1. O documento discute o licenciamento ambiental nas atividades de mineração no Brasil. 2. Aborda os conceitos de licenciamento ambiental e licença ambiental na legislação brasileira e analisa a sujeição da mineração ao licenciamento ambiental. 3. Também examina os estudos ambientais exigidos para a mineração e a recuperação de áreas degradadas pela extração de recursos minerais.
1. O documento discute o licenciamento ambiental nas atividades de mineração no Brasil. 2. Aborda os conceitos de licenciamento ambiental e licença ambiental na legislação brasileira e analisa a sujeição da mineração ao licenciamento ambiental. 3. Também examina os estudos ambientais exigidos para a mineração e a recuperação de áreas degradadas pela extração de recursos minerais.
1. O documento discute o licenciamento ambiental nas atividades de mineração no Brasil. 2. Aborda os conceitos de licenciamento ambiental e licença ambiental na legislação brasileira e analisa a sujeição da mineração ao licenciamento ambiental. 3. Também examina os estudos ambientais exigidos para a mineração e a recuperação de áreas degradadas pela extração de recursos minerais.
1. O documento discute o licenciamento ambiental nas atividades de mineração no Brasil. 2. Aborda os conceitos de licenciamento ambiental e licença ambiental na legislação brasileira e analisa a sujeição da mineração ao licenciamento ambiental. 3. Também examina os estudos ambientais exigidos para a mineração e a recuperação de áreas degradadas pela extração de recursos minerais.
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O licenciamento ambiental nas atividades de minerao
Emanuel Vieira Gonalves, Daniel Ferreira de Lira
Resumo: Este ensaio tem por escopo analisar as principais disposies do ordenamento jurdico ptrio acerca da pesquisa e do aproveitamento dos minerais no-metlicos, em verdade, constitui-se em reflexo terica organizada em trs artigos bibliogrficos, dentre os quais este o terceiro e ltimo, todos com o objetivo de compreender a explorao da atividade de minerao no Brasil, luz da legislao em vigor . Apesar da preocupao com a degradao ambiental mostrar-se recente na legislao, no que tange especificamente extrao mineral j h normas que contam com mais de quarenta anos que disciplinam acerca da proteo e recuperao do meio ambiente, mesmo que, na poca de sua edio, o intuito bsico fosse garantir a continuidade do empreendimento minerador. Este trabalho aborda o licenciamento da atividade minerria, realando-se, sobretudo, para que lado aponta a doutrina especializada no assunto. Palavras-chave: Legislao. Recursos Minerais. Licenciamento. Abstract: This test is to analyze the scope of main provisions of national laws foresee about the research and exploitation of non-metallic minerals, in fact, is in theoretical organized in three bibliographic articles, among which this is the third and last all with the goal of understanding the operation of mining activities in Brazil, according to the legislation in force. Despite concerns about environmental degradation show up in recent legislation, specifically in regard to mineral extraction rules already have more than forty years that discipline on the protection and restoration of the environment, even though at the time of its issue , the basic idea was to ensure continuity of the mining venture. This paper deals with the licensing of mining activity, stressing, above all, that points to the next academic writers on the subject. Keywords: Legislation. Mineral Resources. Licensing. Sumrio: Introduo; 1. Licenciamento e licena ambiental; 2. Sujeio da minerao ao licenciamento ambiental; 3. Estudos ambientais; 4. Exigibilidade do epia/rima para a minerao; 5. Participao nos resultados da lavra; 6. Recuperao da rea degradada; 7. Extrao de recursos minerais em reas de preservao permanente (APP). Consideraes finais. Referncias bibliogrficas INTRODUO Principal instrumento estatal de defesa do meio ambiente, o licenciamento ambiental consubstancia-se num processo administrativo, por meio do qual o rgo competente decidir se concede ou no a licena ambiental solicitada. Aps uma anlise dos conceitos de licenciamento ambiental trazido por inmeros doutrinadores, a exemplo de Edis Milar, Daniel Roberto Fink, Hamilton Alonso Jnior, bem como o conceito legal, Talden Farias conclui: Sendo assim, o licenciamento ambiental o processo administrativo complexo que tramita perante a instncia administrativa responsvel pela gesto ambiental, seja no mbito federal, estadual ou municipal, e que tem como objetivo assegurar a qualidade de vida da populao por meio de um controle prvio e de um continuado acompanhamento das atividades humanas capazes de gerar impactos sobre o meio ambiente. (2007, p. 26) Do breve conceito formulado no primeiro pargrafo, contata-se que licenciamento ambiental e licena ambiental so coisas distintas. De fato, o licenciamento ambiental um conjunto de atos e procedimentos que engloba, dentre outros, o pedido de autorizao para funcionamento de determinado empreendimento, a demonstrao de que o referido empreendimento atende legislao ambiental e a deciso do rgo administrativo acerca do atendimento ou no dos requisitos necessrios para a concesso da licena ambiental. J a licena o objetivo almejado pelo empreendedor, o ato administrativo pelo qual o rgo ambiental competente concede o pedido feito pelo particular, podendo, por meio desse ato de concesso, estabelecer condies, restries e medidas de controle ambiental de observncia obrigatria pelo empreendedor. 