Maria Clara
Maria Clara
Maria Clara
aMaumMedocremmRazovelmmmBommmmmMuito
mBommmmmMuito BommmmmmExcelente
BommmmmmExc
Mett
e
Ingv
ar
no CC tsen
B
A me
das peas
de Pinter
Hoje nas Caldas da Rainha,
e a partir de quarta-feira
em Almada, os Artistas
Unidos juntam O Quarto a
Comemorao. Quarenta
anos de Pinter, tal como
ele os quis ver. Clara
Campanilho Barradas
O Quarto + Comemorao
De Harold Pinter. Pelos Artistas
Unidos. Encenao de Jorge Silva
Melo. Com Cndido Ferreira, Daniel
Martinho, Joo Meireles, Joo Miguel
Rodrigues, Lia Gama, Sylvie Rocha,
entre outros.
Caldas da Rainha. Centro Cultural e de Congressos.
R. Dr. Leonel Sotto Mayor. De 4/06 a 5/06. 6 e Sb.
s 21h30. Tel.: 262889650. 7 a 10.
Almada. Teatro Municipal - Sala Principal. Av.
Professor Egas Moniz. De 9/06 a 20/06. 4 a Sb. s
21h30. Dom. s 16h. Tel.: 212739360. 6 a 13.
O Va
le
Mada de
le
Victo na
r
Serra ino no
lves
em F
e st a
Agenda
Teatro
Mulher Mim
De e com Rafaela Santos.
Santos
Estreiam
Alkantara Festival.
Ver texto na pg. 34 e segs.
Filho da Europa
A partir de Peter Handke. Encenao
de Joo Garcia Miguel. Com Nuno
Cardoso, Sara Ribeiro.
Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. De
4/06 a 5/06. 6 e Sb. s 21h30. Tel.: 223401905. 5
a 15.
FITEI.
Answer Me
De Gerardjan Rijnders. Pelos Dood
Paard.
Lisboa. Teatro Meridional. R. do Aucar, 64 - Poo
do Bispo. De 7/06 a 9/06. 2 e 3 s 19h. 4 s 21h.
Tel.: 218689245. 5 a 12
Alkantara Festival.
FITEI.
Cratera
De valter hugo me. Pelo Teatro
Bruto. Encenao de Ana Luena.
Guimares. Centro Cultural Vila Flor - Pequeno
Auditrio. Av. D. Afonso Henriques, 701. 5/06. Sb.
s 22h. Tel.: 253424700. 5 a 7,5.
Noites Brancas
De Dostoivski. Encenao de
Francisco Salgado.
Lisboa. Teatro da Trindade. Largo da Trindade, 7
A. At 27/06. 4 a Sb. s 21h45. Dom. s 17h30. Tel.:
213420000.
Dana
Estreiam
Boa Goa
A partir de Fernando Pessoa. Pela
Pigeons International.
Porto. Teatro Helena S e Costa (ESMAE). R.
Alegria, 503 (entrada pela R. da Escola Normal,
39). Dia 6/06. 2 s 18h30. Dom. s 21h30. Tel.:
225189982. 10.
Lisboa. Teatro Cames. Pq. das Naes. De 9/06 a
10/06. 4 s 21h30. 5 s 18h. Tel.: 218923470. 7,5 a
12.
FITEI.
FITEI.
Deserve
De Jorge Leon, Simone Aughterlony.
Alkantara Festival.
FITEI.
Fim de Partida
De Samuel Beckett. Encenao de
Julio Castronuovo.
Alkantara Festival.
FITEI.
Continuam
ECJ # El Jardin de los Cerezos
A partir de Tchkhov. Pela Rayuela.
Porto. Palacete Pinto Leite. R. da Maternidade, 3/9.
At 4/06. 3 a 6, s 23h. Tel.: 222082432. 10.
FITEI.
Cest du Chinois
s
De Edit Kaldor.
Lisboa. Teatro Municipal
Maria Matos. Av. Frei
Miguel Contreiras, 52. At
5/06. 5 a Sb. s 19h.
Tel.: 218438801. 5 a
12.
Alkantara
Festival.
Se Uma Janela Se
Abrisse
De Tiago Rodrigues.
Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II Sala-Estdio. P. D. Pedro IV. At 5/06. 4
a Sb. s 23h. Tel.: 213250835. 5 a 12.
Alkantara Festival.
Continuam
Vamos sentir falta de tudo aquilo
de que no precisamos
De Vera Mantero.
Lisboa. Culturgest - Grande Auditrio. R. Arco do
Cego - Ed. da CGD. De 7/06 a 9/06. 2 a 4 s 21h30.
Tel.: 217905155. 5 a 12.
Alkantara
A
Alk
antara Festival.
Bare Soundz
D Savion Glover.
De
Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz.
R. Ant Maria Cardoso, 38-58. De
4/06
4// a 6/06. 6 e Sb. s 21h.
4
Dom.
Dom
Do
D
o s 17h. Tel.: 213257650.
5
5 a 12.
Alkantara Festival.
Vale
De Madalena
Victorino.
Victorino.
Porto. Museu de Serralves - Auditrio. R.
D
Dom
om Joo de Castro, 210. De 5/06 a 6/06.
6 e Sb. s 21h30. Tel.: 226156500.
Entrada gratuita.
Serralves
S
Ser
ralves em Festa.
Flash
A d mall
Anda
o casamento
de Julianne Moore
Sumrio
Manuel Mozos
6
Filma, em Runas, um
Portugal mais de misrias do
que de grandezas
O som e a fria
de uma gerao
11
Jens Lapidus
16
Um advogado que escreve na
pele do criminoso
Manuel Alegre
18
Uma escrita que puxa pela
memria
Clarice Lispector
20
Chegou a hora da estrela
Field Music
22
So ingleses, gostam de
futebol e fizeram um grande
disco duplo
Tiago Bettencourt
A msica que faz no
a msica que ouve
26
Ficha Tcnica
Directora Brbara Reis
Editor Vasco Cmara, Ins Nadais
(adjunta)
Conselho editorial Isabel
Coutinho, scar Faria, Cristina
Fernandes, Vtor Belanciano
Design Mark Porter, Simon
Esterson, Kuchar Swara
Directora de arte Snia Matos
Designers Ana Carvalho, Carla
Noronha, Mariana Soares
Editor de fotografia Miguel
Madeira
E-mail: ipsilon@publico.pt
A MTV e as Spice
Girls mataram a
fria feminina
A pergunta colocada do ponto de
vista de quem se recorda de Joan
Jett, do punk de Siouxsie Sioux e do
riot grrrl das Bikini Kill, de quem
se v agora num cenrio onde
figuras femininas esto no topo das
tabelas e concentram ateno
meditica como nunca antes. Dessa
posio, surgiu no Guardian a
pergunta: O que aconteceu s
estrelas femininas furiosas?
Nos ltimos vinte anos aponta
Tahita Bulmer, vocalista dos New
Young Pony Club, ao dirio
britnico , as mulheres jovens
aceitaram uma determinada
persona. H a ideia que tens de ser
obcecada pela fama, e parecer
convencional ou sensual. A culpa,
argumenta-se no artigo, tem dois
nomes. MTV e Spice Girls. A
primeira, escreve-se, transformou a
cultura popular, deixando para trs
bandas punk feministas como Slits
ou Raincoats: A imagem tornou-se
o mais importante, e mulheres
zangadas que no queriam saber
dela no se enquadravam nesse
cenrio. J as segundas,
apropriaram-se do vocabulrio das
riot grrrls e proclamaram girl
power, mas, argumenta Jude
Rogers, a autora do artigo, fizeramno seguindo o modelo
convencional de banda pop
fabricada por homens para
mulheres adolescentes.
Cazz Balse, co-autora do livro
Riot Grrrl: Revolution Girl Style
Now!, assinala que, num mundo
de X-Factors e dolos, arriscar
perigoso. Perseguindo a msica
Charlo
Charlotte
Rampling interpreta
Yourcenar no Festival de Almada
A actriz inglesa Charlotte
Rampling vai estar na
prxima edio do Festival
de Teatro Almada, em Julho,
com Yourcenar/Cavafy,
um dilogo ficcionado entre
a autora de Memrias de
Adriano e o poeta grego de
Alexandria, interpretado
pelo actor Polydoros
Vogiatzis. O espectculo,
concebido por Jean-Claude
Feugnet a partir de uma
cenografia de Lambert
Wilson, ser apresentado no
Teatro Nacional de S. Joo,
no Porto (16 de Julho), e na
sala Garrett do Teatro
Nacional D. Maria II (dias 17 e
18).
Mais conhecida pelos seus
papis no cinema ao longo
de quase meio sculo de
carreira, trabalhou com
Roger Corman, Luchino
Visconti, Liliana Cavani,
n, Sidney Lumet,
Woody Allen,
ma, Claude
Nagisa Oshima,
Lelouch ou, mais
te, Frano
ois
is
recentemente,
Franois
d Solond
dz ,
Ozon e Todd
Solondz
unca
Rampling nunca
ramentte
deixou inteiramente
o palco, ao qual
sa com
m
agora regressa
este Yourcenar/
enar/
e tem
Cavafy, que
itinerado porr vrios
pases da Europa.
ropa.
Cruzando
excertos de
romances e
ensaios de
Marguerite
Yourcenar
(1903-1987),
como
Memrias de
A
Adriano, A
ro
Obra ao Negro
ou Fogos, e
poemas de
os
Konstandinos
3Kavafis (18631933), esta
espcie de
conversa
literria
imagina um
apresentados como
rememoraes da
juventude.
Yourcenar comeou a
traduzi-lo nos anos
quarenta, mas s em 1958
saiu na Gallimard a sua
traduo integral dos
poemas de Kavafis, coassinada com Dimaras, que
contestou muitas das
solues propostas pela
romancista, mas que
raramente a ter conseguido
persuadir dos seus pontos
de vista. Dimaras veio
mesmo a dizer, mais tarde,
que Yourcenar no captou
o clima particular da poesia
de Kavafis e que a sua
traduo , sobretudo, a
obra de uma grande estilista
francesa. O prprio
executor literrio de Kavafis,
Alexandros Singopoulos,
no apreciou o trabalho de
Your
Yourcenar, cuja publicao
ter p
procurado impedir, e
apad
apadrinhou a traduo
franc
francesa de G. A.
Papo
Papoutsakis, editada no
mesm
mesmo ano.
Em P
Portugal, o primeiro
tradu
tradutor de Kavafis foi Jorge
de Sena,
Se
que publicou em
1970, na editora Inova,
1970
Con
Constantino Cavafy: 90 e
Mais Quatro Poemas. As
suas verses foram
altam
altamente elogiadas pela
prp
prpria Yourcenar, numa
extensa carta que esta lhe
exten
envio
enviou.
No fi
final dos anos 80, o poeta
Joaquim Manuel
e ensasta
ens
Maga
Magalhes e Nikos Pratsinis
come
comearam a traduzir e a
publicar poemas e prosas de
publ
Kava
Kavafis, tendo finalmente
sado
sado, em 2005, na Relgio
dgua, a traduo integral
d
dos 154 poemas que o
do
p
poeta, antes de morrer,
c
considerara terminados.
Lus Miguel Queirs
L
como o equivalente a um
emprego das nove s cinco, e
querendo t-lo durante muitos
anos, do seu interesse no agitar
as guas. Estaremos ento
resignados a esta formatao do
feminino na msica popular
urbana, onde artistas como
Florence And The Machine
considera Tahita Bulmer so
quase um regresso ideia
vitoriana da mulher histrica?
No necessariamente. A
reportagem aponta brechas.
Refere que, actualmente, as
formas de expressar essa fria
feminina so diversas do
passado.
Surgem de forma discreta em
cantoras como Laura Viers ou
Laura Marling ou, mais
exuberante, em Rihanna ou Lady
Gaga. A Monster Ball Tour de
Lady Gaga descreve Cazz Balse
baseia-se na ideia de monstruoso,
e nessa expresso zangada do
feminino. Ele pode no o estar a
gritar, e a sua msica no punk,
mas esses sentimentos esto l.
que estamos a
Sinto
regressar
Rihana:
a fria
feminina
espreita?
4 Sexta-feira 2 Abril 2010 psilon
Gala Drop
e Manuel
Mota faro
a primeira
parte dos
d
S i Y
h
concertos dos
Sonic
Youth
em Lisboa. No foi escolha ao
acaso, antes pedido expresso
dos nova-iorquinos. Dia 22 de
Abril, no Coliseu de Lisboa,
estar a banda de Nlson Gomes,
Tiago Miranda, Afonso Simes e
Marina Abramovic
impressiona os
impressi
visitantes do MoMA
visitante
Marina Abramo
Abramovic
senta-se em
silncio a uma pequena mesa, no
trio do Museu de Arte Moderna de
(MoMA). Sem
Nova Iorque (M
pestanejar, fixa os visitantes que se
sentarem a seu lado. A
performance ffaz parte da
retrospectiva sobre a artista que o
MoMa apresen
apresenta at 31 de Maio.
Abramovic: The Artist is
Marina Abram
Present uma exposio
cronolgica de 50 trabalhos, que
anos de
abrange os 40 a
performances, fotografias,
imaginados por
instalaes e vdeos
v
Abramovic.
O destaque vai para a pea Rhythm
utilizou facas
O, de 1974. Marina
Ma
adesiva, gaze, loo de
afiadas, fita ade
barbear, uma rosa
r
de p comprido
e uma arma ca
carregada e pediu a um
grupo de napo
napolitanos que usasse os
objectos vont
vontade, no corpo da
artista. Quando um homem pegou
na arma, outro parou a
performance. N
Na altura, Marina
disse querer explorar
e
o limite e o
quanto podia a
aguentar.
Marina Abramo
Abramovic nasceu na
JJugoslvia
Ju
goslvia em 11946, filha de dois
dirigentes do Partido Comunista
J goslavo. Estudou
Ju
Es
Jugoslavo.
na Academia
Belas-Art em Belgrado e em
de Belas-Artes
de aulas em Novi Sad,
Zagreb e deu
na Srvia. Nessa altura,
comeou a fazer
perform
performances.
Em 1976,
mudou para
mudou-se
Ames
Amesterdo,
onde
conh
conheceu
o artista
alem Uwe Laysiepen,
alemo
con
conhecido
como Ulay.
Os vdeos que
re
resultaram
da parceria
d 12 anos de Marina
de
M ARTA
PI NA
Flash
Concertos
Guil
Gu
il
Guilherme
G
onalves, co
Gonalves,
com
d
isco homnimo reeditado
disco
(um dos destaques de 200
2008) e
semanas depois de abrir para
outro histrico, o ex-Can Holger
Czukai (9 de Abril, Lux). Dia 23,
no Coliseu do Porto, chegado de
uma digresso pela Blgica e
por Frana, a vez do guitarrista
Manuel Mota.
Vdeos
deos de Lady Gaga
ultrapassam
rapassam mil
milhes
lhes de visitas
na Web
Lady
Gaga
tornou-se
na primeira
artista a superar mil
milhes de visitas nas
plataformas de vdeo online. O portal Visible
Measures precisou de somar
apenas os nmeros de
visualizaes de trs singles
daquela que muitos apelidam de
nova rainha da pop. Extrados
dos dois discos da saga The
Fame, Poker Face, Bad
Romance e Just Dance
contriburam, cada um, com
valores entre os 380 e 270
milhes de visitas para a soma
recordista. Curiosamente,
nenhum deles entra, por si s,
no top 5 geral, no qual constam
quatro vdeos musicais. Uma
estrela global da actualidade
musical (Beyonc com Single
Ladies em 3.), um dolo cujo
desaparecimento impulsionou
uma revitalizao do legado
(Michael Jackson com Thriller
em 4.) e um vdeo musical da
categoria infantil (The Gummy
Bear Song em 5.) sucedem
excepo proveniente do cinema
(Lua Nova, da saga Twilight,
em 2.) na lista liderada por um
artista cujo reconhecimento
desproporcional nos dois lados
do Atlntico: Crank dat, do
norte-americano Soulja Boy, que
j superou os 700 milhes de
chama-lhe a imperatriz
internacional da performance
artstica. Diz que a performance de
Marina no MoMA uma presena
imponente e benevolente que no
se esconde, com o propsito de
arranjar tempo para que os outros
se vejam a si prprios no reflexo
dela. A ideia eliminar todos os
pensamentos do passado ou do
futuro e viver apenas o
momento presente.
Leilo
Bandeira de Jasper
Johns bate recorde
a Entre 1960 e 1966, o artista
pop Jasper Johns produziu uma
srie de pinturas da bandeira
americana. Todas obras nicas,
mas uma delas mais nica do
que as outras: a Flag em questo
usa a tcnica de encustico, uma
mistura de cores com cera usada na
antiguidade clssica, que confere a
cada pincelada uma materialidade
distinta. Este trabalho, que no
era visto em pblico h 18 anos, foi
vendido na tera-feira pela Christies
de Nova Iorque e estabeleceu um
novo recorde (mais um em poca de
crise). Tornou-se na mais cara obra
de Jasper Johns vendida em leilo:
22,5 milhes de euros.
Flag pertenceu a Michael
Crichton, o conhecido escritor
de fico cientfica autor, por
exemplo, de Parque Jurssico , que
comprou esta pintura directamente
a Johns, em 1974, e que a tinha
pendurada por cima da lareira da
sua biblioteca. Nunca teve outro
proprietrio.
A leiloeira fez saber ao The New
York Times que esperava que a
venda da obra atingisse um valor
entre os 7,9 milhes de euros e os
12 milhes de euros. O valor que
atingiu fixou um novo recorde para
as obras de Jasper Johns, mas no
O violino libertado
Teatro
PEDRO CUNHA
D. Quixote
est velho
e mudou
de sexo
Uma pera com msicas roubadas mostra Dulcineia, a rapariga do cavaleiro da triste figura,
procura do homem ideal. Quixote, a nova produo de O Bando, est em cena no Teatro da
Trindade, em Lisboa. Clara Campanilho Barradas
D. Quixote Dulcineia. E Dulcineia
D. Quixote. Sancho Pana fica em casa a cuidar dos filhos. Teresa Pana
o brao direito de Dulcineia. D. Quixote foi do Cervantes, e depois do Judeu, Antnio Jos da Silva. Agora, nas
mos do Bando, uma pera bufa.
Confuso? Ento explicamos: O
Bando estreou ontem, no Teatro da
Trindade, em Lisboa, Quixote, a
sua muito particular verso de Vida
do Grande D. Quixote de la Mancha e
do Gordo Sancho Pana, que Antnio Jos da Silva, o Judeu, escreveu
para marionetas. Natural do Rio de
Janeiro, onde nasceu, em 1705, numa
famlia de cristos-novos, Antnio Jos da Silva viu-se obrigado a mudarse para Lisboa devido perseguio
pela Inquisio. A estudou Direito e
escreveu vrias peas, com as quais
obteve grande sucesso e respeito;
entre elas, esta Vida do Grande D.
Quixote..., pardia ao livro escrito
pelo espanhol Miguel de Cervantes
em 1605. O Quixote de Cervantes
uma verso erudita, profunda, e este
aparentemente supercial, ligeiro.
A obra de Cervantes mais provocadora, mesmo a nvel poltico e social.
O Judeu tenta divulgar a obra, para a
tornar mais popular, diz Joo Brites,
director da companhia e encenador
da pea, que ca no Trindade at 13
de Junho.
Foi Cucha Carvalheiro, directora
do Teatro da Trindade, quem props
o texto do Judeu ao Bando. O desao
do grupo foi trabalhar a actualidade
da mensagem. Difcil montar uma
coisa em que ns estamos implicados. No s montar uma obra do
Judeu, ainda que ele seja uma gura
paradigmtica da nossa Histria.
mais: o que que eu quero fazer com
isto, o que que eu quero dizer com
isto?, sublinha o encenador.
E qual , ento, a actualidade do
texto? [Tendo em conta] a minha idade, o meu tempo, a minha reexo, a
minha passagem, a minha experincia, acho que foi adequado trabalhar
este texto no sentido de problematizar a velhice. Pensamos que o Quixote s combate com moinhos de vento,
mas no bem assim. O Quixote, na
O Quixote (...)
tambm um gesto
social e poltico, a
negao de uma certa
realidade procura
de um mundo
diferente
Joo Brites
Conversa
a
Da guerras
e da luxria
Troilo e Crssida, a pea
esquecida de William
Shakespeare, representa-se
pela primeira vez em
Portugal. Finalmente,
diz Joaquim Benite.
Clara Campanilho
Barradas
Troilo e Crssida
De Shakespeare. Pela Companhia de
Teatro de Almada, ACTA,
Companhia de Teatro de Braga.
Encenao de Joaquim Benite. Com
Andr Silva, Lus Vicente, Mrio
Spencer, Rogrio Boane, Solange S,
Tnia Silva.
Almada. Teatro Municipal de Almada. Av. Professor
Egas Moniz. At 16/05. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s
16h. Tel.: 212739360. 6 a 13.
O Prncipe de Homburgo,
de Kleist, agora no Porto
O Prncipe de
Homburgo
De Heinrich Von
Kleist. Encenao de
Lusa Costa Gomes,
Antnio Pires. Com
Graciano Dias, Lusa Cruz,
Marcello Urghege, entre
outros.
Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. At
16/05. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.:
223401905. 5 a 15.
Jardim Suspenso
De Abel Neves. Encenao de Alfredo
Brissos. Com Carla Chambel, Simone
de Oliveira, entre outros.
Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estdio.
P. D. Pedro IV. At 30/05. 4 a Sb. s 21h45. Dom.
s 16h15. Tel.: 213250835. 12.
Agora a Srio
De Tom Stoppard.
Encenao de Pedro
Mexia. Com Afonso
Lagarto, Ana Brando,
Joo Reis, So Jos
Correia, entre outros.
Lisboa. Teatro Aberto - Sala Azul. P.
Espanha. At 31/12. 4 a Sb. s 21h30. Dom.
s 16h. Tel.: 213880089. 7,5 a 15.
Miserere
A partir de Gil Vicente. Pelo Teatro da
Cornucpia. Encenao de Luis
Miguel Cintra. Com Joo Grosso, Jos
Airosa, Rita Blanco, entre outros.
Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett. P.
D. Pedro IV. At 23/05. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s
16h. Tel.: 213250835.
Dana
Continuam
Bjart Ballet Lausanne
De Maurice Bjart.
Lisboa. Coliseu dos Recreios. R. Portas St. Anto, 96.
At 16/05. 5 e 6 s 21h30. Sb. s 16h30 e 21h30.
Dom. s 16h. Tel.: 213240580. 25 a 47.
Local Geographic
De Rui Horta.
Lisboa. Centro Cultural de Belm - Sala de Ensaio.
Praa do Imprio. At 16/05. 3 a 6 s 21h. Sb. e
Dom. s 19h.Tel.: 213612400. 12.
Maiorca
De Paulo Ribeiro. Com Marta
Cerqueira, Romulus Neagu, Pedro
Burmester, entre outros.
Coimbra. Teatro Acadmico de Gil Vicente. P.
Repblica. Dia 17/05. 2 s 21h30. Tel.: 239855636.
6 a 8.
um indivduo com a sociedade e a vida poltica. Ivanov sobre um indivduo mas face a uma sociedade mais
pequena, a famlia. O desafio e a
dificuldade, acrescenta Quito de
representar Tchkhov vem da, de
perceber o que que isto quer dizer,
que relaes so estas. O que est por
trs, o que os silncios dizem, o que
no est escrito. As palavras j valem
por si, agora descobrir a outra pea
que est por baixo.
Nikolai Ivanov (interpretado por
Pedro Lacerda), uma espcie de quin-
Teatro
Ivanov est a,
no meio de
ns: haver
sempre
pessoas
assim,
sublinha esta
produo da
Truta
E se Ivanov
formos ns?
SO
LUIZ
Obviamente fizemos uma escavao
no sculo XIX para tentar perceber
como foi tudo isto. Mas estes corpos
so corpos de agora.
Embora a traduo usada pela
Truta date de 1965, o texto tambm
foi adaptado ao portugus actual.
Tornou tudo mais claro, a linguagem no est to pesada. Cortmos
algumas coisas do texto original para a compreenso ser mais fcil. Na
improvisao, os actores foram escolhendo aquilo que achavam que
fazia mais sentido, conta Tnan
Quito.
Msica klezmer
e um co de loia
H um relgio redondo no meio do
papel de parede que ocupa o fundo
do palco. Ao fundo, direita, um piano vertical e um co de loia. Mesas
e cadeiras de madeira esto espalhadas pelo palco, branco. Os actores
esperam sentados a sua vez de entrar
em cena. Quito confessa que dar a
ver os lados do palco foi uma opo, mas que no est a funcionar:
No se percebe bem se espao de
aco ou no. A ideia de o espao estar sempre mostra : esta pea est a passar-se neste teatro. No queremos fazer uma caixinha preta para
contar esta historiazinha. Queremos
contar esta histria neste espao que
o Teatro Maria Matos. Interessounos fazer uma rea de jogo: Esto a
representar para mim, pensa o pblico.
Alm das dez personagens da pea,
a Truta fez entrar mais quatro. So os
msicos, que tocam ao vivo. Como h
uma festa e um casamento, achmos
que fazia sentido pr msica. Pensmos em contratar uma banda russa ou
ucraniana que tocasse em casamentos.
Encontrmos uma banda de moldavos
mas no estava disponvel. Ento o
nosso produtor fez uma pesquisa e encontrou os Melech Mechaya, explica
Quito.
Os Melech Mechaya so um grupo
de msica klezmer (uma tradio
musical com razes na cultura judaica do Leste europeu) que nasceu em
2006. No sendo exactamente aquilo que eu tinha imaginado, foi uma
sorte t-los aqui. Fizemos uma surpresa aos actores: os Melech entraram num ensaio corrido sem os actores saberem e correu lindamente.
Eles foram muito simpticos, procuraram repertrio russo e ucraniano.
Dei-lhes umas ideias gerais sobre o
que queramos e eles foram propondo os temas, conta o encenador. O
clarinete, o violino, o contrabaixo e
a percusso dos Melech Mechaya
compem o fundo musical para a
festa dos Lebedev e para o casamento de Ivanov e Sacha.
Ivanov tem uma coisa diferente
das outras peas de Tchkhov, conclui Tnan Quito. H uma solido
maior, porque no vem ningum de
fora influenciar aquela normalidade.
um grupo de dez personagens com
os seus problemas. muito fechado,
nota-se a solido e a tristeza daquelas
vidas. uma pea sobre deciso: decidir continuar a viver, decidir acabar,
decidir partir, decidir mudar. O texto
d muitas pistas. As pessoas no so
mecanismos fceis de desmontar, h
contradies. Nesta pea as pessoas
esto a tentar viver a sua vidinha.
CO-PRODUO
APOIOS
SO
LUIZ
19 E 2O MAR
CARTAS DE MOZART
SEXTA E SBADO S 17H30
JARDIM DE INVERNO M/3
MAR~ 1O
WWW.TEATROSAOLUIZ.PT
Cinzento bom
O desafio
e a dificuldade
de representar
Tchkhov vm
de perceber o que est
por trs, o que
os silncios dizem,
o que no est escrito.
As palavras j valem
por si, agora
descobrir a outra
pea que est por
baixo.
Tnan Quito
SEGUNDA S 21H00
SALA PRINCIPAL M/3
silva!designers
MAR~ 1O
22 MAR
SWEET BILLY PILGRIM +
PORTICO QUARTET
Flash
Em Agosto, os
Arcade Fire chegam
aos subrbios
Continuamos a aguardar
ansiosamente o novo lbum dos
Arcade Fire, e a contagem
decrescente tem sido frtil em
novidades. Os canadianos
revelaram finalmente a data de
lanamento do novo disco (2 de
Agosto), embora sublinhem que
ainda esto a terminar o lbum
(comearam a grav-lo no ms
passado).
Na semana passada, os irmos Will
e Win Butler explicaram rdio
americana NPR Music o significado
do nome do disco, The Suburbs
(correm rumores de que ser um
lbum duplo). Nascemos numa
cidade muito pequena da
Califrnia, na fronteira com o
Nevada, explicou Win, citado pelo
New Musical Express. Mudmonos para Houston quando ramos
novos. Sendo ns crianas to
pequenas, foi como ir para Marte.
[No lbum], tentmos falar sobre
esse sentimento. Mais um regresso
infncia, portanto. Sobre a msica
do disco, Will disse que h dois
plos, um mais rocknroll, o outro
mais electrnico, e que o lbum se
situa entre esses dois extremos.
Enquanto esperamos por The
Suburbs, o site da banda d-nos
muito que fazer: podemos
encomendar o lbum, desc
ca
arrre
reg
ga
ar
descarregar
as canes The suburbs e Month
Mo
M
ont
nth
Paraty ao som de
Lou Reed
Os inditos
de Verglio
Ferreira na
Quetzal
Teatro
PEDRO CUNHA
Em Leenane,
os dias no so
l muito
felizes
A Rainha da Beleza
de Leenane mostra o difcil
que sobreviver a algumas
relaes humanas
Euromilhes
Chave sorteada: 7, 19, 30, 38, 50 + 4 e 7
1. Prmio: 15.000.000 euros
Prncipe Real
Jardim reabre
hoje com vrias
novidades Local
Moo de censura
PSD salva
Scrates mas
deixa ameaa
no ar para 2011
Pg. 10
H um segundo realizador
iraniano em greve de fome
Espanha
Mais de mil anos
de priso para
etarras
Pg. 17
Dia da
Biodiversidade
Ainda h muito
por fazer
Pg. 8
Sobe e desce
Barack
Obama
S S N :
BP
Vasco Pulido Valente no escreve a sua crnica nestes dias, voltando a este espao na prxima semana
Miguel
Macedo
Horst
Weretecki
O ex-vice-presidente da Ferrostaal,
uma das empresas que integram o
consrcio alemo que vendeu dois
submarinos a Portugal, foi detido
pelo MP de Munique por suspeitas
de corrupo neste e noutros
negcios. Numa recente entrevista
ao PBLICO, o gestor tentou
responsabilizar a Comisso das
Contrapartidas. Em vo. (Pg. 6)
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Crnicas
de garfo
e faca
Domingo na Pblica
Harold Pinter,
no rs-do-cho e na cave
Os Artistas Unidos regressam a um stio onde foram felizes com o dptico Comemorao e A
Nova Ordem Mundial, que hoje chega a Lisboa. Clara Campanilho Barradas
mista, nos anos da Thatcher [Margaret Thatcher, primeira-ministra do
Reino Unido entre 1979 e 1990]. Formou-se uma atmosfera insuportvel
de claustrofobia. [Na pea], sente-se
que h uma violncia por trs da aparente festa. H uma coisa latente. E,
em A Nova Ordem Mundial, no fundo so as mesmas personagens, as
mesmas confuses de lngua, com um
outro tipo de violncia. como se
uma se passasse no rs-do-cho, e a
outra na cave. Mas o mesmo mundo, explica o encenador.
Os textos foram escritos na ltima
dcada de trabalho de Harold Pinter.
Para Silva Melo, esse trabalho foi dominado por uma questo. Eu creio
que a pergunta com que Pinter finalizou os seus anos : o nosso poder
assente em qu? Em que novo imprio colonial que ns assentamos?.
Para enfatizar a pergunta, os Artistas
Unidos decidiram complementar o
espectculo: J estvamos a ensaiar
a Comemorao e achmos que faltava qualquer coisa. Precisvamos de
ir tal cave.
Um riso amarelo
Os Artistas Unidos j tinham trabalhado peas de Harold Pin- ter no espa-
Teatro
ADRIANO MIRANDA
Para enfatizar
a pergunta
colocada por
Comemorao, os
Artistas
Unidos
quiseram
juntar-lhe A
Nova Ordem
Mundial
psilon Sexta-feira 21 Maio 2010 15
www.publico.pt
Foz do Porto
Ex-supermercado
de Siza vai
receber unidade
de sade Local
Literatura
J. G. Farrell
o vencedor do
Booker... de 1970
Pg. 19
Iro
Consenso a
favor de sanes
moderadas
Pg. 16
Angela
Merkel
PAULO PIMENTA
Pedro Lomba interrompe a sua crnica durante Maio, voltando a este espao no incio de Junho
Cimeira
Lula apoia
investimento
brasileiro em
Portugal
Pg. 2 a 4
Sobe e desce
Depois do banho
de multido em Lisboa,
Joana Vasconcelos ter
ainda este ano uma obra
em Joanesburgo, durante
o Mundial de futebol
S S N :
Rand
Paul
Rui
Pereira
As associaes sindicais e
profissionais da PSP e da
GNR contestam as opes do
Ministrio da Administrao
Interna (MAI) , tutelado por
Rui Pereira, em relao aos
respectivos quadros de pessoal.
Queixam-se de que as apostas do
MAI esto nas chefias s a GNR
tem 11 generais , esquecendo
as bases das respectivas
corporaes. (Pg.10)
Mota
Amaral
O presidente da comisso de
inqurito ao negcio PT/TVI
decidiu proibir, por despacho, o
uso dos contedos das escutas na
comisso. Com esta deciso, Mota
Amaral ter extravasado os seus
poderes enquanto presidente.
Sugeriu ainda que as escutas
deixem de poder ser usadas em
futuras comisses, o que limitaria
o alcance destas. (Pg. 7)
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Furao
Marina
Canes pop para trautear
enquanto se parte a loia
toda. Lus Maio
Marina & The Diamonds
The Family Jewels
679, distri. Warner
mmmmn
Versos de
insegurana,
amargura e tortura
pessoal, injectados
numa voz
incandescente e
canes pop festivas, absolutamente
viciantes. D vontade de dizer que
todos os discos a escalar os tops
deviam ter o estofo de The Family
Jewels. o lbum de estreia da
one woman band que responde
pelo nome de Marina & The
Diamonds. Fisicamente, segundo ela
prpria diz, j a confundiram com
Shakira e Catherine Zeta-Jones. Em
termos de gerao, ou melhor, de
formada de candidatas coroa pop,
faz grupo com Florence And The
Machine e Ellie Goulding. A voz, por
outro lado, soa a meio caminho
entre Lene Lovitch e Kate Bush. J as
canes andaro mais perto de
Cindy Lauper e Nina Hagen.
muita referncia cruzada, o que
quer dizer que Marina soa
imediatamente familiar, mas tambm
e logo na estreia como mais ningum.
Ela tem 24 anos, filha de pai grego e
me galega, entretanto separados.
Em mida era f de Britney Spears,
decidiu ser igual a ela quando fosse
Anos
instrutrios
Um disco excepcional, dois
grandes discos de rock e
um lbum desorientado.
Os primeiros anos dos Mo
Morta. Pedro Rios
Mo Morta
1988-1992
44 Sexta-feira 19 Maro 2010 psilon
Mo Morta
mmmmn
Coraes Felpudos
mmnnn
O.D., Rainha do Rock & Crawl
mmmmn
Mutantes S.21
mmmmn
Cobra
So uma parte
importantssima
da histria do rock
portugus, mas os
quatro primeiros
discos dos Mo
Morta encontravam-se h anos
esgotados. No ano em que fazem 25
anos, e antes de lanar novo disco,
sade-se a iniciativa da banda
portuguesa de os reeditar num caixa.
A arrumao deveu-se, sobretudo,
a razes de ordem prtica (so
discos cujos direitos so detidos pela
banda), mas, reunidos desta forma,
surge claramente a ideia de que o
perodo 1988-1992 corresponde
primeira fase do grupo, que
atravessou vrias mudanas de
formao. Mutantes S. 21 (1992)
representa o corolrio deste
perodo, o disco em que as muitas
ideias at ali desenvolvidas
encontravam a sua melhor execuo
um som cristalino, a criatividade
do grupo no topo, Adolfo Luxria
Canibal no balano perfeito de
diseur e agitador.
Viagem por oito cidades reais e
uma virtual, ainda hoje um dos
mais arrojados lbuns rock que no
deixam de ser rock por causa do
arrojo feitos em Portugal. Obra quase
fotogrfica, as canes projectam os
ambientes que as letras retratam.
Alguns exemplos: Lisboa surge
como uma alucinao por um Cais do
Sodr onde h fantasmas
embriagados de luz e cor;
Barcelona acelera quando comea
a rusga da guarda civil pelas ruelas;
PAULO PIMENTA
Discos
Pop
Livros
aMaumMedocremmRazovelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
Lana
Lanaa
mento
men
nto
de
Anatomia
de um crime
Um thriller frentico que
ao mesmo tempo um retrato
da ndia, a verdadeira terra
das oportunidades.
Helena Vasconcelos
Seis Suspeitos
Vikas Swarup
(Trad. Isabel Alves)
Asa
mmmmn
Quando era mido
em Allahabad, na
ndia, Vikas Swarup,
proveniente de uma
famlia abastada de
juristas, ganhava
todos os concursos
de perguntaresposta, muito
populares no seu pas. Anos mais
tarde, esta sua experincia ajudou-o
a criar a personagem de Ram
athol fugard
De 6 de Maio a 6 de Junho
Traduo: Jaime Salazar Sampaio; Encenao: Beatriz Batarda; Cenrio e gurinos:
Cristina Reis; Desenho de luz: Jos Nuno Lima; Sonoplastia: Srgio Milhano.
Interpretao: Catarina Lacerda e Dinarte Branco.
Co-produo
incluindo o
do ladro
de
telemveis,
apanhado
numa teia
que ele j
no
consegue
controlar,
e o do
http://www.teatro-cornucopia.pt
M/12
Ensaio
Novos
olhares sobre
Antnio
Fragoso
Um notvel avano sobre
o conhecimento da obra e
da poca de um pianista e
compositor de culto.
Cristina Fernandes
Antnio Fragoso e o Seu Tempo
Paulo Ferreira de Castro (direco)
CESEM/Associao Antnio Fragoso
mmmmn
Apoios
Liam Gallagher
produz biopic
dos Beatles
Cristian Mungiu
28
O cinema romeno diz adeus a
Ceausescu
Sumrio
Festivais de Vero
6
Os seis grandes em retratorob
Aduf
14
Em disco como em palco (e
com voz nova)
Mathias nard
20
O fim do mundo numa frase
de 400 e muitas pginas
Pippo Delbono
32
Chama os mortos pelo nome
no CCB
Ficha Tcnica
Directora Brbara Reis
Editor Vasco Cmara, Ins Nadais
(adjunta)
Conselho editorial Isabel
Coutinho, scar Faria, Cristina
Fernandes, Vtor Belanciano
Design Mark Porter, Simon
Esterson, Kuchar Swara
Directora de arte Snia Matos
Designers Ana Carvalho, Carla
Noronha, Mariana Soares
Editor de fotografia Miguel
Madeira
E-mail: ipsilon@publico.pt
Carla Cruz a
nossa agente
e na
festa da Tate Modern
a im
imagem
potica de
falling news
caem), a
(notcias que c
desafia o sentido
instalao desa
de uma informao
num s
d
i f
sentido, sem feedback do
pblico, e questiona o poder
dos media para configurar,
unilateralmente, a viso do
mundo actual.
The Unsurpassable
Horizon, o evento
portugus na festa de anos
da grande galeria europeia
de arte contempornea, faz
parte do festival No Soul for
Sale, uma celebrao das
foras independentes que
animam a arte
contempornea, uma
conveno de grupos e
indivduos que dedicam
tempo e energia arte em
que acreditam. E vai estar
hoje, amanh e depois, no
Turbine Hall, o espaoso
trio da Tate Modern de
Londres, para comemorar o
aniversrio do museu. Ana
Dias Cordeiro
PAULO PIMENTA
Flash
Flash
Stephen Malkmus
e Beck juntos em
estdio
Walter Salles
vai para a estrada
com Jack Kerouac
O realizador brasileiro Walter
Salles vai dirigir a adaptao
ao cinema do romance Pela
Estrada Fora (On The Road,
no original), de Jack Kerouac.
O filme dever chegar s salas
em 2001 e ser produzido pela
American Zoetrope, de Francis
Ford Coppola.
A ideia de levar ao cinema o
romance icnico da beat
generation antiga. Os
direitos de adaptao
pertenciam a Coppola, que os
vendeu ainda nos anos 70.
Desde ento, vrios cineastas
chegaram a ter o projecto em
mos, mas este acabou por
nunca avanar. Agora de vez,
estando mesmo j contratados
os actores principais: Sam
Riley, o actor que encarnou
Ian Curtis em Control, ser
Sal Paradise, o nome que
Kerouac deu ao seu alter-ego
no romance, e Garrett
Hedlund interpretar Dean
Moriarty, personagem
inspirada no mtico protobeatnick Neal Cassidy. Kristen
Stewart, protagonista da saga
Crepsculo, tambm j
aceitou o papel de Marylou,
nome que Kerouac atribui
primeira mulher de Cassidy,
p
Henderson, de quem
LuAnne H
este se divorciou,
div
u, em 1947,
casar com
para se ca
m Carolyn
Robinson, a Camille
Robinson
mille de Pela
Estrada Fora.
Fo
esta seja
Embora e
a a primeira
adaptao
a apta do romance
ad
omance ao
cinema,
c nema as deambulaes
ci
ambulaes
de Ke
Kerouac e Cassidy j
haviam
sido
h vi
ha
do retratadas
porr John Byrum no seu
p
po
ffilme
fi
lm Heart
eart Beat
(1980), baseado
(1
na
n
autobiografia
a
ografia
de
d Carolyn.
olyn.
Walter
W
Salles
S
comeou a trabalhar na
adaptao de Pela Estrada
Fora j em 2006, apenas dois
anos aps ter realizado
Dirios de Che Guevara, um
filme muito bem recebido pela
crtica, e que pode ser visto
como uma espcie de On The
Road sul-americano. Baseado
nos dirios de Che Guevara,
conta as aventuras que o lder
revolucionrio viveu nos anos
50, quando atravessou a
Amrica do Sul de motorizada,
com o seu amigo Alberto
Granado.
Publicado pela primeira vez
em 1957, embora tenha sido
escrito alguns anos antes,
Pela Estrada Fora tornou-se
o romance de referncia da
Beat Generation. Muitos dos
seus protagonistas esto, alis,
retratados no livro, que tem
uma fortssima dimenso
autobiogrfica. Alm dos j
citados, como Kerouac,
Cassidy e as sucessivas
mulheres deste ltimo,
aparecem nas pginas do
romance, com nomes
supostos, o poeta Allen
Ginsberg (Carlo Marx), William
S. Burroughs (Old Bull) ou o
hoje menos conhecido John
Clellon Holmes, autor de Go,
considerado o
primeiro
romance
beat, e de
Horn,
tida como a
melhor
jazz novel
da sua
gerao.
Mundo
Piratas somalis capturaram trs pesqueiros tailandeses com 77
tripulantes, a 1930 quilmetros da costa. Segundo a Fora Naval da UE,
nunca tinha havido ataques to longe de terra. A abordagem ocorreu a
quase mil quilmetros da rea normal de operaes internacionais.
anos ou mais o
tempo que o Iro
precisa para ter
a bomba nuclear,
mas at 2015
pode fabricar um
mssil capaz de
atingir os EUA
Mais protestos
contra
megabarragem
no Brasil
Maria Joo Guimares
a A construo de uma central hidroelctrica em Belo Monte, na Amaznia, foi ontem motivo para protestos
em oito cidades brasileiras, enquanto
o concurso pblico para atribuio
das licenas de explorao se mantinha num pra-arranca legal com decises e contradecises judiciais.
