Poesia Trovadoresca Mix
Poesia Trovadoresca Mix
Poesia Trovadoresca Mix
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Perodo compreendido entre os fins do sc. XII 1434, ano em que Ferno Lopes foi
nomeado cronista-mor do reino.
Quase todas as literaturas se iniciam por obras em verso uma vez que a mais corrente
forma de comunicao a oral. Por outro lado, o verso torna a fala rtmica e facilita a
memorizao.
As origens desta forma de poesia so muito discutidas. Segundo uns, seria uma
reminiscncia da antiga poesia amorosa dos Romanos; segundo outros, procederia da
refinada poesia dos rabes da Pennsula Hispnica; outros ainda creem que fruto da
evoluo da poesia latina medieval.
() A lrica trovadoresca de origem provenal introduz-se na Pennsula por duas vias:
uma direta a das relaes poltico- culturais entre a Catalunha e uma parte da Frana
- ; outra o caminho francs-, que por Burgos, Leo e Astorga chegava a Santiago de
Compostela, influenciando decisivamente na formao de uma importante lrica
galaico-portuguesa.
Guillermo Diaz Plaja,La Literatura Universal
O que foi?
A primeira grande manifestao da L.P.
Uma poesia elaborada por trovadores e executada por jograis, acompanhada de msica,
canto e dana.
Poesia Trovadoresca
Cantigas de Amigo
Nas cantigas de amigo, o sujeito potico uma jovem que exprime o seu amor pelo seu amado
que designa por amigo.
uma rapariga do meio rural, cheia de juventude, de vida e de alegria, que confidencia s
amigas, me ou natureza a sua felicidade, as suas mgoas, as suas preocupaes, a sua
saudade do namorado que est muitas vezes ausente.
Cantigas de Amor
Nas cantigas de amor o sujeito potico um homem que exprime o seu amor pela sua amada
que designa por dona ou senhor.
Poesia Palaciana
Tal como na poesia trovadoresca, o amor continua a ser predominante, mas as formas
poticas so agora mais diversificadas. A estrutura mais usada a que consiste na utilizao de
um mote que desenvolvido na glosa.
Cobra: estrofe;
Copla: estrofe;
Finda: estrofe de um a trs versos que serve de remate e em que o poeta sintetiza o assunto da
composio;
Leixa-pren: processo pelo qual se retoma no incio de uma copla o ltimo verso da estrofe
anterior, embora alternando as ltimas palavras; tcnica de iniciar uma estrofe, repetindo o
ltimo verso da estrofe anterior.
Mordobre: repetio de formas diferentes do mesmo verbo no mesmo lugar em cada copla;
repetio de formas diferentes da mesma palavra (diferentes tempos verbais, palavras da
mesma famlia vocabular).
Perduda (palavra): verso branco ou solto, colocado na mesma posio em cada copla;
Poesia Trovadoresca
A) Verdadeiro
B) Falso
2 - Chegaram at ns trs colectneas de poesias: o Cancioneiro da Vaticana, o
Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Ajuda, todos eles contendo
composies que vo do sculo X ao sculo XV.
A) Verdadeiro
B) Falso
3 - Os trovadores mais famosos foram o rei Afonso X de Castela, o rei D. Dinis de
Portugal e Lus de Cames.
A) Verdadeiro
B) Falso
4 - Um dos principais traos que distinguem a cantiga de amigo da cantiga de
amor o facto de na primeira ser a donzela, ou namorada, quem fala, dirigindo-
se a seres da natureza, me ou a amigas num desabafo ou na narrativa breve
de um episdio relacionado com o seu amigo.
A) Verdadeiro
B) Falso
5 - Nas cantigas de amigo podemos encontrar o estado emocional da donzela e a
natureza a responder interpelao da donzela.
A) Verdadeiro
B) Falso
6 - Nas cantigas de amigo, o ambiente geralmente o do campo, da beira-mar,
da fonte, do adro da igreja e, eventualmente, o domstico.
A) Verdadeiro
B) Falso
7 - Consoante o ambiente em que decorrem, as cantigas de amor so
classificadas como bailias, cantigas de romaria, barcarolas, cantigas de fonte, ou
albas.
A) Verdadeiro
B) Falso
8 - Alguns dos trovadores que se distinguiram no gnero das cantigas de amigo
so Nuno Fernandes Torneol, Mendinho, D. Dinis, Airas Nunes e Martim Codax.