1 LICENCIAMENTO E LICENA AMBIENTAL Complementando a explicao do que seja licenciamento ambiental e licena ambiental, vejamos os conceitos veiculados pela Resoluo 237, de 19 de setembro de 1997, do CONAMA, in verbis: Art. 1. Para efeito desta Resoluo so adotadas as seguintes definies I Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o rgo ambiental competente licencia a localizao, instalao, ampliao, e a operao de empreendimentos e atividades utilizadoras dos recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradao ambiental, considerando as disposies legais e regulamentares e as normas tcnicas aplicveis ao caso. (grifos nossos) II Licena Ambiental: ato administrativo pelo qual o rgo ambiental competente estabelece condies, restries e medidas de controle ambiental que devero ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa fsica ou jurdica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradao ambiental. (grifo nosso) No h qualquer previso constitucional expressa acerca do licenciamento ambiental (FARIAS, 2007, p. 36), todavia, a unanimidade da doutrina ambientalista o considera como a principal garantia de concretizao dos ditames do art. 225 da Constituio, porquanto garante ao poder pblico a cincia das atividades que sero instaladas, bem como o poder de impor condies ao exerccio das mesmas, desde que aquelas (as condies) sejam compatveis com a defesa, preservao, ou at restaurao do meio ambiente. Ademais, h uma relao do licenciamento com todos os incisos do 1., do citado dispositivo constitucional, seja de forma mais intensa, seja de forma menos intensa, conforme lies de Talden Farias (2007, p. 36). Observe-se, outrossim, que o art. 225, 1., IV, fala diretamente sobre o estudo prvio de impacto ambiental, afirmando ser obrigatrio para a instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente. Destarte, a nossa Carta Constitucional, mesmo que indiretamente o aceita, prevendo, inclusive, alguns requisitos que devem ser exigidos no seu procedimento, como, por exemplo, o estudo prvio de impacto ambiental. Em mbito federal, o licenciamento ambiental previsto desde 1981, a partir da Lei n. 6.938/81, ou seja, desde esse ano se tornou obrigatrio para as atividades potencialmente poluidoras, contudo, foi muito pouco utilizado at o inicio da dcada de 1990. Supradita lei, denominada de Poltica Nacional do Meio Ambiente e recepcionada pela Constituio Federal, classifica o licenciamento ambiental como um de seus instrumentos (art. 9., IV). Assim, encara o licenciamento como forma de atingir os seus objetivos gerais (art. 2.) e objetivos especficos (art. 4.). Por fim, cumpre-nos salientar que s podem licenciar, ou melhor, s tm competncia para dar andamento ao procedimento de licena ambiental, os rgos componentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente- SISNAMA, ou seja, o IBAMA, os rgos estaduais e os rgos municipais do meio ambiente, conforme art. 6., da Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente, e disposies constitucionais atinentes ao caso. 2 SUJEIO DA MINERAO AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL Conforme art 1. da resoluo 237/97, do CONAMA, transcrito no tpico anterior, o licenciamento ambiental exigido para empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradao ambiental. Tal exigncia repetida no art. 2. da supracitada resoluo, bem como no art. 10, da Lei n. 6.938/81. Dessa forma, os empreendimentos e atividades que no se enquadrarem nessas normas, estaro dispensados do licenciamento ambiental, que s ser exigvel para as atividades que causem impactos negativos ao meio ambiente. No mesmo sentido so as lies de Talden Farias (2007, p. 47), para quem no toda atividade econmica que est sujeita ao licenciamento ambiental, e sim apenas aquelas capazes de causar algum tipo de poluio que no seja insignificante., uma vez que o licenciamento tem em vista a adequao das atividades ao direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, no podendo ser exigido das atividades que no o ameacem. Destaque-se que todos os conceitos utilizados na Resoluo do CONAMA e na lei que instituiu a Poltica Nacional do Meio Ambiente, ou seja, o conceito de recursos ambientais, poluio e degradao, podem ser encontrados nesta ltima. Seno vejamos: Art. 3. Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: II degradao da qualidade ambiental, a alterao adversa das caractersticas do meio ambiente; III poluio, a degradao da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a sade, a segurana e o bem-estar da populao; b) criem condies adversas s atividades sociais e econmicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condies estticas ou sanitrias do meio ambiente; e) lancem matrias ou energia em desacordo com os padres ambientais estabelecidos. V recursos ambientais: a atmosfera, as guas interiores, superficiais e subterrneas, os esturios, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Desta forma, analisados os requisitos necessrios para enquadrar a atividade como dependente de licenciamento ambiental luz dos conceitos veiculados na prpria norma, conclui-se pela necessidade ou no da exigncia de licenciamento ambiental no caso concreto. Ocorre que, em relao minerao, a anlise dos requisitos necessrios para que seja exigvel o licenciamento ambiental resta desnecessria, uma vez que a Resoluo 237/97, alm de explicitar, abstratamente, quais atividades esto sujeitas ao licenciamento, conforme visto acima, relacionou alguns empreendimentos e atividades, por meio de um rol exemplificativo (Anexo 1), para os quais o licenciamento obrigatrio, e dentre esses est a minerao, seno vejamos: Art. 2. [...] 