Terapia Comunitaria - Espaço de Transformar A Dor
Terapia Comunitaria - Espaço de Transformar A Dor
Terapia Comunitaria - Espaço de Transformar A Dor
PORTO ALEGRE, RS
Junho de 2008
Porto Alegre, RS
Junho de 2008
RESUMO
A Terapia comunitria consiste numa estratgia simples e profunda, para
reconhecer em si os dramas de vida que o impede de ter vida plena. Trabalha a
auto-estima, suscitando dinmicas de autoconhecimento, de troca, de partilha. Vai
suscitando o resgate da conscincia do prprio direito, do prprio dever, ento, de
cidado. Este trabalho tem o objetivo de conhecer os resultados da Terapia
Comunitria realizada na escola Porto Alegre, na perspectiva dos usurios,
adolescentes que vivem em situao de rua e que freqentam a escola e tm o
medo, nervosismo, abandono, separao, depresso, alcoolismo e droga como
base para os principais dramas comunitrios existentes no contexto de suas vidas.
Nos ltimos anos a terapia comunitria foi inserida na escola com o intuito
de construir espaos de fala e escuta, de apoio, da realidade de cooperao e
partilha e, desenvolvimento da auto-estima. O estudo foi desenvolvido por mim,
com a superviso da professora Malu Reis, atravs de entrevistas com os
adolescentes matriculados na escola e usurios da Terapia Comunitria.
Como instrumento de coletas de dados utilizei um questionrio que
continha perguntas simples, mas que deixavam espao para que os alunos se
expressassem livremente sobre o tema.
PALAVRAS CHAVE: Escola aberta Porto Alegre. Terapia Comunitria.
Adolescentes em situao de rua.
SUMRIO
1 Introduo............................................................................................................8
2 Referencial terico.............................................................................................13
2.1 Tecendo a Terapia Comunitria.........................................................14
2.2 Os alicerces da Terapia Comunitria.................................................18
2.2.1 Pensamento sistmico........................................................18
2.2.2 Teoria da Comunicao......................................................21
2.2.3 Pedagogia de Paulo Freire.................................................23
2.2.4 Antropologia Cultural..........................................................25
2.2.5 Resilincia..........................................................................29
2.3 Os caminhos da Terapia Comunitria..............................................33
3 Terapia Comunitria dentro da Escola Porto Alegre.........................................34
3.1 Por que a Escola Porto Alegre?.......................................................34
3.2 Escola Porto Alegre .........................................................................35
3.3 Cenrio onde desenvolvida a atividade.........................................36
3.3.1 Temticas que apareceram nas sesses...........................37
3.3.2 avaliao das atividades de TC..........................................38
3.4 A TC dentro da Escola Porto Alegre.................................................38
4 Metodologia.........................................................................................................40
5 Concluses..........................................................................................................43
Bibliografia consultada ...........................................................................................46
1 INTRODUO
A escolha deste tema Terapia Comunitria ou TC deve-se ao fato de
que, ao longo da minha carreira profissional na rede pblica municipal, tive
oportunidade de vivenciar diferentes tipos de processos de incluso social. Neste
cenrio, vivi longos anos onde as tentativas de incluso sempre se davam de fora
para dentro, sempre era oferecido algo que vinha de uma idia superior do que
estava faltando, com a ao do "te dou e tu aceitas, te mando, e tu fazes, te digo
e tu acolhes. Essa dinmica sempre me gerou muito desconforto.
Conheci a Terapia Comunitria no ano de 2007, pela mo doce e firme da
psicloga Lisiane Falleiro Vargas (SMS-Poa). Ela coordenava rodas formadas a
partir de grupos na Unidade de Sade e esta formao lhes dava caractersticas
peculiares. Essas rodas, onde eram desenvolvidas toda a dinmica e a
sistemtica da Terapia Comunitria, eram formadas por pessoas com idades entre
6 e 80 anos.
