O documento discute a ideologia da natureza em Neil Smith, focando em três pontos:
1) A origem do dualismo essencial da natureza na tradição judaico-cristã e seu aperfeiçoamento por Kant;
2) A influência desse dualismo no pensamento geográfico, resultando na dicotomia entre Geografia Física e Humana;
3) Os modos científico e político de manifestação desse dualismo, representados respectivamente por Francis Bacon e sua visão de domínio da natureza através da ciência
O documento discute a ideologia da natureza em Neil Smith, focando em três pontos:
1) A origem do dualismo essencial da natureza na tradição judaico-cristã e seu aperfeiçoamento por Kant;
2) A influência desse dualismo no pensamento geográfico, resultando na dicotomia entre Geografia Física e Humana;
3) Os modos científico e político de manifestação desse dualismo, representados respectivamente por Francis Bacon e sua visão de domínio da natureza através da ciência
O documento discute a ideologia da natureza em Neil Smith, focando em três pontos:
1) A origem do dualismo essencial da natureza na tradição judaico-cristã e seu aperfeiçoamento por Kant;
2) A influência desse dualismo no pensamento geográfico, resultando na dicotomia entre Geografia Física e Humana;
3) Os modos científico e político de manifestação desse dualismo, representados respectivamente por Francis Bacon e sua visão de domínio da natureza através da ciência
O documento discute a ideologia da natureza em Neil Smith, focando em três pontos:
1) A origem do dualismo essencial da natureza na tradição judaico-cristã e seu aperfeiçoamento por Kant;
2) A influência desse dualismo no pensamento geográfico, resultando na dicotomia entre Geografia Física e Humana;
3) Os modos científico e político de manifestação desse dualismo, representados respectivamente por Francis Bacon e sua visão de domínio da natureza através da ciência
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A ideologia da natureza em Neil Smith: consideraes sobre a origem e a
funo social do dualismo essencial da natureza
Introduo Em sua obra Desenvolvimento desigual: natureza, capital e a produo de espao, de 1984 1 , antes de apresentar seu prprio conceito de natureza, ou seja, a concepo da produo da natureza, Smith empenha-se em desvendar aquio que compreende como ideoo!ia " da natureza# $rata-se de uma an%ise cr&tica que busca os 'undamentos materiais das no(es contempor)neas de natureza# Esses 'undamentos, na opinio do autor, esto reacionados ao advento do capitaismo industria, pois* +Mais do que qualquer outro acontecimento, a emergncia do capitalismo industrial responsvel pelo surgimento das concepes e vises contemporneas sobre a natureza, -S./$0, 1988* "12# 3s trans'orma(es da natureza, oriundas do estabeecimento dessa 'orma particuar de or!anizao e reaizao da produo, consoidaram as premissas para uma conceituao da natureza associada 4 noo de dom&nio 5 isto 6, dom&nio da natureza* 3 dominao da natureza 6 uma reaidade aceita por todos, quer ea seja vista com espanto, como uma medida do pro!resso humano, ou com temor, como um tr%!ico prenuncio de um desastre iminente# Enquanto a!uns antecipam 7que um tota controe da natureza 6 poss&ve em um 'uturo no muito distante7, outros se amentam de que a sociedade humana est% se tornando pouco mais que uma 7macia con'uso na natureza7# 8ara todos ees, todavia, a reaidade da dominao socia sobre a natureza 6 incontest%ve, ainda que a ma!nitude do processo seja objeto de debate e que sua moraidade seja objeto de acirradas po9micas -S./$0, 1988* "12# /ndependentemente dos resutados ima!in%veis daquio que seria um pro!ressivo dom&nio da humanidade sobre a natureza, 6 essa a concepo !eneraizada, desde a e:peri9ncia cotidiana at6 as mais compe:as re'e:(es tericas e 'ios'icas sobre seu 1 3 primeira e ;nica edio brasieira 6 de 