O Setor Madeireiro No Amapá

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O Setor Madeireiro no Amap: Situao Atual e Perspectivas para o Desenvolvimento Sustentvel

Recom endar 1

Verssimo, A., Cavalcante, A., Vidal, E., Lima, E., Pantoja, F., & Brito, M. (1999). O Setor Madeireiro no Amap: Situao Atual e Perspectivas para o Desenvolvimento Sustentvel (p. 44). Macap: Imazon e Governo do Estado do Amap.

Menu da Publicao Prefcio Apresentao Resumo Introduo Descrio da rea de Estudo Mtodos Resultados Propostas para o Desenvolvimento do Setor Florestal no Amap Concluso

Prefcio A floresta amaznica prdiga em bens e servios para a humanidade. Para os moradores do interior da Amaznia a mata principalmente um santurio de frutas, plantas medicinais, animais e madeira para uso local. Para quem reside nas cidades grandes da Amaznia como Macap, a floresta est presente, ainda que indiretamente, em toda parte: nas madeiras utilizadas nas construes, nas frutas utilizadas na culinria regional, nos leos e remdios comercializados nas feiras e farmcias. Mesmo para as pessoas que moram em outros pases e continentes, a floresta amaznica oferece servios essenciais como a regulao do clima global. Porm, a floresta no est sendo valorizada de forma adequada. A utilizao dos recursos florestais ainda

largamente predatria. Os preos dos produtos oriundos da floresta no so suficientemente valorizados. Alm disso, a repartio dos benefcios econmicos derivados do uso da floresta ainda desigual. Entretanto, h aes concretas em curso para reverter essa situao. O Governo do Amap, por exemplo, estabeleceu um programa de utilizao da castanha-do-Brasil na merenda escolar nas escolas pblicas do Estado. Um grande desafio ao uso sustentvel da floresta a explorao madeireira. Se essa atividade for conduzida de forma manejada, ela ser capaz de conciliar desenvolvimento e conservao. Na Amaznia, porm, a explorao madeireira tem sido amplamente realizada de forma desordenada e predatria. Entretanto, h fatos que esto contribuindo para o uso racional do recurso madeireiro. Primeiro, os consumidores esto cada vez mais conscientes, procurando saber sobre a origem da madeira (se ela manejada ou no). Alm disso, existe um amadurecimento do conhecimento cientfico e das tcnicas de manejo florestal. Finalmente, h um nmero crescente de extrativistas, pequenos produtores, povos indgenas e empresrios realizando experincias piloto de uso sustentvel dos recursos madeireiros. Foi a partir desse contexto que nasceu a idia do Governo do Estado do Amap, atravs da Secretaria de Agricultura, Pesca, Floresta e Abastecimento (Seaf), de avaliar a situao atual e elaborar um programa para o desenvolvimento sustentvel do setor madeireiro no Estado. Os resultados da primeira fase desse trabalho esto, a partir de agora, disponveis no livro O Setor Madeireiro no Amap: Situao Atual e Perspectivas para o Desenvolvimento Sustentvel. O livro documenta atravs de um amplo levantamento de campo a situao atual da explorao madeireira no Amap. O livro discorre de maneira descritiva e quantitativa sobre como os agentes econmicos e grupos sociais exploram, transportam, processam e comercializam os produtos madeireiros no Estado. Em sntese, os autores revelam que o setor madeireiro do Estado encontra-se ainda em um estgio inicial de desenvolvimento quanto tecnologia empregada, renda e emprego. Entretanto, ao invs de fornecer apenas mais um relato da situao atual, a segunda parte do estudo apresenta uma srie de sugestes concretas e bem documentadas para a soluo das questes madeireiras no Estado. Em termos especficos, os autores propem a definio das reas de uso madeireiro, elaborao de polticas pblicas de apoio ao manejo florestal, estabelecimento de reservas estaduais para a produo madeireira, formao de recursos humanos, reformulao do sistema de monitoramento e controle da atividade de madeira e, finalmente, uma poltica de comercializao baseada na certificao florestal para a abertura de mercados ambientalmente sensveis na Europa, Estados Unidos e Centro-Sul do Brasil. Este livro nico, no apenas pelo seu contedo, mas pelo pioneirismo, viso estratgica e solues concretas para o desenvolvimento do setor florestal do Amap. Serve como uma bssola para nos guiar na travessia difcil, porm absolutamente necessria em direo a um desenvolvimento sustentvel do nosso Estado. Joo Alberto Rodrigues Capiberibe Governador do Estado do Amap

Apresentao Em 1998, o Governo do Estado do Amap, atravs da Secretaria de Agricultura, Pesca, Floresta e Abastecimento (Seaf) encomendou ao Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amaznia (Imazon) um estudo sobre o setor madeireiro do Estado. O objetivo do estudo era realizar um diagnstico da explorao, processamento e comercializao de madeiras, bem como elaborar um conjunto de propostas para apoiar o desenvolvimento sustentvel dessa atividade no Estado. O estudo foi realizado de forma participativa e contou com a liderana de uma equipe mista composta de pesquisadores do Imazon e tcnicos da Seaf. Inicialmente foi realizado um seminrio pblico em junho de 1998,

com a finalidade de apresentar um panorama da explorao madeireira na Amaznia e discutir as oportunidades de um estudo sobre o setor madeireiro no Amap. Esse seminrio foi realizado na Federao das Indstrias do Estado e contou com a presena de aproximadamente 50 pessoas. Em seguida, tcnicos da Seaf e do Imazon realizaram o levantamento de campo no perodo de junho a agosto de 1998. Com base nos dados de campo e na reviso da literatura do setor florestal, redigiu-se uma verso preliminar do estudo para ser apreciada por tcnicos de outras instituies como Secretaria de Meio Ambiente (Sema), Secretaria de Planejamento (Seplan), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa), Instituto de Pesquisas Cientficas e Tecnolgicas do Amap (Iepa), Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (Incra) etc. As sugestes e crticas ao documento foram coletadas durante uma reunio tcnica em novembro de 1998. Finalmente, a verso pr-final do documento foi elaborada e apresentada em um amplo seminrio realizado em Macap no incio de maio de 1999. O seminrio Situao e Perspectivas para o Setor Madeireiro do Amap reuniu aproximadamente 150 pessoas entre tcnicos de rgos do Estado (Embrapa, Seplan, Sema, Iepa, Rurap, Ibama, Batalho Florestal), empresrios locais, Organizaes No-Governamentais (Instituto Socioambiental, Amigos da Terra, Imaflora), agncias financeiras e de cooperao (Banco Mundial, Banco da Amaznia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico Social, Agncia Norte-Americana de Cooperao Internacional), Universidade de So Paulo (USP) e representantes do Ministrio do Meio Ambiente e Governo do Acre. Procuramos incorporar no texto final a maioria dos comentrios e crticas feitos durante os seminrios e reunies. S no foi possvel inserir aquelas sugestes que, embora relevantes, no correspondiam ao escopo definido pelo estudo. O livro est organizado em duas partes. Inicialmente, apresentamos os resultados do diagnstico sobre o setor madeireiro do Estado do Amap. Em seguida, descrevemos uma srie de iniciativas a serem consideradas pelo governo para o desenvolvimento de um setor florestal sustentvel no Estado. Muitas pessoas contriburam para a realizao deste estudo com comentrios e sugestes. Agradecemos especialmente a Jorge Arajo de Sousa Lima (Embrapa), Silas Mochiutti (Embrapa), Jos Antnio Leite de Queiroz (Embrapa), Cludio Roberto Baptisto (Rurap), Antnio Cludio Almeida de Carvalho (Sema), Nazir de Melo Salman (Ibama), Gilda Ferreira Pereira (Seaf), Slvia Maria Lopes Meirelles (Seaf), Carlos Alberto Vasconcelos da Nbrega (Seaf), Sueli Gomes Pontes dos Santos (Seaf), Lus Arlindo Correia (Federao das Indstrias do Amap), Arnaldo Biancheptti (Embrapa) e Fernando Antnio Matias Pereira (Seaf), e Paulo Amaral (Imazon). Gostaramos tambm de agradecer a Elson Vidal e Sandro Corra (Imazon) pelo apoio administrativo realizao desse estudo.

