Este documento é uma resenha do livro "Lições de Sociologia" de Durkheim. O texto descreve como o livro foi publicado após a descoberta de manuscritos inéditos de Durkheim por Hüseyn Nail Kubali. O livro fornece novas perspectivas sobre a concepção de Estado de Durkheim, incluindo seu papel em garantir direitos individuais e regular a vida social através de grupos secundários.
Este documento é uma resenha do livro "Lições de Sociologia" de Durkheim. O texto descreve como o livro foi publicado após a descoberta de manuscritos inéditos de Durkheim por Hüseyn Nail Kubali. O livro fornece novas perspectivas sobre a concepção de Estado de Durkheim, incluindo seu papel em garantir direitos individuais e regular a vida social através de grupos secundários.
Este documento é uma resenha do livro "Lições de Sociologia" de Durkheim. O texto descreve como o livro foi publicado após a descoberta de manuscritos inéditos de Durkheim por Hüseyn Nail Kubali. O livro fornece novas perspectivas sobre a concepção de Estado de Durkheim, incluindo seu papel em garantir direitos individuais e regular a vida social através de grupos secundários.
Este documento é uma resenha do livro "Lições de Sociologia" de Durkheim. O texto descreve como o livro foi publicado após a descoberta de manuscritos inéditos de Durkheim por Hüseyn Nail Kubali. O livro fornece novas perspectivas sobre a concepção de Estado de Durkheim, incluindo seu papel em garantir direitos individuais e regular a vida social através de grupos secundários.
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v. 9 n.
1 janeiro-julho/2012 ISSN: 1806-5023
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http://dx.doi.org/10.5007/1806-5023.2012v9n1p96
RESENHA DO LIVRO: DURKHEIM, E. Lies de Sociologia. So Paulo; Martins Fontes: 2002.
A CONCEPO DE ESTADO NO PENSAMENTO DE DURKHEIM: LIES DE SOCIOLOGIA. Ana Paula Saccol 1
A obra Lies de Sociologia foi publicada pela Faculdade de Direito da Universidade de Istambul, reunindo aulas inditas de Durkheim. O escrito desses cursos chegou publicao atravs de Hseyn Nail Kubali, que em 1934, devido a sua tese de doutoramento pesquisou A idia de Estado nos precursores da Escola Sociolgica Francesa, propondo-se a pesquisar a problemtica do Estado para o pensamento de Durkheim. Nas palavras de Kubali (DURKHEIM, 2002. p. 15 ): como esse socilogo no fizera do problema objeto de um estudo especial, em suas obras j publicadas, a evocar certas questes referentes a ele, fui levado a pensar que seria possvel encontrar explicaes adequadas e detalhadas em seus inditos, se que existiam". Kubali procurou Marcel Mauss (sobrinho de Durkheim) para verificar se no existia outro tipo de documento que pudesse clarear o pensamento de Durkheim acerca de sua sociologia poltica. Mauss disponibilizou ento os manuscritos inditos de aulas ministradas por seu tio. E com a permisso da filha de Durkheim - Jacques Halpen - Kubali publicou o conjunto desses manuscritos intitulado "Lies de Sociologia". J Giddens (1998. p. 103) afirma que [...] a teoria de Durkheim sobre a poltica e o Estado indubitavelmente a mais negligenciada das suas contribuies para a teoria social. Para este autor podemos pensar que a razo da pouca ateno que se dada a sociologia poltica de Durkheim est relacionada ao fato de que muitas das exposies a este respeito foram desenvolvidas antes da publicao de Lies de Sociologia, e que mesmo as anlises posteriores a essa obra continuaram a receber tal influncia em suas interpretaes. Para Oliveira (2010) alm desta publicao poderamos encontrar o pensamento poltico de Durkheim em outras obras (O Socialismo; Cincia Social e a Ao; Os princpio de 1789 e a Sociologia; A Concepo Materialista da Histria; Internacionalismo e a Luta de Classes), onde
1 Doutoranda em Sociologia Poltica e Especialista em Sade Pblica pela Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisadora da mesma instituio no Ncleo de Ecologia Humana e Sade/CFH.