Associaes ecologistas e de defesa dos povos indgenas dizem que o
projecto uma ameaa aos ndios que
vivem perto do rio Xingu, um afluente
do Amazonas no estado do Par.
Os protestos contra o projecto estenderam-se ontem por vrias cidades com estradas cortadas e balsas
que levam os carros atravs do rio
paradas. A oposio barragem ganhou recentemente visibilidade internacional com James Cameron, o
realizador de Avatar, que esteve na
regio para protestar contra o empreendimento,
Os ambientalistas dizem que os
ndios que moram na regio sero
afectados, ficando sem acesso a comunidades vizinhas e sem meio de
subsistncia. Vivemos especialmente
da pesca. Mas com o nvel mais baixo do rio, a pesca vai desaparecer,
explicou Jos Carlos Arara, lder de
uma das 13 tribos que vivem na zona
do rio Xingu potencialmente afectada
pela barragem.
Se esse leilo ocorrer, ser um crime de lesa-ptria, afirmou ao dirio
Estado de So Paulo o representante
do Movimento dos Atingidos por Barragens, Iuri Charles Paulino.
O juiz que decidiu pela suspenso
do concurso alegou que as audincias sobre o projecto foram meras
encenaes para cumprimento dos
normativos legais. A deciso foi revertida e o concurso acabou por se
realizar ontem tarde, mas uma nova
aco judicial deixou o resultado do
concurso suspenso.
A ideia da construo de uma barragem no rio Xingu que seria a terceira
maior barragem do mundo, a seguir
das Trs Gargantas na China e de
Itaipu, tambm no Brasil vem j dos
anos 1970 e sempre causou polmica.
A maioria das barragens na Amaznia,
explica o jornal norte-americano New
York Times, foram construdas antes
da ratificao da ltima Constituio
do Brasil em 1988, que prev proteco para os povos indgenas.
A barragem defendida pelo Presidente brasileiro, Luiz Incio Lula da
Silva. Num encontro recente com lderes ndios, Lula disse que esta uma
forma de obter energia mais limpa e
apresentou o projecto como essencial
para que se mantenha o ritmo do crescimento econmico do pas. Estudos
de ONG dizem que a barragem ser
pouco eficaz, produzindo menos 30
por cento da sua capacidade na estao seca.
Teatro/Dana
Nascer e
morrer nos
Anjos
aMaumMedocremmRazovelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
Custdia Gallego Maria dos Anjos, a criada de servir que volta a casa para reviver um passado doloroso
Agenda
entre outros.
Teatro
Lisboa. Teatro
Nacional D. Maria II
- Sala Garrett. P. D.
Pedro IV. De 01/06 a
02/06. 3 e 4 s 21h.
Tel.: 213250835.
Estreiam
Exitus
De e com Diego Lorca, Pako Merino.
Pelo Titzina Teatro.
Vila Real. Teatro. Alam. de Grasse. Dia 28/05. 6 s
22h. Tel.: 259320000. 5 a 7.
Porto. Teatro Nacional S. Joo. P. Batalha. Dia
3/06. 5 s 21h30. Tel.: 223401910. 7,5 a 16.
FITEI.
Ver texto na pg. 14 e segs.
FITEI.
Ver texto na pg. 14 e segs.
Hard To Be
a God
De Kornl
Mundrucz.
Encenao
de Kornl
Mundrucz.
Com Lili
Monori,
Annamria
Lang, entre
outros.
Alkantara
Festival.
A Comisso
FITEI.
Utpolis
Pelo Teatro do Frio. Encenao de
Rosrio Costa.
Porto. P. Parada Leito. De 01/06 a 02/06. 3 s 17h.
4 s 18h30. Entrada gratuita.
FITEI.
Schoolboy Play
Alkantara Festival.
Centro de Dia
Por Dona Vlassova e Guests.
Lisboa. Centro Social da S. R. S. Mamede ao Caldas,
19. At 01/06. 2, 3, 5 e 6 das 10h00 s 0h.
Medeia
A partir de Eurpides. Pelos Dood
Paard.
Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei
Miguel Contreiras, 52. At 28/05. 4 a 6 s 21h. Tel.:
218438801. 5 a 12.
Alkantara Festival.
De Roman Paska. Com Roman Paska,
Gabriel Hermand-Piquet.
Entrado
Pela PELE e o Centro de Criao para
o Teatro e Artes de Rua. Encenao
de Hugo Cruz.
FIMFA LX10.
Imaginarius 2010.
A Feliz Idade
A partir de Carpinejar, valter hugo
me e Csar Santos. Encenao de
Anna Stigsgaard.
Imaginarius 2010.
Alkantara Festival.
Alkantara Festival.
Foreplay
De Arthur Schnitzler. Encenao de
Mpumelelo Paul Grootboom. Com
Refilwe Cwaile, Koketso Mojela,
Continuam
Alkantara Festival.
Alkantara Festival.
Cest du Chinois
De Edit Kaldor. Com Nucheng Lu,
Siping Yao, Aaron Fai Wan, Lei Wang,
Qi Feng Shang.
Imaginarius 2010.
FIMFA LX10.
FIMFA LX10.
O Naufrgio do Titanic
De John Fisk. Encenao de Jim
Bywater. Com Paul Kessel, John Fisk.
Lisboa. Chapit. R. Costa do Castelo, 1/7. At 29/05.
4 a Sb. s 22h. Tel.: 218855550.
Dana
Estreiam
Hnuy Illa
De Mireia Gabilondo. Por KukaiTantaka. Coreografia de Jon Maya.
Porto. Teatro Nacional S. Joo. P. Batalha. De 28/05
a 29/05. 6 s 22h. Sb. s 21h30. Tel.: 223401910.
7,5 a 16.
FITEI.
Ver texto na pg. 14 e segs.
Encontro
O performer Miguel
Bonneville (Porto,
1985) o convidado
da sesso desta
noite dos encontros
Derivas - Para que
servem a arte e o
conhecimento
em geral?,
que decorre
s 21h30 no Centro
de Estudos Regianos,
em Vila do Conde.
conversa com Magda
Henriques, coordenadora
do programa de
actividades pedaggicas
da associao que
organiza o Circular
- Festival de Artes
Performativas, Bonneville
partilhar o que quiser
partilhar (livros,
textos, filmes, msicas,
poemas, documentrios,
performances, imagens)
com a audincia. A
entrada gratuita.
Festival Internacional
de Msica Avanada
e Arte Multimdia
www.sonar.es
A Sagrao
da Primavera
De Olga Roriz.
Corunha
17.18.19 Junho
As Bodas + Fauno
+ A Sagrao da Primavera
De Bronislava Nijinska, Cayetano
Soto, Vasco Wellenkamp. Pela
Companhia Nacional de Bailado.
Faro. Teatro Municipal de Faro. Horta das Figuras
- EN125. De 28/05 a 30/05. 6 e Sb. s 21h30. Dom.
s 16h. Tel.: 289888100. 12 a 16.
Youve changed
De Thomas Hauert.
Lisboa. Centro Cultural de Belm - Pequeno
Auditrio. P. do Imprio. De 03/06 a 04/06. 5 e 6
s 21h. Tel.: 213612400. 12.
Alkantara Festival.
Continuam
H3
De Bruno Beltro. Pelo Grupo de R.
de Niteri.
Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Ant Maria
Cardoso, 38-58. De 28/05 a 29/05. 6 e Sb. s 21h.
Tel.: 213257650. 5 a 12.
Alkantara Festival.
Void Elctrico
air, lcd soundsystem, 2manydjs, hot chip, laurent garnier, sasha, booka shade, matthew herberts one club,
ying lotus, fuck buttons, broadcast, alva noto + blixa bargeld, carte blanche (dj mehdi & riton), john talabot,
ufe, the slew feat. kid koala, cora novoa, octa push, delorean, 6pm, grobas, david m, fat sh, uzo, cauto,
becha vs. mwslee, viktor ores, o.m.e.ga, ino, labrador + p. ma, eme dj, fake robotique, caradenio dj,
escoitar.org (berio molina + horacio gonzlez) ouve tudo em SonarRadio www.sonar.es
organizao
patrocinadores
patrocinador principal
colaboradores
venda de bilhetes
Imaginarius 2010.
Teatro/Dana
aMaumMedocremmRazovelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
Antestreia
a
apresentao ontem,
Comemorao e A
Nova Ordem Mundial
regressam hoje, s
21h45, ao palco do Teatro
Aveirense, de onde
seguem para o Teatro
Municipal da Guarda
(quinta-feira, dia 13, s
21h30) e para o Teatro
da Terra, em Ponte de
Sr (sexta-feira, dia 14, e
sbado, dia 15, s 21h30).
Comemorao a ltima
Ns somos
o rei
Um clssico do absurdo
na Comuna, O Rei Est a
Morrer, de Ionesco, sobre
a maior certeza da vida: a
morte. Clara Campanilho
Barradas
O Rei Est a Morrer
De Eugne Ionesco. Encenao:
Joo Mota. Com Carlos Paulo, Ana
Lcia Palminha, Tnia Alves, Rui
Neto, Alexandre Lopes, Mia Farr.
Lisboa. Teatro da Comuna. P. Espanha. At 27/06.
4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.: 217221770. 5.
Agenda
Teatro
Estreiam
Keskusteluja
De e com Ville Walo, Kalle
Hakkarainen.
Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei
Miguel Contreiras, 52. De 07/05 a 08/05. 6 e Sb.
s 21h30. Tel.: 218438801. 5 a 12.
Continuam
Ol e Adeusinho
De Athol Fugard. Encenao de
Beatriz Batarda. Com Catarina
Lacerda e Dinarte Branco.
por isso, temos de saber encarar o
facto de que vamos morrer: O Rei
diz uma frase que eu acho genial:
Porque que eu nasci, se foi para
morrer? Malditos pais. uma frase
horrvel, e portanto bom saber
viver com alegria, com energia, para
poder passar a ponte, diz o
encenador.
O prprio Ionesco tinha pavor da
morte. Todos ns temos, em parte.
Mas nunca pensamos nela. Por isso
que vivemos erradamente. Se
convivssemos melhor com a morte,
ramos todos muito mais felizes.
As duas rainhas so dois lados da
mesma moeda. O rei Brenger
bgamo. Tem duas mulheres: a
morte e a vida.
a primeira vez que Joo Mota se
aventura pelos textos de Ionesco.
Este ano, abrimos com Samuel
Beckett, numa encenao do lvaro
Correia [A Felicidade, Amanh...].
Ora, se fizemos um mestre do
absurdo, Beckett, tnhamos de fazer
tambm o outro, o Ionesco. Beckett
e Ionesco (eu gosto muito dos dois,
diz Mota) tm sempre um lado
cmico, eles so todo o absurdo.
Quase que podemos dizer que [esta
pea] uma comdia. Trgica, mas
uma comdia, diz Mota.
A encenao ao contrrio das
indicaes tpicas na dramaturgia de
Ionesco despida, leve. Foi para
que cada espectador se sinta com
aquele problema. Para pensar como
que a gente acorda amanh,
porque que a gente vive, justifica
o encenador. Valoriza o texto e o
que est por trs dele. Penso que se
o Ionesco visse este espectculo,
gostava!.
As pessoas no se levantam, no
final da pea. Ficam paradas, at
falam baixinho. preciso dizer:
pronto, acabou. Gosto do silncio
que fica, sinal de que a pessoa
interiorizou coisas que eu penso que
so muito importantes, conta Joo
Mota.
O Rei Est a Morrer uma pea
que d para pensar muito. Como
Brenger, todos ns somos
bgamos.
Relativamente
chega s Caldas
da Rainha na
encenao de
Joo Lagarto
Salto.Lamento
Lisboa. Museu da Marioneta. R. da Esperana, 146
- Convento das Bernardas. At 07/05. 5 e 6 s
21h30. Tel.: 213942810.
Paisagens em Trnsito
De e com Patrick Murys.
Lisboa. Museu da Marioneta. R. da Esperana, 146
- Convento das Bernardas. Dia 12/05. 4 s 21h30.
Tel.: 213942810.
Wonderland
Jardim Suspenso
De Abel Neves. Encenao: Alfredo
Brissos. Com Carla Chambel, Simone
de Oliveira, entre outros.
Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala-Estdio.
P. D. Pedro IV. At 30/05. 4, 5, 6 e Sb. s
21h45. Dom. s 16h15. Tel.: 213250835. 12.
Foder e Ir s Compras
De Mark Ravenhill. Encenao de
Gonalo Amorim. Com Pedro
Carmo, Carla Maciel, Carloto Cotta,
Pedro Gil, Romeu Costa.
Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Ant Maria
Cardoso, 38-58. At 09/05. 4 a Sb. s 21h. Dom.
s 17h30. Tel.: 213257650. 15.
Miserere
A partir de Gil Vicente. Pelo Teatro da
Cornucpia. Encenao de Luis
Miguel Cintra. Com Joo Grosso, Jos
Airosa, Luis Miguel Cintra, Rita
Blanco, entre outros.
Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett.
P. D. Pedro IV. At 23/05. 4, 5, 6 e Sb. s
21h30. Dom. s 16h. Tel.: 213250835.
Relativamente
De Alan Ayckbourn. Encenao de
Joo Lagarto. Com Antnio Pedro
Cerdeira, Isabel Montellano, Joo
Lagarto, Patrcia Tavares.
Caldas da Rainha. Centro Cultural e Congressos. R.
Doutor Leonel Sotto Mayor. De 07/05 a 08/05. 6 e
Sb. s 21h30. Tel.: 262889650. 12,5.
O Vampiro de Belgrado
De Gonalo M. Tavares. Pelo Teatro
Bruto. Encenao de Miguel Cabral.
Com Isabel Nunes, Pedro Mendona.
Porto. Fundao Escultor Jos Rodrigues. R. da
Fbrica Social. At 22/05. 5 a Sb. s 22h. Tel.:
220109020. 5 a 7.
Dana
Estreiam
Agora a Srio
De Tom Stoppard. Encenao: Pedro
Mexia. Com Ana Brando, Joo Reis,
So Jos Correia, entre outros.
Lisboa. Teatro Aberto - Sala Azul. P. Espanha. At
31/12. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.:
213880089. 7,5 a 15.
A Praa
De N Barros. Com ngel Montero
Vzquez, Joana Castro, Katja Juliana
Geiger, Pedro Rosa. Alexandre
Soares, Jorge Queijo.
Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Edifcio da
CGD. De 07/05 a 08/05. 6 e Sb. s 21h30. Tel.:
217905155. 5 a 18.
Local Geographic
De Rui Horta.
Lisboa. CCB - Sala de Ensaio. Praa do Imprio. De
11/05 a 16/05. 3 a 6 s 21h (excepto 5). Sb. e
Dom. s 19h. Tel.: 213612400. 12.
Pessoas
Lindsay Lohan
safou-se da cadeia
Filha de Heigl
operada com sucesso
Portugal
Q.B.
Alimentao
Roulottes tm falta
de higiene, diz Deco
A edio fac-similada do
primeiro exemplar de Os
Lusadas foi lanada ontem, no
Museu de Artes Decorativas,
em Lisboa.
Um fac-smile uma edio
nova (geralmente de um livro
antigo) que reproduz fielmente
o original, incluindo fontes
de letras, escala, ilustraes e
paginao.
O original utilizado, raro
e avaliado em cerca de um
milho de euros, pertence
ao Ateneu Comercial do
Porto. A obra, datada de 1572,
encontrava-se em mau estado
geral de conservao. Assim,
h cerca de um ano, o Ateneu
decidiu confiar o exemplar ao
Departamento de Conservao
e Restauro da Fundao
Ricardo Esprito Santo Silva
(FRESS). Aps quase cinco
meses de trabalho, o restauro
da obra ficou concludo.
Conscientes da importncia
de Os Lusadas, a FRESS e o
Ateneu decidiram fazer uma
edio fac-similada, limitada e
numerada, da obra.
O Ateneu no revela o valor
do restauro, mas Conceio
Amaral, directora do Museu
de Artes Decorativas, diz
que, tendo em conta a
dimenso da obra, at nem foi
exorbitante.
A directora explicou ainda
que foram produzidos apenas
500 exemplares, que esto
venda no Ateneu, por 720
euros. Desses, apenas 50
esto disponveis na FRESS,
acompanhados pela primeira
vez de trs ensaios tcnicos
sobre Lus de Cames, a obra
e o processo de restauro,
por 760 euros. J tnhamos
reservas antes da edio do
livro, diz a directora, que
adianta ainda que possvel
pensar numa reedio, mas
j no ser numerada. Clara
Campanilho Barradas
Justia
Juzes elegem vice
de Noronha no CSM
Cerca de 1800 juzes escolhem
hoje quem vai ocupar o lugar
de vice-presidente do Conselho
Superior da Magistratura (CSM),
rgo de gesto e disciplina dos
juzes, e de mais seis lugares nos
prximos quatro anos. Dois juzesconselheiros, Jos Bravo Serra e
Orlando Afonso, so candidatos
a substitutos de Ferreira Giro, o
magistrado que nos ltimos anos
ocupou a vice-presidncia deste
conselho. Vrias centenas de juzes
j votaram por correspondncia e
os restantes podero faz-lo hoje
entre as 9h00 e as 19h00.
Parque Escolar
Presidente disposto
a prestar contas
Segurana privada
Arribas
Infraces subiram
Cem milhes para
70 por cento em 2009 combater eroso
Protesto
Alunos contra
poltica educativa
As fiscalizaes actividade da
segurana privada quase que
triplicaram no ano passado face a
2008, tendo tambm aumentado
em cerca de 70 por cento as
infraces detectadas no sector,
segundo dados ontem revelados.
Segundo um documento distribudo
no Parlamento pelo secretrio de
Estado adjunto da Administrao
Interna, Conde Rodrigues, as foras
de segurana realizaram 4266
aces de fiscalizao ao sector da
segurana privada em 2009, tendo
controlado cerca de 13 mil vigilantes
e detectado 2432 infraces.
Depois de um Inverno
especialmente agressivo, o
combate eroso costeira e a
requalificao das zonas afectadas
vo ser alvo este ano de um
investimento de 100 milhes de
euros, adiantou ontem agncia
Lusa a ministra do Ambiente.
Segundo Dulce Pssaro, as
condies meteorolgicas dos
ltimos meses foram motivo de
preocupao em pontos mais
vulnerveis, como as ilhas barreiras
do Algarve ou a zona da lagoa de
bidos, mas nenhuma situao
irrecupervel.
Teatro
aMaumMedocremmRazovelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
O Teatro do Vestido
apresenta hoje e amanh,
no International Design
Hotel de Lisboa (Rua da
Betesga, 3), o terceiro
mdulo do ciclo Esta
a Minha Cidade e
Eu Quero Viver Nela,
criao do performer
Miguel Bonneville.
Este espectculo
sobre estranhos,
Teatro
no hotel
explica Bonneville.
As apresentaes, que
comeam s 21h30 e
terminam 1h, decorrem
num quarto do hotel
e tm uma lotao
limitada a cinco pessoas,
com entrada gratuita.
Reservas (aconselhadas)
pelo 918388878.
Quando o
amor no
tem limites
Morrer por amor to
velho como o mundo.
Uma perturbadora histria
de afectos, no Jardim
Suspenso de Abel Neves.
Clara Campanilho
Barradas
Jardim Suspenso
De Abel Neves. Encenao de
Alfredo Brissos. Com Carla
Chambel, Carlos Oliveira, Carmen
Santos, Luciana Ribeiro, Manuel
Coelho, Simone de Oliveira.
Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Estdio.
P. D. Pedro IV. At 30/05. 4 a Sb. s 21h45. Dom.
s 16h15. Tel.: 213250835. 12
MARGARIDA DIAS
A av (Simone de Oliveira)
a nica pessoa que consegue
entrar no mundo fechado de
Luzia (Carla Chambel)
Agenda
de Joaquim Benite,
Jos Martins. Com Andr
Silva, Rogrio Boane, Solange
S, entre outros.
Teatro
Estreiam
O Rei Est a Morrer
De Eugne Ionesco. Pela Comuna
- Teatro de Pesquisa. Encenao
de Joo Mota. Com Carlos Paulo,
Ana Lcia Palminha, entre outros.
Lisboa. Teatro da Comuna. P. Espanha.
De 30/04 a 27/06. 4 a Sb. s 21h30.
Dom. s 16h. Tel.: 217221770. 5.
Continuam
Agora a Srio
De Tom Stoppard.
Encenao de Pedro Mexia.
Com Afonso Lagarto, Ana Brando,
Joo Reis, So Jos Correia,
entre outros.
Lisboa. Teatro Aberto - Sala Azul. P. Espanha.
At 31/12. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h.
Tel.: 213880089. 7,5 a 15.
Troilo e Crssida
De Shakespeare. Encenao
Foder e Ir s Compras
De Mark Ravenhill. Encenao
de Gonalo Amorim. Com Pedro
Carmo, Carla Maciel, entre outros.
Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Ant Maria
Cardoso, 38-58. At 09/05. 4 a Sb. s 21h.
Dom. s 17h30. Tel.: 213257650. 15.
Vitima da Crise
De Jorge Palinhos. Pelo Teatro
ArtImagem. Encenao de Jorge
Palinhos. Com Isabel Pinho,
Valdemar Santos.
Porto. Palcio de Cristal. R. D. Manuel II.
At 02/05. 2 a Dom. s 21h45. Tel.: 226057080. 3.
Dana
Continuam
Troilo e Crssida, um
Shakespeare que nunca se
tinha feito em Portugal
de
So Solo
De e com Clara Andermatt.
Porto. Teatro Nacional So Joo. P. Batalha.
At 30/04. 5 e 6 s 21h30. Tel.: 223401910.
3,75 a 16.
athol fugard
De 6 de Maio a 6 de Junho
Traduo: Jaime Salazar Sampaio; Encenao: Beatriz Batarda; Cenrio e gurinos:
Cristina Reis; Desenho de luz: Jos Nuno Lima; Sonoplastia: Srgio Milhano.
Interpretao: Catarina Lacerda e Dinarte Branco.
Coproduo
Apoios
http://www.teatro-cornucopia.pt
M/12
Teatro/Dana
a
elmmmBom
aMaumMedocremmRazovelmmmBom
mmmmMuito
m
mm
mmMuito BommmmmmExcelente
Bo
Romeu e
Julieta da
Margem Sul
O racismo, ponto de partida
para uma pea mordaz sobre
a luta de classes, o tema do
musical em cena na Barraca,
com canes de Jorge Palma.
Clara Campanilha
A Balada da Margem Sul
De Hlder Costa, Jorge Palma.
Encenao de Helder Costa. Com
Srgio Moras, Ciomara Morais,
Adrito Lopes,entre outros .
Lisboa. A Barraca - Teatro Cinearte. Lg Santos, 2.
At 31/12. 5 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.:
213965360. 5 a 12,5.
LUS ROCHA
Agenda
Teatro
Estreiam
Continuam
Pigmalio
De Pedro Mexia. Pelo Teatro Oficina.
Encenao de Marcos Barbosa. Com
Diana S e Emlio Gomes.
Guimares. CC Vila Flor - Pequeno Auditrio. Av.
D. Afonso Henriques, 701. At 13/03. 4 a Sb. s
22h. Dom. s 17h. Tel.: 253424700. 5 a 7,5.
Blackbird
De David Harrower. Encenao de
Tiago Guedes. Com Miguel
Guilherme, Isabel Abreu.
Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. At
14/03. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.:
223401905. 5 a 10.
Rei dipo
A partir de Sfocles. Pelos Artistas
Unidos. Encenao de Jorge Silva
Melo. Com Diogo Infante, Lia Gama,
Virglio Castelo, entre outros.
Lisboa. Teatro Nacional D. Maria II - Sala Garrett.
P. D. Pedro IV. At 28/03. 4 a Sb. s 21h30. Dom.
s 16h. Tel.: 213250835. 7,5 a 30.
Amor Solvel
De Carlos T e Hlder Gonalves.
Encenao de Luisa Pinto. Com
Romeu Costa, Joana Manuel, Rui
David, Cristina Cardoso, Jorge
Loureiro.
Matosinhos. Cine-Teatro Constantino Nery. Av.
Serpa Pinto. At 28/03. 4 a Sb. s 21h30. Dom. s
16h. Tel.: 229392320.
Concerto la Carte
De Franz-Xavier Kroetz. Pela CTB
Companhia de Teatro de Braga.
Encenao de Rui Madeira. Com Ana
Bustorff.
Comdia Mosqueta
De Angelo Beolco. Encenao de
Mrio Barradas. Com Ivo Alexandre,
Jos Martins, Paulo Matos, Teresa
Gafeira.
Almada. Teatro Municipal. Av. Professor Egas
Moniz. At 21/03. 5 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h.
Tel.: 212739360. 6 a 13.
Adlteros Desorientados
De Juan Jos Mills. Pelo Vises
teis. Com Pedro Carreira.
Estarreja. Cine-Teatro Municipal de Estarreja. R.
do Visconde de Valdemouro. Dia 13/03. Sb. s 23h.
Tel.: 234811300. 2.
A Felicidade, Amanh...
A partir de Samuel Beckett. Pela
Comuna. Encenao de lvaro
Correia. Com Alexandre Lopes,
Carlos Paulo, Hugo Franco, entre
outros.
Lisboa. Teatro da Comuna. P. Espanha. At 27/03.
4 a Sb. s 21h30. Dom. s 16h. Tel.: 217221770.
7,5 a 10.
No se Ganha, No se Paga!
De Dario Fo. Encenao de Maria
Emlia Correia. Com Cristina
Cavalinhos, Horcio Manuel,
Lucinda Loureiro, Lus Gaspar,
Rogrio Vieira.
Lisboa. Teatro da Trindade. Lg. da Trindade, 7 A.
At 28/03. 4 a Sb. s 20h30. Dom. s 16h30. Tel.:
213420000. 6 a 14.
Vai-se Andando
De Alberto Gonalves, Eduardo
Madeira, Filipe Homem Fonseca,
Jos Pedro Gomes, entre outros.
Encenao de Antnio Feio. Com
Jos Pedro Gomes.
Torres Novas. Teatro Virgnia. Lg. So Jos Lopes
dos Santos. Dia 12/03. 6 s 21h30. Tel.: 249839309.
15.
Guimares. So Mamede - Centro de Artes e
Espectculos. R. Dr. Jos Sampaio, 17-25. Dia 13/03.
Sb. s 22h. Tel.: 253547028. 17,5 e 22,5.
Dana
Estreiam
Ni vu ni connu Sem que
ningum d por isso
De e com Claudia Triozzi.
Lisboa. Culturgest - Grande Auditrio. R. Arco do
Cego - Ed. da CGD. 18/03 a 19/03. 5 e 6. s 21h30.
Tel.: 217905155. 5 a 17.
Continuam
As Lgrimas de Saladino
De Rui Horta. Com Katarzyna Sitarz,
Gilles Baron, Marcus Baldemar,
Miln jvri, Noem Viana Garca,
Silvia Bertoncelli, Vt Bartk.
Guimares. Centro Cultural Vila Flor - Grande
Auditrio. Av. D. Afonso Henriques, 701.
Dia 13/03. Sb. s 22h. Tel.: 253424700. 7,5 a 10.
Mundo
Envie uma queixa ao Cidades queixascidades@publico.pt
o foi feita ao abrigo de uma lei nunca revogada que permitia a apreenso
sem compensao.
O site da Universidade Livre de Berlim (disponvel em www.geschkult.
fuberlin.de) ter a maior base de dados de arte degenerada do mundo,
DR
PS francs
prope
inventar uma
nova civilizao
Clara Barata
a Os socialistas franceses tm j um
documento com as suas propostas
de valores para um novo modelo de
sociedade: Igualidade, justia, progresso social, ecologia, regulao.
H uma nova civilizao a inventar,
diz o projecto de 23 pginas, que a 20
de Maio ser sujeito votao dos militantes, face s falsas solues das
direitas liberais e conservadoras,
l-se ainda no documento que anda
a correr na Internet. A responsabilidade de elaborar este projecto econmico, social e ecolgico, na perspectiva das eleies presidenciais de
2012, para apresentar na conveno
socialista de 29 de Maio, foi atribuda
a Pierre Moscovici, que sobre ele falar numa entrevista a publicar hoje
pelo jornal Libration.
Algumas ideias tm sido sugeridas pela lder do PS Martine Aubry
na sua coluna no jornal Le Monde,
como o investimento na sociedade
do bem-estar, inspirado na noo
Martine Aubry
quer levar o
partido para uma
renovada defesa
da sociedade do
bem-estar e dar
importncia
ecologia
Teatro
RAQUEL ESPERANA
mos os cowboys, mas tambm as pessoas que morrem. Nunca vamos deixar de ser os cnicos do Ocidente, s
estamos aqui a pr isso em questo.
Continuamos a ser os mesmos cnicos
e irnicos de sempre.
Teatro de liceu
O lugar da festa fica por conta dos trs
cowboys. O refm, amarrado a uma
rvore, obrigado a escrever e a assinar uma carta, ditada por um deles:
conta a histria dos zelotas, um povo
oprimido pelos romanos que cometeu
suicdio em massa. Os corpos continuam a vir, dispostos por entre as
rvores e no estrado da festa.
O cenrio, cheio mas amplo, da
responsabilidade do artista plstico
Gabriel Abrantes. J conhecamos o
Gabriel e gostvamos do trabalho dele. Pedimos ajuda, como fazemos habitualmente. Ele esteve presente desde o incio dos ensaios. Em conjunto,
definimos o que queramos fazer e
depois ele trabalhou toda a parte da
cenografia. Fez um cenrio ao qual
ns nunca chegaramos sozinhos,
diz Vieira Mendes. Penim acrescenta:
No filme Rushmore [Wes Anderson,
1998], h uma cena de liceu. teatral.
H uma verdade quase nave em relao aos materiais, aos cenrios. Fomos buscar isso. Mas tudo irnico
e distanciado porque teatro e
porque no estamos a matar ningum, acrescenta Vieira Mendes ,
e o teatro, ao contrrio do cinema,
O Teatro Praga
vive da ironia
e da auto-ironia.
Aqui tentmos que as
coisas fossem mais
claras
Jos Maria Vieira
Mendes
Somos os cnicos
do Ocidente
Desde tera-feira, na Sala de Ensaio do Centro Cultural de Belm, o Teatro Praga apresenta
Oil aint all, JR. Western spaghetti numa floresta portuguesa, com Jesus e o petrleo do
Dallas l ao fundo. Clara Campanilho Barradas
30 Sexta-feira 26 Maro 2010 psilon
The National
6
Rapazes normais, com um
novo disco todo especial
Vashti Bunyan
Amor, rejeio
e um concerto no Lux
12
Ficha Tcnica
Directora Brbara Reis
Editor Vasco Cmara,
Ins Nadais (adjunta)
Conselho editorial Isabel
Coutinho, scar Faria, Cristina
Fernandes, Vtor Belanciano
Design Mark Porter, Simon
Esterson, Kuchar Swara
Directora de arte Snia Matos
Designers Ana Carvalho,
Carla Noronha, Mariana Soares
Editor de fotografia
Miguel Madeira
E-mail: ipsilon@publico.pt
32
RUI GAUDNCIO
O artista portugus, Prmio EDP Novos Artistas em 2009, vai levar os seus trabalhos ao Palais
de Tokyo e ao Muse dArt Moderne de la Ville de Paris - a seguir, desce terra em Guimares
Gabriel Abrantes
sem trguas em Paris
Gabriel Abrantes (Chapel
Hill, EUA, 1984) daqueles
artistas que no d
descanso obra. Troca-lhe
as voltas (Arte? Cinema?),
confunde-lhe os lugares
(Black box? Grande ecr?
Cubo branco?) e mostra-a,
generosa e furiosamente,
em Portugal (onde foi o
destinatrio do Prmio EDP
Novos Artistas em 2009) e
no mundo. Dele vimos h
dias, no IndieLisboa, o filme
History of Mutual Respect
(o jri do festival deu-lhe o
Prmio Media Recording
para a melhor curtametragem portuguesa a
concurso); nos prximos
meses, vamos poder visitar
duas exposies, uma l
fora e outra c dentro.
Entre 11 de Junho e 5 de
Setembro, na capital
francesa, Abrantes integra
Dynasty, que rene
trabalhos de 40 artistas no
Palais de Tokyo e no Muse
dArt Moderne de la Ville de
Paris. O comissariado de
Fabrice Hergott e MarcOlivier Wahler, e a colectiva
tem como objectivo revelar
Flash
Sumrio
curtas-metragens Olympia
I e Olympia II (2008),
at s mais recentes,
passando por Too Many
Daddies, Mommies and
Babies, o trabalho com
que venceu o Prmio EDP.
Ao todo, sero mostrados
perto de dez filmes e
vdeos, disponveis em
projeces e em monitores.
Com a exposio, chegar
um livro editado pelo
prprio, com textos de,
entre outros, Alexandre
Melo e Joo Ribas, actual
curador do MIT List Visual
Arts Center, em Boston.
Para explorar e revelar o
processo de trabalho de
Gabriel Abrantes,
desenvolvido em guies,
notas, colagens, desenhos e
fotografias. Jos Marmeleira
Steven Spielberg
interessa-se pela I
Guerra Mundial
Steven Spielberg j um veterano
de filmes sobre a II Guerra Mundial
(1939-1945). Com O Resgate do
Soldado Ryan (1998), o cineasta
trouxe de novo o conflito ao cinema
e ganhou cinco scares; antes, com
A Lista de Schindler (1993), tinha
ganho sete. Entre outras obras
sobre o tema, produziu ainda os
filmes As Bandeiras dos Nossos
Pais (2006) e Cartas de Iwo Jima
(2006), ambos realizados por Clint
Eastwood, e a srie Irmos de
Armas (2001), sobre um grupo de
soldados americanos que chega
Normandia no Dia D (1945). Muito
recentemente, com a mesma
equipa, voltou II Guerra Mundial
com The Pacific (2010), espcie
de Irmos de Armas 2, mas agora
na frente do Pacfico.
Entretanto, ficou a saber-se esta
semana que Spielberg vai, pela
primeira vez, abordar a I Guerra
Mundial (1914-1918) em War
Horse, adaptao do livro infantil
com o mesmo nome do escritor
ingls Michael Morpurgo. Publicado
em 1982, o livro relata a amizade
entre um rapaz ingls e um cavalo,
que se separam quando deflagra a I
Guerra Mundial e que voltam a
cruzar-se no decurso do conflito.
War Horse j foi adaptado para
teatro e est em cena no National
Theatre, em Londres. O filme da
Dreamworks chegar aos cinemas
dos EUA em Agosto de 2011, meses
antes do aguardadssimo Tintin: o
Segredo do Unicrnio, tambm de
Spielberg.
a sensibilidade artstica
emergente em Frana.
Gabriel Abrantes, que
estudou na cole National
des Beaux-Arts de Paris
entre 2005 e 2006,
apresentar dois filmes corealizados com Benjamin
Crotty: Visionary Iraq, no
Palais de Tokyo (onde ser o
Metrpolis vai
primeiro artista portugus a
voltar, om mais 25
expor desde a
transformao do edifcio
minutos
em centro de arte
Realizado por Fritz Lang e estreado
em Berlim em 1927, Metrpolis foi
contempornea), e uma
um dos filmes mais aclamados da
obra indita a ver no museu
histria do cinema. Quase com duas
parisiense.
, foi visto
horas e meia de durao,
iel
Em Setembro, Gabriel
na sua totalidade
Abrantes ter uma
o
individual no Centro
Cultural Vila Flor, em
m
Guimares: Histories
ies
of Mutual Respect:
Films by Gabriel
Abrantes in
Collaboration with
Benjamin Crotty,
Daniel Schmidt, Katie
tie
Widloski. Em
o
destaque, a produo
flmica e
cinematogrfica do
artista/cineasta, dass
Algumas das imagens cortadas pela Paramount para adaptar
o filme ao gosto mdio americano foram recuperadas e vo ser
mo as
obras seminais, como
includas numa nova verso, mais completa, do filme, a sair em DVD
psilon Sexta-feira 7 Maio 2010 3
Flash
apenas por altura da estreia. As
crticas e os lucros de bilheteira na
Europa foram mornos e, por isso, a
Paramount Pictures, o parceiro
americano do estdio alemo que
produziu o filme, a UFA, retirou
Metrpolis de circulao e fez
alguns cortes drsticos na pelcula,
resultando em menos uma hora de
filme. Na altura, a Paramount
justificou a deciso dizendo que a
montagem de Lang era complicada
de mais para o pblico americano.
A verso original no voltou a ser
vista e pensou-se que tinha sido
irreversivelmente destruda.
At 2008, altura em que a
perseverana de Fernando Pea,
arquivista de filmes argentino, foi
recompensada. H 20 anos que
Pea ouvia falar na existncia de
uma cpia do filme no Museo del
Cine de Buenos Aires, mas a
burocracia impedia-o de chegar at
ela. H dois anos, conseguiu. E
descobriu mais 25 minutos de filme
at aqui desconhecidos.
A verso completa da obra-prima
de Fritz Lang foi exibida em
Fevereiro no Festival de Cinema de
Berlim. Agora, o Film Forum, de
Nova Iorque, vai voltar a mostrar
The Complete Metropolis, e a
verso aumentada do filme vai
mesmo ser editada em DVD, no
final do ano, depois da projeco
em vrias salas dos EUA.
Espao
Pblico
Mais de 45
milhes de
visitantes
j passaram
pelo principal
museu de
arte contempornea do
Reino Unido
Os filmes mudos
de Hitchcock
vo ressuscitar
Antes dos grandes sucessos de
Hollywood, Alfred Hitchcock
realizou uma srie de filmes
mudos, que j davam sinais do
estilo, do trabalho de cmara e dos
argumentos de suspense
desenvolvidos pelo realizador nos
trabalhos seguintes. Durante
dcadas, esses filmes estiveram
esquecidos. Agora, o British Film
Institute (BFI) vai restaurar nove
dessas obras e apresent-las numa
srie de sesses pblicas em 2012,
como pea central de uma
retrospectiva dedicada ao
realizador. Embora o The
Independent avance que as
exibies faro parte das
Olimpadas Culturais, o programa
artstico que decorrer em
paralelo aos Jogos Olmpicos de
Londres, ainda no h
confirmao.
Alguns dos filmes
sero projectados
no BFI e outros
sero musicados
por msicos
experimentais
e faro parte
do programa
Alm de fazer
experincias
com a sua
guitarra,
Thurston
Moore
tambm vai
ler poesia nos
dez anos da
Tate Modern
SETEMBRO, 2010
SETEMBRO, 2010
A candidata,
_______________________________________________
Declaro que este Relatrio de Estgio se encontra em condies de ser apreciado pelo
jri a designar.
O orientador,
_______________________________________________
RESUMO
O Teatro na Comunicao Social Portuguesa
O caso do jornal PBLICO
Maria Clara Vasco Campanilho Barradas
PALAVRAS-CHAVE: Teatro, Jornalismo, Assessoria de Imprensa
O presente Relatrio de Estgio analisa o lugar que o teatro ocupa na comunicao
social portuguesa. Para isso analisa duas vertentes: o espao que o jornal PBLICO
dedicou ao teatro no perodo estudado; a maneira como os jornalistas trabalham a rea e o
modo como os teatros se vem retratados na imprensa. A anlise do espao feita a partir
de grficos sobre as edies do jornal PBLICO e dos seus suplementos, onde decorreu o
estgio a que este relatrio se refere, no perodo entre 1 de Maro e 31 de Maio de 2010. A
anlise ao trabalho de jornalistas e assessores de imprensa dos teatros decorre de
entrevistas: a editora adjunta do psilon o suplemento de cultura do PBLICO, uma
jornalista da mesma publicao, uma jornalista do jornal Dirio de Notcias (pelas
semelhanas a nvel de ideologia editorial), os assessores de cinco teatros cujos
espectculos foram tratados pelo PBLICO: Teatro Nacional D. Maria II, Teatro da
Trindade, Centro Cultural de Belm, Teatro Meridional e Teatro Municipal de Almada.
ABSTRACT
Theatre in the Portuguese Media
The case study of newspaper PBLICO
Maria Clara Vasco Campanilho Barradas
KEYWORDS: Theatre, Journalism, Press Office
This report is about how theatre is seen in the Portuguese media. It is based on two
items: the number of times theatre appeared in the newspaper PBLICO (where this
internship took place); the way journalists work on theatre subjects and the way theatre
staff see themselves represented in the press. The analysis of PBLICO and its
supplements refers to the period from March 1, 2010 to May 31, 2010. The results are
described in graphics. The analysis of the work of journalists and press officers is made out
from interviews: the deputy editor of psilon PBLICOs arts supplement, a journalist
from the same newspaper, a journalist from the newspaper Dirio de Notcias (similar to
PBLICO) and five press officers from theatres whose performances were the base from
PBLICO articles: Teatro Nacional D. Maria II, Teatro da Trindade, Centro Cultural de
Belm, Teatro Meridional and Teatro Municipal de Almada.
NDICE
Introduo ........................................................................................................ 1
Captulo I: As fontes do jornalismo ............................................................... 2
Captulo II: Jornalismo cultural ...................................................................... 9
Captulo III: O teatro na comunicao social portuguesa ........................... 24
1. O caso do jornal PBLICO............................................................... 24
2. A anlise: o teatro no jornal PBLICO ............................................ 27
3. Do lado do teatro: a opinio dos responsveis pela
comunicao com a imprensa ...................................................... 44
4. Do lado da imprensa: a opinio dos jornalistas que escrevem
sobre teatro .................................................................................... 73
5. Algumas observaes finais ............................................................ 102
Concluso ..................................................................................................... 104
Bibliografia ................................................................................................ 111
Anexo A: Entrevistas a responsveis pela rea da comunicao e
relaes com a imprensa de alguns teatros portugueses e a
jornalistas dos jornais PBLICO e Dirio de Notcias ............................. i
Anexo B: Seleo de artigos produzidos para o jornal PBLICO no
mbito do estgio ........................................................................................ ii
INTRODUO
CAPTULO I
As fontes do jornalismo
mundo em que se move a instituio que serve e na mesma medida o meio da comunicao
social. Mas, o assessor tem ainda mais uma tarefa. Alm de dar a conhecer a instituio
comunicao social, tem tambm de explicar, e por vezes ensinar, o funcionamento dos
mdia prpria instituio, para que todas as decises tomadas dentro da instituio
tenham em conta o seu reflexo na comunicao social. A instituio no pode, nos dias de
hoje, relativizar a importncia da assessoria de imprensa. O assessor deve ter uma palavra a
dizer quanto s informaes que a instituio pretende passar comunicao social e
maneira de o fazer. No sendo a parte fundamental da sobrevivncia de uma instituio, a
assessoria definitivamente a sua parte mais visvel. E actualmente, imagem e aparncia
so to importantes como o contedo.
Importante nunca deixar que o discurso passado para a comunicao social seja
diferente das aces efectivamente levadas a cabo no interior das instituies. Tambm
aqui importante no mentir ou mascarar a verdade. Os jornalistas conhecem
perfeitamente os objectivos das assessorias de imprensa, pelo que mais vale ser honesto do
que fingir que h um grande dado novo quando na realidade a informao no tem
potencial jornalstico nenhum. Neste caso, mais uma vez, perde-se o elo de confiana entre
os jornalistas e, no s com o assessor, mas tambm com toda a instituio, o que seria
uma perda irreparvel, talvez mais para a instituio do que propriamente para o jornalista.
