Cancioneiro Geral

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5.

A poesia palaciana: Cancioneiro Geral de Garcia de Resende

1. Caractersticas gerais do Cancioneiro Geral


poca

O Cancioneiro Geral publicado em 1516, numa momento de transio


da Idade Mdia para a Renascena, mas o texto mais antigo que contm data de
1449.
Antecedentes

Inscreve-se numa moda literria caracterstica da segunda metade do


sculo XV e mesmo anterior, consistente na recolha de composies poticas para
publica-las em cancioneiros. uma imitao doutros cancioneiros eurpeus, em
especial castelhanos como:
1) Cancionero de Baena (1449), compilado por Juan Alfonso de Baena.
2) Cancionero de Lope de Stiga (sculo XV).
3) Cancionero de Hernando del Castillo (1511), o que mais influncia teve no
de Garcia de Resende em quanto compilao, classificao e edio dos
textos. O seu ttulo completo Cancionero general de muchos y diversos
autores de Hernando del Castillo.
Objectivos

Num momento no que Portugal vive a poca de auge dos


descobrimentos h uma lacuna na cultura, em especial no mbito potico. Pelo que
o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende pretende ser um exerccio cultural e
poltico para concorrer com outras cortes europeias que, embora sejam menos
poderosas, j tm cancioneiros similares.
Para o compilador esta uma necessidade urgente, pelo que busca e
encarrega textos e s 5 anos depois da publicao do Cancioneiro de Hernando del
Castillo publica-os. Esta necessidade manifesta-se tambm noutras artes, como o
caso da arquitectura, j que se construem monumentos em homenagem s
descobertas (os Jernimos de Lisboa, a Torre de Belm)
Este cancioneiro pretende ser melhor que os existentes noutras cortes
europeias em todos os aspectos:
a) Quantidade:
880 composies;
uns 300 autores ( difcil saber o nmero exacto, j que h casos nos que
no sabemos se o mesmo nome se refere ao mesmo autor ou a vrios).
b) Diversidade temtica, ainda que destacam dois temas (continuadores da
tradio das cantigas galego-portuguesas):
amor;
stira.

Literatura Portuguesa I (das origens Renascena)


USC, 2007/2008 < http://apuntamentos.iespana.es/litpt1/litptI_05.doc >

5. A poesia palaciana: Cancioneiro Geral de Garcia de Resende

A poesia cortes

uma poesia feita na Corte, por cortesos, divulgada entre cortesos e


compilada por um corteso. Garcia de Resende est muito ligado monarquia, j
que foi secretrio e cronista de D. Joo II ( autor duma Crnica de D. Joo II 1).
Ele mesmo autor dalgumas composies do Cancioneiro Geral.
As composies que se incluem no Cancioneiro Geral foram redigidas ao
longo de trs reinados:
1) Afonso V,
2) D. Joo II,
3) D. Manuel.
Temtica

Como j mencionamos as composies do Cancioneiro Geral de Garcia


de Resende tratam principalmente dois grandes temas, ainda que h outros:
1) Amor (gentilezas),

temtica na que encontramos elementos do amor corts das


cantigas de amor galego-portuguesas e elementos inovadores, renascentistas:
Elementos do amor corts

Elementos inovadores (renascentistas)


Mulher concreta, mais sensual: aluses a
Mulher abstracta, platnica que um ideal
partes do corpo, mais tangvel, menos
de beleza, quase divina, intangvel
esquiva.
Dupla sintomatologia do amor:
Presena da paisagem:
prazer;
A mulher situa-se num cenrio, num
sofrimento (coita), mais abundante
lugar concretos porque j no uma
que o prazer e manifesta-se em:
mulher abstracta.
insnia;
maneira renascentista, adaptando-se
loucura;
ou contradizendo os sentimentos do
poeta. Torna-se agente das
cegueira;
composies.
choro...
Motivo do inferno do amor / inferno dos
amores:
Muito frequente na poesia castelhana,
mas que tem a sua fonte na Divina
Comdia de Dante.
Consiste em desenhar poeticamente um
inferno em que ardem as almas dos
Presena dos olhos maneira galegonamorados simbolicamente, j que o
portuguesa:
seu amor to grande que ardem nele.
veculo da paixo ( atravs da vista
Exemplos:
que o namorado se apaixona);
Composio parateatral de Garcia de
meio de expresso: choro, olhos
Resende em que arde a alma de
cansados pela insnia...
Ins de Castro. a primeira vez
que Ins de Castro aparece na
poesia.
frequente que se situe no inferno
dos amores o trovador Macias o
Namorado, da escola galegocastelhana.
Transformao do amante na coisa
amada, quer dizer, as almas dos
namorados tornam-se uma soa.
Tema da partida, j frequente na cantiga
de amor mas agora est relacionado com as
descobertas.

