7 - LEE, Peter. Por Que Aprender História
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RESUMO
A partir da constatao de que ningum escapa do passado e da importncia
da relao que as pessoas estabelecem com o passado, buscou-se apontar,
a partir de pesquisa em fontes relacionadas filosofia da Histria, alguns
fundamentos para o significado da aprendizagem da histria. Nesse sentido,
temas como a importncia da Histria para a validao do passado, a
relevncia das evidncias, a problemtica das leis e generalizaes, bem
como o significado da experincia vicria para a construo da apren-
dizagem histrica, foram objetos de anlise, no sentido de se mostrar por
que importante aprender Histria.
Palavras-chave: aprendizagem Histrica; Educao Histrica; epistemo-
logia da aprendizagem Histrica.
ABSTRACT
Knowing that nobody escapes from the past and the importance of the
relationship that people establish with the past, this aimed to point out
some fundaments for the meaning of History learning, based in researches
related to Historys philosophy. Thus, themes such as the importance of
History to validate the past, the relevance of evidences, the problematic of
laws and generalizations and also the meaning of vicarial experience to
build the learning of History were objects of analysis with the objective of
showing why it is important to learn History.
Keywords: History learning; Historical Education; epistemology of History
learning.
1
Professor da History Education Unit School of Arts and Humanities, University of London
Institute of Education-UK.
2
Maria Auxiliadora Schmidt professora de Metodologia e Prtica de Ensino de Histria e do
Programa de Ps-Graduao em Educao da Universidade Federal do Paran (PPGE/UFPR);
Coordenadora do Laboratrio de Pesquisa em Educao Histrica da Universidade Federal do Paran
(LAPEDUH/UFPR). Marcelo Fronza doutorando do PPGE/UFPR, professor da Rede Estadual do
Paran e pesquisador do LAPEDUH/UFPR.
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 42, p. 19-42, out./dez. 2011. Editora UFPR 19
LEE, P. Por que aprender Histria?
3
Como usualmente Kitson Clark insere no corao do tema: As palavras Alemo, catlico e
Judeu dizem respeito respectivamente a uma nao, a uma Igreja e a uma raa. Elas so usadas para
descrever coisas as quais existem no mundo hoje e, assim, as reaes dos homens a elas sero presumi-
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LEE, P. Por que aprender Histria?
damente condicionadas pelo que elas so agora. De fato, contudo, em cada caso, as reaes humanas
so largamente afetadas pelas memrias da histria, ou o que tomado como histria, o que parece
desconectar a natureza de Alemes ou Judeus, ou Romanos Catlicos, de suas aes. (KITSON CLARK,
G. The Critical Historian. Portsmouth: Heinemann Educational Books, 1967, p. 6). Dois comentrios
podem ser feitos a isto. Primeiro, exemplos menos dramticos so igualmente significantes. Segundo,
para Kitson Clark medianamente surpreso o fato de as pessoas hoje no considerarem as coisas co-
mo elas realmente so, e isto seja talvez injustificvel. Diante deste ponto de vista, at agora, ns po-
demos falar das grandes entidades histricas (ou pelo menos ento para este assunto), no h uma
srie de momentos presentes desconectados, mas entidades temporais, as quais carregam seus passados
com elas, como habitantes, crenas, papis, filosofias de vida, constituindo relaes sociais. Mesmo
onde h uma maior ruptura com o passado (por exemplo, Alemanha em 1945, onde instituies,
moralidade pblica e filosofia poltica sofreram mudanas repentinas), o passado ainda inescapvel;
devido a questes ainda suspensas como quo profunda esta ruptura se fez, e em virtude de o que
uma ruptura, O que a Alemanha agora no poderia ser respondido sem uma referncia ao passado,
mesmo que todos os alemes sejam questionados pelos socilogos e cientistas polticos, porque o
passado estaria embebido nas respostas. O passado, o presente e o futuro formam um simples dom-
nio de referncia [...] entre o qual o presente tem somente um tipo de prioridade qualificada [...] In:
Heideggers parlance, a human life stretches itself along. (OLAFSON, F.A. The dialectic of Action.
