2 04 Metodologia-De-Projetos PDF
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No relato histrico sobre a Pedagogia de Projetos, Boutinet (2002, p.181) esclarece que:
foi o pensamento pragmtico norte-americano que suscitou os primeiros trabalhos sobre a
pedagogia do projeto. Nos anos de 1915 a 1920. J. Dewey (1916) e W. H. Kilpatrick (1918)
tentaram opor pedagogia tradicional e acrescenta que os autores buscavam: uma pedagogia
progressista, tambm chamada de pedagogia aberta, na qual o aluno se tornava ator de sua
formao atravs de aprendizagens concretas e significativas para ele. A inteno de Dewey e
Kilpatrick ao propor uma pedagogia de projetos envolvia a transformao do aluno em sujeito de
sua prpria aprendizagem.
A pedagogia de projetos surge ento nos anos 1920, a partir de trabalhos de John Dewey
e William Kilpatrick, e tem sua origem no movimento da Escola Nova; mas cabe destacar que
naquela poca vigorava uma formao com base no modelo fordista, que preparava as crianas
apenas para o trabalho em uma fbrica, sem incorporar aspectos da realidade cotidiana dentro da
escola. No entanto, Dewey e Kilpatrick buscavam formar os alunos para uma vivncia democrtica
que exigia envolvimento e participao na aprendizagem.
O sentido de projeto, com o passar dos tempos foi tomando outros significados. No campo
educacional, recebeu denominaes variadas, ou seja, uma srie de termos que foram e esto
sendo usados para designar projetos, que so: pedagogia do projeto, trabalho por projetos,
aprendizagem por projetos, ensino por projeto, projeto educativo, metodologia de projetos, entre
outros. Salvaguardadas algumas peculiaridades, a diferena fundamental , em primeiro lugar,
o contexto histrico que foi proposto, pois, embora possam ter propsitos diferentes e com usos
diversificados, a focalizao recai na aprendizagem.
Por volta dos anos oitenta, numa abordagem progressista, ressurge a proposta como Projeto
de Trabalho, que tem como finalidade a tentativa da aproximao da aprendizagem na escola com
os problemas do cotidiano, ou seja, da realidade na qual o aluno se insere (HERNADEZ, 1998).
Acredita-se que alguns docentes, ainda hoje, criticam a opo por projetos para aprender a
aprender, pois, como alerta de Boutinet (2000), em determinada poca, o conceito sobre o projeto
no campo educacional carregou a impresso de ensino improvisado, sem seriedade, de utilizao
mal controlada. Sem foco e sem organizao didtica, no trabalho por projetos cabe tudo o que foi
pesquisado pelo aluno, assim o professor tem dificuldade de localizar as aprendizagens que foram
geradas no processo. Com essa viso reducionista, os projetos so utilizados para desenvolver
temticas desatreladas dos contedos propostos pelas disciplinas, pois, em geral, so focalizados
em festejos ou campanhas humanitrias, por exemplo, dia das mes, dia dos pais, semana da
ecologia, campanha do agasalho, entre outros. O trabalho por projetos, nas escolas, em geral,
ainda tem sido utilizado para realizar atividades fora do ambiente da sala de aula.
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Cabe destacar a relevncia do trabalho por projetos em eventos como, por exemplo, os
realizados nas Feiras de Cincias, nas quais os alunos se saem muito bem e se destacam
pela autonomia e criatividade. Os docentes no podem negar que os alunos, ao realizarem esses
projetos, aprendem e produzem conhecimentos prprios, pois, na maioria da vezes, sabem
elaborar e argumentar sobre a pesquisa. Em geral, os educadores tm uma viso muito positiva
do uso de trabalhos por projeto nesses eventos.
Mas a proposta de trabalho por projetos sofre hoje um processo de ressignificao, pois
orienta o professor a utiliz-lo em aprendizagens na disciplina em sala de aula, ou seja, incluindo
a investigao que leva a buscar os contedos, as informaes e os conhecimentos. Nesse sentido,
pode ser realizado em uma ou mais disciplinas, com a proposta metodolgica integrada, e precisa
garantir os contedos propostos para cada uma delas de maneira conectada.