H tambm uma Crnica de D. Joo II da autoria de Rui de Pina, substituto de Ferno Lopes como
Arquiveiro Mor.
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Comentrio de composies de temtica amorosa


Coita.
Meu bem, sem
Contradio do amor.
vos ver, do Conde
Morte por amor.
do Vimioso
Oposio morte vs. vida.
Tristeza, pois no
podeis, do Conde
tristeza vs. prazer.
do Vimioso
A vida sem vervos, do Conde do
coita.
Vimioso
Ajuda de Garcia
so habituais as composies colectivas (ajudas, glosas,
de Resende, de
respostas) em relao com o entretenimento nas festas dos
Garcia de Resende
seres no pao. Em muitas ocasies so concursos poticos.
Que meus olhos
partais, de Rui
Transformao na coisa amada.
Gonalves de Castel Tema da partida.
Branco
Cantiga em que
est o nome por
quem se fez, pelas Carcter ldico da composio manifestado na forma: jogos de
primeiras letras
palavras, acronmia.
dela, de Diogo
Brando
Esparsa em que
est o nome de
senhora nas
Carcter ldico: acrnimos.
primeras letras de
cada regra, de
Jorge de Resende
Senhora, de
Jogo formal: pode ser lida em vertical ou em horizontal.
Ferno da Silveira
A
se chamava Da
Jogo com o apelido Da Costa.
Costa, de Diogo
Tema das descobertas.
Brando
a composio mais conhecida do Cancioneiro Geral, que foi
estudada mesmo quando a critica o considerava uma obra
menor.
Senhora, parten
to tristes, de
Tema da partida.
Joo Roiz de Castel
Sintomatologia do amor: tristeza, saudade, dor, cansao,
Branco
choro, desejo de morte...
Morte vs. vida.
Aliteraes das sibilantes e as consoantes nasais.

2) Stira,

que pode ser de dois tipos:

a) Galhofeira e brincalhona (folgar): provoca o riso fcil e imediato, tem o


humor como nica finalidade.
b) Grave, que critica os males da sociedade mostrando raiva perante
determinadas situaes. Pode ter humor, mas no a sua nica finalidade nem
tampouco a principal.
Temas satirizados:

(mangas, chapus, calas, gibes...), uma stira aparentemente


humorstica mas que pode conter crtica social em relao com:
Vestimenta

A democratizao da moda: por causa do dinheiro que geravam as


descobertas havia muitas pessoas que podiam usar vestimentas de mais
prestigio do que lhe correspondia
sua classe social, isto criticado
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pelos cortesos que se consideram as si prprios cristos velhos. A moda o


carto de presentao na corte e tambm o passaporte dum status a outro.
Nesta poca surgem constantemente pragmticas contra o luxo que
probem o uso de vestimentas que no se adeqem classe social, mas so
incumpridas.
Ocultao do que se consideravam defeitos fsicos, em especial a
sintomatologia de doenas venreas como a sfilis: calvcie, cara muito rapada,
chapus... Tambm se ridiculizam os protectores penianos, chamados
braguilhas. Um exemplo uma longa composio dedicada a D. Goterre,
que vai ao pao com uma braguilha muito grande cheia de diamantes e criticase que queira simular ter o que no tem. Outro exemplo uma composio
feita a uma gangorra (chapu grande) muito grande.
Mulheres,

que aparecem satirizadas em vrios sentidos:

Aproveitamento da sua condio para conseguir os seus propsitos.


As malmaridadas ou mal casadas, quer dizer, mulheres que tm relaes com
certos homens mas que casam com outros.
Pelo seu desejo sexual ou insatisfao sexual.
Lesbianismo.
Minorias:

Mouros, aos que se animaliza chamando-lhes perros 2 e que, ademais, esto


relacionados com o sexo.
Judeus, aos que se animaliza chamando-lhes marranos e que esto
relacionados com a avareza. Um exemplo uma composio de lvaro de
Brito Pestana na que o poeta se queixa de que os judeus esto a marrar a f
crist.
Corrupo,

relacionada com a justia e a poltica:

Ambio de querer tem uma melhor condio na Corte.