Chicago: University of Chicago Press, 1979. p. 97).
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4
Mas Plumb no d somente histria o crdito para isto. Veja a pgina 14 da mesma obra.
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5
Este autor acredita que a base do passado confusamente lembrada a partir de lies aprendidas
na escola, as reinterpretaes de afirmaes polticas, as misteriosas colees de controvrsias
jornalsticas, fragmentos de informaes especiais de experincias pessoais ou as histrias de chances
coincidentes, e a pintura clara de situaes histricas ou de personagens conhecidos, pelas novelas
histricas ou filmes.
6
Veja Toulmin, S.; Goodfield, J. The discourse of Time. London: Hutchinson, 1965.
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7
O conceito de A corte da histria, no qual historiadores so alguma coisa como juzes e (nas
palavras de Ambroise Bierce) grandes e meticulosos fofoqueiros, fazendo e desfazendo reputaes,
no declarando abertamente as noes de histria e de passado. Fundamentalmente, isto pertence ao
passado prtico, mas, em reconhecimento ao fato de que historiadores empregam evidncias a partir
de certos procedimentos mais ou menos acordados entre eles, admite-se que a histria uma disciplina
racional na qual o passado alguma coisa a ser investigada e que as concluses dos historiadores so
elas mesmas submetidas ao criticismo.
8
Embora existam alguns problemas no The death of the past, ele uma das poucas referncias
da histria e seu desenvolvimento, o qual em geral sustenta a interpretao da historiografia Whig.
Paradoxalmente, o livro Man and his Past, de Herbert Butterfield (Cambridge, UK: Cambridge
University Press, 1969), est radicalmente infestado por tal interpretao, na qual a histria da histria
parece como um tipo de fora confusa para responder a problemas modernos, a qual poderia somente
ser bem-sucedida se acompanhada pela moderna crtica metdica: outros interesses no passado tendem
a ser deixados de lado como primitivos ou como tristes tentativas para a histria. Uma aproximao
semelhante est baseada no livro Annalists and Historian (London: Methuen, 1977), de Denys Hay.
Plumb fez um ou dois comentrios descaracterizados (por exemplo, seu comentrio sobre a longevidade
dos patriarcas, p. 122), mas em geral apresentou uma ampla viso, examinando diferentes conceitos
do passado em seus prprios termos, tanto quanto incentivando o crescimento da crtica histrica. Na-
turalmente, h um sentido legtimo no qual o desenvolvimento do conceito racional de histria precisa
ser encontrado, e Collingwood forneceu em seu livro The Idea of History um esboo inacabado de co-
mo isto poderia ser feito. Mas, tal referncia a histria de um trabalho progressivo fora dos grupos de
referncia e to filosfico quanto histrico. A histria de nossa compreenso do passado est quase
da mesma maneira na triste posio da histria da cincia trinta anos atrs. A Histria da cincia foi
alm da catalogao linear da atual concepo do mundo natural e est comeando a elucidar as ori-
gens histricas e racionais de outras concepes. A histria do passado aguarda tratamento semelhante.
9
Ver: DRAY, W. H. Michael Oakeshotts theory of history. In: PAREKH, B. C.; KING, P. T.
(Eds.). Politics and Experience. Cambridge: Cambridge University Press, 1968. p. 32.
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10
Os limites impossveis aqui referidos so inerentes em largo sentido ao dado por Oakeshott
para prtico em sua justaposio ao passado histrico e prtico. difcil ver, por exemplo, por que
o tratamento histrico dado ao Tratado de Versalhes deveria excluir conexes com eventos subse-
quentes na Alemanha e h necessidade de distinguir, primeira vista, do tipo de tratamento que v o
Tratado como justificativa para a destruio da Repblica de Weimar, ou examinar alguns aspectos
dele como sendo a origem de alguma parte do presente. Para a discusso do ponto de vista histrico
de Oakeshott, ver o artigo de Dray referenciado na nota 5 e tambm na antologia de Walsh, W. H. The
pratical and historical past.
