Lacan, 1976
Lacan, 1976
Lacan, 1976
Resumo
O presente artigo é baseado numa pesquisa teórica, de referencial psicanalítico,
que trata do fenômeno da toxicomania em estruturas neuróticas e da dinâmica
psíquica do toxicômano, com especial destaque para a caracterização de seu
modo de gozo, tendo em vista o fato de a drogadição remeter aos impasses
do sujeito com seu objeto de gozo. Dentre os pressupostos que nortearam essa
pesquisa, ressaltamos a concepção da psicanálise enquanto um tratamento
possível para os casos de toxicomania. Ao abordar o uso de tóxicos, é impor-
tante destacar que nos restringiremos apenas àquelas formas de consumo em
que impera a dimensão compulsiva, na qual a substância assume um valor
soberano sobre a existência do sujeito, passando a regular sua vida. Desta-
camos ainda, que incluímos aqui o alcoolismo nos quadros toxicomaníacos, por
compreendermos tratar-se também de um fenômeno de toxicomania.
Palavras-chave: toxicomania, droga, gozo, sociedade contemporânea,
tratamento.
Abstract
This article is based on theoretical research, with psychoanalytic reference,
which deals with the phenomenon of drug addiction in neurotic structures
and the psychic dynamics of the drug addict, with particular emphasis on the
characterization of its mode of enjoyment, considering that the drug addic-
tion refer to the dilemmas of the subject with his object of enjoyment. Among
assumptions that guided this research, we emphasize the concept of psychoa-
nalysis as a possible treatment for cases of drug abuse. Broaching the use of
*
Artigo elaborado a partir de monografia apresentada no curso de Pós-Graduação Lato
Sensu “Psicanálise e Linguagem: uma outra psicopatologia”, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo.
**
Psicóloga do Setor de Atendimento Psicológico do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª
Região/SP. E-mail: luci.alves@uol.com.br
2 Gozo do Outro: designa o gozo do corpo, o gozo do ser, fora do simbólico e assexuado; não
é atingido pela proibição da castração.
[...] é porque falei de casamento que falo disso; tudo o que permite escapar
desse casamento é evidentemente muito bem vindo, donde o sucesso da
droga, por exemplo; não há nenhuma outra definição da droga que esta: é
o que permite romper o casamento com o pequeno-pipi. (p. 268, tradução
livre)3
3 Em francês: “(...) c’est parce que j’ai parlé de mariage que je parle de ça ; tout ce qui permet
d’échapper à ce mariage est évidemment le bienvenu, d’où le succès de la drogue, par exem-
ple ; il n’y a aucune autre définition de la drogue que celle-ci : c’est ce qui permet de rompre le
mariage avec le petit-pipi”.
4 Gozo fálico: tem no falo o centro de sua organização e uma referência permanente. É um
gozo sexual, que resulta da tradução do gozo corporal pelo significante, sendo, portanto, gozo
da fala, fora do corpo. É limitado e submetido à ameaça da castração.
liberalizar o uso da droga, mas medicalizá-la, ou seja, que ela seja prescrita
por médicos. Ele defendeu que a medicalização provocaria a deserotização
do produto.
Para concluir, não podemos deixar de ressaltar que o tratamento do
toxicômano constitui-se num dos grandes desafios lançados à práxis psica-
nalítica na contemporaneidade, o que torna absolutamente crucial que o
psicanalista não recue diante da complexidade de tais quadros. Apesar de
não ser função da análise “curar” a dependência, sabemos que a remissão
sintomática poderá vir como consequência da modificação da economia
psíquica do sujeito.
A responsabilidade do analista é possibilitar que o toxicômano,
homogeneizado por esse gozo mortífero, possa orientar-se pelo singular do
seu sintoma; numa tentativa de comprometê-lo com o possível acesso ao
próprio de seu desejo. Fazer passar pelo inconsciente o sujeito toxicômano
é a promessa do discurso analítico, para que um novo sujeito possa advir;
sujeito do desejo e não assujeitado às drogas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Contra Capa Livraria.