Mabire Jean - Vial Pierre - Os Solsticios
Mabire Jean - Vial Pierre - Os Solsticios
Mabire Jean - Vial Pierre - Os Solsticios
OS SOLSTICIOS
HISTRIA E ACTUALIDADE
e~
HUGIN
Jean Mabire
Pierre Vial
OS SOLSTICIOS
HISTRIA E ACTUALIDADE
HUGIN
~.
1995
1:4t..
NDICE
OSOLEOFOGO ....................................................................... 11
ISBN : 972-8310-02-1
Depsito Legal : 93934/95
INVERNO ..................................................................................... 85
Do Jul nrdico ao Natal (lean Mabire) ..................................... ..... 87
O sol e o norte (Jeannine Boulet) ................................................... 88
A coroa do advento ............ ...... .. .... .. ............ .... .. ............ ...... .... .... ... 93
Fabricar;ao de velas ........... .. ..... .. ............... .................. ...... .............. 94
O Pai Natal ..... ...... ........ .... ....... ................. ............. ........ .. ............... 97
Votos para o solstcio de inverno .................... ........................ .... ... 98
A Santa Lcia ........ ..................... .. .. .. ........ ......................... .. ........... 99
Tradir;oes do soltcio de inverno atravs
da Europa (Pi erre Vial)........................ ........ .... ........................... .. 103
Ve lada na Provenr;a (Frdric Mistral .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 106
Os Solstcios
A grande pausa criadora ... .. ... .. ... .... ... .... ... ... ... . .. .. .. .... .. . .... ... ..... .. ..
A decora~ao da casa .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .
Por urna velada familiar do solstcio de inverno (Jean Mabire) .. .
Rece ita do Gloegg sueco .............. .......... .. ............ .. ...... .... ........
Receita do Puding ingles .............. ...................... .. .............. ......
Rece ita do Feuerzangenbowle alemao ......................................
A chama (Jean Mabire) ........ .. .......................... .. ..........................
Os Reis e o encerramento do ciclo de Jul (Pierre Vial) ...............
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VERO ........................................................................................
Do solstcio ao S. Joao (Pierre Vial) ............................ .. .......... ....
Fogo e f (George Bernage) ...... .. .. .. ...................... .. .............. .......
O sentido da festa (Philippe Conrad) .......................... ...... ...........
Tradi~6es do solstcio de verao atravs da Europa (P. Vial) .. .. ....
Fogos em todas as provncias da Fran~a (Jean Mabire) .......... .. ...
O lobo verde (Didier Patte) .......... ........................ .................. .. .. ..
Por um fogo popular no solstcio de verao (Jean Mabire) .... .......
Eis o S. Joao .............................. .......................................... .... .. .. .
Solstcio no pas d'Oc (Jean Poueigh) ........................ .. ............ .. ..
A festa do fogo (Yvonne de Benoist) .... .. .... .................. .. ............ .
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A histria
do mundo
nao senao
a histria
do Sol
RENAN
O SOL
e
O FOGO
Os Solstcios
STONEHENGE
alto lugar do culto europeu
Madrugada de 21 de Junho. A noite desaparece diante do dia nascente.
L em baixo, na direc~ao do leste, o cu cobre-se de verde esmeralda,
como um oceano tranquilo. A seguir, tudo passa ao rosa, como se mil
flores de ptalas delicadas resplandecessem no meio de nuvens cinzentas.
Enfim, do solo mesmo da velha Inglaterra parece ter surgido o disco do
sol, vermelho vivo. Com ele, o fogo e o sangue abrasam o cu. Vai cumprir-se hoje o seu curso mais longo. Nunca, a nao ser no solstcio de
verao, ele se demora tanto entre os homens, com semelhante calor,
tamanha for~a, tal poder.
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
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Os So/stcios
SMBOLOS SOLARES
E CONCEP<;O DO MUNDO
Partidos da Europa do norte, os povos indo-europeus que estao na
origem da nossa civiliza9ao traziam com eles urna concep9ao do mundo
especfica que se descobre em cada urna das componentes da civi 1iza9ao
europeia antiga: do lmprio celta a Grcia, do Latium a Prsia, da
Germana a terra dos Arianos. Esta concep9ao do mundo exprime-se
atravs dos smbolos. Muitos tem um significado solar.
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Os Solstcios
,ARQUEOLOGIA E
SIMBOLOS SOLARES
A arqueologa fornece ilustras:oes precisas da importancia
dos smbolos solares entre os indo-europeus.
Datando da Idade do Bronze, o carro solar de Trundholm
(conservado no museu de Copenhague) e descoberto na
Dinamarca a sudoeste de Seeland, constitudo por um
conjunto dotado de seis rodas puxado por um cavalo.
Suporta u m grande disco dourado cujas faces ostentam u m
desenho formado por espirais e crculos concentricos.
Representa um dos elementos essenciais do culto solar: o
simbolismo do percurso do sol no espas:o.
Conhecem-se no mundo grego smbolos solares
comparveis aos do carro de Trundholm. Num friso de
prata historiada da poca micnica encontrado na ilha de
Syros, figuram rosftceas precedidas de u m caval o que traz
urna gargantilha. E, segundo Dchelette, a representas:ao
de um disco solar. Vem-se susticas nas alegorias de
Hissarlik. Num vaso de urna poca posterior, a Sustica
acompanha a representas:ao antropomrfica de Hlios.
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Histria e Actualidade
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
HansZORN
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
( 1733- 1767 )
Piene VIAL
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Os Solstcios
A SAGA DE BALDER
Filho do deus Odin e de Frigg, ranha dos Ases, Baldr, a quem os germanos do m ar chamam Balder e os germanos da terra Baldur, possui urna
qualidade que, ao longo dos anos, se tomou num verdadeiro mito: a
juventude.
Balder jovem, como outros sao grandes, bravos ou fortes. Tem a idade
do entusiasmo. Possui o mais mgico de todos os poderes: o futuro pertencer-lhe-. Cedo ou tarde. Ele tem tempo. A menos que a morte venha
quebrar o seu destino.
Possui mais virtudes que nenhum outro: a sabedoria, a eloquencia, a sensibilidade. Se Thor um deus da guerra, Balder um deus da paz. Mas
a paz na ordem, na submissao as leis do mundo, na fidelidade a criar;ao
divina sobre a qua! reina Odin o zarolho dos corvos.
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Os Solstcios
Salve, dia!
Salve, filho do dia!
Salve, noite e irma da noite!
Olha-nos
Com olhar benvolo
E dai vitria aos que aqui 'stao!
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
Era preciso proteger Balder, acumular sobre si as salvaguardas e as barreiras. O que belo, justo e bom nao deve morrer. A sua mae, Frigg,
recebeu, enfim, a resposta do Destino, que preside a todas as coisas oeste
mundo e no outro:
- O teu filho Balder ser poupado pelo fogo e pela gua, pelo ferro e por
todas as espcies de metais, pelas pedras, pela terra e pela madeira. Ser
poupado pelas doen~as. Ser poupado pelos quadrpedes, pelas aves,
pelo peixe e pelas serpentes.
'
Loki era tambmjovem e belo como Balder. Enfim, quase tao jovem e
quase tao belo. A diferen~a pareca nfima, mas chegava para encher o
seu co ra~ao de cime e de amargura. Nao poda suportar este jogo que
aumentava ainda a glria do seu rival.
Mas que fazer contra o Destino?
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
A morte nao
senao urna transferencia
de individualidade.
A hereditariedade
faz circular
as mesmas almas
atravs da sucessao
das gera~oes
da mesma ra~a.
O seu corpo imobilizou-se sobre a erva sempre verde. Urna brisa ligeira
agitava ainda os seus cabelos da cordas searas. Mas estava morto.
Balder morto. A maior desgra~a que chegou aos deuses e aos homens.
Gustave LE BON
Os Ases rodeiam-no. Estupefactos e silenciosos. Mantinham-se
imveis.Olhavam-se, mais incrdulos que tristes. Nem u m ousava tocar
o corpo do invulnervel. Nenhum ousava acusar o seu assassino.
O Thing foi colocado soba salvaguarda das leis. Loki tinha cometido o
seu crime num local sagrado. Nao se poda a exercer v ingan~a. De resto,
nenhuma vingan~a teria podido ressuscitar o filho de Odin e de Frigg.