Abandono do campo pela cidade por parte da nobreza, que deixa as suas
quintas por causa dessa ambio. Isto supe um elogio da comunho com a
natureza, dizer, do tpico renascentista do locus amoenus.
pelas desgraas humanas que provoca, ainda que isto
tambm engrandece aos portugueses que se arriscam embora conheam os
riscos. Isto adianta a postura do Velho do Restelo dOs Lusadas.
Crtica s descobertas

Clero,

do que se critica a sua hipocrisia no referente castidade, a humildade, a


pobreza... Isto tambm se d no Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, no que
aparece um frade vestido maneira de soldado e acompanhado duma mulher.

Palavra que se consolida muito tardiamente no castelhano pelas suas conotaes negativas.
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Comentrio de composies de temtica satrica


No h mesura, j que aparece o nome da mulher que se
ataca (Dona Lionor da Silva).
Critica-se que esta mulher casasse com um homem embora
Pois que dama
mantivesse relaes com outro (malmaridada), pelo que lhe
to perfeita, de
deseja m sorte.
Nuno Pereira
Critica-se o facto de o marido desta mulher ser um beiro,
prottipo de rstico e afastado da corte e a civilizao.
Critica-se que o marido de Dona Lionor morde o castelhano,
pelo que observamos aqui uma crtica do castelhano
Pois medistes
Composio colectiva.
assi crua, de
Critica-se a desejo sexual duma mulher de modo hiperblico.
Ferno da Silveira
Esfora, meu
Stira colectiva s mulheres, mas tambm cantiga amorosa
corao, de Jorge
j que o poeta fala com o seu corao (desdobra-se).
de Aguiar
Evidencia-se o poder da mulher.
Faz-se referncia aos ares maus dos judeus e necessidade
Senhor meu Lus
de limpar a cidade deles.
Fogaa, de lvaro
Nos versos 61 72 podemos observar uma crtica corrupo
de Brito Pestana
por mor da ambio.
Meu senhor e
Harmonia e felicidade na quinta vs. presses da Corte.
meu cunhado, de Referncia aos empurres com o porteiro para estar perto do
Nuno Pereira
rei.
Oposio campo vs. Corte: ele deixa a Corte pela sua quinta
na Beira. S de Miranda tambm ter esta atitude
Mafoma, primo,
renascentista, deixando a Corte pela sua quinta, perto dO
senhor, de Joo
Porto.
Roiz [Rodrigues] de
Castel Branco
Nos versos 65 72 podemos observar uma crtica s
descobertas (tambm no Auto da ndia de Gil Vicente).

3) Outros:

a)

Elegia

(reis, personagens ilustres).

b) Composies histricas e proto-picas: so composies que apelam para a


epopeia mas no se inserem dentro dos esquemas da epopeia clssica. Assim,
h composies que cantam a conquista de praas africanas, como Azamo por
parte do Duque de Bragana, ou Alccer Quibir.
c)

(como na literatura castelhana da altura): oraes, momentos da


missa, celebrao de determinados santos...
Religio

Forma
Verso

O Cancioneiro Geral introduz a redondilha, um verso que vai ter muita


tradio na literatura portuguesa:
1) de origem castelhana e moda na literatura peninsular do sculo XV.
2) um verso que se caracteriza pela sua medida: sete slabas, mas tambm
existem as redondilhas de p quebrado que podem ter cinco ou trs slabas.
Todas elas podem misturar-se na mesma composio.
3) um verso que no ser apartado na Renascena pela chegada do dolce stil
nuovo ou medida nova.
Do grande mal que causaram
Senhor meu Lus Fogaa

Exemplos
Redondilhas de 7 slabas.
Redondilha e redondilha de p quebrado.
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Estrofes

O Cancioneiro Geral tambm pioneiro quanto aos moldes estrficos, j


que introduz alguns que tero continuidade na Renascena ao lado do soneto. Estes
moldes so:
1) Cantiga: denominao que depois da Idade Mdia aplicada s a um tipo de
estrofe com umas caractersticas muito especficas. A cantiga uma estrofe
que consta de:
mote / moto, composto por 3, 4 ou 5 versos;
glosa, parte na que se desenvolve o contedo do mote em 9 ou 10 versos.
normal que a ltima parte da glosa reproduza a rima do mote.
Exemplos
Corao, j repousavas
Quem de mim sh-de doer?
-

Pois medistes assi crua

Cantiga na que s coincide a rima da primeira


glosa com a do mote.
Composio colectiva composta com o sistema de
pergunta / respostas.
Stira brincalhona, mas tambm sria. Usa-se a
mulher para satirizar a libidinagem (perra)

2) Vilancete: muito parecido cantiga, mesmo muitas vezes so termos usados


como sinnimos. A diferena est na extenso do mote, que no vilancete de
s 2 ou 3 versos, mas nem sempre.
3) Trova: estrofes compostas por redondilhas cujo nmero de versos varivel.
um molde com muita continuidade na literatura posterior.
Senhora, contar-vos-hei
Pois que dama to perfeita

Exemplos
Trova de 10 versos.
Trova de 10 versos.