1. Esto sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e as atividades relacionadas no Anexo 1, parte integrante desta Resoluo. ANEXO 1 ATIVIDADES OU EMPREENDIMENTOS SUJEITOS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL Extrao e tratamento de minerais - pesquisa mineral com guia de utilizao - lavra a cu aberto, inclusive de aluvio, com ou sem beneficiamento - lavra subterrnea com ou sem beneficiamento - lavra garimpeira - perfurao de poos e produo de petrleo e gs natural A despeito das opinies de Daniel Roberto Fink e Andr Camargo Horta de Macedo (2002, p. 13), para quem a Resoluo n 237/97 apenas fez uma lista onde recomendvel o licenciamento, Talden Farias afirma que o 1., art. 2, da Resoluo 237, no deixa dvidas a essa discricionariedade, quando disciplina que Esto sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e as atividades relacionadas no Anexo 1, parte integrante desta Resoluo. (2007, p. 51), concluindo que: Dessa forma, parece mais correto o entendimento de que todas as atividades elencadas no Anexo 1 da resoluo em comento esto sujeitas ao licenciamento ambiental, no existindo margem para a discricionariedade administrativa em relao a esse fato. (2007, p. 51) Neste item, conclui-se que a minerao depende de licenciamento ambiental. Veremos, adiante, se esse licenciamento depende da elaborao do estudo prvio de impacto ambiental, previsto no art. 225 da Constituio, ou se este pode ser substitudo por outros estudos ambientais. 3 ESTUDOS AMBIENTAIS A resoluo 237/97 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, conceitua estudos ambientais em seu art. 1., III, afirmando que: Estudos Ambientais: so todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados localizao, instalao, operao, e ampliao de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsdio para a anlise da licena, tais como: relatrio ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatrio ambiental preliminar, diagnstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperao de rea degradada e anlise preliminar de risco. Em sua obra, Talden Farias (2007, p. 84/85) noticia que alm desses estudos elencados na norma, existem outros que tambm so exigidos pelos rgos administrativos de meio ambiente, como por exemplo o estudo de impacto de vizinhana, o relatrio ambiental prvio e o relatrio ambiental simplificado Dentre todos os estudos ambientais o estudo prvio de impacto ambiental o mais completo, e o mais custoso para o empreendedor, s sendo exigvel em casos excepcionais, presentes determinados requisitos, conforme veremos adiante. Para Talden Farias inquestionvel que o estudo de impacto ambiental e o relatrio de impacto ambiental se destacam como a mais importante espcie de avaliao de impactos ambientais. A grande maioria da doutrina, bem como a prpria legislao, a exemplo do art. 3. da resoluo 237/97, utilizam a abreviao EIA/RIMA para resumir o termo estudo prvio de impacto ambiental e o seu respectivo relatrio de impacto ambiental. Adota-se, neste trabalho, a abreviao utilizada por Paulo Affonso Leme Machado (2008, p. 215), qual seja EPIA/RIMA, devido importncia da palavra prvio como qualificadora do estudo, outrossim, para diferenci-lo dos estudos de impacto ambiental, gnero do qual o EPIA espcie, alm de diferenci-lo dos estudo de impacto ambiental tratado pela Resoluo 1, de 23 de janeiro de 1986 do CONAMA. Foi a Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988 que introduziu o estudo prvio de impacto ambiental no ordenamento jurdico ptrio, exigindo-o para a instalao de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradao do meio ambiente. Referida exigncia ser, segundo a Carta Magna, regulamentada por lei ordinria. A Lei n. 6.938/81, conquanto no utilize o termo estudo prvio de impacto ambiental, como o usa a Constituio, a lei que regulamenta o dispositivo constitucional. O Decreto 99.274 de 6 de junho de 1990, por sua vez, que regulamenta a Lei n. 6.938/81. Em seu art. 17, 1., o Decreto 99.274, atribui ao CONAMA a competncia para fixar os critrios bsicos, segundo os quais sero exigidos estudos de impacto ambiental para fins de licenciamento, e complementa que o estudo de impacto ambiental ser realizado por tcnicos habilitados e constituir o Relatrio de Impacto Ambiental RIMA, correndo as despesas conta do proponente do projeto. Destarte, o estudo prvio de impacto ambiental tratado pelo seguinte escalonamento de normas jurdicas: Constituio, lei, decreto, e resolues do CONAMA. Destaque-se que o EPIA/RIMA o principal instrumento de defesa do meio ambiente nos processos de licenciamento que envolvam atividades potencialmente causadoras de significativo impacto ambiental, e que deve ser apresentado ao rgo fiscalizador juntamente com o requerimento de concesso de Licena Prvia (LP). 4 EXIGIBILIDADE DO EPIA/RIMA PARA A MINERAO Conforme noticia Paulo de Bessa Antunes, a exigncia de estudo prvio de impacto ambiental para toda a atividade de minerao uma questo controversa, pois h autores que entendem inconstitucional a exigncia de estudos de impacto ambiental para toda e qualquer atividade de minerao, vez que necessrio seja levado em considerao se o aproveitamento do recurso mineral especfico ou no potencialmente causador de expressivo impacto ambiental. (2008, p. 750). Os autores que defendem a exigncia do EPIA/RIMA para toda e qualquer atividade minerria o fazem com base na Resoluo 1 do CONAMA, dentre eles Paulo Affonso Leme Machado (2008, p. 225/226), que afirma que Empreendedores e Administrao Pblica tm na relao do art. 2. da Resoluo 1/86- Conama a indicao constitucional de atividades que podem provocar significativa degradao do meio ambiente (art. 225, 1, IV, da CF) e complementa: a resoluo 237/97- Conama continua a sujeitar todas as atividades especificadas na Lei 6.803/80 e nas Resolues 1/86, 11/86 e 5/87 elaborao do Estudo Prvio de Impacto Ambiental. Vejamos o que disciplina a Resoluo 1, do CONAMA: Art. 2 Depender de elaborao de estudo de impacto ambiental e respectivo relatrio de impacto ambiental RIMA, a serem submetidos aprovao do rgo estadual competente, e do IBAMA em carter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como: IX extrao de minrio, inclusive os da classe II, definidas no Cdigo de Minerao; A despeito da