Iniciação Antiga e Moderna - Max Heindel
Iniciação Antiga e Moderna - Max Heindel
Iniciação Antiga e Moderna - Max Heindel
Iniciação Antiga e
Moderna
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INICIAÇÃO ANTIGA E MODERNA
Max Heindel
SUMÁRIO
PREFÁCIO ................................................................
PARTE I .................................................................
O Tabernáculo no Deserto ...............................................
Capitulo I ...........................................................
O Templo de Mistérios Atlante ......................................
O Tabernáculo no Deserto ...........................................
O Átrio do Tabernáculo .............................................
Capítulo II ..........................................................
O Altar de Bronze e o Lavabo .......................................
O Lavabo de Bronze .................................................
Capítulo III .........................................................
Sala Leste do Templo ...............................................
O Místico significado da Sala Leste e seu Mobiliário ...............
O Candelabro de ouro..............................................
Sala Leste - O LUGAR SANTO e a Sala Oeste - O SANCTUM SANCTORUM...
A Mesa dos Pães da Proposição ......................................
O Altar do Incenso .................................................
Capítulo IV ..........................................................
A Arca da Aliança ..................................................
A Vara de Arão .....................................................
Capítulo V ...........................................................
A Sagrada Glória de Shekinah .......................................
O Tabernáculo no Deserto ...........................................
"A Sombra das Boas Coisas que Virão" ..............................
A Sombra da Cruz ...................................................
A Lua Cheia como um fator de crescimento anímico ...................
Capítulo VI ..........................................................
A Lua Nova e a Iniciação ...........................................
PARTE II ................................................................
A Iniciação Mística Cristã .............................................
Capítulo I ...........................................................
A Anunciação e a Imaculada Concepção ...............................
Iniciação Mística Cristã ..........................................
A Anunciação e a Imaculada Concepção ...............................
Capítulo II ..........................................................
O Ritual Místico do Batismo ........................................
Ascenção ..........................................................
Capítulo III .........................................................
A Tentação .........................................................
Capítulo IV ..........................................................
A Transfiguração ...................................................
Transfiguração ....................................................
Capítulo V ...........................................................
A Última Ceia e o Lava-Pés .........................................
Capítulo VI ..........................................................
Getsëmani, O Horto da Agonia .......................................
Capítulo VII .........................................................
O Estigma e a Crucificação .........................................
PREFÁCIO
O conteúdo deste livro apresenta algumas das gemas mais preciosas em
relação aos profundos aspectos da religião cristã. São elas o
resultado das investigações espirituais do inspirado e iluminado Max
Heindel, o mensageiro autorizado dos Irmãos Maiores da Rosacruz, os
quais estão trabalhando para disseminar por todo o Mundo Ocidental, o
intenso significado espiritual que está ao mesmo tempo oculto e
revelado na religião cristã.
Possa sua Verdade iluminar, sua Sabedoria guiar, e seu Amor envolver
todos aqueles que participam desta Água da Vida. E que cada um que se
aproximar para beber dela, possa encontrar o Iluminado Caminho que
aqui esboçamos.
Capitulo I
Ele não está só nessa busca, pois o nosso Pai Celestial preparou para
todos um caminho com indicações que nos levarão até Ele, se seguirmos
essa direção. No entanto, como esquecemos a divina Palavra e seríamos
incapazes de compreender o seu significado, o Pai fala-nos na
linguagem simbólica que, ao mesmo tempo, encobre e revela as verdades
espirituais que devemos entender antes de voltarmos a Ele. Do mesmo
modo como oferecemos aos nossos filhos livros com gravuras para
revelar-lhes conceitos incompreensíveis às suas mentes infantis, assim
também cada símbolo dado pôr Deus tem um profundo significado,
incompreensível se não fosse exemplificado dessa maneira.