Assim, o assessor de imprensa deve ser o mais diplomtico possvel.
No princpio do desenvolvimento das assessorias, alguns profissionais julgavam
que o envio e a quantidade de press releases seria suficiente para manter a presena da
instituio na comunicao social e achavam que todas as informaes internas da
instituio eram passveis de constituir uma notcia. Ficavam at aborrecidos e no
compreendiam quando tal no acontecia. Com a profissionalizao da rea, isso j no
acontece. Os meandros da comunicao social foram apreendidos, regra geral, e a forma
como trabalham agora mais efectiva para os seus propsitos. Algumas assessorias so j
parte integrante na definio da estratgia da instituio para a rea da comunicao e j
no implica preocupar-se apenas com os mdia mas tambm com outros pblicos da
instituio. O cuidado dispensado comunicao exterior instituio deve ser o mesmo
que o dedicado ao interior da instituio.
Os contactos com os mdia devem ser relativamente frequentes, para que se crie
uma relao de ajuda e partilha, de ambos os lados. Cria-se, assim, uma boa imagem das
instituies e por consequncia das assessorias. Mesmo que certas informaes
disponibilizadas pelas instituies no sejam aproveitadas pela comunicao social no
imediato, ou com a fora que as assessorias gostariam, pode ficar reservado para uma
prxima vez ou mesmo despertar interesse para outras situaes. E fica sempre a
informao de que a instituio est activa.
Por vezes, os mdia tambm precisam dos assessores para facultar informaes ou
contactos at mesmo para outros trabalhos, especficos instituio ou no, mas que por
algum motivo aquela assessoria o melhor intermedirio. Aqui, a assessoria de imprensa
que planeia, organiza e apoia ambas as partes. tambm um modo de ser prestvel aos
mdia, que mais uma vez acabar por retribuir prestando-lhe ateno num prximo
contacto.
Conhecer a rotina dos jornalistas , assim, fundamental para o sucesso do trabalho
de uma assessoria de imprensa. Por exemplo, a coisa mais elementar mas talvez tambm a
mais essencial, o envio das informaes. Devem ser tidos em conta os horrios dos
jornalistas, caso contrrio a informao corre o risco de no chegar sequer a passar pelos
olhos dos profissionais da comunicao. Sabendo isso, a assessoria tambm sabe o tipo de
dados que deve ter sempre disponvel caso os jornalistas queriam entrar em contacto
consigo. Manter dados genricos e particulares relevantes e publicveis sobre a instituio,
sempre actualizados, com uma linguagem semelhante jornalstica, simples, claros e de
fcil consulta essencial.
O assessor , no fundo, um consultor para as questes de comunicao da
instituio. O essencial que a comunicao das assessorias no um fim em si mesmo,
antes um meio para desenvolver trabalhos interessantes e aliciantes com as caractersticas
do jornalismo.
CAPTULO II
Jornalismo Cultural
A sociedade actual atravessa uma fase de transio, dos valores do final do sculo
XX para as emergncias do incio do sculo XXI. Nunca a mudana foi to rpida. Nunca
as novas tecnologias foram tantas e to pouco novas ao mesmo tempo. A velocidade de
descoberta de novas formas de comunicar e de viver cada vez maior. O que novo
hoje deixa de o ser amanh. O imediatismo embrenhou-se no viver actual. O importante
ter. H agora muito mais artigos para consumo imediato, os interesses foram canalizados
para outras direces e objectos, de consumo mais rpido e mais fcil. Deixou de haver
espao para a reflexo.
Obter notcias tambm entrou nesta equao. O nmero de meios disponveis para o
fazer aumentou, a natureza desses meios diversificou-se. As fontes utilizadas pelos
jornalistas antes quase exclusivas passaram a poder ser consultadas tambm pelos
agora consumidores da informao. As peas jornalsticas passaram a poder ser
comentadas e contrapostas. A notcia tornou-se definitivamente um bem de troca.
Com a forosa diminuio do espao noticioso na comunicao social (por questes
econmicas e tcnicas), no s portuguesa mas tambm mundial, tornou-se imperativo
redimensionar e redireccionar os objectivos de cada projecto jornalstico. Muitos ainda se
encontram a meio dessa transio, procurando definir o seu lugar nos novos modos de
vida. Outros no resistiram, e outros ainda decidiram-se por caminhos que agora se
revelam errados.
Os cortes, na estrutura fsica dos meios noticiosos e nos recursos humanos,
pareceram necessrios. Como aconteceu e acontece ainda em todas as seces temticas
que nos habitumos a encontrar no jornalismo portugus, o nmero de pginas
exclusivamente dedicadas cultura diminuiu.
Considere-se que o jornalismo cultural se caracteriza pela tal reflexo, como
oposio ao imediatismo e mesmo ao consumismo. Significam estes cortes que deixou de
haver espao para artigos de reflexo, porque a primazia foi dada s notcias. Resta pouco
espao para artigos maiores e meditativos (pedaggicos, at), que privilegiem uma
10
Embora controverso, aceite que os primeiros artigos deste novo gnero foram
publicados no sculo XVII, nos jornais ingleses The Transactions of the Royal Society of
London e News of Republic of Letters. Os artigos referiam-se a eventos culturais. Um
sculo depois, em pleno Iluminismo, a revista The Spectator, publicada diariamente em
Londres, torna o gnero mais conhecido. Os artigos sobre questes culturais e polticas
utilizavam uma linguagem nova e fomentavam a discusso, criando dois gneros
jornalsticos novos: a crtica e a crnica. O jornalismo cultural foi ganhando espao nos
jornais de todo o mundo (cf. Santos Silva, 2008).
At ao princpio do sculo XIX, cultura designava apenas os valores, criaes e
instituies dos grupos minoritrios privilegiados. S a elite burguesa e aristocrtica podia
buscar a perfeio intelectual e artstica (produo de cultura). O termo designava quase
em exclusivo as belas artes, a literatura, a filosofia e a cincia. Ao povo, iletrado, estava
vedado o acesso aos objectos culturais (cf. Santos Silva, 2008).
No final do sculo, as revolues industriais, a par das transformaes polticas,
sociais, laborais e tecnolgicas, sobretudo na Europa, altera a abordagem do jornalismo e
do gnero cultural. Os burgueses, grandes beneficiadores das mudanas do sculo, aspiram
ascenso social por meio do consumo cultural (cf. Siqueira, 2007).
As mudanas sociais trouxeram tambm novas formas de potenciar a cultura,
mediatizando-a: imprensa, cinema, rdio, fotografia, mais tarde a televiso (cf. Santos
Silva, 2008). Nascem assim aquilo a que se viria a chamar as indstrias culturais. Os
grupos sociais deixam de apreciar objectos culturais, agora consomem-nos (Siqueira,
2007). Todas estas mudanas tambm exigiram do jornalismo a adaptao a um novo
paradigma. O prprio jornalismo produto da indstria cultural (cf. Siqueira, 2007). A
adaptao do jornalismo a um mercado econmico originou a diminuio do espao at a
dedicado a crticas. O carcter reflexivo do novo gnero comea a diminuir. A
modernizao dos modos de viver e agir e consequentemente das indstrias culturais
originou a massificao cultural (cf. Sing, 2010). Com isto, os intelectuais e especialistas
em artes deixaram, aos poucos, de escrever. Os jornalistas profissionais comeam a
aparecer e assumem essa funo (cf. Cardoso, 2007).
At ao sculo XX, os contedos do jornalismo cultural no se haviam alterado
substancialmente. A partir dessa data, as temticas alastraram aos novos modos de vida e
11
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14
15
para um trabalho jornalstico, so na verdade tomados como certos, sem mais confirmao
ou investigao. Os assessores ganham, assim, pontos no que respeita ao seu objectivo.
Tambm no rara a oferta, aos jornalistas, de produtos e/ou servios que
promovam os produtos culturais das indstrias. Embora lcito da parte de editores e
promotores acaba por ser uma presso subtil. A facilidade em obter determinado produto
ou chegar at ele ajuda o jornalista no seu trabalho: ganha tempo para o realizar e mais
materiais, o que no fim pode garantir ao produto um lugar na edio. A (importncia da)
qualidade e relevncia do produto passam para segundo plano.
Os gabinetes de imprensa e assessores querem vender os seus produtos. E sabem
como envolv-los em textos brilhantes. Se o jornalista no estiver atento, pode acabar por
fazer notcias sem notcia nenhuma e esquecer-se das coisas realmente relevantes. Por isso
to importante que o jornalista leia bem os textos dos assessores antes de os utilizar para
qualquer trabalho. justo que os assessores tentem ser ouvidos pelos jornalistas, mas cabe
aos ltimos perceber onde est a verdadeira notcia, da maneira mais isenta possvel.
Hoje, a quantidade de produtos que todos os dias a indstria cultural prope
consideravelmente maior do que at h poucos anos. A tarefa do jornalista de cultura
tornou-se muito mais difcil e de maior responsabilidade. Os critrios tm de ser mais
precisos, porque o jornalista tem a misso de ajudar o leitor a separar os bons produtos dos
menos bons. Com cada vez menos tempo e espao, os jornalistas deixam-se enredar pela
agenda comercial, produzida tanto pelas indstrias como pelas assessorias. Quem
apresentar o produto mais chamativo, poder ter a sorte de o jornalista reparar nele.
Para ganhar essa ateno preciso ter recursos. Artistas menos reconhecidos e que
no tenham uma boa assessoria a trabalhar com eles, por vezes no o conseguem. -lhes
difcil transpor o degrau que os separa de um justo reconhecimento. Isso tambm
influencia a quantidade de artigos sobre o mesmo artista/criador que constantemente saem
na imprensa. Muitas vezes, o acontecimento at pode nem ser notcia, mas tendo em conta
o protagonista, -lhe dedicado um espao que poderia ter sido entregue a um artista menos
conceituado mas que fosse notcia. Essa utilizao pode ter a ver com amizades e turva o
olhar crtico do jornalista. A utilizao recorrente dos mesmos agentes culturais uma
maneira fcil de compreender a tendncia de cada rgo.
16
17
18
novo a anlise, a pesquisa. Neste sentido, o menos importante seria a actualidade noticiosa,
j que mesmo assim quem faz a agenda dos jornalistas no so eles prprios mas as
assessorias de imprensa. A mais-valia destes artigos seria a sua complexidade e informao
nova e relevante em comparao com textos enxutos e informativos ao mnimo (as
informaes noticiosas de um artigo so as mesmas contidas numa publicidade).
O desleixamento da comunicao social, em termos de questionar a prpria
Cultura, permite s industriais culturais a estagnao, a estandardizao de processos e
produtos culturais. As indstrias instalam-se num patamar de conforto e no procuram
quebrar os limites, no procuram a criatividade, a novidade, a explorao, a investigao, o
choque, a crtica que sempre pautou o mundo da arte, resultando assim em produtos
previsveis e de baixa qualidade. Mantm-se, assim, os mesmo padres estticos e
temticos reproduzidos incessantemente e em srie, virado para o mercado de massas, sem
nada de novo e estimulante para apresentar. Esta situao torna-se um ciclo, porque ao
seguir a agenda das industriais culturais, o jornalismo cultural vai ser to inspido como os
produtos resultantes desta indstria pouco exploradora e inventiva. (cf. Cunha, Ferreira,
Magalhes, 2002) (cf. Santos Silva, 2008).
Deste modo, pode dizer-se que o jornalismo cultural () limita-se a trs formas de
avaliao das produes estticas: a) a crtica das obras de arte, levando em considerao
um cnone (imposio de dominantes) capaz de reduzir as expresses artsticas do mundo
ocidental; b) a apresentao das obras de arte de forma referencial, sem quaisquer
perspectivas analticas; c) a vinculao do gosto esttico lgica do consumo (Pereira,
2007).
evidente que cada rgo de comunicao tem as suas prprias directrizes e
critrios editoriais. Assim, tal como todos os outros, os acontecimentos culturais apenas
tm interesse jornalstico quando se coadunam com esses referenciais. portanto, bastante
flexvel aquilo que se entende por assunto para a seco de cultura e a linguagem mais
adequada para abordar o assunto. Esses critrios seguem a tendncia jornalstica que
impera em cada contexto sociopoltico e as intenes comunicativas de cada empresa
jornalstica (cf. Alzamora, 2008).
Nos jornais dirios, a informao cultural, alm de escassa, limita-se muitas vezes a
pequenas informaes que chegam das agncias noticiosas. Nesses casos, na maioria das
19
20
funes esse editor, que passou a fazer o trabalho de edio, embora o esquema de incluso
de notcias nas pginas da edio diria tenha permanecido o mesmo.
A seco de cultura composta por jornalistas distribudos pelas redaces de
Lisboa e do Porto. Os mesmos jornalistas trabalham para a seco de cultura e para o
suplemento psilon. Na redaco do Porto esto dois jornalistas e o editor adjunto do
psilon. Em Lisboa, esto seis jornalistas, o editor do psilon e o editor de cultura. Todos
esto em constante comunicao entre si por telefone. Tambm colaboram frequentemente
outros jornalistas do PBLICO quando o tema dos artigos se justifica com a sua
especializao e jornalistas de fora que colaboram com o suplemento.
O editor de cultura participa na reunio diria de editores, mas o editor do
suplemento no. A reunio do psilon acontece quinta-feira e a reunio da seco de
cultura sexta-feira.
Alguns dos artigos de cultura que saem na edio diria do jornal so colocados,
depois de sarem no papel, na seco de cultura do site do jornal. Outros so elaborados
exclusivamente para o site e no saem em papel. um jornalista da referida seco que faz
esse trabalho, mas tambm o podem fazer os jornalistas do on-line.
O psilon tem um site independente do do PBLICO. Quem o alimenta o mesmo
jornalista que alimenta a seco de cultura do site do jornal e o editor do psilon. Os artigos
que saem no psilon so colocados, depois de sarem no papel, no site do suplemento.
Tambm so feitos outros artigos exclusivamente para o site do psilon.
Tanto o jornal como o suplemento aderiram s redes sociais. Tal como as outras
notcias, os artigos de cultura tambm so divulgados por estas plataformas. O PBLICO
utiliza o Facebook, Twitter e YouTube (embora este no seja actualizado h mais de um
ano). O psilon faz-se representar no Facebook . A equipa de comunidades do jornal faz a
manuteno das redes sociais e no psilon o editor que actualiza os contedos da conta no
Facebook. As actualizaes so feitas com os contedos que vo saindo no site e nas
edies em papel, com ligaes para os artigos completos no site do psilon e com
pequenos destaques para os artigos que vo sair em papel na semana seguinte.
Alguns artigos so comuns seco de cultura do site do PBLICO e ao site do
psilon, outros so exclusivamente para um ou outro dos canais.
21
reedio, estreia, etc.) suficientemente interessante na semana da edio. Pode ter vrios
artigos complementares, do mesmo ou de vrios autores.
Os Temas de semana dizem respeito a novidades da semana (lanamentos, edies,
reedies, estreias, etc.). Esto organizados por rea temtica, mas a ordem pela qual surge
cada rea varivel. H, regra geral, uma etiqueta a referir a rea temtica em que o artigo
se enquadra. A dimenso de cada artigo varia entre uma e quatro pginas. So, em mdia,
treze artigos por suplemento.
A seco A Semana, com um separador prprio, tem uma organizao semelhante
anterior, mas os textos so mais pequenos e recebem o nome de mini destaque. nesta
rea que aparecem as agendas de teatro, cinema, exposies e concertos. E tambm as
crticas a discos, livros e filmes, na mdia de trs por rea temtica, por cada edio. Por
vezes, a crtica ao mesmo filme repete-se em vrias edies. Aparece tambm um quadro
com as estrelas atribudas por quatro crticos de cinema do PBLICO aos filmes mais
recentes, numa mdia de oito filmes. H ainda espao para uma crnica sobre livros escrita
por um jornalista da redaco. Por vezes, as reas do teatro e da dana so condensadas na
mesma pgina. Nesta seco, tambm surgem os topos. So pequenas breves inseridas nas
pginas da rea temtica a que correspondem. Por vezes, surge, como um topo, a opinio
de um leitor sobre determinado produto j analisado pelo psilon.
As reas temticas habituais no psilon so: livros, msica, exposies, cinema,
teatro e dana.
Os textos do psilon so todos assinados, excepo dos artigos do Flash (apenas o
artigo maior assinado) e dos topos.
23
CAPTULO III
O teatro na comunicao social portuguesa
Este relatrio reflecte sobre o lugar que o teatro ocupa na comunicao social
portuguesa, tomando como exemplo o caso do jornal PBLICO.
A escolha deste tema deve-se a ter sido esta a rea artstica sobre a qual escrevi os
maiores textos para o suplemento de cultura psilon, durante o estgio na seco de cultura
do jornal PBLICO, a que este relatrio se refere. Escrevi ainda artigos sobre artes,
cinema, msica, livros e outros, sempre da rea cultural, para o caderno principal do
PBLICO, P2, site do PBLICO e site do psilon, num total de 124 artigos1.
No PBLICO, o teatro, a par das outras artes, tem diferentes oportunidades de
entrar na edio. O caderno principal do jornal no tem uma seco fixa de cultura, pelo
que o teatro s poderia mesmo entrar no psilon editado sexta-feira a reboque de uma
estreia.
Como habitual no suplemento, os artigos de teatro podem ter uma ou duas
pginas (cerca de 5000 caracteres ou 7000 caracteres ou mais, respectivamente), entrar na
seco A Semana, que acolhe textos mais pequenos separados por rea artstica, o roteiro
da semana e crticas a discos, filmes, livros e exposies (este artigo mini destaque tem
cerca de 3000 caracteres), ou ainda na seco Flash, que congrega pequenos artigos
sobre as novidades nacionais e internacionais da semana (o tamanho dos artigos varivel,
mas tm em mdia 1000 caracteres). Todos os artigos so acompanhados por fotografias
(uma, no caso de artigos de uma pgina, mini destaques e Flash, duas ou mais no caso de
artigos de duas pginas).
Alguns desses trabalhos esto reproduzidos no Anexo B. Por questes de espao, foram escolhidos
trabalhos o mais diversos possvel, escritos para todos os suportes (papel e sites) (incluindo artigos sobre
peas de teatro representadas nos teatros entrevistados para este relatrio).
24
O teatro tambm pode entrar na rea das sugestes e da agenda cultural dos
suplementos P2 e Cidades. Estes suplementos apresentam diversos temas de sociedade,
que incluem entrevistas e artigos mais desenvolvidos relacionados com a actualidade, mas
tambm, quando se justifica, notcias sobre artes e cultura. Incluem ainda, entre outros, a
programao televisiva do dia e a agenda cultural do dia dividida por rea artstica e por
localidade. Cada suplemento tem duas edies, a de Lisboa e a do Porto, porque a agenda
difere conforme a regio do pas. O P2 editado de segunda-feira a sbado e o Cidades sai
ao domingo. O teatro includo na agenda cultural do dia sob o ttulo genrico Teatro e
dividido por regio ou cidade.
Pode ainda ser o destaque fotogrfico da agenda cultural (por vezes duas
fotografias, mas no geral s uma) ou a sugesto do dia na rubrica Sair. Esta rubrica o
destaque da primeira pgina da agenda cultural. Regra geral, sugere uma actividade para
fazer fora de casa (filmes, espectculos, exposies, visitas ou outros), e existe em
contraponto ao destaque Ficar, que prope produtos culturais para consumir em casa
(livros, discos ou outros).
No P2 aparecem ainda as crticas de teatro, a par de crticas a msica (concertos e
pera) e dana. As crticas a exposies, livros, discos e filmes so publicadas no psilon,
por serem acontecimentos com uma prazo de validade mais longo do que os primeiros.
Os textos escritos para o psilon so publicados, no dia da edio do suplemento, no
site do psilon, mas no no do PBLICO. Embora o site do PBLICO remeta para o do
psilon, os dois sites funcionam autonomamente. As crticas escritas para o P2 no saem
em nenhum dos sites.
Com o intuito de perceber qual a presena do teatro na comunicao social,
tentando para isso entender as relaes da imprensa com o teatro e vice-versa, pareceu
lgico ouvir os dois lados sobre a relao que mantm uns com os outros. Assim, e
tomando o jornal PBLICO como exemplo, foram realizadas oito entrevistas para este
relatrio: cinco a assessores de imprensa de teatros e trs a jornalistas.
Os teatros foram escolhidos entre aqueles contactados no decorrer do estgio,
seguindo um critrio de diversidade: diferentes dimenses, diferentes caractersticas,
diferentes pblicos. Assim se chegou a cinco teatros. Foram escolhidos quatro em Lisboa e
um em Almada, por ter sido este o nico teatro contactado que no se localiza na cidade de
25
Lisboa. Os teatros escolhidos so: Teatro Nacional D. Maria II (o teatro mais antigo do
pas, com uma histria associada), Teatro da Trindade (pequeno, pertence a uma fundao
privada, tem histria), Teatro Meridional (muito pequeno, no recente mas ainda procura
afirmao embora seja dirigido por actores consagrados), Centro Cultural de Belm
(grande organizao cultural, embora no seja um espao exclusivamente dedicado ao
teatro) e Teatro de Almada (em franco desenvolvimento, fora de Lisboa). Responderam s
entrevistas os responsveis pela comunicao destes teatros (cada um dos teatros atribui
diferentes designaes a esta funo), visto serem eles as pessoas que esto mais em
contacto com a comunicao social e os jornalistas.
Os jornalistas foram escolhidos em funo de o jornal PBLICO ser o ponto de
partida para esta anlise. Assim, foi entrevistada uma jornalista da seco de cultura do
PBLICO que habitualmente acompanha o teatro e a editora adjunta do psilon,
responsvel pela rea do teatro e da dana. Foi ainda entrevistada uma jornalista
colaboradora do jornal Dirio de Notcias que frequentemente acompanha o teatro. Esta
escolha deve-se ao facto de o suplemento psilon, pela sua natureza, no ter nenhuma
publicao concorrente directa. O Dirio de Notcias, pela sua posio editorial, a
publicao diria mais semelhante ao jornal PBLICO.
Todas as entrevistas esto reproduzidas, na ntegra, no Anexo A deste relatrio.
A par das entrevistas realizou-se uma anlise, expressa em grficos, presena do
teatro nas edies do jornal PBLICO e suplementos durante o perodo em que decorreu o
estgio, entre 1 de Maro e 31 de Maio de 2010, resultando em: 92 edies do caderno
principal, 79 edies do suplemento P2, 13 edies do suplemento Cidades e 14 edies do
suplemento psilon. A anlise do psilon, pelas suas caractersticas de suplemento semanal,
foi feita s edies de 5 de Maro a 4 de Junho de 2010.
A anlise ao jornal revelou que o teatro s trabalhado a propsito da estreia de
uma pea, e nunca entrou no caderno principal. Assim, s esto contemplados na anlise o
psilon (para artigos), o P2 (para crticas e sugestes e destaques na agenda cultural) e o
Cidades (para sugestes e destaques na agenda cultural).
A classificao usada nos grficos e designada por rea artstica foi adoptada por
ser a mais genrica possvel e a mesma que o psilon utiliza habitualmente nas suas
pginas: msica, cinema, livros, exposies, teatro, dana.
26
A primeira concluso que se pode tirar da leitura dos grficos que o teatro no
est to pouco trabalhado no psilon como se supunha. Isso mesmo pode ser comprovado
pela simples contagem doo nmero de artigos publicados no suplemento,
suplemento como mostra o
seguinte grfico:
Grfico 1
Dana
7
Outros
4
Msica
63
Exposies
16
Livros
36
Cinema
18
28
Cada trabalho um trabalho, e por isso uns artigos so maiores do que outros. Mas
seria de esperar que o nmero de pginas dedicadas a cada rea artstica fosse proporcional
ao nmero de artigos apresentados. A contagem do nmero de pginas teis do psilon
(pginas com texto) mostra uma situao ligeiramente diferente da anterior:
anterior
Grfico 2
Teatro
37
Dana
13
Outros
17
Msica
122
Exposies
37
Livros
84
Cinema
90
29
Grfico 3
Dana
0
Outros
1
Msica
4
Livros
2
Cinema
6
Mesmo sendo a quarta arte com maior nmero de artigos,, o cinema que faz mais
capas (6 capas de um total de 14 edies).
edies Imediatamente a seguir ao cinema est a msica
m
(4 capas) e os livros (2 capas).
capas). O teatro fez uma capa (com o festival de artes performativas
Alkantara Festival, 21 de Maio de 2010).
2010 Houve ainda uma capa sobre a representao do
corpo nas vrias artes. A dana
dana e as exposies no fizeram nenhuma capa. No entanto,
estas artes no estiveram de todo ausentes das capas.
30
Em
m proporo semelhante ao nmero de artigos, esto as chamadas de capa
(referncia, na capa, a um artigo que se encontra no interior da edio).
). O psilon faz, em
mdia, cinco chamadas de capa por
p edio (pode ser o nome de um autor ou de um
projecto).
Grfico 4
Outros
3
Exposies
5
Msica
22
Livros
13
Cinema
10
a msica,, a rea com maior nmero de artigos, que faz mais chamadas de capa
(22 referncias), seguida
ida dos livros (13 referncias) e do cinema (10 referncias).
referncias) Se as
exposies e a dana no fizeram nenhuma capa, fizeram chamadas de capa (5 e 2
referncias,, respectivamente).
respectivamente J o teatro, com maior nmero de artigos que a dana e as
exposies, e com uma capa, no fez nenhuma chamada de capa. Dos quatro artigos
includos na categoria outros, trs fizeram chamadas de capa.
31
Analisando todos os artigos de teatro publicados no psilon (21 artigos nas pginas
de dentro do suplemento mais 16 artigos na seco A Semana) segundo a localizao
geogrfica, confirma-se
se a primeira ideia da forte presena de estreias em Lisboa e Porto:
Grfico 5
Guimares
Porto
Coimbra
Caldas da Rainha
Lisboa
23
Almada
3
0
10
15
20
25
No perodo analisado,
analisado o psilon fez referncia a apenas oito localidades nos seus
artigos de teatro,, todas cidades sede de concelho. As cidades com maior nmero de
referncias so, como se supunha, Lisboa e Porto. No entanto, Lisboa (23 referncias) tem
larga vantagem sobre o Porto (8 referncias). Das oito localidades, parte
part Lisboa e Porto,
apenas Almada mencionada por mais do que uma vez (3 referncias).
(De referir que o total de artigos (37 artigos) no corresponde aos valores
apresentados no grfico (39), porque em dois deles se faz referncia a duas localidades e
no apenas a uma, como nos outros artigos.)
32
Mapa 1
33
Na seco Flash,
, que apresenta novidades semanais do mundo das artes, o teatro
tem pouca representao:
Grfico 6
Teatro
4
Dana
1
Outros
10
Msica
23
Exposies
12
Livros
6
Cinema
29
34
Grfico 7
Dana
7
pera
5
Msica (concertos)
36
35
Tambm no P2 (editado
editado de segunda-feira a sbado) e no Cidades (ao domingo), o
teatro pode aparecer como destaque fotogrfico e sugesto. A agenda cultural surge sempre
nos dois suplementos, pelo que o P2 e o Cidades foram analisados como se de um s
suplemento se tratasse, com edio de domingo a sbado. Como estes
es suplementos tm
t
duas edies, Lisboa (cobre o centro e sul do pas) e Porto (cobre o norte e centro norte do
pas), as duas foram analisadas paralelamente.
Na edio de Lisboa,
Lisboa o destaque fotogrfico com legenda da agenda cultural
privilegia as mesmas categorias adoptadas pelo psilon:
Grfico 8
Msica
24
Exposies
36
36
Grfico 9
Outros
15
Msica
41
Teatro
19
Exposies
17
Cinema
12
Nesta edio, a msica que assume maior destaque (41 destaques), a seguir o
teatro (19 destaques), as exposies (17 destaques) e o cinema (12 destaques). Mais uma
vez, a dana tem apenas trs destaques. A categoria outros tem uma representao ainda
maior do que a dana e o cinema (15 destaques). Tirando a msica, h menos destaques de
cada rea artstica se comparado com a edio de Lisboa,
Lisboa mas h mais variedade quanto ao
gnero desses destaques.
Na edio do Porto, o total de destaques tambm maior do que o nmero de
(Na
edies (92), pelos motivos atrs referidos para a edio de Lisboa, e ainda maior do que
nessa
essa edio (107 destaques na edio do Porto contra 100 destaques na edio de
Lisboa)).
37
Grfico 10
Cinema
5
Exposies
7
Dana
6
Teatro
22
38
Grfico 11
Outros
15
Msica
36
Teatro
10
Exposies
18
Cinema
10
Aqui a msica que aparece mais vezes (36 sugestes), seguida das exposies (18
sugestes) e do teatro e cinema (10 sugestes cada). A categoria outros tem uma
representao menos fortee do que na edio de Lisboa (15 sugestes contra 36 em Lisboa)
Lisboa
e a dana tem apenass 3 sugestes.
sugestes O total de sugestes corresponde ao nmero de edies.
edies
39
Grfico 12
Lisboa
Algs
Amadora
Queluz
Vila Franca de Xira
Torres Novas
Seixal
Leiria
Portalegre
vora
Tavira
Faro
1
1
1
1
1
1
2
1
1
1
1
0
20
40
60
80
100
40
Mapa 2
41
Grfico 13
61
1
1
2
1
3
3
1
1
4
3
3
1
2
2
3
1
1
0
10
20
30
40
50
60
70
A cidade do Porto mantm o domnio das sugestes (61 sugestes) sobre as outras
localidades representadas na
n edio do Norte. Mas aqui faz-se referncia a mais
localidades do que na edio de Lisboa (dezoito contra
co
doze). Alm disso,
disso metade das
localidades
lidades apresentadas aparece mais do que uma vez no perodo analisado,
analisado embora em
muito menor nmero do que a cidade do Porto.
Porto
(Ao
Ao contrrio da edio de Lisboa, o nmero de sugestes na edio do Porto (94
sugestes) superior ao nmero de edies (92 edies) porque h dois destaques que
referem duas localidades
es diferentes na mesma sugesto.)
sugesto
42
Mapa 3
excepo de Portalegre (que pertence edio de Lisboa mas surgiu uma vez na
edio do Porto), todas as sugestes esto localizadas no Norte litoral do pas, volta do
grande Porto.
De referir que, por algumas vezes, tanto no destaque fotogrfico como na sugesto
Sair, quer na edio de Lisboa quer na do Porto, se verificou a repetio de sugestes e
por consequncia da fotografia a elas associada. Esses casos, todos em relao a
acontecimentos nas cidades de Lisboa e Porto, foram contabilizados como os outros.
43
45
por exemplo] acho que somos privilegiados. O teatro, dentro da cultura um bocado mais
mainstream, acaba por ter mais visibilidade. At porque, no caso do Teatro Nacional, tem
actores e encenadores conhecidos. Por isso, conseguimos mais facilmente divulgao nos
meios onde normalmente no se consegue, que so as revistas do social. Mas no acontece
com todos os equipamentos, diz Joo Pedro Amaral, responsvel pela Assessoria de
Imprensa do Teatro Nacional D. Maria II.
Ainda assim, Joo Pedro Amaral no considera muito larga a vantagem do Teatro
Nacional sobre outros teatros: No considero que tenhamos vantagem sobre os outros
teatros a nvel da assessoria de imprensa. Mais ao nvel de pedidos concretos. Temos
muitos pedidos de produes fotogrficas, gravaes de vdeo. Por exemplo, uma
produtora quer fazer uma entrevista a um actor. Pergunta-lhe onde quer ser entrevistado e
automaticamente a pessoa se lembra do Teatro Nacional. uma referncia a nvel
histrico. Actores mais velhos, como Eunice Muoz e Rui de Carvalho, que tiveram uma
histria com o Teatro Nacional, gostam que as entrevistas sejam feitas aqui porque h uma
ligao emocional com o Teatro, no apenas profissional.
Mas, em todo o caso, o Teatro Nacional continua a servir de remedeio para a
comunicao social, diz Joo Pedro Amaral: H pessoas que estavam nos meus contactos
no Teatro Maria Matos que no iam s actividades, mas que passaram a fazer a cobertura
da actividade do Teatro Nacional, precisamente pela visibilidade que tem o Teatro
Nacional. No sei se ser benefcio em relao a outras instituies. Parto do principio que
o PBLICO, o Expresso, o Dirio de Notcias, o Correio da Manh ou outro, assentam no
princpio da iseno, e tentam dar a mesma visibilidade a vrios equipamentos. Se calhar,
meios de comunicao social mais pequenos optam por um artigo sobre o Teatro Nacional
porque chama mais gente, tem mais impacto, este teatro tem uma grande histria.
Esta a opinio de alguns dos grandes equipamentos de teatro de Lisboa, mas as
pequenas companhias sentem o mesmo, como disse Maria Folque, da Produo do Teatro
Meridional: Em relao s outras artes, o teatro est pouco divulgado. Principalmente em
relao msica. Acho que por causa do pouco espao que existe para o assunto: espao
de divulgao, de promoo, de crtica, de explorao do teatro. E da dana tambm. Cada
vez h mais coisas e o espao encolhe. Acho que a msica ocupa mais espao, porque h
mais gente a querer saber (). Compreendo que a questo do espao que determina, que
46
tem de haver escolhas. Mas tambm acho que s vezes se podia dar mais espao ao teatro.
Acho que as pessoas que lem no se apercebem que h tanta coisa a acontecer como a que
realmente acontece. Eu sei o que que acontece nos outros espaos, mas no
necessariamente pela imprensa. As pessoas que no esto no meio acho que no sabem.
Infelizmente, o espao para cultura muito pequenino para a quantidade de coisas que
acontecem. Todos gostvamos de ter mais espao; todos mesmo, no s o teatro como as
outras artes.
Pedro Mendona considera que a falta de espao para o teatro se deve s
organizaes jornalsticas: [A pouca representao do teatro na comunicao social]
demonstra que h uma fora que subterrnea, para os grupos empresariais da
comunicao que no est a ser aproveitada e que vai ser perdida para a internet, para
microprojectos direccionados para pblicos-alvo. Isso vai acontecer. uma vergonha e
uma falta de estratgia dos grupos empresariais, que ainda no perceberam que h uma
nova gerao que consome cultura, consome arte. E portanto no perceberam ainda que
essas pessoas vo naturalmente deixar de comprar jornais e de ouvir algumas rdios porque
esto-se nas tintas para se o Scrates espirrou. So os tais novos consumidores da internet.
E isso vai levar morte de alguns jornais, disso no tenho dvidas.
Para mim, os jornais tradicionais esto a morrer por no saberem acompanhar os
novos tempos. Continuam presos s partes tradicionais de um jornal a poltica, a
sociedade, o desporto e esto a deixar morrer a cultura e as novas culturas, porque
mesmo dentro do teatro esto presos ao mesmo, sempre o mesmo, e as pessoas tm
consumos diferentes. Viro geraes novas com algum poder de compra e que s tm
informao atravs da internet, porque no lhes interessa outro meio. Por que que vo
comprar o PBLICO, se vo ler o que vem noite no Telejornal? Quem diz o PBLICO
diz todos os outros.
Mas eu acho que o teatro vai sobreviver mais facilmente do que a imprensa e a
comunicao social, porque o teatro est c desde que o Homem existe e a imprensa s o
Gutenberg que a inventou com o papel impresso no Ocidente. Antes de haver
comunicao social, o teatro era muitas vezes quem passava as novidades de terra em terra.
Ainda tem essa importncia. No culpo a classe jornalstica, culpo os grupos empresariais
47
que so cegos e s se preocupam com o capital, procuram tanto o dinheiro imediato que se
esto nas tintas para o mdio e longo prazo.
Mas, para o assessor do Trindade, tambm preciso no esquecer que o meio
cultural pequeno e os mais fortes que ganham: H muitos jornalistas ligados ao lobby
cultural. O lobby cultural pode ser positivo, mas tambm castrador para as coisas
emergentes. Os novos valores ou companhias e criadores emergentes no tm espao na
imprensa; no s por falta de espao fsico mas porque esse espao j est ocupado por
criadores que mantm uma relao diria com os jornalistas. A relao com algumas
companhias e criadores to forte que no d espao aos emergentes, mas no acho que
isso seja consciente. Por outro lado, nem todas as companhias, por muito boas que sejam,
tm assessoria de imprensa profissional, e bem paga. E isso leva a uma luta desigual no
relacionamento com os jornais. Eu sou pago para estar 24 horas a pensar nos mdia. Os
lobbys so uma barreira de conforto, para o meio. um sistema do qual ns fazemos parte,
que eu tento, a ttulo pessoal, ir furando. J estive fora do sistema, j vi o que estar do
lado de fora. E s vezes esse sistema s deita c para fora porcaria, esto todos a dizer o
mesmo.
Lcia Valdevino considera que este pouco espao mau. um erro, porque a
cultura o reflexo de todos como povo, do que ser humano. Eu acho que o que falta era
mesmo dar mais espao s artes todas, no s ao teatro. E, acima de tudo, mais do que
relatar dar ferramentas ao leitor para que possa construir pensamento. A imprensa deve
ter, e alguma tem mesmo, um papel de formao muito importante e isso devia ser ainda
mais sublinhado. O papel dos mdia essencial, essencial. O teatro comunicao por si
s. A imprensa uma extenso do que ns fazemos, mais uma forma de chegar ao
pblico, de crtica. No s uma forma de publicidade; acima de tudo uma forma de ns
passarmos o nosso pensamento. () Eu vejo a imprensa no sentido construtivo: divulgar
aquilo que fazemos, mas como extenses daquilo que queremos comunicar.
Para o CCB, a comunicao social tambm tem um papel fundamental: A
colaborao dos mdia fundamental. H a ideia de que se o espectculo no teve
qualquer meno nos jornais porque no existiu. Para a companhia e para os actores
fundamental a existncia da crtica e, embora mais secundrio, uma apresentao prvia.
Para a instituio ambas so importantes, porque desta forma que vende mais bilhetes,
48
que cria mais pblico e que tem um reconhecimento pblico do trabalho que tem vindo a
desenvolver.
Mesmo assim, embora a credibilidade da comunicao social transfira credibilidade
para os espectculos, no uma crtica ou um artigo na imprensa que leva as pessoas ao
teatro, como revelam os estudos empricos que os vrios teatros vo fazendo. At agora,
poucas pessoas nos disseram que vieram ver as peas porque viram no jornal. s vezes,
mas no muito, telefonam pessoas de Coimbra, de Faro, mais das nossas relaes, que
dizem que viram o nosso anncio [publicitrio] , diz Lcia Valdevino.
Notamos que as pessoas lem [os artigos da imprensa que expomos entrada no
teatro] e tentamos perceber se vm ver a pea porque leram os artigos em casa. Mas vm
mais pelos anncios [publicitrios] do que pelos artigos. Alguns dizem que leram uma
crtica ou um artigo num jornal ou revista especfica, diz Maria Folque.
Ao contrrio, Joo Pedro Amaral no considera que a publicidade tenha assim tanta
influncia nas escolhas dos espectadores: Percebemos, at como espectadores de outros
equipamentos, que no a publicidade que leva as pessoas a irem ao teatro. Porque a
publicidade um olhar muito prprio da entidade que a promove. Ao passo que se eu ler
um artigo que foi escrito por um jornalista, este ser mais isento do que quando a prpria
entidade que o promove. Sabemos que as lonas e os cartazes que temos l fora
funcionam. Quando tem a cara de algum que as pessoas conhecem, elas vm ver a pea,
s vezes nem sabem do que que fala. Achamos que a cara e o nome dos actores funciona,
o nome do autor do texto ou encenador funciona. Mas na realidade no sabemos qual o
impacto que isso tem nas pessoas.
Por isso, o Teatro Nacional est a promover um estudo de pblicos para perceber o
que leva as pessoas a ir ao teatro. Com a durao de um ano, o estudo baseia-se em
questionrios aos espectadores do Teatro Nacional D. Maria II. Numa anlise intermdia
dos resultados, o Teatro percebeu que tambm no a crtica que move as pessoas. [No
questionrio,] a maioria das pessoas referia a imprensa. Depois do estudo, vamos fazer um
contacto telefnico com as pessoas que responderam e vamos fazer perguntas mais
concretas. Uma delas perguntar se imprensa significa assessoria de imprensa e artigos ou
publicidade, porque no estava especificado. Se bem que havia um ponto no questionrio
que dava para perceber que no era pela publicidade que as pessoas vinham, por isso ser
49
pelos artigos que lem ou vem na televiso ou ouvem na rdio, explica Joo Pedro
Amaral.
Seja como for, as reas da publicidade e da assessoria de imprensa esto claramente
separadas uma da outra nos teatros inquiridos.
A publicidade tambm somos ns que fazemos, mas no tem qualquer relao
com os artigos que os jornalistas produzem depois. No tem nada a ver, diz Lcia
Valdevino.
No h qualquer ligao entre a publicidade e os rgos de comunicao onde
aparecem, no sentido de comprarmos publicidade num rgo para incentivar os jornalistas
a virem aos ensaios de imprensa. Eticamente no deve haver. Acho que nunca aconteceu,
diz Joo Pedro Amaral.
Em relao ao contacto com os jornalistas para dar a conhecer os seus espectculos,
os cinco teatros tm modos semelhantes. A relao pacfica, porque necessria para uns e
para outros. Aparecer na comunicao social garantia de visibilidade e credibilidade
social. Aproveitar um tema oferecido pelos teatros forma fcil, e relativamente pouco
trabalhosa, de um ocupar. A notcia j l est, s preciso escrever. Alm de que pode ser
marcado na agenda dos mdia com muito tempo de antecedncia, o que permite uma maior
dedicao no s a esse como a outros projectos e, por conseguinte, uma melhor
organizao do trabalho. Uma estreia raramente o ponto de partida para uma anlise um
pouco mais profunda sobre uma obra, um artista, um tema, um movimento, uma filosofia.
E o teatro raramente abordado sem ser devido a uma estreia. Todos tm a ganhar, aos
dois lados interessa a divulgao do acontecimento. A relao tem de ser, por isso, cordial,
pacfica e aberta a negociaes de parte a parte.
isso que se verifica nas oito entrevistas. Todos encaram como natural a forma
como se relacionam entre si, e agem praticamente todos da mesma maneira em relao
imprensa. Fazem os possveis para se relacionarem bem com a comunicao social mas
no levam o resultado demasiado a srio, nem tm expectativas muito elevadas sobre a
participao da imprensa no espectculo. Alis, assim que o trabalho da imprensa est
feito, a maioria no volta a contactar a no ser para o espectculo seguinte. Os
procedimentos e mtodos que utilizam so semelhantes entre todos os teatros. Todos os
50
51
52
53
semelhante ao das
54
espectculo este enviado por correio para os jornalistas com alguma antecipao. Para
um espectculo de teatro fundamental que o dossier de imprensa contenha bastantes
informaes sobre o espectculo: tem de ter a ficha tcnica, biografias do encenador, do
dramaturgo, da companhia, dos actores, as fotografias dos actores, do encenador e do
dramaturgo/autor e dos ensaios tambm no podem faltar, o texto da pea (se o autor
autorizar e no caso de ser uma pea nova), a sinopse do espectculo, assim como a histria
da companhia, e sempre bom ter um texto sobre a dramaturgia e/ou a encenao. No caso
de espectculos que andem em itinerncia, procuram-se crticas ou artigos que tenham
sado na imprensa.
