Logica Classica
Logica Classica
Logica Classica
LGICA I
Caderno de Referncia de Contedo
Batatais
Claretiano
2013
CDD 160
Reviso
Ceclia Beatriz Alves Teixeira
Felipe Aleixo
Filipi Andrade de Deus Silveira
Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Rodrigo Ferreira Daverni
Snia Galindo Melo
Talita Cristina Bartolomeu
Vanessa Vergani Machado
Projeto grfico, diagramao e capa
Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai
Lcia Maria de Sousa Ferro
Luis Antnio Guimares Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Tamires Botta Murakami de Souza
Wagner Segato dos Santos
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SUMRIO
CADERNO DE REFERNCIA DE CONTEDO
1 INTRODUO.................................................................................................... 7
2 ORIENTAES GERAIS PARA O ESTUDO.......................................................... 9
OBJETIVOS......................................................................................................... 27
CONTEDOS...................................................................................................... 27
ORIENTAES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................... 28
INTRODUO UNIDADE................................................................................ 28
O QUE LGICA AFINAL?................................................................................. 30
OBJETO/PROBLEMA.......................................................................................... 36
TEXTO COMPLEMENTAR................................................................................... 39
QUESTES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 44
CONSIDERAES............................................................................................... 44
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................... 45
OBJETIVOS......................................................................................................... 47
CONTEDOS...................................................................................................... 47
ORIENTAES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................... 48
INTRODUO UNIDADE................................................................................ 48
ARGUMENTO E ENUNCIADO............................................................................ 49
INFERNCIAS INDUTIVA E DEDUTIVA . ........................................................... 52
PREMISSA.......................................................................................................... 54
INFERNCIAS..................................................................................................... 55
ARGUMENTO..................................................................................................... 56
QUESTES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 59
CONSIDERAES.............................................................................................. 60
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................... 61
OBJETIVOS......................................................................................................... 63
CONTEDOS...................................................................................................... 63
ORIENTAES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................... 63
INTRODUO UNIDADE................................................................................ 64
PROPOSIES.................................................................................................... 64
QUESTES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 69
CONSIDERAES............................................................................................... 70
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................... 71
OBJETIVOS......................................................................................................... 73
CONTEDOS...................................................................................................... 73
ORIENTAES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................... 73
INTRODUO UNIDADE................................................................................ 74
RELAO DE QUANTIDADE E QUALIDADE...................................................... 74
OPOSIO ENTRE AS PROPOSIES CATEGRICAS...................................... 76
INFERNCIA IMEDIATA..................................................................................... 79
QUESTES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 84
CONSIDERAES............................................................................................... 86
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................... 86
OBJETIVOS......................................................................................................... 87
CONTEDOS...................................................................................................... 87
ORIENTAES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................... 88
INTRODUO UNIDADE................................................................................ 88
DEDUO E INDUO...................................................................................... 88
APLICAO DOS DIAGRAMAS DE VENN NAS FIGURAS DO SILOGISMO...... 110
QUESTES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 117
CONSIDERAES............................................................................................... 119
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................... 119
OBJETIVOS......................................................................................................... 121
CONTEDOS...................................................................................................... 121
ORIENTAES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................... 122
INTRODUO UNIDADE................................................................................ 122
FALCIAS DE APELO S EMOES.................................................................. 124
FALCIAS DE ATAQUES PESSOAIS E APELO AUTORIDADE.......................... 128
PROBLEMAS INDUTIVOS E DEDUTIVOS.......................................................... 133
OUTROS TIPOS DE FALCIAS............................................................................ 135
QUESTES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 137
CONSIDERAES FINAIS.................................................................................. 139
BIBLIOGRAFIA BSICA...................................................................................... 140
EAD
Caderno de
Referncia
de Contedo
CRC
Ementa
1. INTRODUO
Seja bem-vindo aos estudos de Lgica I! Vamos juntos descobrir os mais diversos caminhos de argumentao e reflexo do
conhecimento humano.
Nesta parte chamada Caderno de Referncia de Contedo,
voc encontrar o contedo bsico das unidades em que se divide
o CRC e que ser estudado ao longo das semanas.
A lgica que Aristteles denominou Organon (instrumento)
serve para distinguir o raciocnio correto do incorreto. Para isso,
a Lgica estuda os termos e as proposies que compem toda e
qualquer argumentao, seja ela cientfica, filosfica, ou qualquer
Lgica I
Neste tpico, apresenta-se uma viso geral do que ser estudado neste CRC. Aqui, voc entrar em contato com os assuntos
principais deste contedo de forma breve e geral e ter a oportunidade de aprofundar essas questes no estudo de cada unidade.
No entanto, esta Abordagem Geral visa a fornecer-lhe o conhecimento bsico necessrio a partir do qual voc possa construir um
referencial terico com base slida cientfica e cultural para
que, no futuro exerccio de sua profisso, voc a exera com competncia cognitiva, tica e responsabilidade social. Vamos comear nossa aventura pela apresentao das ideias e dos princpios
bsicos que fundamentam este CRC.
Introduo Lgica
Iremos tratar de uma rea muito especfica da Filosofia: a
Lgica. No ser nosso intuito, aqui, desenvolver atividades esmiuadas sobre como trabalhar com a Lgica; apenas farei uma
abordagem geral sobre o que o aguarda.
