim de preparar
um lugar. Permanecei confiante e felizes, porque fostes escolhidos..."
Os discpulos, habitualmente barulhentos e interrogativos, nesse momento recolheram-se em
reflexo e permaneceram silenciosos, deixando-os penetrar pelas orientaes que deveriam
assinalar os dias do futuro de todos os tempos.
Aquelas diretrizes significavam os roteiros a seguir nas situaes embaraosas e
perturbadoras pelas quais teriam que passar.
A implantao de novas condutas enfrenta as situaes lamentveis das antigas convices
em que se comprazem os ociosos e desfrutadores.
Toda renovao se d atravs de revolues, de mudanas, de combates aos velhos
costumes para a instalao das novas realizaes.
Assim tendo sido, e, por muito tempo, ainda assim ser.
______________
(*) Mateus - 23:39
Nota da Autora Espiritual
74
As pessoas contemplavam a cena hedionda, quando Ele disse estar com sede em um grito
rouco, para que cumprisse toas as Profecias.
Deram-lhe uma esponja mergulhada em fel e alos, presa na ponta de uma lana, que foi
encostada aos Seus lbios rachado, sangrentos...
Disfarado na turbamulta, para no se identificado, Tiago, que era Seus discpulo,
acompanhava com lgrimas o trgico acontecimento e se interrogava em silncio:
Onde o carinho de Deus para com Seu Filho? No era Ele o Messias? Assim retribua s
atividades de amor, que Ele realizara na Terra?
Tiago no podia entender, nas suas reflexes racionais, os desgnios de Deus, pensando
conforme os padres convencionais.
Nesse comenos, olhou em derredor, procurando um rosto conhecido, de algum que o
aplaudira em dias passados, quando da entrada triunfal em Jerusalm. No havia ningum.
Nem sequer um dos que lhe receberam a cura, as ddivas da Sua compaixo e misericrdia.
Ningum que houvesse acompanhado. Nem os amigos de ministrio se faziam presentes,
exceo de Joo, que abraava a Sua me, ao lado de outras mulheres, trmulas e
receosas.
Tiago no pode dominar a aflio que o tomou por inteiro e ps-se a chorar convulsivamente.
O Mestre olhou-o compassivo, e murmurou ternas palavras nos ouvidos do seu corao.
No mesmo instante, Dimas, o ladro que estorcegava ao Seu lado direito, procurou identificar
no grupo extico que se movimentava aos ps das cruzes, alm de conhecido, e os seus
olhos se cruzaram com os de sua me Tamar.
Pelas reminiscncias, a memria evocou-lhe a infncia e a adolescncia na orfandade
paterna bem como os sacrifcios daquela mulher extraordinria.
Foi na juventude que se iniciara na rapina, unindo-se a outros desordeiros e atirando-se aos
abismos do crime.
O instinto de me havia percebido a mudana do filho e advertira mil vezes, sem que ele se
resolvesse por qualquer mudana real, embora no lhe confirmasse as suspeitas.
Quando se tornou notria a sua infeliz conduta, ele lhe prometera e noiva Esther, que
aquela seria a ltima viagem s terras fabulosas do alm- Jordo, para poder oferecer-lhes a
segurana de um lar honrado aps consorciar-se e construir a famlia.
76
*
A Humanidade infeliz, vtima da ignomnia, tentou silenciar a Verdade que viera libert-la,
mtodo infame utilizado pela covardia para retardar o prprio progresso.
Sempre porm, haver oportunidade para o homem arrepender-se e recomear.
Dimas era a ltima lio de arrependimento e de recuperao.
____________
(*) Lucas: 23-42.
Nota da Autora Espiritual
78
79
"Ele abandonou-nos..."
Havia amargura na voz e desencanto na conduta, uma quase ira...
Os irmos, entreolharam-se, desencantados.
Oito dias depois, enquanto meditavam na mesma sala com as portas trancadas, uma aragem
perfumadas invadiu o recinto e uma claridade diamantina vestiu as sombras que ali pairavam
com delicada luz, dentro da qual, esplendente e nobre, Ele surgiu.
A voz, mais doce-profunda do que nunca, penetrou os ouvidos de todos os onze apstolos
sobreviventes, que tremiam de emoo, como se fosse uma balada envolvente de despertar,
que os enternecia.
No havia censura, nem reproche, somente compaixo.
- Vinde, Tom, e tocai.
Os pulsos dilacerados derramavam sulferina luz, que tambm jorrava da cabea antes
coroada de espinhos, do peito ferido e dos ps destroados...
O Ddimo acercou-se, transfigurado, e O tocou, exclamando:
- Creio! Eu agora creio. Perdoai a minha incredulidade!
- Credes - Ele ripostou, suave - porque vistes. Bem- aventurados, porm, aquele que no viu
e creu.
Fez uma pausa.
Tinha-se a sensao de que as paredes da sala afastaram-se e a praia de Cafarnaum ali se
fizera presente, enquanto o chilrear de pssaros e as vozes da Natureza cantavam em boca
fechada uma sinfonia.
A Sua voz, emoldurada de luz cambiante, dissertou:
- Ide e amai, espalhando o Evangelho por toda parte e para todos os povos.
Soprando sobre eles o Seu hlito, aduziu:
- Eu vos concedo a inspirao e o poder para submeterdes os demnios perturbadores,
falardes em outros idiomas, curardes os enfermos...
" ... As serpentes se vos submetero, e qualquer substncia letal que ingerirdes, no vos
faro mal..."
Houve um novo silncio de eternidade, num timo de tempo, e Ele prosseguiu:
81
Amigo(a) Leitor(a),
Se voc leu e gostou desta obra, colabore com a divulgao dos ensinamentos trazidos
pelos benfeitores do plano espiritual. Adquira um bom livro esprita e oferea-o de presente a
algum de sua estima.
O livro esprita, alm de divulgar os ensinamentos filosficos morais e cientficos dos
espritos mais evoludos, tambm auxilia no custeio de inmeras obras de assistncia social,
escolas para crianas e jovens carentes, etc.
As obras espritas nunca sustentam financeiramente seus escritores; estes so
abnegados trabalhadores na Seara de Jesus, em busca constante da paz no Reino de Deus.
Porque ns somos cooperadores de Deus
Paulo. (1 Epstola aos Corntios, 3 versculo 9.)
82