Resumo O Estado do Amap (143.453 km) rico em florestas de valor madeireiro. Entretanto, a atividade madeireira tem uma participao modesta na economia do Estado. Em 1998, havia 66 madeireiras de pequeno porte em funcionamento; 51 estavam localizadas na regio de vrzea e 15 na terra firme. Naquele ano, essas serrarias reunidas consumiram aproximadamente 140.000 m de madeira em tora e produziram 47.000 m de madeira processada. A produo do Amap representa apenas 0,5% da madeira processada na Amaznia Legal. A margem de lucro das madeireiras localizadas no Amap similar observada em outras regies da Amaznia (em torno de 15%). A renda bruta gerada por este setor foi estimada em R$ 7,6 milhes (0,5% da renda total da Amaznia). A eficincia no processamento baixa, oscilando de 28% a 35%, ou seja, so necessrios at 3,5 m de madeira em tora para produzir 1 m de madeira serrada. O Amap possui uma situao vantajosa para o estabelecimento de um programa efetivo de desenvolvimento

sustentado para o setor florestal. Primeiro, o Estado conserva 99% de sua cobertura florestal original. Segundo, a presso demogrfica sobre os recursos naturais reduzida. Terceiro, o Estado tem uma posio geogrfica estratgica na foz do Amazonas com amplas possibilidades de atingir mercados ambientalmente sensveis, como o caso da Unio Europia. Finalmente, h um interesse explcito do Governo do Estado em desenvolver, em bases sustentveis, o setor florestal. Para promover o desenvolvimento sustentado do setor madeireiro necessrio estabelecer uma poltica florestal que inclua o zoneamento florestal do Estado, incentivo adoo do manejo florestal privado e comunitrio, capacitao de tcnicos e mo-de-obra local, fortalecimento do sistema de monitoramento e controle, criao de Florestas Estaduais de Produo (isto , Unidades de Conservao passveis de explorao madeireira sob regime de manejo sustentado), assistncia tcnica, crdito e infra-estrutura bsica (em especial, energia e sistema porturio) para o melhor aproveitamento industrial da madeira.

Introduo Os recursos florestais da Amaznia so caracterizados pela enorme diversidade florstica e elevado potencial de aproveitamento econmico. A partir do sculo XVI at a metade do sculo XX, a explorao concentrou-se em produtos florestais no-madeireiros (castanha, borracha, razes aromticas, sementes oleaginosas etc.) e madeiras nobres. Entretanto, a partir da dcada de 70, com a abertura das estradas ligando a Amaznia ao restante do Pas, a explorao madeireira ganhou impulso. Em trs dcadas a participao da Amaznia na produo nacional de madeira em tora passou de 4,5 milhes (14% do Pas), em 1976, para 28 milhes em 1998 (80%) (Verssimo & Lima,1999). A explorao de madeira da Amaznia contribui para a liderana do Brasil na produo e consumo mundial de madeira em tora[1]. Atualmente, a maioria (86%) da madeira extrada na Amaznia consumida no mercado interno, enquanto apenas 14% so exportados (Verssimo & Smeraldi, 1999). Em 1997, a renda bruta gerada pelo setor madeireiro na Amaznia ficou em torno de US$ 2,2 bilhes (Verssimo & Lima, 1999). Esse setor representa 15% a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados de Rondnia, Par e Mato Grosso. A atividade madeireira emprega aproximadamente 5% da populao economicamente ativa da regio (Verssimo & Lima, 1999). Entretanto, a qualidade desses empregos baixa e os riscos de acidentes de trabalho so elevados, especialmente durante o corte e arraste de rvores na floresta. A explorao madeireira na Amaznia feita largamente de forma predatria, provocando danos significativos s florestas; presso excessiva sobre algumas espcies madeireiras (por exemplo, mogno, virola, pau amarelo e acapu); e aumento da propenso a incndios florestais e invaso de cips (Uhl & Kauffman, 1990; Verssimo et al., 1992). Alm disso, a atividade madeireira contribui indiretamente para o desmatamento regional. Atualmente so os madeireiros que, na maioria das vezes, constroem e mantm estradas de acesso s florestas. O estabelecimento dessas estradas geralmente conduz colonizao espontnea por pequenos agricultores e fazendeiros (Verssimo et al., 1995). A explorao madeireira, entretanto, pode ser conduzida de forma racional. A adoo de prticas de manejo florestal capaz de manter a estrutura e a composio florstica da mata. O manejo garante a produo de madeira, reduz os danos e os desperdcios da explorao e diminui drasticamente os acidentes de trabalho. Alm disso, assegura a conservao dos recursos naturais, mantendo desta forma os servios ambientais da floresta, especialmente o ciclo hidrolgico e a reteno de carbono (Amaral et al., 1998). Apesar das vantagens comparativas, a proporo de madeira manejada na Amaznia inferior a 1%. Entre as principais causas desse fraco desempenho, incluem-se a abundncia dos recursos florestais e o livre acesso a esses recursos, a ineficincia do sistema de monitoramento e controle, as polticas de incentivo agropecuria e a insegurana fundiria (Verssimo & Amaral, 1996).

A maioria (93%) da explorao e processamento de madeira ocorre nas florestas de terra firme ao longo de um arco que vai do leste do Par, passando pelo norte de Mato Grosso, at Rondnia. A madeira oriunda das florestas de vrzea representa apenas 7% do volume total extrado na Amaznia. A atividade madeireira de vrzea ocorre principalmente no esturio do Amazonas e baixo Tocantins (Verssimo & Lima,1999). O Amap tem uma participao pequena (menos de 1%) na produo madeireira regional. Dado o padro predatrio dominante nos outros Estados, essa incipiente produo representa uma vantagem comparativa. Ou seja, o Amap pode planejar o desenvolvimento do setor florestal em uma direo diferente e nica. O Estado tem o potencial de produzir madeira de forma manejada, agregar renda na cadeia produtiva e distribu-la de maneira justa para as suas diversas camadas sociais. Objetivos. Os objetivos deste estudo so caracterizar a atividade madeireira nas florestas de vrzea e terra firme do Amap e apresentar sugestes para a elaborao de um plano de desenvolvimento sustentvel para o setor madeireiro no Estado. _________________________
1 De acordo com o ITTO, a ndia seria o maior consumidor de madeira tropical. Entretanto, o prprio ITTO admite graves falhas nos dados de consumo de madeira tropical na ndia. Por essa razo, Verssimo & Smeraldi (1999), em livro recente sobre o comrcio de madeira tropical no Brasil, sugerem a excluso da ndia.

Descrio da rea de Estudo O Estado do Amap possui 143.453 km. amplamente coberto por florestas ombrfilas de valor madeireiro (75%) (Figura 1). Cerrados e campos naturais ocupam respectivamente 6% e 12% da superfcie do Estado. As florestas de igap e as zonas de transio floresta-cerrado representam 6%, enquanto as reas desmatadas representam apenas 1% do Amap (Inpe, 1997). A precipitao anual no Estado varia de 2.000-3.000 mm e o clima super mido. A maioria (54%) dos solos do Amap latossolo vermelho-amarelo (IBGE, 1989) caracterizado por baixa quantidade de minerais e escassez em nutrientes disponveis s plantas. Os solos mais frteis ocorrem nos manguezais, representando 12% dos solos no Estado. O relevo varia de plano no sul do Amap, passando por suavemente ondulado na rea central, at acidentado no noroeste do Estado.

Figura 1. Vegetao do Estado do Amap.

A populao do Estado de aproximadamente 400 mil habitantes distribudos em 16 municpios. Oitenta e sete por cento da populao urbana. As cidades de Macap e Santana concentram aproximadamente 300 mil habitantes, ou seja, 75% da populao do Estado. A densidade demogrfica fica em torno de 2,8 habitantes/km (IBGE, 1997). O Estado do Amap possui 41 mil km (29% do Estado) de suas terras legalmente protegidas. Desse total, a explorao madeireira proibida nas reas Indgenas (8% do Estado) e nas Reservas da Natureza ou Unidades de Uso Indireto (9% do Estado) (Figura 2). A explorao permitida sob regime de manejo apenas nas Reservas de Produo ou Unidades de Uso Direto, tal como Reservas Extrativistas, Florestas Nacionais e Reservas de Desenvolvimento Sustentvel (12% do Estado). No restante do Estado (71%), a explorao madeireira no sofre restrio legal no que se refere propriedade. A maioria (82%) dessas terras est sob jurisdio do Incra, enquanto apenas 18% ficam sob a tutela do Estado. A economia do Estado baseada no extrativismo vegetal (aa, palmito, castanha-do-Brasil e sementes oleaginosas), silvicultura, pesca, minerao (ouro, mangans e caulim) e comrcio (zona franca). Atualmente, o Amap o maior produtor nacional de caulim (Chagas, 1996). A explorao madeireira tem uma participao reduzida na economia do Estado. Entretanto, como revela este estudo, o setor madeireiro pode se tornar uma das principais atividades econmicas do Estado.