A) Verdadeiro
B) Falso
9 - O encavalgamento um processo potico que consiste em colocar no verso
seguinte uma ou mais palavras que completam o sentido do verso anterior ("O
anel do meu amigo, / perdi-o s lo verde pino").
A) Verdadeiro
B) Falso
10 - O paralelismo constitui uma das caractersticas estruturais da lrica galego-
portuguesa, consistindo na repetio simtrica de palavras, estruturas rtmico-
mtricas ou contedos semnticos. Nas cantigas de amigo, o paralelismo
consubstancia-se frequentemente no leixa-prem, um processo de articulao
estrfica, pelo qual o 2. verso da 1. estrofe retomado no 1. verso da 3.
estrofe, ao mesmo tempo que o 2. verso da 2. estrofe repetido no 1. da 4.
estrofe, e assim sucessivamente, mantendo invarivel o refro, ao mesmo tempo
que cada par de dsticos realiza um paralelismo semntico.
A) Verdadeiro
B) Falso
11 - Fortemente influenciada pelo lirismo provenal, na cantiga de amor, o
trovador, fazendo eco de um ideal de amor corts, exprime o seu amor
correspondido por uma dama equiparada a um suserano a quem o amante deve
um servio de amor consubstanciado em atitudes de louvor, fidelidade,
abnegao.
A) Verdadeiro
B) Falso
12 - Formalmente, a cantiga de amor apresenta um maior investimento que as
cantigas de amigo na variao dos esquemas mtricos, rtmicos e retricos, numa
predominncia das cantigas de mestria sobre as de refro, no recurso "at-
fiinda", ao dobre e mordobre.
A) Verdadeiro
B) Falso
13 - Predominante nas cantigas de amor dos trovadores galego-portugueses, a
cantiga de mestria uma composio que se caracteriza pela presena de refro.
A) Verdadeiro
B) Falso
14 - "At fiinda" um recurso potico usado pelos trovadores galego-
portugueses, em composies formalmente mais complexas e que consiste em
encadear sintacticamente e de forma ininterrupta os versos e as estrofes de uma
composio.
A) Verdadeiro
B) Falso
15 - Dobre uma tcnica retrica que consistia na repetio, ao longo do poema,
de palavras no mesmo ponto do verso ou estrofe. Ao contrrio do mordobre, a
palavra reiterada, por vezes sob a forma de trocadilho, no era flexionada.
A) Verdadeiro
B) Falso
16 - A cantiga de maldizer distingue-se da cantiga de escrnio pelo facto de na
primeira a stira ser menos directa, baseando-se em trocadilhos e ironias, sem
identificar a pessoa satirizada, ao contrrio do que sucede nas cantigas de
escrnio, que por vezes chegam a ser grosseiras.
A) Verdadeiro
B) Falso
17 - O repertrio lingustico da stira pessoal, social, moral, religiosa e poltica,
surpreende pela sua amplitude e recorrente obscenidade, transmitindo
involuntariamente informaes mpares sobre a mentalidade e cultura laica
medievais.
A) Verdadeiro
B) Falso
18 - Entre os trovadores que as cultivaram, contam-se Joo Garcia de Guilhade,
Martim Soares, Afonso X, Pero Gomes Barroso e Gil Vicente.
A) Verdadeiro
B) Falso
2 PR-REQUISITO:
interpretar textos
relacionar o perodo literrio da lngua portuguesa aos principais eventos
histricos ocorridos em Portugal
AUTO-AVALIAO
Responda estas questes antes de ler qualquer texto deste Roteiro. Atribua 05
pontos para cada resposta correta. Se voc alcanar 80 pontos na soma total,
parabns! Voc no precisa estudar este Roteiro, pois j domina suficientemente o
contedo existente nele. Caso contrrio, leia as orientaes das Atividades de Estudo.
a. ( ) 1139 b. ( ) 1128
a. ( ) a autoria b. ( ) o eu-lrico
Baseado nas caractersticas do perodo literrio a que pertence o texto acima, escreva
as palavras que completam as lacunas da frase abaixo:
se amigo amar,
13. Coube ao sculo XIX a descoberta surpreendente da nossa primeira poca lrica.
Em 1904, com a edio crtica e comentada do Cancioneiro da Ajuda, por Carolina
Michaelis de Vasconcelos, tivemos a primeira grande viso de conjunto do valiosssimo
esplio descoberto. (Costa Pimpo).