Um fator muito importante para a escolha deste tema foi o meu encontro
com as professoras Mrcia Gil (atual diretora da EMEF Porto Alegre), minha
colega de ps-graduao, colega de rede, e Maria Lcia de Andrade Reis,
(diretora da EMEF Porto Alegre de 2001 a 2004 e atual coordenadora pedaggica
da escola), referncia nacional em TC e grande conhecedora da alma humana,
que me proporcionaram a abertura das portas de sua escola para observao do
trabalho e a participao em um importante congresso sobre TC em setembro de
2007, onde pude conhecer pessoalmente o criador dessa metodologia, o
psiquiatra e antroplogo Adalberto Barreto.
Alm disso, o desafio proposto pelo professor Lus Fernando Moraes
Marques durante a disciplina de Gesto de Projetos, no qual deveramos construir
um projeto vivel que partisse de dados reais, que teve como tema a TC, foi um
grande impulso em direo definio deste tema. Ele me encorajou a levar esse
projeto adiante e transform-lo em um trabalho acadmico.
Na TC, encontrei uma outra lgica do empoderamento. Encontrei o
sujeito como autor, sendo capaz de transitar de maneira autnoma pelas
diferentes prticas de educao, sade e polticas pblicas, sempre na lgica da
reflexo e do amadurecimento, tendo em vista novos projetos de vida. A TC o
8
em
ao compreender as
moc, na linguagem das ruas, significa esconderijo, refgio, local de moradia e concentrao dos moradores de rua.
Fonte: Lisiane Faleiro Vargas e Maria Lcia Andrade Reis In Terapia Comunitria: Retalhos do
Cotidiano
10
12
2 REVISO DE LITERATURA
O sistema que constitui a cada sesso de TC um sistema mvel,
formado, geralmente, por pessoas que participam continuamente a cada sesso e
por aqueles que o fazem ocasionalmente, podendo ou no regressar, muitas
vezes comparecendo esporadicamente. As pessoas participantes de uma sesso
de Terapia Comunitria no mantm necessariamente uma histria de vnculos e
convivncia em outros contextos alm da prpria sesso. Muitas das vezes, o que
tm em comum, simplesmente o fato de estudarem na mesma escola ou de
viverem situaes semelhantes nas ruas. Para que os participantes de um espao
comum possam ser considerados como formando um sistema, algo deve se
passar entre eles que favorea conexes, caracterizadas como uma rede de
trocas interativas que os coloquem em relao uns com os outros, num interjogo
de ao e emoo. Tais aes e emoes so organizadas pelas redes de
conversaes que contribuem tanto para construir o sistema como para dissolvlo.
A prtica da Terapia Comunitria tem como uma de suas decorrncias
construir um grupo como um sistema, conforme organiza pessoas numa rede de
conversaes qualificadas com um propsito de favorecer, alm do alivio do
sofrimento, mudanas que ampliem as condies de uma existncia com mais
dignidade, respeito e cidadania. Alis, se tomarmos o sofrimento como
organizador de sistemas de significados, pessoas que sofrem de um mesmo mal,
como a pobreza, a discriminao, o preconceito, os maus tratos, reconhecem no
outro que sofre dos mesmos males, um semelhante. Sabemos que o sofrimento
de uma pessoa to idiossincrtico que jamais poderia ser igual ao da outra, mas
isto no impede que se instalem significados compartilhados, tecidos pelos laos
das ressonncias em que a dor de um ativa o reconhecimento de dores
semelhantes dos outros. Todos ns sabemos que reconhecer uma situao como
sendo um problema o primeiro passo na busca de possibilidades de mudana.
13
14
15
Nessa fase, o grupo faz perguntas para obter mais informaes sobre o
assunto para que se possa compreender o problema no seu contexto. As
perguntas fazem com que as pessoas reflitam, coloquem dvidas nas certezas,
pois entende-se que a convico aprisiona o homem. Faz parte da Terapia
Comunitria tentar encontrar o que h de positivo em cada gesto ou atitude.
A etapa seguinte a problematizao, onde a pessoa que exps seu
problema fica em silncio e o terapeuta lana para o grupo o MOTE (perguntachave que vai permitir a reflexo coletiva capaz de trazer tona os elementos
fundamentais que permitem a cada um rever os seus esquemas mentais e
reconstruir a realidade).