11
No existe inteno aqui em sugerir a ideia do passado tratado de diferentes maneiras e
que no existem questes sobre se o passado descoberto ou constitudo. Oakeshott em nenhum caso
olha o passado como o presente sendo de uma maneira particular. Mas, no o lugar de discutir este
assunto.
12
Teria que haver um mundo sem moral, religio ou disputas legais e sem disputas de interesses
materiais. Talvez uma concepo pr-freudiana de sociedade socialista como entendida por Marx
pode alcanar algum lugar prximo a ser encontrado? Mas, deixada deste jeito, minha referncia
muito simples. H limites para a objetividade histrica, mas ela pode ser a base de nossa avaliao pa-
ra o que relevante para uma pesquisa ou (mais amplamente) o que importante em histria, at ago-
ra como isto no foi estabelecido com antecedncia pela pergunta feita, ou por qualquer sorte de teo-
ria, est a ser encontrado em alguma forma compartilhada de vida. De acordo com a relativa importn-
cia das mudanas massivas no modo de vida possvel para um vasto nmero de pessoas, de uma lon-
ga expectativa de vida e de liberdades de vrios tipos, talvez para ser guiada para algum acordo
bsico em aparatos psicolgicos, percepes importantes ou outros. (Algum tipo de caso poderia no
ter dvidas de fazer na direo das linhas de Wittgenstein, mas esto de maneira ambgua no olhar de
Wittgenstein sobre formas de vida, os quais apresentam dificuldades). (Ver tambm nota 22).
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Evidncia
Afirmei que a histria fornece o nico meio racional de investigar o
passado. Esta afirmao se baseia em parte no conceito de desenvolvimento de
evidncia na histria (e das tcnicas de manuseio) da evidncia. Tem havido
uma grande discusso sobre evidncias histricas e sua importncia para o
ensino de histria nos ltimos anos e eu no desejo discutir os pontos fortes e
fracos dos mtodos e dos contedos especficos de aulas aqui. O que
importante para o assunto em mos que, se o uso de evidncias o que, de
certa maneira faz uma investigao racional do passado possvel, ento ser
13
Tudo o que dito neste captulo planeja sugerir a justificativa de uma forma de conhecimento
para a histria e, com isto, uma nfase na sua aquisio na escola sob a forma de uma disciplina. Resta
a complexa questo de como a histria substantiva deve ser ensinada; um assunto largamente comentado
nos ltimos quinze anos, invocando os critrios da pedagogia pelos quais tudo pode ser ensinado, os
quais exemplificam a disciplina algumas vezes as habilidades da histria. Isto no suficiente:
primeiro, porque entre os paradigmas dos perodos selecionados uma escolha dever ser feita entre o
que importante e o que no ; e, segundo, porque o ensino de uma disciplina tambm envolve o ensi-
no de seus critrios de importncia. O que estes critrios so uma questo a ser trabalhada. No h
espao neste captulo para fazer um esforo srio para esmiuar isto, mas vale a pena arriscar um ou
dois comentrios. impossvel prover as crianas, com antecedncia, dos seus interesses, com um ca-
tlogo de tudo o que voc precisa saber. Os interesses prticos, de alguma forma, no podem orga-
nizar o passado no ensino de histria, ou o passado prtico tomar o lugar da histria. Mas, consideran-
do que ns somos os tipos de pessoa que somos, vivendo a vida que ns vivemos, ns somos propensos
a ter interesse mais em uma passagem do passado do que em outra. J foi colocado que, como seres
humanos, ns compartilhamos uma forma comum de vida e em algum nvel isto nos permite a possibi-
lidade de uma intersubjetividade consensual do que humanamente importante. Isto feito, talvez (mi-
nimamente) um passo pode ser ganho sobre o conceito do que intrinsecamente importante em histria.