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Gabarito
1. c 2. D 3. B 4. D 5. A 6. c 7. B 8. B 9. D 10. B
14. Letra A
15. Letra A
16. A Cantiga da Ribeirinha.
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Essas datas nos mostram que o incio da literatura portuguesa est bem prximo
da Independncia de Portugal, conquistada em 1128, mas reconhecida por Castela
apenas em 1143.
Um movimento como o das Cruzadas que procurava sublimar, na guerra contra o infiel,
as grandezas e misrias da combatividade e da ganncia; uma criao como a catedral
gtica ou como a Divina Comdia, de Dante (sculo XIII), que erguiam morada de um
Deus pessoal, de presena vivamente sentida, os prprios anseios que partiam das
profundezas torvas das almas, tal como as agulhas e flechas se erguiam dos subterrneos
das fundaes; uma obra de pensamento como a Summa Theologica, que era, na ordem
do saber, como na ordem do poder, a teocracia de Gregrio Magno, a tentativa e o esforo
de tudo subordinado a Deus interesses da inteligncia tanto como da vontade e tudo
coroado pela Imitao de Cristo, alto voo mstico, que fecha, no sculo XV, na ordem da
inteligncia, a ascese que na ordem da ao o franciscanismo realizara eis os aspectos
que definem a Idade Mdia como a idade do que podemos chamar de Teocentrismo.
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O Trovadorismo tambm conhecido como poca Provenal, tem esse nome em razo
de que na regio sul da Frana, conhecida como Provena, foi desenvolvido entre os
sculos XI e XIII, a arte dos trovadores. Nessa poca, os cavaleiros permaneciam mais
tempo em suas casas, a vida nos castelos j tinha uma organizao intensa, seus
sales eram um polo fundamental de convvio e as mulheres comearam a adquirir
uma posio importante dentro dessa organizao, especialmente no sul da Frana.
No que tange literatura, a Frana teve dois polos que emanaram influncias
importantes para o mundo literrio da poca: ambos desprezavam o Latim como meio
de expresso e ambos refletiram diferentes aspectos do mundo medieval. A Regio
Norte da Frana produziu uma literatura pica, de carter guerreiro e individualista,
em que a mulher exercia uma funo secundria: so os trouvres com sua pica. Na
Regio Sul da Frana, onde o feudalismo levou mais tempo para se diluir, surgiu uma
lrica sofisticada, da qual o amor e a mulher eram os temas centrais: so
os troubadours (trovadores) com sua lrica. Foi a partir dessa duplicidade que a
literatura europeia se expandiu.
Apesar de o lirismo trovadoresco ter declinado na Frana a partir do sculo XIII com
as intervenes da Igreja Catlica, que passou a impor o culto Virgem Maria como
tema aos trovadores sua influncia j era percebida em toda a Europa, cujos pases
souberam incorpor-la s suas prprias tradies. Foi o que aconteceu em Portugal.
um dos reis de Portugal, D. Afonso III, viveu vrios anos na Frana e quando
retornou a Portugal trouxe na sua comitiva, trovadores provenais e um padre
para cuidar da educao de seu filho, D. Dinis, este que foi um dos maiores
trovadores lusitanos.
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A vida cotidiana, a saudade do amigo que partiu para a guerra, o cime, a indignao,
a vaidade de se saber bela, encontros fortuitos, bailes, festas, o colorido do mundo
medieval portugus podem ser identificados nessas cantigas. Elas possuem uma tal
beleza que permite ao leitor entrever os sentimentos que as motivaram. Na maior
parte das vezes, a mulher no se dirige diretamente ao homem amado adota uma
confidente que pode ser a amiga, a irm, a me ou um elemento da natureza. Veja o
exemplo abaixo:
Vocabulrio
5 por que ei gran coitado: por quem eu tenho muito carinho, cuidado
Ora, sabemos que esse tipo de poesia saiu dos palcios, foi feita principalmente por
nobres e a impossibilidade do trovador ter o seu desejo realizado ocorreria apenas em
tese. Trata-se, portanto de um fingimento potico.