O sentido do projeto volta a reaparecer com nfase nas ltimas dcadas do sculo XX,
e nesse movimento, segundo Boutinet (2002), cabe a cada um, indivduo ou grupo, planejar e
justificar suas prprias intenes ao optar por Trabalho por Projetos. Segundo Fagundes (1999),
a atividade de fazer projetos simblica, intencional e natural do ser humano. Por meio dele,
busca-se a soluo de problemas e se desenvolve um processo de produo de conhecimento.
Nesse sentido, ressalta-se que o trabalho por projetos pode ser utilizado em todas as reas de
conhecimento e em todos os nveis de ensino.
METODOLOGIA DE PROJETOS: POSSIBILIDADE DE GERAR APRENDIZAGEM
COMPLEXA E TRANSDISCIPLINAR
Neste incio de sculo, dentre as denominaes que envolvem projetos ao longo da histria
da Educao, aparece com mais nfase a Metodologia de Projetos, e volta a ser indicada, em
especial, porque gera a possibilidade de acolhimento de um paradigma a complexidade para
ensinar e aprender. Behrens (2006), assim, elege essa denominao por refletir uma metodologia
comprometida com os propsitos pedaggicos de natureza inovadora.
Justifica-se a opo por metodologia de projetos, principalmente, porque h necessidade de
superar a viso reducionista na educao, como prope Morin (2001, p. 15), quando alerta para
viso disciplinar em currculos lineares, pois
[...] nos ensinam a isolar os objetos (do seu meio ambiente), a separar as disciplinas (em vez de reconhecer
suas correlaes), a dissociar os problemas, em vez de reunir e integrar. Obrigam-nos a reduzir o complexo
ao simples, isto , a separar o que est ligado; a decompor, e no a recompor; a eliminar tudo o que causa
desordens ou contradies em nosso entendimento.
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Nesse sentido, Morin (2009, p.13) aponta que a sociedade se encontra ante o desafio de
considerar a educao numa concepo cada vez mais ampla que supere a viso reducionista
profunda e grave entre saberes separados, fragmentados, compartimentados entre disciplinas,
e, por outro lado, realidades ou problemas cada vez mais polidisciplinares, transversais,
multidimensionais, transnacionais, globais e planetrios.
A fragmentao dificulta a viso de contexto e, muitas vezes, impede de entender o todo
e, na concepo de Morin (2009, p.15), os desenvolvimentos disciplinares das cincias no s
trouxeram as vantagens da diviso do trabalho, mas tambm os inconvenientes da supervalorizao,
do confinamento e do despedaamento do saber. No s produziram o conhecimento, mas tambm
a ignorncia e a cegueira.
A metodologia de projetos pode auxiliar na ampliao da viso inter7 e transdisciplinar,
pois representa um processo metodolgico de aprendizagem que envolve nveis de integrao,
interconexo, inter-relacionamento de informaes, agregao de informaes, contedos,
conhecimentos e saberes na busca de uma abordagem mais complexa.
Com a proposio do movimento da Cincia e da Educao em busca da transdisciplinaridade8,
a metodologia de projeto vem se destacando como a mais relevante para desenvolver uma proposta
metodolgica que leve produo do conhecimento, pois possibilita atender aos requisitos
necessrios para a superao da viso cartesiana to impregnada na docncia em todos os nveis de
ensino. No entanto, o uso adequado dessa metodologia requer um marco conceitual ressignificado
pelos professores que venha a contemplar os propsitos do paradigma da complexidade.
As propostas elaboradas e apresentadas por formadores e docentes preocupados em
encontrar alternativas para melhorar o ensino com viso transdisciplinar baseiam-se na ideia de
integrao de conhecimentos, na importncia de levar em conta tambm o mundo de fora da
escola considerando o cotidiano e a realidade dos alunos.
Para buscar uma concepo para aprender com viso complexa, na sociedade atual, uma
questo fundamental centra-se na necessidade de o indivduo compreender o mundo em que
vive, ou seja, aprender ao longo da vida e no s para fazer provas decoradas que, muitas
vezes, no fazem sentido para os alunos, que ficam sem entender seu significado. Nesse processo,
precisa aprender como ter acesso, analisar e interpretar as informaes disponveis, pois, para
Hernandez (1998), na educao escolar, desde a Escola infantil at a Universidade, supe-se que
se deva facilitar a aprendizagem, num processo que comea, mas que nunca termina, pois sempre
podemos ter acesso a novas formas mais complexas para dar significado ao conhecimento. Esse
desafio persegue os educadores no sentido de procurar subsdios para favorecer a aprendizagem
do aluno com metodologias mais elaboradas e relacionais que levem produo de conhecimento.
