Maira Kelly Verengue Moya PDF
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PUC - SP
Maira Kelly Verengue Moya
O Autorretrato da vida: experincias de sujeitos em sofrimento psquico
MESTRADO EM SERVIO SOCIAL
SO PAULO
2010
PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO
PUC - SP
Maira Kelly Verengue Moya
O Autorretrato da vida: experincias de sujeitos em sofrimento psquico
MESTRADO EM SERVIO SOCIAL
Dissertao apresentada Banca
Examinadora da Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo como exigncia
parcial para obteno do ttulo de Mestre
em Servio Social, sob orientao da
Prof. Dr. Maria Lcia Martinelli.
SO PAULO
2010
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
__________________________________
__________________________________
DEDICATRIA
Aos sujeitos da pesquisa, usurios do Centro de Ateno Psicossocial
- CAPS de Pindamonhangaba, SP.
A Thatiane da Rosa Lopes, Vanessa Cristina Gomes de Godi e
Mariana Magalhes, por terem compartilhado a experincia do
Autorretrato da Loucura.
AGRADECIMENTO
Para falar apenas de alguns, sem deixar de homenagear a
todos que me iniciaram nesta desafiante profisso, com a
qual venho construindo a minha trajetria de vida pessoal
e profissional.
Maria Lcia Martinelli
Inicio os agradecimentos desta dissertao com a citao de Martinelli,
pois muitos so aqueles que nos acompanham nessa trajetria, que cruzam
nosso caminho e que contribuem com o trabalho, principalmente, inspiram-
nos a continuar na caminhada. Caminhada que no apenas profissional,
pessoal. Perpassa a vida de quem opta politicamente por escrever uma
dissertao e adentrar a vida acadmica. Agora chego concluso de que
no se escreve uma dissertao sozinho, por mais solitrio que seja esse
percurso.
Assim, agradeo a todos que me acompanharam desde o incio no
campo da Sade Mental, que mesmo se no forem citados aqui, so parte
desta construo e merecem reconhecimento.
Como um trabalho que utiliza a Histria Oral, como metodologia de
pesquisa que se faz na presena de sujeitos, os primeiros agradecimentos
so, portanto, dedicados aos sujeitos da pesquisa, usurios do Centro de
Ateno Psicossocial CAPS de Pindamonhangaba, que participaram do
projeto de interveno Autorretrato da Loucura. Sem eles, esta pesquisa
absolutamente no existiria.
Ao CAPS Pindamonhangaba por toda a abertura que tive em realizar o
projeto Autorretrato da Loucura, que resultou na pesquisa. A Mariana Prado
Freire, Patrcia Galvo Junqueira e Manoel Goulart por terem me autorizado a
realizar o projeto e deixado as portas do CAPS abertas quando precisei.
Celinha Lima foi primordial nesse processo. Obrigada por ter
contribudo com o levantamento do perfil dos usurios do CAPS, grande
apoio pesquisa, e pela edio do vdeo. Ficou lindo!
A Thatiane da Rosa Lopes por quem tenho profunda admirao e
respeito. Pela seriedade, dedicao e competncia nos trabalhos que
desenvolve, e que no so poucos: a psicologia, a clnica, o teatro, este
trabalho. Ah, o teatro! H 10 anos eu a admiro pela atuao nos palcos. Sorte
minha ter me aproximado dela mais uma vez por causa do trabalho.
A Vanessa Cristina Gomes de Godi, querida amiga da vida pessoal e
companheira de trabalho. Tudo o que eu dissesse ainda seria pouco para me
referir ao afeto que nos envolve. Algum de quem apenas estar perto j faz
bem. No preciso falar nada.
A Mariana Magalhes. Foi um imenso prazer t-la conhecido e
compartilhado a realizao do projeto. Suas intervenes foram
fundamentais no processo. Sinto falta da sua companhia...
s Mestras:
Maria Lcia Martinelli, Maria Fernanda Teixeira Branco Costa e Ana
Luisa Aranha e Silva. Referncias para a vida pessoal e profissional.
Martinelli, por sua doura, dedicao e sensibilidade. Fernanda, igualmente
doce, sensvel e fundamental no meu processo formativo. Ana Lusa: por seu
comprometimento com a Sade Mental, pela seriedade com que lida com o
trabalho. H uma profunda admirao por vocs, pelas pessoas e
profissionais que so. Obrigada por serem fonte inspiradora.
Aos amigos:
Alex Fabiano de Toledo, Marcela Resende, Cristina Freire, Flvia
Blikstein, Dbora Marinho, Ricardo Dantas. Vocs foram fundamentais para
eu suportar a angstia de terminar uma dissertao. A presena e a palavra
de cada um amenizou a dor desse trabalho de parto.
Irma Maria de Moraes Santos, amiga e companheira de luta. Obrigada
pela contribuio neste estudo. Tenho certeza que esta dissertao no seria
a mesma sem os seus aportes, sem as suas leituras.
Mrio Recupero, psiquiatra, to querido companheiro de luta. Obrigada
pelas orientaes. Minha gratido vai alm das orientaes e das conversas
para essa dissertao, que para mim, foram de ordem pessoal e afetiva.
A minha Grande Famlia: Tata, tio Lau e Biba; v, v e Tico; tia Irene,
Luciano, Fernando, Gustavo e Juliano; Tia Pilar e Toni. Obrigada pela acolhida
e pelo tempo que morei com vocs. Obrigada pelos cuidados, pela comida
sempre quentinha, pelo colo. Obrigada simplesmente por serem a minha
famlia.
Bruna Noli, parte desta famlia incrvel, pelas transcries e leituras;
pela afetividade e carinho, por estar sempre comigo.
Meus pais Horcio e Mercedes, meu irmo Manoel e a Fabola, minha
cunhada. Principalmente aos meus sobrinhos: Rassa, Bruno, Juan e Pedro.
Titia ama vocs.
Aos que me abriram os braos e a porta de suas casas:
Marina Rocha, por ter me acolhido numa fase de grande mudana.
Leandro, Lourdes, Ligia e Claudio, que fizeram parte desta trajetria e
tanto me ajudaram para que conseguisse concluir este projeto, que me
acolheram, incentivaram. Essa conquista tambm de vocs! A gratido e o
carinho que sinto por vocs no so possveis de se expressar com palavras.
s secretrias do Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio
Social: Katia e Vnia. Gentis, solcitas e compreensivas com nossas falhas!
Obrigada por sempre terem me atendido com um sorriso.
A toda a equipe do CAPS Itaim Bibi pela troca, conhecimento e,
principalmente, pela tolerncia quando finalizava a dissertao. Obrigada por
terem dado suporte em minhas ausncias no trabalho, tolerado o mau
humor, que nestes ltimos dias foi constante, mas especialmente pela
afetividade. Foi um encontro maravilhoso, que certamente mudou o curso da
minha histria.
Ao CNPQ pela concesso da Bolsa de Estudos, pois foi por meio dela
que se pde realizar o projeto de interveno no CAPS Pindamonhangaba e
toda a pesquisa. Obrigada pelo crdito.
1
Um trabalho feito a vrias mos
1
Imagem de uma das produes feitas durante a realizao do projeto de interveno Autorretrato
da loucura.
EPGRAFE
Se eu consigo criar com o corao, quase todas as minhas
intenes perduram; se o fao com a cabea, no resta quase
nada. No h por que ter medo de ser eu mesmo, de me
expressar. Se voc absolutamente sincero no que faz, o que
voc diz convencer os outros. preciso prestar ateno
para no deixar que sua obra fique encoberta por uma
espuma.
Marc Chagall
RESUMO
A presente dissertao parte da experincia profissional da pesquisadora
como assistente social no Centro de Ateno Psicossocial CAPS de
Pindamonhangaba, SP. Tem como objetivo conhecer os significados atribudos
pelos sujeitos, usurios matriculados neste servio, sua experincia de vida,
especificamente, conhecer suas trajetrias e identificar o modo como se
reconhecem socialmente.
Parte do princpio que a Sade Mental tem se configurado como um campo
crescente de interveno para o assistente social e considera necessria a produo
de conhecimento cientfico, a fim de fundamentar teoricamente a prtica cotidiana
destes profissionais. Encontra nesta argumentao a justificativa para a pesquisa,
na medida em que se prope a conhecer o ponto de vista dos usurios sobre sua
condio de sujeito na sociedade.
Fundamenta-se no conceito de processo sade-doena, entendido como a
sntese da totalidade de determinaes que operam sobre a qualidade da vida da
populao. Tem na Reforma Psiquitrica sua orientao poltica e nos CAPS uma
das tecnologias possveis no cuidado da pessoa em sofrimento psquico. Pauta-se
no materialismo histrico e dialtico como referencial terico para apreenso e
anlise da realidade e do material da pesquisa.
Recorre ao uso da Histria Oral como metodologia de pesquisa por
privilegiar a experincia social e histrica dos sujeitos: o cotidiano, a vida diria, a
memria e a cultura. Trabalha a narrativa dos sujeitos gravada durante a realizao
de um projeto de interveno denominado Autorretrato da Loucura, realizado no
CAPS Pindamonhangaba no ano de 2008. Por ltimo, faz uma sntese aproximativa
da realidade estudada.
Palavras-chave: Sade Mental; Processo Sade-Doena; Reforma Psiquitrica;
Histria Oral.
ABSTRACT
This dissertation is based on the researcher's professional experience as a
social worker at the Center for Psychosocial Care - CAPS Pindamonhangaba, SP.
Aims to research the meanings given by the users enrolled in this service to their
experience of life, specifically, to know their life stories and identify how they
recognize themselves socially.
Assumes that Mental Health has represented a growing field of intervention
for the social worker and considers necessary the production of scientific knowledge
to enable the theoretical justification of these professionals daily experience. Based
on these arguments resides the justification for this research, to the extent it purports
to know the views of the users enrolled in this service about their status in society.
Has as foundation the concept of Health-Disease Process, understood as the
synthesis of the totality of determinations that operate the quality of people's lives.
The Psychiatric Reform is the political orientation and the CAPS represent one of the
technologies available in the care of the person in psychic distress. It is guided in
dialectical and historical materialism as a theoretical framework for understanding
and analysis of reality and the researching material.
Encourages the use of Oral History as the research methodology once it
privileges the social and historical experience of the users: the everyday life, memory
and culture. Makes use of the users narrative recorded during the execution of an
intervention project named "Autorretrato da Loucura (Self Portrait of Madness), held
in CAPS Pindamonhangaba in 2008. Finally, makes a rough summary of the reality
studied.
Key words: Mental Health; Health-Disease Process; Psychiatric Reform; Oral
History.
SUMRIO
1. O ESTADO DA ARTE: a produo do conhecimento sobre a Sade Mental no
Servio Social. ........................................................................................................... 22
1.1 Estudo da Revista Servio Social & Sociedade .................................................. 23
1.2 A Produo Cientfica do Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio
Social da PUC de So Paulo..................................................................................... 38
2. FUNDAMENTAO TERICA .......................................................................... 55
2.1 O Processo sade e doena ............................................................................... 55
2.2 A Reforma Psiquitrica ....................................................................................... 59
2.3 Os Centros de Ateno Psicossocial CAPS .................................................... 62
3. METODOLOGIA ................................................................................................. 66
3.1 A Histria Oral ..................................................................................................... 66
3.2 Fotografia e Histria Oral .................................................................................... 68
3.3 A centralidade dos sujeitos na pesquisa ............................................................. 74
4. A PESQUISA ...................................................................................................... 77
4.1 O Comit de tica em Pesquisa ......................................................................... 77
4.2 O CAPS Pindamonhangaba como locus da pesquisa: a caracterizao do
cenrio................ ....................................................................................................... 77
4.3 Ponto de partida: o projeto de interveno Autorretrado da Loucura ............... 88
4.4 A narrativa dos sujeitos. ...................................................................................... 89
A. Apresentao ..................................................................................................... 90
B.A imagem que tenho do Centro de Ateno Psicossocial de Pindamonhangaba 92
C. As fotografias: a experincia de fotografar, o cotidiano e a loucura ................ ... 94
D. Crises, internaes e preconceito .................................................................... 100
E. Quem sou eu no mundo . .................................................................................. 103
E.1 O significado da escolha das fotos para a capa do lbum ............................... 103
E.2 O espelho reflete... ........................................................................................... 106
E.3 A identificao com as msicas ................ ....................................................... 107
F. A esperana ...................................................................................................... 109
G. As origens, o nome . ......................................................................................... 110
H. Os lbuns . ........................................................................................................ 112
INTRODUO ......................................................................................................... 14
PRIMEIRO CAPTULO .............................................................................................. 21
SEGUNDO CAPTULO ............................................................................................. 54
TERCEIRO CAPTULO ............................................................................................. 65
QUARTO CAPTULO ................................................................................................ 76
1. As fotografias e as produes ......................................................................... 142
2. Estudo da Revista Servio Social & Sociedade ............................................... .181
3. Estudo das Dissertaes sobre Sade Mental do Programa de Estudos Ps-
Graduados em Servio Social da PUC/SP ............................................................. .203
CONCLUSES APROXIMATIVAS ......................................................................... 113
REFERNCIAS ....................................................................................................... 130
APNDICES ............................................................................................................ 142
14
INTRODUO
Todo conhecimento comea com o sentimento.
Leonardo da Vinci
Ao final de todo o processo de formao no mestrado, surge um sentimento
de saudosismo: das aulas, do clima, do cheiro que tinha o comeo; das tardes frias,
dos encontros e do pr-do-sol. Tantos sonhos, esperanas e desejos. Muitos
realizados, outros modificados no percurso. Tantas idas e vindas, subidas e
descidas pelas rampas da PUC/SP. A emoo ainda a mesma do incio. O saber?
Este com certeza se transformou na trajetria...
Cursar o mestrado um projeto poltico que acompanha a pesquisadora
desde os tempos da graduao, quando no Projeto de Extenso Universitria na
Clnica de Psicologia da Universidade de Taubat, ocorre o primeiro contato com a
Sade Mental. Atendia-se populao que solicitava iseno ou reduo no valor
do pagamento por seus atendimentos na Clnica. Eram relatos de situaes de
vulnerabilidade que apareciam sob a forma de depresso, ansiedade e
nervosismo. Entender a forma de aparecer dessas situaes de vulnerabilidade
como sofrimento psquico e social era a grande questo.
Acompanhar a interveno do Servio Social neste Projeto de Extenso
Universitria significou tambm acompanhar de perto o processo de doutorado da
Professora Maria Fernanda T. B. Costa
1
, supervisora de campo do estgio, quando
se preparava para viajar Itlia, para estudar com Alessandro Portelli
2
.
1
Maria Fernanda T. B. Costa. Doutorada em Servio Social pela Pontifcia Universidade Catlica de
So Paulo, Professora Doutora no Departamento de Servio Social da Universidade de Taubat,
SP.
2
Alessandro Portelli professor da Universidade La Sapienza, Roma.
15
Sem dvida, este foi o momento mais decisivo em toda a trajetria, pois
houve grande incentivo para continuar a formao na ps-graduao e estudar a
metodologia de pesquisa, a Histria Oral.
No ano de 2006, um novo e decisivo contato com a Sade Mental. A
contratao pela Prefeitura Municipal de Pindamonhangaba - SP para atuar como
assistente social junto equipe multiprofissional do Centro de Ateno Psicossocial
CAPS, o que possibilitou participar ativamente da construo da Reforma
Psiquitrica e estabelecer vnculos com a equipe de trabalho, usurios e familiares.
A identificao com a proposta de trabalho dos CAPS e seus desafios cotidianos e,
principalmente, a identificao com os usurios do servio, por sua fora de vida,
consolidaram o interesse pelo tema da Sade Mental.
A militncia poltica na rea e a participao em cursos, encontros e
congressos possibilitaram o contato com inmeros profissionais de quase todo o
pas, os quais, mobilizados com a questo da Sade Mental, relataram experincias
diversas. De modo geral, o relato destas experincias apontava para aes numa
perspectiva transformadora, de incluso do sujeito em sofrimento psquico e da
desinstitucionalizao, estmulos a continuar nessa trajetria, agora, atravs da
insero no campo da pesquisa.
No ano de 2007, ingressa-se no curso de ps-graduao em Servio Social.
A insero no curso de mestrado parte de uma interlocuo e identificao da
pesquisadora com a temtica, perpassando a trajetria pessoal e profissional. A
pesquisa, assim, mediao para relatar a experincia na rea, possibilidade de
construo de conhecimento e transformao da realidade.
Cabe ressaltar que a produo da pesquisa apenas foi possvel em
decorrncia da bolsa de estudos concedida pelo CNPq pesquisadora, devido sua
colocao no processo seletivo do mestrado. Foi graas concesso da bolsa
integral que se pde financiar todo o recurso necessrio para a realizao da
pesquisa.
Juntamente ao mestrado, mais precisamente de agosto a outubro de 2008,
realizou-se no CAPS Pindamonhangaba o projeto de interveno interdisciplinar
denominado Autorretrato da Loucura, que envolve as reas de Servio Social,
Psicologia e Terapia Ocupacional. Com o objetivo de conhecer a histria de vida dos
usurios do servio e o significado que os sujeitos atribuem s suas experincias de
16
vida, o projeto pautou-se na busca dos contedos emocionais atravs do emprego
de recursos artsticos e culturais como a dana, a msica e a fotografia.
A construo deste projeto de interveno resultado da interlocuo entre
as profissionais que o desenvolveram, pois instigadas com o tema e a possibilidade
de contato e aprendizado com os usurios do Centro de Ateno Psicossocial de
Pindamonhangaba, vinham desde o ano de 2006 promovendo encontros para
pensar a sua constituio.
O projeto foi estrategicamente concretizado durante o curso do mestrado
com o objetivo de fundamentar a pesquisa, sendo o caminho pelo qual se reuniu os
sujeitos e se coletou o material de anlise. O grupo se constituiu com a presena de
nove sujeitos, usurios matriculados no CAPS Pindamonhangaba. Realizou-se em
vinte encontros trabalhados com temas diversos, como a histria de vida dos
sujeitos e seu cotidiano
3
. Todos os encontros do grupo foram gravados em udio
digital, somando-se um total de vinte horas de gravao, aliadas produo
fotogrfica de cada um dos participantes do projeto, que no decorrer dos encontros,
recebeu uma mquina fotogrfica para registrar seu cotidiano.
Tanto a construo do projeto de interveno, quanto do projeto de
pesquisa, so resultado de inquietaes como: o que que nos diferencia dos
sujeitos em sofrimento psquico?; qual a linha que nos separa da loucura?; qual
o limite entre o que considerado sanidade e a loucura?, questes que permearam
e permeiam a prtica profissional.
Prez, ao analisar a obra O Grito
4
, de Edward Munch, afirma que:
3
Para entender a categoria cotidiano, recorre-se ao pensamento de Agnes Heller que, em linhas
gerais, afirma ser o cotidiano um sistema dinmico de categorias de atividade e do pensamento
cotidianos. Para ela, a vida cotidiana a vida do homem inteiro, pois todo homem a vive, sem
exceo, no sendo possvel fugir a esta realidade. Segundo ela, o homem participa da cotidianidade
em todos os aspectos: individualmente, colocando em funcionamento todos os seus sentidos,
capacidades intelectuais, habilidades, paixes, sentimentos, ideias... A vida cotidiana a verdadeira
essncia da substncia social. a vida do indivduo, sendo este ao mesmo tempo, um ser particular
e um ser genrico. Para aprofundar o estudo, ver a obra de Agnes Heller, principalmente O Cotidiano
e a Histria.
4
Datada de 1893 no perodo Expressionista movimento artstico surgido na Alemanha no entre-
guerras, tem como caracterstica a expresso intensa de emoo, de sentimento humano a obra
a expresso silenciosa daquilo que no consegue ser verbalizado. Em seu dirio, Munch descreve a
inspirao para sua obra: passeava com dois amigos ao pr-do-sol o cu ficou de sbito vermelho-
sangue eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta havia sangue e lnguas de fogo sobre o
azul escuro do fjord e sobre a cidade os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de
ansiedade e senti o grito infinito da natureza.
17
a linha entre a sanidade e a loucura to fina, to fina, que diante de um
quadro como O Grito, de Edward Munch, intuitiva e instintivamente nos
acolhemos, porque sabemos que esse infinito, aterrador e descomunal grito
pode ser emitido a qualquer momento e em qualquer lugar, por qualquer um
de ns. [...] O tema da loucura, sempre presente nas artes plsticas, na
literatura e no cinema, nos expe uma realidade potencialmente intrnseca a
todo ser humano (PREZ, 2006, p. 7, traduo nossa)
5
.
Neste sentido, encontra-se eco no pensamento de Leonardo da Vinci citado
como epgrafe desta introduo. Apesar de sua utilizao no meio acadmico ser
bastante recorrente, h um reconhecimento sobre seu significado, pois a busca pelo
conhecimento se iniciou exatamente com o sentimento de proximidade com a
loucura, inerente ao humano, e da identificao com o tema da Sade Mental.
Deste modo, considerando que a Sade Mental tem se configurado como
um campo crescente de interveno para o assistente social e considerando a
importncia do conhecimento para fundamentar teoricamente a prtica cotidiana dos
profissionais neste campo de atuao, justifica-se esta pesquisa na medida em que
se prope a conhecer o ponto de vista dos usurios sobre sua condio de sujeito
na sociedade.
Para tanto, fundamenta-se no conceito de processo sade-doena,
entendido como a sntese da totalidade de determinaes que operam sobre a
qualidade da vida da populao. Sade e doena fazem parte de um mesmo
processo, no se caracterizando como estados estanques ou isolados, mas num
movimento dialtico, em que esto presentes determinantes biolgicos, econmicos,
culturais e sociais. Fundamentao terica esta que orienta as novas tecnologias de
cuidado e que tem na Reforma Psiquitrica sua concepo poltica e os CAPS como
uma das tecnologias possveis. Pauta-se no materialismo histrico e dialtico como
referencial terico para apreenso e anlise dos dados, ancorando-se na
compreenso do processo sade-doena socialmente determinado.
Visa conhecer os significados atribudos pelos sujeitos, usurios
matriculados no Centro de Ateno Psicossocial Pindamonhangaba, sua
5
Foram utilizadas nesta dissertao as normas tcnicas da ASSOCIAO BRASILEIRA DE
NORMAS TCNICAS ABNT: NBR 10520, sobre citaes em documentos e NBR 6023, sobre
referncias bibliogrficas, ambas de 2002.
18
experincia de vida, especificamente, conhecer suas trajetrias de vida e identificar
o modo como se reconhecem socialmente.
Para isso, recorre ao uso da Histria Oral como metodologia de pesquisa por
privilegiar a experincia social e histrica dos sujeitos: o cotidiano, a vida diria, a
memria e a cultura. Segundo Alberti (2005, p. 19), trata-se de uma metodologia que
visa ampliar o conhecimento sobre acontecimentos e conjunturas atravs do estudo
de experincias e verses particulares. Procura compreender a sociedade atravs
do indivduo que nela viveu, e as formas como o passado apreendido e
interpretado pelos sujeitos e grupos, como dado objetivo para compreender suas
aes.
Portelli (2001) entende a Histria Oral como a busca pelo sujeito na histria
da sociedade e a experincia como construo no mbito das relaes sociais a
partir da historicidade.
[...] a histria oral uma cincia e arte do indivduo. Embora diga respeito,
como a sociologia e a antropologia, a padres culturais, estruturas sociais e
processos histricos, visa aprofund-los, [...] por meio de conversas com
pessoas sobre a experincia e a memria individuais e, ainda, por meio do
impacto que estas tiveram na vida de cada uma (PORTELLI, 1997a, p. 15-
17).
Para Khoury (2006, p. 24), com o uso da Histria Oral,
buscamos apreender como sujeitos especficos significam e interpretam a
vida e a eles prprios, nos modos de projetar, trabalhar, morar, se
relacionar, se comunicar, festejar, comemorar; aprender como se apropriam
de e reelaboram valores, sentimentos, interesses, costumes, tradies,
memrias e expectativas; apreender como hegemonias se engendram e
carncias e necessidades se constituem no embate das foras sociais.
a conscincia da historicidade da experincia pessoal e do papel do
indivduo na histria da sociedade (PORTELLI, 2001, p. 15).
No primeiro captulo, a fim de fundamentar teoricamente a pesquisa, recorre
ao estudo do tipo Estado da Arte sobre a produo cientfica do Servio Social
acerca da temtica da Sade Mental. Para tanto, investiga a produo da Revista
Servio Social & Sociedade nos seus trinta anos de histria (1979 - 2009) e cem
nmeros publicados. Foi selecionada dentre outros peridicos da rea por sua
longevidade, seu fluxo regular e ininterrupto de publicaes, igualmente por sua
importncia histrica para a profisso e seu reconhecimento pelas agncias de
pesquisa.
19
Investiga tambm a produo do Programa de Estudos Ps-Graduados em
Servio Social da PUC/SP em relao Sade Mental. Recorre-se produo do
Programa por considerar sua importncia para o processo formativo de
pesquisadores no Brasil e no exterior, pelo conceito A pela CAPES e a nota seis
(6,0) nas duas ltimas avaliaes 2007/ 2008. Ambas as pesquisas indicam para
uma frgil produo do Servio Social na rea da Sade Mental e apontam a
necessidade de investimentos quanto produo cientfica.
No segundo captulo aborda a fundamentao terica. Toma como
referncia o conceito de processo sade-doena, fundamentado no materialismo
histrico-dialtico, tido como a sntese da totalidade de determinaes que operam
sobre a qualidade da vida social. Tem a Reforma Psiquitrica como concepo
poltica norteadora das novas tecnologias no cuidado dos sujeitos em sofrimento
psquico e os CAPS como uma das tecnologias possveis.
No terceiro captulo faz a discusso a respeito da metodologia de pesquisa.
Trata da Histria Oral, da fotografia e da fotografia em relao Histria Oral, alm
de abordar a centralidade do sujeito na Pesquisa Qualitativa.
Entende a fotografia como um recurso da memria e fonte de
documentao. Recurso da memria por evocar lembranas do passado: o instante
ou o ser fotografado recuperados pela memria. Fonte de documentao, pela
fotografia apresentar algo passado, que verdadeiramente existiu na frente da
cmera. Segundo Mauad (2000, p. 200), Histria Oral e fotografia so formas
distintas de registrar e ao mesmo tempo (re)apresentar a realidade histrica e vivida.
Dois sistemas de signos que se entrecruzam na composio da textualidade de uma
poca.
O quarto captulo dedicado pesquisa. Traz as falas dos sujeitos a
respeito do problema da pesquisa, qual seja: conhecer os significados atribudos
pelos sujeitos sua experincia, conhecer suas trajetrias de vida e identificar o
modo como se reconhecem socialmente, gravadas durante a realizao do projeto
de interveno Autorretrato da Loucura. Antes, faz uma caracterizao do cenrio,
o Centro de Ateno Psicossocial de Pindamonhangaba, e apresenta o projeto de
interveno Autorretrato da Loucura.
Por ltimo, apresenta as concluses aproximativas como sntese provisria
da pesquisa, como um movimento aproximativo da realidade estudada. Segundo
Konder (1993, p. 37)
20
sntese a viso de conjunto que permite ao homem descobrir
a estrutura significativa da realidade com que se defronta,
numa situao dada. E essa estrutura significativa - que a
viso de conjunto proporciona - que chamada de totalidade.
21
PRIMEIRO CAPTULO
22
1. O ESTADO DA ARTE: a produo do conhecimento sobre a Sade
Mental no Servio Social.
A fim de fundamentar teoricamente a pesquisa, optou-se pela realizao de
um estudo exploratrio
6
do tipo Estado da Arte acerca da produo cientfica do
Servio Social em relao Sade Mental. Para tanto, priorizou-se a produo do
Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio Social da PUC de So Paulo,
local de formao da pesquisadora, e as publicaes da Revista Servio Social e
Sociedade, por sua importncia histrica para a profisso e por seu reconhecimento
pelas agncias de pesquisa.
Estudos do tipo Estado da Arte caracterizam-se por estudos bibliogrficos
7
,
que tm como objetivo a sistematizao de dados daquilo que j foi produzido a
respeito de um assunto ou rea do conhecimento. Tm como foco o estudo de teses
de doutorado, dissertaes de mestrado, artigos de peridicos e publicaes em
geral, que podem conduzir a uma compreenso do estado de conhecimento atual,
das tendncias tericas e vertentes metodolgicas.
Messina (1998, p. 01) reportando-se a Romanowski e Ens, afirma que:
um estado da arte um mapa que nos permite continuar caminhando; um
estado da arte tambm uma possibilidade de perceber discursos que em
um primeiro exame se apresentam como descontnuos ou contraditrios.
Em um estado da arte est presente a possibilidade de contribuir com a
teoria e prtica (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p. 40).
Tm a funo de ordenar periodicamente o conjunto de informaes e
resultados j obtidos, favorecendo a leitura/interpretao de diferentes perspectivas
investigadas ao longo dos anos, de lacunas e contradies existentes. Podem
6
De acordo com Minayo e Chizzotti, o estudo exploratrio tido como a primeira etapa da pesquisa
qualitativa. nesta fase que o pesquisador dever apropriar-se dos conhecimentos j produzidos
sobre o tema pesquisado. Santos (2008, p. 20), recorre a Richardson (1999) para dizer que: na
pesquisa exploratria estuda-se um fenmeno atual, ainda pouco examinado entre as comunidades.
As investigaes desta natureza objetivam aproximar o pesquisador do fenmeno para que este
possa familiarizar-se com as caractersticas e peculiaridades do tema a ser explorado, para assim o
desvendar, obtendo percepes, ideias desconhecidas e inovadoras sobre o mesmo.
7
Segundo Severino (2000) a pesquisa bibliogrfica abrange a leitura, anlise e interpretao de
livros, documentos, manuscritos, etc. Trata-se de uma leitura atenta e sistemtica que se faz
acompanhar de anotaes e fichamentos que, eventualmente, podero servir fundamentao
terica do estudo, tendo como objetivo conhecer as diferentes contribuies cientficas disponveis
sobre determinado tema (SANTOS, 2008, p. 20).
23
tambm estabelecer relao com produes anteriores, identificando temticas
recorrentes e apontando para novas perspectivas.
1.1 Estudo da Revista Servio Social & Sociedade
A proposta do estudo da Revista Servio Social & Sociedade parte da
necessidade de fundamentar teoricamente a pesquisa. Foi selecionada dentre
outros peridicos da rea de Servio Social por sua longevidade, seu fluxo regular e
ininterrupto de publicaes, mas principalmente por ser reconhecidamente pela
CAPES
8
como uma Revista qualificada na rea e em processo de indexao. Com
sua primeira publicao em setembro de 1979, pela Cortez Editora, no ano de 2009
completou trinta anos, chegando ao seu centsimo nmero, o que faz dela a nica
revista da rea a atingir esta marca. Em agosto deste mesmo ano (2009), a Revista
realiza uma Mesa Redonda na PUC/SP para avaliar sua produo e em novembro,
o Congresso dos 30 anos do Congresso da Virada
9
, evento promovido pelo conjunto
CFESS
10
, CRESS
11
, retoma a discusso sobre a Revista pela sua importncia para
a profisso.
Como um peridico de publicao quadrimestral, acompanha a histria da
profisso tanto no Brasil, quanto na Amrica Latina, pois aborda os diferentes
momentos histricos vividos pela sociedade e consequentemente pelo Servio
Social, suas temticas, suas preocupaes e os sujeitos sociais envolvidos.
Constitui-se, assim, em um registro vivo da histria do tempo presente do Servio
Social brasileiro... (EDITORIAL..., 2009, p. 595).
8
CAPES: Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior uma agncia de fomento
pesquisa brasileira que atua na expanso e consolidao da ps-graduao stricto sensu (mestrado
e doutorado) em todo o pas.
9
O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 1979, ficou conhecido como o
Congresso da Virada por seu contedo poltico e por marcar um compromisso do Servio Social com
a democracia.
10
Conselho Federal de Servio Social.
11
Conselho Regional de Servio Social.
24
Criada num esforo coletivo de abrir para a categoria um espao de
manifestao e participao efetivas no intuito de se pensar e repensar a profisso
e, sobretudo, de construir uma produo intelectual prpria (conhecimento cientfico)
da profisso no pas,
propunha desencadear um amplo processo de reflexo e debate dentro da
categoria profissional sobre questes bsicas do Servio Social, contribuir
para o fortalecimento da categoria profissional incentivando a reflexo, a
crtica e o confrontamento de posies (CONSELHO EDITORIAL..., 1979, p.
3).
Para falar do momento da criao da Revista, recorre-se a Jeanne Marie
Gagnebin (1994, p. 13), no prefcio do livro Walter Benjamin: obras escolhidas -
magia e tcnica, arte e poltica, quando afirma:
Cada histria o ensejo de uma nova histria, que desencadeia uma outra,
que traz uma quarta, etc.; essa dinmica ilimitada da memria a da
constituio do relato, com cada texto chamando e suscitando outros textos.
Mas tambm um segundo movimento, que, se est inscrito na narrao,
aponta para mais alm do texto, para a atividade da leitura e da
interpretao.
Escrever a respeito de um momento histrico no vivido remete busca
pelos narradores, queles que viveram o perodo e que melhor podem falar sobre
ele. Benjamin (1994, p. 198), afirma que narrar a faculdade de intercambiar
experincias.
Para Toledo (2007, p. 120).
A narrativa de determinadas situaes presentes na vida faz parte de uma
histria de vida de algum que conta para algum que se interessa em ouvir
os registros da memria. Para isso necessrio que o narrador queira
contar sua histria
Conforme ensina Benjamin (1994, 213), quem escuta uma histria est em
companhia do narrador; mesmo quem a l partilha dessa companhia. Assim,
recorre-se companhia de Maria Lcia Martinelli, que na entrevista em
comemorao aos 30 anos do Congresso da Virada, narra o que fruto de uma
vivncia histrica apreendida na experincia do trabalho e compartilhada com muitos
outros sujeitos na trama do mesmo tecido social e histrico.
Do mesmo modo, recorre-se narrativa de Maria Lcia Carvalho da Silva,
retirada da Tese de Doutorado de Maria Fernanda Teixeira Branco Costa com sua
25
autorizao. A Tese Da Iluso de Servir s Tentaes do Bem: profisso e
religiosidade no Servio Social, construda atravs da narrativa dos sujeitos fruto
das memrias e das experincias que ao longo dos dilogos relativos
religiosidade, foram apresentando o contexto social, histrico e poltico da
Renovao do Servio Social no Brasil, nas dcadas de 60 e 70.
Sabemos que a histria se faz com os documentos, mas sabemos tambm
que no se encontra toda nos arquivos oficiais, e pode ser interessante
interrogar autores e testemunhas que a viveram. As experincias dos
sujeitos histricos entrevistados (COSTA, 2004, p. 42).
O cenrio em que se constitui a Revista Servio Social & Sociedade ser,
portanto, apresentado por meio da narrativa dos sujeitos. Entre os relatos, para
dialogar com as narradoras, utiliza-se tambm o texto de Jos Paulo Netto
12
: III
CBAS: algumas referncias para a sua contextualizao.
Maria Lcia Martinelli
13
:
Os anos 70 marcam um momento especialmente importante sob o ponto de
vista da conjuntura econmica brasileira e latino americana. So anos de crise
intensa do processo democrtico, com avano da ditadura em diferentes pases da
Amrica Latina e especialmente no Brasil.
A Orientao dada s polticas sociais pelos governos da ditadura repercutia
fortemente nas condies de vida da classe trabalhadora, pois eram grandes as
12
assistente social formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1969), com graduao em
Letras Neolatinas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1974), mestrado em Teoria Literria
pela Universidade de So Paulo (1981) e doutorado em Servio Social pela Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo (1990). Atualmente professor titular da Pontifcia Universidade Catlica de
So Paulo, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Membro do Conselho
Editorial da Universidade Federal de Pernambuco e professor titular da Universidade Federal de
Alagoas.
13
Assistente Social (1966), Mestre (1977) e Doutora (1988) em Servio Social pela Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo. Sujeito poltico de extrema importncia para a constituio
histrica do Servio Social no pas, possui Ps-Doutorado em Histria das Ideias Contemporneas,
pelo Instituto de Estudos Avanados da Universidade de So Paulo (2002). Coordenadora do
Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio Social da Pontifcia Universidade Catlica de So
Paulo (Gesto 2007/2009) e Coordenadora do Ncleo de Estudos e Pesquisa sobre Identidade,
NEPI, da mesma Universidade, credenciado pelo CNPq desde 1994. Membro do Conselho Editorial
da Revista Servio Social e Sociedade, da Editora Cortez, So Paulo, dentre outras revistas
relevantes profisso de Servio Social.
26
dificuldades de insero no mercado de trabalho, alm de haver uma queda geral
nos salrios praticados pela indstria e comrcio, especialmente para os setores de
mdia e baixa qualificao.
As condies de desenvolvimento do capitalismo no pas, com forte
dependncia dos pases centrais, favoreciam o crescimento da dvida externa,
acompanhado de um baixo investimento em polticas capazes de assegurar
melhores condies de vida para o conjunto da populao.
Este foi o cerne da funo assumida pelo Estado: garantir a continuidade do
desenvolvimento dependente e associado e, com forte interveno no
campo econmico, operando como repassador de renda para os
monoplios, mediar os conflitos intersetoriais em benefcio estratgico das
corporaes transnacionais ao mesmo tempo em que atendia, no sem
colises, aos interesses de seus associados nativos (NETTO, 2009, p. 657).
A respeito da Ditadura Militar (1964-1985) no pas, Netto (2009, p. 652, grifo
do autor) afirma que este foi
um episdio de um processo muito mais amplo: o processo de uma
contrarrevoluo preventiva implementada em escala mundial, com o
objetivo explcito de travar e reverter as tendncias democratizantes e
progressistas, mais ou menos radicais, que se registravam nas periferias
capitalistas. Fomentado pelos Estados Unidos, este processo
marcadamente anticomunista teve episdios em todos os quadrantes do
ento Terceiro Mundo.
Maria Lcia Martinelli:
Porm, ao longo desta dcada (1970) e mais para o seu final, comea a
adquirir visibilidade algo que j vinha ocorrendo em condies absolutamente
adversas, pelas condies polticas do pas: a retomada das lutas sociais, pelos
movimentos sociais organizados e com protagonismo dos trabalhadores,
especialmente do operariado fabril.
Um livro emblemtico deste perodo o clssico Quando novos
personagens entraram em cena, de Eder Sader, publicado em 1988, no qual o
autor, com muita propriedade, vai nos mostrar como vinha se dando a tessitura de
resistncia e de enfrentamento poltica da ditadura militar.
Na verdade, como bem analisa Sader, os movimentos sociais organizados
jamais deixaram de lutar, apenas estiveram recuados por fora da cruel ditadura que
marcou o pas no perodo.
27
Prefaciando este livro, Marilena Chaui afirma que neste momento histrico
de retomada das lutas sociais, estes movimentos ocupam a cena pblica, se
instituem como sujeitos polticos novos, criando novas estratgias e novos espaos
para fazer poltica (Chaui, in Sader, 1988: 10).
Os movimentos sindicais, eclesiais, de luta pela sade e contra a carestia
so expressivos desta conjuntura histrica.
No Brasil, a Ditadura Militar, instaurada pelo Golpe Militar de 1964, perdurou
aproximadamente 20 anos, encerrando-se na dcada de 1980, quando j se
encontrava sem condies de se reproduzir, sendo obrigada a pactuar com sua
substituio por um regime poltico democrtico (NETTO, 2009, p. 652).
Segundo ele, a reinsero da classe operria na arena poltica brasileira d-
se a partir das mobilizaes grevistas no cinturo industrial de So Paulo (o
chamado grande ABC), mal aberta segunda metade dos anos 1970 (NETTO,
2009, p. 661). Movimento este que:
precipitou e catalisou na luta contra o regime demandas e aspiraes
fortemente reprimidas e que estavam dando suporte a expresses at ento
atomizadas (...)
Em suma: o protagonismo operrio traz tona a crise do regime ditatorial,
torna-a inteiramente visvel no final dos anos 1970 e a conduz a seu
momento terminal: compele a oposio burguesa a avanar, inviabiliza a
reproduo do regime ditatorial e cria condies para projees societrias
diferentes no Brasil (NETTO, 2009, p. 662-663).
Maria Lcia Martinelli:
No mbito do Servio Social, esta dcada tambm muito importante no
que se refere ao seu processo organizativo.
uma dcada paradoxal, pois ao mesmo tempo em que persiste a presena
do conservadorismo, amadurece, por parte dos setores crticos da categoria, um
processo organizativo de luta social, combativa, ao lado dos movimentos de base
que se processavam na sociedade brasileira.
Em suma, este contexto repercute nos rumos da organizao profissional e
no direcionamento poltico de sua prtica, desenvolvendo-se, por parte da categoria,
28
uma nova forma de interlocuo poltica, atravs da solidarizao profissional com
as lutas do povo brasileiro.