1988# <'# bibio!ra'ia# 2 +Eu considero a ideoo!ia como sendo uma =re'e:o invertida, truncada e distorcida da reaidade># 3 ideoo!ia no 6 simpesmente um conjunto de id6ias erradas, mas sim um conjunto de id6ias radicadas na e:peri9ncia pr%tica, embora seja a e:peri9ncia pr%tica de uma dada casse socia que v9 a reaidade atrav6s da sua prpria perspectiva e, ainda assim, de 'orma parcia# Embora seja, dessa 'orma, uma re'e:o parcia da reaidade, a casse tenta universaizar sua prpria percepo do mundo, -S./$0, 1988* 4?2# si!ni'icado# @a verdade, a concepo da natureza produzida pea +emer!9ncia do capitaismo industria, 6, a um s tempo, ori!ina, pois necessita e:picar um novo momento do desenvovimento socia, e o res!ate de si!ni'icados acumuados# 3ssim* 3 natureza 6 materia e espiritua, ea 6 dada e 'eita, pura e imacuadaA a natureza 6 ordem e desordem, subime e secuar, dominada e vitoriosa, ea 6 uma totaidade e uma s6rie de partes, muher e objeto, or!anismo e m%quina# 3 natureza 6 um dom de Beus e 6 um produto de sua prpria evouoA 6 uma histria universa 4 parte, e 6 tamb6m o produto da histria, acidenta e panejada, 6 seva!em e jardim# Em nosso eenco de concep(es da natureza, todos esses si!ni'icados sobrevivem hoje, mas mesmo em sua compe:idade ees so or!anizados em um duaismo essencia que domina a concepo da natureza# -/d, /bid* "82# 3 concepo he!emCnica e !eneraizada da natureza, que in'orma o senso comum e as especua(es 'ios'icas, resutado do sur!imento e da consoidao do modo de produo capitaista, est% baseada, dessa 'orma, em um duaismo essencia# 3 natureza 6, simutaneamente, e:terior, isto 6, re!e-se por suas prprias eis invio%veis e independentes da vontade humanaA e universa, pois o homem e a sociedade, evidentemente, tamb6m 'azem parte da natureza# Em Deo!ra'ia, principamente a partir do movimento de renovao cr&tica, esse duaismo tem sido pro'unda e e:tensamente debatido, pois est% na ori!em da dicotomia 'undamenta sobre a qua essa discipina se estrutura# E duaismo essencia da natureza, no campo da Deo!ra'ia, est% e:presso na ant&tese Deo!ra'ia '&sica-Deo!ra'ia humana# .as a preocupao principa de Smith est% ocaizada nas in'u9ncias desse duaismo sobre o pensamento em !era e na de busca suas ori!ens 'ios'icas# A interpretao de Smith sobre a manifestao do dualismo essencial da natureza no pensamento de Kant 3 tradio judaico-crist, se!undo Smith, 6 a matriz 'undamenta sobre a qua o duaismo essencia da natureza desenvoveu-se# +s ra!zes "ist#ricas do dualismo remontam mais diretamente a $ant, embora elas certamente apaream em %ragmentos na tradio intelectual &udaico'crist, -S./$0, 1988* "8-"92# Fant, ao desenvover seu sistema 'ios'ico e epistemo!ico de interpretao do mundo, no somente reproduziu, como aper'eioou e consoidou esse duaismo embrion%rio na tradio judaico-crist# Sobre as rea(es entre o sistema 'ios'ico de Fant e sua concepo da natureza, Smith a'irma que* Fant distin!uiu entre diversas 7naturezas7 di'erentes, mas -###2 ee 'oi evado a distin!uir em particuar entre uma natureza interior e uma e:terior# 3 natureza interior dos seres humanos compreendia suas pai:(es cruas, enquanto a natureza e:terior era o ambiente socia e '&sico no qua os seres humanos viviam# Essa distino era, num certo sentido, 'orada em Fant, como resutado do sistema epistemo!ico que ee construiu e 6 si!ni'icativo que, nesse duaismo, a prpria mente humana no 'i!ure de 'orma a!uma# 8ara Fant a mente era, em princ&pio, o meio peo qua esse duaismo era superadoA a mente co!noscente individua e:perimentava a natureza como uma unidade na menteA e, no n&ve da esp6cie, era 'uno da cutura superar esse duaismo do anima interior e da natureza e:terior# 3ssim, o duaismo inicia provoca ou peo menos impica outros que soam 'amiiares ainda hoje* a mente e a natureza, a cutura e a natureza -/d, /bid* "92# Em Deo!ra'ia, o