Argamassa Preparada em Obra X Argamassa Industrializada
Argamassa Preparada em Obra X Argamassa Industrializada
Argamassa Preparada em Obra X Argamassa Industrializada
The present paper discuss the opportunities and limitations to the use of industrialized
mortar for rendering. It also shows a case study of a small work, whose masonry inner and
outer rendering have been executed partly in packed industrialized mortar, partly in local
mixed mortar, with cement, lime and sand.
A comparative analysis of productiveness values and labor costs, material cost,
warehousing space and also valuation of workmanship according to the application facility
of mortars is presented.
1. INTRODUO
A introduo de novos materiais e novos conceitos de execuo sempre encontraram
barreiras para sua aplicao na construo civil brasileira. Isso se deve em parte ao fato de
que do total de cimento aplicado em edificaes, segundo balano de 1999 do SNIC1, cerca
de 60% demandado pelo chamado consumidor formiga, caracterizado pelo consumidor
que compra o produto ensacado em revendedoras varejistas em pequenas quantidades, cuja
principal utilizao a auto-construo.
Esse fato ajuda-nos a explicar como ainda, em pleno sculo XXI, na construo civil
brasileira, e em especial no setor das pequenas construes, a participao de produtos
manufaturados muito pequena.
Para entender melhor essa situao foi realizado um estudo de caso em uma obra de
pequeno porte, cujo produto escolhido foi a argamassa de revestimento.
A obra em questo refere-se a uma construo com fins comerciais de aproximadamente
600 m2 de rea construda, localizada no bairro da Vila Snia, em So Paulo. O prdio
consta de trs pavimentos, sendo um subsolo utilizado como garagem, o pavimento trreo
com trs lojas comerciais e o pavimento superior com cinco salas comerciais.
O subsolo foi executado em alvenaria de bloco de concreto e os andares trreo e superior
em bloco cermico. Com exceo da fachada frontal, cujo revestimento foi executado com
tijolo cermico aparente, todo o restante da alvenaria interna e externa foi revestido com
argamassa.
1.1 Objetivo
O objetivo deste trabalho foi o de acompanhar o processo de aplicao de dois tipos de
argamassa de revestimento, uma elaborada em obra e outra industrializada fornecida
ensacada, mensurando-se diariamente a produtividade e os custos globais de mo-de-obra e
materiais.
2. METODOLOGIA
Para a anlise comparativa, a obra foi dividida em dois setores, um para aplicao do
revestimento de argamassa produzida na prpria obra e o outro, para revestimento com
argamassa industrializada fornecida ensacada. Procurou-se equiparar os dois setores em
termos de rea total, panos, interferncia de caixilhos, distncia entre eles, distncia at o
local de produo da argamassa, etc. A mo-de-obra foi a mesma para os dois setores,
sendo dessa forma a argamassa de revestimento utilizada a nica varivel.
As paredes internas e externas receberam uma camada de chapisco e somente aps sete dias
as argamassas de revestimento foram aplicadas em camada nica.
O estudo incluiu a caracterizao dos materiais, a produo da argamassa em obra, com
controle dirio, o consumo de materiais, o preparo da argamassa industrializada segundo
instrues do fabricante e o servio de aplicao.
A produtividade na execuo do revestimento com os dois tipos de argamassa foi medida
atravs de um ndice parcial, que relaciona os homens-hora empregados e a rea de
revestimento executada (Hh/m2), ndice denominado Razo Unitria de Produo (RUP).
Para avaliar a produtividade, so apresentados os valores de RUP dirias, que
correspondem razo entre o valor de homens-hora e a quantidade de servios executados
no dia analisado e os valores de RUP cumulativa, que correspondem mdia de valores de
RUP dirias, desde o primeiro dia em que se estudou a produtividade at o dia em que se
deseja conhecer a RUP cumulativa2.
A execuo do revestimento das paredes foi iniciada pelo setor destinado argamassa
produzida em obra e somente aps a sua concluso que o setor destinado argamassa
industrializada foi executado, no ocorrendo em nenhuma oportunidade a execuo
simultnea das duas argamassas.
2.1 Caracterizao das amostras
2.1.1 Argamassa produzida em obra
Os resultados da caracterizao dos materiais utilizados na produo da argamassa esto
apresentados a seguir.
