Sacramentos Catequese
Sacramentos Catequese
Sacramentos Catequese
Carlos Cabecinhas
Elemento fundamental e constitutivo da vida crist, os sacramentos assumem um
papel especial na catequese, pois esta pretende ser precisamente uma iniciao das
crianas e adolescentes a essa vida crist.
Os sacramentos, o credo, o Pai nosso e os mandamentos eram os pilares da
iniciao crist dos adultos. Muito naturalmente, so tambm os contedos fundamentais
da catequese da infncia e adolescncia. Quanto aos sacramentos, vo surgindo ao longo
o itinerrio catequtico, nos seus 10 anos. Claro que, no 2 Ano se insiste sobretudo na
Eucaristia e na Reconciliao, pois a ocasio de preparar as crianas para a participao
nesses sacramentos. De igual modo, o 10 Ano d particular ateno Confirmao, em
ordem sua celebrao. H, contudo, dois anos da catequese que apresentam o
conjunto dos sete sacramentos de forma sistemtica: o 3 e o 10 Ano.
Vamos por partes. Daremos especial relevo aos sacramentos da iniciao crist,
pela sua especial relao com o sentido da prpria catequese da infncia e adolescncia.
Depois, veremos os outros sacramentos. Por fim, uma palavra sobre outras celebraes
previstas nos catecismos e sobre o ritmo do ano litrgico na catequese.
conjunta
dos
chamados
Sacramentos
da
iniciao.
Estes
o que se recebe
L.-M. CHAUVET, Les Sacrements de linitiation chrtienne, em J. GELINEAU (dir.), Dans vos
assembles, Descle, 21998, 227.
IV),
aos
quais
dever
ser
proposto
um
itinerrio
inspirado
no
Cf. J. RATZINGER, Teora de los princpios teolgicos, Herder, Barcelona 1986, 40.
Cf. S.N.E.C., Jesus gosta de mim Guia do catequista, Lisboa 1991, 159.
O sentido destas trs festas. Desde o tempo dos Apstolos que tornar-se cristo
programa que se processa atravs de um itinerrio e de uma iniciao em diversas fases.
A Igreja dos primeiros sculos concedeu uma importncia excepcional a este itinerrio de
iniciao crist, e instituiu o catecumenado como caminho habitual para tornar-se
cristo. Este itinerrio era composto de vrias etapas e possibilitava uma autntica
iniciao ao Evangelho, vida crist e vivncia litrgica. A base e fundamento deste
itinerrio era a Palavra de Deus. Por isso, simbolicamente, eram solene e publicamente
entregues aos catecmenos os quatro Evangelhos: os bispo fazia a apresentao e
introduo a cada um dos Evangelhos e confiava-os simbolicamente queles que queriam
ser baptizados. Tambm no actual RICA esta entrega est prevista na celebrao de
entrada no catecumenado. Os outros pilares ou elementos fundamentais desta
catequese so, segundo a mais antiga tradio da Igreja: o Credo ou Smbolo da f, os
mandamentos, os sacramentos e o Pai Nosso. Destes elementos, quer o Credo, quer o
Pai Nosso so objecto de uma celebrao especial: so entregues solenemente aos
catecmenos. A entrega (traditio) realizava-se da seguinte forma: estando a comunidade
reunida, o bispo rezava o Pai Nosso, explicava o significado de cada uma das suas
afirmaes e conclua, convidando os que iam ser baptizados a aprender de cor a orao
e, sobretudo, a viv-la. Uma semana depois, os candidatos aos Baptismo devolviam a
orao do Pai Nosso comunidade: rezavam (mostrando ter aprendido j a orao)
diante da comunidade. Ora, foi este rito que esteve na base desta festa do Pai Nosso. O
mesmo acontecia com o Credo: o bispo entregava o Credo ou smbolo da f aos
catecmenos, que o devolviam (recitavam de cor) posteriormente. Ser esta a origem
da actual entrega do Credo e da Profisso de F nos catecismo (embora, de facto, o
catecismo no o diga explicitamente).
Em relao com o Baptismo e a vivncia baptismal se deve ver e situar tambm a
chamada Festa da Luz. Foi pelo nosso Baptismo que nos tornmos filhos da luz,
como nos diz S. Paulo:
Todos vs sois filhos de Deus mediante a f em Jesus Cristo. Pois todos os
que fostes baptizados em Cristo estais revestidos de Cristo (Gal 3, 26-27).