Pare e pense: quantas e quantas vezes, em nosso dia a dia,
dizemos: " lgico!"?
Voc vai? Tem? Pode? Entendeu? lgico!
Aqui est nosso problema: o que significa dizer que algo
"lgico"?
Um exemplo:
Se eu pergunto: voc saiu na chuva? E sem guarda-chuva? E
se molhou?
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Lgica I
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Argumento 1
Todo homem mortal.
Scrates homem.
Portanto, Scrates mortal.
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Lgica I
13
Perceba que a concluso dada no argumento 4 tem um contedo que excede o que foi dado pelas premissas. Como? Simplesmente porque a concluso diz que o medicamento dar certo com
Claretiano - Centro Universitrio
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Lgica I
15
Tudo que est dentro da classe H (homens), necessariamente est dentro da classe M (mortais).
Veja como interessante e simples entender com o diagrama. Muitas vezes, quando voc estiver com alguma dvida, monte
um diagrama para visualizar melhor a relao que existe entre as
classes.
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Lgica I
Neste exemplo, ns tomamos a classe de homens em sua totalidade, mas poderamos modificar a proposio, tomando apenas uma parte da classe. Por exemplo:
Algum homem mortal.
Ainda podemos modificar a proposio, pois, nos dois exemplos acima, tnhamos proposies afirmativas, mas podemos tambm negativ-las.
Podemos dizer:
Nenhum homem mortal.
Ou ainda:
Algum homem no mortal.
Voc percebeu como fcil modificar essas proposies?
Ento, assim temos as quatro proposies categricas existentes:
Tipos de proposies categrica
A - Todo homem mortal. (Universal Afirmativa)
I - Algum homem mortal. (Particular Afirmativa)
E - Nenhum homem mortal. (Universal Negativa)
O - Algum homem no mortal. (Particular Negativa)
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Lgica I
Tais atividades traro agilidade ao seu raciocnio, mas lembre-se de que, sem a prtica, nada conseguir. E, depois de trabalhado o tema das proposies categricas, ser o momento de
estudar o silogismo formado por tais proposies: o silogismo categrico.
No fundo, ser estudado o que faz um silogismo categrico
ser vlido ou no; h regras para isso. Todas as regras se baseiam
nas relaes que so estabelecidas entre os termos sujeito e predicado das proposies.
Nas palavras do prprio Aristteles:
Chamo de termo aquilo em que a premissa se resolve, a saber, tanto o predicado quanto o sujeito, quer com a adio do verbo ser,
quer com a remoo de no ser.
Veja como o diagrama nos mostra de maneira simples o porqu de ser um argumento verdadeiro:
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S conseguimos a validade do argumento porque seus termos esto em posies que permitem tal validade. Em um argumento categrico, a primeira premissa chamada de premissa
maior enquanto a outra a premissa menor. Isto porque tambm
os termos so chamados assim: observe a concluso; o sujeito da
concluso o termo menor e o predicado da concluso o termo
maior. E termo mdio ser o que aparece nas duas premissas, mas
no na concluso.
Observe melhor:
Todo homem mortal.
Scrates homem.
Scrates mortal.
Enfim, o objetivo deste CRC o de inici-lo no estudo da Lgica, dando condies de analisar e avaliar os raciocnios principalmente fundados no silogismo categrico. E quero retornar ideia
do incio da aula: no necessrio saber Lgica para se pensar
corretamente, mas este conhecimento nos leva a enxergar melhor
nossos erros, ficando, assim, mais fcil de resolv-los ou evit-los.
Espero ter deixado uma noo clara sobre a disciplina. Voc
ter oportunidade de se aprofundar mais no decorrer dela.
A voc um abrao e um timo curso de Lgica!
Glossrio de Conceitos
O Glossrio de Conceitos permite a voc uma consulta rpida e precisa das definies conceituais, possibilitando-lhe um
bom domnio dos termos tcnico-cientficos utilizados na rea de
conhecimento dos temas tratados no CRC Lgica I. Veja, a seguir,
a definio dos principais conceitos (Adaptado de: ABBAGNANO,
1988):
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Lgica I
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Lgica I
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Lgica I
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Bibliografia Bsica
fundamental que voc use a Bibliografia Bsica em seus
estudos, mas no se prenda s a ela. Consulte, tambm, as bibliografias complementares.
Figuras (ilustraes, quadros...)
Neste material instrucional, as ilustraes fazem parte dos
contedos, ou seja, elas no so meramente ilustrativas, pois esquematizam e resumem contedos explicitados no texto. No deixe de observar a relao dessas figuras com os contedos do CRC,
pois relacionar aquilo que est no campo visual com o conceitual
faz parte de uma boa formao intelectual.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida voc a olhar, de forma mais apurada, a Educao como processo de emancipao do ser humano.
importante que voc se atente s explicaes tericas, prticas
e cientficas que esto presentes nos meios de comunicao, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que observa, permite-se descobrir algo que ainda no se conhece, aprendendo a ver e a notar
o que no havia sido percebido. Observar , portanto, uma capacidade que nos impele maturidade.