pape da 'ioso'ia de Fant 'oi decisivo# @os estudos sobre epistemoo!ia e histria do pensamento !eo!r%'ico, a diviso 'undamenta de Fant entre 3ntropoo!ia pra!m%tica e Deo!ra'ia '&sica tem sido bastante discutida# .oreira, por e:empo, de'ende que* 3s auas de !eo!ra'ia de Fant servem, ao ado do que chamava de antropoo!ia pra!m%tica, como respado e campo de apicao de seu sistema 'ios'ico -###2 8ara Fant o conhecimento 6 dado peos sentidos, 6 portanto um conhecimento emp&rico# Este conhecimento emp&rico adv6m da percepo peos sentidos, havendo um 7sentido interno7, que revea o homem -antropoo!ia pra!m%tica2, e um 7sentido e:terno7, que revea a natureza -!eo!ra'ia '&sica2 -.EGE/G3, 1988* "H2# Essa diviso 'undamenta de Fant est% na ori!em da dicotomia entre 0istria 5 3ntropoo!ia pra!m%tica 5 e Deo!ra'ia 5 Deo!ra'ia '&sica# 8osteriormente, com o desenvovimento do pensamento !eo!r%'ico, se estabeeceu a contradio entre Deo!ra'ia '&sica e Deo!ra'ia humana# E duaismo entre espao e tempo, entre Deo!ra'ia e 0istria, 6 um resutado !ico associado 4 dicotomia entre homem e natureza 5 entre o +sentido interno, e o +sentido e:terno,# 8ara Smith* + contempornea ideologia burguesa da natureza est constru!da sobre essas dicotomias %ilos#%icas realizadas por $ant( )ua dicotomia da natureza interior versus natureza e*terior ainda nos parece intuitivamente correta, -S./$0, 1988* "92# Exemplos dos modos cientfico e po!tico de manifestao do dualismo essencial da natureza 8ara iniciar o desenvovimento de sua concepo da ideoo!ia da natureza, baseado na distinoIcompementaridade entre natureza e:terior e natureza universa, Smith re'ere-se a duas 'ormas espec&'icas de sua mani'estao, isto 6, os modos cient&'icos e po6ticos de concepo da natureza# @as ci9ncias, Jrancis Kacon teria antecipado Fant# Sua compreenso da natureza 6 essenciamente e:terior e est% intrinsecamente vincuada 4 associao entre ci9ncia e produo, 4 objetivao da natureza peo processo produtivo# 3 ideia do dom&nio da natureza tamb6m 6 primordia na concepo da natureza de Kacon# + sociedade separada da natureza como sendo o dom!nio do "omem que, com governo presciente, pode ser empregada para a dominao do "omem sobre a natureza(, -S./$0, 1988* H"2# 8ara Kacon, o dom&nio da natureza 6 uma possibiidade de reencontro harmCnico entre o homem e a natureza# Esse dom&nio somente seria poss&ve peo desenvovimento das +artes mec)nicas, 5 t6cnicas 5 atrav6s da +perquirio da natureza, 5 ci9ncia# Bessa 'orma* 3 apresentao da natureza como um objeto e:terior no 6 nem arbitr%ria nem acidenta# Embora a cone:o entre ind;stria e m6todo cient&'ico esteja atuamente um pouco obscurecida, ea era bastante evidente para Kacon# @o processo de trabaho, os seres humanos tratam os materiais naturais como objetos e:teriores do trabaho a serem trans'ormados em mercadorias# Es produtores p(em as 7artes mec)nicas7 entre si mesmos e os objetos do trabaho com a 'inaidade de aumentar a produtividade do processo de trabaho# E se a ci9ncia vai 'uncionar como um meio de desenvover essas 7artes mec)nicas7, ento ea tamb6m deve tratar a natureza como um objeto e:terior -S./$0, 1988* H"2# 3 e:terioridade da natureza est% determinada peo prprio processo produtivo# 3 natureza 6 o objeto e:terior sobre o qua a!em os homens# E para a ci9ncia, considerada em sua reao com a produo, a natureza tamb6m 6 um objeto e:terior# 3ssim* 3 partir de Kacon, tornou-se u!ar comum que a ci9ncia trate a natureza como e:terior no sentido de que o m6todo e o procedimento cient&'icos ditam uma absouta abstrao tanto do conte:to socia dos eventos e objetos em e:ame quanto do conte:to socia da prpria atividade cient&'ica -/d, /bid* H12# .as o conceito de natureza de Kacon tamb6m admite sua universaidade na medida em que ee +insistia que os ob&etos +naturais, e +arti%iciais, possu!am o mesmo tipo de %orma e essncia, di%erindo somente em suas causas imediatas, -/d, /bid* H"-HH2# Essa universaidade, em Kacon, est% reacionada aos preceitos rei!iosos de sua concepo sobre uma reconciiao entre o homem e a natureza 5 ou o homem e Beus H # Be acordo com Smith, @eLton tamb6m desenvoveu uma concepo universa da natureza, que se con'undia com sua noo de espao absouto, baseada em premissas rei!iosas# +)e o movimento dos ob&etos era inteiramente determinado pelas leis %!sicas, o espao no qual eles se moviam era uma mani%estao da onipresena de Deus, -/d, /bid* HH2# 3 ideia de uma natureza universa est% presente, da mesma 'orma, em mani'esta(es contempor)neas do pensamento cient&'ico# Bepois de BarLin, considerando que os seres humanos tamb6m so o produto da evouo +natura,, uma s6rie de iniciativas tentou compreender o comportamento humano e +certos %en-menos sociais nas mesmas bases em que so tratados os eventos qu!micos e, eventualmente, os %!sicos, -/d, /bid* HH2# Essa universaidade bio!ica da natureza in'uenciou diversas perspectivas de an%ise das rea(es sociais e do comportamento humano, desde o darLinismo socia de Spencer at6 as mais modernas pesquisas da sociobioo!ia# Eutra moderna e:presso da concepo universa da natureza, se!undo Smith, pode ser encontrada na '&sica terica# @o obstante, nesse caso, os eventos bio!icos 5 e, de resto, todos os demais eventos 5 so reduzidos aos eventos '&sicos e, em !era, a partir de modeos matem%ticos 4 # Essa unidade '&sica da natureza 6 acanada pois* +.m /ltima anlise, o elemento componente da natureza a matria0 em sua +natureza,, a natureza material, -/d, /bid* H42# Gusse resume essa perspectiva ao a'irmar que* E homem 6 uma parte da natureza, no a!o que contraste com ea# Seus pensamentos e movimentos corporais se!uem as mesmas eis que descrevem os desocamentos de estreas e %tomos -###2 Beste 3 +E dom&nio da natureza, considerava ee, 6 uma tare'a divina, sancionada por Beus e tornada necess%ria pea Mueda do Nardim do Oden# Se a /noc9ncia 'oi para sempre perdida, a!uma coisa do harmonioso equi&brio entre 7o homem e a natureza7 poderia ainda ser reconquistado atrav6s do ben6'ico dom&nio do homem sobre a natureza, -S./$0, 1988* HP2# 4 E '&sico terico, matem%tico e astro'&sico Stephen 0aLQin! a'irma que* +Rma teoria cient&'ica se!ura, seja do tempo ou de quaquer outro conceito, deve, na minha opinio, ser baseada na mais vi%ve 'ioso'ia da ci9ncia* a aborda!em positivista 'ormuada por Far 8opper e outros# Se!undo essa maneira de pensar, uma teoria cient&'ica 6 um modeo matem%tico que descreve e codi'ica as observa(es que 'azemos# Rma boa teoria descrever% uma vasta s6rie de 'enCmenos com base em uns poucos postuados simpes e 'ar% previs(es caras que podem ser testadas, -03SF/@D, "PP"* H12# mundo '&sico, em si mesmo desinteressante, o homem 6 parte# Seu corpo, como quaquer outro tipo de mat6ria, 6 composto por e6trons e prtons, que, at6 onde sabemos, obedecem 4s mesmas eis a que se submetem os e6trons e prtons que no constituem animais e pantas# 3!uns sustentam que a 'isioo!ia jamais poder% ser reduzida 4 '&sica, mas seus ar!umentos no so muito convincentes, de sorte que parece prudente supor que estejam errados -GRSSET, "PP1* "9-H12# .as a 'ioso'ia de Gusse tamb6m admite uma reao de e:terioridade entre o homem e a natureza# 3o 'azer uma distino entre 'ioso'ia da natureza e 'ioso'ia do vaor, Gusse indica que* 3 'ioso'ia da natureza 6 uma coisaA a 'ioso'ia do vaor 6 totamente distinta# <on'undi-as no !era seno preju&zo# E que consideramos bom, aquio de que dever&amos !ostar, no tem quaquer reao com o que 6 - questo esta concernente 4 'ioso'ia da natureza# 8or outro ado, no nos podem proibir de dar vaor a isso ou 4quio peo 'ato de o mundo no-humano no 'az9-o -###2 3 natureza 6 apenas parte daquio que podemos ima!inar -###2 Somos ns os %rbitros