Esboos teatrais

So composies que anunciam Gil Vicente, mesmo muito provvel


que ele mesmo seja autor dalgumas delas, porque j era conhecido na Corte desde
1502 (quando actua para celebrar o nascimento do prncipe com o Monlogo do
vaqueiro).
O autor mais aproximado ao teatro Anrique da Mota, que por alguns
considerado o iniciador do teatro portugus. Conservamos cinco textos para
teatrais dele, que se encontram no Cancioneiro Geral. provvel que conhecesse a
Gil Vicente, j que os dois se moviam no mesmo ambiente corteso e, ademais, a
intertextualidade entre os dois autores evidente em todos os nveis (tema, forma,
discurso).
Dos cinco textos para teatrais de Anrique da Mota os mais importantes
so a Lamentao do clrigo e a Farsa do alfaiate:

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Comentrio da Lamentao do clrigo


Contido
Intertextualidade com Gil Vicente
Gil Vicente tambm ataca muito ao
clero. Por exemplo, no Auto da Barca
do Inferno narra-se como um clrigo
no pode apanhar a barca da glria pelo
comportamento que teve em vida.
Stira aparentemente brincalhona (vinho)
No Monlogo de Maria Parda, Gil
que esconde outra mais seria dirigida ao
Vicente tambm ataca a seduo do
clero (habitual no Cancioneiro Geral).
vinho j que conta a histria duma
mulher que percorre Lisboa buscando
vinho. Do meu bem de Caparica (v.
106) um verso que tambm aparece
nesta obra de Gil Vicente.
Personagem da negra como criada do
clrigo. A presena de personagens
africanas muito habitual na literatura
peninsular do sculo XV.
Gil Vicente tambm ataca a fala dos
Ademais, tambm se satiriza o seu
mouros pelo seu desconhecimento do
desconhecimento do portugus: A mim
portugus
nunca, nunca mim / entornar, / mim andar
augua jardim, / a mim nunca sar roim, /
porque bradar?
O clrigo ameaa a negra com queima-la
com gorduras de porco, um castigo habitual
na altura aplicado aos muulmanos. Deste
modo, o clrigo tambm atacado pela sua
falta de piedade.
Ataca-se tambm o facto de o clrigo
Tema que tambm frequente em Gil
manter relaes sexuais com a negra.
Vicente e nas cantigas de escrnio.
Uso da linguagem com fins humorsticos:
Gil Vicente tambm usa o latim
ridiculiza-se o latim que usa o clrigo
incorrecto do clero e de personagens
(saltem vos, amici mei).
ligadas justia com fim humorstico.
Crtica aos profissionais da justia (juiz
dos rfos e almoxarife), que lhe
Gil Vicente tambm satiriza aos
aconselham ao clrigo que se siga
profissionais da justia.
aproveitando sexualmente da negra
A nvel mtrico estamos perante trovas de
9 versos, que podem ser redondilhas ou
redondilhas de p quebrado.

Comentrio da Farsa do alfaiate 3


Contido
Intertextualidade com Gil Vicente
Gil Vicente tambm critica os judeus
j que tira muitas das suas personagens
da realidade social. No sculo XVI os
Crtica aos judeus: um alfaiate judeu
judeus ligavam-se a profisses
chora a perda dum cruzado, uma moeda de
independentes e, a partir de Gil Vicente,
pouco valor e que, ademais, ganhara em
aparece o prottipo de judeu avaro
seis meses enganando os clientes.
na literatura portuguesa, peninsular e
europeia.
Humorismo (o protagonista prefere
qualquer outra desgraa antes do que a
perda do cruzado)
Presena da justia: o alfaiate pede-lhe
A presena da justia tambm frequente
ajuda ao juiz.
em Gil Vicente.
Discurso: expresses judaicas (Adonai)