Voc, como aluno dos cursos de Graduao, na modalidade
EaD, e futuro profissional da educao, necessita de uma formao conceitual slida e consistente. Para isso, voc contar com
a ajuda do tutor a distncia, do tutor presencial e, sobretudo, da
interao com seus colegas. Sugerimos que organize bem o seu
tempo e realize as atividades nas datas estipuladas.
importante, ainda, que voc anote as suas reflexes em
seu caderno ou no Bloco de Anotaes, pois, no futuro, elas podero ser utilizadas na elaborao de sua monografia ou de produes cientficas.
Claretiano - Centro Universitrio
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Lgica I
EAD
Lgica, lgico!
1
Para muita gente, antes morrer que pensar. E isso
mesmo que fazem. (Bertrand Russel)
1. OBJETIVOS
Conhecer o discurso filosfico da Lgica I.
Compreender o conceito de Lgica.
Compreender os princpios da Lgica: No contradio,
Identidade, Terceiro excludo e de Causalidade.
2. CONTEDOS
Lgica.
Conceito.
Objeto; Problema; Princpios.
Princpio de No contradio, Identidade, Terceiro excludo e Causalidade.
28
Lgica I
4. INTRODUO UNIDADE
O estudo da Lgica fundamental para a formao do professor de Filosofia, por isso, convidamos voc para estud-la neste CRC
com empenho e dedicao, para, desta forma, ampliar ainda mais
os horizontes do pensamento.
Mas voc pode estar se perguntando: O que Lgica? Para
que ela serve? Ela serve para alguma coisa? Eu utilizo a Lgica?
Pois bem, a Lgica um elemento muito comum em nossas
vidas. Neste momento em que nos dispomos a estud-la pode parecer algo novo, mas, efetivamente, no o .
U1 - Lgica, lgico!
29
Diariamente fazemos uso dela quando pronunciamos expresses do tipo: " lgico!". como se dissssemos: "Isto evidente!". Porque, para ns, trata-se de uma concluso bvia, extrada de um raciocnio absolutamente correto.
Em outras situaes, por exemplo, esse termo aparece
quando, no trabalho, tentamos convencer os colegas, mediante
argumentos, que a melhor estratgia para escoar a produo x e
no y, ou ainda, quando temos uma opinio a respeito da pena de
morte ou sobre poltica, amor, amizade, dentre outras.
Outras vezes, ainda, buscamos uma explicao para o que
aconteceu, como por exemplo: "Por que ocorreu x?".
Ou quando dizemos: "Isto razovel".
Temos a confiana de que o argumento racional.
No entanto, no cotidiano da maioria das pessoas, o uso da
Lgica apenas intuitivo (o que nos parece, a princpio, um paradoxo), ou seja, no sistemtico ou rigoroso como pretendemos
fazer neste curso.
A palavra "LGICA" ou "LGICO" de uso corrente no nosso
cotidiano e equivale a "admissvel", a 'razovel", a um raciocnio
compatvel com a ideia que tenho da realidade. Mas no s isso,
para compreender o que a Lgica e seu alcance necessrio conhecer os MTODOS utilizados para distinguir o raciocnio correto
do incorreto.
A conhecida frase: "quem pensa bem, vive bem; quem pensa mal vive mal!" adjudicada a Scrates, um dos grandes sbios
da filosofia grega. Ela reflete o grande objetivo da Lgica pensada
por Aristteles: raciocinar corretamente, segundo as leis do pensamento para ter uma compreenso correta da realidade.
Por que importante a Lgica na Filosofia?
comum perceber que entre os professores de Filosofia subsiste a imagem de que a Lgica coisa de matemticos. bom
Claretiano - Centro Universitrio
30
Lgica I
lembrar nesse momento que a argumentao o corao da Filosofia. Na Filosofia, entendida como um saber sem supostos, o pensador pode defender suas teorias com total liberdade, mas deve
sustentar o que defende com bons argumentos. E no possvel
desenvolver uma arguio filosfica correta sem compreender o
que a argumentao; como no possvel compreender o que
a argumentao sem dominar os elementos bsicos da Lgica
formal. A Lgica uma disciplina essencialmente filosfica, e seu
contedo est intimamente interligado com os de outras disciplinas filosficas, como a ontologia, a metafsica e gnoseologia ou
teoria do conhecimento.
Em outras palavras, pensar logicamente segue certos critrios, regras ou princpios.
Convido voc, agora, para iniciar definitivamente nossos estudos sobre Lgica, a partir do exame dos seus conceitos bsicos e
um pouco do contexto em que se desenvolveu.
U1 - Lgica, lgico!
31
mundo da cultura e dos valores. Embora, muitas vezes, no pensemos cuidadosamente no que falamos.
Exprimimos um pensamento mediante um discurso, mas,
para que haja um entendimento entre seus interlocutores, a mensagem deve ser clara, coerente, inteligvel, ou seja, para dizer e
pensar as coisas tais como so necessrio: ordem, organizao,
medida e proporo (isto no nos lembra da matemtica?). Em
outras palavras, ainda, indispensvel o rigor.
Por essa razo, a relao de dilogo fundamental na Filosofia. Cabe ressaltar, no entanto, que esta simples e modesta explicao apenas uma primeira aproximao.