Maria Lcia Martinelli
Refiro-me ao alinhamento das entidades da Categoria com os Movimentos
Sociais organizados, com os setores de esquerda do movimento operrio e
estudantil e especialmente com o compromisso de engajar-se em uma luta unificada
pelos direitos sociais e trabalhistas, firmando uma identidade crtica de classe
trabalhadora.
(...) Sem dvida, esta militncia foi extremamente relevante, pois sem ela, sem o
protagonismo destes companheiros que enfrentaram no plano de suas vidas pessoais os
algozes da ditadura, atravs inclusive de seus aparelhos repressores, no teramos
conseguindo chegar s decises polticas que culminaram com o Congresso da Virada.
precisamente sob o impacto da reinsero do proletariado na arena
poltica, no quadro da mobilizao antiditatorial de amplos contingentes
assalariados, da mobilizao de setores pequeno-burqueses e inclusive
burgueses, e na sequncia quase imediata da decretao da anistia que o
III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (III CBAS) traz cena
poltica as tendncias democrticas contidas e reprimidas no Servio Social
(NETTO, 2009, p. 663).
Maria Lcia Martinelli
Toda esta teia, densamente tecida, foi o que possibilitou o engendramento e
a realizao da virada ocorrida no III CBAS, um marco histrico de profundas e
indelveis repercusses.
(...) O maior significado poltico do III CBAS, sem dvida nenhuma, ter se
constitudo no marco histrico de ruptura do Servio Social brasileiro com o
conservadorismo.
Com grande visibilidade pblica e alcance social, este Congresso, muito
apropriadamente denominado Congresso da Virada, instituiu-se como solo fecundo,
onde foram lanadas as razes de um projeto tico-poltico profissional
comprometido com a classe trabalhadora e com a construo de uma nova ordem
societria.
29
Assim, o que se viveu naquele momento histrico foi a expresso concreta
de sujeitos polticos com forte coeso lutando por objetos determinados.
(...) H um movimento organizado que se processa no seio da classe
trabalhadora no sentido de libertar-se das amarras do governo e da classe patronal,
instituindo-se com autonomia na luta por direitos.
A militncia poltica passa ento a ser o foco central da formao e da ao
profissional, o que, segundo Martinelli, fica presente na produo dos primeiros
anos de publicao da Revista (MESA-REDONDA..., 1989, p. 22).
No interior da categoria ocorrem mudanas significativas de contraposio
ao Servio Social tradicional, que representava uma postura mais conservadora da
profisso. Quanto formao, ocorre tambm neste perodo a reviso do currculo,
que tem como um de seus questionamentos a metodologia caso-grupo-comunidade.
Maria Lcia de Carvalho da Silva
14
[...] E ento comeou a ter uma ruptura com caso, grupo, comunidade,
aquela coisa... Suavemente, mas depois com os destinos da profisso. A gente j
comeou a discutir o papel na Amrica Latina, papel no desenvolvimento social,
papel dessa profisso... Eu vinha vindo dessa esteira.
Barroco (2001, p.108) afirma que o processo de eroso das bases do
Servio Social tradicional tem incio ao final da dcada de 50, no cenrio do
desenvolvimentismo, quando quadros jovens da profisso vinculados ao trabalho
com comunidades, questionam a histrica subalternidade da profisso, reivindicando
um novo padro cultural e terico, tendo em vista as mudanas sociais em curso.
14
Maria Lcia de Carvalho da Silva professora no curso de Ps-Graduao em Servio Social da
PUC/SP. Formou-se assistente social pela primeira escola de Servio Social do Brasil, em 1936,
agregada PUC/SP e fez parte do primeiro grupo de doutores em Servio Social por esta mesma
universidade, sendo uma das pioneiras do Movimento de Reconceituao.
30
Essa crise do Servio Social tradicional que se desdobra posteriormente j
indica uma transformao na intencionalidade desses profissionais que se
identificam como agentes de mudanas (COSTA, 2004, p. 61).
[...] A intensa mobilizao democrtico-popular do incio da dcada de
sessenta favorece a militncia poltica de setores profissionais, [...] Essa
insero poltica, aliada aos questionamentos profissionais anteriores, tendo
como pano de fundo as determinaes da eroso do ethos tradicional, abre
um campo de alternativas crticas profisso. As possibilidades de
articulao entre tais condies histricas e a construo de uma nova
moralidade so dadas pela adeso consciente a uma praxis poltica que tem
diante de si uma srie de possibilidades (BARROCO, 2001, p. 109).
Maria Lcia Carvalho da Silva
No havia massa crtica no Brasil. Em 70, nos quadros das universidades,
tinha um ou outro, que havia se formado no estrangeiro, se doutorado na Frana, na
Alemanha, mas aqui no Brasil, de fato, ns no tnhamos. Eu acho incrvel.
Eles tinham mandado todos os nossos intelectuais pra fora mesmo. Estava
todo mundo no exlio. Porque foi um momento muito forte da represso, depois do
AI-5
15
(13 dezembro de 1968).
Maria Lcia Carvalho da Silva afirma que neste perodo talvez houvesse
revistas que pudessem contribuir com a construo do conhecimento no Servio
Social, e continua...
[...] A gente tinha os congressos, tinha aqueles anais. No tnhamos
referncias metodolgicas, porque o Servio Social esbarrou, inclusive dentro da
PUC/SP, com enorme resistncia das outras reas, diziam que no ramos uma
rea cientfica. Quando muito, tcnicos, uma rea tcnica. (...) ns todos deixamos
de lecionar s pra se dedicar ao estudo, mas todo mundo continuou trabalhando. (...)
15
O Ato Institucional Nmero Cinco - AI-5 foi o quinto de uma srie de decretos emitidos pelo regime
militar brasileiro, que fortaleceu a chamada linha dura deste regime, institudo pelo Golpe Militar de
1964. Dentre outras ordens, o AI-5 estabelece: fechamento do Congresso Nacional; autorizao para
interveno nos estados e municpios; licena para se decretar o estado de stio e prorrog-lo;
suspenso de reunio e/ou manifestao pblica de cunho poltico; recrudescimento da censura,
determinando a censura prvia msica, ao teatro e ao cinema que pudessem conter assuntos de
carter poltico e de valores imorais.
31
Em 74 ns cumprimos o compromisso do doutorado. Cada um entregou a sua tese e
teve a defesa, que foi um momento incrvel.
A produo intelectual de referncia era eminentemente latino-americana e
as universidades utilizavam-se deste conhecimento produzido nos pases vizinhos.
Neste sentido a Revista torna-se uma importante fonte de produo, junto a outras
publicaes da Editora que comeam a despontar.
Marlise Vinagre (2009, p. 723) afirma que
no Servio Social vai-se, gradativamente, consolidando uma massa crtica,
sobretudo alavancada pela implementao da ps-graduao na rea e
pela ampla disseminao da produo crtica promovida pelas publicaes
da Cortez Editora e pela capilaridade obtida pela Revista Servio Social &
Sociedade em particular. Isso possibilitou, no final dos anos 1980 e incio
dos 1990, a reviso crtica do processo de incorporao do pensamento
marxista no Servio Social e suas consequncias na formao e no
exerccio profissional
neste cenrio de acontecimentos internos e externos profisso, que se
institui a Revista Servio Social & Sociedade, resultando de um movimento que
buscava criar um veculo, um instrumento para expressar, de modo efetivo, a opinio
da categoria no Brasil. Assim, a Revista nasce de um esforo coletivo, do dilogo
entre a categoria e a Cortez Editora, que oferecia a infraestrutura necessria para a
veiculao das ideias e que se dispunha a publicar a produo intelectual do Servio
Social no Brasil. Momento quando novos personagens entram em cena, conforme
Sader (1995).
Todo este panorama do nascimento da Revista Servio Social & Sociedade
traado pela importncia do momento histrico vivido pela sociedade brasileira e
pela profisso de Servio Social. Tambm para salientar a importncia que tem a
Revista para a construo do conhecimento na rea.
32
Quanto ao estudo da Revista, este se d sobre seus cem nmeros
publicados, de 1979 a 2009. Em relao ao tema da Sade Mental, encontram-se:
Produo Total Porcentagem Sade Mental Porcentagem
artigos 906 85,23% 7 0,77%
comunicaes de pesquisa 9 0,85% 1 11,11%
comunicados 18 1,69% 0 0,00%
debates 1 0,09% 0 0,00%
depoimentos 8 0,75% 0 0,00%
documentos 3 0,28% 0 0,00%
entrevistas 3 0,28% 0 0,00%
expresso do pensamento social 6 0,56% 0 0,00%
homenagens 5 0,47% 0 0,00%
informes e informe-se 34 3,20% 0 0,00%
noticirios/Notcias 4 0,38% 0 0,00%
polmica 1 0,09% 0 0,00%
polmicas e Debates 1 0,09% 0 0,00%
relatos de experincia 3 0,28% 0 0,00%
resenhas 45 4,23% 0 0,00%
sntese de tese 1 0,09% 0 0,00%
temas para debate 2 0,19% 0 0,00%
trocando em midos 13 1,22% 0 0,00%
Total 1063 100,00% 8 0,75%
Do total de 1063 produes publicadas pela Revista Servio Social &
Sociedade, apenas 8 destinam-se ao tema da Sade Mental. So 7 artigos e 1
Comunicao de Pesquisa que abordam a temtica da Sade Mental, o que
corresponde a apenas 0,75% de toda a produo, ou seja, menos de 1%. Um
percentual baixo, considerando-se o tempo de circulao da Revista (30 anos) e seu
total de publicaes (1063).
33
Quadro das publicaes em Sade Mental por Revista
Revista Ttulo Ano Condio Data Total de artigos Sobre
Sade Mental
n. 16 Servio Social e Sade VI dez/84 9 artigos, 6
comunicados,
2 artigos
n. 54 Descentralizao,
Cidadania e Participao
XVIII jul/97 9 artigos, 1 resenha, 1
trocando em midos
1 artigo
n. 63 Enfrentamento da Pobreza
em Questo
XXI jul/00 6 artigos, 3
comunicaes de
pesquisa, 1 resenha
1 comunicao
de pesquisa
n. 65 Seguridade Social e
Cidadania
XXII mar/01 8 artigos 1 artigo
n. 71 Famlia XXIII ESPECIAL set/02 9 artigos, 1
comunicao de
pesquisa
1 artigo
n. 82 Trabalho e Sade XXVI jul/05 7 artigos, 2
comunicaes de
pesquisa, 1 resenha
1 artigo
n. 92 Poltica Social, Desafios
para o Servio Social
XXVIII nov/07 10 artigos, 1 polmica, 1
homenagem
1 artigo
Os textos so apresentados como referncia bibliogrfica pela data em que
foram publicados pela Revista:
BRANT, Gilda Aparecida Deliberador. Dados para uma anlise da prtica
profissional na rea da sade mental. Servio Social & Sociedade, So Paulo, n.
16, p. 85-95, dez. 1984.
FILHO, Joo Ferreira da Silva. Psiquiatria comunitria: a sexualidade e o poder
disciplinar. Servio Social & Sociedade, So Paulo, n. 16, p. 80-84, dez. 1984.
VASCONCELOS, Eduardo Mouro. Servio social e interdisciplinaridade: o exemplo
da sade mental. Servio Social & Sociedade, So Paulo, n. 54, p. 132-157, jul.
1997.
VASCONCELOS, Eduardo Mouro. O movimento de higiene mental e a emergncia
do servio social no Brasil e no Rio de Janeiro. Servio Social & Sociedade, So
Paulo, n. 63, p. 151-186, jul. 1997.
34
VASCONCELOS, Eduardo Mouro. A proposta de empowerment e sua
complexidade: uma reviso histrica na perspectiva do Servio Social e da Sade
Mental. Servio Social & Sociedade, So Paulo, n. 65, p. 5-53, mar. 2001.
ROSA, Lucia Cristina dos Santos. Os saberes construdos sobre a famlia na rea da
sade mental. Servio Social & Sociedade, So Paulo, n. 71, p. 138-164, set.
2002.
BISNETO, Jos Augusto. Uma anlise da prtica do Servio Social em Sade
Mental. Servio Social & Sociedade, So Paulo, n. 82, p. 110-130, jul. 2005.
ROSA, Lucia Cristina dos Santos; COSTA, Sergio Ibiapina Ferreira. A
vulnerabilidade das pessoas com transtornos mentais em situao de pesquisa.
Servio Social & Sociedade, So Paulo, n. 92, p. 159-173, mar. 2007.
As produes so provenientes de profissionais que atuam e ou lecionam na
rea de Sade Mental, sendo que a maioria dos autores possui alguma forma de
vnculo com a Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, por ser seu local de
trabalho ou formao.
Os autores so: Eduardo Mouro Vasconcelos
16
(3 textos 1997, 1997 e
2001), Jos Augusto Bisneto
17
(1 texto 2005), Lucia Cristina dos Santos Rosa
18
(2
textos 2002 e 2007), Sergio Ibiapina Ferreira Costa
19
(1 texto 2007), Joo
16
Eduardo Mouro Vasconcelos psiclogo e cientista poltico, doutor em Servio Social e Polticas
Sociais pela Universidade de Londres, professor da Escola de Servio Social ESS da UFRJ e
pesquisador associado do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e CNPq. Coordenador do curso de
Especializao em Servio Social e Sade Mental da ESS UFRJ, editor da Revista Transverses,
tambm da ESS UFRJ e consultor em Sade Mental na rea pblica.
17
Jos Augusto Bisneto assistente social e engenheiro, professor da ESS UFRJ. Mestre e doutor
em Servio Social pela UFRJ, com formao em Psicanlise e Anlise Institucional. Leciona no curso
de especializao em Servio Social e Sade Mental UFRJ.
18
Lucia Cristina dos Santos Rosa assistente social, doutora em Servio Social pela UFRJ.
Professora do Departamento de Servio Social da Universidade Federal do Piau e supervisora
clnico-institucional em CAPS.
19
Sergio Ibiapina Ferreira Costa mdico, possui especializao em Biotica pelo Instituto Camillo
Filho. Professor do Instituto Camillo Filho.
35
Ferreira da Silva Filho
20
(1 texto 1984) e Gilda Aparecida Deliberador Brant
21
(1
texto 1984).
Suas preocupaes situam-se na relao entre a profisso de Servio Social
e o campo da Sade Mental. Tem como eixo a histria da Sade Mental no Brasil e
a insero do Servio Social na rea, assim como tambm a fundamentao terica
que orienta a prtica. A prtica e o conhecimento j produzido a respeito so
igualmente preocupaes presentes nos artigos, assim como as polticas de
proteo social.
A interdisciplinaridade no campo da Sade Mental, a questo da
vulnerabilidade dos sujeitos em situaes de pesquisa, a relao da famlia com os
sujeitos em sofrimento psquico e a questo do empowerment
22
so tambm objeto
de interesse dos autores.
Em relao data da publicao dos artigos, observa-se que h uma
disperso do tema no tempo. Os artigos so publicados nos anos de 1984, 1997,
2000, 2001, 2002, 2005 e 2007, o que aponta para uma inconstncia nas
publicaes. Esta disperso do tema no tempo mostra que a temtica tratada de
modo episdico pela Revista, o que impossibilita uma construo de massa crtica a
respeito, que possa fundamentar teoricamente a atuao do assistente social na
rea.
A maior produo encontrada a partir da segunda dcada de produo da
Revista
23
, havendo um declnio aps o ano de 2007, quando h maior investimento
na publicao de livros, como:
20
Joo Ferreira da Silva Filho Professor em Psicopatologia no Departamento de Psiquiatria e
Medicina Legal da Faculdade de Medicina do Centro de Cincias da Sade da UFRJ.
21
No se encontram referncias sobre a autora.
22
Vasconcelos explica que a palavra empowerment vem sendo traduzida como empoderamento,
mas que a seu ver, significa o aumento de poder pessoal e coletivo de indivduos e grupos sociais
nas relaes interpessoais e institucionais, principalmente daqueles submetidos a relaes de
opresso e dominao social (VASCONCELOS, 2007, p. 5).
23
Fato atribudo criao do Projeto Integrado de Pesquisa intitulado Sade Mental,
Desinstitucionalizao e Abordagens Psicossociais, sob coordenao de Eduardo Mouro
Vasconcelos, como um dos Ncleos de Pesquisa e Extenso da Escola de Servio Social da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
36
VASCONCELOS, Eduardo Mouro. Sade Mental e Servio Social: o desafio da
subjetividade e da interdisciplinaridade. So Paulo: Cortez, 2000.
BISNETO, Jos Augusto. Servio Social e Sade Mental: uma anlise institucional
da Prtica. Cortez: So Paulo, 2007.
ROSA, Lucia Cristina dos Santos. Transtorno mental e o cuidado na famlia. So
Paulo: Cortez, 2003.
Quanto ao nmero das revistas em que os artigos foram publicados, estas
tm como temticas: Servio Social e Sade; Descentralizao, Cidadania e
Participao; Enfrentamento da Pobreza em Questo; Seguridade Social e
Cidadania; Trabalho e Sade; Famlia; Poltica Social, Desafios para o Servio
Social, o que aponta para o fato de que a Sade Mental no Servio Social um
tema que pertence a discusses mais amplas, relacionadas a contextos mais gerais
e polticos da profisso.
Entretanto, a anlise do quadro a seguir aponta que h revistas com
temticas polticas, relevantes profisso e diretamente ligadas s discusses da
rea de Sade Mental, onde no so encontradas publicaes a respeito, como:
Poltica Social e Direitos, Mnimos Sociais e Excluso Social, Temas
Contemporneos, Temas Scio-jurdicos, Assistncia e Proteo Social, Violncia,
Sade, Qualidade de Vida e Direitos, Velhice e Envelhecimento, SUAS e SUS,
Gesto Pblica. Tambm no so encontradas publicaes nos nmeros que se
configuram como marcos histricos da Revista, como O Servio Social no Sculo
XXI, 20 anos, O Congresso da Virada e os 30 anos da Revista.
37
Revista Ttulo Ano Condio Data Total de artigos Sobre
Sade Mental
n. 50 O Servio Social no Sculo
XXI
XVII abr/96 7 artigos, 1 trocando em
midos
no consta
n. 53 Poltica Social e Direitos XVIII mar/97 10 artigos, 1 resenha, 1
trocando em midos
no consta
n. 55 Mnimos Sociais e
Excluso Social
XVIII nov/97 10 artigos, 2 trocando
em midos
no consta
n. 57 Temas Contemporneos XIX jul/98 7 artigos, 1 depoimento,
1 expresso do
pensamento social, 1
trocando em midos
no consta
n. 61 20 anos XX nov/99 7 artigos, 1 informe no consta
n. 67 Temas Scio-jurdicos XXII ESPECIAL set/01 11 artigos, 1 resenha no consta
n. 68 Assistncia e Proteo
Social
XXII nov/01 8 artigos no consta
n. 70 Violncia XXIII jul/02 8 artigos, 1
comunicao de
pesquisa, 1 expresso
do pensamento social
no consta
n. 74 Sade, Qualidade de Vida
e Direitos
XXIV jul/03 8 artigos, 1 resenha no consta
n. 75 Velhice e Envelhecimento XXIV ESPECIAL set/03 11 artigos, 2
comunicaes de
pesquisa, 1 trocando em
midos, 1 informe-se
no consta
n. 87 SUAS e SUS XXVII ESPECIAL set/06 10 artigos no consta
n. 90 Gesto Pblica XXVIII jun/07 9 artigos, 2 resenhas, 2
informes,
no consta
n. 100 O Congresso da Virada e
os 30 anos da Revista
XXX out.dez/09 9 artigos; 1 informe-se no consta
38
1.2 A Produo Cientfica do Programa de Estudos Ps-Graduados em
Servio Social da PUC de So Paulo
Para falar do momento da criao do Programa de Estudos Ps-Graduados
em Servio Social, recorre-se novamente s narrativas dos sujeitos que vivenciaram
tanto a constituio histrica da Revista, quanto a prpria criao do Programa
24
.
O Programa de Ps-Graduao em Servio Social foi criado em 1973
25
, com
a integrao da antiga Escola de Servio Social da Rua Sabar PUC de So
Paulo.
Sua proposta foi elaborada pelas professoras Nadir Gouva Kfouri e Suzana
Aparecida da Rocha Medeiros, para se constituir inicialmente num curso de
Mestrado, cujo objetivo era inserir o Servio Social na estrutura universitria, visando
capacitao do corpo docente da Escola e formao de docentes e
pesquisadores para a rea do Servio Social.
Maria Lcia de Carvalho da Silva:
Foi durante a ditadura, 69, que foi criada a ps-graduao no Brasil. Antes
existia o sistema de ctedras. Essa palavra to imponente que isso significava
poder, realmente.[...] A ctedra influncia do sistema acadmico francs e alemo.
Ns largamos isso e passamos para a influncia do sistema americano
26
.[...] O
regime de ctedras perdurou at 69.
24
Novamente toma como referncia a narrativa de Maria Lcia Carvalho da Silva, retirada, com
autorizao da autora, da Tese de Doutorado de Costa: COSTA, Maria Fernanda Teixeira Branco. Da
Iluso de servir s Tentaes do bem: religiosidade e profisso de servio social. 2004. 141 f.
Tese (Doutorado em Servio Social) - Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo,
2004.
25
Segundo informao contida no site do Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio Social da
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo em maro de 2010.
26
Nos anos 1960, uma srie de acordos produzidos, entre o Ministrio da Educao brasileiro (MEC)
e a United States Agency for International Development (USAID), visavam estabelecer convnios de
assistncia tcnica e cooperao financeira educao brasileira. Os MEC-USAID inseriam-se num
contexto histrico fortemente marcado pelo tecnicismo educacional da teoria do capital humano, isto
, pela concepo de educao como pressuposto do desenvolvimento econmico. Nesse contexto,
a ajuda externa para a educao tinha por objetivo fornecer as diretrizes polticas e tcnicas para
uma reorientao do sistema educacional brasileiro, luz das necessidades do desenvolvimento
capitalista internacional. Os tcnicos norte-americanos que aqui desembarcaram, muito mais do que
preocupados com a educao brasileira, estavam ocupados em garantir a adequao de tal sistema
de ensino aos desgnios da economia internacional, sobretudo aos interesses das grandes
corporaes norte-americanas.
39
Ento, a partir de 69, como implantar os cursos de mestrado e doutorado, se
no havia, a no ser esses catedrticos, que faziam concursos mais para o final da
carreira?
Era uma coisa assim... no havia massa crtica no Brasil. Em 70, nos
quadros das universidades, tinha um ou outro que havia se formado no estrangeiro,
se doutorado na Frana, na Alemanha, mas aqui no Brasil, de fato, ns no
tnhamos. Eu acho incrvel.
Eles tinham mandado todos os nossos intelectuais pra fora mesmo. Estava
todo mundo no exlio. Porque foi um momento muito forte da represso, depois do
AI-5.
[...] mas passou um sonho pela cabea da direo da escola de Servio
Social de So Paulo. Por que no poderamos ser parte integrante dessa ps-
graduao?
A escola sempre foi agregada PUC de So Paulo e recebe um convite
oficial para se integrar ao campus da PUC. Depois de muitos debates - vantagens e
desvantagens - a escola decide se integrar definitivamente. [...] Samos do prdio da
escola, que era na rua Sabar e viemos para o campus da Monte Alegre.
Levamos em considerao o fenmeno que estava ocorrendo no Brasil em
todas as universidades federais naquele momento histrico: as universidades
federais incorporaram todas as escolas particulares, em geral religiosas, que eram
das freiras de Jesus Crucificado
27
. E eu conheci quase todas nesse tempo porque
dava aula, elas me convidavam. Eram de Manaus at Rio Grande do Sul.
[...] Ao chegarmos no campus e nos integrarmos, a PUC abriu para todas as
reas de conhecimento de l, conforme a lei que criou a ps-graduao, o doutorado
especial. [...] Quatro anos voc tinha para ser candidato a esse doutorado especial.
Disponvel em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_mec-
usaid%20.htm>. Acesso em: 21 mar. 2010.
27
A Congregao das Missionrias de Jesus Crucificado nasce em Campinas, em 3 de maio de
1928. Seus mentores foram Dom Francisco de Campos Barreto, 2 Bispo da Arquidiocese de
Campinas e a irm Maria Villac. Seu objetivo era diferente das congregaes que existiam na poca:
estavam na rua divulgando o apostolado e, sem hbito. Enquanto, a maioria das missionrias no
saa noite, as missionrias faziam seu apostolado sem esta preocupao. Sua misso era buscar
os mais necessitados, eram solidrias aos trabalhadores (as) rurais e urbanos, negros, indgenas,
mulheres e jovens. O que alimentava a vocao das Missionrias de Jesus Crucificado era a vida de
orao e a experincia de Deus, viver em comunidade, estar com e ao lado dos empobrecidos
(COSTA, 2004, p. 50).
40
Tinha que ter no mnimo 5 anos de docncia, ter experincia profissional, se fosse o
caso, ter publicaes, trabalhos, enfim... havia condies prvias. [...] Foi no Brasil
todo, em todas as federais, em todas as universidades privadas.
[...] E em nossa rea de Servio Social, se candidataram dez. Eu resolvi me
candidatar. Desses dez saram trs. [...] Outra coisa importante: Como que esses
doutores vo se formar doutores, se no h doutores que os orientem?
[...] No caso do Servio Social, o MEC outorgou o ttulo de doutor por todo o
passado, professora Helena Iracy Junqueira, professora Nadir Gouva Kfouri, ao
professor Jos Pinheiro Cortez aqui em So Paulo. Foi uma cerimnia muito
bonita.[...] Esses trs foram os responsveis pela formao dos primeiros doutores,
que somos sete: a Myrian Veras Baptista, eu, a Maria do Carmo Carvalho, Suzana
Medeiros, Ada Pelegrino, Marta Terezinha Gordinho e uma tambm de fora da PUC,
do Hospital das Clnicas, a... como que o nome dela? Escapou.
Cada PUC tinha os seus doutores que foram designados para orientar os
candidatos.
[...] De 70 a 74, cada orientador recebia um nmero.[...] S que no
tnhamos, nesse momento, da histria do Servio Social, nenhum livro. Nunca havia
sido publicado um livro de Servio Social, at os anos 70. Talvez revistas...
[...] A gente tinha os congressos, tinha aqueles anais. No tnhamos
referncias metodolgicas, porque o Servio Social esbarrou, inclusive dentro da
PUC, com enorme resistncia das outras reas, diziam que no ramos uma rea
cientfica. Quando muito, tcnicos, uma rea tcnica. (...) ns todos deixamos de
lecionar s pra se dedicar ao estudo, mas todo mundo continuou trabalhando. Eu
trabalhava no governo do Estado. Foi ao mesmo tempo um processo de luta. Um
enfrentamento mesmo. Em 74 ns cumprimos o compromisso do doutorado. Cada
um entregou a sua tese e teve a defesa que foi um momento incrvel. Os sete se
doutoraram.
[...] Foi uma ousadia nossa entrarmos para a ps-graduao. Porque ns
no tnhamos um acmulo de nada. Ns no tnhamos nem a cultura de registrar o
nosso trabalho profissional. [...] Ns nunca tivemos na nossa formao e na escola e
em todas as demais escolas uma viso de que a gente era uma rea de
conhecimento. E como rea de interveno era invisvel, como se fosse a prtica
pela prtica. Ns tivemos que fazer essa ruptura profunda, extremamente profunda.
Foi muito suado isso.
41
[...] Por isso te digo, a nossa formao terica vem da histria de 70 para c.
A Reconceituao 65, mas de 70 para c basicamente quando a nossa
produo com a graduao, com a ps-graduao comea de verdade. [...] porque a
exigncia legal que voc no poderia permanecer na universidade se no tivesse
pelo menos titulo de mestre para poder lecionar. Ento baixou todo mundo, do Brasil
inteiro para c, ns formamos a massa crtica do Brasil em termos de Servio Social.
E nesse momento, que a gente tomou conscincia que no sabamos pesquisar. A
gente no tinha experincia de pesquisa, vamos aprender. [...] Fomos avante com
os alunos, e cada aluno com sua dissertao. O doutorado s veio 10 anos depois,
porque ns tnhamos que ter um acmulo mnimo exigido.
[...] No tnhamos referncia nenhuma, no existia na Amrica nenhum
doutorado de Servio Social. Fomos fazer cursos de autoformao, nossa, dos
prprios professores. [...] O nosso mentor foi o Professor Evaldo Amaro Vieira, que
tinha uma experincia j muito grande em doutorado e em outras reas. Foi ele
quem nos orientou nessa construo do projeto de doutorado. [...] A gente passou a
vivenciar outro momento, o da formao dos primeiros doutores regulares, digamos
assim.
E hoje, j temos quantos doutorados no Brasil? 6 ou 7? J so 16
mestrados.
Fui a primeira coordenadora da CAPES, e por dois mandatos para
coordenar toda essa formao dos mestrados e doutorados. Nossa rea era uma
rea subjugada psicologia na CAPES. Todos os nossos projetos eram analisados
e decididos pela psicologia, at que a gente ganhou visibilidade, e a houve a
criao da nossa rea de conhecimento, que s foi aprovada em 1987, parece 86
/87. Antes no era reconhecida.
Ento, esse trabalho de 65, de 70 para c at 87, quando se reconhece a
rea de... acho uma epopeia. Acho que todo mundo que participou, e foram tantos,
deveriam tambm ser ouvidos. Porque uma histria belssima.
Quando chego em 70, que comea o doutorado eu estava finalizando essa
experincia de participao ao nvel latino-americano. [...] Ento, a minha tese foi
sobre isso a. Para te situar como que a gente chega nessa ps-graduao.
42
Segundo o site do Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio Social
da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, em 1981 criado o curso de
Doutorado e em 1997 o Programa reestruturado tendo em vista uma melhor
explicitao de suas reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa. Tem conceito A
pela CAPES, uma vez que recebeu a nota seis (6,0) nas duas ltimas avaliaes
2007/ 2008.
Quanto produo cientfica do Programa, o estudo foi realizado a partir das
seguintes fontes: site do Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio Social da
PUC/SP, e Sistema Lumen de Bibliotecas tambm da PUC/SP. Recorreu-se a estas
duas fontes por serem a base de dados das produes cientficas da Ps-
Graduao em Servio Social desta Universidade.
No site do Programa de Estudos Ps-Graduados encontram-se as
produes de 1974 a 1999. Deste modo, o ano de 1974 foi considerado como o
primeiro ano de produo para fins de contabilizao neste estudo.
A partir do ano 2000 (de 2000 a 2010), recorreu-se ao Sistema Lumen de
Bibliotecas, que contm o total do acervo bibliotecrio da PUC de SP. Pesquisou-se
a base de dados da Biblioteca Nadir Gouva Kfouri, situada no campus Monte
Alegre, campus tambm do Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio
Social.
Atravs deste levantamento, que considerou a produo de 1974 a 2010,
foram identificadas 787 produes entre Dissertaes e Teses, com apenas 11
delas relacionadas ao tema da Sade Mental diretamente. Apenas 1,39% das
produes se destinou temtica da Sade Mental no Servio Social, sendo a
primeira produo encontrada de 1976 e a ltima de 2003.
Para fins deste levantamento, foram lidos os ttulos das 787 produes,
sendo consideradas como temticas da Sade Mental as categorias: Sade Mental,
Reforma Psiquitrica, Transtorno e Doena Mental, Hospital e Instituio Psiquitrica
e loucura. Identificada uma das categorias no ttulo, eram buscadas as palavras-
chave, para constatar a relao da dissertao com o tema desta pesquisa.
43
Sobre o uso do termo Sade Mental como um dos descritores desta
pesquisa, Martins (2001, p. 57), ao fazer uma leitura sobre os trabalhos de
Saraceno
28
(1995) e Birmam e Costa
29
(1994), afirma:
com o impacto social provocado pela Segunda Guerra Mundial os cuidados
de sade foram intensificados, marcando um perodo em que as dimenses
psicolgicas e sociais determinavam o limiar entre sade e doena.
No campo da Psiquiatria o conceito de sade mental serve para introduzir
progressivamente uma aproximao holstica na concepo da Psiquiatria,
ou seja, a transmitir a necessidade de uma aproximao multidisciplinar
doena mental (SARACENO, 1995, p. 389)
(...) A sade mental tornou-se objeto de uma nova psiquiatria, que, por
muitos anos, teve seu campo de cientificidade marcado pelo estudo da
doena e da cura: instaura-se uma mutao radical no campo
epistemolgico da Medicina Mental, passando de instrumento de
cientificidade sobre a Doena Mental para pretender-se definidor da Sade
Mental (BIRMAN; COSTA, 1994, p. 43).
Portanto, foram consideradas para fins desta pesquisa as temticas
relacionadas s formas histricas de se entender e tratar a Sade Mental (transtorno
e doena mental, loucura, hospital e instituio psiquitrica) e quelas orientadas
pelas novas polticas de Sade Mental, estruturadas a partir do processo da
Reforma Psiquitrica e que tem os CAPS como uma das tecnologias possveis.
Quanto leitura dos dados, do mesmo modo que a temtica aparece na
Revista Servio Social & Sociedade, observa-se que h uma disperso do tema no
tempo, o que aponta para uma inconstncia nas produes cientficas do Programa
sobre a Sade Mental.
As dissertaes datam dos anos 1976, 1988, 1995, 1996, 1997, 1997, 1999,
2000, 2001, 2001 e 2003, havendo uma distncia de mais de uma dcada entre as
duas primeiras dissertaes. Grande parte da produo se encontra entre 1995 e
2003, o que pode ser atribudo insero das profissionais no campo da Sade
Mental, algo que impulsiona a produo cientfica a fim de fundamentar a prtica.
Entretanto, observa-se um declnio sobre a produo a partir do ano de 2003,
quando no h registro de nenhuma outra dissertao ou tese sobre Sade Mental
no Programa.
28
SARACENO, Benedetto. Psiquiatria e Sade Mental. Jornal de Psiquiatria: Instituto de Psiquiatria
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, n. 44, p. 389-393, 1995.
29
BIRMAN, Joel; COSTA, Jurandir Freire. Organizao de instituies para uma psiquiatria
comunitria. AMARANTE, Paulo (Org.). Psiquiatria Social e Reforma Psiquitrica. Rio de Janeiro,
Fiocruz, 1994.
44
Embora a produo das dissertaes seja dispersa, possvel a construo
de massa crtica a respeito pelo carter cientfico dessas produes, pela forma
como estes contedos so apresentados.
45
Quadro das Dissertaes com o tema da Sade Mental
30
30
No apndice desta dissertao, encontra-se um estudo mais aprofundado de cada uma das
dissertaes encontradas com a temtica da Sade Mental.
46
A escolha do tema das dissertaes esteve ligada s trajetrias de vida das
pesquisadoras, o que corrobora a fala de Minayo (2007, p. 16) de que nada pode
ser intelectualmente um problema se no tiver sido, em primeiro lugar, um problema
de vida prtica. Portanto, os estudos partiram das experincias das pesquisadoras
no campo da Sade Mental e tiveram como linha de pesquisa, as experincias dos
sujeitos em sofrimento psquico e a atuao do Servio Social neste campo.
As citaes a seguir trazem os objetivos de cada pesquisa e a prtica
profissional das pesquisadoras, a partir dos resumos e introdues das dissertaes.
A pesquisa de Herrera (1976) partiu de sua experincia como assistente
social no Centro de Sade Experimental da Barra Funda e Bom Retiro, na cidade de
So Paulo, cujo objetivo foi sistematizar a prtica do Programa de Higiene Mental
executado neste Centro de Sade, considerando que existem distines no modo de
se entender a sade mental por parte dos profissionais e da populao atendida.
O presente trabalho tem como finalidade utilizar a investigao operacional
em Servio Social para estudar as caractersticas conceituais de doena
mental da populao matriculada no Centro de Sade Experimental da
Barra Funda e Bom Retiro e dos agentes profissionais vinculados a essa
instituio. Esses dados devero permitir mudanas substanciais na
orientao e organizao do programa, para adequao clientela.
(HERRERA, 1976, p. 10).
Oliveira (1988) fez uma anlise da prtica do Servio Social numa instituio
pblica de sade mental, com uma importante reconstruo histrica da sade
mental na Secretaria de Estado da Sade, local onde se deu sua atuao
profissional:
Os anos de experincia profissional na rea de sade mental, em unidades
da Secretaria de Estado da Sade, levaram-me a inquietaes tericas, e a
pesquisas que me proporcionaram oportunidades de conhecer a dinmica
da realidade social e os motivos que levam grande contingente
empobrecido a recorrer aos servios assistenciais de sade pblica, na rea
de atendimento mental. Procurei conhecer de perto as caractersticas dessa
clientela e os mecanismos institucionais adotados no trato a essa populao
(OLIVEIRA, 1988, p. 1).
Calasso (1995) no momento da realizao da pesquisa atuava como
assistente social no Programa de Doenas Afetivas do Ambulatrio de Psiquiatria e
Psicologia Mdica da Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP), Escola
Paulista de Medicina (EPM), local onde realizou a pesquisa, que
47
enfoca a relao entre o transtorno bipolar do humor e sua influncia na
vida cotidiana de pacientes acometidos por este tipo de transtorno mental, a
partir de uma pesquisa realizada no mbito de nossa atividade profissional.
(CALASSO, 1995, RESUMO).
Almeida (1996) teve sua experincia no campo da Sade Mental numa
Unidade Bsica de Sade e sua
pesquisa pretende conhecer e analisar a participao e contribuio das
Assistentes Sociais em Equipes interdisciplinares de Sade Mental em
Unidades Bsicas de Sade da Rede Municipal de So Paulo. (ALMEIDA,
1996, p. 17).
Medeiros (1997) atuou como assistente social no Ambulatrio de Psiquiatria
da Santa Casa de Misericrdia de So Paulo e
procura conhecer as interpretaes simblicas dos familiares cuidadores de
portadores de transtorno mental, no que se refere ao transtorno, ao
portador, e s suas influncias no convvio social.
O presente tema de pesquisa surgiu, como j mencionei, de inquietaes e
indagaes provenientes de minha experincia profissional como Assistente
Social. (MEDEIROS, 1997, p. 6).
Para Rodrigues (1997), suas inquietaes partiram de sua prtica
profissional no Instituto de Psiquiatria - IPQ do Hospital das Clnicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de So Paulo, e sua pesquisa
tem como objetivo de investigao a possibilidade de pessoas com
transtornos mentais fazerem-se cidados, percebendo a si prprios nas
relaes que mantm com os outros, seus familiares, equipe de
profissionais que os atendem nas instituies de tratamento e demais
usurios desses locais. (RODRIGUES, 1997, RESUMO).
Nunes (1999) atuou como assistente social num hospital psiquitrico da rede
particular em Salto de Pirapora, regio de Sorocaba SP, a Clnica Psiquitrica
Salto de Pirapora, e em sua pesquisa abordou:
a doena mental sob a tica do paciente internado em situao de
abandono, procurando identificar atravs de suas falas, suas vivncias e
percepes sobre o desamparo e o abandono familiar. (NUNES, 1999,
RESUMO).
Rodrigues (2000) estudou o Projeto Trabalho, realizado no Ambulatrio de
Sade Mental de Mogi das Cruzes, onde se deu sua prtica profissional. Objetivou
48
conhecer as trajetrias e as expectativas de pessoas com transtornos mentais sobre
o trabalho.
A pesquisa teve como objetivo estudar a relao sade mental e trabalho e
a possibilidade que o desenvolvimento de determinadas atividades abre
para a questo da insero social.
A pesquisa foi realizada no Ambulatrio de Sade Mental de Mogi das
Cruzes, Unidade da Direo Regional de Sade III, da Secretaria Estadual
de Sade, So Paulo. (RODRIGUES, 2000, RESUMO).
Martins (2001):
procura construir a histria do Departamento de Psiquiatria e Psicologia
Mdica da Faculdade de Cincias Mdicas da Santa Casa de So Paulo,
desde sua criao em 1963, at os anos 90, quando a Irmandade da Santa
Casa de So Paulo, atravs do Departamento de Sade Mental, assume a
direo do Centro de Ateno Integrada Sade Mental (MARTINS, 2001,
RESUMO).
Vicente (2001) se referiu ao estudo como parte da experincia profissional
na rea da Sade Mental e que seu interesse pelo tema
data do princpio de minha vida universitria, fazendo-me estudar, trabalhar
e conviver com a loucura. Antes disso, porm, j trazia comigo uma marca
familiar, dado que hoje considero fundamental e que, creio, influenciou esta
escolha. (VICENTE, 2001, p. 10).
A pesquisa, realizada na Vila Brasilndia - SP, referiu-se analise das
categorias loucura, cultura e subalternidade na constituio da identidade
dos portadores de transtornos mentais. (VICENTE, 2001, RESUMO).
Cruz (2003) afirmou que:
Esta pesquisa focaliza a problemtica vivencial de mulheres psicticas que
foram compulsoriamente separadas de seus bebs.
O exerccio profissional na rea da Sade Mental foi, no dia-a-dia,
convocando-me para o universo feminino da portadora de sofrimento
psquico. Vivncias pessoais e profissionais desafiaram-me e suscitaram em
mim inquietaes, as quais busco aprofundar e retratar atravs deste
estudo (CRUZ, 2003, p. 2-3).