Figura 2. reas protegidas do Estado do Amap.

Mtodos Inicialmente procuramos obter informaes secundrias sobre a localizao e o porte das indstrias madeireiras do Estado. As principais fontes de consulta foram o cadastro do Ibama-Amap, Seaf e Sema. Com base nessas informaes, optamos por dividir a coleta de dados entre as florestas de vrzea e as florestas de terra firme. O levantamento dos dados foi feito por duas equipes, uma para cada ecossistema. A equipe de terra firme era composta por um tcnico do Imazon e outro do Governo do Amap, enquanto a equipe de vrzea era formada por um guia local, dois tcnicos do Imazon e um tcnico do Estado. A localizao dos rios, igaraps e furos foi bastante facilitada pela experincia do nosso guia. Para caracterizar a atividade madeireira (explorao, transporte, processamento e comercializao), entrevistamos as 51 microsserrarias existentes na regio de vrzea e as 15 serrarias que exploram madeiras na terra firme do Amap. Em cada uma dessas empresas aplicamos questionrios para determinar: (i) localizao do estabelecimento; (ii) dados gerais dos proprietrios (origem e experincia anterior); (iii) dados gerais da madeireira (tipo de empresa, ano de instalao, nmero de empregados, envolvimento com a explorao etc.); (iv) produo anual de madeira processada (serrada, beneficiada, laminada e compensados); (v) consumo anual de madeira em tora; (vi) espcies extradas (nome comum e dimetro mdio); (vii) sistema de explorao utilizado (manual ou mecanizado); (viii) origem da matria-prima (tipo de propriedade, distncia e condies de acesso); (ix) preo das diversas espcies de madeira (em p, em tora e serrada); (x) custos de explorao, transporte e processamento; (xi) destino da madeira serrada (estadual, nacional e exportao). A posio de cada uma das serrarias foi obtida de forma precisa (latitude e longitude) atravs de aparelhos de GPS (Sistema de Posicionamento Global). As microsserrarias de vrzea estavam situadas principalmente nos rios, igaraps e furos (rea de influncia das florestas de vrzea) do esturio do Amazonas, enquanto as serrarias de terra firme estavam localizadas nas rodovias Amap 156 e 210.

Resultados Em 1998, havia apenas 66 madeireiras em atividade no Estado. Desse total, 51 estavam localizadas nas matas de vrzea ao longo dos rios Bailiqui e Matapi. As 15 madeireiras restantes estavam localizadas nas florestas de terra firme ao longo das rodovias AP 156 e 210 (Figura 3). Como veremos a seguir, h diferenas significativas no sistema de explorao, transporte, tecnologia de processamento e nvel de organizao entre as empresas de vrzea e as de terra firme.

Figura 3. Localizao das serrarias no Estado do Amap.

Atividade Madeireira na Vrzea do Amap Caractersticas das florestas de vrzea. As florestas de vrzea do esturio do Amazonas so reas midas que sofrem duas inundaes dirias, uma vez que o nvel do rio varia de acordo com as mars do Oceano Atlntico. As vrzeas do Amap somam aproximadamente 9.000 km, ou 6% da superfcie do Estado (Sema, 1997) (Figura 1). A mata de vrzea um ecossistema rico e distinto no que se refere biodiversidade, diversidade de uso dos recursos naturais (madeira, castanha, borracha, palmito, frutos, essncias aromticas e sementes oleaginosas) e elevada produtividade primria. Os solos da vrzea esto entre os mais frteis da Amaznia devido renovao contnua dos nutrientes carregados pelas guas do Amazonas. Quanto ao valor madeireiro, as florestas de vrzea possuem uma diversidade menor de espcies do que as florestas de terra firme. Do total de espcies extradas na Amaznia, 30 espcies (10%) so exclusivas de florestas de vrzea, enquanto 195 (64%) so tpicas de florestas de terra firme. H 73 (24%) espcies que ocorrem nos dois ecossistemas (Martini et al., 1998). As principais espcies utilizadas pelo setor madeireiro na vrzea do Amap so: Anani (Sinphonia globulifera), Andiroba (Carapa guianensis), Pau Mulato (Calycophylum spruceanum), Macacaba (Platymiscium sp.), Pracuba (Trichilia sp.), Tamaquar (Caraipa sp.), Virola (Virola surinamensis) e Jacareba ( Calocophylum brasiliense).

Com relao aos produtos no-madeireiros, a floresta de vrzea tem uma alta diversidade, com destaque para o aa (Euterpe oleracea Mart.), castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa), seringueira (Hevea brasiliense), copaba (Copaifera ducke) e andiroba (Carapa guianensis Aubl). Histria da explorao madeireira na vrzea. Por mais de trs sculos a explorao madeireira na vrzea ficou restrita a algumas poucas espcies. A produo supria a baixa demanda local e, ocasionalmente, o mercado europeu. As exportaes de madeira de vrzea s ganharam uma certa importncia na primeira metade do sculo XX, com a venda de dormentes para a Europa e Sul do Brasil (Barros & Uhl, 1997). Somente a partir dos anos 80 houve um incremento significativo na produo. A rpida urbanizao da populao do esturio amaznico, em especial Belm e Macap, criou uma forte demanda por madeiras de vrzea para a construo civil de baixa renda. Explorao de madeira na vrzea. H dois padres de explorao madeireira nas florestas de vrzea do Amap (Figura 1). O primeiro altamente seletivo e envolve apenas a virola (Virola surinamensis). O corte feito com machado e o arraste feito manualmente. O sistema similar ao descrito por Barros & Uhl (1997) para as florestas de vrzea do Par. Os extratores procuram utilizar as enchentes para remover as toras de virola do interior da floresta. Isso possvel porque a virola uma madeira leve e, portanto, pode flutuar. Nos casos em que a rea de explorao est fora do alcance das cheias, a alternativa a construo de estivas de madeira. Essas estivas funcionam como trilhos por onde as toras so arrastadas at os cursos de gua (Barros & Uhl, 1997). Finalmente, as toras so transportadas via jangadas at as serrarias. Entretanto, por causa da exausto dos estoques naturais de virola, esse padro de explorao tem sido reduzido nas vrzeas do Amap. Atualmente, a maior parte da explorao de virola ocorre no alto Amazonas e tributrios, especialmente nos municpios de Tef e Benjamim Constant (Amazonas). A partir dos anos 80, um padro de explorao mais intensivo tem se tornado freqente na vrzea. Nesse padro, entre 30 e 50 espcies de valor econmico so aproveitadas, resultando em uma intensidade mdia de cinco a dez rvores extradas por hectare (Barros & Uhl, 1997). Rendimento extrativo. Nas vrzeas do Amap, a maioria (60%) do corte feita com machado e o restante (40%) com motosserra. O volume extrado reportado pelos extratores variou entre 9 e 12 m, ou sete a dez rvores por hectare. Essa estimativa de intensidade de explorao foi mais que o dobro do valor obtido por Barros & Uhl (1997) para as florestas de vrzea do Par. Origem da matria-prima na vrzea. A maioria (48%) da madeira extrada na vrzea era oriunda de reas de ocupao das famlias proprietrias das microserrarias; 28% eram provenientes de reas de terceiros (especialmente pequenos proprietrios) e 24% tinham origem no-identificada (Figura 4). Transporte. O transporte das toras fluvial, podendo ser via jangada, no caso das toras que flutuam, ou balsa para as toras mais densas que no flutuam. Em geral, a distncia da rea de explorao para as microsserrarias variou entre 15 e 25 km. Entretanto, dado o baixo custo de transporte, possvel extrair madeira a distncias maiores. De acordo com as entrevistas, o custo unitrio de transporte fluvial foi R$ 0,01 m/km em jangadas e R$ 0,07 m/km em balsas. O transporte do produto serrado (tbuas) das reas de processamento at as estncias em Macap realizado por pequenos barcos.