É óbvio que, assim como nossa atitude mental de hoje depende de como
pensamos ontem, também nossa condição e circunstâncias no presente
dependem de como trabalhamos ou negligenciamos no passado. Cada novo
pensamento ou idéia que nos chegam, devem ser considerados sob a luz
de nossas experiências anteriores, e assim compreendemos que o nosso
presente e o nosso futuro são determinados por vivências passadas. De
modo semelhante, o caminho para o desenvolvimento espiritual que
palmilhamos em existências passadas, determina nossa atitude presente
e a rota que devemos seguir a fim de atingir nossas aspirações. Por
isso, não podemos obter qualquer perspectiva verdadeira de nosso
futuro desenvolvimento, enquanto não nos familiarizarmos primeiramente
com o passado.
O Tabernáculo no Deserto
Para que possamos alcançar uma correta concepção desse lugar sagrado,
devemos considerar o Tabernáculo em si mesmo, seu mobiliário e seu
átrio. A ilustração da página 29 pode ajudar o estudante a formar uma
melhor concepção do interior dele.
O Átrio do Tabernáculo
Sabemos que essa Luz, que é Deus, se refrata nas três cores primárias
que circundam o nosso planeta -azul, amarelo e vermelho. E é um fato
do conhecimento de todo ocultista que o raio do Pai é azul; o do Filho
é amarelo e o do Espírito Santo é vermelho. Somente o raio mais forte
e mais espiritual tem possibilidade de penetrar o centro da
consciência da onda de vida do reino mineral e, por isso, vemos o raio
azul do Pai refletindo-se nas brumas das campinas, suspenso como um
nevoeiro sobre as montanhas e refletindo-se no fundo dos abismos. O
raio amarelo do Filho, mesclado ao azul do Pai, dá vida e vitalidade
às plantas, que devolvem uma cor verde por incapacidade de reter os
raios dentro de si. Mas, no reino animal, ao qual anatomicamente
pertence o homem ainda não regenerado, os três raios são absorvidos e
o raio do Espírito Santo imprime-lhe a cor vermelha da sua carne e do
seu sangue. A mescla do azul e vermelho evidencia-se na cor púrpura do
sangue envenenado pelos múltiplos pecados. Mas o amarelo não se
manifestará como corpo-alma, até que o "Dourado Manto Nupcial" da
noiva mística do Cristo místico seja emanado de dentro.
Por isso, as cores dos véus do Templo, tanto no portão como na entrada
do Tabernáculo, mostravam que essa estrutura foi projetada num período
anterior à vinda do Cristo, pois continha somente as cores azul do Pai
e vermelha do Espírito Santo, que juntas formam a cor púrpura. Mas o
branco é a síntese de todas as cores, portanto, o raio amarelo de
Cristo achava-se oculto nessa parte do véu até a chegada do Cristo,
que veio para emancipar-nos desses regulamentos e leis e iniciar-nos
na plena liberdade dos Filhos de Deus, Filhos da Luz, Maçons livres ou
Maçons Místicos.
Capítulo II
O Lavabo de Bronze
O Lavabo de Bronze era uma grande bacia sempre cheia de água. Diz-se
na Bíblia, que ela ficava apoiada às costas de 12 bois também feitos
de bronze, sendo que suas partes traseiras estavam voltadas para o
centro do recipiente. Entretanto, na Memória da Natureza, vê-se que
esses animais não eram bois, mas representações simbólicas dos doze
signos do zodíaco. Naquele tempo, a humanidade estava dividida em doze
grupos, um para cada signo zodiacal. Cada animal simbólico atraía um
raio particular e, tal como a água benta usada atualmente nas igrejas
católicas é magnetizada pelo padre durante a cerimônia da consagração,
também a água deste Lavabo era magnetizada pelas Divinas Hierarquias
que guiavam a humanidade.