importncia desse posicionamento do autor de uma das obras mais completas sobre o Direito Ambiental, no podemos concordar, por alguns motivos, seno vejamos: O primeiro motivo que a Resoluo 1/86 do CONAMA anterior a Constituio de 1988, e, como foi esta ltima quem introduziu o estudo prvio de impacto ambiental no ordenamento jurdico ptrio, no h que se falar que a Resoluo 1/86 e a Constituio tratam do mesmo instituto. De fato, a prpria nomenclatura adotada pela resoluo (estudo de impacto ambiental) difere da que foi adotada pela CF/88 (estudo prvio de impacto ambiental). Ademais, o estudo da Resoluo no condicionado existncia de significativo impacto ambiental, como o o EPIA. Em segundo lugar, a Resoluo n. 237/97 no sujeita as atividades relacionadas na resoluo 1/86 ao EPIA/RIMA. Pelo contrrio, a Resoluo n. 237/97 diferencia, em seus artigos 2. e 3., as atividades que causam significativo impacto ambiental, das que causam apenas o impacto ambiental negativo, exigindo, apenas na primeira hiptese o EPIA/RIMA. Alm do mais, o pargrafo nico do art. 3., da Resoluo n. 237/97, diz que os empreendimentos que no causem esse significativo impacto ambiental, submeter-se-o a outros estudos que no o EPIA/RIMA. Desta forma, mesmo que o art. 2., da Resoluo n 1, tratasse do EPIA/RIMA, em uma interpretao bastante forada, a sua exigncia para os casos enumerados nos seus incisos estariam revogadas pela resoluo n. 237/97, notadamente pelo pargrafo nico, do art. 3. A terceira objeo exigncia de EPIA/RIMA para toda atividade de minerao de ordem constitucional, tendo em vista que toda e qualquer norma deve guardar consonncia com o mandamento constitucional do art. 225, 1, IV. Assim, s poder ser exigido o estudo prvio de impacto ambiental para as atividades potencialmente causadoras de significativa degradao ambiental, ou seja, para aquelas que se destacam, pelo grau de ofensividade ao meio ambiente, em relao s demais atividades humanas que degradam o meio ambiente, e, conforme veremos, no toda atividade de minerao que potencialmente causadora de significativo impacto ambiental. No mesmo sentido so as lies de Marcelo Gomes de Souza (1995, p. 133), que sustenta que nem toda atividade de minerao se sujeita ao EPIA/RIMA, e que para ser constitucional a exigncia de EPIA/RIMA para a atividade de minerao necessrio verificar se o aproveitamento do recurso mineral especfico ou no potencialmente causador de expressivo impacto ambiental. O fato que restou ao CONAMA, como visto no item anterior, a competncia para definir quais as atividades submeter-se-o ao EPIA/RIMA. Contudo, tal atividade do CONAMA no discricionria, no poder o referido rgo componente do SISNAMA extrapolar as determinaes do Decreto 99.274/90, da Lei 6.938/81 e, principalmente, da Constituio Federal. Pois bem, a atividade de minerao no , por si s, potencial causadora de significativo impacto ambiental. Vrios fatores concorrem para que uma atividade seja assim classificada, no sendo diferente o caso da minerao. Dentre os fatores que podem levar, em conjunto ou separadamente, uma atividade de minerao a ser considerada de significativo impacto ambiental temos a extenso da rea a ser explorada, o grau de nocividade do minrio ao organismo humano, a facilidade de disperso em caso de acidente, ou por sua explorao normal, dentre outros. Acerca desses fatores acima citados, bem como da anlise do impacto nos quatro meio ambientes, vejamos o que disse Talden Farias em sua obra Licenciamento Ambiental, Aspectos Tericos e Prticos (2007, p. 20): O impacto ambiental de que trata o licenciamento ambiental diz respeito s questes de ordem biolgica, fsica, qumica, cultural, econmica, social, esttica e sanitria. Sendo assim, alm das questes relativas ao meio ambienta natural, o licenciamento ambiental deve levar em considerao tambm as questes de ordem cultural, econmico e social. Corrobora com o posicionamento at aqui apresentado o disposto no art. 7., 1, da Resoluo 369/06 do CONAMA, que dispensa o EPIA/RIMA at em casos de explorao de recursos minerais em rea de preservao permanente, seno vejamos: Art.7[...] 1 o No caso de interveno ou supresso de vegetao em APP para a atividade de extrao de substncias minerais que no seja potencialmente causadora de significativo impacto ambiental, o rgo ambiental competente poder, mediante deciso motivada, substituir a exigncia de apresentao de EIA/RIMA pela apresentao de outros estudos ambientais previstos em legislao. (grifo nosso) Observe-se que o referido dispositivo legal permite a dispensa do EPIA/RIMA para atividade de extrao de substncia mineral que no seja potencialmente causadora de significativo impacto ambiental, admitindo, portanto, que nem toda atividade mineral de significativo impacto. No caso especfico dos minerais no-metlicos da Paraba, observa-se que muitas das substncias, aqui encontradas, fazem parte de pequenas reas explorveis, no so nocivas sade humana pela simples exposio, no tem capacidade de poluir o meio ambiente em caso de algum acidente, ou pelo uso normal, no precisam da utilizao de substancias txicas para sua extrao. o caso do granito, do feldspato, do calcrio, da turmalina, da gua marinha, etc. Nesses casos, revela-se bem mais importante o plano de recuperao da rea degradada, do que um caro e desnecessrio EPIA/RIMA, que inviabilizaria a atividade econmica. Diferente o caso do chumbo, este sim, tem capacidade de contaminar lenis freticos, prejudicar a sade dos que entram em contato com o mesmo, e, geralmente, so encontrados em grandes jazidas. Da mesma forma, as grandes minas de ferro, alumnio, etc. Para esclarecer ainda mais o que foi dito nos trs ltimos pargrafos, vejamos as lies de Raul Silva Telles do Valle, em obra organizada por Andr Lima (2002, p. 114), ipsis litteris: A explorao do ouro, por exemplo, implica no s na abertura