Toxicomania PDF
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Abstract: This article has the purpose to understand the phenomenon of drug
addiction through the paradigm of psychoanalysis. Supported by the literature,
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Acadmica do 4 ano do curso de Psi-
we sought to rescue the idea of the unease of man in front of its own existence,
cologia da Universidade Paranaense
along with the enjoyment it gets with drugs, exploring, in this idea, the concept
Unipar Endereo: Rua Arapongas,
of symptom to psychoanalysis and, finally, show the commitment that psycho-
n 4414, Zona II, Cep: 87502-180
Umuarama/ PR. E-mail: diellica@hot- analytic clinic has in response to the suffering that the subject has when invol-
mail.com ved in this problem, understanding drug addiction as well as a contemporary
phenomenon.
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Acadmico do 4 ano do curso de Psi- Keywords: Psychoanalysis; Substance abuse; Enjoyment; Clinic.
cologia da Universidade Paranaense
- Unipar Endereo: Av. Manaus, Edi-
fcio Atlntico, Bloco 3, Zona Armazm,
Cep: 87501 060 Umuarama/PR. E-
mail: thiago_vjuliani@hotmail.com
3
Professor do Curso de Psicologia da
Universidade Paranaense Unipar, En-
dereo: Av. Londrina, n 3340, Ap.303,
Cep:87502-250 Umuarama/PR. E-
mail: jvieira@unipar.br
Recebido em Outubro/2009
Aceito em Dezembro/2009
vilizao quando esse afirma que os indivduos no apenas a ausncia de doenas (grifo nos-
inseridos na cultura (Lao Social) procuraro so). Este um ideal que a Psicanlise sabe ser
modos de satisfao e que a prpria cultura ir irreal, posto que o mal-estar, a castrao e o en-
favorecer ou coibir maneiras especficas dessa contro com a falta so estruturais, no podem
satisfao. ser solucionados pela cultura nem por impera-
Em outro momento Gurfinkel (1995) des- tivos culturais. A busca do gozo, da satisfao
taca algo interessante: problematiza a prpria plena parece ser validada enquanto imperativo
medicina enquanto facilitadora do uso e abuso cultural, ideal, que, como sabemos, elemento
de drogas4, neste sentido o uso mdico (subju- constituinte do Superego.
gado ao saber mestre da medicina) considera- Em 1930, no Mal-Estar na Civilizao,
do teraputico, enquanto o uso margem deste Freud j enfatizava a busca incessante da feli-
saber identificado enquanto abuso. O admir- cidade enquanto desperdcio de energia; uma
vel deste raciocnio pontuar a difuso do saber odissia infrutfera. Por sua vez, Lacan (1960
mdico enquanto instrumentalizao da medi- apud SANTIAGO, 2001) ressalta que a passa-
cao como sada a qual as pessoas podem gem da exigncia de felicidade para o plano po-
recorrer. Uma sada para o seu mal-estar. Es- ltico tem consequncias torna-se imperativo
taria a uma das brechas culturais fornecidas de satisfao.
crescente ampliao da satisfao pela via da Santiago (2001b) d a entender que esse
droga? imperativo passado ao plano poltico sustenta-
Rosa (2006) como Gurfinkel (1995) de- do na ps-modernidade pelo discurso da cincia
fende a impossibilidade de tratar psicanalitica- que hoje domina, inclusive, a medicina. O autor
mente a toxicomania enquanto uma estrutura aponta que a viso cartesiana, prevalecente na
parte; uma especialidade. Chega a afirmar que medicina, entende o corpo como um organismo
a toxicomania um fenmeno ideologicamente enquanto realidade primria, contrapondo o que
cristalizado enquanto entidade. Frisa assim a im- a Psicanlise entende como a verdadeira na-
portncia da psicanlise no tomar a toxicoma- tureza do corpo: este enquanto sempre secun-
nia enquanto uma especialidade, o que inexora- drio (alm do orgnico), visto que s existe a
velmente conduziria na direo de uma tica da partir de uma estrutura simblica, representado
moderao e do bem, pregando a abstinncia e no psiquismo. Partindo do paradigma cientfico,
buscando refrear o gozo em nome da convivn- a medicina acabou por reduzir o corpo a uma
cia, do prazer ou da realidade (ROSA, 2006, p. mquina composta de circuitos hormonais, neu-
2). Sabemos em psicanlise que o bem; o justo; rnicos, imunolgicos ou genticos, (SANTIA-
o certo; a convivncia harmnica so, frequen- GO, 2001, p.02) constituindo a partir da um or-
temente, ideais que desmoronam sob a fora in- ganismo que pode ser calibrado e condicionado
cessante da pulso. Difcil posio. Rosa (2006) do exterior.
