A Substância Do Amor PDF
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A SUBSTNCIA DO AMOR
E OUTRAS CRNICAS
3.a edio
A Sombra do Templrio
Fices
Borges no Inferno 11
Uma gua Escura 15
Merde dArtiste. 19
O Assalto 23
A Velha Esperana Morreu Sentada 27
Algum Vir
31
Do Not Walk Outside this Area 33
Angola, Loisiana 37
Traidor Simultneo 41
O Mundo Vai Comear 45
culos para Mentir 49
Havia Muito Sol do Outro Lado 53
A ltima Vez Que nos Vimos 55
A Substncia do Amor 57
O Primeiro Dia do Resto da Minha Morte
Inquietaes
Ponha Raa Melhorada por Favor 65
Se o Lobo Mau Fosse Angolano 69
Com o Tempo, o Tempo Encolhe 73
A Solido dos Hipoptamos 77
Obrigados no, Obrigado! 81
59
Nria Masot
O Mundo do Avesso 85
Bananeiras no Terrao 89
A Jaca Que Foi Comida Viva 93
As Rosas Preferem Beethoven 97
O Exerccio da Loucura 101
O Plano do General Motors para Ganhar
a Guerra 105
Vinte e Sete Marcianos 109
A Nossa Ptria na Malsia 113
O Dia em Que a Msica Me Salvou 117
O ltimo Andar 121
O Segredo de Passo Fundo 125
A Lngua Que Nos Constri 129
Danar Outra Vez 133
Campeo de Corridas 135
Paixes
Quem Tem Boca Vai a Roma 141
Beleza e Veneno 143
A Propsito de Sereias e Trites 145
Beijar Um Sapo 147
Como Amar Uma Mulher 149
Depois de Tudo o Que se Passou entre Ns 151
Corao de Mamo 153
Coisas de Mulher 155
O Destino do Lobo 157
Diz-se no Feminino: a Solido 159
Os Encantadores de Serpentes 161
Uma Conversa Muito Sria 163
Sobre a Honestidade dos Homens 165
Porque Que as Mulheres no Foram Lua 167
Uma Segunda Oportunidade 169
Isto nunca Aconteceu Comigo antes 171
FICES
CLAUDE CHABROL
BORGES NO INFERNO
Para a Alexandra Lucas Coelho
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Borges no Inferno
cano. Aquele paraso fora construdo, s podia ter sido construdo, a pensar em Gabriel Garca Marquez.
Jorge Lus Borges sentou-se sobre a terra hmida. Levantou o
brao, colheu uma banana, descascou-a e comeu-a. Pensou em
Gabriel Garca Marquez e voltou a experimentar o intolervel
tormento da inveja. Um dia o escritor colombiano fechar os
olhos, para melhor escutar o rumor longnquo da noite, e quando os reabrir estar deitado de costas sobre o lajedo frio de uma
biblioteca. Caminhar pelos corredores, subir escadas, atravessar outros corredores, ainda mais escadas e novos corredores, e
em todos eles encontrar livros, milhares, milhes de livros. Um
labirinto infinito, forrado de estantes at ao tecto, e nessas estantes todos os livros escritos e por escrever, todas as combinaes
possveis de palavras em todas as lnguas dos homens.
Jorge Lus Borges descascou outra banana e nesse momento um sorriso ou algo como um sorriso iluminou-lhe o
rosto. Comeava a adivinhar naquele equvoco cruel um inesperado sentido: sendo certo que o paraso do outro era agora
o inferno dele, ento o paraso dele haveria de ser, certamente,
o inferno do outro.
Borges terminou de descascar a banana e comeu-a. Era boa.
Era um bom inferno, aquele.
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MERDE DARTISTE
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