Sempre que nos disponibilizado o texto da pea costumamos envi-lo para os
(poucos) jornalistas que costumam fazer trabalhos mais aprofundados sobre os
espectculos: normalmente o PBLICO, o DN, o Expresso e a Time Out Lisboa. No
entanto, se qualquer outro jornalista manifestar interesse em ler o texto da pea, claro que
tambm lhe facultado. O dossier de imprensa pode ter crticas sobre o espectculo caso j
tenha sido apresentado noutros locais, e caso a imprensa precise (ou porque no tem
fotgrafo disponvel ou para o site do meio) um CD com fotografias e msica do
espectculo, para as rdios.
A divulgao dos espectculos imprensa depende da periodicidade dos meios de
comunicao social com que trabalhamos. Os nossos timings dependem sobretudo dos
diferentes timings de rdios, televises, revistas semanais, mensais, dirios). Cerca de
trs semanas antes da estreia faz-se um planeamento de entrevistas e convocam-se os
jornalistas que trabalham com mais antecedncia para assistir a ensaios de trabalho e
falarem com a companhia (caso seja portuguesa). No caso de serem estrangeiros, -lhes
enviado juntamente com o dossier de imprensa um DVD com a cpia do espectculo e
organizamos entrevistas por telefone ou e-mail. Mais tarde, enviamos um segundo press
release a convocar a comunicao social para um ensaio para a imprensa, especificando as
regras do ensaio (horas, local de encontro, para quem se destina se s para fotgrafos e
televises ou se para a imprensa em geral , o tipo de ensaio se ensaio corrido ou se
s um excerto do espectculo , quem vai dar as entrevistas a seguir ou antes do ensaio.
Estes ensaios costumam ser marcados, o mais tardar 48 horas antes da estreia do
espectculo e durante a tarde.
55
56
que gua mole em pedra dura tanto bate at que fura. Eu tenho dvidas. Acho que fica
maador. Tentamos alimentar a meio da carreira e depois s na ltima semana, e a tem de
se inventar a notcia.
Enquanto alguns teatros no diferenciam os rgos de comunicao social para
quem enviam as suas informaes, outros preocupam-se com o estilo editorial de cada um.
O CCB tem essa estratgia: Fornecemos informaes a todas as pessoas que esto
inseridas no nosso mailing de imprensa, mas acabamos sempre por contactar mdia
diferentes para peas diferentes. Vamos conhecendo os interesses dos jornalistas e esse
factor tido em conta nos contactos que estabelecemos.
Por vezes, em alguns espectculos achamos interessante fazer propostas
especficas para alguns jornais, diz Joo Pedro Amaral, sobre a estratgia de comunicao
do Teatro Nacional D. Maria II.
O Teatro da Trindade tem uma estratgia semelhante: Tento arranjar dossiers de
imprensa diferentes, consoante o rgo de comunicao. A conversa para cada um deles
tem de ser diferente. A abordagem em todos os rgos, espremido, a mesma, o ngulo
que diferente, consoante o tipo de publicao e de pblico que a l. Por isso, a assessoria
de imprensa tem de ser necessariamente diferente.
Mas h mais truques que Pedro Mendona utiliza para que a comunicao social
tenha em conta o Trindade: A hora a que se manda um press release tem importncia.
Normalmente, os jornalistas chegam aos jornais um pouco antes da hora do almoo. E
limpam a caixa de e-mails. Portanto, eu devo mandar o meu e-mail hora do almoo.
Tento no enviar ao fim do dia, porque j entregaram o que tinham para entregar e
entretanto foram-se embora. E vo estar fora do jornal mais de doze horas. Durante esse
tempo, vo receber centenas de e-mails, o meu ia ser mais um no meio daqueles todos e o
jornalista no ia ver. Estas coisas tm importncia. Assim como o e-mail pessoal e o
telemvel. Eu tenho esses contactos mas no utilizo, a no ser que seja uma coisa
personalizada. S ligo quando acho mesmo que vai interessar aos dois.
Por outro lado, Pedro Mendona tambm pensa na carreira do jornalista quando
contacta com ele: Acho que se o jornalista quiser fazer um trabalho consegue sempre. Por
isso trabalho em duas frentes. Envio as informaes para os editores mas tambm para os
jornalistas. Para criar elos. Eu sei que mais importante para a carreira de um jornalista
57
conseguir convencer o editor da importncia de uma pea do que apenas receber a ordem
para escrever sobre ela. Eu no tenho interesse nenhum em prejudicar o jornalista, ou seja,
se eu sei que o jornalista pode beneficiar se lutar por uma pea jornalstica que quer fazer,
porque que eu no lhe hei-de dar essa oportunidade? Para mim -me indiferente, eu s
quero que algum venha. Se o jornalista disser que no consegue, ento eu telefono para o
editor, mas no lhe digo que falei com o jornalista. um joguinho.
O ensaio de imprensa um ensaio da pea exclusivo para os jornalistas e
normalmente seguido de entrevistas aos artistas, para que o jornalista possa ter acesso ao
espectculo antes da estreia o maior ponto de contacto entre jornalistas e assessores.
o momento em que o jornalista pode estar efectivamente em contacto com a obra artstica e
perceber a sua construo atravs das palavras dos prprios autores.
No Teatro Meridional, a rotina dos jornalistas tida em conta quando se trata de
agendar o ensaio de imprensa: Na marcao dos ensaios de imprensa, temos em conta os
horrios dos jornalistas e os timings de fecho. Fazemos alguns dias antes da estreia: temos
de dar tempo para, no mximo no fim-de-semana da estreia ou na semana anterior,
dependendo se dirio ou semanrio, poderem publicar. Por norma, fazemos no horrio de
expediente normal: manh e tarde. Avisamos toda a gente que vamos ter a imprensa em
tal dia. Normalmente so entrevistados o encenador e um actor. So os jornalistas que
pedem com quem querem falar. Como j envimos informao, e mais alguma que os
jornalistas eventualmente tenham pedido, j tm um dossier para virem preparados, para
saberem o que vo ver e para que possam trabalhar os ngulos das entrevistas que querem
fazer. Por isso, quando chegam, j no fornecemos mais informao.
No CCB, a marcao do ensaio de imprensa conjuga dois factores: os horrios dos
jornalistas e a disponibilidades das companhias: Para marcarmos os ensaios de imprensa,
em primeiro lugar, preciso sabermos qual a disponibilidade da companhia. Tendo em
conta os horrios dos ensaios no CCB, o Gabinete de Imprensa sugere uma ou duas datas
que cabe companhia escolher no final. Recomendamos, por norma, que os ensaios para a
imprensa sejam realizados entre as 15 e as 16 horas e de preferncia num dia de semana.
Pode existir mais do que um ensaio, depende da data de fecho dos jornais. O tipo de
ensaio adaptado ao meio de comunicao social para as televises marcamos trinta
minutos em que os actores repetem uma cena de cinco minutos duas vezes (para filmarem
58
de longe e de perto), para a imprensa em geral tentamos que o ensaio seja integral e corrido
(ou seja, todo o espectculo e sem paragens). As rdios, os sites e os fotgrafos
normalmente adaptam-se a estes dois ensaios consoante a disponibilidade que tm. Esta
informao tem que ser dada atempadamente ao jornalista.
Joo Pedro Amaral explica que no Teatro Nacional D. Maria II o processo
semelhante: Tentamos fazer sempre ensaio de imprensa para todas as peas. muito mais
fcil para o jornalista escrever sobre a pea se tiver uma ideia do que o espectculo do
que s atravs do press ou do dossier de imprensa, porque acaba por no perceber muito
bem qual a dinmica. O ensaio de imprensa geralmente uma semana antes da estreia.
Normalmente, para semanrios fazemos com mais antecedncia. Costuma ser tarde, se
bem que s vezes possa ser noite por questes de montagem. Temos de ser adaptveis,
consoante os espectculos e o tempo que a equipa tcnica tem para a montagem, porque
muitas vezes os espectculos no esto montados e o encenador no quer mostrar o que j
tem imprensa, porque o espectculo no fica claro, deturpa. Ento temos de gerir, o que
temos e o que podemos divulgar. Muitas vezes, difcil mas nunca deixmos de fazer um
ensaio de imprensa. Normalmente, os encenadores tambm so sempre muito sensveis a
isso, porque percebem que importantssimo conseguirmos divulgao na imprensa.
Fazemos um ensaio para semanrios, com mais antecedncia, depois fazemos uma
sesso para fotgrafos, um ensaio corrido e uma sesso para televises. Para fotgrafos e
televises so s cenas, para televises com repetio. Quem escolhe as cenas o
encenador. A menos que juntemos o ensaio de fotgrafos com o ensaio corrido, no corrido
s esto os jornalistas de imprensa. Se uma televiso quiser vir tambm ns no pomos
barreira nenhuma. Institumos assim porque eles tm sempre muito pouco tempo e muitos
trabalhos agendados, no vale a pena ver um ensaio completo. Os jornalistas escrevem
mais sobre a pea se for um artigo grande, quando h mais espao.
O mesmo acontece no Teatro da Trindade: O ensaio de imprensa no meu estilo
muito malevel. Se tem interesse, muito rgido, tem de se marcar. Se no tem interesse,
mais flexvel, marcamos individualmente e a j somos ns a precisar que venham os
jornalistas. Sou eu que marco o dia do ensaio, em articulao com o encenador e a
produo. No incio dos trabalhos fazemos uma calendarizao e marcamos logo a data;
tambm os ajuda a definir quando tm de ter o espectculo relativamente pronto. Depois
59
escolhemos o dia da semana que d mais jeito aos jornais para poderem fechar as edies.
Mas tudo isso implica movimentaes com os tcnicos e as equipas. No fcil, temos de
gerir isso tudo. Depois tambm jogamos com as horas, porque noite os jornalistas tm
famlia. Normalmente fao os ensaios de imprensa s 16 horas. Se for uma conferncia de
imprensa fao s 11 e meia e ofereo o pequeno-almoo. Porque assim os jornalistas no
vo ao jornal, vm primeiro aqui. Isto no cincia, colocar-se no lugar do outro.
Depois do ensaio o momento ideal para discutir com os artistas a concepo, o
significado e o conceito do espectculo. As entrevistas so sempre consideradas aquando
da marcao dos ensaios de imprensa e so o momento mais importante do contacto dos
jornalistas com os criadores. Tanto os artistas como as equipas tcnicas j sabem que as
entrevistas acontecem sempre quando h um novo espectculo em cena, e j esto
preparados para isso. Mesmo assim, so sempre avisados quanto ao dia do ensaio de
imprensa e das entrevistas. O encenador e por vezes actores so quem os jornalistas mais
preferem entrevistar, mas toda a equipa est disponvel para prestar algum esclarecimento.
O modo como encaram e preparam o momento das entrevistas semelhante nos cinco
teatros que participam neste relatrio e todos se disponibilizam a aceitar pedidos dos
jornalistas em relao a isso.
No Teatro de Almada, h sempre um aviso prvio: Avisamos sempre os actores e
encenadores que no dia X vm c os jornalistas, porque se no avisssemos isso seria
invadir a privacidade deles. Geralmente, no h problema para os actores, mas mesmo
assim avisamos. Depois, confirmamos o dia com os jornalistas. O elenco e a equipa no
costumam preparar as entrevistas, a preparao o prprio trabalho.
[Os jornalistas] aproveitam o ensaio de imprensa para fazer as entrevistas. Fazem
depois de verem o ensaio, para terem mais material, explica Maria Folque, do Teatro
Meridional. As entrevistas costumam ser individuais, porque mais lgico. Nem todos os
jornalistas tm as mesmas perguntas, cada um quer um ngulo de entrevista ou reportagem
diferente. Um jornalista no quer que outro escreva o mesmo que ele. Quer ter uma coisa
mais especfica e personalizada e no ter repeties, por isso normal que queira fazer a
entrevista com as suas prprias perguntas. Para o encenador indiferente, o que diz a um
pode dizer a outro.
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esquecemos
aquilo
que
combinmos.
Se
forem
uma
porcaria,
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conseguamos antes, diz Joo Pedro Amaral sobre a experincia no Teatro Nacional D.
Maria II.
Tal como os rgos de informao, o nmero de presenas tambm pode variar: O
nmero de jornalistas que habitualmente vem aos ensaios depende muito. Se o encenador
for, por exemplo, o Jorge Silva Melo, vm mais jornalistas, se for um jovem vm menos,
tenho de ser eu a lutar para que venham, diz Pedro Mendona, e acrescenta: De imprensa
escrita, quando as coisas correm bem, normalmente vm cinco a dez rgos, quando
correm mal, dois, um.
A ida de poucos jornalistas ou nenhuns s convocaes dos teatros em certos
momentos entendida pelos teatros como uma escolha necessria. Regra geral, h sempre
uma justificao para o rgo no estar presente.
Ns sabemos que h muitas solicitaes, h muito pouca gente a escrever.
sobretudo por conflito de agenda. Pelo menos, o que dizem, mas eu at acredito que sim.
Por exemplo, na semana em que estremos Troilo e Crssida [encenao de Joaquim
Benite, de 29 de Abril a 16 de Maio de 2010], em Lisboa estrearam dez peas. Portanto,
impossvel que um jornalista, sendo o nico, consiga ir s dez peas e escrever sobre as dez
peas. Por isso, tem mesmo de haver escolhas. mais fcil vir dois ou trs dias a seguir
estreia, quando so peas de grande carreira. Prefiro isso do que no os ter c, bvio, diz
Lcia Valdevino do Teatro de Almada.
O mesmo se passa com o CCB: Os nossos convites so recusados algumas vezes,
sobretudo no Vero, altura em que h muitos jornalistas de frias e h menos recursos
humanos nas redaces. Por norma, a desculpa falta de tempo e/ou espao na seco.
E com o Teatro Meridional: Dos () que costumamos contactar, geralmente vm
muito menos. Ou porque j sabem que no tm espao para escrever ou porque no tm
tempo, h muita coisa a acontecer e tm de fazer as suas prprias opes.
A crtica um dos artigos mais importantes para os teatros, embora estes no as
considerem vitais para o sucesso do seu equipamento ou da carreira das peas. O
procedimento para com os crticos semelhante quele que os assessores adoptam para
com os jornalistas.
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e a Viso vm sempre, so quem tem crticos. No podemos condicionar nada, seno sai
tudo ao contrrio. Temos de lhes permitir a independncia total. totalmente diferente.
Enquanto aos jornalistas tento passar, segundo o jornal, aquilo que eu acho que pode
interessar, ao crtico no. Largo o material e ele que faa. S depois de sair a crtica, se eu
no concordar nada e tiver confiana com a pessoa, telefono e digo, e a podemos ter uma
discusso de gosto intelectual, apenas pelo prazer da discusso.
Quanto ao CCB, a instituio v o potencial da crtica para l do prprio
espectculo: A crtica legitima o espectculo, ajuda a recoloc-lo no caso de a companhia
querer entrar em digresso, ajuda as companhias nos pedidos de financiamentos estatais ou
outros. D a conhecer tambm a outras instituies e programadores, nacionais ou
internacionais, o trabalho das companhias e da prpria instituio. Um espectculo com
crtica pode mais facilmente concorrer a prmios e subsdios. A crtica ou a notcia cria
memria.
Quando todo o trabalho do assessor est feito, comea o trabalho do jornalista. Aos
teatros, resta esperar pelos artigos e torcer para que o texto reconhea o trabalho dos
artistas e, at, que consiga trazer mais pblico s instituies. Em todos os teatros, feito
um trabalho de recolha dos artigos.
Recebo um e-mail com cada referncia que feita a Teatro da Trindade, com os
artigos em PDF, e leio logo. Ficamos atentos aos artigos, e temos o clipping.
Normalmente, se tenho confiana com o jornalista, no dia do ensaio de imprensa pergunto
quando acha que sai, para poder avisar os actores. Os actores vem muitos jornalistas e
acham que tudo para sair no dia da estreia. Acordam, vo ao quiosque e no h nada em
lado nenhum. E ficam muito tristes a achar que aquilo vai ser um fracasso. Por isso eu
aviso mais ou menos quando que sai, diz Pedro Mendona.
Os trabalhos da imprensa escrita recolhemos sempre. Os trabalhos de rdio e
televiso so sempre mais difceis de recolher, diz o CCB.
Claro que ficamos atentos s matrias que vo sair. Quando saem, recolhemos e
arquivamos. Temos vrias formas de ver os artigos. s vezes, os jornalistas dizem-nos que
sai em tal dia, e ns ficamos atentos ao jornal. Mas tambm temos um servio de clipping
que nos envia os artigos, mas tem um delay de cinco, seis dias. Tambm temos alertas na
internet. Portanto, assim que publicado, eu recebo, num e-mail que crimos s para gerir
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este servio, uma lista de links que remetem imediatamente para o site onde o artigo foi
publicado. A lista inclui tudo, como blogs e at avisos de sites que avisam que a notcia j
foi publicada. Esta a melhor forma de ter tudo controlado, diz Lcia Valdevino do
Teatro de Almada.
O Teatro Nacional D. Maria II tambm tem um servio de clipping: Recebemos
todos os dias trs notificaes com as notcias que saram em televiso, rdio, imprensa
escrita e internet. Leio sempre e fazemos o arquivo por espectculo. Temos uma intranet
onde colocamos os artigos todos de cada espectculo porque os trabalhadores do Teatro
podem ter interesse em ler as notcias e afixamos as notcias principais num quadro, s
internamente.
No Teatro Meridional, os artigos fazem parte da vida da instituio: Fazemos a
recolha dos textos que saem na imprensa sobre ns e aqueles que conseguimos apanhar
expomos entrada do teatro, durante a pea, para as pessoas irem lendo enquanto
aguardam, em vez de termos fotografias, como s vezes acontece. Mas como no
conseguimos apanhar tudo, temos uma empresa que faz o clipping daquilo que aparece
com o nome Teatro Meridional. H coisas que nem nos apercebemos que saem, por isso
a empresa importante. S que s vezes chega j depois de o espectculo ter acabado. As
entrevistas dos ensaios de imprensa sabemos sempre que saem, podemos no saber
exactamente quando. Vamos estando atentos e vamos comprando porque h jornais que
compramos regularmente.
A leitura dos artigos pode revelar gralhas, erros ou falhas na comunicao dos
espectculos por parte da assessoria, ou mesmo falta de entendimento da parte dos
jornalistas, embora este tipo de incorreces no seja de todo comum.
Por vezes, encontramos erros, mas no temos problemas com isso quando
sabemos que so erros ingnuos, gralhas, porque sabemos que foi um descuido e que
noutro rgo vai sair correcto. No vale a pena estar a incomodar a pessoa com isso. Mas
quando so coisas muito graves teremos de dizer, at para proteger a reputao do
jornalista, para poder emitir erratas. Erros acontecem, da nossa parte tambm. Se for uma
coisa que no faa mal, que por si s se corrige, tudo bem. s vezes at nos referimos a
esses erros na vez seguinte em que nos encontramos com o jornalista. Dizemos: gostei
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muito do trabalho, mas tinha l isto e aquilo. Faz parte do trabalho, entende Lcia
Valdevino.
No CCB acontece o mesmo: Encontramos algumas falhas e no tanto erros. As
falhas de informao deixamos passar, mas sempre que encontramos erros nos trabalhos
comunicamos, de imediato, ao meio de comunicao em causa. O contedo dos artigos
depende muito dos espectculos, dos jornalistas que trabalham sobre esses espectculos e
do meio de comunicao social que difunde a notcia. As rdios e as televises tm sempre
menos espao e, por isso, fica sempre a sensao que se podia dizer muito mais. A
imprensa escrita tem sempre a possibilidade de fazer trabalhos mais alargados mas, na
nossa opinio, ficamos muitas vezes decepcionados com o resultado das entrevistas ou dos
trabalhos/artigos publicados. Provavelmente por falta de espao nos jornais e por vezes por
falta de informao ou de pesquisa, o que escrito no corresponde expectativa criada.
Hoje em dia, com o online e os rodaps nos telejornais, cria-se a falsa ideia de que todos os
eventos tm cobertura e de que esta suficiente. Mas uma falsa questo pois no resolve
completamente o problema.
Maria Folque diz que, por vezes, o Teatro Meridional encontra erros nos trabalhos:
No tanto na sinopse, mais no nome de um actor, por exemplo. Tambm vemos gralhas
nas datas, nos horrios. normal, so coisas que acontecem. Pode ser distraco, s vezes
os jornalistas esto a inserir tanta informao que podem confundir um espectculo com
outro. Em termos de contedos, as pessoas tm as suas prprias interpretaes, normal
aparecer qualquer coisa diferente. Ns pensamos uma coisa e quando nos expressamos
nem sempre nos sai exactamente aquilo em que estvamos a pensar. A nica questo , s
vezes, a interpretao que se d, no a citao em si, com os gravadores no h esse
problema. H uns textos que so mais interessantes que outros. Depende da gravidade do
erro, mas se for caso disso contactaremos para perceber o que que aconteceu, para evitar
que se repita. Tentamos esclarecer, naturalmente, no pensando que houve ali ms
intenes ou o que quer que seja. Tambm se pode dar o caso de sermos ns que
percebemos mal. Mas raro, nem eu me lembro de ter acontecido.
Uma questo muito presente, e at forosa, na relao dos assessores com os
jornalistas, a negociao. necessrio negociar e fazer concesses, para que os dois
lados sintam que os seus objectivos so considerados e, em consequncia, atingidos. A
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maior prova disso o ensaio de imprensa. Nem sempre as datas podem ser cumpridas, pelo
que h sempre uma margem de manobra de um lado e de outro. Em relao a esta questo,
todos os teatros concordam em que ser flexvel a melhor maneira de conseguirem o que
querem.
Em relao aos ensaios de imprensa, no fazemos exigncias nenhumas aos
jornalistas que c vm. Pelo contrrio, se um jornalista no puder vir hora marcada, por
exemplo, ns falamos com os encenadores e perguntamos se podemos fazer uma cena
especfica para ele e conversar um bocadinho com ele noutra altura. Tentamos arranjar
uma maneira de ficarmos todos satisfeitos, conta Lcia Valdevino sobre a maneira de
gerir no Teatro de Almada.
Tentamos servir toda a gente. Se ainda ningum confirmou e algum nos avisa
com muita antecedncia que s pode ir ao ensaio de imprensa em tal dia, ns tentamos
ajustar para esse dia. Caso contrrio, fazemos o ensaio no dia determinado e podemos fazer
depois uma sesso para a tal pessoa. Pode no ser o espectculo todo, pode ser s uma cena
ou damos s espao para as entrevistas. Depende do que a pessoa quiser fazer.
Compreendemos que isso possa acontecer, porque as pessoas tm compromissos e, s
vezes, h imensos espectculos a acontecer ao mesmo tempo e difcil acompanhar
todos, diz Maria Folque. Dos que confirmam, normalmente aparecem, mas j aconteceu
no aparecerem. Ns telefonamos a perguntar para saber se vale a pena esperar ou se
avanamos com o ensaio. s vezes esto atrasados mas vm a caminho, outras vezes
pedem imensa desculpa mas no vm, surgiu outra coisa.
Pedro Mendona tambm entende como necessrio a flexibilidade em relao
imprensa: Se algum no pode vir no dia marcado eu tento gerir. Nesse aspecto, eu
entendo a minha funo como um mediador entre a imprensa e o projecto. Nesses
momentos fao de advogado do diabo. Eu iria tentar tudo para que os artistas ensaiassem
no dia em que o jornalista pode vir. Se no conseguir fico com muita pena.
Quando no possvel [fazer um ensaio de imprensa], como no caso dos festivais
ou espectculos internacionais, tentamos agendar entrevistas por telefone com os
encenadores ou se no estiverem disponveis, com os actores se bem que h sempre uma
preferncia dos jornalistas pelos encenadores ou ento, em ltimo caso, ser s o dossier
de imprensa e as imagens que tenhamos do espectculo. Quando um jornalista j tem
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outros ensaios ou outros trabalhos marcados tentamos marcar para outra altura, tentamos
ser flexveis, diz Joo Pedro Amaral.
Embora o principal contacto dos assessores com a imprensa seja ditado por uma
estreia, e por todas as movimentaes de parte a parte que ela exige, os teatros tambm
podem ser contactados pelos jornalistas para esclarecimentos ou outras propostas que estes
precisem, e no necessariamente sobre peas de teatro em cena naquele equipamento. Isso
vai depender das caractersticas de cada equipamento e da confiana que os jornalistas
conseguem mantm com o assessor.
Muitas vezes os jornalistas contactam connosco para outras coisas que no os
ensaios de imprensa. Quando se comea a desenvolver uma relao com os jornalistas, eles
ligam para pedir ajuda para outras coisas. Por exemplo, se precisam de falar com algum,
mesmo que no tenha nada a ver com uma pea nossa, as pessoas sabem que ns temos os
contactos. Assim mais fcil e vamo-nos ajudando entre ns, diz Joo Pedro Amaral,
assessoro do Teatro Nacional D. Maria II.
A rea da assessoria de imprensa, segundo os assessores dos teatros, no simples
nem fcil. A sua importncia tida em conta no trabalho dirio destes profissionais.
Joo Pedro Amaral fala da importncia que considera ter a assessoria de imprensa:
A rea da assessoria de imprensa uma rea um bocado complicada, porque, na prtica, o
que eu fao vender o meu peixe, quase que sou um comercial, estou a vender o Teatro
Nacional aos jornalistas. Eles recebem tantas coisas que obviamente tm de fazer as suas
opes. A minha dificuldade, principalmente quando comecei, foi pensar na validade de eu
dizer: faz o meu, porque o meu que bom. Os contedos editoriais de um jornal,
partida, no deveriam ser influenciveis por este tipo de coisas. Idealmente no deveria
haver assessores de imprensa que dissessem porque que no escreves sobre o meu?.
Idealmente as pessoas recebiam a informao e ficava por a. As instituies mais
pequenas muitas vezes no tm dinheiro para pagar a um assessor de imprensa, muitas
vezes nem sequer tm gabinete de comunicao, a produo que faz tudo. O tipo de
assessoria que se faz para um lugar pequeno no pode ter nada a ver com a que se faz para
o Teatro Nacional. Os espectculos sero diferentes, o pblico ser diferente, por isso a
comunicao tambm tem de ser diferente. Por isso que h companhias que no
conseguem ter visibilidade nos rgos de comunicao, esto sempre limitados pela falta
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de espao. No entanto, tem de haver algum a puxar pelas instituies. Por isso acho que
uma rea muito importante.
No CCB, tambm levada a srio a importncia desta actividade: A nossa relao
com os jornalistas uma relao de cordialidade, acima de tudo. Precisamos uns dos outros
e importante manter as boas relaes. Contudo, as relaes mais antigas so mais
informais do que as novas, o que facilita o trabalho. Em relao ao trabalho do jornalista,
o CCB sabe bem qual a sua posio e a sua funo: H um trabalho de casa que
necessrio fazer, e que o assessor de imprensa pode ajudar. O assessor de imprensa
deveria, quando sugere uma entrevista, dar dicas ou chamar a ateno para determinadas
caractersticas/particularidades ou da pea, ou do encenador, ou da dramaturgia, enfim O
assessor de imprensa deve, em termos de prestao de informao, ser uma mais-valia para
o jornalista. Como mediador e intermedirio entre o artista e o jornalista, deve perceber as
fragilidades de um e de outro e, com elegncia, sugerir temas ou caminhos de
abordagem. () Cabe ao assessor de imprensa estabelecer este bom e justo equilbrio para
evitar quebras de confiana, de sensibilidades ou mesmo de equvocos desagradveis e
perceber tambm se o entrevistado se sente vontade com aquele jornalista ou meio de
comunicao.
J Pedro Mendona, do Teatro da Trindade, considera que o assessor a pea mais
importante da engrenagem que forma a comunicao social actual: Quem marca a agenda
neste momento em Portugal, nos jornais, so os assessores de imprensa. No na nossa rea,
mas mais em poltica, desporto e sociedade. Os jornalistas no tm tempo para sair da
redaco. Na cultura tambm assim, mas no tanto. O que acontece que menos
perigoso para a sociedade, estamos todos a fazer coisas boas, no vamos prejudicar
ningum. A assessoria de imprensa, quando mal intencionada, um jogo manipulatrio.
Mas no na rea da cultura, ns somos muito pequeninos nestas coisas.
s vezes, os assessores tm de criar acontecimentos. Tudo tem de ser gerido e
distribudo. E h sempre alguma ameaa de parte a parte. Tem de ser com paninhos
quentes, para que no deixemos de nos relacionar. Eu prefiro no atender o telefone a dizer
uma mentira a um jornalista. Porque seno quebra-se o elo de confiana. E isso
imprescindvel. Os editores s vezes precisam de sangue. H uma guerra contnua com o
Ministrio da Cultura: os criadores querem dinheiro, o Ministrio no tem mais dinheiro.
71
H casos na cultura portuguesa pouco claros, os ministros tentam sempre dizer sem dizer,
os jornalistas sabem mas no tm provas. A quem que interessa que o PBLICO, o
Expresso ou o DN venha dizer que cada espectador do So Carlos custa cento e tal euros
ao Estado? Quando todos estamos carecas de saber que um investimento que tem de ser
obrigatoriamente grande, temos s de ver se bem ou mal aplicado. Como que os
jornalistas sabem isso? Algum lhes passou esses nmeros. So os assessores que dizem.
De trs em trs anos h a dana das cadeiras nos teatros nacionais. As passagens de
testemunho tm sempre escandaleira, porque h assessores por trs a fazer a escandaleira.
Algum quer ir para aquele lugar. Ou o Ministrio da Cultura quer despedir aquela pessoa
mas ela muito bem vista e para isso faz chegar coisas aos jornais.
Os jornalistas tm tanto trabalho que muitas vezes nem conseguem sair das
redaces. Ento como que conseguem saber as noticias? Porque h pessoas, como eu,
que so pagas para arranjar as notcias. Isso no necessariamente mau, a qualidade do
jornalista v-se depois na capacidade de seriao: ver a importncia, ver o que uma
agenda oculta ou no, ver o que ou no natural, perceber o que tem importncia de
notcia verdadeiramente, porque para um assessor de imprensa ou uma agncia de
comunicao tudo importante.
Na sociedade meditica em que vivemos, o assessor de imprensa quase to
importante como os actores, os encenadores. Eles sero sempre mais importantes, porque
faa eu o que fizer, se eles forem maus, corre sempre mal. No entanto, podem at ser
excelentes, mas se no tiverem ningum que puxe por eles, no passam de espectculos
clandestinos. Para a posteridade, o espectculo nunca existiu.
A comunicao social institucional tem neste momento um problema: as novas
tecnologias. So facilmente ultrapassados, ao nvel de influncias, por blogs, Facebook. O
nmero de seguidores de blogs ou de um perfil no Facebook chega a ser o dobro do
nmero de pessoas que compram um jornal e que efectivamente lem as pginas de
cultura. Portanto, ns temos aqui dois pesos e duas medidas: por um lado, pegando no
exemplo do PBLICO e do Dirio de Notcias, credibilizam um projecto e fazem um
trabalho obrigatoriamente mais cuidado. Mas trazem pouca gente para a cultura, so as
elites que os lem. Mas a credibilizao importantssima. Por outro, se conseguirmos que
blogs que tm muitos leitores (o Jugular de Fernanda Cncio, o Arrasto de Daniel
72
Oliveira ou mesmo o 31 da Armada) falem de ns, se eles disserem apenas uma frase
sobre uma pea que tenham vindo ver, ns sentimos na bilheteira. O mesmo acontece com
o Facebook dos polticos. Essencialmente, o que leva uma pessoa ao teatro continua a ser o
bate-boca.
No se pode ver as coisas de maneira simplista, tudo muito relativo. Isto tudo
muito efmero, por um lado, mas por outro estamos a fazer histria. As relaes entre o
assessor de imprensa e o jornalista vo condicionar a percepo deste presente no futuro.
No futuro, quando se olhar para isto, no se vai ver o cunho do espectador a dar a sua
opinio sobre um espectculo, mas sim aquilo que os jornalistas escreveram sobre ele.
Daqui a 50 anos, o Quixote [encenao de Joo Brites, de 15 de Abril a 13 de Junho de
2010] vai ser visto como um grande sucesso do Teatro da Trindade, quando na realidade o
No se ganha, no se paga [encenao de Maria Emlia Correia, de 28 de Janeiro a 28 de
Maro de 2010] vendeu infinitamente mais bilhetes. Temos as folhas de bilheteira,
podemos comparar, mas no interessa. Quem for fazer o estudo do teatro, vai dizer: No
se ganha, no se paga: grande sucesso comercial; Quixote, grande sucesso artstico.
Mas quem disse que era um grande sucesso artstico foram os jornalistas, que chegaram c
porque eu lhes disse.
74
assim, da rea do teatro. H uns anos, quando ainda tnhamos a Joana Gorjo Henriques
[antiga jornalista do PBLICO], dividamos, ela fazia em Lisboa e eu fazia no Porto.
Quando ela passou a editora adjunta do suplemento passou a fazer menos histrias de
teatro, e houve uma fase em que eu fazia o Porto e grande parte da programao
internacional () e em Lisboa geria-se mais ou menos conforme as disponibilidades, uma
das pessoas de cultura fazia as estreias. Depois, quando eu passei para editora adjunta do
psilon, complicou-se um bocado. Neste momento, a Ana Dias Cordeiro [jornalista do
PBLICO] tem mais ou menos a rea do teatro, mas est tambm muito presa seco, s
coisas do dia. complicado ela estar s para teatro e dana. Temos o Tiago [Bartolomeu
Costa, colaborador regular do psilon] que comeou por fazer s dana e agora faz coisas
do teatro tambm. Mas uma rea que no est a ser gerida da melhor maneira. Os livros
tm uma pessoa mais atenta, a msica tem uma pessoa mais atenta, o cinema tambm, e o
teatro est numa situao um bocadinho diferente. Acho que se pode dizer que est
prejudicado. Obviamente que era prefervel que houvesse uma pessoa, no s para efeitos
do psilon, para tudo o que diz respeito actualidade das artes performativas. Mesmo
para o jornal, bvio que h vantagem em haver uma pessoa a acompanhar a rea e saber
mais ou menos avaliar cada novidade, se importante ou no importante. Assim, vai
passando por vrias mos.
Por isso, h histrias que eu tenho pena de no fazer. As coisas mais singulares
no so as mais importantes, mas se calhar so as mais especiais, e essas no consigo fazer
muitas vezes. E pena. Por exemplo, uma reportagem a acompanhar o trabalho de uma
companhia. Nisso que estamos a falhar, porque estamos sempre em dfice. As estreias
importantes, de uma forma ou de outra, vamos fazendo, nem que v buscar uma pessoa da
msica. Nesta situao, como temos mesmo que dar, conseguimos sempre, mas para o
resto no tens gente, no vais. O problema que as equipas so curtas em todo o lado,
cada pessoa faz mais do que um trabalho por semana para o psilon, tambm no tm
muito tempo livre.
Quanto s poucas capas que o psilon dedica ao teatro, a editora adjunta do
suplemento justifica: obviamente muito mais raro fazer-se capa com teatro do que com
msica ou cinema ou mesmo livros. Tem que haver um protagonista fortssimo. Por
exemplo, um encenador muito carismtico, portugus ou estrangeiro (por exemplo, um
estrangeiro que nunca tenha vindo a Portugal e que seja um monstro sagrado do teatro) ou
75
ento uma histria muito especial, muito mais forte do que o costume. Recentemente
fizemos capa com o Alkantara Festival [psilon, 21 de Maio de 2010], sobre teatro/dana; e
com o dipo, no Teatro Nacional D. Maria II [psilon, 19 de Fevereiro de 2010], porque
era o caso de o director artstico de um teatro que se apresenta como actor num clssico
absoluto da dramaturgia europeia e mundial, encenado por um dos encenadores
portugueses mais reconhecidos. muito mais fcil fazer uma capa de msica,
objectivamente at tm a mesma importncia, s que o potencial de comunicao com os
leitores de uma histria de teatro sempre muito reduzido. Porque mesmo o tal encenador
estrangeiro se for uma estrela, uma estrela, mas no os U2, ningum vai saber o nome
dele. As pessoas na rua no o conhecem, portanto, tem mesmo de ser uma histria muito
fora do comum ou muito forte para ir por a.
Em relao ao facto de serem escassos os trabalhos fora de Lisboa e Porto, Ins
Nadais admite, mas mais uma vez essa situao deve-se falta de pessoas: H
companhias que se queixam regularmente de ns nunca irmos. Principalmente as
companhias de fora de Lisboa e do Porto. E a verdade que ns no vamos. Por exemplo,
o Teatro Viriato costuma ter estreias interessantes de dana e ns estvamos l. Agora,
preciso haver disponibilidade para algum do Porto ou de Lisboa ir a Viseu, o que no
propriamente uma coisa que se possa fazer assim do p para a mo, com seces to
pequenas. Durante algum tempo, tnhamos uma rede de correspondentes aceitvel, agora
foi reduzida brutalmente, no temos mesmo quase ningum. obvio que essas companhias
so, partida, muito prejudicadas. E quando vamos levamos com anos e anos de queixas
acumuladas, porque de repente decidimos ir. Muitas vezes eles fazem coisas
extraordinrias, at mais extraordinrias do que o que se faz aqui, s que fazer trezentos
quilmetros para ir a uma estreia de teatro e levar fotgrafo, nas condies actuais, um
bocado complicado.
Por outro lado, sucessivas ms produes, isto uma avaliao nossa, seja de
companhias de Lisboa ou Porto ou de fora, tambm fazem com que ns deixemos de fazer
trabalhos de algumas companhias. s vezes, at podem ter melhorado, mas como j nos
desabituamos de ir l ver, depois acabamos por no saber isso. Acabamos por negligenciar
essas companhias, porque j no esperamos tanto do trabalho delas.
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Como j foi referido, para este relatrio foi pedida tambm a opinio de uma
jornalista do Dirio de Notcias (DN) que tambm escreve sobre teatro, para que pudesse
ser feita uma comparao, na medida do possvel, com um jornal de linhas editoriais
semelhantes s do PBLICO. Aqui, a situao do teatro no muito diferente.
O teatro entra na edio diria do jornal, porque no temos um suplemento s para
artes. At Junho, saam alguns trabalhos de cultura na revista; tinha uma parte de artes.
Depois foi reestruturada e perdeu precisamente a pgina de teatro e a pgina de dana. Este
ano, no me lembro de nenhuma chamada de primeira pgina do DN sobre teatro. H
muito menos de um artigo de teatro por semana no DN. Tentamos que o artigo saia
sempre no dia da estreia. Se a pea ficar um ms ou mais em cartaz, e no conseguirmos
que saia logo nesse dia, ento sai depois. s vezes conseguimos fazer isso. Se menos
tempo, temos de tentar arranjar um espao, diz Joana Emdio Marques, jornalista
colaboradora do Dirio de Notcias.
A dificuldade em gerir tudo o que aparece sobre teatro tambm sentida no DN.
No conseguimos ir a tudo o que aparece, em certas alturas h muita coisa, noutras no h
nada. () Por isso muitas vezes acabamos por escolher aquilo que, se calhar, mais bvio:
os teatros nacionais, o CCB. E deixamos de parte, assumidamente, aquelas coisas mais das
margens, as companhias mais pequenas, porque no temos espao. Muitas vezes fazemos
as coisas mas os editores dizem no conheo isto de lado nenhum. s vezes conseguimos
pr uma pequena companhia. Cheguei a fazer as Noites Brancas de Dostoivski, no
Teatro da Trindade [encenao de Francisco Salgado, 27 de Maio a 27 de Junho de 2010].
uma companhia pequenina que ningum conhece, mas uma pea do Dostoivski
sempre uma pea do Dostoivski. Como o autor do texto chama a ateno, conseguimos
que entrasse na edio. Mas assumimos que deixamos muita coisa de pequenas
companhias. Ento se forem de fora de Lisboa muito complicado ir. No Porto faz-se, mas
pouca coisa, porque a redaco muito reduzida. Por exemplo, Serralves tem imensas
coisas, mas raramente se faz. tentar propor e ir l, mas isso complicado. E preciso que
o correspondente esteja disponvel. No h ningum no Porto a trabalhar para a cultura. Os
jornalistas do DN do Porto so especialistas noutras reas. Quando cultura preciso ser
uma coisa mesmo especial para fazerem. Por isso que acaba por se centrar tudo em
Lisboa ou Almada. Mesmo zonas mais perto, como Oeiras ou Sintra, muitas vezes j no
se vai.
77
78
O Vasco [Cmara, editor do psilon] e a Ins que recebem os e-mails todos sobre
ensaios de imprensa. Eu comecei a receber com o tempo, diz Ana Dias Cordeiro.
No DN o mtodo o mesmo: Recebemos as coisas por e-mail. No DN, h um email para receber informaes sobre artes a que s tm acesso os dois editores. Quem
quiser pode mandar informaes para l. Algumas companhias tambm mandam para mim
e para a Maria Joo [Caetano, jornalista], porque j sabem que somos ns que fazemos
teatro, ento mandam para as duas. Outras mandam para a agenda e depois vm as pessoas
da agenda dizer-nos que receberam uma informao e perguntar se no queremos fazer.
Outros tambm mandam para os editores e so eles que nos dizem ou relembram.
No PBLICO, passa-se o mesmo: Os press releases vm sobretudo por e-mail.
Alguns em papel, por correio. Alguns teatros fazem telefonemas, como uma segunda linha,
para saberem se recebemos e para perguntar se estamos ou no interessados em fazer
alguma coisa. Quem recebe o psilon e eu. Algumas coisas s eu que recebo, outras
recebemos ambos. Mas eu raramente vejo o e-mail do psilon, o Vasco que v mais. Eu
confio um bocado no meu prprio e-mail. Tambm h coisas que as pessoas enviam para a
agenda ou para a redaco em geral, depois acabam sempre por chegar at mim, diz Ins
Nadais.
A maneira como o prprio press release e o dossier de imprensa esto escritos
tambm importante para o jornalista: A maior parte dos dossiers esto bem feitos.
Alguns so muito bons, muito completos, tm a informao sobre o texto, etc. Outros so
um bocadinho a correr, so uns textos um bocado hermticos, parece que eles prprios no
perceberam o trabalho ou no estiveram para a virados. J li alguns textos que quase no
do vontade de ir ver a pea, considera Joana Emdio Marques.
Ins Nadais tem opinio semelhante: A maior parte dos press tem a informao
relevante, indispensvel, mas no necessariamente apelativa. Mas h casos e casos, claro.
A verdade que ns, jornalistas, com esta abundncia de press releases e assessorias de
imprensa, tornmo-nos um bocado preguiosos, porque parte do trabalho que est ali feito
deveramos ser ns a fazer. Nunca devemos partir do princpio que parte do nosso trabalho
est feito s porque existe um press release.
