Roberto Arlt PDF
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KULIKOWSKI
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Roberto Arlt:
a experincia
radical
da escritura
MARA ZULMA
M. KULIKOWISKI
professora de Lngua
Espanhola do
Departamento de Letras
Modernas da FFLCH-USP e
autora de Seria Cmico se
no Fosse Trgico: o
Discurso Grotesco de
Roberto Arlt (Tese de
Doutorado, FFLCH-USP).
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Sempre pensei que esse homem que tratava de expressar-se numa lngua da qual
s conhecia seu maior poema era uma
metfora perfeita da mquina de
Macedonio. Contar com palavras perdidas a histria de todos, narrar numa
lngua estrangeira (Ricardo Piglia, A
Cidade Ausente).
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4 O modernismo hispano-americano, de carter marcadamente esteticista, teve grande importncia na renovao da lrica em lngua espanhola, sobretudo a partir da obra do
nicaragense Rubn Daro.
Leopoldo Lugones proclamou
na Argentina a aristocracia
intelectual da arte e colocou
a literatura e a cultura clssica
como modelo a ser seguido.
Ciudad
Letrada ,
5 La
Montevideo,
Comisin
Uruguaya pro Fundacin ngel
Rama, 1984, p. 17.
6 A gauchesca incorpora a linguagem dos gauchos, habitantes do pampa argentino, e
sua obra mais importante
Martn Fierro , de Jos
Hernndez, considerado o
grande pico nacional. Foi
uma obra que teve grande repercusso e nela se destaca a
reconstruo da oralidade do
homem do interior.
7 O cocoliche uma interlngua
utilizada pelos italianos chegados como imigrantes e que tentavam comunicar-se em espanhol. Segundo Mara Beatriz
Fontanela de Weinberg o
cocoliche foi o resultado da
proximidade de ambas as lnguas, mas resolveu-se rapidamente j que os netos de imigrantes italianos foram
monolnges em espanhol (El
Espaol Bonaerense. Cuatro
Siglos de Evolucin Lingstica,
Buenos Aires, Hachette, 1987,
pp. 138-43).
8 O lunfardo a gria de Buenos
Aires.
9 Os conceitos de heterogeneidade esto baseados
em
Jaqueline
Athier,
Htrognit Montre et
Htrognit Constitutive:
lemnts pour une Approche de
Lutre dans le Discours, in
DRLAV, 26, 1982, pp. 91-151.
107
lava sob a forma de revistas, junto a expresses da picaresca espanhola e do romantismo tardio.
Mas se, como dizamos, Arlt no pde
criar outra lngua que servisse para expressar esse pas em formao sonho tambm
de Sarmiento no sculo XIX , inaugura
um novo uso da linguagem, produz uma
interveno nos cnones esttico-literrios
vigentes na Argentina de princpios do sculo XX. Transforma a lngua no cenrio
das contradies, desmascara o falso e o
alheio, inaugura estratgias discursivas e
ficcionais, incorporando literatura argentina, to propensa a reproduzir os modelos
europeus, novas vozes, novas falas, novos
discursos, produtos de um hibridismo social que estava ocorrendo diante de seus olhos,
e, sobretudo, uma nova maneira de dizer. E
esse entrecruzamento inusitado de vozes e
discursos teve como resultado uma obra
que est mostrando uma experincia de linguagem capaz de exibir em si mesma as
estratgias de sua prpria construo.
AS ARMADILHAS DO REAL
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uso de um sistema de referncias reconhecveis e identificveis, um aparente registro neutro do real que organiza essa realidade como nova.
Decoravam a frente da espelunca capas
de cadernos que narravam as aventuras de
Montbars, o Pirata e de Wenongo, o
Moicano. Ns, os garotos, ao sair da escola, nos deleitvamos observando os cromos que ficavam pendurados na porta,
descoloridos pelo sol (14).
O lugar do reencontro era sempre os fundos de um encanador, certo cromo de
Cacaseno com cara de lua, crescido em
ltima
fotografia de
Roberto Arlt,
1942
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Brinquedo Raivoso, e parece deixar de acreditar na capacidade das palavras de dar conta
desse mundo. Em Os Sete Loucos/Os Lana-chamas, as fronteiras corporais se desvanecem, Erdosain deixa-se cair aniquilado na cama e fecha os olhos. Sua alma
tem sono [] Perde a sensao do limite
de seus membros, e lhe parece que se dissolve numa neblina cujo centro sensvel
seu crebro. Dissolveu-se no mundo (17).