Figura 4. Origem da madeira em tora nas florestas de vrzea no Estado do Amap.

Empregos no setor madeireiro da vrzea. A explorao, o transporte e o processamento das toras so simplificados. As funes de localizar, cortar, arrastar, transportar e desdobrar as toras so distribudas igualmente entre os membros da equipe. A mo-de-obra geralmente familiar, embora haja contratao de diaristas para complementar as equipes de extrao. O trabalho de extrao e transporte ocorre ao longo de quatro meses e envolve temporariamente cerca de 230 pessoas (Tabela 1). A maioria desses trabalhadores continua envolvida, em tempo parcial, com o processamento das toras durante os oito meses restantes do ano. Processamento na vrzea. Das 51 microsserrarias entrevistadas na regio de vrzea, 80% foram instalados na dcada de 90 e o restante (10%) na dcada de 80. Das serrarias instaladas nos anos 90, mais da metade foi estabelecida nos ltimos trs anos (Figura 5). Informaes qualitativas obtidas junto aos moradores locais indicam que a maior parte das microsserrarias existentes no incio da dcada de 90 foi fechada. Os madeireiros afirmaram tambm que o volume de madeira processado atualmente inferior ao volume processado no incio da dcada. Restries legais na explorao e exportao de virola (Medida Provisria No 1963), bem como a demanda limitada no mercado regional (especialmente da construo civil em Macap) foram apontadas como as maiores causas para a retrao na produo.

Tabela 1. Caractersticas das microsserrarias nas florestas de vrzea no Amap, 1998.

Figura 5. Perodo de instalao das Microserarias nas florestas de vrzea do Amap.

Perfil da produo madeireira. A capacidade produtiva das serrarias de vrzea extremamente reduzida. Essas microsserrarias utilizam serras circulares de 40 a 50 polegadas para o processamento de madeira. Por causa da restrio no tamanho da serra, apenas as toras com dimetro entre 20 e 45 cm so aproveitadas. Para movimentar as serras so utilizados motores movidos a diesel. O trabalho feito por uma equipe de cinco a seis pessoas, em geral, membros da prpria famlia, em galpes simples de madeira coberto com palha. A maioria (90%) das microsserrarias tem uma produo anual de madeira serrada inferior a 500 m; 6% das empresas produzem entre 500 e 750 m e apenas 4% tm uma produo maior que 750 m e inferior a 1.000 m por ano (Figura 6). As serrarias de vrzea produzem basicamente tbuas com dimenses de 3 a 4 metros de comprimento por 0,17 a 0,25 metros de largura e 0,02 a 0,03 metros de espessura. A madeira consumida no prprio Estado, especialmente para a construo civil de baixa renda.

Figura 6. Perodo de instalao das Microsserarias nas florestas de vrzea do Amap.

Em 1998, a produo total de madeira das 51 microsserrarias foi 15.296 m (Tabela 2). O rendimento na converso de madeira em tora dessas serrarias extremamente baixo: 28%. Isto , so necessrios 3,5 m de madeira em tora para produzir 1 m de madeira serrada. Utilizando esse fator de converso, as 51 microsserrarias da vrzea consumiram aproximadamente 53.536 m de madeira em tora em 1998. Das 51 famlias que operavam nas microsserrarias na vrzea, 40% desenvolviam outras atividades econmicas, incluindo a coleta do fruto e extrao do palmito do aa e a pesca. Em geral, essas atividades complementam o oramento domstico, mas no caso do aa (fruto e palmito) a renda bruta pode ser maior do que a obtida com a extrao e o processamento de madeira (Arima et al., 1998).

Tabela 2. Caractersticas das serrarias no Estado do Amap, 1998.

Economia das microsserrarias de vrzea. Uma microsserraria tpica de vrzea produz anualmente, em mdia, 300 m de madeira serrada a partir de 1.050 m de madeira em tora. A renda bruta foi estimada em R$ 24.000, ou R$ 80/m de madeira serrada. O custo total de produo foi estimado em aproximadamente R$ 19.000, ou R$ 63 por metro cbico serrado. A receita lquida foi estimada em R$ 5.000, ou R$ 17/m. A margem de lucro foi calculada em aproximadamente 21%, um valor similar ao obtido por Barros & Uhl (1997) para as microsserrarias da vrzea do Par (Tabela 3).

Tabela 3. Estimativa de custos e renda de uma microsserraria na vrzea do Amap, 1998.

Atividade Madeireira nas Florestas de Terra Firme Embora a explorao madeireira esteja concentrada na vrzea, nas duas ltimas dcadas houve uma expanso da indstria madeireira do Amap para as zonas de terra firme. As causas para essa expanso so o aumento da demanda por madeiras de mdia e alta densidade (mais comuns nas florestas de terra firme) para a construo civil. Alm disso, a melhoria da rede de estradas no Estado facilitou o acesso s florestas interfluviais. As florestas de terra firme. As florestas densas de terra firme (69% do Estado) tm uma diversidade maior de espcies de valor madeireiro quando comparadas com as matas de vrzea. A maioria das madeiras de terra firme de mdia e alta densidade e, portanto, no flutua. No Amap, as principais espcies extradas so angelim vermelho (Dinizia excelsa), angelim pedra (Hymenolobium sp), maaranduba (Manilkara sp), jatob (Hymenaea courbaril), ip (Tabebuia sp), pau amarelo (Euxilophora paraensis), angelim pedra (Hymenolobium excelsum), acapu (Vouacapoua americana) e mandioqueiro (Qualea acuminata Spruce). Explorao de madeira na terra firme. As rvores de valor econmico so localizadas e identificadas na floresta. Em seguida, utilizam-se motosserras para fazer o corte e diviso das rvores em tora. Na seqncia, so usados tratores agrcolas para arrastar as toras do local de queda das rvores at os ptios de estocagem. Por ltimo, as toras so geralmente embarcadas diretamente nos caminhes atravs do sistema de c atraca . Nesse sistema, as toras so erguidas com auxlio de um cabo de ao, utilizando o princpio da alavanca. A explorao madeireira na terra firme seletiva, com cerca de 25 a 30 espcies sendo extradas. De acordo com as entrevistas, o volume mdio extrado por hectare foi 25 m de madeira em tora, ou cinco a oito rvores. Essa estimativa de intensidade de explorao estava prxima daquelas obtidas em estudo de campo por Verssimo et al. (1991) em Tailndia, Par. Transporte. O transporte das toras geralmente feito por caminhes com capacidade de carga de 12 a 13 m de madeira em tora. A distncia mdia percorrida por esses caminhes, entre a rea de explorao e as serrarias, oscilou entre 30 e 140 km, sendo a distncia mdia igual a 113km (s=56). As condies das estradas eram variveis. Em termos proporcionais, 10% da distncia era percorrida em estradas de boa qualidade (estradas com recapeamento asfltico), 38% em estradas razoveis (estradas de cho com piarra e niveladas), 32% em estrada de baixa qualidade (estradas de cho sem piarra e sem nivelamento). Em torno de 20% das indstrias de terra firme do Amap utilizavam sistema misto de transporte, ou seja, usavam balsas para transporte fluvial combinado com transporte terrestre, enquanto 80% usavam somente transporte terrestre. O transporte do

produto serrado, no caso da terra firme, realizado por caminhes at as cidades de Macap e Santana. Origem da matria-prima na terra firme. A maioria (57%) da madeira extrada na terra firme era oriunda de reas prprias das indstrias; 31% eram provenientes das reas de terceiros (especialmente pequenos proprietrios) e 12% tinham origem no-identificada (Figura 7).

Figura 7. Origem da madeira em tora nas florestas de terra firme no Estado do Amap.