Isto tambm pode ser um argumento acerca da prpria natureza da histria. A atividade histrica
pressupe, pelo menos, a preocupao quanto liberdade em assegurar o que a evidncia nos leva a
crer (para ns mesmos e para os outros); e tambm uma concepo de homem como um ser racional
(como oposto a irracional). Isto pressupe uma igualdade de tratamento e um respeito por pessoas co-
mo fontes de argumentos. Nestas circunstncias, isto parece ser profundamente razovel sem poderosos
contra-argumentos (e o nus disto recai em quem desagrada a produo destes argumentos) para ne-
gar que estas mudanas do passado esto no curso da liberdade, igualmente no respeito pelas pessoas
e no desenvolvimento da racionalidade da sociedade, como de importncia intrnseca para a histria.
Inquestionavelmente, tudo isto envolve apelar para alguma concepo de interesse humano e talvez
tambm para um critrio implcito de educao; mas o histrico e o educacional no esto em conflito
aqui. Mesmo os historiadores mais limitados necessitam alguma ideia de diversidade da vida humana
e do que possvel para o homem ser e fazer. A importncia do histrico depende de uma concepo
de interesse humano e a histria nos possibilita usar esta concepo criticamente.
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14
A discusso sobre leis e generalizaes em histria frequentemente feita com dificuldade
para distinguir as diferenas dos tipos envolvidos. Uma lista simplificada poderia ser essa:
(a) generalizaes reduzindo a um nmero finito de casos conhecidos;
(b) generalizaes sobre um indivduo;
(c) leis universais, se confirmado ou meramente provado, isto verdade plausvel, a
qual envolve diferentes sentidos de probabilidade a partir da qual segue o item (d);
(d) leis estatsticas, apresentando probabilidades numricas isto , eventos de um certo tipo
ocorrendo em uma populao de eventos de outro tipo;
(e) leis normativas, descrevendo as tendncias das coisas (ver BHASKAR, R. A realistic theory
of science. London: Version, 1997);
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LEE, P. Por que aprender Histria?
uma base frgil para a predio. Como Atkinson salienta: A surpresa de algum
[...] que uma determinada Reforma do Parlamento foi preparada , inegavel-
mente, diminuda pela descoberta de que todas elas foram. (ATKINSON, 1978,
p. 111). Mas, a menos que saibamos por que elas estavam preparadas, no
podemos empregar a generalizao de alguma forma til, para alm dos casos
que foram resumidos15. Ento, algo mais necessrio: talvez, leis universais ou
generalizaes estatsticas?
Sem dvida, em princpio possvel que as leis universais ou genera-
lizaes estatsticas possam ser descobertas como aplicveis histria. Tambm
pode ser que, ao dar explicaes, historiadores necessariamente comprome-
tam-se com a afirmao implcita de que alguma lei que cobre uma explicao
existe, mesmo que ningum possa formul-la16. Mas, mesmo se ambos os
argumentos forem aceitos (e no sem dificuldades) ofereceriam pouca
orientao sobre as questes centrais a este captulo. Em primeiro lugar, leis
universais e genuinas aplicveis histria possivelmente so de baixa pro-
babilidade, no sentido de que as chances delas serem verdadeiras so peque-
nas. difcil pensar em um nico exemplo em que isto no se aplica. Em se-
gundo lugar, as leis estatsticas, que podem ter uma melhor pretenso de verda-
de, so aplicveis a uma gama limitada de reas, onde h um grande nmero
de eventos que podem ser considerados como os mesmos; normalmente eles
so encontrados na histria demogrfica (e alguns na histria econmica).