S o silencio poda exprimir a dor dos Ases. E das lgrimas que corriam
sobre as suas faces. Nenhuma lamenta~ao, nenhum grito. Os deuses do
norte sofrem sem gemer.
De todos, o mais silencioso e mais dilacerado era Odin. Em Balder
perda o seu fi lho preferido. Com ele morria a juventude do mundo.
Loki, dirigindo o bra~o de Hoder, quis matar a esperan~a.
Os Ases, enfim, aproximaram-se do cadver de Balder, levantaram-no
sobre os seus ombros e dirigiram-se para a margem onde batiam, com
um longo e ritmado arquejo, as vagas do mar.
O barco de Balder chamava-se Hringhorni . Era o maior de todos os
batis dos de uses. A bordo, Balder reinara sobre as ondas e tinha pintado
na vela o prprio signo do sol.
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Os Solstcios
Fred Rossaert
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
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Os Solstcios
O CULTO DE APOLO
Como Balder filho de Odin, A polo filho de Zeus. Nascido dos amores
do rei dos deuses e da deusa Latona, nasceu em Delos onde de ouro
eram os terra fOS, de ouro a vaga do mar, de ouro a folhagem da
oliveira, de ouro as este iras dos rios, de ouro aterra. Toda a ilhafloria
wna seara de ouro.
Jovem imortal de lira comovente, Phoebus-Apolo ganha o Olimpo,
onde se torna o deus da luz e do sol.
Depois de vencer a serpente Python, como Siegfrid venceu o dragao
Fafnir, adquiriu nomeada considervel. Os gregos organizam o seu
culto e o seu orculo em Delfos. Um filho, Esculpio, o mdico
exemplar, nascer da sua ligar;ao com a ninfa Coronis e opor, desde a
mais alta antiguidade, os rigores da ciencia exacta aos delrios do
charlatanismo metafsico.
Apolo o contrrio dum aventureiro. um profeta.
Nao impossvel que A polo tenha, realmente, vivido.
Isso parece-me mesmo provvel : personalidade
radiosa de beleza e gnio, arrebatadora, com o
sen ti mento partilhado por alguns discpulos de ter em
si qualquer coisa de divino, dizendo-se e crendo-se
filho de Zeus, e da mesma natureza de seu pai. Em
suma, um Olmpico verdadeiro, encarnado na
humanidade e assumindo a missao de voltar a erguer
a ra~a dos homens.
Alfred POIZAT
La Civilisation et ses Tournants
E m rebeliao contra sem pai, Apolo foi condenado por Zeus a vi ver nove
anos na Terra. Acaba de estabelecer-se no meio dos homens, como seu
arco e as su as flechas. Pastor, profeta, msico e construtor, viveu na Tesslia, em Troade e na Hiperbrea.
Reconciliado como criador, Apolo torna-se Phoebus, isto , Luz e Vida.
Chamam-lhe tambm Chrysocomos (o deus dos cabelos de ouro). Em
nada se distingue de Helios, o deus grego do sol. Apolo vem a ser o condutor do carro solar, atrelado aos quatro caval os sagrados. tambm u m
deus guerreiro: no decorrer dos combates de Tria, intervem a favor dos
troianos.
Como Balder, A polo surge como deus dajuventude, da msica e da poesia.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
APOLO E BALDER
Quando se observam de perto as representa96es iconogrficas de Apolo, pensa-se mais imediatamente num tipo
nrdico que num tipo grego. Como se o Balder primitivo
tivesse servido de arqutipo ao Apolo mediterranico.
O Retorno de Apolo
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Os Solstcios
O MITO DE PROMETED
Sublinhando que nos seus traros essenciais, faz parte do patrimnio
comum indo-europeu, o historiador J. Toutain faz notar que O mito de
Prometeu apresenta analogias com os mitos arianos de Agni nos Vedas,
de Loki entre os germanos, de Lug entre os celtas.
O mito de Prometeu situa-se numa perspectiva de urna histria do universo concebida como evolutiva: marca o advento da consciencia, o
aparecimento do homem. Prometeu roubou aZeus, smbolo do esprito,
a prognie do fogo, seja tirando-a a roda do sol, ou da forja de Hefastos-Vulcano, para lev-la para a terra. Zeus puniu-o por este desafio
lan~ado aos deuses, encadeando-o a um rochedo e lan~ando sobre ele
urna guia que !he devora o fgado.
OARCHOTE
O archote passa de mao em mao ...
Quando a morte aiTebata urna,
A mais prxima vem retom-lo.
Para que o render dos archotes
Pros siga.
O tempo escoa-se rapidamente e ningum pergunta
Quanto tempoo levar.
E necessrio, s, que arda puro e cintilante
E que um cora<;:ao arda com ele!
lsso sim, importante.
Durante urna parte do caminho
A horizontes longnquos
Tu e eu levaremos tambm
Esse archote.
Possa ele claramente resplandecer!
Na obscuridade, diante de ns, j outros
O esperam.
Heinrich ANACKER
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
'
!l<i
Ohomem
exactamente
tao grande
como a chama
que lhe arde
dentro.
BISMARCK .
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Os Solstcios
"'
-o
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e
"'
~
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OSOLEOFOGO
ENTRE OS NOSSOS ANTEPASSADOS
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Os Solstcios
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
(continua9ao da pg. 52)
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Histria e Actualidade
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Na partida dos convidados, sao distribudas prendas: anis de ouro apresentados e recebidos na ponta de urna espada. Negligenciar us-los ou
recusar estes presentes considerado como urna marca de hostilidade.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
(3).
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
ue as chamas
dancem alto
E reaque9am os nossos cora96es.
Que as centelhas irrompam
E tragam luz as nossas almas.
Que as crepita96es nos despertem
Da nossa dormencia.
Que o fumo suba alto
Como sauda9ao ao Senhor
No cu estrelado.
FRED ROSSAERT
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
Em Roma, o fogo o prprio smbolo da vida, do devir da cidade. As vestais sao encarregadas de manter um fogo permanente: jamais a chama
dever morrer. Chamada comunidade, chamada famlia: no atrium de
cada casa encontra-se o lararium, altar em cujo alto aberta urna !areira
ande arde permanentemente o fogo sagrado.
O fogo-so! traz a for9a aos jovens romanos, a chama encontra-se muito
naturalmente associada ao sangue, em Roma como nas outras partes do
mundo indo-europeu.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
No Solstcio de inverno tinham lugar as Saturnais. Saturno, deus das sementes enterradas no solo, era celebrado para ajudar o sol a subir no cu.
P. V.
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Os Solstcios
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Os Solstcios
Em Zapiskis, na Lituania, nas margens do Niemen, encontrase a mais antiga igreja ogival do pas, contruida em 1502.
Quando foi edificada, a populac;:ao encontrava-se ainda dividida
entre o paganismo e o cristianismo. Tambm Perkunas, senhor
todo poderoso da religiao balta primitiva, atingir por duas
vezes a nova igreja com a sua clera. Perkunas era o deus do
fogo e tinha o clarao por smbolo. A sua chama nao parava de
brilhar sobre os altares, mes m o aps a conversao dos Lituanos
ao catolicismo. Dependiam de si o sol e a Iua que tinham as
estrelas porcrianc;:as. Di a e noite, o sol choralgrimas preciosas
que se transformam em flores. Assim nasce a margarida, de
corac;:ao dourado, comas ptalas irradiando como raibs, imagem
do deus ao qua! ela deve a vida.
O fogo tem um desempenho fundamental na religiao primitiva
dos camponeses baltas. Mes mo aps a cristianizac;:ao, nenhum
deles ousava lutar contra u m incendio, nao obstante fosse urna
casa ou urna quinta que se inflamava. A vtima do sinistro
respeitava o fogo que a arruinnva. A nica defesa permitida
consistiaemconstruir, perto do braseiro, e m honrado elemento
destruidor, urna mesa coberta com urna toa! ha branca, ornada
de flores e folhagens e sobre a qua! eram colocados pao e sal.
Se as chamas nao viessem consumar as oferendas, urna mulher
deveria danc;:ar nua em redor da mesa, na esperanc;:a de que
Perkunas, insensvel aos alimentos, fosse atrado pela mulher
e deixasse a casa que consuma.. .