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Enfatiza-se que, com essa concepo, a metodologia de projetos torna-se relevante porque
se renova a cada problematizao investigada, assim nunca se repete e permite adquirir dimenses
novas em cada aprendizagem. O dilogo pedaggico pode acontecer dentro da sala de aula e em
outros cenrios. O professor precisa ter a clareza que o projeto deve expandir o conhecimento e
levar colaborao da aprendizagem entre pares. Segundo (Hernandez,1998, p.90), a organizao
do currculo no deve acompanhar uma viso disciplinar e reducionista mas sim a partir de uma
concepo do currculo integrado, que leve em conta um horizonte educativo (planejado no como
metas, mas, sim, como objetivos de processo), e acrescenta: Esse horizonte educativo se perfila
em cada curso e se reconstri em termos do que os alunos podem ter aprendido ao final de cada
projeto, oficina ou experincia substantiva.
O trabalho educativo na metodologia de projeto favorece a autonomia do aluno no sentido
de estimul-lo a realizar aprendizagem tanto no mbito individual como no coletivo. Diante disso,
fica claro que a aprendizagem significativa caracterstica principal da metodologia de projetos e,
nesse processo, segundo Mercado (1999, p.81), necessita:
- Estabelecer relaes entre os vrios aspectos que esto envolvidos no tema o assunto que est sendo discutido;
- Realizar relaes com outros assuntos j vistos;
- Desenvolver a capacidade de se colocar questes e de ressignificar as informaes que j havia construdo
em funo dos novos fatos e conhecimentos apresentados e discutidos pelo professor ou pelo grupo;
- Reconhecer contradies e construir argumentaes consistentes em favor de seu ponto de vista ou viso
sobre o tema em questo.
Nessa perspectiva, o aluno visto como sujeito que utiliza sua experincia e conhecimento
para resolver problemas. Para Mercado (1999), o problema determina os contedos a serem
trabalhados, permitindo aos alunos estabelecerem suas prprias estratgias, de modo que consigam
operar com elas conceitualmente, estabelecendo novas relaes e formulando explicaes sobre os
fenmenos que superem a fragmentao ou as divises do saber j existente. uma preocupao
que vai alm do saber, pois diz respeito possibilidade de viver no mundo contemporneo sem
ficar margem dele, enfrentando uma sociedade informatizada e na qual as condies e fontes de
trabalho esto em constante processo de transformao.
A METODOLOGIA DE PROJETOS COMO PROPOSTA INOVADORA
As concepes e os valores culturais caracterizam a escola e as prticas educativas e precisam
atender s necessidades sociais e educativas. Nesse sentido, os projetos podem ser considerados
como uma prtica educativa que teve reconhecimento em diferentes perodos, de maneira especial,
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aquela em que afirma que o pensamento tem sua origem numa situao problemtica que se deve
resolver mediante uma srie de atos voluntrios.
Cabe ressaltar que a ideia de trabalhar na metodologia por projetos demanda que o
professor possa escolher uma dimenso inovadora no processo de ensinar e de aprender. Esse
posicionamento reforado por Mercado (1999, p.75), quando enfatiza que o paradigma inovador
envolve processos contnuos de aprendizagens, portanto no reduz a metodologia a uma lista de
objetivos e etapas a serem cumpridas. Ao contrrio, reflete uma concepo de conhecimento como
produo individual e coletiva, em que a experincia vivida e a produo cultural sistematizada se
entrelaam, dando significado s aprendizagens significativas.
A relao ensino-aprendizagem se d num processo mais dinmico, assim a metodologia de
projetos pode atender a esse movimento e auxiliar na aprendizagem colaborativa9. Para conseguir
a formao de sujeitos participativos e autnomos, o docente precisa criar possibilidades de
metodologia de ensino inovador e desfazer a forma de aula tradicional em que s o professor fala
e apresenta os contedos aos alunos que ficam restritos a escutar, copiar, memorizar e repetir
os contedos.
As razes que valorizam a organizao dos contedos escolares por projetos so defendidas
por Sancho (In: MERCADO, 1999, p.78), quando coloca as seguintes consideraes:
- O trabalho por projetos proporciona o contexto a partir do qual aparecer a necessidade das disciplinas e
sua compreenso organizativa
- Os projetos e os temas didticos delineiam problemas que no podem estar situados em disciplinas particulares,
pois esta obriga a que se examinem desde as particularidades at as diferentes vises de uma disciplina.