constata que frente toxicomania a Psicanlise Santiago (2001b), resgatando uma afir-
constantemente fracassa, quando alcana xi- mao de Lacan, enfatiza como o ponto de vista
to, os efeitos so passageiros. Seguindo esse da Psicanlise se contrape ao cartesianismo:
raciocnio a autora articula a hiptese de que Um corpo alguma coisa que feita para go-
esse fracasso estaria relacionado sustentao zar, gozar de si mesma (LACAN apud SANTIA-
da toxicomania no discurso social. Compreende GO, 2001, p.03). Nesta frase o autor esclarece
esta sustentao enquanto os arranjos do dis- que Lacan enuncia a tica do gozo do corpo: a
curso que denotam o modo como os sujeitos satisfao pulsional auto-ertica e narcsica to
controlam os ideais, buscando manter distante a conhecida da Psicanlise. Esta compreenso
castrao (ROSA, 2006, p.4). tica o que impossibilitaria Psicanlise uma
Pensemos sobre o que a autora expe repreenso da toxicomania enquanto meio para
acima discutindo a definio de sade encon- obteno do gozo, o que no equivale a uma
trada no prembulo da Constituio da Organi- aceitao, mas abre caminhos novos para pro-
zao Mundial da Sade: Sade um estado blematizar a questo.
de completo bem-estar fsico, mental e social, e O primeiro problema que se impe a esta
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Sabe-se que a medicina alinhou sua prxis utilizao de drogas por volta do fim do sculo XIX e incio do sec. XX, anteriormente
o campo era culturalmente alinhado prtica religiosa/mstica ou seja, outro lao social que, possivelmente, influenciava de modo
diferente a possibilidade de satisfao por essa via. (GURFINKEL, 1995).
linguagem, pelo simblico. De uma forma mais recido pelo seu objeto-droga-escolhido (Grifos
simples: outrora, o paradigma era a palavra, na nossos).
qual o sintoma se fazia presente, hoje o para- Estamos falando, ento, que este gozo
digma o corpo, se goza nesse, e com esse. no corpo, gozo do Outro, distancia o sujeito to-
Assim, o sujeito contemporneo no suporta o xicmano dos valores flicos apontados pela
sofrimento, e para extrair de imediato essa dor, psicanlise, os quais compe o terreno do gozo
busca meios de acesso direto a esse gozo. flico (gozo obtido a partir das relaes, do tra-
Por essa modalidade de gozo no ser balho, da procriao, da cultura), culminando
balizada pelo simblico, Santos e Costa-Rosa num modo compulsivo de busc-lo, mais forte e
(2007) afirmam que este parece estar relaciona- mais radical que o gozo do consumista e do vi-
do com aquilo que outrora foi a mtica experi- ciado em jogatinas. A partir desta idia, podemos
ncia, e primeira, do uso da droga, ou melhor, precisar que o toxicmano procura, por meio da
daquilo que ficou registrado mnemicamente en- droga, fugir destes valores ditos flicos que so
quanto marca no simbolizada. O gozo que se impostos pelos ideais scioculturais, e assim,
obteve no primeiro encontro com a droga foi de como tal gozo no limitado pela linguagem, ou
tamanha suposta completude, que na toxicoma- seja, no lhe dado sentido por intermdio da
nia o sujeito marcha sempre em busca desta pri- palavra permeada pelo simblico, s pode ser
meira vivncia. limitado pela prpria morte, da que muitos esto
Desta forma, tem-se que o ato repetitivo sob risco constante da overdose; overdose da
de drogar-se est remetido diretamente a essa droga e do gozo que lhes transborda. (SANTOS
reminiscncia da primeira vivncia de satisfao e COSTA-ROSA, 2007)
com a droga, na qual o sujeito busca esse gozo Temos ainda a modalidade de gozo f-
nostlgico, porm, nunca o encontrando, e por lico, este ligado linguagem, mediado pelo
isso aumenta cada vez mais a dose e a frequn- simblico. Este gozo supe a possibilidade de
cia do uso da droga. ser nomeado, de ser significado e est ligado
Esse gozo no corpo no um organi- estruturao psquica atravs do recalcamento
zador da subjetividade destes sujeitos, assim (sabemos ser a neurose, mas no nos restrin-
como, o o gozo flico, e por hiptese, Santos giremos s estruturas clnicas), estando intima-
e Costa-Rosa (2007) alegam que parece haver mente ligado aos ideais scioculturais.