Empregos na explorao de terra firme. A explorao madeireira intensiva no que se refere mo-de-obra e necessita de diversas habilidades para a sua realizao. A equipe da explorao de terra firme deve incluir mateiros (responsveis pela localizao e identificao das rvores), ajudantes, motosserristas, tratoristas e motoristas de caminho. As serrarias da terra firme empregavam durante o perodo de explorao (aproximadamente seis meses) 190 trabalhadores, incluindo motosserristas, ajudantes, tratoristas e motoristas de caminho. Como a atividade de explorao e transporte sazonal, o nmero de empregos na explorao reduz drasticamente no perodo de chuvas. Em geral, a proporo de funcionrios legalizados na explorao menor do que na serraria. Os motivos para isso so vrios, incluindo a maior rotatividade da mo-de-obra florestal, os encargos sociais elevados e o isolamento na floresta, o que dificulta a fiscalizao do Ministrio do Trabalho. Processamento na terra firme. A maioria (65%) das 15 madeireiras de terra firme utilizava serras de fita, enquanto apenas 35% utilizavam serras Induspan. Das 15 serrarias em funcionamento no Amap em 1998, 81% haviam sido instalados na dcada de 90, enquanto apenas 19% haviam sido estabelecidos na dcada de 80 (Figura 8). Essas madeireiras de terra firme esto em sua maioria integradas verticalmente, isto , realizam a explorao, o transporte e o processamento de madeira. A maior parte (64%) das serrarias de terra firme tem produo anual entre 500 a 1.500 m (Figura 9). Em 1998, as 15 serrarias produziram aproximadamente 20.000 m de madeira serrada e 12.300 de m madeira beneficiada (portas, janelas e mveis). Para um rendimento mdio de 35%, o volume de madeira em tora consumido ficou em torno de 87.000 m.

Figura 8. Perodo de instalao das serrarias de terra firme no Estado do Amap.

Figura 9. Produo das serrarias de terra firme no Estado do Amap.

As serrarias de terra firme tm uma capacidade produtiva bastante varivel. Essa variao ocorre em parte por causa do maquinrio utilizado. A produo das serrarias que utilizam serra de fita era significativamente maior (at 19 vezes) que das serrarias que utilizam serras Induspan. Quanto mo-de-obra, as serrarias de terra firme empregam aproximadamente 160 trabalhadores. A maioria dos trabalhadores (53%) originria do prprio Estado, enquanto 32% so oriundos do Par, principalmente dos municpios de Breves, Afu e Gurup. O restante (15%) proveniente da Regio Nordeste (principalmente do Maranho). Preo da madeira em p na floresta. Em geral, o valor da madeira em p varia em funo da espcie e da distncia entre a floresta e a rea de processamento. Nas florestas de terra firme do Amap, o valor da madeira variou de R$ 2,50 (valor mdio para as espcies de baixo valor) para R$ 8 (valor mdio para as espcies de mdio e alto valor). Em termos comparativos, esses valores so aproximadamente metade dos obtidos para essas mesmas espcies nas florestas de terra firme do norte de Mato Grosso. Preo da madeira em tora. O valor da madeira em tora inclui os custos da madeira em p, explorao (corte, arraste e embarque) e transporte. No Amap, o preo da madeira em tora na serraria variou para cada categoria de espcie: R$ 15 para espcies de baixo valor; R$ 29 para espcies de mdio valor; e R$ 44 para espcies de alto valor. Esses preos so inferiores (em torno de 30%) aos valores praticados no norte de Mato Grosso e oeste do Par (Verssimo & Lima, indito). Preo da madeira serrada. Com relao ao preo da madeira serrada, essas espcies podem ser classificadas em trs categorias de valor: baixo, sendo o preo mdio R$ 110/m (faveira); moderado, cujo preo mdio R$

150/m (maaranduba, jatob); e alto para as madeiras com preo mdio de R$ 210/m (angelim vermelho, ip, roxinho) (Tabela 4). Rentabilidade do processamento. Uma serraria tpica de terra firme produz, em mdia, 1.600 m de madeira serrada a partir de 4.500 m de madeira em tora. A renda bruta foi estimada em R$ 272.000, ou R$ 170 por metro cbico de madeira serrada. O custo total de produo foi R$ 225.020, ou R$ 141 por metro cbico de madeira serrada. A anlise financeira para as serrarias tpicas de terra firme pode ser melhor observada na Tabela 5. A margem de lucro para atividade sem beneficiamento foi 16%, um valor similar ao reportado por Verssimo & Lima (1999) em outras reas produtoras na Amaznia.

Tabela 4. Preos mdios das principais espcies florestais utilizadas pelas indstrias na regio de terra firme no Estado do Amap, 1998.

importante observar que esse lucro mdio de 16% deve variar entre as empresas e ao longo do tempo. As principais causas para essas variaes so o custo de capital, custo de transporte (condies da estrada e distncia), madeira em p (espcie, distncia e controle da terra) e valor da madeira final (influenciado pela flutuao de preos). Alm disso, as aes de fiscalizao com relao ao manejo florestal podem significar custos adicionais e, portanto, influenciar diretamente na lucratividade.

Comercializao da Madeira no Amap Uma viso esquemtica das atividades de explorao, transporte, processamento e comercializao nas florestas de vrzea e terra firme no Amap est representada na Figura 10. Na terra firme, a explorao ocorre em distncias inferiores a 130 km. As madeiras so processadas nas serrarias localizadas ao longo das rodovias AP 156 e 210 e comercializadas no prprio Estado. Nas florestas de vrzea, as toras so retiradas de matas prximas s serrarias e transportadas via fluvial para as microsserrarias ao longo dos rios. Aps o processamento, as madeiras serradas so transportadas via fluvial e comercializadas nas estncias de Macap, principalmente nos bairros de Pedrinhas e Beirado. O mercado para as madeiras de vrzea a construo civil de baixa renda. Observamos ainda que 54% da madeira comercializada nas estncias oriunda do Estado do Par, principalmente do municpio de Afu.

Tabela 5. Estimativa dos custos e rendimentos de uma serraria da terra firme no Estado do Amap, 1998.

Figura 10. Tipos de extrao, formas de transporte de toras e madeira serrada e processamento de madeira no Estado do Amap (adaptado de Barros e Uhl, 1997).

Importncia do Setor Madeireiro no Amap

No Amap, as madeireiras apresentam as seguintes caractersticas: elevado consumo de matria-prima (rendimento no processamento entre 28% e 35%); utilizao de poucas espcies no processamento (20 a 30 espcies); impactos ecolgicos moderados no nvel do ecossistema, mas potencialmente severos na escala de espcies (especialmente para aquelas extradas intensivamente); baixa qualidade da madeira serrada (especialmente pelas microsserrarias de vrzea); empregos pouco qualificados no processamento e temporrios na explorao; margem de lucro similar observada em outros plos de produo de madeira na Amaznia; e comercializao restrita (a maior parte da madeira consumida no prprio Estado). As 66 madeireiras operando nas florestas de vrzea e terra firme utilizaram aproximadamente 140.000 m de madeira em tora em 1998. Essas empresas produziram aproximadamente 47.300 m de madeira processada, sendo 35.000 m de madeira serrada e 12.300 m de madeira beneficiada. Em 1998, a rea de floresta afetada pela explorao foi estimada em apenas 7.000 hectares. Isso considerando um volume mdio extrado por hectare igual a 20 m de madeira em tora. De acordo com o levantamento de campo, o setor madeireiro do Amap emprega diretamente em torno de 580 pessoas na explorao e processamento de madeira. Entretanto, alm de a maioria dos trabalhos ofertados ser temporria (quatro a seis meses), h falta de segurana e baixa qualidade do emprego. A renda bruta gerada pelo setor madeireiro do Estado foi estimada em R$ 7,6 milhes. Esse valor equivale a 0,3% da renda total da produo madeireira na Amaznia Legal. A margem de lucro das microsserrarias de vrzea similar obtida pelas madeireiras de terra firme: em torno de 20%. Essa margem de lucro semelhante obtida por outras empresas madeireiras no Par e Mato Grosso. Entretanto, dado o padro predatrio dominante nas outras regies, o Amap tem o potencial de produzir madeira de forma manejada, agregar renda na cadeia produtiva e distribu-la de forma justa para as diversas camadas sociais.