Areia
Foi utilizada uma areia quartzosa, de rio, de gros arredondados e classificada como areia
fina (zona 2), segundo a NBR 7211/1983.
Os resultados da caracterizao fsica da areia utilizada na argamassa produzida em obra
esto apresentados na Tabela 1 e na Figura 1.
0 10
2,4
0 15
1,2
11
0 25
0,6
26
37
21 40
0,3
34
71
60 88
0,15
20
91
90 100
<0,15
100
Total
100
212
2,40
Mdulo de finura
2,12
2,20
3,0
0,79
1,5
2,64
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0 ,0 1
0 ,1
10
100
A b e rtu ra d e m a lh a (m m )
Cimento CP II-E-32
Foi utilizado cimento Portland composto com adio de escria de alto-forno (CPII-E-32).
Os resultados da caracterizao fsica e mecnica do cimento esto apresentados na
Tabela 2.
Norma
Resultados
Limites da
NBR 11578/91
NBR 11579/91
1,2
12
NBR NM 23/98
3,03
NBR NM 76/98
3.810
2600
NBR 11580/91
26,8
NBR 11581/91
1:00
NBR 11581/91
2:45
3:35
10:00
NBR 11582/91
0,5
5,0
Idade
Mdia
Desvio
Relativo
Mximo (%)
Limites da
NBR 11578/91
3 dias
21,1
2,4
10
7 dias
31,3
5,8
20
28 dias
37,3
1,9
32
Resistncia
Compresso
(MPa)
Norma
NBR 7215/92
Cal hidratada
Foi utilizada cal hidratada CHIII. Os resultados da caracterizao fsico e qumica da cal
esto apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 Caracterizao fsica e qumica da cal hidratada
Ensaio
Finura - Resduo na Peneira de 600m, %
Norma
NBR 9289/86
Resultados
Limites da
NBR 7175/92
CH III
0,1
0,5
13,5
15
Perda ao fogo, %
29,18
53,33
1,38
0,40
NBR 6473/96
11,43
0,01
10,03
15*
xidos no hidratados, %
13,48
15
91,44
88
Idade
(dias)
28
1
3,4
Norma
Resultados
NBR NM 23/98
NBR 13276/95
NBR 13277/95
2,77
18,5
96,8
NBR 13278/95
NBR 13278/95
0,97
55,3
Classificao
NBR 13281/95
Alta (>90)
c (>18)
3,2
3,3
3,3
6,0
I ( 0,1 e < 4)
Funo
Pedreiro
Servente
Execuo do revestimento
Transporte da argamassa, preparao
das ferramentas
Ajudante
Custo de moQuantidade
de-obra por hora
de operrios
(R$)
4
4,38
4
3
3,13
3,13
Argamassa
preparada em obra
RUP
diria
(Hh/m2)
RUP
cumulativa
(Hh/m2)
1
2
3
2,05
1,59
1,76
2,05
1,82
1,80
2,41
1,95
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
1,63
1,89
2,09
1,84
1,35
1,79
1,81
1,88
2,58
3,22
2,46
2,14
2,07
2,13
1,89
1,89
1,92
1,91
1,85
1,84
1,84
1,84
1,90
1,99
2,02
2,03
2,03
2,04
Ocorrncias
Colocao de andaimes e
execuo de requadros
Execuo de requadros
Execuo de requadros
Colocao de andaimes
Colocao de andaimes
-
Argamassa
industrializada
Ocorrncias
RUP
diria
(Hh/m2)
RUP
cumulativa
(Hh/m2)
0,94
1,30
2,43
0,94
1,12
1,56
1,34
1,50
1,33
1,28
1,35
1,81
1,19
1,06
1,00
3,57
1,52
1,54
2,05
1,65
1,89
1,71
1,47
1,44
1,42
1,47
1,44
1,40
1,37
1,55
1,55
1,55
1,58
1,59
1,60
1,61
Execuo de requadros
Colocao de andaimes
Colocao de andaimes
Colocao de andaimes
Execuo de requadros
Colocao de andaimes e
19
2,68
Colocao de andaimes
3,87
1,73
2,07
execuo de requadros
Colocao de andaimes e
20
2,09
2,25
1,75
2,07
execuo de requadros
21
3,32
Execuo de requadros
1,83
RUP diria = correspondente razo do valor de homens-hora utilizado para executar uma rea de revestimento no dia
analisado.