a uma possvel abertura subjetiva ao tratamen- Temos ento, que o toxicmano recusa o
to. Para melhor entender essa possvel abertura gozo flico, sendo que este se sustenta nas rela-
ao tratamento, faz-se necessrio visualizar dois es de poder, de dinheiro, de saber, e manifes-
modos de relao com o gozo no corpo, primei- ta-se tambm nas formaes do inconsciente,
ramente, um gozo que eventual, contingente, tais como chistes, atos falhos, sonhos, sintomas.
e, num segundo momento, um gozo que se faz Enfim, o sujeito toxicmano marginaliza-se das
necessrio. Parece que o gozo eventual est relaes ditas civilizadas (grifos nossos). Nas
associado a traos de narcisismo acentuado, palavras de Lemos (2004, p. 53): Se ele recusa
mais precisamente relacionado a uma estrutu- o gozo flico, seu gozo um gozo mortfero. O
rao por recalcamento, sendo justamente esta que equivale dizer: o significante mestre do toxi-
estruturao que manifestaria maior abertura cmano a morte.
ao tratamento. Por outro lado, temos ento um Assim, o gozo flico abolido, este que
gozo que se faz necessrio, um gozo que traz seria o gozo presente no sintoma, e surge a
em si a marca remota de uma experincia mti- um buraco que substitui a capacidade desejan-
ca, ou seja, de um objeto mtico, mgico, tal que te deste sujeito. Se a droga consumida como
faz com que o sujeito busque incessantemente aquilo que o preenche concretamente, ento,
pelo gozo obtido com este objeto, que est para podemos afirmar que a droga vem substituir o
sempre perdido. Para esses sujeitos, parar com sintoma, o que lhe garante um acesso imediato
a droga s possvel por meio da abstinncia e irrestrito ao gozo. (SANTOS e COSTA-ROSA,
forada, e na primeira oportunidade de encontro 2007)
com a droga, o sujeito retoma o ciclo. Nestes a Sabemos que no gozo flico este acesso
abertura ao tratamento parece mais restrita, jus- direto no possvel, pois este balizado pelo
tamente porque os sujeitos no se interessam falo, que funciona nesta modalidade de gozo
por outras formas de gozo, alm daquele ofe- como um regulador que abre e fecha as possi-
rstica especfica que retiraria a toxicomania da Transforma este sintoma do estatuto de respos-
categoria de sintoma, restando a questo: a toxi- ta ao de questo, em enigma para si, e assim,
comania ou no um sintoma? Santiago (2001a) enderea-o a outro ao qual supe saber uma
busca resolver esse impasse utilizando-se das verdade sobre este enigma. Ou seja, aquilo que
elaboraes tardias de Freud (Mal-Estar na Ci- para o sujeito era familiar, dado, era assim
vilizao). O autor concorda que o fenmeno da mesmo passa a ser percebido como estranho.
drogadio no pode ser compreendido a partir Para Quinet (1993), nesse momento em que o
do sentido clssico de sintoma (uma substitui- sintoma transformado em enigma ocorre a di-
o significante efetuada no retorno deformado viso do sujeito (O que isso em mim?), ou seja,
do objeto da pulso uma metfora), isso no o inconsciente entra em marcha. Desta forma,
se aplica a droga. instaura-se um sintoma analtico, endereado ao
No entanto, o autor enxerga no uso da sujeito suposto saber (o ser do analista), e este
droga a existncia de um outro processo de evento correlato ao estabelecimento da trans-
substituio, e este sim pode ser compreendi- ferncia, e a partir do advento desta que se
do como [...] signo da relao problemtica do instaura o processo analtico.