Quando fomos baptizados, revestimo-nos de Cristo, luz da vida. Tornmo-nos filhos de
Deus e filhos da luz. Esta celebrao um convite a experimentar Cristo como nossa
luz: no Baptismo fez-nos homens novos, novas criaturas, deu-nos a sua vida,
revestiu-nos da sua luz. Por este motivo, um dos nomes mais antigos e tradicionais do
Baptismo iluminao. Por este motivo ainda, no dia do nosso Baptismo, foi acesa uma
vela, que os nossos pais ou padrinhos seguraram em nosso nome e que vs segurastes
para os vossos filhos. Aos adultos, quando so baptizados, -lhes dito, quando recebem
a vela do Baptismo acesa: Agora sois luz de Cristo. Caminhai sempre como filhos da luz.
Permanecei firmes na f... No caso do Baptismo de crianas, aos pais que confiado o
encargo de velar por essa luz.
Na
celebrao,
as
crianas
experimentam
realidade
das
trevas,
para
descobrirem, logo de seguida, Cristo como Luz da vida; descobrem que, pelo Baptismo,
tambm eles receberam essa luz e que devem agora viver como filhos da luz. No dia
do seu Baptismo, foram pais que receberam, por elas, o smbolo dessa luz, a vela acesa.
Agora, na celebrao, so eles a transmitir aos pais essa luz de Cristo.
2. O Baptismo
2.1. Uma estrutura celebrativa comum aos diferentes itinerrios
Os diferentes itinerrios possveis para a celebrao do Baptismo, agora
apresentados, podem esquematicamente reduzir-se a dois: o Baptismo de adultos e o de
crianas. Apesar de itinerrios distintos, h uma estrutura comum, que importa destacar.
O primeiro elemento o acolhimento e entrada na Igreja. A Igreja acolhe e
acompanha aqueles que querem tornar-se cristos. No caso de adultos, o acolhimento
segue-se ao anncio da Palavra e converso, quando o candidato admitido ao
catecumenado, e feito diante da comunidade, pela signao na testa. Este acolhimento
vai sendo renovado pela Igreja, em cada etapa, at celebrao dos Sacramentos da
iniciao crist. No caso das crianas, este rito de acolhimento, com a signao, o
primeiro momento da celebrao do Baptismo.
Um segundo elemento a escuta da Palavra de Deus. claro que a entrada no
catecumenado pressupe j a escuta do primeiro anncio e a converso. Porm, todo o
itinerrio de iniciao ser marcado pela escuta da Palavra de Deus: antes da entrega
dos Evangelhos, antes do chamamento e eleio dos catecmenos, antes da celebrao
do Baptismo; o RICA prev ainda vrias celebraes da Palavra para o tempo do
catecumenado. No caso do Baptismo das crianas o segundo momento da celebrao,
depois do acolhimento.
Um outro elemento so os exorcismos. Realizados na celebrao dos escrutnios,
no caso dos adultos, ou por meio de uma prece de intercesso, no decorrer da prpria
celebrao do Baptismo, no caso das crianas, os exorcismos indicam que toda a vida
crist um combate contra o mal, a exemplo de Cristo, para o qual precisamos da ajuda
divina.
O rito do Effetha e a uno com o leo dos catecmenos normalmente tm
lugar, no caso dos adultos, no decorrer do ltimo perodo do catecumenado; no caso das
crianas, no decorrer da prpria celebrao.
Quanto aos restantes elementos, quer se trate de adultos quer de crianas, tm
lugar na celebrao do Baptismo, pela mesma ordem.
3. RITO BAPTIMAL
Dilogo inicial
Bno da gua
Sinal da Cruz
Renuncia e Profisso de F
Baptismo
Uno com o Crisma
Imposio da veste branca
2. LITURGIA DA PALAVRA
Leituras bblicas
Effetha
Homilia
4. RITO CONCLUSIVO
Orao dominical
Bno e despedida
Cf. Catecismo 1234-1245; L.-M. CHAUVET, Les sacrements de linitiation chrtienne, em Dans
vos assembles. Manuel de pastorale liturgique, dir. J. Gelineau, Descle, s.l. 1998, 229-238.
com a invocao dos Santos (uma breve ladainha) e termina com uma orao de
exorcismo.
Exorcismo e uno pr-baptismal. Porque o Baptismo significa a libertao do
pecado e do demnio (...) pronuncia-se sobre o candidato um exorcismo (Catecismo
1237). Essa orao de exorcismo exprime a fragilidade da condio humana, a
necessidade de salvao, da ajuda de Deus na luta contra o mal. A esta orao segue-se
a uno com o leo dos catecmenos. Esta uno no peito significa que os que vo ser
baptizados recebem a fora de Cristo na luta contra o mal. (Em vez da uno, por
motivos graves, o Ritual prev que possa optar-se pelo gesto de imposio das mos: cf.
n. 51.88.115).