m%:imos e irre'ut%veis do vaor, e do mundo do vaor a natureza constitui apenas uma parte# To!o, nesse universo, somos maiores que a natureza# @o mundo dos vaores, a natureza em si 6 neutra - nem boa nem ruim, merecedora nem de admirao nem de censura# Somos ns quem criamos vaor, e so nossos desejos que o con'erem# Besse imp6rio somos reis e de nossa reaeza nos tornamos indi!nos se 4 natureza nos curvamos# Estabeecer uma vida pena cabe portanto a ns, e no 4 natureza - nem mesmo 4 natureza personi'icada como Beus -/d, /bid* H9-412# Se para Fant a mente e a cutura seriam justamente as !arantias da unidade da natureza interna e da natureza e:terna, para Gusse ea 'unciona como aquio que distin!ue o homem da natureza 5 a 'ioso'ia da natureza da 'ioso'ia do vaor 5 e, mais importante ainda, cooca o homem acima da prpria natureza# 3 apresentao dessa on!a passa!em de Gusse, que, a princ&pio, pode parecer desocada, 6 'undamenta para iustrar, em conson)ncia com os e:empos de Smith, como a articuao entre os conceitos de natureza e:terior e natureza universa, que, em um primeiro momento, insinuam ser contraditrios, 6 a base da ideoo!ia da natureza# .ais a diante, a reao entre essas duas concep(es da natureza e a ideoo!ia da natureza ser% demonstrada# 8or ora, 6 importante re'etir sobre um caso particuar da e:presso po6tica do duaismo da natureza# 8ois bem, para iustrar o modo po6tico de e:presso do duaismo da natureza, Smith re'ere-se 4quio que comumente denomina-se de +!eo!ra'ia mora dos Estados Rnidos, ? # $rata-se do debate sobre como as representa(es associadas 4 paisa!em natura 'oram sendo produzidas ao on!o do desenvovimento daquea 'ormao socia# @o momento em que os norte-americanos estiveram envovidos com a e:panso da 'rente pioneira, a iteratura reproduzia essa situao materia eaborando representa(es da natureza que e:pressavam a necessidade de sua dominao# 3ssim, con'i!urou-se a iteratura de conquista do s6cuo U/U baseada numa concepo e:terior da natureza* -###2 a iteratura de conquista do s6cuo dezenove re'ete a mesma antipatia com reao 4 natureza seva!em# E serto 6 a ant&tese da civiizaoA ee 6 est6ri, terr&ve, at6 mesmo sinistro, no tanto por ser a morada do seva!em, mas por ser seu "abitat 7natura7# E natura e o seva!em eram uma coisa sA ees eram obst%cuos a serem vencidos na marcha do pro!resso e da civiizao -S./$0, 1988* H12# E discurso sobre a natureza, no per&odo da e:panso pioneira, est% associado ao processo concreto de objetivao da natureza, de dominao da natureza# $udo aquio que no 'azia parte da civiizao constitu&a a natureza, incusive os +seva!ens,# 3qui se apresenta uma oposio cara entre civiizao e natureza, entre homem e natureza e mani'esta-se, portanto, uma concepo e:terior da natureza# 8osteriormente, quando o dom&nio da civiizao sobre a natureza j% estava consoidado, sur!iu uma nova concepo da natureza e a +!eo!ra'ia mora dos Estados Rnidos, so'reu uma trans'ormao# Smith re'ere-se ao que chama de +movimento de vota 4 natureza, V # Essa idoatria da natureza, como no poderia dei:ar de ser, sur!e nos meios urbanos# $rata-se de uma tend9ncia de vaorizao da natureza que emer!e em determinados c&rcuos inteectuais e art&sticos inspirados no romantismo e que, em se!uida, popuariza-se# Se, por um ado, a di'&ci reaidade da 'rente pioneira !erou uma concepo objetiva e +antip%tica, em reao 4 natureza, a evid9ncia da domesticao abriu espao para a concepo rom)ntica da natureza# @o movimento de !eneraizao dessa nova compreenso da natureza sur!em comportamentos que in'uenciam a vida dos norte-americanos ainda hoje* Dozar '6rias no interior bruto tornou-se moda -###2 esportes na mata tornaram-se popuares e acampamentos de vero evaram escoares urbanos para o ambiente supostamente ben6'ico da natureza bruta# -###2 5 +Essa 'uso po6tica da Deo!ra'ia J&sica com o mito