Palmito de Pupunha

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Agncia de Fomento do Estado da Bahia Desenbahia

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Estudo de Mercado 01/02, mar. 2002.
Palmito de Pupunha
Luiz Fernando Guerreiro
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Sumrio
1 INTRODUO........................................................................................................................................................ 1
2 ANLISE DO PRODUTO.................................................................................................................................... 2
3 CARACTERIZAO DA DEMANDA............................................................................................................ 4
3.1 CONSUMO MUNDIAL...................................................................................................................................... 4
3.2 PRINCIPAIS PASES IMPORTADORES............................................................................................................. 5
4 CARACTERIZAO DA OFERTA................................................................................................................. 5
4.1 PRODUO MUNDIAL..................................................................................................................................... 5
4.2 PRODUO DO BRASIL................................................................................................................................... 6
4.3 EXPORTAES BRASILEIRAS......................................................................................................................... 8
4.4 EXPORTAES MUNDIAIS.............................................................................................................................. 8
4.5 MERCADO RELEVANTE.................................................................................................................................. 9
4.5.1 Fatores Relevantes que Influenciam as Exportaes....................................................................10
4.6 ESTRATGIA DE COMERCIALIZAO......................................................................................................... 10
4.7 PREOS E CUSTOS DE PRODUO............................................................................................................... 11
5 ANLISE DA CARTEIRA DA DESENBAHIA...........................................................................................13
6 CONCLUSES ......................................................................................................................................................13

1 Introduo
A pupunha constitui-se a mais nova alternativa para a produo de palmito, tendo a
vantagem de ser explorada em plantios organizados. O palmito basicamente uma
iguaria do Brasil, que responde por cerca de 85% da produo mundial, no dominando,
contudo, as exportaes. A principal causa da perda desta liderana a falta de qualidade
do produto brasileiro. As exportaes brasileiras j foram da ordem de US$ 40milhes,
situando-se hoje em cerca de 7 a 8 milhes de dlares anuais.
A pupunheira (bactris gasipaes) palmeira perene, nativa da regio tropical das
Amricas, sendo utilizada, h sculos, para a produo de frutos que so at hoje a base
da alimentao dos habitantes de sua regio de origem. Os frutos dessa palmeira so ricos
em amido (carboidratos) e vitamina A.
O interesse nessa palmeira como produtor de palmito s comeou no inicio dos anos
1970, quando a explorao predatria da palmeira juara na regio sudeste do Brasil tinha

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Com a colaborao de Paulo A. Meyer M. Nascimento.
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alcanado o seu mximo e as reservas de palmito nativo j estavam bastante dilapidadas.
Atualmente, a pupunha vem se destacando pelo seu potencial para a explorao racional
de palmito, devido principalmente s suas caractersticas de precocidade, rusticidade e
perfilhamento. O palmito produzido por esta palmeira, embora com caractersticas
diferentes das espcies tradicionalmente usadas para a explorao de palmito (juara e
aa), bem aceito.
Conforme mencionado, as principais caractersticas da pupunheira que interessam para a
produo de palmito so a precocidade, o perfilhamento e a ausncia de espinhos. Todas
as populaes de pupunheiras perfilham, embora ocorra uma variabilidade muito grande
entre plantas. H plantas que perfilham logo aps seis meses do plantio definitivo no
campo, enquanto outras s o fazem aps o corte da planta me. A produo de palmito
baseia-se nessa caracterstica de regenerao permanente.
A cultura da pupunha foi introduzida na Regio do Baixo Sul do Estado h alguns anos,
porm, ainda em pequena escala. Com a perspectiva de implantao de uma grande
indstria de beneficiamento do palmito de pupunha na regio, abrem-se amplas
possibilidades de expanso da cultura, principalmente nos municpios de Ituber,
Tapero, Nilo Peanha, Cairu e Camamu, fazendo-se necessria a realizao de estudos
visando detectar a necessidade e viabilidade de implantao de um programa de apoio
cultura da pupunha.
2 Anlise do Produto
Denomina-se de palmito o produto comestvel de formato cilndrico, macio e tenro,
extrado da extremidade superior do estipe da palmeira. constitudo, basicamente, pelo
meristema apical e um nmero varivel de folhas internas, ainda no plenamente
desenvolvidas e imbricadas, sendo envolto e protegido pela bainha das folhas adultas,
mais externas.
