O Cálculo Da Fração Ideal No Condomínio Edilício
O Cálculo Da Fração Ideal No Condomínio Edilício
O Cálculo Da Fração Ideal No Condomínio Edilício
Belo Horizonte
2006
BELO HORIZONTE
2006
AGRADECIMENTOS
RESUMO
SUMRIO
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5. CONCLUSO ................................................................................................... 34
1. INTRODUO AO TEMA
comear por sua denominao, toda a legislao pertinente ao condomnio edilcio ser
destacada, enfatizando seus aspectos conceituais e histricos.
O critrio opcional aplicado pelos dispositivos legais precedentes para fixao da
frao ideal e o silncio do legislador atual, que no disciplinou de forma eficaz tal
indagao, deram nfase grande subjetividade da referida matria, tornando, assim,
fundamental a regulamentao deste preceito.
Relativamente ao objeto da pesquisa aqui proposta, muitos autores j se
manifestaram sobre a discusso, analisando o clculo da frao ideal no condomnio
edilcio, nos seus mais diversos aspectos. Conforme o jurista Caio Mrio da Silva
Pereira, no livro Condomnio e Incorporaes, para o clculo da frao ideal do terreno,
vrios critrios podero ser usados, redutveis, contudo, a dois: o da rea e o do valor.
Para os autores J. Nascimento Franco e Nisske Gondo, na obra intitulada
Incorporaes Imobilirias, o critrio mais justo, preconizado pela legislao moderna,
o do valor venal de cada uma das unidades autnomas em relao ao valor global do
edifcio, apurando-se desta forma a participao proporcional de cada uma delas no
terreno, coisas e reas de uso comum.
Existem, ainda, outras obras importantes que trataro do tema exposto nesta
pesquisa. Todas essas contribuies literrias sero relevantes para se chegar a
concluses fundamentadas, que respondam de forma satisfatria ao problema
formulado.
Em latim, duorum vel plurium in solidum dominium vel possesionem esse non potest. Caio Mrio, p.
130.
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Esse instituto jurdico uma espcie do gnero comunho tendo em vista que
este ltimo vocbulo tem maior alcance e compreende todas as relaes jurdicas que
envolvem pluralidade subjetiva. Em outras palavras, o termo comunho revela todas
aquelas ocasies em que determinado direito pertence a vrias pessoas. Em linhas
gerais, o condomnio expressa a comunho incidente sobre a propriedade.
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Por outro lado, a destruio macia das construes dos pases envolvidos nas
guerras mundiais, com incio em 1914 e 1939, respectivamente, alm do aumento do
preo de aquisio das terras e encarecimento dos materiais, em muito contriburam
para o aumento do dficit habitacional. Nesse sentido, o autor Caio Mrio relata ainda:
De outro lado, duas guerras dentro de meio sculo, provocando em alguns
pases a demolio, e em outros apenas a falta de construo de prdios,
capazes de proporcionar acomodao residencial ou comercial a toda gente; e,
sobrepondo-se a estas causas, a elevao salarial, o encarecimento de
materiais, a dificuldade de novas edificaes e a extrema alta dos preos dos
terrenos. (SILVA PEREIRA, 1976, p. 58)
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apartamentos, ou seja, projetado para o alto das edificaes com o intuito de acumular
uma moradia sobre a outra. Posteriormente, denominado condomnio edilcio.
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partes
de
propriedade
exclusiva,
nomeadas
unidades
autnomas,
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A diviso da coisa imvel, num prazo muito curto, foi repensada por legisladores
de todo o mundo. Na Frana, com a lei de 28/06/1938, revogada pelas leis de 1965 e
1967. Em Portugal, com o Decreto-lei n. 40.333, de 14/10/1955 e, atualmente, com o
seu Cdigo Civil. Na Espanha, a partir da lei de 1939 e agora com a lei de 21/07/1960.
Na Itlia, com as leis de 1934, 1935 e o Cdigo Civil de 1942. Na Amrica do Sul,
Argentina, Chile, Uruguai e Venezuela tambm participaram dessa mudana.
Para entender esse intercmbio normativo, o autor Hlio Lobo Jnior, em
meno a Joo Batista Lopes, explica que, de um modo geral, todos os pases
civilizados admitem o instituto da propriedade horizontal. (LOBO Jnior, 2003, p. 25).
O Brasil no ficou alheio, inerte ao referido fluxo de pensamento. Pelo contrrio,
exerceu um papel precursor em relao a vrios pases, inclusive da Europa. Prova
disso, que a tcnica da diviso de prdio em andares surgiu com o Decreto-lei n.
5.481, de 15 de junho de 1928, alterado pelo Decreto-lei n. 5.234, de 08 de fevereiro de
1943 e, em seguida, pela Lei n. 285, de 05/06/1948. Por essa razo, possvel justificar
as crticas e falhas, por vezes, atribudas legislao brasileira.