Olafson argumentou que as mltiplas rotinas pelas quais a vida de uma co-
munidade humana organizada e estabilizada arando um campo, por exem-
plo so do tipo recomeou de novo e de novo sem mudana significativa, e
toda a histria delas seria uma releitura de uma histria que j foi contada
inmeras vezes. Colocadas lado a lado, essas histrias [seriam] essencial-
mente autossuficientes e [poderiam] ser entendidas sem referncia a qualquer
episdio em especial (OLAFSON, 1979, p.115-117). 17. Para que uma histria
seja possvel, os eventos devem ser logicamente cumulativos. Pessoas
descrevem eventos de modo a escolher (a partir das muitas descries possveis
disponveis) certas caractersticas a que elas podero reagir. Estas caractersticas
refletem as crenas, expectativas, intenes e propsitos de quem est reagindo,
(f) trusmo (ver SCRIVEN, M. Truisms as the ground for historical explanation. In: GAR-
DINER, P. (Ed.). Theories of History. Free Press, 1959.
(g) Leis heursticas ou generalizaes;
(h) Princpios de ao. Considerando a preocupao desse captulo, a discusso ir ser focada
nos itens (a), (c) e (d), mas tambm ser feita breve referncia em relao aos itens (g) e (h).
15
Exceto enquanto um instrumento heurstico.
16
Ver WHITE, M. Foundation of historical knowledge. Harper & Row, s/d., p. 14-104.
17
Ver tambm p. 100-101.
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LEE, P. Por que aprender Histria?
18
Conferir a discusso de G. H. von Wright sobre as cadeias quase causais. In: Explanation
and Understanding. London: Routledge & Kegan Paul, 1971, p. 139-143.
19
No h espao aqui para discutir a possibilidade da sociologia histrica que investiga estrutu-
ras de mudanas na sociedade. Os marxistas s vezes argumentam por algo mais fechado do que isso,
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leis apenas no sentido fraco que A causou B e implicam que existe uma lei
causal explicada por algumas descries verdadeiras de A e B. Podemos dar
explicaes causais vlidas, sem conhecer leis preditivas pertinentes. Alm
disso,
[...] uma generalizao, como Janelas so frgeis, e as coisas frgeis
tendem a quebrar quando atingidas forte o suficiente, nas mesmas con-
dies no uma lei preditiva em bruto as leis preditivas, se elas exis-
tirem, seriam quantitativas e usariam diferentes conceitos. A generaliza-
o, como a nossa generalizao sobre o comportamento, tem diferentes
funes: ela fornece evidncias para a existncia de uma lei causal, cobrindo
o caso mo (DAVIDSON, 1968, p. 91-92).
Por conta disso, a histria pode ser explicativa sem ser preditiva. No ca-
so do comportamento humano, isto particularmente importante. Se quisermos
explicar uma ao (caracterizada em termos do dia a dia), no precisamos de
(e no podemos ter) uma lei no sentido de que pessoas acreditam de tal ou qual
forma ou possuem tal maneira de agir. Para ter certeza, a ao ir instanciar
(sob alguma descrio verdadeira) leis causais ento, razes so causas ra-
cionais. Mas essas leis causais no lidam com conceitos em que a explicao
racional tem de lidar (onde noes como evidncia, boas razes para acreditar,
e assim por diante, devem entrar). Os conceitos necessrios nas leis causais
relevantes e, se ns os soubssemos, podem at ser de qumica, neurologia ou
fsica (DAVIDSON, 1968, p. 93)20. Leis empregando esse tipo de estrutura
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21
Para um argumento mais detalhado, ver Peare, D. Questions in the philosophy of mind.
Duckworth, 1975, especialmente o captulo 5; Sketch for a causal theory of wanting and doing;
Mackie, J. L. The cement of the universe. Oxford: Oxford University Press, 1974, cap. 11: Teleology;
Davidson, D. Psysichology as Philosophy. In: Glover (Ed.). Op. cit., e Olafson, op. cit., p. 175-188.