O palmito da pupunha, ao contrrio do que ocorre com o da juara e com o do aaizeiro,
apresenta a grande vantagem de no escurecer aps o corte. Isto facilita o processamento
e permite que outras formas mais simples de acondicionamento do produto sejam
desenvolvidas, diminuindo os gastos e simplificando sua industrializao. Devido ao no
escurecimento, pode ser vendido in natura. Tal fato, juntamente com a possibilidade de
corte o ano todo, proporciona um lucro constante, mesmo ao pequeno proprietrio.
Como toda planta em via de se tornar um cultivo, ainda existe uma srie de informaes
necessrias a serem fornecidas aos agricultores interessados em seu plantio; espaamento,
adubao, manejo de perfilhos e colheita devem ser desenvolvidos para cada regio de
plantio, dado as diferentes variantes edafoclimticas. Da mesma forma, material gentico
de alta qualidade, adaptado s diversas regies de cultivo, deve ser desenvolvido e posto
a disposio do agricultor. O material existente, embora bom, apresenta pouca
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homogeneidade, principalmente com relao ao perfilhamento e desenvolvimento
vegetativo, podendo ser melhorado.
Quanto aos entraves existentes ao seu cultivo, destacam-se os inerentes planta, que
desestimulam o cultivo em larga escala das principais palmeiras produtoras de palmito
comestvel de boa qualidade. Palmeiras do gnero Eutepe demoram de 8 a 12 anos para
estarem aptas para o corte do palmito. O segundo fator de importncia a baixa
sobrevivncia das mudas, especialmente da palmeira juara, com perdas s vezes
superiores a 40%. Em terceiro lugar pode ser mencionada a heterogeneidade do material
existente. Como espcies que sofreram pouco melhoramento, h grande variabilidade
entre e dentro das populaes, o que se traduz em ausncia de uniformidade na formao
das mudas, na rea de cultivo e na colheita do produto. H variabilidade tambm para
caractersticas qumicas e bioqumicas do palmito, afetando sobremaneira a qualidade do
produto final. Perda rpida da viabilidade das sementes e dificuldade para sua
conservao e armazenamento so outros fatores que, se no impedem, pelo menos
prejudicam o plantio nico em largas reas. Esses e outros problemas podem e esto
sendo resolvidos pela pesquisa. O Instituto Agronmico de Campinas pioneiro e tem a
liderana no estudo de palmeiras produtoras de palmito, com introdues de aaizeiros e
pupunheiras que remontam ao ano de 1950.
A Regio do Baixo Sul da Bahia apresenta condies climticas e ambientais favorveis
ao desenvolvimento da pupunha, que uma palmeira caespitose (multi-caule) que pode
atingir at 20 m de altura, sendo encontrada na Amrica Central e principalmente na
Amaznia. O dimetro do caule varia de 15 a 20 cm e o comprimento dos entrens de 2 a
30 cm. Os entrens apresentam numerosos espinhos rgidos e pretos ou marrons escuro,
porm algumas espcies so desprovidas de espinhos.
A pupunha est apta para colheita entre 2 a 10 anos, pela sua caracterstica multi-caule e
pela ocorrncia de brotaes, o que possibilita colheitas escalonadas. A planta acima de
10 anos reduz a produo de frutos e dificulta a colheita. As espcies tradicionais levam
de 7 a 12 anos para estarem aptas para corte, sendo que a juara, devido ao no
perfilhamento, tem corte nico.
Embora o cultivo da pupunheira possa ser implantado nas mais diferentes condies
climticas, nas regies de clima quente e mido, com temperatura mdia anual de 22C
e precipitao acima de 1600 mm por ano e bem distribuda, que se obtm maior
desenvolvimento vegetativo e maior peso em palmito por planta e por rea. A palmeira
pupunha no tolera geada, principalmente durante a fase de formao de mudas e at um
ano aps o plantio no campo. Em palmeiras adultas h queima das folhas mais externas,
mas no ocorre morte da planta. A espcie tambm pouco resistente a ventos fortes.
A formao de mudas de pupunheira possui um processo simples e seguro desde que
sejam seguidas as recomendaes mnimas desde a colheita de frutos, passando pela
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semeadura e germinao, chegando aos tratos culturais em viveiro. Um dado importante
que sua madeira vem sendo utilizada na indstria moveleira, j que a madeira apresenta
alta resistncia, trs vezes a mais que o mogno, alm dos custos serem 40% inferior a
outras madeiras. O seu uso, contudo, deve ser oriundo de plantas com mais de trs anos.