A problematizao parte da dimenso individual para a dimenso grupal,
momento em que se transforma em terapia do grupo, tecendo aquilo que liga e
solidariza os participantes.
Quando o terapeuta percebe que a problematizao atingiu seu objetivo,
conduz a terapia para a ltima etapa o encerramento que se d com rituais de
agregao e conotao positiva.
Nesse momento, todos ficam de p, formando um crculo, onde cada um
se apia no outro e ficam em um balano (simbolizando a teia), momento em que
h o reconhecimento, a valorizao e o agradecimento do esforo e da coragem
de cada um. No se trata de se valorizar o sofrimento em si, mas de se
reconhecer o que cada um traz de positivo para contribuir para a superao das
dificuldades.
Ainda nessa fase, o terapeuta sugere uma msica, permite que
manifestaes de carter religioso estejam presentes e procura dar-lhes uma
conotao positiva.
Segundo Barreto, o co-terapeuta comunitrio verbaliza o que mais lhe
tocou no tema escolhido e abre para o grupo verbalizar o que aprendeu com as
histrias de vida ali contadas, possibilitando a valorizao da experincia das
pessoas e faz com que os indivduos repensem seu sofrimento, de maneira ampla,
ultrapassando os efeitos imediatos da dor e da tristeza, para dar um sentido mais
profundo crise e poder melhor identificar as estratgias de enfrentamentos,
reforando a auto-estima e a confiana em si.
17
19
so
estimuladas
refletir
sobre o
seu
papel. Os
20
21
da
comunicao,
que
interferem
diretamente
nos
processos
comportamentais, so:
1. Todo comportamento comunicao;
2. Toda comunicao tem dois lados: o contedo e a relao;
3. Toda comunicao depende da pontuao;
4. Toda comunicao tem dois aspectos: a comunicao verbal e a no
verbal;
5. Toda comunicao entre as pessoas feita da forma simtrica ou
complementar.
Nos encontros de terapia, estimula-se a fala das pessoas, sobre seus
problemas,
suas
inquietaes,
as
perturbaes
cotidianas
ajudando
de
resignificao
de
transformao
(BARRETO,
2005;
25
antropologia
cultural
dedica-se
ao
estudo
dos
comportamentos dos grupos humanos, das origens das religies, dos costumes e
convenes sociais, do desenvolvimento tcnico e dos relacionamentos familiares.
De acordo com Hoebel; Frost, (1995), a antropologia cultural
indispensvel para a Sade Pblica, j que busca mudar os mtodos para uma
sociedade conseguir alimentos, modificar hbitos alimentares, prticas de
26
de
acordo
com
Laplantine
(1995),
conjunto
dos
inserido em uma cultura e seu comportamento influenciado por ela. Como afirma
Morin (1979, p.93), o homem um ser cultural por natureza pelo fato de que um
ser natural por cultura.
A cultura, ainda segundo Morin (1979), indispensvel para produzir o
homem, j que ela contm informao organizacional cada vez mais rica, mas o
homem no se reduz apenas cultura. Percebe-se, ento, que nossas atividades
biolgicas mais elementares, como o comer, o beber e ainda a morte e o sexo so
embebidas de normas, valores, smbolos, mitos, ritos, ou seja, de tudo o que h
de mais especificamente cultural.
O ser humano possuidor de contradies compreendidas pelo aumento
da desordem e da incerteza no seio de um sistema (seja ele social ou individual),
mas o prprio sistema complexo, em crise, desencadeia a busca de solues
novas. Portanto, o ser humano fonte de seus fracassos, ao mesmo tempo, de
seus sucessos e suas invenes (MORIN, 1979).
O pensamento de Maffesoli (1998) desmistifica o homem numa
perspectiva de produto da vida cotidiana. Sobre esse pensamento maffesoliano,
Landim et al (2003) acrescentam: A dinmica do cotidiano, a riqueza do
conhecimento comum, da sabedoria popular, ultrapassam toda e qualquer
construo que vise ao enquadramento, reduo ou simplificao da vida
social.