22
Ver Nell, E. J. Review Essay (de C. G. Hempels Aspects of Scientific Explanation). History
and Theory, v. 7, n. 2, p. 224-40.
23
Ibid., passim. Existem, naturalmente, muitos problemas gerais conectados com a induo,
mas existem poucos para serem resolvidos por meio do conceito de lei geral.
24
Essas questes foram tratadas em outros trabalhos.
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LEE, P. Por que aprender Histria?
para perceber que estamos lidando com um dispositivo heurstico, cujo papel
chamar a ateno para certos elementos em uma situao como possivelmen-
te importante. O mais explcito e preciso torna-se uma lei em tais pressupos-
tos. No entanto, no provvel que uma lei seja relevante em todas situaes.
Atkinson sugeriu uma analogia aqui com os canhes de gosto: amplamente
reconhecido que tais canhes, mais que muletas para iniciantes ou material
para os produtores de livros didticos equivocados, so defensveis apenas na
medida em que nos encorajam para olhar, atravs deles, para obras exemplares,
para os temas de comparao e contraste, que so as bases sobre as quais eles
ocorrem. (ATKINSON, 1978, p. 114). Pressupostos e generalizaes mnimas
e implcitas, decorrentes dos conceitos empregados na explicao, raramente
so encontrados como declaraes explcitas no trabalho histrico, mas so
geralmente tornados explcitos, a fim de deduzir um conjunto de alternativas
de pressupostos. Onde eles surgem nos livros escolares e em transcries de
fala de professores em interao em sala de aula, ou na popularizao da
histria27. Isso importante muletas para iniciantes um pouco de desprezo
para algum aprender histria: generalizaes sugestivas so vlidas e teis,
enquanto isto realizado no como destilaes de, ou resultado formal de
pesquisa histrica. A questo no aplic-las, mas ver alm delas.
Muitas destas pressuposies e generalizaes implcitas vm a ser
semelhantes aos princpios de ao de Dray. Hence Taylor explica essa ge-
neralizao, em que a suspeita a relao normal entre grandes potncias,
com um princpio esquemtico de ao para conselheiros militares. Afinal,
o trabalho de generais, almirantes e marechais do ar de se preparar para as
guerras. Eles s podem se preparar mesmo para a guerra, sensatamente, se
preverem um antagonista, e quando eles no podem ver um antagonista bvio,
ento, eles encontram antagonistas improvveis. (TAYLOR, 1978, p. 158).
Da mesma forma, intimamente questionado por um aluno sobre cuidados com
franceses e holandeses durante a campanha de Marlborough Blenheim, um
professor responde: Generais no travam batalhas, a menos que eles pensem
que vo ganh-las. Tomada tal como est, essa ltima afirmao simplesmente
falsa. Mas, tomada como algo parecido com um princpio de ao para o perodo
relevante, quando a formao e manuteno de tropas profissionais foi
extremamente caro e a guerra estava longe de ser total, chama a ateno para o
que provvel que seja uma importante premissa militar. E usado na lio,
tanto para mostrar como a maioria dos generais eram susceptveis de se
comportar como para indicar que Marlborough era diferente. Um princpio de
27
Ver, por exemplo, Taylor (1979, p. 158): [] suspeio o relacionamento normal entre os
grandes poderes.
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28
Referncia para casos pode ser uma distante analogia com a prtica clnica, mas ela ainda
implica muito prximo aos exemplos.
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Experincia vicria
significa fornecer pessoas com notcias, pois informaes mais acuradas os reteriam, sustentando
suas vises. As pessoas podem ter outras razes para sustentar seus pontos de vista. Se ns substitus-
semos o conhecimento e a compreenso do passado, ento ex hypothesis os pontos de vista mudariam.