Quanto metodologia de pesquisa, a maioria dos trabalhos recorreu
Pesquisa Qualitativa, utilizando-se de abordagem grupal e pesquisa de campo,
entrevistas semiestruturadas e temticas, estudo de caso e coleta de depoimentos,
e principalmente Histria Oral.
49
A opo pela pesquisa qualitativa no Servio Social est intrinsecamente
ligada identidade da profisso
31
. Segundo Martinelli (1999), o uso da pesquisa
qualitativa no Servio Social est pautado na possibilidade de conhecer mais
plenamente a populao com a qual se trabalha e no reconhecimento da
singularidade dos sujeitos. Tambm na dimenso poltica da pesquisa qualitativa,
que retorna aos sujeitos: parte de sua realidade e a ela retorna, mas,
fundamentalmente na possibilidade de se conhecer as experincias sociais dos
sujeitos e os significados que a elas atribuem.
Apesar de a grande maioria dos trabalhos terem recorrido Pesquisa
Qualitativa, trs trabalhos recorreram Pesquisa Quantitativa. Dois deles fizeram
uso da Pesquisa Quantitativa com o objetivo de caracterizar o local onde a pesquisa
se realizou.
Em relao ao uso da Pesquisa Qualitativa associada Pesquisa
Quantitativa, Martinelli (1999, p. 27, grifo do autor) afirma que:
muito importante que possamos perceber com clareza e
afirmar com convico que a relao entre pesquisa
quantitativa e qualitativa no de oposio, mas de
complementaridade e de articulao. O uso de uma ou outra
metodologia, ou de ambas, depende essencialmente da opo
do pesquisador em funo da natureza e dos objetivos da
pesquisa, relacionando-se, portanto, de modo iniludvel com
seu projeto poltico, com seu viver histrico cotidiano.
Para Baptista (1999, p. 38):
significativo recorrer-se ao empirismo e qualificao para
melhor conhecer a realidade. Mas esse procedimento deve vir
associado anlise qualitativa, pois ela possibilita um
aprofundamento real do conhecimento e uma acumulao do
saber, requisitos fundamentais da cincia. Desse modo, o
debate deixa de se caracterizar pela oposio e pela
coexistncia pacfica das abordagens, para se constituir em
uma atitude de compatibilidade e cooperao mtua.
31
Para aprofundamento da questo, ver: MARTINELLI, Maria Lcia. O uso de abordagens
qualitativas na pesquisa em servio social. MARTINELLI, Maria Lcia (Org.). Pesquisa qualitativa:
um instigante desafio. So Paulo: Veras Editora, 1999. (Srie Ncleo de Pesquisa; 1) e MARTINELLI,
Maria Lcia. Os mtodos na pesquisa: a pesquisa qualitativa. Temporalis: Revista da associao
brasileira de ensino e pesquisa em servio social, Recife, n. 9, 2005.
50
Vicente (2001) adotou como procedimento a Pesquisa Quantitativa para
caracterizar os casos de usurios encaminhados ao Ambulatrio de Sade Mental
da Vila Brasilndia no ano de 1998. A partir da anlise dos dados quantitativos, pde
identificar um perfil dos usurios encaminhados para obteno do Benefcio de
Prestao Continuada, previsto na Lei Orgnica da Assistncia Social demanda
atendida por ela enquanto assistente social no Ambulatrio de Sade Mental e,
ento, identificar os usurios que se constituiriam como sujeitos da pesquisa.
Rodrigues (2000), da mesma forma, trabalha com os dados quantitativos a
fim de caracterizar o perfil dos usurios do Ambulatrio de Sade Mental de Mogi
das Cruzes. Enfatiza, inicialmente, o perfil dos usurios do referido ambulatrio para,
numa segunda aproximao, conhecer a trajetria e a expectativa dos sujeitos
pesquisados acerca do trabalho.
J o trabalho de Herrera (1976) recorreu apenas Pesquisa Quantitativa.
Utilizou os dados quantitativos para apreender as percepes sobre Sade Mental
dos profissionais e usurios do Centro de Sade Experimental da Barra Funda e
Bom Retiro, com o objetivo de fundamentar as aes desenvolvidas pelo Servio
Social.
Alguns dos trabalhos estudados apontam para a frgil sistematizao e
registro da prtica profissional, principalmente na rea da Sade Mental e apontam
para a restrita literatura na rea, principalmente os trabalhos mais antigos, anteriores
s produes da Revista Servio Social & Sociedade e demais publicaes que
tratam da Sade Mental no Servio Social, cuja incidncia maior se d a partir de
1997.
O estudo das dissertaes expe o cenrio sobre o desenvolvimento da
Sade Mental na cidade de So Paulo. A maioria das profissionais atuou e
investigou a Sade Mental na capital, o que pode sugerir um trabalho mais
aprofundado e que tenha como tema, a poltica de Sade Mental em So Paulo.
Todos os estudos se utilizam da terminologia transtorno mental
32
, com
exceo de Rodrigues (1997), que utiliza o termo desvio mental, ainda assim, como
32
Segundo Amarante (1997, p. 165) esta uma terminologia que diz respeito a uma construo no
mbito do saber mdico, que est centrado nos fenmenos enquanto distrbios, transtornos ou
leses, com etiologias definidas ou por definir, com cursos e terminaes mais ou menos precisos ou
passveis de serem precisados. Isto , uma construo focada na doena e no no sujeito,
fundamentao negada neste trabalho. Entretanto, transtorno mental grave a terminologia utilizada
pelo Ministrio da Sade nos documentos referentes Sade Mental.
51
sinnimo de transtorno mental. A hiptese est em que as legislaes e a
documentao governamental que tratam da Sade Mental, utilizam esta
terminologia quando se referem ao sujeito em sofrimento psquico e tambm por ser
uma nomenclatura historicamente empregada para designar estes sujeitos no
campo da medicina.
Os trabalhos indicam que os sujeitos em sofrimento psquico vivenciam uma
dupla excluso. A loucura, como as autoras se referem, tida como mais uma forma
de segregao em decorrncia das condies de pobreza, de subalternidade
(VICENTE, 2001), de ser mulher e me (CRUZ, 2003), e de dificuldade de acesso
ao mercado de trabalho (RODRIGUES, 2000).
A doena est relacionada incapacidade. Os sujeitos so considerados
incapazes pela sociedade. Incapazes de acessar o mercado de trabalho, de cuidar
dos filhos, de gerir suas prprias vidas.
Assim, a loucura mais uma condio a ser superada num processo de
excluso.
Ao tratarmos da questo da separao compulsria dos bebs das mes
psicticas, suas narrativas revelam as dramticas vivncias dessas
mulheres, que sofrem um processo duplo de excluso pelas condies de
mulher e louca, situao agravada pela pobreza, o que afeta a dignidade
humana das portadoras de transtorno mental. (CRUZ, 2003, p. 120).
Na verdade a loucura foi um estigma a mais em existncias que
precocemente portaram fortes contornos da excluso pela pobreza.
(VICENTE, 2001).
Dentro da categoria dos despossudos, tambm expresso a condio do
portador de transtornos psquicos, que vivencia uma dupla excluso: pela
doena e pela falta de oportunidade de retorno atividade laboral.
(RODRIGUES, 2000, p. 11).
A excluso, no caso dos portadores de deficincia/transtornos mentais
dupla: o corte se d pela deficincia e pela condio de pobreza.
(RODRIGUES, 2000, p. 93).
A anlise dos trabalhos aponta que o processo da Reforma Psiquitrica
aparece mais claramente nos trabalhos apresentados a partir de 1997, embora a
maior parte deles aborde a questo. Os trabalhos de Cruz (2003), Vicente (2001),
Martins (2001), Rodrigues (2000), Nunes (1999), Rodrigues (1997), Medeiros (1997),
Almeida (1996) e Calasso (1995) contam a trajetria histrica da Reforma
52
Psiquitrica no Brasil, descrevendo experincias e prticas polticas propostas.
Trazem os princpios preconizados e abordam as influncias tericas presentes no
processo da Reforma Psiquitrica brasileira.
Merecem destaque a este respeito os trabalhos de Herrera (1976) e Oliveira
(1988) que no fazem meno Reforma Psiquitrica. Oliveira (1988) no trata da
questo. Aborda, os movimentos ocorridos na sociedade nas dcadas de 1970 e
1980 em relao s transformaes emergentes no tratamento e nas polticas de
Sade Mental, mas no do ponto de vista da Reforma Psiquitrica. Trata da
reorientao das aes em Sade Mental no mbito do Programa de Aes
Integradas de Sade PAIS
33
, na Secretaria de Estado da Sade de So Paulo.
O trabalho de Herrera (1976) vem de um perodo anterior ao que se remete
como incio do Movimento da Reforma Psiquitrica no pas. Trabalha com o conceito
e atua num Programa de Higiene Mental
34
no Centro de Sade Experimental da
Barra Funda e Bom Retiro.
Um parntese se faz necessrio para pontuar o Movimento de Higiene
Mental. Segundo Vasconcelos (1997, p. 153-155), o Movimento de Higiene Mental
tem incio na Frana em meados do sculo XIX com a publicao do Trait des
dgnerescences (Tratado das degenerescncias fsicas, intelectuais e morais da
espcie humana), de Morel
35
. Se a fundamentao terica se d na Frana, a partir
da publicao de Morel, nos Estados Unidos, no incio do sculo XX, que o
movimento encontra terreno frtil para se constituir.
Um vendedor de seguros e de servios de um escritrio de arquitetura de
Nova York, Clifford Beers, em crise, foi internado vrias vezes entre 1900 e
1903, e logo aps escreve sua autobiografia. Ajudado por William James,
Adolf Meyer (diretor do hospital psiquitrico de Nova York) e outros
psiquiatras e mdicos importantes da poca, publica sua histria em 1908
sob o ttulo de Uma mente que encontrou a si mesma (...) conclamando o
pas e sua populao para uma cruzada contra a doena mental, criando o
33
Os PAIS foram Programas implementados a partir de uma poltica de Aes Integradas de Sade
(AIS) em 1983, que tinham como objetivo, assegurar e facilitar o processo de universalizao do
atendimento em sade.
34
Em suas obras, O movimento de higiene mental e a emergncia do servio social no Brasil e no
Rio de Janeiro, publicado pela Revista Servio Social & Sociedade, n. 63, em julho de 1997 e Sade
Mental e Servio Social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade, publicado pela Cortez
Editora no ano 2000, Eduardo Mouro Vasconcelos faz um apanhado sobre as origens do Movimento
de Higiene Mental no Brasil e a relao com a profisso de Servio Social.
35
Auguste Morel foi um dos precursores da Psiquiatria alienista de Pinel.
53
Movimento de Higiene Mental, com ligas locais que se difundiram por todo o
pas, coordenadas por um Comit Nacional pela Higiene Mental
(VASCONCELOS, 1997, p. 154).
Este movimento no se d de modo fortuito. Com uma sociedade altamente
positivista, encontra fundamento numa cultura que enfatiza a tica protestante da
salvao individual, do indivduo que confronta o mundo atravs do trabalho e atinge
o sucesso por suas prprias qualidades, embalados pela ideologia difusa do
darwinismo social (VASCONCELOS, 1997, p. 154), que valoriza a sobrevivncia do
mais forte.
Merece destaque tambm o trabalho de Nunes (1999). A autora fala da
movimentao que ocorre dentro do hospital psiquitrico em que atua, diante da
Reforma Psiquitrica em curso no pas. ntida a contradio vivida em 1999,
quando a lei 10.216
36
ainda tramitava no Congresso, frente s propostas de um novo
modelo de ateno em Sade Mental, no contexto de um hospital psiquitrico.
Para finalizar este primeiro captulo, retoma-se a ideia inicial, de onde partir
para a realizao da pesquisa. O objetivo de fundamentar teoricamente a pesquisa
levou ao Estudo do Tipo Estado da Arte acerca da produo cientfica do Servio
Social em relao Sade Mental. Umberto Eco (2008, p. 42) afirma que o bom
pesquisador aquele que capaz de entrar numa biblioteca sem ter a mnima ideia
sobre um tema e sair dali sabendo um pouco mais sobre ele.
Esta a sensao sobre o processo da pesquisa, embora no se tenha a
pretenso de ser o bom pesquisador, sugerido por Eco.
Quanto fundamentao terica, baseia-se no processo sade-doena, na
Reforma Psiquitrica como orientao poltica, e os CAPS como uma das
tecnologias do cuidado em Sade Mental, trabalhados no captulo seguinte.
36
Lei n 10216, de 06 de abril de 2001, dispe sobre a proteo e os direitos das pessoas portadoras
de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em sade mental. De autoria do ento
Deputado Paulo Delgado, tramitou no Congresso durante doze anos at sua aprovao no ano de
2001.
54
SEGUNDO CAPTULO
55
2. FUNDAMENTAO TERICA
2.1 O Processo sade e doena
Ao longo de toda a histria da humanidade foram desenvolvidas diferentes
formas de se conceber a sade e a doena. As diversas teorias engendradas ao
longo do tempo relacionam-se s formas de interpretao do mundo e ao
desenvolvimento cientfico de cada perodo, sendo formulados vrios modelos de
explicao para a sade, a doena, at se chegar concepo de processo sade-
doena.
Como um conceito fundamentado no materialismo histrico-dialtico
37
, o
processo sade-doena tido como a sntese da totalidade de determinaes que
operam sobre a qualidade da vida social. Deste modo, sade e doena fazem parte
de um mesmo processo, no se caracterizando como estados estanques ou
isolados, mas num movimento dialtico, em que esto presentes determinantes
biolgicos, econmicos, culturais e sociais.
De acordo com esta concepo, as prticas e programas de sade
expressam as contradies existentes entre o setor e as condies de classe da
populao. Segundo Minayo (2006), na perspectiva marxista, as prticas em sade
devem se constituir como possibilidade de transformao das condies que geram
e reproduzem as situaes de doena da populao, bem como os sistemas
conflitivos e inadequados de atender a sade.
Neste caso, a importncia se d na observao das condies de vida, das
prticas das classes, das formas de organizao que determinam as situaes de
sade-doena.
37
Aranha e Silva (1997, p. 17-18), reporta-se a Lwy em Mtodo dialtico e teoria poltica (1985) e a
Barros em O Louco, a loucura e a alienao institucional (1996) para explicar o materialismo
histrico dialtico. Atravs da articulao de dois conjuntos de conhecimento, o materialismo
histrico e o materialismo dialtico, (Marx) estabeleceu o sistema explicativo, a base metodolgica e
os princpios epistemolgicos que dirigem sua anlise da histria. materialista, porque afirma que a
apreenso do conhecimento tem como base o mundo material, traduzido pela conscincia humana
(...). histrico porque relaciona a compreenso do mundo a partir do desenvolvimento dos meios de
produo (...). E dialtico, porque compreende a realidade em constante transformao, onde
operam contradies e antagonismos, que ao se resolverem colocam novas contradies, alm
disso, revolucionrio, porque a atitude do ser humano est comprometida com a transformao da
natureza, da sociedade e com os interesses e as lutas sociais do seu tempo (Barros, 1996, p. 80).
56
Para Egry; Shima (1992, p. 110), o processo sade-doena
um processo particular de uma sociedade que expressa no nvel individual
as condies coletivas de vida resultantes das caractersticas concretas de
produo: os processos de trabalho (que so as expresses individuais do
modo de produo da sociedade), os perfis de consumo e as
consequncias destes perfis nas diferentes formas de vida que se articulam
s correspondentes condies favorveis de sade e sobrevivncia, assim
como as condies desfavorveis, isto , os riscos de adoecer e morrer.
Aranha e Silva (2003, p. 804) ao analisar os nexos existentes entre a
concepo do processo sade-doena mental e as tecnologias de cuidados, afirma
que ao longo do tempo desenvolveram-se tecnologias diferenciadas na atuao em
Sade Mental, de acordo com os conceitos de adoecimento psquico de cada poca.
de se notar que a loucura ou doena mental sempre esteve vinculada ao
despertencimento, ao lugar de ningum, do sem nome, e que os
mecanismos de controle engendrados pr e ps-medicina moderna
encetavam a normatizao, a subordinao ordem, o enquadre razo
moderna. O esforo da medicina em nomear, classificar, buscar
instrumentos para intervir no adoecimento psquico descreve um desenho
homogneo, onde no h surpresas, isto , se a loucura a errncia, o
despertencimento, bane-se. Se for a desrazo, enjaula-se. Se for a
ociosidade, submete-se ao trabalho.
Ainda de acordo com a autora, a humanidade se organiza a partir de
convenes tidas como acordos, agenciamentos, cdigos. Um conjunto mnimo de
parmetros sobre a ordem social, que norteia e d os limites a respeito daquilo que
poder ou no ser aceito socialmente e que, como construo social, aparece nas
tecnologias de cuidado na rea de Sade Mental.
A histria da humanidade vem inscrevendo convenes sobre o que
doena e tratamento, numa dialtica mediada pelas condies materiais e
objetivas onde prticas em sade podem ser identificadas. No campo da
sade mental, da mesma forma, podem ser identificados conceitos de
adoecimento psquico e teraputicas operadas nos diferentes perodos de
desenvolvimento poltico e econmico e da organizao da sociedade,
desde os primrdios at a idade contempornea (ARANHA E SILVA, 2003,
p. 802).
No modo de produo capitalista, anormalidade, enfermidade e inadaptao
caracterizam-se por obstculos ao ritmo produtivo, sendo a doena considerada a
incapacidade para insero no mundo do trabalho e a sade o seu contrrio. Ou
seja, a sade vista como sinnimo de capacidade produtiva e a doena como de
57
incapacidade; sade como produo de vida e doena como produo de morte,
conceitos negados por Basaglia
38
.
Almeida (1996, p. 90) afirma que Basaglia incorporou a reflexo sobre a
natureza da sociedade capitalista discusso do atendimento s demandas
psiquitricas e situa a excluso social de camadas da populao como um produto
do processo de acumulao capitalista. Por este motivo, justificam-se prticas de
excluso dos sujeitos improdutivos do meio social.
Foucault (1999, p. 237) explica que:
Em nossas sociedades industrializadas modernas, os loucos so excludos
da sociedade comum por um sistema de excluso isomorfo, e se veem
recebendo um carter marginal.
Primeiramente, no que concerne ao trabalho, mesmo nos dias de hoje, o
primeiro critrio para determinar a loucura em um indivduo consiste em
mostrar que um homem inapto ao trabalho.
[...] Ora, a partir do sculo XVII, aproximadamente, constitui-se a sociedade
industrial e a existncia de tais pessoas no foi mais tolerada. Em resposta
s exigncias da sociedade industrial, criaram-se, quase simultaneamente,
na Frana e na Inglaterra, grandes estabelecimentos para intern-los. No
eram apenas os loucos que se colocavam neles; eram tambm os
desempregados, os doentes, os velhos, todos que no podiam trabalhar.
39
Segundo o ponto de vista tradicional dos historiadores, foi no final do sculo
XVIII, ou seja, em 1793, na Frana, que Pinel liberou os loucos de suas
correntes, e foi mais ou menos na mesma poca, na Inglaterra, que Tuke,
um quacre, criou um hospital psiquitrico. Considera-se que os loucos eram
tratados at ento como criminosos, e que Pinel e Tuke os qualificaram,
pela primeira vez, de doentes.
Para Basaglia, no processo sade-doena, vida e morte so plos
contraditrios de uma mesma realidade dialtica, em que a sade pode ser
entendida como:
um momento de conscincia, de apropriao do prprio corpo, como
superao da experincia da doena, e a doena, uma fase da vida, um
momento de apropriao de si, do prprio corpo, da experincia da doena
e, portanto, da prpria sade. (BASAGLIA, 1982, p. 366 apud MOTA, 2007,
p. 13).
38
Franco Basaglia, psiquiatra italiano que fundou o Movimento da Psiquiatria Democrtica e liderou
as mais importantes experincias de superao do modelo asilar-manicomial em Gorizia e Trieste.
Ele colocou em prtica a extino dos manicmios, criando uma nova rede de servios e estratgias
para lidar com as pessoas em sofrimento psquico e cuidar delas. O carter revolucionrio dessa
nova forma de cuidado estava expresso no apenas pelos novos servios que substituam os
manicmios, mas pelos mais variados dispositivos de carter social e cultural, que incluam
cooperativas de trabalho, atelis de arte, centros de cultura e lazer, oficinas de gerao de renda,
residncias assistidas, entre outros. (AMARANTE, 2006)
39
Ou seja, aqueles que se mostravam como empecilho ao desenvolvimento da sociedade industrial.
58
A partir desta concepo de processo sade-doena, o objeto de
interveno deixa de ser especificamente a doena, para ser o ser em sofrimento.
Amarante (2010) explica que, enquanto a psiquiatria tradicional colocou o
sujeito entre parnteses para ocupar-se da doena, a proposta basagliana coloca a
doena entre parnteses para que possa aparecer o sujeito em sua experincia.
Estou de acordo que um esquizofrnico um esquizofrnico, mas uma
coisa importante: ele um homem e tem necessidade de afeto, de
dinheiro e de trabalho; um homem total e ns devemos responder no
sua esquizofrenia, mas ao seu ser social e poltico.
Franco Basaglia
40
.
A preocupao centra-se nos sujeitos e no em suas doenas, diferente da
psiquiatria clssica, cujo saber baseia-se na nomeao da doena e sua
sintomatologia. Suspender este conhecimento significa permitir entrar em contato
com o sujeito em sofrimento e dar lugar para que as relaes humanas aconteam.
Colocar a doena entre parnteses no significa a sua negao; a negao
de que exista algo que possa produzir dor, sofrimento, diferena ou mal-
estar. Significa a recusa explicao psiquitrica; capacidade de a
psiquiatria dar conta do fenmeno com a simples nomeao abstrata de
doena. A doena entre parnteses , ao mesmo tempo, a denncia social
e poltica da excluso, e a ruptura epistemolgica com o saber naturalstico
da psiquiatria. (AMARANTE, 2009, p. 5)
Se o olhar se desloca da doena ao sujeito em sofrimento, os dispositivos de
cuidado tambm devem ser modificados. Transformam-se os conceitos e igualmente
as relaes, os servios, os dispositivos, os espaos e as prticas.
Atualmente prope-se um modelo de assistncia para a populao usuria
dos servios de sade mental que se estruture de modo diferenciado, cujo
tratamento seja considerado como direito e no como controle social, que tenha
como pressupostos a superao da rigidez dos papis, das especificidades
profissionais e a ampliao da capacidade de atendimento. Uma clnica reinventada,
como construo de possibilidades e de subjetividades, como possibilidade de
40
BOCK, Ana Mercs Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias:
uma introduo ao estudo de psicologia. 13. ed. So Paulo: Saraiva, 1999.
59
ocupar-se de sujeitos em sofrimento, e de, efetivamente, responsabilizar-se com o
sofrimento humano.
2.2 A Reforma Psiquitrica
A Reforma Psiquitrica
41
um processo social e poltico protagonizado por
diversos atores. Abrange os servios de sade e os demais espaos da sociedade,
como as associaes de pessoas em sofrimento psquico e seus familiares, os
movimentos sociais e os conselhos profissionais, mas principalmente, o imaginrio
social e a opinio pblica em relao ao transtorno mental (BRASIL, 2005).
Inicia-se ao final da dcada de 70 com a abertura poltica do pas e a
redemocratizao da sociedade brasileira, cujo cenrio o mesmo em que se d a
criao da Revista Servio Social & Sociedade: momento de grande efervescncia
da sociedade, de emergncia dos movimentos sociais e sindicais, do Movimento
pelas Diretas J e de libertao da ditadura militar, de criao do PT e do PMDB.
Segundo o documento do Ministrio da Sade Reforma Psiquitrica e poltica
de sade mental no Brasil,
o processo de Reforma Psiquitrica brasileira tem uma histria prpria,
inscrita num contexto internacional de mudanas pela superao da
violncia asilar. Fundado ao final dos anos 70, na crise do modelo de
assistncia centrado no hospital psiquitrico, por um lado, e na ecloso, por
outro, dos esforos dos movimentos sociais pelos direitos dos pacientes
psiquitricos, o processo da Reforma Psiquitrica brasileira maior do que
a sano de novas leis e normas e maior do que o conjunto de mudanas
nas polticas governamentais e nos servios de sade (BRASIL, 2005, p. 6).
O ano de 1978 costuma ser identificado como um marco neste processo, pois
tem incio efetivo o Movimento dos Trabalhadores em Sade Mental (MTSM)
42
, que
41
Para estudo mais aprofundado, ver autores como Paulo Amarante, Ana Luisa Aranha e Silva e
Fernanda Niccio que, no conjunto de suas obras, abordam o processo da Reforma Psiquitrica
brasileira. Tambm indicada a leitura de Eduardo Mouro Vasconcelos (1997, 1997, 2001 e 2002)
pela relao entre o processo da Reforma Psiquitrica brasileira e o Servio Social e da dissertao
de Martins (2001) pelo estudo aprofundado acerca da Reforma Psiquitrica no pas e suas
influncias.
42
Movimento protagonizado por trabalhadores integrantes do movimento pela Reforma Sanitria,
associaes de familiares e pessoas com longo histrico de internaes psiquitricas, sindicalistas e
membros de associaes de profissionais.
60
segundo Luchmann e Rodrigues (2007, p. 402) assume um papel fundamental neste
perodo referente s
denncias e acusaes ao governo militar, principalmente sobre o sistema
nacional de assistncia psiquitrica, que inclui prticas de tortura, fraudes e
corrupo. As reivindicaes giram em torno de aumento salarial, reduo
de nmero excessivo de consultas por turno de trabalho, crticas
cronificao do manicmio e ao uso do eletrochoque, melhores condies
de assistncia populao e pela humanizao dos servios. Este
movimento d incio a uma greve (durante oito meses no ano de 1978) que
alcana importante repercusso na imprensa.
O MTSM tornou-se um ator social estratgico no processo da Reforma
Psiquitrica e na luta pelas reformas no campo da sade mental. Se num primeiro
momento ele se organiza em torno da crtica ao modelo psiquitrico tradicional,
denunciando as prticas excludentes e segregadoras at ento dispensadas no
tratamento dos sujeitos em sofrimento psquico, num segundo momento constri um
pensamento crtico que permite visualizar uma possibilidade de inverso deste
modelo.
Compreendida como um conjunto de transformaes de prticas, saberes,
valores culturais e sociais, no cotidiano da vida das instituies, dos
servios e das relaes interpessoais que o processo da Reforma
Psiquitrica avana, marcado por impasses, tenses, conflitos e desafios
(BRASIL, 2005, p. 6).
Trata-se de um
processo poltico e social complexo (...) que incide em territrios diversos,
nos governos federal, estadual e municipal, nas universidades, no mercado
dos servios de sade, nos conselhos profissionais, nas associaes de
pessoas com transtornos mentais e de seus familiares, nos movimentos
sociais, e nos territrios do imaginrio social e da opinio pblica (BRASIL,
2005, p. 6)
O processo da Reforma Psiquitrica, segundo Paulo Amarante (1999, p. 49),
tem como objetivo conceber um outro lugar social para a loucura, para a diferena,
a diversidade e a divergncia. Ruptura com uma tradio cientfica, cujo objetivo
modificar o sistema de tratamento clnico da doena mental, eliminando
gradualmente a internao como forma de excluso social.
Este modelo seria substitudo por uma rede de servios territoriais de
ateno psicossocial, visando insero do sujeito em sofrimento psquico
comunidade, rede esta que prev os centros de ateno psicossocial (CAPS), os
centros de convivncia e cultura assistidos, as cooperativas de trabalho protegido,
61
fundamentados no princpio da economia solidria e nas residncias teraputicas,
entre outros dispositivos, o Programa de Volta para Casa.
Amarante (1999) trabalha com a concepo de campos, como as esferas
que compem o processo da Reforma Psiquitrica. So eles o campo terico-
conceitual, tcnico-assistencial, jurdico-poltico e sociocultural.
Em linhas gerais, entende-se por campo terico-conceitual a reviso das
bases tericas e conceituais das cincias em relao forma de lidar com os
transtornos mentais e a loucura: os objetos de conhecimento e as formas de
apreender a realidade, os conceitos de sade e doena, a noo de existncia de
sofrimento e a relao do sujeito com a sociedade. O campo tcnico-assistencial
compreende a construo de uma nova rede de servios que substituam o modelo
teraputico tradicional, com base nas transformaes do campo terico-conceitual.
J o campo jurdico-poltico refere-se reviso dos conceitos legais e a
transformao na prtica dos mesmos, em relao aos direitos. Por ltimo, o campo
sociocultural relaciona-se transformao do imaginrio social em relao loucura
e doena mental. Est ligado ao conjunto de prticas sociais com vistas incluso
dos sujeitos em desvantagem social. Como menciona Santos (2009), estes campos
esto interligados e se inter-relacionam na construo de um novo lugar social para
os sujeitos em sofrimento psquico.
Para Amarante (2006)
o grande mrito do processo brasileiro de reforma psiquitrica est no fato
de, em vez de tratar de doenas, tratar de sujeitos concretos, pessoas reais.
Lida, portanto, com questes de cidadania, de incluso social, de
solidariedade e, por isso, no um processo do qual participam apenas
profissionais da sade, mas tambm muitos outros atores sociais.
Nesse contexto as relaes devem se conduzir no sentido de superao do
estigma e da excluso dos sujeitos, propondo transformar as relaes que a
sociedade historicamente estabeleceu com a loucura, a doena mental e os sujeitos
em sofrimento psquico.
62
2.3 Os Centros de Ateno Psicossocial CAPS
Os CAPS so servios municipais que substituem o modelo tradicional de
ateno em Sade Mental, centrado no Hospital Psiquitrico. Destinam-se ao
atendimento dirio de pessoas em sofrimento psquico, por meio de
acompanhamento clnico e do desenvolvimento de aes em direo ao exerccio
dos direitos civis, o fortalecimento dos laos familiares, sociais e comunitrios e o
acesso ao trabalho e ao lazer.
Tem como objetivo o atendimento do usurio em seu territrio e segundo
definio do Ministrio da Sade,
[...] um servio de Sade aberto e comunitrio do Sistema nico de
Sade (SUS). Ele um lugar de referncia e tratamento para pessoas que
sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais
quadros, cuja severidade e/ou persistncia justifiquem sua permanncia
num dispositivo de cuidado intensivo, comunitrio, personalizado e promotor
de vida. (BRASIL, 2004, p. 13).
Para Paulo Amarante, (2003, p. 61):
[...] um centro de ateno psicossocial no deveria ser apenas um servio
novo, mas um servio inovador, isto ; espao de produo de novas
prticas sociais para lidar com a loucura, o sofrimento psquico, a
experincia diversa: para a construo de novos conceitos, novas formas de
vida, de inveno de vida e sade.
Nesta perspectiva, os CAPS devem se caracterizar como servios abertos e
acolhedores, inseridos no espao da cidade. Seus projetos devem ultrapassar a
estrutura fsica e institucional em busca da construo de uma rede de suporte
social que potencialize suas aes, preocupando-se com o sujeito e sua
singularidade, sua histria, sua cultura e sua vida cotidiana (BRASIL, 2004). Um
servio que permita a construo de novas prticas sociais no lidar com o sofrimento
psquico e a transformao das relaes estabelecidas entre a sociedade e a
loucura (Amarante, 1997).
Como um espao de produo de novas prticas sociais para lidar com a
sade mental, de novas formas de vida e sade, os CAPS tm como objetivo fazer
uma clnica voltada ao novo, ao coletivo e solidariedade, com uma rotina que se
constri e se reconstri no cotidiano.
63
Para o Ministrio da Sade, os CAPS tm valor estratgico para a Reforma
Psiquitrica no pas, na medida em que evidenciam a possibilidade de se organizar
uma rede substitutiva ao Hospital Psiquitrico, tendo como funo:
prestar atendimento em regime de ateno diria, evitando assim as
internaes em hospitais psiquitricos; promover a insero social das
pessoas com transtornos mentais atravs de aes intersetoriais; regular a
porta de entrada da rede de assistncia em sade mental na sua rea de
atuao e dar suporte ateno sade mental na rede bsica. funo,
portanto, e por excelncia, dos CAPS organizar a rede de ateno s
pessoas com transtornos mentais nos municpios. Os CAPS so os
articuladores estratgicos desta rede e da poltica de sade mental num
determinado territrio (BRASIL, 2009a).
Os CAPS so servios que possuem diferenas significativas quanto sua
estrutura e demanda. Os CAPS I e II so destinados ao atendimento da populao
adulta com transtornos mentais graves. Seu atendimento de segunda a sexta-feira,
das 8:00h s 17:00h, variando de CAPS I para CAPS II de acordo com o nmero de
habitantes do municpio. Os CAPS III so voltados ao atendimento da mesma
populao, porm, seu funcionamento de 24 horas/dia em municpios com maior
ndice populacional. Os CAPSi so destinados ao atendimento de crianas e
adolescentes e os CAPSad so voltados ao atendimento de usurios de lcool e
drogas; sendo o CAPS Pindamonhangaba cadastrado junto ao Ministrio da Sade
como CAPS II.
A fundamentao terico-metodolgica da pesquisa est intrinsecamente
ligada ao processo, da trajetria pessoal e profissional da pesquisadora. Toma como
referncia o conceito de sade-doena, a Reforma Psiquitrica como concepo
poltica norteadora das novas tecnologias no cuidado dos sujeitos em sofrimento
psquico e os CAPS como uma das tecnologias possveis. E, sobretudo, pela
identificao com os sujeitos, por sua fora de vida. Por isso, recorre ao que os
sujeitos pensam de si, o que dizem de si e no o que se pensa deles, como
possibilidade de transformao da realidade. Portanto,
Ao insistirmos na importncia do reconhecimento da diversidade social e
cultural, do respeito diferena, como escolhas e caminhos para a
construo de uma sociedade mais justa e igualitria, deparamo-nos com
alguns conflitos e desafios. Trazer para o debate a diversidade cultural
requer um olhar poltico que distingue, como j dissemos, as mltiplas
interpretaes dessas noes e os interesses que as sustentam (...)
(KHOURY, 2006, p. 26).
64
A centralidade do sujeito, ento, o caminho a ser percorrido para atingir o
objeto de estudo desta dissertao, recorrendo s narrativas dos sujeitos em
questo, ao se preocupar com os significados atribudos por eles s suas
experincias de vida.
Recorre ao uso da Histria Oral como metodologia de pesquisa por
privilegiar a experincia social e histrica dos sujeitos: o cotidiano, a vida diria, a
memria e a cultura. Trata-se de uma escolha poltica, conforme salienta Khoury
(2006, p. 23).
Cientes de que nossas opes polticas implicam procedimentos
metodolgicos adequados, vimos investindo numa explicao histrica que
d conta das relaes imbricadas entre dominaes, subordinaes e
resistncias na construo e reafirmao de hegemonias; que incorpore
procedimentos que deem conta das articulaes e tenses entre noes e
interpretao como expresses das operaes do poder e das resistncias
a ele, tornando-as mais visveis publicamente.
[...] desafio da memria s ideologias dominantes tambm uma parte do
desafio de movimentos polticos de indivduos aos poderes dominantes na
economia e na poltica. E penso que isto se relaciona tambm com a
questo metodolgica, porque acredito que a metodologia uma extenso
da poltica (PORTELLI, 2000, p. 68).
65
TERCEIRO CAPTULO
66
3. METODOLOGIA
3.1 A Histria Oral
Para compreender a Histria Oral
43
, recorre-se ao conceito de cultura a
partir do pensamento de Raymond Williams. Segundo o autor, cultura um
conceito histrico, que deve ser compreendido como uma construo social, como
processo que cria modos de vida categoria criada por Thompson especficos e
diferenciados, relacionados ao modo de produo da vida social e material.
Esta afirmativa pode ser compreendida tomando como base o referencial
terico marxista, que fundamenta o pensamento do autor, cujo sentido est na
concepo da historiografia, na acepo do homem como produtor de histria, o
homem que se faz a si mesmo pela produo de seus prprios meios de vida.
(WILLIAMS, 2007, p. 25).
Segundo a tradio marxista, todos os homens fazem histria na produo
social da vida material, o que, por conseguinte, torna-os sujeitos histricos, agentes
de transformao. Para Bezerra, (1995, p. 121) reportando-se Thompson, no
so as estruturas que constroem a histria. So as pessoas carregadas de
experincia.
Assim sendo, cultura concebida como modo de vida por sua
fundamentao terica marxista, entendendo a cultura como um processo histrico e
a histria como movimento, como processo social constitudo por diferentes grupos
43
A Histria Oral, em uma de suas vertentes, aps a Segunda Guerra Mundial, tem nos historiadores
ingleses vinculados ao Partido Comunista Britnico sua expresso. Estudam a constituio da classe
operria inglesa propondo uma historiografia focalizada de baixo para cima. Seus interesses
pautavam-se nas experincias das classes operrias, em conhecer as experincias dos
trabalhadores em seus modos de viver, suas lutas, hbitos e valores, expressos em sua
cotidianidade. Uma maneira de ver a luta de classes em seu processo histrico. Segundo Fenelon
(1995, p. 85) uma as grandes questes deste grupo de intelectuais era, sem dvida, o seu
comprometimento com as definies e teorizaes de uma poltica cultural nacional-popular, que
valorizasse o povo, a nao e sua luta histrica pela democracia. Edward Palmer Thompson e
Raymond Williams fizeram parte deste importante grupo de historiadores britnicos.
67
sociais, no embate cotidiano de foras polticas, na luta de classes, da qual todos os
homens fazem parte.
Entender o conceito de cultura, deste modo, leva a outra categoria de
fundamental importncia para a Histria Oral: a experincia social. Segundo Fenelon
(2006, p. 7):
Falar de cultura desta maneira tem nos levado a mais uma categoria de
extrema importncia em nossas reflexes a experincia social que nos
conduz sempre a considerar que homens e mulheres devem retornar em
nossa produo ou interpretao como sujeitos sociais, isto , como
pessoas que experimentaram suas situaes e relaes sociais como
necessidades, interesses e com antagonismos. (...) E a experimentam no
apenas como ideias no mbito do pensamento, mas tambm como
sentimentos, valores, normas, obrigaes que se exprimem em aes e
tambm como resistncias.
Conhecer modos de vida pressupe conhecer a experincia social, pois o
conceito de experincia social est vinculado ao modo como os sujeitos constroem e
vivem suas vidas dentro de determinadas condies de produo e reproduo
social e material (MARTINELLI, 1999, p. 22-23).
E. P. Thompson e Raymond William entendem a experincia como conceito
articulador, sem que a totalidade esteja divida entre estrutura e superestrutura. Com
a categoria experincia, a estrutura tida como processo e os sujeitos so
reintroduzidos na histria como pessoas que experimentam situaes e relaes
produtivas determinadas como necessidades, interesses e antagonismos. As
pessoas experimentam suas experincias como sentimento e lidam com esses
sentimentos na cultura como normas, obrigaes familiares, de parentesco e
reciprocidades como valores (KHOURY; CRUZ; PEIXOTO, 2006, p. 10-11).
Ao tratar da obra de Edward P. Thompson, Fenelon (1995, p. 86, grifo do
autor) afirma que:
No h dvida que, ao lidar com a categoria cultura em todo o conjunto de
sua obra, mas especialmente na Formao da Classe Operria, Thompson
prope uma outra maneira de buscar e de investigar as experincias dos
trabalhadores, no apenas em suas relaes econmicas, mas nos seus
modos de vida, em suas lutas dirias, nos seus hbitos, valores, dietas,
formas de vestir e de morar, de comemorar, de festejar, de cantar, de
transmitir suas tradies orais, de viver com elas ou de resistir s
transformaes tambm como vivncia cotidiana em seu dia-a-dia, e esta
uma nova maneira de ver a luta de classes em seu processo histrico. E
a que podemos avaliar a maneira como essas experincias so elaboradas
em termos culturais, incorporadas s tradies, sistemas de valores, ideias
e formas institucionais que podem se constituir em conscincia de classe.
68
De acordo com Toledo (2007, p. 119), esta opo metodolgica leva em
considerao a possibilidade de explorar as experincias daqueles que foram
sempre ignorados pela prpria cincia e explorar as experincias histricas
daqueles homens e mulheres, cuja existncia to frequentemente ignorada, ou
mencionada apenas de passagem na principal corrente da histria (FENELON,
1995, p. 82).
Como uma corrente da histria que estuda os modos de vida dos sujeitos
em seu cotidiano, a Histria Oral se volta para a compreenso do passado em suas
interseces com o presente. Ocupa-se do campo do social, lutando por mudanas
a partir do presente e propondo-se, assim, a alterar nossa relao com o passado. A
utilizao da Histria Oral uma forma de expor e explorar as tenses, os conflitos e
os padres existentes na sociedade, suas contradies.
Se no temos como prever o futuro, importa analisar tendncias,
possibilidades postas pelo presente e cujos desdobramentos dependem dos
embates de foras, dos pactos realizados e do peso das foras sociais em
jogo. Importa investigarmos processos reais, num dilogo aberto com a
experincia social, buscando compreender em profundidade as relaes
sociais que os engendram nos diversos momentos, buscando desvendar as
diferenas e a pluralidade sem perder o antagonismo, sem perder as
indagaes do presente que nos impulsionam, traduzindo e explicitando a
dimenso social com um olhar poltico (KHOURY, 2006, p. 27).