Propostas para o Desenvolvimento do Setor Florestal no Amap O Estado do Amap uma das unidades da federao com maior chance de utilizar seus recursos naturais de forma ordenada. Primeiro, o Estado conserva 99% de sua cobertura florestal original. Segundo, a presso demogrfica sobre os recursos naturais reduzida. Terceiro, o Estado tem uma posio geogrfica estratgica na foz do Amazonas com amplas possibilidades de atingir mercados ambientalmente sensveis, como o caso da Unio Europia. E, finalmente, o Amap possui a estabilidade poltica necessria e o interesse explcito do Governo do Estado no desenvolvimento sustentvel do setor florestal. O Amap possui uma situao vantajosa para o estabelecimento de um programa efetivo de desenvolvimento sustentado para o setor florestal. Todavia, se no forem adotadas medidas para o planejamento do uso dos recursos naturais, a mesma situao das vrias regies da Amaznia (onde as florestas esto sendo substitudas por agropecuria) pode se repetir. A seguir, enumeramos uma srie de sugestes que poderiam ser implementadas pelo Governo do Amap para promover o desenvolvimento do setor madeireiro do Estado.

Zoneamento Florestal no Estado O primeiro passo para promover o desenvolvimento da indstria madeireira no Amap fornecer informaes ao governo e sociedade sobre a situao atual e as perspectivas dos recursos madeireiros no Estado. O prximo passo, aps o diagnstico madeireiro apresentado neste trabalho, incorporar informaes geogrficas sobre a quantidade e localizao dos estoques de madeira, biodiversidade, reas protegidas (parques, florestas nacionais, terras indgenas etc.), relevo e outros elementos fsicos em um Sistema de Informaes Geogrficas (SIG). Essa sobreposio de dados espaciais fornece aos planejadores uma base para a discusso sobre o zoneamento da atividade madeireira.

Em essncia, o zoneamento florestal deve delimitar as reas a serem protegidas da explorao madeireira (devido ao alto valor biolgico), destinguindo-as das reas com ntida vocao para produo florestal. Os critrios para o zoneamento devem incluir informaes sobre vegetao, reas prioritrias para conservao, topografia, situao fundiria, acesso (rodovias e hidrovias) e reas economicamente acessveis exploraomadeireira. Usando essa base de informaes possvel selecionar reas prioritrias para explorao madeireira. Alm disso, seria possvel identificar as regies onde no h recurso madeireiro (i.e., savanas, campos naturais e reas desmatadas) e onde esto localizadas as terras protegidas (Terras Indgenas, Reservas Militares, Unidades de Conservao) e as zonas com altssima prioridade para conservao da biodiversidade. Mas para o Estado do Amap chegar a um tipo de zoneamento como o sugerido, seria necessrio envolver os atores chaves, incluindo os madeireiros (desde grandes empresas at comunidades interessadas na explorao de madeira), agncias reguladoras (Ibama e Sema), agncias de pesquisa e planejamento (Iepa, Seplan) e representantes de Organizaes No Governamentais (ONGs). Um facilitador profissional poderia dirigir as discusses para assegurar uma maior confiana entre os participantes. A primeira parte dessa iniciativa seria restringir o problema. Cada setor deveria definir reas de interesse, deixando de lado o que para eles est alm do problema. Assim que a questo estivesse definida, os prximos passos seriam (i) identificar solues; (ii) encontrar um denominador comum; e (iii) atingir o consenso. Essa abordagem j foi testada em vrios lugares do mundo com considervel sucesso (Verssimo et al., 1998). O zoneamento madeireiro deve estar articulado com os esforos do macrozoneamento do Amap, liderado pelo Iepa. Essa atividade pode ser desenvolvida integralmente em 1999. Os recursos financeiros adicionais para a sua realizao poderiam ser obtidos a partir de fontes como o Subprograma de Polticas de Recursos Naturais (SPRN), Programa de Gesto Integrada.

Certificao Florestal A certificao florestal um instrumento de mercado para valorizar os produtos oriundos de reas manejadas (Viana, 1996a). A certificao envolve a anlise das prticas de uso da floresta de acordo com critrios reconhecidos internacionalmente. Essa anlise realizada por instituies independentes. A princpio, a certificao um instrumento para influenciar empresas a adotar determinadas prticas de produo, atravs da promoo do melhor preo para produtos ou linhas de produo que provem ser socialmente justas, ecologicamente saudveis e economicamente viveis. Para isso necessrio obter vantagens comparativas na comercializao desses produtos (maior preo, mercado preferencial etc.). Os produtores que praticam o bom manejo florestal tm custos adicionais e seus produtos precisam ser valorizados pelo mercado. Para Viana et al. (1996b), essa valorizao deve ser suficiente para (i) pagar os custos adicionais do manejo em relao aos sistemas predatrios de explorao florestal; (ii) pagar os custos diretos da certificao, incluindo as auditorias peridicas; e (iii) oferecer uma remunerao adicional ao produtor. A certificao pode criar oportunidades econmicas significativas, especialmente na rea de servios, gerando empregos e oportunidades para profissionais de diferentes reas. Apesar de ter um potencial promissor, a certificao no pode ser vista como uma panacia para todos os problemas de sustentabilidade dos sistemas de produo florestal (Viana, 1996a). Embora a certificao seja dirigida por instituies no-governamentais e privadas, o Governo do Estado pode ser pr-ativo no estabelecimento de incentivos instalao de novas empresas no Estado. Nesse caso, o governo poderia estimular o estabelecimento de empresas certificadas oferecendo incentivos e infra-estrutura bsica para o parque industrial. Recursos financeiros para apoiar empresas madeireiras interessadas em manejo esto disponveis no Programa Terra Capital do Banco Axial, Sudam, Basa (FNO) e BNDES. Entretanto, recomendamos que o governo realize, em 1999, uma anlise econmica mais detalhada sobre as melhores alternativas para promover a fixao de indstrias madeireiras certificadas no Estado.

Reservas de Produo As Reservas de Produo so Unidades de Conservao onde permitido o uso direto dos recursos naturais (madeira, produtos no-madeireiros, pesca etc.) desde que sob regime de manejo sustentado. Existem vrias categorias de Reservas de Produo, incluindo as Florestas Nacionais (Flonas), Florestas Estaduais, Reservas Extrativistas (Resexs) e as reas de Proteo Ambiental (Apas).

Reservas Extrativistas As reas mais indicadas para a criao de Resexs no Amap so as vrzeas do Estado. Essas reas apresentam as caractersticas exigidas por lei, ou seja, populao extrativista, potencial para a produo manejada e interesse ecolgico e social sobre a rea. Alm disso, oferecem potencial para soluo dos problemas de controle, posse e superexplorao dos recursos naturais. As vrzeas oferecem ainda a vantagem de serem biologicamente mais produtivas do que a terra firme. Segundo Arima et al. (1998), os ingredientes necessrios para o sucesso econmico da criao de uma Resex so: (i) diversificao da produo; (ii) qualidade dos produtos; (iii) boa organizao coletiva; e (iv) uso do recurso de forma sustentvel. Diversificao da produo. O sucesso econmico das Resexs depender da habilidade de seus moradores em adotar medidas contra possveis quedas nos preos dos produtos. A diversificao uma estratgia comum no mercado financeiro para contornar incertezas em relao aos preos futuros e diminuir o impacto de investimentos mal sucedidos. As Resexs precisam adotar este procedimento, pois os preos dos principais produtos florestais comercializados atualmente tm se mostrado bastante volteis (Arima et al., 1998). Qualidade do produto. Os produtos florestais oriundos das vrzeas, geralmente, no so de boa qualidade. Um melhor acabamento no produto final pode incentivar grandes vendas, do contrrio, o mercado ficar restrito a pequenos compradores. Em geral, a qualidade do produto o principal fator responsvel pelo lucro. Avaliando especificamente as serrarias da vrzea, seria necessrio melhorar de maneira significativa o processamento (aquisio de maquinrio moderno e treinamento de mo-de-obra) para ampliar o mercado de madeira serrada (Arima et al., 1998). Boa organizao coletiva. A Resex de Cajari um exemplo de organizao comunitria e de pessoas interessadas no funcionamento de uma reserva. imprescindvel que a Resex tenha uma associao ou cooperativa formada por moradores. A associao de moradores responsvel por elaborar o plano de utilizao da reserva, estabelecer regras, fiscalizar e monitorar a adoo do plano de manejo e at mesmo aplicar penalidades queles que no cumprirem os acordos (Arima et al., 1998). Uso dos recursos de forma sustentvel. A conservao do estoque e a diversidade de recursos naturais so essenciais para a estabilidade da renda e do consumo, uma vez que possibilitam o uso de diferentes fontes de renda em anos de baixos rendimentos. Alm de ser uma estratgia econmica, o uso sustentvel dos recursos naturais uma exigncia legal para a formao das Resexs (Arima et al., 1998). Como estabelecer Resexs. O primeiro passo para estabelecer uma Resex identificar comunidades organizadas que se disponham a trabalhar em associaes ou cooperativas, em locais onde a propriedade privada no caracterizada, facilitando, desta maneira, a regularizao fundiria. Antes da formao da reserva, necessrio trabalhar no fortalecimento dessa associao e na capacitao dos moradores para o seu bom gerenciamento. O ideal que a implementao de Resexs nas vrzeas do Estado do Amap seja feita inicialmente atravs de