A geografia da cidade se desrealiza e,
embora a primeira Buenos Aires, da aventura e do desejo, esteja na outra percorrida
obsessivamente por Erdosain, j o produto de um olhar prprio do ctico, que parece ter renunciado ao compromisso com a
referencialidade e com a descrio. A cidade torna-se densa, desdobra-se em planos
que o narrador descreve a partir do estado
de nimo dos personagens, transborda e se
ficcionaliza. O narrador capaz de interferir sobre a geografia urbana, cria seus imaginrios de angstia e excluso. Produz-se
uma relao de transposio e transcodificao entre o corpo e a topografia da
cidade e seus habitantes a partir do olhar
perturbado de Erdosain.
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Erdosain deixa-se balanar com as plpebras bem abertas. s vezes enfia a cabea
sob a manta, e fica encolhido como um feto
em sua bolsa placentria. A essa mesma hora,
milhes de homens como ele esto com os
joelhos se tocando e as pernas encolhidas e
as mos recolhidas sobre o peito, semelhantes a fetos em suas bolsas placentrias. Quando o sol, deixando sombras azuis nas caladas, projetar seu resplendor dourado sobre
as altas cornijas, esses fetos abandonaro
suas bolsas placentrias, abriro uma torneira, com um pedao de sabo
desengorduraro o rosto, bebero um copo
de leite, sairo na porta, subiro num trem
amarelo ou num nibus verde e assim
todos os dias (18).
Para os personagens da Sociedade Secreta, o mundo circundante se mescla e se
reinterpreta permanentemente a partir de
uma Bblia apcrifa como nos delrios de
Ergueta segundo os projetos revolucio-
nrios do Astrlogo, de acordo com as previses catastrficas do extermnio por exploses e guerras qumicas que sero comandadas pelo Major e subvencionadas
com o lucro que produziro os prostbulos
explorados por Haffner. E quando tudo leva
a explicar essa sociedade pela via da loucura, Hiplita se pergunta: Mas a loucura
existe? Ou que se estabeleceu uma forma
convencional de expressar idias, de modo
que estas possam ocultar sempre e sempre
o outro mundo de dentro, que ningum se
atreve a mostrar? (19).
O narrador no se contenta com a viso
unifocal e externa de seus personagens:
move o foco, desfaz as imagens, entra nos
personagens fisicamente, desentranha-os,
ausculta-os, esquarteja-os em pedaos que
adquirem vida prpria, como no impressionante trecho Sob a Cpula de Cimento
de Os Lana-chamas. O narrador tambm
amplia os pontos de vista e em Os Sete
Loucos/Os Lana-chamas cria uma
duplicidade com outro narrador que chamado de comentador e que intervm a
partir das notas de rodap analisando e interpretando a conduta dos personagens,
completando os relatos do narrador, explicando fatos exteriores histria central, ampliando detalhes sobre a vida interior dos
personagens e, sobretudo, disputando o
saber do contado, criando dvidas e questionando a verdade daquilo dito pelo narrador. Aparece tambm a figura do Autor que,
sob as desconcertantes Notas do Autor,
tenta convencer ironicamente seus leitores da distncia que devem estabelecer
entre fico e realidade, pois previne sobre
possveis relaes que possam estabelecer-
BIBLIOGRAFIA
ADORNO, Theodor W.Teora Esttica. Trad. Fernando Riaza. Buenos Aires, Orbis, 1983.
ARLT, Roberto. Obra completa. Buenos Aires, Carlos Lohl (2 tomos), 1981.
PIGLIA, Ricardo. Respiracin Artificial. Buenos Aires, Pomaire, 1980.
______. Sobre Falsificaes e Outras Histrias. Entrevista de Ricardo Piglia a Hctor Alimonda, in Novos Estudos
Cebrap, no 23, So Paulo, maro de 1989.
RAMA, ngel. La Ciudad Letrada. Montevideo, Comisin Uruguaya pro Fundacin ngel Rama, 1984, p.17.