Não pode haver dúvida quanto ao poder da água santa preparada por uma
personalidade forte e magnética. Ela transfere para a água os eflúvios
do seu corpo vital, e as pessoas ao usá-la tornam-se suscetíveis ao
seu efeito' de acordo com o grau de sensibilidade de cada uma. Assim
também, a água do Lavabo de Bronze no antigo Templo de Mistérios
Atlante era magnetizada por Hierarquias Divinas de imensurável poder,
e tornava-se potente fator para guiar o povo de acordo com os desejos
desses poderosos regentes. Por isso, os sacerdotes sujeitavam-se
perfeitamente aos mandatos e ordens de seus guias espirituais
invisíveis e, através deles, o povo era guiado cegamente. Era exigido
dos sacerdotes que lavassem as mãos e os pés antes de adentrar nos
recintos sagrados do Tabernáculo. Se essa ordem não fosse obedecida, a
morte atingia imediatamente o sacerdote quando entrasse no
Tabernáculo. Portanto, podemos dizer que a palavra-chave do Altar de
Bronze era "justificação", enquanto que a idéia central do Lavabo de
Bronze era "consagração".
O Lavabo de Bronze
Não era permitido ao israelita comum entrar nesse lugar sagrado e nem
contemplar os objetos. Ninguém, a não ser o sacerdote, podia passar
pelo véu externo e entrar nessa primeira sala. O Candelabro de Ouro
estava colocado na parte sul do Lugar Santo, de modo que se encontrava
do lado esquerdo da pessoa que estivesse no meio da sala. Era
inteiramente de ouro puro e constituído de um braço ou coluna central
que se elevava desde a base, da qual saíam seis braços. Esses braços
começavam em três pontos diferentes da haste e arqueavam-se em três
semicírculos de diâmetros diferentes, simbolizando os três períodos
anteriores de desenvolvimento (Períodos de Saturno, Solar e Lunar)
pelos quais o homem passou antes do Período Terrestre, que estava,
então, a menos da metade. Este último período era representado pela
sétima luminária. Cada um dos sete braços terminava numa lâmpada
suprida com o mais puro azeite de oliva, elaborado por um processo
especial. Ao sacerdote era exigido não permitir que nenhuma luz se
apagasse no Candelabro. Todos os dias as lamparinas eram examinadas,
limpas e abastecidas com azeite, e assim podiam manter-se acesas
perpetuamente.
O Candelabro de ouro
Podemos notar a luz do Candelabro de Ouro, que era clara e sua chama
não possuia odor, e compará-la com a fumaça do Altar dos Sacrifícios
que, de certo modo, gerava trevas em vez de dissipá-las. Mas, há ainda
um significado mais profundo e sublime neste símbolo do fogo, que só
abordaremos quando falarmos da Glória de Shekinah, cujo brilho
deslumbrante pairava acima do Propiciatório, na Sala Ocidental. Antes
que possamos decifrar esse tema, devemos entender todos os símbolos
que estão entre o Candelabro de Ouro e o Sublime Fogo do Pai, que era
a coroação da glória do Sanctum Sanctorum, a parte mais sagrada do
Tabernáculo no Deserto.
Sala Leste - O LUGAR SANTO e a Sala Oeste - O SANCTUM SANCTORUM
Os grãos dos quais eram feitos os pães foram originalmente dados por
Deus, depois plantados pelo homem após ter sido arado e preparado o
solo. Quando semeados, era necessário cultivá-los e regá-los. Então,
brotava o fruto de acordo com a natureza do solo e do cuidado
recebido. Era posteriormente colhido, debulhado, moído e assado.
Depois, os antigos servos de Deus tinham de carregá-lo para dentro do
Templo, onde era colocado ante a presença do Senhor como pão, para
"demonstrar" que os homens fizeram a sua tarefa e terminaram o serviço
necessário.
Contudo, deixemos que o Maçom Místico considere que os pães ázimos não
eram fantasia de sonhadores, nem produto de especulação sobre a
natureza de Deus ou da luz. Eram resultado de um trabalho real, de um
trabalho sistemático e disciplinado, que nos impele a seguir o caminho
do verdadeiro serviço se desejarmos acumular tesouros no céu. A menos
que trabalhemos e sirvamos a humanidade, nada teremos a apresentar,
nenhum pão para oferecer nos banquetes da Lua Cheia. E no casamento
místico do Eu Superior com o Eu Inferior, encontrar-nos-emos
desprovidos do radiante corpo-alma dourado, o "Dourado Manto Nupcial",
sem o qual o enlace com Cristo jamais poderá ser consumado.