Jean MAUCLERE
Soleil ple de Lithuanie
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Os Solstcios
ESTA CHAMA
Esta chama nao a chama do sacrifcio. , para ns,
o smbolo sensvel da vida, o sorriso de Deus sobre a
terra, de um Deus que chamou a cria~ao avida e nao
a morte ...
Atravs da noite cintila a chama!
Histria e Actualidade
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Fazendo coincidir as su as grandes festas comas do paganismo, o cristianismo arrebatou-lhe ass im e em proveito prprio, o seu simbolismo. O
simbolismo do fogo, tao importante na tradi9ao paga, foi integrado na
liturgia crista. Hoje ainda a sequencia prpria aos Dominicanos na
missa de 25 de Dezembro canta:
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
O Anjo do Conselho
Nasceu da Virgem
O Sol de uma estrela;
Um Sol que ignora o declnio,
Uma estrela sempre resplandecente,
Sempre resplandecente.
Como o astro o raio,
A Virgem produz o Filho
De igual maneira.
ANOSSAF
A nossa f a submissao ao divino no seu sentido de
vida e fecundidade. Mas eles nao viram e nao vem o
di vino se nao no absurdo. A nossa f a insenrao do ser
na comunidade fraternal do princpio vivente. Mas
eles pregaram e continuam a pregar a solidao da morte
nao resgatada. A nossa f a vitria da vida sobre
todas as empresas da morte. Mas eles conservam e
cultivam o vale de lgrimas das decomposi96es. A
nossa f nao nos leva a batalhar com outros, a nossa f
vivida por ns no cumprimento do de ver. Mas eles ...
necessrio que eles discutam e disputem, necessrio
que ataquem e se digam atacados, necessrio que se
refugiem no delrio da persegui9ao. Fazem u m dogma
daquilo a que chamam amor, enquanto ns fazemos
um dogma da ac9ao. Foi-lhes necessrio esperar e
continuar a esperar urna ordem imperativa do seu cu;
a ns, cada di a que pass a, cada novo di a, com as suas
tarefas, religa-nos ao eterno. Nao ternos necessidade
de leis nem de cdigos, nao ternos outra necessi.dade
alm dos deveres da nossa vida.
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Tomando para si mesma os smbolos do paganismo, a lgreja fez u m <<jogo perigoso: arriscou-se a ve-los perpetuarem-se e a conserva~em o seu
significado primignio. Era necessrio entao f~zer _o v~z~o a e~ta
significa9ao primignia, sobrepondo-lhe urna exphca9ao cnsta, o.u seJ_a,
se aquela se mostrava demasiado tenaz, dar-lhe urna exphca9ao
enegrecida.
Suprimir a interpreta9ao paga das tradi96es solsticiais implica.va urna
luta global contra as sobrevivencias do paganismo. Com a aJ~da do
poder secular, a lgreja dedicou-se durante vrios ~c~los ~destrUir es~as
sobrevivencias. Com urna insistencia que mostra a meflccJa da repressao,
os conclios ordenaram a persegui9ao ao paganismo: os canones dos
conclios de Vannes em 491, de Orlans em 541, de Tours em 567, de
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
Eu que nasci
sobre aterra,
experimento
as enfermidades do sol
como um obscurecimento
de mim mesmo
e um dilvio
da minha prpria alma.
Friedrich NIETZSCHE
Os solstcios sao particularmente visados, porque parece terem permanecido muito populares. O hispo de Aries, Csaire, num sermao
pronunciado nos princpios do sculo VI, interdita aos proven9ais de se
banharem nasfontes, nos pantanos e nos rios na noite de S. Joiio e na
madrugada do dia seguinte. Porque, afirma o prelado, este costume
nefasto ressuscita o paganismo. Da mesma maneira, no sculo VII,
Santo Eli ordena: Que ningum, na festa de S. Joiio ou em certas
solenidades dos santos, se exercite na observariio dos Solstcios, das
danras e dos cantos diablicos.
Os clrigos nao conseguiram com as suas maldi96es desenraizar os
costumes do Solstcio. Publicado em Lyon em 1544, o Tractatus de
Superstitionibus deMartin d'Arles, arquidicono de Pamplona, descreve
com reprova9ao os fogos do Solstcio de verao que fazem parte dos
costumes da Gasconha nesta poca.
O Conclio de Trento, em face da vaga da Reforma, recomenda aos
bispos manter sob vigilancia os hbitos colectivos locais, para comprometer sentimentalmente as popula96es ao catolicismo. necessrio,
entretanto, que o clrigo local enquadre cuidadosamente urna festa
como a de S . Joao para lhe eliminar todo o esprito pagao.
Muito instrutivas a este respeito sao as Constituiroes, redigidas por S.
Francisco de Sales, hispo de Gnova no incio do sculo XVII, destinadas
a guiar os curas saboianos na sua ac9ao pastoral. Exortando-os a organizar e a valorizar o fogo de S. J oao, conduzindo at afogueira a procissao das autoridades locais e da popula9ao e dirigindo pessoalmente o desencolar da festa, o autor explica que esta ac9ao o que julgmos tanto
mais necessria, uma vez que niio encontrmos um meio mais apropriado
nem mais suave de extirpar as danras e as imodstias que fazem
degenerar uma festa pblica tiio antiga, tiio justa e tiio santa numa
ocasiiio de deboche e de pecado.
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Os Solstcios
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Histria e Actualidade
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
' . ;
. ~.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
P. V.
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Os Solstcios
INVERNO
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Os So/stcios
a prpria vida.
Outrora, o fogo conservado na lareira dos velhos nrdicos simbolizava
a continuidade da vida atravs dos diversos elos da cadeia familiar. A
casa estava no c ora~ ao da te rra, do dom nio. O fogo estava no cora~ao
da casa, do lar. As gera~6es sucediam-se e transmitiam a heran~a.
Hoje ainda, ofogoconti nua aguardar o seu smbolo eterno. No mais profundo do in verno, permanece como urna imagem do sol, urna imagem
do ritmo das esta~6es e do ritmo da vida. Se m cessar, esta~6es substituem
esta~6 es . Gera~6es sucedem a gera~6es .
A natu reza do fogo nao muda. Vela hum ilde na mao de urna crian ~a,
grande fogo de alegria acesa no c imo de urna colina, fogueira do trio
familiar, crio de lutos, ti~ao de alegria, o fogo sempre a via que sobe
em direc~ao ao cu.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
O SOL E O NORTE
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
J. M .
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Os So/stcios
A COROA DO ADVENTO
Jean FAVRE
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Os Solstcios
FABRICA<;O DE VELAS
Eis urna maneira original de fabricardes as vossas velas do Solstcio de inverno. Tao boas como outras, sao correntemente
utilizadas na Escandinvia.
necessrio o seguinte:
- 60 cm de cordao entranc;ado, de malha muito apertada.
- 1 bloca de parafina e 1/2 bloca de estearina.
- corante a escolha.
- urna cac;arola pequena.
- urna faca de Himina arredondada.
Fazei fundir em fogo muito lento os dais blocas de parafina e de
estearina na cac;arola e juntai o corante.
Quando a cera se tornar lquida e a cor uniforme, inclinai a cac;arola para fazer chegar o lquido at a o bordo e agitai-a lentamente
num movimento rotativo para que se forme urna camada fina na
sua parede.
Histria e Actualidade
Fixam-se quatro velas vermelhas sobre a coroa, sejam velas finas e Iongas com pinc;as prprias para rvore de Natal, sej am velas velas curtas
e grossas colocadas em capelas e amarradas com canotilho. Um outro
procedimento (mais difcil) consiste em pregar de baixo para cima
quatro pregos compridos no crculo de madeira da armac;ao e espetar
neles as velas.
A coro a preparada quatro semanas antes do Solstcio de inverno. iluminada urna vela durante alguns instantes durante a primeira semana,
duas na semana seguinte, depois tres na terceira semana.
Quando, finalmente, chega a noite mais langa do ano, acendem-se as
quatro vel as em conjunto. Assim, amedida que o sol vai declinando, as
velas acesas vao senda mais numerosas, fazendo, de alguma maneira,
urna rendic;ao. Simbolizam, durante a velada do Solstcio, o fim do
inverno, anunciando o regresso do sol.
