Carlos Rodrigues Brandão - Os Caipiras de São Paulo
Carlos Rodrigues Brandão - Os Caipiras de São Paulo
Carlos Rodrigues Brandão - Os Caipiras de São Paulo
DE SO PAULO
Saint-Hilaire, cuja viagem entre caipiras paulistas nos espera um pouco adiante,
ao descrev-los na cidade de So Paulo no consegue deles um retrato melhor. O
prprio nome que lhes do os homens da cidade caipiras seria injurioso e
possivelmente derivado de um nome semelhante, usado para chamar tipos de demnios
malfazejos.
Entre todos os esforos vocabulares que encontrei para afinal dizer quem o
caipira, apenas em outros dois pesquisadores do assunto que tambm nos esperam
adiante h um esforo notvel para explicar a idia de caipira, seja ainda atravs da
anlise do nome, seja pela indicao de caractersticas prprias, ligadas localizao, ao
modo de vida e ao exerccio do trabalho agrcola. Um deles Cornlio Pires e o outro,
Antnio Cndido.
Por mais que rebusque o timo de caipira nada tenho deduzido com
firmeza. Caipira seria o aldeo; neste caso encontramos o tupi-guarani
capibigura. Caipirismo acanhamento, gesto de ocultar o rosto: neste
caso temos a raiz ca que quer dizer: gesto de macaco ocultando o rosto.
Capipiara, que quer dizer o que do mato. Capi, de dentro do mato: faz
lembrar o capiau mineiro. Caapi trabalhar na terra, lavrar a terra
caapira lavrador. E o caipira sempre lavrador. Creio ser este ltimo
caso o mais aceitvel, pois caipira quer dizer roceiro isto lavrador...
(Pires, Cornlio, Conversas ao P do Fogo)
A explicao de Cornlio Pires importante porque faz a fronteira onde a
palavra e a pessoa existem definidos por sinais de menos e o lugar onde outras razes,
como a do prprio trabalho de que provm, traam o nome e a identidade. De uma
primeira safra de nomes a respeito de quem , o caipira sai como o viu e pensou uma
gente letrada e urbana. Por isso, comparado com o cidado, o citadino livre do trabalho
com a terra, o caipira sai dito pelo que no e adjetivado pelo que no tem. Ele ponto
por ponto a face negada do homem burgus e se define pelas caricaturas que de longe a
cidade faz dele, para estabelecer, atravs da prpria diferena entre um tipo de pessoa e
a outra, a sua grandeza. Separado do trabalho e de uma cultura derivada de um tipo de
trabalho, o caipira paulista define-se primeiro por ser naturalmente do lugar onde vive: o
campo, a roa, o serto, a mata, o lugar oposto cidade. E quem no mora em
povoao e, portanto, aquele que no possui o preparo e as qualidades do homem da
cidade, o civilizador, de quem a seu modo o caipira escapa, tanto quanto o ndio, e mais
do que o negro. Se o seu lugar de vida o contrrio do da cidade e o seu trabalho
invisvel, por ser o oposto ao da cidade, o seu modo de ser e a cultura so o oposto do
que a cidade considera civilizao, civilizado. Por isso, a meio caminho entre o
bugre e o branco, o caipira, caboclo ignorante, sem trato, ou seja, sem aquilo
que, ao ver do tempo, apenas a distncia do cativeiro da terra pode atribuir ao homem
de trato, o senhor e seus emissrios.
Em um estudo sobre o dialeto caipira, Ada Natal Rodrigues traz o depoimento
de Antnio Cndido. Ele o vivente de um territrio indefinido com formas prprias
de fala e viso de mundo. (Rodrigues, Ada Natal, O Dialeto Caipira) O seu mundo
cobre um lenol de cultura caipira, com variaes locais, que abrangia partes das
capitanias de Minas, Gois e mesmo Mato Grosso. (Cndido, Antnio, Os Parceiros do
Rio Bonito)
Uma verdadeira civilizao caipira cobriu no passado reas extensas, segundo
Pascuale Petrone. Mais do que sujeitos e famlias indigentes, dispersos pelas beiras de
estrada onde os viajantes os viam, caipiras lavradores de frentes pioneiras de ocupao
do territrio paulista esparramaram bairros rurais e povoados maiores por
Pois foi vindo de Minas e passando por Farinha Podre (Uberaba) que, ao entrar
na Provncia de So Paulo pelos lados de Franca, Augusto de Saint-Hilaire comeou a
ver caipiras pela estrada e a escrever sobre eles anotaes de passagem.