Devemos considerar que a lngua grega , em si mesma, filosfica; por isso, importante nos familiarizarmos um pouco com
sua estrutura e, tambm, com o contexto histrico e cultural no
qual se desenvolveu. Assim, gradualmente nos aproximaremos do
seu conceito sem, contudo, esgotar o seu significado.
A Lgica, do grego clssico = logos, que significa palavra, pensamento, ideia, argumento, razo ou relato lgico, uma
cincia de ndole Filosfica. Como explica Benson Mates:
Ao abordar a histria da lgica deve-se ter presente que o termo
Lgica fora aplicado a muitos objetos diferentes. Tpicos da epistemologia, metafsica, psicologia, sociologia e filologia foram colocados em alguma ocasio sob a epgrafe: Lgica. [...] Deve se acentuar
que o interesse de um lgico a investigao e formulao de princpios gerais relativos ao algo que se segue de algo ( 1968, p. 256).
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Lgica I
Categorias, Sobre a interpretao, Primeiros analticos, Analticos posteriores e Tpicos e Refutaes Sofistas, todas agrupadas
num conjunto chamado Organon (instrumento em grego), que na
filosofia tido como uma propedutica ou uma organizao para
o pensamento filosfico. A silogstica, que o ncleo essencial da
obra de Aristteles, est contida nos Primeiros analticos (MATES,
1968, p. 257)
A histria da Lgica se desenvolve em trs momentos principais: o primeiro ocorre nos sculos 3 a 4 a.C.; o segundo, do sculo
7 ao sculo 14; e o terceiro iniciou-se ao final do sculo 19. Neste
CRC, trataremos da produo lgica dos dois primeiros perodos
referidos.
Lgica aristotlica corresponde ao perodo denominado antigo. A obra de Aristteles, junto com a de Crsipo (280 a 220 a.C.),
com as produes sobre Lgica dos pensadores estoicos modelaram a Lgica antiga e desenvolveram teorias que possibilitaram o
surgimento da Lgica proposicional.
A Lgica de Aristteles tinha um objetivo eminentemente
metodolgico, ou seja, seu objetivo era mostrar o caminho correto
para o conhecimento e a demonstrao cientfica.
A Lgica aristotlica se ocupa do estudo dos conceitos (dedicando especial ateno aos predicveis), das categorias (o predicamento) e se completa com a anlise dos juzos e das formas
de razoamento.
Prestando especial ateno aos razoamentos dedutivos, os
modos do silogismo, como formas de demonstrao especialmente adequadas ao conhecimento cientfico, so agrupados por Aristteles nas trs denominadas figuras.
Para provar que, atravs do silogismo, A pertence ou no
pertence a B, podemos atuar de trs maneiras:
Predicando A de C e C de B, ou C de ambos e ambos de C. Assim, o silogismo deve responder a alguma destas trs figuras (ver
silogismo na Unidade 5).
U1 - Lgica, lgico!
33
Apesar dos enormes avanos que possibilitou, a Lgica aristotlica tinha limitaes quanto a apresentao de problemas semnticos. A principal crtica est baseada no uso dos smbolos e
o que estes designam j que em algumas ocasies apresentam
problemas de ambiguidade. Posteriormente a Aristteles, o estoicismo fez uma contribuio importante para a Lgica. Mas foi
na Lgica Clssica, tambm denominada Lgica Tradicional, por
implicar em mtodos de lgica dedutiva, que essas limitaes da
Lgica aristotlica foram definitivamente superadas. A Lgica Clssica abrange a Lgica proposicional e a Lgica de predicados.
Comparado com o perodo clssico antigo, o perodo medieval no assinalou grandes progressos, nem se criaram novos
sistemas de axiomas, sua grande contribuio consiste em uma
investigao exploratria da semntica. A primeira grande figura
da Lgica medieval ou clssica foi Pedro Abelardo (1079-1142); e,
no sculo 14, podemos citar, entre outros, Guilherme de Ockham
(1295-1349), Jean Buridan (morto em 1358), Duns Scotus, etc.
O Renascimento veio acompanhado de uma baixa produo
lgica. Somente quatro sculos depois, com as obras de Boole,
Morgan, Frege etc., a Lgica recobra seu impulso. (MATES, 1968,
p. 265-273).
Esse intervalo improdutivo levou o filsofo alemo E. Kant
(1724-1808) a afirmar no histrico prefcio da obra Crtica razo
pura que a Lgica era de absoluta responsabilidade de Aristteles.
Foi recentemente no sculo 19, a partir da obra de George
Boole, Investigao sobre as leis do pensamento, na qual apresenta seu clculo lgico que consiste em um nmero grande de formas
vlidas de argumento, que a Lgica retoma seu desenvolvimento.
A Lgica tradicional foi cultivada desde Aristteles at Kant.
A Lgica formal, a partir do sculo 19, sofre um processo de transformao e toma a forma de lgica simblica, matemtica e logstica e lgebra lgica.
Claretiano - Centro Universitrio
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Lgica I
U1 - Lgica, lgico!
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Lgica I
6. OBJETO/PROBLEMA
Qual , afinal, o objeto ou problema do qual a Lgica se ocupa?