projetos pilotos. Nesses projetos os erros so cometidos em pequena escala e a correo mais fcil de ser feita, o que caracteriza uma vantagem. O Programa Piloto para Proteo das Florestas Tropicais (PPG-7) poderia ser uma fonte de recurso para testar projetos agroextrativistas nas reas de vrzea. O Banco da Amaznia (Basa) tambm possui crdito para execuo de atividades agroextrativistas.

Florestas Estaduais de Produo O Governo do Amap poderia ter um papel ativo na administrao do manejo florestal em reas designadas para atividade madeireira atravs da criao de Florestas Estaduais de Produo. Para aumentar as chances de sucesso dessas concesses de longo prazo deve-se incluir treinamento em manejo, fiscalizao e marketing (contatos com compradores, fornecimento de informaes sobre preos de mercado etc.). A criao de Florestas Estaduais de Produo no Amap deve ser baseada em um planejamento estratgico para diminuir ou mesmo evitar os conflitos de terra, pois, por princpio, as Florestas Estaduais de Produo devem ser criadas em locais de baixa densidade demogrfica. Um dos grandes problemas na criao de Florestas de Produo na Amaznia foi no observar esse ponto. Atualmente um dos exemplos mais claros o da Floresta Nacional do Tapajs, a qual foi criada em local onde j existiam populaes tradicionais de ribeirinhos. Esse fato tem proporcionado uma srie de conflitos entre os agentes do governo (Ibama), moradores da rea da Flona e ONGs como Greenpeace, Amigos da Terra e Sade e Alegria.

Etapas para a criao de Florestas Estaduais de Produo Como criar Florestas Estaduais? 1) avaliar o planejamento existente (zoneamento florestal). 2) identificar reas estrtegicas. 3) delimitar as reas. Como implementar Florestas Estaduais? 1) projeto piloto e demonstrativo nas florestas de vrzea e terra firme do Estado. 2) criar regras de concesso. 3) abrir licitao. 4) monitorar.

Manejo de Florestas Nativas O manejo florestal uma opo vivel para a produo de madeira a nvel empresarial e comunitrio. No entanto, a falta de prticas de manejo florestal bem documentadas e com alto potencial demonstrativo tem sido uma das causas para a inrcia do governo e da sociedade com relao a essa alternativa. Todavia, h resultados animadores oriundos de projetos de manejo florestal em andamento na Amaznia. Esses projetos esto sendo

executados por vrios agentes econmicos, desde empresas privadas, governos estaduais, pequenos produtores rurais at comunidades tradicionais. Essas iniciativas oferecem oportunidades de treinamento para mo-de-obra, educao florestal e gerao de tecnologias de baixo custo e, portanto, podem ter um efeito catalisador para mudanas das prticas de explorao madeireira na regio. O Governo do Amap poderia incentivar projetos pilotos de manejo comunitrio e industrial. Alm disso, o Estado deveria estimular o manejo florestal tanto em reas pblicas (Florestas Estaduais de Produo) como nas reas comunitrias (Resexs). Assim, o Estado estaria preenchendo a lacuna de carncia de prticas de manejo florestal bem documentadas e com alto potencial demonstrativo. Esse tipo de projeto poderia ser patrocinado pelo Governo do Estado atravs do processo de licitao s empresas e organizaes sociais com interesse em manejo florestal para a produo de madeira. A vantagem desse tipo de iniciativa a possibilidade de treinamento para os operadores florestais e fiscais. Na Amaznia, os Estados de Rondnia e Mato Grosso j iniciaram projetos dessa natureza. Recursos financeiros adicionais poderiam ser obtidos junto Unio Europia, Usaid (Agncia Norte-Americana de Desenvolvimento Internacional), Governo Alemo e Promanejo/PPG7 (Projeto de Apoio ao Manejo Florestal). Essas atividades poderiam ser iniciadas, ainda que parcialmente, em 1999. Recomenda-se o envolvimento da Embrapa (Amap) na definio desse componente por causa da larga experincia tcnica dessa instituio.

Escola Florestal do Amap A produo florestal (madeireira e no-madeireira) na Amaznia comea a sentir os efeitos da globalizao da economia e, ao mesmo tempo, da internalizao do conceito de desenvolvimento sustentvel. Os sistemas tradicionais de produo florestal predatria devem enfrentar problemas crescentes no acesso aos mercados nacional e internacional. O mesmo pode ser dito com relao ao acesso a financiamentos e incentivos governamentais. O setor florestal encontra-se numa fase de reviso de paradigmas. Atualmente, a maior parte da produo de madeira do Brasil vem da Amaznia; essa regio est prxima de se tornar o maior exportador de madeira tropical do mundo. provvel que o Brasil ultrapasse a Malsia (atualmente o maior exportador) antes de 2.005. O aumento da participao do Brasil no mercado externo e a posio de maior consumidor mundial de madeira tropical tm sido baseados numa explorao predatria e muitas vezes ilegal dos recursos florestais. Por outro lado, uma srie de iniciativas tm sido tomadas para incentivar e viabilizar o manejo florestal sustentvel. Essas iniciativas incluem os projetos de manejo do Imazon, Fundao Floresta Tropical (FFT), Mil Madeireira, Programa Piloto/PPG-7, Embrapa (Amaznia Oriental), Instituto de Pesquisa da Amaznia (Inpa), Organizao dos Seringueiros de Rondnia (OSR), Centro dos Trabalhadores da Amaznia (CTA-Acre), entre outros. Estudos da Sudam realizados no setor madeireiro identificaram a falta de tcnicos florestais capacitados, sobretudo de nvel mdio, como um dos grandes fatores limitantes para a implantao de boas prticas de manejo florestal na Amaznia. No Brasil, embora mais de 50% do territrio nacional seja coberto por florestas, existem apenas trs escolas com cursos tcnicos voltados rea florestal: Escola florestal de Irati (PR), Escola de Ji-Paran (RO) e Escola Agrotcnica Federal de Manaus. A criao de uma escola tcnica para formao de tcnicos florestais de nvel mdio no Estado do Amap importante. Esse curso teria a finalidade de preparar profissionais para atuarem nas empresas madeireiras, empresas florestais no-madeireiras, movelarias e carpintarias, rgos governamentais (assistncia tcnica, pesquisa e fiscalizao), empresas privadas de produo, ONGs e movimentos sociais. Escola florestal aberta comunidade. A Escola Florestal Estadual poderia funcionar como um veculo de treinamento, no somente para os alunos como tambm para os atores envolvidos diretamente com a extrao, ou seja, madeireiros, comunitrios, trabalhadores etc.