sujeito com a satisfao pulsional. (SANTIAGO, Contudo, sabemos que o sujeito-sujeita-
2001a, p. 30). O autor compreende a drogadi- do droga no faz demanda, eleva-se na condi-
o, a partir do texto O Mal-Estar na Civilizao, o de detentor de um saber do gozo que s ele
como [...] uma construo substitutiva que au- sabe, e que no supe este saber no outro (seja
xilia certos sujeitos a lidar com as adversidades o psiclogo, analista, ou outrem). Isto denota
que se interpem no caminho por eles escolhi- um impasse para o surgimento da transferncia,
dos para alcanar o bem (SANTIAGO, 2001, p. pois no h demanda, no h enigma, to logo
31). Assim, tem-se a toxicomania enquanto uma no h o sintoma analtico.
variante da funo substitutiva do sintoma, ela Eis a questo nodal da clnica psicana-
substitui a impossibilidade estrutural de vencer o ltica diante da toxicomania: possvel auxiliar
mal-estar. Ou, como afirmava Freud (1930), uma o sujeito a transformar o seu gozo toxicmano
tcnica vital, que substitui o sintoma enquanto em sintoma analtico? Santiago afirma que para
modo de arranjo pulsional. a psicanlise, o objetivo desvendar as razes
pelas quais a droga passa a ocupar um lugar
A Clnica Psicanaltica frente Toxicomania proeminente na economia pulsional do sujeito.
(SANTIAGO, 2001, p.30). Essa pergunta e esta
Diante do exposto at aqui, a marca inde- afirmao so a grande caixa de pandora desta
lvel que se faz notar no toxicmano a ausn- clnica. Devemos ento acompanhar o que vem
cia da palavra sua condio, essa dificuldade sendo discutido sobre isso, ou melhor, desven-
de dar sentido a uma experincia que pura sa- dar as razes pelas quais a droga assume esse
tisfao em ato. Segundo Santiago (2001a) dife- lugar notvel na vida do sujeito, e de que forma
rentemente da mensagem trazida pelo sintoma, a clnica psicanaltica pode fazer frente a este
na toxicomania h indiscutivelmente a presena fenmeno.
de acting-outs (aquilo que no mediado pela Santos e Costa-Rosa (2007) elencam
linguagem). Portanto, na clnica psicanaltica alguns relevantes obstculos encontrados no
desta, deve-se traar estratgias que viabilizem tratamento de toxicmanos. Inicialmente, aquilo
a retificao subjetiva, na qual possa emergir o que j expusemos aqui a respeito da dificulda-
sujeito dividido, por via da palavra. Mas o que de de nomear, de significar sua experincia com
seria a retificao subjetiva? a droga um dos mais notveis obstculos ao
Quinet (1993) elenca importantes fatores tratamento na clnica psicanaltica. Num outro
que determinam o incio de uma anlise, e so momento, eles discutem as prticas de interna-
estes que conduzem retificao subjetiva en- o, onde nas quais o principal recurso a abs-
quanto assuno do sujeito dividido, do sintoma tinncia forada, e que consequentemente esta
analtico e da transferncia. pausa com a droga s faz reforar a vontade de
O que circunscreve a retificao subjeti- usar a droga e obter o gozo. Esta prtica s re-
va o momento (em anlise) em que um sujeito afirma um lugar que eles j tm na sociedade,
passa a estranhar aquilo de sua vida que at en- o de estigmatizados, visto que estar internado,
to no lhe concernia, que no era importante. longe das drogas forosamente, os coloca num
J Torossian (2003) abre uma questo que precisa ser cada vez mais lapidada, princi-
bastante peculiar no que concerne clinica psi- palmente ao surgirem brechas nas quais o gozo
canaltica no tratamento das toxicomanias. O pri- com a droga no se faz presente. As primeiras
meiro ponto levantado diz respeito ao que esta falas, geralmente, so marcadas pelas aventu-
autora comumente ouve em relao psicanli- ras e fatos ocorridos com a droga, o que muitas
se enquanto recurso de tratamento, ou seja, de vezes testa a capacidade do analista em escutar
que esta no aconselhvel, pois supe-se que estas palavras aparentemente sem sentido, va-
estes sujeitos no entram em transferncia, e zias, mas que compem um cenrio propcio
que necessitam de um tratamento breve. (gri- transferncia.