C. No baptistrio. Segue-se a procisso para o Baptistrio, onde se realizam os
momentos essenciais do Baptismo.
Bno da gua. A gua baptismal consagrada por uma orao de epiclese. A
Igreja pede a Deus que, por seu Filho, o poder do Esprito Santo desa a esta gua, para
que os que nela forem baptizados nasam da gua e do Esprito (Jo 3, 5) (Catecismo
1238). Nesta orao de bno, que prpria da celebrao do Baptismo e da Viglia
Pascal, a gua aparece como smbolo de lavagem ou purificao, smbolo de morte e
smbolo de vida.
Renncia a Satans e Profisso de F. Segue-se a renncia a Satans e a
profisso de f. No se trata de duas coisas distintas, mas de dois momentos de um acto
nico. So como que o verso e o reverso de uma mesma adeso a Jesus Cristo. Sendo o
Baptismo o sacramento da f a ttulo muito especial, este momento da celebrao
adquire grande importncia. De facto, a Igreja sempre considerou a profisso de f um
momento essencial do Baptismo. Esta profisso de f dialogada. No caso do Baptismo
de crianas, dirigida aos pais e padrinhos, primeiros responsveis pela educao da f
das crianas; a assembleia associa-se a esta profisso de f pelo Amen final.
Baptismo. Segue-se o rito essencial do sacramento: o baptismo propriamente
dito, que significa e realiza a morte para o pecado e a entrada na vida do Santssima
Trindade, atravs da configurao com o mistrio pascal de Cristo (Catecismo, n.
1239). O Baptismo por imerso continua a ser o mais significativo (cf. Catecismo 1239),
mas, por motivos prticos, o modo mais habitual de baptizar consiste em derramar a
gua sobre a cabea daquele que baptizado. No Baptismo de crianas, imediatamente
antes deste gesto, h uma pergunta dirigida aos pais e que sublinha a originalidade do
Baptismo das crianas: Quereis, portanto que N. receba o Baptismo na f da Igreja, que
todos, convosco, acabmos de professar? As crianas so baptizadas na f da Igreja;
esta pergunta acentua precisamente esse aspecto. A frmula sublinha que o Baptismo
aco trinitria: Eu te baptizo em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo. Atrs
disse-se que os Sacramentos so sempre e primeiramente aco de Deus. o Pai que
toma a iniciativa, salva e transforma o Baptizado, por aco do Esprito derramado sobre
o Baptizado; Cristo o ministro principal, quem baptiza (SC 7: quando algum baptiza,
o prprio Cristo que baptiza); o Esprito transforma e faz viver.
3,
relatando
transfigurao
do
Senhor:
As
suas
vestes
tornaram-se
No
se
pode
permitir
Baptismo
indiscriminado
de
crianas.
Cf. M. AUG, Liniziazione cristiana. Battesimo e Confermazione, LAS, Roma 2004, 233-244.
prefervel protelar o baptismo conforme a condio, a disposio e tambm conforme a idade de
cada qual, sobretudo quando se trata de crianas. (...) Se compreendssemos a importncia do baptismo,
temeramos mais a recepo apressada do que o protelamento (TERTULIANO, De Baptismo, 18, 4.6: AL 640).
6
So cada vez mais frequentes estas situaes, pelo que necessrio que as
comunidades estejam atentas a estas situaes e saibam criar o ambiente propcio a este
itinerrio de iniciao crist.
particularmente
significativo
que
termo
Confirmao
seja
sempre
Deus (e por isso Sacramento). Dom que importa acolher e valorizar; mas dom
recebido gratuitamente.
A Confirmao tem as suas razes bblicas precisamente no acontecimento do
Pentecostes. Os apstolos, cheios do Esprito Santo, os primeiros a receber o grande
dom do Ressuscitado, so tambm aqueles que comunicam esse mesmo dom do Esprito
pela imposio das mos, para completar a graa do Baptismo (Catecismo, 1288).
neste acontecimento do Pentecostes que a Confirmao encontra o seu carcter mais
especfico. A Confirmao o Pentecostes de cada cristo: por este Sacramento,
recebem hoje os cristos a plenitude do dom do mesmo Esprito Santo que os apstolos
receberam naquele dia. O Ritual da Confirmao afirma isto mesmo: Os baptizados
prosseguem o itinerrio de iniciao crist pelo sacramento da Confirmao. Por ele
recebem o Esprito Santo que no dia de Pentecostes o Senhor enviou sobre os apstolos
(n. 1). O gesto de imposio das mos, abundantemente testemunhado nos escritos do
NT, tinha, entre outros, o significado de infuso do Esprito Santo. Por isso, a imposio
das mos justificadamente reconhecida, pela Tradio catlica, como a origem do
sacramento da Confirmao que, de certo modo, perpetua na Igreja a graa do
Pentecostes (Catecismo, 1288).