Para Morin (1979), o homem ento um ser de uma afetividade imensa e
instvel, que sorri, chora, ama e se angustia; um ser gozador, exttico, furioso,
amante, um ser invadido pelo imaginrio, que se alimenta de iluses, que segrega
o mito e a magia, um ser possudo pelos espritos e deuses; um ser subjetivo,
cujas relaes com o mundo objetivo so incertas; um ser submetido ao erro,
desordem, j que a verdade humana comporta o erro e a ordem humana comporta
a desordem.
Prosseguindo, o autor esclarece que, embora todos os homens sejam da
mesma espcie homo sapiens, o prprio homem nega essa condio e passa a
no reconhecer seu semelhante no estrangeiro ou monopolizando a natureza
humana. A explorao do homem pelo homem uma das grandes invenes da
sociedade histrica.
28
30
32
33
Pobres
IPE mdio
Extremos
Rank IPE
mdio
36,0%
0,2039
Noroeste
38,4%
0,1938
11
Leste
30,1%
0,1976
Lomba do Pinheiro
30,9%
0,1752
15
Norte
27,7%
0,1839
13
Nordeste
44,8%
0,2668
Partenon
36,6%
0,1935
12
Restinga
45,4%
0,2669
Glria
25,0%
0,1627
16
Cruzeiro
30,9%
0,2056
Cristal
47,5%
0,2759
Centro-Sul
27,3%
0,1807
14
Extremo-Sul
30,3%
0,1964
10
Eixo-Baltazar
36,8%
0,2294
Sul
32,9%
0,2246
Centro
49,1%
0,3251
Porto Alegre
34,3%
0,2131
34
fundamentais
para
esta
populao
to
desamparada
socialmente. Tem ainda como princpios bsicos do seu trabalho conceitos como
reduo de danos, responsabilizao e reparao de danos.
3.3 Cenrio onde desenvolvida a atividade
O Grupo constitudo por adolescentes e jovens que possuem
escolaridade acima daquela oferecida pela EPA e/ou jovens que estejam
passando pelo processo de transio entre a adolescncia e juventude.
A incluso da Terapia Comunitria para esse Grupo, com uma das
atividades sistemticas, dentro da agenda semanal, teve como objetivo
oportunizar espaos para reflexo do processo de amadurecimento, tendo em
vista novos projetos de vida.
Foram oferecidas no perodo de maro a julho de 2006 12 sesses, tendo
a participao de 13 jovens e 02 adultos, com uma freqncia mdia de oito
participantes em cada sesso. No perodo de agosto a novembro foram 11
sesses, tendo a participao de 10 jovens e 02 adultos, com uma freqncia
mdia de 5 participantes em cada sesso.3
36
37
sujeitos
envolvidos.
Mas quem so esses adolescentes e jovens, Por que buscam a rua e o
delito? Como constroem suas subjetividades, seus sonhos, seus medos, seus
valores, enfim, seus projetos de vida? O que buscam e o que esperam da Terapia
Comunitria? Como a TC pode contribuir para que eles alterem seu modo de
vida?
A interveno proposta nas sesses de Terapia Comunitria, tem como
objetivo oportunizar novos e coletivos espaos protegidos, de elaborao de
experincias vividas por adolescentes e jovens, em especial proporcionar uma
maior reflexo das situaes que envolvem sua relao com a rua e o ato
infracional, investindo na ressignificao de suas histrias de vida, atravs do
dilogo entre eles e sua rede de afetos e apoios.
38
desde a casa
participar da terapia bom desabafar abrir seu corao existe um regra na terapia
que nem uma caixa de ba seus segredos ou algum problema no sai da sala
39
exceto quando voc quer falar sobre alguma coisa muito seria da voc fala com a
total privacidade o que Malu pode vai ajudar.