Alm da pupunheira, tambm a palmeira-real-da-austrlia, historicamente cultivada em
trpicos e sub-trpicos como planta ornamental, vem sendo plantada com a finalidade de
produzir palmito para consumo. Recentemente, comeou-se a transformar essas plantas
ornamentais tambm em cultura comercial, pois foi observado que o palmito oriundo
delas de boa qualidade. Em Santa Catarina, a EPAGRI (Empresa de Pesquisa
Agropecuria e Extenso Rural de Santa Catarina) vem estudando o cultivo da palmeira-
real-da-austrlia desde 1995. Seu plantio vem se intensificando no Sul do Pas, devido
sua particular resistncia ao frio. Para regies quentes o ano todo, a cultura da pupunheira
tem se sedimentado mais firmemente, apesar de ambas produzirem um palmito de
qualidade.
3 Caracterizao da Demanda
3.1 Consumo Mundial
No existem informaes precisas sobre o consumo mundial de palmito, no se
encontrando dados estatsticos nas publicaes da FAO, bem como nas realizadas pelos
rgos governamentais brasileiros. As poucas informaes encontradas sobre consumo
interno e externo, bem como sobre o mercado internacional do produto so conflitantes.
Segundo informaes obtidas no Info-guide on line: Palmito Pupunha, o Brasil, nas
dcadas de 40 e 50, era o seu maior exportador, chegando a ser responsvel por cerca de
95% do palmito consumido mundialmente.
No ano de 1999, as exportaes brasileiras representaram apenas 15,5% das exportaes
mundiais, ficando atrs da Costa Rica e Equador, os quais ocupam respectivamente a
primeira e segunda colocao. Naquele mesmo ano, as exportaes mundiais totalizaram
US$ 93,1 milhes, para 23,4 mil ton, contra US$ 100,2 milhes no ano anterior, que
equivaleram a 20,2 mil ton, mesmo patamar de 1997. Isto representa uma reduo de 7%
em termos de faturamento em 1999, embora a quantidade exportada de palmito tenha
crescido. Em termos quantitativos, o comrcio internacional cresceu 29% no ano de 1999
em relao ao ano de 1997.
O Brasil exporta principalmente o palmito extrado do aa e juara, enquanto o Equador
e a Costa Rica participam no mercado com palmito de pupunha, os quais tm aumentado
as suas exportaes em funo da qualidade do produto.
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3.2 Principais Pases I mportadores
O mercado internacional de palmito requer alto grau de profissionalizao, uma vez que
exige qualidade desde a produo da matria prima at o conhecimento do mercado
externo, da legislao sanitria e ambiental. Trata-se de um mercado no qual se deve ter
rigoroso controle de qualidade e regularidade na oferta, sendo que, quanto qualidade,
fundamental a padronizao do dimetro e da textura do produto.
Os principais importadores mundiais de palmito so: Frana, Argentina, Estados Unidos,
Espanha e Chile, alm do prprio Brasil, que tambm ainda importa o produto, apesar de
ser o terceiro maior exportador.
Tabela 1: Pases Importadores de Palmito - em US$ Mil
Pases 1997 1998 1999
Frana 31.000 32.500 24.000
Argentina 24.500 27.500 30.000
Estados Unidos
Brasil 6.500 5.500 4.200
Espanha 4.000 6.000 4.500
Chile 3.100 3.100 3.200
Fonte: Exproplam Brasil
As exportaes brasileiras, que alcanaram quase US$ 30 milhes no ano de 1995,
caram para US$ 14,5 milhes em 1999. At ento, a Argentina era o seu maior
comprador, seguida dos Estados Unidos e da Frana. A maior parte das exportaes para
os EUA realizada diretamente para o importador local, que, por sua vez, revende os
produtos para supermercados e lojas de produtos alimentcios. Os importadores
americanos de palmito esto localizados predominantemente na Califrnia, Flrida,
Texas e Nova Jrsei, suprindo as localidades onde ocorre uma maior demanda para o
palmito, ou seja, nas grandes cidades da costa leste e oeste.
4 Caracterizao da Oferta
4.1 Produo Mundial
Segundo informaes contidas em artigo publicado na Revista Globo Rural, nmero
174, de abril de 2000, o Brasil responde por cerca de 85% da produo mundial de
palmito, apesar de no dominar mais as exportaes desse produto. Isto se deve,
principalmente, como j frisamos, falta de qualidade, o que estimula o incremento da
produo em outros pases, a exemplo da Colmbia, cuja produo foi incrementada a
partir do interesse demonstrado por importadores franceses.
Nos ltimos anos, Costa Rica e Equador, com plantios de pupunha de forma organizada,
com ganhos de escala e conseqentemente preos mais baixos, assumiram a liderana do
mercado internacional.
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No existem registros estatsticos sobre a produo mundial do palmito, tendo-se
pesquisado inclusive as publicaes e os seus sites especializados, no sendo encontrado
nenhuma informao, levando a estimar a produo mundial com base nos dados do
mercado internacional.