Segundo Portelli, o que torna a Histria Oral diferente de outras
metodologias de pesquisa qualitativa so os significados, entendidos como a forma
como os sujeitos pensam, interpretam e vivenciam suas experincias. Ou seja, trata-
se de uma metodologia que estuda o cotidiano, a vida diria e a cultura material de
pessoas ou grupos, um ponto de vista coletivo expresso na narrativa dos sujeitos.
3.2 Fotografia e Histria Oral
O interesse em buscar a fotografia inscreve-se no mbito pessoal da
pesquisadora e, fundamentalmente, por ser um dos recursos utilizados no projeto de
interveno denominado Autorretrato da Loucura, apresentado no captulo quatro
desta dissertao.
69
Com vistas a aprofundar os conhecimentos sobre fotografia, buscou-se no
Programa de Estudos Ps-Graduados em Comunicao e Semitica a disciplina
Regimes de sentido em imagem e som. Modos de Enunciao no Audiovisual: da
Fotografia aos Meios Digitais.
A opo em cursar a disciplina pautou-se na anlise do programa e do
contedo trabalhado no curso: a perspectiva e o surgimento do sujeito e os
elementos da linguagem fotogrfica. Possibilidades de acesso a conhecimentos
cientficos acerca do tema, j que at ento os conhecimentos sobre fotografia eram
de senso comum.
Apesar de o interesse inicial ter se dado sobre esta temtica especfica, o
curso tornou-se grande descoberta em relao TV, ao cinema e aos meios digitais.
Estes, jamais sero vistos da mesma forma em virtude do contedo apreendido, da
metodologia e didtica aplicadas.
Para abordar a temtica da fotografia, so utilizados como referncia os
registros feitos durante participao no curso e o pensamento de Roland Barthes em
sua obra A cmara clara.
Barthes (1984, p. 131), afirma que a primeira foto foi produzida pelo francs
Joseph Nicphore Nipce por volta de 1822, embora pesquisa realizada sobre o
assunto remeta ao ano de 1826.
Ainda segundo o autor, o advento da fotografia apenas foi possvel a partir
do dia em que uma circunstncia cientfica (a descoberta da sensibilidade dos sais
de prata luz), permitiu captar e imprimir diretamente os raios luminosos emitidos
por um objeto diversamente iluminado (BARTHES, 1984, p. 121).
Por definio, fotografia , essencialmente, a tcnica de criao de imagens
por meio de exposio luminosa, fixando esta imagem em uma superfcie sensvel
luz. Assim, tem-se que a fotografia o registro de uma emanao luminosa num
suporte fotoqumico.
A respeito do significado da palavra fotografia, encontram-se duas
explicaes. A primeira, em Barthes (1984, p. 121), que parece que em latim
fotografia se diria: imago lucis opera expressa, ou seja: imagem revelada, tirada,
subida, espremida (como o suco de um limo) por ao da luz. A segunda, em
Bernier, a palavra tem origem grega e significa desenhar com luz. Fotografia: fs:
luz; grafis ou graf: estilo, pincel. Ambas remetendo ao princpio da fotografia do
registro da luz em uma superfcie sensvel.
70
Embora a primeira fotografia tenha sido produzida no incio do sculo XIX
quando se descobrem, portanto, as propriedades fotoqumicas que determinadas
substncias tm de registrar a luz o princpio da fotografia data de sculo XV
com o uso da cmera obscura e est relacionada ao Renascimento.
A cmera obscura tem o mesmo princpio da cmera fotogrfica utilizada
atualmente. uma inveno do campo da ptica que possibilita a projeo e a
reproduo da imagem atravs de um pequeno orifcio feito em uma caixa escura.
Este pequeno orifcio permite a passagem da luz, que projeta a imagem na parede
de trs da caixa. Quanto menor a abertura para a passagem da luz, mais definida
fica a imagem, que sempre aparece de cabea para baixo, a menos que seja feito
um jogo de espelhos.
A cmera obscura utilizada sistematicamente por pintores da poca do
Renascimento como forma de reproduzir, o mais fielmente possvel, o mundo
exterior. Um modelo cientfico de interpretao da realidade, que substitui a mo
humana pela mquina em busca de um realismo absoluto.
71
Dito de outro modo, a mquina utilizada para captar a imagem, sem a
mediao da mo humana, uma vez que esta subjetiva e a pintura envolve, por
conseguinte, a subjetividade.
No caso da pintura subjetiva e imaginada uma pergunta pode ser feita: o
que vejo realmente existiu? Segundo Barthes, este o efeito verdadeiramente
escandaloso da fotografia, o de atestar que o que vejo de fato existiu (BARTHES,
1984, p. 123). Na Fotografia jamais posso negar que a coisa esteve l. H dupla
posio conjunta: de realidade e de passado (BARTHES, 1984, p. 115). Assim,
segundo ele, a fotografia atesta que o referente existiu realmente para a cmera em
determinado momento, por isso realidade e passado.
Outra caracterstca da fotografia diz respeito ao acaso. Como a fotografia
capta tudo o que esteve diante da cmera no momento em que o disparador
acionado, podem aparecer elementos no desejados na cena fotografada. J na
escultura e na pintura, este fenmeno no ocorre. Isto porque o olhar intensional,
seletivo e direcionado e a reproduo em obra de arte tambm intensional e
seletiva, pois contm a subjetividade humana.
Este acaso, Barthes denomina de punctum, e assim ele o explica: trata-se
de uma copresena, tudo o que se pode dizer: as freiras estavam l, passando
no fundo, quando Wessing fotografou os soldados nicaraguenses; (...) toda uma
causalidade explica a presena do detalhe (BARTHES, 1984, p. 68).
72
Koen Wessing: Nicargua, O exrcito em patrulha nas ruas, 1979.
(BARTHES, 1984, p. 41)
H tambm na fotografia a perspectiva
44
, que funciona como um tradutor do
tridimensional em bidimensional. a perspectiva que permite a representao do
mundo (tridimensional) em uma superfcie plana (bidimensional). A imagem
fotogrfica, os desenhos, as pinturas e gravuras so bidimensionais e o que se v
na imagem so duas dimenses perspectivadas.
A respeito da fotografia, h duas concepes que a leem de maneira
distinta. A primeira, realista, cuja mquina reproduz o mundo e registra emanaes
independente da mo humana; e a segunda, cujas fotografias so apreendidas
como convenes, no relacionadas com o mundo real.
As convenes so regras aceitas socialmente sobre a linguagem
fotogrfica e sua aplicao no cabe ao mundo real, visto que o mundo no
perspectivado, no possui ponto de fuga, nem enquadre: convenes do cdigo
fotogrfico.
O ponto comum entre estas duas posies que a fotografia representa um
momento que existiu verdadeiramente na frente da cmera.
44
ponto de vista a partir do qual a imagem captada.
73
Para abordar a temtica Fotografia e Histria Oral, tem-se como referncia
autores como Frisch, Rouverol e Mauad, que abordam a relao entre palavras e
imagens, texto e foto, ao relatarem suas experincias no trabalho com Histria Oral.
A proposta de unir estes temas pauta-se nos significados e na memria,
categorias relacionadas tanto Histria Oral, quanto Fotografia.
Em Histria Oral, os significados so entendidos como a forma como os
sujeitos pensam, interpretam e vivenciam suas experincias. Segundo Portelli (1997,
p. 31):
A primeira coisa que torna a histria oral diferente, portanto, aquela que
nos conta menos sobre eventos que sobre significados. (...) Fontes orais
contam-nos no apenas o que o povo fez, mas o que queria fazer, o que
acreditava estar fazendo e o que agora pensa que fez.
Ou seja, os significados atribudos s experincias vivenciadas. J na
fotografia, o significado est no ato de fotografar.
Fotografar recortar algo que significante, que faz sentido para quem
fotografa. Um enquadramento da realidade que explicita a subjetividade do
fotgrafo.
O que importa e o que no importa fotografar so decises que quem
fotografa deve tomar e essas decises podem alterar o discurso fotogrfico.
Com relao memria, Portelli (1997b, p. 16) afirma que a centralidade do
sujeito
salientada pelo fato da Histria Oral dizer respeito a verses do passado, ou
seja, memria. Ainda que esta seja sempre moldada de diversas formas
pelo meio social, em ltima anlise, o ato e a arte de lembrar jamais deixam
de ser profundamente pessoais. (...) Se considerarmos a memria um
processo, e no um depsito de dados, poderemos constatar que,
semelhana da linguagem, a memria social, tornando-se concreta
apenas quando mentalizada ou verbalizada pelas pessoas. (...) Em vista
disso, as recordaes podem ser semelhantes, contraditrias ou
sobrepostas. Porm, em hiptese alguma, as lembranas de duas pessoas
so assim como as impresses digitais, ou, bem da verdade, como as
vozes exatamente iguais.
Portelli (1997, p.31), diz que: o nico e precioso elemento que as fontes
orais tm sobre o historiador, e que nenhuma outra fonte possui em medida igual,
a subjetividade do expositor.
A Histria Oral pressupe, portanto, a subjetividade de quem narra, assim
como a fotografia pressupe a subjetividade de quem fotografa, ao escolher o que
fotografar e recortar a realidade a ser fotografada.
74
Para a Histria Oral, a fotografia tida como um recurso da memria e fonte
de documentao. Recurso da memria por evocar lembranas do passado: o
instante ou o ser fotografado recuperados pela memria. As imagens remetem ao
momento vivido, a um perodo histrico e aos acontecimentos, aos quais os sujeitos
atribuem significados.
Fonte de documentao, pela fotografia apresentar algo passado, que
verdadeiramente existiu na frente da cmera.
Segundo Mauad (2000, p. 200), Histria Oral e fotografia so formas
distintas de registrar e ao mesmo tempo (re)apresentar a realidade histrica e vivida.
Dois sistemas de signos que se entrecruzam na composio da textualidade de uma
poca.
Ainda segundo a autora, a
possibilidade de uma narrativa compartilhada, palavras e imagens
engendrando histrias de vida, associadas a problemticas complexas, cuja
anlise do local desvenda o global, numa dialtica onde global e local
interagem na composio dos quadros de compreenso de problemticas
sociais prprias contemporaneidade.
Khoury (1995, p. 82), afirma que:
as conceituaes sobre as fontes e sobre o que seja documento histrico
foram alargadas e j deixamos de lado a antiga concepo de pensar no
texto escrito como nico recurso digno da ateno dos historiadores. Hoje j
se valorizam as canes, as poesias, as festas, os cantos populares, tudo
transmitido atravs da tradio oral e tambm, por que no, os desenhos,
as pinturas, as fotografias, etc.
Trabalhar com fotografia e Histria Oral foi, portanto, uma maneira de
conhecer a histria de vida e o cotidiano dos sujeitos, por meio no apenas das
narrativas, mas tambm pelas escolhas visuais para represent-las.
3.3 A centralidade dos sujeitos na pesquisa
A possibilidade de conhecer pessoas, trabalhos e experincias em relao
democratizao da sade mental, instigou a pesquisadora a enveredar pelo caminho
da pesquisa. a partir da vivncia com as questes prticas da Reforma
Psiquitrica, no cotidiano do trabalho em CAPS com sujeitos em sofrimento uico,
que se gesta esta pesquisa.
75
Segundo Minayo
45
(2007, p. 16), as questes da investigao esto,
portanto, relacionadas a interesses e circunstncias socialmente condicionadas. So
frutos de determinada insero na vida real, nela encontrando suas razes e seus
objetivos.
A definio do CAPS como locus da pesquisa est pautada na aproximao
com os sujeitos, em decorrncia da ao profissional como assistente social na
instituio, dos vnculos estabelecidos com usurios, familiares e equipe de trabalho,
elementos tidos como facilitadores da entrada no campo e requisitos na pesquisa
qualitativa.
A pesquisa qualitativa se faz com a presena de sujeitos, requer contato e
aproximao entre os participantes. Para Martinelli (1999, p. 22), se a pesquisa
pretende ser qualitativa e pretende conhecer o sujeito, precisa ir exatamente ao
sujeito, ao contexto em que vive sua vida.
Segundo a autora, um elemento fundamentalmente importante neste tipo de
pesquisa o contato direto com o sujeito da pesquisa, que atribui significados s
suas experincias de vida.
Na verdade, essa pesquisa tem por objetivo trazer tona o que os
participantes pensam a respeito do que est sendo pesquisado, no s a
minha viso de pesquisador em relao ao problema, mas tambm o que
o sujeito tem a me dizer a respeito. Parte-se de uma perspectiva muito
valiosa, porque medida que se quer localizar a percepo dos sujeitos,
torna-se indispensvel e este um outro elemento muito importante o
contato direto com o sujeito da pesquisa. Trata-se, portanto, de uma
outra ambincia, onde vamos privilegiar instrumentos que superam o
questionrio, o formulrio e que vo incidir mais na narrativa oral, na
oralidade. Se queremos conhecer modos de vida, temos que conhecer
pessoas (MARTINELLI
46
, 1999, p. 21-22, grifo do autor).
45
DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu; MINAYO, Maria Ceclia de Souza (Org.). Pesquisa
social: teoria, mtodo e criatividade. 25. ed. Petrpolis: Vozes, 2007.
46
MARTINELLI, Maria Lcia. O uso de abordagens qualitativas na pesquisa em servio social.
MARTINELLI, Maria Lcia (Org.). Pesquisa qualitativa: um instigante desafio. So Paulo: Veras
Editora, 1999.
76
QUARTO CAPTULO
77
4. A PESQUISA
4.1 O Comit de tica em Pesquisa
O projeto de pesquisa, do qual se origina esta dissertao, foi submetido ao
Comit de tica em Pesquisa da Universidade de Taubat, sendo aprovado pela
declarao n. 021/09. Tendo em vista o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, houve a necessidade de, junto ao Comit, justificar as condies dos
sujeitos de manifestarem sua vontade ou sua representao legal para tanto.
Desta necessidade formula-se a resposta de que os sujeitos participantes da
pesquisa possuem condies de manifestao de sua vontade. So sujeitos que se
encontram em pleno gozo de seus direitos civis, previstos em legislao vigente.
Apresentar-se em sofrimento psquico no os impede de expressar sua opinio, bem
como de exercer seus direitos civis, sendo esta a grande questo dos Movimentos
de Reforma Psiquitrica e da Luta Antimanicomial.
Como critrios para participao na pesquisa encontram-se: interesse e
disponibilidade em participar, riqueza de contedo vivencial, vnculo com a
pesquisadora e estar em condies e desejar falar sobre suas experincias.
As famlias dos sujeitos acompanharam ativamente a realizao do projeto
de interveno Autorretrato da Loucura no Centro de Ateno Psicossocial de
Pindamonhangaba e foram convidadas a assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
4.2 O CAPS Pindamonhangaba como locus da pesquisa: a caracterizao
do cenrio.
Pindamonhangaba
47
um municpio localizado no Vale do Paraba, interior
do estado de So Paulo, cujo principal acesso se d pela Rodovia Presidente Dutra,
47
O nome de cidade deriva do tupi pind-monhang-aba, que significa lugar de fazer anzis (pind)
anzol, (monhang) de fazer, (aba) lugar ou como alguns consideram, "lugar onde o rio faz a curva",
devido ao curso do rio Paraba do Sul ao passar pelo Bosque da Princesa, onde se acredita ter
havido uma fbrica de anzis.
78
quilmetro 99. Tem uma populao estimada em 144.613 habitantes, segundo
informao do senso 2006
48
, numa rea de 730,17 km
2
.
O Centro de Ateno Psicossocial de Pindamonhangaba um servio de
ateno em Sade Mental que faz parte de uma Poltica Nacional de
desinstitucionalizao e desospitalizao de usurios em Sade Mental. Foi criado
no ano de 2005 e credenciado como CAPS II em julho do mesmo ano, junto ao
Ministrio da Sade.
O primeiro registro de usurio no servio de 25 de julho de 2005 e o ltimo,
para fins desta pesquisa, de 29 de outubro de 2008.
Nestes trs anos e quatro meses de servio, foram cadastrados 274
usurios, dos quais 145 so do sexo feminino e 129 so do sexo masculino.
Sexo
Feminino 145 53%
Masculino 129 47%
Total 274 100%
48
Fonte: IBGE.
79
Do total dos 274 usurios cadastrados, encontra-se a seguinte situao de
atendimento:
Situao de atendimento
Abandono do tratamento 34 12%
Alta 4 1%
Ambulatrio 73 27%
Atendimento particular 3 1%
Detido 1 0%
Internados 4 1%
bito 11 4%
Atendidos pelo Programa de Sade da Famlia 15 6%
Transferidos 21 8%
Intensivos 16 6%
Semi-intensivos 57 21%
No-intensivos 35 13%
Total 274 100%
O CAPS tem desenvolvido as seguintes atividades:
1. Matriciamento dos casos encaminhados/acompanhados pelas equipes do
Programa de Sade da Famlia PSF
49
;
2. Dispensao de medicao de alto custo e medicaes de depsito do
ambulatrio;
49
Segundo o documento Sade Mental no SUS: os centros de ateno psicossocial, de 2004, o
Apoio Matricial em Sade Mental s Equipes da Ateno Bsica se constitui num arranjo
organizacional que visa oferecer suporte tcnico s equipes da ateno bsica. Nesse arranjo, as
equipes compartilham saberes sobre casos comuns. Esse compartilhamento se produz em forma de
corresponsabilizao pelos casos, o que pode se efetivar atravs de discusses conjuntas de caso,
intervenes conjuntas. A responsabilizao compartilhada dos casos exclui a lgica do
encaminhamento, pois visa aumentar a capacidade resolutiva de problemas de sade pela equipe
local (BRASIL, 2004, p. 86). No caso da Sade Mental, esta uma estratgia que auxilia a
comunicao entre os servios da rede de sade, algo que se d por meio do suporte tcnico
especializado, em que conhecimentos e aes na rea de sade mental so socializados aos demais
profissionais da rea de sade, na composio de um espao de troca de saberes, invenes e
experimentaes que auxiliam a equipe a ampliar sua clnica e sua escuta, a acolher as demandas de
sofrimento psquico. O objetivo do matriciamento garantir que as equipes possam oferecer
atendimento qualificado aos usurios e se responsabilizem pelas aes desencadeadas no processo
de assistncia, garantindo a integralidade da ateno em todo o sistema de sade.
80
3. Busca ativa dos casos de abandono;
4. Visitas domiciliares;
5. Atendimento famlia;
6. Atendimento de coordenao de perodo: demanda espontnea e
encaminhamentos de demais servios da rede.
De todos estes atendimentos realizados, optou-se por levantar os casos
registrados em Autorizao de Procedimento de Alto Custo/Complexidade
APAC
50
, que poca da pesquisa eram 108 pacientes registrados nas modalidades:
intensivos, semi-intensivos e no-intensivos
51
.
Modalidade de atendimento
Intensivo 16 15%
Semi-intensivo 57 53%
No-intensivo 35 32%
Total 108 100%
Dos 108 pacientes registrados, 55 so do sexo feminino e 53 do sexo
masculino.
Sexo
50
Autorizao de Procedimento de Alto Custo/Complexidade APAC um sistema que tem por
objetivo cadastrar pacientes, coletar informaes gerenciais e de cobrana dos procedimentos e
medicamentos realizados/ministrados. O preenchimento das APACs de responsabilidade das
Unidades Prestadoras de Servios.
51
A proposta de atendimento em CAPS varia entre as modalidades: Intensivo, Semi-Intensivo e No-
Intensivo. O Atendimento Intensivo o atendimento dirio, oferecido quando a pessoa se encontra
em situao de crise ou dificuldades intensas no convvio social e familiar, precisando de ateno
contnua. Atendimento Semi-Intensivo: nessa modalidade de atendimento, o usurio pode ser
atendido at 12 dias no ms. Essa modalidade oferecida quando o sofrimento e a desestruturao
psquica da pessoa diminuram, melhorando as possibilidades de relacionamento, mas a pessoa
ainda necessita de ateno direta da equipe para se estruturar e recuperar sua autonomia. O
Atendimento No-Intensivo oferecido quando a pessoa no precisa de suporte contnuo da equipe
para viver em seu territrio e realizar suas atividades na famlia e/ou no trabalho, podendo ser
atendida at trs dias no ms. Todas estas modalidades podem ser domiciliares, se necessrio
(BRASIL, 2004, p. 16).
Feminino 55 51%
Masculino 53 49%
Total 108 100%
81
A faixa etria destes pacientes encontra-se na tabela e grfico abaixo:
Faixa etria
De 15 a 20 anos 4 4%
De 21 a 25 anos 11 10%
De 26 a 30 anos 16 15%
De 31 a 35 anos 10 9%
De 36 a 40 anos 11 10%
De 41 a 45 anos 21 19%
De 46 a 50 anos 14 13%
De 51 a 55 anos 15 14%
De 56 a 60 anos 3 3%
De 61 a 65 anos 1 1%
De 66 a 70 anos 2 2%
Total 108 100%
A escolaridade encontra-se registrada a seguir:
Escolaridade
Analfabeto 1 1%
APAE 1 1%
Ensino Fundamental (no especificado
se completo ou incompleto)
3 3%
Ensino Fundamental Incompleto 41 38%
Ensino Fundamental Completo 11 10%
Ensino Mdio (no especificado se
completo ou incompleto)
3 3%
Ensino Mdio Incompleto 17 16%
Ensino Mdio Completo 14 13%
Ensino Superior (no especificado se
completo ou incompleto)
2 2%
Ensino Superior Completo 3 3%
82
Ensino Superior Incompleto 6 5%
No consta 6 5%
Total 108 100%
Quanto a estado civil, encontra-se:
Estado Civil
Solteiro 62 57%
Amasiado 3 3%
Casado 27 25%
Separado 7 6%
Divorciado 6 6%
Vivo 2 2%
No consta 1 1%
Total 108 100%
Estes usurios residem nos seguintes bairros:
Bairro
Alto do Cardoso 3
Alto do Taba 2
Araretama 9
Bela Vista 1
Beta 2
Boa Vista 2
Bosque 1
Campinas 1
Campo Alegre 2
Campos Maia 1
Castolira 3
Centro 5
Ccero Prado 1
83
Cidade Jardim 2
Cidade Nova 3
Crispim 5
Feital 5
Galega 3
Goiabal 1
Haras Paulista 1
Ip I 4
Ip II 5
Jardim Bela Vista 1
Jardim Carlota 2
Jardim Resende 5
Jardim Helona 2
Jardim Morumbi 1
Loteamento Assuno 1
Lago Azul 1
Mantiqueira 2
Maria urea 2
Maric 1
Mombaa 3
Moreira Csar 2
Nova Esperana 1
Parque So Domingos 2
Pasin 2
Quadra Coberta 1
Santa Ceclia 1
Santana 1
So Benedito 2
Shangril 1
Santa Luzia 1
Taipas 1
Vale das Accias 1
84
Vila Boughese 1
Vila Prado 1
Vila Rica 1
Vila So Benedito 2
Vila So Jos 3
Vila Verde 1
Total 108
85
Quanto profisso e vnculo empregatcio, encontra-se:
Profisso/Vnculo empregatcio
Ajudante 1
Ajudante geral 3
Aposentado 16
Atendente 1
Autnomo 2
Auxiliar de limpeza 1
Cabeleireiro 1
Contador 1
Desempregado 23
Diaristas 3
Do lar 27
Domstica 1
Engenheiro 2
Estagirio 1
Estudante 4
Funcionrio pblico 1
Militar 1
No consta 8
Pedagoga 1
Pensionista 5
Professora 1
Promotor de vendas 1
Segurana 1
Vigilante 1
Web designer 1
Total 108
Cabe dizer que profisso e vnculo empregatcio no foram diferenciados no
registro dos usurios.
86
Segundo informaes de renda, tem-se:
Renda
At 1 salrio mnimo 31 29%
1 salrio mnimo 6 6%
De 1 a 2 salrios mnimos 26 24%
Acima de 2 salrios mnimos 27 25%
Dependente (penso do pai ou da me) 2 2%
Pensionista 3 3%
Sem renda 6 6%
No consta 7 6%
Total 108 100%
Sobre co-habitantes na residncia, registra-se
Co-habitantes na residncia
Moram sozinhos 10 9%
2 pessoas 25 23%
3 pessoas 36 33%
4 pessoas 22 20%
5 pessoas 7 7%
6 pessoas 4 4%
7 pessoas 1 1%
9 pessoas 1 1%
No consta 2 2%
Total 108 100%
87
Os usurios atendidos no CAPS foram encaminhados pelos seguintes
servios:
Fonte de encaminhamento
Ambulatrio de Sade Mental (outros municpios) 3
Ambulatrio de Sade Mental de Pindamonhangaba 61
Avape
52
1
Outros CAPS 1
Centro de Sade 1
Cisas 1
Centro de Referncia em Assistncia Social 1
Delegacia de Defesa da Mulher 1
Demanda espontnea 7
Atendimento particular 5
Famlia 1
Pronto-Socorro 14
PSF 3
Quartel Militar 1
Santa Casa 1
Unidade Mista de Moreira Csar 6
Total 108
Quanto ao incio de atendimento, registra-se que os maiores ndices de
cadastro se deram nos anos iniciais do servio.
Incio de atendimento no CAPS
2005 38 45%
2006 27 32%
2007 19 22%
2008 24 1%
Total 108 100%
52
88
4.3 Ponto de partida: o projeto de interveno Autorretrado da Loucura
53
A construo desta dissertao est diretamente ligada prtica profissional
no campo da Sade Mental. Parte da experincia como assistente social no Centro
de Ateno Psicossocial de Pindamonhangaba, SP, tendo como base o projeto de
interveno denominado Autorretrato da Loucura.
O projeto foi desenvolvido por profissionais das reas de Psicologia, Servio
Social e Terapia Ocupacional, ao atuarem conjuntamente neste servio, tinham
como proposta a utilizao de recursos artsticos e culturais como forma de
conhecer e trabalhar as histrias de vida dos usurios do servio de Sade Mental.
O grupo se reuniu em vinte encontros, ocorridos duas vezes por semana, de
agosto a outubro de 2008, sendo cada um deles registrado por meio de fotografias e
gravado em udio digital, cujo contedo constitui o material de anlise desta
pesquisa.
Participaram do grupo nove usurios matriculados no servio, cujos critrios
de participao foram: Interesse e disponibilidade em participar; riqueza de contedo
vivencial e vnculo com as profissionais.
Os encontros tiveram como temas sugeridos pelas profissionais:
1. Apresentao e trabalho com imagens;
2. A imagem que tenho do CAPS;
3. Aproximao e entrosamento;
4. Psicodrama da foto;
53
Placa feita pelos usurios participantes do grupo.
89
5. Self Box;
6. Trajetria de vida;
7. Fotografe sua vida;
8. Fotografe a loucura;
9. Dinmica com espelhos;
10. Porta-retrato;
11. Confeco dos lbuns;
12. Calendrio;
13. Apresentao final.
Todos estes encontros geraram um contedo de cerca de vinte horas de
gravao e cento e trinta e trs fotografias produzidas pelos usurios a respeito do
cotidiano e do significado, para eles, de loucura, sendo autorizado o uso deste
material pelos sujeitos na pesquisa por meio de termo de consentimento livre e
esclarecido.
Os recursos materiais necessrios para a elaborao deste projeto foram
provenientes da Bolsa de Estudos concedida pelo CNPq pesquisadora.
4.4 A narrativa dos sujeitos.
Sobre a caracterizao dos sujeitos, encontra-se:
Nome Idade
Estado
Civil
Escolaridade Profisso
Incio do
atendimento
no CAPS
Fonte de
Encaminhamento
Camila 32 anos solteira
ensino mdio
completo
do lar 22/08/2005 ambulatrio
Cristina 54 anos viva
ensino mdio
completo
no consta 04/07/2006 ambulatrio
Marley 38 anos separada
ensino superior
completo
pedagoga 11/03/2008 Pronto Socorro
Elizabete 47 anos casada
ensino
fundamental
do lar 08/08/2005
Ambulatrio
Zinete 54 anos divorciada
ensino
fundamental
incompleto
do lar 27/03/2006 ambulatrio
90
A. Apresentao
Vamos s apresentaes aqui da gente e do objetivo do nosso trabalho.
Meu nome Maira, sou assistente social, trabalhei aqui h algum tempo atrs, estou
voltando agora para fazer esse trabalho com vocs.
Meu nome Marley, estou aqui h dois meses.
Sou a Thatiane (psicloga), a maioria me chama de Thati. Assim como a
Maira tambm trabalhei aqui h um tempo atrs. Estou muito contente de ter
voltado, de ver vocs, matar a saudade.
Para quem no me conhece todo mundo me conhece, mas tudo bem eu
sou o Gasto, paciente do CAPS, tenho psicose esquizofrnica e distrbio bipolar,
entendeu? Me trato aqui h trs anos e atualmente meu estado psquico est legal.
Na parte psiquitrica eu estou bem. s isso.
Eu sou o Paulo, estou aqui h trs meses. Tenho F. 20. esquizofrnico. E
estou gostando do CAPS. O CAPS renovou a minha vida. Depois da ltima crise que
tive, estava meio ruinzo. Minha vida hoje CAPS e casa. (...) estou me
recuperando.
Hidehume, paciente daqui. Ela eu conheo, a Maira, a Thatiane e sou
depressivo. Bipolar, depressivo. S isso.
Paulo 51 anos solteiro
superior
incompleto
desempregada 14/03/2007 CISAS
Gasto 44 anos casado
ensino mdio
incompleto
Militar 10/10/2005 ambulatrio
Hidehume 57 anos separado
ensino mdio
completo
desempregado 07/04/2006 Unidade Mista
Jos 56 anos solteiro
ensino
fundamental
incompleto
aposentado 16/09/2005 ambulatrio
91
Meu nome Camila, tenho esquizofrenia. Estou no CAPS h trs anos. S.
Chique, bem, maravilhosa! Eu sou a Bete. Nem sei... Me trato no CAPS
desde quando ele foi lanado. Tenho depresso e transtorno bipolar. Aqui minha
segunda casa. Quando no tem aqui para mim, a minha vida se torna um fracasso.
Agora que as minhas amiguinhas voltaram, eu estou melhor no trabalho, no
desfazendo das minhas presentes amigas que eu amo, exceto alguns.
Sou muito mal criada, sou muito respondona quando me tira do srio, fora
(isso) eu sou boazinha. E quando mexe com as minhas crias tambm. A, pelo amor
de Deus, eu rodo a baiana mesmo! Nossa senhora dAparecida! Tenho que resolver
isso, seno eu no vou ter paz.
Bom, meu nome Maria Cristina Pereira dos Santos Morgado Sales, sou
uma poetisa, a poetisa do centro e estou no CAPS h quase quatro anos, desde que
foi lanado o CAPS. Minha doena transtorno bipolar. Essa doena faz uma
baguna danada. Quando a gente est bem, tudo be,m toma os remedinhos
direitinho, porque seno tomar o remedinho a gente faz strip tease. A gente entra em
bar e briga com o dono, vira as cadeiras para cima, pinta e borda. Mas agora estou
muito bem e feliz tambm pela volta das minhas amiguinhas Maira e Thati.
Meu nome Jos dos Santos, eu estou no CAPS h trs anos. L no stio
(clnica) (...) meu irmo deu trs salrio mnimo e no resolveu nada. Meu irmo deu
um cheque para eles de trinta e trs, trinta e cinco reais porque queria sair de l. A
sa. Minha casa estava (roubada) estou comprando tudo novamente. O que tinha l,
tinha tudo ido embora. Eu gosto muito do CAPS. No CAPS eu me sinto bem. E acho
que trabalho no estou dando para vocs. Se eu estiver dando trabalho para vocs
me diga.
Eu sou a Vanessa, trabalho aqui h trs anos, desde quando surgiu o CAPS.
Sou T.O. (Terapeuta Ocupacional).
Eu sou a Mariana, estagiria de Psicologia. Estou aqui desde janeiro do ano
passado e vim aqui para ajudar as meninas no projeto.
92
Neste primeiro encontro, a proposta do projeto foi apresentada juntamente
com o cronograma. Na sequncia, foi solicitado apenas que os sujeitos se
apresentassem e, no entanto, eles se apresentam com nome, diagnstico e h
quanto tempo fazem tratamento no CAPS.
O diagnstico acaba por fazer parte da identidade dos sujeitos da maneira
como se apresentam. Contedo este que se relaciona histria do tratamento
destinado aos sujeitos em sofrimento psquico, do olhar para a doena e no para o
sujeito, do quanto que os sujeitos ficam impregnados por um diagnstico.
O tempo em que esto matriculados no CAPS varia de acordo com a data
de suas matrculas, e isso se relaciona ao incio da implantao do servio em 2005.
A maioria dos usurios passa a ser acompanhado no CAPS aps sua abertura,
deixando o tratamento no Ambulatrio de Especialidades do Municpio, ou
recebendo um tratamento diferenciado das internaes em hospitais psiquitricos.
B. A imagem que tenho do Centro de Ateno Psicossocial de
Pindamonhangaba
o sol iluminando o CAPS, o sol da minha vida! Gasto
A atividade proposta buscava conhecer a definio dos sujeitos para o
CAPS a partir de desenhos.
o sol iluminando o CAPS, o sol da minha vida! Depois que comecei aqui,
j faz 3 anos, eu continuo (...), quando percebo que vou entrar em crise eu j venho
aqui e j falo: , t entrando em crise! A eles vo dando a medicao, (...)
entendeu? Ento o CAPS muito til, risos... Gasto
Meu desenho so duas pessoas de mo dadas. Repete o que ta aqui em
baixo: a amizade que ganhei representa o CAPS pra mim. Amizade, ocupao,
recuperao e reintegrao social. E depois da ltima crise minha eu no saia nem
de casa, n? Ento, comecei a reviver, frequentar o CAPS, fazer novos amigos. Aqui
tem ocupao, porque no fazia nada o dia inteiro em casa e aqui tem atividade, n?
Comecei a me recuperar e melhorei bastante, consegui me reintegrar socialmente
93
tambm. Porque no tava com vontade de nada, no tava com vontade de viver.
Ento, aos pouquinho estou melhorando. Paulo
Eu tinha crise antes de vir para o CAPS e agora sumiu tudo a minha crise!
Em vista do que estava antes, eu melhorei. Este aqui o meu CAPS, meu refgio, a
minha paz. aonde eu encontro a minha tranquilidade. (...) ele se torna pra mim o
meu refgio, aonde eu posso me apoiar, me afirmar.
Eu gosto dos dias de semana porque eu tenho o CAPS. Esses feriados que
teve a, pelo amor de Deus! Eu falei: Meu Deus, o que vai ser da minha vida? Me d
foras... horrvel fim de semana sem o CAPS pra apoiar a gente, mas claro que
vocs precisam descansar, porque seno... Bete
Aqui o CAPS, aonde as pessoas (esto) reunidas. Aqui t o meu amigo...
Uma repartio da casa. Aqui aonde eu encontro a alegria, paz, como se fosse o
CAPS. Zinete
Eu desenhei uma casa porque pra mim o CAPS minha segunda casa.
aqui que estou me recuperando e duas pessoas de braos abertos. Foi aqui que
encontrei pessoas, profissionais competentes pra me ajudar a vencer a minha
doena. Marley
O CAPS pra mim, como se diz na viso de poetisa, Carinho, Ateno,
Pureza e Solidariedade. Graas a isso, no tenho mais aquele lance de ficar
internada, de estar no manicmio de novo, sofrendo. Cristina
Estou muito contente aqui com o CAPS porque todos os hospital que
estava, no tinha essa regalia. Estou muito feliz e muito obrigado a vocs do CAPS,
se no fossem vocs, eu nem sei o que seria de mim. Jos
94
C. As fotografias: a experincia de fotografar, o cotidiano e a loucura.
Ela mostra como a vida da gente . Essas fotos que ns
tiramos mostra como a gente vive, hbitos, costumes, como a
vida da gente !
Paulo
Aqui a minha paixo, meu gatinho. Essa daqui sou eu com o Dzinho no
colo! Ele muito meu amiguinho! Aqui a paixo da minha vida, todos vocs, olha!
Aqui a panterinha. Aqui a gente reunido, e aqui duas que considero duas
irms, a Tathi e a Maira. Eu vou bater ainda uma minha junto com voc (Mariana) e
a Vanessa! Essa daqui a menininha (Virgnia), vizinha l perto de casa, ela vem e
fala: Oi titia Cris!, tem trs aninhos... esperta! Aqui ela no colo do pai dela, olha!
E pronto... essas foram as fotos que bati! Mas eu ainda vou bater da turma do posto
de sade! Deixa s eu comprar o filme... Cristina
Quem mais quer falar das fotos? Maira
Eu! Bom, achei que tinha que descrever o que a loucura pra mim! Achei
que ia ser dificlimo, mas no foi. Difcil foi bater do meu cotidiano. A primeira foto,
esse moo aqui... por que eu tive duas doenas, n? Tive um AVC e fiquei
praticamente um ano sem andar, e depois tive o surto psictico. Ento as minhas
duas filhas, uma criada pela minha me e outra pela minha sogra. E esse meu
ex-cunhado. Eu falo que ele louco por causa da minha filha, a de dois anos. Ele
tem verdadeira loucura por essa menina! Ele a vigia dormindo, anda atrs dela a
todo momento, tem verdadeira loucura! Ento, acho que pra mim a loucura o
amor... um tipo de loucura o amor que ele tem pela minha filha! No tem que no
tenha, porque eu tambm tenho (loucura) por ela, n? Ela muito cativante!
Aqui, eu estou morando com a minha me depois do surto. Aqui meu
quarto. Aqui a porta da escola da minha filha porque todo dia depois que eu saio
do CAPS, ns vamos buscar a minha filha no przinho! O meu cotidiano buscar a
Maria Cndida, a mais velha, no przinho. Aqui uma foto, que a gente passa perto
do cemitrio porque a escola l perto e t a uma loucura! Porque se a loucura no
95
for tratada vai acabar no cemitrio, de qualquer forma. Ento, por isso tirei a foto do
cemitrio! Aqui outra da loucura... Esse o pai da minha filha mais velha. Ele ficou
quatro anos sem querer saber da menina, falava que no era filha dele, encontrava
na rua e passava perto, mas nem olhava, num era filha dele... A um dia ele me ligou
e falou que queria fazer o DNA. A eu fiz o DNA e deu que a filha era dele. At hoje
ele no registrou a menina! Ento, eu acho que um tipo de loucura, porque se a
sua dvida se a filha sua e depois que voc tem certeza, voc no registra, por
qu?Ento voc est com um tipo de loucura, porque voc sabendo que a filha
sua e voc no quer assumir? Eu acho uma loucura isso! Porque todo direito de
uma criana ter o nome do pai na certido de nascimento, do pai e da me, n?
Marley
Maira: voc me mostrou essa da da grade, tem uma explicao! No tem?
Tem! Essa daqui a foto da casa da vizinha da minha me. todinha
cercada por cerca eltrica, fora os trs cachorros... Eu sei quem , mas no vejo a
cara desse pessoal h muitos anos. Eles morrem de medo de serem assaltados!
Ento um tipo de loucura, voc est louco porque voc quer viver sobre grade,
sobre proteo...
Esse do meu cotidiano (mostrando outra foto). No meu esse cachorro,
do meu pai, mas ele um saco! do meu cotidiano sabe porqu? Porque no
posso deixar nenhuma porta aberta! Ele saidinho, tem catarata nos dois olhos,
mas enxerga muito bem, sabe? Risos... Eu tenho que me policiar o tempo inteiro
porque se voc deixar, ele vai e faz xixi! de sacanagem! Risos... Ento, ele um
cachorro do meu cotidiano. Vivo levando bronca por causa desse cachorro, porque
esqueo a porta aberta! Risos... Ento, o Bob do meu cotidiano, eu que dei o
cachorro para o meu pai! Risos...
Essa janela aqui (foto) tem uma explicao muito sria. a janela da
cozinha da minha me... do meu cotidiano! o lugar que mais fico em casa,
lavando loua, limpando... Eu falo que vejo o mundo dessa janela porque ela no me
deixa sair. meu cotidiano!
Aqui, o retrato da loucura, o escritrio do meu pai. Foi aonde comeou a
minha loucura, aonde comecei a ter os sintomas do meu surto psictico. Esse meu
pai e o advogado, so do meu cotidiano! Marley.
96
Sa do CAPS, peguei o nibus, cheguei em casa, entrei pela sala, passei
pelo corredor e fui cozinha. Abri a porta da cozinha, tirei a minha sogra do quarto,
coloquei no banho, esquentei a comida dela. Aqui ela ta almoando, ela come bem!
Aqui estou dando a comida pra ela e olha as colheradas! E isso me deixa
estressada! Eu falo que no assim, pouquinha comida, devagar e ela no! Ela
vai igual a uma arara! Isso j me deixa louca!
A ela termina, mudo de roupa e deito um pouco. A vou deitar at o
medicamento passar. Aqui meu filho que ta se preparando pra ir pro SENAI...