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Traduzir
Roberto Arlt
MARIA PAULA
GURGEL RIBEIRO
mestranda em Lngua
Espanhola e Literaturas
Espanhola e Hispanoamericana na USP e
tradutora de Os Sete
Loucos & Os Lana-chamas
e Viagem Terrvel, de
Roberto Arlt, ambos pela
Iluminuras.
prosa desconcertante do argentino Roberto Arlt (190042) abarca vrios gneros literrios: romance, crnica,
conto e teatro. Em todos eles encontramos
uma linguagem mordaz, cida e de uma
ironia que beira o humor negro. Sua escrita
uma mescla da linguagem das ruas com a
de suas leituras de folhetins, de manuais de
invenes, do dialeto dos imigrantes e de
tradues espanholas de Dostoivski,
Tolstoi, em edies populares da editora
Tor a que tinha acesso nas bibliotecas de
bairro, muito comuns na Buenos Aires dos
anos 20. Arlt, pode-se dizer, escrevia como
lia e afirmava que o idioma das nossas
ruas, o idioma em que o senhor e eu conversamos no caf, no escritrio, em nosso trato ntimo o verdadeiro (1) e que perfeitamente possvel tratar de temas srios utilizando essa linguagem, pois existe algo
mais importante que o idioma, e so as
coisas que se dizem (2).
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[]
O garom se aproxima sonolento e, de
repente, em diversas direes, quase grudados nas paredes, elsticos como panteras
e rpidos no sumio, os malandros se
escafedem. E, de cinco deles, quatro pediram levantamento da vigilncia.
Nesta mesma aguafuerte, puxador
(carrero, no original), palavra que tambm
pertence ao lunfardo, no colocada entre
aspas. Em contrapartida, ofcio, que no
lunfardo e apenas designa uma ocupao,
sim; o mesmo ocorre com trabalho:
O delegado Romayo uma vez me mostrou
o caderno de um ladro em cuja casa acabava de fazer uma limpeza. Esse ladro,
que trabalhava como puxador, era um enxadrista excelente.
[]
Efetivamente, vocs tm razo. No
qualquer um que pode ser ladro
Mas claro! o que eu digo Se eu quisesse me meter a escrever suas notas, no
poderia, no ? Com o ofcio a mesma coisa.
[]
Cito somente estes casos a ttulo de ilustrao, mas a anarquia na colocao das
aspas est presente em toda sua obra.
5 Conversaciones de Ladrones,
in op. cit., pp. 135-8.
113
Imagem de
capa da revista
Vrtice
114
BIBLIOGRAFIA
ARLT, Roberto. Aguafuertes Porteas. Buenos Aires, Losada, 1996.
________. Aguafuertes Porteas: Cultura y Poltica. Prlogo de Sylvia Satta. Buenos Aires, Losada, 1994.
________. Os Sete Loucos & Os Lana-chamas. Traduo, apresentao e cronologia de Maria Paula Gurgel
Ribeiro. So Paulo, Iluminuras, 2000.
________. Viagem Terrvel. Traduo, apresentao e cronologia de Maria Paula Gurgel Ribeiro. So Paulo,
Iluminuras, 1999.
BORGES, Jorge Luis. Jorge Luis Borges Obras Completas, vol. I. Barcelona, Emec, 1989.
ULLA, Noem. Identidad Rioplatense, 1930. La Escritura Coloquial (Borges, Arlt, Hernndez, Onetti). Buenos Aires,
Torres Agero Editor, 1990.
VERDEVOYE, Paul. Aproximacin al Lenguaje de Roberto Arlt, in Seminario sobre Roberto Arlt. Poitiers, 1980,
pp.133-85.
115
SYLVIA SATTA
Traduo de Maria Paula Gurgel Ribeiro
Rumo ao Brasil em
primeira classe:
SYLVIA SATTA
investigadora do Conicet
e professora de Literatura
Argentina na Universidade
de Buenos Aires. autora
de El Escritor en el Bosque
de Ladrillos. Una Biografa
de Roberto Arlt
(Sudamericana) e
Regueros de Tinta. El
Diario Crtica en la Dcada
de 1920 (Sudamericana),
que mereceu o primeiro
prmio de melhor livro
argentino de histria
argentina da Fundacin El
Libro.
Roberto Arlt no
Rio de Janeiro
116
tarefas como jornalista: Arlt viajar em primeira classe e com todos os gastos pagos.