4.2 Produo do Brasil
Os dados oficiais sobre a produo brasileira de palmito so do IBGE, estando
disponveis at 2000 (ver Tabela 2). Tais dados mostram que a produo extrativista
dobrou de 1996 para 1997, mas vem se reduzindo bastante depois disso, atingindo em
2000 um patamar inferior ao verificado antes do grande salto de 1997. Ainda que os
dados devam ser utilizados com cautela em virtude de eventuais erros de mensurao
(sobretudo nos anos de 1996 e 1997, uma vez que o valor atribudo produo de 1997
significativamente mais alto do que os valores relativos a todos os demais anos
apresentados), os nmeros da Tabela 2 mostram uma leve tendncia de retrao na
produo extrativista de palmito no Brasil.
J a produo oriunda de lavouras permanentes tem crescido substancialmente ano aps
ano. Em 1997, a quantidade de palmito advinda dessa modalidade de produo cresceu
mais de trs vezes em relao a 1996. Nos anos seguintes, o crescimento da produo na
forma de lavoura continuou crescendo, a taxas que variaram de 128% a 240%. verdade
que, aps haver triplicado em 1997, essa produo vem obtendo taxas decrescentes de
crescimento. Mesmo assim, tais taxas permaneceram elevadas o suficiente para ensejar
um cenrio, ao menos de mdio prazo, de expanso da produo de palmito oriundo de
lavouras permanentes.
Tabela 2: Produo Brasileira de Palmito (em Toneladas) e variao percentual 1996/2000
Procedncia 1996 1997 1998 1999 2000
Extrativismo 18.155 36.449 24.188 18.575 17.154 -6%
Lavoura 1.541 4.773 11.449 19.089 24.356 1481%
Total 19.696 41.222 35.637 37.664 41.510 111%
Fonte: IBGE
A produo total brasileira de palmito, por sua vez, tem se mantido em um patamar entre
35.000 e 42.000 toneladas entre os anos de 1997 a 2000. Em 1996, no entanto, essa
produo no chegava nem mesmo a 20.000 toneladas. O grande salto na produo
verificado em 1997, conforme j visto, ocorreu tanto na produo extrativista quando na
de lavoura. Contudo, as exportaes brasileiras do produto apresentaram, em toneladas,
uma leve queda naquele ano em relao com o ano anterior e continuaram a cair nos anos
seguintes (ver Tabela 3), ao passo que a produo se manteve em nveis elevados. A
manuteno da produo total em alta escala a partir de 1997, quando comparada a 1996,
pode ser atribuda ao crescimento do mercado interno no perodo.
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Por outro lado, a reduo da produo extrativa se deve basicamente a dois fatores: a
devastao indiscriminada das florestas e a busca do prprio mercado por uma alternativa
ambientalmente correta e economicamente vivel. A devastao indiscriminada das
florestas, que tem ocorrido ao longo de dcadas, principalmente nas regies Leste e
Sudeste do Brasil, provocou, dentre outras conseqncias, o esgotamento das reservas
naturais de palmeiras produtoras de palmito doce. Ao mesmo tempo, a quase extino do
palmito juara, originrio da Mata Atlntica e ecossistemas associados, e o deslocamento
da sua explorao para a Regio Amaznica, podem provocar tambm naquela regio a
extino econmica da espcie, o que obrigou o prprio mercado a buscar uma
alternativa ambientalmente correta e economicamente vivel que atendesse este
segmento.
Desde o evento mundial denominado RIO 92, quando os pases participantes foram
signatrios de um acordo no sentido de que a partir do ano 2000, a importao e/ou
exportao do palmito a ser consumido dever ser proveniente de florestas plantadas e
no simplesmente extrado da mata nativa, o Brasil comeou a estudar a viabilidade do
plantio do palmito, principalmente oriundo da pupunha. A produo extrativista passou,
ento, a ser direcionada unicamente ao mercado interno.
Atualmente, a quase totalidade do palmito produzido atravs do extrativismo oriundo
das palmeiras de aa do Baixo Amazonas, principalmente dos abundantes palmeirais da
Ilha de Maraj. Contudo, j vem sendo realizado um trabalho de conscientizao, visando
um manejo adequado e o plantio de novas palmeiras.