A definio moderna de condomnio edilcio, ou seja, condomnio por unidades
autnomas, consignado pela Lei n. 4.591, de 16 de dezembro de 1964, torna-se
compreensvel com a definio dada pela lei em questo s unidades autnomas. Essa
afirmao pode ser ratificada na leitura do art. 1 da referida lei, que prev o seguinte:
Art. 1 - As edificaes ou conjuntos de edificaes, de um ou mais pavimentos,
construdos sob a forma de unidades isoladas entre si, destinadas a fins
residenciais ou no-residenciais, podero ser alienados, no todo ou em parte,
objetivamente considerados, e constituir, cada unidade, propriedade autnoma
sujeita s limitaes desta Lei.
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Art. 1.332. Institui-se o condomnio edilcio por ato entre vivos ou testamento,
registrado no Cartrio de Registro de Imveis, devendo constar daquele ato,
alm do disposto em lei especial:
I - a discriminao e individualizao das unidades de propriedade exclusiva,
estremadas uma das outras e das partes comuns;
II - a determinao da frao ideal atribuda a cada unidade, relativamente ao
terreno e partes comuns;
III - o fim a que as unidades se destinam.
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Art. 1.333. A conveno que constitui o condomnio edilcio deve ser subscrita
pelos titulares de, no mnimo, dois teros das fraes ideais e torna-se, desde
logo, obrigatria para os titulares de direito sobre as unidades, ou para quantos
sobre elas tenham posse ou deteno.
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Art. 1.351. Depende da aprovao de 2/3 (dois teros) dos votos dos
condminos a alterao da conveno [...].
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Art. 1.351. Depende da aprovao de 2/3 (dois teros) dos votos dos condminos a alterao da
conveno e do regimento interno; a mudana da destinao do edifcio, ou da unidade imobiliria,
depende da aprovao pela unanimidade dos condminos.
Art. 58. A Lei n 10.406, de 2002 - Cdigo Civil passa a vigorar com as seguintes alteraes:
Art. 1.351. Depende da aprovao de 2/3 (dois teros) dos votos dos condminos a alterao da
conveno; a mudana da destinao do edifcio, ou da unidade imobiliria, depende da aprovao pela
unanimidade dos condminos.
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De acordo com o exposto nos tpicos anteriores, o condomnio edilcio pode ser
precisamente definido como a conjugao, co-existncia de propriedade exclusiva
sobre unidades autnomas e co-propriedade sobre as partes comuns, no mesmo
terreno. Em relao s unidades autnomas, os condminos, em regra, exercem a
propriedade plena, ilimitada, pois sobre ela, possuem todos os poderes inerentes ao
domnio, a saber: usar, gozar ou fruir, dispor e reivindicar. Contudo, no que diz respeito
s partes de propriedade e uso comum, o direito de propriedade exercido, ao mesmo
tempo, por todos os comunheiros. Nesse sentido, para identificar a parcela de
propriedade comum pertinente a cada condmino, surgiu a frao ideal.
Destarte, a frao ideal representa a parte inseparvel de cada unidade
autnoma, em relao ao terreno e s coisas comuns. Portanto, cada unidade
autnoma corresponde a uma frao ideal representativa do direito de propriedade
sobre o edifcio como um todo.
No entanto, a finalidade da frao ideal no est somente neste clculo,
apurao. Afinal, salvo disposio em contrrio, o rateio das despesas do condomnio
ser calculado por meio do quociente por ela representado. Deste modo, a quota-parte
em que cada condmino dever contribuir no dispndio de manuteno do prdio ser
conferida em razo da frao ideal por cada um adquirida. No mesmo sentido, Caio
Mrio nos traz a seguinte lio:
Para haver, ento, uma base de distribuio dos direitos e dos encargos de cada
proprietrio, no conjunto do edifcio, necessrio fixar uma cifra representativa
do interesse econmico de cada uma das pessoas participantes da comunho.
Normalmente, atribui-se a cada apartamento uma quota percentual ou milesimal
no terreno, e esta frao o ndice do direito do respectivo proprietrio, bem
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como dos que lhe competem, dentro daquele complexus. (SILVA PEREIRA,
1976, p. 97)
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Mas evidente que no h cogitar do valor da unidade aps sua concluso, seu
ajaezamento, e em funo dos adornos e requintes de acabamento que o
proprietrio lhe tenha introduzido. O que de levar em conta o valor da
unidade, no momento em que se opera a incorporao e excepcionalmente em
perodo posterior, quando fatores especiais hajam para isto concorrido, como,
por exemplo, se o edifcio era de um dono s e passou a regular-se pela Lei do
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Durante muito tempo, o mtodo de clculo da frao ideal foi abandonado nas
discusses legislativas no Brasil que ensejaram a regulamentao do condomnio
edilcio. O Decreto-lei n. 5.481, de 15 de junho de 1928, que introduziu a tcnica de
diviso de prdio em andares, e a Lei n. 4.591, de 16 de dezembro de 1964, que trouxe
a concepo moderna de condomnio edilcio, no fizeram qualquer meno quanto ao
referido tema. Destarte, a frao ideal sempre foi tratada de forma convencional, sem
qualquer rigor legal, j que s partes interessadas cabia a valorao dos aspectos
econmicos e espaciais para chegar sua delimitao.