O Altar do Incenso
A Arca da Aliança
Manas, mensch, mens ou man (homem) são palavras associadas com maná, o
maná que caía dos céus. É o espírito humano que desceu do Pai para
peregrinar através da matéria, e o Pote Dourado onde era guardado
simboliza a aura dourada do corpo-alma.
Cristo também explicou, em linguagem mística mas clara, que o pão vivo
ou maná, na verdade era o Ego. Essa explicação é encontrada no
Capítulo 6, versículos 33 e 35, onde lemos: "Pois o pão do Senhor é o
que desceu do céu e trará Luz para o mundo... Eu sou (Ego Sum) o pão
da vida". Este é o símbolo do Pote de Ouro do Maná que se encontrava
na Arca. Este maná é o Ego ou Espírito humano, que dá vida aos
organismos que vemos no mundo físico.- Encontra-se oculto dentro 6
Arca de cada ser humano, e o Pote Dourado ou corpo-alma, o ""Dourado
Manto Nupcial"", encontra-se também latente dentro de cada um. Ele
torna-se mais consistente, brilhante e resplandecente pela alquimia
espiritual, quando o serviço é transmutado em crescimento anímico. É a
casa não construída pelas mãos, eterna nos céus, vestimenta com a qual
Paulo desejava ardentemente estar revestido, como disse na Epístola
aos Coríntios. Todo aquele que se esforça em ajudar sem interesse seu
semelhante acumula tesouros. no céu, onde nem a traça nem a ferrugem
podem destruí-los.
A Vara de Arão
Uma antiga lenda relata que quando Adão foi expulso do Jardim do Éden,
levou consigo três mudas da Árvore da Vida, que depois foram plantadas
por Seth. Seth, o segundo filho de Adão é, de acordo com a lenda
Maçônica, pai da hierarquia espiritual dos clérigos que efetuam um
trabalho com a humanidade através do catolicismo, enquanto os filhos
da Caim são os artífices do mundo. Estes são ativos na franco-
maçonaria promovendo o progresso material e industrial, como os
construtores do Templo de Salomão, o universo, deviam ser. As três
mudas plantadas por Seth tiveram importante missão no desenvolvimento
espiritual da humanidade, e uma delas julga-se ser a Vara de Arão.
No começo da existência concreta, a geração era realizada sob a sábia
direção dos anjos, os quais favoreciam o encontro dos seres quando os
raios interplanetários propiciavam o emprego da força criadora, e o
homem foi também proibido de comer o fruto da Arvore do Conhecimento.
A natureza daquela árvore foi claramente explicada pelas sentenças
bíblicas: "Adão conheceu Eva e ela concebeu Caim"; "Adão conheceu Eva
e ela concebeu Seth"; Como posso conceber se não conheço varão?" foi a
pergunta de Maria ao Anjo Gabriel. À luz dessa interpretação, a
afirmação do Anjo (não foi uma maldição) "morrendo, morrereis", quando
descobriu que seus preceitos foram desobedecidos, torna-se
compreensível, pois os corpos gerados fora da influência cósmica não
podem pretender subsistir. Em conseqüência, o homem foi exilado do
reino etérico das forças espirituais
A Sala Oeste do Tabernáculo era tão escura como os céus o são quando a
luz menor - a Lua - encontra-se na parte oeste do céu em oposição ao
Sol, isto é, na Lua Nova, quando começa um novo ciclo num novo signo
do zodíaco. Na parte mais ocidental deste escuro santuário ficava a
Arca da Aliança com os Querubins pairando acima dela, e também a
ardente Glória de Shekinah, da qual saía a Luz do Pai que comungava
com Seus adoradores, mas que para a visão física era invisível,
portanto, escura.