Passado o tempo das festas, a coroa ser que imada na chamin da casa.
Porque s o fogo deve destruir a folhagem sempre verde do abeto.
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Os Solstcios
OPAINATAL
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Os Solstcios
A SANTA LCIA
em afrikander ..... ... ........ ... ... ........ Een pleisierige Kerfees
em alemao ................... ...... ........ . Frohliche Weihnachten
emblgaro ....................... ... ................... Chestita Koleda
e m checo ............. ........ .............. ........ ...... Vesele Vanoce
e m croata ....... ..... ......... .................. .......... .. S retan Bozic
em dinamarques .......... .... .............. ....... ...... Glaedelig Jul
em eslovaco .... .... .................................... Vesele vianoce
em espanhol ...... ........ ......................... ...... Feliz Navidad
em estoniano ........... .... ................. Room said Joulu Puhi
em finlandes .............................................. lloista Joulua
em frances .......................................... ........ Joyeux Noel
em gaules ... ....... .............. ...................... Nodolig Llawen
em grego .............................. ........... ........ Hristos Se rodi
e m holandes .................... ........ ............ Vroolijk Kerfeest
e m ?n~aro .................... Kellemes karacsonyi unnepeket
em mgles ................... .................. .... .... Merry Christmas
e m italiano ... .......... .... .......... ........ Buone Deste Natalizie
e m letao ........ ........ .......... .... ..... Priecigus Ziemassvetkus
em lituano ............. ............... ....... ... .... .. Linksmu Kaledu
em noruegues ................... ............... ............ Gledelig Jul
em polaco .. .. ................. .......... ............. Wesellych Swiat
em portugues .... ..................... ........ ... ........... Boas Festas
e m ro meno ............ ................................ Sarbatori vese/e
e m srvio .... .......... ......................... .... .. Cestimano Bozic
e m sueco .. ........... ... .... ........ ...... ....... .... .... ...... .... God J ul
e m ucraniano ... .............. .......... Srozhdestvom Kristovym
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
Nao possvel desnaturar mais urna trad ic;ao maravilhosa (ll. Entretanto, esta degenerescencia nao afectou em nada o conjunto da Sucia.
Na Alscia vamos encontrar tambm Santa Lcia. Durante o perodo de
Natal aparece urna jovem vestida de branco, a cabec;a guarnecida com
urna coroa de velas. Repetidamente vai tangendo urna sineta e anuncia
com badaladas o perodo consagrado. Da cintura pendem, por vezes, de
cada lado do vestido, fitas multicolores. Pertodelaencontra-se frequentemente outra personagem: Hans Tropp. Este costume do Christkindl
existe tambm na Alemanha, em especial no Odenwald (bosque de
Odin).
(1) Nos pases ondeo Advento come;a co m Santa Lcia, o tempo do Solstcio de
inverno termi na u m ms mais tarde, a 13 ele Janeiro. Neste di a, a rvore de Natal despojada de todos os seus ornamentos e lan;ada fora pela j anela.
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Histria e Actualidade
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lOS
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VELADA NA PROVEN<;A
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?o
Frdric MISTRAL
no ponto mais profundo do ano que de ve situar-se agrande pausa criadora, logo que a terra respira de novo. Urna grande calma instala-se na
casa, essa grande calma que deve penetrar em cada u m de ns ao menos
urna vez por ano, se queremos lanr;ar u m olhar novo- simultaneamente
fiel e lcido- sobre o mundo.
No decorrerdestas doze noites sagradas renascer a luz que vai iluminar
um novo ano. Luz exterior e luz interior. Fogo de acr;ao e chama do
sonho.
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Os Solstcios
A DECORAc;A.o DA CASA
FOGO DA ALEGRIA
NOS NOSSOS CORAc;ES
O azevinho
Presos no tecto, suspensos das paredes, dispostos sobre os mveis, os
ramos trazem ao lar a presen~a viva da natu reza. Convm escolher espcies que nao morram durante o inverno: visco, abeto e, sobretudo, azevinho. As su as folhas luzidias e as bagas verme!has sao a dec ora~ao mais
caracterstica do perodo das festas .
Toda esta verdura simboliza a permanencia da vida, apesar do assalto
da esta~ao m.
Coroas e gri naldas serao atadas com fitas de papel dourado, ou em seda
de cor viva. necessrio respeitar a harmona e limitar a dois o nmero
de cores. O vermelho e o amarelo evocam o fogo e o sol. Sao tambm
estas as cores da Normandia e da Ocitiinia. Nao esquecer que cada
provncia tem as suas: branco e negro, a Bretanha. Negro e amare!o, a
Flandres. Vermelho e branco, a Alscia. Azul e amarelo, a Ilha da
Fran~a. etc ..
Para decorar a casa num quadro rstico, possvel confeccionar com
achas pequenas de btula runas inspiradas nas letras do alfabeto ou
futhark germiinico. Colocadas num fundo de verdura, podem dispa r-se tambm as doze runas dos meses, homlogas nrdicas dos signos do
Zorlaco.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
O visco
Urna bola grande de visco decora a porta da casa, no exterior. Pode suspender-se por meio de fitas vermelhas, tentando dispar urna iluminac;:ao
na su a proximidade ou, melhor ainda, atrs do visco. Pode tambm pendurar-se o visco no interior, num lustre, numa trave. De ve ser queimado
no fogo, geralmente depois da ltima viglia do ciclo de doze dias, ou
seja, na festa dos Reis.
O abeto
A tradicional rvore de Natal parece ser de importac;:ao relativamente
recente na Franc;:a. Originria dos pases germanicos, remonta aantiguidade paga na Alscia (J. Lefftz, Elsiissische Dorjbilder, Woerth, 1960).
Foi introduzida na Franc;:a interior depois da guerra de 1870 pelos
refugiados alsacianos. Muitas provncias francesas nao a adoptaram
senao depois da ltima guerra. Mas acabou por impor-se hoje em todos
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
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Saudamos a luz.
Abrimos os nossos cora~oes.
Levantamos as maos.
Sobe, chama! Sobe!
Saudamos o sol,
Saudamos a vida.
Saudamos aquele que foi a origem.
A fogueira
A pec;:a mestra da decorac;:ao do lar a fogueira. Vamos encontr-la na
maior parte das provncias europeias. Chamada Yul-Clog na Inglaterra,
tem, passada a Mancha, os nomes mais diversos. Na Normandiachama-se, curiosamente, Trefouet, visto que deve arder durante tres das.
............
..
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
Silencioso
cu de inverno
bordado
a neve.
Cabe~a
branca
de olhos
alvos
sobre mim.
Oh!
divino
smbolo
da minha alma
e da minha
coragem.
Podem gravar-se nesta acha divisas, signos ou runas em intens:oes particulares. Quando o fogo arder, os pensamentos e os desejos de toda a
famlia serao assim consumidos e sublimados.
Precisamente antes de ser colocada na lareira, a acha deve ser regada
com aguardente pela crians:a mais pequena da casa.
A mais velha das crians:as coloca a acha sobre urna base cu idadosamente
preparadacom papel amarrotado, raminhos e gravetos. De ve em seguida
atear o fogo com u m tis:ao proveniente do Solstcio de vedo precedente.
E dizer, entao:
- Que esta chama vinda do da mais long o do ano nos ilumine durante
a noite mais longa. Que, com ela, o sol volte nossa casa.
Friedrich
NIETZSCHE
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
As tres velas
Enquanto o fogo arde na chamin vigiado pelo dono da casa, toda a famlia se reune em redor da mesa familiar e toma assento no lugar que !he
for designado pela dona da casa.
Convm enUio acender as velas simblicas desta velada.
~..~c.n-& a
eda~~,
aot ~ de{uU4 da
~,a~~
~ d4 ~ ~- A44im,
C<Yta~,~~a
afflJ-
&,
~~~a
com-o. eta
H-a
afflJ- ~
co.vteute d0-4
~,~~).~
a U<J44a ~e a d4~uwa.
(1) Estas tres velas simblicas dos parentes desaparecidos, dos amigos ausentes e das
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
As prendas
Urna vez as tres velas acesas, cada u m pode desembrulhar a prenda que
est sobre o seu guardanapo. Nao se trata aqui dos presentes clssicos
que costume dar as crianc;as e aos adultos no dia 25. Nesta noite do
Solstcio de inverno nao devem oferecer-se senao objectos simblicos.