Na definio do seu conceito, conforme voc pde ver anteriormente, encontramos uma pista. Pode-se dizer que o lgico
debrua-se sobre a distino entre raciocnio correto e incorreto.
O livro de Mary Haight, intitulado A serpente e a raposa,
apresenta-nos um exemplo bem interessante no prlogo:
A Serpente e a Raposa eram rivais na liderana de um bando de
ladres. A Serpente props um teste: 'Noite e dia cem sacerdotes
armados de facas guardam o deus Uniocular de Zorro, numa sala
dentro de uma sala dentro de uma sala. Quem conseguir roubar o
Olho de Rubi do deus vai se tornar nosso lder'.
A Raposa concordou, mas acrescentou: 'Como minha distinta rival
sugeriu este teste, que ela seja a primeira a passar por ele'. Secretamente, ela raciocinou:
'A Serpente orgulhosa: ela vai aceitar. Ser ento quase certo que
morra na tentativa. Nesse caso, no terei rival e vou poder convencer o bando de que mais testes so uma perda de tempo.
Ou ela vai sobreviver, mas fracassar. O resultado ser o mesmo:
com a cara no cho, ela vai partir imediatamente para longe.
Ou talvez de presumir tenha sucesso. Mas, tendo ela roubado
o Olho, a possibilidade de eu t-lo feito no pode ser aventada. E
a vingana dos sacerdotes de Zorro horrvel e rpida. Ela no vai
liderar por muito tempo; e sou seu nico sucessor possvel. ( 1999,
p. 11)
U1 - Lgica, lgico!
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Princpio de identidade
"A A", ou seja, uma coisa s pode ser conhecida ou pensada, qualquer que seja a sua natureza ou forma, se percebida de
forma permanente e constante a sua identidade. Em outras palavras: o que , .
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Lgica I
Uma das grandes indagaes filosficas saber: Quem somos? Quem sou eu? Embora o tempo passe e nos tornemos mais
velhos o que faz com que eu seja quem sou? Qual a minha essncia? De certo ponto de vista, algum pode identific-lo pelos documentos que traz consigo ou por suas caractersticas fsicas que o
distingue dos outros.
Outro exemplo a forma geomtrica do quadrado. Todos
sabem o que um quadrado porque sua identidade j foi estabelecida. Possui quatro lados e quatro ngulos retos e a matemtica
se vale de sua forma para examinar clculos, equaes, etc.
Em outros termos, pode-se dizer que conhecemos as coisas a
partir de suas definies, como por exemplo: Todo homem mortal.
Princpio do terceiro excludo
"A X ou Y" e no h outra possibilidade. Por exemplo:
Ou este homem Scrates ou no Scrates.
Neste sentido, lembra-nos da brilhante poeta Ceclia Meireles:
Ou se tem chuva e no se tem sol
Ou se tem sol e no tem chuva!
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
(MEIRELES, 1981, p. 57).
No mbito das experincias humanas, vivemos sempre possibilidades de escolha, uma "certa" (isto est certo) e outra "errada" (isto est errado), no h uma terceira alternativa. Ou isto est
certo ou est errado; ou isto verdadeiro, ou falso.
Princpio de causalidade
Este princpio afirma que tudo o que existe ou acontece tem
uma causa (razo ou motivo) para existir ou ocorrer e que tal causa
pode ser conhecida por nosso intelecto. Por exemplo:
U1 - Lgica, lgico!
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O deslocamento de placas tectnicas no Oceano ndico necessariamente acarretou o Tsunami na Costa da sia e frica.
Outro exemplo:
Se for declarada guerra neste ou naquele pas, ocorrero
mortes.
Podemos afirmar que no princpio de causalidade h conexes, relaes de causa e efeito entre fatos, fenmenos e acontecimentos.
7. TEXTO COMPLEMENTAR
Antes de passar para o estudo da Unidade 2, importante que voc leia o extrato de texto retirado da obra Tpicos de
Aristteles, para se familiarizar com a utilizao da Lgica no texto
filosfico.
Tpicos
1
40
Lgica I
nero, mas sim um acidente, pois j dissemos que um acidente um atributo que
tanto pode pertencer como no pertencer a uma coisa. Veja-se, tambm, se o
gnero e a espcie no se encontram na mesma diviso, mas um deles uma
substncia e o outro uma qualidade, ou um deles um relativo enquanto o outro
uma qualidade, como, por exemplo, "neve" e "cisne" so ambos substncias
ao passo que "branco" no uma substncia e sim uma qualidade, de modo
que "branco" no o gnero nem de "neve", nem de "cisne". E, por outro lado,
"conhecimento" um relativo, enquanto "bom" e "nobre" so ambos qualidades,
e, por conseguinte, nenhum deles o gnero de conhecimento. Porquanto os
gneros de relativos devem ser eles mesmos tambm relativos, como sucede
com "duplo": pois "mltiplo", que o gnero de "duplo", , ele prprio, tambm
um relativo. Em termos gerais, o gnero deve incluir-se na mesma diviso que
a espcie, de modo que, se a espcie uma substncia, tambm deve s-lo o
gnero, e se a espcie uma qualidade, tambm o gnero ser uma qualidade:
por exemplo, se o branco uma qualidade, tambm o ser a cor. E de maneira
anloga nos outros casos.
