Atuação Do Psicólogo em Hemodiálise PDF
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Resumo
A insuficincia renal crnica considerada um grave problema de sade
pblica no mundo. No presente estudo, as conseqncias desta doena so
abordadas a partir do tratamento hemodialtico e do papel do psiclogo nesse
tratamento. Aspectos emocionais dos portadores de doena renal so
discutidos baseados na reviso bibliogrfica e na experincia em uma clnica
destinada a esse grupo de pacientes. Objetivou-se ressaltar a funo do
psiclogo como parte integrante da equipe de sade e como este trabalho de
extrema importncia para melhor adaptao, aceitao e bem-estar do
paciente.
Palavras-chave: Doena renal crnica; Atendimento psicolgico; Psicologia da
sade.
Abstract
The chronic renal failure is considered a serious public health problem in the
world. In this study, the consequences of this disease is approached from the
hemodialysis treatment and from the role of the psychologist in this treatment.
Emotional aspects of the renal patients are discussed based on the literature
review and on the work experience in a renal disease clinic. The objective is to
highlight the role of the psychologist as part of the health team and the
importance of this work for a better adaptation, acceptance and well-being of
the patient.
Keywords: Chronic renal failure; Psychological approach; Health psychology.
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Email: paulawerneck@hotmail.com
Email: mayla.cosmo@oi.com.br
Introduo
A doena renal compromete, progressivamente, o metabolismo e a vida
celular de todos os rgos do corpo e constitui, atualmente, um significativo
problema mdico e de sade pblica, j que, a cada ano, cresce,
consideravelmente, a taxa de indivduos que passam a conviver com a doena.
Tal enfermidade tem como caracterstica uma progressiva e irreversvel
reduo da funo dos rins, o que gera um desenvolvimento de crise urmica
causando no paciente irritao gstrica, perda de peso, diarria, vmitos,
apatia, entre outros.
Os portadores de doena renal comeam o seu percurso de tratamento
j cientes da irreversibilidade de sua doena e, ao longo deste, se deparam
com uma srie de perdas. Essas vo alm da funo do rim e incluem, alm de
questes sociais e econmicas, uma srie de conflitos emocionais.
Com base em pesquisa da Sociedade Brasileira de Nefrologia, o nmero
de pacientes em tratamento dialtico mais do que dobrou nos ltimos oito anos.
No ano de 2000, o nmero de pacientes era de aproximadamente 42.000 no
Brasil; pesquisa recente (Censo SBN) mostra que em 2008 esse nmero chega
prximo aos 90.000 doentes em tratamento. O nmero estimado de pacientes
novos a cada ano de 26.177.3
Devido tamanha incidncia, de extrema importncia um estudo sobre
as necessidades desse grupo de pacientes, sobre a eficcia dos tratamentos e
qualificao de profissionais a fim de possibilitar melhorias na qualidade de
vida. Portanto, o objetivo deste estudo discutir sobre a importncia do papel
do psiclogo na equipe de sade de hemodilise, em que tantos sentimentos,
no s de pacientes como tambm dos profissionais, esto em jogo.
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Aspectos mdicos
O rim, rgo principal do aparelho urinrio, tem diferentes e importantes
funes para o organismo tais como: a filtragem do sangue para a eliminao
de resduos txicos excedentes ao organismo, a regulao da produo de
glbulos brancos e formao dos ossos, a regulao da presso arterial
sangunea e controle do equilbrio qumico e lquido do organismo4.
O rim no saudvel pode apresentar uma srie de sinais patolgicos,
sintomas e doenas. Seu comprometimento pode ocorrer de maneira rpida ou
lenta e progressiva at a fase mais grave, de perda total de sua funo. Uma
classificao em estgios (de 0 a 5, de menos para mais grave) auxilia na
compreenso da gravidade da doena, da comorbidade e da necessidade de
substituio renal (por dilise ou transplante).
importante ressaltar que no quadro da doena renal, mesmo com a
opo do transplante, o paciente est sujeito a um controle medicamentoso por
toda a vida.