Cada urna das crianc;as deve receber o seguinte:
- U m pao pequeno, se possvel redondo e em forma de roda solar.
- U m objecto em madeira: copo ou tac;a, argolade guardanapo, castic;al,
etc., inspirados no artesanato popular, com motivos pirogravados ou
pintados.
- Um objecto de ferro para os rapazes: faca, fivela de cinto, portachaves (com drakkar e roda solar, emblema herldico, reproduc;ao de
velhos sinetes, etc.).
- U m objecto de fio para as raparigas: fitas ornamentadas com motivos
folklricos, lenc;os, aventa!, objectos de costura com porta-agulhas, etc ..
Todos estes objectos deverao ser personalisados ao mximo. Pode
mes m o terem gravados ou bordados os nomes de cada urna das crianc;as.
O pai e a mae oferecem-se mutuamente u m presente, cuja natureza deixada a discrec;ao de cada um, mas que devem inscrever-se no quadro
desta festa.
Os presentes devem ser embrulhados em papel com motivos alusivos a
poca, que se encontram a venda em todas as lojas. Serao atados com
fitas decore terao urna etiqueta com o nome de cada um.
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Os Solstcios
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A torre de Jul
Depois da descoberta por cada u m do seu presente, vem o momento solene da iluminar;ao da torre de Jul.
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
A ceia
RECEITA DO GLOEGG SUECO
A palavra g!Ogg a contracyao da expressao glodgad
dryck que significa em sueco bebida incandescente
simultaneamente brilhante pela temperatura a que deve se;
consumida e rubra pela colorayao que !he d o vinho tinto.
Ingredientes:
- 1 litro de vinho tinto
- 1 clice de aguardente
- 100 gr. de pass as
- 100 gr. de amendoas piladas
- urna pitada de noz moscada
- 3 figos secos
- 3 ps de cravinho
- 2 paus de canela
- 1 casca de laranja de compota
- um pouco de gengibre (facultativo)
- 250 gr. de aycar.
Por a noz moscada, o cravinho, a canela, a casca de laranja
e o gengibre num pano e fazer macerar tudo no vinho tinto.
Juntar as uvas-passas e o aycar directamente ao vinho.
De ixar repousar durante seis horas. Tirar entao o pano e
verter o contedo no vinho. Juntar a aguardente e aquecer
ao lume at entrar em ebuliyao. Servir a ferver, juntando
um pouco de figo e amendoas em cada copo.
Para obterum g!Ogg mais encorpado, pode substituir-se
o vinho por conhaque.
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OVOS
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Os Solsrcios
Hisrria e Acrualidade
A velada
Terminada a ceia, a famlia reune-se avolta do fogo. A velada, propriamente dita, come<;a. Deve ser relativamente curta, pois que termina
pouco antes da meia-noite.
De qualquer mane ira, preferve! que as crian<;as possam assistir at ao
fim; nao deverao ficar com a impressao de que algo continua depois da
hora de irem para a cama ...
Durante esta velada, cada u m pode lan<;ar no fogo casca de rvores gravadas, geralmente com runas. Este gesto temo significado de um voto
e pode tambm comparar-se ao salto sobre o fogo no Solstcio de verao,
altura em que costume pronunciar u m desejo ou u m desafio ao puJar
sobre as chamas.
O uso e m certas regi6es de ati<;ar vigorosamente o fogo durante a velada. Na Borgonha existe mesmo urna cantilena que deve acompanhar
este gesto, proferida pelo avo:
- Evy, evy, eveyons autant de gerbes que de gerbeillons (quanto
mais as achas produzirem falhas, o u centelhas, mais molhos de cereais
haver nas colheitas) <
''
Noutras tradi<;6es, pelo contrrio, recomenda-se nao tocar no fogo durante toda a velada. Em certas regi6es, nomeadamente em Tricastin, no
Delfinato, o chefe de famlia verte vinho sobre a fogueira incandescente
e diz:
- Catcho-fio mt(m, catcho-jio lven. S l'an que vin sian pas mai;
fu gen pasmen ( P6e a acha, tira a acha. Se no ano que vem nao formos
mais numerosos, que nao sejamos menos numerosos).
Durante a velada, qualquer um pode contar histri as.
( 1) Niio possvel traduzir esta frase, visto que se perderia o sentido e a rima originais.
Preferimos deix-la assim mesmo (N.T.).
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Os Solstcios
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Histria e Actualidade
EstamQs reunidos esta noite, avolta deste fogo, nesta casa quente de
janelas bem fechadas, como numa cidadela cercada por inimigos
poderosos.
Impelidos por um receio, mas tambm por uma esperan~a, vindos os
dois dofundo dos tempos, herdeiros dos nossos long{nquos antepassados,
sentamo-nos volta destas chamas, smbolos da vida.
Inverno,cor
das velhas
migra~oes celestes
A tua noite de repouso! Esta noite nica, noite mais tonga que o da,
noite total para alguns, noite gelada, noite de gelo e de geada, noite de
Jul, no mais escuro do inverno, durante a qual as tempestades geladas
impedem o crescimento do menor germen de vida.
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
ACHAMA
Este fogo resume urna tradi<;ao viva. Nao urna imagem
vaga, mas urna realidade. Urna realidade tao tangvel
como a dureza desta pedra ou o sopro do vento. O
smbolo do Solstcio que a vida nao pode morrer. Os
nossos antepassados acreditavam que o sol nao
abandona os homens e que volta todos os anos ao encontra da primavera.
Cremos, como eles, que a vida nao morre e que,yara
l da morte dos indivduos, a vida colectiva contmua.
Que importa o que ser amanha. levantando-nos
hoje, afirmando que queremos permanecer como
somos, que o amanha pode vir.
Levamos e m ns a chama. A chama pura des te fogo de
f. Nao um fogo de lembran<;a. Nao um fogo de
piedade filial. U m fogo de alegria e de intensidade que
ternos que acender sobre a nossa terra. L queremos
viver e cumprir o nosso dever como homens, sem
renegarnenhumadas particularidades do nosso sangue,
da nossa histria, da nossa f, amalgamadas nas
nossas recorda<;6es e nas nossas veias ...
Tudo isto nao a ressurrei<;ao de um rito abolido. a
continua<;ao de urna grande tradi<;ao. De urna tradi<;ao
que mergulha as su as razes no mais prof~n~o das idades e que nao quer desaparecer. Urna tra?t<;a? e~ que,
cada modifica<;ao, s de ve refor<;ar o senttdo stmbohco.
Urna tradi<;ao que a pouco e pouco revive.
Jean MABIRE
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J ul, festa dos martas, dos antepassados, em quem pensamos esta noite.
Festa das crianr;as, das nossas crianr;as, a quem transmitimos, elos de
uma langa cadeia, a chama que nos transmitiram os nossos avs.
Compreendendo a sua significar;iio, orientando as nossas vidas no
sentido do grande rio da Vida eterna, iluminamos a chama de Jul e que
o seu cla-riio resplander;a nos olhos das crianr;as, nos olhos dos que
sabem recor-dar-se quejforam crianr;as e que podem, por uma noite,
voltar a se-lo.
Assim, a acha inflama a acha, at que sejam consumidas. O fogo
alimenta-se de fogo .
Assim, odia segue-se ao di a, para ! da sombra da noite, o sol reaparece
destruindo a obscuridade, a primavera regressa apesar do inverno
gelado.
Assim devemos ns acolher alegremente o ano que vem substituir o ano
que passou e, como elo na cadeia dos nossos avs, prolongar no tempo
a nossa linhagem e a do nosso pavo.
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Os Solstcios
OS REIS E O ENCERRAMENTO
DO CICLO DE JUL
No duodcimo di a do ciclo do Solstcio de inverno vem a festa dos Reis.
A despeito da su a coroa, esta festa mais solar que monrquica, e mais
paga que crista, apesar da lenda dos Magos orientais.
Entre 25 de Dezembro e 6 de Janeiro, as famlias visitam-se. Admirase a decorac;ao da casa, compara-se o visco, o azevinho e o abeto, encontram-se sob a coro a do Advento que brilha comas su as quatro velas e m
cada noite.