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Vocabulrio
2 mentre: enquanto
3 c: porque
4 moiro: morro
9 semelha: parece
10 dhaver eu por vos guarvaia: que eu deva receber, por vosso intermdio, um traje
de luxo
So poemas satricos que usam a stira indireta (cantigas de escrnio), ora a stira
direta (cantigas de maldizer). Pelo seu carter circunstancial, as cantigas satricas so
consideradas inferiores s lricas, apesar de documentarem, atravs da ironia, os
costumes da sociedade da poca.
Com a finalidade de fazer crticas mordazes e com humor, muitos eram os temas das
cantigas satricas: os costumes, principalmente do clero; a covardia; a decadncia de
alguns nobres; os vilos (aqui se referem s pessoas que moravam nas vilas
medievais); o adultrio das damas; os homens sovinas; os pobres que viviam de
aparncia; as mulheres feias; os beberres.
casal abenoado!
O amor tempera
Anima o noivado:
O tdio se oblitera.
casal abenoado
Socorro! Socorro!
Estamos fritos,
Pobres e aflitos!
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Exerccios:
____________________________________________________________
Gabarito
a. cantiga de amor
b. cantiga de maldizer
c. cantiga de amigo
d. cantiga de escrnio
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O trovador O trovador
assume o eu- assume o eu-
lrico lrico
masculino: o feminino: a
homem quem mulher quem
fala. fala.
O cenrio a O cenrio o
natureza e a campo, o mar
corte e a casa
LEITURA COMPLEMENTAR
O amor corts
Alis, os casamentos entre a gente nobre faziam-se por convenincia e no por amor.
Assim, o amor era algo de que senhor dispunha para conceder ao trovador que,
encontrando-se ao seu servio, ela achasse digno de receber o respectivo galardo,
que podia ir ao extremo limite de favores corporais. Mas o galardo podia ser
apenas (e era-o geralmente) a pura aceitao pela dama, do pleito de vassalagem do
trovador.
POESIA TROVADORESCA
ESTRUTURA SOCIAL
Clero
O clero constitua uma classe aberta, na medida em que os seus membros
eram recrutados entre o povo e a nobreza. No era uma classe homognea e h que
distinguir entre oalto clero (bispos, abades e outros dignitrios) e o baixo clero. Era
tamb uma classe privilegiada: era isenta do pagamento de impostos; regia-se por
um direito prprio, tendo tribunais especficos e certos direitos sobre alguns estratos
populares na rea sob seu domnio.
Pela natureza das suas funes constituam a classe mais culta, a nica
sistematicamente alfabetizada, o que explica que a cultura literria da Idade Mdia
seja marcadamente religiosa.
Nobreza
Ao contrrio do clero, era uma classe fechada, visto que a condio de
nobre era herdada com o nascimento era nobre o filho de nobre. No entanto, o rei
podia nobilitar membros destacados da burguesia, como forma de recompensar os
seus servios.
Tambm no era uma classe homognea. No sculo XII existiam ricos-
homens, infanes e cavaleiros. Dois ou trs sculos depois continuamos a
encontrar nela estratos diferenciados, embora com designaes diferentes: vassalos
do rei, cavaleiros e escudeiros. Era tambm uma classe privilegiada: possua
iseno de impostos e direito prprio. O seu poder econmico vinha-lhe da posse da
terra e do domnio que exerciam sobre os servos, que deviam ao seu senhor trabalho
no remunerado e o pagamento de taxas diversas.
Povo
Tambm no era uma classe homognea. Os vilos eram homens livres,
mas entre eles havia os mais abastados, que tendiam pela riqueza e pelo
comportamento a aproximar-se da nobreza, a que alguns chegaram a ascender, e
outros que viviam pobremente. Os servos (ou semi-servos) no tinham o mesmo
grau de liberdade dos vilos. Estavam na dependncia de um senhor, nobre ou
religioso, para o qual tinham de trabalhar. medida que os sculos passaram os
servos foram ascendendo condio de homens livres, engrossando as fileiras dos
vilos.
Na sociedade medieval, os escravos foram sempre em nmero reduzido.
Basicamente este grupo era constitudo por cativos de guerra (mouros).
Letrados
Distinguem-se pela sua formao literria. Quase sempre oriundos da
burguesia (a camada superior do povo) desempenham na sociedade tarefas
especializadas para as quais adquiriram formao especfica: fsicos (mdicos),
boticrios, tabelies... Muitas vezes esses letrados eram membros do clero.