Os problemas do palmito brasileiro, entretanto, no se resumem substituio da
produo extrativista pela de lavoura. H tambm a questo do controle da qualidade do
produto, essencial para se evitar episdios como o ocorrido em So Paulo, em 1998. Na
ocasio, surgiram diversos casos de botulismo associado ao consumo de palmito
imprprio. Apesar de o surto no ter se sido desencadeado apenas pelo palmito brasileiro
(alguns casos foram causados por marcas de origem estrangeira), o produto nacional
sofreu grandes efeitos negativos dentro do prprio pas com o ocorrido. O mercado, que
j estava desorganizado pela concorrncia da produo informal, sem controle sanitrio e
obtida a partir de matria prima extrada clandestinamente, foi fortemente abalado.
Situaes como aquela afetam a confiana do consumidor em relao qualidade do
produto. Essa falta de confiana faz com que o volume consumido no Brasil hoje seja o
mesmo de 20 anos atrs, segundo o presidente da Associao Nacional dos Fabricantes
de Palmito (ANFAP). Medidas j esto sendo adotadas h algum tempo, por parte dos
produtores, no sentido de recuperar a credibilidade do produto brasileiro tanto no
mercado interno, quanto no externo, com destaque para o controle da extrao do palmito
e o aprimoramento do seu processo industrial.
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4.3 Exportaes Brasileiras
A exportaes brasileiras de palmito, segundo a Revista Globo Rural, j foram da
ordem de US$ 40 milhes. Em 2000, atingiram apenas 2.489 toneladas, com uma receita
de US$ 9,5 milhes. A Tabela 3 demonstra a evoluo das exportaes nos ltimos anos,
as quais tem declinado bastante em funo de fatores j expostos anteriormente.
Tabela 3: Exportaes Brasileiras de Palmito - 1994/2001
Ano Em
US$mil
Em Ton. Pr. Mdio
1994 37.704 10.055 3.352
1995 29.302 6.038 4.853
1996 25.766 4.852 5.310
1997 24.046 4.536 5.301
1998 18.848 3.797 4.964
1999 13.679 3.441 3.975
2000 9.479 2.489 3.806
*2001 5.358 1.469 3.647
At julho/2001
Fonte: IBGE
A Argentina tem se constitudo no principal pas importador do palmito brasileiro, vindo
a perder esta posio apenas no ano de 2000, quando os Estados Unidos passaram a
assumi-la, vindo a seguir a Frana, o Lbano e a Espanha. Este cenrio de reduo da
participao portenha nas exportaes brasileiras de palmito tende a se acentuar, pelo
menos momentaneamente, devido crise a qual atravessa aquele Pas.
4.4 Exportaes Mundiais
Como o palmito ainda um produto de pouco peso no mercado mundial de alimentos, h
escassas informaes sobre as transaes internacionais envolvendo o produto, inclusive
nas publicaes da prpria FAO. Por esta razo, empregaram-se aqui informaes
fornecidas pela Fazendas Reunidas Vale do Juliana. De acordo com estes dados, as
exportaes mundiais evoluram de 18.170 toneladas em 1997 para 23.423 toneladas em
1999, representando um crescimento de 29%, muito embora a receita em dlar no perodo
tenha permanecido praticamente a mesma
2
.
Os principais pases exportadores tm sido a Costa Rica, o Brasil e o Equador, sendo que
o Brasil perdeu o lugar de segundo maior exportador para o Equador a partir de 1998. Em
1999, o Equador j havia exportado o dobro do nosso pas.

2
Convm observar que os dados apresentados para o Brasil na Tabela 4 divergem levemente daqueles
apresentados na Tabela 3, possivelmente por se tratar de diferentes fontes.
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Tabela 4: Pases Exportadores de Palmito em Mil US$ e relao percentual 97-99
Pas 1997 1998 1999 Relao
Percentual
97/99
Costa Rica 27.642 30.500 32.656 18%
Brasil 24.046 18.848 14.473 -40%
Equador 14.293 - 27.013 89%
Bolvia 10.000 9.800 9.500 -5%
Paraguai 5.000 4.000 4.000 -20%
Peru 4.400 4.600 5.000 14%
Fonte: Fazendas Reunidas Vale do Juliana / Exproplam
4.5 Mercado Relevante
Nos ltimos anos, no setor de leguminosas, a demanda total se manteve estvel. A oferta
de produtos, contudo, tem-se diversificado bastante. Alm de legumes frescos, h
interesse crescente por legumes do tipo extico, como o palmito, e legumes
congelados. A crise da dioxina de 1999, por sua vez, afetou a confiana do consumidor
em produtos de origem animal e aumentou a importncia de legumes na alimentao
diria. O consumidor e os profissionais da gastronomia buscam dar nfase ao valor
nutritivo e culinrio dos legumes e dos produtos biolgicos com o certificado sem
pesticidas. Estima-se um crescimento do consumo de legumes congelados no mercado
europeu em torno de 5% ao ano.
