Artigo - Cifefil
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RESUMO
Este trabalho analisa qualitativamente contextos em que a, da e ento funcionam
como variantes de uma varivel. Com dados extrados de entrevistas coletadas em
Campo Grande (MS) e So Paulo (SP), parte-se dos casos em que estas formas funcionam como diticos (nos quais elas no podem ser intercambiadas entre si) na direo
de trs conjuntos de dados juntivos, marcadores discursivos e ambguos que parecem constituir um envelope de variao. Nos termos da sociolingustica variacionista
(LABOV, 2006) e das teorias sobre gramaticalizao (GIVN, 1995), analisam-se os
usos desses articuladores na fala de duas capitais brasileiras, a fim de preparar os dados para uma anlise quantitativa futura, cujo objetivo revelar se h algum tipo de
correlao social com seu emprego.
Palavras-chave: Variao. Gramaticalizao. Orao. Juntivos. Marcadores.
1.
Introduo
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2.
O envelope de variao
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No exemplo (4), a ou da no lugar de ento resultariam num perodo agramatical. Desde a, embora possvel na lngua, no parece caber
neste contexto temporal (talvez em razo da presena de aqui no perodo,
a interpretao de a fique condicionada a um sentido espacial); desde
da, por outro lado, embora possa ser considerada uma forma possvel
(talvez no discurso de falantes menos escolarizados?) seria sinnima de
desde a.
Logo, se a condio bsica para um estudo variacionista a de
que, para serem considerados variantes de uma varivel, dois enunciados
precisam ter mesmo valor de verdade (LABOV, 1972; 1978; 2001;
LANDERA, 1978), exemplos como (2), (3), e (4) que ilustram empregos diticos de a, da e ento no caberiam num tal estudo. Em outras
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Alm de casos semelhantes a (5) a (10), as amostras campo-grandense e paulistana revelam contextos em que a, da e ento no se enquadram nessa categoria que se props chamar de juntivos:
(11) por tambm alguma/ algumas questes eh econmicas e tal [ela precisou voltar a trabalhar a ela ela voltou] o meu pai tambm trabalhava n?
(SP31MSPS-CarlosJ)
(12) [tem hora que meio perodo que ela trabalha pra ele nunca ficar sozinho n?
da ela da tem eu] fico at umas onze e meia aqui com ele (CG25FCAdriana)
(13) Parque Vitria e fica na grande re/ eh porque distri/ ahn o Tucuruvi uma
um distrito do municpio ento Parque Vitria um um bairrozinho de... Tucuruvi (SP60FSPN-EthelM)
Aqui, ao mesmo tempo em que a parece introduzir um efeito resultante da mudana de atitude do falante, o item tambm retoma a causa
em questo, sobretudo quando reutiliza o vocbulo fazer (fazer diferente, fazer amizade).
O que importa, contudo, o fato de que, tambm nestes casos, os
trs elementos podem ser empregados. Assim, funcionem como juntivos
ou como marcadores do discurso, ou compartilhem caractersticas de
ambos, a, da e ento podem ser analisados como variantes de uma varivel. Como tais, convm perguntar se eles so empregados diferentemente em comunidades de fala distintas. Da mesma forma, interessa investigar se algum desses itens mais recorrente num ou noutro contexto discursivo nas diferentes comunidades.
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3.
Juntivos
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3.3. Causa-efeito
Este conjunto de dados, a exemplo do anterior, tambm constitui
um desdobramento direto da noo de sequenciamento ordenativo (TAVARES, 2009). A noo introduzida pelos articuladores sempre a de
uma ao ou evento desencadeado por outro, como se observa em (27),
(28) e (29), que relatam os danos sofridos por um indivduo em razo de
determinado acontecimento.
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4.
Marcadores discursivos
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4.2. Sntese
Derivados dos casos de reintroduo de tpico discursivo (TAVARES, 2003), h contextos em que a, da e ento, atuam como sinalizadores do encerramento do turno conversacional e do tpico discursivo (TAVARES, 2003). Esses casos so semelhantes aos anteriores, mas
diferem deles, j que, aqui, os termos analisados, alm de garantir fluidez
ao discurso, sinalizam o desgaste do tpico. Logo aps a informao sintetizadora, comum haver o abandono do turno de fala ou repeties e
hesitaes (TAVARES, 2003).
(33) no tem ningum morando pra c at que no interior tem um pessoal que mora
no Paran tambm a aqui eh a famlia do meu pai toda daqui uma mora tem
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5.
Concluso
A anlise qualitativa de dados extrados de entrevistas sociolingusticas coletadas em Campo Grande e So Paulo constata que a, da e
ento funcionam como variantes de uma varivel na funo de articuladores de sentenas. Tal funo subdivide-se em casos nos quais esses
itens atuam como juntivos ou marcadores discursivos. A discusso desses subtipos identifica diferenas sintticas e, sobretudo, semnticopragmticas entre eles.
So tambm frequentes, nas amostras analisadas, ocorrncias em
que ento, apesar de se constituir como um marcador, no permite a intercambiabilidade com a e da. Nesses casos, o falante se utiliza categoricamente de ento para planejar o discurso, preparando o ouvinte para o
que ser dito, em vez de ir direto ao ponto, o que tambm caracteriza
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quantitativas futuras, quais so as tendndias de uso de juntivos e Marcadores discursivos em Campo Grande e So Paulo. Tambm ser possvel
verificar se os fatores, sociais e lingusticos, que influenciam o uso dos
elementos em cada uma das suas atribuies, convergem ou divergem
nas duas comunidades.
Sabe-se que, em seus contextos de intercambialidade, a, da e ento esto mais gramaticalizados e com significao lexical menos ampla
que em sua forma ditica, em cujo uso no se identifica a variabilidade
das formas. O percurso espao > (tempo) > texto > discurso, proposto
por Traugott e Heine (1991), tambm direciona o agrupamento dos dados
nos respectivos conjuntos apresentados, principalmente no que diz respeito aos casos em que os limites funcionais entre os articuladores no
so particularmente ntidos.
Assim sendo, a anlise variacionista de a, da e ento poder revelar se h especificidades de uso de tais articuladores em duas comunidades de fala distintas; permitir discutir se, ao optar por uma ou outra
das formas, o falante est sujeito a algum tipo de avaliao social e se essa possvel avaliao a mesma nas duas capitais. Em um estgio posterior da pesquisa, as anlises qualitativas aqui realizadas conduziro a resultados quantitativos obtidos por meio Goldvarb X (Sankoff et al.,
2005), os quais podero reportar as possveis correlaes entre juntivos e
Marcadores discursivos, seus respectivos contextos discursivos e os fatores estruturais e sociais considerados na anlise.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
ABREU, M. T. V. Elementos conjuntivos: sua variao em narrativas
orais e escritas. 1992. Dissertao (Mestrado em Lingustica) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
BEAUGRANDE, R.; DRESSLER, W. U. Introduction to text linguistics.
London: Longman, 1981.
BRAGA, M. L; PAIVA, M.C. Do advrbio ao cltico isso a. In: RONCARATI, C; ABRAADO, J. (Orgs.). Portugus brasileiro: contato lingustico, heterogeneidade e histria. Rio de Janeiro: 7Letras, 2003, p.
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