DISSERTAÇÃO Luíz Paulo Pontes Ferraz - Compressed
DISSERTAÇÃO Luíz Paulo Pontes Ferraz - Compressed
DISSERTAÇÃO Luíz Paulo Pontes Ferraz - Compressed
Recife
2014
Recife
2014
Catalogao na fonte
Bibliotecria, Divonete Tenrio Ferraz Gominho CRB4-985
F381d
UFPE (BCFCH2014-160)
!
!
BANCA EXAMINADORA
ESTE DOCUMENTO NO SUBSTITUI A ATA DE DEFESA, NO TENDO VALIDADE PARA FINS DE COMPROVAO DE TITULAO.
AGRADECIMENTOS
mestrado, que nos trouxe a base para nosssas reflexes sobre Gilberto Freyre e os
portugueses. Agradeo ainda, suas crticas verso redigida para a qualificao. A Tarcisio
Arajo, professor do Departamento de Economia da UFPE, agradeo sua gentileza e sua
disponibildade em revisar todos quadros elaborados para essa pesquisa. Ao professor Jos
Batista Neto, agradeo seu incentivo pesquisa e o ensino, dando-me sempre apoio.
Agradeo aos amigos professores do Colgio de Aplicao Ednaldo, Cris, Moacir,
Rodrigo, Sonia, Erinaldo, Natlia, Edson e tantos outros que me viram conciliar ensino e
pesquisa no perodo em que lecionei nessa escola, sempre me incentivando no mestrado.
Em especial, Idalina Pires, por sua ateno como professora e amiga, mas tambm por
abrir a porta da sua casa essa pesquisa. Seus pais, imigrantes portugueses, so alguns dos
entrevistados nesse trabalho.
No poderia deixar de agradecer a Sandra, secretria do PPGH-UFPE, funcionria e
pessoa exemplar, que sempre traz boas energias aos discentes da ps-graduao.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, CNPq,
agradeo o suporte financeiro, que nos permitiu realizar viagens ao Rio de Janeiro para a
pesquisa em arquivos naquela cidade. Sem a bolsa concedida por essa instituio as
dificuldades para a realizao dessa pesquisa seriam enormes.
Devo um agradecimento em particular professora Mara Beatriz Vitar Mukdsi,
que conheci enquanto estudava na Universidad de Sevilla, na Espanha. Foi a partir de suas
aulas sobre os movimentos de galegos para Cuba no sculo XIX e de srio-libaneses para a
Argentina, que o tema da imigrao surgiu para mim como uma possibilidade. As
primeiras discusses acerca dessa temtica que veio a ser o foco desta dissertao foram
feitas com ela. No poderia, ento, deixar de citar o professor Don Ramon Serrera
Contreras, um dos melhores com quem tive contato.
Gostaria de agradecer bastante a Max Pendergraph pelas diversas conversas e
trocas de informaes sobre o tema dessa pesquisa. No esquecerei sua eterna
disponibilidade em compartilhar livros e artigos de difcil acesso no Brasil, que
contriburam com essa pesquisa. Agradeo ainda a ateno de Celso Castilho, Nara
Milanich, Ian Merkel e suas colocaes acerca do presente estudo. Em especial, agradeo
professora Barbara Weinstein que me recebeu na New York University, me convidando a
assistir aulas no doutorado da instituio, onde pude discutir a temtica dessa pesquisa sob
o vis da transnacionalidade, abrindo possibilidades para estudos futuros.
Agradeo aos amigos Gustavo Maia, Eduardo Rios e Amanda Borba. que me
receberam no Rio de Janeiro para as pesquisas no Arquivo Nacional, Bibioteca Nacional e
no Gabinete Portugus, Um agradecimento em particular aos colegas que fazem parte do
Laboratrio de Estudos de Imigrao (LABIMI) da UERJ, em especial Syrla Marques e
Len Menezes, que to bem me receberam na minha passage pelo Rio de Janeiro.
Agradeo ainda a Jadson e Sandro do Museu da Cidade do Recife pelo auxlio nas minhas
pesquisas na instituio.
Tenho grande gratido por Leonardo Caldera e Jeff Taylor, que me receberam no
Chile e Argentina, no perodo em que apresentei parte dessa pesquisa na Universidad
Nacional de Cuyo-Mendoza. Obrigado a Claudio Saraleguy que me apresentou o mate que
me acompanhou nas noites de escrita dessa dissertao.
A Samico, Gilia, Aurlio, Henrique, Allan e os demais colegas do mestrado
agradeo pela ajuda e pela cumplicidade. Agradeo tambm a Israel Ozanam, Thiago
Pereira e Roberta Duarte, que me ajudaram ainda antes da minha entrada no mestrado e
sempre foram solcitos em tirar quaisquer dvidas. Agradeo tambm a Ivan Lima, pelas
conversas, amizade e pelo livro de Mosher, trazido da UNICAMP. No poderia deixar de
agradecer a Jos Marcelo, que tanto escutou minhas dvidas e inseguranas, prprias do
percurso da pesquisa, sendo sempre muito atencioso. A Bione, Elvis, Jlia, Slvio, Bruno e
Tiago agradeo pela amizade indiscutvel e pela compreenso da minha ausncia. Ao
amigos da somosprofessores.org Victor Correia, Pedro e Luiza Dantas e Caio Dounis ,
obrigado pelo estmulo e pela compreenso. A Eduardo, Leo, Igor, Teo, Beto, Filipe,
Leonardo e Marcos agradeo por estarem sempre presentes e escutando as dificuldades
pelas quais passei at a o final dessa dissertao. Aos amigos do OO, agradeo as
descontraes dirias, escape para os momentos de tenso. Agradeo de corao a Mirella
Remgio, por ter me ajudado com o abstract dessa pesquisa. Devo um agradecimento
tambm a Lucas Furtunato, meu amigo e futuro grande historiador, que me ajudou na
elaborao da base de dados fundamental para essa pesquisa. Agradeo ainda aos meus
alunos do GGE, Saber Viver, Colgio de Aplicao e Equipe que presenciaram a
construo dessa dissertao
Por fim, agradeo a todos imigrantes que dispuseram a compartilhar comigo suas
histrias. Em especial, agradeo a Seu Manuel Alberto, motivo maior da existncia desse
estudo. E, tambm, a Claudino e Idalina, que disponibilizaram seus documentos pessoais
para apresentao nessa pesquisa. Meus sinceros agradecimentos.
RESUMO
A presente dissertao aborda a imigrao portuguesa para Pernambuco no periodo
que corresponde ao final da Segunda Guerra Mundial at 1964, ano em que o Brasil deixou
de ser o destino preferencial dos imigrantes lusitanos.
O ponto de partida a discuso sobre os episdios de antilusitanismo na histria de
Pernambuco, com ateno especial para o mata-marinheiro de abril de 1931, evento
marcado como a ltima manifestao antilusitana na capital pernambucana. A dcada de
1930, com a subida de Getlio Vargas ao poder, inaugura uma nova fase para o movimento
imigratrio portugus, ampliando os privilgios legais aos nascidos em Portugal. Com o
fim da Segunda Guerra, os numeros da imigrao, que haviam decado no fim da dcada
de 1920, voltam a crescer trazendo ao pas um imigrante de perfil distinto.
Com o auxlio de estatsticas portuguesas e brasileiras, esse trabalho tem como
principal objetivo fornecer as bases para a compreenso dessa imigrao atravs do estudo
quantitativo no contexto de uma anlise histrica de perfil social. Para tanto, analisam-se
as listas de passageiros de 1.166 desembarques no Porto do Recife durante o perodo
estudado, confrontando essas informaes com os relatos dos imigrados desse perodo e
que formam a comunidade portuguesa em Pernambuco.
Palavras-chaves:
imigrao portuguesa; antilusitanismo; estatstica; Pernambuco; legislao; relatos; Recife.
ABSTRACT
The present dissertation addresses the Portuguese immigration to Pernambuco in
the period that corresponds to the end of the Second World War until 1964, the year in
which Brazil stopped being the preferred destination of the Lusitanians immigrants. The
starting point is the discussion of the antilusitanism episodes in the history of Pernambuco,
paying special attention to the mata-marinheiro episode of April 1931, marked as the last
event of the antilusitanian movement in the capitol of Pernambuco. The 1930s, with the
rise of Getlio Vargas to power, launches a new phase for the Portuguese immigration
movement, increasing the legal privilege sgiven to those born in Portugal. With the end of
the Second World War, the immigration numbers, which had declined by the end of the
1920s, start to rise again bringing to the country an immigrant with a different profile.
With the help of Portuguese and Brazilian statistics, this work has as its main aim to
provide the basis for the understanding of this immigration through quantitative study in
the context of a social profile historical analysis. To do so, lists of passengers of 1.166
disembarks at the Port of Recife, during the period in study, are analyzed, comparing the
information acquired with the reports of immigrants of this period that are now part of the
Portuguese community in Pernambuco.
Keywords:
Portuguese immigration; antilusitanism; statistics; Pernambuco; legislation; stories; Recife.
SUMRIO
Introduo................................................................................................p.13
I. O Tema..................................................................................................p.13
II. A Pesquisa. ..........................................................................................p.18
III. Diviso dos Captulos........................................................................p.22
1. O Portugus em um contexto lusfobo ..................................................p.24
1.1 Nativismo e lusofobia ........................................................................p. 25
1.2 Antilusitanismo no sculo XIX ..........................................................p.29
1.3 Lusofobia no perodo republicano....................................................p. 51
1.4 Lusofobia no sculo XX: o "mata-marinheiro"
de abril de 1931 em Recife ......................................................................p.55
2. Da Lusofobia aos Privilgios Legais .......................................................p.84
2.1 O privilgio legal portugus...............................................................p. 85
2.2 Gilberto Freyre e o elogio ao elemento portugus ..........................p. 95
2.3 O Portugus e a Constituio de 1946 ...............................................p.100
3. A E/Imigrao Portuguesa em nmeros ................................................p.110
3.1 A imigrao portuguesa para o Brasil em nmeros........................p.111
3.2 A emigrao portuguesa para o Brasil em nmeros .......................p.120
3.3 A imigrao portuguesa para os estados brasileiros .......................p.128
3.4 Presena e imigrao portuguesa em Pernambuco .........................p.133
4. A imigrao Portuguesa para Pernambuco entre 1945 e 1964
.....................................................................................................................p.146
4.1 Cruzando o atlntico: embarcaes e companhias de navegao...p.148
4.2 Um perfil da imigrante e do imigrante portugus do ps-guerra...p.153
4.3 Relatos da imigrao portuguesa para Pernambuco.......................p.169
CONSIDERAES FINAIS....................................................................p.192
FONTES E REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................p. 197
ANEXOS....................................................................................................p.215
Fado do Emigrante
Vou-me embora, vou deixar-te
Mas nem por isso me ausento
Pois s meu corpo que parte
No parte o meu pensamento
Pois s meu corpo que parte
No parte o meu pensamento
Adeus terra onde eu nasci
E onde vivi to feliz
Adeus terra onde eu nasci
E onde vivi to feliz
Adeus olhos que dizeis
Coisas que a boca no diz
Antonio Menano
13
INTRODUO
I. O Tema
A imigrao um processo que se inicia antes de qualquer ao real do indivduo
com o intuito de deslocar-se. Surge no pensamento e na reflexo sobre o que o presente
mostra e o que o futuro lhe guarda. Imigrar pesar a situao em que se vive e, rejeitando
o passado e o presente, buscar no futuro as solues para os dramas encontrados.
Motivaes diversas impulsionam os deslocamentos humanos. Questes de ordem
individual como a busca por aventura, o medo do presente, as dificuldades na vivncia
cotidiana, a possibilidade de problemas no futuro prximo e outros fatores mais pontuais
despertam no indivduo o desejo de sair de onde se est, deixar uma vida para trs e
comear uma outra num local distante.
No Brasil, como em Pernambuco, o maior contingente imigrante, ao longo da
histria, foi o portugus. Em sua maioria, vindos espontaneamente, desde o perodo
colonial, os lusitanos foram presena marcante nesse estado.
A despeito da relevncia econmica, social e poltica que representou a emigrao
portuguesa para o Brasil, este tema ainda sofre de uma escassez bibliogrfica, se
comparada ao que j foi produzido sobre a imigrao de outras nacionalidades como a
alem e italiana, por exemplo .1 Ainda assim, a maioria das publicaes existentes sobre o
tema focam nesse processo direcionado ao Rio de Janeiro e So Paulo. Em que pese alguns
exemplos que sero citados ao longo desse trabalho, pouco se produziu sobre a imigrao
portuguesa para Pernambuco. Assim, a pesquisa buscar contribuir com uma abordagem
referente ao ltimo boom da imigrao portuguesa para o Brasil, compreendido entre o fim
da dcada de 1940 e incio dos anos 1960. Momento em que chega Pernambuco a ltima
grande leva de imigrantes portugueses2.
Entre 1870 e 1930, observa-se o perodo da chamada Grande Imigrao, momento
dos maiores fluxos de estrangeiros para a Amrica como todo, quando japoneses, alemes,
1
LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. Imigrao Portuguesa no Brasil. So Paulo: Editora Hucitec, 2001.p. 11.
Segundo Joo Lopes Ferreira no artigo Museu e Biblioteca do Imigrante publicado na revista Encontro, a
2
Segundo Joo Lopes Ferreira no artigo Museu e Biblioteca do Imigrante publicado na revista Encontro, a
comunidade portuguesa em Pernambuco possui pouco mais que 5.000 membros. H uma clara confuso nos
nmeros apresentados sobre portugueses em Pernambuco. Segundo SIMES apud LOBO, 2001 p. 143.
Havia 5.289 portugueses em Pernambuco em 1929. Segundo KLEIN(1991) o nmero de imigrantes
portugueses se apresentava dessa forma 4.809 (1920), 3.048 (1940), 2.308 (1950) e 2.402 (1970). Para
MARQUES e MELO os nmeros so os seguintes: 4.872 (1920), 3.102 (1940), 2.303 (1950), 2.051 (1970) e
2.282 (1980).
2
14
espanhis, italianos, lusitanos e tantos outros se deslocaram para o continente. Entre 1850
e 1930, por exemplo, Buenos Aires foi o maior destino da emigrao espanhola na
Amrica, recebendo mais da metade dos 4 milhes de imigrantes dessa origem nesse
perodo.3 Os portugueses, em sua imensa maioria, deslocaram-se para o Brasil.
Contudo, os anos de 1930 representaram uma queda nos nmeros da imigrao
para o Brasil. Especificamente no que toca imigrao portuguesa, a crise de 1929 trouxe
recesso em Portugal e restries sada do seu contingente populacional. No fim da
dcada, a Segunda Guerra Mundial dificultou ainda mais esse movimento, devido as
complicaes do transporte no atlntico.
O incio do Governo Vargas foi marcado por medidas que atingiram os possveis
imigrantes e os estrangeiros em solo brasileiro. Uma das primeiras medidas da sua
administrao foi o Decreto n 19.482, de 12 de Dezembro de 1930, conhecido como lei
dos dois teros, no qual obrigava que todas empresas possussem um mnimo de dois
teros de trabalhadores brasileiros entre seus empregados. Essa poltica atingia s empresas
de estrangeiros, muitas vezes marcadas pelo emprego de conterrneos. Devido a esse lei,
um conflito antilusitano ocorreu no Recife no incio de abril de 1931, com ocorrncia de
mortes. Em 1934, ainda foi estabelecida um regime de cotas de entradas de imigrantes,
visando a restringir a vinda de parte da populao imigrante. Se durante o sculo XIX at a
Primeira Guerra Mundial o imigrante era bem-vindo e muitas vezes subsidiado, aps o
conflito, o estrangeiro passou por um novo crivo.4
Ao Brasil, j no interessava os trabalhadores no qualificados que aportavam os
cais do pas desprovidos de condies bsicas de sustento e somando fileiras de mo-deobra barata que competia com o trabalhador nacional.5
Ao mesmo tempo, Brasil e Portugal atravessavam um contexto poltico-ideolgico
similar, pautado na afirmao da nacionalidade nos seus respectivos Estados Novos.
Aproveitando-se dos traos histricos em comum e partilhando ideias de intelectuais como
Gilberto Freyre, Portugal de Salazar e Brasil de Vargas estreitaram seus laos, o que foi
sentido pelos imigrantes.6
3
MOYA, Jos C. Primos y extranjeros: La inmigracin espaola en Buenos Aires, 1850-1930. Buenos
Aires: Emec.2004.
4
CARVALHO, Jos Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3a ed. Rio de Janeiro: Civilizao
Brasileira, 2002. p. 119.
5
FERREIRA, Eduardo Sousa. Origens e Formas da Emigrao. Lisboa, Iniciativas Editoriais. 1976. p. 41.
6
GUIMARES, Lucia Maria P. Relaes Culturais Luso-Brasileiras: alguns pontos de confluncia. In.:
Convergncia Lusada. Rio de Janeiro, 24: 256-264, 2o semestre de 2007. p. 57.
15
SACHETTA, Jos. Laos de Sangue. Privilgios e intolerncia imigrao portuguesa no Brasil (18221945) 2007 (Tese de doutorado). P.204
8
DEVOTO, Fernando. Historia de Imigracin en la Argentina. Buenos Aires: Sudamericana. 2009. p.2023
16
que organizou a Revista de Histria Econmica e Social, Cadernos 1-2, com o tema da
emigrao portuguesa, um espao que contm significativos trabalhos sobre esse processo
direcionado ao Brasil. H ainda seu artigo sobre os refluxos culturais dessa vinda de
portugueses para o Brasil. Jorge Carvalho Arroteia outro autor bastante citado. Professor
da Universidade de Aveiro, Arroteia analisou a evoluo demogrfica portuguesa no
sculo XX e contrastou tais dados com as origens e distribuio da emigrao portuguesa
ao longo do mesmo sculo. Com relao s polticas portuguesas de emigrao percebemse dois autores bastante relevantes: F.G Cassola Ribeiro, que na dcada de 80 pesquisou as
polticas de emigrao portuguesa do ps-Segunda Guerra e Miriam Halpern Pereira, que
investigou essas mesmas polticas de emigrao sob o recorte de 1850 a 1930. Nos anos 90
ainda se observam os trabalhos de Maria Ioannis Baganha que pesquisou as correntes
emigratrias portuguesas no sculo XX, focando o perodo salazarista.
Dentre os estudos inseridos no contexto da historiografia portuguesa sobre a
emigrao, observa-se um predomnio de autores que abordem esse fenmeno sob
perspectivas econmica, demogrfica, social e poltica. Inserimo-nos aqui numa
investigao sob o ponto de vista demogrfico e social desses fluxos. H os que analisam a
emigrao com o intuito de explicar a evoluo demogrfica portuguesa, como Arroteia,
Baganha, Ribeiro e Pereira. Esses percebem o movimento migratrio como resposta ao
contexto vivido pelos lusitanos, vinculando tais deslocamentos situao econmica,
social e poltica dos perodos em questo. Outros autores abordam a emigrao para
explicar o contexto econmico portugus, enfatizando a importncia das remessas dos
emigrantes para a estabilidade da economia portuguesa. Deste modo, a emigrao
percebida como uma extenso das atividades econmicas portuguesas, como se observa
em Ferreira e Rocha-Trindade. H ainda autores que observam a emigrao sob uma
perspectiva macroanaltica a fim de assimilar tal fenmeno em toda sua dimenso,
percebendo a emigrao como elemento indispensvel para compreender a Histria
portuguesa, como Antunes e Serro.
No Brasil, os trabalhos com foco nessa temtica so mais recentes e ainda h certa
carncia de pesquisas referentes imigrao portuguesa. H, por outro lado, investigaes
que enfatizam a presena lusitana no Brasil sob diversos aspectos que vo do religioso
culinria, conforme os estudos clssicos de Sergio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre,
porm sem que o fenmeno da imigrao fosse o cerne desses trabalhos. Freyre, que por
sinal, figura imprescindvel nos estudos sobre a comunidade portuguesa no Brasil. Seu
17
elogio ao elemento luso na constituio do povo brasileiro vai representar uma mudana de
paradigma para os estrangeiros aqui localizados. Foram comuns convites ao socilogo para
que discursasse no Gabinete Portugus de Pernambuco, sempre com discursos de teor
bastante ufanistas no que tange Portugal.
Desde os anos 2000 e as comemoraes dos 500 anos que a situao vem se
modificando, e novas pesquisas sobre o tema foram surgindo. Brotam algumas pesquisas
que, repensando as relaes Portugal-Brasil, buscam entend-las em toda Histria desses
dois pases. H um grande predomnio por estudos ligados Nova Histria Cultural,
enfatizando no s os aspectos econmicos, polticos e sociais do aporte imigracional
portugus, mas observando a contribuio cultural desses na Histria brasileira.
Destaca-se Eullia Maria Lahmeyer Lobo, que explora a imigrao sob os aspectos
acima referidos abordando os anos entre 1880 e 1970, Todavia, pouco se fala de
Pernambuco neste trabalho. H ainda as pesquisas de Ana Silvia Volpi Scott, que
investigou a imigrao portuguesa para o Brasil e todas suas implicaes entre os anos de
1820 e 1930. J Jos Saccheta Ramos Mendes, alm de autor de vrios artigos, escreveu a
tese "Laos de Sangue. Privilgios e Intolerncia Imigrao Portuguesa no Brasil",
considerada o melhor trabalho acadmico de 2007 pela Associao das Universidades de
Lngua Portuguesa (AULP) e pela Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa (CPLP),
recebendo o Prmio Ferno Mendes Pinto. Este trabalho mostra como o Brasil, a partir de
seu aparato poltico-jurdico, diferenciou os imigrantes portugueses dos oriundos de outra
nacionalidade, tendo como recorte o processo de emancipao frente a Portugal at o fim
do Estado Novo em 1945. Por conta de sua formao em Direito, observa-se um trabalho
profundo na anlise do estatuto jurdico desses imigrantes lusitanos. Vem-se ainda os
trabalhos de diversos outros autores que tratam da imigrao portuguesa para o Brasil
como: Alexandre Hecker, Maria Izilda Matos, Fernando de Sousa, Ismnia de Lima
Martins, Len Medeiros de Menezes, entre outros. Todos esses, membros do LABIMI,
Laboratrio de Estudos de Imigrao da UERJ, e do CEPESE, Centro de Estudos da
Populao, Economia e Sociedade, da cidade do Porto. Ambas instituies tem contribudo
muito para a divulgao de estudos sobre imigrao em geral, mas principalmente a que
toca Portugal e Brasil.
18
II. A Pesquisa
WALLOT Apud. JOUTARD, P. "Histria oral: balano da metodologia e da produo nos ltimos 25
anos", in: FERREIRA, M. & AMADO, J. (org.). Usos e abusos da histria oral. Rio de Janeiro, FGV, 1996,
pp.43-64.
19
compreendermos
como
indivduos,
grupos,
classes
viveram,
10
CORTE In: MARTINS, Ismnia de Lima. e SOUSA, Fernando. Portugueses no Brasil migrantes em
dois atos. Rio de Janeiro: Edies Muiraquit. 2006.
11
MONTENEGRO, Antonio Torres. Histria oral e memria: a cultura popular revisitada. So Paulo:
Editora Contexto, 2010. p.17.
12
FREITAS, Snia Maria. Histria Oral: possibilidades e procedimentos. So Paulos: Humanitas.
Imprensa Oficial do Estado. 2002, p. 49
13
PRINS, Gwyn. Histria Oral. In BURKE, Peter ( Org.).A escrita da Histria: novas perspectivas. So
Paulo: EDUNESP, 1992 p. 172
14
DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri. "pesquisa historica-sociologica, relatos orais e imigrao" In:
DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri; TRUZZIi, Oswaldo Mrio Serra (orgs.). Estudos migratrios:
Perspectivas metodolgicas. So Carlos: EdUFSCar, 2005. p. 91.
15
MONTENEGRO, Antonio Torres. Histria oral e memria: a cultura popular revisitada. So Paulo:
Editora Contexto, 2010. p.22.
20
entendermos todo esse processo, estas s se tornam suficientemente explcitas por via de
estudos em profundidade: estudos de casos e histrias de vida.16
importante ainda citar as fotos, objetos pessoais, cartas de chamada, documentos
e cartas privadas guardadas por esses imigrantes. Poucas das quais tivemos contato,
verdade. Contudo o desenvolvimento de novos estudos podem vir a entrar em contato com
mais fontes desse tipo.
Com relao s entrevistas, salienta-se o uso delas como fonte fundamental para a
compreenso da pesquisa realizada. Foram feitas abordagens temticas com questes
comuns sendo levadas aos entrevistados, com o intuito de perceber como cada imigrante se
relacionou ao processo de imigrao, como tambm abordagens de carter analtico e
comparativo levando em conta as entrevistas cruzadas com outras fontes j estudadas,
analisando se h uma constncia ou no nos diferentes discursos presentes em cada uma
dessas fontes17. Procurou-se tambm confrontar a veracidade das informaes das listas de
passageiros com as memrias dos imigrantes. Esse cruzamento entre as informaes
obtidas pela histria oral e as fontes escritas permitiu uma anlise crtica necessria ao
mtodo historiogrfico. Alm do mais, essas entrevistas foram importantes para a
compreenso do perfil do imigrante portugus-pernambucano e assim entender o
processo estudado sob uma tica particular, conhecendo a imigrao pela experincia e
vivencia dos prprios imigrantes. Levando-nos a entender as teias de relaes cotidianas
estabelecidas na chegada desses portugueses em Pernambuco, o que s nos foi possvel
mediante essa documentao oral.
Em sntese, buscamos compreender a imigrao portuguesa para Pernambuco entre
1945 e 1964, a fim de entender as caractersticas/especificidades deste fenmeno nos
ltimos anos do Brasil como principal destino dos movimentos migratrios lusitanos. No
se pode, contudo, compreender essa imigrao se for desconhecida a imigrao portuguesa
para Pernambuco e a presena lusa nesta Provncia e Estado em perodos anteriores. Sendo
por isso, indispensvel abordar a trajetria de conflitos entre portugueses e nacionais no
sculo XIX e a lusofobia presente no perodo. Desse modo, buscou-se compreender a
16
21
22
sua terra? Porque se ia para Pernambuco? Como se emigrava? Quem emigrava? Esses
questionamentos so algumas das perguntas que pretendemos elucidar com esse estudo.
Busca-se, ento, compreender as circunstncias do ir e vir dos imigrantes, bem como as
diferentes foras que atuaram nesses deslocamentos. Foras de atrao como as redes
familiares que alimentavam esses movimentos, e foras de repulso, que dificultavam a
mudana, como custos de se emigrar, para citar singelos exemplos. Diferentes presses
agiram sobre esse processo imigratrio como questes sociais, polticas, econmicas e
legais estiveram atuando nesse fluxo.
23
24
25
cada um dos episdios que sero analisados. necessrio, no entanto, contextualizar este
sentimento.
Busca-se, ento, localizar os momentos ao longo do sculo XIX at os anos de
1930 que exprimam os casos de antilusitanismo no Brasil e, especificamente, em
Pernambuco, com o intuito de compreender que episdios de lusofobia marcaram a
presena dos portugueses no estado, no perodo anterior ao tratado nesta pesquisa.
Perceber a existncia desses momentos de tenso nos auxiliam a compreender uma
diferena bastante relevante da realidade com a qual conviveram os imigrantes nos
diversos perodos de deslocamento e, assim, entender a particularidade dos deslocados do
ps-Segunda Guerra, em comparao com seus patrcios imigrados no perodo anterior.
Convm ressaltar, no entanto, que no se pretende aqui afirmar que no houve
manifestaes em prol do portugus, ao longo desses perodos, mas sim, realar os
ressentimentos entre brasileiros e lusitanos. A existncia de indivduos que defenderam a
presena dos portugueses no exclui/elimina a existncia de uma realidade antilusitana.
Assim, procuraremos pontuar discursos e eventos de teor lusfobo ao longo desse recorte
no intuito de apontar a existncia desse sentimento na histria nacional e local em diversos
momentos.
19
MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro veio: o imaginrio da restaurao pernambucana. So Paulo (SP):
Alameda. 2008. P.16
26
a Guerra dos Mascates , para Evaldo Cabral de Mello em Olinda Restaurada guerra e
acar no Nordeste, o primeiro alinhamento claro entre os partidos portugus e
brasileiro, que explicita uma componente lusfoba. Os coloniais, centralizados em
Olinda pressionados pela queda de preo do acar e encarecimento do escravo -,
denominaram os portugueses, comerciantes no Recife, respectivamente de marinheiro,
corcundas e mascates. Os lusos retrucaram denominando os locais de mazombos22
A Guerra dos Mascates (1710), surgida em meio crise econmica pela qual
passava o Nordeste aucareiro, viu a elite agrria olindense ter seus lucros reduzidos e suas
dvidas aumentadas. Os portugueses, alocados no comrcio recifense, eram os credores.