Confirmada a viagem, Arlt promete
ento continuar escrevendo de cada ponto
de seu percurso do mesmo modo que o fazia em Buenos Aires. Igualmente, comunica suas intenes de viajante: no tentar
relacionar-se com as elites intelectuais nem
com os escritores e, sim, com as pessoas do
povo.
Continuarei enviando notas. No chorem,
por favor, no! No se emocionem. Seguirei alfinetando meus prximos e papeando
com vocs. Irei ao Uruguai, a Paris da
Amrica do Sul; irei ao Rio de Janeiro, onde
Arlt nos
bastidores de
uma pea de
teatro
117
118
2 Idem, ibidem.
3 Idem, Rumbo a Brasil, en Primeira Clase, in El Mundo, 31
de maro de 1930.
4 Idem, Cartas que Emocionan,
in El Mundo, 19 de maro de
1930.
5 Idem, Ya Estamos en Ro de
Janeiro, in El Mundo, 2 de abril
de 1930.
7 Idem, ibidem.
8 Idem, Dos Obreros Distintos,
in El Mundo, 27 de abril de
1930.
9 Idem, Solo Escribo lo que
Veo, in El Mundo, 27 de abril
de 1930.
10 Idem, Dos Obreros Distintos,
in El Mundo, 27 de abril de
1930.
11 Idem, No me Hablen de
Antigedades, in El Mundo,
6 de maio de 1930.
12 Idem, Os Mininos, in El Mundo, 16 de maio de 1930.
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Mundo felicitando-o porque recebeu o terceiro prmio, de dois mil pesos, no Concurso Municipal de Literatura por seu romance Os Sete Loucos; outro, da empresa
Nyrba, oferecendo-lhe uma passagem para
ir do Rio de Janeiro a Buenos Aires em
hidroavio. E, no dia 29 de maio, Arlt
embarca no hidroavio, depois de uma sada vrias vezes postergada: primeiro porque no tinha os papis em ordem, depois
porque lhe faltava o visto de seu passapor-
BIBLIOGRAFIA
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AAVV, Contorno, no 2, maio de 1954.
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Entrevista
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Arlt entre
amigos, numa
caricatura
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organizado, dos desocupados com dinheiro, dos sonhadores, dos que tm uma condicional e se cuidam feito a me cuida da
criana.
Aprendi que a escola mais til para o
entendimento a escola da rua, escola
amarga, que deixa um acre sabor na boca,
um prazer agridoce e que ensina tudo aquilo que os livros no dizem jamais.
Que autores mais o influenciaram?
Meus mestres espirituais, meus mestres de humorismo, de sinceridade, de alegria verdadeira, so todos os dias Dickens
um dos maiores romancistas que a humanidade j conheceu e conhecer Ea
de Queiroz, Quevedo, Mateo Alemn,
Dostoivski o Dostoivski de
Stepamchikovo e seus Habitantes
Cervantes e o prprio Anatole France. Com
eles, meus amigos invisveis, aprendi a
sorrir; e isso muito.
Por fim, para Arlt, o que o homem?
O homem um animal extraordinrio.
Tem possibilidades fantsticas. Indubitavelmente, quando tem condies at
agora temos passado junto s coisas mais
belas da terra com uma espcie de indiferena de proto-homens , encontra tangentes inesperadas para transformar-se
sempre em melhor e melhor. E talvez a
verdadeira vida seja isso: constante superao de si mesmo.
BIBLIOGRAFIA
ARLT, Roberto. Aguafuertes Porteas. Buenos Aires, Losada, 1996 (El Furbo , p. 38; El Origen de Algunas
Palabras de Nuestro Lxico Popular, p. 40; La Inutilidad de los Libros, p. 183; Motivos de la Gimnasia Sueca,
pp. 69-70; La Madre en la Vida y en la Novela, p. 149; La Calle Corrientes no Cambiar con el Ensanche,
pp.149-51; Una Excusa: el Hombre del Trombn, p. 72).
________. Aguafuertes Porteas: Cultura y Poltica. Prlogo de Sylvia Satta. Buenos Aires, Losada, 1994 (La
Crnica no 231, pp. 27-30; Cmo Quieren que Yo les Escriba?, pp. 31, 32 e 33; El Derecho de Alacranear, p.
38; Para ser Periodista, p. 43).