- Os projetos proporcionam uma maior margem para a aprendizagem iniciada pelo aluno, que pode seguir
melhor seu prprio ritmo, sem sentir-se oprimido pela estrutura de uma disciplina particular ou por
decises tomadas a priori sobre a organizao sequencial /relacional do que se est conhecendo, permitindo
desenvolver diferentes estratgias organizativas e marcos de aprendizagem, que evitam o carter repetitivo
que pode predominar nos planejamentos disciplinares ou em formas que os educadores possam utilizar
para organizar os conhecimentos escolares.
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diferentes pontos de vista e gerando discusses sobre as temticas pelos alunos. Nesses momentos,
a cooperao e a superao do conflito entre os alunos precisam ser mediadas pelo professor. O
conflito estimula a troca entre os alunos e favorece uma viso crtica do conhecimento que est
sendo adquirido na escola. Tanto os alunos como os professores pensam, leem, questionam suas
prprias ideias e interagem com seus colegas, compartilham suas inseguranas, tornando esta
interao enriquecida mutuamente.
Segundo Behrens (1996, p. 39), a metodologia de projetos demanda por parte do professor
orientador, oportunizar situaes de inovao e criatividade envolvendo os discentes, favorecendo,
dessa maneira, o processo de dilogo e construo do conhecimento, aliada ao posicionamento
crtico, criativo e transformador. Assim, a metodologia de projetos implica mudana de ao
docente, pois requer uma proposta que tenha como foco a aprendizagem significativa, conectada
com os interesses dos alunos e articulada com problemas reais que se apresentam na sociedade.
Nessa metodologia a primeira preocupao do professor ser buscar a reflexo, a pesquisa
e a investigao sobre os pressupostos tericos e prticos das abordagens pedaggicas para se
posicionarem paradigmaticamente. (BEHRENS, 2000, p. 107) Nesse sentido, o ensino centrado
em situaes de aprendizagem e problemas tem o intuito de desafiar os alunos a investigar e
pesquisar superando os desafios e propiciando espaos para que individualmente e coletivamente
seja construdo o conhecimento.
FASES DA APRENDIZAGEM POR PROJETOS
A metodologia de projetos pode assumir diferentes configuraes, mas, conforme Hernadez
(1998), o desenvolvimento de aprendizagem envolve trs momentos. Num primeiro momento, o
professor e os alunos por meio da proposio da problematizao escolhem o tema como ponto de
partida, que gera a curiosidade, as dvidas, as indagaes, o desejo e a vontade de investigar. O
segundo momento o desenvolvimento, no qual so elaborados atividades para buscar respostas
ao problema proposto. As atividades partem do problema e precisam gerar situaes que
obriguem o aluno a agir, observando a existncia de vrios pontos de vista e de diferentes formas
e caminhos para o aprendizado. O terceiro momento trata da sntese, ou seja, a sistematizao do
conhecimento elaborado. Esse processo pode subsidiar a elaborao de problematizaes para
iniciar outros projetos.
Na mesma direo, Behrens (2000) prope para a metodologia de projetos algumas fases
que podem auxiliar no atingimento do paradigma da complexidade com foco na produo do
conhecimento. Cabe alertar que, para compor a metodologia de projetos, o professor pode orden-
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Fonte: Behrens, Marilda Aparecida. Metodologia de Projetos num paradigma emergente. IN: Moran,
Jos Manuel; Masetto, Marcos; Behrens, Marilda, Novas tecnologias e mediao pedaggica. Campinas:
Papirus,2000.
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Nesta fase, o professor sugere os temas envolvidos numa problematizao e juntamente com
os alunos discute a pertinncia e relevncia dessa aprendizagem. Assim, os alunos tm claro quais
so as aprendizagens requeridas naquele processo metodolgico.