Geralmente, nós não realizamos que o mundo todo esteja envolvido pelo
fogo. Há fogo na água, ele arde constantemente na planta, no animal e
no homem. Sim, nada existe no mundo que não seja animado pelo fogo. A
razão de não nos apercebermos disso é porque não podemos dissociar
fogo de chama. Mas na realidade, o fogo guarda a mesma relação com a
chama que o espírito com o corpo; é invisível, porém, é uma potente
força em manifestação. Em outras palavras, o verdadeiro fogo é escuro
e invisível à visão física. Só é revestido de chama quando consome
matéria física. Considere, como ilustração, a forma como o fogo salta
de um isqueiro quando este é acionado, e como a chama do gás tem o
centro escuro debaixo do pavio aceso, e também como um fio pode
conduzir eletricidade permanecendo frio, embora emita chamas sob
certas condições.
A Sombra da Cruz
Assim como Cristo disse: "Eu vou ao Meu Pai", quando estava para ser
crucificado, assim também o Servo da Cruz, que aproveitou ao máximo
suas oportunidades no mundo visível, tem permissão para entrar na
glória do seu Fogo-Pai, a invisível Glória de Shekinah. Então, ele
deixa de ver através do cristal opaco do corpo e contempla seu Pai,
face a face, nos planos invisíveis da natureza.
Capítulo I
O Sol é "a luz do mundo" num sentido material. Quando no inverno ele
atinge a 'declinação no extremo sul, - no solstício de 23 de dezembro,
as pessoas do hemisfério norte, onde nasceram todas as religiões
atuais, são envolvidas pela mais profunda escuridão e privadas de toda
força vital sustentadora emanada do Sol, - que permanece parcialmente
morto no que se refere à sua influência sobre os homens desse
hemisfério. Portanto, é necessário que uma nova luz brilhe na
escuridão, que um Sol de Bondade nasça para salvar a humanidade do
frio e da fome resultantes da ausência do Sol no solstício de inverno.
Conta-se uma história sobre um rei otomano que declarou guerra a uma
nação vizinha, travou inúmeras batalhas contra ela, com sucesso em
muitas, mas finalmente foi vencido e levado cativo ao palácio do
vencedor, onde foi obrigado a trabalhar nos serviços mais humildes
como escravo. Após muitos anos, a fortuna favoreceu-o e ele fugiu para
um país distante onde, através de um trabalho árduo, adquiriu uma
propriedade pequena, casou-se e teve muitos filhos que cresceram à sua
volta. Finalmente encontrou-se no leito de morte em idade bem avançada
e, ao exalar seu último suspiro, ergueu-se do travesseiro e olhou ao
redor, mas não havia lá nenhum de seus filhos ou filhas. Não se
encontrava no lar onde viveu muitos anos, mas no próprio palácio que
deixou na juventude, e estava tão jovem como naquele tempo. Viu-se
sentado numa cadeira com uma bacia de água perto do seu rosto e um
criado ocupava-se em lavar-lhe o cabelo e a barba. Logo que imergiu
seu rosto na água, começou a sonhar com a guerra e com toda a sua
vida. Isso decorreu nos poucos segundos em que se lavou. Há milhares
de outros fatos demonstrando que fora do mundo físico não existe
tempo, e que ocorrências milenares são facilmente revistas em poucos
minutos.
Sabe-se também que quando uma pessoa está sob a água e prestes a
afogar-se, toda sua existência passa diante dos seus olhos com
clareza, e mesmo os mínimos detalhes já esquecidos são rememorados
inteiramente. Assim, o acervo de todos os acontecimentos volta à
consciência sob certas condições, isto é, quando os sentidos estão
relaxados, quando estamos sonolentos ou quando nos encontramos à beira
da morte.
Para tornar mais claro o que foi dito acima, devemos nos lembrar de
que o homem é um ser composto, tendo outros veículos mais sutis que
interpenetram o corpo denso, e que normalmente é considerado como o
que representa o homem integral. Durante a morte e no sono, o corpo
denso torna-se inconsciente devido à completa separação entre ele e os
veículos mais sutis. Porém, esta separação é somente parcial durante o
sono com sonhos e no momento prévio ao afogamento. Esta condição
capacita o espírito a imprimir no cérebro, com maior ou menor
intensidade e de acordo com as circunstâncias, os incidentes mais
importantes relacionados com a sua vida. A luz destes acontecimentos,
podemos entender o que realmente constitui o ritual do Batismo.