Depois comeo a ajeitar um pouco as bagunas, que ta tudo bagunado... Vou
ajeitar o quarto dele, o meu quarto, a cozinha. Pronto ta tudo arrumado! Aqui acabei,
deitei de novo e fui pra frente da televiso ver a novela. Aqui a hora que ele est
chegando do SENAI. Foi nessa hora que ele chegou do colgio, falei: Vladimir,
preciso bater umas fotos da loucura e eu sozinha no consigo bater. Ele falou: me
o que a senhora quer que eu faa? Falei que ia fazer o que fao sempre, que
puxar o cabelo quando to com raiva. Aqui sou eu puxando o cabelo mesmo, no
s pra bater a foto no!
Maira: Mas voc estava com raiva quando tirou a foto?
No! Mas quando estou com raiva, a eu puxo mesmo! E tem outra, falei que
rasgava cem reais e no tenho cem reais, ento vou rasgar esses vinte conto... A
eu vou ser meio doida, mas eu falei eu vou rasgar. Bate a foto que eu vou rasgar,
a rasguei s no meio! Conforme eu puxei, ele bateu, a rasgou no meio. Mas eu
colei porque eu no sou doida, nada! Risos... aqui eu estou me preparando pra dar a
janta que estava na hora deles chegarem do trabalho, do curso...
Aqui a nica amiga que eu tenho, essa a nica que eu tenho, o dia
inteiro est l em casa... Porque eu fico sozinha, s eu e a velha! Ento ela vai l
saber como que eu estou, se eu estou caindo de sono e eu no consigo acordar,
ela j fica preocupada, que eu j tomei medicamento errado, entende? Ela entra em
desespero sempre que eu demoro pra acordar! E essa daqui onde que traz as
minhas trs felicidades, que so os trs! Entendeu? O primeirinho o que Deus
levou quando eles eram todos crianas, esse aqui no colgio, esse o que est
fazendo SENAI e esse o que foi fotografado, a vitima! Risos... Bete.
97
Esse daqui agora no inverno eu no vou muito! Eu moro perto do bosque,
n? O Boque da Princesa! Eu passeio muito l! s vezes tem eventos e eu
frequento os eventos. Fizeram academia de ginstica l, como tem na cidade inteira,
ento eu frequentei duas vezes a academia l, fiz um pouco de ginstica... O bosque
pra mim o nico lugar que eu passeio de verdade, sozinho! Vou passear e...
minha alternativa! Essa daqui a foto... a foto do fumo. Eu fumo muito cigarro. O
cigarro pra mim como se fosse minha namorada, meu amigo... O cigarro pra mim
tudo! Paulo.
Maira: Por isso que voc no larga o cigarro? seu companheiro?
! Meu companheiro pra tudo! Risos... Pra todas as horas! Eu sei que faz
mal, mas no largo ele no! Esse aqui da foto fumo. Eu prefiro cigarro, mas que
o fumo mais barato. Essa daqui a foto da minha cama onde eu durmo! O quarto
ta velho, a parede toda suja. Aqui a foto do meu rdio que eu escuto msica...
Minha televiso pequena. Aqui j a casinha da minha irm, do meu irmo... O
Marcos! Ele me ajuda muito... Aqui ta a foto da minha irm Janice e a minha
cunhada Cristina, enfermeira! A Cristina me ajudou muito nestes dois anos. Ela, o
Marcos, o Gilberto e meus outros dois sobrinhos-netos. Foi no dia do meu
aniversrio que eu tirei essas fotos na casa do Marcos. Aqui meu irmo Moacir e
os dois sobrinhos-netos. Aqui a foto da vassoura que eu costumo varrer a casa, a
cala enxugando no varal, porque eu lavo a minha roupa, eu moro sozinho. Aqui o
Marcos e a Cristina! O Marcos outro irmo que me ajuda muito. O Marcos e o
Gilberto so os que mais me ajudam... E o Moacir, n?
Loucura ... Aqui a foto do CAPS! O seu Hidehume na foto, aqui a
escolinha que me distrai muito e ajuda a relembrar as continhas bobas que so
simples, mas a gente esquece. Fazia tempo que eu no fazia conta, muitas contas...
Outra loucura minha foi o transito! Uma rua com os carros. A rua t meio
vazia porque foi de manh, mas o transito em geral hoje! O transito da cidade
grande! Paulo.
Essa daqui minha sogra. Essa aqui minha cachorra, Leda. Essa daqui
minha loucura. Eu tirei foto dos enfeites da estante, das velas da Vanessa (que
98
fazemos) no artesanato. Pra mim uma loucura! que eu no saio de casa, saio
muito pouco e ento tirei foto do meu cotidiano, do meu dia-a-dia, entendeu? tudo
dentro de casa, no tenho nenhuma foto na rua! Esse daqui o tratorzinho do
SENAI, a minha filha fez curso do SENAI e ela fez um trenzinho na metalrgica. E
aqui uma planta, o fogo entrou de curioso! Risos... Esse daqui um jardim florido,
aqui uma planta no fundo do quintal. Aqui o corao que a minha filha ganhou do
namorado, corao com mozinha, em cima eu pus um cachorro vermelho e tirei a
foto. Aqui minha televiso famosa. Eu queria pegar a imagem, mas no saiu. Era
das olimpadas, porque pra mim olimpadas a loucura. Aquela adrenalina, aquele
stress, aquela insnia antes da competio, entendeu? duro, voc imagina, Maira,
voc ter que correr e ter que ficar sem dormir a noite inteira, preocupada?
Essa daqui a roseira da minha sogra, um laguinho no quintal, e esse daqui
um avestruz, aquele que enfia a cabea no buraco. Acabou, fim! Risos... Gasto
Essa foto aqui a foto da casa, a figueira na estrada. Essa Figueira velha.
Esse daqui o fundo do sitio, essa daqui a Villares. Eu vou de vez em quando l.
Aqui o Rio Paraba, a gua do Paraba uma loucura minha. Aqui foi a estrada.
Essa daqui a igrejinha, uma igrejinha humilde. Aqui no stio, a bananeira. Aqui
o stio, aqui a bicicleta que eu ando. Esse aqui meu irmo gmeo, que no ta
legal! Ele fuma pra caramba, gosta de fumar. Esse daqui o carro da minha irm,
que veio pra c. Essa daqui minha me, essa a gatinha que eu gosto muito
tambm! Ela chama N! Fala: N e ela vem correndo. Risos... Esse aqui meu
irmo gmeo, coitado! Eu tenho d dele, muita d. Ele nascido no mesmo dia, n?
Ta ruim... Eu no entendo disso! Esse daqui a sala de televiso que eu assisto o
Jornal Nacional, Datena, SBT, Record... S isso, mais nada. Acabou! Hidehume.
Camila: Todas essas fotos so do retiro que eu fui. um congresso (da religio)
catlica. Foi em Taubat, no Sindicato Rural de Taubat.
Maira: Tem umas fotos super bonitas! Voc ajudou na cozinha?
Camila: Ajudei! Eu fiz os salgados... Eu no cozinho, s ajudo assim, picar tomate,
colocar o recheio nos salgados... Eu gostei de fazer os salgados, e no ano que vem
acho que vou trabalhar l no outro Rebanho.
Maira: E quem o cachorro que ta a?
Camila: a Babu e a Gorda!
99
Maira: So suas?
Camila: So!
Maira: E aquele quarto?
Camila: meu.
Foi muito gostoso tirar (as fotos), porque eu pude mostrar o meu cotidiano e
com quem me relaciono, os meus bichinhos! (...) Bom, eu sou uma mulher sozinha,
sou uma viva que a famlia abandonou. Ento pra mim essas fotos so uma
relquia. Foi uma coisa diferente que fiz. (...) Elas (as fotos) mostram a realidade, o
eu da gente. Mostra a casa, com quem a gente convive... Que nem, eu convivo
com a Peteca (animal de estimao)... A mquina serviu para isso! Mostrar o meu
cotidiano. Cristina.
O meu cotidiano CAPS, casa; casa, CAPS. Ento seria difcil eu bater foto
do meu cotidiano, mas deu pra bater! (...) Eu resumi em uma frase, mas quer dizer
tudo o que foi pra mim. Pode falar? Esse trabalho pra mim foi redescobrir a histria
da minha vida, porque foi tudo assim, uma sequncia de coisas. Eu tirei foto de tudo
que a histria da minha vida, ento eu redescobri! Eu coloquei tudo na fotografia: o
escritrio, a minha filha caula, a mais velha, onde eu estou morando agora que na
casa da minha me, todas as coisas... Ento eu redescobri a minha vida! Marley
Bom, tirar as fotos me aproximou mais da minha famlia, ajudou a ver a
realidade que eu vivo hoje. (...) Ela mostra como a vida da gente . Essas fotos que
ns tiramos mostra como a gente vive, seus hbitos, seus costumes, como a vida da
gente ! Paulo.
Eu coloquei o meu cotidiano. Mostrou um pouco da minha vida, o meu
mundo e essa foto escolhida significa como eu gostaria que fosse a minha vida, com
os meus trs filhos juntos. Eu seria mais feliz! Bete.
Essas fotos contam como passo os meus dias. Esse um pedao de mim!
Gasto.
100
Eu acho que foi isso, pra mim o trabalho de tirar as fotos foi retratar... Eu
pensei em colocar na capa Retratos da vida, foi retratar a minha vida, o que a
minha vida hoje depois do surto, depois da internao e o que a loucura pra mim,
porque muita gente fala: Ah! Ela louca. O que a loucura pra mim? Pra muita
gente a loucura uma coisa, mas para mim outra! Ento pra mim foi
importantssimo colocar na foto, retratar meu dia-a-dia e o que a loucura. Marley.
D. Crises, internaes e preconceito
muito misticismo em cima da doena psiquitrica. Marley
Olha uma coisa interessante! Vocs j perceberam que a maioria das
pessoas que esto aqui no CAPS, que tm problema psicolgico, fala que no sai e
que no vive uma vida normal? Por qu? As fotos so todas dentro de casa. Marley
Eu porque no gosto. Gosto de ficar ali no meu quarto, de ficar deitada
fumando meu cigarrinho, vendo televiso... Bete
O Gasto tambm falou que s tirou dentro de casa. Como que ? Marley
porque eu no tenho para onde ir. Gasto.
Mas voc no tem amigos? Voc no gosta de ir ao mercado? Eu gosto de ir
ao mercado, olhar verdura. Tenho minha prima, posso ir casa da minha prima...
Marley
E por que no vai? Gasto
Porque meu pai no deixa! Risos...Marley
Praticamente eu perdi o meu servio por causa do tratamento, porque
quando o Dr. me chamou e falou: Bete, voc tem que dar um perodo integral ou
dois meio-perodos, eu fui conversar l no servio e eles ficaram todos meio assim,
com receio, balanados. A eu peguei e sa, j que ficou assim e mudou o clima.
Voc sente que mudou! Todo mundo... J no era aquela ateno, j no brincava,
ficou meio... Tu ia l e comia junto no caf, corria aqui (no CAPS), saa daqui e
passava no mercado, levava as coisas para o almoo, era aquela coisa gostosa.
Mas a sentei com o patro e conversei porque ele no sabia at ento. A ele j
ficou meio assim, com medo, desconfiado e mudou o comportamento, at que eu
101
sa. A voltei para aquele mundinho de novo. Eu estava magrinha, j estava usando
tamanho 38, estava ficando uma pessoa elegante, tinha prazer em pintar meu
cabelo, fazer minha unha e at salto eu colocava pra ir trabalhar. Hoje no. Eu tenho
meu tnis, minha cala jeans, desisti de pintar o cabelo. a pior coisa sentir na pele.
Eles queriam me fazer voltar, mas agora eu no quero mais!
(...) Acho que se existisse esse apoio que tem hoje, de uns 3 ou 4 anos pra
c, acho que no teria chegado no ponto que cheguei. Era s medicamento e mais
medicamento. Vrias vezes a minha me me dava e eu jogava fora porque no
aceitava, entende? Eu acho que se l atrs existisse um tratamento assim, porque
isso vem desde criana, (as) internaes. Depois que surgiu o CAPS fui (internada)
uma vez (...). Quantos eletrochoques eu tomei na minha vida?! Acho que se tivesse
sido diferente antes, hoje eu no estaria assim. Hoje eu poderia trabalhar. Preciso
trabalhar porque assim me sinto to bem. S que ningum pode saber o problema
que eu tenho (...). Soube que voc paciente do CAPS, que voc tem um problema
psiquitrico, voc morre para as pessoas! Por isso que no me importo, eu tenho
sim e pronto! Bete
verdade! Que nem, se uma pessoa que no gosta de bicho olhar essa foto
da Peteca brincando, vai falar: essa mulher louca! Risos... Vai falar: ah! Ela j
esteve internada quatro vezes. Pensa?! Ela louca, j esteve internada. Mas no !
com quem ela convive, com os animais e o dia-a-dia dela! E outra, ela no tem
nada! complicado... Cristina
! Eu estava na adolescncia ainda, estava na juventude! Eu lia tanto livro,
lia tudo que via na minha frente! Quando eu tive o surto, tudo que li, aquela confuso
mental que d na cabea misturou tudo! Misturou Guerra dos Cem Anos com a
Segunda Guerra Mundial, com a Primeira Guerra Mundial, com satlite e um monte
de coisa (...) que virou uma salada de fruta. A fiquei totalmente maluco! Atravessava
na frente dos carros e achava que era o centro magntico da terra, que no era
atropelado! Risos... No meu delrio, eu era o centro magntico da terra, entendeu?
Meu irmo corria atrs de mim na avenida pra me pegar, e eu pelado! Risos... A
polcia me pegou pelado, no p da serra de Mogi das Cruzes! A quando eu desci o
morro, tinha uma viatura me esperando. Eles deram (com) um cacete em mim e
arrumaram uma bermuda velha. Como era magrinho, amarraram com um barbante e
102
me colocaram na viatura! Os caras so muito loucos, me colocaram na viatura no
banco de trs, (...) que tinha uma metralhadora, do meu lado assim! Nem passava
na cabea daqueles caras que eu era policial. Pra eles eu era um indigente, um
mendigo qualquer! A deram umas voltas na cidade e me soltaram, at que meu
irmo me achou e me levou pra tomar banho. Na hora de comer eu no queria
porque falava que tinha cianureto, um veneno que usava na Segunda Guerra
Mundial. (Fui internado) uma, duas, trs (vezes). Da segunda para a terceira foi
seguida. Eu sa do hospcio e sa ruim. Me deram alta e no dia seguinte eu surtei, s
que tem que esperar quinze dias de uma internao para outra pelo SUS. Minha
me teve que me aguentar onze dias surtado, sem dormir, acordado, cantando...
Quando eu estou surtado, canto muito! Se eu no durmo, ningum dorme. Chamava
a Dbora. Dbora a enfermeira, me apaixonei por ela! Minha me achou que era
muito grave a situao, chamou a polcia e veio um monte de policial. Ah! A
Dbora... Entrei amarrado na maca e gritava assim: Dbora! Dbora!. Eu ficava
pelado no ptio. Uns dez dias eu fiquei surtado, bem ruim. Me contaram, porque eu
no lembro (...) que fiquei dez dias pelado! Eles colocavam a roupa em mim, eu
tirava e ficava pelado. Eles me amarravam na cama e davam injeo na bunda at o
perodo do remdio, que de dez a quinze dias para estabilizar o quadro, entendeu?
Depois que voc fica internado uma, duas, trs, quatro vezes, eles j comeam a
falar: o cara ficou internado, o cara no bate bem. As pessoas no tm confiana
na gente, acha que irresponsvel, acha que que nem criana e no pode tomar
decises importantes. Gasto.
muita fantasia que as pessoas tm quanto a um tratamento psiquitrico, o
que o CAPS e como que funciona: ah! assim? muito misticismo em cima da
doena psiquitrica. A minha me, quando eu voltei com ela, ela falou que no podia
acender o fogo. Ela achou que eu no podia fazer mais nada. Ento complicado!
(...) Eu estou numa posio que comea dentro de casa agora, de no sair, mas as
outras coisas eu j desmistifiquei, que era no poder fazer nada (...). Ento ns
vamos conversando, vai ficando melhor at... No vou ficar a vida inteira num quarto
privado, n? Marley
103
Ah sei l... Risos! que eu fico presa tambm dentro de casa (...). Eu fico
sem saber se sai, se no sai, fico insegura... A gente ta ali, mas eles no sabem
como lidar com a gente, se manda ir pra l ou pra c, pra onde vai. Zinete.
Pra eu no me estressar, porque eu no vou voltar para o Bairral, eu tento
conviver, porque agora eu tenho que me tratar, tenho que cuidar de mim. Tenho
duas filhas que precisam de mim como me, pra contar histria, pra pegar no colo,
mesmo do jeito que eu (sou). Marley
E. Quem sou eu no mundo
Normal, um psictico normal. Gasto
E.1 O significado da escolha das fotos para a capa do lbum
Eu sou um psictico! Gasto
Maira: Voc um psictico? S um psictico?
Normal, um psictico normal que foi atingido pela doena, como a Marley foi
e voc est sujeita a ser tambm. Nenhuma de vocs trs (profissionais) imune!
Ela pode ter um surto a, um problema emocional de paixo e virar Bipolar ou
Esquizofrnica, entenderam? Qualquer um est sujeito a isso, vocs no so
especiais. (...) Eu sou psictico assumido, estou acostumado j! Eu no me importo
com preconceito e que falem mal de mim. No estou nem a pra ningum,
entendeu? A minha esposa, quando eu entro em crise, ela tranca o porto. E ta
certa ela! Tem que trancar o porto mesmo porque se eu for pra rua, vou usar
cigarro em excesso, porque quando estou em crise eu no durmo. E outra coisa
que a casa tem que estar sempre limpa. Ela limpa a casa de trs a quatro vezes por
dia, porque eu fico com mania de limpeza! Mas, aonde eu parei mesmo? Gasto.
Maira: E quem voc no mundo?
104
Eu sou um psictico normal, acostumado com o dia-a-dia, acostumado com
preconceito. Pensa que os vizinhos aqui como aqui era uma residncia normal e
agora um CAPS no ficam tudo com medo? Olha l, olha! So todos malucos
ali dentro. Voc pensa que eles no comentam? Gasto.
Olha, eu sou uma mulher sozinha que foi abandonada pela famlia, mas que
tem Deus no corao e muita vontade de vencer! Cristina
Posso dizer o que sou como se fosse um objeto? (...) Eu sou como uma
bola! Sabe por qu? Eu vou no rumo que me chutarem. Tem horas que meu pai
quem est chutando, tem horas que a minha me. (...) Pra mim a doena
psiquitrica no foi um problema na minha vida, pra mim ela me fez muito bem (...).
Eu descobri no Bairral
54
muitas coisas da minha vida que aconteceram e eu penso
que o Bairral foi a melhor coisa da minha vida, (...) porque foi l que eu descobri o
meu transtorno bipolar. Eu no sabia o que eu tinha. (...) Eu estava l dentro
sofrendo porque estava com saudade das minhas filhas, mas estava feliz. Eu falei:
ai, graas a Deus! Agora sei o que eu tenho! No sou ruim, no sou mau carter.
Eu falo que o CAPS a melhor coisa que aconteceu na minha vida, porque estou
curando uma coisa que me fez mal l atrs, que me deu um acidente vascular
cerebral, que foi a causa de tantos problemas, n? (...) Talvez eu at seja normal
hoje, mas por enquanto tenho que ser uma bola, no posso ser um caminho,
passando por cima de todo mundo! Ento tenho que (...) esperar o outro me chutar.
Marley
Olha! Hoje sou uma pessoa, que pelo que eu era h muitos anos atrs, uma
pessoa triste e sem muita esperana no futuro. Porque a minha vida no vai mudar,
minha vida o que hoje! No tenho muita esperana no futuro no, viu? De
melhorar e voltar a ser ativo como era. Posso at fazer alguma coisa, mas o que j
foi no tem mais volta. difcil! Voc fica numa posio que fica se perguntando e
nem sempre tem as respostas! uma fragilidade que muito lesadora. No sei se
54
O Instituto Bairral de Psiquiatria um hospital psiquitrico vinculado ao Sistema nico de Sade,
referncia para a rea de abrangncia de Pindamonhangaba.
105
assim que pode se dizer... voc estar numa posio no de perdedor, mas de
fragilidade mesmo. Voc esta sendo cuidado, no esta mais frente das coisas.
uma boa pergunta: porque tem que passar por isso? Por todas essas perdas? Mas
no tem resposta! Paulo.
o que fico me perguntando, por que eu estou passando por isso e por que
estou aqui... Camila.
Eu sou como um pssaro, como uma Fnix, entendeu? (...) Ela imortal, (...)
ento vamos sobrevivendo dia aps dia e s isso! Gasto
Eu escolhi essa foto porque no tempo que eu no tinha essa doena eu era
namorador. Ficar na solido (incomoda) demais... Jos
Eu fiz um sol, mas tem bastante cor quente: laranja, mostarda, vermelho (...)
que hoje no grupo eu senti, apesar do problema que cada um tem, todo mundo
parece que muito forte e tem muita vontade de viver. Ento eu quis colocar isso
aqui! Marley
Bom, eu sou um bichinho que luta para sobreviver. (...) como um bichinho
que est dentro do poo. Ele fica com as garrinhas ali, querendo subir e no
consegue, mas (...) ele vai conseguir subir at alcanar o ideal dele! Cristina.
A minha foto, peguei (...) s da cama com as duas paredes velhas, porque
essa cama representa a solido (...). Chega de final de semana igualzinha: parede
suja e velha... Est igualzinho a minha vida esse quarto todo velho, todo
escancarado, e a cama sozinha. Eu vivo na solido... Paulo.
Aqui eu colei a foto que eu tirei no cemitrio (...). Eu pensei (em) pessoas
mortas, (como) pessoas que tiveram memrias. (...) Eu tenho memrias de coisas
que eu fiz, que estudei, que aprendi com a vida. (...) Me d muita esperana de ter
um futuro melhor e vencer tudo isso na minha vida hoje, porque difcil e t muito
difcil. A Cristina fala que uma luz no fundo do tnel e eu acho a mesma coisa! (...)
Eu tenho f na minha capacidade e na minha fora de vontade... Marley.
106
E.2 O espelho reflete...
No gosto do espelho e no gosto de me olhar no espelho (...) Desde o AVC
eu fiquei careca, n? Porque tiveram que colocar um monte de coisinha... Eu tinha o
cabelo at nas costas. No gosto de espelho porque eu vejo uma pessoa diferente
do que eu era. Ainda no consegui aceitar, mas no fisicamente... Talvez aquela
Marley que tinha cabelo comprido, que era diferente, era uma. Hoje a que tem
cabelo curto outra e eu ainda no consegui me relacionar com essa. (...) talvez
hoje eu esteja me redescobrindo (...) Marley.
Estou vendo que estou barbudo! Risos... , preciso fazer a barba hoje... (...)
E olha os meus olhos como esto bonitos, esto brilhantes... Eu estou feliz! Meus
olhos esto brilhantes de tanta felicidade (...) Gasto
Estou vendo um japons na imagem! Risos... Minha imagem! um homem
que faz o trabalho toda segunda e sexta vindo aqui nas terapias, um homem que
gosta dessas atividades, menos de teatro... Hidehume:
Escrevi no meio: amo voc! Porque eu passei por duas doenas. Na
primeira o mdico falou: ela no vai andar nunca mais. Ela vai ter vida vegetativa.
(...) Depois de seis meses eu estava andando. Depois foi um ano de separao e
um surto psictico. Ento o marabu
55
significa a vida que eu tenho. Sou uma
pessoa cheia de vida! O azul a esperana, tenho muita esperana! Pode qualquer
pessoa falar que no vou sarar, que vai dar tudo errado, mas tenho esperana e
apesar de no gostar do espelho, eu me amo! Eu sei que isso que est aqui, o que
ficou, ou as leses que ficaram, e o fato de ter que tomar remdio e ser uma pessoa
doente psiquitrica no nada. O que tenho de mais precioso o que est na minha
cabea, a bagagem que eu tenho. Marley
s vezes voc levanta de manh, se olha no espelho e v uma pessoa
assim, cada, baqueada, triste e solitria, como eu. Mas a tem um negcio ali que
fala: no! Voc gente! Voc tem bagagem na alma! Eu me amo! Num instante
55
Plumas coloridas feitas de pena de galinha.
107
voc (...) se maquia, se penteia, vai cuidar da pele, passar um negcio pra rugas... O
espelho ajuda muito, nosso amigo, certo? Ele mostra a alma da gente... Cristina
Queria que fosse um espelho lindo, n? No escrevi nada dentro porque no
quero perder a imagem... Zinete
Olha o meu, que chique e maravilhoso! Eu escrevi dentro dele: eu gostaria
de ser assim, alegre e feliz (...). No aguento mais ser assim, mas eu luto... Bete
Fiz um negcio simples, joguei cores verdes e amarelas. Eu no sei bem
qual o sentido, mas as cores tm a ver com a vida da gente, n? (...) Nesse
momento a minha vida no t colorida, ela t em preto e branco. As cores ajuda a
ficar mais bonita, n? (...) Independncia, porque no momento os meus irmos que
me ajudam. Sinto falta (de) me sustentar, no depender de ningum! (...) Antes
dessa crise que eu tive, minha vida estava normal. Eu estava trabalhando, tinha uma
vida social mais ou menos e depois, de repente, eu entrei em casa e no sa mais
dali. Eu s saio pra vir ao CAPS... Ento eu gostaria de voltar a ser como era antes,
voltar a trabalhar, mesmo que seja servio voluntrio, ou fazer alguma coisa... Paulo
Ah! um colorido, n? Porque a minha vida no muito legal no. (...) Eu
quero ser independente... Camila
E.3 A identificao com as msicas
Voc no sabe o quanto eu caminhei pra chegar at aqui...
Bete
Voc no sabe o quanto eu caminhei pra chegar at aqui... Pra mim
significa que com a ajuda de Deus, o CAPS surgiu e eu melhorei muito! Antes a
minha vida era s briga, delegacia da mulher, B.O., suicdio, mas com a ajuda do
CAPS hoje sou diferente. Essa parte que fala voc no sabe o quanto eu caminhei,
pra mim significa o quanto sofri, como lutei at chegar aqui no ponto onde estou
hoje! (...) S Deus sabe quanto eu caminhei pra chegar aqui onde estou hoje! Bete
108
Eu vou na carona da Bete! Quanto tempo eu caminhei, porque pra mim a
doena psiquitrica nova, so s trs meses, mas fazem dois anos que eu s
estou doente, passando por um monte de situao. Estou caminhando faz muito
tempo e essa msica tocou muito em mim (...). Quando estava no Bairral, eu pensei:
pelo amor de Deus! Agora j era, agora foi a cabea, no vai dar mais, mas d! A
gente forte, a gente consegue. (...) Marley
Em 94 eu tive um surto. Estava passando por uma igreja, era casado j.
Estava em Mogi das Cruzes e minha esposa em Piracicaba. Numa terapia espiritual,
tinha que olhar dentro do olho da pessoa e ficar 20 minutos olhando, olhei no olhinho
de uma menininha, apaixonei! Risos... Apaixonei por ela e tive tambm o primeiro
surto! Pra mim ela era Eva e eu Ado, no meu delrio. Na segunda crise estava
apaixonado de novo. Ela era Eva e eu levei at um ursinho para o hospcio. Eu
cantava no ptio a msica Eva, do Rdio Taxi. (...) Toda vez que eu entro em surto
eu me apaixono por algum! Risos.
Nos meus ltimos delrios queria que a Eva fosse embora, queria explodir
tudo, explodir a Terra, porque eu estava revoltando. Ia embora pra outro planeta e ia
destruir a Terra. De onde ser que vem esse delrio na minha mente? Eu tenho
mania de limpeza. Quando estou em surto e fico em casa, percebo que a minha
mulher limpa a casa toda hora. Gasto.
Eu acho que porque eu dava muito trabalho: muita internao, muita crise,
fugia de casa; sumia e eles ficavam doidos me procurando. Minha me falava que
eu era a ovelha negra da famlia. Isso uma das coisas que no esqueo, das
tantas vezes que minha me falava: voc a ovelha negra da famlia!. Essa
msica marcou, eu tenho ela como minha! Horrvel! Bete.
Uma msica que eu gosto, mas eu no sei cantar aquela: seu guarda eu
no sou vagabundo... eu dormi na praa... Bruno e Marrone: Dormi na praa. O
jeito da msica eu acho muito romntica. Paulo
Tem uma msica do Roberto Carlos, A Montanha: eu vou subir a
montanha e ficar bem l no alto (...) agradeo, obrigado Senhor por mais um dia,
109
obrigado senhor pelas estrelas, obrigado senhor porque posso ver.... Essa msica
muito antiga! Eu me sinto alegre. Hidehume
F. A esperana
Eu fiz um sol. Tem bastante cor quente: laranja, mostarda,
vermelho, que hoje eu senti, apesar do problema que cada um
tem, todo mundo parece que muito forte e tem muita vontade
de viver. Ento eu quis colocar isso aqui! Marley
O branco a paz que procuro encontrar e o verde a esperana de um dia
ser feliz. Essa baguna aqui embaixo significa a minha sogra, esse vermelho a raiva.
Bete
Eu me empolguei e fiz uma torre de babel. Coloquei tudo junto (...). Embaixo
eu coloquei o vermelho (...), porque apesar de tudo que aconteceu comigo, das
doenas, sou uma pessoa muito alegre, sou uma palhaa, vejo coisas engraadas
em tudo. (...) Minha me ontem perguntou pra mim se chorei no Bairral. Falei que
no d pra chorar (l), porque o negcio j tava feio pro meu lado, n, Maira? Ento
eu ria muito no Bairral. Eu caia da cama... (...) Depois vem o amarelo, (...) significa a
angstia, insegurana, que o que sinto. Porque estou na casa da minha me e as
minhas filhas no esto comigo, s ta uma... Ento isso me d muita insegurana,
muita angstia. O azul pra mim significa a vida. Sinto que tenho muita vida,
transformo uma situao ruim em boa. (...) No me tiraram o mais precioso que a
minha vida e essa vontade que tenho de viver e de vencer. Por cima o verde porque
(...) eu tenho esperana e sei que as coisas vo mudar! (...) O dourado que eu
coloquei em volta da minha vida (...) a alegria, o glamour. A vida um glamour e a
gente muito especial: sou me da Ana Julia, da Maria Cndida, sou eu e tenho
muita coisa boa tambm! (...). Marley
Bom, eu no tenho muita coisa pra falar. No meu vaso coloquei vrias cores
misturadas, n? So umas quatro ou cinco cores misturadas que representam os
110
bons momentos e os maus momentos da minha vida. Os bons momentos so essas
cores mais bonitas e que se misturam. Por ultimo eu coloquei o vermelho que o
fogo da vida, que faz ter a vontade de viver... s isso! Paulo
Fiz o meu todo colorido porque tem dois significados: coloquei pedras
porque tem pedras no caminho e o colorido pode ser o arco-ris. Tenho esperana
que dias melhores vo vir, me curar... Camila
Bom, eu comecei com o azul e depois ca para o salmo, ca para o azul,
amarelo e branco. Que quer dizer o que? Eu estou doente, mas estou seguindo em
frente e no estou deixando a peteca cair! Tem pedra no meu caminho? Tem... Mas
eu vou tirando e vou caminhando (...) e sigo em frente. E as pessoas que eu
encontro no meu caminho eu vou levantando... Cristina
Aqui como eu estou, entendeu? Eu estou muito bravo! Estou de saco cheio.
O preto o poder judicirio! Eu esperei catorze anos a justia e agora na hora de
receber o juiz falou que ele esqueceu de colocar na sentena que o Estado tinha
que pagar pra mim! (...) Ento eu estou muito bravo com o poder judicirio.
Silncio e a cor branca, isso aqui ... Essa cor branca, tudo branco! Me
lembra a sala de tortura onde eles amarravam a gente, entendeu? Voc fica com um
olho aberto... Memria! Gasto.
Eu fiz tudo de paz porque com paz a vida melhor. Embaixo gua, aqui
primavera, aqui no meio o cu. Hidehume
G. As origens, o nome...
Eu sei, meu nome diferente. porque a minha me chama Maria Helena e
meu pai chama Levy com y. O forfento
56
do meu tio, que no tinha o que fazer
56
Marley explica: forfenta assim, deixa eu te explicar eu aprendi isso com uma amiga minha h
muitos anos atrs, quando eu andava l na roa forfenta uma pessoa que sempre ta procurando a
111
minha me s tem um irmo quando eu nasci, nossa! Era a primeira sobrinha, da
a minha me falou: que nome ns vamos colocar nela? Da ele: Maria, vamos
fazer o seguinte? Vamos colocar a metade do seu nome e metade do nome do
Levy? A ficou Marley! S que ningum acerta o meu nome, eles falam Marli...
Marlene... J! Pelo menos as minhas filhas me chamam certo e sabem que meu
nome Marley! Mas eu to acostumada... Marley.
(...) a minha descendncia de l tambm, a minha av nasceu em Madrid.
O povo de l forfento, fala pra burro, fala alto... Briga s na hora, n? Fica
bravo s na hora, mas a briga feia! Eu gosto, e lembro muito da minha av. Marley
Hidehume (era) um mdico l no Japo, um mdico muito bom que tem o
nome de Hidehume. Hidehume
o seguinte, meu pai morava no Rio de Janeiro e era zelador de um prdio
e o dono do prdio chamava Gasto, entendeu? A quando eu nasci o dono do
prdio pediu pra colocar o meu nome de Gasto e meu pai colocou. Eu no tinha
como dar opinio, porque eu era um beb. Mas esse nome sempre me persegue e
todo mundo pensa que apelido. Eu gosto, j acostumei com ele. original, Gasto
Mauro! Gasto.
Meu nome foi uma amiga da minha me que colocou. Elas eram muito
amigas e ela gostou do nome e colocou em mim. Zinete.
A minha me morava numa casa e l tinha duas irms gmeas: a Maria
Helena e a Maria Cristina. Ento a minha me fez uma promessa que se a Maria
Cristina voltasse a falar, porque ela era muda. A menina foi para os Estados Unidos,
fez tratamento e voltou falando. A quando eu nasci a minha me colocou meu nome
de Maria Cristina. Cristina
O nome veio do meu pai, mas um motivo especial eu acho que no teve
no. Meu pai Jos. Meu primeiro irmo, o Moacir, pegou o nome do meu pai, Jos
razo das coisas, gosta de brincar, alegre, sabe? Gosta de dar palpite, de cutucar, de fazer tudo!
Sabe aquela pessoa que parece que tem formiga no corpo? uma (pessoa) forfenta!
112
Moacir. Eu sou o segundo filho. Eles nunca falaram e nunca perguntei (porque me
deram esse nome). Paulo um nome comum, n? No tenho nada contra ele no,
eu gosto! Hoje nem tanto, hoje so outros, pra voc ver como cada poca tem a
moda de um nome. Paulo.
H. Os lbuns
Fora, mais uma dose de nimo (...) e esprito de luta que muito
importante. Vontade de batalhar mais e mais pra alcanar os meus objetivos.
Cristina
Pra mim esperana o meu lbum! Eu espero que minha vida melhore, e
j t melhorando, porque tem uma foto aqui, a primeira foto como eu queria que
minha vida fosse, n? (...) As de hoje esperana de que minha vida mude e
melhore, n? Paulo.
Eu escrevi Retratos da vida, mas ele quer dizer Trajetria de vida porque
tudo que eu fotografei quer dizer trajetria de uma vida. Ele tem uma trajetria, tem
partes dele, ou a maior parte dele, fala da trajetria da minha vida. Marley.
113
CONCLUSES APROXIMATIVAS
Estritamente ligada trajetria da pesquisadora, a construo desta
dissertao permeada pelo movimento dialtico. Est repleta de idas e vindas,
chegadas e partidas. Para Marx, Engels e Lnin, a prtica exigia um reexame da
teoria e a teoria servia para criticar a prtica em profundidade, servia para questionar
e corrigir a prtica (KONDER, 1993, p. 71). Assim se d o processo de formao no
mestrado: do contato com a prtica, de reflexo terica e do retorno prtica.
Neste sentido, recorre-se Chau (1988), quando afirma que para o trabalho
do pensamento se realizar, preciso que a experincia fale de si para poder voltar-
se sobre si mesma e compreender-se.
Esta dissertao entendida como uma aproximao sobre a totalidade de
uma dada realidade, como algo que no se finda, experincias em construo.
A viso de conjunto - ressalve-se - sempre provisria e nunca pode
pretender esgotar a realidade a que ele se refere. A realidade sempre
mais rica do que o conhecimento que a gente tem dela. H sempre algo que
escapa s nossas snteses; isso, porm, no nos dispensa do esforo de
elaborar snteses, se quisermos entender melhor a nossa realidade. A
sntese a viso de conjunto que permite ao homem descobrir a estrutura
significativa da realidade com que se defronta, numa situao dada. E
essa estrutura significativa - que a viso de conjunto proporciona - que
chamada de totalidade (KONDER, 37, 1993).
Como h sempre algo que escapa s nossas snteses, remete-se
novamente citao de Gagnebin (1994, p. 13):
Cada histria o ensejo de uma nova histria, que desencadeia uma outra,
que traz uma quarta, etc.; essa dinmica ilimitada da memria a da
constituio do relato, com cada texto chamando e suscitando outros textos.
114
Afinal, a dialtica - maneira de pensar elaborada em funo da necessidade
de reconhecermos a constante emergncia do novo na realidade humana -
negar-se-ia a si mesma, caso cristalizasse ou coagulasse suas snteses,
recusando-se a rev-las, mesmo em face de situaes modificadas. A
modificao do todo s se realiza, de fato, aps um acmulo de mudanas
nas partes que o compem. Processam-se alteraes setoriais, -
quantitativas, at que se alcana um ponto crtico que assinala a
transformao qualitativa da totalidade. a lei dialtica da transformao da
quantidade em qualidade. A contradio reconhecida pela dialtica como
princpio bsico do movimento pelo qual os seres existem (KONDER, 1993,
p. 39)
Assim, conclui-se com o desejo de que nada tenha passado despercebido,
que tenha sido completo. Entretanto, este apenas o desejo, havendo a
compreenso de que existem limitaes em um trabalho acadmico. Por isso,
entende-se que estas so concluses aproximativas, viso de conjunto, estrutura
significativa de uma dada realidade com a qual se defronta: totalidade.
Para apresentar as snteses que compem esta dada realidade so
destacados alguns tpicos considerados importantes para se compreender a
construo do conhecimento sobre Sade Mental no Servio Social, abordado no
primeiro captulo e, posteriormente, os significados atribudos pelos sujeitos,
usurios matriculados no Centro de Ateno Psicossocial Pindamonhangaba, sua
experincia de vida, suas trajetrias de vida e o modo como se reconhecem
socialmente.
115
1- O Movimento da Reforma Psiquitrica e da criao da Revista Servio Social
& Sociedade so contemporneos. Ambos datam, segundo os registros
pesquisados, dos anos de 1978 e 1979, haja vista a conjuntura da dcada de
1970, descrita no primeiro captulo desta dissertao: contexto de articulao
da sociedade brasileira, no qual tem incio a Abertura Poltica do pas, que
decorre principalmente da mobilizao da sociedade. Tem incio um processo
de superao da Ditadura Militar (1964-1985) e de politizao. Tempo de greves, de
forte presena sindical, do surgimento do Partido dos Trabalhadores PT e da
transformao do antigo MDB em Partido do Movimento Democrtico Brasileiro
PMDB. Tem incio a reformulao partidria e o pluripartidarismo.
2- Do total de 1063 produes publicadas pela Revista Servio Social &
Sociedade, apenas 8 se destinam ao tema da Sade Mental. So 7 artigos e
1 Comunicao de Pesquisa que abordam a temtica da Sade Mental, o que
corresponde a apenas 0,75% de toda a produo, ou seja, menos de 1%. Um
percentual baixo, considerando-se o tempo de circulao da Revista (30
anos) e seu total de publicaes (1063). As produes so provenientes de
profissionais que atuam e ou lecionam na rea de Sade Mental, sendo que a
maioria dos autores possui alguma forma de vnculo com a Universidade
Federal do Rio de Janeiro UFRJ, por ser seu local de trabalho ou formao.
O estudo da Revista aponta para uma inconstncia nas publicaes e revela
que h uma disperso do tema no tempo. Conclui-se que temtica tratada
de modo episdico pela Revista, o que impossibilita uma construo de
massa crtica que possa fundamentar teoricamente a atuao do assistente
social na rea.
3- Sobre a produo cientfica do Programa de Estudos Ps-Graduados em
Servio Social, destaca-se que das 787 produes localizadas no perodo de
1974 a 2010, apenas 11 esto relacionadas ao tema da Sade Mental
diretamente, ou seja, 1,39%. So encontradas apenas dissertaes e
nenhuma tese, sendo a primeira produo de 1976 e a ltima de 2003.