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Depois de escolhido o tema, segundo Hernandez (1998), o prximo passo a busca dos
instrumentos: bibliografia, publicaes diversas, endereos eletrnicos pertinentes ao assunto
em questo. O professor deve ter clareza dos conhecimentos envolvidos no processo e gerar
atividades que permitam que o aluno fique instigado a buscar possveis solues, neste sentido,
realizar uma previso dos contedos e de atividades, assim criar um clima de envolvimento e
de interesse no grupo, ou seja, reforar a conscincia de aprender do grupo. No trabalho com
projetos, a responsabilidade de procurar fontes de informao no cabe somente ao professor,
mas aos alunos tambm. Para Hernandez (1998, p. 75):
Esse envolvimento dos estudantes na busca da informao tem uma serie de efeitos que se relacionam com
a inteno educativa dos Projetos. Em primeiro lugar, faz com que assumam como prprio o tema, e que
aprendam a situar-se diante da informao a partir de suas prprias possibilidades e recursos. Mas tambm
lhes leva a envolver outras pessoas na busca de informao, o que significa considerar que no se aprende s
na escola, e que o aprender um ato comunicativo, j que necessitam da informao que os outros trazem.
Nessa perspectiva, o aluno tem a possibilidade de descobrir que responsvel por sua
prpria aprendizagem, que tem condies de interagir com seu grupo e com o professor, pois
passa a v-lo como um orientador, que no tem todas as respostas prontas, mas que est disposto
a auxili-lo no aprender a aprender.
Problematizao
Concomitante proposio do tema, o docente apresenta aos alunos a problematizao do tema
que considerada a fase desafiadora e essencial no projeto de aprendizagem. A problematizao
precisa ser colocada como provocao para estimular os alunos a se envolver no projeto. Os
problemas pertinentes ao tema surgiro da reflexo coletiva e devem desencadear um processo de
valorizar e instigar o envolvimento dos alunos para buscar solues com referncia problemtica
levantada. Segundo Behrens (2000, p.110), problematizao tem o papel de desencadear a
discusso e o envolvimento dos alunos na temtica do projeto e acrescenta que professor
o mediador da construo do problema, antecipadamente, ou no incio do projeto junto com os
alunos. Na verdade, a qualidade da indagao determina o sucesso inicial do envolvimento dos
alunos. Nesta fase, os alunos precisam perceber que o sucesso dessa caminhada depende do seu
envolvimento e do seu empenho, pois sua responsabilidade reflete na qualidade de aprendizagem
dele mesmo e do grupo.
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Contextualizao
Para que o trabalho com projetos seja efetivado, o tema que originou o problema deve estar
localizado historicamente, conectado ao mundo, pois, para Hernandez (1998), o problema deve estar
contextualizado, deve partir das vivncias, das experincias, do que os estudantes j sabem, de seus
esquemas de conhecimentos precedentes, de suas hipteses (verdadeiras, falsas ou incompletas).
O docente precisa ficar atento para a provisoriedade do projeto. As solues encontradas no
podem ser taxadas como nicas, embora significativas para produzir conhecimento. Para Behrens
(2000, p 111 ), Das mltiplas perguntas e respostas a serem investigadas, preciso selecionar
quais as que interessam pesquisar em funo da aprendizagem a ser proposta e acrescenta que
Nesta fase, o professor precisa ter clareza de aonde quer chegar, ou pelo menos, quais os pontos
que devero ser percorridos para proporcionar a aprendizagem em foco.
Exposio terica
Esse momento precisa ser usado para abordar de maneira geral os assuntos a serem tratados.
O tema e o problema exigem pistas tericas para que os alunos entendam o eixo de conhecimentos
que alimenta o projeto. Trata-se de garantir os contedos que sero trabalhados naquela etapa
de aprendizagem dos alunos. O professor se utiliza desse recurso que, longe de ser uma aula
expositiva tradicional, dever apresentar dilogo, no qual as sugestes pertinentes ao tema
escolhido so avaliadas e aceitas ou no, Assim, a exposio didtica ter a funo de instigar
os alunos a pesquisarem nos mais variados recursos, para enriquecer o processo de investigao
e produo do conhecimento, levando em considerao a necessidade de compartilhamento das
informaes encontradas (BEHRENS, 2005, p.100).