A disponibilidade de maior oferta de legumes frescos ou congelados tem afetado a
procura de alimentos em conservas, existindo ntida preferncia por conservas em vidro.
No caso do palmito, a variedade cultivada tem padronizao mais estvel e por isso,
mais bem aceita no mercado. A variedade cultivada apresenta tambm a vantagem da
regularidade do abastecimento. A variedade selvagem, no entanto, tem sabor superior.
Nos ltimos anos, embora a produo de palmito no Brasil tenha voltado a crescer,
principalmente o cultivado, as exportaes sofreram uma forte reduo. A parcela da
produo dirigida ao mercado interno tem crescido mais do que a produo nacional total
de palmito.
O Brasil, que j foi responsvel por mais de 90% do comrcio internacional do palmito,
teve sua participao reduzida para 26% no ano de 1997, caindo para 16% em 1999,
reduzindo-se ainda mais em 2000, apesar do mercado internacional ter apresentado um
crescimento de 29% no perodo, em termos quantitativos.
A Argentina, at 1999, quando foi o pas que mais comprou palmito do Brasil, se
constitua em um dos principais importadores deste produto, juntamente com os Estados
Unidos e a Frana. Os Estados Unidos destacam-se pelo crescimento das suas
importaes, que ainda assim so incipientes, quando se leva em considerao o tamanho
do seu mercado.
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Por ser considerado um produto fino, o comprador do palmito exige em contrapartida um
produto de alta qualidade. O produto importado em container, em conservas de vidro ou
lata, com peso entre 0,250 e 0,500 kg, j pronto para venda ao consumidor final. Para
restaurantes industriais ou comuns, tambm podem ser importadas latas maiores, de 3 a 5
kg. fundamental observar a regularidade da qualidade, bem como o peso e calibre
indicados. Alm disso, devem ser detalhadas as informaes sobre o contedo.
Por se tratar de um produto agrcola, importante tambm observar as normas para uso
de pesticidas, j que o controle destes, por razes sanitrias e ecolgicas, cada vez mais
intenso.
4.5.1 Fatores Relevantes que I nfluenciam as Exportaes
A demanda por legumes em conserva estvel. Observa-se um maior interesse por
alimentao rica em legumes e biolgica;
O palmito considerado no mercado europeu um produto extico, especial e de preo
elevado, quando comparado com outros legumes em conserva;
O potencial de crescimento depende do interesse do consumidor em experimentar
alimentos exticos. O consumidor europeu tem demonstrado interesse crescente em
mudar ou diversificar seus hbitos alimentcios;
A oferta de palmitos biolgicos, portanto, poderia beneficiar-se da crescente demanda
no satisfeita por legumes e produtos biolgicos, em geral;
Existe tendncia de crescimento da demanda por produtos alimentcios j prontos
para consumo, congelados, frescos ou em conservas;
O palmito originrio de pases como Costa Rica e Guiana isento de direitos
aduaneiros ad valorem na Blgica, porto de entrada de produtos para muitos pases
da Europa;
De acordo com pesquisa realizada junto a alguns importadores americanos pelo
Departamento de Promoo Comercial (DPR) do Ministrio das Relaes Exteriores
do Brasil, o produto brasileiro est em desvantagem no mercado por ser atualmente
exportado em lata para os EUA, contrariando a preferncia do consumidor americano
por conservas em vidro.
O Brasil foi pioneiro e lder de exportaes de palmito para os Estados Unidos e,
portanto, possui uma certa tradio no mercado norte-americano, o que pode facilitar
a sua expanso naquele mercado.
4.6 Estratgia de Comercializao
J foi dito que qualidade e regularidade da oferta so requisitos essenciais na
consolidao e ou conquistas de novos mercados. No caso especfico do palmito de
pupunha, deve-se levar em considerao os seus diferenciais em relao aos produtos
oriundos do aa e da juara, tais como:
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Produto Renovvel: a pupunha apresenta boa capacidade de emisso de perfilhos,
permitindo a sua renovao natural, alm da possibilidade de replantio, quando
necessrio; a juara e grande parte do aa oferecidos no mercado so obtidos com a
devastao das florestas tropicais;
Qualidade e Padronizao: os palmitos oriundos do aa e da juara no so
padronizados, pois so obtidos por meio de processos de industrializao pouco
controlados, o que possibilita contaminaes;
Planejamento e Regularidade na Oferta: o palmito obtido do aa e da juara, por
depender da atividade extrativa, apresenta dificuldades no planejamento de sua
produo e irregularidades na oferta, comprometendo a sua colocao no mercado; as
plantaes de pupunha, por outro lado, vm atingindo elevado padro de controle
desde a produo at o mercado, nos principais pases produtores;
Criao de Selos de Qualidade.