de enormes minas, inutilizando o solo sob o qual se encontra o minrio, mas tambm na utilizao de inmeros produtos altamente txicos, como o mercrio, e que uma vez lanados ao meio ambiente vo contaminar no s o solo, mas tambm as guas superficiais e subterrneas, o que traz conseqncias bastante graves para a sade humana. Talvez sejam as reportagens ou matrias veiculadas nos programas de televiso, bem como em revistas, jornais de circulao nacional e regional, que na grande maioria dos casos mostram os grandes empreendimentos minerrios, ou os grandes desastres ocorridos, que influenciam o pensamento daqueles que entendem que toda a atividade de minerao causadora, ou potencialmente causadora, de significativo impacto ambiental, e, portanto, sujeita ao EPIA/RIMA. O fato que o EPIA/RIMA no e capaz de restabelecer o meio ambiente ao estado de inexplorado, tendo a mesma repercusso, em casos de pequeno porte e de restrito impacto ambiental, dos demais estudos. Diante dessas consideraes, depreende-se que nem sempre ser exigvel o EPIA/RIMA para o licenciamento de atividades de explorao de recursos minerais, devendo, em casos que no configurem atividade potencialmente causadora de impacto ambiental, ser substitudo por outros estudos. 5. PARTICIPAO NOS RESULTADOS DA LAVRA O proprietrio do solo onde a mina estiver sendo explorada, quando no a estiver explorando por sua conta prpria, tem assegurada uma participao nos resultados da lavra, ou seja, ter o proprietrio do solo direito a participar do resultado econmico que advm do conjunto de operaes coordenadas, objetivando o aproveitamento industrial da jazida (Fiorillo, 2008, p. 357), o que determina o art. 176, 2., da nossa Magna Carta. A Constituio, contudo, no estabelece a forma e o valor dessa participao, atribuindo lei a regulamentao destes dois aspectos mencionados. Isso posto, depende de lei ordinria a regulamentao do dispositivo constitucional, uma vez que, quando a Constituio Federal de 1988 solicita lei complementar ela o faz expressamente, conforme entendimento unnime da doutrina constitucionalista. a Lei n. 8.901, de 30 de julho de 1994, que disciplina essa participao do proprietrio do solo. Segundo essa lei, a participao ser de 50% (cinqenta por cento) do valor total devido aos Estados, Distrito Federal, Municpios e rgos da administrao direta da Unio, a ttulo de compensao financeira pela explorao de recursos minerais. Essa compensao financeira a conhecida CFEM. Desta forma, o minerador ou empresa de minerao pagar ao proprietrio do solo metade do que paga a ttulo de CFEM (compensao financeira pela explorao de recursos minerais). A supradita compensao financeira pela explorao de recursos minerais, para fins de aproveitamento econmico, ser de at 3% (trs por cento) sobre o valor do faturamento lquido resultante da venda do produto mineral, obtido aps a ltima etapa do processo de beneficiamento adotado e antes de sua transformao industrial. Ou seja, o valor mximo da compensao financeira ser de 3% (trs por cento), no havendo vedao para que a lei estabelea valores menores (art. 6. da Lei n. 7.990, de 29 de dezembro de 1989). Destaque-se que por faturamento lquido entende-se o total das receitas de vendas, excludos os tributos incidentes sobre a comercializao do produto mineral, as despesas de transporte e as de seguros. (art. 2. da Lei n. 8.901, de 13 de maro de 1990. Destaque-se, outrossim, que a Lei n. 8.901/90 estabeleceu um percentual menor do que 3% (trs) para os minerais no-metlicos, qual seja o percentual de 2% (dois por cento), conforme constata-se de uma anlise de seu art. 2., 1., e alneas. Conclui-se, portanto, que, no caso dos minerais no metlicos, o proprietrio do solo receber a quantia correspondente a 1% (um por cento) do faturamento lquido resultante da venda do produto mineral, ou seja, pagar 50% do que paga de CFEM (2% do faturamento lquido). 6. RECUPERAO DA REA DEGRADADA Um dos princpios do Direito Ambiental o da responsabilizao dos causadores de danos ambientais, princpio este que tambm pode ser chamado de princpio da recuperao da qualidade ambiental, ou da recuperao da rea degradada. Com efeito, esse princpio encontra-se expresso na Constituio da Repblica Federativa do Brasil e na Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que institui a Poltica Nacional do Meio Ambiente, quando esta estabelece, por meio de seu art. 2., que essa Poltica tem como objetivo a preservao, melhoria e a recuperao da qualidade ambiental, atendidos alguns princpios, dentre eles o da recuperao de reas degradadas, previsto no inciso VIII. No mesmo sentido so as lies de Paulo de Bessa Antunes (2008, p. 754), para quem ... o Direito Ambiental consagra o princpio geral da responsabilizao dos causadores de danos ambientais. Supracitado autor, ao comentar a disciplina constitucional acerca da recuperao da rea degradada pelas atividades de minerao, afirma que a CF/88 foi redundante (2008, p. 754), repetindo o mesmo contedo nos dispositivos constitucionais que transcrevemos abaixo: Art. 225. [...] 