cutura representa o que Teo .ar: chama de !eo!ra'ia mora dos Estados Rnidos do s6cuo dezenove ,-S./$0, Ep#cit#* H?2# 6 +Enquanto a natureza seva!em da 'ronteira era hosti, a natureza humanizada e:atada peo movimento de =vota 4 natureza>, do s6cuo dezenove, era a quintess9ncia da amizade# 0osti ou ami!a, a natureza era e:teriorA ea era um mundo a ser conquistado ou um u!ar para o qua retornar, -S./$0, Ep#cit#* H12# os escoteiros 'oram um meio de incucar vaores c&vicos atrav6s da simpicidade, da camarada!em e do individuaismo combinados com e:peri9ncias na mata# 0oje, o processo de trans'ormao dos E#R#3# rura em uma %rea de azer para as cidades est% mais adiantado, mas os acampamentos de vero, os escoteiros e a estao de caa continuam a e:istir# @essas atividades e na onipresente 7'u!a7 da cidade nos 'ins de semana, a viso de natureza inerente ao movimento de 7vota 4 nature- za7 encontra sua e:presso contempor)nea -S./$0, 1988* H82# @esse e:empo tamb6m se e:pressa uma concepo e:terior da natureza, mas, ao ado dea, sur!e a re'er9ncia a certa universaidade# 3ssim como Kacon interpretava o dom&nio da natureza como uma reconciiao do homem com a natureza, o mesmo 6 verdadeiro para o movimento de retorno# .ais que isso, esse retorno ou essa reconciiao com a natureza 'ornecem padr(es para o comportamento socia e, dessa 'orma, mais uma vez, a articuao entre as concep(es universa e e:terior da natureza est% presente# Se, por um ado, na busca de sua objetivao, a ci9ncia parte da universaidade da natureza, por outro, a e:peri9ncia po6tica e:pressa o movimento de retorno da e:terioridade em direo 4 universaidade# @as paavras de Smith* 3 e:terioridade 6 substitu&da pea universaidade, peo menos no 'im de semana# Essa via!em po6tica para a natureza comea onde a via!em cient&'ica terminaA se a via!em po6tica comea a partir da e:terioridade da natureza que ea tenta universaizar, a via!em cient&'ica aceita a universaidade da @atureza W como mat6ria ou como espao e tempo W que ea tenta continuamente converter em um objeto e:terior de trabaho# @aquio em que o romantismo da natureza 'oi uma reao ao pro!resso industria, a e:peri9ncia cient&'ica e a po6tica da natureza esto reacionadas atrav6s do processo de produo, e aqui 6 precisamente onde a natureza e:terior e a universa encontram seu terreno comum -/d, /bid* 442# O na interpenetrao !ica das concep(es de natureza universa e e:terior que se estabeece a possibiidade da e:ist9ncia de uma ideoo!ia da natureza e 6 necess%rio escarecer que 'un(es sociais desempenha essa ideoo!ia# "oncluso: obser#aes sobre a funo social da ideologia da natureza Essa articuao entre natureza e:terior e natureza universa est% na base da ideoo!ia da natureza# 3ntes de tudo, apenas com os e:empos de Smith, 'oi poss&ve compreender que o conceito de natureza 6 um produto socia cujo si!ni'icado varia de acordo com o desenvovimento histrico# Muando os pioneiros se en'rentavam com a natureza para domin%-a, +o romantismo teria sido loucura 1(((2 3o se a%aga uma cascavel at que se l"e arranquem as presas0 somente ento pode'se lev'la para lugares onde todos possam se maravil"ar com sua beleza natural, -S./$0, 1988* 4"2# Bepois de domesticada a natureza trans'orma-se em objeto de idoatria# $amb6m 'oi poss&ve discernir que a concepo da natureza 6 utiizada para justi'icar e impusionar iniciativas po&ticas e sociais# 3 conquista 'undamenta-se na hostiidadeA o retorno 4 natureza, na subimidade e universaidade# E objetivo, sempre, 6 o controe socia# 8osteriormente, che!a-se 4 concuso sobre a depend9ncia entre os dois conceitos de natureza# 3 ideoo!ia da natureza sustenta-se nessa depend9ncia e nesse duaismo 'undamentais# 3o admitir a universaidade, a ideoo!ia da natureza atribui a determinados comportamentos e rea(es sociais a quaidade de eventos +naturais,# 8ara Smith* -###2 