Com o advento do Cdigo Civil de 2002, especificamente em seu art. 1.331, 3,
nasceu a primeira norma jurdica que versou sobre a frmula de clculo da frao ideal.
Todavia, menos de dois anos depois que o Cdigo Civil entrou em vigor, o referido
artigo foi revogado. A explicao para tal situao se deu pelo fato do dispositivo ter
preconizado o valor da unidade imobiliria como nico critrio para clculo da frao
ideal.
De modo aparente, o mencionado artigo ensejou uma alterao negativa na
forma, at ento aplicada pelos profissionais habilitados. Primeiramente, porque no
existe entendimento claro sobre como deduzir o valor de cada unidade que, por
exemplo, pode ser definido pelo valor venal, pelo valor da construo ou pelo valor de
mercado, sendo que, na maioria das vezes, no h coincidncia entre eles. Em outro
aspecto, o emprego de mtodos diferenciados para atender s especificidades de cada
condomnio edilcio ficou prejudicado em razo da redao original do 3 do art.
1.331, como se depreende a seguir:
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De fato intuitivo concluir-se que este critrio fixado pela lei (hoje revogada)
poderia causar grandes injustias. Afinal, no me parece correto, sob nenhum
ponto de vista, que um apartamento em andar superior, por ser mais valorizado,
deva ter frao ideal maior e, via de conseqncia, pagar mais altas taxas
condominiais. Ademais, seguindo o mesmo raciocnio, inconcebvel que em um
prdio defronte ao mar, o apartamento de frente, por ser bem mais valorizado no
mercado imobilirio, seja compelido a pagar ao condomnio um valor superior ao
do apartamento de fundos. (NACUR REZENDE, p. 30, 2005)
Art. 58 - A Lei n 10.406, de 2002 - Cdigo Civil passa a vigorar com as seguintes
alteraes:
Art. 1.331.
o
Com a redao atual, o texto original do referido dispositivo foi alterado por
completo. Desta forma, a frao ideal deixou de ser atrelada exclusivamente ao valor
da unidade. A nica exigncia da lei a sua demonstrao expressa na forma decimal
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ou ordinria. Sendo assim, a limitao da lei atm-se apenas a sua forma de expresso
numrica.
A ao do legislador corrigiu uma situao completamente dspar e equivocada,
permitindo que a frao ideal seja atribuda de acordo com o caso concreto. Nesse
contexto, torna-se possvel aproximar da justa definio fsica da propriedade, alm da
noo que atenda s dimenses econmicas e jurdicas do direito de cada coproprietrio. Entretanto, em funo da importncia do clculo da frao ideal e da sua
destacada repercusso sobre o domnio, o autor da lei no regulamentou de forma
precisa a frmula de clculo.
Com a faculdade atribuda pela lei ao responsvel pela fixao da frao ideal,
para que aplique o mtodo que entender conveniente, insta salientar que nem sempre
ser possvel vislumbrar a adequada forma de fixao do quantum ideal. Logicamente,
o ser humano passvel de erros e com o instituidor do condomnio no poderia ser
diferente. Por essa razo, ainda que a frao ideal seja definida de acordo com o caso
concreto, impossvel chegar ao melhor resultado sem a observncia de critrios
objetivos que devem ser apreciados no clculo da frao ideal e que deveriam constar
de modo expresso na lei. A respeito disso, lcio Nacur Rezende dispe o que segue:
[...] os civilistas mais consagrados ressaltam que a frao ideal dever ser
atribuda de acordo com o caso concreto, porm, relacionado a: extenso de
cada unidade em relao ao total; o valor de cada unidade em relao ao edifcio
como um todo (frmula adotada pela Lei 10.406/02); a disposio da unidade
dentro do edifcio (altura, frente ou fundos, trreo ou no, aerao, etc.); a
utilizao do elevador, entre outros fatores.
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5. CONCLUSO
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autnoma no terreno, entre outros, alm da flexibilidade que a lei pode conferir ao
instituidor, para que considere as caractersticas peculiares ao seu respectivo
condomnio edilcio, no momento do clculo da frao ideal.
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6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
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