Veja-se, tambm, se o gnero participa necessria ou possivelmente do objeto
que nele foi classificado. "Participar" significa "admitir a definio" daquilo de que
se participa. evidente, pois, que as espcies participam do gnero, porm no
os gneros das espcies, j que a espcie admite a definio do gnero, mas
este no admite a definio daquela. Deve-se, pois, verificar se o gnero indicado participa ou pode talvez participar da espcie, como, por exemplo, se algum
propusesse alguma coisa como sendo o gnero de "ser" ou de "unidade", pois
da resultaria que o gnero participa da espcie, uma vez que de tudo que existe
se predicam o "ser" e a "unidade", e, por conseguinte, tambm as respectivas
definies.
Veja-se, alm disso, se h alguma coisa de que a espcie indicada seja verdadeira, mas no o seja o gnero: como, por exemplo, se algum afirmasse que
"ser" ou "objeto de conhecimento" e o gnero de "objeto de opinio". Com efeito,
"objeto de opinio" tambm se predica do que no existe, pois muitas coisas que
no existem so objetos de opinio, enquanto evidente que nem "ser", nem
"objeto de conhecimento" se predicam do que no existe. Por conseguinte, nem
"ser", nem "objeto de conhecimento" so o gnero de "objeto de opinio", pois o
gnero deve predicar-se tambm dos objetos de que se predica a espcie.
Examine-se, tambm, se o objeto includo no gnero totalmente incapaz de participar de qualquer espcie deste, pois impossvel que ele participe do gnero
se no participa de alguma de suas espcies, salvo quando se trata de uma das
espcies obtidas na primeira diviso: estas, com efeito, participam unicamente
do gnero. Se, portanto, "movimento" for indicado como o gnero de prazer,
deve-se verificar se o prazer no nem locomoo, nem alterao, nem qualquer outra das modalidades de movimento que enumeramos: porque, evidentemente, se pode afirmar ento que no participa de nenhuma das espcies e, em
consequncia, no participa tampouco do gnero, j que aquilo que participa do
gnero deve necessariamente participar tambm de uma das espcies; de modo
que o prazer no poderia ser uma espcie de movimento, nem tampouco ser um
dos fenmenos individuais compreendidos sob o termo "movimento". Porque os
indivduos tambm participam do gnero e da espcie, como, por exemplo, um
indivduo humano participa tanto de "homem" como de "animal".
preciso ver, alm disso, se o termo includo no gnero tem uma extenso mais
ampla do que este, como tem, por exemplo, "objeto de opinio" comparado com
"ser", pois tanto o que existe como o que no existe so objetos de opinio: logo,
U1 - Lgica, lgico!
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"objeto de opinio" no pode ser uma espcie de ser, dado que o gnero tem
sempre uma extenso mais ampla do que a espcie. Veja-se, igualmente, se a
espcie e o seu gnero tm igual extenso: se, por exemplo, dos atributos que
se encontram em todas as coisas, um fosse apresentado como uma espcie e
outro como o seu gnero, "ser" e "unidade"; porquanto todas as coisas possuem
ser e unidade, de modo que nenhum destes dois gnero do outro, tendo eles,
como tm, uma igual extenso. E do mesmo modo se do "primeiro" de uma srie
e do "comeo", um fosse subordinado ao outro, pois o primeiro o comeo e o
comeo o primeiro, de modo que ou ambas estas expresses so idnticas, ou,
de qualquer forma, nenhuma o gnero da outra. O princpio elementar referente
a todos os casos deste tipo que o gnero tem uma extenso mais vasta do que
a espcie e sua diferena, pois a diferena tem, igualmente, uma extenso mais
restrita do que o gnero.
Veja-se tambm se o gnero mencionado no se aplica, ou pode admitir-se geralmente que no se aplique, a algum objeto que no difira especificamente da
coisa em questo; ou, pelo contrrio, se o nosso argumento construtivo, veja-se se ele se aplica dessa maneira. Porquanto todas as coisas que no diferem
especificamente pertencem ao mesmo gnero. Se, por conseguinte, se demonstra que este se aplica a uma delas, ento evidente que se aplica a todas; e se
no se aplica a uma, claro que no se aplica a nenhuma: por exemplo, se algum que admitisse as "linhas indivisveis" dissesse que "indivisvel" o gnero
delas. Porque o termo mencionado no o gnero das linhas divisveis, e estas
no diferem das indivisveis quanto espcie: com efeito, as linhas retas nunca
diferem umas das outras no que diz respeito espcie.