2 Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a soluo tcnica exigida pelo rgo pblico competente, na forma da lei. 3 As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitaro os infratores, pessoas fsicas ou jurdicas, a sanes penais e administrativas, independentemente da obrigao de reparar os danos causados. [...] Para Silvia Helena Serra (2000, p. 28), esse princpio significa que, na minerao, se a recuperao uma exigncia, a modificao do status quoambiental uma necessidade. Em outras palavras, inevitvel a modificao do meio ambiente, seja positivamente ou negativamente, para a realizao da atividade de minerao. Na maioria dos casos, essa modificao negativa, ou seja, causa a degradao do meio ambiente, todavia, h a possibilidade de haver uma alterao positiva para o meio ambiente. Cite-se, como exemplo hipottico, a explorao de determinado mineral no-metlico, que, aps o seu esgotamento, tenha deixado uma enorme cratera transformada em lago ou aude, em regio bastante seca, onde a populao sofre por conta da baixa umidade do ar, e da falta de gua. Ora, o acumulo de gua poder auxiliar no combate aos dois problemas descritos, e, ainda, combater a fome por meio da pesca e da agricultura irrigada, alm de propiciar o reaparecimento da vegetao nativa devastada pela antiga maneira de agricultura familiar que, devido a falta de gua, necessitou ocupar e devastar uma rea bastante extensa, no raro abandonada nas pocas mais secas. Mas o que seria essa degradao ambiental que solicita a recuperao? A degradao da qualidade ambiental , como se deixou transparecer acima, a modificao negativa do meio ambiente. Para a Lei n. 6.938/81, a alterao adversa das caractersticas do meio ambiente. Por sua vez, o Decreto n. 97.632/89, que regulamenta a Lei n. 6.938/81 (Poltica Nacional do Meio Ambiente), afirma que: Art. 2. Para efeito deste decreto so considerados como degradao os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas das suas propriedades, tais como a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais. Dos conceitos acima expostos, vislumbra-se a necessidade da ocorrncia de dano ao meio ambiente para a caracterizao da degradao da qualidade ambiental. Paulo de Bessa Antunes (2008, p. 755), em anlise dos dispositivos legais em comento, acrescenta uma caracterstica ao dano, qual seja a de ser esse dano proibido, porquanto, para o autor, a expresso alterao adversa veiculada pela Lei n. 6.938/81, s pode representar alterao proibida. Com base nesse raciocnio, Paulo de Bessa Antunes afirma que no se pode utilizar a designao degradao para as atividades minerarias, desde que regularmente realizadas e praticadas segundo os ditames do licenciamento. Vejamos o seu raciocnio na ntegra: Penso que a situao que est colocada interessante, pois, de fato, no se poderia adotar a designao degradao para as atividades minerarias, regularmente realizadas e praticadas segundo os ditames dos licenciamentos, inclusive o ambiental. Assim porque, nos termos da lei, a degradao uma alterao adversa do meio ambiente e, portanto, proibida. Analisando-se a questo sob outro prisma, observa-se que o legislador, diante das importantes repercusses econmicas e sociais das atividades minerarias, estabeleceu um critrio diferenciado para a prtica de tais atividades. Embora tenha exigido que as mesmas faam com respeito legislao de proteo do meio ambiente e mediante critrios bastante rgidos de segurana, admitiu que, durante a fase de extrao, so inevitveis os resultados negativos sobre o meio ambiente. (2008, p. 755) Ressalte-se que o direito ambiental no exige, como regra, a repristinao do meio ambiente quando estamos diante da atividade minerria, ou seja, no exige que a rea degradada seja recomposta ao estado em que se encontrava antes da explorao dos recursos minerais. Foi dito, no pargrafo anterior, que no se exige a repristinao como regra, uma vez que se ela puder ser alcanada, essa ser a meta. Contudo, sobremaneira difcil, qui impossvel, imaginar um caso de atividade minerria que, aps a retirada do minrio, possa recompor o meio ambiente ao estado idntico ao preexistente. Corrobora com o entendimento acima esposado, as lies de Paulo de Bessa Antunes, quando, ao tratar de um caso hipottico de extrao de recursos minerais, afirma em sua obra (2008, p. 755): Bem se v que, no caso, no se poder falar em repristinao ambiental ante a total impossibilidade, pelo menos em nvel de nossa melhor tecnologia atualmente existente. A recuperao dos danos ambientais causados pela minerao , precipuamente, uma atividade de compensao, pois raramente possvel o retorno, ao status quo ante, de um local que tenha sido submetido atividade de minerao. Observe-se que o autor deixa transparecer que, se a tecnologia futura for capaz de promover o retorno ao status quo ante, est ser a meta a ser alcanada. Reala, contudo, a rara possibilidade disso ocorrer. Por derradeiro, vejamos o momento da recuperao da rea degradada. Paulo Affonso Leme Machado (2008, p. 695) afirma que a recuperao da rea degradada deve ser feita concomitantemente explorao, nas seguintes palavras: O dever de evitar-se a poluio e, no se pode negar, o perigo de uma empresa mineradora extinguir- se ou at ficar insolvente aps a explorao de uma mina, obriga a que a atividade de recuperao seja realizada ao mesmo tempo em que se faz a explorao dos recursos minerais. Por sua vez, Silvia Helena Serra (2000, p. 28), de maneira acertada, prev uma exceo a essa regra, que pode ser caracterizada com a nota da generalidade, seno vejamos: O legislador, ao estabelecer, no artigo 225, 2, da Constituio da Repblica, que aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a soluo tcnica exigida pelo rgo pblico competente, na forma da lei autorizou que o minerador recuperasse a rea degradada ao final do empreendimento, quando impossvel faz-lo no decorrer dele. Infere-se, das palavras da autora, que a regra geral a recuperao concomitantemente explorao mineral. A exceo a essa regra seria a impossibilidade ftica dessa recuperao simultnea. Acertado o posicionamento da autora, uma vez que nem sempre possvel a recuperao total antes do final da atividade minerria. Acrescente-se aos dois posicionamentos doutrinrios acima expostos, o que poderamos chamar de recuperao parcial simultnea. Ou seja, em um caso prtico, onde no seria possvel a recuperao mxima do meio ambiente degradado de maneira simultnea explorao mineral, poderia ser aplicada uma recuperao parcial simultnea, ou seja, medidas menores do que as que sero exigidas ao final do empreendimento, mas que, diante da impossibilidade de aplicao dessas medidas finais/mximas concomitantemente explorao mineral, poderiam substitu-las temporariamente. 