A legislao norte-americana relacionada a palmito, assim como para outros produtos
agrcolas, muito rgida e detalhada. Especificaes sobre embalagens, rotulagem,
descries de ingredientes e aditivos usados devem ser seguidos minuciosamente a fim de
evitar que o produto seja retido nos portos.
O mercado exige que os vegetais a serem enlatados sejam saudveis, firmes e sem
qualquer machucado ou sinal de decomposio. Padres de qualidade mnimos foram
decretados para vrios vegetais, estabelecendo especificaes de qualidade, tais como
maciez, cor e perfeio. Os enlatados produzidos no Brasil atendem bem a esses critrios.
O potencial de crescimento de vendas, principalmente no mercado americano, poderia ser
desenvolvido mediante adequao a certas particularidades da preferncia do consumidor
e de divulgao apropriada.
Para alguns importadores americanos, o palmito brasileiro de boa qualidade, mas peca
pela aparncia do produto. Dentre as sugestes de mudana feitas por esses importadores,
destaca-se a substituio da embalagem em lata, ainda muito usada, por potes de vidro,
que permitem ao consumidor ver o produto que est comprando. A Costa Rica, por
exemplo, vem usando embalagens de vidro h alguns anos e vem obtendo muito sucesso
na expanso de suas vendas de palmito.
4.7 Preos e Custos de Produo
Tomando como referncia os preos praticados em So Paulo no perodo de 1992 a julho
de 2001, a lata de 400 g obteve uma variao de US$ 2,43 para US$ 4,23, representando
um incremento de 74%, tendo o mesmo atingido seu pico no ano de 1995, quando chegou
a US$7,44.
Estudo de Mercado 01/02, mar. 2002.
Palmito de Pupunha




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Tabela 5: Preos Mdios do Palmito em So Paulo (US$/lata)
Ano Mdia
1992 2,43
1993 2,83
1994 4,13
1995 7,44
1996 6,58
1997 6,32
1998 5,9
1999 n.d
2000 4,46
2001 4,23
Fonte: Instituto de Economia Agrcola (IEA) - SP
No mercado internacional, os preos, em 1994, eram em mdia de US$ 3.352 por
tonelada, atingindo seu preo mximo em 1996, quando alcanou US$ 5.310, reduzindo-
se para US$ 3.647 em 2001.
Tabela 6: Preos Mdios da Tonelada de Palmito
Anos Mdia
1994 3.352
1995 4.853
1996 5.310
1997 5.301
1998 4.964
1999 3.975
2000 3.806
2001 3.647
Fonte: IBGE
Segundo tabela apresentada na publicao Agrianual 2002, elaborada pela FNP
Consultoria & Comrcio, o custo da produo do palmito de pupunha com irrigao, em
So Paulo, no ano de 2001, foi de R$ 4.265,00 por hectare/ano, a partir do quarto ano de
produo, enquanto que a receita obtida foi da ordem de R$ 7.790,00, proporcionando um
resultado de R$ 3.525,00 por hectare/ano. importante destacar que nestes custos esto
embutidos os gastos com irrigao, bem como o fato dos custos operacionais em So
Paulo serem mais elevados.
Segundo planilha elaborada por tcnicos da Fazendas Reunidas Vale do Juliana, o custo
anual de produo de um hectare de palmito de pupunha, com a previso de plantio de
7.200 plantas por hectare, a partir do quinto ano de operao da ordem de R$ 2.273,80,
enquanto a receita operacional est estimada em R$ 5.940,00 a partir do mesmo ano,
proporcionando um resultado da ordem de R$ 3.666,20 por hectare/ano. Quando o plantio
passa a ser de 6.172 plantas por hectare, o custo anual passa a ser de R$ 2.006,30,
enquanto a receita atinge R$ 4.226,28, proporcionando um resultado de R$ 2.219,98 por
hectare/ano.
Segundo o projeto de viabilidade econmica elaborado pela Plantar Projetos e
Consultoria, com vistas a ampliao do empreendimento Fazendas Reunidas Vale do
Juliana, o custo de produo de um hectare de palmito de pupunha est estimado em R$
Estudo de Mercado 01/02, mar. 2002.
Palmito de Pupunha




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2.572,00 anuais, enquanto a receita operacional prevista de R$ 6.720,00 por hectare,
proporcionando um resultado de R$ 4.475,00.