Esta composio foi reeditada como farsa, mas no foi o autor quem lhe aplicou esta etiqueta.
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Comentrio de DAnrique da Mota ao hortelam...
Composio sobre um homem muito pequeno que se chama Joo Grande.
Comentrio de Trovas dAnrique da Mota a
Ataca-se a avareza dos donos da mula, que nem a deixan descansar nem a alimentam
bem.
Comentrio de Anrique da Mota a Vasco Abul...
Contido
Intertextualidade com Gil Vicente
Homem idoso que se apaixona por uma
danzarina que lhe oferece uma cadeia. A
NO velho da horta de Gil Vicente
moa aceita-a mas no corresponde os
aparece tambm o mesmo motivo
amores do velho, que recorre justia.
temtico.
Critica-se a avareza do homem.

Tambm podemos considerar textos para teatrais as composies


colectivas, que se construem atravs de dois sistemas:
1) Sistema de ajuda: um autor redige a sua composio e outros fazem glosas.
Forma parte do jogo ldico que supe a poesia no mbito palaciano nesta
altura.
2) Sistema de perguntas / respostas: um autor faz uma pergunta versificada que
contestada do mesmo jeito por outros autores.
Inicio do bilinguismo

Arredor do 10% das composies do Cancioneiro Geral esto escritas em


castelhano, isto:
1) Inicia um costume que se prolongara at o sculo XVII, j que durante este
perodo todos os autores cannicos sero bilingues (excepto Antnio Ferreira).
2) Pode ter a sua origem em:
a) a influncia dos cancioneiros castelhanos que causam admirao em
Portugal;
b) as frequentes alianas matrimoniais 4 dos reis de Portugal com princesas de
Castela, que divulgariam o castelhano na Corte portuguesa.
3) Manifesta-se explicitamente quando se citam nomes de autores castelhanos:
igo Lpez de Mendoza (Marqus de Santilhana), Juan Alfonso de Banea, Lope
de Stiga, Jorque Manrique...
4) tambm criticado nas composies do Cancioneiro Geral, j que h autores
que no vem bem esta admirao por Castela e que se olvidem a lngua e cultura
portuguesas.
Recepo

O af de Garcia de Resende por compilar muitos textos fiz que a


seleco dos mesmos no fosse muito exaustiva. Isto tem como consequncia que a
acolhida que teve fosse muito negativa (a crtica literria do sculo XIX faz uma
valorao negativa dela) e ficasse como uma obra olvidada (a 2 ed. de quatro
sculos mais tarde).

Trs das esposas de D. Manuel eram castelhanas.


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2. Comentrio dalguns trechos


2.1. Prlogo do Cancioneiro Geral

Est dirigido ao prncipe, o filho do rei D. Manuel e futuro D. Joo III (


uma obra cortes, pelo que se defende a monarquia).
Trecho 1: Porque a natural condiom [...] que se no podem em pouco escrever
Descobertas e grandeza de Portugal (cidades, vilas e fortalezas
tomadas [...] Guin [...] Etipia, Arbia, Prsia, ndias).
Elogios
Espalhamento do Cristianismo. Na poca existia o debate de se a
finalidade das descobertas era econmica ou religiosa.
No se valora o prprio e no se escrevem as faanhas dos portugueses,
embora sejam dignas de grande memria. H uma chamada a uma
Crtica
obra pica (Porque a natural condiom dos portugueses nunca
escreverem coisa que faam).
Elementos
Comparao dos portugueses com heris gregos e romanos dizendo
renascentistas que os primeiros so mesmo superiores.

Trecho 2: Todos estes


Apresentao
das
principais
temticas
do
Cancioneiro Geral

feitos [...] tanta fama como tem


Satrica (coisas de folgar).
Amor (gentileza).
Outros:
Religio (hinos e cnticos que na Santa Igreja se catam,
se ver)
Histria (E assi muitos emperadores, reis e pessoas de
memria).
Moda da vestimenta, temtica usada simbolicamente para
atacar a certos personagens. Exemplo: crtica dum chapu
azul de seda
critica-se que esconda os sintomas da sfilis,
ademais o azul a cor dos cimes.

Trecho 3: E porque senhor [...] nom som dino de meter mo


meu fraco entender
Humilitas
nom som dino de meter mo
Diz que a sua uma pequena contribuio cultura portuguesa,
pelo que faz uma chamada para a composio duma obra pica a
outros com mais poder e capacidade do que ele tem. Esta chamada
Contido
seria constante at 1572, quando se publica Os Lusadas de
Cames.

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