Na terapia temos caf ch para esquentar o corpo e a bolacha para
adoar a vida. A vida no doce, mas o que vale a inteno. (LOG)
Participo da Terapia porque gosto. bom porque ela ajuda as pessoas a
pensar. Eu gosto das dinmicas. A Terapia no deixa a pessoa na rua. Ela me
ajudou a pensar, no incomodar as pessoas, respeitar. A Terapia boa porque
ajuda a unir as pessoas. D felicidade e paz. (PGB)
4. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada com 20 dos 101 alunos matriculados na EPA,
com idades entre 14 e 18 anos, dos quais 40 freqentam as sesses de TC. Eles
vivem em situao de rua e tm a TC como porta de sada para muitas das
situaes vividas.
O perodo de observao, prtica e entrevistas comeou em dezembro de
2007 e se estendeu at abril de 2008. Entrevistei cada adolescente de forma
individual, buscando respostas que revelassem o grau de satisfao de cada um
deles em relao s sesses de TC. Esta pesquisa foi realizada com os alunos
que se propuseram a participar dela, sem obrigatoriedade. Muitos deles no se
sentiram prontos para responder as perguntas.
A organizao e anlise dos dados foram baseadas na observao dos
adolescentes durante as rodas de TC, que deu embasamento realizao da
entrevista. Em segundo momento, esse processo se compreendeu em etapas de
codificao dos registros coletados a partir dos conceitos de promoo da sade
mental e emocional como metodologia na educao, validando o modelo de
participao em grupo e responsabilidade dos sujeitos envolvidos nessa terapia e
embasada na pesquisa bibliogrfica.
As perguntas do questionrio foram as seguintes:
Esta escola tem a caracterstica peculiar de funcionar durante 12 meses no ano, 10 horas por dia, com
matrculas dirias.
40
usar o
espao da TC para tal. O adolescente restante disse que opta por falar com os
amigos da rua. W.S. afirmou que no se pode confiar em ningum na rua. L,
ningum amigo de ningum. A. P. diz que s se sente bem para conversar na
terapia, porque na terapia, ningum tem preconceito, mesmo eu sendo da ral.
A segunda pergunta, Voc participa do grupo de Terapia Comunitria na
EPA? teve resposta afirmativa em todos os casos, pois a pesquisa foi feita entre
os freqentadores da terapia. O que me chamou a ateno foi o motivo da
participao. Dois deles responderam que freqentam a terapia porque esto
encontrando l apoio para se livrar do vcio nas drogas. Trs adolescentes
buscam na TC pessoas em quem podem confiar, e acreditam no voto de silncio
feito durante as rodas. Treze pessoas responderam que tm, l dentro, a chance
de falar sem ser julgados, acreditam que o lugar bom para desabafar e para
aprender a ouvir os outros. Os trs adolescentes restantes disseram que a terapia
boa e ajuda a resolver os problemas. Na terapia, eu consigo resolver os
problema(s) que eu tenho. As pessoas s ajudam, no colocam a gente pra
baixo.
As mudanas ocorridas na vida dos adolescentes foram muitas e muito
significativas. Os depoimentos deles so muito interessantes e mostram como a
palavra, a confiana, a tomada de posse sobre suas vidas definitiva para a
mudana na maneira como eles se vm e na construo da auto-estima. L. R., de
14 anos disse que aprendeu a conversar nas horas difceis, ao invs de fugir para
o mundo das drogas. W. F. diz que aprendeu que a amizade e o companheirismo
so mais forte(s) para se sobreviver e ver como ser adulto difcil. O depoimento
de E.S.S. mostra como a TC abre novos horizontes para quem a pratica: depois
de comear a fazer terapia, eu vi que o cara tem que mudar. Tem sada, vrias.
41
42
verdadeiras, com que homens transformam o mundo. V. F.S diz que aprendeu a
ter coragem de dialogar mais com as pessoas. Ela sabe que suas palavras tm
fora para modificar sua vida, seu espao e, talvez, o mundo. Freire diz que no
no silncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na aoreflexo e D. O. S., sem conhec-lo, diz que a terapia a ajuda a pensar nas
coisas de sua vida e a ouvir sua prpria voz, fazendo as coisas diferentes na
prxima vez ela diz que se sente em paz depois da terapia, e que as coisas
esto se ajeitando para ela.