Embora a comparao de dados da publicao Agrianual 2002 com dados fornecidos
pela Fazendas Reunidas Vale do Juliana requeira alguma cautela
3
, pode-se verificar que
enquanto os dados apresentados na planilha elaborada por tcnicos da Fazendas Reunidas
Vale do Juliana para 7.200 plantas por hectare apresentam resultados similares queles da
publicao Agrianual 2002 (Fazendas Reunidas: R$ 3.666,20 por ha/ano e Agrianual
2002: R$ 3.525,00 por ha/ano), a estimativa apresentada para 6.172 plantas por hectare
revelou-se conservadora (Fazendas Reunidas: R$ 2.219,98 por ha/ano e Agrianual 2002:
R$ 3.525,00 por ha/ano), revelando a grande sensibilidade dos resultados ao nmero de
plantas por hectare. J o projeto de viabilidade econmica elaborado pela Plantar Projetos
e Consultoria revelou-se o mais otimista entre todos os dados analisados, uma vez que
prev resultados de R$ 4.475,00 por ha/ano, indicando a necessidade de se avaliar com
cuidado os dados de produtividade apresentados no projeto.
5 Anlise da Carteira da Desenbahia
A Desenbahia financiou at o momento um empreendimento agrcola de 260 hectares
voltado para a produo de palmito da pupunha.O financiamento foi aprovado em 1996 e
o seu saldo devedor atual de R$ 1.846.882, estando a maior parte securitizada, com
vencimento para 2020. A empresa pretende obter um novo financiamento para implantar
mais 300 hectares de palmito de pupunha, objetivando a implantao de um
empreendimento industrial em joint venture com a Expropalm.
6 Concluses
A devastao indiscriminada das florestas da Regio Leste do Brasil provocou, dentre
outras coisas, o esgotamento das reservas naturais de palmeiras produtoras de palmito
doce, notadamente da juara, provocando inclusive o fechamento de unidades industriais
beneficiadoras do produto.
Em funo da reduo substancial das reservas naturais, da preocupao em se preservar
as espcies remanescentes e da escassez do palmito no mercado, vem se procurando
viabilizar uma alternativa para a produo de palmito a partir do seu cultivo, surgindo o
palmito de pupunha como uma das melhores opes. Este produto apresenta, dentre
outras, as seguintes vantagens:
Custo relativamente baixo de implantao da lavoura;
Baixo custo de manuteno;

3
No apenas por tratarem de diferentes momentos da produo (quarto e quinto ano) mas tambm pelas
diferentes t cnicas envolvidas (especificamente a irrigao que tende a elevar os custos de produo
contabilizados pela publicao Agrianual 2002).
Estudo de Mercado 01/02, mar. 2002.
Palmito de Pupunha




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Boas caractersticas organolpticas e textura do palmito pupunha;
Maior precocidade de produo (em mdia 18 meses aps o plantio efetua-se o
primeiro corte);
Capacidade de perfilhamento, no necessitando de replantio aps o primeiro corte;
Boa produtividade de palmito por rea e com bom rendimento no processamento;
Plantio a cu aberto, no necessitando ser plantada sob mata ou capoeira;
O palmito da pupunha no escurece.
Convm ressaltar que o grande mercado norte americano ainda est pouco explorado e,
segundo informaes do Departamento de Promoo Comercial do MRE, os americanos
esto cada vez mais preocupados com uma alimentao mais saudvel, baseada em
refeies mais leves, utilizando bastante legumes, surgindo o palmito como mais uma
alternativa para enriquecer essa dieta com mais sabor e nutrientes.
Considerando o crescimento de consumo nos ltimos anos, a demanda de palmito tende a
crescer mais ainda no mercado americano. Porm, assim como a demanda tende a
crescer, a competio por esse mercado tambm vem se aquecendo. Quando o Brasil
comeou a exportar palmitos para os EUA, era lder absoluto do mercado, sem
concorrentes. Hoje em dia, a Costa Rica est aprimorando seus servios e produtos, e j
detm uma boa parcela do total de palmito importado pelos Estados Unidos. O Brasil, a
fim de no perder terreno para os competidores, deve melhorar a qualidade de seu
produto, bem como seus servios, sendo importante a associao com empresas de pases
que hoje detm a liderana na produo e industrializao de palmito cultivado, e que
possuam boa penetrao no mercado externo.
Um outro fator importante para viabilizar a expanso da produo do palmito a
existncia de poucos pases produtores, estando os mesmos concentrados na Amrica do
Sul e Central, aliado ao fato de o mercado externo exigir cada vez mais que o produto
seja originrio de cultivos, e no da extrao de florestas nativas.

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