RUP cumulativa = mdia dos valores de RUP diria, considerando-se do primeiro at o dia em questo.
Na apropriao da quantidade de homens-hora, foram considerados todos os operrios envolvidos nas etapas de
preparao, transporte e aplicao da argamassa.
Atravs da anlise da RUP diria, verifica-se que no caso da argamassa preparada na obra,
h uma perda de produtividade mais acentuada nos dias 4, 13, 14, 15 e 19 e para a
argamassa industrializada, a produtividade menor nos dias 3, 12, 19, 20 e 21. Em ambos
os casos, isto explicado atravs da observao das ocorrncias relativas ao dia da
produo, como a colocao de andaimes, que nessa obra eram montados com pontaletes e
tbuas apoiados na alvenaria do lado externo e com cavaletes e tbuas do lado interno, e a
execuo de requadros nos vos de portas e janelas e nas vigas aparentes.
Tomando-se o valor final de RUP cumulativa, que representa um ndice mdio de
produtividade, verifica-se que, para a argamassa industrializada, esse valor 11,6% menor
que para a argamassa preparada em obra. Isso significa menor consumo de mo-de-obra em
favor da argamassa industrializada.
Operrio
Horas
empregadas
(h)
Custo Total
(R$)
Horas
empregadas
(h)
Custo Total
(R$)
Pedreiros
489
2.141,82
480
2.102,40
Serventes
438
1.370,94
318
995,34
Ajudantes
377
1.180,01
260
813,80
4.692,77
1.058
3.911,54
1.304
TCPO 2000**
2
2,07
1,83
1,002
1,20
2
Para a argamassa industrializada, observa-se uma boa reduo (-29%) nas horas
empregadas de serventes e ajudantes, visto que a operao de preparo da argamassa
bastante facilitada, eliminando-se as etapas de transporte e medida volumtrica da areia, e o
transporte e medida de cimento e cal substitudo pelo transporte e medida apenas da
argamassa industrializada, agilizando o preparo e o abastecimento de argamassa fresca para
os pedreiros com menor consumo de Homens-hora.
2.7 Custo dos materiais
A Tabela 8 apresenta os custos dos materiais empregados em cada um dos sistemas
utilizados na obra.
Tabela 8 Custos dos materiais empregados nas argamassas
Materiais
Preo
unitrio
(R$)
Custo total
Quantidade
por material
utilizada
(R$)
Argamassa industrializada
(saco 50kg)
Areia (m3)
3,30
441
1.455,30
21,00
14
294,00
6,70
33
221,10
2,10
46
96,60
Custo
total
(R$)
rea
aplicada
(m2)
Custo do
material/m2
(R$)
1.455,30
687
2,11
611,70
665
0,92
Argamassa
Preparada
em Obra
Argamassa
Industrializada
Diferena
Materiais/m2
0,92
2,11
+129,0%
Mo-de-obra/m2
7,06
5,69
-19,4%
Geral
7,98
7,80
-2,3%
10,00
7,80
Custo/m2 (R$)
7,06
7,98
5,69
5,00
2,11
0,92
0,00
Argamassa Industrializada
Tipo de processo
Materiais
Mo-de-obra
Custo geral
3 CONCLUSES
Tendo apenas o tipo de argamassa como varivel do processo de execuo do revestimento,
verifica-se que a utilizao da argamassa industrializada obteve uma produtividade 11,6%
melhor que a argamassa produzida em obra.
Embora o custo de material por m2 da argamassa industrializada seja 129% maior que o
custo de material da argamassa preparada em obra, o custo geral, material mais mo-deobra favorvel utilizao da argamassa industrializada. No clculo de material no foi
levado em considerao o desperdcio, notadamente maior na argamassa produzida em
obra, visto que a areia comprada em volume e normalmente no fica em local coberto,
estando sujeita a ser carreada pela gua da chuva.
Em relao mo-de-obra, foi constatado uma rejeio inicial em relao argamassa
industrializada que, com o decorrer da utilizao, se reverteu em razo da maior facilidade
de preparo, aplicao e acabamento. Alm disso, o proprietrio verificou a facilidade para