A escolha do tema das dissertaes esteve ligada s trajetrias de vida das
pesquisadoras, que recorrem Pesquisa Qualitativa e apontam para a frgil
116
sistematizao e registro da prtica profissional, principalmente na rea da
Sade Mental.
4- Os sujeitos se apresentam com nome, diagnstico e tempo de tratamento no
CAPS. O diagnstico acaba por ser uma forma de identificao dos sujeitos,
expressa na maneira como se apresentam. Tal contedo se relaciona
histria do tratamento destinado aos sujeitos em sofrimento psquico,
enfocando a doena e no o sujeito, experincias trazidas de internaes em
hospitais psiquitricos.
Eu sou o Gasto, (...) tenho psicose esquizofrnica e distrbio
bipolar, entendeu? Me trato aqui h trs anos e atualmente
meu estado psquico est legal.
Eu sou o Paulo, estou aqui h trs meses. Tenho F. 20 (CID-
10)
57
. esquizofrnico.
Hidehume, paciente daqui. (...) sou depressivo. Bipolar,
depressivo. S isso.
Meu nome Camila, tenho esquizofrenia. Estou no CAPS h
trs anos. S.
Eu sou a Bete. (...) Me trato no CAPS desde quando ele foi
lanado. Tenho depresso e transtorno bipolar.
Meu nome Maria Cristina Pereira dos Santos Morgado Sales,
sou uma poetisa, e estou no CAPS h quase quatro anos,
desde que foi lanado. Minha doena transtorno bipolar.
Aranha e Silva (2003, p. 804), afirma que a loucura e a doena mental
estiveram sempre vinculadas ao despertencimento e, por isso, subordinados aos
mecanismos de controle da razo moderna.
57
Classificao Internacional de Doenas CID, atualmente est em sua 10 edio.
117
O esforo da medicina em nomear, classificar, buscar instrumentos para
intervir no adoecimento psquico descreve um desenho homogneo, onde
no h surpresas, isto , se a loucura a errncia, o despertencimento,
bane-se. Se for a desrazo, enjaula-se. Se for a ociosidade, submete-se ao
trabalho.
Tal perspectiva aparece nas tecnologias de cuidado na Sade Mental
historicamente determinadas, que segundo Amarante (1999, p. 49), o processo da
Reforma Psiquitrica objetiva transformar com a concepo de um outro lugar social
para a loucura, para a diferena, a diversidade e a divergncia.
O modelo de assistncia proposto para a populao usuria dos servios de
sade mental tem como fundamento o tratamento como direito e no como controle
social, superando a rigidez dos papis, das especificidades profissionais e visando a
ampliao da capacidade de atendimento. Uma clnica reinventada, como prope
Amarante, como espao para as subjetividades, e de ocupar-se de sujeitos em
sofrimento.
5- Os CAPS so tidos como espao de troca, como possibilidade de construo
de outro modo de se tratar o sujeito em sofrimento psquico, a partir das
relaes, da construo de laos sociais.
(...) amizade que ganhei representa o CAPS pra mim. Amizade,
ocupao, recuperao e reintegrao social Paulo
aonde eu encontro a minha tranquilidade. (...) refgio, a
minha paz. Bete
Aqui aonde encontro a alegria, paz, como se fosse o CAPS
(...) uma repartio da casa. Zinete
(...) duas pessoas de braos abertos. Marley
O CAPS pra mim (...) Carinho, Ateno, Pureza e
Solidariedade. Graas a isso, no tenho mais aquele lance de
ficar internada, de estar no manicmio de novo, sofrendo.
Cristina
118
Paulo Amarante, (2003, p. 61) afirma que:
[...] um centro de ateno psicossocial no deveria ser apenas um servio
novo, mas um servio inovador, isto ; espao de produo de novas
prticas sociais para lidar com a loucura, o sofrimento psquico, a
experincia diversa: para a construo de novos conceitos, novas formas de
vida, de inveno de vida e sade...
preocupando-se com o sujeito e sua singularidade, sua histria, sua cultura e
sua vida cotidiana (BRASIL, 2004).
6- A experincia de fotografar aparece como possibilidade de representar o
cotidiano, de mostrar e redescobrir o cotidiano e a histria de vida.
Representa as relaes sociais e os modos de vida dos sujeitos, expressos
em seu cotidiano.
Ficam presentes nas fotografias os afetos, os espaos da casa, bem como os
espaos da cidade por onde circulam e estabelecem relaes.
Sobre a experincia de fotografar os sujeitos relatam:
Foi muito gostoso tirar (as fotos), porque eu pude mostrar o
meu cotidiano e com quem me relaciono, os meus bichinhos!
(...) Bom, eu sou uma mulher sozinha, sou uma viva que a
famlia abandonou. Ento pra mim essas fotos so uma
relquia. Foi uma coisa diferente que fiz. (...) Elas (as fotos)
mostram a realidade, o eu da gente. Mostra a casa, com
quem a gente convive... Que nem, eu convivo com a Peteca
(animal de estimao)... A mquina serviu para isso! Mostrar o
meu cotidiano. Cristina.
Ento seria difcil eu bater foto do meu cotidiano, mas deu pra
bater! (...) Eu resumi em uma frase, mas quer dizer tudo o que
foi pra mim. Pode falar? Esse trabalho pra mim foi redescobrir a
histria da minha vida, porque foi tudo assim, uma sequncia
de coisas. Eu tirei foto de tudo que a histria da minha vida,
119
ento eu redescobri! Eu coloquei tudo na fotografia: o
escritrio, a minha filha caula, a mais velha, onde eu estou
morando agora que na casa da minha me, todas as coisas...
Ento eu redescobri a minha vida! Marley
Bom, tirar as fotos me aproximou mais da minha famlia, ajudou
a ver a realidade que eu vivo hoje. (...) Ela mostra como a vida
da gente . Essas fotos que ns tiramos mostra como a gente
vive, seus hbitos, seus costumes, como a vida da gente !
Paulo.
Eu coloquei o meu cotidiano. Mostrou um pouco da minha vida,
o meu mundo e essa foto escolhida significa como eu gostaria
que fosse a minha vida, com os meus trs filhos juntos. Eu
seria mais feliz! Bete.
Essas fotos contam como passo os meus dias. Esse um
pedao de mim! Gasto.
Eu acho que foi isso, pra mim o trabalho de tirar as fotos foi
retratar... Eu pensei em colocar na capa Retratos da vida, foi
retratar a minha vida, o que a minha vida hoje depois do
surto, depois da internao e o que a loucura pra mim,
porque muita gente fala: Ah! Ela louca. O que a loucura
pra mim? Pra muita gente a loucura uma coisa, mas para
mim outra! Ento pra mim foi importantssimo colocar na foto,
retratar meu dia-a-dia e o que a loucura. Marley.
Eu escrevi Retratos da vida, mas ele quer dizer Trajetria de
vida porque tudo que eu fotografei quer dizer trajetria de uma
vida. Ele tem uma trajetria, tem partes dele, ou a maior parte
dele, fala da trajetria da minha vida. Marley.
120
Na apresentao das fotografias, as categorias cotidiano e loucura
aparecem intrinsecamente ligadas.
Achei que tinha que descrever o que a loucura pra mim!
Achei que ia ser dificlimo, mas no foi. Difcil foi bater (foto) do
meu cotidiano. (...)
Ento, acho que pra mim a loucura o amor... um tipo de
loucura o amor que ele (cunhado) tem pela minha filha! (...)
Aqui, eu estou morando com a minha me depois do surto.
Aqui meu quarto. Aqui a porta da escola da minha filha
porque todo dia depois que eu saio do CAPS, ns vamos
buscar a minha filha no przinho! (...) Aqui uma foto, que a
gente passa perto do cemitrio porque a escola l perto e t
a uma loucura! Porque se a loucura no for tratada vai acabar
no cemitrio, de qualquer forma. (...)
Ento, eu acho que um tipo de loucura, porque se a sua
dvida se a filha sua e depois que voc tem certeza, voc
no registra, por qu?Ento voc est com um tipo de loucura,
porque voc sabendo que a filha sua e voc no quer
assumir? Eu acho uma loucura isso! (...)
Ento um tipo de loucura, voc est louco porque voc quer
viver sobre grade, sobre proteo... (...)
a janela da cozinha da minha me... do meu cotidiano! o
lugar que mais fico em casa, lavando loua, limpando... Eu falo
que vejo o mundo dessa janela porque ela no me deixa sair.
meu cotidiano!
Aqui, o retrato da loucura, o escritrio do meu pai. Foi
aonde comeou a minha loucura, aonde comecei a ter os
sintomas do meu surto psictico. Esse meu pai e o
advogado, so do meu cotidiano! Marley.
Falei que ia fazer o que fao sempre, que puxar o cabelo
quando to com raiva. Aqui sou eu puxando o cabelo mesmo,
121
no s pra bater a foto no! (...) quando estou com raiva, a
eu puxo mesmo! E tem outra, falei que rasgava cem reais e
no tenho cem reais, ento vou rasgar esses vinte conto... A
eu vou ser meio doida, mas eu falei eu vou rasgar. Bate a foto
que eu vou rasgar, a rasguei s no meio! Conforme eu puxei,
ele bateu, a rasgou no meio. Mas eu colei porque eu no sou
doida, nada! Risos... (...)
Aqui a nica amiga que eu tenho, essa a nica que eu
tenho, o dia inteiro est l em casa... Porque eu fico sozinha
(...) Bete.
O Bosque da Princesa! Eu passeio muito l! (...)
a foto do fumo. Eu fumo muito cigarro. O cigarro pra mim
como se fosse minha namorada, meu amigo... (...) Aqui a foto
da vassoura que eu costumo varrer a casa, a cala enxugando
no varal, porque eu lavo a minha roupa, eu moro sozinho. (...)
Loucura ... Aqui a foto do CAPS! O seu Hidehume na foto,
(...)
Outra loucura minha foi o transito! Uma rua com os carros.
Paulo
Essa aqui minha cachorra, Leda.
Essa daqui minha loucura. Eu tirei foto dos enfeites da
estante, das velas da Vanessa (que fazemos) no artesanato.
(...) que eu no saio de casa, saio muito pouco e ento tirei
foto do meu cotidiano, do meu dia-a-dia, entendeu? tudo
dentro de casa, no tenho nenhuma foto na rua. Gasto
Eu vou de vez em quando l. Aqui o Rio Paraba, a gua do
Paraba uma loucura minha.
Aqui foi a estrada. Essa daqui a igrejinha, uma igrejinha
humilde. Aqui no stio, a bananeira. Aqui o stio, aqui a
bicicleta que eu ando. Esse aqui meu irmo gmeo, que no
ta legal! Ele fuma pra caramba, gosta de fumar. Esse daqui
122
o carro da minha irm, que veio pra c. Essa daqui minha
me, essa a gatinha que eu gosto muito tambm! Ela chama
N! (...) Hidehume
A categoria cotidiano entendida a partir do pensamento de Agnes Heller
(1972) que tem o cotidiano como um sistema dinmico de categorias de atividade e
do pensamento cotidianos. Segundo a autora, a vida cotidiana a vida do homem
inteiro, pois todo homem a vive, sem exceo, no sendo possvel fugir a esta
realidade. A vida cotidiana a verdadeira essncia da substncia social. a vida do
indivduo, sendo este ao mesmo tempo, um ser particular e um ser genrico.
7- Crises, internaes e preconceito so questes presentes na narrativa dos
sujeitos, constitutivas de suas trajetrias de vida.
Praticamente eu perdi o meu servio por causa do tratamento,
(...) eu fui conversar l no servio e eles ficaram todos meio
assim, com receio, balanados. A eu peguei e sa, j que ficou
assim e mudou o clima. (...) A ele j ficou meio assim, com
medo, desconfiado e mudou o comportamento, at que eu sa.
(...) Eu acho que se l atrs existisse um tratamento assim,
porque isso vem desde criana, (as) internaes. (...) Quantos
eletrochoques eu tomei na minha vida?! Acho que se tivesse
sido diferente antes, hoje eu no estaria assim. Hoje eu poderia
trabalhar. (...) que ningum pode saber o problema que eu
tenho (...). Soube que voc paciente do CAPS, que voc tem
um problema psiquitrico, voc morre para as pessoas! (...)
Bete
(...) Vai falar: ah! Ela j esteve internada quatro vezes.
Pensa?! Ela louca, j esteve internada. (...) Cristina
(...) (Fui internado) uma, duas, trs (vezes). Da segunda para a
terceira foi seguida. Eu sa do hospcio e sa ruim. Me deram
123
alta e no dia seguinte eu surtei, s que tem que esperar quinze
dias de uma internao para outra pelo SUS. Minha me teve
que me aguentar onze dias surtado, sem dormir, acordado,
cantando... (...) Depois que voc fica internado uma, duas, trs,
quatro vezes, eles j comeam a falar: o cara ficou internado,
o cara no bate bem. As pessoas no tm confiana na gente,
acha que irresponsvel, acha que que nem criana e no
pode tomar decises importantes. Gasto.
muita fantasia que as pessoas tm quanto a um tratamento
psiquitrico, o que o CAPS e como que funciona: ah!
assim? muito misticismo em cima da doena psiquitrica. A
minha me, quando eu voltei com ela, ela falou que no podia
acender o fogo. (...) Marley
(...) A gente ta ali, mas eles no sabem como lidar com a
gente, se manda ir pra l ou pra c, pra onde vai. Zinete.
Pensa que os vizinhos aqui como aqui era uma residncia
normal e agora um CAPS no ficam tudo com medo? Olha
l, olha! So todos malucos ali dentro. Voc pensa que eles
no comentam? Gasto.
8- Os sujeitos se identificam e se reconhecem a partir de suas trajetrias vida,
dos papis que desempenham socialmente e das relaes sociais que
estabelecem. Tambm a partir de suas origens, como ascendncia e a
escolha de seus nomes. A doena igualmente referida como forma de
identificao, porm como esperana, apesar de haver sofrimento psquico.
Normal, um psictico normal que foi atingido pela doena,
como a Marley foi e voc est sujeita a ser tambm. Nenhuma
de vocs trs (profissionais) imune! (...) Qualquer um est
sujeito a isso, vocs no so especiais. (...) Eu sou psictico
124
assumido, estou acostumado j! Eu no me importo com
preconceito e que falem mal de mim. Sou um psictico normal,
acostumado com o dia-a-dia, acostumado com preconceito.
Olha, eu sou uma mulher sozinha que foi abandonada pela
famlia, mas que tem Deus no corao e muita vontade de
vencer! Cristina
Eu sou como um pssaro, como uma Fnix, entendeu? (...) Ela
imortal, (...) ento vamos sobrevivendo dia aps dia e s
isso! Gasto
Eu fiz um sol, mas tem bastante cor quente: laranja, mostarda,
vermelho (...) que hoje no grupo eu senti, apesar do problema
que cada um tem, todo mundo parece que muito forte e tem
muita vontade de viver. Ento eu quis colocar isso aqui! Marley
Bom, eu sou um bichinho que luta para sobreviver. (...) como
um bichinho que est dentro do poo. Ele fica com as garrinhas
ali, querendo subir e no consegue, mas (...) ele vai conseguir
subir at alcanar o ideal dele! Cristina.
Eu tenho memrias de coisas que eu fiz, que estudei, que
aprendi com a vida. (...) Me d muita esperana de ter um
futuro melhor e vencer tudo isso na minha vida hoje, porque
difcil e t muito difcil. (...) Eu tenho f na minha capacidade e
na minha fora de vontade... Marley.
Eu vejo uma pessoa diferente do que eu era. Ainda no
consegui aceitar, mas no fisicamente... Talvez aquela Marley
que tinha cabelo comprido, que era diferente, era uma. Hoje a
que tem cabelo curto outra e eu ainda no consegui me
relacionar com essa. (...) talvez hoje eu esteja me
redescobrindo (...) Marley.
125
Estou vendo um japons na imagem! Risos... Minha imagem!
um homem que faz o trabalho toda segunda e sexta vindo aqui
nas terapias, um homem que gosta dessas atividades, menos
de teatro... Hidehume.
(...) Eu passei por duas doenas. Na primeira o mdico falou:
ela no vai andar nunca mais. Ela vai ter vida vegetativa. (...)
Depois de seis meses eu estava andando. Depois foi um ano
de separao e um surto psictico. Ento o marabu
58
significa
a vida que eu tenho. Sou uma pessoa cheia de vida! (...) Pode
qualquer pessoa falar que no vou sarar, que vai dar tudo
errado, mas (...)O que tenho de mais precioso o que est na
minha cabea, a bagagem que eu tenho. Marley
(...) Voc tem bagagem na alma! Eu me amo! Cristina
Olha o meu, que chique e maravilhoso! Eu escrevi dentro dele:
eu gostaria de ser assim, alegre e feliz (...). No aguento mais
ser assim, mas eu luto... Bete
(...) Nesse momento a minha vida no t colorida, ela t em
preto e branco. As cores ajuda a ficar mais bonita, n? (...)
Independncia, porque no momento os meus irmos que me
ajudam. Sinto falta (de) me sustentar, no depender de
ningum! (...) Eu gostaria de voltar a ser como era antes, voltar
a trabalhar, mesmo que seja servio voluntrio, ou fazer
alguma coisa... Paulo
Ah! um colorido, n? Porque a minha vida no muito legal
no. (...) Eu quero ser independente... Camila
58
Plumas coloridas feitas de pena de galinha.
126
Voc no sabe o quanto eu caminhei pra chegar at aqui...
Pra mim significa que com a ajuda de Deus, o CAPS surgiu e
eu melhorei muito! Antes a minha vida era s briga, delegacia
da mulher, B.O., suicdio, mas com a ajuda do CAPS hoje sou
diferente. Essa parte que fala voc no sabe o quanto eu
caminhei, pra mim significa o quanto sofri, como lutei at
chegar aqui no ponto onde estou hoje! (...) Bete
Quando estava no Bairral, eu pensei: pelo amor de Deus!
Agora j era, agora foi a cabea, no vai dar mais, mas d! A
gente forte, a gente consegue. (...) Marley
Eu acho que porque eu dava muito trabalho: muita
internao, muita crise, fugia de casa; sumia e eles ficavam
doidos me procurando. Minha me falava que eu era a ovelha
negra da famlia. Isso uma das coisas que no esqueo, das
tantas vezes que minha me falava: voc a ovelha negra da
famlia!. Essa msica marcou, eu tenho ela como minha! (...)
Bete.
Tem uma msica do Roberto Carlos, A Montanha: eu vou
subir a montanha e ficar bem l no alto (...) agradeo, obrigado
Senhor por mais um dia, obrigado senhor pelas estrelas,
obrigado senhor porque posso ver.... Essa msica muito
antiga! Eu me sinto alegre. Hidehume
Eu sei, meu nome diferente. porque a minha me chama
Maria Helena e meu pai chama Levy com y (...) A ficou
Marley! Marley.
(...)a minha av nasceu em Madrid. O povo de l forfento,
fala pra burro, fala alto... Briga s na hora, n? Fica bravo s
na hora, mas a briga feia! Eu gosto, e lembro muito da minha
av. Marley
127
Hidehume (era) um mdico l no Japo, um mdico muito bom
que tem o nome de Hidehume. Hidehume
o seguinte, meu pai morava no Rio de Janeiro e era zelador
de um prdio e o dono do prdio chamava Gasto, entendeu?
A quando eu nasci o dono do prdio pediu pra colocar o meu
nome de Gasto e meu pai colocou. (...) Eu gosto, j acostumei
com ele. original, Gasto Mauro! Gasto.
Meu nome foi uma amiga da minha me que colocou. Elas
eram muito amigas e ela gostou do nome e colocou em mim.
Zinete.
A minha me morava numa casa e l tinha duas irms gmeas:
a Maria Helena e a Maria Cristina. Ento a minha me fez uma
promessa que se a Maria Cristina voltasse a falar, porque ela
era muda. A menina foi para os Estados Unidos, fez tratamento
e voltou falando. A quando eu nasci a minha me colocou meu
nome de Maria Cristina. Cristina
O nome veio do meu pai, mas um motivo especial eu acho que
no teve no. (...) Eles nunca falaram e nunca perguntei
(porque me deram esse nome). Paulo um nome comum, n?
No tenho nada contra ele no, eu gosto! (...) Paulo.
9- Esperana, fora de vida e vontade de viver so recorrentes nas falas
dos sujeitos.
Eu fiz um sol. Tem bastante cor quente: laranja, mostarda,
vermelho, que hoje eu senti, apesar do problema que cada um
tem, todo mundo parece que muito forte e tem muita vontade
de viver. Ento eu quis colocar isso aqui! Marley
128
O branco a paz que procuro encontrar e o verde a
esperana de um dia ser feliz. Bete
(...) Coloquei tudo junto (...). Embaixo eu coloquei o vermelho
(...), porque apesar de tudo que aconteceu comigo, das
doenas, sou uma pessoa muito alegre, sou uma palhaa, vejo
coisas engraadas em tudo. (...) O azul pra mim significa a
vida. Sinto que tenho muita vida, transformo uma situao ruim
em boa. (...) No me tiraram o mais precioso que a minha
vida e essa vontade que tenho de viver e de vencer. Por cima o
verde porque (...) eu tenho esperana e sei que as coisas vo
mudar! (...) O dourado que eu coloquei em volta da minha vida
(...) a alegria, o glamour. A vida um glamour e a gente
muito especial: sou me da Ana Julia, da Maria Cndida, sou
eu e tenho muita coisa boa tambm! (...). Marley
(...) Os bons momentos so essas cores mais bonitas e que se
misturam. Por ultimo eu coloquei o vermelho que o fogo da
vida, que faz ter a vontade de viver... s isso! Paulo
Fiz o meu todo colorido porque tem dois significados: coloquei
pedras porque tem pedras no caminho e o colorido pode ser o
arco-ris. Tenho esperana que dias melhores vo vir, me
curar... Camila
(...) Eu estou doente, mas estou seguindo em frente e no
estou deixando a peteca cair! Tem pedra no meu caminho?
Tem... Mas eu vou tirando e vou caminhando (...) e sigo em
frente. Cristina
Eu fiz tudo de paz porque com paz a vida melhor. Embaixo
gua, aqui primavera, aqui no meio o cu. Hidehume
129
Fora, mais uma dose de nimo (...) e esprito de luta que
muito importante. Vontade de batalhar mais e mais pra
alcanar os meus objetivos. Cristina
Pra mim esperana o meu lbum! Eu espero que minha
vida melhore, e j t melhorando, (...) As (fotos) de hoje
esperana de que minha vida mude e melhore, n? Paulo.
Muito mais que uma exigncia formal para obteno do ttulo de Mestre em
Servio Social, a Dissertao de Mestrado se constitui em momento
privilegiado de reflexo e de sistematizao de um assunto especfico, cuja
prioridade baseia-se no interesse de seu autor. Um processo que
particular de cada pesquisador (CALASSO, 1995, p. 2).
Assim esta dissertao tida como momento privilegiado de sntese e de
sistematizao desta temtica que faz parte da trajetria da pesquisadora e que no
se finda com a apresentao deste documento.
Gasto: Voc ta feliz? Vocs trs
59
esto felizes com o
desempenho nosso ajudando vocs? Esse trabalho todo foi
satisfatrio?
Maira: Muito! Ficou na histria da nossa vida!
Gasto: Deu bastante fruto para o futuro?
Maira: Deu um pomar!
Com um pomar, possvel recorrer temtica quantas vezes forem
necessrias para colher seus frutos...
59
Gasto se refere s profissionais que pensaram o projeto de interveno.
130
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Filmografia
BICHO de sete cabeas. Direo: Las Bodanzky. Produo: Sara Silveira, Caio
Gullane, Fabiano Gullane, Luiz Bolognesi e Marco Mller. Intrpretes: Rodrigo
Santoro; Othon Bastos; Cssia Kiss e outros. Roteiro: Luiz Bolognesi. Msica: Andr
Abujamra. Brasil: [s.n.], 2000. 1 DVD (88 min), DVD, son., color.
ENSAIO sobre a cegueira. Direo: Fernando Meirelles. Produo: Niv Fichman,
Andrea Barata Ribeiro, Sonoko Sakai. Intrpretes: Julianne Moore, Mark Ruffallo,
Alice Braga, Danny Gloover, Gael Garca Bernal e outros. Roteiro: Don McKellar.
Msica: Marco Antonio Guimares/Uakti. Brasil: O2 Filmes; Rhombus Media; Bee
Vine Pictures, 2008.
ESTAMIRA. Direo: Marcos Prado. Produo: Marcos Prado e Jos Padilha.
Msica: Dcio Rocha. Rio de Janeiro: Zazen Produes, 2005. 1 DVD (115 min),
DVD, son., color.; P&B.
UM ESTRANHO no ninho. Direo: Milos Forman. Estados Unidos da Amrica:
[s.n.], 1975. 1 DVD (133 min), DVD, son., color.
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http://www.scielo.br/?lng=pt
http://www.ibge.gov.br/home/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pindamonhangaba
142
APNDICES
1- As fotografias e as produes
Eu quero a luz que vem de dentro, quero que as cores
representem as emoes.
Vincent Van Gogh
A. A imagem que tenho do Centro de Ateno Psicossocial de
Pindamonhangaba
Gasto: o sol iluminando o CAPS, o sol da minha vida!
Paulo: a amizade que ganhei representa o CAPS pra mim.
143
Zinete: Aqui t o meu amigo... Uma repartio da casa.
Marley: CAPS minha segunda casa. (...) Foi aqui que encontrei pessoas,
profissionais (...) pra me ajudar a vencer a minha doena.
144
Bete: Este aqui o meu CAPS, meu refugio, a minha paz.
Hidehume
145
Cristina: O CAPS pra mim, como se diz na viso de poetisa, Carinho, Ateno,
Pureza e Solidariedade.
Jos: todos os hospital que estava, no tinha essa regalia.
146
Camila
As fotografias: a experincia de fotografar, o cotidiano e a loucura
1
Cristina (Panterinha ou Petequinha).
1
As fotografias de pessoas no foram postas para preservar a imagem dos sujeitos.
147
Cristina (Panterinha e Petequinha).
Marley: aqui meu quarto.
148
Marley: aqui a porta da escola da minha filha.
Marley: aqui uma foto, que a gente passa perto do cemitrio (...) e t a uma
loucura, porque se a loucura no for tratada, vai acabar no cemitrio.
149
Marley: voc est louco porque voc quer viver sobre grade, sobre proteo...
Marley: o Bob do meu cotidiano.
150
Marley: eu falo que vejo o mundo dessa janela.
Marley: aqui o retrato da loucura. o escritrio do meu pai. Foi aonde comeou a
minha loucura, aonde comecei a ter os sintomas do meu surto psictico
151
Bete: cheguei em casa, entrei pela sala, passei pelo corredor e fui cozinha...
Bete
152
Bete: depois comeo a ajeitar um pouco as baguna...
Bete: Pronto, t tudo arrumado!
153
Bete: as minhas trs felicidades, que so os trs! Entendeu?
Paulo: O Boque da Princesa! Eu passeio muito l!
154
Paulo: eu freqentei duas vezes a academia l
Paulo: o cigarro pra mim como se fosse minha namorada, meu amigo... O cigarro
pra mim tudo... ! Meu companheiro pra tudo1
155
Paulo: Essa daqui a foto da minha cama onde eu durmo!
Paulo: Aqui a foto do meu rdio que eu escuto a minha msica...
156
Paulo: minha televiso pequena!
Paulo: Aqui a foto da vassoura que eu costumo varrer a casa
157
Paulo: a cala enxugando no varal...
Paulo: o transito em geral hoje, o transito da cidade grande! O Transito a foto da
minha loucura!
158
Gasto: Essa aqui minha cachorra, Leda!
Gasto: Eu tirei foto dos enfeites da estante, das velas da Vanessa, do artesanato!
Pra mim uma loucura!
159
Gasto: Esse daqui o tratorzinho do SENAI, a minha filha fez
Gasto: E aqui uma planta! O fogo entrou de curioso!
160
Gasto: Esse daqui um jardim florido!
161
Gasto: Aqui uma planta no fundo do quintal!
Gasto: Aqui o corao que a minha filha ganhou do namorado, corao com
mozinha!
162
Gasto: Aqui minha televiso famosa! (...) pra mim olimpadas a loucura! Aquela
adrenalina, aquele stress, aquela insnia antes da competio, entendeu?
Hidehume: essa foto aqui a foto da casa.
163
Hidehume: Essa Figueira velha.
164
Hidehume: Essa daqui a Villares! Eu vou de vez em quando l!
Hidehume: Aqui o Rio Paraba, a gua do Paraba uma loucura minha!
165
Hidehume: Aqui foi a estrada.
Hidehume: Essa daqui a Igrejinha
166
Hidehume: Aqui no stio, a bananeira.
Hidehume: Aqui a bicicleta que eu ando!
167
Hidehume: Esse daqui a sala de televiso que eu assisto o Jornal Nacional,
Datena, SBT, Record...
168
Zinete
Zinete
169
Zinete
Camila: Todas essas fotos so do retiro que eu fui. Foi no Sindicato Rural de
Taubat
170
Camila
Camila
171
Camila: a Babu e a Gorda!
Camila
172
Jos
Jos
173
Jos
Jos
174
Jos
Gasto: Eu sou como um pssaro, como uma Fnix
175
Marley: todo mundo parece que muito forte e tem muita vontade de viver.
Cristina: eu sou um bichinho que luta para sobreviver
176
.
Paulo: essa cama representa a solido.
177
Marley: Eu tenho memrias de coisas que eu fiz, que estudei, que aprendi com a
vida.
Bete: o branco a paz que procuro encontrar e o verde a esperana de um dia
ser feliz.
Marley: eu tenho esperana e sei que as coisas vo mudar!
178
Paulo: o vermelho que o fogo da vida, que faz ter a vontade de viver.
Camila: tenho esperana que dias melhores vo vir
179
Cristina: Tem pedra no meu caminho? Tem... Mas eu vou tirando e vou
caminhando...
Gasto: Aqui como eu estou, entendeu? Eu estou muito bravo!
180
Hidehume: Eu fiz tudo de paz porque com paz a vida melhor
181
2- Estudo da Revista Servio Social & Sociedade
O estudo sobre a Revista Servio Social & Sociedade teve incio com a
proposta de localizar as publicaes sobre a temtica de Sade Mental no Servio
Social. No entanto, entrar em contato com os cem nmeros publicados pela Revista
ao longo de seus trinta anos de existncia (1979-2009) e estar diante da
materializao histrica da profisso, instigaram a aprofundar o estudo. Entendeu-se
que seria necessrio conhecer as temticas abordadas pela Revista ao longo dos
anos para explicitar a relao entre a profisso e a Sade Mental.
Deste modo, o estudo da Revista, que inicialmente se dedicaria ao
levantamento de artigos publicados em Sade Mental, resultado de um profundo
envolvimento com a identidade da profisso e com a prpria pesquisa.
O estudo se d sobre seus cem nmeros publicados em seus trinta anos de
produo (1979- 2009). Fundamenta-se nos textos Contribuies da revista para a
construo do Servio Social brasileiro, de 1999 e Trinta anos da revista Servio
Social & Sociedade: contribuies para a construo e o desenvolvimento do
Servio Social no Brasil, de 2009, elaborados por Maria Ozanira Silva e Silva,
publicados na Revista Servio Social & Sociedade nmeros 61 e 100
respectivamente.
Por meio do registro dos dados catalogrficos de cada Revista, como ano,
nmero e data da publicao, um primeiro quadro formulado com as informaes
mais gerais a respeito.
Quadro geral de publicaes da Revista Servio Social & Sociedade 1979-2009
Revista Ttulo Ano Condio Data Total de artigos
Sobre
Sade Mental
n. 1 Poltica Social I set/79 10 artigos, 1 noticirio no consta
n. 2 no consta I mar/80 15 artigos no consta
n. 3 Novos Espaos I out/80
7 artigos, 1 depoimento,
resenhas no consta
n. 4 Teorias II dez/80 8 artigos no consta
n. 5 no consta II mar/81 12 artigos, resenhas no consta
n. 6 Prtica Social III set/81
11 artigos, 1 noticirio,
resenhas no consta
182
Revista Ttulo Ano Condio Data Total de artigos
Sobre
Sade Mental
n. 7
O Poder e a busca de
Participao III dez/81 7 artigos; notcias no consta
n. 8
Prtica Profissional e
Movimentos Sociais III mar/82 8 artigos, 2 noticirio no consta
n. 9 O discurso profissional III ago/82
11artigos, 1 entrevista,
resenhas no consta
n. 10 no consta IV dez/82
6 artigos, 1 resenha
crtica no consta
n. 11 no consta IV abr/83 6 artigos, 1 depoimento no consta
n. 12
Os 50 anos do Servio
Social IV ago/83 9 artigos no consta
n. 13
A ideologia, as instituies
e os movimentos sociais IV dez/83 9 artigos no consta
n. 14 Formao Profissional V abr/84 5 artigos no consta
n. 15 Prtica de ensino V ago/84 9 artigos no consta
n. 16 Servio Social e Sade VI dez/84
9 artigos, 6
comunicados, 2 artigos
n. 17 no consta VI abr/85
11 artigos, 1
comunicado no consta
n. 18 Trabalho VI ago/85
9 artigos, 2
comunicados no consta
n. 19 no consta VI dez/85
10 artigos, 3
comunicados, 1 sntese
de tese no consta
n. 20 no consta VII abr/86 9 artigos, 1 resenha no consta
n. 21 no consta VII ago/86 11 artigos, 1 resenha no consta
n. 22 no consta VII dez/86
8 artigos, 1 depoimento,
3 comunicaes no consta
n. 23 no consta VIII abr/87
8 artigos, 1 depoimento,
1 comunicao, 1
resenha no consta
n. 24 no consta VIII ago/87 8 artigos no consta
n. 25 no consta VIII dez/87
7 artigos, 1 entrevista, 2
resenhas no consta
n. 26 no consta IX abr/88 9 artigos, 1 homenagem no consta
n. 27 no consta IX set/88 9 artigos no consta
n. 28 no consta IX dez/88 9 artigos no consta
183
Revista Ttulo Ano Condio Data Total de artigos
Sobre
Sade Mental
n. 29 no consta X abr/89 7 artigos no consta
n. 30
Nmero Comemorativo
dos 10 anos X abr/89 9 artigos no consta
n. 31 no consta X dez./89 10 artigos no consta
n. 32 no consta XI
mai.
ago./90
7 artigos, 2 resenhas, 1
documento no consta
n. 33 no consta XI ago/90 8 artigos, 2 depoimentos no consta
n. 34 no consta XI dez/90 8 artigos, 1 resenha no consta
n. 35 no consta XII abr/91 9 artigos no consta
n. 36 no consta XII ago/91 12 artigos no consta
n. 37 no consta XII dez/91
8 artigos, 1
comunicao no consta
n. 38 no consta XIII abr/92 9 artigos, 1 documento no consta
n. 39 no consta XIII
mai.
ago./92 9 artigos, 1 documento no consta
n. 40 no consta XIII dez/92 9 artigos, 1 resenha no consta
n. 41 no consta XIV abr/93
10 artigos, 1 informe, 1
resenha no consta
n. 42 no consta XIV ago/93
8 artigos, 1 resenha, 1
informe no consta
n. 43 no consta XIV dez/93
8 artigos, 1 resenha, 1
comunicao de evento no consta
n. 44 no consta XV abr/94
8 artigos, 1 tema em
debate, 1 resenha, 1
homenagem no consta
n. 45 no consta XV ago/94 12 artigos, 1 informe no consta
n. 46 no consta XV dez/94 10 artigos, 1 resenha no consta
n. 47 no consta XV abr/95
10 artigos, 1 resenha, 1
informe no consta
n. 48 no consta XVI ago/95
8 artigos, 1 debate, 1
informe, 1 resenha no consta
n. 49 no consta XVI nov/95
8 artigos, 1 resenha, 1
informe no consta
n. 50
O Servio Social no Sculo
XXI XVII abr/96
7 artigos, 1 trocando em
midos no consta
n. 51
Identidade e Formao
Profissional XVII ago/96
9 artigos, 1 trocando em
midos no consta
184
Revista Ttulo Ano Condio Data Total de artigos
Sobre
Sade Mental
n. 52 Mundo do Trabalho XVII dez/96
8 artigos, 1 resenha, 1
trocando em midos, 1
homenagem no consta
n. 53 Poltica Social e Direitos XVIII mar/97
10 artigos, 1 resenha, 1
trocando em midos no consta
n. 54
Descentralizao,
Cidadania e Participao XVIII jul/97
9 artigos, 1 resenha, 1
trocando em midos 1 artigo
n. 55
Mnimos Sociais e
Excluso Social XVIII nov/97
10 artigos, 2 trocando
em midos no consta
n. 56
Assistncia Social e
Sociedade Civil XIX mar/98
11 artigos, 1 trocando
em midos, 1
homenagem no consta
n. 57 Temas Contemporneos XIX jul/98
7 artigos, 1 depoimento,
1 expresso do
pensamento social, 1
trocando em midos no consta
n. 58
Terceiro Setor e
Movimentos Sociais hoje XIX nov/98
9 artigos, 1 expresso
do pensamento social no consta
n. 59
Espao Pblico,
Cidadania, Terceiro Setor XX mar/99
7 artigos, 1 expresso
do pensamento social, 2
informes no consta
n. 60 Crise e proteo social XX jun/99 9 artigos, 1 resenha no consta
n. 61 20 anos XX nov/99 7 artigos, 1 informe no consta
n. 62
Processo de Trabalho e
Assistncia Social. XXI mar/00 8 artigos, 1 informe no consta
n. 63
Enfrentamento da Pobreza
em Questo XXI jul/00
6 artigos, 3
comunicaes de
pesquisa, 1 resenha
1 comunicao
de pesquisa
n. 64
Modernidade, Sombras e
Lutas XXI nov/00 9 artigos; 2 resenhas no consta
n. 65
Seguridade Social e
Cidadania XXII mar/01 8 artigos 1 artigo
n. 66
Frum Social, Gesto de
Polticas XXII jul/02 9 artigos, 1 resenha. no consta
n. 67
Temas Sociojurdicos XXII ESPECIAL set/01 11 artigos, 1 resenha no consta
n. 68
Assistncia e Proteo
Social XXII nov/01 8 artigos no consta
n. 69 Multifaces do Trabalho XXIII mar/02 8 artigos, 1 resenha no consta
n. 70 Violncia XXIII jul/02
8 artigos, 1
comunicao de
pesquisa, 1 expresso
do pensamento social no consta
185
Revista Ttulo Ano Condio Data Total de artigos
Sobre
Sade Mental
n. 71 Famlia XXIII ESPECIAL set/02
9 artigos, 1
comunicao de
pesquisa 1 artigo
n. 72
Cidade, Proteo e
Controle Social XXIII nov/02 8 artigos, 2 informes no consta
n. 73
Polticas Pblicas e
Sociedade Civil XXIV mar/03 8 artigos no consta
n. 74
Sade, Qualidade de Vida
e Direitos XXIV jul/03 8 artigos, 1 resenha no consta
n. 75 Velhice e Envelhecimento XXIV ESPECIAL set/03
11 artigos, 2
comunicaes de
pesquisa, 1 trocando em
midos, 1 informe-se no consta
n. 76 Estado e Regulao Social XXIV nov/03 8 artigos, 1 resenha no consta
n. 77
Assistncia Social,
Polticas e Direitos XXV mar/04 10 artigos, 2 informes no consta
n. 78 Gesto Pblica XXV jul/04
7 artigos, 1 relato de
experincia, 1 resenha,
3 informe-se no consta
n. 79
Servio Social, Formao
e Projeto Poltico XXV ESPECIAL set/04 10 artigos no consta
n. 80
Poltica de Assistncia
Social XXV nov/04
7 artigos, 1 expresso
do pensamento social; 1
resenha, 1 informe-se no consta
n. 81 Temas em Debate XXVI mar/05 8 artigos, 1 resenha no consta
n. 82 Trabalho e Sade XXVI jul/05
7 artigos, 2
comunicaes de
pesquisa, 1 resenha 1 artigo
n. 83 Criana e Adolescente XXVI ESPECIAL set/05
7 artigos, 1 trocando em
midos, 1 relato de
experincias, 2
resenhas, 1 informe-se no consta
n. 84
Reconceituao do Servio
Social: 40 anos XXVI nov/05 9 artigos no consta
n. 85
tica, Execuo de
Polticas, Democracia
Participativa. XXVII mar/06
10 artigos, 1 expresso
do pensamento social, 1
resenha no consta
n. 86
Espao Pblico e Direitos
Sociais XXVII jul/06
7 artigos, 1 tema para
debate, 1 relato de
experincia, 1 resenha no consta
n. 87 SUAS e SUS XXVII ESPECIAL set/06 10 artigos no consta
n. 88
Espao Pblico e Controle
Social XXVII nov/06 8 artigos, 2 informes no consta
186
Revista Ttulo Ano Condio Data Total de artigos
Sobre
Sade Mental
n. 89
tica Pblica e Cultura de
Direitos XXVIII mar/07
7 artigos, 1 entrevista, 1
resenha, 1 informe no consta
n. 90 Gesto Pblica XXVIII jun/07
9 artigos, 2 resenhas, 2
informes, no consta
n. 91
Projeto Profissional e
Conjuntura XXVIII ESPECIAL set/07
8 artigos, 1 depoimento,
1 trocando em midos no consta
n. 92
Poltica Social, Desafios
para o Servio Social XXVIII nov/07
10 artigos, 1 polmica, 1
homenagem 1 artigo
n. 93 Trabalho e Trabalhadores XXIX mar/08 8 artigos, 5 informe-se no consta
n. 94
Exame de Proficincia em
Debate XXIX jun/08 10 artigos no consta
n. 95
Servio Social, Memria e
Histria XXIX ESPECIAL set/08
9 artigos, 1 trocando em
midos no consta
n. 96
Memria do servio social -
Polticas Pblicas XXIX nov/08 10 artigos, 2 informes no consta
n. 97
Servio Social, Histria e
Trabalho XXX jan.mar/09 9 artigos no consta
n. 98
Mundializao do Capital e
Servio Social XXX abr.jun/09 7 artigos no consta
n. 99
Direitos, tica e Servio
Social XXX jul.set/09
9 artigos; 1 Polmicas e
Debates no consta
n. 100
O Congresso da Virada e
os 30 anos da Revista XXX out.dez/09 9 artigos; 1 informe-se no consta
A partir do nmero 67 da Revista, publicada em setembro de 2001, houve a
incluso de um nmero especial temtico anual. At o presente momento, foram
publicados 8 nmeros especiais, cujos temas abordaram:
N. Revista Temtica
1 Revista n. 67 Temas Sociojurdicos
2 Revista n. 71 Famlias
3 Revista n. 75 Envelhecimento
4 Revista n. 79 Servio Social, Formao e Projeto Poltico
5 Revista n. 83 Criana e Adolescente
6 Revista n. 87 SUAS e SUS
7 Revista n. 91 Projeto Profissional e Conjuntura
8 Revista n. 95 Servio Social, Memria e Histria
187
Alm dos artigos publicados, a Revista possui outras sesses tambm
contabilizadas neste estudo. So elas: Comunicaes de pesquisa, Comunicados,
Debate, Depoimentos, Documentos, Entrevistas, Expresso do pensamento social,
Homenagem, Informes e Informe-se, Noticirio e Notcias, Polmica, Polmicas e
Debates, Relato de experincia, Resenhas, Sntese de Tese, Temas para Debate e
Trocando em midos. Apesar do grande nmero de sesses, sua maior produo
est centrada nos artigos, sendo que as demais sesses aparecem de modo
alternado em cada uma das publicaes da Revista.
