Mondlane-O Desenvolvimento Do Nacionalismo em Moambique
Mondlane-O Desenvolvimento Do Nacionalismo em Moambique
Mondlane-O Desenvolvimento Do Nacionalismo em Moambique
Frente de Libertao de Moambique, organizao poltica fundada por em 1962, para lutar contra o
colonialismo portugus.
politicamente o nosso pas. A haver alguma verdade nesta pretenso portuguesa, ela tem
a ver com o fato de que logo aps o primeiro contacto com as populaes da regio
costeira da frica Oriental, os portugueses, invejando a riqueza e o poder dos
governantes rabes da poca, conspiraram, intrigaram e organizaram as foras que
conseguiram recrutar, alcanando o controlo da situao. Isto permitiu aos portugueses
monopolizar o comrcio, nessa poca extremamente lucrativo, da frica Oriental de
marfim, ouro e pedras preciosas. Para o conseguir, os portugueses aproveitaram-se das
rivalidades ento existentes entre os chefes e os sheiks de cidades-estado como Pate,
Malindi, Kilwa, Zanzibar, Moambique, Sofala, etc., que eram famosas pela sua
prosperidade e elegncia.
Nessa poca, a sua riqueza e avano cultural eram comparveis aos mais
significativos da Europa e da sia. Da reao dos marinheiros portugueses dessa altura,
descrita nos seus dirios, possvel concluir que a frica Oriental no seu todo era um
mundo semelhantes, seno superior, em termos culturais, ao Portugal de 1500.
Contudo, a unidade poltica entre estas cidades-estados no era mais fcil de estabelecer
nessa altura do que hoje em dia na frica Oriental. Citando o Professor James Duffy:
A unidade poltica entre estas cidades-estados foi uma preocupao transitria. Cada
prncipe defendia a independncia poltica e comercial da sua cidade e nunca houve, em
altura nenhuma, uma nao nica na frica Oriental, embora as cidades mais fortes
dominassem em determinadas alturas os seus vizinhos mais fracos.
Muito embora os portugueses se tivessem aproveitado desta lamentvel situao,
nunca conseguiram impor um controlo poltico duradouro, exceo de uma estreita
faixa costeira que ia de Cabo Delgado cidade-estado de Sofala. Em 1700, um
ressurgimento da influncia islmica nesta parte de frica tinha conseguido eliminar
efetivamente os comerciantes e soldados portugueses, assim como dezenas de cidades
que haviam dominado em determinadas alturas.
Desde o incio do sculo XVIII que os portugueses se concentraram em
conspirar e insinuar-se de forma a obterem o controlo do rico comrcio da rea entre
Cabo Delgado e a bacia do Zambeze, numa tentativa para se apossarem do ouro
extrado das famosas minas de ouro de Monomopata, que os portugueses acreditavam
serem as proverbiais Minas do Rei Salomo. De novo, neste caso, as atividades
imperialistas dos portugueses afetaram uma rea que inclua aquilo que hoje a Zmbia
e o Zimbabwe ou Rodsia do Sul. A capital do imprio de Monomopata situava-se em
Mashonaland e fazia parte da confederao de Makalanga da poca.
Depois de 1629, a Coroa comeou a reconhecer os privilgios e direitos que os pioneiros haviam
recebido do Monomotapa ou que tinham conquistado pessoalmente. A legitimao destes ttulos
verificou-se sob uma forma especial de enfiteuse denominada Prazos da Coroa. Com esta concesso, a
Coroa reconhecia, a quem lha requeresse, a posse da terra, qualquer que tivesse sido o modo de
aquisio, por um perodo igual a trs geraes (trs vidas). A sucesso devia ocorrer por linha
feminina, e as herdeiras eram obrigadas a casar com portugueses brancos ou seus descendentes. Ao fim
da terceira gerao os terrenos voltavam posse completa da Coroa, que podia renovar a concesso
mesma famlia ou conflu-la a outra. Pela sua parte o concessionrio era obrigado a residir no prazo, a
pagar o foro e a fornecer tropas s autoridades portuguesas em caso de necessidade. A caracterstica
mais importante desta concesso era constituda pela autoridade que o prazeiro passava a ter sobre a
populao do Prazo. Os senhores da terra tm sobre o seu territrio o mesmo poder e jurisdio que
tinham os Fumos Cafres podem emitir sentenas em todas as causas, fazer execues, fazer guerra,
impor tributos, etc.. Os contratos impostos aos prazeiros eram declarados em muitos aspectos na Lei
das Semanas, que D. Fernando fez publicar em 1373. A Coroa dava-se conta de que devido s
condies especiais da conquista das terras na Zambzia, no poderia impor ao prazeiro muitas
clausulas da Lei, mas a existncia das concesses garantia a sua soberania sobre as terras da Zambzia e
representava numa forma de acautelar tempos melhores. Quanto obrigao da transmisso do prazo
por via feminina era inteno da Coroa incrementar o desenvolvimento da populao portuguesa na
frica do Sudoeste. E quanto aos poderes dos prazeiros sobre a populao dos prazos eles so de facto
conforme os poderes dos Fumos Cafres. Resta, portanto, esclarecer qual era efetivamente o papel das
populaes que habitavam os territrios dos prazos. Os indgenas foram considerados como qualquer
escravo completamente submetido vontade do seu rgulo. Semelhante condio permaneceria
invarivel no momento em que se constituram os prazos, o prazeiro substitua simplesmente o rgulo,
sem alterar a estrutura social. H no entanto a referir que apesar de tudo o estatuto do escravo parece ter
sido prefervel ao do colono. Os escravos no eram empregados na produo agrcola, e gozavam at de
uma posio privilegiada em relao aos colonos. Em trezentos anos a sociedade Zambeziana
desenvolveu-se e mandou em muitos aspectos, mas permaneceu constante na composio racial: poucos
europeus e asiticos, um maior nmero de mistos e a grande maioria africana. No sculo XVIII, o termo
para designar o homem branco era muzungo, depois, passou a indicar os mestios estabelecidos h
muito tempo na regio e mais tarde era sinnimo de assimilado. Durante muito tempo o muzungo
talvez tenha representado o elo de ligao entre a sociedade africana e a de Portugal colonial. Mas, com
o tempo, o processo de cafrealizao avanou e a Coroa no foi capaz em nenhum sentido de travar a
mudana nem de controlar um sistema que opunha o excessivo poder dos senhores dos prazos e a
fraqueza do Estado em todo o Moambique.