Na situao de devedores e cobrados pelos comerciantes de Recife, no seria de se
espantar o surgimento de tenses entre estes grupos. Contudo a identificao de um ou de
outro como portugus ou brasileiro deve ser analisada. Vrios autores como Evaldo
Cabral de Mello, Franklin Tvora, Francisco Augusto Pereira da Costa e Jos Igncio de
Abreu e Lima deixaram registrada as palavras de um dos chefes do grupo de Olinda, onde
este ressaltava o ressentimento para com os portugueses, nessa atribuiu-se a
recomendao aos parentes: no corteis um s quiri das matas; tratai de poup-los para
20
SILVA, Rogrio Forastireri. Colnia e nativismo a histria como biografia da Unio. Hucitec. 1997.
In: LESSA, Carlos. Rio, uma cidade portuguesa? In: LESSA, Carlos (Org.). Os Lusadas na aventura do
Rio moderno. RJ: Record, Faperj, 2002. p.34
21
Ricardo Luiz Souza percebe a presena de antilusitanismo num momento anterior, j sendo encontrado na
obra de Gregrio de Matos. SOUZA, Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In:
Politia: Histria e Sociedade, V.5, N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia. 2005. P. 133.
Outros autores como Kidder e Fletcher sugerem que o antilusitanismo tenha surgido no perodo joanino com
a chegada de portugueses que disputaram vagas e cargos existentes com os habitantes locais, sempre levando
vantagens. KIDDER, D. P.; FLETCHER, J. C. O Brasil e os brasileiros. So Paulo: Nacional, 1941. In:
SOUZA, Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In: Politia: Histria e
Sociedade, V.5, N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
2005. P. 134. Robert Rowland questiona a viso daqueles que deram um sentido nacionalista a certos
episdios do perodo colonial, para ele Durante o perodo colonial houve, como sabido, numerosos
conflitos que opuseram habitantes do Brasil coroa portuguesa ou aos seus representantes. Mas apesar das
interpretaes posteriores que procuraram, retroactivamente, atribuir aos episdios um sentido nacionalista,
estes conflitos no deram origem a qualquer sentimento nacional ou percepo de algum antagonismo que
opusesse portugueses a brasileiros enquanto tais.. In: ROWLAND, Robert. "Manuis e Joaquins: A cultura
brasileira e os portugueses", Etnogrfica, V (1), pp. 157-172.. 2001. P. 163.
21
LESSA, Carlos. Rio, uma cidade portuguesa? In: LESSA, Carlos (Org.). Os Lusadas na aventura do
Rio moderno. RJ: Record, Faperj, 2002. p.35
22
LESSA, Carlos. Rio, uma cidade portuguesa? In: LESSA, Carlos (Org.). Os Lusadas na aventura do
Rio moderno. RJ: Record, Faperj, 2002. p.35
27
em tempo oportuno quebrarem-se nas costas dos marinheiros23. Esse chefe, Leonardo
Bezerra Cavalcanti, havia sido desterrado para a ndia, aps o conflito, e depois voltado,
mas, para a Bahia, de onde teria enviado uma carta para seus familiares na qual fazia a
recomendao acima. O quiri era uma madeira de grande rigidez, comparvel ao ferro, nos
dizeres de Capistrano de Abreu.24 Anos depois, na dcada de 1860, Borges da Fonseca
retomaria ao tema afirmando que nas matas pernambucanas ainda haviam muitos quiris.25
Longe de afirmarmos a existncia de um sentimento lusfobo bem formado, j no sculo
XVII, visto que as definies e distines entre o ser brasileiro e ser portugus eram
tnues at ao menos a dcada de 1820, para no dizer inexistentes antes desse perodo,
percebe-se, ao menos, a presena da alcunha pejorativa de marinheiro, que tanto
designar o portugus no sculo XIX, j em uso no sculo anterior.
O antilusitanismo pernambucano possua razes profundas, na viso de Francisco
Adolfo de Varnhagen. Na sua tentativa de compreender os eventos lusfobos ocorridos na
provncia, no sculo XIX, o autor buscou no passado remoto o sentimento de rivalidade
entre pernambucanos e portugueses. Segundo ele, Pernambuco:
23
O termo marinheiro foi um dos diversos utilizados de forma pejorativa com os portugueses ao longo dos
embates entre nacionais e lusitanos. Outros termos utilizados foram: bicudo, emboaba, candango, caneludo,
chumbinho, jaleco, labrego, marabuto, maroto, marreta, mascate, matruco, mondrongo, novato, parrudo, psde-chumbo, portuga, pu e etc, s para citar alguns. In:
FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda . Novo Aurlio sculo XXI: o Dicionrio da Lngua
Portuguesa.. 3a edio. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1999.p.962. Esta citao encontrada de
formas diversas em vrias publicaes vide: MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro veio: o imaginrio da
restaurao pernambucana. So Paulo (SP): Alameda. 2008. P. 98 ABREU, Capistrano de. Captulos de
histria colonial. Ministrio da Cultura Fundao Biblioteca Nacional - Departamento Nacional do Livro.
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/capitulos_de_historia_colonia.pdf. P. 81. E COSTA,
Francisco Augusto Pereira da. Anais Pernambucanos (Vol.5). 2. Ed. Recife. FUNDARPE, 1983.p 211.. E
TVORA, Franklin. Loureno : cronica Pernambucana. So Paulo : Livraria Martins Editora, 1972. P.
102. E ABREU E LIMA, Jos Igncio de. Synopsis ou Deduco Chronologica dos Factos mais Notveis
da Histria do Brasil. Typographia de M. F. de Faria: Pernambuco. 1845. P.171. A Provincia. 23 julho
1877. Recife, PE. p. 1 HDB. Disponvel em http://www.hemerotecadigital.bn.br/
24
ABREU, Capistrano de. Captulos de histria colonial. Ministrio da Cultura Fundao Biblioteca
Nacional
Departamento
Nacional
do
Livro.
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/capitulos_de_historia_colonia.pdf. P. 82.
25
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830-1870 (tese de doutorado). Recife.
2012. P. 30
28
26
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. Histria geral do Brasil. 6. ed. So Paulo, Melhoramentos, tomo I,
p. 106.
27
ABREU, Capistrano de. Captulos de histria colonial. Ministrio da Cultura Fundao Biblioteca
Nacional
Departamento
Nacional
do
Livro.
http://objdigital.bn.br/Acervo_Digital/livros_eletronicos/capitulos_de_historia_colonia.pdf. P. 49
28
CARVALHO, Jos Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilizao
Brasileira, 2008, 11a edio, 2008, p. 25. In: CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do
comrcio: a poltica partidria, a comunidade portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho,
Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado). Recife. 2012. P. 29
29
Cmara afirma ainda que O passado constitui um elemento central na gesto dessa identidade histrica
dos pernambucanos, que foi aproveitada pelos liberais, inclusive como um excelente combustvel na luta
contra os portugueses.. In: CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica
partidria, a comunidade portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 18301870 (tese de doutorado). Recife. 2012. P. 31.
30
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado).
Recife. 2012. P. 29. Ariel Feldman tambm atribui grande importncia ao antilusitanismo na consolidao do
Estado-nao Brasil. In: FELDMAN, Ariel. A construo do Estado e da Nao no Brasil: identidades
polticas e imprensa peridica no perodo regencial (1831-1840). Revista Aulas. Dossi identidades
nacionais; n. 2, out.-nov. 2006. P. 13. J para Valdelice Carneiro Giro Pernambuco foi talvez a regio do
Brasil onde a lusofobia estava mais presente ou pelo menos foi a Provincia que mais contestou a presena
portuguesa. In: GIRO, Valdelice Carneiro. Os movimentos pr-polticos da dcada 1840-1850 em
29
30
Contudo, o autor observa ser uma injustia comparar esses, chamados por ele de
escria da nao, com os portugueses ilustres e virtuosos fidalgos, povoadores de
Pernambuco, no se deveria generalizar. Diferentemente de eventos como a Conjurao
Baiana e a Inconfidncia Mineira, a Revolta dos Padres de 1817 chegou s vias de fato.
Liderados por Frei Caneca, Domingos Martins, Padre Miguelinho, Antonio Carlos
Andrade, entre outros, os revoltosos tomaram Recife mediante a luta armada. Desde 1808
no Brasil, a coroa portuguesa trouxe o aumento de impostos, a presena de militares
lusitanos e a manuteno do monoplio portugus no comrcio. Chegavam vrios
imigrantes nesse perodo, o que gradativamente vai agravar a situao de conflito. No dia 6
de maro de 1817 houve o estopim. Aps discusso, um oficial brasileiro do regimento de
artilharia do Recife, Jos Barros de Lima, conhecido como Leo Coroado, golpeou com
uma espada o seu comandante portugus. Barbosa de Castro, que havia dado voz de priso
ao primeiro, considerado um dos responsveis pelas agitaes na capital pernambucana.35
Uma Repblica chegou a ser proclamada e formou-se um governo provisrio com a adeso
de Paraba, Rio Grande do Norte, Cear e Alagoas. Houve, entretanto, uma intensa
represso ao movimento, com a execuo de vrios revoltosos, o que foi importante para
terminar a revolta, mas no o bastante para eliminar as causas da insatisfao. Segundo
Mouro, 1817 significou o incio da percepo do Brasil, do ponto de vista nacional e do
ponto de vista internacional, como uma entidade nacional inelutavelmente fadada a
tornar-se independente de Portugal36.
Em meio Revoluo Pernambucana, os versos depreciativos aos portugueses
Galego37, p de chumbo, / Calcanhar de frigideira / Quem te deu a liberdade / De casar
34
GAMA, Jos Bernardo Fernandes. Memrias historicas de Provincia de Pernambuco. Recife, Arquivo
Pblico Estadual, 1977. P.1
35
MOURO, Gonalo de Barros Carvalho e Mello. A revoluo de 1817 e a histria do Brasil : um
estudo de histria diplomtica. Braslia: Fundao Alexandre de Gusmo, 2009. P. 20
36
MOURO, Gonalo de Barros Carvalho e Mello. A revoluo de 1817 e a histria do Brasil : um
estudo de histria diplomtica. Braslia: Fundao Alexandre de Gusmo, 2009. P. 16
37
Alencastro e Renaux, ao comentarem o termo depreciativo galego, afirmam que No incio, provvel
31
32
por diversos setores. Aos poucos foi se formando um pensamento nacionalista brasileiro
neste sculo, o que no dizer Khaled Jr no existia no incio do sculo XIX. Se existia, teria
sido a partir do movimento pela independncia, e era muito mais caracterizado por um
sentimento antilusitano do que propriamente brasileiro.44
Skidmore categrico ao afirmar que a lusofobia da poca da independncia
surgiu na forma de ressentimento contra o controle portugus do comrcio brasileiro.45
J Gladys Sabina Ribeiro no seu trabalho explica um outro lado da lusofobia, aquele
presente nas classes mais marginalizadas e teve sua origem diretamente da competio no
campo do trabalho. 46 Rosana Barbosa adiciona um outro componente causador do
ressentimento contra os lusitanos. A razo dos portugueses terem sido alvo das
animosidades no sculo XIX, se deveu tambm ao grande nmero de imigrantes presentes
no Brasil e ao sentimento antilusitano desenvolvido nesse processo de independncia.47 Os
imigrantes que no Brasil chegavam eram em sua uma maioria analfabetos e com pouca ou
nenhuma qualificao profissional, aceitavam servios pesados e baixo soldo, a ponto de
disputar espao com escravos de ganho, escravos de aluguel, libertos, brancos e homens
de cor livres48. Assim, antilusitanismo era menos um problema de nacionalidade do que
de sobrevivncia49. Esse portugus no nascido no Brasil disputava os empregos com a
populao livre residente no pas, muitas vezes vencendo tais disputas, levando grande
vantagem sobre os locais. No h dvida de que isso tenha sido traduzido em preconceitos
e rivalidades. O fato que o antilusitanismo sempre foi uma constante na provncia de
44
KHALED JR, Salah H.. Horizontes Identitrios. A construo da narrativa nacional brasileira pela
historiografia do sculo XIX. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. P. 34.
45
SKIDMORE, T. E. Black into white; race and nationality in Brazilian thought. New York, Oxford
University Press. 1974. P. 85
46
RIBEIRO, G. S. . A liberdade em construo: identidade nacional e conflitos antilusitanos no
Primeiro Reinado. 1. ed. Rio de Janeiro: Relume-Dumar, 2002.
47
"Amongst the foreign groups in Brazil, the Portuguese were the target of the most animosity as a result
mainly of their large numbers in the immigrant community of Rio and the anti-Portuguese nativism that
developed during Brazil's independence process" [...]"animosity towards the Portuguese was direct
consequence of the Brazilian struggle to create a new nation [..] Anti-portuguese sentiments that had
developed from the late colonial period served help in the unification of Brazil and to create national
identity". In: BARBOSA, Rosana. Immigration and xenophobia Portuguese immigrants in early 19th
century Rio de Janeiro. Lanham (Md.), University Press of America. 2009. P. 80
48
TRICHES, Robertha P. A labareda da discrdia: o antilusitanismo na imprensa carioca. Achegas.net,
v. 5, p. 01-15, 2007. P. 2.
49
RIBEIRO, Gladys Sabina. "Portugueses do Brasil e portugueses no Brasil: "laos de irmandade" e
conflitos identitrios em dois atos (1822 e 1890) ". IN: FELDMAN-BIANCO, Bela (org.), Naes e
Disporas. Estudos Comparativos entre Brasil e Portugal, Campinas, Unicamp, 2010. P.44
33
Pernambuco, durante o sculo XIX. 50 Contudo, esse dio atingia com mais fora a
parcela pobre dos imigrantes lusitanos, mostrando-se tambm um conflito de classe, visto
que os portugueses mais ricos eram melhor aceitos.
Os conflitos teriam sido, ento, resultado direto da luta para a criao da nao e,
na viso de Barbosa, o sentimento anti-portugus, tecido no fim do perodo colonial, teria
ajudado na unificao brasileira e na criao de uma identidade nacional. Em sntese, o
grande nmero de imigrantes portugueses, o monoplio lusitano no comrcio e a disputa
por vagas de emprego entre trabalhadores livres urbanos e os imigrantes recm-chegados
foram alguns dos fatores propulsionadores do antilusitanismo.
Entretanto, h de se esclarecer as dificuldades de se distinguir brasileiros e
portugueses naquele momento. Diz Ribeiro que:
at o inicio de 1822, nascer brasileiro significava ser portugus51: com isso
designava-se apenas o local de nascimento dentro da nao portuguesa, vendo
preservados e respeitados os seus direitos de patriota. Quando muito, os portugueses
da Europa que partilhavam e defendiam os interesses americanos, e que moravam no
Brasil, eram tambm chamados brasileiros- eram os bons portugueses52.
Assim sendo, entre os anos de 1822 e 1830, a complexidade entre o ser portugus
e o ser brasileiro era grande, eram categorias em construo. Trata-se de um momento de
separao entre colnia e metrpole em que os sentimentos de pertencimento vo sendo
moldados. O ser brasileiro vai se contruindo neste perodo em oposio ao ser
portugus. Diz Ribeiro ainda que, no processo de independncia:
50
34
No que isso fosse o bastante para que os nascidos no Brasil aceitassem como
brasileiros os nascido em Portugal.
No perodo da independncia do Brasil, o antilusitanismo estava presente. Uma
pesada campanha contrria aos portugueses foi posta nas ruas, a fim de trazer o apoio da
populao urbana para junto da elite brasileira, que almejava comrcio livre e a
independncia de Portugal. No teria sido toa, que os portugueses foram ficando cada
vez mais identificados no imaginrio dos homens livres pobres brasileiros como os
maiores inimigos do pas. 56 Assim, mesmo aps a independncia, o sentimento de
rivalidade permaneceu visto que
54
Para este tema ver: RIBEIRO, Gladys Sabina. "Portugueses do Brasil e portugueses no Brasil: "laos de
irmandade" e conflitos identitrios em dois atos (1822 e 1890) ". IN: FELDMAN-BIANCO, Bela (org.),
Naes e Disporas. Estudos Comparativos entre Brasil e Portugal, Campinas, Unicamp, 2010
55
Constituio Politica do Imperio do Brazil (de 25 de maro de 1824) In:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm. Acesso em 23 de Setembro de 2013.
56
CARVALHO, Marcus J. M. de. O antilusitanismo e a questo social em Pernambuco, 1822-1848. In
Miriam Halpern Pereira (organizadora). Actas do Colquio Internacional sobre Emigrao e Imigrao
em Portugal (Sc. XIX e XX). Editora Fragmentos, Lisboa, Portugal, 1993, p. 146.
35
No convinha, nem aos patres metropolitanos, nem a eles prprios, optar pela
nacionalidade brasileira. O setor ser, alis, constantemente renovado pela vinda
organizada de parentes portugueses que chegam como caixeiros para assumir, mais
tarde, a sucesso do comerciante estabelecido na corte e nos principais portos
57
GUIMARES, Jos Marques. "A Origem do Nativismo no Brasil". In: Interaces. ISMT: Coimbra.
Nmero 2. pp. 124-136. 2002.p. 125.
58
ALARCO, Janine Pereira de Sousa. O Saber e o Fazer: Repblica, Federalismo e Separatimos na
Confederao do Equador. Dissertao de mestrado. Braslia, UNB, 2006. P. 55.
59
O Conciliador Nacional, 4 de outubro de 1823. In: FARIAS, Amy C. De. Mergulho no Letes uma
reinterpretao poltico-histrica da Confederao do Equador. Porto Alegre, EDIPUCRS. 2006. P.152
60
In: SODR, Nelson Werneck. Histria da Imprensa no Brasil. 4.ed. Mauad: Rio de Janeiro. 1999. P.
166
61
SILVA, Susana Neves Tavares Bastos de Pinho O Emigrante Portugus em Trs Romances de Alusio
Azevedo. FLUP Universidade do Porto, Porto (tese de mestrado). 2007.
36
Contudo,
ALENCASTRO, Luiz Felipe de e RENAUX, Maria Luiza. Caras e Modos dos Migrantes e Imigrantes,
in NOVAIS, Fernando A.. e ALENCASTRO, Luz Felipe de(orgs.). Histria da Vida Privada no Brasil.
Imprio: a Corte e a Modernidade Nacional. Volume 2 S. Paulo, Companhia das Letras, 1997, p.309.
63
SANTOS, Wilza Betania dos. Retrato da Identidade Lusa em Pernambuco. In: XIII Encontro de
Histria Anpuh-RJ, 2008, Seropdica. Anais complementares. Rio de Janeiro: UFRRJ/Anpuh/RJ, 2008. p. 6
64
"the attitudes of Brazilians toward the Portuguese were evidente in the late 1820s. At this time, many
sectors of the Brazilian population came together in their opposition to the government of the Portugueseborn emperor, Dom Pedro, and helped to precitate his abdication in 1831. This popular movemente involver
a great deal of anti-Portuguese sentiment. Several Brazilians were united around a common issue: their
hatred of Portuguese influence in their country". In: BARBOSA, Rosana. Immigration and xenophobia
Portuguese immigrants in early 19th century Rio de Janeiro. Lanham (Md.), University Press of America.
2009. P. 81
65
FELDMAN, A. . Identidades tnicas e nacionais do discurso poltico (1829-1831). In: XXVI Simpsio
Nacional de Histria, 2011, So Paulo. Anais do XXVI Simpsio Nacional de Histria, 2011. P. 5-6.
37
"there were accusations that the Portuguese kept to themselves, always aiding each other and hirin other
Portuguese. Portuguese insularity seemed a neraly insurmountable barrier for Brazilians seeking
employment". MOSHER, Jeffrey C.. Political struggle, ideology, and state building Pernambuco and the
construction of Brazil, 1817-1850. Lincoln: University of Nebraska Press. 2008. P.190
67
SODR, Nelson Werneck. Histria da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro, 4a edio atualizada, Mauad,
1999, p. 165. In: CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a
comunidade portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de
doutorado). Recife. 2012. P. 27
68
MOSHER, Jeffrey C.. Political struggle, ideology, and state building Pernambuco and the
construction of Brazil, 1817-1850. Lincoln: University of Nebraska Press. 2008. P.106
69
ANDRADE, Manuel Correia de. Movimentos Nativistas em Pernambuco Setembrada e
Novembrada. Recife, Imprensa Universitria. 1971. P. 32
70
"military revolts in September and November illustrated the strength of anti-Portuguese sentiment among
both the enliste men and officers of the army". In: MOSHER, Jeffrey C.. Political struggle, ideology, and
state building Pernambuco and the construction of Brazil, 1817-1850. Lincoln: University of Nebraska
Press. 2008. P.92
71
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. Trabalho Livre no Brasil Imperial: o Caso dos Caixeiros de
Comrcio na poca da Insurreio Praieira. (dissertao de Mestrado. UFPE: Recife. 2005 p. 125-126
38
MONTEIRO, N. de G. Imigrao e colonizao em Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1973. P. 142.
Apud: SOUZA, Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In: Politia: Histria e
Sociedade, V.5, N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
2005.p. 138.
73
MONTEIRO, N. de G. Imigrao e colonizao em Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1973. P. 139.
Apud: SOUZA, Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In: Politia: Histria e
Sociedade, V.5, N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
2005.p. 138.
74
ALVES, Jorge Fernandes. Variaes sobre o brasileiro Tenses na emigrao e no retorno do
Brasil. In: Revista Portuguesa de Histria, tomo XXXIII, 1999. U. Coimbra, p.191- 222.
75
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado).
Recife. 2012. P. 21
76
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado).
Recife. 2012. P 16.
39
aproximar-se dos anseios da populao urbana e traz-la ao seu encontro nas eleies
contra os conservadores77. Para Luiz Geraldo Silva a lusofobia dos anos 1830 e 1840
surgiu em decorrncia da frustrao, observada apenas entre liberais, causada pelo peso
e influncia dos portugueses de nascimento na conduo da vida poltica do Imprio78. O
autor, entretanto, ao sugerir que a lusofobia surgiu apenas entre liberais, ignora a
presena desse sentimento no meio das classes populares, a parcela da populao mais
ressentida para com os lusitanos. O botnico ingls George Gardner percebe isso em suas
andanas pelo nordeste brasileiro entre 1836 e 1841, quando coletou informaes para o
seu livro Viagem ao Interior do Brasil. Nele, o autor atentou para as tenses existentes
entre portugueses e brasileiros e disse que em quaisquer revoltas ou levantes os lusitanos
eram os primeiros a serem massacrados e roubados sem piedade. No s isso, mas tambm
afirmou que tal animosidade era mais presente entre as classes mais populares do que entre
a elite, o que aponta para uma presena mais efetiva do sentimento antilusitano entre essa
parcela da populao.79
Convm compreender que a maior parte do comrcio a retalho na dcada de 1840
se encontrava nas mos de estrangeiros, em sua maioria, portugueses, o que perpetuava um
controle j enraizado. Isso significa no apenas o monoplio do comrcio, mas tambm o
monoplio portugus na distribuio de empregos no setor. Boa parte da mo-de-obra livre
e urbana nos centros do pas buscavam no comrcio uma opo de emprego. Como dito,
comrcio esse controlado por portugueses. Desse modo, a oferta de emprego era dada por
esses patres lusitanos. O ressentimento para com os comerciantes a retalho se mostrava
77
Marcus Carvalho observa o antilusitanismo do ps-independencia como sendo utilizado como arma
politica das elites insatisfeitas com a distribuio do poder. CARVALHO, Marcus J. M. de. O
antilusitanismo e a questo social em Pernambuco, 1822-1848. In Miriam Halpern Pereira (organizadora).
Actas do Colquio Internacional sobre Emigrao e Imigrao em Portugal (Sc. XIX e XX). Editora
Fragmentos, Lisboa, Portugal, 1993, p. 156. MOSHER, Jeffrey C.. Political struggle, ideology, and state
building Pernambuco and the construction of Brazil, 1817-1850. Lincoln: University of Nebraska Press.
2008. P. 253. CMARA, B. A. D. . O Recife e os motins antilusitanos nos anos que antecederam a
Insurreio Praieira: o aprendizado do protesto popular e outras variaes. Gnero & Histria (UFPE),
v. Ano IV, p. 148-180, 2010. P. 158
78
SILVA, Luiz Geraldo. 'Pernambucanos, sois portugueses!' Natureza e modelos polticos das revolues
de 1817 e 1824. In: Almanack Braziliense v. 1, 2005, p.69.
79
since its independence as an empire in 1820, a very bad feeling has existed between them (brasileiros)
and those who are natives Portugal. But this feeling is less common among the higher than the lowers orders,
and is, perhaps, more strongly marked in the inner provinces than on the coast. Wherever any riot, or any
attempt at revolt takes place in the interior - and such occurrences are now, unfortunately, but too common the poor Portuguese are the first to fall victims, being butchered whitout mercy, and robbed of all they
possess. In: GARDNER, George. Travels in the interior of Brazil: principally through the nothern
provinces, and the gold and diamond districts, during the years 1836-1841.. Reeve Brothers. London.
1846. P. 13 NOTA: ressalta-se ainda que Gardner diz ser possvel que esse tipo de sentimento tenha sido
mais presente em cidades interioranas do que no litoral.
40
ainda mais duro por conta da inflao dos preos de seus produtos, que atingiam
diretamente as classes mais populares. Ainda que os motivos das variaes de preo
tivessem mais a ver com a poltica monetria nacional, a percepo das classes menos
privilegiadas era a de que os comerciantes arbitrariamente aumentavam os preos e seus
respectivos lucros. 80 Sendo assim, diz Mrio Mrcio de Almeida Santos que
"Resentment toward retailers was especially harsh because of the inflation that had its roots in the
national government's monetary policies. For Brazil's mostly nonwhite poor, however, it was the local
retailer who seemed to be arbitrarily raising prices and profiting from the misery of the workers. Ambitious
Brazilians of modest means often saw humble Portuguese immigrants as direct competitors. These ethnic and
racial resentments encouraged violence during elections, as noted. Between 1844 and 1848, there were at
least seven instances where Recife's popular classes, stirred up by anti-Portuguese rhetoric, went on looting
sprees against Portuguese stores and warehouses, shouting, 'Mata marinheiro!'(Death to the Portuguese).
In: BEATTIE, P. M. The human tradition in modern Brazil. Wilmington, Del, SR Books. 2004. P. 35.
81
SANTOS, Mrio Mrcio de Almeida. Um Homem contra o Imprio: Antnio Borges da Fonseca. Joo
Pessoa: Unio, 1994. p.140-141. Apud. CARVALHO, M. J. M. ; CMARA, B. A. D. . A Insurreio
Praieira. Almanack Braziliense, v. 8, p. 05-38, 2008. P. 30.
82
EDMUNDO, Lus. O Rio de Janeiro do meu tempo. Braslia: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003,
p. 622
83
MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro veio: o imaginrio da restaurao pernambucana. So Paulo (SP):
Alameda. 2008. P. 18
41
obra escrava e aumento da populao urbana, fossem restritas as vagas de emprego para os
trabalhadores livres. Marcus Carvalho cita Gilberto Freyre, que em Sobrados e
Mocambos, teria dito que muitos comerciantes davam preferncias aos jovens imigrantes
para o emprego na caixeiragem, sendo, por isso, muito comuns anncios nos jornais
buscando empregados portugueses para o trabalho em padarias, armazns e lojas diversas.
84
de junho de 1848 na qual dito que um portugus sapateiro, por exemplo, ou chama sua
loja os seus patrcios, ou compra escravos e os aplica a esse ofcio. Uma das crticas
mais correntes era essa preferncia dos patres portugueses em contratar compatriotas. 85
Carvalho analisa ento a ambiguidade dos empregos disponveis, pois se, por um lado,
v-se a preferncia em empregar conterrneos, por outro lado fica claro que esse era um
trabalho tambm prprio para escravos, ou seja duro, mal pago [...]86. No foi toa que
muitas vezes o trabalho desses imigrantes foi comparado a um trfico de escravatura
branca.
As crticas aos portugueses eram diversas. O patrono dos historiadores
pernambucanos, o oficial do Exrcito Jos Bernardo Fernandes Gama que, na dcada de
1840 publicou suas Memrias Histricas da Provncia de Pernambuco em quatro
volumes, influenciado pelo sentimento antilusitano fez uma leitura crtica dos portugueses
que remontava ao perodo do domnio holands, ao dizer que esses
portugueses que, tendo deixado a sua ptria para fazer fortuna em Pernambuco,
nenhum amor tinham a este pas; e porque a guerra os privava de lucro que vieram
procurar, pouco se importavam eles que Pernambuco estivesse sujeito ao estrangeiro,
contanto que os deixassem lucrar e locupletarem-se custa do suor e da liberdade dos
mesmos pernambucanos.87
42
88
MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro veio: o imaginrio da restaurao pernambucana. So Paulo (SP):
Alameda. 2008. P. 328.