3.1. A celebrao da Confirmao
Quanto celebrao da Confirmao, propriamente dita, insere-se normalmente
numa solene celebrao eucarstica. A celebrao consta, depois da homilia, da
renovao das promessas baptismais, da imposio das mos e da crismao.
Integra-se numa Eucaristia festiva. A celebrao da Confirmao integra-se
normalmente numa Eucaristia festiva em que a comunidade se rene volta dos
confirmandos, manifestando a ligao mais forte destes vida e misso da Igreja. Por
este motivo, o os Preliminares do Ritual chama a ateno para o carcter festivo e solene
que deve caracterizar a celebrao (n. 4). Alm disso, esta integrao na Eucaristia
sublinha a que a Confirmao , de facto, um Sacramento da iniciao crist: A
Confirmao faz-se, normalmente, dentro da Missa, para que se torne mais clara a
conexo fundamental deste Sacramento com toda a iniciao crist, que atinge o seu
ponto culminante na comunho do Corpo e do Sangue de Cristo. Deste modo, os
confirmados participam na Eucaristia, com a qual se completa a sua iniciao crist
(Ritual da Confirmao, 13).
A celebrao segue o ritmo normal das celebraes dominicais. Depois das
leituras, os confirmandos so apresentados ao bispo e comunidade. Segue-se a
homilia.
Profisso de f. Depois da homilia, aqueles que vo ser confirmados so
convidados a fazer a renovao das promessas baptismais. Esta renovao faz-se pela
profisso de f baptismal. Assim se evidencia claramente que a Confirmao se situa na
continuao do Baptismo (Catecismo, 1298).
do
sacramento.
(Constituio
Apostlica
Divinae
da
Infncia
Adolescncia
para
vermos
como
quando
aparece
apstolos fizeram desse mesmo Esprito nas suas vidas. Esta experincia conduz
Confirmao, apresentada como sacramento do Esprito Santo, da configurao mais
perfeita com Cristo, do compromisso eclesial e do testemunho cristo no mundo. A
catequese pretende no s instruir os adolescentes sobre o sacramento da Confirmao,
mas tambm lev-los ao desejo de viver segundo o Esprito e a dar cada dia mais frutos,
os frutos do Esprito Santo. Tambm merece referncia a ltima catequese: catequese 18
Celebrao do envio. Por ocasio da celebrao do Pentecostes, o grupo convidado,
como etapa importante da sua caminhada de f, a fazer uma celebrao do envio, na
presena dos pais e da comunidade crist. O envio, isto , a participao na misso da
Igreja, aparece claramente unido ao envio do Esprito Santo no Pentecostes. no
catecismo do 10 Ano que a Confirmao mais aprofundada e no sem motivo que
comea pelo dom do Esprito Santo e s depois se foca o compromisso cristo, como sua
consequncia. Nunca ser demais sublinhar este aspecto: a Confirmao, como
sacramento que , sempre aco de Deus! O nosso compromisso existe na
Confirmao, como nos outros sacramentos, como consequncia, conformidade e
coerncia com o dom recebido.
A Confirmao celebra-se habitualmente no final deste itinerrio catequtico,
mas no obrigatoriamente. O que significa que pode adiar-se para mais tarde a sua
celebrao, quer por impossibilidade do bispo, quer por convenincia pastoral, por se
considerar ser necessrio ainda algum tempo de catequese mais intensa e de
amadurecimento da f por parte dos adolescentes.
4. Penitncia
A Penitncia e Reconciliao no faz parte dos sacramentos da iniciao crist,
apesar de, habitualmente, ser celebrada antes da primeira comunho (primeira
participao plena na Eucaristia).
O Cdigo de Direito Cannico, c. 913 1 estabelece, como condies para que
uma criana possa comungar, o uso da razo (sem definir a idade exacta) e a preparao
devida. O c. 914 explicita que, nesse devida preparao, se inclui a prvia confisso
sacramental. Esta exigncia corre, por vezes, o risco de gerar mal-entendidos em
relao ao Sacramento da Penitncia: no nos confessamos para comungar! A
Reconciliao sacramental restabelecimento de uma relao fragilizada, entre o cristo
e Deus. Para evitar essa reduo da Penitncia a uma preparao prvia para a
comunho, parece-me importante no juntar demasiado a primeira confisso primeira
comunho. Vejamos ento este Sacramento para, depois, verificarmos a sua presena
nos actuais catecismos e deixarmos algumas orientaes pedaggicas...