De acordo com a ciência, uma crosta deve ter sido formada pela
contínua ebulição da água, e desta crosta ascendia uma neblina, como
consta do segundo capítulo do Gênesis. Conforme os graus de calor ou
frio, a água esfriava e condensava-se ocultando a luz solar, de modo
que a humanidade nascente não podia ver o próprio corpo, mesmo
possuindo a visão física. Porém, sob tais condições, os homens não
necessitavam de olhos, tal como a toupeira que escava a terra. No
entanto, não eram cegos e sabemos que "viram Deus", pois, como as
"coisas espirituais (e seres) são percebidos espiritualmente", eles
deviam ser dotados de visão espiritual. Nos mundos espirituais há um
tipo de realidade diferente daquela que temos aqui, a qual é a base
dos mitos.
Nessas condições não poderia haver choque de interesses, e a
humanidade considerava-se filha de um grande Pai enquanto vivia sob a
atmosfera nebulosa da antiga Atlântida. O egoísmo surgiu no mundo
somente quando a névoa se condensou e o povo teve que deixar a
atmosfera aquosa de Atlântida. Quando seus olhos se abriram para que
pudessem perceber o mundo físico e as coisas visíveis, e quando cada
um se viu separado dos outros e tomou consciência do "eu e meu, tu e
teu", um sentimento de egoísmo substituiu a fraternidade em que viviam
na aquosa Atlântida. Desde então e até hoje, o egoísmo tem sido
considerado uma atitude legítima e, mesmo em nossa civilização tão
avançada, o altruísmo parece um sonho utópico longe do alcance das
pessoas sensatas.
Se a humanidade tivesse permissão de caminhar sob o impulso do
egoísmo, livre e sem impedimentos, é difícil prever onde chegaria.
Porém, sob a imutável Lei de Conseqüência, toda causa tem que gerar um
efeito correspondente. O princípio do sofrimento nasceu do pecado,
tendo o benevolente objetivo de levar-nos de volta à virtude. Requer
muito, sofrimento, e muitas vidas devem suceder-se para tingirmos essa
meta. Mas, quando finalmente nos tornarmos cientes do motivo do
sofrimento e compreensivos em relação às provas; quando tivermos
cultivado essa pronta e profunda compaixão que nos faz solidários com
todas as angústias do mundo; quando o Cristo tiver nascido dentro de
nós, então, virá ao Cristão Místico uma ardente inspiração para buscar
e salvar aqueles que se encontram perdidos, mostrando-lhes o caminho
para a eterna luz e paz.
Entretanto, para indicar-lhes o caminho, precisamos primeiro conhecê-
lo. Sem a verdadeira compreensão da causa dos males, não podemos guiar
outros para que obtenham a paz permanente. Essa compreensão da vida,
de seus males e da morte não pode ser obtida em livros ou através de
ensinamentos de outra pessoa. Deverá ser uma impressão intensa que
preencherá .todo o ser do aspirante e não poderá ser adquirido por
outros meios. Somente o Batismo proporcionará esse estado de forma
adequada, por isso deverá ser o primeiro passo na vida de um Cristão
Místico.