Quando escrevo tento esquecer aquilo. Eventualmente posso usar partes, quando
tiver informao muito diferente do que usual e que no faz sentido eu estar a repetir o
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que eles fizeram. Por exemplo, o Teatro Nacional So Joo faz press incrveis. So mesmo
muito bem feitos. Normalmente inclui uma entrevista ao encenador, mas feita por uma
pessoa fora do vulgar, um outro encenador, por exemplo; encomendam textos a jornalistas
ou a especialistas dos temas abordadas nas peas. Imaginemos que iam fazer O Mercador
de Veneza [de William Shakespeare]. So capazes de encomendar um texto a um
especialista em judasmo, outro a um especialista em Shakespeare. Tm ali coisas que uma
pessoa sozinha dificilmente l chegaria, at porque no tem muito tempo. E de repente
chega um dossier daqueles, com umas cinquenta pginas. H ali montes de material, at
sou capaz de citar o tal texto do especialista em judasmo, que tem uma coisa sobre a pea
que super interessante. Se o press release suficientemente diferenciado a esse ponto,
no faz sentido eu repetir, no vou ligar tal pessoa a pedir para dizer o mesmo, mas agora
a mim. Nesse caso, cito, mas citar a informao bsica, nunca. Acho que mesmo mau
princpio. Cheguei a ver textos de estagirios ou de correspondentes que eu dizia eu j vi
isto em qualquer lado, depois ia ver o press e era igual. Isso horrvel. preciso descolar
completamente do press release, o meu texto um trabalho jornalstico, no um trabalho
de divulgao puro e duro como o das instituies.
H muitos press que no sabem cativar e muitos que esto muito mal escritos. Eu
habituei-me muito mal, porque o So Joo tem um gabinete de edies muito bom. ()
Para mim tudo est abaixo daquilo, nunca verei nada como aquilo em Portugal; em termos
de instituies culturais, no existe. Nem Culturgest, nem Serralves, nem D. Maria, no h.
Mas tambm nem tudo tem que ter aquele investimento. O press release tem de comunicar
o essencial. O currculo dos encenadores, do autor, dos actores importante. H press
releases que nem sequer tm a data do final da pea, o que para mim horrvel. Acho que
isso tem sempre de ter. A data da estreia o essencial, a data do final um bocado
dispensvel, porque depois vai aparecendo na agenda. Mas importante para dar toda a
informao ao leitor. () Se para garantirem mais pblico, um truque que s lhes serve
a eles. Pode ajudar se eu no puder falar com ningum da pea: se eles tm declaraes,
devemos us-las. A durao da pea tambm importante, no para eu pr no meu texto,
mas para eu saber o que vou ver. Quando essa informao no est, eu pergunto-lhes: a
durao e se vai ser ensaio corrido ou no. O press deve ter a informao factual, o que
vier a partir da acho que j boa vontade deles, digamos assim.
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Culturgest quase sempre liga, o CCB tambm. Se no telefonarem, a pessoa que vai fazer
o trabalho que telefona a marcar.
Ana Dias Cordeiro explica como costuma fazer: a Ins que me manda coisas
sobre teatro, e o Vasco tambm quando a Ins no est. Ou ento eu tambm j comeo a
receber coisas e depois proponho. Depois h a escolha. Agora tem havido pouca coisa mas
h alturas em que h vrias peas. Se no der para fazer tudo tem de se escolher. E a entra
a Ins. H certas coisas que so bvias e o Vasco sabe logo que para fazer. Depois h
coisas mais subtis, e a Ins que tem os conhecimentos para dizer fazemos isto e no
fazemos aquilo, isto mesmo obrigatrio.
Quando recebo um press, ou mando um e-mail ou telefono aos assessores a dizer
que vou e pergunto sempre como com as imagens, se eles mandam ou se temos que levar
um reprter fotogrfico. Isso convm sempre que seja logo combinado que para marcar a
foto no jornal com tempo. Tambm peo para mandar o dossier de imprensa, porque s
vezes eles anunciam o ensaio mas no mandam logo o dossier, ou porque no est pronto
ou porque mandam s para aqueles que vo. E ainda pergunto se possvel fazer as
entrevistas no dia do ensaio ou se tenho de combinar para outra altura. Nesse caso, ou eles
combinam ou eu peo o nmero de telefone para fazer as entrevistas por telefone.
Depois de decidir que trabalhos se fazem e quem os faz , Ins Nadais d as
indicaes que considera essenciais para abordar o tema: Quando entrego o trabalho s
pessoas discutimos um bocadinho sobre o que que deve ser feito. Se acho que preciso
dar indicaes sobre alguns aspectos especficos que quero mesmo que estejam no texto,
falo com a pessoa. O que eu tento chamar a ateno aos jornalistas que vo escrever sobre
teatro : havendo uma histria ou um contexto especfico, estejam atentos a isso. E tambm
acho que o espectculo tem de estar no texto. No quer dizer que tenham a obrigao de
descrever o cenrio ou os figurinos ou o enredo da pea, mas alguns elementos do
espectculo tm de estar l, se com as exposies do jornalista ou se nas palavras dos
prprios participantes no espectculo, irrelevante, mas tem de estar. Depois acho sempre
que importante, na medida do possvel, que haja o olhar do encenador. Isso faz muito do
espectculo, til para as pessoas que vo ver terem algumas ideias acerca do ponto de
vista com que o espectculo apresentado. E tambm acho importante, mas isso no s
no teatro, a maneira como o texto est escrito. Num suplemento como o psilon, os textos
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que fazemos no so propriamente noticiosos, portanto tem que haver algum investimento
na escrita quando so textos maiores.
O psilon no d indicaes para escrever, mas, por conscincia profissional, h
coisas que temos que registar ou ir procurar porque consideramos que uma informao
importante. Fica ao critrio do jornalista, a no ser que seja uma coisa muito bvia e que se
o editor quando l no encontra l, pede e temos de pr. Nunca me aconteceu, mas pode
acontecer uma distraco e eles repararem, diz Ana Dias Cordeiro.
No DN, tambm no h uma indicao rigorosa de um caminho que o texto tem
obrigatoriamente de seguir: Para alm do contedo bsico do lead, o DN no d qualquer
indicao sobre a forma de escrever os artigos. O quem, onde isso tem de estar, depois
quanto forma como se estrutura o texto no h indicao. mesmo nossa escolha.
O tamanho dos textos difere entre o PBLICO e o Dirio de Notcias. Enquanto no
DN os artigos entram na publicao diria do jornal, no PBLICO os artigos de teatro s
entram no suplemento semanal. Logo, a dimenso dos textos necessariamente diferente.
No DN, regra geral, os artigos podem ter at 4000. No psilon, podem ir dos 3000 aos 8000
caracteres, sensivelmente.
No DN, os editores no nos dizem nada sobre o espao que vamos ter para a pea.
Mas depende da pea. Se for um autor importante, uma companhia importante, um
encenador importante, bem provvel que seja abertura da seco, que o espao maior
que ns temos para escrever. Joga muito por a, pela importncia disto. Por exemplo, a
pea do Tennessee Williams, encenada pelo Diogo Infante, com a Alexandra Lencastre
[Um Elctrico Chamado Desejo, Teatro Nacional D. Maria II, de 9 de Setembro a 31 de
Outubro de 2010], h-de ser abertura de seco. Ainda por cima aquela pea, que to
importante. Mas se for uma pea de uma companhia mais pequena, quase desconhecida,
numa sala mais pequena, h-de ser uma coisinha a para os 1700, 2000 caracteres no
mximo. Com sorte. Nunca sabemos, mas j conseguimos fazer uma ideia. A abertura
costuma ter 3000, 3500 caracteres. Acaba sempre por ter mais, s que, como no DN os
textos so muito fragmentados eles acham que se for uma coisa muito longa os leitores
no lem normalmente o que fazemos um texto de 3000 caracteres e uma caixa. Se for
um encenador importante fazemos uma pequena caixa sobre ele, ou sobre o autor.
Portanto, embora no seja um texto corrido, vai dar sempre 3000 e tal, no mximo 4000
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que aquilo muito mais que um mini destaque. Se for com antecedncia, alteramos.
Tambm j fizemos coisas que eram para ser temas grandes e depois no eram assim to
relevantes. s vezes acontece, e um bocado grave. Quando, por exemplo, o texto da pea
muito fraco. Pode-se at reduzir de tamanho, mas no se pode deixar de escrever. s
vezes um bocadinho estpido e injusto, porque ignora-se no dia-a-dia montes de
espectculos que so minimamente aceitveis, e por esse tipo de circunstncias s vezes
acaba-se por fazer alguns que so menos bons. Mas antes de vermos no sabemos. E se for
mesmo em cima do fecho da edio impossvel substituir por outro espectculo.
A preparao do trabalho e das entrevistas comum s trs jornalistas, embora os
mtodos possam variar.
Tenho sempre a preocupao de ler coisas sobre a pea, se no a conheo, sobre o
autor e sobre a companhia. sempre bom, mas tambm bom nunca ler demais. Acho
que, quando fazemos as entrevistas, convm no saber tudo para deixar um grau de
surpresa. bom ir preparado, alis fundamental, mas acho que tambm devemos deixar
que sejam eles a falar. H trabalhos e performances mais contemporneas, e de colectivos,
que no tm a formao convencional, os prprios actores so criadores das peas, no h
uma distino entre actor e autor. A h muito de surpresa no prprio ensaio, no
espectculo e naquilo que eles esto a dizer. So to experimentais que a pessoa s
consegue perceber quando est a ver e a falar com eles. Nesses casos no h grande
preparao a fazer. Costumo preparar as perguntas mas deixo sempre algumas para fazer
na altura. s vezes escrevo, outras vezes levo s na cabea. No princpio, tinha a
preocupao de escrever tudo, mas depois quando se comea a fazer isto, j a coisa se
torna um bocado automtica. E gravo as entrevistas, muito raro no gravar. sempre
bom, porque assim tira-se as dvidas todas. Para o trabalho melhor e no h a questo de
ter sido mal citado, conta Ana Dias Cordeiro.
Joana Emdio Marques fala do seu mtodo: Leio sempre o press e o dossier de
imprensa, para confrontar a opinio do entrevistado com aquilo que disse. s vezes s
consigo ler um bocadinho antes de ir para os teatros, ou no txi a caminho para l ou no dia
anterior, noite. Fao um mnimo de investigao, sempre. Mas acabo por fazer mais
depois de ver a pea, quando tenho que escrever. Se for uma pea escrita por um autor que
eu no conhea ou que me interesse, se eu no percebi alguma ideia que passou e que no
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estava no press ou queira dar alguma informao sobre o autor, investigo sempre. O ideal
fazer isso tudo antes de entrevistar o encenador, mas s vezes no h tempo. Depois disso
que fao uma pesquisa na internet sobre o autor ou para ver alguma informao, porque j
sei que vou fazer uma caixinha.
Preparo mentalmente algumas perguntas: como que surgiu a pea, o processo
que levou quela criao, como que foi criada a dramaturgia, a cenografia, como que se
chega quele elenco, como que se passa das ideias do cenrio e movimentao dos
actores em palco para a concretizao, qual a ideia que o encenador quer passar ao
pblico, se h alguma ideia poltica que quer passar, alguma relao entre aquela pea e o
momento que estamos a viver em termos sociais, polticos, culturais.
Quando escreve os seus textos, Ins Nadais investe na preparao de acordo com o
tipo de artigo que vai escrever: Para me preparar, leio o press release no caso de serem
peas em que no posso ir ao ensaio. Se h um DVD, vejo a pea. Se for um criador
internacional que eu no conheo muito bem vou internet, se tiver tempo estou l horas a
ler entrevistas que ele tenha dado a outros jornais. Sou um bocadinho obsessiva na
preparao. Claro que, se for um mini destaque, no vou desperdiar horas, tem de se gerir
o grau de investimento. Se for uma companhia que eu conhea bem e se for para um mini
destaque leio o essencial da pea, mas no vou relembrar o percurso todo, at porque se
calhar nem vou usar isso no meu texto. Mas se for uma coisa grande, leio o mximo de
coisas possvel, mesmo entrevistas antigas. Por exemplo, se for raro eu fazer trabalhos de
uma companhia, sinto mais necessidade de relembrar, e a vou ler coisas. Depois invisto
mais na conversa.
Dentro do possvel, vou sempre aos ensaios corridos, e por isso que no vou aos
ensaios de imprensa [pede para assistir a um outro ensaio], porque, pelo menos no Porto,
raramente fazem corridos de imprensa. O meio jornalstico no Porto muito pequeno, h
poucas pessoas, e no so suficientemente especializadas ou interessadas, por isso ir a um
ensaio que dura trs horas a debandada, vai logo o press release para o texto. E tambm
h companhias que nunca fazem ensaios corridos. Outras vezes no preciso ver o ensaio
todo para perceber a coisa. Ou ento, imaginemos que chega o DVD de uma pea: se no
tem traduo e , sei l, em hngaro, se visualmente no estou a conseguir tirar partido
daquilo, se j vi um bocado do ambiente, paro de ver.
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Preparo perguntas e levo escrito, mas se for uma coisa mais pequena se calhar nem
preparo. E h perguntas que aparecem depois do ensaio. Raramente gravo. Tiro notas.
Quando comecei a trabalhar gravava tudo. Mas depois comecei a perceber que o tempo
que se perde a transcrever , pelo menos, o mesmo que se perdeu a gravar, normalmente
o dobro. Acho que no pragmtico. Eu j s tiro notas, mesmo com pessoas estrangeiras
em entrevistas por telefone. A no ser que seja para fazer um texto pergunta-resposta, mas
rarssimo, no teatro quase nunca fazemos. Mesmo que falhe uma ou duas palavras; no
tenho de citar a frase inteira, tenho de pr a ideia. uma questo de gesto do tempo.
Tambm verdade que fao isto, porque esta uma rea um bocadinho mais
incontroversa, na poltica ningum se pode dar a este luxo.
As trs jornalistas esto de acordo quando referem que preferem fazer as entrevistas
depois dos ensaios. Gosto mais de fazer as entrevistas depois, porque o espectculo
sugere coisas. Muitas vezes acontece, principalmente na programao internacional da
Culturgest eles tm muita programao internacional terem os DVD das peas com
antecedncia, outras vezes no tm. E tenho que falar com as pessoas, ainda por cima por
telefone, sem ter visto o espectculo, confiando no press release e na informao adicional
que encontro nos jornais estrangeiros acerca daquela estreia ou daquele autor. A sei
sempre que aquilo que vou escrever no o ideal e pode sair um bocadinho ao lado.
Porque na verdade, no vi o espectculo, posso ter visto umas trs imagens, mas no vi
nada a acontecer. Tenho as declaraes do encenador, tenho imagens, tenho artigos, mas
no vi. J me aconteceu ir ver o espectculo e pensar teria escrito outra coisa
completamente diferente. Mas a no h nada a fazer, fazemos o melhor, a culpa no foi
nossa; e claro, nestes casos acho que os textos reflectem o facto de no termos visto, acho
que transparente para o leitor que no vimos e que falmos por telefone com o
encenador, diz Ins Nadais.
Ana Dias Cordeiro concorda: Tenho feito as entrevistas sempre depois do ensaio,
no faz muito sentido fazer antes. O ideal fazer as perguntas depois, porque h coisas que
surgem s no momento do ensaio, quando se v a pea. S uma vez ou duas que fiz sem
ver nada, e a muito baseado s na conversa. Normalmente consigo sempre falar com
algum. A nica vez que no consegui foi com uma pea da Litunia, que vinha ao CCB.
Chegavam na vspera e no davam entrevistas nenhumas, nem por telefone nem por email. Tive que fazer uma pesquisa. Vi a pea toda em DVD, li entrevistas que o encenador
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j tinha dado, vi tudo o que havia sobre peas dele e tudo o que havia sobre aquela pea e
citei-o duas ou trs vezes. Foi a nica vez que isso aconteceu.
Se as entrevistas so individuais ou colectivas, depende dos teatros. J me
aconteceu as duas coisas. No me importo de entrevistas colectivas, porque ns somos
todos diferentes, cada um vai puxar para o seu lado. E no a mesma coisa, engraado.
Isto no uma conferncia de imprensa, em que todos vamos dar a coisa mais importante
que a pessoa vai dizer, porque aquilo que notcia, que mais bombstico. Mas estas
coisas so to subjectivas, que dependem muito do olhar de cada um. Eu gosto disso
tambm, todos temos maneiras diferentes de fazer aquilo. E h ideias que so semelhantes
entre todos. E as entrevistas at se podem tornar dilogos engraados. Aconteceu duas ou
trs vezes com a Joana [Emdio Marques] do DN. A durao das entrevistas depende da
conversa, depende se perguntei tudo o que queria, se a pessoa ainda est a dizer coisas
interessantes e se eu ainda no tenho as respostas que quero. Temos de gerir o tempo, o
nosso e o da pessoa, a pessoa no tem a tarde toda para falar connosco.
Prefiro fazer as entrevistas depois de ver a pea, assim j tenho mais contedo. J
aconteceu fazer trabalhos internacionais e no ter visto a pea e entrevistar na mesma o
encenador por telefone. Ou ento vi excertos no YouTube e depois fiz a entrevista. um
bocadinho trabalhar em seco, s cegas, no sabemos se estamos a ir ao ponto fundamental,
se estamos a ir ao essencial da pea. Mas se no a vimos, de que outra maneira podemos
fazer? Os entrevistados nunca puseram nenhum entrave ao meu trabalho ou minha
presena, nem a eu ir l entrevistar nem em relao s perguntas que fiz. Da rea do teatro
no tenho nada a dizer de ningum, diz Joana Emdio Marques.
Sendo que o encenador a pessoa mais entrevistada para artigos sobre estreias de
teatro, no a nica. Alis, pode at nem ser tido no artigo.
Ana Dias Cordeiro prefere vrias opinies sobre a pea: Falo mais com
encenadores, e s vezes com actores quando tambm so criadores. E s vezes falar com os
autores tambm pode ser interessante. Gosto de falar com os actores, porque d outra
dimenso coisa, bom ter as duas vises, mas nem sempre possvel. Normalmente os
encenadores esto to envolvidos que dizem sempre coisas interessantes. Nunca escrevi
nada sem a voz de ningum. No acho que seja essencial falar com actores s por eles
serem muito conhecidos. Depende. Fiz uma pea do Teatro da Cornucpia, encenada pelo
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Lus Miguel Cintra, A Cidade [de 14 de Janeiro a 14 de Fevereiro de 2010, So Lus Teatro
Municipal], que eram textos da antiguidade grega, e ele misturava actores da Cornucpia
com pessoas da televiso. Foi buscar a Maria Rueff, o Bruno Nogueira, por exemplo.
Depois de ver a pea interessou-me mais falar com actores que no eram conhecidos, e
acho que fiz bem, porque eles falaram mesmo da pea. s tantas, ests a fazer uma coisa
que diferente, que no bem a razo pela qual ests ali. As televises s estavam a
entrevistar estes dois, cheguei a ver algumas entrevistas na televiso e era s volta disso,
era muito mais pessoal do que sobre a pea. Mas pode ser giro, depende da pea.
S havendo uma possibilidade de entrevista, acho que deve ser o encenador.
Porque a construo do espectculo maioritariamente dele. Ou os actores, no caso de
encenaes colectivas. Se o texto original de um dramaturgo portugus, pode e deve-se
falar com ele. Se o trabalho do actor for fora do comum, ou se for um monlogo, pode-se
fazer s com o actor e dispensar o encenador. Depende do espectculo e do ngulo que o
jornalista quer. Tambm no estranho falar com algum da equipa tcnica, depende das
peas, diz Ins Nadais.
Joana Emdio Marques tem opinio semelhante: Eu falo com encenadores, muitas
vezes se justificar falo com actores. Se for um actor que muito conhecido da televiso, se
calhar faz sentido falar com ele.
Sobre a presena dos assessores dos teatros durante as entrevistas, Ana Dias
Cordeiro prefere que no estejam: Durante as entrevistas s vezes esto presentes, mas eu
no gosto disso. Acho que no h necessidade, mas tambm nunca pedi para sarem. Eu
prefiro que no estejam, mas os assessores no me incomodam, quem incomoda so as
agncias de comunicao. No conhecem os locais, se eu precisar de alguma coisa no a
agncia que me vai ajudar. J disse a uma pessoa de uma agncia de comunicao que no
queria a sua presena numa entrevista. No que o entrevistado [Valentin Teplyakov, O
teatro a casa onde se ri e chora, Ana Dias Cordeiro, P2, 26 de Abril de 2010] fosse dizer
coisas do outro mundo, mas a pessoa era de uma agncia de comunicao, no tem nada
que estar ali. J fao jornalismo h muitos anos e no gosto nada disso, acho que estamos a
ser tomados pelas agncias de comunicao. Ns podemos perfeitamente relacionarmo-nos
com a realidade, no precisamos de intermedirios nem de pessoas que escolham os temas
por ns.
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seno estou o dia inteiro, eu e as grficas, sem fazer nada e de repente tenho de fazer dez
pginas ao mesmo tempo.
As jornalistas utilizam mtodos diferentes para escrever o texto, mas tm a mesma
opinio no que toca aos dados a incluir.
Para Ana Dias Cordeiro, o trabalho diferente de espectculo para espectculo:
Eu diria que cada pea uma pea. Mesmo. Escrevo cada uma como se fosse a primeira.
Eu funciono um bocado assim, mas no sei se assim que deve ser, nunca falei com a Ins
sobre isto. Cada pea vale por si, ou seja, cada pea pode ser mais o texto, ou pode ser
mais a interpretao, ou pode ser mais a encenao. Claro que bom referir tudo, temos de
dar os crditos todos s pessoas, mas s vezes no d, no vamos pr os nomes de toda a
gente, isso est na ficha tcnica. No entanto, acho fundamental pr o nome dos actores.
Acho importantssimo, a no ser quando uma companhia com vinte pessoas. Acho que
muito aborrecido no ter l os nomes, da mesma maneira que num concerto s ter o nome
do vocalista ou do solista, e no ter o nome das outras pessoas que contribuem.
No tenho nenhum esquema que utilizo para escrever. Depende muito das peas.
A prpria pea que sugere, induz, sugestiona qualquer coisa. Pode haver uma imagem da
pea que seja to forte que se imponha abrir com ela. Pode partir de uma personagem
central, ou ento de uma que no central mas muito importante, uma pea chave na
histria. Pode ser uma ideia do encenador, alguma coisa que nem seja da pea mas que seja
da conversa que tiveste com ele. Tambm j comecei pela coisa mais bvia que como
surgiu a pea. Nunca tenho uma ideia de como vou escrever. S quando comeo. s vezes,
na vspera, recapitulo o que tenho e penso acho que giro comear com isto. Ou ento
relembro a pea: foi isto o mais importante, ento vou comear por aqui. Eu gosto de
chegar ao jornal para escrever e j ter a ideia de como que vou comear o texto. No ter
essa ideia pode atrasar logo imenso.
Acontece muitas vezes chegar a meio e depois ver que alguma coisa j no faz
sentido e trocar tudo. Os meus textos no tm uma estrutura comum, depende da histria.
Normalmente o mais importante primeiro, segue aquela regra da pirmide invertida, s
que no so aquelas perguntas bsicas, porque tambm no estamos a fazer uma notcia
pura e dura. pr no princpio aquilo que ns consideramos relevante. Relevante ou
importante, a informao mais interessante. O ttulo depende muito. A maior parte das
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vezes a ltima coisa que escrevo, mas s vezes estou a escrever e tenho uma ideia para o
ttulo. Tambm j aconteceu a meio do texto ter ideia para uma entrada e escrevo logo.
Aconteceu poucas vezes ter o ttulo antes de ter o texto. Mas isso ptimo, muito bom.
sinal de que tenho uma ideia muito clara da coisa, e facilmente transmissvel. A
informao da data, local, tem de estar na entrada ou no lead, logo nas primeiras linhas do
texto. Essa informao fundamental. E gosto sempre que os textos digam um bocadinho
do que fala a pea, gosto que se saiba o que que se vai ver.
s vezes nos mini destaques j sabemos partida o que que tem de estar l. Tem
de estar l a informao sobre a pea e a histria e s tantas j chegou ao limite de
caracteres. 3000 caracteres no muito, vai-se num instante. s tantas, j tenho muita
coisa, ento quando os entrevistados se pem a descrever a histria, a pea, os efeitos, o
cenrio, s tantas j tenho os 3000 ou mais. Nos textos grandes a abordagem mais
analtica. No s encher, tentar falar mais fundo na pea, dar-lhe um ngulo. O mini
destaque mais de divulgao, pode-se dar um toque mais curioso pea.
A parte mais chata e que eu gosto de despachar logo a desgravao da entrevista.
Comeo por a. Alm de que h ideias que me surgem na desgravao, de coisas que eu at
me posso lembrar da entrevista mas quando desgravo aquilo torna-se muito mais bvio,
mais claro. O modo como desgravo as entrevistas depende dos textos. Se so textos muito
delicados, mais fundos, desgravo tudo. Se s o encenador a falar de uma pea, a j sei
partida o que vai ou no interessar e escolho. Estou a ouvir o que o encenador est a dizer,
mas aquilo que no vou pr no texto no vale a pena transcrever. Espero que ele acabe e
volto a escrever quando ele voltar a falar de alguma coisa que eu acho que seja
interessante.
Ao contrrio, Joana Emdio Marques tem mesmo um esquema para incluir toda a
informao relevante: Tenho mais ou menos um esquema na minha cabea daquilo que eu
acho que importante dizer sobre uma pea, que falar no cenrio, na histria, no autor, e
ir intercalando com a voz do encenador e dos actores. Claro que as peas so diferentes e
isso implica uma escrita diferente. A minha preocupao mais se falo em informao
pertinente ou no. Isso no DN uma coisa muito clara. Normalmente, falo do texto que
eu acho que o fundamental numa pea e da cenografia, da histria, do autor, se
conhecido falo de outras obras dele ou se pertence a um movimento. Se puder, dou voz ao
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encenador e aos actores, a falarem sobre a experincia deles. Isso o ideal: dar espao
voz deles e no tanto minha, por mais pequeno que seja o espao. No sendo uma das
directrizes dos editores, fazer uma pea com a voz de algum o bsico do jornalismo.
Mais uma vez, a experincia de edio permitiu a Ins Nadais acelerar o seu ritmo
de trabalho: s vezes tenho o ttulo e a entrada na cabea e comeo a escrever por a.
Outras vezes acabo o texto e ainda no tenho ttulo. Comeo pelo incio, nunca aponto
notas para depois ver onde que vo parar. Onde eu realmente perco muito tempo no
incio do texto. Agora sou muito mais rpida, mais pragmtica. Mas antes, se fosse um
texto grande, era capaz de estar duas horas s volta do lead. Enquanto aquilo no sasse
como queria, eu no saa dali. Quando o incio do texto est bom, o resto corre muito mais
depressa. Quando s est mais ou menos, nunca vai fluir. Nunca comeo o texto pelo meio,
nunca sei o fim do texto. Mas h informaes que tm de estar: a sala, o nome da pea, do
encenador, isso tem de estar. E se falei com as pessoas, de preferncia, devem aparecer a
falar. No digo no lead, mas tm que aparecer na primeira parte do texto. A no ser que
no tenham dito nada de jeito, a quase nem vale a pena pr. Mas se foram declaraes que
eu provoquei, coisas que eu perguntei, acho que devo us-las o mais cedo no texto.
Mas tambm podem surgir dvidas durante a escrita do texto. Ana Dias Cordeiro
no tem problemas quanto a isso: Na altura de escrever podem surgir dvidas e vou
internet e Gesco [plataforma electrnica de arquivo de documentao e informao
jornalstica]. E tambm telefono, se for preciso, no tenho problemas nenhuns com isso.
Ningum nunca se importou ou recusou a falar outra vez, porque eu digo que para tirar
uma dvida. Mais vale a pessoa ter a informao toda do que ficar com aquela dvida.
Tal como os mtodos de escrita diferem, tambm aquilo que se escreve pode ser
mais ou menos do que o espao disponvel. Regra geral, escreve-se sempre a mais, sendo
que, por isso, cortar partes do texto no novidade para nenhum jornalista. Um segundo
olhar sobre o texto permite ver se o ngulo que o jornalista quer dar ao artigo est a ser
cumprido. j uma primeira edio do artigo, feita pelo prprio jornalista.
Escrever a mais ou a menos varia muito, depende dos textos. Quando mini
destaque tenho sempre tendncia para escrever mais. Quando uma pgina ou duas
normalmente consigo escrever aquilo que pedido. Mesmo assim quando uma pgina
acontece ultrapassar um bocadinho. Duas releituras e consegue-se cortar. O critrio para
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cortar depende, mas eu acho que a unidade do texto. Unidade no sentido de isto faz tudo
sentido junto, se tirar perde ali qualquer coisa. Quando se l melhor h sempre alguma
informao que est um bocadinho mais solta, ou menos importante, ou at pode ter
interesse mas no faz sentido ali. s vezes acontece entusiasmarmo-nos com o texto e ir
lanados. Acabamos por acrescentar coisas que podem ser interessantes mas naquele texto
no adianta nada, e se eu tenho de cortar caracteres, tiro essas partes, diz Ana Dias
Cordeiro.
Mas escrever sobre teatro no deve ser uma coisa amorfa, idntica a todos os outros
artigos. Se o estilo do artigo varia com a pessoa, a prpria abordagem ao tema e/ou pea
tambm pode ser diferente, principalmente fora de estreias. Essa abordagem mais
frequente no Dirio de Notcias, pelo seu carcter dirio, do que no psilon.
H momentos em que fazemos trabalhos paralelos fora de um momento de estreia.
Por exemplo, o Teatro Nacional D. Maria II vai abrir em Setembro com O Elctrico
Chamado Desejo [encenao de Diogo Infante, de 9 de Setembro a 31 de Outubro de
2010], protagonizado pela Alexandra Lencastre. A minha colega vai entrevistar a
Alexandra Lencastre, para sair j. No vai falar sobre a pea, vai aproveitar a pea para
falar um bocadinho da actriz. Por exemplo, quando o Pedro Mexia fez a sua primeira
encenao [Agora a Srio, Teatro Aberto, 29 de Abril a 13 de Junho de 2010] eu no fiz
propriamente um artigo sobre a pea. Falei da pea mas fiz uma entrevista ao Pedro Mexia,
como encenador mas com aquele percurso. Ou seja, falo do teatro mas paralelamente ao
teatro. outra maneira de abordar a pea, a pea no foi o primeiro plano, o primeiro plano
foi uma figura. Fizemos o mesmo com o Rui de Carvalho h uns meses [O Camareiro,
encenao de Joo Mota, Teatro Nacional D. Maria II, 10 de Setembro a 25 de Outubro de
2009]. bom para variar os modos de fazer. Uma vez, eu at levei deputados ao Teatro da
Trindade. Foram eles que falaram da pea, a propsito do oramento de Estado e da crise
[No se ganha, no se paga, encenao de Maria Emlia Correia, estreia a 28 de Janeiro
de 2010], conta Joana Emdio Marques.
A fotografia, parte essencial do artigo, passa um pouco ao lado dos jornalistas.
Muitas vezes no sei qual a fotografia que vai ficar, mas bom saber. s vezes a meio
do processo pergunto ao Vasco ou ento sei qual porque enviaram para mim. A
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fotografia tem de se relacionar minimamente com aquilo que estou a escrever. s vezes
escrevo a legenda, outras vezes no, diz Ana Dias Cordeiro.
Passa-se o mesmo com Joana Emdio Marques: Por vezes a pgina j est pronta,
com a fotografia, quando vou escrever o meu texto, mas no me influencia. Pode
influenciar o ttulo. Tambm escrevo a legenda. Normalmente so os editores que
escolhem a fotografia, embora eu s vezes v l dar os meus bitaites. Mas o editor tem
uma noo das cores, do movimento muito melhor que a minha.
Ins Nadais tambm no escreve com a fotografia em mente: No escrevo o texto
em relao fotografia. raro os jornalistas saberem qual a fotografia. s vezes, os
fotgrafos dizem-lhes, quando vo com eles estava a pensar usar isto. Mas, no sei se
bem se mal, raro deixarmo-nos condicionar pelas fotos, assim como eles tambm no se
devem condicionar muito pelo texto. s vezes acontece que a melhor foto, por exemplo,
no tem o protagonista e o texto foi todo escrito volta do protagonista. A tem de haver
um bocadinho de bom senso, a foto tem de fazer o mnimo de sentido; a foto tambm
jornalismo.
Muitas vezes, no possvel enviar um fotgrafo do jornal a todos os stios. Por
isso, no raro que se componha um artigo com uma fotografia do press release. H
muitas instituies que j tm boa fotografia de teatro. Eles prprios tm bons fotgrafos a
trabalhar com eles. partida, sei que instituies como o So Luiz Teatro Municipal ou o
So Joo ou o D. Maria, vo ter imagens de espectculos completamente publicveis. H
outras companhias que tm imagens de divulgao pssimas. Preferamos que as fotos
fossem sempre nossas; tal como o texto um olhar sobre a pea, e no o press release da
pea, as imagens tambm no deviam ser do press release, deviam ser o olhar dos nossos
fotojornalistas. Mas como ainda h menos fotojornalistas do que jornalistas, muitas vezes
no possvel. Mas se for um trabalho importante, procuramos sempre ter imagens
nossas, diz Ins Nadais.
Embora o objectivo dos artigos no seja fazer uma crtica ao espectculo, o
jornalista tem sempre a sua opinio profissional e pessoal sobre a pea que acabou de
ver. E por vezes, mesmo que inconscientemente, essa opinio passa no texto.
Eu posso sempre deixar transparecer no meu texto que gosto ou no gosto da pea.
Mas eu tento sempre no dar essa ideia, acho que devemos ser objectivos, mas tambm no
96
devemos limitar o texto a uma coisa muito cinzenta, sem interesse. s vezes essa ideia
passa, e at pode ser bom passar porque mais cativante para o leitor. Mas tem que haver
uma certa distncia. A maneira como se descreve a pea pode ser mais empolgante, mais
vibrante, no se diz directamente mas d para perceber que se esto a passar vrias coisas
interessantes, diz Ana Dias Cordeiro.
A mesma opinio tem Joana Emdio Marques: Tento no dar a entender no texto
se gosto ou no gosto da pea. Tento sempre passar a ideia do melhor que eu encontro ali.
Porque eu no sou crtica de teatro, essa no a minha funo. Quando escrevo, tento
sempre dar ao leitor o melhor que eu vi da pea, sem dizer isto muito bom. No posso
dizer isso. A pessoa, se for ver a pea, que vai fazer a sua deciso, e vai criar o seu
pensamento, vai ter a sua experincia daquela dramaturgia, etc, e a que vai dizer se
muito bom. No sou eu que tenho de fazer isso. Portanto, eu tenho de falar daquilo que
eu acho que o mais importante.
Quanto crtica propriamente dita, esta no influencia os artigos das jornalistas, at
porque o Dirio de Notcias no tem crtica de teatro. No DN j houve crtica de teatro,
agora no. Por isso, nem pensamos nisso quando fazemos um trabalho.
O jornal faz crtica, mas isso no tem a ver com o meu artigo. So trabalhos bem
diferentes, diz Ana Dias Cordeiro.
Ins Nadais explica como funciona a crtica no jornal PBLICO: As crticas saem
no P2 e no psilon. O teatro sai no P2 porque o psilon um suplemento semanal. H
muitas peas que tm carreiras pequenas, como os concertos. Imaginemos que o concerto
na quinta-feira, ou mesmo na quarta noite. Como o psilon fecha na quarta, j s entra
nove dias depois. Se a crtica sai uma semana ou mais depois do concerto, um bocado
chato. J os discos, saem num dia, mas normalmente os crticos recebem os discos com
antecedncia. Se no receberam, sai trs ou quatro dias depois. No como uma pea que
tem um tempo de vida. No fundo, as crticas que saem no P2 so as crticas de
acontecimentos ao vivo. O psilon fica com os cinemas, discos e livros e fazemos tambm
as artes plsticas, porque as exposies tm sempre no mnimo dois meses de durao,
portanto d outra flexibilidade para publicar. As peas criticadas so propostas pelos
crticos. No somos ns que gerimos, isso com o P2.
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Depois de escrito, o texto sobre teatro editado por Ins Nadais. Quando edito um
texto, vou com a mente aberta. Normalmente edito medida que leio, no fao uma
primeira leitura. Se h coisas que acho que no esto bem, altero logo. Na maior parte das
vezes a edio relativamente pacfica. Se for preciso, pergunto pessoa que escreveu.
Vou sempre com a mente aberta para as duas coisas: ou para aceitar o que est escrito ou
para pr em causa. Por exemplo, h pessoas que at se enganam a escrever o nome do
espectculo ou as datas. Coisas mnimas, mas j sei que tenho de ir confirmar, porque
provavelmente h ali um dia que no est bem, ou a estreia ou o fim da temporada. E
tambm vou com a mente aberta para achar que aquilo est espectacular ou para achar que
vou ter que corrigir at o bsico. Eu no posso contestar nada do que o material, a
matria-prima do texto, tenho de contestar a maneira como est escrito, essa que pode
no ser boa ou no ser mesmo legvel. Quando se escreve tem de se ter sempre na cabea a
ideia de que a pessoa que est a ler no viu ainda a pea. s vezes quem faz a segunda
leitura apercebe-se que faltam coisas; quem esteve e viu a pea tem tudo na cabea, quem
est a ler e no viu, pensa h aqui uma coisa que no estou a perceber.
Quando tenho de cortar, tento faz-lo nas informaes que se percebe que a pessoa
acrescentou por ser interessante mas que no so estruturais para a histria. Tenho de
perceber o que que estruturante no texto; se h uma coisa que at engraada mas que
paralela, se no tenho espao, aquilo que vai.
Os destaques sou eu que escolho. s vezes os jornalistas fazem propostas, mas eu
acho que tem vantagem em ser outra pessoa a escolher. O destaque feito a pensar no
leitor. A pessoa que escreveu nunca tem muito bem a perspectiva do leitor, mas a primeira
pessoa que l o texto tem sempre um bocado, por isso, acho que bom ser outra pessoa a
fazer. O destaque aquilo que chama mais a ateno e que me obrigaria, enquanto leitor, a
ler o texto. No uma regra, mas ns damos prioridade a uma citao. Se no h citaes
ou as que h so fracas, pe-se outra coisa, que resuma um bocado o esprito do texto.
Fazemos imagens quando o trabalho muito importante e at estamos a pensar
que pode dar capa e queremos ter uma coisa exclusiva horrvel quando os outros jornais
tm imagens iguais s nossas ou ento quando as instituies tm imagens de divulgao
to ms que temos mesmo que ir, no h alternativa. Porque no psilon h essa restrio:
todos os artigos tm sempre pelo menos uma fotografia, at os mini destaques. J
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aconteceu ligar para os teatros e pedir para enviarem outras fotografias, porque as que
enviaram primeiro no nos servem. E eles quando tm mais enviam. Quem faz a legenda
das fotografias o editor. raro ser o jornalista a fazer. Se so fotos nossas, a escolha
feita pelo editor de fotografia. Muitas vezes, o editor manda duas ou trs e depois eu e a
designer grfica escolhemos. Para mim, a foto um bocado indiferente: se ao alto ou ao
baixo, imaginemos que tenho as duas possibilidades, para mim indiferente. Se so duas
boas fotos e o valor informativo delas semelhante, deixo ao critrio da pessoa que
paginar. Ou tambm podem mandar duas fotos e h uma que eu percebo logo que faz mais
sentido.
Depois da edio, h pessoas que gostam de ver como que o texto ficou.
Algumas so muito ciosas de tudo, qualquer alterao querem saber, aprovar. Outras no
fazem questo, j nem sequer esto na redaco quando paginado. Eu, como jornalista,
gostava dos meus ttulos e normalmente eram aceites, mas o Vasco mudava muitas vezes, e
eu no questionava, ele que estava a editar, ele que sabia quais eram os outros ttulos do
suplemento. Isso importante, porque se h dois textos lado a lado, no convm haver
palavras repetidas nos ttulos. Ou seja, o editor tem de ter sempre uma margem de
manobra, mas claro, h pessoas que no gostam de nada. Chega a haver discusses
saudveis e no saudveis, conta disso. No muito frequente, mas acontece. A
tentamos arranjar uma soluo de compromisso, sobretudo nos ttulos. O ttulo um
elemento muito forte, e se a pessoa que escreveu no se rev nada nele, um bocado chato,
porque a assinatura da pessoa que escreveu. Nesse sentido acho que tem de haver um
certo cuidado, no devemos obrigar uma pessoa a levar com um ttulo que acha horrvel.
Depois do texto pronto, pode surgir a necessidade de fazer alteraes. Se encontrar
erros ou eu vir que quero modificar alguma coisa e a pgina ainda no seguiu, d para
mudar. Depois de j estar feito, se for uma gralha, s vezes acontece e no h nada a fazer.
Se for mesmo um erro, uma coisa que tu vs e ningum chamou a ateno, tem de se fazer
um O PBLICO errou [seco Cartas Directora] ou publica-se a carta do leitor ao
director e depois responde-se. Se o entrevistado no gosta de alguma coisa que est escrita
no artigo escreve uma carta ao director. Nunca aconteceu e a mim nunca me disseram
nada, diz Ana Dias Cordeiro.
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Quando noto que h uma falha no meu texto antes de ele sair, telefono e mando as
alteraes aos editores mas nunca me ligam nenhuma. Querem despachar. Nunca
ningum dos teatros me disse que tinha sado um erro nos meus textos. Embora eu j tenha
detectado uma coisa ou outra depois de publicado, mas coisas simples, nada grave. Mas s
vezes mais a opinio das pessoas, conta Joana Emdio Marques.
No PBLICO, os artigos de teatro so publicados no psilon, editado sexta-feira,
pelo que nem sempre corresponde ao dia da estreia da pea. No entanto, por serem
programados com antecedncia, estes artigos tm sempre um lugar no suplemento. No DN,
como saem na edio diria, geralmente coincide com o dia da estreia. Mas isso pode no
acontecer sempre, e at pode acontecer que o artigo nunca chegue a sair.
s vezes, no entram todos os artigos que fazemos. No teatro geralmente entra
sempre, mas h pouco tempo fiz um trabalho sobre uma pea de homenagem ao Mrio
Viegas que est agora no Teatro-Estdio Mrio Viegas [Amor com Amor se Paga (Um
acto teatral para Mrio Viegas), encenao de Juvenal Garcs, desde 20 de Maio de 2010]
que no entrou. No havia espao hoje, no havia amanh, acabou por nunca entrar. E de
dana tambm acontece. Embora no seja comum, s vezes acontece. Porque h pouco
espao e porque muitas vezes as decises editoriais pendem mais para um lado do que para
outro. Por exemplo, o editor executivo adjunto do DN, o Nuno Galopim, que um homem
da msica, acaba por privilegiar mais a msica do que as outras artes. Eu farto-me de
batalhar com os editores, digo muitas vezes que para msica h sempre espao, para outra
coisa que no. Os editores no so pessoas que faam um planeamento a longo prazo,
muitas vezes no dia: ento o que que h?. E ele tem sempre coisas de msica para
fazer. a rea dele, mas a verdade que isso condiciona por exemplo o teatro. Muitas
vezes, entre colocar uma coisa de msica, s vezes um grupo menos importante que
ningum conhece, e uma pea importante, ou pem as duas mas com menos espao para a
pea ou a pea salta para o dia a seguir. Temos todos os dias da semana para publicar, mas
h espaos, por exemplo o CCB, a Culturgest, que tm muitas peas que s esto trs dias.