A histria da salvao, no fundo, outra coisa no seno a histria das contnuas
intervenes do Senhor para arrancar o homem do seu pecado. Toda a histria da
salvao uma longa histria de Deus que em busca do homem e de infidelidades do
homem; por isso, uma longa histria de misericrdia de Deus, de converso dos homens
e de perdo e reconciliao. Em Jesus Cristo, manifestou-se de modo definitivo esta
vontade salvfica: O Pai manifestou a sua misericrdia ao reconciliar o mundo consigo
em Cristo, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas que h
na terra e nos cus (Ritual da Celebrao da Penitncia, n. 1). neste dinamismo que
se insere este sacramento da Penitncia: gesto do amor de Deus que hoje, no tempo da
Igreja, continua a vir ao nosso encontro para nos oferecer o seu perdo.
O pressuposto: a realidade do pecado. No h pecado sem relao com Deus:
no confronto da prpria vida com a vontade de Deus e a sua bondade, que o crente toma
conscincia do quanto as suas atitudes significam uma ruptura com esse mesmo Deus.
O pecado ofensa a Deus, que quebra a amizade com Ele (Ritual da Celebrao da
Penitncia, n. 5). Ora, quanto mais frgil for a relao com Deus, menor ser o sentido
de pecado; e, pelo contrrio, os grandes santos, mais prximos de Deus, sempre se
consideraram grandes pecadores. Portanto, pecado no a desobedincia a uma regra,
mas sim ruptura de uma relao. um conceito teolgico que no pode ser confundido
com o sentido de culpa, de engano ou de erro. No entanto, s tem sentido falar de
pecado, no contexto da misericrdia divina. Foi sempre na revelao do perdo de Deus
que se ps a descoberto a realidade do pecado. Qualquer outro modo de falar de pecado,
fora deste contexto do perdo e da misericrdia de Deus, ser um modo pecaminoso
de falar de pecado.
4.1. A Penitncia nos Catecismos
Nos Catecismo do S.N.E.C. este itinerrio claro. particularmente elucidativo o
modo como este sacramento apresentado na 1 e 2 fase, respectivamente no 2 e 3
ano de catequese. O sacramento no aparece isolado, mas num contexto de misericrdia
divina.
2 Ano: Estou com Jesus. A catequese 14 (Jesus chama o pecador) centra-se
no episdio do encontro de Jesus com Zaqueu. Nos Evangelhos, Jesus aparece-nos como
aquele que acolhe os pecadores para os fazer experimentar o amor de Deus. sempre e
s esse amor que transforma a vida (j S. Toms de Aquino, no sculo XIII, dizia que as
nossas boas obras se no eram feitas por amor, mas apenas por medo do fogo do
inferno, de nada valiam). O objectivo desta catequese levar as crianas a reconhecer
que o amor de Jesus bem mais forte que os nossos pecados (onde abundou o pecado,
superabundou a graa, dir S. Paulo); lev-las a experimentar e sentir que Jesus as
ama, apesar das suas fragilidades e pecados; lev-las a experimentar a alegria de ser-se
amado por Jesus.
S depois desta insistncia no amor de Jesus que surge explicitamente o tema
do pecado: catequese 15 (sou pecador). Esta catequese visa levar a criana a tomar
conscincia de que, comparando a sua vida com a Palavra de Deus, se descobre o
prprio pecado. A criana convidada tambm a reconhecer que o pecado nos afasta de
deus e uns dos outros, cria desunio, conflito. E convidada atitude de pedir perdo.
Esta uma experincia que, mais ou menos consciente, todas as crianas fazem: sabem
que quando fazem algo mal, devem pedir perdo aos pais, aos professores, etc. Que
esse pedido de perdo que permite restabelecer e relao afectada.
Feita a experincia da necessidade de pedir perdo, a catequese 16 (a alegria do
perdo) pretende levar a criana a experimentar a alegria se ser perdoada. Trata-se de
apresentar o pedido de perdo como uma realidade positiva, que restabelece a relao e
d alegria a quem assume tal atitude. S agora se aponta para o sacramento da
Penitncia: ser-se perdoado uma alegria; ora, Jesus deixou-nos um meio por
excelncia de experimentarmos esse perdo e de sentirmos essa alegria. Assim se
introduz explicitamente o quarto sacramento.