Essa fase no deve exceder dois ou trs encontros com os alunos. o momento coletivo
da definio de parmetros tericos em relao ao que vai ser investigado. No se trata de ditar
receitas para serem seguidas, mas de explicitar possveis caminhos para produzir conhecimentos
sobre a problemtica proposta. As aulas expositivas dialgicas tm a finalidade de orientar a
pesquisa do problema. (BEHRENS, 2000, p.112)
Pesquisa individual
Nessa fase o aluno ir demonstrar sua efetiva participao por meio da pesquisa
individual. Embora a metodologia de projetos proponha um trabalho coletivo, ela contempla a
ao individual, pois,
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O equilbrio entre o trabalho individual e coletivo deve ser observado pelo professor por dois motivos
significativos: primeiro, o de estimular individualmente os alunos a buscarem os referencias necessrios para
a pesquisa; e o segundo, para que esse esforo seja promulgado e valorizado perante os colegas. No se trata
de instalar a competitividade, mas de valorizar o envolvimento e a competncia na investigao desencadeada
pelo aluno. (BEHRENS, 2000, p.113)
Neste momento o professor deve estimular os alunos para a busca e o acesso s informaes
nas mais variadas fontes e, assim, procurar coletivizar em sala de aula os referenciais que
aparecerem nas pesquisas individuais dos alunos. O professor neste processo orienta o aluno,
mostrando-lhe os meios para pesquisar na literatura, na biblioteca ou em livros disponibilizados.
Como recursos de consulta podem ser utilizadas as tecnologias, como a Internet, deixando os
alunos localizar referenciais significativos na rede WEB, como tambm subsidiar os estudantes
com alguns endereos eletrnicos, tornando-os disponveis ao grupo. O aluno precisa ser alertado
sobre os cuidados que devero ter ao pesquisar na WEB, ou seja, na Internet. Acostumados
a validarem tudo que encontram por escrito, num primeiro momento, tendem a acreditar no
contedo apresentado na rede. No entanto, os conhecimentos apresentados nos sites podem
conter contedos de qualidade duvidosa, assim, os alunos precisam aprender a acessar sites que
apresentem qualidade e que se origem de fontes confiveis.
Produo individual
Esta fase trata da produo de um texto individual ou atividade prtica, a partir das
informaes recolhidas nas pesquisas. Para Behrens (2000), o professor deve auxiliar os alunos
nesta etapa para que no se utilizem pesquisas copiadas, repetitivas e sem significado. Para a
autora, os alunos devem ser estimulados a se soltar crtica e reflexivamente, para uma produo
sobre os dados e informaes que trouxerem para a sala de aula. O desafio escrever um
texto ou realizar a atividade proposta que deve ter qualidade, pertinncia e clareza de ideias.
O comprometimento integral do aluno essencial nesta fase. A fase de produo individual
permite ao aluno a possibilidade de manifestar suas opinies e apresentar sua produo a partir
da pesquisa realizada e compartilhada com seus colegas (BEHRENS, 2005).
Discusso crtica
Na etapa de discusso coletiva, crtica e reflexiva, o professor desafia os alunos a exporem
seus textos individuais ou as atividades realizadas, com o objetivo de produzir conhecimento
coletivamente. De acordo com Behrens (2005, p 105):
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A discusso critica tem como objetivo principal aproximao da teoria e da pratica aliadas possibilidade de
abrir perspectivas para que o professor e o aluno possam ser agentes de interveno na realidade concreta que
se apresenta na comunidade. Com os subsdios da discusso reflexiva, o aluno comea aprender a aprender,
que ser investigador transcende a produo escrita e demanda aes efetivas para transformar a sociedade.
Os alunos nesta fase tero a oportunidade de desenvolver suas ideias criticamente, alm de
levar a reflexes referentes a aceitarem as diferenas, as opinies contrrias, as parcerias entre
os colegas. Segundo Behrens (2005), esse procedimento permite que os alunos argumentem e
defendam suas ideias sobre a temtica investigada. Com esse amadurecimento crtico e reflexivo,
os alunos podem acolher as opinies dos companheiros ou defender suas prprias convices.
Produo coletiva
Nesta etapa, de acordo com Behrens (2000), so reunidas as produes individuais, as
reflexes e as contribuies da discusso coletiva e produz-se o texto coletivo ou atividade proposta.
A autora recomenda que, para que haja uma contribuio significativa, o nmero de participantes
na produo do texto coletivo ou atividade, seja de trs ou no mximo quatro alunos. Trata-se
de garantir espao para discusso, pois, a aprendizagem individual e ela se d num ambiente
coletivo. (BEHRENS, 2006) Se o grupo for muito numeroso pode comprometer a qualidade
da aprendizagem.
