Bases Psicológicas
Bases Psicológicas
Bases Psicológicas
Vygotski (1989, 1994, 2001b), ao fazer uma anlise crtica das teorias sobre o
desenvolvimento humano e a aprendizagem em geral, identificou trs grandes linhas de
pensamento. A primeira considera que o desenvolvimento ocorre de forma independente do
processo de aprendizagem; a segunda prope como resposta investigao que a
aprendizagem desenvolvimento; e a terceira concebe a relao entre aprendizagem e
desenvolvimento como produtos da interao entre os dois processos.
De acordo com Vygotski (1989, p. 89), a primeira linha terica concebe que o
aprendizado considerado um processo puramente externo que no est envolvido ativamente
no desenvolvimento. Ele simplesmente se utilizaria do avano do desenvolvimento ao invs
de fornecer um impulso para modificar seu curso. Os tericos pertencentes a essa linha de
pensamento entendem que a inteligncia da criana, assim como a capacidade de raciocnio, a
elaborao de idias, a interpretao das aes da natureza, a organizao lgica do
pensamento abstrato so processos mentais que no se relacionam e nem so influenciados
pela aprendizagem. Entende-se, segundo essa abordagem terica, que a aprendizagem segue o
desenvolvimento, que a maturao precede a aprendizagem, que a aprendizagem uma
superestrutura do desenvolvimento sem que haja nenhum intercmbio entre os dois processos.
Estudos realizados por Tylor e Spencer sobre povos primitivos, ao analisarem
questes morais, crenas, hbitos, linguagens, entre outros aspectos, fundamentam uma
abordagem terica que tambm se assemelha, segundo Vygotski e Luri (1996) primeira
linha terica de investigao sobre o fenmeno. De acordo com tais estudos etnogrficos e
etnolgicos, a lei da associao se estabeleceria como a lei bsica da psicologia. Tal
concepo estabelece o princpio da universalidade, segundo o qual se identificam princpios
nicos aplicveis a todos os seres humanos em todos os tempos. Os autores afirmam que:
O mecanismo da atividade mental, a prpria estrutura dos processos de pensamento
e comportamento no difere num homem primitivo e num homem cultural, e toda
especificidade do comportamento e do pensamento de um homem primitivo em
comparao com a de um homem cultural pode, segundo essa teoria, ser
compreendida e explicada a partir das condies em que o selvagem vive e pensa.
(VYGOTSKY; LURIA, 1996, p. 97).
O texto para estudo representa parte do captulo Desenvolvimento Humano e Apropriao da Cultura da tese
de doutorado Mediaes Simblicas na Atividade Pedaggica (BERNARDES, 2006).
Tal fato faz com que se considere que a origem das diferenas entre grupos sociais
estabelecida de forma diferente em relao s diferenas individuais que se estabelecem a
partir da base biolgica; no entanto, so igualmente deterministas, pois o fato de um
determinado sujeito pertencer a uma certa cultura determinante para definir os limites e
possibilidades de desempenho do mesmo. Nessa abordagem, os aspectos internos decorrentes
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esta concepo de mtodo que se faz presente nessa pesquisa quando se considera a totalidade da
complexidade presente nas relaes entre o ensino e a aprendizagem. Investigar a prxis como unidade na
atividade de ensino requer, para efeito de apresentao e de explicitao das consideraes acerca do fenmeno,
segmentar o que indivisvel, ou seja, separar a formao docente da atuao prtica no campo das relaes
interpessoais por meio da linguagem e da organizao do ensino.
O movimento de constituio das relaes intrapsquicas por meio das relaes interpsquicas identificado por
Vygotski como o processo de internalizao.
Vygotski (2001b, v.2) afirma que essa divergncia entre a idade mental ou o
nvel de desenvolvimento atual, que se determina com ajuda das tarefas resolvidas de forma
independente, e o nvel que alcana a criana ao resolver as tarefas, no por sua conta, mas
em colaborao, o que determina a zona de desenvolvimento prximo.(p. 239).
O conceito de zona de desenvolvimento prximo (ZDP) de particular
importncia quando se identifica que so nas atividades mediadas, presentes nas relaes
interpessoais, que so postas as condies para que ocorra a internalizao e a apropriao do
conhecimento e, conseqentemente, o desenvolvimento das funes psicolgicas superiores.
A respeito da importncia da ZDP para o desenvolvimento intelectual infantil, Vygotski
(2001b, v.2, p. 239, grifo do autor) afirma que: [...] a zona de desenvolvimento prximo tem
um valor mais direto para a dinmica da evoluo intelectual e para o xito da instruo que
o nvel atual de seu desenvolvimento.