O investimento em educao imprescindvel para o desenvolvimento do setor florestal. Sugere-se a criao de escolas formadoras de profissionais de nvel tcnico florestal. Esses profissionais teriam a capacidade de analisar as realidades regionais, suas potencialidades e perspectivas para desenvolver atividades de manejo florestal, tanto a nvel industrial como comunitrio. Profissionais no Amap, com experincia em tcnicas de manejo florestal podem ser treinados num horizonte de curto prazo. O Estado necessita principalmente de tcnicos capacitados para trabalhar com comunidades, nas atividades de gerenciamento, comercializao e tecnologia emmanejo florestal de produtos madeireiros e nomadeireiros. As iniciativas de manejo tanto a nvel industrial quanto comunitrio no Amap ainda so incipientes. Desta forma, se for criada a oferta de tcnicos florestais capacitados, o Estado teria melhores possibilidades de usar seus recursos de forma racional. Alm disso, essencial a formao de tcnicos florestais e trabalhadores ligados rea de tecnologia da madeira. Portanto, seria importante a criao, num horizonte de curto prazo, do curso de tcnico florestal voltado para a tecnologia da madeira. Os objetivos seriam a melhoria da qualidade do produto serrado das serrarias e microsserrarias e a formao de profissionais com experincia em fabricao de mveis e esquadrias. O Ministrio da Educao (MEC) e a Sudam poderiam apoiar financeiramente o ensino tcnico florestal. O MEC recentemente mudou o ensino tcnico em todo o Pas. A partir do ano 2000 ser possvel a criao de cursos tcnicos para o 3 grau. O Amap poderia criar uma escola alternativa para formao de tcnicos florestais, principalmente nas reas de gerenciamento, operaes tcnicas de manejo florestal, tecnologia da madeira e carpintaria. Nesse caso, seria exigido a concluso do 2 grau, como recomenda o MEC.

Movelaria O Estado do Amap deveria apoiar as iniciativas de fabricao de mveis finos. Uma maneira seria estabelecer contato com alguns pases e regies do Brasil que possuem tecnologia de ponta na fabricao de mveis (por exemplo, Frana, Itlia, Argentina e o Sul do Brasil). Assim poderia haver um intercmbio de tcnicos que viriam ao Amap para treinar trabalhadores, como tambm tcnicos do Amap visitando essas regies para conhecer tecnologias inovadoras. Este estudo no aborda a indstria moveleira. No entanto, essa indstria tem um grande potencial de tornar-se uma importante fonte de recursos para a regio, principalmente por agregar valor produo. necessrio que um estudo mais detalhado seja realizado para avaliar esta tendncia, comeando com um diagnstico desta atividade.

Monitoramento e Controle da Atividade Florestal Para que o manejo florestal seja adotado no Estado do Amap e no restante da Amaznia, duas linhas de ao devem ser consideradas prioritrias e trabalhadas conjuntamente. De um lado, preciso apoiar a adoo do manejo atravs da extenso, crdito e estabilidade fundiria e do outro, preciso monitorar o uso da floresta para que o manejo seja aplicado adequadamente. Essas tarefas so complexas e devem ser compartilhadas pela sociedade e pelo governo. No entanto, regionalmente, nenhum desses setores apresenta-se bem preparado para desempenhar tais tarefas. Como tornar o monitoramento da atividade florestal efetivo? O monitoramento efetivo requer quatro atitudes: (i) identificar objetivamente as irregularidades e riscos das prticas de explorao; (ii) no estar suscetvel negligncia e corrupo; (iii) estimular mudanas nas prticas irregu-lares; e (iv) monitorar a atividade em toda distribuio geogrfica e escalas de produo. A seguir, enumeramos maneiras de abordar essas atitudes. Protocolo de manejo florestal. O manejo florestal envolve um protocolo de medidas para evitar impactos

negativos ao ambiente, bem como estimular a regenerao e crescimento da floresta. Essas medidas podem ser apreciadas em duas escalas: da paisagem e da unidade de explorao. O monitoramento tambm poderia considerar essas escalas. Manejo e monitoramento da paisagem. preciso considerar como o uso da floresta pode afetar a paisagem, bem como criar medidas que evitem ou diminuam esses efeitos. Quais so os impactos provveis da explorao madeireira sobre a paisagem? Sabe-se que a explorao madeireira sem planejamento fragmenta a floresta tornando-a suscetvel ao fogo. O aumento da explorao em reas contnuas e ladeadas pela agropecuria deixa imensas reas sujeitas a incndios. Por isso, os planos de manejo deveriam incluir medidas de preveno de incndios florestais. Esses mecanismos poderiam ser: (i) faixas de floresta intacta ao redor das reas que seriam exploradas; e (ii) explorao alternada dos talhes. Considerando que os riscos de incndios diminuem medida que a floresta se regenera aps a explorao (Amaral et al., 1998). O uso da floresta pode ter impacto negativo na rede hidrogrfica. Por isso, a legislao prev a proteo das margens dos rios e nascentes. Nesse caso, o protocolo de monitoramento deveria incluir mecanismos como visitas a essas margens, bem como a sua localizao georeferenciada (GPS) para futuras inspees. Manejo e monitoramento da unidade de manejo florestal. O talho a rea de floresta explorada a cada ano. No talho ocorrem a derrubada das rvores, o arraste das toras at o ptio de estocagem e a abertura de estradas para o transporte das toras. Essas atividades danificam diretamente a cobertura vegetal. Dessa maneira, as principais medidas de reduo de danos (planejamento da explorao) devem ser tomadas no talho. A extrao correta depende do bom planejamento (tcnicas e equipamentos adequados) e da percia dos encarregados de sua execuo, ou seja, os trabalhadores de extrao. A Instruo Normativa 80 incorpora a maioria dos temas de um bom planejamento. Contudo, entendemos que a regulamentao pode ser mais especfica e a vistoria mais objetiva. A segurana do sistema de monitoramento. Duas estratgias podem ser usadas para garantir que o sistema de monitoramento seja seguro. Primeiro preciso tornar o sistema transparente, permitindo que instituies e indivduos interessados participem do monitoramento. Por exemplo, o cronograma de vistorias seria obrigatoriamente divulgado a um certo nmero de cidados credenciados para participar de cada vistoria. A segunda estratgia para tornar o monitoramento confivel realizar auditoria externa. Alm de manter a confiabilidade do sistema, a auditoria teria como meta refinar os critrios do protocolo (com o tempo, alguns itens podem ser abandonados, enquanto outros podem ser introduzidos). A estratgia de monitoramento para todo o Estado. Com a posse de um bom modelo bsico de monitoramento, do conhecimento do universo a ser monitorado (por exemplo, nmero de serrarias e nmero de reas de explorao) e do custo para monitorar cada unidade, seria possvel estimar a capacidade atual do Estado do Amap para monitorar a atividade madeireira em toda a sua extenso. Acreditamos que, dada a pequena quantidade de serrarias no Estado, a disponibilidade de recursos para realizao do monitoramento no seria fator crtico. Contudo, se o Amap no dispor de recursos para investimento em um sistema mnimo de monitoramento, podese pensar em um sistema alternativo. O Estado poderia privatizar parte do monitoramento. Por exemplo, poderse-ia credenciar e contratar, atravs de concorrncia pblica, profissionais/empresas autnomas para o monitoramento. Para isso, o Estado elaboraria termos de referncia com os protocolos e o padro mnimo de qualidade/segurana exigido. Dessa forma, o Estado poderia dedicar especial ateno auditoria do sistema. Essa estratgia talvez seja a mais vivel, uma vez que existem outras demandas importantes na rea ambiental como controle da agropecuria e minerao. Ou seja, dificilmente o Estado ser capaz de criar, de uma s vez, um mega sistema de monitoramento ambiental.

Concluso O Estado do Amap possui riquezas naturais e uma complexidade e diversidade socioeconmica e ambiental propcias para o desenvolvimento sustentvel. Desta forma, o Estado tem a responsabilidade de liderar o processo de organizao das atividades produtoras rumo sustentabilidade. Atualmente, o Estado do Amap produz menos de 1% da madeira em tora extrada e processada na Amaznia. Entretanto, por causa da sua localizao estratgica em relao aos mercados internacionais, a explorao de madeira no Estado poder crescer expressivamente nas prximas dcadas. Sem o controle e planejamento por parte do governo estadual, o setor madeireiro pode crescer de forma desordenada, resultando em impactos negativos sobre o meio ambiente e a populao. Alm disso, os benefcios econmicos podem ficar concentrados em poucas empresas. O Governo do Amap pode se antecipar aos problemas tpicos do setor madeireiro em outros Estados da Amaznia. A adoo do manejo, a definio do zoneamento florestal, o treinamento da mo-de-obra local, o fortalecimento dos rgos de monitoramento e controle, a ampliao das reservas de produo (em especial, das Florestas Estaduais de Produo) e uma poltica de vendas para o mercado externo apoiada na produo madeireira sustentada podero tornar o Amap um referencial para o uso dos recursos florestais no Pas.

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