Um longo trecho de Cornlio Pires deve ser transcrito aqui. No ser difcil
perceber como ponto por ponto ele reescreve o modo de vida e a identidade do caipira.
Pela primeira vez a condio de expropriao do trabalho sob o cativeiro da terra
apresentada tipos tnicos e, assim, sobre uma mesma categoria de sujeito de trabalho e
cultura camponesa, constitui desiguais segundo a raa ou a mistura delas: o branco, o
negro, o caboclo e o mulato. Feitas as contas, os tipos puros (branco e negro) so mais
coletivamente virtuosos do que os tipos mestios (mulato e caboclo). Assim, ao branco
ele reserva um modo de ser muito semelhante ao que pouco depois Oliveira Vianna ir
atribuir nobreza rural paulista. Depois constitui dois tipos intermedirios de
identidade e, finalmente, atribui ao caipira caboclo traos prximos aos que Saint-
Hilaire e Monteiro Lobato, entre tantos outros, descreveram no caipira em geral.
Vejamos como.
O caipira branco descende da melhor estirpe dos povoadores portugueses ou
de migrantes de outros cantos da Europa. E gentil e bem educado, preocupa-se com a
educao dos filhos, mesmo quando os pais so analfabetos. E, entre todos, o mais
inteligente quase um sbio rstico e o mais honrado. Fiel, hospitaleiro, bondoso,
paciente, solidrio entre iguais e bom amigo quando eventualmente patro de outros
camponeses caipiras. Com o mesmo cuidado e o mesmo empenho no trabalho cuida da
casa limpas da cozinha ao quintal e das terras de lavoura.
O seu oposto o caipira caboclo, um tipo prximo ao ndio, cujo sangue bugre
lhe corre nas veias, meio coletor da mata, meio mau lavrador, j no mais um ndio e
ainda longe do civilizado. Uma gente arredia tanto ao trabalho quanto educao, que
emprega as suas virtudes naturais a inteligncia viva. a coragem, a sade fsica
inigualvel, a agilidade para produzir maus frutos sociais. Para viver mais do prazer
da pesca e da caa do que do trabalho com a terra. Para ser velhaco e barganhador
como os ciganos, dado s mulheres, a brigas e desordens que o gosto pela cachaa
aumenta. Assim, a descrio anterior de misria e abandono que se fez sobre o caipira
deve ser atribuda a essa gente imunda e desleixada no corpo, na casa e na roa. Esses
caboclos caipiras que no so proprietrios e vivem do que dos outros.
A meio caminho entre o branco e o caboclo existem o negro e o mulato. O
caipira negro pode ser ainda dividido em dois tipos de sujeitos: os pretos velhos e os
negros jovens; os primeiros, doentes. escassos e decadentes, aps haverem sido,
quando escravos, o melhor brao de nossa lavoura. Prximos dos brancos, os negros
jovens so trabalhadores e progressistas, limpos, educados, alegres e dados ao canto e
dana, de que alguns so artistas invejveis. Sem ser to honesto e trabalhador quanto
brancos e negros jovens, muito melhor do que o caipira caboclo, o mulato o mais
vigoroso, altivo, o mais independente e o mais patriota dos brasileiros. Melhor do que
os pretos velhos, procura elevar-se pelo trabalho e, quando empregado, altivo e
fiel, prestando-se a todo tipo de trabalho. (Conversas ao P do Fogo)
O serto revisitado
Aos poucos e desde o lugar social e simblico de onde fala, a escrita que v o
caipira paulista faz sucessivas correes. O que de longe da beira da estrada e do
interesse do domnio parece ser uma vida aos farrapos, incapaz de ser livre por no
poder ser civilizada, de perto aparece como uma vida no margem, mas
marginalizada sob o poder de mecanismos que ao longo do tempo apenas fazem variar
processos de expropriao da terra de trabalho e de controle do trabalho na terra. Uma
vida coletiva pobre e, no entanto, ainda em equilbrio com a natureza, mesmo quando
no limiar de mnimos vitais, no interior de fraes externamente instveis e
internamente resistentes de uma ordem social e simblica cuja expresso na
comunidade, no bairro, no stio surpreendeu vrios estudiosos dos seus sistemas
de trabalho, de trocas vicinais, de criao artstica e atividade ritual.