7. EXTRAO DE RECURSOS MINERAIS EM REAS DE PRESERVAO PERMANENTE (APP) A Lei n. 4.771, de 15 de setembro de 1965, conhecida como Cdigo Florestal, estabeleceu, em seu art. 1., 2, II, o que se entende por rea de preservao permanente, vejamos: 2 Para os efeitos deste Cdigo, entende-se por: II rea de preservao permanente: rea protegida nos termos dos arts. 2 e 3 desta Lei, coberta ou no por vegetao nativa, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populaes humanas. Observe-se que, pela redao da lei, a proteo no se destina exclusivamente vegetao. Analisando o inciso, Marcelo Gomes de Souza e Ricardo Carneiro (2004, p. 398) afirmam que o status de preservao permanente independe da existncia fsica de florestas e demais formas de vegetao natural, sepultando-se, assim, antiga controvrsia estabelecida na matria. O art. 2. do Cdigo Florestal trata das hipteses de reas de preservao permanente pelo s efeito atribudo pelo mesmo, com por exemplo os trinta metros dos dois lados de um rio com dez metros de largura, os topos de morros, etc. Por sua vez, o art. 3. possibilita ao Poder Pblico declarar reas, no enquadradas no art. 2., que considere de preservao permanente, desde que ela se revista de alguma das caractersticas das alneas desse art. 3., como destinar-se a atenuar a eroso das terras, fixar as dunas, dentre outras hipteses. O permissivo constitucional para que o Estado estabelea essas reas de especial proteo, seja por meio do Poder Legislativo (art. 2.) seja por meio do Poder Executivo (art. 3.), o art. 225, 1., III, que disciplina que incumbe ao Poder Pblico definir, em todas as unidades da Federao, espaos territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alterao e a supresso permitidas somente atravs de lei, vedada qualquer utilizao que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteo. Ressalte-se, de logo, que a despeito da nomenclatura, as reas de preservao permanente no se destinam, em todo e qualquer caso, a intocabilidade, conforme se depreende da anlise do art. 225, 1, III, da Constituio Federal, bem como das normas infraconstitucionais que sero estudadas nos prximos pargrafos. Antes do ano de 2001, especificamente antes da edio da Medida Provisria 2.166-67, havia grande discusso doutrinria acerca da possibilidade de interveno nas reas de preservao permanente por fora de disposio legal, ou seja, os casos do art. 2., do Cdigo Florestal. Jos Afonso da Silva (2000, p. 163), entendia, acertadamente, que, devido disposio topogrfica do permissivo de interveno, que figurava no 1., do art. 3. do Cdigo Florestal, s seria aplicvel aos casos do art. 3., ou seja, para as reas de preservao permanente estatudas por ato da Administrao Pblica. Marcelo Gomes de Souza e Ricardo Carneiro (2004, p. 4000), lembram que, na prtica, essa vertente da posio topogrfica do permissivo legal jamais prevaleceu totalmente, vindo os rgos ambientais, reiteradamente, a autorizarem a supresso de vegetao tambm nas reas de preservao permanente elencadas no art. 2. do Cdigo Florestal. Outrossim, esses autores defendiam que no havia lgica que o Cdigo tivesse dado maior importncia a uma espcie de APP do que a outra. Tal celeuma foi solucionada com a Medida Provisria 2.166-67, que deu nova redao ao art. 4. do Cdigo Florestal, para permitir a interveno nas duas espcies de reas de preservao permanente acima estudas, seno vejamos: Art. 4. A supresso de vegetao em rea de preservao permanente somente poder ser autorizada em caso de utilidade pblica ou de interesse social, devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo prprio, quando inexistir alternativa tcnica e locacional ao empreendimento proposto. O artigo acima transcrito faz duas exigncias para que possa haver interveno nas reas de preservao permanente. A primeira exigncia que a atividade deve ser de utilidade pblica ou de interesse social; a segunda, inexistir alternativa tcnica e locacional ao empreendimento. H um nico caso, previsto pelo prprio art. 4., em que no h necessidade de que o empreendimento cumpra qualquer desses requisitos acima expostos. Conforme estabelece o 3. do artigo em foco, o rgo ambiental competente poder autorizar a supresso eventual e de baixo impacto ambiental da vegetao em rea de preservao permanente. Solucionada a questo acerca da possibilidade de interveno nas reas de preservao permanente, resta, agora, saber se a minerao pode possuir esses dois requisitos exigidos pelo caput do art. 4., ou se pode enquadrar-se no seu pargrafo terceiro. Quanto aos casos de utilidade pblica ou interesse social, o prprio Cdigo Florestal os especifica em seu art. 1., 2., IV e V, e respectivas alneas. Pois bem, no inciso IV que trata da utilidade pblica, e no inciso V que trata do interesse social no h meno minerao, contudo, nos dois incisos h alneas que do a permisso para que o CONAMA, por meio de resoluo, estabelea casos que entenda ser de utilidade pblica ou interesse social. O CONAMA, por meio da Resoluo 369 de 2006, definiu os casos excepcionais em que o rgo ambiental competente pode autorizar a interveno ou supresso de vegetao em rea de preservao permanente para implantao de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pblica ou interesse social, ou para a realizao de aes consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental. O art. 2., I, c, dispe que de utilidade pblica as atividades de pesquisa e extrao de substncia minerais, outorgadas pela autoridade competente, exceto areia, argila, saibro e cascalho. Essas excees (areia, argila, saibro e cascalho), so casos de interesse social, conforme inciso II, d, do mesmo art. 2.. Destarte, a minerao atende ao primeiro requisito do Cdigo de Minerao e da Resoluo do CONAMA. O segundo requisito, que