fos nossos) Pouco a pouco, o objeto-droga vai sendo
Para essa autora, fato que h sim a substitudo pela palavra, e para Torossian (2003)
dificuldade do estabelecimento da transferncia o analista vai assumindo um lugar simblico
por estes sujeitos, contudo, no regra, ape- para este sujeito, abstendo-se de indicar pos-
nas uma caracterstica, o que no justifica a no sveis sadas, ou recursos de abstinncia, pois
utilizao da psicanlise enquanto meio de trata- esta no sua funo, mas comprometendo-se
mento. Segundo ponto, a ressalva de haver uma com a escuta do desejo inconsciente, daquilo
necessidade de tratamento breve coloca todo o que subjaz ao seu discurso manifesto.
foco na abstinncia, ou seja, coloca um poder na
droga, como se esta fosse a responsvel pelo Consideraes finais
uso desenfreado do sujeito. Isto aniquila o sujei-
to, tampona sua falta, e o coloca no estatuto de Frente ao nosso tempo, no qual o dis-
doente que precisa ser curado. curso do lao social investido de imperativos
Se as formas existentes de tratamento categricos de felicidade e completude, como
seguem este raciocnio de que este sujeito poderia atuar a psicanlise frente ao fenmeno
doente e precisa ser curado, ento se este es- da toxicomania? Esta foi uma das questes nor-
tiver abstmio estar curado, pois o problema teadoras deste trabalho, ao que temos clareza
a droga. Contudo, longe deste raciocnio, To- de no haver uma resposta pronta que venha
rossian (2003) afirma que a psicanlise enxerga reduzir a toxicomania a uma entidade, como se
com outros olhos este fenmeno da toxicomania. esta fosse uma estruturao subjetiva. Por inter-
Isto porque o psicanalista no trata da depen- mdio dos autores estudados pudemos visuali-
dncia qumica do sujeito, mas sim do sujeito da zar que tal fenmeno se apresenta em qualquer
dependncia qumica, entendendo que este se estrutura psquica e que s podemos compreen-
subjetiva numa sociedade que tem no consumo d-lo a partir dessa relao que se estabelece
um dos seus mximos valores (TOROSSIAN, entre o sujeito e a droga, relao nica que pode
2003, p. 10). ter traos caractersticos sim, contudo, esta rela-
Esta mesma autora alerta para que no o faz sentido para o sujeito, e s por meio de
haja uma desvalorizao de outras formas de sua fala que pode ser nomeada.
tratamento, como o medicamentoso, os grupos Laia (s/d) prescreve que a toxicomania
de autoajuda, tratamentos de substituio e re- se apresenta de modo muito singular: o sujei-
ligiosos, mas que possa haver, aliada a essas to se enuncia como sou toxicmano e ponto
outras modalidades de tratamento, uma escuta final; destitudo de qualquer mensagem ou que-
do inconsciente, uma escuta dirigida ao sujeito e rer dizer, e este o desafio, provocar o discurso
no qumica. onde o gozo balizado pela identificao a um
Outro ponto fundamental a escuta significante que no remete a nenhum outro
famlia, pois muitas vezes a demanda de ajuda sou toxicmano. O significante torna-se carto
vem por intermdio desta, e no raro a pr- de visita, d um nome satisfao pulsional e
pria famlia que abre caminhos, que traduz esse uma sada para o sujeito; para a questo do que
pedido de ajuda do sujeito que sofre, transfor- ele e como deve comportar-se. Cabe psica-
mando esse pedido em demanda endereada a nlise no tomar este enunciado em seu valor
outras direes que no o da droga. (TOROS- identificatrio, ou seja, no reduzir o sujeito
SIAN, 2003) toxicomania, desumanizando o ato toxicmano
a partir desta primeira solicitao de ao consider-lo simplesmente como um uso ex-
ajuda que vai se constituindo uma demanda cessivo de drogas. Onde s existe o significan-