Esta, sim, uma diferena fundamental. Caipiras que os outros viram beirando a
misria eram sujeitos sem a posse legal da terra, moradores de favor em alguma
fazenda cuja propriedade por certo expulsara outros caipiras de suas terras, ou ento
ocupantes posseiros de uma franja de serto sem dono, de onde seriam um dia
expulsos tambm. Diferente o sitiante que, mesmo pobre, habita a sua terra e nela
trabalha, produzindo com o labor da famlia, ao longo de anos em um mesmo lugar, o
alimento caseiro e o excedente, cuja venda, inclusive, supriu as grandes fazendas de
trabalho escravo no passado. Ao lavrador nmade no compensava ocupar a terra com
mais bens do que os que pudesse levar nas costas ou no lombo de dois animais de carga.
No compensava ocup-la com o trabalho que, ademais da roa e do rancho,
acrescentasse benfeitorias que seriam perdidas pouco adiante.
Apenas nas regies onde interessou ao fazendeiro a proximidade de stios de
produo de alimentos, ou nas reas do estado cujas terras, antes ou depois da invaso
do caf, no interessaram mais a senhores de sesmarias ou donos de fazendas, foi
facultado ao campons pobre ser proprietrio legal e preservar, entre geraes, terras de
cultivo, a sua terra de trabalho. Onde quer que o jogo e os valores do mercado agrcola
gerassem negcios com a terra ou terras de negcio, o lavrador dono, posseiro ou
agregado era expulso, empurrado em direo a um oeste que durante muito tempo
existiu dentro das fronteiras de So Paulo e pareceu interminvel. Isto quando, perdida a
propriedade, a posse ou o direito de plantar, o lavrador no era reduzido condio de
agricultor parceiro, agregado ou outra qualquer categoria de trabalhador submetido a um
patro.
O processo de expropriao nem sempre chegava aos olhos da justia, de resto,
sempre mais inclinada ao senhor do que ao servo. Acontecimento corriqueiro e que
envolvia em pouco tempo toda uma regio anteriormente aposseada pelo caipira, era
mais fcil resolv-lo atravs da violncia que, mesmo quando armada, reclamava ser
legtima. Warren Dean narra o que ocorreu em Rio Claro.
O TRABALHO DA TERRA
Isto acontece na maior parte das terras onde trabalham hoje em So Paulo os
herdeiros dos camponeses tradicionais. O tempo dedicado ao plantio varia muito. Um
lavrador caipira trabalhando sozinho pode levar seis dias para plantar milho no risco,
no quadrado de um alqueire de cho; dois dias para riscar e um para semear. O mesmo
lavrador solitrio gastar at vinte dias para semear um alqueire de feijo no risco, ou
dezesseis dias para plantar o mesmo feijo na cavadeira. Mais difcil, uma quarta de
arroz (a quarta parte de um alqueire) consumir em mdia dezessete dias de trabalho
no risco e dez na cavadeira. (Os Parceiros do Rio Bonito)
Sada ao sol, a planta exige cuidados contnuos. O caipira realiza na roa o
trabalho de carpir, de livrar os ps de cultura da proximidade das ervas daninhas.
Faz o trabalho de fofar a terra ao redor de cada p ou de cada touceira de planta
semeada. At perto do tempo da colheita, o milho e o feijo exigem uma limpa a cada
vinte e dois dias. Menos, quando a terra, j mais cansada, d at menos praga. Este
tambm o espao para a carpio da batatinha, enquanto o arroz vai precisar de trs
ou quatro limpas, uma a cada vinte dias, at ser colhido, dependendo do tipo de solo
onde foi semeado.