Ou seja, muito complicado, ns vamos fazer e se por alguma razo no conseguimos pr
logo no dia da estreia, na quinta-feira, j s sai na sexta e j s um dia. Depois muitas
vezes acaba por no valer a pena. E outras vezes, por exemplo, h um ensaio de imprensa
mas colado estreia. Se fosse com mais tempo, dava de certeza, porque colocvamos a
100
pea em antecipao, trs ou quatro dias antes, e no havia problema nenhum, diz Joana
Emdio Marques.
As relaes da comunicao social com os teatros tambm so pacficas. Os
jornalistas habituaram-se a saber das novidades e das estreias atravs dos assessores, pelo
que no se precisam de preocupar em procurar essa informao, porque sabem que ela vem
sempre ter com eles. Alm disso, a rea da cultura tem sempre poucos apoios, pelo que
tudo o que a comunicao social disser, ser, partida, bom para os intervenientes.
[Os assessores de imprensa] so sempre muito solcitos, por exemplo com a
questo das fotografias. s vezes precisamos de pedir porque as que temos no nos
servem. Quando pedimos qualquer coisa eles tentam ao mximo conseguir aquilo que ns
pedimos, s vezes at com prejuzo pessoal. Chateiam, perguntam quem vai, s vezes se
no vai ningum tentam arranjar outros pretextos para ns irmos. Acontece no podermos
ir estreia mas vamos depois e eles no tm problema com isso, diz Joana Emdio
Marques.
A verdade que muito fcil trabalhar a rea do teatro, porque as instituies e os
protagonistas, partida, tm to pouca divulgao que a ateno que lhes damos sempre
bem vinda. No temos de lutar pelo acesso s pessoas, como na poltica ou no desporto,
aquelas pessoas que esto fartas de dar entrevistas e no precisam de lutar por espao nos
jornais. O teatro precisa de lutar por espao, portanto h uma relao interessada tambm
da parte deles. claro que h aqueles dois ou trs actores que difcil entrevistar, mas
partida as pessoas esto sempre disponveis para falar connosco. Isso tambm aliciante,
porque sabemos que conseguimos falar com os protagonistas das histrias e que desejado
por eles, no arrancado, assume Ins Nadais.
Mesmo havendo vrios pontos em comum na maneira como os jornalistas de um e
de outro rgo de informao entendem o seu trabalho e a representao do teatro, noutros
pontos diferem, devido s caractersticas dos meios para os quais escrevem.
Joana Emdio Marques compara o seu trabalho no Dirio de Notcias com o
trabalho do PBLICO, salvaguardadas as devidas diferenas: Na imprensa semanal, h
um espao para escrever e para digerir a informao que necessariamente vai originar
formas de contar diferentes. Num jornal dirio, muitas vezes vemos a pea tarde e ainda
escrevemos para o dia seguinte, ou vemos noite e no dia a seguir j estamos a escrever.
101
Temos pouco espao mas tambm temos menos tempo para pesquisar, etc. E isso obriga a
uma conciso, a procurar dizer aquilo que foi o essencial da pea, a dar informao
essencial ao leitor. s vezes gosto tanto de uma coisa que gostava de escrever mais, e
penso que inveja do espao do psilon!. verdade que tenho essa inveja, mas por outro
lado, reconheo cada vez mais a importncia da conciso. s vezes, leio coisas no
PBLICO e penso escreveram imenso mas no disseram grande coisa sobre a pea. No
meu incio no DN, levava na cabea dos meus editores porque queria escrever como
escreviam no PBLICO. At porque eu tinha acabado de escrever uma tese de mestrado
muito filosfica e leio muita filosofia, e tinha a mania do ensaio. O meu editor at dizia
que eu estava nas tintas para a notcia, queria era escrever, se era notcia ou no era notcia
para mim no interessava nada. Isso no pode ser. Se uma notcia, uma notcia, temos
de dar dados relevantes ao leitor. E eu questionava muito isso. Agora percebo, sobretudo
pela falta de espao, a importncia de, entre tudo o que gostmos e vimos, seleccionar
aquilo que possa ser mais relevante para o leitor. Com os tais textos em que no disseram
grande coisa, acaba-se por no perceber o essencial da pea, perdeu-se l pelo meio. A
outra informao, que at poderia ser importante, acaba por no o ser, porque fica ali no ar,
dispersa. Precisava de algo que aglutinasse as clulas. Depende tambm das peas. E por
isso s vezes o espao torna-se grande demais. Mas isso tambm acontece um bocadinho
no DN. Muitas vezes tenho caracteres a mais para preencher, outras vezes tenho menos
caracteres e a pea valia muito mais.
A anlise dos artigos do psilon revela que o jornal aposta mais em algumas reas
da cultura, mas tambm que a coerncia dos textos o que mais parece interessar aos
jornalistas. H uma tentativa de cobrir o mximo de todas as reas artsticas, mas como
isso fisicamente impossvel, h sempre vrios factores que influenciam no resultado final
do suplemento. A anlise revelou ainda que o teatro ocupa um lugar relativamente modesto
nas pginas do jornal.
102
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CONCLUSO
Este relatrio partiu dos artigos de teatro do jornal PBLICO para tentar
compreender o modo como a cultura abordada na comunicao social. Na
impossibilidade de analisar um espectro temporal mais alargado ou mesmo todas as reas
artsticas abordadas no psilon, o suplemento semanal de cultura do jornal, a escolha do
teatro fica como exemplo do trabalho em jornalismo cultural. Muitos outros poderiam ter
sido escolhidos e muitas outras abordagens tambm. Seja como for, de certo que os
resultados seriam idnticos.
Como esta anlise apenas cobre uma pequena parte do trabalho da seco de cultura
do PBLICO, mais representativa do ano e da poca social do que do efectivo trabalho
da equipa em geral e do trabalho em teatro. A anlise incidiu no perodo em que decorreu o
estgio a que este relatrio se refere, ou seja, de 1 de Maro a 31 de Maio de 2010.
A abordagem escolhida para este relatrio duas frentes: anlise de artigos e
entrevistas aos intervenientes surge como um complemento e uma confirmao uma da
outra. Complemento, pela ajuda que as entrevistas proporcionaram na interpretao
subjectiva dos resultados da anlise dos artigos e na compreenso do trabalho dirio de
jornalistas e assessores. E confirmao, pela explicao dos resultados e esclarecimento de
ideias empricas acerca do tema.
Com a anlise e as entrevistas resolveram-se os dois pontos de partida criados para
este trabalho: o lugar ocupado pelo teatro na seco de cultura de um jornal nacional
(tambm atravs da prpria anlise dos intervenientes) e as relaes que se estabelecem
entre a comunicao social e as pessoas que compem um organismo de teatro, na pessoa
do intermedirio o assessor de imprensa.
A anlise quantitativa do jornal e dos seus suplementos, expressa em grficos
simples, facilita a leitura rpida da publicao e posiciona o teatro ao lado das outras artes
que formam o suplemento de cultura; permitindo perceber assim o lugar que efectivamente
destinado ao teatro nesta publicao. As variveis analisadas so as que pareceram mais
relevantes para compreender a dedicao que o teatro merece nos jornais.
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b) Por se tratar de uma publicao jornalstica, esta escolha tem de ser baseada em
critrios noticiosos (qualidade, novidade); trata-se de jornalismo e no apenas
divulgao, para isso bastaria a publicidade com os dados bsicos de uma pea;
c) A falta de jornalistas na rea da cultura, e particularmente de uma pessoa mais
atenta rea do teatro, no permite fazer mais do que apenas seguir as estreias,
no h um acompanhamento permanente da actualidade do teatro;
d) tambm por falta de jornalistas que todos os trabalhos, no s os de teatro, se
resumem, na maioria, a acontecimentos em Lisboa e Porto. Entende-se isto pelo
facto de estas serem as maiores cidades do pas, e, por isso, terem uma vida
artstica e cultural mais enraizada, e porque a falta de jornalistas no permite
grandes deslocaes pelo pas;
e) A seco de cultura considera que os artigos de teatro no so os mais lidos
pelos leitores do jornal e do suplemento, assim, o espao destinado a cada rea
artstica parece ser proporcional ao interesse demonstrado pelos leitores eles
que so a razo de ser da publicao;
f) O desconhecimento do funcionamento das redaces por parte de muitas
assessorias de imprensa leva a que os jornalistas no prestem tanta ateno a um
evento como poderiam;
g) As dificuldades sentidas para cobrir a rea do teatro e mesmo da cultura no
so exclusivas do jornal PBLICO.
Mesmo assim, o trabalho sobre teatro que o jornal produz poderia ser aperfeioado:
h) H, claramente, uma tendncia para privilegiar determinadas reas artsticas.
Sendo que as outras, nomeadamente o teatro, acabam remetidas para segundo
plano;
i) As publicaes jornalsticas tambm tm a funo de educar o leitor, por isso
no se pode olhar apenas para o que os leitores querem. preciso dar-lhes o que
eles no conhecem, pelo que no faz sentido limitar a rea do teatro s porque
tem menos leitores;
j) Se os artigos de teatro so menos lidos do que os outros, isso pode dever-se
falta de incentivos leitura;
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k) No psilon, duas aces simples poderiam suscitar mais ateno para os artigos
de teatro: mais artigos sobre teatro na seco Flash, acompanhando a
actualidade da rea, e mais chamadas de capa para os artigos de teatro;
l) Sendo a crtica uma afirmao pblica da qualidade de um objecto cultural, a
crtica de teatro muito reduzida em comparao com os artigos produzidos, e
muito menos comparada com a crtica de concertos. certo que h imensos
espectculos de msica, mas tambm os h de teatro. Alm de que, regra geral,
um espectculo de msica acontece apenas uma vez e um espectculo de teatro
tem uma carreira de vrias semanas. Assim, a leitura de uma crtica de msica
acaba por s servir para quem esteve presente no concerto, enquanto para quem
no foi ao teatro pode ser um incentivo para ir;
m) A maior parte dos artigos de teatro centram-se em Lisboa e Porto. Mas no
cobrem, absolutamente, a totalidade da actividade cultural, nem do pas nem de
nenhuma das duas cidades; de resto, isso seria fisicamente impossvel.
concebvel que Lisboa e Porto sejam as localidades mais contempladas nos
artigos, porque, sendo as duas maiores cidades do pas, tm uma oferta cultural
bastante acima da mdia; no entanto, no resto do pas tambm se produzem
espectculos de altssima qualidade que no so contemplados nas pginas do
jornal, sendo este de circulao nacional. O critrio de escolha deve, por isso,
ser mais abrangente e criterioso, mesmo com poucos jornalistas;
n) Para conseguir isto, teria de haver uma maior organizao da redaco;
o) tambm a falta de jornalistas que leva a que muitos dos trabalhos de teatro
sejam divididos pelas pessoas com mais tempo livre, uma vez que no h
ningum que se possa dedicar exclusivamente rea; ainda que qualquer
jornalista consiga fazer um trabalho aceitvel sobre qualquer assunto, nunca a
mesma coisa se o trabalho for feito por um jornalista especializado;
p) Tal como os artigos, as sugestes e os destaques fotogrficos no cobrem todo o
territrio. E, mesmo assim, no perodo analisado houve repeties de eventos. A
repetio pode ser til para ajudar o leitor a no esquecer uma actividade, no
entanto, ao mesmo tempo, est a tirar lugar a uma outra actividade,
impossibilitando o ecletismo que deve nortear as rubricas e sugestes;
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importante para os teatros perceberem o impacto dos seus projectos, mas geralmente no
leva muito pblico s salas.
No geral, os assessores sabem como funciona uma redaco e entendem que tm de
ser feitas escolhas. Mas, mesmo assim, todos consideram que podia ser dado mais espao
ao teatro, principalmente quando comparam com outras artes. Defendem o teatro com
qualidade, sobre outras artes que por vezes tm mais destaque mas que em termos de
qualidade so muito fracas. Alm de que consideram que a abordagem devia ser mais
diversificada, porque so sempre os mesmos teatros que aparecem na imprensa.
Percebem que a sua funo importante, preciso saber falar com os jornalistas e
agilizar processos, porque no jornalismo h sempre pressa. Tentam negociar tudo com os
jornalistas, de modo a que estes consigam o que querem, o que lhes garantir espao na
publicao. Como h poucos jornalistas nesta rea, os assessores acabam por conhecer a
maioria e criar relaes que permitem que os jornalistas voltem sempre aos seus teatros.
No entanto, tambm sabem que no basta ter simpatia e criar grandes conhecimentos ou
mesmo relaes de amizade, o seu trabalho deve ser bem feito, apelativo, completo. A
escolha final de um tema da responsabilidade dos jornalistas, mas o trabalho de um bom
assessor pode influenciar a deciso.
Os jornalistas trabalham cada pea como se fosse a primeira, de maneira totalmente
diferente da anterior. Nunca tm uma linha de direco para organizar o contedo do texto.
O que nunca esquecem que esto a escrever um texto jornalstico, que por isso tem de ter
as caractersticas bsicas admissveis para esse tipo de texto. H informaes essenciais
que tm de entrar obrigatoriamente no artigo como o nome da pea, o local, a
companhia, o nome de actores e encenador, as datas de incio e final de carreira, a sinopse
o modo como cada jornalista aplica essas informaes no seu texto que difere para cada
pea, e diferente entre cada jornalista.
Tambm fazem questo de ser rigorosos quanto sua interpretao do espectculo,
mas no tm a pretenso de o criticar essa funo deixada exclusivamente para a
crtica. O que acontece que o jornalista aplica um olhar objectivo sobre o espectculo na
sua totalidade, para que possa perceber quais as informaes e os momentos mais
relevantes da pea e que sejam, ao mesmo tempo, os mais relevantes para o leitor.
109
110
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113
ANEXO A
Quando est pronto, enviamos a informao por e-mail. Fazemos para cada pea
um banner que colocamos no cabealho do e-mail com a informao base. Portanto,
quando a informao chega, seja que informao for, imediatamente identificada de onde
vem. Por baixo, seguem os press curtos , com a tal informao toda. Em anexo, vo
vdeos, fotografias e tambm textos. Mesmo assim, quando recebemos c os jornalistas,
entregamos em papel, dentro de uma pasta, informao idntica ao e-mail.
Depois, claro que ficamos atentos s matrias que vo sair. Quando saem,
recolhemos e arquivamos. Temos vrias formas de ver os artigos. s vezes, os jornalistas
dizem-nos que sai em tal dia, e ns ficamos atentos ao jornal. Mas tambm temos um
servio de clipping que nos envia os artigos, mas tem um delay de cinco, seis dias.
Tambm temos alertas na internet. Portanto, assim que publicado, eu recebo, num e-mail
que crimos s para gerir este servio, uma lista de links que remetem imediatamente para
o site onde o artigo foi publicado. A lista inclui tudo, como blogs e at avisos de sites que
avisam que a notcia j foi publicada. Esta a melhor forma de ter tudo controlado.
Lemos sempre os textos. Por vezes, encontramos erros, mas no temos problemas
com isso quando sabemos que so erros ingnuos, gralhas, porque sabemos que foi um
descuido e que noutro rgo vai sair correcto. No vale a pena estar a incomodar a pessoa
com isso. Mas quando so coisas muito graves teremos de dizer, at para proteger a
reputao do jornalista, para poder emitir erratas. Erros acontecem, da nossa parte tambm.
Se for uma coisa que no faa mal, que por si s se corrige, tudo bem. s vezes at nos
referimos a esses erros na vez seguinte em que nos encontramos com o jornalista.
Dizemos: gostei muito do trabalho, mas tinha l isto e aquilo. Faz parte do trabalho.
At agora, poucas pessoas nos disseram que vieram ver as peas porque viram no
jornal. s vezes, mas no muito, telefonam pessoas de Coimbra, de Faro, mais das nossas
relaes, que dizem que viram o nosso anncio. A publicidade tambm somos ns que
fazemos, mas no tem qualquer relao com os artigos que os jornalistas produzem depois.
No tem nada a ver.
Em relao aos ensaios de imprensa, no fazemos exigncias nenhumas aos
jornalistas que c vm. Pelo contrrio, se um jornalista no puder vir hora marcada, por
exemplo, ns falamos com o encenador e perguntamos se podemos fazer uma cena
especfica para ele e conversar um bocadinho com ele noutra altura. Tentamos arranjar
uma maneira de ficarmos todos satisfeitos.
Avisamos sempre os actores e encenadores que no dia X vm c os jornalistas,
porque se no avisssemos isso seria invadir a privacidade deles. Geralmente, no h
problema para os actores, mas mesmo assim avisamos. Depois, confirmamos o dia com os
jornalistas. O elenco e a equipa no costumam preparar as entrevistas, a preparao o
prprio trabalho.
Eu assisto s entrevistas, para acompanhar o jornalista e dar alguma assistncia, se
for preciso. Ir buscar alguma coisa, dar alguma informao, ajudar o entrevistado se
precisar. Nunca nenhum jornalista pediu que nos retirssemos.
Acho que h imprensa que vem melhor preparada que outra para as entrevistas. H
entrevistas que so s sobre a pea, outras alargam-se ao contexto do teatro e a situao
cultural do pas; varia muito. No geral, nunca fica nada por dizer, porque se acham que
importante, os prprios entrevistados dizem que querem acrescentar mais alguma coisa.
Tambm h situaes em que os jornalistas confirmam a presena mas depois no
vm. Mas, regra geral, do uma justificao para no virem. E ns sabemos que h muitas
solicitaes, h muito pouca gente a escrever. sobretudo por conflito de agenda. Pelo
menos, o que dizem, mas eu at acredito que sim. Por exemplo, na semana em que
estremos Troilo e Crssida [encenao de Joaquim Benite, de 29 de Abril a 16 de Maio
de 2010], em Lisboa estrearam dez peas. Portanto, impossvel que um jornalista, sendo
o nico, consiga ir s dez peas e escrever sobre as dez peas. Por isso, tem mesmo de
haver escolhas. mais fcil vir dois ou trs dias a seguir estreia, quando so peas de
grande carreira. Prefiro isso do que no os ter c, bvio.
Na apresentao do festival, tivemos cerca de 80 jornalistas. Foi muito bom, mas
no costuma ser tanto nos ensaios de imprensa. Tambm h pessoas que vm e, como
trabalham para vrios rgos, elas mesmas disseminam a informao para trs ou quatro
jornais.
Sempre que conhecemos um jornalista, ele automaticamente includo na nossa
lista e comea a receber toda a informao como os outros. Fica logo parte da casa.
Tambm fazemos a comunicao das companhias convidadas, da mesma forma que
fazemos com as nossas actividades. Mas como geralmente as companhias tambm tm
O Teatro Nacional tem duas formas principais de divulgao, uma atravs das
relaes externas, que inclui as newsletters e portanto tudo o que seja comunicao directa
com o pblico; a outra forma para a imprensa, e isso j sai atravs da comunicao.
Como a actividade do Teatro Nacional muito intensa temos a Sala Estdio, a
Sala Garrett, por vezes co-produes com outros teatros e as actividades da TEIA
decidimos que a comunicao de todos os espectculos na Sala Garrett, na Sala Estdio e
as co-produes sai sempre do gabinete de comunicao. Em relao aos espectculos da
TEIA, escolhemos projectos especficos que achamos que a imprensa vai pegar mais
facilmente ou que se justifica porque se espera menos pblico sendo portanto necessrio
um reforo na imprensa. De resto, essas actividades tm divulgao atravs da newsletter,
do site, e por vezes, dependendo dos projectos, publicidade na imprensa.
Decidimos assim porque so muitos press a sair. Ns tentamos perceber o lado dos
jornalistas, que devem receber milhares de e-mails; de certeza que difcil para eles gerir
toda a informao que recebem. Por isso achamos melhor fazer uma seleco daquilo que
enviamos e sermos mais concisos do que enviar muita informao ou muitos e-mails.
Os espectculos so diferentes. Na Sala Garrett, os textos so mais clssicos, na
Sala Estdio so mais contemporneos. E o tipo de pblico tambm muito diferente. Na
Sala Garrett so pessoas mais velhas e na Sala Estdio so mais jovens, mais dadas
experimentao. A Sala Estdio tem um pblico especfico mas tambm fiel. No h caras
muito conhecidas, ou pelo menos para toda a gente. As pessoas que vm Sala Estdio
vm porque querem experimentar outras formas de teatro. diferente do pblico da Sala
Garrett. No incio das carreiras na Sala Estdio no costumamos ter sala cheia, mas uma,
duas semanas depois os espectculos esgotam. Por exemplo, Num Dia Igual aos Outros
[encenao de Marco Martins, de 11 de Maro a 18 de Abril de 2010] esgotou com um
ms de antecedncia. A maior parte dos espectculos esgota. As visitas guiadas esgotaram
com oito meses de antecedncia.
Muitas vezes os jornalistas contactam connosco para outras coisas que no os
ensaios de imprensa. Quando se comea a desenvolver uma relao com os jornalistas, eles
ligam para pedir ajuda para outras coisas. Por exemplo, se precisam de falar com algum,
mesmo que no tenha nada a ver com uma pea nossa, as pessoas sabem que ns temos os
contactos. Assim mais fcil e vamo-nos ajudando entre ns.
muito complicado fazer publicidade. No s para o Teatro Nacional como para a
maior parte das instituies culturais. O nosso oramento muito mais limitado do que o
de uma empresa qualquer. Os valores so comportveis para eles. Para ns no. Se bem
que os jornais tm valores especficos para a cultura. Mas mesmo assim, uma fatia
enorme do nosso oramento. Temos de gerir muito bem o que fazemos e em que meios.
Consoante as peas, temos sempre de fazer escolhas onde pr a publicidade.
Estamos a desenvolver um estudo de pblicos para percebermos qual o motivo que
leva as pessoas a vir ao teatro. Se foi por publicidade, assessoria de imprensa, um artigo
que leram, se foi por amigos. O estudo tem a durao de um ano e h cerca de dois meses
fizemos um balano com os dados que j tnhamos.
Percebemos, at como espectadores de outros equipamentos, que no a
publicidade que leva as pessoas a irem ao teatro. Porque a publicidade um olhar muito
prprio da entidade que a promove. Ao passo que se eu ler um artigo que foi escrito por
um jornalista, este ser mais isento do que quando a prpria entidade que o promove.
Tambm no a crtica que move as pessoas. A maioria das pessoas referia a
imprensa. Depois do estudo, vamos fazer um contacto telefnico com as pessoas que
responderam e vamos fazer perguntas mais concretas. Uma delas perguntar se imprensa
significa assessoria de imprensa e artigos ou publicidade, porque no estava especificado.
Se bem que havia um ponto no questionrio que dava para perceber que no era pela
publicidade que as pessoas vinham, por isso ser pelos artigos que lem ou vem na
televiso ou ouvem na rdio.
Sabemos que as lonas e os cartazes que temos l fora funcionam. Quando tem a
cara de algum que as pessoas conhecem, elas vm ver a pea, s vezes nem sabem do que
que fala. Achamos que a cara e o nome dos actores funciona, o nome do autor do texto
ou encenador funciona. Mas na realidade no sabemos qual o impacto que isso tem nas
pessoas. Da ser interessante fazer o estudo de pblicos para percebermos em concreto o
que que motiva as pessoas a vir ao Teatro.
Acho que grande parte das pessoas que j compraram bilhetes para Um Elctrico
Chamado Desejo [de 9 de Setembro a 31 de Outubro de 2010] comprou por causa do
nome da actriz e do encenador [Alexandra Lencastre e Diogo Infante], mais porque gostam
do trabalho deles e no tanto pelo texto. Acho que funciona muito assim. uma questo
cultural. A maior parte das pessoas no conhece os textos. Neste caso, podem conhecer o
filme, que uma referncia do cinema. Mesmo que nunca o tenham visto, ouviram pelo
menos falar. Quando se fala em Um Elctrico Chamado Desejo toda a gente sabe o que
. Comemos j a vender bilhetes, porque a temporada foi divulgada no incio de Julho e
os jornais comearam a falar; as pessoas vieram logo procurar.
No h qualquer ligao entre a publicidade e os rgos de comunicao onde
aparecem, no sentido de comprarmos publicidade num rgo para incentivar os jornalistas
a virem aos ensaios de imprensa. Eticamente no deve haver. Acho que nunca aconteceu.
A programao anual e o gabinete de comunicao no participa na elaborao.
Depois de termos a programao, fazemos uma projeco daquilo que queremos para cada
um dos projectos. Com algumas semanas de antecedncia, elaboramos o press release, o
dossier de imprensa, pedimos aos actores e encenadores os currculos para incluir no
dossier, muitas vezes colocamos textos de outras pessoas que podem estar ou no
envolvidas no projecto, muitas vezes nem esto envolvidas, mas por algum motivo os
textos tm a ver com o espectculo.
Primeiro, e com mais antecedncia, fazemos a divulgao para os rgos de
comunicao mensais. Depois enviamos para os semanrios. Por vezes, em alguns
espectculos achamos interessante fazer propostas especficas para alguns jornais. Para os
dirios, enviamos mais em cima do acontecimento, porque sabemos que recebem muita
informao por isso mais fcil associar ou lembrarem-se daquele espectculo para aquele
dia especfico.
Regra geral, inclumos no dossier de imprensa a sinopse do espectculo, a ficha
artstica, por vezes textos adicionais para fazer uma contextualizao da pea, quase
sempre h um texto do encenador e vai sempre em anexo algumas fotografias.
Enviamos o press e o dossier de imprensa por e-mail. igual para todos. Temos
uma base de dados que vamos enriquecendo ao longo do tempo. Nos ensaios de imprensa,
se no conheo o jornalista tenho o cuidado de pedir sempre os contactos. Acontece no
conhecermos as pessoas que vm. mais frequente com o PBLICO, j conheo muitos
jornalistas do PBLICO da rea da cultura, porque no so muito regulares. Nos outros
meios no acontece muito isso. Normalmente so sempre as mesmas pessoas, assim mais
fcil conhec-las. Temos cerca de 600 contactos, mas muitos no esto actualizados. No
temos uma base de dados de jornais regionais. Quando possvel, fazemos um
acompanhamento telefnico quando enviamos os e-mails para os jornalistas.
Tentamos fazer sempre ensaio de imprensa para todas as peas. muito mais fcil
para o jornalista escrever sobre a pea se tiver uma ideia do que o espectculo do que s
atravs do press ou do dossier de imprensa, porque acaba por no perceber muito bem qual
a dinmica. Quando no possvel, como no caso dos festivais ou espectculos
internacionais, tentamos agendar entrevistas por telefone com os encenadores ou se no
estiverem disponveis, com os actores se bem que h sempre uma preferncia dos
jornalistas pelos encenadores ou ento, em ltimo caso, ser s o dossier de imprensa e
as imagens que tenhamos do espectculo.
O ensaio de imprensa geralmente uma semana antes da estreia. Normalmente,
para semanrios fazemos com mais antecedncia. Costuma ser tarde, se bem que s vezes
possa ser noite por questes de montagem. Temos de ser adaptveis, consoante os
espectculos e o tempo que a equipa tcnica tem para a montagem, porque muitas vezes os
espectculos no esto montados e o encenador no quer mostrar o que j tem imprensa,
porque o espectculo no fica claro, deturpa. Ento temos de gerir, o que temos e o que
podemos divulgar. Muitas vezes, difcil mas nunca deixmos de fazer um ensaio de
imprensa. Normalmente, os encenadores tambm so sempre muito sensveis a isso,
porque percebem que importantssimo conseguirmos divulgao na imprensa.
Fazemos um ensaio para semanrios, com mais antecedncia, depois fazemos uma
sesso para fotgrafos, um ensaio corrido e uma sesso para televises. Para fotgrafos e
televises so s cenas, para televises com repetio. Quem escolhe as cenas o
encenador. A menos que juntemos o ensaio de fotgrafos com o ensaio corrido, no corrido
s esto os jornalistas de imprensa. Se uma televiso quiser vir tambm ns no pomos
barreira nenhuma. Institumos assim porque eles tm sempre muito pouco tempo e muitos
trabalhos agendados, no vale a pena ver um ensaio completo. Os jornalistas escrevem
mais sobre a pea se for um artigo grande, quando h mais espao.
O teatro como arte est pouco representado na imprensa. Mas em relao dana e
a alguns gneros de msica acho que somos privilegiados. O teatro, dentro da cultura um
bocado mais mainstream, acaba por ter mais visibilidade. At porque, no caso do Teatro
Nacional, tem actores e encenadores conhecidos. Por isso, conseguimos mais facilmente
divulgao nos meios onde normalmente no se consegue, que so as revistas do social.
Mas no acontece com todos os equipamentos.
No considero que tenhamos vantagem sobre os outros teatros a nvel da assessoria
de imprensa. Mais ao nvel de pedidos concretos. Temos muitos pedidos de produes
fotogrficas, gravaes de vdeo. Por exemplo, uma produtora quer fazer uma entrevista a
um actor. Pergunta-lhe onde quer ser entrevistado e automaticamente a pessoa se lembra
do Teatro Nacional. uma referncia a nvel histrico. Actores mais velhos, como Eunice
Muoz e Rui de Carvalho, que tiveram uma histria com o Teatro Nacional, gostam que as
entrevistas sejam feitas aqui porque h uma ligao emocional com o Teatro, no apenas
profissional.
H pessoas que estavam nos meus contactos no Teatro Maria Matos que no iam s
actividades, mas que passaram a fazer a cobertura da actividade do Teatro Nacional,
precisamente pela visibilidade que tem o Teatro Nacional. No sei se ser benefcio em
relao a outras instituies. Parto do principio que o PBLICO, o Expresso, o Dirio de
Notcias, o Correio da Manh ou outro, assentam no princpio da iseno, e tentam dar a
mesma visibilidade a vrios equipamentos. Se calhar, meios de comunicao social mais
pequenos optam por um artigo sobre o Teatro Nacional porque chama mais gente, tem
mais impacto, este teatro tem uma grande histria.
Cada vez temos mais dificuldade em conseguir a divulgao das nossas
actividades na comunicao social, porque cada vez h menos espao para a cultura na
imprensa. Isso faz-me pensar o que que ser da dana, da msica clssica. Tero de
certeza muito mais dificuldade. E ainda mais as instituies mais pequenas, que no tm a
visibilidade do Teatro Nacional. Temos de nos adaptar. s vezes, puxar um bocado mais
pelo lado social. Mesmo sabendo que o pblico destes programas se calhar no o nosso,
temos de tentar levar os actores ao Portugal no Corao, porque no conseguimos noutro
lado. Porque mais vale aquilo do que nada.
Oliveira ou mesmo o 31 da Armada) falem de ns, se eles disserem apenas uma frase
sobre uma pea que tenham vindo ver, ns sentimos na bilheteira. O mesmo acontece com
o Facebook dos polticos. Essencialmente, o que leva uma pessoa ao Teatro continua a ser
o bate-boca.
No se pode ver as coisas de maneira simplista, tudo muito relativo. Isto tudo
muito efmero, por um lado, mas por outro estamos a fazer histria. As relaes entre o
assessor de imprensa e o jornalista vo condicionar a percepo deste presente no futuro.
No futuro, quando se olhar para isto, no se vai ver o cunho do espectador a dar a sua
opinio sobre um espectculo, mas sim aquilo que os jornalistas escreveram sobre ele.
Daqui a 50 anos, o Quixote [encenao de Joo Brites, de 15 de Abril a 13 de Junho de
2010] vai ser visto como um grande sucesso do Teatro da Trindade, quando na realidade o
No se ganha, no se paga [encenao de Maria Emlia Correia, de 28 de Janeiro a 28 de
Maro de 2010] vendeu infinitamente mais bilhetes. Temos as folhas de bilheteira,
podemos comparar, mas no interessa. Quem for fazer o estudo do teatro, vai dizer: No
se ganha, no se paga: grande sucesso comercial; Quixote, grande sucesso artstico.
Mas quem disse que era um grande sucesso artstico foram os jornalistas, que chegaram c
porque eu lhes disse.
A partir do momento em que a programao est fechada comeamos a trabalhar.
No influenciamos a programao, a no ser que o director pea uma opinio ou uma
pequena ajuda. Podemos ajudar em termos de timings de lanamento das peas, tctica
para saber se um bom momento para aparecer nos jornais ou se o espao vai ser ocupado
por outra coisa.
Tentamos fazer a apresentao da temporada para a imprensa, mas vai sempre
pouca informao, ainda estamos a trabalhar.
Enviamos por e-mail, para tudo o que existe, desde a rdio mais pequena ao jornal
de parquia e ao jornal do sindicato. Temos cerca de 3000 e tal contactos de pessoas. Os
rgos de comunicao devem ser uns 700 ou 800, com todos os regionais. O objectivo
que todos falem, cobertura total. Trato com o mesmo respeito um rgo regional como o
maior nacional. Mas os que vm sempre so uns 20 ou 30. s vezes tambm acontecem
coisas engraadas. Por exemplo, h um actor que de Santarm, como mando para todos
os regionais, todos os rgos de Santarm recebem. A, o ngulo deles vai ser s sobre esse
actor que chegou ao Teatro da Trindade.
As revistas mensais e semestrais recebem o dossier de imprensa com muita
antecedncia, por isso a informao vai sempre incompleta. No leva a imagem final do
espectculo, vai s com a cara de um actor ou do encenador; no leva o nome de todos os
actores; faltam textos; vai a sinopse dos romances e no da pea; vai s a ideia. O espao
nessas revistas tambm pequeno, s mais para divulgao.
Para os semanais e os dirios vai ao mesmo tempo, normalmente trs semanas
antes. As fotografias envio por YouSendIt, as pessoas s tm de descarregar e ficam logo
com grandes definies. Temos de ter um bom fotgrafo, porque os jornais nem sempre
tm fotgrafo disponvel. Na parte da cultura, a imprensa tem cada vez menos meios.
Comeo a enviar materiais que vo crescendo at receberem, na prtica, o programa
na forma de dossier de imprensa.
Gosto de escrever o meu estilo pessoal pargrafo a pargrafo. possvel parar
a leitura em qualquer pargrafo e ficar com a informao bsica. Ou seja, o pargrafo
seguinte completa, no d novidade. As regras bsicas do jornalismo quem, onde, o
qu vo no primeiro pargrafo. Normalmente, aquilo que eu acho que notcia.
Depois vai crescendo, at chegar aos outros textos: o texto da directora do Trindade
[Cucha Carvalheiro], o texto do encenador, as biografias que a maioria dos jornalistas
nem l mas que est presente porque trabalho que est feito. Depois, havendo tempo e
dinheiro, ou uma coisa ou outra, fao uns textos de pesquisa sobre o autor, por exemplo. O
comum fazer um dossier de imprensa com a sinopse, sobre o autor, biografias, textos dos
criativos, isso tem de ser feito e bem feito.
A hora a que se manda um press release tem importncia. Normalmente, os
jornalistas chegam aos jornais um pouco antes da hora do almoo. E limpam a caixa de emails. Portanto, eu devo mandar o meu e-mail hora do almoo. Tento no enviar ao fim
do dia, porque j entregaram o que tinham para entregar e entretanto foram-se embora. E
vo estar fora do jornal mais de doze horas. Durante esse tempo, vo receber centenas de emails, o meu ia ser mais um no meio daqueles todos e o jornalista no ia ver. Estas coisas
tm importncia. Assim como o e-mail pessoal e o telemvel. Eu tenho esses contactos
mas no utilizo, a no ser que seja uma coisa personalizada. S ligo quando acho mesmo
que vai interessar aos dois.
Tento arranjar dossiers de imprensa diferentes, consoante o rgo de comunicao.
A conversa para cada um deles tem de ser diferente. A abordagem em todos os rgos,
espremido, a mesma, o ngulo que diferente, consoante o tipo de publicao e de
pblico que a l. Por isso, a assessoria de imprensa tem de ser necessariamente diferente.
Acho que se o jornalista quiser fazer um trabalho consegue sempre. Por isso
trabalho em duas frentes. Envio as informaes para os editores mas tambm para os
jornalistas. Para criar elos. Eu sei que mais importante para a carreira de um jornalista
conseguir convencer o editor da importncia de uma pea do que apenas receber a ordem
para escrever sobre ela. Eu no tenho interesse nenhum em prejudicar o jornalista, ou seja,
se eu sei que o jornalista pode beneficiar se lutar por uma pea jornalstica que quer fazer,
porque que eu no lhe hei-de dar essa oportunidade? Para mim -me indiferente, eu s
quero que algum venha. Se o jornalista disser que no consegue, ento eu telefono para o
editor, mas no lhe digo que falei com o jornalista. um joguinho.
Uma semana e meia ou duas antes da estreia comeo a fazer telefonemas, para
aferir do interesse suscitado pelo e-mail. Depois de perceber o interesse, decido se fao ou
no dois ensaios de imprensa, um para imprensa escrita e rdio e outro para televises,
porque so ensaios diferentes. Enquanto no de televiso se repetem duas cenas trs vezes
para o cmara poder apanhar os pormenores e depois fazer as entrevistas, para a imprensa
escrita interessa o ensaio corrido.
Sou eu que marco o dia do ensaio, em articulao com o encenador e a produo.
No incio dos trabalhos fazemos uma calendarizao e marcamos logo a data; tambm os
ajuda a definir quando tm de ter o espectculo relativamente pronto. Depois escolhemos o
dia da semana que d mais jeito aos jornais para poderem fechar as edies. Mas tudo isso
implica movimentaes com os tcnicos e as equipas. No fcil, temos de gerir isso tudo.
Depois tambm jogamos com as horas, porque noite os jornalistas tm famlia.
Normalmente fao os ensaios de imprensa s 16 horas. Se for uma conferncia de imprensa
fao s 11 e meia e ofereo o pequeno-almoo. Porque assim os jornalistas no vo ao
jornal, vm primeiro aqui. Isto no cincia, colocar-se no lugar do outro.
Costumo ficar nas entrevistas; por gosto de participar nas discusses e porque pode
ser preciso alguma coisa. Fico um bocadinho atrs, mais do que s a ouvir a conversa.
As entrevistas so muito diferentes. H perguntas parvas, h pessoas que no sabem
fazer entrevistas, mas a maioria das perguntas faz sentido. Normalmente, antes da
entrevista, eu e o entrevistado decidimos quais so as mensagens que devem ser passadas.
Se as perguntas forem interessantes esquecemos aquilo que combinmos. Se forem uma
porcaria, independentemente das perguntas, o entrevistado diz isto, isto e isto.
Tambm tenho algum cuidado com os fotgrafos e cmaras. Se vejo que um
fotgrafo est a aproveitar um ngulo que um colega de outro rgo j fez h meia hora, eu
digo-lhe para experimentar outro ngulo. Isto pelos jornalistas, porque para mim
completamente indiferente.
Se algum no pode vir no dia marcado eu tento gerir. Nesse aspecto, entendo a
minha funo como um mediador entre a imprensa e o projecto. Nesses momentos fao de
advogado do diabo. Eu iria tentar tudo para que os artistas ensaiassem no dia em que o
jornalista pode vir. Se no conseguir fico com muita pena.
O nmero de jornalistas que habitualmente vem aos ensaios depende muito. Se o
encenador for, por exemplo, o Jorge Silva Melo, vm mais jornalistas, se for um jovem
vm menos, tenho de ser eu a lutar para que venham. Normalmente vem o PBLICO, o
DN, o Correio da Manh, a Lusa. Eu dou uma importncia enorme Lusa, h rgos mais
pequenos que no podem vir mas do a notcia atravs da Lusa. Vem tambm a Time Out,
a SIC, a TVI, s vezes a RTP. De imprensa escrita, quando as coisas correm bem,
normalmente vm cinco a dez rgos, quando correm mal, dois, um. De televises,
tambm vem a TV Sapo, muitos canais de TV na Web, o Cmara Clara da RTP2 e o
Cartaz da SIC Notcias vm quase sempre.
Quando temos actores conhecidos, temos de tentar convenc-los a ir a coisas como
Praa da Alegria, Voc na TV, porque so milhes de espectadores, h sempre pessoas
que gostam destas peas e esto por algum motivo em frente televiso. Esses programas
so mais vistos do que ns imaginamos.
As rdios vm muito pouco, as pessoas que l vo. Como a cultura tem muito
pouco espao em noticirios, procuramos os programas de entrevistas e telefonamos a
propor. Eles gravam o som da pea e os actores e encenadores vo l, preencher aquelas
horas de entrevistas. O Rdio Clube Portugus fazia, a TSF faz, a Rdio Renascena
infelizmente anda a fazer menos, mas era ptimo quando fazia, a Antena 1 faz, a 2, claro, e
a 3 tambm. Portanto, as rdios no tm a presso do timing da estreia, porque entrevistar o
encenador tanto faz na semana da estreia ou a meio da carreira da pea. Porque eles s vo
falar com o encenador, o encenador que tem de conseguir falar na pea.
Isto j a seguir estreia, porque o dossier de imprensa esgota-se e uma pea fica
trs meses em cena. Temos que fazer um lembrete na cabea das pessoas. Arranjar novas
formas de potenciar os temas das peas. O truque das rdios e das televises bom para
isso. Tento que no saia uma infinidade de press releases e comunicados sobre a mesma
pea, porque acho que as pessoas se cansam. Tenho colegas que acham o contrrio, que
gua mole em pedra dura tanto bate at que fura. Eu tenho dvidas. Acho que fica
maador. Tentamos alimentar a meio da carreira e depois s na ltima semana, e a tem de
se inventar a notcia.
Quanto aos crticos, eles marcam o dia em que querem vir, eu deixo o dossier de
imprensa e bons lugares porque vm a trabalho e no digo mais nada. dada muita
importncia s crticas e os encenadores tm ataques de fria, querem escrever para os
jornais quando no concordam. Mas a j um trabalho subjectivo. Geralmente vm
sempre mas h poucos crticos. O PBLICO, que j foi muito importante no teatro, tinha
crtica muito boa mas agora j no tem. O Expresso, a Time Out e a Viso vm sempre, so
quem tem crticos. No podemos condicionar nada, seno sai tudo ao contrrio. Temos de
lhes permitir a independncia total. totalmente diferente. Enquanto aos jornalistas tento
passar, segundo o jornal, aquilo que eu acho que pode interessar, ao crtico no. Largo o
material e ele que faa. S depois de sair a crtica, se eu no concordar nada e tiver
confiana com a pessoa, telefono e digo, e a podemos ter uma discusso de gosto
intelectual, apenas pelo prazer da discusso.
Ficamos atentos aos artigos, e temos o clipping. Normalmente, se tenho confiana
com o jornalista, no dia do ensaio de imprensa pergunto quando acha que sai, para poder
avisar os actores. Os actores vem muitos jornalistas e acham que tudo para sair no dia da
estreia. Acordam, vo ao quiosque e no h nada em lado nenhum. E ficam muito tristes, a
achar que aquilo vai ser um fracasso. Por isso eu aviso mais ou menos quando que sai.