Mas, isso meramente um ponto conceitual, e, claro, muito frgil para afetar questes substantivas:
a) se isso possvel nas circunstncias econmicas presentes; b) como ele poderia ser alcanado.
30
Existe um perigo aqui em dizer histria fornece uma habilidade para fazer A, B e C. Ento,
em vez de se preocupar com trabalhar com fatos dados, ou pensando muito sobre o passado num modo
substantivo, vamos ensinar A, B e C. Se isso era simplesmente uma preocupao contra sustentar
informaes estreis porque no existe compreenso ela seria suficientemente inocente. Mas, ela
pode levar a confuses em relao ao que existe em histria para ser ensinado. Isso , talvez, evidente
em CONNEL-SMITH, G.; LLOYD, H. A. The relevance of history. Portsmouth: Heinemann Educational
Books, 1972, no qual, um conhecimento exato dos eventos passados contrastado desfavoravelmente
com, por exemplo, hbitos de julgamento e capacidade para ao (p. 28), e uma abordagem advogada
que eleva as necessidades das pessoas vivas sobre obrigaes tericas em relao ao passado e
posteridade ou mesmo para aqueles conceitos mais importantes, verdade objetiva (p. 85).
simplesmente assumido que um conhecimento exato dos eventos passados pode no ter conexo
com hbitos de julgamento e capacidade para ao e que obrigaes tericas sobre o passado po-
dem no ter significado para as necessidades prticas da vida. Quem presumivelmente no tem ne-
cessidade da verdade objetiva para os seus propsitos mundanos e cotidianos!
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31
Nada disso tem significado para se recusar a existncia de princpios ou mesmo regras opera-
cionais na esttica.
32
Eu no tentarei clarificar como eles podem ser sustentados: isso uma tarefa alm de minha
competncia.
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33
Gallie argumenta que a histria pode e deve ajudar-nos a alcanar a poderosa manipulao
da previso. Ele admite que seria um paradoxo absurdo esperar que a histria nos ajude a antecipar
ou prever desenvolvimentos especialmente preditos, mas argumenta que ela pode, de uma maneira
anloga prtica de jogos de habilidade, preparar para qualquer coisa que acontecer. Ele desenvolve
a analogia em termos de forma uma prontido, rapidez e flexibilidade de respostas e formula
dois quase princpios, cuja funo cobrir aquelas situaes que escapam da rede de nossos outros
princpios e categorias. Essas ele chama de princpios de reserva e os princpios do tudo ou nada.
Parece-me que Gallie isolou algo importante para assuntos prticos, o que levanta a necessidade de
muitas futuras anlises. verdade que forma em jogos no simplesmente uma matria fsica, mas
a analogia tem escopo limitado, porque a experincia em histria permanece vicria no sentido da
experincia do expectador.
34
Ver LEE, P. J. Explanation and understanding in history. In: DICKINSON, A. K.; LEE, P. J.
(Eds.). History Teaching and Historical Understanding. Portsmouth: Heinemann Educational Books,
1978.
35
Ver os trabalhos de Peter Roger.
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 42, p. 19-42, out./dez. 2011. Editora UFPR 39
LEE, P. Por que aprender Histria?
36
Eu no defendo, claro, o ensino de histria por meio de biografias, com uma srie de lies
morais para ser aprendida a partir da vida dos grandes homens.
37
J desenvolvi essas ideias em outros trabalhos.
38
Mesmo se algum der valor s declaraes de alguns historiadores para o fato de que eles no
esto interessados no que poderia ter acontecido e, portanto, concludo, isso no estritamente histrico,
a imaginao pode ter importante lugar na aprendizagem histrica.
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LEE, P. Por que aprender Histria?
REFERNCIAS
ATKINSON, R. F. Knowledge and explanation in history. New York:
Macmillan, 1978.
Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 42, p. 19-42, out./dez. 2011. Editora UFPR 41
LEE, P. Por que aprender Histria?
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