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segundo ele h claras passagens sobre a questo poltica, e mesmo uma discusso sobre o papel do Estado. Sabemos que Durkheim se preocupou amplamente com a complexa inter-relao das dimenses de anomia, egosmo e individualismo, expressos no envolvimento da moral, sendo que o Estado seria o responsvel por tais controles morais, mas nos parece que poucas pesquisas e estudiosos debruaram-se sobre este aspecto da obra do Pai da Sociologia. Portanto, nos parece pertinente a releitura da obra Lies de Sociologia e sua atualidade no que diz respeito a uma reinterpretao e melhor compreenso do pensamento poltico de Durkheim.. Na Primeira Lio Durkheim inicia suas reflexes sobre as questes da moral profissional. Para ele os fatos morais e jurdicos consistem em regras de conduta sancionadas e, que, portanto, essa a caracterstica de todos os fatos desse tipo. A sano est ligada a natureza do ato mantendo relao com a regra que permite ou probe tal ato. As regras podem ser de dois tipos: as regras relativas ao homem em geral e as regras da moral individual. As regras gerais seriam aquelas que prescrevem a maneira pela qual se deve respeitar ou desenvolver a humanidade, valendo igualmente para todos os homens. J as regras de moral individual teriam como funo fixar na conscincia dos indivduos as bases fundamentais e gerais de toda moral, a tica. Esta moral estaria ligada no qualidade geral dos homens, mas as qualidades particulares que nem todos os homens apresentam: os deveres cvicos que seriam aqueles que cada homem tem para com o seu Estado, visto que nem todos os homens dependem do mesmo Estado e que nem todos os Estados possuem a mesma natureza. Na Lio Segunda, Durkheim indica com mais clareza as mudanas que ocorrem, os ciclos pelas quais as sociedades seguiram, novas formas que surgiram e a necessidade de maleabilidade e de transformao dos segmentos corporativos profissionais para que no quebrem, mas acompanhem a mudana e que com esta mudana reestruturem-se e continuem com seu papel da disciplina moral. Na Lio Terceira o autor considera que a regulamentao econmica no deve ser vista como uma polcia, uma tirania, pois quando ela normal, ela diferente, pois quando ela o que deve ser, ela se torna um resumo e condio de toda uma vida em comum. Assim, essa moralizao no feita pelo Estado e nem por um douto, mas por grupos sociais interessados. Na Quarta Lio Durkheim comea a desenvolver melhor o que seria a sua teoria de Estado. Inicia diferenciado o que se deve entender por sociedade poltica. Para ele um
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elemento essencial que todo grupo poltico a oposio entre governantes e governados, entre a autoridade e os que lhe so submetidos. Essas sociedades diferenciam-se das primitivas devido proteo que prestada aos seus membros. O indivduo pelo simples fato de nascer tem certos direitos que o Estado deve garantir. O Estado um organizador da vida social, sendo independente dela. A sociedade poltica ser formada pela reunio de um nmero mais ou menos considervel de grupos sociais secundrios, submetidos a uma mesma autoridade, que por sua vez no depende de nenhuma autoridade superior regularmente constituda. O governo e o Estado necessitam estar conectados ao resto da sociedade sendo que a mediao feita pelos grupos secundrios. As representaes do Estado distinguem-se das demais representaes coletivas devido ao seu maior grau de conscincia e reflexo. Na Quinta Lio, ao teorizar sobre a relao entre e Estado e os Indivduos, o autor descreve as diferenas histricas que foram emergindo nessa relao. Os indivduos cada vez mais adquirem direitos para desenvolverem livremente sua natureza, sendo assim, o indivduo produto do Estado, j que este teria como principal atividade a libertao do indivduo, portanto, quanto mais forte o Estado, mais fortes seriam os direitos individuais. O papel do Estado no seria somente o de garantir os direitos individuais, mas tambm de organiz-los e torn-los realidade. Todo grupo que dispe de seus membros sob coao tem como esforo mximo o de os moldar sua imagem, impondo-lhes suas maneira de pensar e agir. Toda sociedade desptica, ao menos que algo exterior a ela venha conter seu despotismo (DURKHEIM, 2002, p. 85). Para evitar esse excesso de despotismo existiriam os grupos secundrios que seriam os responsveis por intermediar a comunicao entre Estado e Indivduos, sendo que eles no deveriam ser nicos, e do conflito dessas foras sociais nasceriam as liberdades individuais. Na Sexta Lio, descreve que o Estado no estaria cumprindo seu papel se os indivduos ficassem sozinhos, abandonados s foras coletivas particulares. O indivduo passou a ter maior valor para a sociedade e a individualidade moral passa a ser produto do Estado e o Estado traz existncia moral para o indivduo. Mas ao mesmo tempo a moral um produto da sociedade, ela penetra o indivduo a partir do exterior, portanto compreende-se que a moral o que a sociedade e que a primeira s forte se a segunda for organizada. Os deveres cvicos seriam apenas uma forma mais particular dos deveres gerais da humanidade, quanto mais as sociedades concentrarem suas foras para o seu interior mais elas conseguiro se desviar dos conflitos cosmopolitas e patriticos.