Tratamento
O tratamento mais comum para os pacientes portadores de insuficincia
renal crnica a submisso a programas de hemodilise recorrentes
geralmente realizados em trs sesses semanais, com durao de 4 horas
cada.
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da
doena
sua
irreversibilidade.
rebeldia
interfere
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O Paciente Renal
Uma nova construo psquica e social
De acordo com ADAM e HERZLICH (2001), a doena no somente um
conjunto de sintomas; ela um fenmeno significativo, constitui um transtorno
que pode vir a ameaar ou a alterar completamente a vida do doente.
Claudine Herzlich (op.cit.) pesquisou, dentro das representaes sociais
de sade e doena, que o conceito de sade elaborado a partir do
sentimento de bem-estar fsico e psicolgico, da possibilidade de realizar
atividades e de um relacionamento harmnico com os outros; ou seja, sempre
baseado nas relaes da pessoa com seu meio social. O estudo defende que:
O doente viver a doena como destrutiva se, a partir da
interrupo da atividade provocada pela mesma, que se
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A Equipe Multidisciplinar
Em uma clnica ou hospital o modelo mdico que influencia a conduta
dos profissionais que formam a equipe de sade. Nesse modelo, o paciente, de
acordo com RUSSO (2007), despido de tudo aquilo que marca sua
singularidade para ser examinado e tratado. Aborda-se o orgnico, a doena;
porm, o que o paciente sente e pensa a respeito do tratamento deixado para
segundo plano ou muitas vezes nem mesmo considerado relevante.
Com o avano das pesquisas cada vez mais especficas do
funcionamento do corpo humano surgiu a figura do especialista, dedicado a
determinada parte do corpo: o mdico no mais acompanha o histrico de
sade e da doena do sujeito e sua famlia. Adicionado a isso, o avano na
tecnologia mdica substituiu a comunicao verbal por mquinas que
estabelecem diagnsticos.
Devemos reconhecer que o avano tecnolgico e as investigaes
minuciosas da anatomia puderam contribuir para grandes solues e eficcia
para a Medicina, principalmente no fator tempo, porm perde-se na construo
de vnculo e confiana com o mdico, passando a ser uma relao impessoal.
A neutralidade mdica, nesse ponto, confronta-se com as necessidades dos
sujeitos que procuram a ajuda do mdico.
A relao mdico/paciente constantemente permeada por fantasias,
medos e expectativas; o paciente espera que os profissionais de sade que o
acompanham possam lhe garantir ajuda, compreenso e esclarecimentos.
Essa pode ser uma relao com muita tenso, j que as aes dos mdicos
so impregnadas de sentimentos que podem ser teis ou prejudiciais ao
doente. LIMA, MENDONA FILHO e DINIZ (1994) chamam a ateno para o
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fato de que o mdico pode vir a ser para o paciente aquele que probe, o
impede de fazer suas vontades e que limita o seu prazer.
O atendimento mecnico e impessoal permite ao mdico defender-se da
angstia causada pela exposio da fragilidade humana e da possibilidade de
morte. E toda equipe est sujeita a esse mecanismo de distanciamento.
O paciente, de acordo com RUSSO (2007), despido de tudo aquilo que
marca sua singularidade para ser examinado e tratado. Esse paciente pode
ficar a merc de um atendimento automtico, no s por parte do mdico, mas
tambm pelos enfermeiros e psiclogos que no particularizam o atendimento,
e assim no podem ouvir o paciente.
Toda a equipe de sade deve ser responsvel por lidar com a dimenso
do sofrimento do paciente, pois os desejos do indivduo tambm so
direcionados no s ao mdico como tambm aos demais profissionais em um
ambiente multidisciplinar.
O
modo
como
paciente
encara
sua
prpria
enfermidade,
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traduzida em sade.
Consideraes Finais
Com
presente
trabalho,
foram
observados
alguns
aspectos
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Referncias
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