Consequncia desta caminhada a Festa do Perdo (catequese 17). No se
trata de uma aula sobre o sacramento (como nenhuma das catequeses anteriores
deveria ser uma espcie de aula). Trata-se de celebrao: de proporcionar a
possibilidade s crianas de experimentar e viver a alegria do perdo de Jesus. Este
sacramento apresentado como um reencontro com Deus: pelo pecado, afastamo-nos
de Deus; neste sacramento, Deus vem ter connosco, perdoa-nos e faz festa. O texto
bblico fundamental a parbola do pastor que vai em busca do ovelha perdida (Lc 15,
4-7). A celebrao desta festa retoma a caminhada feita at a: confrontando a vida com
a Palavra de Deus, descubro-me pecador; peo perdo; dou graas e fao festa porque
Deus me perdoou. O ambiente festivo fundamental!
Mas o caminho no termina aqui. No final da celebrao da Festa do Perdo,
aponta-se a necessidade de viver em conformidade com o perdo recebido. E a
catequese 18 (quero perdoar sempre) desenvolve este princpio, apresentando a
atitude de perdo aos outros, que nos ofendem, como consequncia directa na vida
daqueles que experimentaram a alegria de serem perdoados.
No 3 Ano (Queremos seguir-Te), a catequese volta a abordar este sacramento.
No o faz de modo to desenvolvido, pois as crianas j foram iniciadas a este
sacramento (e j o celebraram talvez... embora o possam celebrar apenas neste 3 Ano,
na catequese 18). Faz-se a sua apresentao, no contexto da abordagem ao conjunto
dos sacramentos.
Aqui, o itinerrio parte do ano litrgico: coincide com o incio da Quaresma, tempo
penitencial por excelncia. A catequese 16 (reconhecemos a nossa fraqueza). O texto
bblico fundamental o relato das tentaes de Jesus no deserto, como imagem da
Quaresma e do caminho de converso que somos desafiados a fazer. Ora, a converso
exige, como primeiro passo, o reconhecimento da nossa fragilidade; mas tambm a
confiana em Deus e na sua misericrdia.
A catequese 17 (a festa do amor de Deus), partindo do relato do pai bondoso
que acolhe o filho prdigo (Lc 15, 11-32), sublinha precisamente a misericrdia de Deus
e a sua vontade de perdoar. A experincia que se procurar suscitar nas crianas a do
amor de Deus e da alegria de se saberem e sentirem amadas por Deus.
A Festa do Perdo (catequese 18) surge como corolrio deste percurso: uma
celebrao festiva, na qual a criana convidada a reconhecer o seu pecado com um
no ao amor de Deus; a celebrar o sacramento da Penitncia (pode ser a sua primeira
confisso); e a fazer festa porque se saber perdoada por Deus. Insiste-se na dimenso
comunitria deste sacramento: em comunidade que festejamos a alegria do perdo
recebido (e no se faz festa sozinho...).
Este sacramento voltar a marcar presena no 10 Ano da catequese (Ousar
Crer), de modo mais sistemtico (mas tambm, bem menos vivncial e bem mais
especulativo), na catequese 16 (o perdo e a misericrdia), no 1 e 2 encontro. Tal
como no 3 Ano, o contexto o de uma abordagem dos sete sacramento.
4.2. A celebrao da Penitncia
Os actos do penitente. O Catecismo cita a formulao do Catecismo Romano do
Conclio de Trento sobre os actos do penitente, parte fundamental na celebrao da
Penitncia: A penitncia leva o pecador a tudo suportar de bom grado: no corao, a
contrio; na boca, a confisso; nas obras toda a humildade e frutuosa satisfao (n.
1450). Assim, o primeiro acto do penitente a contrio, que corresponde ao
reconhecimento do prprio pecado e ao desejo sincero de converso, de mudana de
vida, de procurar no voltar a pecar (Catecismo 1451-1454; Ritual da Celebrao da
Penitncia, n. 6 a). A contrio nasce do confronto da prpria vida com Deus e a sua
vontade e bondade, que leva a descobrir a prpria fragilidade. O exame de conscincia,
feito luz da Palavra de Deus, visa precisamente possibilitar este confronto e esta
atitude de contrio. desta contrio de corao que depende a verdade da
penitncia (Ritual da Celebrao da Penitncia, n. 6 a). O segundo acto do penitente
a confisso dos pecados. A confisso (a acusao) dos pecados, mesmo de um ponto
de vista simplesmente humano, liberta-nos e facilita a nossa reconciliao com os outros.