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Nas lies Stima, Oitava e Nona aparece a noo de Democracia, que para Durkheim no se vincula apenas ao nmero de governantes e a participao de todos na poltica, pois isso seria um conceito errneo de democracia. O que define e diferencia sociedades democrticas de no democrticas a maneira pela qual o rgo governamental comunica-se com a nao. Democracia no a forma poltica de uma sociedade que governa a si mesma, isso seria uma sociedade poltica sem Estado. A verdadeira democracia aquela em que os cidados devem ser mantidos a par do que o Estado faz e o Estado informado do que ocorre na sociedade, ou seja, a maneira como Estado e Sociedade comunicam-se. A sociedade toma conscincia de si mesma. O Estado torna-se forte quando h uma extenso da conscincia governamental, comunicao estreita com a sociedade e maior deliberao e reflexo. Aqui os grupos secundrios teriam um papel importantssimo, eles seriam o elo de comunicao entre o Estado e a Sociedade. A partir da Dcima Lio Durkheim examina uma nova forma de moralidade, uma moral mais elevada, que faz parte da esfera mais geral da tica, uma vez que independente de qualquer condio local ou tnica. Devo respeitar a vida, a propriedade, a honra de meus semelhantes e mesmo que no sejam meus parentes e meus compatriotas (DURKHEIM, 2002, p. 153). Para o autor, nas sociedades inferiores estes deveres no estavam no topo da moral e sim no seu limiar, possuindo um carter facultativo. Para ele o ato moral um ato de razo e o Estado, como organizador social, deve, atravs da coero, fazer com que isso se torne um hbito na vida de seus indivduos. Nas Lies Dcima Primeira, Segunda, Terceira e Quarta Durkheim examina a segunda regra da moral humana, aquela que protege a propriedade da pessoa humana, utilizando a definio de Stuart Mill (apud DURKHEIM, 2002, p. 170): [...] a propriedade no implica nada alm do direito de cada um sobre os seus talentos pessoais, sobre o que ele pode produzir aplicando-os. Depois passa a problematizar os conceitos de liberdade, trabalho, valor do trabalho e propriedade, demonstrando situaes onde a livre disposio retirada do homem, ou seja, que a liberdade est subordinada a condies. As trocas devem ser equitativas e contrabalanceadas, refletindo sobre o mrito de propriedades por doao, heranas, hipoteca, familiar, religiosa, acesso, prescrio ou por efeito de obrigao explicando cada situao. Nessas lies tambm abarcada a questo do poder do Estado sobre a propriedade individual. Desse modo, s com relao aos particulares e aos grupos privados que se exerce o direito sobre propriedade individual, e ainda assim, h um vnculo moral e jurdico que faz com que a condio da coisa dependa do destino da pessoa. Para concluir, Durkheim entra no
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mrito da organizao do direito de propriedade mediante novas exigncias, originando a justia contratual. Em relao s Lies Dcima Quinta; Sexta; Stima e Oitava apresenta que a religiosidade que regia as coisas passou para as pessoas, as coisas deixaram de ser sagradas e passaram a depender das pessoas (que agora so sagradas). As coisas possudas legitimamente so e devem ser investidas de um carter que as isole de qualquer molestao. Para Durkheim, a noo de contrato vista como uma operao simples (teoria do contrato social) e a partir disso, discute a maneira em que consiste o vnculo contratual, como por exemplo, vnculo moral ou jurdico, contrato entre sujeitos individuais ou coletivos, fato adquirido ou realizado, e por fim, o estado das vontades que geram direitos e obrigaes, sendo que nesses vnculos ocorrem as relaes contratuais. No contrato h uma afirmao de vontade, isto , so duas vontades em confronto, mas que se tornam solidrias e se vinculam mutuamente, o princpio do contrato corresponde ao acordo entre duas partes, em que imediatamente se estabelece um estado, quer das coisas, quer das pessoas, que se torna fonte de obrigaes, desde que ambos os indivduos tomem a deciso sem nenhuma coao direta. Durkheim analisa a histria das sociedades para compreender como se institucionalizou o contrato social. Nessa perspectiva histrica percebe-se que a firmao de contratos modificou-se com o tempo e entre as diferentes culturas. Durkheim tambm mostra que as coisas no so fixas, os fatos sociais transmutam-se. Pois ora o contrato social necessita ser mais rigoroso, ora exige mais flexibilidade (vida econmica). Conforme a sociedade complexifica-se tanto mais so necessrias normas gerais para os contratos, como tambm a prpria equidade contratual. Por fim, Durkheim (2002, p. 300 e 296) deixa a mensagem de que [...] as instituies antigas nunca desaparecem inteiramente; elas apenas passam a segundo plano e se apagam gradualmente, e que somente a partir da no existncia mais da herana poderemos ter um mundo mais igualitrio, sendo que [...] a propriedade dos particulares deve ser a contrapartida dos servios sociais que eles prestaram.