O tempo dedicado colheita e o tipo de trato posterior dado aos gros ou
tubrculos colhidos variam muito. Mas a regra que o trabalho da safra seja feito em
ritmo muito mais veloz do que todas as operaes de trabalho agrcola anteriores.
Cada tipo de planta que habita o mundo do caipira tem o seu ciclo de vida.
Algumas so quase permanentes, como o caf e a maioria das grandes fruteiras. Outras
so temporrias, permanecendo vivas de menos um pouco de um ano a um pouco mais,
como a cana e a mandioca. Outras so francamente sazonais, como o algodo, o milho,
o arroz e o feijo. Em regime de policultura rstica, cada uma delas obriga a famlia
caipira a executar, em momentos cruzados ou seqentes, as mesmas tarefas de cada
rotina completa, desde o preparo do solo colheita e beneficiamento.
Esquecido de horscopos (os nicos astros importantes na vida de trabalho do
campons tradicional so o Sol e a Lua) e distante do calendrio civil que a cidade
reinventa a cada ano, o ano do caipira regido pelo entrecruzamento das seqncias
do trabalho com os tempos das festas da religio.
Desde tempos antigos lavradores caipiras lidam com dois tipos de feijo: o das
guas que se planta entre setembro e novembro e pode ser colhido trs meses depois, e
o da seca que se planta entre fevereiro e a primeira semana de maro e colhido entre
abril e maio. A mandioca, que completa a trilogia da comida essencial do caipira,
pode ser plantada em qualquer poca do ano. Quando isto acontece durante os meses
das guas a rama logo brota. Quando plantada na seca, espera pelas primeiras
chuvas para brotar. Em geral colhida entre um ano e meio e dois anos aps o plantio.
Quem tem lavoura de cana no descansa como os outros nos meses de maio
a junho, pois nessa poca que se fica ocupado nos engenhos; em maio
comea a colheita. (Ciclo Agrcola...)
Cedo na vida crianas camponesas iniciam, com os pais e os irmos mais velhos,
o aprendizado dos ofcios caipiras do rancho, do terreiro, da roa e da mata. Por volta
dos cinco ou seis anos uma menina comea a ajudar a me nas rotinas da casa. Um
pouco mais tarde ela lava a roupa, cuida das criaes e ajuda a me nas alquimias
dirias da cozinha. Com menos de dez anos mistura a escola quando vai escola
com os cuidados da casa, sempre que a me e as irms mais velhas vo para a roa nos
tempos de trabalho mais intenso na lavoura. Cedo tambm o menino cuida com o pai de
assuntos do quintal e leva pros homens a comida diria, quando a roa longe do
rancho. Um pouco mais tarde meninos aprendem, no oficio do trabalho, os segredos do
lavrar e trabalham com os pais, tios, padrinhos e outros mais velhos nos diferentes
servios do lavrador. Na idade em que algumas meninas da cidade comeam a largar
de lado as bonecas, algumas moas da roa podem estar comeando a carregar o
primeiro filho. Ao longo da puberdade a famlia e a comunidade da vizinhana esperam
que ela conhea boa parte do que uma mulher caipira precisa saber para casar. Para
tocar por conta prpria um rancho e uma famlia. Jovem ainda um lavrador caipira
um homem preparado para tocar sua roa e responder pela sua famlia.
Quando, alguns passos atrs, leitor, eu fazia com Antnio Cndido, com alguns
lavradores de Catuaba e com Alceu Maynard Arajo, a medida dos dias e dos espaos
de trabalho do caipira, tomava como indicador dos tempos gastos em cada operao
agrria os servios roceiros de um s lavrador no eito. Na prtica cotidiana isto nem
sempre real. Lavradores tradicionais no so obrigados a trabalhar em equipes, como
os lavradores volantes, os bias-frias. Mas nem sempre os homens trabalham
sozinhos. Na verdade, uma das caractersticas principais do trabalho campons
tradicional que a unidade domstica o grupo de familiares tambm uma
unidade de produo. Isto significa que o trabalho campons essencialmente um
trabalho em famlia. Sob a direo de um pai-e-marido os familiares ora trabalham
reunidos, como nos dias apressados do plantio, ou nos dias ainda mais apressados de
uma colheita, ora se dividem, entre o rancho e a roa, em diferentes tipos de servios.