89
REZENDE, Antnio Paulo. M. . O Recife: histrias de uma cidade. 2. Ed. Recife: Fundao de Cultura
da Cidade do Recife, 2005. p.84
90
CARVALHO, Marcus J. M. de. O antilusitanismo e a questo social em Pernambuco, 1822-1848. In
Miriam Halpern Pereira (organizadora). Actas do Colquio Internacional sobre Emigrao e Imigrao
em Portugal (Sc. XIX e XX). Editora Fragmentos, Lisboa, Portugal, 1993, p. 148.
91
Conhecida hoje em dia como rua Marqus de Olinda, localizada na ilha do Recife.
93
43
fecha-fecha e mata-mata. In: Revista do Instituto do Cear (Histrico, Geogrfico e Antropolgico), 99:
289-312, Jan./Dez. 1970. P. 309.
94
In: GIRO, Valdelice Carneiro. Os movimentos pr-polticos da dcada 1840-1850 em Pernambuco
fecha-fecha e mata-mata. Revista do Instituto do Cear (Histrico, Geogrfico e Antropolgico), 99:
289-312, Jan./Dez. 1970. P. 310.
95
"During anti-Portuguese actions of December 8, 1847, for example, xenophobic cries of 'Out with the
foreigners, the land is ours, death to the Portuguese!' were accompanied by vivas to the emperor.
MOSHER, Jeffrey C.. Political struggle, ideology, and state building Pernambuco and the construction
of Brazil, 1817-1850. Lincoln: University of Nebraska Press. 2008. P.204.
96
CMARA, B. A. D. . Os Motins Antilusitanos na poca da Praieira: o Aprendizado do Protesto
Popular e outras Variaes. In: XXIII SIMPSIO NACIONAL DE HISTRIA Histria: Guerra e Paz,
2005, Londrina. XXIII SIMPSIO NACIONAL DE HISTRIA Histria: Guerra e Paz, 2005. P. 4.
44
45
100
O Dirio de Pernambuco
46
106
MOSHER, Jeffrey. Political Mobilization, Party Ideology, and Lusophobia in Ninetteenth-Century Brazil:
Pernambuco, 1822-1850. In: Hispanic American Rewiew. 80:4. Duke University Press. 2000.
107
In both Pernambuco and the imperial court, political mobilization on the basis of Lusophobia led
partisan to commit acts of violence, going further than party leaders could have imagined, perhaps partly in
an effort to pressure party leaders for more decisive action. MOSHER, Jeffrey C.. Political struggle,
ideology, and state building Pernambuco and the construction of Brazil, 1817-1850. Lincoln: University
of Nebraska Press. 2008. P.253
108
"Liberal Lusophobia, of course, was not limited to Portuguese economic domination. As noted earlier, the
Portuguese were accused of exploiting their economic power to influence voting. More significantly, wealthy
Portuguese merchants had long found entre into prominent social (and thus political) circles in
Pernambuco. Many merchants managed this by fulfilling their aspirations to enter the prestigious and
influential world of the province's planters". MOSHER, Jeffrey C.. Political struggle, ideology, and state
building Pernambuco and the construction of Brazil, 1817-1850. Lincoln: University of Nebraska Press.
2008. P.193.
109
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado).
Recife. 2012. P. 20
110
GIRO, Valdelice Carneiro. Os movimentos pr-polticos da dcada 1840-1850 em Pernambuco fechafecha e mata-mata. In: Revista do Instituto do Cear (Histrico, Geogrfico e Antropolgico), 99: 289312, Jan./Dez. 1970. P. 301.
111
MOSHER, Jeffrey C.. Political struggle, ideology, and state building Pernambuco and the
construction of Brazil, 1817-1850. Lincoln: University of Nebraska Press. 2008. P.156
47
o ataque mais freqente aos portugueses no se deu nem nas ruas, nem nas
tribunas, mas atravs dessas folhas, sobretudo aquela produzida pelo escritor pblico
Incio Bento de Loyola114, o redator de vrios peridicos e proprietrio de tipografia. A
importncia de Loyola como formador de opinio ultrapassa o crculo de letrados, pois
escrevia de forma simples e direta, atingindo outros contingentes. Ningum atiava
como ele a fogueira do repdio aos portugueses.115
112
CANO, Jefferson. A poltica da lusofobia: partidos e identidades polticas no Rio de Janeiro (18481849). In: Locus (Juiz de Fora), v. 24, p. 63-92, 2007. P. 68
113
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado).
Recife. 2012. P. 17
114
Loyola foi preso aps a Praieira em 1849, tendo j sido encarcelado um ano antes pelo suposto
envolvimento no mata-marinheiro do colgio.
115
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado).
Recife. 2012. P. 31
116
CARVALHO, M. J. M. ; CMARA, B. A. D. . A Insurreio Praieira. Almanack Braziliense, v. 8, p.
05-38, 2008.p.34.
117
In: GIRO, Valdelice Carneiro. Os movimentos pr-polticos da dcada 1840-1850 em Pernambuco
fecha-fecha e mata-mata.. In: Revista do Instituto do Cear (Histrico, Geogrfico e Antropolgico),
99: 289-312, Jan./Dez. 1970. P. 294.
48
que
montariam
tendncia
mais
extremista
do
republicanismo
pernambucano. 121
No perodo que se seguiu, a imigrao cada vez aumentou em nmero. Essa era
vista como forma de solucionar os effeitos da falta de braos122, como disse Pedro II, na
Abertura da Assembleia Geral Legislativa, em 3 de maio de 1853, assim, quase todas as
polticas em prol da incluso do trabalhador nacional no comrcio foram abafadas pela
questo maior da atrao de imigrantes e da manuteno de capitais e interesses
estrangeiros no pas 123 . O aumento de estrangeiros intensificava os problemas j
existentes na primeira metade do sculo XIX e a comunidade portuguesa em Pernambuco
foi crescendo vertiginosamente.
Suzana Cavani narra conflitos ocorridos na dcada de 1860. Em 1866 a situao do
antilusitanismo ainda era forte a ponto da imprensa portuguesa se preocupar com a
segurana de vida e propriedade dos sditos portugueses residentes nessa provincia
[Pernambuco]. 124 Devido a essa preocupao, dicutia-se a necessidade da marinha
118
MELLO, Jos Antonio Gonsalves de. Ainda a Coleo Alberto Lamego. Diario de Pernambuco.
Recife, 18 dez. 1949.
119
CLARENCE-SMITH, W. G. The Third Portuguese empire, 1825-1975: a study in economic
imperialism. Manchester, Manchester University Press. 1985. P 75
120
SILVA, Alberto da Costa e. Inveno do desenho: fices da memria. RJ: Nova Fronteira, 2011. P.
187
121
CARVALHO, Marcus J. M. de. O antilusitanismo e a questo social em Pernambuco, 1822-1848. In:
Miriam Halpern Pereira (organizadora). Actas do Colquio Internacional sobre Emigrao e Imigrao
em Portugal (Sc. XIX e XX). Editora Fragmentos, Lisboa, Portugal, 1993, p. 156.
122
Discurso presente em NETO, Casimiro. A construo da Democracia. Centro de Documentao e
Informao Coordenao de Publicaes: Braslia. 2003. P. 217.
123
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado).
Recife. 2012. P. 20.
124
Dirio de Pernambuco de 11/09/1866 in: ROSAS, Suzana Cavani. Cidadania, trabalho, voto e
antilusitanismo no Recife em 1860: os meetings no bairro popular de So Jos.. In: XXV Simpsio
Nacional de Histria, 2009, Fortaleza. Anais do Simpsio Nacional de Histria, 2009. P. 3.
49
lusitana escoltar um navio vindo com passageiros portugueses para o porto do Recife. Um
dia aps a chegada desses navios, a capital pernambucana viu um confronto entre a fora
policial e populares liderados por Borges da Fonseca, que j vinha organizando meetings
no bairro de So Jos, que atiavam os anseios dos trabalhadores pernambucanos,
retomando crticas que coadunavam com as reivindicaes populares, como a
nacionalizao do comrcio retalho. Esses populares capitaneados por Borges da Fonseca
protestaram numa festa ocorrida no Forte das Cinco Pontas, em comemorao
independncia e recepo chegada dos tripulantes.
No dia 11 de setembro o peridico O Tribuno, de Borges da Fonseca, comentou
o episdio com teor crtico:
Foi bem escolhido o lugar para o baile dos fidalgos, o 5o batalho nacional
desta cidade, dado aos portugueses. Foi nas Cinco Pontas que d. Joo VI, em 1817, e
Pedro I, em 1824, fizeram danar na corda bamba a muitos patriotas, cujo nico crime
era quererem de corao a liberdade e a independncia da Terra de Santa Cruz. Naquele
baile haviam de estar os portugueses a rir como doidos, recordando-se dos tempos em
que (...) levavam este pobre povo brasileiro a palmatria e o Chicote.125
Era claro o resentimento com os lusitanos. Cavani cita ainda diversas matrias do
jornal O Tribuno que mostravam inmeros conflitos entre portugueses e brasileiros no
perodo. Essas expunham desde um portugus dando tiro em um brasileiro a uma esposa
brasileira apanhando de seu marido lusitano, queixas e denncias contra os portugueses
estavam mesmo na ordem do dia no Recife.126
As frequentes aparies de conflitos com lusitanos na imprensa mostravam bem
que as tenses entre portugueses e brasileiros ainda no tinham se dissipado.
Para uma cidade que via sua populao livre crescer na segunda metade do sculo
XIX, impulsionada em grande parte pelo xodo rural e sem contar a seu favor com uma
economia em expanso ou diversificada, qualquer sinal de preferncia de estrangeiros
em detrimento de brasileiros nos postos de trabalho desagradava a quem perambulava
de rua em rua em busca de ocupao.127
125
O Tribuno de 11/09/1866 in: ROSAS, Suzana Cavani. Cidadania, trabalho, voto e antilusitanismo no
Recife em 1860: os meetings no bairro popular de So Jos.. In: XXV Simpsio Nacional de Histria, 2009,
Fortaleza. Anais do Simpsio Nacional de Histria, 2009. P. 4.
126
ROSAS, Suzana Cavani. Cidadania, trabalho, voto e antilusitanismo no Recife em 1860: os meetings no
bairro popular de So Jos.. In: XXV Simpsio Nacional de Histria, 2009, Fortaleza. Anais do Simpsio
Nacional de Histria, 2009. P. 4.
127
ROSAS, Suzana Cavani. Cidadania, trabalho, voto e antilusitanismo no Recife em 1860: os meetings no
bairro popular de So Jos.. In: XXV Simpsio Nacional de Histria, 2009, Fortaleza. Anais do Simpsio
Nacional de Histria, 2009. P.5.
50
Tal queixa reala a imagem negativa ainda ligada aos portugueses residentes em
Pernambuco. A imagem de lusitanos mesquinhos e a do comerciante avarento se
perpetuavam, na leitura dos prprios portugueses. Analisando uma obra literria do
128
51
perodo, A Guerra dos Mascates130, romance de 1883 escrito por Jos de Alencar,
Nelson Vieira observa que Alencar deixa transparecer sua lusofobia nesse livro que:
diante da nova nao que surgia embalada pela Repblica, Portugal tornava-se
novamente o pas do atraso e o responsvel pelos males da Monarquia, tanto quanto os
portugueses eram tidos por trabalhadores, mas exploradores dos brasileiros sem
qualquer pejo. Justificava-se uma releitura da nao e da cidadania, atribuindo gente
lusa o aumento dos gneros, dos alugueis e o aambarcamento do melhores empregos.
O discurso de irmandade tornava-se novamente ambguo. Irmos, mas nem tanto. Eram,
sim, enganadores, ambiciosos, gananciosos, viles, espertalhes, nauseabundos e
133
rotos.
Por isso no eram raros os gritos de galego vai para a tua terra, que expressavam
os desejos de coibir a presena lusitana no comrcio e garantir o espao no mercado de
130
ALENCAR, Jos de. Obra Completa, 4 vols., 2.a ed. Rio de Janeiro: J. Aguilar, 1965, 1964, 1965, 1960.
VIEIRA, Nelson H. Brasil e Portugal: a imagem recproca. O mito e a realidade na expresso
literria. Lisboa, Ministrio da Educao/Instituto de Cultura e Lngua Portuguesa, 1991, p. 106.
132
SOUZA, Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In: Politia: Histria e
Sociedade, V.5, N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
2005. P. 144.
133
RIBEIRO, G. S. . Portugueses do Brasil e portugueses no Brasil: laos de irmandade e conflitos
identitrios em dois atos, 1822 e 1890.. In: Bela Feldman-Bianco. (Org.). Naes e disporas: estudos
comparativos entre Brasil e Portugal. 1ed.Campinas: Editora da UNICAMP, 2010, v. 1, p. 44-45.
131
52
trabalho para os nacionais. 134 A nacionalizao em massa sem dvida pode ter
contribudo para acirrar ainda mais o sentimento antilusitano gerado nas competies
dentro do mercado de trabalho e na hierarquizao de empregos e ocupaes que vinha
sendo formada desde inicios do XIX 135. Na primeira constituio republicana, publicada
em 1891, no artigo 64 , 4 afirmava que seriam considerados "cidados brasileiros os
estrangeiros que, achando-se no Brazil aos 15 de novembro de 1889, no declararem,
dentro de seis mezes depois de entrar em vigor a Constituio, o animo de conservar a
nacionalidade de origem"136. Deste modo, muitos portugueses foram igualados condio
de brasileiros de maneira tcita.
No Governo de Floriano Peixoto surge um movimento que tinha como uma de suas
bandeiras o antilusitanismo: os jacobinos que aglutinavam republicanos radicais,
positivistas, militaristas e outros. Para esses, os portugueses eram seus principais inimigos,
visto que os lusitanos eram associados antiga ordem monrquica. Assim, o
antilusitanismo era uma bandeira essencial no projeto jacobino de construo de uma
identidade nacional na Repblica Velha.137. Contudo no s a lusofobia constava na
agenda
jacobina,
mas
tambm
antimonarquismo,
radicalismo
patritico
republicanismo138
Diz Susana Silva que o movimento no brotava apenas da rua, das populaes
pobres, mas tambm era incentivado por jornalistas, escritores e polticos, que faziam
campanha antilusitana e que defendiam valores nacionalistas.139 Entre os intelectuais
jacobinos apresentava-se um discurso no qual a imagem dos portugueses era de:
134
53
primrdios da Repblica.140
Esse tipo de discurso no fazia distino social entre os portugueses, era destinado
a todos, fossem pobres trabalhadores ou ricos empresrios. Pulularam jacobinistas pelo
pas, difundindo tais ideais. O Clube Jacobino de So Paulo, em seu estatuto, colocava
como meta a ser alcanada a de combater o nativismo dos portugueses que a todo o
transe querem excluir o Brasil do comrcio, opondo a isso o nosso nativismo tambm141.
J no Rio de Janeiro do incio da Repblica, tornou-se sistemtico esse antilusitanismo,
principalmente sendo divulgado pelo peridico O Jacobino, que espalhava o dio aos
lusos, atribuindo-lhes a pecha de responsveis pelo atraso, pobreza e demais males
nacionais.142 Este peridico foi, inclusive, financiado em seu lanamento pelo governo de
Floriano Peixoto.143 A Revolta da Armada, em 1893, pouco depois tambm exps a tenso
entre postugueses e brasileiros no Rio de Janeiro. Para os jacobinos, Custdio de Mello
no s questionava o Governo de Floriano Peixoto, mas tambm teria tentado restaurar a
monarquia. Para piorar, os navios lusitanos Mindelo e Afonso Albuquerque, asilaram os
revoltosos. O resultado disso foi o rompimento das relaes entre Brasil e Portugal e uma
revolta contra portugueses na cidade carioca.
Pouco tempo depois, o jornalista Joo Chagas, no seu livro De Bond: aspectos da
civilizao brasileira, de 1897 , mostrou um panorama da recente repblica brasileira.
Segundo o mesmo, a colnia portuguesa ainda era vista como inimiga no periodo. O
fundamento dessa divergncia seria pura e simplesmente a concorrncia entre brasileiros e
portugueses, sobretudo no comrcio, porm o autor afirma que vrios intelectuais eram
contrrios aos lusitanos. Em sntese no Brasil, o comercio o portugus, e o portugus
ainda e sempre o inimigo.144
Cristiane Dvila Lyra Almeida, em sua tese, comenta o trabalho de Joo Chagas
afirmando que, de fato, no perodo segmentos da economia urbana como o comrcio
140
TRICHES, Robertha P. " Sombra das bananeiras d'esta Repblica": as construes da imagem do
portugus pela imprensa carioca. Revista Litteris, v. 2, p. 1-16, 2009. P. 6.
141
QUEIROZ, S. R. R. de. Os radicais da Repblica. So Paulo: Brasiliense, 1986.p. 101. Apud. SOUZA,
Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In: Politia: Histria e Sociedade, V.5,
N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. 2005. P. 145.
142
ARRAIS, Mrio Gilberto. C. Representaes literrias do imigrante portugues em Alusio Azevedo e
incidncias perifricas. (Dissertacao de mestrado). UFRJ. 2006. P. 22
143
LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. Migrao Portuguesa no Brasil. So Paulo: Editora Hucitec, 2001.
P.27.
144
CHAGAS. Joo. De bond: alguns aspectos da civilizao brasileira. Lisboa: Livraria Moderna, 1897, pp.
148-153. Apud. ALMEIDA, Cristiane DAvila Lyra. Joo do Rio a caminho da Atlntida: por uma
aproximao luso-brasileira. Rio de Janeiro, 2010. 300p. Tese de Doutorado - Departamento de Letras,
Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro. P. 58.
54
145
ALMEIDA, Cristiane DAvila Lyra. Joo do Rio a caminho da Atlntida: por uma aproximao lusobrasileira. Rio de Janeiro, 2010. 300p. Tese de Doutorado - Departamento de Letras, Pontifcia Universidade
Catlica do Rio de Janeiro. P. 27
146
RIBEIRO, G. S. . "Por Que Voce Veio Encher O Pandulho Aqui?": Os Portugueses, O Antilusitanismo e
A Exploracao das Moradias Populacionais No Rio de Janeiro da Republica Velha. In: Analise Social.
Revista do Instituto De Ciencias Sociais da Universidade De Lisboa, Lisboa, v. XXIX, p. 631-654, 1994.
P. 637.
147
ALMEIDA, Cristiane DAvila Lyra. Joo do Rio a caminho da Atlntida: por uma aproximao lusobrasileira. Rio de Janeiro, 2010. 300p. Tese de Doutorado - Departamento de Letras, Pontifcia Universidade
Catlica do Rio de Janeiro. P. 18-19
148
SOUZA, Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In: Politia: Histria e
Sociedade, V.5, N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
2005. P. 169.
149
LESSA, Carlos. Rio, uma cidade portuguesa? In: LESSA, Carlos (Org.). Os Lusadas na aventura do
Rio moderno. RJ: Record, Faperj, 2002. p.51
55
desaparecido como fator de uso poltico a partir dos anos 30.150 Seguem apenas como
discursos estereotipados para representar os antigos colonizadores portugueses. A
nacionalizao to almejada foi sendo feita de maneira lenta e gradual, com a diminuio
dos imigrantes, o aumento da populao brasileira, e o legado deixado pelo portugus ao
seu filho j brasileiro.151 Como diz Ricardo Luiz Souza:
Nos anos de 1930 a situao do trabalhador nacional no era das melhores. Para
alm dos problemas relativos a uma legislao ineficiente, os brasileiros encaravam outras
dificuldades. A imigrao em massa desde 1870 trouxe grande concorrncia - muita vezes
de mo-de-obra barata, assim como a prpria imigrao interna, que avolumava a
concentrao populacional nas capitais. Alm do mais, a crise de 1929 e o crescente
desemprego no Brasil atingiam fortemente o trabalhador nacional. necessrio
compreender que o mercado de trabalho brasileiro era pequeno o bastante para absorver a
quantidade de brasileiros aptos e desempregados, como atesta Ribeiro. O autor ainda cita
que em restaurantes, por exemplo, cerca de 80% dos empregados eram estrangeiros ou
naturalizados.153
150
SOUZA, Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In: Politia: Histria e
Sociedade, V.5, N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
2005.p. 146.
151
CMARA, Bruno Augusto Dornelas. O retalho do comrcio: a poltica partidria, a comunidade
portuguesa e a nacionalizao do comrcio a retalho, Pernambuco 1830- 1870 (tese de doutorado).
Recife. 2012. P. 20-21.
152
SOUZA, Ricardo Luiz. "O Antilusitanismo e a afirmao da nacionalidade". In: Politia: Histria e
Sociedade, V.5, N.1, Revista do Departamento de Histria da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
2005. P. 170. ROWLAND, Robert. "Manuis e Joaquins: A cultura brasileira e os portugueses",
Etnogrfica, V (1), pp. 157-172.. 2001
153
RIBEIRO, Jos Augusto. A era Vargas 1. 1882-1950.Rio de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. p. 90-91
56
154
RIBEIRO, Jos Augusto. A era Vargas 1. 1882-1950.Rio de Janeiro: Casa Jorge Editorial, 2001. P. 90
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19482-12-dezembro-1930-503018republicacao-82423-pe.html. Acesso em 21 de Agosto de 2013.
156
GERALDO, Endrica. A lei de cotas de 1934: controle de estrangeiros no Brasil. In: Cadernos da
AEL, Capinas, v. 15, n. 27, p.173-209, 2009.
155
57
coibir a vinda do imigrante dirigido ao meio urbano e influenciar o fluxo estrangeiro para o
campo.
Esse decreto atingia diretamente o fluxo de imigrantes, em especial os lusitanos,
maior corrente na poca. Talvez, no por acaso, o ex-adido comercial portugus no Rio de
Janeiro, Jos de Carvalho Neves, publicou uma carta aberta no Dirio de Lisboa, em 6 de
janeiro de 1831, na qual dizia que a lei dos dois teros no trata maior fortuna nem maior
glria ao brasil e ofuscou, seno anulou, os efeitos de meio sculo de propaganda e as
tradies da generosa hospitalidades e grande liberalidades que fazia o seu orgulho e o
tornavam o pas preferido 157dos imigrantes portugueses
No entanto, foi a restrio ao trabalho de estrangeiros nas empresas que operassem
no pas, proporo de 1/3 do total de empregados, que marcou o referido decreto. O
artigo 3o da ou Lei dos Dois Teros, de 12 de Dezembro de 1930, dizia:
Todos os indivduos, empresas, associaes, companhias e firmas comerciais, que
explorem, ou no, concesses do Governo federal ou dos Governos estaduais e
municipais, ou que, com esses Governos contratem quaisquer fornecimentos, servios
ou obras, ficam obrigadas a demonstrar perante o Ministrio do Trabalho, Indstria e
Comrcio, dentro do prazo de noventa dias, contados da data da publicao do presente
decreto, que ocupam, entre os seus empregados, de todas as categorias, dois teros, pelo
menos, de brasileiros natos.158
NEVES, Jos de Carvalho. Apud. MENDES, Jos Sacchetta. Laos de sangue: privilgios e
intolerncia imigrao portuguesa no Brasil (1822-1945). So Paulo, SP, Brasil, Edusp.. 2001.. P.249
158
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19482-12-dezembro-1930-503018republicacao-82423-pe.html. Acesso em 21 de Agosto de 2013
58
chamada de Repblica Velha, e ruptura da poltica do caf com leite, uma articulao
formada por setores radicais da Aliana Liberal iniciaram um levante armado, contrrio ao
presidente Washington Lus, em diversas partes do pas. No Recife, era madrugada do dia
4 de outubro de 1930 quando o movimento se iniciou e pouco mais de vinte e quatro horas
depois o levante j havia tomado o poder e expulsado Estcio Coimbra do governo do
estado. Diversos civis se uniram aos militares sublevados e atacaram o Quartel de
Soledade, conseguindo bastante munio e armamento. Houve grande participao do
povo quando milhares de populares buscaram as ruas procura de armas nos quartis
sublevados159.
Em meio aos conflitos, civis e militares favorveis Estcio Coimbra se
voluntariam em dois carros blindados a irem ao quartel da Soledade, recentemente atacado
pelos revoltosos160. O que se viu, entretanto, foi a morte de todos. Este episdio chamado
tragdia dos blindados, quando os voluntrios que apoiavam Estcio Coimbra foram
alvejados por tiros no quartel da Soledade, enquanto estavam em dois veculos blindados,
atingiu fortemente o governo.161
Com o crescimento do levante, vrios partidrios de Estcio Coimbra fugiram para
Alagoas, tendo em vista o aumento dos conflitos e a dificuldade do governo se defender,
na medida em que boa parte das tropas estava no interior. No dia 5, pela manh, um assalto
Chefatura de Polcia libertou militares e civis aprisionados ali, dando-lhe armas e
aumentando o volume de revoltosos. Mas foi com a rendio do Quartel do Drbi,
capitaneada por Juarez Tvora, por volta de uma da tarde do domingo, que o levante
chegou ao seu objetivo, logrou a vitria da Revoluo de 1930 em Recife e Carlos de Lima
Cavalcanti foi colocado como Interventor Federal.
Convm ressaltar, como Barbosa Lima Sobrinho o faz, que a participao popular
foi muito presente nesse movimento. Sobrinho ressalta que ao amanhecer do dia 4, com a
populao tendo tomado o quartel da Soledade, vrios operrios, que nessa madrugada se
dirigiam s fbricas, se voluntariaram a participar do movimento e iam engrossando o
159
AQUINO, R. S. L. D., MENDES, F. R., & BOUCINHAS, A. D.. Pernambuco em chamas: revoltas e
revolues em Pernambuco. Recife, PE, Fundao Joaquim Nabuco, Editora Massangana.. 2009. P. 243.
160
Por pouco Gilberto Freyre no embarcou entre os voluntrios. Segundo o mesmo atesta em entrevista
Frederico Pernambucano de Mello. MELLO, Frederico Pernambucano de.. A tragdia dos blindados um
episdio da Revoluo de 30 no Recife. Recife, Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educao,
Cultura e Esportes/FUNDARPE. 1999. P.32
161
MELLO, Frederico Pernambucano de.. A tragdia dos blindados um episdio da Revoluo de 30 no
Recife. Recife, Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Educao, Cultura e Esportes/FUNDARPE.
1999.
59
nmero de insurretos. Diz Barbosa Lima Sobrinho que o movimento de Recife foi o nico
genuinamente popular, de todos que se haviam travado naquele dia de revolta.. O autor
ainda mais contundente ao abordar essa participao popular, ao dizer que em
Pernambuco, fora apenas o povo, quase que por si s, com trs ou quatro oficiais
destemidos, que souberam tirar partido da descoordenao e da inrcia do adversrio162.
Souza Barros tambm observou isso ao dizer que em Pernambuco a revoluo de 1930
foi um movimento de povo, com forte contribuio de estudantes e operrios. 163
importante, ento, levar em conta os distrbios de outubro de 1930 e a participao popular
em Recife nesse movimento ao estudarmos os conflitos de 8 e 9 de abril de 1931.
O poltico, advogado e jornalista olindense Paulo Cavalcanti tinha 14 anos quando
ocorreu esse evento e posteriormente iria escrever sobre o mesmo em suas memrias
autobiogrficas. Sua viso, no entanto, absorve o discurso antilusitno da poca e por iso
deve ser ponderada, visto que o mesmo era um ator no processo por ele descrito. Isso,
contudo, no traz demrito sua narrativa. Apesar de Cavalcanti tratar os conflitos como
um mata-marinheiro, os peridicos da poca no usarem esse termo, muito comum ao
sculo XIX. Buscando expor a situao do comrcio na poca disse o jornalista em suas
memrias que:
No s isso, mas:
O grosso do comrcio da capital pernambucana, sobretudo no setor de estivas e
produtos alimentcios vindos de outras praas bacalhau, arroz, farinha de trigo,
charque, azeite de oliva, genericamente denominados secos e molhados -, estava sob o
controle dos portugueses, alm das padarias e das torrefaes de caf.165
SOBRINHO, Barbosa Lima. A verdade sobre a Revoluo de Outubro 1930. So Paulo, Editora AlfaOmega. 1975.. P.146
163
SOUZA BARROS, M. D.. A dcada 20 em Pernambuco. Uma interpretao. Rio de Janeiro, Grfica
Editora Acadmica. 1972 P. 129.