CONSIDERAES FINAIS Diante do exposto, para Durkheim a moral apresentada como um sistema de estados coletivos, em que a sociedade da qual fazemos parte e que objeto da conduta moral, supera os interesses individuais. A sociedade algo que est fora e dentro do homem ao mesmo tempo, sendo esse fenmeno explicitado durante o processo de adoo dos princpios e valores morais. O que as pessoas sentem, pensam ou fazem, independente de suas vontades
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individuais, um comportamento estabelecido pela sociedade. No algo que seja imposto especificadamente a algum, algo que j estava l antes e que continua depois e que no d margem a escolhas. Uma moral sempre obra de um grupo e s poder funcionar se esse grupo proteg-la com sua autoridade. A fora moral que superior ao indivduo a fora coletiva, sendo que o fato moral consiste em regras de conduta sancionada, e que as sanes so conseqncias do ato, punveis porque so proibidas. O indivduo chamado pelo Estado para a existncia moral, sendo necessria uma organizao que lhe faa lembrar e que o obrigue a respeit-lo atravs da disciplina moral. Essa disciplina moral orienta-se para a coletividade nacional e no para o indivduo. S poderemos ter o sentimento do dever se existir em torno de ns, e acima de ns, um poder que sancione. Durkheim defendeu a ideia de moral profissional tendo em vista que o Estado, distante da vida do homem comum, no poderia lhe fornecer bases morais. Assim, para cada atividade social/profissional o grupo especfico correspondente seria o responsvel pela elaborao das normas e morais que regeriam essas atividades especficas, tendo em vista que existem tantas morais quanto profisses diferentes. Alm dessa moral, Durkheim ressaltou a importncia da moral cvica, que diz respeito ao conjunto de regras sancionadas que tratam da relao entre indivduo e o corpo poltico. Ainda, o que distingue uma sociedade rudimentar de uma sociedade moderna a presena de elementos como a diviso do trabalho social, o Estado e comunidades polticas. O Estado nada mais do que o organizador da vida social, sendo que ele deve ser independente da sociedade e suas aes devem possuir um maior grau de conscincia e reflexo. O que vai determinar o tipo de Estado no necessariamente a quantidade de pessoas no poder (governo), mas a maneira como ele se comunica com a sociedade. Quanto maior a comunicao entre Estado e sociedade, atravs dos grupos secundrios, se estar mais prximo de uma democracia. H a existncia de deveres morais gerais que esto alm de qualquer nacionalidade, cultura ou territrio. O ato moral um ato racional do indivduo e o Estado atravs da coero social o responsvel pela fixao desses hbitos nos indivduos. A partir da anlise histrica das sociedades Durkheim analisa a formao do contrato social e suas peculiaridades, afinal para ele o homem produto de sua histria. Tambm podemos, a partir da obra "Lies de Sociologia", perceber a importncia de estudos mais rigorosos a cerca do pensamento poltico de Durkheim, tendo em vista que esta temtica tambm pode ser encontrada dissolvidas em suas diversas obras . Podemos perceber
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que para Durkheim o Estado vai alm de um agente de poder, mas tornou-se um agente moral que desempenha funes que vo alm das questes polticas, cumprindo com seu papel de organizador da vida social, defensor das liberdades individuais, sendo o veculo promotor de justia social.
REFERNCIAS
DURKHEIM, E. Lies de Sociologia. So Paulo; Martins Fontes: 2002.
GIDDENS, A. A Sociologia Poltica de Durkheim. In: GIDDENS, A. Poltica, Sociologia e Teoria Social: encontros com o pensamento social clssico e contemporneo. So Paulo: Editora da UNESP, 1998. P. 103-146.
OLIVEIRA, M. O Estado em Durkheim: elementos para um debate sobre sua sociologia poltica. Revista Sociologia Poltica. V. 18. N. 37. 2010. Disponvel em: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/v18n37/09.pdf. Consultado em maro de 2012.
Recebido para publicao em: 28/09/2012 Aceito em: 15/10/2012