Enquanto ainda eram registrados os primeiros nmeros, percebeu-se que
apenas estas informaes no seriam suficientes para explicitar a relao entre o
Servio Social e a Sade Mental, sendo necessrio tambm o registro das temticas
abordadas pela Revista em cada um de seus artigos. Logo, iniciou-se o processo de
registrar as temticas que constavam dos sumrios e dos editoriais.
A partir desse registro abrangendo os 100 nmeros publicados da Revista,
desde sua primeira publicao em setembro de 1979 at sua ltima edio em
outubro/dezembro de 2009 iniciou-se uma nova fase, a de agrupar as temticas
por dcadas, compreendendo os perodos de 1979 a 1989, 1990 a 1999 e 2000 a
2009, que sero apresentados em ordem cronolgica.
Primeiro Perodo: 1979-1989
Quadro de temticas da Revista Servio Social & Sociedade 1979-1989
Temticas Frequncia Porcentagem
Profisso de Servio Social como prtica poltica, Servio
Social, Servio Social rural, mdico, hospitalar, em empresa,
Servio Social e espao institucional, e o mundo do trabalho, e
segurana do trabalho, Servio Social como praxis. Papel
profissional, perfil e perspectivas, especificidade do Servio
Social
25 9,16%
Prtica Profissional, prtica profissional do assistente social e
do Servio Social, anlise da prtica, prtica cotidiana,
incorporao da dimenso investigativa a prtica, prtica
assistencial, prtica do aconselhamento de ajuda, prtica
profissional na sade, na Sade Mental, em movimentos
sociais, em instituio e relacionada participao.
21 7,69%
188
Formao Profissional, Ensino, Currculo, Estgio. 20 7,33%
Sade: AIDS, medicina de convnio, medicina popular e
medicina das classes populares, mortalidade infantil, recm-
nascidos prematuros, Sade Mental, Psiquiatria Comunitria,
sade da criana e da mulher, Servio Social mdico e
hospitalar, transplante renal
19 6,96%
Movimentos sociais, movimento social de mulheres,
movimentos sociais em sade, movimentos populares,
movimento operrio
17 6,23%
Fundamentos terico metodolgicos: tradio marxista, teoria
racional do Estado em Rosseau, tendncias terico-
metodolgicas, Taylorismo, pensamento de Edgar Morin e
Jeannine Verds-Leroux, os intelectuais e a fbrica em
Gramsci, perspectiva terica, metodologia em Servio Social,
fundamentos do Servio Social, estruturalismo em Lucien
Goldmann
16 5,86%
Pesquisa e construo do conhecimento em Servio Social 16 5,86%
Poltica Social 15 5,49%
Participao, Participao Popular, gesto popular 14 5,13%
Questo Agrria, Reforma Agrria, Agricultura, Servio Social
Rural, Seca
7 2,56%
Criana, questo do menor 6 2,20%
Trabalho, condio de trabalho: trabalho informal, segurana
do trabalho, processo de trabalho, mercado de trabalho,
desemprego, dependncia de empregado
6 2,20%
Assistncia Social 5 1,83%
Famlia 5 1,83%
Estado de Bem-Estar Social 4 1,47%
Planejamento 4 1,47%
Cidadania, luta pela cidadania 3 1,10%
Espao profissional, Espao institucional 3 1,10%
Ideologia 3 1,10%
Movimento de Reconceituao do Servio Social 3 1,10%
Organizao dos assistentes sociais 3 1,10%
Pobreza 3 1,10%
Trabalho no Servio Social: trabalho na rea central e perifrica
de So Paulo, trabalho em comunidade
3 1,10%
Constituio Federal 2 0,73%
Creche 2 0,73%
189
Desenvolvimento de comunidade 2 0,73%
Dominao/autoritarismo, dominao e resistncia operria 2 0,73%
Educao, educao popular 2 0,73%
Estado 2 0,73%
Limites, limites institucionais 2 0,73%
Mediao 2 0,73%
Poder e hegemonia, luta pela hegemonia 2 0,73%
Poltica Habitacional 2 0,73%
Relao teoria e prtica 2 0,73%
Superviso 2 0,73%
Violncia no cotidiano e no mundo do trabalho 2 0,73%
Assistncia tcnica 1 0,37%
Assistente social enquanto intelectual 1 0,37%
Avaliao socioeconmica 1 0,37%
Cientificidade 1 0,37%
Classes sociais 1 0,37%
Comunidade 1 0,37%
Conjuntura 1 0,37%
Cultura popular 1 0,37%
Democracia 1 0,37%
Desenvolvimento 61-68 1 0,37%
Desenvolvimento social 1 0,37%
Economia 1 0,37%
Expanso capitalista 1 0,37%
Feminismo 1 0,37%
Foras sociais 1 0,37%
Histria do Servio Social 1 0,37%
Igualdade social 1 0,37%
Interdisciplinaridade 1 0,37%
Luta de classes 1 0,37%
Organizao sindical de trabalhadores 1 0,37%
Prtica social 1 0,37%
Praxis 1 0,37%
Promoo Social 1 0,37%
Questo de poltica pblica 1 0,37%
Questo social 1 0,37%
Transformao social 1 0,37%
Total 273 100,00%
190
O cenrio desta primeira dcada da circulao da Revista o mesmo de sua
constituio: contexto de articulao da sociedade brasileira, no qual tem incio a
Abertura Poltica do pas, que decorre principalmente da mobilizao da sociedade.
Tem incio um processo de libertao da Ditadura Militar (1964-1985) e de
politizao. Tempo de greves, de forte presena sindical, do surgimento do Partido
dos Trabalhadores PT e da transformao do antigo MDB em Partido do
Movimento Democrtico Brasileiro PMDB. Tem incio a reformulao partidria e o
pluripartidarismo
1
.
O ano de 1978 significativo nesse processo, pois aprovada a Emenda
Constitucional que revoga o AI-5, sancionada a Lei de Segurana Nacional, que
prev penas mais brandas para condenados do regime militar e est em curso a
anistia e o retorno dos exilados polticos ao pas.
No entanto,
quando, dez anos depois, o AI-5 foi revogado, havia um triste saldo de
torturas e mortes, 1607 punies, 321 delas cassaes de mandatos
polticos, representando o cancelamento de aproximadamente 6 milhes de
votos. Foram mutilados 500 filmes, 450 peas de teatro, 200 livros, mais de
500 letras de msicas, inmeros programas de rdio e captulos de novelas.
(PONTES; CARNEIRO, 1968, p. 11)
A transio democrtica revela a correlao de foras sociais, expressas
pela reorganizao da sociedade civil, pela participao e reivindicao popular
perante o Estado. Este contexto repercute nos rumos da organizao profissional e
no direcionamento poltico de sua prtica, desenvolvendo-se, por parte da categoria,
uma nova forma de interlocuo poltica, atravs da solidarizao profissional com
as lutas do povo brasileiro.
Neste primeiro perodo, os artigos esto voltados a pensar a profisso de
Servio Social como prtica poltica, centrados no Servio Social como profisso de
carter eminentemente poltico, algo que est ligado ao seu movimento de romper
com o conservadorismo e de sua identificao com os trabalhadores e com as
classes subalternizadas. Deste modo, h uma prevalncia dos temas que discutem
a prpria profisso de Servio Social, pois a preocupao est centrada na
consolidao do Servio Social, principalmente numa proposta de ruptura.
1
Durante aproximadamente 13 anos (1966-1979) o Brasil teve um perodo bipartidarista, ou seja,
possua apenas duas associaes polticas: a Aliana Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento
Democrtico Brasileiro (MDB).
191
A produo de artigos que tm como tema os movimentos sociais populares
e a participao popular tambm marcante nesta fase, resultado da grande
efervescncia no quadro poltico da sociedade e da queda da ditadura militar.
Sade, Poltica Social, questo agrria e trabalho tambm se constituem como
temticas que aparecem com frequncia neste perodo, por serem campos
privilegiados da prtica profissional na dcada dos anos 1980.
Segundo Perodo: 1990-1999
Quadro de temticas da Revista Servio Social & Sociedade 1990-1999
Temticas Frequncia Porcentagem
Profisso de Servio Social: papel do assistente social,
profissionalizao
26 5,94%
Fundamentos terico-metodolgicos do Servio Social: razo
em Weber, anlise gramsciana, anlise lefortiana, anlise
transacional, hegemonia em Gramsci, Gramsci e as Cincias
Sociais, Marx, marxismo, objetivao e alienao em Marx,
pensamento de Bobbio, Habermas, Hannah Arendt, Hegel e
Marx, teoria da demanda efetiva em Keynes, teoria das
necessidades, Lukcs, violncia simblica em Pierre
Bourdieu, matriz assistencial, entrevista com Michael Lwy,
pluralismo metodolgico, relao teoria/prtica
24 5,48%
Polticas Sociais: polticas sociais pblicas, poltica de sade,
previdenciria, de proteo infncia e adolescncia,
avaliao de polticas sociais
20 4,57%
Assistncia Social 19 4,34%
Formao profissional, currculo de Servio Social, ensino,
estgio
19 4,34%
Ao/atuao/prtica/exerccio profissional: assessoria,
consultoria, prtica investigativa, interveno
17 3,88%
Trabalho, processo de trabalho, condies de trabalho:
metamorfoses do mundo do trabalho, mercado de trabalho,
desemprego, precarizao do trabalho, trabalho informal,
segurana e acidente de trabalho, sade do trabalhador,
aposentadoria, relaes de trabalho
17 3,88%
Movimentos Sociais 13 2,97%
Sade: AIDS, alcoolismo, Sade Pblica, Sade Mental, 11 2,51%
192
medicina
Cidadania, Direitos Humanos 10 2,28%
Democracia 10 2,28%
Educao, pedagogia, questes e relaes escolares,
Reforma do ensino superior
10 2,28%
Pobreza, misria, excluso e excluso social, desigualdade
social
10 2,28%
Sociedade Civil, ONG, Terceiro Setor 10 2,28%
tica, Cdigo de tica, protagonismo tico-poltico, 7 1,60%
Famlia 7 1,60%
Participao, participao popular 7 1,60%
Descentralizao, municipalizao 6 1,37%
Estado 6 1,37%
Mnimos Sociais, Renda Mnima 6 1,37%
Conselhos: populares, paritrios, de Sade e Assistncia
Social
5 1,14%
Criana e adolescente/menor 5 1,14%
Direitos sociais, Direitos Humanos 5 1,14%
Mulher, feminismo 5 1,14%
Pesquisa 5 1,14%
Trabalho social 5 1,14%
Transformaes societrias: sociedade brasileira, sociedade
aps socialismo,
5 1,14%
Capital e capitalismo 4 0,91%
Concepo de sujeito, sujeitos sociais, modos de
subjetivao, indivduo
4 0,91%
Desenvolvimento de comunidade, trabalho comunitrio 4 0,91%
Identidade, identidade da profisso 4 0,91%
Neoliberalismo 4 0,91%
Praxis 4 0,91%
Previdncia: aposentadoria, poltica previdenciria 4 0,91%
Relao Estado/Sociedade, Estado/Sociedade Civil 4 0,91%
Seguridade Social 4 0,91%
Trabalho do assistente social: com famlias, na rea da
assistncia, em instituies e Hospitais
4 0,91%
Cotidiano 3 0,68%
Crise: Crise das Cincias Sociais, dos paradigmas 3 0,68%
ECA, LOAS 3 0,68%
193
Interdisciplinaridade 3 0,68%
Organizao popular, associao de moradores 3 0,68%
Planejamento: estratgico e familiar 3 0,68%
Snteses e resenhas: mundo do trabalho, empresa 3 0,68%
Socialismo 3 0,68%
Adoo 2 0,46%
Conjuntura 2 0,46%
Controle social 2 0,46%
Crime, homicdios 2 0,46%
Deus, restaurao catlica 2 0,46%
Empresa 2 0,46%
Era Collor 2 0,46%
Esfera/espao pblico 2 0,46%
Filantropia 2 0,46%
Gerontologia, idoso 2 0,46%
Ontologia 2 0,46%
Organizao dos assistentes sociais: Associao Nacional
dos Assistentes Sociais, conjunto CFESS-CRESS
2 0,46%
Programa Comunidade Solidria 2 0,46%
Questo Social 2 0,46%
Revista Servio Social & Sociedade 2 0,46%
Revoluo informacional, informao tecnolgica 2 0,46%
Universidade, Formao Universitria 2 0,46%
Reforma do Estado, pulverizao social 2 0,46%
Anistia 1 0,23%
Autogesto 1 0,23%
Campanha contra a fome 1 0,23%
Catadores de lixo 1 0,23%
Cincia 1 0,23%
Classe operria 1 0,23%
Classes subalternas 1 0,23%
Coletividade 1 0,23%
Comunidade 1 0,23%
Cultura 1 0,23%
Desorganizao social 1 0,23%
Discurso jurdico 1 0,23%
Ecologia 1 0,23%
Equidade 1 0,23%
194
Finitude humana (morte) 1 0,23%
Gesto de mo-de-obra 1 0,23%
Governo 1 0,23%
Hegemonia 1 0,23%
Instrumentais tcnico-operativos 1 0,23%
Integrao do deficiente 1 0,23%
Linguagem 1 0,23%
Materialidade do Servio Social 1 0,23%
Mediao 1 0,23%
Meios de comunicao 1 0,23%
Memria Poltica 1 0,23%
Poltica Econmica 1 0,23%
Primeiras-damas 1 0,23%
Representaes sociais 1 0,23%
Resistncia (1968) 1 0,23%
Reviso Constitucional 1 0,23%
Sem-teto 1 0,23%
Servido 1 0,23%
Sexualidade 1 0,23%
Sindicato 1 0,23%
Superviso 1 0,23%
Universalidade 1 0,23%
Vnculos sociais 1 0,23%
Walfare State 1 0,23%
Novo associativismo 1 0,23%
Poder local 1 0,23%
Ps-modernidade 1 0,23%
Profisses femininas 1 0,23%
Institucionalizao 1 0,23%
Proteo social 1 0,23%
Qualificao acadmica 1 0,23%
Razo 1 0,23%
Reestruturao industrial 1 0,23%
Relaes pessoais 1 0,23%
Total 438 100,00%
195
Enquanto a dcada de 1980 de abertura poltica do pas, a dcada dos
anos 90 de abertura econmica, sobre a gide do pensamento neoliberall
2
e sua
insero na economia globalizada
3
, o cenrio que se encontra de transferncia do
capital produtivo para o capital financeiro, de reforma do Estado e focalizao das
polticas sociais, de ampliao da taxa de desemprego e precarizao do trabalho,
alm de grande perda de direitos j conquistados. Perodo em que a fora e o
espao dos movimentos sociais e sindicais so diminudos significativamente, com
suas lutas redirecionadas manuteno de direitos e empregos. Contexto de
grandes transformaes econmicas e sociais decorrentes do processo de
manuteno do sistema capitalista.
Quanto s temticas da revista, prevalecem tambm neste perodo aquelas
que se destinam a pensar a prpria profisso. Porm, ganham destaque os artigos
que abordam as transformaes da sociedade, que denotam o novo contexto social,
econmico e poltico mundial. As temticas emergentes no perodo so: trabalho e
transformaes no mundo do trabalho; transformaes do final do sculo (Revoluo
Informacional, Reestruturao Produtiva, Globalizao, Modernidade e ps-
Modernidade, Neoliberalismo); Renda Mnima, Descentralizao, Terceiro Setor e
ONGs, Conselhos Populares de Gesto, temas que expressam as mudanas na
sociedade capitalista. Direito e Cidadania, tica e tica Profissional, transferncia de
renda e poltica de assistncia social, pobreza e famlia, tambm so temticas
recorrentes.
2
A ideologia liberal exercida desde longa data. Fruto dos estudos de Adam Smith e John Locke,
pautava-se na ideia da mo invisvel, segundo a qual o mercado equilibrar-se-ia sozinho, sem a
indesejada interveno do Estado, que teria uma restrita atuao econmica. O sistema liberal, cuja
ineficincia evidente ps a Grande Depresso (1929), ressurge no fim da dcada de 1980 e incio
de 90, presidindo novamente um perodo global de Depresso. A exportao do neoliberalismo para
os pases desenvolvidos teve como marco o Consenso de Washington (1989), este no se tratou de
formulaes novas para a economia, mas de aprovao das polticas recomendadas pelos Estados
dominantes, que, astuciosamente, no as empregavam para si prprios, configurando-se como uma
verso sofisticada das antigas polticas colonialistas. Suas propostas tinham dois objetivos principais:
a reduo do Estado e a mxima abertura importao e entrada de capitais de risco (DAK,
Csaba, 2010).
3
Como caractersticas da globalizao compreende-se: (...) a internacionalizao da produo, a
globalizao das finanas e seguros comerciais, a mudana da diviso internacional do trabalho, o
vasto movimento imigratrio do Sul para o Norte e a competio ambiental que acelera esses
processos. (...) incluem tambm mudanas na natureza dos Estados e nos sistemas de Estados. (...)
A globalizao no um fato acabado, mas um processo em marcha (IANNI, 1995, p. 23-24).
196
Observa-se neste perodo que diante das transformaes da sociedade e
com a consolidao do projeto poltico de ruptura, a profisso se volta para a
conjuntura sobre a qual se d sua prtica.
Terceiro Perodo: 2000-2009
Quadro de temticas da Revista Servio Social & Sociedade 2000-2009
Temticas Frequncia Porcentagem
Polticas: de assistncia social, de combate pobreza, da
criana e do adolescente, de habitao, de sade, de
trabalho, emprego e renda, poltica pblica, social,
econmica, indgena, judicial, do idoso, da famlia,
partidria, de acolhimento, urbana, de insero e
incluso social, financiamento, focalizao e
precarizao das polticas sociais, organizao e
igualdade, centralidade e magnitude da poltica de
assistncia social
46 6,69%
Profisso de Servio Social: fazer, prtica e atuao
profissional, ao e desafios poltico-profissionais,
competncia profissional, condio do exerccio
profissional, autonomia profissional, poltica de
qualificao profissional, insero profissional, trabalho
do assistente social na sade, em Estratgia de Sade da
Famlia e em Hospitais, estresse em profissionais da
sade, dimenso pedaggica do Servio Social, histria
e futuro da profisso, desenvolvimento da profisso,
rotina de procedimentos, instrumentalidade, interveno,
relao com o usurio, Servio Social latino-americano e
argentino
36 5,23%
Direitos (humanos, sociais, da criana e do adolescente,
sade, defesa, reconhecimento e garantia dos direitos,
assistncia jurdica, Cdigo Civil, Universo Jurdico e
Social, o poder judicirio)
33 4,80%
Trabalho: (transformaes no mundo do trabalho,
condies de trabalho, processo de trabalho, mercado de
trabalho, impactos no mundo do trabalho, atividade no
remunerada, desemprego, informalidade, terceirizao,
frentes de trabalho, feminizao do mundo do trabalho,
31 4,51%
197
reduo da jornada de trabalho, trabalho multifacetado e
infanto-juvenil, trabalhadores, sobretrabalho, Reforma
Trabalhista e sindical, Trabalho, classe trabalhadora e
proletariado)
Formao em Servio Social: formao profissional,
unidade pblica de ensino, escolas e faculdades de
Servio Social, graduao e ps-graduao, estgio
supervisionado, mercantilizao da formao
profissional, movimento estudantil
24 3,49%
Assistncia Social 22 3,20%
Sade (adoecimento, AIDS, somatizao, Sade Mental,
Sade Suplementar)
18 2,62%
Fundamentos do Servio Social: conceito de pobreza na
teoria marxista, conceito de pblico em Hanna Arendt,
Entrevista com Boaventura de Souza Santos, lgica da
violncia em Ren Girard, pensamento de Gramsci,
Holloway, Mary Richmond, Robert Castel, Tocqueville,
sentido ontolgico de trabalho para Marx e Lukcs, teoria
da justia de John Rawis, pensamento conservador e
conservadorismo, fundamentos prtica social e
profissional
16 2,33%
Sociedade Civil, Terceiro Setor e voluntariado,
Responsabilidade Social, sustentabilidade, filantropia
16 2,33%
Famlia (de apoio, monoparentais, multiproblemticas,
relaes familiares, trabalho com famlia, filhos)
15 2,18%
Cidadania 14 2,03%
Projeto tico-Poltico, defesa do projeto profissional,
sentido de ruptura
12 1,74%
Violncia (como forma de dilaceramento do ser social,
domstica contra a mulher, familiar, hoje, nos espaos
urbanos, cartografia de violncia, lgica de produo e
manifestao da violncia, mortes banais)
12 1,74%
tica e tica Profissional 11 1,60%
Liberalismo, Neoliberalismo, social-liberalismo,
mundializao do capital e globalizao
11 1,60%
Velhice, envelhecimento, idoso, longevidade 11 1,60%
Criana e adolescente, infncia e adolescncia 10 1,45%
Pobreza 10 1,45%
Organizao dos assistentes sociais: ABEPSS, CFESS, 9 1,31%
198
Federao Internacional, Organizao Sindical,
Congressos
SUAS 9 1,31%
Conselhos (gestores, Tutelares, Estadual de Sade, de
polticas pblicas, do Idoso, CNAS, CONANDA)
8 1,16%
Participao, planejamento participativo 8 1,16%
Cidade e Cidade de So Paulo 7 1,02%
Esfera e espao pblico 7 1,02%
Gesto pblica e social 7 1,02%
III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, O
Congresso da Virada (contextualizao, significado
poltico e profissional, legado s novas geraes)
7 1,02%
Programas (Bolsa Escola, Bolsa Famlia, Renda Mnima,
de combate pobreza, para criana e adolescente,
avaliao de programas)
7 1,02%
Conjuntura, desafios conjunturais 6 0,87%
Controle social 6 0,87%
Excluso/incluso social 6 0,87%
Luta e Movimentos Sociais 6 0,87%
Pesquisa e produo do conhecimento em Servio Social 6 0,87%
Reforma do Estado e da Previdncia Social no Brasil 6 0,87%
Educao 5 0,73%
Governo Lula 5 0,73%
Proteo/(des)proteo social, transformaes do
sistema de proteo social
5 0,73%
Questo Social 5 0,73%
Seguridade Social 5 0,73%
Sistema Penitencirio, rebelies, reinsero do preso,
penas privativas de liberdade
5 0,73%
Cotidiano 4 0,58%
Descentralizao 4 0,58%
Ecologia, gesto ambiental, processos socioambientais 4 0,58%
Emancipao 4 0,58%
Estado 4 0,58%
Intersetorialidade 4 0,58%
Lei Orgnica da Assistncia Social e Benefcio de
Prestao Continuada
4 0,58%
Movimento de Reconceituao/Reconceitualizao 4 0,58%
199
Relao Estado/Sociedade, pblico/privado, pblico/no-
estatal, poltico-administrativa
4 0,58%
Autonomia 3 0,44%
Contrarreforma do Estado 3 0,44%
Crime, Contraveno e preveno da criminalidade 3 0,44%
Crise e crise do capitalismo 3 0,44%
Cuidado 3 0,44%
Economia Solidria, cooperativismo 3 0,44%
Gnero 3 0,44%
Histria e Histria Oral 3 0,44%
Legislao em Servio Social 3 0,44%
Organizao da sociedade (sociedade, sociedade
salarial, sociedade punitiva)
3 0,44%
Populao de rua 3 0,44%
Qualidade de vida, qualidade de vida no trabalho 3 0,44%
Questo Racial 3 0,44%
Redes, redes de movimentos e de solidariedade 3 0,44%
Reestruturao Produtiva 3 0,44%
Regulao 3 0,44%
Renda 3 0,44%
Resenha de livros 3 0,44%
Solidariedade 3 0,44%
SUS 3 0,44%
Universalizao 3 0,44%
Biotica 2 0,29%
Catadores de Materiais Reciclveis e trajetria dos
sujeitos no lixo
2 0,29%
Classe 2 0,29%
Democracia 2 0,29%
Desenvolvimento 2 0,29%
Disputa territorial 2 0,29%
ECA 2 0,29%
Empoderamento, empowerment 2 0,29%
Exame de Proficincia 2 0,29%
Feminismo, mulheres 2 0,29%
Frum Social Mundial 2 0,29%
Inimputabilidade 2 0,29%
Internacionalismo e Nacionalismo 2 0,29%
200
Maternidade na adolescncia 2 0,29%
Mediao 2 0,29%
Mercantilizao: da formao profissional e da
solidariedade
2 0,29%
Previdncia Social 2 0,29%
Redesenho das relaes sociais 2 0,29%
SESI (Servio Social da Indstria) 2 0,29%
Trabalho social 2 0,29%
Transdisciplinaridade, interdisciplinaridade 2 0,29%
Vulnerabilidade 2 0,29%
Abrigo 1 0,15%
Acompanhante em instituio hospitalar 1 0,15%
Acumulao capitalista 1 0,15%
Adoo 1 0,15%
Alta Social 1 0,15%
Amrica Latina 1 0,15%
Assistncia a pacientes terminais 1 0,15%
Associaes: papel poltico 1 0,15%
Capital social 1 0,15%
Carta de princpios 1 0,15%
Cdigo de Menores 1 0,15%
Comunidade 1 0,15%
Consumismo 1 0,15%
Demanda reprimida 1 0,15%
Dependncia 1 0,15%
Depoimento sem-dano 1 0,15%
Desigualdade 1 0,15%
Drogas 1 0,15%
Economia poltica 1 0,15%
Estigma 1 0,15%
Estratgia de Sade da Famlia 1 0,15%
Fetichismo da mercadoria 1 0,15%
Governo FHC 1 0,15%
Grupo 1 0,15%
Guarda Municipal de Santos 1 0,15%
Hipersocializao 1 0,15%
Identidade 1 0,15%
Ideologia 1 0,15%
201
Impossibilidade de controle do capital 1 0,15%
Impunidade 1 0,15%
Institucionalidade social 1 0,15%
Instituies asilares orientais 1 0,15%
Liberdade Assistida 1 0,15%
Mdia 1 0,15%
Migrao 1 0,15%
Modernidade 1 0,15%
Movimento Sindical 1 0,15%
Municipalizao 1 0,15%
Negligncia 1 0,15%
Nova ordem mundial 1 0,15%
Ocupao 1 0,15%
Percia 1 0,15%
Pichaes juvenis 1 0,15%
Plano Nacional de Promoo e Defesa de Direito de
Crianas e Adolescentes Convivncia Familiar e
Comunitria
1 0,15%
Plano Plurianual 1 0,15%
Prtica do Ato Infracional 1 0,15%
Prefeitura Municipal 1 0,15%
Programa de Acelerao do Crescimento 1 0,15%
Protagonismo 1 0,15%
Reduo da maioridade penal 1 0,15%
Regio Sul 1 0,15%
Religio 1 0,15%
Represso 1 0,15%
Resilincia 1 0,15%
Revista Servio Social & Sociedade 1 0,15%
Servios socioassistenciais 1 0,15%
Sexualidade 1 0,15%
Socialismo 1 0,15%
Subalternidade 1 0,15%
Subjetividade 1 0,15%
Subsidiaridade 1 0,15%
Territrio 1 0,15%
Total 688 100,00%
202
Como conjuntura desta dcada, tem-se o projeto neoliberal j implantado no
pas, as polticas sociais consolidadas de modo descentralizado, focalizadas nas
situaes de extrema pobreza e misria. Cenrio que se aproxima ao da dcada
anterior, mas com o agravamento das expresses da questo social, das situaes
de extrema pobreza e misria, de violncia, criminalidade, de precarizao do
trabalho e de crise do capital, de Reforma do Estado e responsabilizao da
Sociedade Civil.
Ainda nesta dcada prevalecem as temticas acerca da profisso de Servio
Social, porm, h grande incidncia de artigos que tratam das Polticas e das
temticas relacionadas ao campo dos direitos.
H uma maior diversidade de temticas, mas destaca-se a produo referente s
questes conjunturais, como a Reforma do Estado e o mundo do trabalho, reflexos
do projeto neoliberal consolidado. Neste sentido, aponta-se tambm para um
crescimento dos textos referentes responsabilizao da sociedade civil.
Como temticas emergentes deste perodo, encontram-se: questes
relacionadas ao poder judicirio (Sistema Penitencirio, rebelies, reinsero do
preso, penas privativas de liberdade, impunidade e inimputabilidade), violncia,
cidade e questo urbana, relao pblico/privado e Previdncia Social.
Em cada uma das dcadas estudadas, observa-se o surgimento e o declnio
de temticas, que evidenciam os contextos sociais, econmicos e polticos de cada
perodo e apontam para uma sintonia da profisso com a realidade.
Observa-se que grande parte da produo da Revista destinada a pensar
a prpria profisso de Servio Social, sua relao com a sociedade, sua identidade,
seu carter poltico e relacionado ao campo dos direitos.
203
3- Estudo das Dissertaes sobre Sade Mental do Programa de Estudos
Ps-Graduados em Servio Social da PUC/SP
HERRERA, Nereide Amadeo. O conceito de doena mental num estudo
exploratrio na Barra Funda Bom Retiro, So Paulo. 1976. 118 f. Dissertao
(Mestrado em Servio Social)Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So
Paulo, 1976.
4
Herrera explica que Jenkins examina os conceitos de quatro molstias (tuberculose, doena mental,
poliomielite e cncer) atravs de escalas. Esta investigao tem como critrios de avaliao: as
atitudes e sentimentos em relao gravidade das doenas, grupos suscetveis ao adoecimento
progresso da doena e seu grau de incapacidade.
01
Nome Nereide Amadeo Herrera
Ttulo do trabalho O conceito de doena mental num estudo exploratrio
na Barra Funda Bom Retiro, So Paulo.
Localizao na biblioteca DM 361.3 H565c Ex. 3
Orientador Ursula Maria Simon Karsch
Grau Dissertao Mestrado
Ano 1976
Resumo No consta
Palavras-chave No consta
Objetivo Clarificar as possveis discordncias existentes entre
a clientela e os agentes profissionais, quanto s
concepes emitidas sobre a doena mental.
Metodologia Pesquisa Quantitativa (pesquisa de Jenkins
4
, com
emprego do mtodo diferencial semntico de sade
(DSS).
Descrio do trabalho No primeiro captulo traz a caracterizao do cenrio
no qual se d a pesquisa, qual seja, o Centro de
Sade Experimental da Barra Funda e Bom Retiro e o
Programa de Higiene Mental.
O segundo captulo dedicado Reviso
bibliogrfica sobre as categorias cultura e doena
mental, explicitando que pode haver diferenciaes
entre o conceito de doena mental de acordo com a
cultura na qual se est inserido.
No terceiro captulo traz o mtodo de pesquisa,
apresentando os sujeitos pesquisados (profissionais e
usurios do Programa de Higiene Mental do Centro
de Sade Experimental da Barra Funda e Bom
Retiro), o material utilizado na pesquisa e a aplicao
do instrumento de pesquisa.
O quarto captulo trabalha com a apresentao dos
resultados das categorias estudadas em relao ao
conceito de doena mental: causa, grupos
suscetveis, gravidade, progresso, incapacidade,
204
sentimentos e reaes frente doena mental,
aceitao social, tratamento.
O quarto captulo destinado anlise dos
resultados.
Sntese Trabalho muito focado ainda sobre a doena.
Como resultados de pesquisa aponta para a viso de
usurios e equipe tcnica em relao doena,
dizendo que os usurios apresentam maior consenso
quanto ao conceito de doena mental, tida como
decorrente de problemas ambientais. J os
profissionais de sade apresentam variedade e
diversidade nas respostas, mas de maneira geral,
tambm tida como decorrente de problemas
ambientais, alm de fatores hereditrios e congnitos
e ainda de intercorrncias durante o parto.
205
OLIVEIRA, Nivalda da Costa. A reorientao das aes de sade mental na
Secretaria de Estado da Sade: uma anlise da atuao do servio social em uma
instituio psiquitrica. 1988. 257 f. Dissertao (Mestrado em Servio Social)
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 1988.
02
Nome Nivalda da Costa Oliveira
Ttulo do trabalho A reorientao das aes de sade mental na
Secretaria de Estado da Sade: uma anlise da
atuao do servio social em uma instituio
psiquitrica.
Localizao na biblioteca DM 361.3 O48r Ex. 3
Orientador Mary Jane Paris Spink
Grau Dissertao Mestrado
Ano 1988
Resumo O presente estudo trata da anlise da prtica do
Servio Social numa instituio pblica que presta
servios na rea de sade mental, populao da
Grande So Paulo. Para decifrar o significado da
profisso na prtica de sade de uma instituio
paramentada pelos princpios de uma sociedade
capitalista, se fez necessrio buscar pilares de
sustentao do servio social na estrutura do sistema
capitalista. O estudo da prtica do servio social
apoiou-se, na anlise do conceito de intelectuais
orgnicos, na perspectiva gramsciana; buscando-se
configurar a importncia da profisso, no contexto
desta ordem social.
Para melhor explicitar a articulao do servio social,
na sociedade capitalista procurou-se desvendar o seu
significado e o uso que dele se faz na execuo das
polticas sociais do Estado capitalista. Reconstitui-se
sob alguns aspectos, o desenvolvimento dessa
profisso na realidade brasileira, especialmente no
que se referiu s funes atinentes aos assistentes
sociais. A partir da procurou-se compreender o
sentido dessa profisso no contexto de um hospital
psiquitrico da Secretaria de Estado da Sade.
A pesquisa estendeu-se sob dois enfoques principais.
No primeiro enfoque buscou analisar o processo
histrico das aes de sade mental da Secretaria, de
1848 a 1985. Nesta fase objetivou-se detectar, a
origem das caractersticas atuais das aes de sade
mental da Secretaria; como tambm, mecanismos
que favoreceram a capitalizao do setor da sade.
No segundo prisma objetivou-se a verificao da
coerncia das aes de sade, da unidade hospitalar,
frente s diretrizes da proposta de reorientao das
aes de sade mental, da Secretaria da Sade. Para
isso, aprofundou-se, especialmente na anlise da
206
prtica dos profissionais de servio social, no contexto
dessa instituio empenhada no atendimento de
sade mental, a nvel tercirio.
A pesquisa de campo abrangeu o perodo, de 1982 a
1985, a nvel da prtica de um hospital psiquitrico,
da Coordenadoria de Sade Mental da Secretaria da
Sade. De um modo geral foram analisadas todas as
atividades de sade desenvolvidas no hospital; entre
elas destacou-se a anlise do Projeto Resgate, aes
integradas de sade mental, nas trs instncias de
poderes. Este estudo considerou de especial
importncia a descoberta dos nexos das relaes de
dominao mantidas no atendimento de sade
mental, da populao carente da Regio
Metropolitana de So Paulo.
Compreender o significado da profisso, na prtica de
uma instituio de sade pblica foi o desafio dessa
dissertao de mestrado. E pelos resultados obtidos
pde-se avaliar o estgio de desenvolvimento
profissional comparando-o com marcos referenciais
da trajetria histrica do servio social na realidade
brasileira.
Palavras-chave No consta
Objetivo Analisar o processo histrico das aes de Sade
Mental na Secretaria de Estado da Sade de So
Paulo, de 1848 a 1985 e identificar as aes do
Servio Social numa unidade hospitalar, frente s
diretrizes de reorientao das aes em Sade
Mental, propostas pelo Programa de Aes
Integradas de Sade.
Metodologia Pesquisa Qualitativa: anlise documental e entrevista
Descrio do trabalho Trabalho denso e aprofundado acerca das aes de
Sade Mental na Secretaria de Estado da Sade do
municpio de So Paulo.
Est organizado em sete captulos que abordam:
Primeiro: o Servio Social na perspectiva
Gramsciana, considerando fundamentalmente a
estrutura capitalista da sociedade.
Faz uma reflexo sobre: as funes do Estado na
sociedade capitalista; a funo dos intelectuais
orgnicos e o Servio Social como ramificao
especializada da burocracia estatal; o
desenvolvimento histrico da profisso e seu
significado na sociedade capitalista e suas funes na
sociedade brasileira.
Segundo: as questes metodolgicas do trabalho: os
objetivos, a metodologia e as fontes.
Terceiro: o processo histrico das aes em Sade
Mental da Secretaria de Sade. Traz a gnese
histrica da poltica de sade mental desde a dcada
207
de 30, at a dcada de 80.
Quarto: a reorientao das aes de Sade Mental na
perspectiva do Programa de Aes Integradas de
Sade. Traz as caractersticas das aes da
Secretaria de Estado da Sade; os recursos humanos
necessrios proposta de reorientao das aes e
as atribuies do Servio Social na Secretaria de
Sade.
Quinto: caracteriza o hospital psiquitrico pesquisado.
Traz os procedimentos e rotinas dos atendimentos, as
caractersticas dos usurios e, fundamentalmente,
caracteriza o Servio Social na unidade hospitalar.
Sexto: analisa a prtica cotidiana dos assistentes
sociais na unidade hospitalar, frente proposta de
reorientao das aes em Sade Mental. Faz uma
anlise sobre a atuao dos assistentes sociais no
Pronto Socorro e nas Enfermarias, o posicionamento
dos profissionais frente s demandas dos usurios e
as dificuldades encontradas na atuao cotidiana.
Stimo: traz as consideraes finais sobre a
pesquisa: as aes de Sade Mental da Secretaria de
Sade; a prtica das Aes Integradas de Sade
Mental na unidade hospitalar e sobre a prtica dos
profissionais de servio social no mbito hospitalar.
Sntese Traz um estudo bastante aprofundado acerca das
aes da Secretaria de Estado da Sade do
municpio de So Paulo, principalmente em relao
reorientao das aes de Sade Mental a partir do
Programa de Aes Integradas de Sade - PAIS.
Busca a partir da fundamentao terica gramsciana,
identificar como se d a prtica do Servio Social
numa instituio psiquitrica, vinculada Secretaria
de Estado da Sade e orientada pela poltica do
PAIS.
A pesquisa est organizada a partir de dois eixos
principais: 1 analisar o processo histrico das aes
de Sade Mental da Secretaria, de 1848 a 1985; 2
verificar a coerncia das aes de sade numa
unidade hospitalar, frente s diretrizes de
reorientao das aes de Sade Mental propostas
pelo Programa de Aes Integradas de Sade da
Secretaria de Estado da Sade. Para isso, faz uma
anlise das prticas profissionais em Servio Social
no contexto do hospital psiquitrico.
Na concluso retoma a anlise de cada dcada em
relao s polticas de Sade/Sade Mental da
Secretaria de Estado da Sade e como resultados
aponta:
1- A Poltica de Sade Mental da Secretaria de
Estado da Sade possui, desde seu incio,
208
caractersticas de cunho paternalista, assistencial e
centralizadora quanto aos aspectos normativos e
administrativos; com tendncias contratao de
servios na rede privada e crescente capitalizao do
setor da Sade Mental.