Recebo um e-mail com cada referncia que feita a Teatro da Trindade, com os
artigos em PDF, e leio logo. Umas vezes bom outras vezes mau. A maioria dos
jornalistas vem porque so mandados. Depois h pessoas que comeam a apaixonar-se
pelo teatro e ficam. Nota-se que muitos no percebem nada. Fazem muitas vezes copy e
paste. s vezes a ideia passa outras no. Nem sempre corre bem. E quando corre mal,
pensamos sempre: melhor que falem do que no falem. Quando a ideia no passa,
normalmente a culpa no dos jornalistas. Quando h um que falha porque tem algum
problema, ou no esteve com ateno, distraiu-se; acontece, no somos mquinas. Mas se
geral, ningum fez ideia nenhuma do que que se passou em palco, obviamente que a
culpa no da imprensa. Tambm j aconteceu a leitura geral ser toda diferente, desde a
imprensa ao pblico, da do encenador e a pea ser um sucesso mesma. Troca de nomes j
aconteceu mas nunca um erro gritante.
O teatro est pouco divulgado na comunicao social. Mesmo em relao a outras
artes, est pouco vincado. A msica e o cinema ganham aos pontos, a mais maltratada
talvez seja a dana, j tem pouco pblico mas tambm no pode crescer porque no tem
espao. O teatro est melhor que as artes plsticas, mas est ela por ela. O cinema est
sobrevalorizado. E a msica tambm. Qualquer gato-sapato que no vende trs mil discos
tem mais espao do que peas de teatro que vendem vinte e trinta e quarenta mil bilhetes,
com mais qualidade artstica. S o teatro vende mais bilhetes do que todos os clubes da
primeira liga, com excepo dos trs primeiros. Nmeros de 2006. Isto demonstra que h
uma fora que subterrnea, para os grupos empresariais da comunicao que no est
a ser aproveitada e que vai ser perdida para a internet, para microprojectos direccionados
para pblicos-alvo. Isso vai acontecer. uma vergonha e uma falta de estratgia dos
grupos empresariais, que ainda no perceberam que h uma nova gerao que consome
cultura, consome arte. E portanto no perceberam ainda que essas pessoas vo
naturalmente deixar de comprar jornais e de ouvir algumas rdios porque esto-se nas
tintas para se o Scrates espirrou. So os tais novos consumidores da internet. E isso vai
levar morte de alguns jornais, disso no tenho dvidas.
Para mim, os jornais tradicionais esto a morrer por no saberem acompanhar os
novos tempos. Continuam presos s partes tradicionais de um jornal a poltica, a
sociedade, o desporto e esto a deixar morrer a cultura e as novas culturas, porque
mesmo dentro do teatro esto presos ao mesmo, sempre o mesmo, e as pessoas tm
consumos diferentes. Viro geraes novas com algum poder de compra e que s tm
informao atravs da internet, porque no lhes interessa outro meio. Por que que vo
comprar o PBLICO, se vo ler o que vem noite no Telejornal? Quem diz o PBLICO
diz todos os outros.
Mas eu acho que o teatro vai sobreviver mais facilmente do que a imprensa e a
comunicao social, porque o teatro est c desde que o Homem existe e a imprensa s o
Gutenberg que a inventou com o papel impresso no Ocidente. Antes de haver
comunicao social, o teatro era muitas vezes quem passava as novidades de terra em terra.
Ainda tem essa importncia. No culpo a classe jornalstica, culpo os grupos empresariais
que so cegos e s se preocupam com o capital, procuram tanto o dinheiro imediato que se
esto nas tintas para o mdio e longo prazo.
como a histria da companhia, e sempre bom ter um texto sobre a dramaturgia e/ou a
encenao. No caso de espectculos que andem em itinerncia, procuram-se crticas ou
artigos que tenham sado na imprensa. Sempre que nos disponibilizado o texto da pea
costumamos envi-lo para os (poucos) jornalistas que costumam fazer trabalhos mais
aprofundados sobre os espectculos: normalmente o PBLICO, o DN, o Expresso e a Time
Out Lisboa. No entanto, se qualquer outro jornalista manifestar interesse em ler o texto da
pea, claro que tambm lhe facultado. O dossier de imprensa pode ter crticas sobre o
espectculo caso j tenha sido apresentado noutros locais, e caso a imprensa precise (ou
porque no tem fotgrafo disponvel ou para o site do meio) um CD com fotografias e
msica do espectculo, para as rdios.
As relaes com a imprensa levam, de facto, a que os dados fornecidos nos dossiers
de imprensa possam ser diferentes, adaptados para os diferentes meios/jornalistas ou
crticos. Isto , o vdeo do espectculo s enviado aos jornalistas especializados na rea,
bem como o texto da pea. O tipo de ensaio adaptado ao meio de comunicao social
para as televises marcamos trinta minutos em que os actores repetem uma cena de cinco
minutos duas vezes (para filmarem de longe e de perto), para a imprensa em geral tentamos
que o ensaio seja integral e corrido (ou seja, todo o espectculo e sem paragens). As rdios,
os sites e os fotgrafos normalmente adaptam-se a estes dois ensaios consoante a
disponibilidade que tm. Esta informao tem que ser dada atempadamente ao jornalista.
Para marcarmos os ensaios de imprensa, em primeiro lugar, preciso sabermos
qual a disponibilidade da companhia. Tendo em conta os horrios dos ensaios no CCB, o
Gabinete de Imprensa sugere uma ou duas datas que cabe companhia escolher no final.
Recomendamos, por norma, que os ensaios para a imprensa sejam realizados entre as 15 e
as 16 horas e de preferncia num dia de semana. Pode existir mais do que um ensaio,
depende da data de fecho dos jornais.
Quando vm grandes companhias h sempre um enorme interesse por parte da
comunicao social e, por isso, justifica-se fazer uma conferncia de imprensa (o ltimo
caso foi a companhia da Pina Bausch). Tentamos sempre que seja marcada para a parte da
manh (para os jornalistas terem tempo de escrever durante essa tarde) ou ento temos que
nos sujeitar disponibilidade do artista (no caso da Pina Bausch foi feita por volta das 18
horas). A nossa relao com as companhias uma relao de confiana e, no fundo, de
diferenciado
entre
os
rgos
de
comunicao
social:
quando
optou por colocar a informao online, muitas vezes via LUSA. Nalguns projectos funciona
bem, noutros nem tanto.
Com a falta de espao e de equipas para trabalharem sobretudo a cultura, os mdia
tm que fazer uma seleco e uma triagem mais agressiva dos espectculos. Por outro
lado, as notcias so publicadas na edio mais prxima da estreia do espectculo (no
prprio dia ou na vspera), tornando assim muito complicado para o pblico-leitor saber do
projecto com antecipao (por vezes quando sabe j o espectculo est esgotado) e para a
instituio que apresenta a pea difcil perceber como vai estar a sala e a venda de
bilhetes. E depois h que gerir o (duplo) problema de se saber dos espectculos ltima da
hora (instituio e pblico).
Embora seja difcil quantificar, o teatro capaz de ser a terceira fora do CCB, a
seguir seguramente msica (que deve ocupar 70% da programao) e dana. Mas com
mais facilidade que existe um artigo de apresentao de um espectculo de teatro do que de
um espectculo de msica. Em relao ao investimento publicitrio em jornais, o teatro
tem uma campanha de comunicao superior msica por exemplo.
A colaborao dos mdia fundamental. H a ideia de que se o espectculo no
teve qualquer meno nos jornais porque no existiu. Para a companhia e para os actores
fundamental a existncia da crtica e, embora mais secundrio, uma apresentao prvia.
Para a instituio ambas so importantes, porque desta forma que vende mais bilhetes,
que cria mais pblico e que tem um reconhecimento pblico do trabalho que tem vindo a
desenvolver. A crtica legitima o espectculo, ajuda a recoloc-lo no caso de a companhia
querer entrar em digresso, ajuda as companhias nos pedidos de financiamentos estatais ou
outros. D a conhecer tambm a outras instituies e programadores, nacionais ou
internacionais, o trabalho das companhias e da prpria instituio. Um espectculo com
crtica pode mais facilmente concorrer a prmios e subsdios. A crtica ou a notcia cria
memria. A grande falha no haver o merecido espao nos meios de comunicao para a
divulgao da arte, no sentido lato. fcil ver que, excepo dos programas/espaos
especficos de cultura, tanto na rdio, como em televiso e imprensa escrita,
efectivamente dedicado muito pouco espao arte, em comparao com outros temas.
Fazemos a recolha dos textos que saem na imprensa sobre ns e aqueles que
conseguimos apanhar expomos entrada do teatro, durante a pea, para as pessoas irem
lendo enquanto aguardam, em vez de termos fotografias, como s vezes acontece. Mas
como no conseguimos apanhar tudo, temos uma empresa que faz o clipping daquilo que
aparece com o nome Teatro Meridional. H coisas que nem nos apercebemos que saem,
por isso a empresa importante. S que s vezes chega j depois de o espectculo ter
acabado. As entrevistas dos ensaios de imprensa sabemos sempre que saem, podemos
no saber exactamente quando. Vamos estando atentos e vamos comprando porque h
jornais que compramos regularmente.
Notamos que as pessoas lem e tentamos perceber se vm ver a pea porque leram
os artigos em casa. Mas vm mais pelos anncios do que pelos artigos. Alguns dizem que
leram uma crtica ou um artigo num jornal ou revista especfica.
Enviamos as informaes sobre as peas para os jornalistas por e-mail. No temos
uma data especfica, depende da periodicidade da revista, do jornal ou do programa
televisivo, rdio, etc. Para os mensais, tem de ser com muita antecedncia. Normalmente
segue menos informao, porque tem de ser uns trs meses antes. Costumamos enviar
novamente para o caso de interessar. Para os semanrios, tambm tem de ser mais cedo,
para os dirios e televiso pode ser um bocadinho mais em cima. Normalmente, no mnimo
com duas, trs semanas de antecedncia temos de estar a mandar para toda a gente.
Enviamos para todos os nossos contactos, porque sempre bom ficarem a saber o
que que vamos fazendo. E porque s vezes as pessoas surpreendem-nos. Interessam-se
por assuntos que se calhar ns, partida, no acharamos que se interessariam. Portanto,
sempre bom mandar para todos. Acontece reforarmos alguns contactos que sabemos que
esto mais virados para certo tipo de temticas ou autores. Enviamos para os rgos de
comunicao no geral e tambm para o jornalista, se tivermos o contacto. Mesmo que v
repetido. Em termos de rgos que vm aos ensaios de imprensa, temos uns vinte
contactos, no mnimo. Temos outros que no vm, s do a informao. Normalmente, so
s os jornalistas que trabalham em Lisboa para rgos nacionais que vm. De fora, no.
Alguns materiais comeamos a preparar quando sabemos qual a pea que queremos
realizar, porque j sabemos que vamos precisar deles. Outras coisas s conseguimos mais
em cima da hora, como fotografias. S quando j temos cenrios, figurinos a coisa j est
mais composta que conseguimos fazer uma sesso interessante. O resto vamos tratando
com a antecedncia possvel. Tentamos perceber que tipo de espectculo temos, o que
que podemos potenciar e que informao poder interessar tanto aos jornalistas como ao
pblico que l, e isso varia muito de pea para pea.
A informao bsica a enviar, seja que espectculo for, a sinopse, a ficha artstica
e tcnica e uma imagem ou duas. Depois vamos vendo a necessidade medida que vamos
tendo a resposta da imprensa. Local, data e horrio tem de estar sempre presente. E depois
varia. Muitas vezes interessa o contexto: porqu fazer aquele espectculo, informao
sobre o autor ou encenador.
Na marcao dos ensaios de imprensa, temos em conta os horrios dos jornalistas e
os timings de fecho. Fazemos alguns dias antes da estreia: temos de dar tempo para, no
mximo no fim-de-semana da estreia ou na semana anterior, dependendo se dirio ou
semanrio, poderem publicar. Por norma, fazemos no horrio de expediente normal: manh
e tarde. Dos jornalistas, no nosso. Porque ns muitas vezes ensaiamos tarde e noite.
Avisamos toda a gente que vamos ter a imprensa em tal dia. Normalmente so
entrevistados o encenador e um actor. So os jornalistas que pedem com quem querem
falar. A equipa toda sabe que vai haver um contacto com a imprensa; todos, seja artistas ou
produo e tcnicos, obviamente queremos a sala cheia, queremos o mximo de promoo
e divulgao, portanto todos se disponibilizam para esse tipo de aces, seja entrevistas,
sesses fotogrficas, ensaios de imprensa. s vezes os encenadores preparam-se
brevemente para as entrevistas, porque normalmente tm perguntas mais especficas em
termos de trabalho, de pesquisa, etc. Os actores no tanto.
Como j envimos informao, e mais alguma que os jornalistas eventualmente
tenham pedido, j tm um dossier para virem preparados, para saberem o que vo ver e
para que possam trabalhar os ngulos das entrevistas que querem fazer. Porque aproveitam
o ensaio de imprensa para fazer as entrevistas. Fazem depois de verem o ensaio, para terem
mais material. Por isso, quando chegam, j no fornecemos mais informao.
No exigimos nada e eles tambm no. A nica coisa que pedem, e ns j sabemos
e por isso j estamos preparados, so questes tcnicas, no tem a ver com caprichos. A
televiso pede pelo menos duas cenas diferentes e que se repitam. A imprensa vai querer
uma sesso s para tirar fotografias. Sabemos que vo querer entrevistar tal pessoa, porque
j nos avisaram e ns tambm j as avismos.
Tentamos servir toda a gente. Se ainda ningum confirmou e algum nos avisa com
muita antecedncia que s pode ir ao ensaio de imprensa em tal dia, ns tentamos ajustar
para esse dia. Caso contrrio, fazemos o ensaio no dia determinado e podemos fazer depois
uma sesso para a tal pessoa. Pode no ser o espectculo todo, pode ser s uma cena ou
damos s espao para as entrevistas. Depende do que a pessoa quiser fazer.
Compreendemos que isso possa acontecer, porque as pessoas tm compromissos e, s
vezes, h imensos espectculos a acontecer ao mesmo tempo e difcil acompanhar todos.
As entrevistas costumam ser individuais, porque mais lgico. Nem todos os
jornalistas tm as mesmas perguntas, cada um quer um ngulo de entrevista ou reportagem
diferente. Um jornalista no quer que outro escreva o mesmo que ele. Quer ter uma coisa
mais especfica e personalizada e no ter repeties, por isso normal que queira fazer a
entrevista com as suas prprias perguntas. Para o encenador indiferente, o que diz a um
pode dizer a outro. No costumo estar nas entrevistas, deixo as pessoas vontade.
O tipo de perguntas varia muito. J houve situaes em que as perguntas foram
muito interessantes, e outras em que eram bsicas, no tinham nada de especial. H sempre
perguntas que j sabemos que vo ser colocadas. E h outras que no se est espera,
porque so outros ngulos, exploram outro tipo de temticas.
Por vezes encontramos erros nos trabalhos. No tanto na sinopse, mais no nome de
um actor, por exemplo. Tambm vemos gralhas nas datas, nos horrios. normal, so
coisas que acontecem. Pode ser distraco, s vezes os jornalistas esto a inserir tanta
informao que podem confundir um espectculo com outro. Em termos de contedos, as
pessoas tm as suas prprias interpretaes, normal aparecer qualquer coisa diferente.
Ns pensamos uma coisa e quando nos expressamos nem sempre nos sai exactamente
aquilo em que estvamos a pensar. A nica questo , s vezes, a interpretao que se d,
no a citao em si, com os gravadores no h esse problema. H uns textos que so mais
interessantes que outros.
Depende da gravidade do erro, mas se for caso disso contactaremos para perceber o
que que aconteceu, para evitar que se repita. Tentamos esclarecer, naturalmente, no
pensando que houve ali ms intenes ou o que quer que seja. Tambm se pode dar o caso
de sermos ns que percebemos mal. Mas raro, nem eu me lembro de ter acontecido.
Quando os jornalistas nos contactam para dizer que vm aos ensaios de imprensa.
Enviamos o e-mail e mais perto da data telefonamos para confirmar se receberam, porque
recebem tanta informao por dia que s vezes escapa alguma coisa. Por isso, telefonamos
a confirmar, se podem estar presentes e se ainda precisam de mais informao.
Dos tais vinte que costumamos contactar, geralmente vm muito menos. Ou
porque j sabem que no tm espao para escrever ou porque no tm tempo, h muita
coisa a acontecer e tm de fazer as suas prprias opes. Infelizmente, o espao para
cultura muito pequenino para a quantidade de coisas que acontecem. Todos gostvamos
de ter mais espao; todos mesmo, no s o teatro como as outras artes.
Dos que confirmam, normalmente aparecem, mas j aconteceu no aparecerem.
Ns telefonamos a perguntar para saber se vale a pena esperar ou se avanamos com o
ensaio. s vezes esto atrasados mas vm a caminho, outras vezes pedem imensa desculpa
mas no vm, surgiu outra coisa.
Os crticos costumam vir durante a temporada. Informam-nos e ns enviamos a
mesma informao que enviamos aos jornalistas. Lemos as crticas mas no dizemos nada,
so interpretaes. As pessoas tm direito a ter a sua opinio, e h pessoas que gostam e
outras que no gostam; nem todos gostamos das mesmas coisas, natural que isso
acontea. Mas claro que toda a gente gosta de boas crticas. Nunca aconteceu ficarmos
muito chateados. So ossos do ofcio. Se estamos j com pblico fidelizado as pessoas no
deixam de vir por uma m crtica. Normalmente se for uma crtica positiva as pessoas at
vm mais. H sempre crticas positivas e crticas negativas negativas construtivas.
As companhias que vm c apresentar-se fazem a sua prpria comunicao.
Paralelamente fazemos um aviso, dizemos que de tantos a tantos vamos acolher o
espectculo tal. No fazemos o que fazemos para os nossos espectculos, mas sabemos
sempre o que que eles fazem. Normalmente, esses espectculos j estrearam, mas fora de
Lisboa ou no estrangeiro, por isso j tm material. No fazemos ensaios de imprensa.
Normalmente a imprensa no faz nada porque se calhar at j escreveu sobre eles.
Acho que o teatro j foi mais bem tratado no sentido de haver um acompanhamento
contnuo, no PBLICO mas tambm no resto da comunicao social. Olhando semana a
semana para os artigos de teatro no psilon, acho que no podiam estar melhor feitos,
continuam to bem feitos como antes. O problema no o acompanhamento das estreias,
o acompanhamento regular da actualidade noticiosa da rea, isso que no feito em
condies perfeitas. A vida do teatro em Portugal que no so s as estreias. Isso reflectese mais no jornal dirio, porque as histrias interessantes e as que ns queremos que
estejam no psilon acabam sempre por estar.
Havendo uma pessoa dedicada rea, se calhar neste momento podamos fazer uma
reportagem a srio sobre como que esto a viver as companhias no meio da crise e dos
cortes oramentais do Ministrio [da Cultura], por exemplo. Mas no havendo, difcil
colocar uma pessoa de outra rea, que ainda por cima teria de fazer uma espcie de
actualizao em tempo record. A qualquer pessoa que venha colaborar connosco e que
tenha apetncia, que faa bem, ns pedimos para fazer teatro. J tivemos alguns estagirios
em que a coisa no correu assim to bem. Se a pessoa nem capaz de escrever um texto
para o Flash [esta seco do psilon contm as novidades nacionais e internacionais da
semana no mbito dos temas abordados pelo suplemento], no a vamos pr a fazer textos
de 3000, 4000, 7000 caracteres. Por isso, tem sido difcil manter alguma regularidade no
acompanhamento.
Sou eu mais ou menos que escolho as pessoas que fazem os trabalhos. partida, o
que no Porto normalmente fao eu. um critrio geogrfico [Ins Nadais pertence
redaco do Porto]. J tenho um conhecimento do trabalho destas companhias e -me fcil
ver o que que est em jogo e o percurso que est para trs de cada estreia. J fazer coisas
em Lisboa implica vrios factores: se for uma companhia ou um autor que me interesse
particularmente e se eu tiver alguma disponibilidade e margem de manobra para poder
gerir com o Vasco [Cmara, editor do psilon] a minha participao, tento fazer. Se no,
a pessoa em Lisboa que estiver mais disponvel.
espao nos jornais. O teatro precisa de lutar por espao, portanto h uma relao
interessada tambm da parte deles. claro que h aqueles dois ou trs actores que difcil
entrevistar, mas partida as pessoas esto sempre disponveis para falar connosco. Isso
tambm aliciante, porque sabemos que conseguimos falar com os protagonistas das
histrias e que desejado por eles, no arrancado.
No temos nenhuma fixao com a ideia de que haja sempre artigos de teatro ou
dana, mas procuramos que todas as semanas o suplemento seja diversificado, e isso
implica haver um bocado de mistura entre as artes plsticas, os livros e as artes
performativas. Portanto, tentamos que haja, pelo menos, uma histria de teatro ou dana no
suplemento. De qualquer forma, temos sempre pelo menos uma, porque no roteiro h
obrigatoriamente uma histria. Haver histrias mais desenvolvidas na parte interior do
suplemento que depende um bocadinho da agenda. Mas, por sabermos que o teatro uma
rea que tem menos leitura do que a msica ou o cinema, evitamos que numa edio haja
mais do que trs ou quatro histrias grandes de teatro. As histrias de teatro no so as
mais lidas pelos leitores genricos, digamos assim, do jornal e mesmo do suplemento.
O critrio de escolha de uma histria a capacidade que o assunto (um espectculo,
festival, encenador, actor) tem para se transformar numa boa histria e a nossa capacidade
de o fazer; ou seja, as condies prticas como o tempo e o timing do ensaio de imprensa
ou a nossa disponibilidade.
H obviamente outros critrios. O conhecimento que eu tenho do meio j me
permite, partida, fazer uma triagem entre aquilo que eu acho que vai ter um interesse
acima da mdia e aquilo que sei que vai ser mais uma produo, com as mesmas pessoas
de sempre, o mesmo encenador de sempre, o mesmo espao de sempre. Tem a ver com a
novidade e a qualidade. Obviamente que existe da nossa parte um juzo, por muito injusto
que ele possa ser, acerca da qualidade do trabalho das companhias ou dos encenadores ou
dos actores, ou mesmo dos textos que escolhem para produzir. Portanto, alm do juzo
acerca do potencial da histria, h o juzo acerca do trabalho da pessoa envolvida e acerca
da novidade, porque uma coisa pode at no parecer de uma qualidade acima do comum
mas o potencial de novidade pode ser importante. obvio que nisso tambm h uma dose
de rotina. H aquelas companhias e encenadores em quem sabemos que vamos insistir
mais.
E h um factor que tambm importante, e que eu acho que o dado menos bonito
desta histria: bvio que uma boa assessoria de imprensa consegue persuadir para fazer
histrias e investir nelas, porque muitas vezes o que acontece que recebemos a
informao mas temos to pouco tempo para ler e para ajuizar do valor que aquilo pode ter
que se no h algum pessoalmente a telefonar, a insistir ou a chamar a ateno para os
dados interessantes da histria, aquilo pode-se perder. Perdemos muitas histrias por
incapacidade nossa, primeiro para estar a par de tudo e depois saber exactamente o valor de
cada coisa.
obviamente muito mais raro fazer-se capa com teatro do que com msica ou
cinema ou mesmo livros. Tem que haver um protagonista fortssimo. Por exemplo, um
encenador muito carismtico, portugus ou estrangeiro (por exemplo, um estrangeiro que
nunca tenha vindo a Portugal e que seja um monstro sagrado do teatro) ou ento uma
histria muito especial, muito mais forte do que o costume. Recentemente fizemos capa
com o Alkantara Festival [psilon, 21 de Maio de 2010], sobre teatro/dana; e com o
dipo, no Teatro Nacional D. Maria II [psilon, 19 de Fevereiro de 2010], porque era o
caso de o director artstico de um teatro que se apresenta como actor num clssico absoluto
da dramaturgia europeia e mundial, encenado por um dos encenadores portugueses mais
reconhecidos. muito mais fcil fazer uma capa de msica, objectivamente at tm a
mesma importncia, s que o potencial de comunicao com os leitores de uma histria de
teatro sempre muito reduzido. Porque mesmo o tal encenador estrangeiro se for uma
estrela, uma estrela, mas no os U2, ningum vai saber o nome dele. As pessoas na rua
no o conhecem, portanto, tem mesmo de ser uma histria muito fora do comum ou muito
forte para ir por a.
A diferena entre os textos que temos no psilon que no mini destaque [artigo de
dimenso mais pequena, inserido no roteiro, na seco A Semana] tem de se ir mais
directo ao assunto. Mesmo assim, num texto de mais ou menos 3000 caracteres, ainda d
para dizer muita coisa. Pode-se aprofundar as questes, mas tem de ser numa frase, no
posso passar pargrafos sucessivos a divagar sobre um assunto. J num texto da parte de
dentro sou capaz de falar nos actores, no encenador dificilmente, mas nos actores ou no
enredo da pea s depois de um subttulo, j na segunda parte do texto. Se h qualquer
tema que exploro no incio, porque acho que o eixo da pea, posso at passar 3000
caracteres sem falar no resto. Posso aprofundar muito mais as questes e divagar sobre o
tema.
partida, j sabemos o tamanho dos textos, mas tambm acontece mudar depois do
ensaio. Imaginemos que vou fazer um mini destaque. Depois de ver o ensaio, percebo que
aquilo muito mais que um mini destaque. Se for com antecedncia, alteramos. Tambm
j fizemos coisas que eram para ser temas grandes e depois no eram assim to relevantes.
s vezes acontece, e um bocado grave. Quando, por exemplo, o texto da pea muito
fraco. Pode-se at reduzir de tamanho, mas no se pode deixar de escrever. s vezes um
bocadinho estpido e injusto, porque ignora-se no dia-a-dia montes de espectculos que
so minimamente aceitveis, e por esse tipo de circunstncias s vezes acaba-se por fazer
alguns que so menos bons. Mas antes de vermos no sabemos. E se for mesmo em cima
do fecho da edio impossvel substituir por outro espectculo.
Nem todos os teatros enviam o press com antecedncia. As instituies maiores
enviam com antecedncia suficiente, mas a maior parte das pequenas companhias enviam
demasiado em cima da hora, para um suplemento semanal. Se fosse para um jornal dirio
provavelmente ainda iam a tempo. Mas eu acho que as companhias pequenas no tm
noo de como funciona um jornal. Dificilmente teriam condies, no tm meios para
suportar uma assessoria. Ou algum lhes diz ou ento difcil perceberem quais so os
timings. O ideal ns recebermos a informao quarta ou quinta-feira da semana anterior.
Muitas vezes mandam na segunda, achando, e verdade, que ainda vo com quatro dias de
antecedncia. Mas a verdade que j est tudo programado e o suplemento a partir de
quarta j est fechado. Se for uma coisa importante e mandarem em cima da hora,
eventualmente podemos mudar, porque podemos esquecermo-nos das coisas, mesmo
tendo-as no e-mail. Mas uma coisa muito, muito importante difcil passar despercebida,
quem est a investir nela faz com que isso no acontea.
Os press releases vm sobretudo por e-mail. Alguns em papel, por correio. Alguns
teatros fazem telefonemas, como uma segunda linha, para saberem se recebemos e para
perguntar se estamos ou no interessados em fazer alguma coisa. Quem recebe o psilon
e eu. Algumas coisas s eu que recebo, outras recebemos ambos. Mas eu raramente vejo
o e-mail do psilon, o Vasco que v mais. Eu confio um bocado no meu prprio e-mail.
Tambm h coisas que as pessoas enviam para a agenda ou para a redaco em geral,
depois acabam sempre por chegar at mim. Depois selecciono o que me interessa.
Nos casos em que os teatros me telefonam a perguntar se vamos, digo logo que sim
ou que no ou ento mando um e-mail. H pessoas que quase sempre me telefonam: a
Culturgest quase sempre liga, o CCB tambm. Se no telefonarem, a pessoa que vai fazer
o trabalho que telefona a marcar.
No conseguimos ir sempre aos ensaios de imprensa, h muitos a que ns no
vamos. E outros pedimos para fazerem para ns. Por exemplo, h muitas companhias que
estreiam sexta-feira. Fazem o ensaio na quarta. Para ns impraticvel, por isso muitas
vezes pedimos para assistir a um ensaio antes do ensaio de imprensa. Mas h montes de
ensaios a que ns no conseguimos ir. H companhias que se queixam regularmente de ns
nunca irmos. Principalmente as companhias de fora de Lisboa e do Porto. E a verdade
que ns no vamos. Por exemplo, o Teatro Viriato costuma ter estreias interessantes de
dana e ns estvamos l. Agora, preciso haver disponibilidade para algum do Porto ou
de Lisboa ir a Viseu, o que no propriamente uma coisa que se possa fazer assim do p
para a mo, com seces to pequenas. Durante algum tempo, tnhamos uma rede de
correspondentes aceitvel, agora foi reduzida brutalmente, no temos mesmo quase
ningum. obvio que essas companhias so, partida, muito prejudicadas. E quando
vamos levamos com anos e anos de queixas acumuladas, porque de repente decidimos ir.
Muitas vezes eles fazem coisas extraordinrias, at mais extraordinrias do que o que se
faz aqui, s que fazer trezentos quilmetros para ir a uma estreia de teatro e levar
fotgrafo, nas condies actuais, um bocado complicado. Por outro lado, sucessivas ms
produes, isto uma avaliao nossa, seja de companhias de Lisboa ou Porto ou de fora,
tambm fazem com que ns deixemos de fazer trabalhos de algumas companhias. s
vezes, at podem ter melhorado, mas como j nos desabituamos de ir l ver, depois
acabamos por no saber isso. Acabamos por negligenciar essas companhias, porque j no
esperamos tanto do trabalho delas.
Os press tambm tm importncia. A maior parte dos press tem a informao
relevante, indispensvel, mas no necessariamente apelativa. Mas h casos e casos, claro.
A verdade que ns, jornalistas, com esta abundncia de press releases e assessorias de
imprensa, tornmo-nos um bocado preguiosos, porque parte do trabalho que est ali feito
deveramos ser ns a fazer. Nunca devemos partir do princpio que parte do nosso trabalho
est feito s porque existe um press release. Quando escrevo tento esquecer aquilo.
Eventualmente posso usar partes, quando tiver informao muito diferente do que usual e
que no faz sentido eu estar a repetir o que eles fizeram. Por exemplo, o Teatro Nacional
So Joo faz press incrveis. So mesmo muito bem feitos. Normalmente inclui uma
entrevista ao encenador, mas feita por uma pessoa fora do vulgar, um outro encenador, por
exemplo; encomendam textos a jornalistas ou a especialistas dos temas abordadas nas
peas. Imaginemos que iam fazer O Mercador de Veneza [de William Shakespeare]. So
capazes de encomendar um texto a um especialista em judasmo, outro a um especialista
em Shakespeare. Tm ali coisas que uma pessoa sozinha dificilmente l chegaria, at
porque no tem muito tempo. E de repente chega um dossier daqueles, com umas
cinquenta pginas. H ali montes de material, at sou capaz de citar o tal texto do
especialista em judasmo, que tem uma coisa sobre a pea que super interessante. Se o
press release suficientemente diferenciado a esse ponto, no faz sentido eu repetir, no
vou ligar tal pessoa a pedir para dizer o mesmo, mas agora a mim. Nesse caso, cito, mas
citar a informao bsica, nunca. Acho que mesmo mau princpio. Cheguei a ver textos
de estagirios ou de correspondentes que eu dizia eu j vi isto em qualquer lado, depois ia
ver o press e era igual. Isso horrvel. preciso descolar completamente do press release,
o meu texto um trabalho jornalstico, no um trabalho de divulgao puro e duro como
o das instituies.
H muitos press que no sabem cativar e muitos que esto muito mal escritos. Eu
habituei-me muito mal, porque o So Joo tem um gabinete de edies muito bom, no h
uma gralha naqueles dossiers de imprensa, um bold a mais ou um itlico a menos. tudo
super perfeito. O press release de instituies como Serralves ou CCB no tem aquele
cuidado, nunca sero to apelativos como o do So Joo. Para mim tudo est abaixo
daquilo, nunca verei nada como aquilo em Portugal; em termos de instituies culturais,
no existe. Nem Culturgest, nem Serralves, nem D. Maria, no h. Mas tambm nem tudo
tem que ter aquele investimento. O press release tem de comunicar o essencial. O currculo
dos encenadores, do autor, dos actores importante. H press releases que nem sequer tm
a data do final da pea, o que para mim horrvel. Acho que isso tem sempre de ter. A data
da estreia o essencial, a data do final um bocado dispensvel, porque depois vai
aparecendo na agenda. Mas importante para dar toda a informao ao leitor. Imaginemos
que o leitor quer ir ver mas vai estar fora nas prximas duas semanas, se eu disser que
ainda h outra semana, a pessoa fica com a informao toda. Mas tambm h teatros que
no pem, porque nem eles sabem quando que vo acabar. Por exemplo, a Seiva Trupe
no define a data em que acaba a temporada. Eles tm o teatro todo por conta deles, por
isso esto vontade. Devem ter uma data limite, mas se estiver a correr mal, antecipam, se
estiver a correr bem, prolongam. Eu, como espectadora, vou muito ao teatro, e s vezes h
semanas que tenho de gerir e se no sei quando que as coisas acabam fico um bocado
atrapalhada, tenho de telefonar a perguntar. Ns devemos dar o mximo de informao ao
leitor. Se para garantirem mais pblico, um truque que s lhes serve a eles.
O press deve ter a informao factual, o que vier a partir da acho que j boa
vontade deles, digamos assim. Pode ajudar se eu no puder falar com ningum da pea: se
eles tm declaraes, devemos us-las. A durao da pea tambm importante, no para
eu pr no meu texto, mas para eu saber o que vou ver. Quando essa informao no est,
eu pergunto-lhes: a durao e se vai ser ensaio corrido ou no. Dentro do possvel, vou
sempre aos ensaios corridos, e por isso que no vou aos ensaios de imprensa, porque,
pelo menos no Porto, raramente fazem corridos de imprensa. O meio jornalstico no Porto
muito pequeno, h poucas pessoas, e no so suficientemente especializadas ou
interessadas, por isso ir a um ensaio que dura trs horas a debandada, vai logo o press
release para o texto. E tambm h companhias que nunca fazem ensaios corridos. Outras
vezes no preciso ver o ensaio todo para perceber a coisa. Ou ento, imaginemos que
chega o DVD de uma pea: se no tem traduo e , sei l, em hngaro, se visualmente no
estou a conseguir tirar partido daquilo, se j vi um bocado do ambiente, paro de ver.
raro eu usar as biografias, mas s vezes importante para situar as pessoas,
nomeadamente os encenadores. Por exemplo, para saber se j fizeram muitos textos
daquele autor ou no.
Quando entrego o trabalho s pessoas discutimos um bocadinho sobre o que que
deve ser feito. Se acho que preciso dar indicaes sobre alguns aspectos especficos que
quero mesmo que estejam no texto, falo com a pessoa. O que eu tento chamar a ateno
aos jornalistas que vo escrever sobre teatro : havendo uma histria ou um contexto
especfico, estejam atentos a isso. E tambm acho que o espectculo tem de estar no texto.
No quer dizer que tenham a obrigao de descrever o cenrio ou os figurinos ou o enredo
o texto no fim da tarde, entregava no fim da tarde. Agora percebo que d jeito que no me
cheguem todos os textos ao fim da tarde, porque seno estou o dia inteiro, eu e as grficas,
sem fazer nada e de repente tenho de fazer dez pginas ao mesmo tempo.
s vezes tenho o ttulo e a entrada na cabea e comeo a escrever por a. Outras
vezes acabo o texto e ainda no tenho ttulo. Comeo pelo incio, nunca aponto notas para
depois ver onde que vo parar. Onde eu realmente perco muito tempo no incio do
texto. Agora sou muito mais rpida, mais pragmtica. Mas antes, se fosse um texto grande,
era capaz de estar duas horas s volta do lead. Enquanto aquilo no sasse como queria,
eu no saa dali. Quando o incio do texto est bom, o resto corre muito mais depressa.
Quando s est mais ou menos, nunca vai fluir. Nunca comeo o texto pelo meio, nunca
sei o fim do texto. Mas h informaes que tm de estar: a sala, o nome da pea, do
encenador, isso tem de estar. E se falei com as pessoas, de preferncia, devem aparecer a
falar. No digo no lead, mas tm que aparecer na primeira parte do texto. A no ser que
no tenham dito nada de jeito, a quase nem vale a pena pr. Mas se foram declaraes que
eu provoquei, coisas que eu perguntei, acho que devo us-las o mais cedo no texto.
H muitas instituies que j tm boa fotografia de teatro. Eles prprios tm bons
fotgrafos a trabalhar com eles. partida, sei que instituies como o So Luiz Teatro
Municipal ou o So Joo ou o D. Maria, vo ter imagens de espectculos completamente
publicveis. H outras companhias que tm imagens de divulgao pssimas. Preferamos
que as fotos fossem sempre nossas; tal como o texto um olhar sobre a pea, e no o
press release da pea, as imagens tambm no deviam ser do press release, deviam ser o
olhar dos nossos fotojornalistas. Mas como ainda h menos fotojornalistas do que
jornalistas, muitas vezes no possvel. Mas se for um trabalho importante, procuramos
sempre ter imagens nossas. Ou seja, fazemos imagens quando o trabalho muito
importante e at estamos a pensar que pode dar capa e queremos ter uma coisa exclusiva
horrvel quando os outros jornais tm imagens iguais s nossas ou ento quando as
instituies tm imagens de divulgao to ms que temos mesmo que ir, no h
alternativa. Porque no psilon h essa restrio: todos os artigos tm sempre pelo menos
uma fotografia, at os mini destaques. J aconteceu ligar para os teatros e pedir para
enviarem outras fotografias, porque as que enviaram primeiro no nos servem. E eles
quando tm mais enviam. Quem faz a legenda das fotografias o editor. raro ser o
jornalista a fazer.
segunda leitura apercebe-se que faltam coisas; quem esteve e viu a pea tem tudo na
cabea, quem est a ler e no viu, pensa h aqui uma coisa que no estou a perceber.
Depois da edio, h pessoas que gostam de ver como que o texto ficou. Algumas
so muito ciosas de tudo, qualquer alterao querem saber, aprovar. Outras no fazem
questo, j nem sequer esto na redaco quando paginado. Eu, como jornalista, gostava
dos meus ttulos e normalmente eram aceites, mas o Vasco mudava muitas vezes, e eu no
questionava, ele que estava a editar, ele que sabia quais eram os outros ttulos do
suplemento. Isso importante, porque se h dois textos lado a lado, no convm haver
palavras repetidas nos ttulos. Ou seja, o editor tem de ter sempre uma margem de
manobra, mas claro, h pessoas que no gostam de nada. Chega a haver discusses
saudveis e no saudveis, conta disso. No muito frequente, mas acontece. A
tentamos arranjar uma soluo de compromisso, sobretudo nos ttulos. O ttulo um
elemento muito forte, e se a pessoa que escreveu no se rev nada nele, um bocado chato,
porque a assinatura da pessoa que escreveu. Nesse sentido acho que tem de haver um
certo cuidado, no devemos obrigar uma pessoa a levar com um ttulo que acha horrvel.
Quando tenho de cortar, tento faz-lo nas informaes que se percebe que a pessoa
acrescentou por ser interessante mas que no so estruturais para a histria. Tenho de
perceber o que que estruturante no texto; se h uma coisa que at engraada mas que
paralela, se no tenho espao, aquilo que vai.
As crticas saem no P2 e no psilon. O teatro sai no P2 porque o psilon um
suplemento semanal. H muitas peas que tm carreiras pequenas, como os concertos.
Imaginemos que o concerto na quinta-feira, ou mesmo na quarta noite. Como o psilon
fecha na quarta, j s entra nove dias depois. Se a crtica sai uma semana ou mais depois
do concerto, um bocado chato. J os discos, saem num dia, mas normalmente os crticos
recebem os discos com antecedncia. Se no receberam, sai trs ou quatro dias depois. No
como uma pea que tem um tempo de vida. No fundo, as crticas que saem no P2 so as
crticas de acontecimentos ao vivo. O psilon fica com os cinemas, discos e livros e
fazemos tambm as artes plsticas, porque as exposies tm sempre no mnimo dois
meses de durao, portanto d outra flexibilidade para publicar. As peas criticadas so
propostas pelos crticos. No somos ns que gerimos, isso com o P2.
das coisas na semana em que vai sair o artigo, porque h tantas coisas antes que comeo
por fazer as prioritrias.
Quando recebo um press, ou mando um e-mail ou telefono aos assessores a dizer
que vou e pergunto sempre como com as imagens, se eles mandam ou se temos que levar
um reprter fotogrfico. Isso convm sempre que seja logo combinado que para marcar a
foto no jornal com tempo. Tambm peo para mandar o dossier de imprensa, porque s
vezes eles anunciam o ensaio mas no mandam logo o dossier, ou porque no est pronto
ou porque mandam s para aqueles que vo. E ainda pergunto se possvel fazer as
entrevistas no dia do ensaio ou se tenho de combinar para outra altura. Nesse caso, ou eles
combinam ou eu peo o nmero de telefone para fazer as entrevistas por telefone.
Tenho sempre a preocupao de ler coisas sobre a pea, se no a conheo, sobre o
autor e sobre a companhia. sempre bom, mas tambm bom nunca ler demais. Acho
que, quando fazemos as entrevistas, convm no saber tudo para deixar um grau de
surpresa. bom ir preparado, alis fundamental, mas acho que tambm devemos deixar
que sejam eles a falar. H trabalhos e performances mais contemporneas, e de colectivos,
que no tm a formao convencional, os prprios actores so criadores das peas, no h
uma distino entre actor e autor. A h muito de surpresa no prprio ensaio, no
espectculo e naquilo que eles esto a dizer. So to experimentais que a pessoa s
consegue perceber quando est a ver e a falar com eles. Nesses casos no h grande
preparao a fazer.
Costumo preparar as perguntas mas deixo sempre algumas para fazer na altura. s
vezes escrevo, outras vezes levo s na cabea. No princpio, tinha a preocupao de
escrever tudo, mas depois quando se comea a fazer isto, j a coisa se torna um bocado
automtica. E gravo as entrevistas, muito raro no gravar. sempre bom, porque assim
tira-se as dvidas todas. Para o trabalho melhor e no h a questo de ter sido mal citado.
Tenho feito as entrevistas sempre depois do ensaio, no faz muito sentido fazer
antes. O ideal fazer as perguntas depois, porque h coisas que surgem s no momento do
ensaio, quando se v a pea. S uma vez ou duas que fiz sem ver nada, e a muito
baseado s na conversa. Falo mais com encenadores, e s vezes com actores quando
tambm so criadores. E s vezes falar com os autores tambm pode ser interessante.
Gosto de falar com os actores, porque d outra dimenso coisa, bom ter as duas vises,
mas nem sempre possvel. Normalmente consigo sempre falar com algum. A nica vez
que no consegui foi com uma pea da Litunia, que vinha ao CCB. Chegavam na vspera
e no davam entrevistas nenhumas, nem por telefone nem por e-mail. Tive que fazer uma
pesquisa. Vi a pea toda em DVD, li entrevistas que o encenador j tinha dado, vi tudo o
que havia sobre peas dele e tudo o que havia sobre aquela pea e citei-o duas ou trs
vezes. Foi a nica vez que isso aconteceu.