164
CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi: da Coluna Prestes Queda de Arraes:
memrias. 3a ed. Recife: Editora Guararapes, 1980. p. 100
165
CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi: da Coluna Prestes Queda de Arraes:
memrias. 3a ed. Recife: Editora Guararapes, 1980. P. 103
60
Teixeira Miranda & Cia. de propriedade dos portugueses Joo Ferreira Miranda e Jos
Frazo Teixeira. Entretanto, os problemas j se desenhavam alguns dias antes.
A firma Teixeira Miranda havia adquirido h pouco tempo a torrefao de Caf
Guanabara. Aps a compra, foram despedidos alguns empregados brasileiros. Alm disso,
segundo Paulo Cavalcanti a firma Teixeira Miranda, nos encargos de escritrios e de
balco, utilizava mais o elemento portugus, deixando aos brasileiros as tarefas mais
pesadas, de fabricao e transporte de produtos 166 . Isso pde ser comprovado em
publicao solicitada pela Teixeira Miranda & Cia no Dirio de Pernambuco do dia 11 de
abril, onde os portugueses listaram os empregados de sua firma.167
A fim de rebater as crticas que vinham recebendo, no dia 5 de abril, no Dirio de
Pernambuco, saiu uma matria solicitada pelos donos da firma Teixeira Miranda & Cia,
onde procuraram contrapor as censuras que vinham sofrendo, segundo as quais a empresa
lusitana no respeitava a Lei dos Dois Teros e que vinham despedindo os empregados
brasileiros e privilegiando os portugueses. Diz a nota:
CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi: da Coluna Prestes Queda de Arraes:
memrias. 3a ed. Recife: Editora Guararapes, 1980. P. 103
167
A Firma Teixeira Miranda & Cia: ao pblico. Dirio de Pernambuco. Recife: 11 de abril de 1931.
Solicitadas. p.3. FUNDAJ
168
A Firma Teixeira Miranda & Cia: rebatendo uma calumnia. Dirio de Pernambuco. Recife: 5 de abril de
1931. Solicitadas. p.3 FUNDAJ.
61
169
Os Acontecimentos de Hoje na Rua Direita. Jornal Pequeno. Recife: 8 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
Os Factos de Hontem. Dirio de Pernambuco. Recife: 9 de abril de 1931. p.3. FUNDAJ.
171
Lamentveis Sucessos. Jornal do Recife. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
172
CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi: da Coluna Prestes Queda de Arraes:
memrias. 3a ed. Recife: Editora Guararapes, 1980. P. 99
173
CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi: da Coluna Prestes Queda de Arraes:
memrias. 3a ed. Recife: Editora Guararapes, 1980. P. 101
170
62
63
o carter antilusitano do conflito. 174 Diz Paulo Cavalcanti que bastava que algum
gritasse: Ali tem casa de galego!175, e o povo corria a apedrej-la176.
importante ater-se pouco mais ao significado do hasteamento da bandeira
brasileira em lojas portuguesas. O Brasil passava recentemente por um momento de
mudana. O governo Vargas mostrava sua predileo por uma poltica nacionalista, que
valorizava o trabalhador aqui nascido. Isso no se passava desapercebido aos olhos dos que
residiam no pas. A atitude de se iar um dos smbolos ptrios, representativo da nao
brasileira, deixava claro tanto a percepo dos portugueses de que sua nacionalidade no
era bem vista aos olhos dos manifestantes, como tambm que os lusitanos acreditavam que
a bandeira brasileira poderia arrefecer os nimos dos revoltosos. O pavilho nacional
possui um sentido profundo para o povo brasileiro. necessrio compreender que a
construo desse smbolo se d em um momento marcante da histria nacional, a
proclamao da Repblica. O ato de se hastear uma bandeira traz tona fortes sentimentos
de cunho nacionalista e o desrespeito flmula considerado uma ofensa de grande
proporo. No teria sido por acaso, ento, que diversas casas lusitanas tenham tentando
passar uma imagem favorvel ao Brasil ao iar as bandeiras do pas. Ainda que o resultado
dessas aes tenham sido nulos, pois em nada influenciaram nas manifestaes, no deixa
de ser bastante representativo esse tipo de atitude partida dos portugueses. A despeito das
tentativas lusitanas de abrandarem o lado portugus de suas lojas e mostrar-se como
brasileiros, o sentimento antilusitano foi mais forte e as casas portuguesas no passaram
inclumes.
Na rua das Florentinas, um outro grupo tentou atacar o armazm de estivas da firma
Franco Ferreira, que estava fechado por conta dos distrbios, mas foi contido por policiais.
Do conflito resultou duas mortes. Ferido por arma branca, como citam os jornais, veio a
falecer o calunga do caminho da prpria casa Franco Ferreira. Alm do popular Augusto
Vieira de Mello, encontrado em coma, atingido por um disparo no crnio. Apesar de
socorrido e levado ao Hospital Pedro II, a vtima no resistiu aos ferimentos e faleceu pela
noite. Vrios indivduos feridos foram recolhidos pela Assistncia Pblica. E o povo,
revoltado, teria estragado por completo os motores dos caminhes da referida firma com
pedradas. No mesmo dia vrias outras pessoas foram socorridas com ferimentos diversos,
174
64
A famlia lvares de Carvalho possua uma relao com Pernambuco que precedia
os conflitos de 1931. Em 1851, nasceu em Mondim de Basto, pertencente ao Distrito de
Vila Real, no norte portugus, Jos Augusto lvares de Carvalho. Aos 14 anos, em 1865,
emigrou para o Brasil, onde criou a firma lvares de Carvalho & Cia. Segundo Borges, o
homem mais rico de Pernambuco no seu tempo. Casou-se com a brasileira Ana da
Conceio Bastos e tiveram vrios filhos que seguiram seus negcios. O lusitano, contudo,
terminou voltando Mondim de Basto, sendo administrador do Concelho entre 1906 e
1910, e morrendo em 1915. Sua empresa possua tamanho porte que segundo Borges,
acabavam
Carvalho
. Percebe-se que mesmo aps o perodo em que Jos Augusto esteve frente
177
FREYRE, Gilberto. Guia prtico, histrico e sentimental da cidade do Recife. Rio de Janeiro, Livraria
Jos Olympio Editra. 1968.. P. 190
178
Lamentveis Sucessos. Jornal do Recife. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
179
BORGES, Licnio Antnio Teixeira. Educao, Sociedade e Desenvolvimento em Mondim de Basto:
desde o Marqus de Pombal transio para a contemporaneidade. Universidade do Minho: Braga. 1999.
(tese de doutorado). P. 41.
65
da firma esse movimento oriundo de sua cidade natal continuo, segundo apresenta
Mendona.180
Nascido em 1869, tambm em Mondim do Basto, Alfredo da Graa Pinto Coelho
passou a fazer parte da famlia lvares de Carvalho ao casar-se com a filha mais velha de
Jos Augusto e em 1908 emigrou para o Brasil. Chegando no novo pas, virou scio da
firma lvares de Carvalho & Cia. Com o advento da I Guerra Mundial, seu
estabelecimento de ferragens, o Armazm Caboclo, cresceu bastante com a venda de
ferragens a grosso e a varejo, garantindo uma boa fortuna, que foi utilizada em atos
benemritos no Recife e em sua cidade natal.181 Restaurou igrejas, levou gua encanada
para sua vila, fundou a Santa Casa da Misericrdia de Mondim de Basto que funcionou
como nica unidade de sade no concelho, at sua oficializao como hospital
concelho, em 1976.182 Em Recife, contribuiu bastante com o Gabinete Portugus, Clube
Portugus, Real Hospital de Beneficncia Portuguesa, onde foi provedor por mais de
vinte anos seguidos, alm de ter ajudado outras diversas instituies. Foi tambm
presidente do Banco do Povo e grande benfeitor do Crculo Catlico de Pernambuco,
inclusive tendo doado em 1931 a nova sede dessa associao religiosa, da qual
participavam importantes membros da elite local.183 Quando o jornal cita o comendador
lvares de Carvalho o peridico fala sobre Alfredo lvares de Carvalho Pinto Coelho, que
passara a usar o sobrenome do sogro.
Disse o portugus Antonio Dias, em 1940, que Alfredo era a expresso mais
completa de benemerncia lusitana na cidade de Recife, por isso, poucas ou talvez
nenhuma das sociedades luso-brasileiras se tenham formado nestes ltimos anos que no
o tenham como scio benemrito no seu quadro. O lusitano continua dizendo que uma
das faces mais caractersticas do seu natural feitio, a comunicabilidade gentil e afvel,
que lhe grangeou um prestigio no meio social recifense e no seio do elemento patricio do
Estado.184 Fica claro que o comendador lvares de Carvalho era figura bem quista entre a
180
66
elite local e por isso o Jornal do Recife lamentava que o estabelecimento do portugus
tivesse sido atacado.
Na perspectiva do Jornal Pequeno, o movimento se alastrou num carter de franca
anarquia. A polcia passou a ser distribuda pela cidade a fim de garantir a segurana. Ptio
do Paraso, praa da Independncia e rua das Florentinas foram alguns dos locais onde
foram colocados efetivos policiais.
Quando os nimos estavam se acalmando, o assassinato de um auxiliar de comrcio,
por um soldado da polcia, trouxe tona a revolta da populao. Por volta das 14:30 do dia
8 de abril de 1931, na rua Duque de Caxias, Severino Baptista da Silva, empregado do
Armazm Avenida, da firma Manoel Arajo & Cia, foi assassinado. A vtima retornava do
seu almoo para seu trabalho na av. Marqus de Olinda 143. Ao chegar no Armazm
Avenida, se deparou com o mesmo fechado, devido aos acontecimentos no centro da
cidade. Por conta disto, Severino Silva iniciou sua volta para casa, na rua das Trincheiras.
Chegando na rua Duque de Caxias, encontrou policiais fazendo um cordo de isolamento.
O Jornal do Recife assim narrou o fato:
67
REIS, Joo Jos. A Morte uma Festa: ritos fnebres e revolta popular no Brasil do sculo XIX . So
Paulo: Companhia das letras, 1991. P. 138.
68
187
Os Acontecimentos de Hontem na Cidade. Jornal Pequeno. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
Os Acontecimentos de Hontem na Cidade. Jornal Pequeno. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
189
Os Acontecimentos de Hontem na Cidade. Jornal Pequeno. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
190
Os Acontecimentos de Hontem na Cidade. Jornal Pequeno. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
188
69
movimento:
191
Os Acontecimentos de Hontem na Cidade. Jornal Pequeno. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
Os Acontecimentos de Hontem na Cidade. Jornal Pequeno. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
193
Os Acontecimentos de Hontem na Cidade. Jornal Pequeno. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
194
Os Acontecimentos de Hontem na Cidade. Jornal Pequeno. Recife: 9 de abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
192
70
71
portugueses frisaram, entretanto, que no houve nenhuma discusso com este auxiliar
demitido que pudesse suscitar os boatos aleivosos que correram pela cidade e que,
segundo os lusitanos, o prprio funcionrio dispensado era o primeiro a protestar.
Somente este auxiliar e os diaristas da panificao foram demitidos e dentro da melhor
cordialidade, segundo os novo empregadores, que atriburam a essas dispensas a
campanha de odiosidade sofrida pela firma. Na matria publicada pelo Dirio de
Pernambuco, os portugueses destacam que havia cerca de 8 dias que eles estavam
advertidos dessa campanha, o que motivara a publicao dias atrs de uma matria
contendo explicaes da firma a fim de desfazer os boatos. Contudo,
Nos ltimos dias todos os empregados de nossa firma, brasileiros ou
portugueses, vinham sendo alvo de humilhaes, principalmente os encarregados da
distribuio, ouvindo todos eles, porm, sempre, dos chefes, a palavra de prudncia e
de calma, dada a delicadeza do assunto. Pode assegurar que nenhuma alterao se
verificou ontem no balco do nosso estabelecimento, por segundo as notcias correntes,
esta teria se dado com um dos scios, o que absolutamente no aconteceu.
Quanto aos disparos, que se fizeram do interior do estabelecimento nada mais
foi do que a ao da polcia que ento j procurava reprimir depredaes. 195
72
sendo 10 portugueses. Em nota dada dois dias depois, contudo, esse nmero aparece como
87 empregados no total, dos quais 17 eram portugueses, o que comentaremos mais na
frente.
Os scios da Teixeira Miranda & Cia, concluindo, declararam que no cogitavam
indenizao alguma diante dos prejuzos causados pelas depredaes, no querendo, os
scios, agirem contra quem quer que fosse. Almejavam, entretanto, que o pblico os
jugasse pesando os prs e contras e percebessem a suposta injustia na qual o povo teria
cado enganado, diante das vozes dos detratores dos portugueses. Finalizam, ento,
afirmando que:
Velhos amigos do Brasil trabalhando nesta terra h tantos anos, de colaborao
com os brasileiros, com famlia brasileira e todos os bens no Brasil, s a maldade nos
poder atribuir qualquer propsito contra o elemento nacional que conosco colabora na
melhor harmonia.196
73
nos sangrentos conflitos que ocorreram no golpe de 1930. Diz Michel Zaidan que o
governo de Cavalcanti foi caracterizado por um misto de inovao administrativa e
represso poltica aos movimentos sociais, alm de uma recorrente instabilidade
poltica.197Deve-se, ento, compreender a atuao enrgica das foras governamentais s
luzes das palavras do historiador. O movimento de 1930, recentemente alado ao poder,
no poderia se dar ao luxo de, terminado o conflito que os levou ao governo, ver em plena
capital recifense distrbios incontrolados. Os conflitos atingiram o centro comercial do
Recife, afetando o cotidiano local.
Mais policiais foram enviados pelo Delegado geral, quando a populao j
praticava depredaes em alguns compartimentos do interior do Mercado de So Jos, que
foi imediatamente fechado. O movimento se espalhou pela rua da Penha, ptio do Carmo,
rua da Praia e rua do Rangel, apedrejando estabelecimentos portugueses por onde
passavam.
ZAIDAN, Michel. "Tradio Oligrquica e Mudana". In: Revista Tempo Histrico, Vol. 1, No 1. 2005.
P. 3.
198
CAVALCANTI, Paulo. O caso eu conto como o caso foi: da Coluna Prestes Queda de Arraes:
memrias. 3a ed. Recife: Editora Guararapes, 1980. P. 102
74
Entre portugueses e brasileiros, houve hontem, srias divergncias em Recife. Folha da Manh. So
Paulo: 10 de abril de 1931. P.2 HDB. Disponvel em http://www.hemerotecadigital.bn.br/
200
Contra as arruaas em Recife. Folha da Manh. So Paulo: 11 de abril de 1931. P.2. HDB. Disponvel
em http://www.hemerotecadigital.bn.br/
201
Uma exploso jacobina em Pernambuco. Folha da Noite. So Paulo: 9 de abril de 1931. P.2. HDB.
Disponvel em http://www.hemerotecadigital.bn.br/
202
Uma pequena arruaa em Recife causou pnico na cidade. A Batalha. Rio de Janeiro: 9 de abril de 1931.
P.2 HDB. Disponvel em http://www.hemerotecadigital.bn.br/
203
Grave conflito em Recife. A Noite. Rio de Janeiro. 9 de abril de 1931. P.3. HDB. Disponvel em
http://www.hemerotecadigital.bn.br/
204
Empregados brasileiros despedidos, em Recife, em luta com patres portugueses. A Batalha. Rio de
Janeiro: 9 de abril de 1931. P.3
75
Pequeno continuava tratando sobre os acontecimentos dos dias 8 e 9 e publicou uma nota
oficial da interventoria que afirmava que o movimento estava degenerando em franca
anarquia que se precisava conter, fosse como fosse. A sua causa primitiva j havia, alis,
desaparecido.205 Segundo a nota, nesses eventos:
Os acontecimentos de ontem e ante-hontem. Jornal Pequeno. Recife: 10 de abril de 1931. p.2. FUNDAJ.
Os acontecimentos de ontem e ante-hontem. Jornal Pequeno. Recife: 10 de abril de 1931. p.2. FUNDAJ.
207
O Governo do Estado e os ltimos acontecimentos: nota official. Dirio de Pernambuco. Recife: 10 de
abril de 1931. p.1. FUNDAJ.
208
Sejamos Justos. Dirio de Pernambuco. Recife: 10 de abril de 1931. P.1 FUNDAJ.
206
76
o verdadeiro povo, que no pode ser confundido com os elementos irrefletidos que
andaram nos dois ltimos dias a perturbar a vida da cidade, sem motivo justo, nem
vantagem para ningum..209Percebe-se a imprensa e intelectuais se solidarizando com os
portugueses. Vale salientar, como o faz Levine, que a elite urbana nesse perodo era
formada por famlias rurais, comerciantes e banqueiros, muitos dos quais estrangeiros,
onde se encaixam os lusitanos 210 . Observa-se que foi nas classes sociais menos
privilegiadas onde reaflorou-se o sentimento antilusitano. No difcil de compreender,
visto que eram esses trabalhadores brasileiros, empregados em ofcios menos
especializados e com salrios menores, que disputavam as poucas ofertas com os
imigrantes, muitas vezes sendo preteridos.
Ainda no dia 9, o Jornal do Recife se expressava dizendo que:
77
ele, um amigo seu portugus, teria atribudo ao jornalista uma parte de responsabilidade
nos eventos recentes, qui autoria intelectual, nos desmandos da populaa nestes
ltimos dias.213 Essa seria a opinio de parte da colnia portuguesa no Recife, segundo o
amigo lusitano. Assim, Mrio Melo escreveu seu protesto contra a opinio dessa parte da
comunidade e tambm contra as atitudes dos revoltosos. Segundo ele:
Sou nacionalista, sim: no jacobino. Meu nacionalismo construtor. Quero a
grandeza da minha terra mas reconheo que, para t-la a necessidade da colaborao de
todos que honestamente trabalham, seno pelo Brasil, ao menos no Brasil.
E o portugus tem sido grande parte da massa com que se tem fundido e ainda
se funde a nossa nacionalidade.214
MELO, Mrio. Protesto!. Jornal Pequeno. Recife: 10 de abril de 1931. P.1 FUNDAJ.
MELO, Mrio. Protesto!. Jornal Pequeno. Recife: 10 de abril de 1931. P.1 FUNDAJ.
215
Jos Manuel Sarmento de Beires foi um aviador portugus que em 1927 fez a travessia area noturna do
Atlntico Sul bordo do seu hidroavio Argos. Em seu dirio, Sarmento de Beires afirma ter recebido Mrio
Melo em Fernando de Noronha como reprter do Dirio de Pernambuco, e que esse deveria acompanh-lo no
trecho entre a ilha pernambucana e Recife. Segundo o aviador desde o incio, Mrio Melo, inquieto,
esquecido das ordens que recebera, subordinando-as apenas s exigncias da reportagem, com uma
inconscincia de criana de peito, outorgou-se liberdades de imperador a bordo de um transatlntico. Por
vrias vezes, furioso, informado por Gouveia, que no conseguia domar o desassossego do jornalista, pensei
em amarrar, expuls-lo de bordo. Toda a minha ateno se concentrava no compartimento de r, onde o
reprter, ali mandado instalar com a recomendao expressa de se conservar tranquilo, abria a escotilha,
deixava fugir os culos, fechava a escotilha para abrir as vigias, saa do seu lugar para o compartimento
dos tanques, aflorava a cabea com seu panam em riscos de ir partir a hlice posterior. Mrio Melo e
Sarmento de Beires acabaram trocando acusaes sobre a conduta no avio nos peridicos Jornal do
Comrcio e Dirio de Pernambuco. MORUJO, Isabel. "Asas que naufragam: narrativa de viagens areas
em Portugal na obra de Sarmento de Beires" In: MORUJO, Isabel; SANTOS, Zulmira(cords). Literatura
culta e popular em Portugal e no Brasil. Homenagem a Arnaldo Saraiva. Porto: CITCEM. 2011. p.398
216
MELO, Mrio. Protesto!. Jornal Pequeno. Recife: 10 de abril de 1931. P.1. FUNDAJ
214
78
comunidade portugueses pessoas que atribussem a ele solidariedade aos atos perpetrados
pela populao.
No entanto, a nota mais importante e que talvez pudesse ter evitado o confronto,
somente foi publicada no dia 11 de abril. Nesta, que fora prometida pela firma Teixeira
Miranda & Cia desde o dia 5 do mesmo ms, se expe uma lista constando todos os
empregados da casa portuguesa e suas respectivas funes. A nota endereada ao pblico
foi impressa nos peridicos locais. Segue a mesma:
J so de todos conhecidos os acontecimentos que se desenrolaram ontem e
anteontem nesta cidade, onde se espalhou a falsa verso de que teramos sido os
provocadores das hostilidades de que foram vtimas alguns estabelecimentos
portugueses.
E assim que rancorosos inimigos movidos por competies de interesse comercial,
de h muitos dias, nos vinham movendo uma violenta campanha, procurando nos
afastar e incompatibilizar com aquilo que justamente mais procuramos e mais nos
interesse e que o acolhimento e a simpatia da populao pernambucana.
So duas as insidiosas acusaes que nos fizeram: que tnhamos proferido uma
frase injuriosa aos respeitveis melindres brasileiros, que tnhamos despedido da nossa
casa todos os empregados brasileiros.
Afirmamos, sob a nossa palavra de honra, que as denncias acima so uma
revoltante falsidade. Quanto primeira no fazemos a prova da sua inexatido, porque
nos impossvel provar aquilo que no fizemos. Resta-nos apelar nesta emergncia para
todos aqueles que nos conhecem e sabem, de antemo, pela nossa conduta moderada de
sempre que somos incapazes por ndole de qualquer gesto de agresso e insensatez. E
relativamente segunda imputao, publicamos o quadro abaixo por onde se verificou
que de oitenta empregados que possui a nossa casa, onze apenas so portugueses.
SEO DE EMBALAGEM
1 Abdor Silva Brasileiro
2 Antonio Juventino Brasileiro
3 Ablio da Costa Portugus
4 Adriano Carmo Brasileiro
5 Arlindo Azevedo Brasileiro
6 Arnaldo Souza Brasileiro
7 Abelardo Brasileiro
8 Aguinaldo Oliveira Brasileiro
9 Ambrosina Brasileira
10 Devusio Vidal Negreiros Brasileiro
11 Eusbio Lima Brasileiro
12 Francisco Pedrosa Brasileiro
13 Fernando Brasileiro
14 Joo Francisco Brasileiro
15 Jos Accioly Brasileiro
16 Jos Juventino - Brasileiro
17 Jos Ferreira da Costa Portugus
18 Joana - Brasileira
19 Henrique Gonalves Portugus
20 Henrique Guilherme Brasileiro
21 Maria do Brasileira
22 Maria das Dores Brasileira
23 Maria dos Anjos Brasileira
24 Maria Juvencia Brasileira
25 Manoel Vieira Brasileiro
79
80
A Firma Teixeira Miranda & Cia: ao pblico. Dirio de Pernambuco. Recife: 11 de abril de 1931.
Solicitadas. p.3. FUNDAJ.
81
218
GOUVA, Ferando da Cruz. Perfil do tempo. Recife, Fundao de Cultura Cidade do Recife. 1990. P.
195
219
LEVINE, Robert M. A velha usina: Pernambuco na federao brasileira, 1889-1937. Rio de Janeiro:
Paz e Terra. 1980. P.135.
82
83
passando de pai para filho, os resqucios de uma naturalidade portuguesa tambm iam se
apequenando, bem como a ideia de empregar patrcios. O filho brasileiro do portugus j
no possua laos com a ptria-me, como seu pai possua, mas sim uma ligao mais forte
com o Brasi. O portugus foi sendo nacionalizado.
Pode-se talvez falar sobre o fim do antilusitanismo em Pernambuco.
Diferentemente de So Paulo e Rio de Janeiro, Pernambuco, nunca recebeu grande nmero
de imigrantes portugueses, o que nao impediu de existir nesse local um forte sentimento
lusfobo. Os nmeros dos imigrantes portugueses recebidos em Pernambuco, foi mais ou
menos o mesmo, desde o sculo XIX220. Contudo o nmero de brasileiros aumentou.
Possivelmente, no inicio do sculo XIX esse nmero pode ter sido um problema maior, na
medida que ainda estavam sendo delineados as identidades nacionais e que a diferena na
proporo de nascidos em Portugal e nascidos no Brasil, no era to grande como no
sculo XX. Alm do mais, a grande naturalizao do incio da Repblica pode ter ajudado
a acelerar o processo de nacionalizao do portugus. Apenas com um estudo estatstico
demogrfico ser possvel perceber melhor essa distribuio populacional.
A compreenso desse sentimento antilusitano, muito forte em parte da histria
pernambucana, e seu abrandamento aps 1930, condio importante para perceber a
imigrao dos anos 1950. Se em Pernambuco os portugueses no eram recebidos com festa,
tampouco os lusitanos desembarcados nesse perodo reclamaram de grandes episdios de
xenofobia. Os tempos eram outros.
220
De fato, h vrios anos no sculo XIX em que o contingente imigrante foi maior do que o recebido em
anos do sculo XX.
84
no Brasil, h brasileiros,
portugueses e estrangeiros.221
Possivelmente, no existiu na histria brasileira nao alguma que tenha sido mais
alvo de dio que a portuguesa. A lusofobia foi marca presente ao longo da nossa histria.
Contudo, assim como o antilusitanismo carimbou diversos momentos da sociedade, os
privilgios legais aos portugueses tambm fizeram parte desse processo. Ambos, lusofobia
e privilgios legais aos portugueses, foram marcas indelveis da histria brasileira. Como
disse Jose Sachetta Ramos Mendes, privilgios e intolerncia singularizaram a histria
da imigrao portuguesa no Brasil aps 1822, em perspectiva de longa durao, at
meados do sculo XX.222 Compreende-se que aos lusitanos foram relegados tratamentos
legais especiais, com diversas leis e diretrizes polticas em seu benefcio. Em contrapartida,
teriam sido a corrente imigrante mais atingida pelo dio e hostilidade do brasileiro ps1822. A fim de explanar sobre o tema, este captulo divido em trs partes. Na primeira
parte, O privilgio legal portugus, buscamos traar uma sntese histrica das relaes
entre Brasil e Portugal ps-independncia, apontando para os momentos de aproximao
entre os pases, bem como uma histria legislativa brasileira com foco nos privilgios
recebidos pelos portugueses nesse processo. Tratados, convnios, convenes e leis so
apresentadas a fim de exemplificar a aproximao entre Portugal e Brasil, alm de expor as
vantagens adquiridas pelos lusitanos ao longo da histria. Na segunda parte, Gilberto
Freyre e o elogio ao elemento portugus, procuramos mostrar a obra do intelectual
pernambucano e sua busca pela mudana da imagem do lusitano. Por fim, na parte O
portugus a Constituio de 1946, procuramos nos adentrar nas discusses ocorridas na
Assembleia Constituinte de 1946, atentando para os discursos acerca da imigrao e dos
portugueses, visto que essa carta magna esteve em voga no recorte trabalhado nessa
pesquisa. Pontuaremos ainda mudanas legais existentes at os dias de hoje.
221
Frase atribuda por Aureliano Leite ao politico e diplomata brasileiro Lauro Mller (1863 - 1926). In:
Anais da Assembleia Constituinte. Organizado pela redao de anais e documentos parlamentares. Volume
XXII. Departamento de imprensa Nacional. RJ Brasil. 1950. P. 361.
222
MENDES, Jos Sacchetta Ramos . Laos de Sangue. Privilgios e intolerncia imigrao portuguesa
no Brasil (1822-1945) 2007 (Tese de doutorado).. p.277
85
Com a independncia do Brasil uma nova ordem passava a ser gestada na antiga
colnia portuguesa. Novas instituies, novas leis foram criadas e com isso novos
problemas comeavam a existir. Um problema inicial foi a distino de quem seria
portugus e de quem seria brasileiro, tema bastante presente na constituinte de 1823. Outro
ponto importante foi a organizao da imigrao para o novo pas. Nas discusses da
Assembleia Constituinte de 1823, destacou-se o deputado Pernambucano Francisco Muniz
Tavares, ex-participante da Revolta de 1817, tendo sido preso na Bahia aps o movimento.
Tavares foi uma das poucas vozes a pregar contra a naturalizao dos portugueses nascidos
em Portugal. Possuidor de um discurso antilusitano, o pernambucano ainda lamentou o
fato dos brasileiros falarem a lngua portuguesa. O deputado queria excluir os residentes
portugueses da nacionalidade brasileira originria, e atribuir-lhes estatuto de cidados
naturalizados, em condies limitadoras223, o que no ocorreu. Sua inteno era limitar
aos portugueses o acesso ao foro de cidado brasileiro, negando-lhes, ento, o mesmo
estatuto jurdico dos nascidos no pas. Tal discusso foi bastante pertinente na Assembleia,
que foi dissolvida por D. Pedro I. Contudo pouco depois a naturalizao dos portugueses
foi concedida com a Constituio de 1824.