Agora as noites sao u m pouco mais curtas. O ano novo chegou. Retoma-se o trabalho. Antes de deixar durante doze meses o mundo encantador
e encantado das festas da grande passagem da estac;ao m, convm
reencontrar paren tes e amigos durante urna grande refeic;io tomada em
comum.
Arthur de GOBINEAU
Outrora, nas nossas zonas rurais, os Reis tinham urna importancia maior
ainda que o Natal. Nesse dia, entre as famlias pobres, comia-se carne
pela nica vez no ano e o servic;al tinha urna Jicene; a para passar algumas
horas com a famlia.
O povo deseja u m chefe que assuma a func;io soberana. Os seus sbditos
exigem somente, segundo um costume ancestral, e desde que o seu
poder nao seja efmero, que o seu chefe seja designado pelo acaso.
o rei.
O rei de urna noite, o rei dos feij6es, pois que alcanc;a a sua soberania
na fava di ssimulada num bolo.
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
HOLDERLIN
A festa dos Reis reune, m u itas vezes, urna vasta mesa. A famlia encontra-se en tao entendida no seu sentido mais largo. Por vezes mesmo, os
Reis reunem os habitantes de urna aldeia, os membros de um coral ou
grupo folklrico, os velhos de cabe los brancos ou aindaos conscritos
do ano.
A distribui;ao das fatias do bolo faz-se segundo ritos que variam
segundo as regi6es. Na Normandia, especialmente no Cotentin, existe
u m costume a inda muito vivo. Urna crian;a esconde-se, isto , metese debaixo da mesa. No meio do silencio, o dono da casa toca com urna
faca ou um garfo a primeira fatia, dizendo:
- Phoeb Domin, para quem ?
- Para o bom Deus, responde a crian;a.
Este bocado posto a parte, para os pobres.
Depois, cada vez que o dono da casa toca numa fati a repetindo a frmula,
a crian;a nomeia u m dos con vi vas. Guarda-se tambm a parte do ausente, e o estado de conserva;ao destaparte indica o estado de sade des te.
Quando a fava encontrada e o Re quer beber, toda a gente exclama:
- Phoeb Domin, Phoeb Domin, o Rei bebe!
Procurou saber-se o que era este misterioso Phoeb Domin. Nao
preciso ser u m grande clrigo para descobrir que este Mestre Phoebus
nao pode ser senao o Sol.
Os Res ligam-se, pois, muito estreitamente, ao ciclo solar do Solstcio
de inverno e constituem a sua ltima e alegre manifesta;ao.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
douard HERRIOT
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Tal era o costume que Millin relata na sua obra Voyage dans le Midi .
E m seis meses, encontramos coulines-vaulots normandas e os todes
provenyais: sao as tochas que brandem, num longo serpentear de fogo,
os rapazes e as raparigas que sobem em direcyao as nossas colinas
sagradas, ande vao acender os fogos do Solstcio de verao.
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Os Solstcios
tt
VERO
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Os Solstcios
DO SOLSTCIO
AOS.JOO
Situado entre as sementeiras e as colheitas, o Solstcio de verao a
contrapartida esti val do Ju l. Mas, contrariamente a este ltimo, que te m
um carcter de grand e intimidade e nao celebrado seniio
excepcionalmente forado quadro familiar, o Solstcio de veriio aparece
como a festa comunitria por excelencia.
V indo de urna poca em que os trabalhos agrcolas sao particularmente
absorventes, a festa do dia mais longo do ano nao se prolonga durante
u m ciclo de doze di as como a do Solstcio de inverno. Entretanto, entre
os franceses de outrora, o ciclo do Solstcio de verao estendia-se desde
o S. Joao, 24 de Junho, at ao S. Pedro, 29 de Junho. O que exprime um
ditado popular dos Altos Alpes: S. Joao traza lenha e S. Pedro acende-a.
Jean de Vries pos em evidenciadois aspectos nesta festa. O fogo , para
come<;ar, purificador. Durante os perodos de epidemias, os antigos nrdicos, at u m perodo muito prximo do nosso, tinham o hbito de acender Nodfyr, cuja origem paga foi qualificada como demonaca pelos
evangelizadores cristaos. Estes fogos procedem da medicina popular,
devem purificar os estbulos, curar o gado e os animais domsticos. Da
mesma maneira, no S. Joao salta-se porcimado fogo e guardam-se brasas que darao protec<;iio contra o raio.
No fogo
se tempera o ferro
e em a~o se torna
Henri CONSCIENCE
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Os Solstcios
FOGOEF
O SENTIDO DA FESTA
H mais de 6.000 anos os nossos antepassados passaram
do estado da colheita a da agricultura. Operava-se urna
grande revolw;ao na maneira de viver: foi a revolw;ao
neoltica. Os nossos antepassados saam da vida errante
para seguir o ritmo das esta96es. O sol e o fogo tomavamse essenciais. Na ocasiao do Solstcio de inverno, no meio
do frio e dos gel os, vemos o sol imobilizar-se no horizonte
para voltar a subir no cu: a festa da esperan9a!
Depois chega a primavera e o renascimento da vida, que
conhece a sua vitria no Solstcio de verao, no S. Joao.
O ouro do trigo responde ao ouro do sol, as searas ondeiam
docemente com o sopro benvolo de Balder. Antes do
grande sono no inverno, as colheitas encherao os celeiros.
O sol est no ponto mais alto da sua viagem. O S . Joao, a
festa de Balder, a festa da natureza em toda a sua glria,
a festa das searas e das colheitas. A natureza est rica, os
celeiros estao cheias, os homens e os deuses estao alegres.
Chama da fogueira, luz e calor na noite reaquecem os
nossos cora96es. Nada substituir estas chamas claras, a
madeira que estala, as brasas incandescentes, o fumo que
sobe no cu, estacomunhao como universo inteiro que nos
envolve no grande manto da noite. Esta chama clara e a do
sol permitiram aos no ssos antepassados que se
alimentassem e subsistissem. Brilha como a nossa f.
Alma do u ni verso, alma dos nossos antepassados, que vive
em ns esta noite!
Georges BERNAGE
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
Reatar voltar a encontrar o fio perdido. voltar as origens da nossa comunidadedeculturae de civiliza~ao. A este respeito o Solstcio de verao
possui u m valor exemplar. Durante vrios sculos sofreu as consequencias da sufoca~ao que o cristianismo lhe quis impor, para acabar por ser
tolerado soba forma de festa de S. Joao. No entanto, um pouco por toda
a parte, nas terras da Europa, os fogos solsticiais mantem-se e renascem,
testemunhando a dedica~ao dos nossos povos a urna certa concep~ao do
mundo. A festa solar volta a inserir o homem no seu quadro csmico.
Reatar com esta festa da Europa mais antiga afirmar a nossa fidelidade
a heran9a ancestral e, atravs desta, a nossa identidade.
N esta segunda metade do sculo XX, o Solstcio de verao conserva urna
dimensao fundamentalmente comunitria. Continua a ser o momento
privilegiado para, junto da fogueira de chamas claras, o indivduo voltar
a encontrar o seu cla.
Philippe CONRAD
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Os Solstcios
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TRADI<;ES DO SOLSTCIO DE VERO
A TRAVS DA EUROPA
NaSucia, o Midsommar gozadeumaenorme popularidade. Celebrado
no momento mais luminoso do belo verao escandinavo, coincide com
o princpio das frias. erguido u m mastro em todos os prados: avolta
deste Majstang decorado com folhas e flores, coroas e grinaldas, que
se vai dan~ar. Outrora, esta rvore de Maio tinha a forma de urna mulher.
Este costume foi interdito no sculo XVII porque dava lugar a jogos
selvagens e inconvenientes. N esta noite nica ningum quera dormir.
Beber-se- muito. Serao inmeros os pares amorosos. Cantam, dan~am,
banqueteiam-se, numerosos grupos aguardam o nascer do dia.
As jovens colhem em silencio um ramo de flores formado por nove
espcies diferentes e colhidas e m nove prados. Este ramo colocado durante a noite debaixo do travesseiro, a fim de que os seus sonhos possam
realizar-se.