Se as entrevistas so individuais ou colectivas, depende dos teatros. J me
aconteceu as duas coisas. No me importo de entrevistas colectivas, porque ns somos
todos diferentes, cada um vai puxar para o seu lado. E no a mesma coisa, engraado.
Isto no uma conferncia de imprensa, em que todos vamos dar a coisa mais importante
que a pessoa vai dizer, porque aquilo que notcia, que mais bombstico. Mas estas
coisas so to subjectivas, que dependem muito do olhar de cada um. Eu gosto disso
tambm, todos temos maneiras diferentes de fazer aquilo. E h ideias que so semelhantes
entre todos. E as entrevistas at se podem tornar dilogos engraados. Aconteceu duas ou
trs vezes com a Joana [Emdio Marques] do DN. A durao das entrevistas depende da
conversa, depende se perguntei tudo o que queria, se a pessoa ainda est a dizer coisas
interessantes e se eu ainda no tenho as respostas que quero. Temos de gerir o tempo, o
nosso e o da pessoa, a pessoa no tem a tarde toda para falar connosco.
Falo com os assessores por e-mail ou telefone quando marco a minha presena, e
depois nos ensaios. Durante as entrevistas s vezes esto presentes, mas eu no gosto disso.
Acho que no h necessidade, mas tambm nunca pedi para sarem. Eu prefiro que no
estejam, mas os assessores no me incomodam, quem incomoda so as agncias de
comunicao. No conhecem os locais, se eu precisar de alguma coisa no a agncia que
me vai ajudar. J disse a uma pessoa de uma agncia de comunicao que no queria a sua
presena numa entrevista. No que o entrevistado [Valentin Teplyakov, O teatro a
casa onde se ri e chora, Ana Dias Cordeiro, P2, 26 de Abril de 2010] fosse dizer coisas do
outro mundo, mas a pessoa era de uma agncia de comunicao, no tem nada que estar
ali. J fao jornalismo h muitos anos e no gosto nada disso, acho que estamos a ser
tomados pelas agncias de comunicao. Ns podemos perfeitamente relacionarmo-nos
com a realidade, no precisamos de intermedirios nem de pessoas que escolham os temas
por ns. Esto sempre a mandar coisas. Esta entrevista interessava partida, porque era
uma figura russa importantssima, mas s outras nem sequer respondo.
s vezes leio textos de outros jornais sobre a pea, ou antes de ver ou antes de
escrever, mas no acho que seja obrigatrio. s para saber como est a ser visto. Com o
Expresso acontece muito isso, porque como eles saem ao sbado, fazem muitas coisas
antes de ns. O psilon sai sexta, mas h muita coisa que j estreou na quinta-feira
anterior, ento o Expresso faz no sbado antes. Ento a j tenho lido coisas. Mas no vou
procura, acontece que tropeo nas coisas e leio, como bvio.
H trs tamanhos de textos no psilon: mini-destaque [cerca de 3000 caracteres],
uma pgina [cerca de 5000 caracteres] ou duas pginas ou mais [7000 caracteres ou mais].
Normalmente o Vasco gosta que falemos com ele depois de ver a pea, para decidirmos em
conjunto o que que merece ser feito. Mas geralmente j vou com uma ideia sobre se pode
ser uma coisa grande ou no. s vezes acontece pensar que vai ser uma pgina mas depois
chegar l e a pea no valer nada. Outras vezes j est decidido partida. Por exemplo, ele
definiu logo porque lhe dava jeito e achou que era suficiente uma pgina para a Beatriz
Batarda [Ol e Adeusinho, encenao de Beatriz Batarda, 6 de Maio a 6 de Junho de
2010, Teatro do Bairro Alto]. Ou ento preciso aumentar, como no caso de uma
companhia francesa que veio c fazer uma coisa sobre o Robespierre na Culturgest [Notre
Terror, encenao de Sylvain Creuzevault e actores, 8, 9 e 10 de Abril de 2010,
Culturgest]. No vi o ensaio porque eles chegaram mesmo em cima da hora, mas vi um
DVD da pea que apresentaram em Frana. Achei aquilo to forte, to forte, to forte, e
alm do mais tinha a entrevista com o encenador, que combinei logo duas pginas com o
Vasco.
Geralmente escrevo a seguir ao ensaio, mas depende. Se o ensaio for por exemplo
na sexta-feira tarde, s escrevo na segunda. No escrevo no fim-de-semana, s se tiver
mesmo de ser por causa do fecho do psilon ou se tiver dois trabalhos para a mesma
semana. Mas tambm j fui a ensaios no sbado e na sexta-feira noite.
Na altura de escrever podem surgir dvidas e vou internet e Gesco [plataforma
electrnica de arquivo de documentao e informao jornalstica]. E tambm telefono, se
for preciso, no tenho problemas nenhuns com isso. Ningum nunca se importou ou
recusou a falar outra vez, porque eu digo que para tirar uma dvida. Mais vale a pessoa
ter a informao toda do que ficar com aquela dvida.
mais pelo tema, o assunto daquela pea que s vezes no me chama a ateno. partida,
quero ir ver as coisas, eu acho que estou um bocado no incio disto e portanto tudo
importante e vai contribuir para a minha aprendizagem. Mas nunca me baseio naquilo. So
feitos por jornalistas, aplicam as ferramentas dos jornalistas, mas eu nunca uso. Leio aquilo
como leio outra coisa. Por exemplo, os do Teatro Praga so mais uma narrativa do que
muito noticioso.
O psilon no d indicaes para escrever, mas, por conscincia profissional, h
coisas que temos que registar ou ir procurar porque consideramos que uma informao
importante. Fica ao critrio do jornalista, a no ser que seja uma coisa muito bvia e que se
o editor quando l no encontra l, pede e temos de pr. Nunca me aconteceu, mas pode
acontecer uma distraco e eles repararem.
Acontece muitas vezes chegar a meio e depois ver que alguma coisa j no faz
sentido e trocar tudo. Os meus textos no tm uma estrutura comum, depende da histria.
Normalmente o mais importante primeiro, segue aquela regra da pirmide invertida, s
que no so aquelas perguntas bsicas, porque tambm no estamos a fazer uma notcia
pura e dura. pr no princpio aquilo que ns consideramos relevante. Relevante ou
importante, a informao mais interessante.
Normalmente os encenadores esto to envolvidos que dizem sempre coisas
interessantes. Nunca escrevi nada sem a voz de ningum. No acho que seja essencial falar
com actores s por eles serem muito conhecidos. Depende. Fiz uma pea do Teatro da
Cornucpia, encenada pelo Lus Miguel Cintra, A Cidade [de 14 de Janeiro a 14 de
Fevereiro de 2010, So Lus Teatro Municipal], que eram textos da antiguidade grega, e
ele misturava actores da Cornucpia com pessoas da televiso. Foi buscar a Maria Rueff, o
Bruno Nogueira, por exemplo. Depois de ver a pea interessou-me mais falar com actores
que no eram conhecidos, e acho que fiz bem, porque eles falaram mesmo da pea. s
tantas, ests a fazer uma coisa que diferente, que no bem a razo pela qual ests ali. As
televises s estavam a entrevistar estes dois, cheguei a ver algumas entrevistas na
televiso e era s volta disso, era muito mais pessoal do que sobre a pea. Mas pode ser
giro, depende da pea.
Escrever a mais ou a menos varia muito, depende dos textos. Quando mini
destaque tenho sempre tendncia para escrever mais. Quando uma pgina ou duas
normalmente consigo escrever aquilo que pedido. Mesmo assim quando uma pgina
acontece ultrapassar um bocadinho. Duas releituras e consegue-se cortar. O critrio para
cortar depende, mas eu acho que a unidade do texto. Unidade no sentido de isto faz tudo
sentido junto, se tirar perde ali qualquer coisa. Quando se l melhor h sempre alguma
informao que est um bocadinho mais solta, ou menos importante, ou at pode ter
interesse mas no faz sentido ali. s vezes acontece entusiasmarmo-nos com o texto e ir
lanados. Acabamos por acrescentar coisas que podem ser interessantes mas naquele texto
no adianta nada, e se eu tenho de cortar caracteres, tiro essas partes.
Muitas vezes no sei qual a fotografia que vai ficar, mas bom saber. s vezes a
meio do processo pergunto ao Vasco ou ento sei qual porque enviaram para mim. A
fotografia tem de se relacionar minimamente com aquilo que estou a escrever. s vezes
escrevo a legenda, outras vezes no. O ttulo depende muito. A maior parte das vezes a
ltima coisa que escrevo, mas s vezes estou a escrever e tenho uma ideia para o ttulo.
Tambm j aconteceu a meio do texto ter ideia para uma entrada e escrevo logo.
Aconteceu poucas vezes ter o ttulo antes de ter o texto. Mas isso ptimo, muito bom.
sinal de que tenho uma ideia muito clara da coisa, e facilmente transmissvel. A
informao da data, local, tem de estar na entrada ou no lead, logo nas primeiras linhas do
texto. Essa informao fundamental. E gosto sempre que os textos digam um bocadinho
do que fala a pea, gosto que se saiba o que que se vai ver.
s vezes nos mini destaques j sabemos partida o que que tem de estar l. Tem
de estar l a informao sobre a pea e a histria e s tantas j chegou ao limite de
caracteres. 3000 caracteres no muito, vai-se num instante. s tantas, j tenho muita
coisa, ento quando os entrevistados se pem a descrever a histria, a pea, os efeitos, o
cenrio, s tantas j tenho os 3000 ou mais. Nos textos grandes a abordagem mais
analtica. No s encher, tentar falar mais fundo na pea, dar-lhe um ngulo. O mini
destaque mais de divulgao, pode-se dar um toque mais curioso pea.
O jornal faz crtica, mas isso no tem a ver com o meu artigo. So trabalhos bem
diferentes. Eu posso sempre deixar transparecer no meu texto que gosto ou no gosto da
pea. Mas tento sempre no dar essa ideia, acho que devemos ser objectivos, mas tambm
no devemos limitar o texto a uma coisa muito cinzenta, sem interesse. s vezes essa ideia
passa, e at pode ser bom passar porque mais cativante para o leitor. Mas tem que haver
uma certa distncia. A maneira como se descreve a pea pode ser mais empolgante, mais
vibrante, no se diz directamente mas d para perceber que se esto a passar vrias coisas
interessantes.
Eu diria que cada pea uma pea. Mesmo. Escrevo cada uma como se fosse a
primeira. Eu funciono um bocado assim, mas no sei se assim que deve ser, nunca falei
com a Ins sobre isto. Cada pea vale por si, ou seja, cada pea pode ser mais o texto, ou
pode ser mais a interpretao, ou pode ser mais a encenao. Claro que bom referir tudo,
temos de dar os crditos todos s pessoas, mas s vezes no d, no vamos pr os nomes de
toda a gente, isso est na ficha tcnica. No entanto, acho fundamental pr o nome dos
actores. Acho importantssimo, a no ser quando uma companhia com vinte pessoas.
Acho que muito aborrecido no ter l os nomes, da mesma maneira que num concerto
s ter o nome do vocalista ou do solista, e no ter o nome das outras pessoas que
contribuem.
Se encontrar erros ou eu vir que quero modificar alguma coisa e a pgina ainda no
seguiu, d para mudar. Depois de j estar feito, se for uma gralha, s vezes acontece e no
h nada a fazer. Se for mesmo um erro, uma coisa que eu vejo e ningum chamou a
ateno, tem de se fazer um O PBLICO errou. Se for um leitor a chamar a ateno para
o erro, ou se faz um O PBLICO errou [seco Cartas Directora] ou publica-se a
carta do leitor ao director e depois responde-se. Se o entrevistado no gosta de alguma
coisa que est escrita no artigo escreve uma carta ao director. Nunca aconteceu e a mim
nunca me disseram nada.
No sei se o teatro est suficientemente coberto em comparao com as outras
artes, to difcil dizer. Acho que podia haver mais, pode sempre haver mais. Tem poucas
capas. verdade que para ser capa tem de ser sustentado e bem justificado, mas porque
que no se fazem mais? Se o teatro for bem trabalhado, pode-se fazer uma capa mais
vezes. Mas acho que devia aparecer mais, porque h muita coisa a passar-se,
eventualmente fora de Lisboa e do Porto, que ns no cobrimos. A maior parte dos textos
que j fiz foi em Lisboa. Mas era preciso ter correspondentes regionais e pessoas que
estivessem mais comprometidas com o jornal, mas no fcil, no h pessoas, o jornal
dispensou muita gente.
fazerem. Por isso que acaba por se centrar tudo em Lisboa ou Almada. Mesmo zonas
mais perto, como Oeiras ou Sintra, muitas vezes j no se vai.
Outras vezes tambm tem a ver com as prprias companhias. Se mandam a
informao ou no, e se mandam com tempo para ns nos organizarmos. s vezes
podemos querer ir mas j aceitmos outro trabalho para fazer mesma hora. Eu digo
muitas vezes s companhias e tambm s editoras, no caso de entrevistas com escritores,
porque s vezes tambm no sabem: tm de nos avisar com mais tempo de antecedncia.
No caso do teatro, no tanto assim, porque as coisas so programadas com muita
antecedncia. Ns vamos s apresentaes das temporadas e temos o calendrio, mas a
verdade que depois se perde, no meio de livros, da balbrdia, do caos dos jornais. E no
meio da rotina esquecemo-nos das coisas.
Recebemos as coisas por e-mail. No DN, h um e-mail para receber informaes
sobre artes a que s tm acesso os dois editores. Quem quiser pode mandar informaes
para l. Algumas companhias tambm mandam para mim e para a Maria Joo, porque j
sabem que somos ns que fazemos teatro, ento mandam para as duas. Outras mandam
para a agenda e depois vm as pessoas da agenda dizer-nos que receberam uma informao
e perguntar se no queremos fazer. Outros tambm mandam para os editores e so eles que
nos dizem ou relembram. No fazemos nada sem falar com os editores. Eles que dizem
sim ou no, normalmente dizem sim. Depois que dividimos entre as duas.
s vezes, no entram todos os artigos que fazemos. No teatro geralmente entra
sempre, mas h pouco tempo fiz um trabalho sobre uma pea de homenagem ao Mrio
Viegas que est agora no Teatro-Estdio Mrio Viegas [Amor com Amor se Paga (Um
acto teatral para Mrio Viegas), encenao de Juvenal Garcs, estreia a 20 de Maio de
2010] que no entrou. No havia espao hoje, no havia amanh, acabou por nunca entrar.
E de dana tambm acontece. Embora no seja comum, s vezes acontece. Porque h
pouco espao e porque muitas vezes as decises editoriais pendem mais para um lado do
que para outro. Por exemplo, o editor executivo adjunto do DN, o Nuno Galopim, que um
homem da msica, acaba por privilegiar mais a msica do que as outras artes. Eu farto-me
de batalhar com os editores, digo muitas vezes que para msica h sempre espao, para
outra coisa que no. Os meus editores no so pessoas que faam um planeamento a
longo prazo, muitas vezes no dia: ento o que que h?. E ele tem sempre coisas de
msica para fazer. a rea dele, mas a verdade que isso condiciona por exemplo o teatro.
Muitas vezes, entre colocar uma coisa de msica, s vezes um grupo menos importante que
ningum conhece, e uma pea importante, ou pem as duas mas com menos espao para a
pea ou a pea salta para o dia a seguir. Temos todos os dias da semana para publicar, mas
h espaos, por exemplo o CCB, a Culturgest, que tm muitas peas que s esto trs dias.
Ou seja, muito complicado, ns vamos fazer e se por alguma razo no conseguimos pr
logo no dia da estreia, na quinta-feira, j s sai na sexta e j s um dia. Depois muitas
vezes acaba por no valer a pena. E outras vezes, por exemplo, h um ensaio de imprensa
mas colado estreia. Se fosse com mais tempo, dava de certeza, porque colocvamos a
pea em antecipao, trs ou quatro dias antes, e no havia problema nenhum. Muitas
vezes, o caso de no fazermos deve-se um bocado a isso, a escolhas editoriais que
preferem nitidamente certas reas culturais a outras, e no DN o teatro no uma
prioridade, claramente a msica. Por outro lado tem a ver com a prpria organizao das
instituies de teatro que fazem os ensaios de imprensa muito em cima da estreia.
Confirmo com os teatros a minha presena no ensaio de imprensa. Leio sempre o
press e o dossier de imprensa, para confrontar a opinio do entrevistado com aquilo que
disse. A maior parte dos dossiers esto bem feitos. Alguns so muito bons, muito
completos, tm a informao sobre o texto, etc. Outros so um bocadinho a correr, so uns
textos um bocado hermticos, parece que eles prprios no perceberam o trabalho ou no
estiveram para a virados. J li alguns textos que quase no do vontade de ir ver a pea.
s vezes s consigo ler um bocadinho antes de ir para os teatros, ou no txi a
caminho para l ou no dia anterior, noite. Fao um mnimo de investigao, sempre. Mas
acabo por fazer mais depois de ver a pea, quando tenho que escrever. Se for uma pea
escrita por um autor que eu no conhea ou que me interesse, se eu no percebi alguma
ideia que passou e que no estava no press ou queira dar alguma informao sobre o autor,
investigo sempre. O ideal fazer isso tudo antes de entrevistar o encenador, mas s vezes
no h tempo. Depois disso que fao uma pesquisa na internet sobre o autor ou para ver
alguma informao, porque j sei que vou fazer uma caixinha.
Preparo mentalmente algumas perguntas: como que surgiu a pea, o processo que
levou quela criao, como que foi criada a dramaturgia, a cenografia, como que se
chega quele elenco, como que se passa das ideias do cenrio e movimentao dos
actores em palco para a concretizao, qual a ideia que o encenador quer passar ao
pblico, se h alguma ideia poltica que quer passar, alguma relao entre aquela pea e o
momento que estamos a viver em termos sociais, polticos, culturais. Prefiro fazer as
entrevistas depois de ver a pea, assim j tenho mais contedo. J aconteceu fazer
trabalhos internacionais e no ter visto a pea e entrevistar na mesma o encenador por
telefone. Ou ento vi excertos no YouTube e depois fiz a entrevista. um bocadinho
trabalhar em seco, s cegas, no sabemos se estamos a ir ao ponto fundamental, se estamos
a ir ao essencial da pea. Mas se no a vimos, de que outra maneira podemos fazer? Os
entrevistados nunca puseram nenhum entrave ao meu trabalho ou minha presena, nem a
eu ir l entrevistar nem em relao s perguntas que fiz. Da rea do teatro no tenho nada a
dizer de ningum.
Assim como os assessores de imprensa, que so sempre muito solcitos, por
exemplo com a questo das fotografias. s vezes precisamos de pedir porque as que temos
no nos servem. Quando pedimos qualquer coisa eles tentam ao mximo conseguir aquilo
que ns pedimos, s vezes at com prejuzo pessoal. Chateiam, perguntam quem vai, s
vezes se no vai ningum tentam arranjar outros pretextos para ns irmos. Acontece no
podermos ir estreia mas vamos depois e eles no tm problema com isso.
Tentamos que o artigo saia sempre no dia da estreia. Se a pea ficar um ms ou
mais em cartaz, e no conseguirmos que saia logo nesse dia, ento sai depois. s vezes
conseguimos fazer isso. Se menos tempo, temos de tentar arranjar um espao.
Normalmente escrevo logo no dia a seguir ao ensaio porque os ensaios de imprensa
so muito em cima da estreia. Quando acontece ser mais cedo, o que raro, como tenho
tempo, escrevo em casa. Em casa escrevo sempre melhor porque no estou distrada.
Para alm do contedo bsico do lead, o DN no d qualquer indicao sobre a
forma de escrever os artigos. O quem, onde isso tem de estar, depois quanto forma
como se estrutura o texto no h indicao. mesmo nossa escolha. Eu falo com
encenadores, muitas vezes se justificar falo com actores. Se for um actor que muito
conhecido da televiso, se calhar faz sentido falar com ele.
Os editores no nos dizem nada sobre o espao que vamos ter para a pea. Mas
depende da pea. Se for um autor importante, uma companhia importante, um encenador
importante, bem provvel que seja abertura da seco, que o espao maior que ns
temos para escrever. Joga muito por a, pela importncia disto. Por exemplo, a pea do
Tennessee Williams, encenada pelo Diogo Infante, com a Alexandra Lencastre [Um
Elctrico Chamado Desejo, Teatro Nacional D. Maria II, de 9 de Setembro a 31 de
Outubro de 2010], h-de ser abertura de seco. Ainda por cima aquela pea, que to
importante. Mas se for uma pea de uma companhia mais pequena, quase desconhecida,
numa sala mais pequena, h-de ser uma coisinha a para os 1700, 2000 caracteres no
mximo. Com sorte. Nunca sabemos, mas j conseguimos fazer uma ideia. A abertura
costuma ter 3000, 3500 caracteres. Acaba sempre por ter mais, s que, como no DN os
textos so muito fragmentados eles acham que se for uma coisa muito longa os leitores
no lem normalmente o que fazemos um texto de 3000 caracteres e uma caixa. Se for
um encenador importante fazemos uma pequena caixa sobre ele, ou sobre o autor.
Portanto, embora no seja um texto corrido, vai dar sempre 3000 e tal, no mximo 4000
caracteres. Embora s vezes as caixas faam sentido, eu preferia escrever um texto s,
corrido. Eu no gosto nada de caixas, mas o tipo de grafismo do DN obriga a isso. s
vezes no h nada de jeito para escrever e isso obriga a andar ali s voltas, a espartilhar as
coisas, de maneira que muitas vezes o leitor nem ganha grande coisa com aquilo.
Tenho mais ou menos um esquema na minha cabea daquilo que eu acho que
importante dizer sobre uma pea, que falar no cenrio, na histria, no autor, e ir
intercalando com a voz do encenador e dos actores. Claro que as peas so diferentes e isso
implica uma escrita diferente. A minha preocupao mais se falo em informao
pertinente ou no. Isso no DN uma coisa muito clara. Eu comparo s vezes com o que sai
no PBLICO, o que um bocadinho incomparvel, porque o psilon um suplemento de
um jornal dirio mas que semanal. diferente escrever para imprensa diria e para
imprensa semanal. Na imprensa semanal, h um espao para escrever e para digerir a
informao que necessariamente vai originar formas de contar diferentes. Num jornal
dirio, muitas vezes vemos a pea tarde e ainda escrevemos para o dia seguinte, ou
vemos noite e no dia a seguir j estamos a escrever. Temos pouco espao mas tambm
temos menos tempo para pesquisar, etc. E isso obriga a uma conciso, a procurar dizer
aquilo que foi o essencial da pea, a dar informao essencial ao leitor. s vezes gosto
tanto de uma coisa que gostava de escrever mais, e penso que inveja do espao do
psilon!. verdade que tenho essa inveja, mas por outro lado, reconheo cada vez mais a
importncia da conciso. s vezes, leio coisas no PBLICO e penso escreveram imenso
mas no disseram grande coisa sobre a pea. No meu incio no DN, levava na cabea dos
meus editores porque queria escrever como escreviam no PBLICO. At porque eu tinha
acabado de escrever uma tese de mestrado muito filosfica e leio muita filosofia, e tinha a
mania do ensaio. O meu editor at dizia que eu estava nas tintas para a notcia, queria era
escrever, se era notcia ou no era notcia para mim no interessava nada. Isso no pode
ser. Se uma notcia, uma notcia, temos de dar dados relevantes ao leitor. E eu
questionava muito isso. Agora percebo, sobretudo pela falta de espao, a importncia de,
entre tudo o que gostmos e vimos, seleccionar aquilo que possa ser mais relevante para o
leitor. Com os tais textos em que no disseram grande coisa, acaba-se por no perceber o
essencial da pea, perdeu-se l pelo meio. A outra informao, que at poderia ser
importante, acaba por no o ser, porque fica ali no ar, dispersa. Precisava de algo que
aglutinasse as clulas. Depende tambm das peas. E por isso s vezes o espao torna-se
grande demais. Mas isso tambm acontece um bocadinho no DN. Muitas vezes tenho
caracteres a mais para preencher, outras vezes tenho menos caracteres e a pea valia muito
mais.
Tento no dar a entender no texto se gosto ou no gosto da pea. Tento sempre
passar a ideia do melhor que eu encontro ali. Porque eu no sou crtica de teatro, essa no
a minha funo. Quando escrevo, tento sempre dar ao leitor o melhor que eu vi da pea,
sem dizer isto muito bom. No posso dizer isso. A pessoa, se for ver a pea, que vai
fazer a sua deciso, e vai criar o seu pensamento, vai ter a sua experincia daquela
dramaturgia, etc, e a que vai dizer se muito bom. No sou eu que tenho de fazer isso.
Portanto, eu tenho de falar daquilo que eu acho que o mais importante. Normalmente,
falo do texto que eu acho que o fundamental numa pea e da cenografia, da histria,
do autor, se conhecido falo de outras obras dele ou se pertence a um movimento. Se
puder, dou voz ao encenador e aos actores, a falarem sobre a experincia deles. Isso o
ideal: dar espao voz deles e no tanto minha, por mais pequeno que seja o espao. No
sendo uma das directrizes dos editores, fazer uma pea com a voz de algum o bsico do
jornalismo.
Normalmente, marcamos o fotgrafo na agenda, mas nem sabemos quem que l
vai. s vezes pode acontecer irmos juntos, outras vezes no. Por vezes a pgina j est
pronta, com a fotografia, quando vou escrever o meu texto, mas no me influencia. Pode
influenciar o ttulo. Tambm escrevo a legenda. Normalmente so os editores que
escolhem a fotografia, embora eu s vezes v l dar os meus bitaites. Mas o editor tem
uma noo das cores, do movimento muito melhor que a minha.
H momentos em que fazemos trabalhos paralelos fora de uma estreia. Por
exemplo, o Teatro Nacional D. Maria II vai abrir em Setembro com Um Elctrico
Chamado Desejo [encenao de Diogo Infante, de 9 de Setembro a 31 de Outubro de
2010], protagonizado pela Alexandra Lencastre. A minha colega vai entrevistar a
Alexandra Lencastre, para sair j. No vai falar sobre a pea, vai aproveitar a pea para
falar um bocadinho da actriz. Por exemplo, quando o Pedro Mexia fez a sua primeira
encenao [Agora a Srio, Teatro Aberto, 29 de Abril a 13 de Junho de 2010] eu no fiz
propriamente um artigo sobre a pea. Falei da pea mas fiz uma entrevista ao Pedro Mexia,
como encenador mas com aquele percurso. Ou seja, falo do teatro mas paralelamente ao
teatro. outra maneira de abordar a pea, a pea no foi o primeiro plano, o primeiro plano
foi uma figura. Fizemos o mesmo com o Rui de Carvalho h uns meses [O Camareiro,
encenao de Joo Mota, Teatro Nacional D. Maria II, 10 de Setembro a 25 de Outubro de
2009]. bom para variar os modos de fazer. Uma vez, eu at levei deputados ao Teatro da
Trindade. Foram eles que falaram da pea, a propsito do oramento de Estado e da crise
[No se ganha, no se paga, encenao de Maria Emlia Correia, de 28 de Janeiro a 28 de
Maro de 2010].
No DN j houve crtica de teatro, agora no. Por isso, nem pensamos nisso quando
fazemos um trabalho.
Se sai algum artigo no resto da imprensa sobre uma pea ou outro tema que eu
tambm vou trabalhar mas ainda no escrevi, no leio. Para no ficar influenciada. Depois,
se tiver vontade e ficar entusiasmada, ento vou ler, mas nem sempre. Entre os nossos
artigos e os da outra imprensa, h sempre uma base geral que idntica.
Quando noto que h uma falha no meu texto antes de ele sair, telefono e mando as
alteraes aos editores mas nunca me ligam nenhuma. Querem despachar. Nunca
ningum dos teatros me disse que tinha sado um erro nos meus textos. Embora eu j tenha
detectado uma coisa ou outra depois de publicado, mas coisas simples, nada grave. Mas s
vezes mais a opinio das pessoas. H alturas que no leio os meus textos, porque estou
insegura quanto ao que escrevi. As reas onde escrevo melhor so dana e literatura, mais
do que teatro, porque so as que conheo melhor. O teatro onde me sinto mais insegura.
No entanto, destas trs reas, escrevo mais sobre teatro, e a seguir livros. Porque o DN no
d muita importncia dana.
ANEXO B
Data
N Edio
3 Maro 2010
4 Maro 2010
5 Maro 2010
7274
7274
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
55)
(No?) Rodagem
5 Maro 2010
7274
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
55)
Projecto
5 Maro 2010
5 Maro 2010
11 Maro 2010
11 Maro 2010
11 Maro 2010
12 Maro 2010
7281
12 Maro 2010
7281
12 Maro 2010
7281
A Semana, Teatro,
psilon (pg. 36)
12 Maro 2010
7281
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
37)
Projecto
12 Maro 2010
7281
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
39)
Projecto
5 Maro 2010
Publicao
Ttulo
12 Maro 2010
7281
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
40)
Adaptao
12 Maro 2010
*
Crazy Heart no estreia nos
cinemas portugueses e tem lanamento
directo em DVD
15 Maro 2010
15 Maro 2010
15 Maro 2010
15 Maro 2010
Site PBLICO,
Tecnologia
16 Maro 2010
18 Maro 2010
Site psilon,
Teatro/Dana
18 Maro 2010
18 Maro 2010
18 Maro 2010
18 Maro 2010
18 Maro 2010
18 Maro 2010
19 Maro 2010
7288
19 Maro 2010
7288
19 Maro 2010
7288
19 Maro 2010
7288
A Semana, Topo
Discos, psilon (pg. 44)
Lanamento
19 Maro 2010
7288
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
50)
Projecto
19 Maro 2010
7288
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
52)
Rodagem
23 Maro 2010
7292
Cultura, P2 (pg. 9)
23 Maro 2010
Site PBLICO,
Tecnologia
23 Maro 2010
24 Maro 2010
Site psilon,
Teatro/Dana
24 Maro 2010
24 Maro 2010
24 Maro 2010
24 Maro 2010
25 Maro 2010
7294
Portugal, PBLICO
(pg. 14)
25 Maro 2010
25 Maro 2010
25 Maro 2010
25 Maro 2010
26 Maro 2010
7295
A Semana, Topo
Livros, psilon (pg. 41)
Festival
26 Maro 2010
26 Maro 2010
29 Maro 2010
29 Maro 2010
29 Maro 2010
30 Maro 2010
30 Maro 2010
30 Maro 2010
31 Maro 2010
1 Abril 2010
7302
2 Abril 2010
7302
2 Abril 2010
7302
2 Abril 2010
7302
A Semana, Topo
Livros, psilon (pg. 36)
Edio
5 Abril 2010
6 Abril 2010
7306
Portugal, PBLICO
(pg. 7)
6 Abril 2010
7 Abril 2010
26 Maro 2010
7295
26 Maro 2010
7 Abril 2010
7 Abril 2010
7 Abril 2010
7 Abril 2010
9 Abril 2010
7309
9 Abril 2010
7309
9 Abril 2010
10 Abril 2010
7310
15 Abril 2010
Site psilon,
Teatro/Dana
16 Abril 2010
7316
16 Abril 2010
7316
A Semana, Topo
Teatro/Dana, psilon
(pg. 51)
21 Abril 2010
7321
22 Abril 2010
7322
22 Abril 2010
22 Abril 2010
23 Abril 2010
7323
23 Abril 2010
7323
7323
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
55)
Cineasta na pera
23 Abril 2010
Mundo, Topo,
PBLICO (pg. 23)
Site psilon,
Teatro/Dana
26 Abril 2010
26 Abril 2010
29 Abril 2010
7329
Economia, PBLICO
(pg. 23)
29 Abril 2010
30 Abril 2010
7330
30 Abril 2010
7330
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
43)
Prequela
30 Abril 2010
7330
A Semana, psilon
(pg. 55)
30 Maro 2010
Site psilon,
Teatro/Dana
5 Maio 2010
6 Maio 2010
6 Maio 2010
6 Maio 2010
6 Maio 2010
6 Maio 2010
7 Maio 2010
7337
7 Maio 2010
7337
7 Maio 2010
7337
7 Maio 2010
7337
A Semana, psilon
(pg. 38)
Ns somos o rei
23 Abril 2010
7323
24 Abril 2010
7337
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
43)
Reencontro
7 Maio 2010
7337
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
45)
Projecto
7 Maio 2010
13 Maio 2010
7343
Cultura, P2 (pg. 9)
13 Maio 2010
7343
13 Maio 2010
*
Fundao Cartier-Bresson tenta
cancelar leilo de esplio do fotgrafo
13 Maio 2010
13 Maio 2010
14 Maio 2010
7344
14 Maio 2010
7344
14 Maio 2010
7344
14 Maio 2010
7344
14 Maio 2010
7344
A Semana, psilon
(pg. 42)
Da guerras e da luxria
14 Maio 2010
14 Maio 2010
14 Maio 2010
14 Maio 2010
14 Maio 2010
14 Maio 2010
7 Maio 2010
14 Maio 2010
17 Maio 2010
17 Maio 2010
17 Maio 2010
17 Maio 2010
19 Maio 2010
19 Maio 2010
19 Maio 2010
Site psilon,
Teatro/Dana
19 Maio 2010
19 Maio 2010
20 Maio 2010
7350
ltima pgina,
PBLICO (pg. 44)
20 Maio 2010
20 Maio 2010
20 Maio 2010
20 Maio 2010
21 Maio 2010
7351
21 Maio 2010
7351
21 Maio 2010
7351
A Semana, Topo
Discos, psilon (pg. 47)
Mais Blur?
21 Maio 2010
21 Maio 2010
22 Maio 2010
7352
- - - - -
22 Maio 2010
7352
ltima pgina,
PBLICO (pg. 40)
24 Maio 2010
24 Maio 2010
25 Maio 2010
25 Maio 2010
25 Maio 2010
26 Maio 2010
26 Maio 2010
27 Maio 2010
27 Maio 2010
7357
27 Maio 2010
27 Maio 2010
27 Maio 2010
27 Maio 2010
Gorillaz substituem U2 em
Glastonbury
27 Maio 2010
Gorillaz substituem U2 em
Glastonbury
27 Maio 2010
Gorillaz substituem U2 em
Glastonbury
28 Maio 2010
28 Maio 2010
7358
28 Maio 2010
7358
A Semana, Topo
Livros, psilon (pg. 36)
Lanamento
7358
A Semana,
Teatro/Dana, psilon
(pg. 48)
28 Maio 2010
7358
A Semana, Topo
Cinema, psilon (pg.
52)
Prequela
28 Maio 2010
28 Maio 2010
28 Maio 2010
28 Maio 2010
28 Maio 2010
31 Maio 2010
2 Junho 2010
2 Junho 2010
2 Junho 2010
2 Junho 2010
2 Junho 2010
Site psilon,
Teatro/Dana
4 Junho 2010
7365
4 Junho 2010
7365
7365
A Semana,
Teatro/Dana, psilon
(pg. 38)
28 Maio 2010
4 Junho 2010
* Artigos assinados
*
A me das peas de Pinter
Economia
A crnica de Jos Diogo Quintela est ao domingo na Pblica
O mercado britnico
excepo num cenrio
mundial que continua
em perda
a Depois de seis anos em queda, as
receitas de vendas de msica em Inglaterra registaram uma subida. Os
nmeros ociais, divulgados pela
British Phonographic Industry (BPI)
relativos a 2009, revelam que, pela
primeira vez, as receitas provenientes
do comrcio de msica em formato
digital compensaram o declnio das
vendas de CD.
A combinao dos resultados ingleses, com as vendas digitais a aumentar
53 por cento, para 179 milhes de euros, e as de CD a cair seis por cento,
para 859 milhes de euros, resultam
num aumento de facturao de 1,4 por
cento. O maior crescimento deu-se nos
formatos on-line como o YouTube ou o
Spotify, contudo, o espectacular crescimento de 247 por cento traduz-se em
apenas 9,4 milhes de receita, menos
de um por cento do total gerado pela
indstria inglesa.
Em declaraes ao Independent, o
chefe executivo da BPI, Geo Taylor,
CD recuperam
20%
A Autoeuropa
acredita que
poder este
ano aumentar a
produo em 20
por cento, para
mais de 100 mil
veculos
Euronext Lisboa
ltima Sesso
Performance (%)
-4,11
-8,27
-1,94
-2,69
1,86
-2,17
-1,33
-0,77
-2,22
-3,77
-3,26
-8,33
-0,67
-1,57
-0,31
-5,61
-5,82
-5,35
-0,26
-4,28
-6
-2,23
-3,09
-7,69
0
-0,42
-0,9
-3,82
0
-10,87
0
-3,95
-3,77
0
-7,95
-4,6
-14,71
-10,29
-7,5
0,69
-4,32
-8,89
-12,93
0,3
-3,96
-2,13
-3,7
-1,96
-10
16,67
5 dias 2010
4,131 2210935
1,531 5338182
0,658150560080
3,153 12451865
5,246 4843644
5,184 1075999
2,587 27491913
5,024 3225571
11,685 6302905
0,510 1563296
7,220 4626576
2,521 1799704
7,413 10936777
1,880 2438594
2,577
1113274
7,174
506227
1,230 1958586
2,054 2239160
0,761 29098321
3,200 2306917
4,100
1,570
0,650
3,164
4,920
5,150
2,594
5,050
11,730
0,500
7,220
2,510
7,201
1,870
2,580
7,400
1,201
2,055
0,705
3,143
4,480
1,693
0,685
3,376
5,600
5,379
2,653
5,272
12,055
0,550
7,594
2,700
7,745
1,960
2,639
7,690
1,322
2,285
0,810
3,340
3,817
1,500
0,555
2,952
4,660
4,951
2,474
4,700
10,970
0,460
6,710
2,415
7,098
1,731
2,450
6,955
1,129
1,810
0,679
3,000
-12,63
-13,07
-18,07
-16,92
-19,86
-2,57
-11,75
-11,95
-10,35
-13,4
-3,44
-12,89
-10,35
-6,83
-9,43
-7,92
-15,63
-15,37
-12,4
-12,65
3,4
-27,8
-22,1
-31,0
-26,9
-19,4
-16,8
-24,2
-3,3
-20,3
3,4
-36,0
-13,0
-5,0
-14,1
-7,6
-36,3
-20,2
-12,5
-26,2
0,940
5,250
0,940
0,360
0,910
14,140
1,100
1,260
0,140
6,150
0,070
1,460
0,510
0,000
2,200
3,730
1,450
0,610
0,740
7,250
9,090
0,820
1,010
3,310
2,910
1,380
0,520
1,000
0,090
0,070
0,970
5,300
0,870
0,360
0,900
14,200
1,110
1,330
0,140
6,770
0,070
1,450
0,500
0,000
2,300
3,900
1,550
0,650
0,750
7,350
9,200
0,860
1,160
3,310
2,990
1,380
0,530
1,020
0,090
0,060
0,970
5,330
0,980
0,360
0,920
14,200
1,110
1,330
0,140
6,900
0,070
1,490
0,550
0,000
2,350
4,210
1,550
0,660
0,760
7,350
9,450
0,890
1,160
3,310
2,990
1,380
0,550
1,020
0,090
0,070
0,920
5,080
0,800
0,360
0,880
14,140
1,070
1,190
0,140
5,510
0,060
1,250
0,460
0,000
2,060
3,590
1,300
0,580
0,720
7,100
8,910
0,750
1,010
3,310
2,650
1,350
0,470
0,930
0,090
0,060
-11,5
-7,89
-9,35
-9,3
-4,21
5,65
-3,48
-8,28
-6,67
-14,29
-12,5
-5
-13,4
48,67
-7,72
-10,32
-2,86
-10,53
0
-1,37
-9,52
-15,09
-1,69
-3,23
-7,62
-1,4
-14,29
-14,29
0
-14,29
-24,8
1,9
-92,8
-10,0
-3,2
607,0
-16,7
n.d.
250,0
-33,2
-12,5
-18,4
-20,3
n.d.
69,2
-16,0
-15,2
-31,5
-17,9
-1,2
-21,7
-31,1
-21,7
n.d.
14,1
-6,1
-37,3
-23,1
-18,2
0,0
1758091
8125
361780
80
162718
14876
9140
66508
65500
88750
416311
210458
1563296
20
308037
160013
2149
1261412
11714
5206
81893
1061603
1283
1500
32601
14305
1890197
26204
2468
32303
Fonte Reuters. Notas: 1) PSI Geral apenas com os ttulos que foram transacionados 2) Informao disponibilizada no dispensa a consulta das fontes oficiais.
Um euro igual a
28.04.10
Var. %
Anterior
(a)%
1,3157
1,3163
-0,046
1,3311
1,3392
-0,605
2,3139
2,3311
-0,738
0,8666
0,8633
0,382
1,4327
1,4327
0,000
7,4418
7,4418
0,000
7,8608
7,8351
0,328
9,6305
9,5997
0,321
25,541
25,558
-0,067
3,9251
3,9275
-0,061
269,5
269,67
-0,063
1,9556
1,9556
0,000
15,6455
15,6435
0,013
1,9745
1,9774
-0,147
123,84
122,56
1,044
1,4244
1,4384
-0,973
10,2203
10,2183
0,020
10,5124
10,5154
-0,029
9,8033
9,8267
-0,238
106,835
106,892
-0,053
Fonte Cotaes indicativas do Sistema Europeu dos Bancos Centrais (SEBC). (a) + apreciao do euro; - depreciao do euro
Cultura
1919-2010
Lutas familiares
a Wolfgang e ao irmo, Wieland,
que se deve, alis, a recuperao
do festival, que teve a sua primeira
edio em 1876, e que chegou
at hoje, apenas com algumas
interrupes. A mais importante
das quais, durante a Segunda
Guerra Mundial, terminou em
1951, quando os irmo Wagner
assumem a direco e a mantm
durante os 15 anos seguintes.
Em 1966, com a morte de
Wieland, Wolfgang torna-se o
nico director, com um contrato
vitalcio, a que renunciou em
2008, apesar de ter iniciado nove
anos antes o processo de sucesso
um perodo de intensas lutas
pelo poder no cl Wagner.
Durante anos, Wolfgang insistiu
que s a sua segunda mulher,
Gudrun, poderia substitu-lo,
embora a Fundao Richard
Wagner, que gere o teatro, no
concordasse. O director virou
ento a sua preferncia para a
filha dos dois, Katharina.
Em 2001, a Fundao preferiu
Eva Wagner-Pasquier, filha
do seu primeiro casamento.
De novo, Wolfgang ops-se
escolha e recusou-se a deixar o
cargo. Com a morte de Gudrun,
em 2007, Wolfgang sugeriu
uma candidatura conjunta de
Katharina e Eva. Depois das
desavenas bem conhecidas, as
meias-irms, seguindo a proposta
do pai, candidataram-se em
conjunto direco do festival
contra a prima Nike Wagner, filha
de Wieland. Eva, de 63 anos, e
Katharina, de 30, foram eleitas
em 2008 e Wolfgang retirou-se de
seguida.
As de 70 e 80
so consideradas
o ponto alto do
g.
trabalho de Wolfgang.
euth
O Festival de Bayreuth
hoje um dos mais
ndo para
importantes do mundo
o pblico de pera, com uma
lista de espera para aquisio de
bilhetes de quase
Wolfgang Wagner
dez anos.