Foi com o Decreto de 14 de janeiro de 1823, entretanto, que a poltica imigratria
brasileira foi inaugurada. Com essa norma, buscou-se organizar a admisso de portugueses
em solo brasileiro. Observa-se que nossa primeira legislao sobre a admisso de
estrangeiros em solo ptrio, apenas tratava do contingente portugus, que seria admitido
bastando prestar prviamente fiana idonea do seu comportamento perante o Juiz
territorial. Alm disso, deveriam jurar fidelidade ao Brasil e a Dom Pedro I e assim poder
residir no pas e gozar dos direitos de cidado brasileiro. Tal decreto, contudo, foi suspenso
no fim do mesmo ano.224
Um ano aps esse decreto, j em 1824, foi promulgada a primeira Constituio
brasileira, a que por mais tempo foi utilizada no Brasil, 65 anos. Criada por um gabinete
formado por Pedro I, a carta magna j mostrava certos privilgios aos portugueses em
223
MENDES, Jos Sacchetta Ramos . Laos de Sangue. Privilgios e intolerncia imigrao portuguesa
no Brasil (1822-1945) 2007 (Tese de doutorado).P.24
224
Decreto de 14 de janeiro de 1823 http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret_sn/anterioresa1824/decreto38719-14-janeiro-1823-567488-publicacaooriginal-90821-pe.html
86
BRASIL. Constituio Poltica do Imprio (1824), de 25 de maro de 1824. Disponvel em. <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao24.htm > Acesso em : 20 de Fev
2014
226
Tratado de Amizade e Aliana. (1825). Disponvel em: http://dai-mre.serpro.gov.br/atosinternacionais/bilaterais/1825/b_2/ Acesso em: 22 de Fev 2014
87
brasileira era vista com timos olhos, visto o interesse da elite em embranquecer os
brasileiro.227 Poucos anos depois, em 1890, o artigo primeiro do Decreto 528 da nova
Repblica garantiu livre entrada a trabalhadores estrangeiros no Brasil, exceto ao indgenas
da sia ou da frica, que precisavam de autorizao do Congresso Nacional, o que
deixava claro as intenses racistas do decreto e as pretenses de branqueamento da
populao brasileira.
Menos de um ms aps a Proclamao da Repblica, em 14 de dezembro foi
publicado o Decreto n 58-A, marcado pela naturalizao em massa proporcionado por
essa norma. Segundo a qual, todos estrangeiros residentes no Brasil no dia 15 de
Novembro de 1889 seriam considerados brasileiros, exceto se declarassem contrrios a
essa medida perante s autoridades num prazo mximo de seis meses aps publicao do
decreto. Todos os naturalizados gozariam de todos direitos inalienveis aos brasileiros,
apenas no teriam a possibilidade de vir a ser presidente do pas.228 Tal naturalizao em
massa buscou incentivar a imigrao para o pas. No foi a toa que o decreto foi
publicado com pouco tempo de iniciada a Repblica. Alm disso, quaisquer estrangeiros
desembarcados no Brasil aps a data da proclamao s precisariam viver por dois anos no
pas para garantir a cidadania brasileira. Segundo uma estimativa consular divulgada em
junho 1890, mais de 80% dos portugueses residentes em Pernambuco se naturalizaram,
adotando a nacionalidade brasileira.229 Com o fim da escravido e o incio da Repblica,
houve grande interesse em receber mo-de-obra imigrante estrangeira, fosse por motivos
higienistas e racistas ou pela prpria necessidade de povoar o pas e trazer braos para o
campo. O branco europeu era ento o ideal de imigrante.
Em 1891, dois anos aps proclamada a Repblica, surge a segunda carta magna
brasileira. Criada em meio queda da Monarquia e ascenso da Repblica, a nova
Constituio estabeleceu o federalismo e se inspirou na carta magna estadunidense. Durou
39 anos, sendo encerrada aps Revoluo de 1930. Essa Constituio garantiu a cidadania
brasileira todos estrangeiros residentes no Pas no 15 de novembro de 1889, perpetuando
o que j tinha sido divulgado por decreto. Todos estrangeiros foram beneficiados, no
havendo nenhuma referncia expressa aos portugueses. Talvez pelos portugueses estarem
227
MENDES, Jos Sacchetta Ramos . Laos de Sangue. Privilgios e intolerncia imigrao portuguesa
no Brasil (1822-1945) 2007 (Tese de doutorado).P.27.
228
Decreto n 58-A, de 14 de Dezembro de 1889. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/18241899/decreto-58-a-14-dezembro-1889-516792-publicacaooriginal-1-pe.html
229
MENDES, Jos Sacchetta Ramos . Laos de Sangue. Privilgios e intolerncia imigrao portuguesa
no Brasil (1822-1945) 2007 (Tese de doutorado).P.206
88
BRASIL. Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil (1891), de 24 de fevereiro de 1891.
Disponvel em. < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao91.htm > Acesso
em : 20 de Fev 2014
231
MENDES, Jos Sacchetta Ramos . Laos de Sangue. Privilgios e intolerncia imigrao portuguesa
no Brasil (1822-1945) 2007 (Tese de doutorado).P.190.
232
Tratado regulando a iseno do servio militar e a dupla nacionalidade. http://dai-mre.serpro.gov.br/atosinternacionais/bilaterais/1922/b_45/
233
Conveno de emigrao e trabalho entre os Estados Unidos do Brasil e Portugal de 26 de setembro de
1922. http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/1922/b_44/
89
Brasil e Portugal com privilgios recprocos foi mais uma vez buscada com a Conveno
especial sbre propriedade literria e artstica entre o Brasil e Portugal, que tinha por fim
proteger a propriedade literria e artstica de ambos pases, bem como intensificar tais
relaes entre Portugal e Brasil.234
Com a Revoluo de 1930 os privilgios aos portugueses entraram num outro
panorama. Preocupado com a manuteno da identidade nacional e buscando atrair
imigrantes para o pas, o Estado brasileiro no perodo Varga teve no portugus o imigrante
ideal. Segundo Sacchetta, com Vargas no poder, a reconfigurao do nacionalismo
aproximou o portugus da noo de etnia brasileira, enquanto construo ideolgica
adoptada pelo Estado autoritrio e os seus intelectuais e juristas. Ao se pensar na
imigrao nesse perodo foi recorrente o temor pela existncia dos chamados quistos
tnicos, isso , focos imigrantes em colnias ou comunidades que, no se assimilando
perfeitamente ao Brasil, existiam como um estado dentro do estado, perpetuando os
costumes da nao de origem e pouco se relacionando com a cultura local. Essa
preocupao levou ao sistema de cotas estabelecido na Constituio de 1934 e perpetuado
na carta magna de 1937 e ao privilgio luso. Tal sistema limitou a entrada de estrangeiros
no Brasil a 2% do nmero de imigrantes j residentes no Brasil, por nacionalidade, durante
os cinquenta anos anteriores Constituio de 1934. Com relao a essa regulao do
desembarque imigrante, o Decreto n 19.482, de 12 de Dezembro de 1930, promulgado por
Getlio Vargas, foi muito importante nesse sentido, na medida em que limitava a entrada
no pas de passageiros estrangeiros de terceira classe, ou seja, a grande massa imigrante.
Dizia ainda que somente na falta, de brasileiros natos, e para servios rigorosamente
tcnicos, a juizo do Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio, poder ser alterada
aquela proporo, admitindo-se, neste caso, brasileiros naturalizados, em primeiro lugar,
e, depois, os estrangeiros.235 Vale ainda salientar que no perodo Vargas surgiram o
Departamento Nacional de Imigrao em 1938, a Delegacia dos Estrangeiros em 1941 e a
Diviso de Policia Martima, Area e de Fronteiras em 1944, instituies diretamente
relacionadas chegada de estrangeiros no pas, o que mostra como esse tema foi pertinente
no perodo e como o aporte imigrante foi alvo de ateno.
234
90
BRASIL. Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil (1934), de 16 de julho de 1934.
Disponvel em. < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao34.htm > Acesso
em : 20 de Fev 2014
237
TRUZZI, Oswaldo M. S. Reformulaes na Polltica Imigratria de Brasil e Argentina nos anos 30: um
enfoque comparativo. In: BOUCAULT, Carlos Eduardo de Abreu; MALATIAN, Teresa (coord.). Poltica
migratrias: fronteiras dos direitos humanos no sculo XXI. Franca: Renovar. 2003. Parte IV. p.239.
238
BRASIL. Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil (1934), de 16 de julho de 1934.
Disponvel em. < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao34.htm > Acesso
em : 20 de Fev 2014
239
Decreto n 24.258, de 16 de Maio de 1934. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/19301939/decreto-24258-16-maio-1934-557864-publicacaooriginal-78583-pe.html. Acesso em: 12 de Mar 2014.
91
BRASIL. Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil (1937), de 10 de novembro de 1937.
Disponvel em. < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm> Acesso em : 20 de
Fev 2014
92
241
93
tcnicos agrcolas.242 Tais cotas, entretanto nunca foram atingidas pelos imigrantes. No fim
do ano, a cota foi suspensa para os portugueses.243
Com a chegada da Segunda Guerra Mundial os trajetos via Atlntico foram
duramente atingidos, fronteiras se fecharam, e a poltica imigratria passou a ser realizada
com mais cautela. Nesse contexto, surgiu o Decreto-Lei n 3.175, de 7 de Abril de 1941.
Por meio dessa norma restringia-se a imigrao para o Brasil, ficavam suspensas as
concesses de vistos permanentes, exceto, em primeiro lugar para portugueses e
nacionais de Estados americanos, esses ltimos no representando nmeros expressivos
entre os imigrantes desembarcados no pas. Num momento de crise, ainda assim os
portugueses foram os nicos diretamente citados na exceo, tendo, ao menos no meio
legal, impulso para a vinda ao Brasil.244 Em maio do mesmo ano, a circular reservada n
1.522 emitida pelo Itamarati deu ainda mais privilgios aos portugueses, na medida em que
os lusitanos poderiam adquirir vistos permanentes sem consulta prvia ao Ministrio da
Justia e Negcios Interiores, que na poca era responsvel pela aprovao das solicitaes
de visto.245 Contudo, judeus portugueses, comunistas, sacerdotes, missionrios e religiosos,
entre outros, no possuam tal benefcio, precisando passar pelo processo regular. Observase que aos poucos os lusitanos foram recebendo privilgios no meio legal brasileiro que os
auxiliaram tanto na vinda quanto na permanncia em solo brasileiro. Ainda no contexto da
Guerra outra norma observou os portugueses de uma forma privilegiada. O Decreto-Lei n
6.238, de 3 de Fevereiro de 1944, que dispunha sobre o registro de estrangeiros
desembarcados no Brasil em carter temporrio afirmava no seu artigo terceiro que para
os efeitos desta lei os portuguses e os naturais do Domnio do Canad tero o tratamento
reservado aos naturais de Estado 246 Dessa vez, os privilgios se estendiam tambm aos
canadenses.
Logo aps a Segunda Guerra Mundial, surgiu o Decreto-lei n 7.967 de 1945,
flexibilizando a poltica migratria brasileira. No seu artigo segundo afirmava que a
escolha dos imigrantes seria pautada de acordo com a necessidade de preservar e
242
94
95
96
bastante influenciada por Francisco Adolfo de Varnhagen. Em 1850, Varnhagen com sua
Histria do Brasil, procurou dar nova viso imagem negativa do lusitano, se antes esse
era o colonizador cruel, agora passava a ser o grande desbravador de uma terra longiqua
que construiu um imprio de propores dantescas. Nos parece relevante que, num
contexto de ruptura recente esta viso tenha surgido. Convm ressaltar que esse autor teve
grande influncia sob Gilberto Freyre, considerado neovarnhagenriano por Jos Carlos
Reis, que sintetizou sua obra como um reelogio da colonizao portuguesa do Brasil.251
Por volta da dcada de 30 o trabalho de Gilberto Freyre passou a ser mais
conhecido no pas. Suas principais obras Casa Grande e Senzala (1933), Sobrados e
Mocambos (1936), Ordem e Progresso (1957), tocam de forma direta ou indireta o
elemento portugus. Contudo, no apenas suas obras mais destacadas dialogaram com o
elogio ao portugus. Pode-se observar tambm os artigos escritos pelo autor em jornais do
Brasil e do Mundo, alm de outras obras suas como O Luso e o Trpico (1961), Guia
Prtico, Histrico e Sentimental da Cidade do Recife (1934), O Mundo que o Portugus
Criou (1940) e Uma Cultura ameaada: a luso-brasileira (1940), por exemplo. Percebe-se
em suas obras o reelogio da colonizao portuguesa no Brasil, bem como o elogio ao
colonialismo lusitano na sia e frica, ainda presente na poca. O Brasil era visto como
uma sociedade original e multirracial nos trpicos, obra do gnio portugus. Eis um
discurso de extrema lusofilia onde a elite luso-brasileira civilizadora, detentora da razo
histrica, produtora do progresso e onde o mundo que o portugus criou pintado como
harmnico, equilibrado e democrtico. Freyre legitimou de forma entusiasmada e
idealizadora, inclusive com certa viso nostlgica, o elemento portugus. No h como se
mensurar o alcance desta viso no perodo, mas de se refletir a influncia deste autor
numa mudana de perspectiva sobre o lusitano e, por que no, na dissipao do dio tnico.
Contudo, ele prprio pode ser reflexo deste desaparecimento da lusofobia. Para Freyre,
entretanto, os conflitos que ocorreram entre portugueses brasileiros apenas lhes arrepiam
a superfcie, visto que as relaes eram sentimentalmente to fortes que os antritos no
as comprometem nunca no ntimo.252 A lusofobia era algo menor diante dos fortes laos
que ligavam portugueses e brasileiros.
Chama-nos ateno entretanto outro ponto, que foi o uso que a comunidade
portuguesa fez de Gilberto Freyre, que nos mostra o interesse daquela no discurso
251
REIS, Jos Carlos. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. RJ: Editora FGV., 9 edio.
2007.p.54.
252
FREYRE, Gilberto. O mundo que o portugus criou. SP: Realizaes. 2010. p.45
97
253
FREYRE. Gilberto. Uma Cultura ameaada: a luso-brasileira. SP: Realizaes. 2010 p. 21.
98
FREYRE, Gilberto. O Mundo que o portugus criou: aspectos das relaes sociaes e de cultura do
Brasil com Portugal e as colnias portuguesas. Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1940. P.40-41
255
FREYRE, Gilberto. O Mundo que o portugus criou: aspectos das relaes sociaes e de cultura do
Brasil com Portugal e as colnias portuguesas. Rio de Janeiro: Jos Olympio,. 1940. P.41
256
CABRAL, Thas Pimentel. O Luso-Tropicalismo: reflexes sobre a cultura poltica luso-brasileira.
Dissertao de Mestrado em Relaes Internacionais e Cincia Poltica, FCSH-UNL, Lisboa 2010. P. 56
257
FREYRE, Gilberto. Se eu fosse europeu e tivesse de emigrar de Portugal. Panorama. Lisboa, n. 6, p. 12,
1957.
258
FREYRE, Gilberto. Se eu fosse europeu e tivesse de emigrar de Portugal. Panorama. Lisboa, n. 6, p. 12,
1957.
99
imigrao para os referidos destinos, visto que nesses locais os portugueses poderiam se
desenvolver sem deixar de ser lusitanos. Freyre ilustra muito bem as razes disso, visto
que nessas regies se falava a lngua portuguesa, se cultuava os mesmos santos, a
arquitetura era parecida, entre outros diversos traos histrico-culturais em comum que
serviam como impulso para o portugus emigrar e sentir-se, na medida do possvel, em
casa.
Para alm da sua obra literria, Gilberto Freyre contribuiu muito com a mudana da
viso brasileira sobre o portugus na sua atuao legislativa. O socilogo, que j havia sido
secretrio particular do Governador Estcio Coimbra entre 1927 e 1930, foi Deputado
Federal pela Unio Democrtica Nacional (UDN) e esteve presente na Constituinte de
1946, junto a figuras como Lus Carlos Prestes, Jorge Amado, Gregrio Bezerra, Carlos
Marighella, Barbosa Lima Sobrinho e tantos outros nomes de relevo para a histria do
Brasil. Como j era uma figura de respeito entre os intelectuais na poca, seus discursos
foram comumente citados e respeitados entre os parlamentares. Sua voz em defesa do
portugus foi escutada.
Com o fim do Estado Novo, subiu ao poder Eurico Gaspar Dutra promulgando em
1946 uma nova Constituio, elaborada pelo Congresso Nacional. Tal carta magna surgiu
num contexto ps-Segunda Guerra, quando novas levas de imigrantes batiam s portas do
pas, com a participao de diversos partidos como o PSD (Partido Social Democrtico),
UDN (Unio Democrtica Nacional), PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), PCB (Partido
Comunista do Brasil), PR (Partido Republicano), PSP (Partido Social Progressista), PDC
(Partido Democrata Cristo), ED (Esquerda Democrtica) e PL (Partido Libertador).
Dentre os diversos debates, o tema da imigrao veio tona em vrios momentos
da Assembleia Constituinte. Preocupado com essas novas correntes, o Deputado
pernambucano Manuel Novais (UDN/PE), j na sesso 4, alertava aos constituintes sobre
os estrangeiros que se encaminhavam ao Brasil, onde s deveriam ser aceitos aqueles que
desejam fraternalmente colaborar conosco, na grandeza e progresso nacionais,259 porm
o deputado pedia certa cautela com imigrantes oriundos de pases fascistas.
259
100
101
a imigrao deveria ser ampla e livre, visto que nossos sertes careciam de habitantes. Na
discusso, o Deputado Dario Cardoso (PSD/GO) se mostrava a favor da imigrao livre,
porm selecionada. J o Deputado Plnio Barreto (UDN/SP), era contrrio vinda de
imigrantes de origem japonesa, o que defendeu ao longo dos debates sobre a imigrao na
Constituinte, assim como Glicrio Alves (PSD/RS) e Miguel Couto Filho (PSD/RJ), que
tambm era contrrios imigrao alem. Outro deputado a se posicionar foi Galeno
Paranhos (PSD/GO), que alertava para a possibilidade de formao de quistos raciais, que
deveriam ser evitados, o que foi apoiado por Lino Machado (UDN/MA). Nas primeiras
discusses sobre a imigrao, o temor dos quistos raciais foi bastante presente,
principalmente o receio da vinda de
momento. O deputado Drio Cardoso chegou a citar o caso de alemes no Paran e Santa
Catarina com filhos que no sabiam falar o portugus.263 Para Aureliano Leite, contudo, as
cotas j no faziam sentido, visto no existir mais o perigo dos imperialismos alemo,
japons e italiano. Mas de acordo com ele, um fato era indiscutvel: o Brasil pede braos,
braos e mais braos.264 Esse debate, entretanto, se referia na maioria das vezes s
necessidades de trabalhadores para o campo. Aureliano Leite foi um grande defensor da
imigrao que, a seu ver, no deveria ser restringida por nacionalidade, mas por aptides e
critrios fsicos. Essas restries seriam indispensveis. Precisavam-se de tcnicos e
camponeses para a agricultura; de operrios para as indstrias e, at, de pessoas para os
servios domesticos, de que h grande carncia nas capitais265. Nesta mesma sesso,
Aureliano Leite deu seu primeiro discurso dando preferncia imigrao portuguesa.
Segundo ele, os portugueses eram elementos fusveis dentro da sociedade brasileira.
Disse ainda que os portuguses merecem, por todos os motivos, mais do que uma simples
facilitao de entrada no Brasil266, o que foi seguido de gritos de muito bem. No que
continuou o Deputado afirmando que:
os portugueses merecem muito mais. Merecem um estatuto que lhes outorgue quasi a
igualdade com os nacionais, atribuindo-lhes direitos e deveres dos nossos prprios
patrcios. No necessrio declarar porque. Todos os brasileiros conhecem o motivo
263
e documentos parlamentares.
e documentos parlamentares.
e documentos parlamentares.
e documentos parlamentares.
102
267
103
nossos maiores. Negar esse direito aos portugueses repudiar as nossas origens, a nossa
histria e o concurso que a raa lusitana tem dado exemplarmente ao surdo de nosso
progresso e construo do nosso arcaboio econmico.270
e documentos parlamentares.
e documentos parlamentares.
e documentos parlamentares.
e documentos parlamentares.
104
274
documentos parlamentares.
documentos parlamentares.
documentos parlamentares.
documentos parlamentares.
documentos parlamentares.
105
portuguesa.279 Para Freyre, a Constituio deveria dar uma situao especial aos lusitanos
nas partes referentes imigrao e naturalizao. Elogiando os discursos de Aureliano
Leite acerca do tema, Freyre afirmava que os portugueses no eram estrangeiros, mas
portugueses, salientando a excepcionalidade lusitana. Freyre alertava ainda para o
considervel nmero de estrangeiros que viriam a desembarcar no Brasil nos anos
seguintes oriundos das origens mais diversas. O Brasil deveria se preparar para receber
essas correntes sem, contudo, perder o lastro de cultura tradicional e comum que a de
origem predominantemente lusitana. Seria do interesse do pas reforar esse lastro
atrves da aproximao ainda maior entre portugueses e brasileiros, reconhecendo a
situao especial dos lusitanos. Isto posto, o Deputado aplaudiu a emenda encaminhada
por Aureliano Leite, que buscava essa situao privilegiada aos portugueses. 280
Gilberto Freyre prosseguiu seus discursos afirmando que ao facilitar as condies
aos portugueses se impulsionaria a participao dos lusitanos em atividades como a
lavoura e agricultura, visto que era para o campo que se almejava a imigrao. Freyre
ainda defendeu os portugueses, comumente citados como avessos ao trabalho no campo e
como imigrantes para os centros urbanos e comrcio. Segundo o socilogo, isso seria um
erro. O carter latifundirio e quase feudal dos nossos campos era o responsvel por
empurrar os pequenos lavradores portugueses contra a vontade para as cidades. Aureliano
Leite corroborou chamando ateno para a fama de bons agricultores por parte dos
portugueses do Arquiplago da Madeira. Freyre seguiu ressaltando uma frase bastante dita
na Constituinte que o portugus seria o imigrante ideal
para ser distribudo por tdas as regies brasileiras das mais quentes s mais
frias, como valor no s econmico como social, ou sciologicamcnte cultural, de
fixao da cultura tradicional, ou bsica, que entre ns a de origem principalmente
portugusa, entre colonos ou populaes de outras lnguas e de outras heranas
culturais281
Freyre ainda disse que o imigrante portugus seria uma espcie de colaborador
brasileiro no auxlio aos demais estrangeiros na assimilao de nossa cultura bsica. A
defesa do portugus era, aos olhos do pernambucano, uma defesa da cultura brasileira
279
106
diante da leva de imigrantes estrangeiros alheios cultura local que estariam por
desembarcar no pas.
Nas sesses seguintes outras emendas buscaram favorecer o portugus como a
emenda 1.512 que procurou equiparar aos naturalizados, com mesmos direitos e mesmas
obrigaes, enquanto domiciliados no Brasil, todos portugueses com mais de cinco anos de
permanncia ininterrupta no pas. Na justificativa, afirmava-se mais uma vez os laos de
identidade entre brasileiros e portugueses, afim de assegurar a esses portugueses j
radicados no pas, independente de naturalizao, os mesmos direitos e deveres, pois
segundo a justificativa os portugueses nunca foram, no so, jamais sero, estrangeiros
no Brasil.282
Na sesso 143, foi discutida a emenda 285, a que trouxe maior mudanas para os
lusitanos, proposta por Aureliano Leite da UDN de So Paulo, Gilberto Freyre da UDN de
Pernambuco e Altino Arantes do PR de So Paulo, que propunha ser exigidos dos
portugueses apenas a residncia contnua de um ano no Pas, idoneidade moral e
sanidade fsica283 para sua naturalizao. O deputado Rui Santos (UDN/BA), contrrio
medida, disse que nem com a ressalva de portuguses que falassem lngua brasileira eu
votaria a emenda. 284 . O deputado Jurandir Pires (UDN/DF) sugeriu estender esses
privilgios aos demais povos americanos. O deputado Alde Sampaio (UDN/PE) concordou
com a emenda, assim como Soares Filho (UDN/RJ). Luis Carlos Prestes (PCB/DF),
concordou, mas lamentou a exceo da apenas a portugueses, a seu ver, todos estrangeiros
deveriam ser beneficiados. O deputado Domingos Velasco (ED/GO) ressaltou que os
portugueses deveriam ter preferncia, assim como falaram Medeiros Neto (PSD/AL),
Juraci Magalhes (UDN/BA), Deodoro Mendona (PSP/PA) e Afonso de Carvalho
(PSD/AL).
Aureliano Leite prosseguiu seu discurso questionando quais privilgios reais
haviam sido concedidos at aquele momento aos portugueses, o nosso irmo de almmar, e concluiu que no havia sido concedido nenhum que diferenciasse o lusitano de um
australiano, cambogiano ou outro estrangeiro. Para o parlamentar isso no seria justo.
Recorrendo retrica da irmandade, o deputado disse que a minha famlia me merece
282
107
mais carinhos e amparo que um estranho. O que se passa dentro de um pas. acontece
dentro do universo. Os povos possuem tambm as suas famlias. Brasileiros e lusos
formam uma dessas familias.285. Assim sendo, o deputado almejava que os portugueses
nao fossem igualados em direitos polticos aos brasileiros, mas tampouco fossem mantidos
no mesmo nvel que outros estrangeiros como italianos e espanhis. Aureliano Leite,
contudo, buscava contemporizar os conflitos entre portugueses e brasileiros no passado. O
Brasil passava por um novo momento. O portugus j no era o colonizador dos sculos
passados, mas sim, o exemplar europeu do brasileiro, em lngua e cultura. Aps a emenda
ser levada a voto pelo presidente, foi finalmente aprovada. Na sesso seguinte, os
parlamentares receberam um telegrama do Sindicato dos Sales e Barbeiros e de
Cabelereiros do Rio de Janeiro, parabenizando a Assembleia pela aprovao da emenda
285, que garantiu aos portugueses a reduo do prazo para naturalizao dos mesmos.
Por fim, a Constituio de 1946 deu garantias especiais aos lusitanos, visto que
para a naturalizao eram exigidas aos portugueses apenas a residncia no Pas por um
ano ininterrupto, idoneidade moral e sanidade fsica, conforme escrito na carta magna.
Se tratava de um privilgio excepcional, que garantia aos que buscassem a naturalizao
uma situao jurdica diferenciada e o mesmo ocorreu na Constituio de 1967. Com a
Carta Magna de 1946, algumas mudanas se processaram na organizao da imigrao
para o Brasil. Diz no artigo 162 que a seleo, entrada, distribuio e fixao de
imigrantes ficaro sujeitas, na forma da lei, s exigncias do interesse nacional, em
pargrafo nico ainda afirmava que caber a um rgo federal orientar esses servios e
coorden-los com os de naturalizao e de colonizao, devendo nesta aproveitar
nacionais.. Aps diversos debates, a nova Constituio garantiu aos imigrantes
portugueses uma situao ainda mais privilegiada do que a encontraram seus patrcios
imigrados em outra poca. Nesta Constituio, observa-se uma nova guinada no estatuto
jurdico portugus no Brasil com os privilgios na naturalizao.286
Anos depois, em 1967, em meio ditadura militar, uma nova constituio foi
promulgada.Esta foi elaborada pelo Congresso Nacional, sob auspcios do regime militar e
com o intuto de dar um carter de legalidade ao movimento golpista. Com relao aos
285
BRASIL. Constituio dos Estados Unidos do Brasil (1946), de 18 de setembro de 1946. Disponvel em.
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao46.htm > Acesso em : 20 de Fev
2014
108
BRASIL. Constituio da repblica federativa do Brasil (1967), de 24 de janeiro de 1967. Disponvel em.
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao67.htm > Acesso em : 20 de Fev
2014
288
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d70391.htm
289
BRASIL. Constituio Federal (1988), de 5 de outubro de 1988. Disponvel em. <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em : 20 de Fev 2014
109
depois e mais perceptvel ainda aps o periodo Vargas. Os imigrantes portugueses do psGuerra encontraram uma situao bastante favorvel do ponto de vista legal para seu
desembarque no pas. O antilusitanismo aos poucos se dissipava. Desde ento, os
portugueses deixaram de ser os antigos inimigos para serem os estrangeiros mais
brasileiros de todos. Ainda hoje, a Constituio brasileira privilegia os lusitanos e os
demais falantes da lngua portuguesa, em detrimento dos demais estrangeiros.