O professor deve orientar os alunos nesta fase levando-os a discutir sobre os pontos
convergentes e divergentes tornando-os subsdios para a produo do texto ou atividade crtica e
de qualidade. Nesse processo, os alunos aprendem como elaborar produo prpria e defender
suas ideias e sua pesquisa. Segundo Behrens (2006), a fase de produo coletiva provoca o
trabalho entre pares e permite acoplar e interconectar as produes individuais realizadas pelos
alunos. Nesta fase, h necessidade de retomar a problemtica e orientar os alunos para a produo
coletiva no projeto, pois a falta de orientao do docente pode levar os alunos a acumularem suas
produes individuais, sem discuti-las e sem elabor-las.
Recomenda-se que a produo coletiva seja entregue juntamente com a produo individual,
a fim de se acompanhar o desenvolvimento de cada aluno e a participao de todos no projeto.
Produo final
Nesta etapa, o professor deve discutir com os alunos previamente a possibilidade de
enriquecer essa fase final por meio das experincias vivenciadas no projeto concretizando-as a
partir de variados procedimentos como:
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Exposies didticas em sala de aula dos textos individuais e coletivos produzidos; montagem de painel, na
sala ou no espao da escola sobre os conhecimentos referenciais que foram pesquisados; encenao criada e
produzida pelos alunos, mediada pelo professor; organizao de evento envolvendo a comunidade sobre os
referenciais pesquisados; a proposio de montagem de um jornal com a divulgao dos textos e ilustraes
produzidas pelos alunos; organizao de revista ou peridico acadmico com os textos dos alunos e que
crie a possibilidade de publicar as produes do grupo; a criao de produo de vdeo pelos alunos com a
possibilidade de coletivizar o avano do grupo com a comunidade acadmica (BEHRENS, 2005, p. 106).
Alm desses procedimentos, outras alternativas podem ser criadas por sugestes dos alunos,
enriquecendo a produo final. A produo final possibilita a interveno na realidade, com
aes individuais e coletivas entre pares na prpria sala de aula, na escola ou na comunidade
(BEHRENS, 2006).
Avaliao da aprendizagem
Na metodologia de projetos a avaliao da aprendizagem ocorre ao longo do processo,
contnua e gradual. Em todas as etapas o professor tem critrios claros sobre os procedimentos
que devero fazer parte daquele momento de aprendizagem. O professor deve comunicar
aos alunos os critrios de avaliao em cada fase para que possam acompanhar sua prpria
aprendizagem e a do grupo. As avaliaes da aprendizagem devem incluir as atividades
individuais e coletivas, bem como o valor atribudo a cada fase do projeto. Segundo Behrens
( 2006, p 107), Esse procedimento gera a possibilidade de que os alunos se manifestem e
discutam a avaliao, buscando o consenso sobre os critrios que devero ser proposto com
clareza e com transparncia, e acrescenta: Acredita-se que o planejamento por meio de
contrato didtico e o procedimento avaliativo por meio de porflio sejam procedimentos didticos
compatveis com a metodologia de projetos.
Avaliao coletiva
A ltima fase corresponde avaliao coletiva do projeto. Trata-se do momento de reflexo
tanto sobre o resultado como sobre a participao de cada elemento do grupo. Nesta etapa, o
professor encaminha o grupo para a discusso. Segundo Behrens (2006), nesta fase, os alunos
precisam manifestar-se sobre as atividades propostas com o intuito de melhor-las ou mant-las.
Behrens (2006) enfatiza a relevncia de criar possibilidades para que os alunos possam manifestar
suas contribuies sobre a vivncia do projeto. Esse processo avaliativo coroa a fase final do
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processo e tem como funo o acolhimento das impresses, das opinies e sugestes dos alunos
que so fundamentais para reconstruir o projeto ou subsidiar a proposio do prximo projeto.
No mesmo sentido, Hernandez (1998, p.93) destaca que: Uma das finalidades dos projetos
promover formas de aprendizagem que questionem a ideia de verdade nica, ao colocar os
alunos diante de diferentes interpretaes dos fenmenos est se questionando plenamente a viso
da avaliao baseada na considerao da realidade como algo objetivo e estvel e, acrescenta:
Com isso, o papel da avaliao passa a fazer parte do prprio processo de aprendizagem, e no
um apndice que estabelece e qualifica o grau de ajuste dos alunos com a resposta nica.
Se um projeto de trabalho pressupe uma elaborao do conhecimento, a partir da relao
das fontes, com a informao que os alunos tm, a avaliao dever possibilitar essa reconstruo.
O papel do professor consistir em instigar a avaliao de cada fase e levantar os pontos positivos
e as dificuldades encontradas em cada momento da proposta.