Quando dizemos Batismo, não nos referimos necessariamente ao Batismo
físico por aspersão ou imersão, onde o candidato faz certas promessas
àquele que o batiza. O Batismo Místico pode ocorrer tanto no deserto
como numa ilha, pois é um processo espiritual para obter-se um
propósito espiritual. Pode acontecer a qualquer momento do dia ou da
noite, no verão ou no inverno, no momento em que o aspirante sente
intensamente a ânsia de saber as causas dos males e percebe como
poderá aliviá-los. Então, o Espírito é conduzido sob as águas da
Atlântida, onde ele conhece as condições primitivas do amor e bondade
fraternos, onde percebe Deus como o grande Pai de Seus filhos, os
quais estão envolvidos por Seu maravilhoso amor. E, pela volta
consciente a este Oceano de Amor, o candidato fica de tal forma
imbuído deste sentimento de irmandade, que o espírito do egoísmo é
banido do seu ser para sempre. Por causa desta saturação do Espírito
Universal, é que ele, mais tarde, será capaz de dizer: "Se um homem
pede o teu casaco, dá-lhe também a tua capa; se ele te convida a
caminhar uma milha, acompanha-o em duas". Sentindo-se um com todos, o
candidato não considera a sua crucificação um sacrifício, e pode
dizer: "Pai, perdoai-os". Ele se identifica com os outros que o fazem
sofrer. Ele é o agressor tanto quanto a vítima. Esse é o verdadeiro
Batismo Espiritual do Cristão Místico, e qualquer outro batismo que
não produza. esse sentimento fraterno universal, não é digno de assim
ser chamado.
Capítulo III
A Tentação
Quando nos elevamos por meio das águas do Batismo - o Dilúvio Atlante
- para a Idade do Arco-íris das estações alternantes, tornamo-nos
vítimas de emoções variáveis que nos deixam à mercê no mar da vida. A
fé indiferente, limitada pela razão e praticada pela maioria dos que
professam a religião cristã, pode proporcionar resignação, equilíbrio
mental e alguma coragem ante as provas da vida. Mas quando a maioria
conquistar a FÉ VIVA do Cristão Místico, que supera a razão porque o
CORAÇÃO SENTE, então, a Idade Alternante passará, o Arco-íris cairá
com as nuvens e o ar que agora compõe a atmosfera desaparecerá. Haverá
um novo céu de puro éter, onde receberemos o Batismo do Espírito e
"haverá paz" (Jerusalém).
A Transfiguração
Há uma história sobre São Francisco de Assis que serve para ilustrar o
que dissemos e devemos recordá-la sempre, pois é de extrema
importância. Um dia, São Francisco dirigiu-se a um jovem no convento
em que residiam e disse: "Irmão, vamos até o povoado para pregar". O
jovem, naturalmente, ficou muito feliz e honrado em acompanhar um
homem tão santo como São Francisco. Ambos saíram em direção à vila e
foram conversando sobre as coisas espirituais e a vida que conduz a
Deus. Absorvidos pela conversa, passaram pelo povoado, caminharam
pelas ruas, às vezes paravam para dirigir palavras delicadas e
bondosas aos que encontravam. Após percorrer a maior parte das ruas,
São Francisco resolveu voltar para a estrada que os conduziria ao
mosteiro, quando, de repente, o jovem o lembrou da intenção de vir
pregar no povoado e perguntou-lhe se havia esquecido disso. São
Francisco respondeu: "Meu filho, você não percebeu que enquanto
percorríamos o povoado, estávamos pregando às pessoas que nos
observavam? Em primeiro lugar, nossas vestes simples revelaram que
estamos devotados ao serviço de Deus, e os pensamentos daqueles que
nos viram dirigiram-se logo para o céu. Percebemos que todos os
moradores nos observavam, viram a nossa conduta e verificaram se
agimos de acordo com o nosso ideal religioso. Eles nos ouviram e
observaram se conversávamos sobre coisas espirituais ou assuntos
profanos. Observaram também nossos gestos e anotaram as palavras de
simpatia irradiadas diretamente de nossos corações e que repercutiram
profundamente no deles. Estivemos pregando um sermão mais poderoso do
que se tivéssemos ido à praça do mercado reunindo-os ao nosso redor e
saturado seus ouvidos com uma exortação sobre a Santidade".
Transfiguração
"E Jesus respondeu: Em verdade te digo, que hoje nesta mesma noite,
antes que o galo cante, tu negar-me-ás três vezes.
"Mas ele insistiu mais veementemente: Ainda que me seja preciso morrer
contigo, não te negarei. E todos diziam o mesmo.