Examine-se tambm se existe algum outro gnero da espcie dada que nem
abarque o gnero apresentado, nem, tampouco, se inclua nele. Suponha-se, por
exemplo, que algum afirmasse que "conhecimento" o gnero de justia. Porquanto a virtude tambm o gnero desta, e nenhum destes gneros abarca o
outro, de forma que o conhecimento no pode ser o gnero da justia, pois se
admite geralmente que, sempre que uma espcie se inclui em dois gneros, um
destes abrangido pelo outro. Entretanto, um princpio desta classe d margem
a que se suscite em certos casos uma dificuldade. H, por exemplo, quem afirme
que a justia tanto uma virtude como um conhecimento e que nenhum destes
gneros abarcado pelo outro - embora, por certo, nem todos admitam que a
prudncia seja conhecimento. Se, todavia, algum admitisse a verdade dessa
assero, haveria, por outro lado, o consenso geral de que os gneros do mesmo
objeto devem necessariamente ser subordinados um ao outro ou ambos a um
terceiro, como em verdade sucede com a virtude e o conhecimento. Com efeito,
ambos se incluem no mesmo gnero, sendo como cada um deles um estado
e uma disposio. Deve-se verificar, portanto, se nenhuma dessas coisas verdadeira do gnero apresentado; porque, se nem os gneros so subordinados
um ao outro, nem ambos a um mesmo gnero, o que foi proposto no pode ser
o gnero verdadeiro.
Examine-se, tambm, o gnero do gnero proposto, passando depois ao gnero
prximo mais alto, para ver se todos se predicam da espcie, e se predicam
na categoria de essncia: pois todos os gneros mais altos devem predicar-se
das espcies nessa categoria. Se, portanto, houver algures uma discrepncia,
evidente que o que se props no o gnero verdadeiro. (Veja-se tambm
se o prprio gnero ou um dos gneros mais altos participa da espcie, pois o
Claretiano - Centro Universitrio
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Lgica I
gnero superior no participa de nenhum dos que lhe so inferiores.) Se, pois,
estamos rebatendo uma opinio, deve-se seguir a regra conforme foi dada; se,
pelo contrrio, se trata de estabelecer o nosso ponto de vista, ento - na hiptese
de que se admita que o gnero proposto pertence espcie, porm no como
gnero - basta demonstrar que um dos seus gneros superiores se predica da
espcie na categoria de essncia. Porque, se um deles predica nessa categoria,
todos os demais, tanto os superiores como os inferiores a ele, se de algum modo
se predicam da espcie, h de ser na categoria de essncia: e assim, o que se
props como gnero tambm se predica na categoria de essncia. A premissa de
que, quando um gnero se predica na categoria de essncia, todos os demais,
se de algum modo se predicarem, ser nessa categoria, deve ser estabelecida
por induo.
Supondo-se, por outro lado, que se conteste que aquilo que foi proposto como
gnero pertena em absoluto espcie, no basta demonstrar que um dos gneros superiores se predica desta na categoria de essncia: por exemplo, se
algum props "locomoo" como gnero de "passeio", no basta demonstrar
que passear um "movimento" para provar que "locomoo", visto existirem
tambm outras formas de movimento; mas preciso demonstrar igualmente que
o passear no participa de nenhuma das outras espcies de movimento obtidas
pela mesma diviso, exceto a locomoo. Porque necessariamente o que participa do gnero tambm participa de uma das espcies obtidas pela primeira
diviso deste. Se, portanto, o passear no participa do aumento, nem do decrscimo, nem das demais espcies de movimento, evidente que deve participar da
locomoo, e a locomoo ser o gnero do passear.
Examinem-se tambm as coisas de que a espcie dada se predica como gnero para ver se o que proposto como seu gnero se predica, na categoria de
essncia, das mesmas coisas de que a espcie assim predicada, e tambm
se todos os gneros superiores a esse se predicam tambm assim. Porque, se
houver alguma discrepncia, evidentemente o que se props no o verdadeiro
gnero; com efeito, se o fosse, tanto os gneros superiores a ele quanto ele
prprio se predicariam todos na categoria de essncia daqueles objetos de que
a prpria espcie predicada em tal categoria. Se, pois, estamos rebatendo um
ponto de vista, til verificar se o gnero no se predica na categoria de essncia daquelas coisas de que tambm se predica a espcie. Se, por outro lado,
estamos estabelecendo uma opinio, til verificar se ele se predica na categoria de essncia, pois nesse caso teremos que o gnero e a espcie se predicam
do mesmo objeto na categoria de essncia, de modo que o mesmo objeto fica
includo em dois gneros; por conseguinte, os gneros devem necessariamente
subordinar-se um ao outro; e, se de mostrarmos que aquele que desejamos estabelecer como gnero no est subordinado espcie, evidentemente a espcie
estar subordinada a ele, e pode dar-se como demonstrado que esse o gnero.
preciso considerar tambm as definies dos gneros e ver se ambas se aplicam espcie dada e aos objetos que participam da espcie. Porquanto as
definies dos seus gneros devem necessariamente predicar-se da espcie e
dos objetos que dela participam. Se, pois, houver algures uma discrepncia,
evidente que o que se props no o gnero.
Veja-se, por outro lado, se o adversrio apresentou como gnero a diferena: por
exemplo, "imortal" como gnero de "deus". "Imortal", com efeito, uma diferena
de "ser vivente", uma vez que dos viventes alguns so mortais e outros imortais.
evidente, pois, que se cometeu a um erro grave, dado que a diferena de uma
coisa nunca o seu gnero. E a verdade disto entra pelos olhos, pois a diferen-
U1 - Lgica, lgico!
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a de uma coisa jamais significa a sua essncia, mas antes alguma qualidade,
como "semovente" ou "bpede".