110
Para se entender a imigrao entre dois pases necessrio, entre tantas coisas,
compreender os nmeros que envolvem esses movimentos ao longo do tempo. No basta
apenas entender quantos portugueses saram de Portugal para o Brasil, ou quantos lusitanos
chegaram em solo brasileiro. Existem diversas nuances fundamentais para um
conhecimento aprofundado desses deslocamentos. Para alm de saber os nmeros dos que
saem do pas de origem e os que chegam ao pas de destino, convm observar, numa viso
micro, todas subdivises administrativas portuguesas, os distritos, freguesias, concelhos e
aldeias de nascimento dos estrangeiros que para aqui se deslocaram, assim como, os
estados e municpios para onde se direcionaram.
No se pode, tampouco, ignorar a comunidade portuguesa previamente residente
nos locais de destino da emigrao. imprescindvel entender que a emigrao
alimentada pelas relaes entre aqueles que j foram e aqueles que almejam ir. So vrios
aspectos que podem auxiliar uma minuciosa compreenso dos deslocamentos dos
portugueses para o Brasil. Este captulo enfocar os dados demogrficos, econmicos e
estatsticos referentes a esses movimentos, atentando sempre para os locais de origem e
destino, em vises macro e micro, alm de procurar abarcar a presena portuguesa prvia
nos locais para onde se dirigiam. Se buscar, inicialmente, apresentar elementos globais da
imigrao portuguesa para o Brasil, para depois compreender o mesmo movimento a partir
de uma tica emigrante portuguesa, levando em considerao os locais de origem e os
destinos especficos de cada localidade originria. Aps essa exposio, ser privilegiada
uma viso dos destinos dessa massa imigrante, pensando esses nmeros em diversos
estados brasileiros. Por fim, se abordar a presena portuguesa em Pernambuco,
principalmente no recorte desta pesquisa, sob aspectos demogrficos e econmicos, para,
em concluso, apontar os dados especficos da imigrao lusa para este estado.
111
A imigrao portuguesa para o Brasil foi uma constante na Histria do pas. Para
alm dos bvios deslocamentos de lusitanos para o territrio brasileiro a partir de 1500 e
em todo perodo colonial, v-se que esses movimentos no se restringiram ao perodo em
que Brasil e Portugal estiveram unidos por uma nica coroa, sendo uma constante mesmo
nos momentos que se seguiram independncia brasileira.
Segundo Joel Serro, entre 1855 e 1960, o Brasil atraiu uma mdia de 80% de toda
emigrao legal portuguesa, entretanto, em anos anteriores essa porcentagem chegou a ser
ainda maior - por volta de 93% entre 1891 e 1911.290 Esses valores deixam clara a
configurao do Brasil como principal destino da emigrao portuguesa e so esses
imigrantes lusitanos que constituram o mais numeroso contingente estrangeiro em solo
brasileiro Assim, este captulo procura analisar os deslocamentos dos portugueses para o
Brasil, Pernambuco e Recife em diversos recortes. Atenta-se ainda para a presena
portuguesa ao redor do Brasil, bem como para as origens do contingente imigratrio que
desembarca no pas. Segue o primeiro quadro pelo qual se compreende que os lusitanos
representaram a maior presena na formao da massa imigrante entre o sculo XIX e XX.
SERRO, Joel."Conspecto histrico da emigrao portuguesa". In: Anlise Social, XVIII(32), pp. 597617. 1970.
112
PEREIRA, Syrla Marques. Entre histrias, fotografias e objetos: imigrao italiana e memrias de
mulheres. Rio de Janeiro: UFF. 2008 (tese de doutorado).P.39
292
OLIVEIRA, Maria Coleta F.A. de .A Imigrao italiana para o Brasil e as Cidades. Campinas :
UNICAMP, Ncleo de Estudos de Populao. 1992. P. 7.
293
CONSTANTINO, Nncia Santoro de. O italiano da esquina: imigrantes na sociedade porto alegrense . Porto Alegre: EST, 1991. P.53
294
IOTTI, Luiza Horn . Os estados brasileiro e italiano e a imigrao italiana no RS. In: XXVI simpsio
nacional da ANPUH - Associao Nacional de Histria, 2011, So Paulo. Anais do XXVI simpsio
nacional da ANPUH - Associao Nacional de Histria. So Paulo: ANPUH, 2011.
295
CANOVAS, M. D. K. . A grande emigrao europia para o Brasil e o imigrante espanhol no cenrio da
cafeicultura paulista: aspectos de uma (in)visibilidade. Saeculum (UFPB), Joo Pessoa, PB, v. 11, n.ago/dez,
p. 115-136, 2004. P.120
296
MARTNEZ, E. E. G. O Brasil como Pas de Destino para Migrantes Espanhis. In: FAUSTO, B.
(Org.) Fazer a Amrica. 2 ed. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2000. p. 239.
113
Total
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
100
FONTE: LEVY, Maria Stella Ferreira. "O Papel da Migrao Internacional na Evoluo da Populao
Brasileira (l872 a 1972).".In: Revista de Sade Pblica, suplementot, 8 (1974), 71-73.
297
114
300
PASCKES, Maria Luisa Nabinger de A. Notas sobre os imigrantes portugueses no Brasil (Scs. XIX e
XX). In: Revista Histria. So Paulo, n123-124. 1990/1991. pp. 35-70
PEREIRA, Miriam Halpern. Poltica Portuguesa de Emigrao (1850-1930). SP: EDUSC. 2002. P. 82
115
Imigrantes
Percentual em relao
dcada de maior
imigrao
1872 1879
1880 1889
1890 1899
1900 1909
1910 1919
1920 1929
1930 1939
1940 1949
1950 1959
1960 1969
1970 1972
TOTAL
55.027
104.690
219.353
195.585
318.481
301.915
102.743
45.604
241.579
74.129
3.073
1.662.179
17,27%
32,87%
68,87%
61,41%
100%
94,79%
32,26%
14,31%
75,85%
23,27%
0,96%
3,31%
6,29%
13,19%
11,76%
19,16%
18,16%
6,18%
2,74%
14,53%
4,45%
0,18%
100%
FONTE: Adaptado de BASSANEZI apud FISS, 2001, p.2. apud MENDONA, Lus Carvalheira
de. O empreendedorismo portugus na cidade do Recife na primeira metade do sculo XX.
Universidade de Aveiro. 2010 (tese de doutorado). P.66
Grfico 01
116
301
GRAHAM, Richard. 1850-1870. In: BETHELL, Leslie. Brazil: Empire and Republic,1822-1930.
Cambridge: Cambridge University Press. 1989.
302
FERREIRA, Eduardo Sousa. Origens e Formas da Emigrao. Lisboa, Iniciativas Editoriais. 1976
117
Imigrantes
12.101
3.144
10.621
12.509
8.683
7.611
6.287
10.216
Anos
1902
1903
1904
1905
1906
1907
1908
1909
Imigrantes
11.606
11.378
17.318
20.181
21.706
29.681
37.628
30.577
Anos
1924
1925
1926
1927
1928
1929
1930
1931
Imigrantes
23.267
21.508
38.791
31.236
33.882
38.879
18.740
8.152
1888
1889
18.829
15.240
1910
1911
30.857
47.493
1932
1933
8.499
10.696
1890
1891
1892
21.174
32.349
17.797
1912
1913
1914
76.530
76.701
27.935
1934
1935
1936
8.732
9.327
4.626
1893
1894
1895
1896
1897
1898
1899
1900
1901
28.986
17.042
36.055
22.299
13.558
15.105
10.989
8.250
11.261
1915
1916
1917
1918
1919
1920
1921
1922
1923
15.118
11.981
6.817
7.981
17.068
33.883
19.981
28.622
31.866
1937
1938
1939
1940
1941
1942
1943
1944
1945
11.417
7.435
15.120
11.737
5.777
1.317
146
419
1.474
118
Os imigrantes dos anos 1950 vinham para o Brasil trazidos por diversas motivaes,
que nem sempre estavam relacionadas s dificuldades econmicas. notrio, no caso da
304
119
imigrao portuguesa para Pernambuco, que, para alm das dificuldades econmicas
relatadas por alguns imigrantes, foi tambm determinante a fuga do alistamento militar e
busca por uma nova vida. Segundo Kenneth Maxwell, o servio ao exrcito durava de
quatro a seis anos e o soldado poderia ser enviado para Angola ou Moambique,309 o que
foi confirmado pelos integrantes da comunidade portuguesa em Pernambuco, que
relataram o medo de servirem na frica portuguesa.
importante tambm perceber que esses imigrantes desembarcavam em
Pernambuco munidos de condies bsicas de sustento. No se tratava de imigrantes
pobres vindos de Portugal, at porque, existia todo um gasto necessrio com deslocamento
e trmites burocrticos. preciso perceber ainda que a emigrao constitua, em muitos
casos, uma estratgia para manter a estabilidade e viabilidade da manuteno da famlia
e da unidade de produo que mantinha o sustento da mesma.310
Assim, convm analisar os nmeros aps 1945, perodo objeto do nosso estudo.
Observa-se o ano de 1952, como o de maior pico do movimento no perodo, chegando o
Brasil a receber 42.815 portugueses, nmero bastante expressivo, sendo o quarto ano a
receber mais imigrantes portugueses entre 1880 e 1975. Percebe-se ainda a franca
decadncia dos deslocamentos lusitanos aps 1962. Dois anos depois, a Frana desbancou
o Brasil como principal destino da imigrao lusa, como dito anteriormente.311
Outro ponto que deve ser chamada a ateno que no se pode ignorar a existncia
de uma imigrao clandestina, o que sem dvida um aspecto que deve ser considerado
para uma relativizao dos dados aferidos. Contudo, sabido que esses nmeros no
representavam uma porcentagem expressiva diante do todo imigrado no perodo desta
pesquisa. Antunes em seu estudo aponta a porcentagem desse movimento ilegal em parte
do perodo estudado. Segundo o autor, do nmero do total de imigrados em 1951, 1% alm
dos que constam nos nmeros oficiais saram ilegalmente. Essa cifra variou pouco nos
primeiros anos da dcada, mas, em 1956, chegou a 3,8%, em 1960, 8,1% e, em 1963,
ltimo ano do Brasil como principal destino da emigrao portuguesa, chegou a 29,8%.
Esse movimento clandestino aumentava em muito o contigente deslocado, contudo, o autor
309
120
aponta que a maioria desses ilegais se dirigiam j para a Frana.312 Na tabela abaixo
possvel aferir os dados ano a ano, entre 1945 e 1974, da imigrao legal portuguesa para o
Brasil.
Grfico 02
ANTUNES, M. L. Marinho. "Vinte anos de emigrao portuguesa: alguns dados e comentrios", Anlise
Social, XVIII (30-31), pp. 299-385. 1970. P. 340.
121
relevncia, para Portugal, do Brasil como destino da emigrao lusitana. Nas duas tabelas
seguintes h dados que corroboram essa afirmativa. Na primeira, so apresentados os
nmeros da emigrao portuguesa para o Brasil, segundo a porcentagem do total de
emigrantes lusitanos. Assim, possvel perceber o percentual de portugueses que se
deslocaram para o Brasil em cada perodo. Comparando ainda com o quadro 02 anterior
Imigrao para o Brasil (1872 1972) - porcentagem do total possvel ainda perceber
quanto esse percentual de emigrantes portugueses representou em termos de imigrantes
para o Brasil. Por no usarem o mesmo recorte temporal, esses dados no podem ser
considerados em absoluto, contudo so indicaes bastante substanciais. Deste modo, vse que 93% do total de emigrantes portugueses, entre 1891 e 1900, se dirigiram ao Brasil.
Ao mesmo tempo que o contingente portugus recebido pelo pas entre 1890 e 1899,
representou apenas 18,3% do total de imigrantes entrados no Brasil neste recorte.
Entretanto, observa-se, a partir de 1961, o grande declnio brasileiro como destino dos
deslocamentos portugueses.
Na segunda tabela, se observam os nmeros absolutos dos imigrantes lusitanos que
saram de Portugal. Comparando-se com o quadro 05, Imigrao portuguesa para o
Brasil (1945-1975), possvel ver como h um aumento da emigrao portuguesa aps
1960, acompanhado de uma diminuio do recebimento de lusitanos por parte do Brasil
que, entre 1950 e 1959, foi o primeiro lugar de destino da emigrao portuguesa.
Chegaram nesse perodo 237.327 lusos, o que representava 69,2% dos emigrados. O
segundo lugar foi a Venezuela, que recebeu apenas 36.236, 10,6% do total dos emigrados,
que foram 342.928 portugueses. Na dcada posterior saram 646.962 imigrantes de
Portugal, mas o Brasil j no recebeu um nmero to expressivo quanto recebia antes.
Chegaram ao pas 72.267 lusitanos, o que representava 11,3%, deixando o Brasil em
segundo lugar como opo de destino da emigrao. A Frana, que entre 1950 e 1960
recebera 14.724 portugueses, o equivalente a 4,3% do total e que a colocava em quarto
lugar, passou a receber 329.052, ficando na primeira posio.313 Curiosamente o perodo
em que o Brasil mais recebeu imigrantes portugueses, foi um perodo de pouca sada
percentual de lusitanos para o Brasil.
SOUSA, Fernando de. A emigrao do norte de Portuga l para o Brasil: uma primeira abordagem
(1834-1950). In: MATOS, Maria Izilda; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexandre (Org.).
Deslocamentos & Historias : os Portugueses. Bauru: Ed. EDUSC, 2008. Cap.2, p.27-34. P. 23.
122
1855-1865
1891-1900
1901-1911
86%
93%
92,8%
79,3%
76,3%
20,4%
1950
1951
1952
1953
1954
314
SOUSA, Fernando de. A emigrao do norte de Portuga l para o Brasil: uma primeira abordagem
(1834-1950). In: MATOS, Maria Izilda; SOUSA, Fernando de; HECKER, Alexandre (Org.).
Deslocamentos & Historias : os Portugueses. Bauru: Ed. EDUSC, 2008.p.28.
315
ARROTEIA, Jorge Carvalho. A emigrao portuguesa- suas origens e distribuio.Lisboa: ICALP.
1983. p. 24-28
123
Levando em conta o recorte entre 1950 e 1984, Viseu, Porto e Aveiro so a origem
da maioria dos imigrantes que desembarcaram no Brasil, seguidos por Funchal, na ilha da
Madeira, e Bragana e Vila Real,
tambm no norte. Cerca de 63% dos
imigrantes vinham dessa regio.
Essa predominncia de Portugal
setentrional,
se
dava
havia
316
124
125
todos distritos do norte (Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragana, Porto, Aveiro e
Viseu) tm-se 64,4% de toda emigrao portuguesa para o Brasil entre 1950 e 1969. Para
alm dos distritos do norte apenas Guarda e Coimbra, do centro do pas, e a cidade da Ilha
da Madeira, Funchal, possuram porcentagens significativas no total da emigraoo
portuguesa para o Brasil com 7,3%, 6,0% e 9,6% respectivamente.
126
455
21.556
28.275
3.730
18.722
263
1.671
22.567
11.222
9.064
463
36.696
5.241
1.114
13.890
23.448
42.863
0,1%
6,9%
9,1%
1,2%
6,0%
0,1%
0,5%
7,3%
3,6%
2,9%
0,1%
11,8%
1,7%
0,4%
4,5%
7,6%
13,9%
1.069
139
2.401
29.767
307.592
0,3%
0,0%
0,8%
9,6%
100%
Para uma anlise mais fragmentada desse perodo, foi adaptado o trabalho de Jorge
Carvalho Arroteia, pelo qual pode ser analisada a emigrao portuguesa para o Brasil, por
distrito, e pelos quinqunios 1955 a 1959 e 1960 a 1964. Este recorte permite observar um
fragmento temporal mais recortado dessa pesquisa e que corrobora as afirmaes j
apresentadas sobre as origens dos imigrantes portugueses em termos percentuais e nmeros
absolutos. Tanto o trabalho de Antunes quanto o de Arroteia, ainda que centrados em
127
91.450
128
6.168
44
4.126
6.653
1.027
3.250
43
285
3.585
2.094
3.181
116
5.962
1.162
365
2.215
4.693
6.855
TOTAL
57.988
170
5
239
6.020
129
318
130
uma cidade portuguesa.319 V-se, nos quadros abaixo a populao portuguesa residente nos
estados da federao, segundo diversos censos, e com Pernambuco em destaque.
319
LESSA, Carlos. Rio, uma cidade portuguesa. LESSA, Carlos (coord). Os Lusadas na aventura do
Rio de Janeiro Moderno. Rio de Janeiro: Record, 2002.
131
132
320
133
1940
1950
1970
Total de
Portugueses
433.577
(27% do total de
estrangeiros
residente no pas)
(1,41% do total da
populao residente
no pas)
380.316
(27% do total de
estrangeiros
residente no pas)
0,92% do total da
populao residente
no pas)
336.837
(27% do total de
estrangeiros
residente no
pas)
(0,64% do total
da populao
residente no
pas)
Total de
Imigrantes
Populao
total
1.563.961
1.406.342
1.213.974
437.983
(35% do
total de
estrangeiros
residente no
pas)
(0,48% do
total da
populao
residente no
pas)321
1.229.122
30.633.605
41.165.298
51.941.767
91.139.037
FONTE: Adaptado de KLEIN, Herbert S. The Social and Economic Integration of Portuguese Immigrants
in Brazil in the Late Nineteenth and Twentieth Centuries. In: Journal of Latin American Studies, Vol. 23, No.
2 (May, 1991), pp. 309-337. p. 318.
321
Em 1980 havia 292.661 portugueses residindo no Brasil e em 1991, 236.610. Voltando a um declnio aps
a dcada de 1970. Censo demogrfico 1980, 1991.
322
IBGE. Censo Demogrfico 1940.
134
135
325
O autor define Recife pela parquias urbanas e pelas suburbanas(sic) parquias de Afogados, Vrzea e
Poo da Panela.
326
O autor define nordeste pelas provncias de Cear, Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco e Alagoas.
327
Segundo o autor, pessoas nascidas no estrangeiro incluem 353 de Portugal, 45 dos Aores e Madeira, 173
da frica e 79 outros no-ibricos.
328
Total de 6.075 pessoas. As informaes so baseadas em registros de casamento. Constam 6.180 caso,
105 desses sem as informaes referentes ao local de nascimento dos cnjuges.
136
PERNAMBUCO
Brasileiros
naturalizados
19
72
312
628
Estrangeiros
1,60%
0,35%
0,53%
0,23%
Brasileiros
naturalizados
0,00%
0,01%
0,01%
0,02%
731
0,02%
No censo de 1890 no foi feita distino entre estrangeiros e brasileiros naturalizados que, enquadrados da
mesma forma, representaram 2.690 em nmero absolutos e 0,26% em termos percentuais.
137
deslocamento foi necessrio um estudo acerca dos nmeros dessa presena portuguesa no
Brasil e em Pernambuco e principalmente sua capital Recife, destino maior dos que no seu
porto desembarcaram. Alm de entrevistas com os imigrantes a fim de compreender
melhor como se deu esse processo de deslocamento em suas variadas nuances, o que ser
visto no captulo final.
As principais fontes para uma exposio estatstica sobre a imigrao portuguesa
para Pernambuco e a presena lusitana no local, no que tange ao recorte desta pesquisa, so
sem dvida os anurios estatsticos do IBGE, nacional330 e estadual, bem como os censos
demogrficos e econmicos do Brasil e de Pernambuco, a maioria j citada at agora, alm
das estatsticas presentes nos diversos Boletim da Cidade e do Porto do Recife, publicados
entre 1942 e 1967.331 Boa parte desta documentao se encontra on-line no prprio site do
IBGE, contudo, os anurios estatsticos de Pernambuco332 s foram localizados na Agncia
Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco - CONDEPE/FIDEM. Soma-se a
essa documentao o material encontrado no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, na
coleo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras (DPMAF), com os navios
entrados no Porto do Recife, entre 1942 e 1959.333 Alm de bibliografia especializada que
j tenha abordado a temtica.
preciso compreender que, no que toca imigrao, os nmeros divergem entre si.
Os Anurios Estatsticos de Pernambuco apontam entradas e sadas no Porto e o Censo
Demogrfico do IBGE mostra dados sobre fixao de residncia por perodo. Ao se
observar ambas informaes, restam mais dvidas que certezas sobre os nmeros. O Censo
do IBGE no distingue as nacionalidades, mas informa desde 1880 a 1940 o contingente
estrangeiro a se fixar em Pernambuco, sejam estrangeiros de fato, ou brasileiros
naturalizados. Isso pode ser observado no dois primeiros quadros abaixo.
330
Foram analisados os Anurios Estatsticos do Brasil de de 1936, 1939, 1941, 1946, 1947, 1948, 1949,
1950, 1951, 1952, 1953, 1954, 1955, 1956, 1957, 1958, 1959, 1960, 1961, 1962, 1963, 1964, 1965, 1966,
1967, 1968, 1969 e 1970
331
Foram analisados todos volumes do n.3 ao n. 63, de 1942 a 1967.
332
Foram analisados: Anurio Estatstico de Pernambuco de 1927. Ano I., Anurio Estatstico de
Pernambuco de 1929. Ano III., Anurio Estatstico de Pernambuco de 1934. Ano VII, Anurio Estatstico de
Pernambuco de 1937 1938. Ano X., Anurio Estatstico de Pernambuco de 1946. Ano XII ,Anurio
Estatstico de Pernambuco de 1948. Ano XIII , Anurio Estatstico de Pernambuco de 1950. Ano XIV,
Anurio Estatstico de Pernambuco de 1955. Ano XV, Anurio Estatstico de Pernambuco de 1958. Ano XVI,
Anurio Estatstico de Pernambuco de 1962. Ano XVIII, Anurio Estatstico de Pernambuco de 1964. Ano
XIX e Anurio Estatstico de Pernambuco de 1968.
333
Existe esse material para periodo anterior, desde os fins do XIX at 1920, porm a documentao ainda
no est bem organizada.
6.645
1915
a
1919
414
1920
a
1924
928
1925
a
1929
892
6.017
50
414
83
331
3.403
621
775
369
819
819
628
21
73
25
48
429
95
107
45
109
73
Total
no
perodo
Brasileiros
Naturalizados
Estrangeiros
Perrnambuco
Total
Regio
138
FONTE: Censo Demogrfico: Populao e Habitao.. Recenseamento Geral do Brasil (1o de Setembro de 1940). IBGE.
Rio de Janeiro: Servio Grfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. 1950. V. II
139
1.605
1938
158
1939
171
1940
215
1.555
171
66
95
115
131
137
124
165
155
171
205
50
12
20
10
20
Brasileiros
Naturalizados
Estrangeiros
Estrangeiros e
Naturalizados
Perrnambuco
Total no
periodo
FONTE: Censo Demogrfico: Populao e Habitao.. Recenseamento Geral do Brasil (1o de Setembro de 1940). IBGE.
Rio de Janeiro: Servio Grfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. 1950. V. II
140
Brasileiros
12.714
13.938
15.169
16.515
14.960
14.319
13.952
14.846
12.218
15.340
13.779
14.035
13.693
15.390
13.778
15.263
16.877
13.980
16.032
16.576
1.858
14.214
23.345
20.755
32.826
39.966
41.771
45.464
19.012
19.012
15.070
13.524
14.784
14.677
14.989
8.767
7.610
6.834
4.587
2.990
2.271
4.577
2.521
1.797
264
25
Portugueses
838
939
1.170
896
1.067
842
813
710
663
594
644
533
603
614
620
583
664
709
639
258
16
423
463
907
1.063
733
832
676
595
52 520
351
283
229
252
313
345
256
367
134
95
70
48
220
2
0
1
Outros Estrangeiros
3.098
3.194
310
3.461
3.113
3.091
3.784
2.971
3.145
2.482
2.113
2.127
2.549
2.746
2.450
2.218
2.531
1.350
1.269
x
112
1.607
1.730
2.913
3.475
4.676
4.124
3.444
1.887
1.183
532
559
560
644
655
376
392
448
399
341
256
239
11
92
76
82
141
Entre os
334
142
Apesar do sculo XIX no ser o foco desse estudo, importante apresentar esses
dados para possveis comparaes numricas e percentuais ao longo do tempo. H muito o
que se investigar sobre o quantitativo lusitano em Recife e Pernambuco, dados que podem
vir a auxiliar o entendimento da formao da Comunidade Portuguesa local.
337
143
340
144
Por mais rdua que seja a leitura da quantidade de quadros, grficos e nmeros
expressos nesse captulo, tamanha a necessidade de analis-los a fim de melhor
compreender esse processo de deslocamento de portugueses para o Brasil e Pernambuco,
ao longo da histria. Fica claro que os lusitanos foram o maior contigente espontneo
imigrado para o pas e para o estado. Mesmo aps a grande imigrao dos anos 1870-1930,
os portugueses retomaram esse percurso com o fim da Segunda Guerra Mundial, fazendo
da dcada de 1950 a terceira dcada em quantidade de portugueses imigrados. Uma dcada
onde o aumento do contigente lusitano imigrado aumentou em mais de 500% ao deslocado
na dcada anterior. Um perodo em que houve o maior percentual de imigrantes
portugueses em comparao com os demais estrangeiros. A percepo do lado portugus,
ou seja, da emigrao, tambm nos leva a compreenso de como o Brasil foi relevante para
esse portugueses que, em sua maioria dos distritos do Norte como Viseu, Braga, Aveiro e
Porto, encontraram no pas e em Pernambuco a soluo para problemas diversos
encontrados em sua ptria.
145
146
Verso de despedida de um rapaz que parte para a Amrica encontrado em Archivo Pittoresco, vol VIII,
Editores Proprietrios Castro, Irmo & C,1865, Lisboa, p.184.
147
agosto, setembro e dezembro. Para o ano de 1943, s existe o ms de junho. Para o ano de
1944, somente abril, agosto, outubro e novembro. Para o ano de 1945, faltam janeiro,
maro, maio, julho, agosto e setembro. Para o ano de 1947, apenas ficaram registros de
outubro, novembro e dezembro. E no ano de 1948, no foram encontradas as relaes
datilografadas do ms de janeiro, o mesmo aconteceu no ms de janeiro do ano de 1951 e
em maio de 1958. Essas lacunas documentais, entretanto, no impedem o trabalho desses
dados.
Visto a necessidade de obter mais informaes acerca dos nmeros absolutos da
imigrao portuguesa para Pernambuco entre 1945 e 1964, foram analisadas cada
embarcao entrada no Porto do Recife, entre 1942 e 1959, alm de suas listas de
passageiros, totalizando diversas embarcaes e 1.166 desembarques ao longo desse
perodo. Convm compreender, entretanto que vrios navios se repetem, e o que nos
interessa a listagem de passageiros em cada desembarque.
A partir desses 1.166 desembarques foram analisadas, uma a uma, todas listas de
passageiros encontradas, em busca de portugueses desembarcados em Pernambuco como
imigrantes permanentes. Todos esses dados encontram-se numa planilha, totalizando 1.742
imigrantes. Os lusitanos estiveram se deslocaram em 24 diferentes embarcaes, algumas
com apenas um desembarque ao longo do recorte e outras com nmeros maiores.
Foram analisadas no total 1.166 desembarques ocorridos no Porto do Recife entre
os anos de 1942 e 1959, em busca de imigrantes portugueses permanentes nos navios que
chegavam ao Porto do Recife. Dentre o total, 197 desembarques trouxeram imigrantes
portugueses.
148
Primeiro e ltimo
desembarque no
perodo
Nmero total de
desembarques
Total de imigrantes
portugueses
desembarcados
Bag
Santarm
Cuyab
Alger
Dom Pedro II
Almirante Jaceguay
1942 a 1949
1942 a 1946
1942 A 1950
1944
1945 a 1946
1946 a 1948
3
2
10
1
4
4
15
15
51
1
23
20
Almirante
Alexandrino
Hilary
Lide Amrica
Lide Haiti
1946 a 1949
27
1946 a 1953
1948
1949
20
1
1
183
1
2
149
Alcantara
Serpa Pinto
Lide Paraguai
Mouzinho
Hilderbrand
Lide Argentina
Conte Grande
Vera Cruz
Santa Maria
Sises
Ptria
Uge
Highland Chieftain
Amrica Bauru
1950 a 1958
1950 a 1953
1950
1951
1952 a 1953
1952
1954 a 1957
1954 a 1959
1954 a 1957
1954
1956
1958
1958
1959
46
23
1
1
6
1
10
41
9
1
1
1
1
1
558
231
1
10
35
1
21
454
48
1
17
12
2
1
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 058. Em tal
inventrio se encontra informaes sobre os livros de registro de entrada e sada de estrangeiros em diversos
portos. Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Relao de Vapores). 1875-1974. Cdigo de
fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 046. Arquivo Nacional do Rio de Janeiro
150
de quase mil vidas. Por conta disto, as navegaes foram reduzidas, tantos as de longa
distncia quanto as de cabotagem. Somente com o fim da Guerra os cursos voltaram ao
normal. Nesse perodo, a Lloyd Brasileiro renovou sua frota com a compra de 20
cargueiros para viagens de longo percurso e 16 para cabotagem a fim de reestruturar a
companhia. 344
Outra importante empresa foi a Companhia Colonial de Navegao de Portugal.