Para Behrens (2006), essas fases sugeridas no se esgotam, nem so lineares, mas
apresentam um esboo diante das possibilidades que podero ser construdas pelo professor e
pelos alunos.
A aprendizagem numa viso complexa exige um paradigma inovador que desafie os
professores para uma docncia relevante e significativa, que supere processos repetitivos e
acrticos e que permita o questionamento e a problematizao da realidade circundante. Prope a
convivncia com mltiplas dimenses e com diferentes vises, exigindo tolerncia com o diferente
e comprometimento com a transformao da sociedade. Assim, acredita-se que a metodologia de
projetos pode ser um procedimento pertinente para oferecer aos alunos aprendizagens que levem
produo do conhecimento, mas que, especialmente, provoquem aprendizagem para vida.
REFERNCIAS
ALARCO, I. (Org.). Formao reflexiva de professores. Estratgias de superviso. Porto: Porto Editora, 1996.
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BEHRENS, M. A. O paradigma da complexidade. Metodologia de projetos, contratos didticos e portflios.
BEHRENS, M. A, Petrpolis: Vozes, 2006.
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por contnuas mudanas, algumas tecnolgicas como a Internet e a digitalizao, e outras econmico-sociais
como a globalizao. (DRUCKER, 1994).
2 Em suas obras, Morin (2000, p.38) explica: Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, h
complexidade quando os elementos diferentes so inseparveis constitutivos do todo (como o econmico,
o poltico, o sociolgico, o psicolgico, o afetivo, o mitolgico) e h um tecido interdependente, interativo
e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes , as
partes entre si. Por isso, a complexidade a unio entre a unidade e a multiplicidade.
3 O paradigma da complexidade demanda uma conexo de diferentes abordagens pedaggicas, ou seja,
uma abordagem progressista que leva ao dilogo, argumentao e vivncia coletiva; uma abordagem
holstica que busca a viso de totalidade e a abordagem do ensino com pesquisa que instrumentaliza o
aluno para investigar as informaes e transform-las em conhecimento (BEHRENS, 2005).
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Ensino reprodutivista Ensino focado nos contedos baseados em mera transmisso de informaes. As
aulas tericas verbalizada visam repetio, cpia e memorizao. No ensino conservador a experincia
do aluno no considerada.
Viso de totalidade Considera-se que a prtica pedaggica deve superar a viso fragmentada, retomando
as partes num todo significativo.
Viso de rede, de teia, de conexo Considera-se que os fenmenos esto interconectados havendo uma
relao direta de interdependncia entre os seres humanos.
Viso de sistemas integrados considera-se que todos os seres humanos devem ter acesso ao mundo
globalizado, aumentando assim as oportunidades para construir uma sociedade mais justa, igualitria
e integrada.
Viso de relatividade e movimento Considera-se que essencial ter uma percepo de que os
conhecimentos so relativos, no existindo uma verdade absoluta, e que esses conhecimentos esto em
constante movimento, qualquer esforo em solidificar a verdade poder ser redimensionado em momentos
subsequentes por novas descobertas.
Viso de cidadania e tica Considera-se que a formao dos seres humanos deve estar alicerada na
construo da cidadania com uma postura tica, onde exista o respeito aos valores pessoais e sociais,
esprito de solidariedade, justia e paz. (BEHRENS , 2006, p. 29).
A opo por um ensino baseado em projetos proporciona a possibilidade de uma aprendizagem pluralista e
permite articulaes diferenciadas de cada aluno envolvido no processo. Ao alicerar projetos, o professor
pode optar por um ensino com pesquisa, com uma abordagem de discusso coletiva crtica e reflexiva
que oportunize aos alunos a convivncia com a diversidade de opinies, convertendo as atividades
metodolgicas em situaes de aprendizagem ricas e significativas. Esses procedimentos metodolgicos
propiciam o acesso a maneiras diferenciadas de aprender, e, especialmente, de aprender a aprender.
(BEHRENS, 2000, p.81).
7 A interdisciplinaridade demanda o querer ser, o querer agregar, assim as disciplinas so tomadas com um
esforo intencional de cooperao e correlao, buscando a sntese. A atitude Interdisciplinar pode ser
provocada na proposio de interconexes das disciplinas que devem se inter-relacionar e desencadear
processos de interao entre duas ou mais disciplinas.
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