O NCKEN
Os habitantes do norte da Europa contam que nesta
poca do Solstcio de verao que o msico de aldeia vai
ver o Nacken, homem jovem, segundo uns, um
velho, segundo outros, que toca violino com os ps
mergulhados na gua corren te dum ribeiro, encostado
a urna cascata, no cora~ao da floresta. O Nacken
ensinar-lhe- certas coisas, mas roubar-lhe- a alma
em troca. Regressado ao povoado, o msico brinca
como um louco; est sob o encanto dum sortilgio:
todos os habitantes se p6em a dan~ar, possudos pelo
estranho poder do Nacken.
Na Noruega, o Solstcio de verao festejado por dois fogos acesos durante a noite que o precede. As casas sao decoradas com ramos de btula.
Todos bebem e dan~am o Springar e o gangar. Estas dan~as sao inspiradas no tema tradicional dos tomeios amorosos. Desenrolam-se, no
princpio, coma participa~ao das crian~as, depois coma dos adolescentes
dos dois sexos, e, finalmente, coma dos casais. Por vezes os dan~arinos
sao dispostos em crculos concentricos, outras vezes sucedem-se uns
aos outros, deixando cada grupo lugar ao grupo seguinte. O
acompanhamento destas dan~as assegurado essencialmente por um
violino rstico(f ele) de som u m tanto spero, cujas cordas sao metlicas
ou de tripa.
Na Dinamarca acendem-se milhares de fogos na noite do Solstcio.
costume, nalguns stios, por urna bruxa de palha sentada num pau de
vassoura no cimo da fogueira. Quando as chamas lambem as roupas,
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
Jean FAVRE
Ao tombar do dia, quando os trabalhos primaveris do lavrador letao
estao acabados, que tu do est preparado para a col he ita que comeya com
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
Ofogo
faz-se mar
e, do mar,
metade faz-se
terra,
outra metade
nvem ardente.
HERCLITO
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
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Henry de MONTHERLANT
P. V .
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Os Solstcios
FOGOS EM TODAS AS
PROVNCIAS DA FRAN<;A
A tradi;ao de acender fogueiras no S. Joao encontra-se em todas as
provncias da Fran;a. O desenrolar da velada do Solstcio de verao que
descrevemos no captulo seguinte inspira-se em numerosos costumes
locais que constituem, de alguma maneira, urna sntese.
As tradi;6es da prepara;ao e acender de urna fogueira parecem-se muito de urna para outra regiao. Por exemplo, a que se faz ainda hoje em
Vasteville, em Hague, no ponto ocidental extremo da pennsula do Cotentin, na Normandia: Espeta-se no chao urna estaca alta de madeira
verde no lugar da fogueira, depois os homens come;am a empilhar bra;ados de len ha com a ajuda dos mais novos. Chegados a urna altura de
cerca de u m metro, abrem urna espcie de chamins para a tiragem do
fumo diante de cada u m dos pontos cardiais; a partir destas chamins,
vao abrindo outra a volta da estaca e continuam a empilhar a lenha em
piramide at acabaremos feixes (cerca de quatrocentos ou quinhentos).
Durante todo este tempo as raparigas preparam urna coroa com flores
naturais que ir ser colocada com urna pequena bandeira no ponto mais
alto da estaca( ... ). O padre acende com um crio a chamin voltada
para leste, passa o crio ao presidente da Camara que acende a do sul;
o presidente da Camara, por sua vez, passa o crio ao dador mais
generoso de lenha, que acende no lado oeste e, finalmente, os que, na
comuna, casara m e m ltimo lugar, acendem a que fica virada para norte.
Depressa as chamas sobem para o cu encaminhadas pela chamin, o
que impedir que a fogueira se abata (Lucien Bourdon, in Parlers et
Traditions Populaires de Normandie, vol. II, fase . 8, 1970).
Em Octeviiie-d'Avenel, no Val deSaire, sempre no Cotentin, a fogueira
nao feita com menos de dois mil bra;ados de lenha.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
Nao se destri urna civiliza9ao senao quando se destroem os seus de uses. Os cristaos nao ousam atacar de
frente o Imprio, agarram-se a religiao. Deixaram-se
perseguir para melhor o poderem fulminar e satisfazerem o seu irreprimvel apetite de execra9ao. Como
teriam sido desprezados se nao tivesse havido o propsito de os promover acategoriade vtimas! Tudo no
paganismo, at a sua prpria tolerancia, os exasperava. Fanatizados nas suas incertezas, nao podiam
compreender os que, a maneira dos pagaos, se resignavam as verosimilhan9as, nem que seguissem um
culto em que os padres, simples magistrados encarregados das cerimnias do ritual, nao impunham a
ningum o castigo da sinceridade.
E.M.CIORAN
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O fogo de S. Joao foi. durante muito tempo, urna das grandes festas oficiais. A Corte participava muitssimas vezes. O prprio rei tinha na rnesma um papel activo. Luis XI, que se juntava voluntariamente as festas
populares, honrou coma su a presen~a mais que u m dos fogos da capital.
O de 1471 foi aceso pessoalmente por ele.
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Os Solstcios
Histria e Actualidade
o
Merece m ser citados alguns costumes particulares. Entenda-se, porm,
que nao sao senao exemplos que se inscrevem entre milhares de outras
tradis:oes populares:
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Histria e Actualidade
Os Solstcios
O LOBO VERDE
A pennsula de Jumieges, numa das curvas do Sena, ajusante de Rouen , constitu o quadro duma manifesta~ao
folklrica bastante singular, que parece remontar a epoca
paga escandinava e evoca as antigas confrarias de guerreiros
nrdicos.
Como nome lrmaos de Caridade de S. Joao Baptista
mantem-se activo um grupo de costumes originais, essencialmente orientados na celebra~ao do Solstcio de verao.
A confraria foi fundada, como todas as caridades tao numerosas a inda na Normandia, para cuidar dos doentes e sepultar os mortos.
A 23 de Junho de cada ano, todos os membros da confraria
se juntam em casa de um particular designado na regiao
como no me de Lobo Verde. Usam u m capuz coma imagem de S. Joao Baptista.
(continua pg. 168)
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Na Bretanha, os que assistem ao fogo de S. J oao dispoem pedras e m crculo a volta da fogueira, a fim de que os paren tes falecidos e at os mais
longnquos antepassados possam vir repousar e aquecer-se.
Em Poitou, no S. Joao, envolve-se urna roda de carro com palha que
aceso de seguidacom u m crio benzido. Ressuscitandoum antiqussimo
rito solar, os habitantes lan~am depois a roda e m fogo pelos campos que
querem fertilizar.
Na Guiana faz-se em 24 de Junho urna peregrina~ao a fon te miraculosa
de Bourricos, em Ponteux-les-Forges. Esta fonte encontra-se adossada
a urna capela consagrada a S . Joao.
Na Lorena os lavradores expoem as chamas das fogueiras de S. Joao
paus de aveleira. Plantam-nos depois nos seus campos para repelir as
tempestades e fazer que o canhamo cres~a mais que a vara.
Na Alscia, os rapazes tem que saltar o mais alto possvel por cima da
fogueira. Pensa-se que o trigo crescer tanto quanto mais alto foro salto. O fogo de S . Joao chamado Sungichtfeuer (Sungicht: Solstcio).
No sculo XVI, Jaysersberg, Trckheim e Ammerschweier faziam
rebolar a suaSunnig Radt, a su a roda solar ou roda de fogo. As crianyas
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Histria e Actualidade
Didier PATTE
J. M.
(i n Manual de Folklore Frances Contemporneo de Arnold van Gennep)
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Os Solstcios
A alma
,
e
naturalmente
paga
E. M. CIORAN
para dar aos que desejariam tomar a iniciativa de organizar fogos solsticiais u m exemplo do que possvel fazer, que escrevemos o que segue.
Precisamos que estas sugestoes sejam o fruto de experiencias prticas,
fe itas com meios materiais reduzidos. Trata-se, be m entendido, de fazer
u m plano. Pode m ser previstos acrescentos, mas, rigorosamente na me. dida em que se inscrevam no esprito das tradifoes europeias do
Solstcio. Em especial, cada regiao pode contribuir coma decora~ ao (fitas para a coro a de folhas), com cantos, coma composi~ao das meren das,
enfim, com as suas notas particulares.
Data
preciso notar que a festa do Solstcio nao dura mais que u m dia. Para
sermos rigorosos, urna noite. A razao simples: que tem lugar numa
poca em que as pessoas estilo pesadamente sobrecarregadas com os
trabalhos da terra. Se nao coincidir com um feriado, a celebra~ao pode
ter lugar na noite do sbado mais prximo do dia 23 de Junho.