Fundada em Angola, em 1922, a partir da fuso de vrias corporaes, a Companhia
Colonial de Navegao comeou a fazer o percurso entre Portugal e Brasil, pouco tempos
depois de ser criada.345 Neste caminho, vrios navios estiveram presentes, dentre os quais:
o Vera Cruz, o Mouzinho, o Ptria, o Serpa Pinto e o Santa Maria. Entre esses destacam-se
o Serpa Pinto e o Vera Cruz para o perodo trabalho e o Santa Maria para o incio da
dcada de 1960. Por pertencer a um pais neutro em meio Segunda Guerra, a CCN
(Companhia Colonial de Navegao) conseguiu ainda que com redues do trfego
continuar perfazendo sua rota entre Amrica e Europa, diferentemente do ocorrido com a
Lloyd Brasileiro.
O Serpa Pinto foi um navio de 8.267 tons construdo em 1914, pedido da Mala
Real Inglesa, e batizado como RMS Ebro. Em 1935 foi vendido para a Jugoslavenska
Lloyd, da antiga Iuguslvia, sendo rebatizado de Princesa Olga. Somente em 1940 ele seria
adquirido pela Companhia Colonial de Navegao e batizado de Serpa Pinto.346 O navio
esteve por 14 anos ligando Portugal e Brasil, entre a dcada de 1940 e 1950, quando
recebeu o epteto de "navio da amizade" ou navio do destino.347 Tais nomenclaturas se
deveram a uma nobre histria no perodo da Segunda Guerra, especificamente em 1942.
Neste ano, o Serpa Pinto realizou a travessia do Rio de Janeiro para Lisboa e em seguida
para Nova York. Na sada do Brasil, o navio levou para a Europa descendentes de alemes
acompanhados de suas famlias, decididos a voltar para sua ptria e lutar pelo fhrer. J em
Lisboa, o Serpa Pinto recebeu quase 700 pessoas fugidas do conflito, muitas das quais,
344
FILHO, Alcides Goularti . A trajetria da marinha mercante brasileira: administrao, regime jurdico e
planejamento. Pesquisa & Debate (PUCSP. 1985. Impresso), v. 21, p. 247-278, 2010. P. 251
345
SANTOS, Jos Ferreira. Companhia Colonial de Navegao. In: Revista Bordo Livre. N 43/44 Julho/Agosto de 2002 .p.6 (http://www.comm-pt.org/bordolivre/jul_ago2002/pag6_43&44.htm Acesso em
19 de janeiro de 2014.)
346
http://www.theshipslist.com/ships/descriptions/ShipsE.shtml. Acesso em 15 de janeiro de 2014.
347
GIRAUD, Laire. 'Serpa Pinto' conquistou o ttulo de Navio da Amizade. Portogente. 9 de outubro de
2006. http://portogente.com.br/colunistas/laire-giraud/serpa-pinto-conquistou-o-titulo-de-navio-da-amizade6795 Acesso em 17 de janeiro de 2014.
151
judeus, levando-os para Nova York.348 Por ser j um navio antigo e com a construo dos
modernos Vera Cruz e Santa Maria, o Serpa Pinto foi ficando ultrapassado, sendo
desmontado em 1955 na Bgica. Antes disso, entretanto esteve presente no Porto do Recife
entre 1950 e 1953, tendo trazido 231 imigrantes portugueses permanentes ao longo de 23
desembarques. Sendo, assim, o terceiro navio a trazer mais imigrantes portugueses para
esse porto no perodo trabalhado.
O segundo navio, nesse quesito, foi o Vera Cruz que, entre 1954 e 1959, trouxe 454
imigrantes portugueses, em 41 desembarques. O Vera Cruz possua 21.765 tons e tambm
pertenceu CCN entre 1952 e 1973, perodo no qual fez a rota entre Portugal e Brasil.
Partia de Lisboa passando por Funchal, So Vicente, Santos, Rio de Janeiro, Salvador,
Recife, La Guara na Venezuela, Curaao no Caribe, Tenerife, Funchal, Vigo e finalmente
voltava a Lisboa. No transatlntico existia cinema e piscina para os passageiros mais
abastados. Aps 1956 e, com a ecloso das conflitos coloniais, passou tambm a servir
guerra, transportando tropas para as colnias portuguesas na frica. Em 1973, foi vendida
a China para desmonte.349 O paquete contava com 8 cabines de luxo, 190 lugares na 1a
classe, 200 na 2a e 844 na 3a classe.350
O quarto navio a trazer mais imigrantes portugueses no perodo foi o Vapor Hillary.
Construdo em 1931, possua 7.403 tons e pertencia empresa
Steamship Company. Esta havia sido fundada em 1866 por Alfred Booth & Co, em
Liverpool, na Inglaterra, com o intuito de fazer a rota para o nordeste brasileiro e a
Amaznia.351 Antes da Segunda Guerra o Hilary fazia sua rota normalmente, contudo,
chegado o conflito, passou a servir aos propsitos da guerra, apenas voltando rota do
Atlntico aps 1945. Em seu percurso, o Hilary partia de Liverpool passando por Portugal,
So Vicente, Recife, Fortaleza, Belm at chegar em Manaus. 352 Sua terceira classe
comportava 138 passageiros, onde ficava a massa imigrante. Aps, 1957 a Booth
Steamship substituiu o antigo navio pelo vapor Hilderbrand na rota para o Brasil, sendo o
Hilary desmontado em 1959 na Esccia353
348
152
153
Alcantara ao Porto do Recife era visto como uma demonstrao da grandiosidade do porto
pernambucano. Tal sucesso seria devido ao trabalho de Hlio Coutinho. Em matria de
1950, a Gazeta de Notcias do Rio de Janeiro dizia poder se "assinalar como uma das
grandes grandes vitrias de sua administrao a prxima entrada, no Porto do Recife, do
paquete Alcantara da Mala Real Inglesa, um dos maiores navios que tocam nos portos sulamericanos"359. Para os padres da poca o navio Alcantara era realmente imenso. Tanto
ele quanto o Vera Cruz eram cerca de trs vezes maiores que os Serpa Pinto e Hilary, o que
se pode ver em suas respectivas tonelagens. A tonelagem, vale salientar, uma unidade de
volume e no de peso. A origem desse nome se deveu ao fato de que os navios
antigamente eram medidos por sua capacidade de carregar tonis-padro, da derivando o
nome de tonelagem.360 Isso nos leva a entender tambm um fator pelo qual o Vera Cruz e o
Alcantara trouxeram muitos mais imigrantes que as demais embarcaes.
Aps os anos de 1930 a imigrao para o Brasil como um todo declinou devido a
fatores j apresentados neste trabalho. Somente aps a Segunda Guerra Mundial esse fluxo
voltaria a aumentar, principalmente no que se refere aos portugueses. Em Pernambuco, at
1949, esses nmeros da imigrao lusitana no passavam de dois dgitos, tendo aumentado
em 100% no ano posterior. O ano de maior fluxo, entretanto, foi 1952, quando
desembarcaram em Recife 267 portugueses, conforme mostra o quadro abaixo. Ainda que
a documentao apresente lacunas, os nmero obtidos so indicativos que auxiliam a
compreenso da imigrao portuguesa do ps-guerra. Observam-se nmeros muito
menores no perodo da Segunda Guerra, bem como a ausncia de nmeros para o ano de
1947, quando foi suspensa a emigrao portuguesa por um perodo.
359
154
Partindo dos dados obtidos pelas listas de passageiros dos navios desembarcados no
Porto do Recife, entre 1942 e 1959, chegamos ao nmero de 1742 imigrantes portugueses
permanentes. Desconsiderou-se nesses nmeros os passageiros com visto temporrio, com
visto consular ou passaporte diplomtico. Exclumos ainda os passageiros desembarcados
155
Desse modo, relevamos esses imigrantes enquadrados como retornados, visto que
j haviam passado pela experincia de emigrar-se anteriormente. Ainda que tenha havido
algum caso de imigrante no adaptados retornando ao Brasil tempos depois, nos pareceu
sensato desconsiderar os retornados e compreender aqueles imigrantes de primeira viagem
e o desejo de imigrar. Para alm desses, foram cortados tambm todos imigrantes
portugueses permanentes destinados a outros locais que no Pernambuco, comumente de
passagem para Natal, Rio de Janeiro, Fortaleza e Joo Pessoa, por exemplo,
Por fim, chegou-se ao nmero de 1742 imigrantes entre 1942 e 1959. A fim de
adequar ao perodo estudado, exclumos os nmeros referentes aos anos de 1942, 1943 e
1944, focando nos 15 anos compreendidos de 1945 a 1959, perodo em que o Decreto-lei
n 7.967 regeu a imigrao para o pas. Vale salientar que, antes de 1945, os imigrantes
eram organizados pelo Decreto n 3.010, de 20 de Agosto de 1938. importante ainda
salientar que tais anlises se centram na imigrao legal, no desconsiderando a
possibilidade de imigrantes clandestinos.362
Desse modo, as anlises acerca do perfil do imigrante se detm nos dados de 1710
portugueses e portuguesas desembarcados no Porto do Recife entre 1945 e 1959,
enquadrados no artigo 9 do Decreto-lei n 7.967, segundo o qual o visto permanente ser
concedido ao estrangeiro que estiver em condies de permanecer definitivamente no
Brasil e nle pretenda fixar-se.363
Dentre as informaes obtidas a partir das listas de passageiros, constam os dados
acerca do navio atracado no Porto do Recife, bem como a listagem com todos passageiros
desembarcados. Observam-se nome, sexo, idade, nacionalidade, profisso, parentesco,
361
156
informaes sobre o datiloscopista responsvel pela retirada das digitais dos imigrantes.
As listas de passageiros desembarcados no Porto do Recife, entre 1945 e 1959, nos
trouxe a possibilidade de entender melhor quem eram esses imigrantes que se deslocaram
para Pernambuco no perodo posterior Segunda Guerra Mundial, com intenes de ali
comear uma nova vida. Aps a anlise de 1.166 desembarques no Porto do Recife, entre
1942 e 1959, e a busca por imigrantes portugueses, chegamos ao nmero de 1.710
portugueses desembarcados entre 1945 e 1959. A partir desses dados, foram criados doze
grficos a fim de expor informaes acerca do perfil desses imigrantes lusitanos.
Em se tratando do sexo predominante entre os imigrantes, os homens foram
maioria, algo corrente na imigrao em geral. O sexo masculino foi responsvel por 68%
do total de imigrantes, enquanto que as mulheres corresponderam a 32% do total. Alguns
dados, entretanto, no foram identificados ou por no constarem na documentao ou por
estarem ilegveis.
157
GRFICO 03
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
158
GRFICO 04
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
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GRFICO 05
GRFICO 06
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
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(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
O que se pode observar at o momento que a maioria dos 1.710 imigrantes eram
homens, alm de possurem idade entre 15 e 29 anos, principalmente na faixa etria dos 15
aos 19 anos. Entre as mulheres, predominou a faixa entre 25 e 29 anos. Sobre o estado civil
desses lusitanos, a maioria emigrou solteira. Foram 1.047 solteiros(as) (61%), 550
casados(as) (32%), alm de 40 vivos(as), 6 divorciados(as) e 67 no identificados. Esses
ltimos, entretanto, no representando porcentagens relevantes. O grande nmero de
solteiros mostra a realidade da emigrao portuguesa, composta em sua maioria por jovens
solteiros e do sexo masculino. Entre os casados, 301 eram homens e 249 mulheres, muitos
dos quais imigraram em famlia, outros tantos imigraram primeiro e depois trouxeram suas
esposas. Desses solteiros desembarcados, 801 eram homens e 246 mulheres. Se
analisarmos a faixa etria do solteiros se observa 71 (0 a 4 anos), 83 (5 a 9 anos), 89 (10 a
14 anos), 330 (15 a 19 anos), 212 (20 a 24 anos), 140 (25 a 29 anos), 46 (30 a 34 anos) 60
(35 ou mais) e 4 (No Identificados). H desse modo a predominncia de jovens solteiros,
contudo os nmeros recebem um acrscimo por conta das crianas e recm-nascidos
enquadrados como solteiros pela listagem de passageiros consultada.
GRFICO 07
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
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Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
364
SERRO, Joel. Emigrao. In: Dicionrio de Histria de Portugal. Vol. II. Lisboa. 1965. P.25.
KLEIN, Herbert S. The Social and Economic Integration of Portuguese Immigrants in Brazil in the Late
Nineteenth and Twentieth Centuries. In: Journal of Latin American Studies, Vol. 23, No. 2 (May, 1991). P.
320
365
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GRFICO 08
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
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FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
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GRFICO 10
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seao de guarda: SDE. Intrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
FERREIRA, Eduardo Sousa. Origens e Formas da Emigrao, Lisboa, Iniciativas Editoriais. 1976. P.
35.
367
DEMARTINI, Zeila B. F. Imigrao e Educao: os portugueses em So Paulo no incio do Sculo XX.
. In: Cadernos CERU Srie 2. N12. 2001. p. 164
165
anteriormente. Entre os homens que possuam sim no quesito instruo, todos tinha o
mnimo de ensino bsico, liam e escreviam, tinham cursado ao menos o primrio e
estavam cursando o secundrio ou j o haviam terminado. Entre as mulheres, entretanto, a
realidade era outra, boa parte residente em zonas rurais com o acesso restrito
escolaridade para o pblico feminino. No havia o costume das mulheres irem para escola.
Isso, entretanto, no impedia que elas mentissem e afirmassem possuir instruo, como foi
o caso de uma das entrevistadas.
GRFICO 11
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seo de guarda: SDE. Instrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
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nmero de sados daquele local, como foi o caso de alguns imigrantes que sero citados
mais adiante.
GRFICO 12
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seo de guarda: SDE. Instrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
GRFICO 13
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FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seo de guarda: SDE. Instrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
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Talvez por m vontade da burocracia da poca ou por indiferena mincia dos dados.
Assim sendo, nos parece difcil afirmar que a maioria dos imigrantes eram originrios de
Lisboa ou do Porto.
GRFICO 14
FONTE: RV 821 (1942-1945) RV 822 (1946-1947) RV 823 (1948) RV 824 (1949) RV 825 (1950) RV 826
(1951) RV 827 (1952) RV 828 (1953) RV 829(1954) RV 830 (1955) RV 831 (1956) RV 832 (1957) RV 833
(1958) RV 834 (1959). Fundo da Diviso de Polcia Martima, Area e de Fronteiras. (Entrada e Sada de
Estrangeiros). 1855-1969. Cdigo de fundo: OL. Seo de guarda: SDE. Instrumento: SDE 058. Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro.
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Nenhum municpio do distrito de Beja, nem vora, nem Santarm foi encontrado. No Distrito de Castelo
Branco, no centro, s Sert. Distrito de Bragana, no norte, Macedo de Cavaleiros e Vimioso. Distrito de
Portalegre, no Alentejo, Castelo de Vide. Distrito de Guarda, no centro-norte, Gouveia, Castelo Rodrigo,
Trancoso e Foz Ca. No Distrito de Setubal, Montijo. Distrito do Faro, Vila Real. Distrito de Viseu, centro e
norte, Castro Daire, Lamego, Mangualde, Oliveiras de Frades, Santa Comba Do, Sao Joo da Psqueira,
Tarouca. Distrito de Vila Real, no Norte, Alij, Chaves, Mondim de Basto, Montalegre, Sabrosa, Vila Real.
Distrito de Coimbra, centro, Coimbra. Distrito de Leiria, no centro, caldas da rainha. Distrito de Aveiro,
centro e norte, Arouca, Oliveira de Azemis, Vale de Cambra, So Joo da Madeira, gueda, Albergaria-aVelha, Anadia, Aveiro, Estarreja, lhavo, Murtosa, Ovar, Sever do Vouga. Distrito de Lisboa, Lisboa, Sintra,
Oeiras, entre outras..Distrito de Braga, no Norte, Barcelos, Braga. Cabeceiras de Basto, Vila Nova de
Famalico, Vieira do Minho, Fafe, Guimares, Pvoa de Lanhoso, Vila Verde, Esposende. Distrito do Porto,
no Norte, Maia, Matosinho, Porto, Pvoa de Varzim, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia, Santo Tirso,
Felgueiras, Lousada, Paos de Ferreira, Paredes, Gondomar.
170
171
Pires, seu vizinho desde criana. Aos 20 anos, em 1947, Idalina emigrou com o restante da
sua famlia para Pernambuco, visto que seu irmo Abel e seu pai j haviam ido para Recife
antes. Veio num cargueiro da Lloyd Brasileiro do qual no se recorda o nome. Apesar
disso, lembra que o navio no era de qualidade, no havia conforto nenhum, alm de ter
viajado contra a vontade e de ter passado mal no percurso.
Enquanto Idalina estava no Brasil, Claudino Lopes Pires nascido em 17 de julho de
1927, tambm na aldeia de Barreiros, freguesia de Amor, Concelho de Leiria, no Distrito
de Leiria, na regio do Centro, trocava cartas com a namorada, que s voltaria em 1950
para se casar. Antes disso, Claudino serviu ao exrcito por catorze meses entre 1948 e
1949, em Lisboa. Essa situao dificultou sua casa, visto que ele era o nico homem,
junto a quatro irms e sua me, o que complicou para comandar os trabalhos no campo e
outros afazeres na residncia, como ele mesmo disse. Vale salientar que tanto a famlia de
Idalina quanto a de Claudino, em Barreiros,
Em meio aos
172
treinamentos de tiro,
descapacitados para o combate. Diz ainda que a gente j tinha ouvido esse negcio de que
se destacarem melhor so os que vo l pra fora. Ningum queria ir. Ai todo mundo
errava. Apesar disso,
convocadas. Mas o receio no era toa colegas meus, vizinhos, muito foram mobilizados
para Angola ou Moambique.373
Trs anos depois de imigrar, j em 1950, Idalina voltou para Portugal onde casou
com Claudino. Ela voltou de acordo com o enquadramento legal do artigo 37o do DecretoLei n 7.967, de 18 de setembro de 1945, segundo o qual
173
Assim mesmo aconteceu entre essa famlia de Barreiros, o sucesso de Jos Duarte
Areia no setor da serralharia deu vazo criao de outras trs empresas do mesmo ramo,
formada por familiares, ex-funcionrios das firmas mais antigas. Foi a partir dessa
375
174
empreitada inicial que aos poucos a famlia foi emigrando. Claudino fez a Serralharia Ideal,
tendo antes trabalhado na Serralharia Progresso, do seu cunhado Abel da Cruz, que antes
trabalhou na Serralharia Moderna, de seu tio Joaquim Duarte Areia, que antes trabalhou na
Serralharia Artstica, do seu irmo Jos Duarte Areia. O percurso do po deu lugar a um
outro percurso similar em outro ramo.
Com relao ao trabalho, v-se ainda uma diferena ao comparar-se com queles
imigrantes de antes de 1930. Ao ser indagado a comentar sobre os imigrantes do seu
perodo e aqueles que vieram antes da dcada de 1930, disse Claudino que no se
compara. Eu estou dizendo que no se compara pelo seguinte. Eu convivi com gente que
veio nessa poca. E o que eles passaram... Amigos meus... Ns no passamos por isso.
Aqueles moravam l no castelo 377 sem conforto nenhum sem nada. Era muito
complicado.378
A famlia de Claudino e Idalina, entretanto, no tiveram muito contato com a
comunidade imigrante portuguesa. Talvez por serem os nicos da sua freguesia a terem
imigrado para Pernambuco, talvez por no conhecerem inicialmente a comunidade local.
Contudo, no reclamaram de preconceito por parte dos brasileiros, visto que sempre
foram bem recebidos. Hoje em dia, todos anos voltam Portugal, quando a identidade
ptria fica em cheque, eu chego l sou brasileiro, aqui sou portugus, diz Claudino
sobre um dilema relatado por todos portugueses entrevistados.
Jos Miranda Reis de Melo nasceu em 12 de maro de 1935, na freguesia de
Alquerubim, concelho de Albergaria-a-Velha, no distrito de Aveiro. Mais velho numa
famlia de trs filhos homens, Miranda, como conhecido pela comunidade portuguesa,
chegou aos 17 anos, solteiro, em 1952 no Porto do Recife. Assim como os demais
imigrantes do perodo, precisou de uma carta de chamada e garantia de emprego para
legalmente emigrar para o Brasil. Carta essa recebida do seu primo Antonio Dias dos Reis,
que j morava em Pernambuco. Tratou toda documentao no Consulado brasileiro no
Porto, embarcando no porto de Lisboa aps toda documentao organizada.
O motivo de sua vinda estava relacionado com as dificuldades de Portugal no psguerra, uma poca de restrio, segundo Jos Miranda, quando alguns gneros eram
regrados pelo governo. Na poca, j depois de deixar a escola aos 10 anos com o ensino
bsico, ficou at os 17 trabalhando na agricultura, onde plantava cebola, tomate e outros
377
O castelo, citado por muito imigrantes, eram os stos de casas, penses ou lojas, onde muito portugueses
moraram com pouca estrutura. Muitas veezes no mesmo local de trabalho.
378
Claudino Lopes Pires. Entrevista realizada em 30 de julho de 2014
175
produtos, alm da criao de gado. Apesar da sua famlia ter poucas terras, alugavam
algumas a outros donos. Sobre esse perodo, Jos lembra ter uma vaca leiteira da qual
retirava leite e vendia as sobras. Seu pai era pedreiro e carpinteiro e sua me era costureira,
alm de tomar conta da casa. Em suma, a famlia vivia modestamente, mas bem, sem
passar necessidades, como lembra o portugus.
Outro motivo para sua vinda era o receio de ir para o servio militar to logo
completasse 18 anos. Jos Miranda diz que no s ele tinha esse medo, como muitos
jovens porque j naquela altura em 52, j se ia muita gente para as provncias
ultramarinas: Angola, Moambique, Guin e outros lugares. E a gente com receio de ir
para esses lugares estranhos no queria ficar no pais..379 Desse modo, emigrou ele e
outros muitos jovens. Diz Jos Miranda: s no navio que eu vim para aqui vieram vrios
jovens da minha idade.. Miranda resume o porqu de ter emigrado ao dizer que uma das
grandes motivaes foi a fuga do servio militar e a outra foi a mudana de vida.
Ao emigrar, viajou na terceira classe do navio Alcantara que era a classe mais
modesta do navio. Ento a gente sempre vinha ou na linha dgua ou baixo da linha
dgua. A segunda e a primeira eram partes superiores. Na cabine, comumente quatro
pessoas do mesmo sexo em duas beliches. Jos Miranda afirmou no ter do que se queixar
do navio, que era grande e de categoria, contudo, no podia usar certos privilgios da
primeira classe, ainda que se pudesse ir ao deck em algumas horas.
Ao chegar no Brasil, foi morar numa penso na Avenida Cruz Cabug e trabalhar
com seu primo Antonio Dias, que logo o colocou como scio do Hospital Portugus, assim
como acontecia com a maioria dos imigrantes lusitanos. Pagou 50 cruzeiros pela taxa de
adeso e ainda possui a carteira original da poca. Antonio Dias, ento, levou Jos Miranda
para trabalhar na empresa em que estava empregado. Era funcionrio da Unio de Bebidas
Indstria e Comrcio Ilimitada, empresa criada por portugueses e conhecida pela sua
laranjada Clipper, a aguardente Cantagalo e o hidromel vinho So Joo. Miranda,
inicialmente trabalhou na parte da embalagem, onde no possua experincia, visto ser
agricultor em Portugal, contudo, outros funcionrio portugueses lhe ensinavam o ofcio.
Em pouco tempo, foi para a parte do controle de estoque e depois gerente da filial em
Campina Grande, Paraba. Tempos depois criou uma empresa com seu irmo Vicente, que
ainda funciona. Hoje, Jos Miranda trabalha no Hospital Portugus e Conselheiro da
Comunidade Portuguesa, representando-a frente Portugal em reunies anuais. Segundo
379
176
ele, a maioria dos imigrantes aqui prosperaram, h muitos poucos dos que esto pedindo
esmola, ou que esto realmente na pior. O Conselho da Comunidade Portuguesa local, de
Pernambuco, atende apenas a 3 portugueses passando necessidade380, diante de entre 3 a
4 mil lusitanos de origem no estado. Cinco anos depois de chegar no Brasil, desembarcou
no Porto do Recife o seu irmo Vicente Miranda.
Vicente Manuel Miranda Reis de Melo nasceu em 6 de junho de 1940, na freguesia
de Alquerubim, concelho de Albergaria-a-Velha, no distrito de Aveiro. Sobre os tempos
em Portugal que em Alquerubim a casa no era rica, mas tinha conforto, com luz eltrica
e gua encanada. Nosso padro de vida era de uma famlia, respeitada, e nunca passamos
necessidades.381
Assim como muitos imigrantes, e tambm seu irmo, decidiu sair de Portugal por
receio do servio militar. Segundo ele, a razo maior e determinante para a minha sada
de Portugal, com apenas 17 anos de idade, isto em 1957, foi o grave perodo que o pas
atravessou, mantendo por um longo perodo, uma guerra com Angola. Embora ele
possusse um tio bem sucedido na colnia portuguesa,
na minha cabea de jovem e olhando para o mapa, logo deu para perceber
que aquela guerra no tinha o menor sentido, a distncia a imensido do territrio,
nossa populao reduzida e sem grande preparo, o xito era mnimo. A sada era via
negociao o que no era com os Governantes da poca.382
Diante deste quadro, o Brasil aparecia como um destino sedutor. Soma-se a isso o
fato de que Vicente estava perto de completar 18 anos e assim, como ele mesmo diz, teria
dificuldade em sair do pas, visto que todos eram recrutados para o servio militar
obrigatrio. Para alm disso, j tinha um primo (Antonio Dias dos Reis) e um irmo (Jos
Miranda) morando em Recife. Assim, lhes escreveu pedindo ajuda para deixar Portugal,
recebendo, ento uma carta de chamada do seu primo, do mesmo modo que aconteceu com
seu irmo. Entretanto, para conseguir
380
177
384
178
posteriormente foi para a parte mdico hospitalar.385 Em 1962 virou scio da empresa e 5
anos depois, a Medical, empresa do ramo de material mdico hospitalar, laboratorial e
qumico, foi oferecida Casa Tigre, sendo deixada sob responsabilidade de Manuel
Tavares, que a modernizou e tornou-a uma empresa de grande porte na cidade. O lusitano
tambm recebeu o titulo de Cidado Pernambucano e foi membro efetivo das instituies
portugueses na cidade como o Gabinete, o Clube e a Comunidade Portuguesa em
Pernambuco.386
Daniel Ferreira Rodrigues nasceu em 22 de maro de 1941 na aldeia Venestal, na
freguesia da Sert, concelho de Sert, no distrito de Castelo Branco. Vivia numa pequena
aldeia chamada Venestal, numa rea rural. Filho mais novo, possua uma irm e um irmo.
Sua famlia vivia da agricultura, chamando inclusive trabalhadores para suas terras.
Produziam azeite prprio, plantavam batata, uva, fabricavam vinho, alm de possurem
algumas cabeas de gado, ovelha e cabra. Por ser criana, pouco ajudava no trabalho no
campo, somente quando estava de frias ajudava um pouco. Segundo Daniel, sua famlia
sempre teve uma vida equilibrada, ainda que modesta, sem ter passado nunca por
necessidades.
Perguntado pelo motivo de sua vinda, Daniel Rodrigues narra sua histria. Segundo
ele, dois irmos de seu pai j moravam em Recife, um deles Daniel Antonio Rodrigues,
gostava muito do seu sobrinho homnimo. Certa vez em Portugal,
ele dizia: vou lhe levar para o Brasil. E eu, que era menino, sempre ouvia essa histria.
Ento houve um belo ano que ele chegou junto de mim: voc quer vir para o Brasil?