Pela sua formao, ocupavam frequentemente posies importantes da
administrao rgia.
CULTURA
Poesia trovadoresca
A expresso "poesia trovadoresca" utilizada para designar as composies
em verso produzidas na pennsula ibrica, entre os finais do sculo XII e meados
do sculo XIV. Trata-se de um conjunto de cerca de 1600 cantigas de carcter
profano, a que poderemos acrescentar cerca de 400 poemas de contedo religioso.
Esses poemas foram reunidos em cancioneiros diversos, tendo chegado at
ns trs deles. O mais antigo, provavelmente uma cpia do sculo XIV, o
chamado Cancioneiro da Ajuda. Conhecem-se outros dois, posteriores e mais
completos, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Vaticana, ambos
cpias feitas no sculo XVI, em Itlia, a partir de um manuscrito mais antigo.
Apesar de escrita em galaico-portugus, no se trata de uma poesia
estritamente portuguesa e galega, mas sim peninsular, uma vez que os cerca de 150
trovadores e jograis que as produziram eram oriundos de diversas regies da
pennsula. Esses trovadores eram geralmente nobres, enquanto os jograis, que
cantavam as cantigas nas feiras, romarias e at palcios, eram de origem popular.
Nesses cancioneiros encontramos
cantigas de amigo, em que o sujeito potico uma donzela que
exprime os seus sentimentos amorosos pelo amado (amigo);
cantigas de amor, nas quais o poeta d expresso ao seu amor por
uma dama.
cantigas de escrnio e maldizer; de carcter satrico, como o nome
indica, distinguindo-se pelo facto de as primeiras no nomearem
directamente a pessoa a que se referem, o que acontece no segundo
grupo.
CANTIGAS DE AMIGO
Lirismo feminino
As cantigas de amigo so uma das manifestaes da poesia trovadoresca.
Tm em comum com as cantigas de amor o facto de a sua temtica ser amorosa,
mas, enquanto nestas o sujeito potico o homem, naquelas a mulher que
exprime os seus sentimentos para com o "amigo".
Do ponto de vista didctico, as cantigas de amigo tm uma vantagem
suplementar: permitem distinguir com clareza o autor (ser real, com existncia
emprica cronologicamente datvel) do sujeito potico (um ser de fico, que s
existe verdadeiramente no poema).
Ora, nos primrdios da literatura portuguesa, exactamente nas cantigas de
amigo, encontramos j essa distino feita com absoluta clareza. Assim, sabemos,
sem margem para dvidas, que o trovador (ou jogral) Pro Viviaez comps a cantiga
"Pois nossas madres vam a San Simion", na qual uma donzela exprime o seu desejo
de exibir a sua graa e beleza na festa do santo.
Verso A Verso B
Refro Refro
1 par 2 par
Verso A Verso B
Refro Refro
CANTIGAS DE AMOR
O amor corts
O amor o tema predominante dos seus poemas. Neles um trovador nobre exprime o seu amor
por uma dama, inacessvel, pertencente a um estrato superior da nobreza. Trata-se de um amor
idealizado, de inspirao platnica, sentimento puro, em que o impulso sexual sublimado, porque o seu
objecto inacessvel. Da o sofrimento (a coita de amor), mas tambm o prazer de amar na esperana
de uma improvvel compensao.
Esse servio amoroso, que o trovador deve sua dama, rege-se por normas estritas:
O amor pela dama devia ser expresso de forma comedida (mesura), de forma a no incorrer
no seu desagrado (sanha);
A identidade da dona deveria ser escondida, referindo-se a ela, quando necessrio, atravs
de um pseudnimo (senha);
A vassalagem amorosa decorria em quatro fases: fenhedor o trovador limita-se a exprimir
o seu sofrimento; precador ousa dirigir pedidos dama; entendedor o sentimento do
trovador correspondido; drut o poeta transforma-se em amante.
Tendo surgido em ambiente palaciano e obedecendo a regras rgidas, a
poesia provenal apresenta com frequncia um carcter artificial. Os motivos
repetem-se de poeta para poeta e a preocupao formal sobrepe-se expresso
dos sentimentos.