Organiza~ao
Agrupando a populayao da aldeia e a presentando o mximo de espontaneidade, importa que esta festa seja organizada. Convm designar um
grupo muito reduzido de pessoas, cada urna del as com tarefas bem definidas.
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Os Solstcios
EIS OS.JOO
Tradicionalmente cantada no Solstcio de verao, esta cantiga
est muito difundida nas provncias francesas e comporta
diferentes verses.
Evoca<;ao do Solstcio de verao, tao ligeira como urna can<;ao
da Renascen<;a, acha Andr Gaultier. O refrao precioso, a
ordena<;ao das quadras, tu do deixa adivinhar que Va, mon ami,
va remonta provavelmente ao fim do sculo XVIII.
Voici la Saint-Jean, la belle journe (bis)
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Histria e Actualidade
Lugar
O local ser, de preferencia, num stio elevado, onde o fogo seja visto
de longe e de onde se possam ver outros fogos nos arredores. Convm
ter o cuidado de obter tao cedo quanto possvel a autoriza9ao do dono
do terreno. O lugar devia ser escolhido num local iegendrio, como
quase sempre existe em todas as aldeias (junto de urna pedra memorial,
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Os Solstcios
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Assistencia
Toda a gente deve ser prevenida e convidada. Mas este fogo deve ser
tambm urna festa ntima. Nao devem deixar-se instalar carrocis ou
vendedores de quisquer espcie de artigos. Seria bom contactar nesta
ocasiao pessoas da aldeia que vivem fora para estarem presentes nesta
noite.
Procura da lenha
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A equipa, composta por rapazes e homens e chefiada pelo mestre do fogo, de ver fazer urna previsao da madeira que ser necessria para a fogueira e para a su a manuten9ao durante todo o tempo que durar a velada.
O ideal dar urna volta pelas quintas vizinhas, a casa das pessoas prevenidas com antecedencia e que estejam de acordo em fornecer u m pouco
de Jenha. H urna tradiyao dizendo que se deve roubar a lenha aqueles
que se recusarem a d-la! E, de preferencia, tres achas, e m vez de duas .. .
A madeira recolhida carregada numa carro9a enfeitada com folhagens
e fitas econduzida ao local do fogo. Os toros deverao ficar separados das
achas.
Montagem da fogueira
A pilha de lenha ter sempre no seu interior palha e madeira bem seca
que, sendo nenessrio, se regado inicialmente com um pouco de
petrleo o u gasolina, urna vez que a chama deve ser muito alta. A melhor
maneira de a montar, nao s por ser a mais slida como tambm a mais
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Histria e Actualidade
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Urna grande roda solar colocada de u m dos lados da fogueira, de preferencia, se possvel, do lado norte. Nas numerosas regioes era costume
no sculo passado po-la na prpria fogueira, alm da palha, das
achas,dos toros, das aparas acumuladas durante todo o ano pelo
marceneiro e pelo carpinteiro, de roupas velhas, de silvas e de ervas
daninhas .
Merenda
O que melhor convm a um Solstcio de verao urna merendacampestre
adaptada, quanto a sua composir;ao, a regiao onde nos encontramos.
necessrio impedir o repasto gastronmico (sobretudo se muito
regado com bebidas!), urna vez que retem os participantes demasiado
tempo a mesa, alm de ganhar urna importancia desproporcionada no
desenrolar da festa: o repasto deve ter Jugar no incio da noite, a fim de
nao a perturbar. Pode instalar-se a merenda num local prximo do local
da fogueira, se a celebrar;ao do Solstcio se des enrolar numa propriedade
fechada, ou seja, no local de onde partir o cortejo para se dirigir para
!.
Jean POUEIGH
Le Folklore des Pays d'Oc
Organizac;ao do cortejo
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Histria e Actualidade
O acender da fogueira
a parte inaugural da velada. Relativamente aos que devem acender o
VERLAINE
Quatro pessoas portadoras de tochas sao colocados nos quatro pontos
cardiais, num raio de urna centena de metros. O animador da velada
toma a palavra:
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Histria e Acrualidade
Plano da velada
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Histria e Actualidade
Cerimonial
O acender do fogo, evocado mais atrs, o incio do cerimonial. Ao mesm o tempo que sobem as primeiras chamas, o animador dir algumas palavras, simples e breves, sobre o significado simblico do fogo (o tema
principal de tal exposi~iio pode ser tirado do texto intitulado Fogo e
F, citado em anexo, pg. 148). De ve seguir-se u m programa de textos
de evoca~ao e de cantos previamente bem ensaiados.
O ltimo acto destaparte marcado pelo lan~amento ao fogo de achas
marcadas com runas em inten~ao dos desaparecidos ou de amigos
ausentes, achas que teriio sido preparadas por aqueles que o desejarem.
Velada
O animador de ve anunciar claramente que a parte cerimonial est terminada e que se passa agora a velada. Acrescentar que esta se prolonga
at a meia-noite. A esta hora, os que desejarem poderiio retirar-se. Os
outros deverao, avolta do fogo, esperar pelo alvorecer e ver levantar-se
o disco de ouro. O animador ter, em qualquer caso, convocado
antecipadamente um certo nmero de amigos para todos montarem
guarda ao fogo toda a noite. Os que ficarem at a alvorada terao o
privilgio de poderem levar carv6es que ficarao guardados nos seus
lares e poderiio ser colocados no fogo do ano seguinte.
A transi~ao entre a parte cerimonial e a parte da viglia pode ser marcada
por urna distribui~ao de vinho quente a volta da fogueira. Depois,
desfilar avolta da fogueira urna parada de bandeiras das provncias presentes. O momento chega, finalmente, em que os audaciosos devem saltar por cima do fogo. Os namorados que vao casar-se nesse ano
executarao o salto em conjunto, de maos dadas. Os gritos alegres da
assistencia nao deverao, no entanto, fazer esquecer o carcter srio de
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J. M.
BERNARDIN DE SAINT-PIERRE
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A FESTA DO FOGO
No plano da Igreja, entre as duas alamedas de castanheiros cujas
naves imponentes seenchem de mistrio, a fogueirade S. Joao, na noite
que come'ra, erige a sua silhueta um pouco inquietante.
Das casas do burgo escapa-se o quente e inconfundvel cheiro do jantar
e o entrechocar de grossas faian'ras. Pela porta aberta dos estbulos
ouve-se o ruminar plcido dos animais e, com a impertinencia dos
moscardos, os coices que a palha amortece.
A toda a volta os campos repousam.
A plancie- a plancie fe liz de Junho, enlanguescida pelo trabalho das
suas germina'r6es - adormece sob o manto do trigo novo.
A primeira estrela cinti la no alto de u m choupo. Urna outra, muito longe,
responde-lhe. E o cu, lentamente, povoa-se de esplendor.
oe todas as ruelas, agora, casebres agachados no encovado verde dos caminhos, como belas constru'r6es de urna banalidade nova, da escola, da
junta de freguesia, do presbitrio, sombras saem, juntam-se, agrupamse. Vao ali tres velhas curvadas sobre bengalas e outros, saltitantes, que
correm a frente.
Todos se dirigem para o local da fogueira, muda e escura, que parece esperar urna vtima.
Como a tribo a reunir-se a volta dos chefes para cumprir os ritos que os
antepassados transmitiram, o cH aldeao forma em crculo na pra'ra. Em
todas estas almas, frustres, restritas, ignorando que sugestao, vinda do
mais insondvel das idades, inspira-os, agregam-se numa s alma,
ampla e tradicional.
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Jean Mabire
.IJ
Pierre Vial
Nasceu em l942. Especialista de hisfria da ldade Mdia professor
na Universidade de lyon. ledigiu vrios fascculos para as
enciclopdias das ediJes Atlas (A la une, Troupes ctllte, de A a Z) e
colabora regularmente nas revistas Nouvelle cole, lments, ldentil
e Terres ctHistoire. Autor de la Bataille de Venours l943-44
(Presses de la Cit), Pour une renaissance culturelle (Copemic) e, em
colaboraJo com Alain de Benoisf, da morf, hlstoire ef adualif
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