Todo mundo falava bem do Brasil. Brasil timo, Brasil extraordinrio. Ento eu
disse: eu quero.387
Vale salientar, entretanto, que seu irmo Jos Ferreira Rodrigues j havia feito o
percurso cerca de 5 anos antes para a casa do mesmo tio. Como Daniel era menor de idade,
disse ao tio que no dependia dele e bastava que seus pais deixassem. O tio ainda sugeriu
que Daniel passasse o tempo que quisesse em sua casa. Aps falar com o pai de Daniel e
sua me, o tio teve permisso, com a promessa de que se ele no se adaptasse seria
mandado de volta. Aps isso, deram entrada na documentao necessria para imigrao
385
179
180
e planejaram abrir uma casa de rendas na Bahia, visto que esse ltimo j trabalhava numa
firma do ramo em Recife, chamada Cinderela. Contudo, o outro tio de Daniel, Jos
Rodrigues, pediu-lhe que ficasse e que iria tentar solucionar os problemas dele e que, se
no conseguisse cotas na D. Rodrigues, lhe daria a parta da sociedade em uma padaria que
possua no bairro de Afogados. Por sorte, um dos scios da D. Rodrigues, o genro de
Daniel Antonio, que herdou as cotas do tio de Daniel, quis vender suas cotas, e assim
Daniel adquiriu 3% da empresa, na qual trabalha ainda hoje. Desse modo, o plano dos
amigos foi desfeito e Joo Ferreira abriu uma casa de rendas em Recife e Vicente Miranda
foi trabalhar com seu irmo Jos. A D. Rodrigues, por outro lado, foi crescendo e
adquirindo firmas correntes, como a Medical, que depois foi separada da empresa. Com o
falecimento do pai, ainda trouxe sua me para viver no Brasil. Hoje, Daniel Rodrigues
continua na mesma empresa e j possuiu vrios cargos no Hospital Portugus, alm de
presidente do Clube Portugus.
Joo Jorge Barbosa Marinho nasceu em 10 de maro de 1958 na freguesia de Santa
Maria de Arnoso, no concelho de Vila Nova de Famalico, no distrito de Braga, no Norte.
Jorge, como conhecido na comunidade portuguesa, emigrou numa poca posterior ao
perodo trabalhado, mas numa situao no muito diferente. Sua famlia teve um percurso
muito comum e anterior sua vinda.
Em 1974, aos 16 anos, estudante em sua freguesia, receoso da aproximao dos
seus 18 anos e consequentemente alistamento militar, resolveu imigrar e fugir do servio
no exrcito, que podia lev-lo s colnias africanas. Uma luta inglria, na sua viso
pois no era certo servir o exrcito nas colnias.389 Antes dele, dois irmos j tinham
feito o mesmo caminho e um quarto viria depois dele. Contudo, esse percurso de Arnoso
para Recife se iniciava bem antes. Oito tios seus j haviam imigrado em anos anteriores
para Recife desde 1949 com Alberto Ferreira Barbosa, em 1950 com Avelino, em 1952
com Aires, em 1956 com Antonio, em 1958 com Armindo, s para citar alguns dos seus
parentes.
Alberto Ferreira Barbosa, entretanto, foi o precursor. Nascido em Santa Maria de
Arnoso, veio para o Brasil aos 27 anos, chegando no dia 3 de Agosto de 1949, na primeira
classe do vapor Cuyab. Antes, em Portugal iniciou um comrcio com um amigo de
compra e venda de batatas. Compravam o produto em Trs-os-Montes e vendiam na
389
181
cidade do Porto. Contudo, os lucros eram pequenos. Decidiu, assim, ir para Pernambuco,
onde tinha um cunhado.
Aqui chegando, comeou trabalhando na Metalrgica Lucena e Cia. Dezessete
meses depois, trouxe sua famlia. Trabalhou no ramo da panificao, mas seu sucesso veio
com a fundao da Ferreira Pinto & Cia, em 1957, oito anos depois de sua chegada. Criada
inicialmente em Campina Grande, na Paraba, no setor madeireiro e de material de
construo, a empresa logo se expandiu. Em 1962 foi inaugurada a primeira filial no
Recife, que viria a ser a matriz a partir de 1971. Hoje a empresa conta com mais de seis
lojas no Recife, alm de um depsito na cidade. Alberto ainda recebeu diversas comendas
em Portugal e em Pernambuco, onde foi agraciado com o ttulo de Cidado Pernambucano
e Cidado Recifense.390
O sucesso de Alberto trouxe ao Recife outros familiares seus, moradores de Santa
Maria de Arnoso, interessados, entre outras coisas, na nova vida conseguida pelo portugus.
Jorge Marinho, sobrinho de Alberto, imigrou 25 anos depois do seu tio e hoje trabalha na
empresa Madeport, do setor madeireiro, o mesmo ramo em que se tio foi bem sucedido.
Eduardo Luiz Faria Pinto nasceu em 5 de outubro de 1943 e assim como os demais
citados de Santa Maria de Arnoso imigrou para Pernambuco. No dia 17 de Dezembro de
1956, ento com 12 anos, chegou bordo do vapor Vera Cruz em Recife. Iniciou-se no
ramo madeireiro, onde depois virou scio da Madecenter Ltda com seu primo Mario Pinto
Lopes que, nascido em 28 de julho de 1942, em So Cosme do Vale, mas criado em
Arnoso, chegou ao Recife aos 16 anos bordo do Vapor Vera Cruz, no dia 1 de junho de
1959. Juntos, os primos fundaram a Madecenter, empresa do segmento de madeiras,
ferragens e ferramentas. Ferreira Pinto, Madecenter e Madeport ainda hoje existem
trabalhando no setor madeireiro e de material de construo.391
Manuel Alberto Amaral Ribeiro nasceu em 15 de agosto de 1933, na freguesia de
Lobelhe do Mato, no concelho de Mangualde, distrito de Viseu. Sua famlia possua muitas
propriedades, vivendo da agricultura e do rendimento do vinho. Por conta disso, afirma
que no tinha necessidade nenhuma de vir para c. O grande motivo de sua vinda,
ento, foi o medo do servio militar. Segundo ele,
390
AREIAS, Laura. A Presena Lusitana em Pernambuco: 100 anos da Cmara de Comrcio Brasil
Portugal - Pernambuco. Recife: Caleidoscpio, 2012.p.115
391
AREIAS, Laura. A Presena Lusitana em Pernambuco: 100 anos da Cmara de Comrcio Brasil
Portugal - Pernambuco. Recife: Caleidoscpio, 2012.p.122.
182
Assim, resolveu imigrar para o Brasil. Manuel Alberto ainda atribui sua vinda e de
outros imigrantes propaganda positiva que se tinha da vida no pas quando portugueses j
emigrados voltavam de frias suas cidades de origem. Segundo ele,
chegavam, principalmente no vero, esses portugueses abastados daqui e a o
pessoal comeava a criar uma iluso. Ah o Brasil, diziam, o pas das patacas. A
gente chega l, balana a rvore e as patacas caem, o dinheiro cai no cho. Porque a
realidade ningum sabia. Os pobres que estavam aqui [no Brasil] esses no iam
mesmo, mas os ricos iam.
Ftima Ribeiro, sua esposa393, filha de portugus emigrado para o Brasil, diz ainda
que esses lusitanos iam esbanjando n, mostrando o que eram, alugavam carro.394
Esses portugueses que retornavam muitas vezes aliciavam os jovens, convidando-os para
trabalho no Brasil.
A escolha por Pernambuco se deveu ao fato de possuir um irmo morando no
Recife. Inclusive, seu pai e seu av j haviam estado na cidade, trabalhando em 1917 nas
obras do cais do porto. Seu irmo trabalhava no meio artstico, com companhias de teatro.
Foi ele quem enviou a carta de chamada para Manuel Alberto, que frisou que
Seu relato mostra que o alto custo da imigrao a tornava difcil para aqueles que
no conseguissem bancar os gastos, no era qualquer miservel que vinha no, salienta
o portugus. Para emigrar, Alberto teve ajuda do pai com a passagem e na organizao da
documentao. Ao ser indagado acerca da profisso de carpinteiro, constada na lista de
392
183
passageiros, diz Manuel Alberto que voc tinha que ter uma profisso. Mesmo que fosse
de mentira. Como o meu pai, o meu av e o meu bisav. Principalmente o meu av e o
meu pai, que trabalhou com ele, como carpinteiro. E eu tive que botar carpinteiro..396
Esse tipo de mentira foi bastante comum. A maioria dos imigrantes que vieram trabalhar
no comrcio no passavam de agricultores em Portugal ou apenas estudantes, e mesmo
assim declararam outra profisso.
Alberto embarcou no navio Alcantara no dia 14 de dezembro de 1951 em Lisboa,
chegando sete dias depois em Recife, aps ter feito uma escala em Las Palmas. Sobre o
Alcantara diz:
era um navio grande, agora, antigamente esses navios eram s de carreira, no era navio
de turismo. Ento tinha a 1a, a 2a e a 3a classe. Claro que ns imigrantes s vnhamos em
3a , que era um bocado de beliches para dormir e tal. Agora tinha o salo das refeies.
S no podamos passar para a 2a, que era fechado, e muito menos para a primeira.397
Ao chegar em Recife, foi recepcionado pelo seu irmo, com quem ficou poucos
dias at arranjar um emprego e ir para uma penso na rua da Imperatriz. Pouca ajuda teve
do irmo visto que ele no parava em lugar nenhum porque a vida dele era artstica.
Ento eu fiquei por aqui e ele j foi pra So Paulo, depois pra Belm. A ausncia de
familiares residindo em Recife e o desconhecimento da comunidade portuguesa presente
fez com que a adaptao de Manuel Alberto fosse mais sofrida do que a dos demais
imigrantes entrevistados. Inicialmente, conta que sofreu bastante e no teve muito ajuda de
portugueses, visto que no conhecia nenhum aqui. Como eu s vim com meu irmo e no
tinha ningum. E l da minha regio tambm no tinha ningum. Ento, claro, eu sofri um
bocado. Manuel Alberto discorreu mais sobre sua adaptao dizendo que
foi muito difcil, porque eu vinha de l [Lobelhe do Mato], e meu pai l tinha muitas
propriedades. E ns vivamos do rendimento do vinho e se cultivava batata, feijo,
azeite, tudo. Ento como eu era praticamente filho nico, porque esse meu irmo era
muito mais velho do que eu. Ento eu fui criado assim com um certo mimo.[...]. A
minha me fazia tudo pra mim e eu no sofri l...l tinha uma vida boa. Cheguei aqui,
depois que fiquei s, mal costumado, ai pra entrar em outro mundo com outra realidade,
sofri um bocado.398
184
a ponto de rodar ai o cais pra me enfiar num poro de um navio pra ir embora.
S que eu era muito tmido, sempre fui muito tmido. Mas rodei pra ver se eu escapava
pra qualquer lugar. Porque antigamente as dificuldades eram muito maiores. Hoje
tudo fcil, tem avio. Naquele tempo no havia avio, era s navio. Meu pai j tinha
gasto muito comigo preu vir pra aqui, inclusive com a passagem, documentao, etc.
Pra eu pedir era chato. E depois chegar l, assim, numa situao dessas tambm era
chato399
399
400
185
186
ramo da construo402. Foi neste ltimo que o imigrante se fez. Dezessete anos aps sua
entrada em Pernambuco, fundou a Rio Ave, grande construtora com empreendimentos em
Portugal e no Brasil, conhecida pelos edifcios empresariais. Suas obras possibilitaram a
transformao do bairro da Ilha do Leite, em Recife, em plo empresarial. Foi provedor do
Real Hospital Portugus por 12 anos, recebeu o Ttulo de Cidado Pernambucano em 1998
e diversas outras medalhas como a Medalha da Ordem do Mrito da Cidade do Recife,
Medalha de Ouro do Real Hospital Portugus, Colar do Mrito Luis Vaz de Cames,
etc.403
Domingos da Silva Moreira nasceu em 5 de junho de 1934 em Gio, Vila do
Conde, Portugal. Domingos trabalhava como marceneiro, na cidade do Porto, quando
decidiu emigrar para o Brasil. Aos 19 anos e convite do seu irmo que j morava no
Recife, veio a esta cidade chegando em 18 de fevereiro de 1954, a bordo do Vapor
Alcntara, na terceira classe. Trabalhou por 6 anos com seu irmo numa loja de material de
construo da cidade. Em 1961, comeou o seu prprio negcio e fundou o Armazm
Coral, um estabelecimento de venda de material de construo. Hoje a empresa possui 20
lojas espalhadas pela cidade de Recife, com cerca de 20 mil clientes dirios. Assim como
os outros citados, Domingos tambm recebeu o Titulo de Cidado Pernambucano.404
Joaquim da Costa Amorim nasceu em 12 de janeiro de 1951, em Junqueira, Vila do
Conde. Antes mesmo de completar 11 anos veio para o Brasil, onde encontrou seus irmos
Eduardo Amorim (imigrado em 1956) e Serafim Amorim (imigrado em 1957). Iniciou seu
trabalho como office boy na firma Amorim Primo, dividida entre os segmentos de biscoito,
caf e acar, e aos poucos foi subindo de posto chegando a ser diretor industrial do grupo.
Aps a venda da empresa, trabalhou em outros ramos. Seu sogro, ao se aposentar, lhe
passou a sociedade que possua na Padaria Boa Viagem, estabelecimento bastante
conhecido na orla da praia de Boa Viagem, metro quadrado mais caro do estado. O outro
scio deste empreendimento David Ferreira Bastos, imigrado em 1952.405
402
Alberto Ferreira da Costa, 60 anos de contnuas vitrias In: Boletim Informativo O Sextante. Recife
agosto de 2011. Edio 177. P. 8. Tal boletim uma das publicaes com informaes sobre a comunidade
portuguesa local, entre outros temas relativos Portugal, Brasil e Pernambuco.
403
AREIAS, Laura. A Presena Lusitana em Pernambuco: 100 anos da Cmara de Comrcio Brasil
Portugal - Pernambuco. Recife: Caleidoscpio, 2012.p.112-113.
404
AREIAS, Laura. A Presena Lusitana em Pernambuco: 100 anos da Cmara de Comrcio Brasil
Portugal - Pernambuco. Recife: Caleidoscpio, 2012.p.119.
405
AREIAS, Laura. A Presena Lusitana em Pernambuco: 100 anos da Cmara de Comrcio Brasil
Portugal - Pernambuco. Recife: Caleidoscpio, 2012.p.120-121.
187
AREIAS, Laura. A Presena Lusitana em Pernambuco: 100 anos da Cmara de Comrcio Brasil
Portugal - Pernambuco. Recife: Caleidoscpio, 2012.p.124.
407
Mendona 2010. P. 63
408
SACOMANI Neto, Mario e TRUZZI, Oswaldo. Economia e Empreendedorismo tnico: Balano
Histrico da Experincia Paulista. Revista de Administrao de Empresas, n 37, abr./jun. 2007. P. 43
188
Ainda que uma discusso sobre a economia tnica, definida como qualquer
conjunto de empregadores, auto-empregados ou simplesmente empregados pertencentes a
um mesmo grupo tnico ou de imigrantes,409 no seja o foco desse trabalho, Sacomani e
Truzzi, baseados em Light e Bachu, fazem consideraes sobre esse tipo de economia que
nos auxiliam a refletir sobre o movimento imigratrio portugus para Pernambuco.
Segundo eles,
Os trs pontos acima citados podem ser encontrados no caso dos imigrantes
portugueses em Pernambuco. O primeiro ponto, fica claro na entrevistas realizadas, mas
pode ser percebido na descrio biogrfica de alguns dos lusitanos vindos aps 1945. O
percurso comum todos, o de imigrao e trabalho com parentes ou compatriotas, expenos a veracidade do primeiro ponto. Havia uma preferncia dos portugueses em empregar
seus conterrneos. Este segundo tema, mais complicado de ser abordado neste espao, se
entendido como incentivo da prpria Comunidade na ascenso dos patrcios recmchegados, de trabalhadores donos ou scios de suas prprias empresas pode tambm ser
encontrado nas histrias mostradas. Ao menos Manuel Bastos Tavares de Oliveira, Daniel
Ferreira Rodrigues, Domingos da Silva Moreira, Claudino Lopes Pires e Joaquim da Costa
Amorim so exemplos claros de imigrantes que foram alados de trabalhadores donos ou
scios das empresas que trabalhavam, ou foram criar uma empresa prpria e do mesmo
ramo. Sobre o terceiro ponto, no possumos confirmao de facilitao de crdito no seio
da Comunidade, contudo no descartamos a possibilidade da existncia. Havia
emprstimos entre os parentes e ajuda na aquisio de cotas das empresas, como visto na
409
189
histria de Daniel Rodrigues, por exemplo. Entretanto, a ajuda mtua e assistncia eram
muito presentes. Os imigrantes portugueses que chegavam em Pernambuco, to logo
desembarcavam, eram colocados como scios do Real Hospital Portugus, como j dito.
Visto ser um Hospital modelo no Estado, os imigrantes conseguiam um excelente
atendimento mdico, sem precisar pagar por esse servio. Alm disso, muitos imigrantes
eram convidados a fazer parte do Gabinete Portugus de Leitura, do Clube Portugus e do
Clube Almirante Barroso. Nesses espaos as redes de solidariedade eram construdas e o
associativismo portugus tornava-se presente. O mutualismo foi sem dvida um trao
marcante na Comunidade e que perdura at hoje. H um calendrio anual de festas e
encontros da Comunidade Portuguesa, das noites de jogos no Clube Portugus
sardinhada todo ltimo sbado do ms no Clube Almirante Barroso.
Os imigrantes que aqui chegavam vinham com emprego certo ou logo encontravam
trabalho. O fato de haver uma Comunidade Portuguesa bem economicamente no local, foi
sem dvida um fator atrativo e que fez com que a maioria dos imigrantes chegados ps1945 pudessem tambm prosperar. Esse indivduos conseguiram criar empresas,
principalmente em setores como o da panificao, construo, venda de materiais diversos
que perduram at hoje. Alm disso, no se pode ignorar o mutualismo e assistencialismo
presente no seio da Comunidade que, sem dvida, favoreceram o crescimento dos
imigrados, na medida que encontravam na sua nova ptria um ambiente de auxlio.
Essa perspectiva esteve longe de ser encontrada num perodo anterior. Em 1912,
ano em que mais entraram portugueses imigrantes em solo brasileiro, a situao dos
imigrantes portugueses em Pernambuco era distinta. Em relatrio sobre a imigrao
portuguesa no Brasil enviado ao ministro lusitano Bernardino Machado Guimares, futuro
presidente do pas, em pleno auge do desembarque de portugueses em solo brasileiro, o
cnsul de Portugal em Pernambuco deixou um relato que ilustra qual era a situao desses
imigrantes desembarcados no Porto do Recife, que segundo ele
190
rdua (...) a par com um clima muito diferente do nosso, pois no lhes sendo fcil
411
colocarem-se nas cidades e seus arredores, so obrigados a explorar o interior (...).
Nada pode ser mais distinto do que a situao dos imigrantes do ps-guerra,
Relatrio sobre imigrao, de Jos Augusto Ribeiro de Melo, cnsul de Portugal em Pernambuco; Recife,
29.11.1912. Apud: SACHETTA, Jos. Laos de Sangue. Privilgios e intolerncia imigrao portuguesa no
Brasil (1822-1945) 2007 (Tese de doutorado). P.216
412
Relatrio sobre imigrao, de Jos Augusto Ribeiro de Melo, cnsul de Portugal em Pernambuco; Recife,
29.11.1912. Apud: SACHETTA, Jos. Laos de Sangue. Privilgios e intolerncia imigrao portuguesa no
Brasil (1822-1945) 2007 (Tese de doutorado). P.217
191
192
CONSIDERAES FINAIS
193
cenrio. Vinham, em sua maioria, na terceira classe de grandes navios de carreira da poca
como o Hillary, o Serpa Pinto, o Vera Cruz e o Alcantara, marcados na memria dos
imigrantes pela passagem que os trouxe sua nova vida. Imigravam motivados por
questes diversas, mas todos dispostos a uma mudana de vida. Encontram no pas uma
nova Constituio, novas leis e a influncia de Gilberto Freyre com o seu lusotropicalismo.
No Brasil ps-1945, a lusofobia j no era presente. Para Eullia Lobo, a partir de 1930, a
queda da imigrao e a diminuio da concorrncia no mercado de trabalho entre
portugueses e brasileiros, alm da nova poltica varguista, que reservava um lugar
privilegiado aos lusitanos podem ter contribudo para atenuar a lusofobia.413 Restavam
piadas sem grande importncia, como
Rodrigues, diz que as piadas na qual davam fama de burro aos imigrantes existia por que
os portugueses que vinham antes do hiato aps 1930 eram pessoas sem instruo e sem
grande polimento". A falta de escolaridade no era problema para os imigrantes do psguerra. A ideia do portugus pouco letrado explorada em outros momentos j no fazia
sentido nesse momento.
Permaneciam ligados sua ptria, incentivando as redes de parentesco e de
conterraneidade
que
alimentaram
esses
deslocamentos. Agricultores
se
tornam
LOBO, Eullia Maria Lahmeyer. Imigrao Portuguesa no Brasil. So Paulo: Editora Hucitec, 2001.
P.210-211.
414
Joo Virglio Ramos Andr. Entrevista realizada em 11 de julho de 2011.
194
Empresrios
portugueses
no
Recife
apostam
no
ramo
gastronmico.
In:
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/11/empresarios Acesso em 10 de janeiro de 2014.
416
RATTNER, Jair. Fugindo da crise, portugueses engrossam onda migratria para o Brasil 'aquecido'.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/04/110411_po. Acesso em 12 de maro de 2012.
195
Brasil o parco nmero de 2.913 lusitanos, fazendo do pas a quinta escolha dentre
emigrados de Portugal. Perdendo para Reino Unido, Sua Alemanha, Espanha e
Luxemburgo. Essa posio deve ser ainda menor, pois esses dados no levam em conta
informaes sobre a imigrao para Frana, Angola e Moambique, quando da publicao
da obra.417 V-se que o Brasil teve uma considervel reduo do seu papel como atrator
dos imigrantes lusitanos, ainda que nos ltimos anos a imigrao para o pas tenha
aumentado um pouco.
A imigrao portuguesa para o Brasil, desde 2004, mantm uma mdia acima de
400 lusitanos imigrados anualmente, tendo aumentado desde 2011, crescendo 96% em
comparao ao ano anterior. Ainda que percentualmente grande, esse nmero, em termos
absolutos teve pouca relevncia ao passar de 798 imigrante em 2010 para 1.564 em 2011.
J em 2013, esse nmero foi de 2.913 portugueses, apenas 5% da imigrao estrangeira
para o pas.418 Apesar disso, os portugueses ainda so o maior nmero de residentes
estrangeiros no Brasil, somando 23% do total.
Se no Censo de 2000 Portugal no figurava entre os cinco pases a destinar mais
imigrantes para o Brasil (Paraguai, Japo, Estados Unidos, Argentina e Bolvia), no Censo
de 2010 j voltava aparecer com Estados Unidos (51.933), Japo (41.417), Paraguai
(24.666), Portugal (21.376) e Bolvia (15.753). A maioria desses imigrantes, entretanto,
ainda iam para o sul e sudeste do pas, dirigindo-se majoritariamente para So Paulo (30%),
Paran (14,7%), Minas Gerais (9,8%), Rio de Janeiro (7,6%) e Rio Grande do Sul (5,3%).
Observa-se, ento, um novo panorama da imigrao portuguesa para o Brasil,
distinto de todo outros, por diversos fatores. Os imigrantes lusitanos que vieram para
Pernambuco entre 1945 e 1964 hoje do seguimento comunidade portuguesa aqui
presente. A presena de lusitanos em Pernambuco bastante forte e remonta ao perodo
colonial. No perodo ps-independncia, em Recife, foram fundadas histricas entidades
portuguesas tais quais o Gabinete Portugus de Leitura de Pernambuco (1850), o Real
Hospital Portugus de Beneficncia em Pernambuco (1855), o Clube Almirante Barroso
(1909) e Clube Portugus do Recife (1934), instituies essas que continuam a fazer parte
do cotidiano da Comunidade Portuguesa local. Sejam nas reunies no Gabinete, nas festas
417
Lisboa, Observatrio da
CIES-IUL, e DGACCP.
Lisboa, Observatrio da
CIES-IUL, e DGACCP.
196
419
AREIAS, Laura. A Presena Lusitana em Pernambuco: 100 anos da Cmara de Comrcio Brasil
Portugal - Pernambuco. Recife: Caleidoscpio, 2012. p. 48.
197
FONTES FUNDAJ
Boletim da Cidade e do Porto do Recife. Janeiro Dezembro, 1957-1967. No 63 169.
Secretaria de Educao e Cultura da Prefeitura Municipal do Recife. FUNDAJ
198
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Revista de Imigrao e Colonizao. Orgo oficial do Conselho de Imigrao e
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Revista de Imigrao e Colonizao. Orgo oficial do Conselho de Imigrao e
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Revista de Imigrao e Colonizao. Orgo oficial do Conselho de Imigrao e
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Revista de Imigrao e Colonizao. Orgo oficial do Conselho de Imigrao e
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199
200
FONTES APEJE
Srie Registros de Ttulos de Naturalizao (1952-1968) - APEJE
Srie Ministrio das Relaes Exteriores (1940-1947) APEJE
Srie Ministrio da Marinha (1941-1947) APEJE
Srie Capitania dos Portos (1934-1947) APEJE
Srie Cnsules (1934-1937, 1948-1949, 1952, 1955-1956) APEJE
ENTREVISTAS
Joo Virglio Ramos Andr. Entrevista realizada em 11 de julho de 2011.
Manuel Alberto Amaral Ribeiro. Entrevista em 25 de agosto de 2011, 8 de fevereiro de
2014 e 16 de maro de 2014.
Ftima Ribeiro. Entrevista em 25 de agosto de 2011.
Joo Jorge Barbosa Marinho. Entrevista 26 de julho de 2013.
Claudino Lopes Pires. Entrevista realizada em 6 de fevereiro de 2014 e 30 de julho de
2014.
Idalina da Cruz. Entrevista realizada em 6 de fevereiro de 2014.
201
JORNAIS E PERIDICOS
A Batalha. Uma pequena arruaa em Recife causou pnico na cidade. Rio de Janeiro:
9 de abril de 1931. HDB.
A Batalha. Empregados brasileiros despedidos, em Recife, em luta com patres
portugueses. Rio de Janeiro: 9 de abril de 1931. HGB.
A Noite. Grave conflito em Recife. Rio de Janeiro. 9 de abril de 1931. HDB.
A Provncia. "Folklore Brasileiro". 25 de Dezembro de 1927. Recife, PE. HDB.
Amrica Brasileira : resenha da actividade nacional,. A libertao do Maranho.
anno 2, n. 21, RJ, set. 1923
Anlise Social. Revista do Instituto de Cincias Sociais da Universidade De Lisboa,
Lisboa, v. XXIX, 1994.
Boletim Informativo O Sextante. Recife agosto de 2011. Edio 177.
Dirio de Pernambuco. A Firma Teixeira Miranda & Cia: rebatendo uma calumnia.
Recife: 5 de abril de 1931. Solicitadas. FUNDAJ.
Dirio de Pernambuco. Os Factos de Hontem. Recife: 9 de abril de 1931. FUNDAJ.
Dirio de Pernambuco. O Governo do Estado e os ltimos acontecimentos: nota
official. Recife: 10 de abril de 1931 FUNDAJ.
Dirio de Pernambuco. Sejamos Justos. Recife: 10 de abril de 1931. FUNDAJ.
Dirio de Pernambuco. A Firma Teixeira Miranda & Cia: ao pblico. Recife: 11 de
abril de 1931. FUNDAJ.
Diario de S. Luiz. 21 de abril de 1949. p.11. HDB.
Folha da Manh. Contra as arruaas em Recife. So Paulo: 11 de abril de 1931. HDB.
Folha da Manh. So Paulo: 10 de abril de 1931. HDB.
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REPORTAGENS ON-LINE
Empresrios portugueses no Recife apostam no ramo gastronmico. In:
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2013/11/empresarios Acesso em 10 de janeiro de
2014.
GIRAUD, Laire. 'Serpa Pinto' conquistou o ttulo de Navio da Amizade. Portogente. 9 de
outubro de 2006. http://portogente.com.br/colunistas/laire-giraud/serpa-pinto-conquistouo-titulo-de-navio-da-amizade-6795 Acesso em 17 de janeiro de 2014
RATTNER, Jair. Fugindo da crise, portugueses engrossam onda migratria para o
Brasil 'aquecido'. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/04/110411_po. Acesso
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OUTRAS PUBLICAES
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SITES
BASE
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ESTADO
DE
http://www.bde.pe.gov.br/visualizacao/Visualizacao_formato2
PERNAMBUCO
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Vapor Vera Cruz em Santos, 1952
Serpa Pinto
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216
217
218
Fonte:
Arquivo
Nacional
do
Rio
de
Janeiro.
219
Fonte:
Museu
da
Cidade
do
Recife.
Foto:
06147
220
Navio
Alcantara
no
Porto
do
Recife.
Sem
data
Fonte:
Museu
da
Cidade
do
Recife.
Foto:
06519
221
222
Detalhe
na
parte
de
trs
do
documento
223
224
Visto
permanente
concedido
pelo
Consulado
Geral
do
Brasil
em
Lisboa
Visto
de
desembarque
no
Porto
do
Recife,
em
1951
225