2- As medidas adotadas pela Coordenadoria de
Sade Mental de 1975 a 1984 favoreceram a
contratao de leitos psiquitricos na rede particular,
o que revela um hiato entre a prtica de sade da
Secretaria e seu discurso. Tambm aponta para a
ociosidade dos recursos de Sade Mental da
Secretaria.
3- Na anlise da instituio psiquitrica que pesquisa,
destaca a manifestao do poder poltico-institucional.
O espao criado para a concretizao das Aes
Integradas em Sade caracteriza-se como
mecanismo de manuteno do controle dos grupos
subalternos na estrutura social. As Aes Integradas
de Sade so uma forma de ocultar o uso da
violncia institucionalizada das aes em Sade
Mental. H um distanciamento entre a prtica
realizada e o discurso da Secretaria e no h
descentralizao administrativa no Hospital
4- As atividades desenvolvidas pelos assistentes
sociais no contexto hospitalar esto distanciadas dos
delineamentos propostos pela Secretaria ao Servio
Social quanto reorientao das prticas em Sade
Mental.
209
CALASSO, Sandra Maria Zerino. Uma experincia de abordagem teraputica no
servio social com indivduos portadores de transtorno bipolar do humor.
1995. 65 f. Dissertao (Mestrado em Servio Social)Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo, So Paulo, 1995.
03
Nome Sandra Maria Zerino Calasso
Ttulo do trabalho Uma experincia de abordagem teraputica no
servio social com indivduos portadores de
transtorno bipolar do humor
Localizao na biblioteca DM 361.3 C143e Ex.3
Orientador Maria Lcia Rodrigues
Grau Dissertao Mestrado
Ano 1995
Resumo Este trabalho enfoca a relao entre o transtorno
bipolar do humor e sua influncia na vida cotidiana de
pacientes acometidos por este tipo de transtorno
mental, a partir de uma pesquisa realizada no mbito
de nossa atividade profissional. Numa abordagem
socioteraputica, com paciente e familiares,
objetivamos contribuir para a possvel recuperao
desses indivduos.
A primeira parte discorre sobre a atuao do
assistente social na rea da Sade Mental.
A segunda trata do estudo dos pacientes com
transtorno bipolar do humor, analisando as categorias
empricas emergentes no nosso processo
investigativo: o cotidiano, a doena e sua
representao e as relaes familiares.
Nas consideraes finais apresentamos as
concluses que chegamos durante nosso estudo.
Palavras-chave Sade Mental, Servio Social Mdico, Doenas afetivas,
Processo sade-doena, Relaes familiares, Transtorno
mental, Servio Social.
Objetivo Estudar e sistematizar a prtica cotidiana do
assistente social, com sujeitos com transtorno bipolar
do humor e seus familiares.
Metodologia Pesquisa Qualitativa; abordagem grupal.
Descrio do trabalho O trabalho se constitui em duas partes. A primeira se
destina a abordar o transtorno mental e o Servio
Social, explicitando ao leitor o que o transtorno
bipolar do humor e o Servio Social dentro do
Departamento de Psiquiatria e Psicologia Mdica da
UNIFESP. A segunda parte traz a pesquisa, com a
anlise das categorias empricas levantadas pelo
grupo durante as gravaes: o cotidiano (pensado a
partir de Agnes Heller), a doena e suas
representaes e as relaes familiares.
Sntese O trabalho traz uma clara elucidao sobre o
transtorno bipolar do humor, importante para quem
210
quer conhecer a doena. Fundamenta uma das
categorias apontada pelo grupo, o cotidiano, no
pensamento de Agnes Heller.
Tem como objeto de pesquisa investigar a prtica
interventiva do Servio Social junto a pacientes com
transtorno bipolar do humor no Programa de Doenas
Afetivas do Ambulatrio de Psiquiatria e Psicologia
Mdica da Universidade Federal de So Paulo
(UNIFESP) Escola Paulista de Medicina (EPM).
Tem como objetivo sistematizar a prtica cotidiana do
assistente social com os usurios e seus familiares,
no intuito de contribuir com a literatura na rea.
Como resultados da pesquisa, aponta:
- que a doena interfere no processo de vida dos
sujeitos, tanto do ponto de vista social, poltico e
econmico, quanto do ponto de vista dos laos
afetivos e relacionais;
- que o preconceito um fator marcante no cotidiano
desses sujeitos;
- que na interseco doente-famlia-sociedade que
se insere, primordialmente, a contribuio do servio
social. Entende o assistente social como mediador e
que sua prtica profissional est assentada em
procedimentos de acompanhamento, esclarecimento,
apoio e reflexo, tanto individuais, quanto partilhados.
- que a interveno profissional neste momento e
nesta instituio, ainda compreendida como
complementar ao tratamento mdico. Porm, guarda
em si a particularidade de poder articular a relao
entre a doena e a preservao da sade no sentido
de trabalhar a possvel reinsero social e familiar
desses pacientes.
211
ALMEIDA, Silvana Cavichioli Gomes. A contribuio do Servio Social ao
trabalho das equipes interdisciplinares de sade mental dificuldades e
limites, perspectivas e possibilidades, representaes sociais: pesquisa
realizada junto a assistentes sociais que atuam em equipes multidisciplinares de
Sade Mental em Unidades Bsicas de Sade na cidade de So Paulo. 1996. 198 f.
Dissertao (Mestrado em Servio Social)Pontifcia Universidade Catlica de So
Paulo, So Paulo, 1996.
04
Nome Silvana Cavichioli Gomes Almeida
Ttulo do trabalho A contribuio do Servio Social ao trabalho das
equipes interdisciplinares de sade mental
Localizao na biblioteca DM 361.3 A447c Ex.3
Orientador Suzana Rocha Medeiros
Grau Dissertao Mestrado
Ano 1996
Resumo O presente trabalho objetiva estudar a contribuio do
Servio Social aos trabalhadores interdisciplinares da
Sade Mental, apontando suas dificuldades e
obstculos. Objetiva indicar tambm as perspectivas
e possibilidades para a ampliao desta presena
profissional.
Para o estudo e anlise da poltica social de sade e
o papel dos trabalhadores de sade mental, foram
usados conceitos e categorias do pensamento
Gramsciano.
O trabalho tambm analisa as representaes sociais
sobre o campo da Sade Mental, presentes no
conjunto dos depoimentos das Assistentes Sociais
pesquisadas.
Palavras-chave Sade mental, Sade publica, Assistncia social, Poltica
social de sade, Representaes sociais, Trabalhadores
de sade mental, Servio Social.
Objetivo Tem como objetivo estudar a contribuio do Servio
Social no campo da Sade Mental, especialmente no
trabalho em equipes interdisciplinares.
Metodologia Pesquisa Qualitativa, estudo de caso
Descrio do trabalho A primeira parte da dissertao se destina
explicitao metodolgica e a contextualizao da
pesquisa.
A segunda parte se destina a trabalhar a histria da
Sade Mental e as tecnologias forjadas em cada
perodo. O quinto item desta segunda parte: Sade
Mental: Servio Social e interdisciplinaridade
significativamente importante para discutir a prtica
interventiva do Servio Social na rea da Sade
Mental.
Tanto a segunda, quanto a terceira parte do trabalho
trazem a fundamentao terica da pesquisa, com a
terceira parte voltada apresentao da pesquisa.
212
As categorias de anlise so Gramscianas e a partir
delas, trabalha os depoimentos das profissionais
(assistentes sociais vinculadas s Unidades Bsicas
de Sade na Zona Leste de So Paulo).
Sntese Texto didtico, referncia para os profissionais que
atuam na rea de Sade Mental. Indicado para quem
quer conhecer a prtica cotidiana dos assistentes
sociais na rea da Sade Mental.
Traz um amplo panorama da situao poltica da
Sade e da Sade Mental na cidade de So Paulo
nos governos de Luisa Erundina e Paulo Maluf, por
meio dos depoimentos dos profissionais que atuavam
em Unidades Bsicas de Sade na Zona Leste da
capital: ainda um trabalho fragmentado, cuja proposta
e as possibilidades so bem diferenciadas da
proposta de trabalho em CAPS.
Aponta para a importncia do assistente social
compondo equipes interdisciplinares em Sade
Mental e como possibilidades de interveno na rea,
assinala os trabalhos individuais ou em grupo, com os
usurios dos servios de Sade Mental e seus
familiares, dentro das instituies e nos territrios.
Tem o assistente social como um facilitador do
conhecimento da realidade dos sujeitos, em seus
contextos sociais e econmicos nas equipes
interdisciplinares.
Marca a necessidade de ampliao dos recursos da
Assistncia, tida como um mediador da insero e da
participao social e do acesso cidadania.
Destaca a dimenso poltica da prtica, seu carter
educacional e informativo, no sentido de esclarecer
aos usurios sobre as possibilidades e perspectivas
sobre seu atendimento.
Finalmente, constata que a formao profissional no
tem privilegiado a questo interdisciplinar.
213
MEDEIROS, Ana Paula Roland Rocha. O olhar de quem convive: as interpretaes
simblicas dos familiares cuidadores de portadores de transtornos mentais no que
se refere ao transtorno e ao portador, no convvio social. 1997. 160 f. Dissertao
(Mestrado em Servio Social)Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So
Paulo, 1997.
05
Nome Ana Paula Roland Rocha Medeiros
Ttulo do trabalho O olhar de quem convive: as interpretaes
simblicas dos familiares cuidadores de portadores de
transtornos mentais no que se refere ao transtorno e
ao portador, no convvio social.
Localizao na biblioteca DM 361.3 M488o Ex.3
Orientador Maria Amlia Faller Vitale
Grau Dissertao Mestrado
Ano 1997
Resumo No sculo XVIII os portadores de transtorno mental
eram considerados como alienados, restando-lhes o
confinamento em grandes asilos, uma vez que eram
totalmente excludos da sociedade.
Mesmo com todos os avanos teraputicos e
mudanas no atendimento aos pacientes, com os
quais se tm alcanado bons ndices de recuperao
e reintegrao social, a sociedade continua tratando e
excluindo pejorativa e preconceituosamente essas
pessoas.
Ainda hoje a doena mental vista como misteriosa;
a psiquiatria no conseguiu identificar uma causa ou
uma origem especfica. Sendo assim, considero que
as doenas cujas causas so incompreendidas e
mltiplas (misteriosas...) propiciam o uso de
metforas.
Muitas metforas e concepes metafricas foram
introduzidas como forma de explicar aquilo que no
se entende. Por isso, este estudo procura conhecer
as interpretaes simblicas dos familiares
cuidadores de portadores de transtorno mental, no
que se refere ao transtorno, ao portador, e s suas
influncias no convvio social. O estudo tambm
busca analisar as interpretaes que esses familiares
cuidadores, atravs de seus depoimentos, tm sobre
os servios de sade mental e sobre o tratamento.
O estudo foi realizado junto a um grupo de cinco
familiares cuidadores de pacientes que realizam
tratamento no Ambulatrio de psiquiatria da Santa
Casa de Misericrdia de So Paulo.
Para a aproximao do objeto e desenvolvimento de
meu estudo utilizei os conceitos e categorias de
pensamento do antroplogo Clifford Geertz.
A partir da perspectiva terica (estudo do significado)
214
proposta por Geertz ao realizar este estudo com o
grupo de familiares cuidadores, no tenho a inteno
de chegar a uma interpretao definitiva, mas sim a
uma outra interpretao, tendo em vista que essa
funda-se sobre uma primeira interpretao construda
pelos cuidadores. Pretendo, desta forma contribuir
para a capacitao dos profissionais de Servio
Social que atuam na rea de sade mental.
Assim sendo, este estudo est em aberto. Esta minha
interpretao uma possvel, dentre outras que
podero surgir, para compreender o universo dos
familiares cuidadores sobre transtorno mental, doente
e servios.
Palavras-chave Sade mental; Familiares cuidadores; interpretaes
simblicas; Servio Social
Objetivo Conhecer as interpretaes simblicas dos familiares
cuidadores de pessoas com transtornos mentais
quanto ao transtorno mental, o sujeito e o convvio
social, alm de buscar as interpretaes que esses
cuidadores tm sobre os servios de Sade Mental e
o tratamento oferecido.
Metodologia Pesquisa qualitativa: coleta de depoimentos
Descrio do trabalho A autora estrutura o trabalho da seguinte forma:
- captulo introdutrio, no qual traz os elementos para
apresentao do tema, explicita sua relao com o
mesmo e descreve a justificativa e os procedimentos
metodolgicos da pesquisa.
No primeiro captulo, ao abordar a histria dos
transtornos mentais no Brasil e as interpretaes
feitas sobre eles neste percurso, faz a
contextualizao das relaes estabelecidas entre
portadores de transtornos mentais, famlia e
sociedade.
No segundo captulo apresenta os sujeitos da
pesquisa e no terceiro captulo traz os depoimentos,
suas interpretaes. Especificamente no item 4.2 o
olhar de quem convive, conclusivo do trabalho,
desenvolve uma reflexo sobre as interpretaes dos
cuidadores. Na sequncia, faz suas consideraes
finais.
Sntese Como sntese, encontram-se:
1- o olhar de quem convive possui duas dimenses:
o olhar do cuidador e o olhar do pesquisador, que
interpreta o primeiro;
2- o olhar de quem convive um olhar questionador
(que doena essa que no apresenta dor fsica?) e
perplexo (que doena essa que se medica e no se
cura?), convergente para um mesmo ponto: a
sensao de impotncia;
3- a preocupao dos cuidadores centra-se no
215
apenas sobre a doena em si, mas tambm sobre seu
passado e seu futuro. Passado relacionado ao
sentimento de culpa, por perceberem-se responsveis
pela situao do doente. Futuro relacionado ao
sentimento de medo e insegurana pela dependncia
e incapacidade do doente em assumir
responsabilidades;
4- os cuidadores valorizam o trabalho, tido como
critrio fundamental de sade, necessrio
sobrevivncia e incluso social e fonte de relaes
sociais. O fazer e ter amigos para os cuidadores
indicador de sade;
5- os cuidadores so tidos como os mediadores
entre o doente e o mundo, mediao que tem como
caracterstica a solido do cuidador. O grupo do qual
participam aparece como um espao para amenizar a
solido;
6- h ambiguidade quanto ao uso da medicao. A
utilizao de psicotrpicos confirma o transtorno
mental como doena, algo que os cuidadores
procuram negar, mas tambm como possibilidade de
recuperao da normalidade, ou de adequao do
paciente sociedade;
7- so encontradas poucas metforas
(interpretaes simblicas) dos cuidadores sobre os
transtornos mentais, os doentes e o convvio social. A
autora afirma que os cuidadores no verbalizam
metaforicamente, mas sim, pensam de tal forma, ao
atribuir como mistrio o aparecimento do transtorno
mental.
8- as dessemelhanas entre as narrativas
encontram-se no campo das trajetrias singulares de
cada cuidador e de sua famlia no cuidado com o
doente. Dessemelhana que paradoxalmente aponta
para um lugar comum: o da solido do cuidador,
aspecto de grande relevncia em seu estudo.
216
RODRIGUES, Ednilce Lins. Desvio mental e cidadania: uma possibilidade em
construo. 1997. 121 f. Dissertao (Mestrado em Servio Social)Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 1997.
06
Nome Ednilce Lins Rodrigues
Ttulo do trabalho Desvio Mental e cidadania: uma possibilidade em
construo
Localizao na biblioteca DM 361.3 M386ma Ex.3
Orientador Maria Lcia Rodrigues
Grau Dissertao Mestrado
Ano 1997
Resumo O presente trabalho tem como objetivo de
investigao a possibilidade de pessoas com
transtornos mentais fazerem-se cidados,
percebendo a si prprios nas relaes que mantm
com os outros, seus familiares, equipe de
profissionais que os atendem nas instituies de
tratamento e demais usurios desses locais. A
relao de estigmatizao que sofrem essas pessoas
e a condio de tutelados a qual esto submetidas,
com o mundo de excluso onde vivem, foi entendida
como parte do processo histrico da construo dos
saberes sobre a doena mental. As prticas
interventivas j cronificadas reforam essa situao,
que exclui e controla com a justificativa de proteger, o
que nos levou a identificar a necessidade da
descronificao do olhar das equipes de sade
mental sobre seus usurios. A compreenso terica
de nossa pesquisa encontramos, essencialmente, em
FOUCAULT, que aborda essas questes no mbito
da sociedade contempornea. Tendo como referncia
emprica o discurso dos sujeitos de nossa
investigao, colhido em abordagens grupais, foi
possvel apreendermos as possibilidades que eles
prprios expressam, para constiturem-se cidados.
Foi nossa inteno dar voz aos usurios.
Palavras-chave Cidadania; doena mental.
Objetivo O objetivo do trabalho est na possibilidade de
construo da cidadania por meio da criao de
espaos de escuta e de expresso, a fim de se recriar
o lugar que os sujeitos com transtornos mentais
ocupam socialmente.
Metodologia Pesquisa de campo
Descrio do trabalho O trabalho orientado por trs nortes que estruturam
os captulos:
1. e primeiro captulo: apresenta uma reviso sobre
como a loucura se torna um campo especfico do
saber e como esse saber cria dispositivos de
normalizao do sujeito. Trabalha com o conceito de
217
estigma em Goffman e o carter estigmatizante das
prticas em sade mental.
2. e segundo captulo: afirma que as prticas em
sade mental se caracterizam como prticas tutelares
que desqualificam o saber do usurio, prevalecendo o
saber cientificamente reconhecido, o saber mdico.
Aponta para a necessidade de reflexo sobre as
prticas profissionais na rea a fim de se superar
prticas cronificadas. Para tanto, remete ao processo
da Reforma Psiquitrica.
3. e terceiro captulo: prope que a superao do
carter estigmatizante e de tutela que permeiam as
prticas em Sade Mental est, fundamentalmente,
no movimento de descronificao do olhar das
equipes que atuam na rea: a nosso ver, mais que
doentes crnicos, temos equipes com uma viso
cronificada, com seu potencial criativo adormecido.
Sntese Utiliza a expresso desvio mental como sinnimo dos
termos loucura, doena mental, transtorno mental
e/ou sofrimento psquico.
Tem em Foucault a referncia de sua obra por seus
estudos sobre a loucura, principalmente A Histria da
Loucura na Idade Clssica e a constituio do sujeito,
que serviu de base para seu entendimento sobre
cidadania.
Busca conhecer como os sujeitos pesquisados se
reconhecem, como percebem seus projetos de vida,
seus desejos e afetos e como se relacionam no meio
familiar. Que relaes estabelecem com o trabalho e
como veem a instituio em que so tratados. Como
veem a doena e quais os limites que sentem, como
se relacionam socialmente e como percebem sua
participao na sociedade.
Tem na possibilidade de ouvir os sujeitos a
potencialidade para a construo de cidadania,
recuperando suas experincias e seus projetos,
permitindo que se expressem.
Opta pela pesquisa qualitativa pela singularidade dos
sujeitos, do reconhecimento da importncia de se
considerar sua experincia social, os modos como os
sujeitos vivem em seu cotidiano.
218
NUNES, Izildinha. A solido compulsria: vivncias de doentes mentais
abandonados em hospital psiquitrico. 1999. 109 f. Dissertao. (Mestrado em
Servio Social) Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 1999.
07
Nome Izildinha Nunes
Ttulo do trabalho A solido compulsria: vivncias de doentes mentais
abandonados em hospital psiquitrico
Localizao na biblioteca DM 361.3 N972s Ex. 3
Orientador Maria Amlia Faller Vitale
Grau Dissertao Mestrado
Ano 1999
Resumo Durante sculos, os portadores de transtornos
mentais foram considerados perigosos sociedade,
por isso foram condenados recluso e ao
confinamento que os isolaram do mundo. Instituies
antigas, antes chamadas de manicmios e hospcios,
mantinham pessoas numa espcie de hospedagem.
Elas ficavam retidas porque no tinham para onde ir,
muitas vezes devido sua condio social. Essas
instituies tornaram-se modelo asilar. Em geral,
deixaram de exercer uma funo teraputica em
relao aos doentes, pessoas que frequentemente
no apresentavam mais uma patologia que
requeresse internao, mas que ficavam como
hspedes.
Com a Reforma Psiquitrica e a exigncia do
Ministrio da Sade no sentido do cumprimento da
Portaria 224/92, cujo objetivo principal a
desospitalizao desses doentes que ficaram anos
afastados do convvio social, teve incio a mudana
no atendimento dos hospitais psiquitricos, at ento
definidos como instituies. Muitos desses hospitais
no se adequavam finalidade teraputica e alguns
foram interditados, mas apesar do fechamento, nem
todos os pacientes retornaram para suas casas, como
se esperava, sendo transferidos para outros hospitais
psiquitricos. Alguns no se adaptaram mudana,
nem ao convvio familiar. Sem apoio do poder pblico
e devido ineficcia das polticas de sade, os
familiares apelaram novamente para a internao.
Na regio de Sorocaba, locus desta pesquisa,
existem oito hospitais psiquitricos da rede privada
prestando atendimento a 48 municpios. Alguns
destes, porm, no tm em seus postos de sade e
ambulatrios psiquiatras para prestar atendimento
adequado ao doente mental, pelo que a internao
acaba sendo a nica alternativa. A famlia,
despreparada e sem informao sobre a doena
mental, v-se confusa e perdida, sendo igualmente
219
atingida pela crise do paciente.
A poltica de sade ineficaz, no vem atendendo
adequadamente populao que procura tais
servios. Os hospitais gerais no esto preparados
para atender os doentes mentais, como deveriam
segundo a Portaria 224/92, e os pacientes no
encontram respaldo para realizar o tratamento.
Quando nos deparamos com a realidade dos
hospitais psiquitricos, vemos uma populao
institucionalizada e sem apoio familiar, carregando
ainda o estigma da doena mental.
Nesta pesquisa, abordo a doena mental sob a tica
do paciente internado em situao de abandono,
procurando identificar atravs de suas falas, suas
vivncias e percepes sobre o desamparo e o
abandono familiar.
Palavras-chave Hospitais psiquitricos; Doena mental; Juqueri; Reforma
psiquitrica; Servio Social.
Objetivo Identificar as vivncias e percepes de doentes
mentais em situao de abandono familiar, internados
em um hospital psiquitrico da rede particular em
Salto de Pirapora, regio de Sorocaba, SP.
Metodologia Entrevista Semiestruturada
Descrio do trabalho O trabalho est estruturado em 3 captulos.
No primeiro captulo trabalha a contextualizao do
tema. Aborda as questes tericas referentes
Sade Mental ao longo dos anos, a histria do
hospital psiquitrico em que atua como assistente
social e faz a pesquisa, e como a legislao que
prope mudanas neste contexto vem a inferir na
dinmica do hospital, a partir dos pressupostos da
Reforma Psiquitrica.
No segundo captulo trata da realidade do hospital
psiquitrico quanto atuao do Servio Social e da
equipe multiprofissional e das dificuldades do trabalho
cotidiano frente realidade das usurias moradoras
do hospital.
No terceiro captulo traz as interpretaes das
pacientes entrevistadas: suas histrias dentro e fora
do hospital, o abandono e o longo perodo de
internao, a convivncia intra e extra-hospitalar
frente Reforma Psiquitrica.
Sntese A autora fala do lugar que ocupa no hospital e da
movimentao que ocorre dentro dele diante da
proposta da Reforma Psiquitrica, que vinha se
instituindo no pas. Fica claro em seu texto o
momento de transio que se vive em 1999, cuja lei
que dispe sobre a proteo e os direitos das
pessoas com transtornos mentais (lei 10.216), de
autoria de Paulo Delgado, ainda tramitava no
220
Congresso. Fica clara a contradio neste momento
histrico, da implantao de um novo modelo de
ateno em Sade Mental, ainda mais dito por um
profissional que est inserido num hospital
psiquitrico.
221
RODRIGUES, Rosngela Emlia Binato. Trabalho e sade mental: uma ponte para a
insero social. 2000. 126 f. Dissertao (Mestrado em Servio Social)Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2000.
08
Nome Rosngela Emlia Binato Rodrigues
Ttulo do trabalho Trabalho e Sade Mental: uma ponte para a insero
social.
Localizao na biblioteca DM 361.3 R696t Ex.3
Orientador Dilsa Adeodata Bonetti
Grau Dissertao Mestrado
Ano 2000
Resumo A pesquisa teve como objetivo estudar a relao
sade mental e trabalho e a possibilidade que o
desenvolvimento de determinadas atividades abre
para a questo da insero social. A pesquisa foi
realizada no Ambulatrio de Sade Mental de Mogi
das Cruzes, Unidade da Direo Regional de Sade
III, da Secretaria Estadual de Sade, So Paulo. A
metodologia utilizada constitui-se em levantamento de
dados contidos nos pronturios dos usurios do
Ambulatrio de Sade Mental de Mogi das Cruzes e,
posteriormente, em entrevistas temticas realizadas
junto aos usurios que participam do Projeto
Trabalho, do Ambulatrio de Sade Mental de Mogi
das Cruzes.
Palavras-chave Sade Mental; Trabalho; Ambulatrio de Sade
Mental de Mogi das Cruzes, SP; Sistema de Proteo
Social; Servio Social.
Objetivo Conhecer as trajetrias e as expectativas de pessoas
com transtornos mentais sobre trabalho.
Metodologia Entrevista temtica
Descrio do trabalho A autora estrutura seu trabalho da seguinte forma:
No primeiro captulo fundamenta a concepo de
trabalho, produo da mais-valia e do trabalho
alienado a partir da obra de Marx. Em seguida,
apresenta as transformaes ocorridas na sociedade
quanto organizao do trabalho e sua relao com
o sistema de proteo social, dando nfase rea da
Sade Mental.
No segundo captulo, Rodrigues apresenta os novos
paradigmas de Ateno em Sade Mental falando
dos movimentos organizados por trabalhadores,
usurios e familiares e das conquistas alcanadas
quanto proteo social dos sujeitos com transtornos
mentais. Para tanto, traa uma trajetria histrica
falando das prticas ortodoxas at chegar ao contexto
atual. Neste sentido aborda o Movimento da Luta
Antimanicomial como possibilidade de militncia
poltica ao profissional, mas tambm a todos aqueles
222
engajados com a questo.
O quarto captulo dedicado ao trabalho das
entrevistas, aos dados da pesquisa
Sntese A anlise versa sobre as trajetrias e expectativas
dos usurios de Sade Mental, participantes do
projeto Trabalho, do ambulatrio de Sade Mental de
Mogi das Cruzes.
Como dados da pesquisa aponta que:
1- na dcada de 90 (com o processo de
reestruturao produtiva em seu perodo ureo), que
os usurios do Projeto Trabalho tm seu ltimo
emprego, sem retorno ao mercado formal de trabalho
aps este perodo e, principalmente, aps o
aparecimento da doena;
2- o municpio de Mogi das Cruzes no oferece
atrativos quanto criao de novos postos de
trabalho. Ao contrrio, vem reduzindo-os,
aumentando assim as relaes informais de trabalho
e o desemprego;
3- h necessidade de se substanciar projetos
alternativos de trabalho e de gesto compartilhada,
principalmente em relao Sade Mental,
entendendo o trabalho como fundante na realizao
do ser social;
4- o caso da Sade Mental apresenta dupla
excluso: pela doena e pela dificuldade de acesso
ao mercado de trabalho.
5- H necessidade de reformulaes nas bases
dos direitos previdencirios quanto reabilitao dos
sujeitos com transtornos mentais, j que o que vem
sendo acessado, quando muito, a aposentadoria
por invalidez, que fecha as portas definitivamente
para o mercado formal de trabalho. Deste modo os
usurios de Sade Mental so duplamente
penalizados, pois os valores recebidos com a
aposentadoria so nfimos, negando-lhes a
possibilidade de manuteno de uma vida saudvel e
impedindo-lhes de acessar o mercado formal de
trabalho, j abarrotado pelo grande nmero de
trabalhadores desempregados e com os quais no
competem em p de igualdade.
6- H necessidade de formao de tcnicos,
usurios e familiares para atuarem na rea de
formao de cooperativas.
223
MARTINS, Giselle Alice de Paula. Modelos, prticas e polticas em Sade Mental: as
experincias do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Mdica da Faculdade de
Cincias Mdicas da Santa Casa de So Paulo (1963 a 2000). 2001. 154 f.
Dissertao (Mestrado em Servio Social)Pontifcia Universidade Catlica de So
Paulo, So Paulo, 2001.
09
Nome Giselle Alice de Paula Martins
Ttulo do trabalho MODELOS, PRTICAS E POLTICAS EM SADE
MENTAL: as experincias do Departamento de
Psiquiatria e Psicologia Mdica da Faculdade de
Cincias Mdicas da Santa Casa de So Paulo.
Localizao na biblioteca DM 361.3 M386ma Ex.3
Orientador Regina Maria Giffoni Marsiglia
Grau Dissertao Mestrado
Ano 2001
Resumo Este estudo procura construir a histria do
Departamento de Psiquiatria e Psicologia Mdica da
Faculdade de Cincias Mdicas da Santa Casa de
So Paulo, desde sua criao em 1963, ate os anos
90, quando a Irmandade da Santa Casa de So
Paulo, atravs do Departamento de Sade Mental,
assume a direo do Centro de Ateno Integrada a
Sade Mental. Desenvolvemos uma discusso das
experincias de ateno prestada aos portadores de
transtornos mentais, os modelos conceituais e
movimentos internos de inovaes, rupturas e
acontecimentos relevantes que envolveram a
trajetria do Departamento de Psiquiatria e Psicologia
Mdica, nessas ltimas quatro dcadas, alm das
parcerias do Departamento com as administraes
pblicas estaduais e municipais e com outros
Departamentos do Hospital Central da Santa Casa e
da Faculdade. Na pesquisa de campo utilizamos dois
tipos de fontes: documental e oral. Na primeira
reunimos documentos, projetos, programas,
relatrios, atas de reunies, Termos de Convnios,
Revistas e Jornais. Na segunda realizamos doze
entrevistas, em forma de depoimento, guiadas por um
roteiro, gravadas e transcritas na ntegra.
Encontramos em Alberti (1990), Meihy (1993), Corra
(1996), Rojas (1999) e Bosi (1994) os fundamentos
tericos e metodolgicos que justificam e qualificam o
uso da histria oral como mtodo de pesquisa
cientfica. O referencial terico foi construdo a partir
de autores que tratam da questo da sade mental,
nas suas mais diversas dimenses: ideolgica,
filosfica e poltica. Procuramos fazer um resgate
histrico a respeito de como a doena mental foi
tratada desde os sculos mais remotos e sobre a
224
evoluo das polticas pblicas no que se refere
ateno dada aos portadores de transtornos mentais
desde o sculo XVI, procurando fazer um contraponto
com movimentos mais amplos da sociedade
brasileira, em seus aspectos polticos e sociais.
Discutimos alguns modelos de ateno sade
mental e desenvolvemos um arcabouo conceitual
sobre a Reabilitao Psicossocial nos anos 90.
Palavras-chave Poltica de Sade Mental; doena mental; Reforma
Psiquitrica; Reabilitao Psicossocial; Servio
Social.
Objetivo Construir a trajetria histrica do Departamento de
Psiquiatria e Psicologia Mdica da Faculdade de
Cincias Mdicas da Santa Casa de So Paulo,
desde 1963, ano de sua criao, at o ano de 2000.
Metodologia Histria Oral
Descrio do trabalho A dissertao encontra-se estruturada em quatro
captulos.
No primeiro captulo aborda a metodologia de
pesquisa Histria Oral. Recorre memria daqueles
que estiveram envolvidos com o Departamento de
Psiquiatria e Psicologia Mdica desde sua criao,
at a implementao do Centro de Ateno Integrada
Sade Mental em 1997 e seu funcionamento nos
trs anos seguintes. Para isso entrevista 12 sujeitos
envolvidos nesse processo histrico. Contudo, faz um
profundo estudo bibliogrfico e documental,
principalmente da documentao da Faculdade de
Cincias Mdicas e do Departamento de Psiquiatria e
Psicologia Mdica, por meio do levantamento de
textos, livros-atas, termos de convnio e revistas e
jornais.
O segundo e o terceiro captulo so dedicados ao
estudo da Sade Mental e no quarto captulo so
apresentados os perodos e os modelos conceituais,
as parcerias
Sntese Primeiro Perodo (1963-1974): A criao e expanso
do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Mdica
num universo ecltico de modelos de ateno: a
Unidade Psiquitrica.
Assumem contornos inovadores com a introduo de
abordagens mais humansticas da doena mental,
fazendo parcerias com a medicina social;
Segundo Perodo (1975-1981): A hegemonia da
linha organicista e do modelo clnico de ateno ao
indivduo: o Servio de Interconsulta. So
influenciados fortemente por linhas organicistas, cujos
modelos de ateno so centrados no indivduo
dentro do hospital;
225
Terceiro Perodo (1982-1995): A insero do
Departamento de Psiquiatria e Psicologia Mdica no
sistema hierarquizado de servios de sade: o
Programa de Integrao Docente-Assistencial -
PIDA/Zona Norte. Exercem uma articulao com a
rede bsica de sade, dentro de uma proposta de
sistema pblico regionalizado de ateno, com o
advento do PIDA e
Quarto Perodo (1996-2000): A emergncia do
Departamento de Sade Mental da Irmandade da
Santa Casa de Misericrdia de So Paulo e a direo
de um equipamento pblico de diferentes nveis de
ateno: o Centro de Ateno Integrada Sade
Mental - CAISM. Inserem-se na poltica de reforma da
sade mental da Coordenadoria de sade mental da
SES/SP, assumindo a direo de um complexo
servio de ateno secundria e terciria, ao
transformar um antigo hospital psiquitrico, nos
moldes dos grandes e decadentes manicmios, em
um modelo de ateno baseado no que h de mais
contemporneo no mundo, no que diz respeito a
concepes, prticas, abordagens teraputicas e
polticas de direito. p. 142
226
VICENTE, Damares Pereira. A subalternidade, um ponto cego na experincia da
loucura. 2001. 133 f. Dissertao (Mestrado em Servio Social)Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2001.
10
Nome Damares Pereira Vicente
Ttulo do trabalho A subalternidade, um ponto cego na experincia da
loucura.
Localizao na biblioteca DM 361.3 V632s Ex.3
Orientador Maria Carmelita Yazbek
Grau Dissertao Mestrado
Ano 2001
Resumo A pesquisa, realizada na Vila Brasilndia - SP, referiu-
se analise das categorias loucura, cultura e
subalternidade na constituio da identidade dos
portadores de transtornos mentais considerados
graves e incapacitantes, analisando como a
psiquiatria subsidiou, atravs do modelo manicomial
de excluso, o obscurecimento das experincias
sociais desses sujeitos, criando, dessa maneira, uma
dificuldade a mais na construo de um projeto
societrio que vise a superao da condio de
subalternidade. A metodologia utilizada trafegou no
eixo Histria Oral histria de vida estudo de caso.
Palavras-chave Loucura; subalternidade; modelo manicomial;
excluso; transtornos mentais graves; Servio Social.
Objetivo O trabalho tem como objetivo o estudo das categorias
loucura, cultura e subalternidade na constituio da
identidade de sujeitos com transtornos mentais
graves.
Metodologia Histria Oral
Descrio do trabalho A pesquisadora estrutura sua dissertao em seis
captulos.
No primeiro captulo aborda o modelo manicomial
como cultura de excluso e apresenta modelos
substitutivos, contrapostos cultura de excluso;
No segundo captulo traz um estudo quantitativo
acerca da prtica cotidiana em Sade Mental, as
motivaes pessoais que a levaram a realizar a
pesquisa e o campo terico de anlises;
No terceiro captulo faz uma apresentao das
interpretaes das narrativas;
O quarto captulo faz a transcrio literal da entrevista
e no quinto captulo se utiliza de metforas para a
compreenso da subjetividade do sujeito da pesquisa.
No sexto captulo faz a sntese das reflexes
realizadas no percurso.
Sntese Para trabalhar a questo da subalternidade e da
Sade Mental, Cruz referencia alguns pressupostos
que guiaram o trabalho: 1- cultura constitutiva do
227
sujeito, numa relao dialtica, que pressupe
movimento; 2- Apesar de transtornos mentais no
atingirem apenas a camadas mais empobrecidas da
populao, por meio da subalternidade que se
operam os mecanismos mais dilacerantes da
humanidade destes sujeitos; 3- tornar pblica as
vozes dos sujeitos para a construo de uma contra-
hegemonia.
Sua defesa mais marcante centra-se no fato de que
os sujeitos com transtornos mentais vivem uma dupla
excluso: pela condio de pobreza e subalternidade
e pelo prprio transtorno mental.
Destaca que os sujeitos pesquisados tm sua renda
proveniente de programas socioassistenciais. Isto
porque esto excludos do mercado de trabalho ou,
conforme suas palavras, no atingem o status de
trabalhador.
Defende que o enfrentamento pobreza deve
permear projetos tico-polticos que visem
transformao da condio de subalternidade, que,
segundo ela, aparece em seu trabalho atravs das
imagens da loucura.
228
CRUZ, Evanilde Gomes da. Gravidez concebida, maternidade negada: o percurso
da fantasia ao real. 2003. 132 f. Dissertao (Mestrado em Servio Social)
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2003.
11
Nome Evanilde Gomes da Cruz
Ttulo do trabalho Gravidez concebida, maternidade negada: o percurso
da fantasia ao real
Localizao na biblioteca DM 361.3 C957g Ex. 3
Orientador Maria Lcia Martinelli
Grau Dissertao Mestrado
Ano 2003
Resumo Esta pesquisa focaliza a problemtica vivencial de
mulheres psicticas que foram compulsoriamente
separadas de seus bebs. Num total de nove mes,
seis mes do Centro de Ateno Psicossocial - CAPS -
SAQUARE na favela Mxico 70, duas mes do Centro
de Ateno Psicossocial no Bairro Branco e uma me
do NAPS - MATER, moradora da favela Catarina de
Moraes, municpio de So Vicente, Estado de So
Paulo. Optamos por usar a metodologia da Histria
Oral, por considerarmos a pesquisa qualitativa
adequada ao conhecimento do tempo presente;
permitindo conhecer a realidade pela experincia e
pela voz daqueles que a viveram. Pelo relato oral,
tivemos um contato direto com os sentidos, a
sensibilidade, a subjetividade e a histria de cada uma
dessas mes. Nossa proposta de pesquisa constituiu
em retratar a voz dessas mes psicticas, que tiveram
compulsoriamente seus filhos separados delas, com o
intuito de conhecer, analisar e compreender os
sentidos atribudos por elas s suas condies de
mulheres mes e portadoras de transtorno mental. No
referencial terico tratamos destas questes luz dos
autores que abordam a condio humana dos sujeitos
excludos, estigmatizados e impedidos de viver sua
humanidade na tentativa de estabelecer um paralelo
entre o velado e o real. As narrativas revelam as
dramticas vivncias dessas mulheres e como o
estigma da loucura pode agravar a situao de
excluso e a coisificao do doente mental. Reflete
que situaes de separao compulsria contribuem
para o esgaramento do SELF, o que intensifica a
angstia dessas mulheres, e gera demanda para o
desenvolvimento de servios que propiciem o encontro
de si mesma, que transcenda as individualidades e, ao
mesmo tempo, recoloque-as como participantes do
gnero humano.
Palavras-chave Loucura; Mulheres psicticas; Maternidade; Me;
Servio Social
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Objetivo Conhecer e analisar e compreender os sentidos
atribudos pelas mulheres entrevistadas sua
condio de serem mulheres, mes e portadoras de
transtornos mentais.
Metodologia Histria Oral
Descrio do trabalho A pesquisadora estrutura o trabalho em trs captulos:
No primeiro captulo aborda questes relacionadas
doena mental, a Reforma Psiquitrica e ao processo
de Reforma Psiquitrica no Brasil. Trata-se de uma
contextualizao histrica sobre os modelos de
ateno em Sade Mental: do modelo de ateno
manicomial para o modelo antimanicomial;
O segundo captulo fala sobre a regio de So Vicente,
sobre os CAPS na regio e do trabalho feito com os
usurios: grupo de mulheres; oficina fotogrfica
mostra teu mundo; danas circulares. Contextualiza o
leitor sobre a realidade da regio, do local onde a
pesquisa foi feita e dos sujeitos pesquisados;
O terceiro captulo se volta para a questo da condio
feminina, da maternidade e da loucura: a condio de
mulheres, mes e loucas.
Sntese A autora defende um olhar humanizado aos sujeitos
com transtornos mentais, respeitando sua
subjetividade e valorizando sua histria. Afirma que a
separao compulsria dos bebs e das mes revela
ineficincia de servios pblicos para lidar com a
questo da maternidade e do transtorno mental,
ocasionando o agravamento de sofrimento psquico e
favorecendo processos de excluso e separao.
Posiciona que o Servio Social tem um papel
fundamental na construo de polticas pblicas mais
amplas e eficazes, que verdadeiramente atendam s
demandas da populao e que estejam voltadas para
a valorizao do humano.