Pela confisso, o homem encara de frente os pecados de que se tornou culpado; assume
a sua responsabilidade e, desse modo, abre-se de novo a deus e comunho da Igreja,
para tornar possvel um futuro diferente (Catecismo 1455). Ora, aqui reside uma das
dificuldades maiores deste sacramento na actualidade. A confisso ao sacerdote
constitui uma parte essencial do sacramento da Penitncia (Catecismo 1456). O
confesso-me directamente a Deus, tantas vezes repetido, ignora completamente toda a
dinmica sacramental: no recebemos a vida nova directamente de Deus, mas sempre
pela mediao sacramental e simblica do Baptismo, para dar apenas um exemplo. O
directamente ignora que no somos puros espritos e que a nossa relao com Deus
sempre mediada pelo nosso prprio corpo, pela dimenso sensvel... O terceiro acto do
penitente a satisfao: o esforo por uma vida conforme converso expressa, a real
emenda de vida e a reparao dos eventuais danos que as nossas faltas provocaram.
muitos pecados prejudicam o prximo. H que fazer o possvel por reparar esse dano
(por exemplo: restituir as coisas roubadas, restabelecer a boa reputao daquele que foi
caluniado, indemnizar por ferimentos). A simples justia o exige (Catecismo 1459). Mas
foi
para
celebrar
sacramento
da
unidade,
que
sempre
tambm
acontecimento de reconciliao.
tambm agora a
antiga lei cannica, a saber: que em perigo de morte ningum seja privado do ltimo e
extremamente necessrio vitico - DzH 129). Segundo o actual ritual do Vitico, este
pode celebrar-se dentro da celebrao eucarstica (a forma melhor); ou na casa do
doente ou no lugar onde se encontra, se no puder deslocar-se igreja. A estrutura da
celebrao a da comunho fora da Missa. Se for possvel, a morte do cristo
preparada pela celebrao da Reconciliao, da Uno dos Doentes e, finalmente, do
Vitico: a Penitncia, a Santa Uno e a Eucaristia, como Vitico, constituem, quando a
vida do cristo chega ao seu termo, os sacramentos que preparam a entrada na Ptria
ou os sacramentos com que termina a peregrinao (Catecismo 1525). Contudo, estes 3
sacramento obedecem a uma clara hierarquia: em situao de perigo eminente de
morte, prescinde-se da Penitncia; se se suspeita que nem para isso haver tempo,
prescinde-se tambm da Uno e passa-se ao fundamental: a comunho eucarstica
como Vitico!
5.2 Ordem
Os dois ltimos sacramentos costumam ser associados sob a designao de
sacramentos ao servio da comunho, isto , sacramentos ao servio da edificao do
povo de Deus e que inauguram estados de vida ou vocaes especficas, concretizaes
da vocao comum recebida nos sacramentos da iniciao crist. Contudo, no esgotam
as formas possveis de vocao na Igreja.
Nos Catecismos, esta dimenso vocacional aparece de modo mais ou menos
explcita.
De notar que, em relao a estes dois sacramentos, no existem propriamente
celebraes previstas, pelo que, passaremos mais rapidamente por eles... Os motivos
so bvios: so sacramentos que as crianas e adolescentes ainda no recebem. claro
que
mesmo
acontecia
em
relao
ao
sacramento
da
uno
dos
enfermos
poro do povo de Deus que lhe foi confiada, mas participa ainda da solicitude por todas
as Igrejas (Catecismo 1560) e solidariamente responsvel pela misso apostlica da
Igreja (cf. LG 23; CD 4).
Os presbteros so cooperadores da Ordem episcopal (LG 28) na misso
confiada por Cristo aos Apstolos e seus sucessores. Ainda que no possuam o
pontificado supremo e dependam dos bispos no exerccio dos seus poderes, esto-lhe
unidos
na
dignidade
sacerdotal
comum
e,
pelo
sacramento
da
Ordem,
ficam
A catequese termina com uma visita ao padre que est ao servio da comunidade ou,
se tal no for possvel, com uma visita do padre ao grupo de catequese. Ou ento,
que haja outra forma de contacto do grupo com o padre (carta? telefone? Vdeo? O
catecismo no explica...) Tambm se pode deixar esse contacto para um momento
posterior, que no coincida exactamente com aquela catequese. Mas pretende-se que
haja contacto.
A chave de leitura da figura do padre e por isso do sacramento da Ordem o
"servio: aquele que recebeu este sacramento, recebeu-o, no para ele, mas para
por ao servio da comunidade. Por isso, o catecismo chama a ateno para a
necessidade de, na semana anterior, as crianas terem desempenhado algumas
tarefas na missa dominical: essa ser a experincia humana de que se parte. Aquilo
que as crianas fizeram, o que faz o padre na comunidade.