Veja-se tambm se o contendor colocou a diferena dentro do gnero, tomando,
por exemplo, "mpar" como diferena de nmero, e no uma espcie. E tampouco se admite geralmente que a diferena participe do gnero, pois o que deste
participa sempre uma espcie ou um indivduo, ao passo que a diferena no
uma espcie nem um indivduo. Evidentemente, pois, a diferena no participa
do gnero, de modo que "mpar" tampouco uma espcie, mas sim uma diferena, visto que no participa do gnero.
Alm disso, convm verificar se ele colocou o gnero dentro da espcie, supondo, por exemplo, que "contato" seja uma "unio", que "mistura" seja uma "fuso",
ou, como na definio platnica, que "locomoo" seja o mesmo que "transporte". Pois no foroso que um contato seja uma unio; antes pelo contrrio, a
unio que deve ser um contato: pois o que est em contato nem sempre se une,
embora o que se une esteja sempre em contato. E de maneira anloga quanto
aos outros exemplos: pois a mistura nem sempre uma "fuso" (se misturarmos
coisas secas, por exemplo, no as fundiremos), nem tampouco a locomoo
sempre "transporte". Com efeito, no se pensa geralmente que caminhar seja um
transporte: este termo empregado de preferncia com relao ao que muda de
lugar involuntariamente, como acontece no caso das coisas inanimadas. evidente, pois, que a espcie, os exemplos dados acima, tem uma extenso mais
ampla do que o gnero, quando o contrrio que devia acontecer.
preciso ver tambm se ele colocou a diferena dentro da espcie, tomando,
por exemplo, "imortal" no significado de "um deus". Pois o resultado ser que a
espcie tem uma extenso igual ou mais ampla; e isso impossvel, pois acontece sempre que a diferena tenha uma extenso igual ou mais ampla que a
da espcie. Veja-se, alm disso, se ele colocou o gnero dentro da diferena,
fazendo com que a "cor", por exemplo, seja uma coisa que "traspassa", ou o
"nmero" algo que "mpar". Ou, ento, se ele mencionou o gnero como sendo
a diferena, pois possvel que algum formule tambm um juzo desta espcie,
dizendo, por exemplo, que "mistura" a diferena de "fuso", ou que "mudana
de lugar" a diferena de "transporte". Todos os casos desta espcie devem ser
examinados luz dos mesmos princpios, pois dependem de regras ou tpicos
comuns: o gnero deve ter um campo de predicao mais amplo do que a sua
diferena, e, ao mesmo tempo, no deve participar dela; ao passo que, se for
apresentado dessa maneira, nenhum dos requisitos mencionados ser satisfeito,
pois o gnero ter ao mesmo tempo um campo de predicao mais estreito do
que a sua diferena e participar dela.
Por outro lado, se nenhuma diferena pertencente ao gnero se predicar da espcie dada, tampouco se predicar dela o gnero: por exemplo, se de "alma" no
se predica "par" nem "mpar", tampouco se predica "nmero". Veja-se, igualmente, se a espcie naturalmente anterior ao gnero e o anula ao ser anulada, pois
o ponto de vista geralmente admitido o contrrio. Alm disso, se possvel que
o gnero proposto ou a sua diferena estejam ausentes da espcie alegada, por
exemplo, que "movimento" esteja ausente da "alma", ou "verdade e falsidade"
de "opinio", ento nenhum dos gneros propostos pode ser o seu gnero ou a
sua diferena; pois a opinio geral que o gnero e a diferena acompanham a
espcie enquanto esta existe (Disponvel em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
download/texto/cv000069.pdf>. Acesso em: 7 out. 2010).
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Lgica I
8. QUESTES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que voc procure responder, discutir e comentar
as questes a seguir que tratam da temtica desenvolvida nesta
unidade, ou seja, da possibilidade do ensino de Filosofia, da sntese desses problemas e do estabelecimento dos paralelos entre
algumas correntes filosficas.
A autoavaliao pode ser uma ferramenta importante para
voc testar o seu desempenho. Se voc encontrar dificuldades em
responder a essas questes, procure revisar os contedos estudados para sanar as suas dvidas. Esse o momento ideal para que
voc faa uma reviso desta unidade. Lembre-se de que, na Educao a Distncia, a construo do conhecimento ocorre de forma
cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas descobertas com os seus colegas.
Confira, a seguir, as questes propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) Compreenso:
a) Baseado no que voc estudou, como definiria a Lgica?
b) Qual o problema ou objeto da Lgica?
c) Quais so os princpios bsicos da Lgica?
d) Em que consiste cada um desses princpios?
e) D pelo menos dois exemplos de cada um desses princpios observados
no seu cotidiano.
2) Interpretao
a) Qual lio pode-se tirar da epgrafe desta unidade?
b) A partir do seu senso comum, o que voc achou do raciocnio da Raposa?
bom ou no? Por qu?
9. CONSIDERAES
Nesta unidade, voc teve a oportunidade de conhecer os
princpios constitutivos da Lgica, ou seja, Identidade, No Contradio, Terceiro Excludo e Causalidade. Tambm, pde conhecer
as etapas histricas do desenvolvimento da Lgica e as divises
U1 - Lgica, lgico!
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