Duarte (2001), ao referir-se importncia da zona de desenvolvimento prximo
para o processo educacional no contexto escolar, afirma que:
Cabe ao ensino escolar, portanto, a importante tarefa de transmitir criana os
contedos historicamente produzidos e socialmente necessrios, selecionado o que
desses contedos se encontra, a cada momento do processo pedaggico, na zona de
desenvolvimento prximo. Se o contedo escolar estiver alm dela, o ensino
fracassar porque a criana ainda incapaz de apropriar-se daquele conhecimento e
das faculdades cognitivas a ele correspondentes. Se, no outro extremo, o contedo
escolar se limitar a requerer da criana aquilo que j se formou em seu
desenvolvimento intelectual, ento o ensino torna-se intil, desnecessrio, pois a
criana pode realizar sozinha a apropriao daquele contedo e tal apropriao no
produzir nenhuma nova capacidade intelectual nessa criana, no produzir nada
qualitativamente novo, mas apenas um aumento quantitativo das informaes por
ela dominadas. (DUARTE, 2001, p. 98).
[...] necesariamente, artificial. Es un artificio de la cultura y de la relacin con los dems. (RIVIRE, 1988, p.
61).
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Leontiev (1983, p. 84) , ao citar Marx e Engels em Obras completas, afirma que a discriminao do objetivo
ocorre como una ley determina la forma y el carcter de sus accins...
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Assim como os motivos se ligam atividade e as aes aos objetivos, como j foi
afirmado anteriormente, as operaes vinculam-se s condies da atividade. Diante de
determinada atividade, o objetivo se mantm o mesmo, definido. No entanto, as condies de
execuo das aes podem variar, ento, o que varia so os aspectos operacionais das aes
na atividade.
De acordo com Leontiev (1983, p. 88), as aes e operaes tm diferentes
origens, diferentes dinmicas e diferentes funes a realizar. A gnese da ao est nas
relaes de intercmbio de atividades; toda operao resultado de uma transformao da
ao, originada como resultado de sua insero dentro de outra ao e a incipiente
tecnificao da mesma, que se produz. Conforme afirma o autor, as aes, a partir do
domnio que o sujeito tenha sobre elas, convertem-se em funes mecnicas, ou seja, em
operaes.
A estrutura molar da atividade constituda pelas unidades ou componentes,
como afirma Leontiev (1983), de fundamental importncia para se entenderem as aes
humanas. A atividade, definida pelo seu objeto, fundamenta-se numa necessidade humana
representada pelo motivo, que excita a execuo da ao. Esta, por sua vez, vincula-se ao
objetivo da atividade, que se liga diretamente ao objeto da mesma, e que por isso estvel.
Diante das condies de execuo das aes, as operaes estabelecem-se como funes
automatizadas, que concretizam o objetivo da atividade.
A atividade, como mtodo de compreenso dos processos psquicos humanos,
insere-se na anlise das aes humanas gerais, e a sua macroestrutura [...] a de conjuno
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de processos externos e internos da atividade; a lei ou princpio desta unio consiste em que
sempre segue exatamente o curso das soldasda estrutura descrita.(LEONTIEV, 1983, p.
91).
Ao se conceber a atividade como instrumento e unidade de anlise do
desenvolvimento humano, h de considerar as especificidades da mesma para a constituio
psicolgica dos indivduos em cada etapa do desenvolvimento, a partir das relaes humanas
estabelecidas no contexto social.
Referncias
BERNARDES, M. E. M. Mediaes simblicas na atividade pedaggica: contribuies do
enfoque histrico-cultural para o ensino e aprendizagem. Tese de Doutorado em Educao
Faculdade de Educao, Universidade de So Paulo, So Paulo. 2006.
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ampl. Campinas, SP: Autores Associados, 2001.
LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. 1. ed. So Paulo: Moraes, [1970?].
LEONTIEV, A. N Actividad, conciencia, personalidade. Habana, Cuba: Pueblo y
Educacin, 1983.
LEONTIEV, A. N Uma contribuio teoria do desenvolvimento da psique infantil. In.:
VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. 5.ed. So Paulo: cone, 1994.
RIVIRE, Angel. La psicologa de Vygotski. 3. ed. Madrid: Aprendizaje Visor, 1988.
SHUARE, M. La psicologia sovitica tal como yo la veo. Moscu: Progreso, 1990.
VYGOTSKY, L. S. A formao social da mente: o desenvolvimento dos processos
psicolgicos superiores. 3. ed. So Paulo, SP: Martins Fontes, 1989.
VIGOTSKII, L.S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar.
In.:VIGOTSKII, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. 5.ed. So Paulo: cone, 1994.
VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas. Madrid: Machado Libros, 2001.
VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R. Estudos sobre a histria do comportamento: smios,
homem primitivo e criana. Traduo Llio Loureno de Oliveira. Porto Alegre, RS: Artes
Mdicas, 1996.