Neste trecho narrativo dos Evangelhos encontramos uma das mais tristes
e difíceis experiências do Cristão Místico, delineada em forma
espiritual. Durante toda a sua experiência anterior, ele vagueou
cegamente, isto é, cego no, sentido de que estava no Caminho. No
entanto, sabia que este caminhar, quando resolutamente seguido, conduz
a uma meta definida, embora também seja muito afetado pelo sofrimento
da humanidade. Cristo concentrou todo seu esforço em aliviar as dores
físicas, morais e mentais dos outros; Ele os serviu com toda
dedicação; ensinou-lhes o evangelho do amor: "Amarás o teu próximo
como a ti mesmo", e sempre foi um exemplo vivo para todos na prática
deste mandamento. Reuniu em torno de si um pequeno número de amigos,
aos quais amou com a mais terna afeição. Ensinou-os e serviu-os
conscientemente até a cerimônia do lava-pés. Entretanto, durante esse
período de serviço, Ele sentiu-se tão impregnado pelas tristezas do
mundo, que se tornou um Homem Sofrido, e de tal forma familiarizou-se
com a dor, que padeceu mais do que qualquer outro ser.
O Estigma e a Crucificação
"Pilatos saiu fora para lhes falar e disse: Que acusação apresentais
contra este homem? Responderam e disseram-lhe: Se este não fosse um
malfeitor, não o entregaríamos nas tuas mãos . . . Então, Pilatos
entrou no Pretório novamente e chamou Jesus; e disse-lhe: Tu és o rei
dos Judeus? Respondeu Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo ou foram outros
que te disseram de mim?... O meu reino não é deste mundo; se o meu
reino fosse deste mundo, certamente os meus ministros se haviam de
esforçar para que eu não fosse entregue aos Judeus; mas o meu reino
não é daqui. Disse-lhe então Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu
Jesus: Tu o dizes, sou rei. Nasci e vim ao mundo para dar testemunho
da verdade; todo o que está pela verdade, ouve a minha voz. Disse-lhe
Pilatos: Que coisa é a verdade? E, dito isto, tornou a sair para ir
ter com os Judeus e disse-lhes: Não encontro nele crime algum. Ora, é
costume que eu, pela Páscoa, vos solte um prisioneiro; quereis, pois,
que eu vos solte o rei dos Judeus? Então, gritaram todos novamente,
dizendo: Não este homem, mas Barrabás. Ora, Barrabás era um ladrão.
Pilatos então tomou Jesus e mandou que o açoitassem. E os soldados,
tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na sobre sua cabeça e
revestiram-no com um manto de púrpura. Depois aproximavam-se dele e
diziam: Deus te salve, rei dos Judeus e davam-lhe bofetadas.
"Saiu Pilatos outra vez fora, e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora,
para que conheçais que não encontro nele crime algum. Saiu, e eis
Jesus trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. E Pilatos
disse-lhes: Eis aqui o homem! Então, os ministros e os príncipes dos
sacerdotes tendo-o visto, gritaram, dizendo: Crucificai-o, crucificai-
o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu não
encontro nele crime algum. Responderam-lhe os Judeus: Nós temos uma
lei e, segundo a lei, deve morrer, porque se fez filho de Deus...
Pilatos procurava soltá-lo. Porém, os Judeus gritavam dizendo: Se
soltas este, não és amigo de César, porque todo aquele que se faz rei,
é contra César... Eles gritavam: Tira-o, tira-o, crucifica-o! Disse-
lhes Pilatos: Porque eu hei de crucificar o vosso rei? Responderam os
pontífices: Não temos outro rei senão César. Então, entregou-o para
que fosse crucificado. Eles tomaram Jesus e conduziram-no para fora.
E, carregando sua cruz, saiu para um lugar que se chama Calvário, em
hebraico Gólgota, onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de
cada lado e Jesus no meio. E Pilatos escreveu também um título e o pôs
sobre a cruz. E estava escrito: Jesus de NaZareth, o Rei dos Judeus".
FIM