Para Barreto (2005), os encontros de terapia tecem redes de apoio e
despertam possibilidades de mudanas, j que as pessoas da comunidade
participam de uma mesma cultura e partilham entre si recursos de comunicao e
laos de identidade, apresentando afinidades em seus sofrimentos e a busca de
solues para os mesmos. P. S. C diz que aprendeu na Tc que no somos nada
sozinhos. Somos um grupo e s vamos conseguir alguma coisa nos ajudando,
entendendo o sofrimento dos outros e o da gente mesmo. Os resultados obtidos
revelam que, na medida em que os adolescentes encontravam, na Terapia
Comunitria, espao para falar sobre suas inquietaes, suscitavam habilidades e
competncias, transformando seu sofrimento em fonte de saber produzida pela
prpria experincia de vida.
Finalizando a pesquisa, afirmo que a Terapia Comunitria como
instrumento de apoio e complementao pedaggica de extrema importncia
para trabalhar com educao e ateno bsica de sade. A Terapia Comunitria
como tecnologia do cuidar apoiada na insero social e no empoderamento,
representa uma ferramenta para se entender o adolescente em situao de rua
como sujeito ativo de sua histria, alm de favorecer a criao de uma rede de
apoio e meios de socializar as falas.
5 CONCLUSES
Aps apresentar, relatar e divulgar a experincia do projeto piloto de
Terapia Comunitria realizado com estudantes da Escola Municipal de Ensino
Fundamental Porto Alegre, sua estrutura, base e objetivos e divulgar a experincia
da EPA com TC entre adolescentes e os resultados que podem ser obtidos com
43
essa prtica, concluo que esse espao de Gesto que est em consonncia com
os quatro vetores que acompanham o trabalho da SMED desde 2005:
desconstruo do racismo de estado, desnaturalizao de padres, exerccio da
diferena e produo de singularidades.
Essa escola tem caractersticas de territorialidade, identificando as
potencialidades da comunidade local, trazendo novos modos de pensar e,
principalmente, de agir, sendo um espao que privilegia a qualidade e o sentido da
aprendizagem da vida.
A insero de novas tecnologias de cuidado na ateno bsica possibilita
a resoluo de grande parte dos problemas de sade da populao municipal,
especialmente dos adolescentes que vivem nas ruas e que, dificilmente, buscam o
sistema pblico de sade para tratar de seus problemas. A socializao das
experincias da Terapia Comunitria e o conhecimento proveniente dos recursos
dos prprios indivduos, somam-se na construo de um verdadeiro exerccio de
liberdade, atravs da ampliao da conscincia de cada um deles em relao aos
seus direitos.
Alm disso, incentiva a aquisio de recursos para o desenvolvimento de
aes educativas para o autocuidado, despertando o empoderamento e a
resilincia individual e comunitria, articulando a circulao de informaes em um
trabalho criado coletivamente, ao divulgar as falas e as estratgias de
enfrentamento das inquietaes do dia-a-dia, para que outros adolescentes na
mesma situao possam beneficiar-se.
Concluo este trabalho com a satisfao de quem mexeu em um tema
provocante, que desacomoda e que, por uma ao transversal, perpassa uma
centena de aes de vrias secretarias do municpio de Porto Alegre. impossvel
falar em vanguarda na educao pblica sem falar em Terapia Comunitria.
Essa experincia fala de tecnologia social de ponta, educadora
comprometida com seu pblico-alvo e gesto escolar competente, produzindo um
resultado importante de incluso social, preconizando uma escola de relaes
horizontais, onde fortalecido o esprito de cooperao da comunidade se unindo
em favor de um projeto comum. o exerccio da pluralidade democrtica, no qual
se respeita o pensamento daqueles que pensam diferente de ns.
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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABRATECOM - Associao Brasileira de Terapia Comunitria. Disponvel
em < www.abratecom.org.br >. Acesso em out. 2005.
BARRETO, A. Terapia Comunitria passo a passo. Fortaleza: Grfica
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Petrpolis: Vozes, 2003.
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Petrpolis: Vozes, 2001.
CAMAROTTI, M.H. et al. Terapia Comunitria: relato de experincia de
implantao
em
Braslia
Distrito
Federal.
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em
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