Porque os objectivos, nesta fase, so vivenciais, procura-se levar as crianas a
reconhecer no padre aquele que recebeu o sacramento da Ordem para servir, como
Jesus; reconhecer o seu papel importante (fundamental) na comunidade crist; mas
tambm, para despertar nas crianas o desejo de colaborar com ele para bem de toda a
comunidade.
Os smbolos do rito de ordenao, contudo, ficam na sombra... As fotografia a
apresentar, no decorrer da catequese, devem ser da ordenao (se possvel, da
ordenao do padre que as crianas conhecem!), mas o sentido dos gestos e ritos no
tem depois grande desenvolvimento.
No 10 Ano Catequese 17, 1 Encontro, volta-se ao sacramento da Ordem. Tal
como no 3 Ano, o ponto de partida a figura do padre, por ser, dos trs graus deste
sacramento, o que lhes mais familiar. A diferena que, no 10 Ano se procura j
apresentar os trs graus deste sacramento. Como previsvel, a catequese menos
vivncial, e mais terica, em ordem a permitir ao adolescente a elaborao da sua
sntese de f pessoal. Elucidativo o objectivo apresentado pelo Guia do Catequista do
10 Ano, referente a este encontro: "Saber o fundamental sobre o sacramento da
Ordem" (184).
5.3. Matrimnio
Ainda uma palavra sobre o Matrimnio cristo. Tal como o anterior, este
sacramento aparece nos 3 e 10 Ano. Tal como acontece nas catequeses referentes ao
sacramento da ordem, tambm aqui clara a distino entre a catequese das crianas
(mais vivncial e testemunhal) e a dos adolescentes (mais sistemtica e terica).
No 3 Ano Catequese 24 ("O amor de Deus em nossa casa), o Matrimnio
aparece como o sacramento que consagra o amor entre marido e esposa. Para esta
catequese convida-se um casal. Ao contrrio do que acontece com as ordenaes, as
crianas j tm uma ideia sobre a celebrao deste sacramento, uma vez que j
participaram, na maior parte dos casos, em casamentos. Convidar um casal tem a
vantagem de tornar dialogal a catequese. Claro que o casal tem de estar previamente
preparado e saber ao que vai. O que se pretende que deixem s crianas o seu
testemunho e estejam disponveis para responder s suas perguntas. Sabiamente, o Guia
Gn 1, 26-29
Gn 2, 18-24
Ef 5, 21-33
O casal conta a sua histria, que vai sendo "iluminada" pela Palavra de Deus. Do
casamento como projecto de Deus e da igual dignidade do homem e da mulher, parte-se
para a santificao do amor mtuo por Cristo, fundamento do matrimnio cristo.
No se trata de uma celebrao, mas de um encontro capaz de despertar as
crianas para este sacramento.
No 10 Ano Catequese 17, 2 Encontro, faz-se, depois, a apresentao mais
sistemtica do sacramento. Aqui, a catequese parte j das mltiplas dvidas dos
adolescentes, sobre o sentido do matrimnio, sobre o divrcio, etc.
especialmente
aos
da
iniciao
crist,
esto
ligados,
momentos
Como
festa. As crianas so
particularmente sensveis festa e quilo que ela implica. O domingo aparece-lhes, pois,
como uma festa semanal. Mas festa porqu? Porque Cristo est vivo no meio de ns e
porque esse o dia da escuta da Palavra, da Fraco do Po e da comunho fraterna.
Estas dimenses aparecem a partir do texto fundamental que Act 2, 42. O primeiro
momento da catequese visa aprofundar o sentido do Domingo. O segundo momento da
catequese, j fora da sala (e noutro dia, se a catequese no for ao Domingo) a
preparao e participao na Eucaristia domincal da comunidade. Nesse sentido, o
prprio catecismo d as indicaes do que preciso preparar e como fazer:
-
As crianas colam no placard os dsticos com os nomes dos dias da semana (excepto
o Domingo, j afixado)
Antes das leituras, uma criana refere que os primeiros cristos eram assduos ao
ensinamento dos Apstolos (e afixa-se o respectivo dstico).
Na apresentao dos dons, uma criana refere que os primeiros cristos se reuniam
para a Fraco do Po (e afixa-se o respectivo dstico).
Antes do gesto da paz, uma criana refere que os primeiros cristos viviam em unio
fraterna (e afixa-se o respectivo dstico).
Antes da bno final, uma criana afixa, sobre a palavra "Domingo", o dstico "Dia
do Senhor".
De modo muito simples, explicou-se o que o Domingo, levaram-se as crianas a
Bibliografia
Documentos
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