se consubstancia na inexistncia de alternativa tcnica para a interveno na vegetao e locacional para extrao do minrio tambm caracterstica da minerao, uma vez que para esse ramo de atividade no se desenvolve sem, no mnimo a abertura de estradas de acesso e construo dos locais de descanso dos funcionrios, o que requer a interveno na vegetao nativa, ademais, a minerao caracteriza-se pela rigidez locacional, ou seja, s pode ser explorada onde se encontre o minrio, no h outra escolha. Por ltimo, merecem comentrio as disposies da Resoluo 369/06 acerca do licenciamento ambiental da minerao em APP, uma vez que, em harmonia com a Constituio Federal, reconheceu que nem todos os casos de minerao so potencialmente causadores de significativo impacto ambiental, conforme defendido neste trabalho monogrfico a despeito das mais respeitadas opinies doutrinrias em contrrio. Como no poderia ser diferente, a minerao em rea de preservao permanente fica sujeita ao licenciamento ambiental, onde poder ser exigido o EPIA/RIMA ou algum outro estudo ambiental, a depender de o caso concreto ser hiptese de atividade causadora ou potencialmente causadora de significativo impacto ambiental, ou simplesmente de impacto ambiental sem essa caracterstica de expressividade. Esse o entendimento que emana da anlise do art. 7., caput e 1., da Resoluo 369/06. Art. 7. A interveno ou supresso de vegetao em APP para a extrao de substncias minerais, observado o disposto na Seo I desta Resoluo, fica sujeita apresentao de Estudo Prvio de Impacto Ambiental EIA e respectivo Relatrio de Impacto sobe o Meio Ambiente RIMA no processo de licenciamento ambiental, bem como outras exigncias, entre as quais: 1 o No caso de interveno ou supresso de vegetao em APP para aatividade de extrao de substncias minerais que no seja potencialmente causadora de significativo impacto ambiental, o rgo ambiental competente poder, mediante deciso motivada, substituir a exigncia de apresentao de EIA/RIMA pela apresentao de outros estudos ambientais previstos em legislao. (grifos nossos) CONSIDERAES FINAIS Concluindo este primeiro ensaio sobre a minerao no Brasil e, portanto, do estudo do ordenamento jurdico ptrio sobre a pesquisa e o aproveitamento dos recursos minerais, percebe-se que h uma grande quantidade de normas atinentes ao tema, normas essas que, nem sempre, guardam compatibilidade entre si. Da exsurge a grande importncia da anlise da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, norma com a qual todas as outras devem compatibilizar-se. No que toca ao licenciamento ambiental, verificou-se que consiste no principal instrumento estatal de defesa do meio ambiente, e que licenciamento (processo administrativo) no se confunde com licena (ato administrativo), sendo esta a finalidade do empreendedor ao dar incio ao processo de licenciamento. Ainda neste ponto, concluiu-se que a minerao no causa, exclusivamente, impactos ambientais negativos, devendo ser sopesados esses com os impactos ambientais positivos quando o rgo ambiental competente analisar o pedido de licenciamento protocolado pelo minerador. Ademais, a anlise dos impactos no deve restringir-se ao meio ambiente natural, sendo indispensvel, ainda, a apreciao do meio ambiente cultural, do trabalho e artificial. Constatou-se, fundamentado na Resoluo n. 237/97 do CONAMA e nos posicionamentos doutrinrios mais abalizados, que toda atividade de minerao se sujeita ao licenciamento ambiental. Tal Resoluo cria a presuno de que toda atividade de minerao causadora de impacto ambiental negativo, ou seja, degradao ambiental. Entretanto, nem todo processo administrativo de licenciamento ambiental de minerao requisita a elaborao do estudo prvio de impacto ambiental- EPIA, uma vez que nem sempre causadora ou potencialmente causadora de significativo impacto ambiental, sendo inconstitucional qualquer norma que diga o contrrio. A Resoluo n. 369/06 do CONAMA corrobora com esse entendimento. Foi visto, ainda, que a participao do proprietrio do solo nos resultados da lavra de minerais no- metlicos corresponde a 1% (um por cento) do faturamento lquido resultante da venda do produto mineral. Quanto recuperao da rea degradada, concluiu-se que no exigido a repristinao ambiental, e que, a depender do caso, essa recuperao pode ser concomitante ou posterior ao empreendimento.
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Informaes Sobre os Autores Emanuel Vieira Gonalves Bacharel em Direito pela UEPB especialista em Direito Tributrio pela Universidade do Sul de Santa Catarina Especialista em Gesto Ambiental da Indstria pela UEPB Advogado scio da LLG Advocacia empresrio Conselheiro do COPAM/PB Conselho de Proteo Ambiental do Estado da Paraba e Consultor Ambiental da Federao das Indstrias dos Estado da Paraba Daniel Ferreira de Lira Bacharel em Direito pela Universidade Estadual da Paraba, Especialista em Direito Processual Civil e Direito Tributrio pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Mestrando em Desenvolvimento pela UEPB/UFCG, professor das disciplinas de Direito Processual Civil e Teoria Geral do Processo do Centro de Ensino Superior Reinaldo Ramos (CESREI), professor da Disciplina de Direito Processual Civil e Juizados Especiais da UNESC Faculdades, professor de cursinhos preparatrios para concursos e para o Exame da OAB . Advogado Militante e Palestrante
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Informaes Bibliogrficas
GONALVES, Emanuel Vieira; LIRA, Daniel Ferreira de. O licenciamento ambiental nas atividades de minerao. In: mbito Jurdico, Rio Grande, XV, n. 102, jul 2012. Disponvel em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php/? n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12009&revista_caderno=5>. Acesso em set 2014.
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