(http://www.geocities.com/EnchantedForest/Pond/9060/prazos.html)
de cair sob a sua autoridade e controlo. A sorte destes africanos era pior do que a dos
escravos. Os prazeiros muitas vezes controlavam distritos inteiros como se fossem
propriedades privadas e no reconheciam qualquer outra lei que no fosse a sua e
apenas ocasionalmente prestavam vassalagem ao rei de Portugal. Os missionrios
jesutas e dominicanos dessa poca tambm possuam vastas extenses de terra que
administravam como qualquer prazeiro, cobrando impostos e, quando o comrcio de
escravos se tomou mais rendoso, negociando escravos. Foi a partir do sistema de prazo
que as grandes companhias como a Nyasa e Manica e Sofala se desenvolveram.
Tambm se pode presumir que o sistema desumano de companhia concessionria
tipicamente portugus, que caracteriza os principais empreendimentos econmicos do
colonialismo portugus, tem diretrizes que derivam do sistema de prazo deste perodo.
A corrupo no sistema de prazo era to flagrante que na terceira dcada do
sculo XIX o prprio governo portugus se sentiu na obrigao de o proibir. Entre as
razes para a sua abolio pelo governo colonial portugus, o sistema de prazo era
notrio em provocar a insegurana em relao s pessoas e propriedade, e quanto ao
excessivo nmero de africanos que eram forados a abandonar a rea devido prtica
de escravatura por parte dos senhores. Tudo isto resultou no colapso quase absoluto da
administrao portuguesa. No entanto, para voltar a impor a autoridade portuguesa, foi
necessrio procurar a cooperao de alguns dos prazeiros, o que significou a sua
reintegrao; logo, um crculo vicioso!
Ao longo de todo este tempo, contudo, os benefcios financeiros resultantes do
comrcio de escravos eram to grandes que os prazeiros da regio central de
Moambique se tinham transformado em reservas de escravatura. H que referir, ainda
que sumariamente, que embora o comrcio de escravos fosse uma das atividades
econmicas portuguesas mais caractersticas, a escravatura per se na frica Oriental era
praticada muito antes de Vasco da Gama chegar a esta costa da frica. A maior parte
dos escravos da frica Oriental eram vendidos no Mdio Oriente e no Sudeste Asitico,
incluindo a ndia.
A maior parte das atividades colonialisto-imperialistas referidas acima ocorriam,
na frica Oriental, principalmente na estreita faixa costeira, envolvendo em especial
contactos com os rabes e com os swahilis, e apenas contactos muito superficiais com a
massa dos povos de lngua bantu da frica Oriental atual e de Moambique.
A conquista portuguesa daquilo que hoje Moambique teve origem na
proverbial corrida frica que comeou na segunda metade do sculo XIX. Depois da
que temporariamente, derrotar e controlar muitas delas, ao longo dos sculos XVI, XVII
e XVIII, quando se apoderaram da principal riqueza comercial da regio norte e centro
de Moambique, at ao sculo XIX, quando procederam conquista e dominao do
atual territrio do nosso pas, a reao do nosso povo foi desconexa. Foi uma reao
dispersa que encorajou uma conquista dispersa do nosso povo. Ainda na segunda
dcada deste sculo, em 1917 e 1918 para sermos precisos, quando o Makombe do
Barwe numa tentativa de restabelecer algum do legendrio poder do seu antecessor, o
Rei Monomopata encenou uma insurreio bem sucedida, o seu sucesso no durou
muito tempo, pois no foi uma insurreio nacional moambicana: limitou-se a um ou
dois reinos tribais.