eventos naturais, peos quais se quer si!ni'icar que tais comportamentos e caracter&sticas so normais, dados por Beus, imut%veis# 3 competio, o ucro, a !uerra, a propriedade privada, o erotismo, o heterosse:uaismo, o racismo, a e:ist9ncia de ricos e de despossu&dos, -###2 tudo isso 6 considerado natura# 3 natureza, e no a histria humana, 6 considerada respons%veA o capitaismo 6 tratado no como historicamente contin!ente mas como um produto inevit%ve e universa da natureza que, enquanto ee possa estar hoje em peno apo!eu, ee pode ser encontrado na anti!a Goma ou entre bandos de macacos saqueadores, onde a sobreviv9ncia do mais apto 6 a re!ra# E capitaismo 6 naturaA utar contra ee 6 utar contra a natureza humana -/d, /bid* 4V2# E ar!umento da natureza humana, portanto, possui condicionamentos e impica(es ideo!icas que derivam, como j% 'oi a'irmado, da interpenetrao !ica das concep(es de natureza universa e natureza e:terior# Besde di'erentes perspectivas, seja a'irmando a universaidade bio!ica da natureza apoiada na teoria da evouo natura das esp6cies, seja constatando que as eis que re!em o movimento das part&cuas, no caso da '&sica terica, so v%idas para todos os dom&nios da e:ist9ncia, o resutado 6 a possibiidade de naturaizao de comportamentos e rea(es sociais# Em !era, as premissas da ideoo!ia da natureza e:pressam a vu!arizao de teorias cient&'icas e concus(es 'ios'icas# E darLinismo socia no 6 obra de BarLin, e Gusse, ao a'irmar a unidade '&sica do homem e da natureza, no necessariamente reduz o comportamento humano 5 a 'ioso'ia mora 5 4 'ioso'ia da natureza# @o obstante, para que a concepo da natureza humana tenha sucesso em naturaizar 'ormas historicamente determinadas de rea(es sociais, para que as rea(es sociais de produo capitaista, por e:empo, sejam compreendidas como inevit%veis e correspondentes a todos os tipos de 'orma(es sociais, independentemente de varia(es no tempo e no espao, o ar!umento da natureza e:terior, em associao com o da natureza universa, 6 'undamenta# @a opinio de Smith*
-###2 para manter esse poderoso conceito ideo!ico com toda a sua 'r%!i contradio, h% uma omisso sin!uar e reveadora do conceito de natureza# 8or de'inio, a natureza e:terior e:cui a atividade humana, mas a natureza universa tamb6m e:cui a atividade humana, e:ceto no sentido mais abstrato de que o trabaho 6 necess%rio e di!ni'icado -###2 ns vimos que, apesar da presena de arte'atos humanos, a id6ia transmitida pea 7paisa!em m6dia7 humanizada 6 que a tecnoo!ia da m%quina se encontra como sendo absoutamente inte!ra para a natureza, mas 'icou assim considerada somente pea e:cuso do trabaho concreto rea e pea naturaizao dos arte'atos humanos que teriam, de outra 'orma, se imiscu&do nos imites da natureza -S./$0, 1988* 4V2# O necess%rio que e:ista uma natureza e:terior com suas eis imut%veis e invio%veis para que se possa de'ender que a natureza universa, a natureza humana tamb6m possui essas mesmas caracter&sticas# Somente desse modo, comparando-se a natureza universa 4 natureza e:terior, pode-se estabeecer a perenidade e a invariabiidade do comportamento humano e das rea(es sociais de produo capitaistas# Se as eis do +mundo dos homens, obedecem aos mesmos princ&pios que re!em as eis da natureza e:terior, ento, dessa maneira, aqueas so to invari%veis e invio%veis quanto essas# Essa 6 a principa 'uno socia da ideoo!ia da natureza, tornar naturais rea(es sociais historicamente determinadas# $ibliografia: E@DETS, Jriedrich# Dialtica da 3atureza# Gio de Naneiro, 8az e $erra, 198?# 03SF/@D, Stephen# 4 universo numa casca de noz# So 8auo* 3GU, "PP"# .EGE/G3, GuX# 4 que a geogra%ia( So 8auo* Krasiiense* 1988# GRSSET, Kertrand# 3o que acredito# 8orto 3e!re* TY8., "PP1# S./$0, @ei# Desenvolvimento desigual: natureza, capital e a produo de espao# Gio de Naneiro* Kertrand Krasi, 1988#