Os caracteres do campesinato continuam os mesmos, conforme mostram
diversos autores. A famlia constitui sempre a unidade social do trabalho e
de explorao da propriedade, sendo que os produtos, via de regra,
satisfazem s necessidades essenciais da vida; as tarefas do trabalho se
dividem entre todos os membros d grupo domstico, em funo das
faculdades de cada um, formando assim uma equipe de trabalho. A famlia
assegura a subsistncia de todos os membros; a combinao famlia-empresa
agrcola faz com que se estabelea uma comunidade de posse e uma
comunidade de consumo, alm da comunidade de trabalho, sob a autoridade
de um membro, que o pai de famlia. Comunidade autrquica, a famlia
camponesa tambm em geral autoritria. Por outro lado, o grupo
econmico autnomo constitudo pela famlia camponesa tem tendncia a
uma forte centralizao, procurando se perpetuar por meio de uma ligao
vigorosa com seus meios de subsistncia (isto , com o patrimnio a ser
transmitido aos descendentes), e para tanto negando aos seus membros o
direito de dela se apartar para criar situaes scio- econmicas distintas.
(Queiroz. O Campesinato Brasileiro)
Quadra que completaram, assim que Z Leite criou uma seguinte e, baixinho, a
segredou ao companheiro.
Patro como Z Leite ser chamado durante todo o dia, muito embora no
mantenha vnculos de servios com ningum e, no fim do dia, no pague a nenhum pelo
servio feito. Os outros se tratam por amigo, companheiro. As falas do bro so
inicialmente de chegada, de saudao ao patro e a todos, de lembranas de saudade e
da alegria de se estar ali, no trabalho. Formadas as linhas do bro, enquanto batem o
pasto as duplas cantam por todo o dia, durante o almoo e atravs da noite.
Subimos o pasto do morro entre 20 e 30 homens armados de penados. Sobre
dois de longe, que no trouxeram os seus instrumentos de trabalho e a quem, na falta de
empenados, Z Leite entregou enxades, ferramenta inadequada para a bateo,
recaem as atenes de outros dois cantadores. Saberemos adiante por qu.
Na chegada do morro onde cerca de 30 lavradores j trabalhavam, Z Leite
saltou do cavalo e cantou com um outro companheiro, gente da casa:
O Alcides e o Agenor
E o Pavo aqui chegou,
Ai, essa turma de amigos
De to longe aqui chegou.
Costumes que aos poucos se perdem entre lavradores tradicionais. Por exemplo,
aquele que termina em primeiro lugar a sua parte de trabalho recebe o nome de
salmora ou salmoeiro. E dele a honra de entoar primeiro o canto do bro.
Terminada a sua tarefa, o salmora pode dedicar-se a ajudar o caldefro, o mais lento
de todos, a concluir sua parte do servio. Se, acaso, um ou dois grupos de lavradores
concluem a sua parte antes do grupo de que, porventura, o patro faz parte, eles
podem ir em seu auxlio. A isto se d o nome de vivrio.
Na carreira do divino
No final da pea, expulsos por artimanhas de negcios com a terra que sequer
compreendem, fogem em direo a uma outra terra que no sabem se ainda existe.
Fogem perguntando at onde, at quando.
Hoje em dia no h no Estado de So Paulo mais do que alguns bolses de vida
e de cultura de caipiras. Trabalhadores de enxada dos sertes de So Paulo, poderiam ter
sido sucedidos por outros sujeitos da roa, agora verdadeiramente livres. Sitiantes
donos familiares ou coletivos de suas terras de trabalho. Donos tambm de seu prprio
destino, assistidos pela lei e pelos recursos que aprenderam atravs do tempo a
imaginar como coisas criadas e desejadas um dia por um Deus para todos, mas depois
tornados direitos e propriedades dos homens ricos do campo e da cidade.