________. Nuevas Aguafuertes Porteas. Estudo preliminar de Pedro G. Orgambide. Buenos Aires, Hachette,
1960 (La Censura, pp. 247 e 248).
________. Os Sete Loucos & Os Lana-chamas. Traduo, apresentao e cronologia de Maria Paula Gurgel
Ribeiro. So Paulo, Iluminuras, 2000 (Palavras do Autor, p. 193).
SATTA, Sylvia. El Escritor en el Bosque de Ladrillos. Buenos Aires, Sudamericana, 2000, p. 60 (recompilao de um
trecho de Contestando a los Electores publicado originalmente em El Mundo, 26 de outubro de 1930).
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Dois contos
de Roberto Arlt
Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro
A maioria das pessoas compra suas gravatas com a indiferena com que negociaria uma corda para se enforcar. Em compensao, em voc, v-se que a fantasia
que demonstra em teus versos transcende
as gravatas que te pertencem. Eu diria que
os escrpulos que magnificam teus poemas resplandecem nos tornassis de tuas
gravatonas duras feito pedra e na alegria
fcil dessas outras, que parecem fabricadas
com o plaid de um escocs. At tuas camisas, tuas camisas de seda, tm o delicioso
frufru que fazem as anguas das marquesas
ao passar pelas alcovas de teus versos!
E o corte do seu terno? Para beijar-lhe
as mos e chamar-lhe de meu rei, gostaria
de conhecer o alfaiate que te confeccionou
o terno. Que habilidade a sua, que
trigonometria de sua tesoura! Tanto , que
eu concebo esse teu arteso usando um
teodolito para tomar-lhe as medidas. Sim:
s consultando os astros e utilizando um
teodolito, pode ter traado com tal perfeio as cotangentes de tua elegncia.
De outra maneira no se explicariam as
ombreiras do palet, que tm um declive
suave como a asa de um cisne. E a cada das
lapelas? Um novo Newton no precisaria
da queda da ma para descobrir a lei da
gravidade. S de olh-las, seria suficiente.
E o garbo da cintura? E a severidade com
que te ajusta o pano dos quadris? Viva Deus,
que h de recomendar-me a esse engenheiro do dedal!
No digo nada da rigidez de tuas calas,
nem da interessante palidez de tuas meias
bordadas, porque as pessoas achariam que
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estou te adulando, mas em meu interior, acredite, h uma voz que diz constantemente:
Que grande que encantador que
genial que voc !
No entanto, o prodgio o que torna
altissonante tua figura, o que concede a teus
poemas uma grandeza dantesca, no so suas
gravatas nem teu terno, no: teu sobretudo, esse amplo sobretudo cinza, autntico
pano ingls e que em certas oportunidades te dignas a usar, e at permite Deus
sempre levar em conta esse rasgo que o
toquemos e provemos, ns, os esfomeados,
os grosseiros, os inspirados, quando jogamos o absurdo jogo do poeta rico.
Teu sobretudo!
Assim como esse Pai da Igreja chamado Tertuliano escreveu um volume sobre O
Manto, o modesto manto romano que os
pedantes chamam pallium, eu quero escrever o tratado de O Sobretudo de teu
sobretudo.
Tua figura, embrulhada nele, faz-se eloqente, patrcia, grave. At os diretores de
revistas, gente maldosa e traquinas com os
vates, se enternecem na presena de teu sobretudo. Eles, que riem de Virglio, a quem
voc se assemelha, quando te vem comparecer com teu sobretudo, acreditam que
voc o cisne de Mntua, como dizem os
bobos que estudaram latim e, amainando
suas gozaes, te recebem, te acolhem,
publicam o que lhes leva e te pagam te
pagam Teu sobretudo!
Eu ouvi uma mstica dizer, certa vez
que voc passava, que, com um sobretudo
assim, Cristo viria novamente terra.
Teu sobretudo!
Te d tal aspecto de homem abastado e
sisudo, que eu, mais de uma vez, vi os burgueses pararem no meio da calada com
suas crianas, para gozar do prazer de te
olhar.
At parece que voc tinha pinta de salvador da ptria.
A gente imagina a Repblica beira de
uma guerra civil. De repente voc entra no
Senado com o sobretudo, sobe na tribuna,
tira o cachecol, assoa o nariz, gargareja num
canto e fala, fala sete horas seguidas
Teu rosto est plido, e todos os olhos im-
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