A par da poesia lrica encontramos nos trovadores a poesia satrica. A tendncia para criticar os
vcios e os defeitos dos outros caracterstica de todas as sociedades e de todas as pocas. Por isso
no de estranhar que os trovadores tenham aplicado os seus dotes poticos ao exerccio da crtica
individual e social.
Nas cantigas de escrnio a crtica feita de forma encoberta, sem que o objecto de crtica seja
claramente identificado. Nas cantigas de maldizer a vtima da crtica claramente identificada.
Esses poemas satricos tm um grande valor documental, visto que nos revelam qual a reaco
das pessoas face a determinados acontecimentos e situaes. Atravs dessas cantigas podemos
perceber melhor a sociedade da poca e ter acesso a informaes que outros documentos, mais
impessoais, no revelam.
Poesia Palaciana
Com o desenvolvimento do capitalismo, o surgimento de uma mentalidade mais prtica, a morte
de D.Dinis em 1325, a nova dinastia de Avis, que era menos requintada e mais austera, e as mudanas
formais de texto, a poesia no encontrou ambiente favorvel para seu cultivo. No se conservam textos
lricos portugueses entre a morte de D. Pedro, conde de Barcelos, e o final do sculo XV. A tradio dos
jograis entrara em declnio, sendo substituda por uma literatura escrita. Por outro lado, provvel que
eventuais compilaes da lrica deste perodo se tenham perdido.
Em 1516, Garcia de Resende, homem ligado aos crculos da corte, editou uma compilao dos
textos poticos das cortes de D. Afonso V, D. Joo II e D. Manuel I, o clebre Cancioneiro Geral.
Seguindo o exemplo que vinha de Espanha, recolheu muitos dos poemas que haviam sido produzidos no
ambiente palaciano por numerosos poetas, ao longo de dezenas de anos. A obra rene cerca de mil
poemas, a maioria de temtica amorosa ou satrica, escritos por quase trezentos poetas. Vrios deles
esto escritos em castelhano, o que era natural na poca, dado o prestgio da literatura espanhola na
poca e o bilinguismo da corte portuguesa.
Com esta iniciativa, evitou que muitas dessas produes poticas desaparecessem, dado que os
poemas circulavam manuscritos e acabariam inevitavelmente por desaparecer, juntamente com os seus
autores e a moda do poetar palaciano.
Mas preservar o patrimnio potico do seu tempo no foi o seu nico objectivo. Com esse gesto
pretendia incentivar os seus contemporneos redaco de obras de maior flego, nomeadamente
textos de carcter pico que imortalizassem os feitos dos portugueses. Era tambm uma forma de afirmar
ao mundo o prestgio do rei e do pas.
Parte da poesia palaciana era obrigada a mote, sendo este constitudo por uma pequena estncia
(quatro ou cinco versos no mximo), que expunha um tema a retomar pelo trovador, e cujo ltimo verso
(ou ltimos) devia repetir-se textual ou aproximadamente no fim da glosa, ou volta. Funcionando como
estmulo verbal e contendo sentido corts, moral ou satrico, o mote nem sempre correspondia a uma
emoo sentida, podendo a provenincia ser alheia, ou aparecer annimo por ser do conhecimento
pblico. Assim, nos "seres do pao", s damas competia dar o mote, que os seus admiradores
desenvolviam por meio de glosa ou volta (estncia com um nmero variado de versos).
A poesia obrigada a mote abrange a maior parte das composies compiladas no Cancioneiro
Geral e perdurou no sculos seguinte alcanando a maior voga no sculo XVII.
Vilancete: formado por um mote de 2 ou 3 versos e uma glosa ou volta que pode ter uma ou vrias
coplas de 7 versos.
A primeira quadra forma a cabea da estrofe, sendo os trs ltimos versos a cauda. O primeiro
verso rima com o ltimo da cabea e os dois ltimos com os dois versos finais do mote.
Esparsa: constituda por uma trova em verso de arte menor, que pode contar de 8 a 16 versos,
sendo destinada a cantar assuntos tristes. No estava obrigada a mote. de origem provenal.
Trovas: composies de forma livre, constitudas por um nmero varivel de coplas. As oitavas so
geralmente duas quadras, por vezes independentes pela rima. Por vezes formam longos poemas
narrativos. Outras vezes so perfias, que derivam do gnero trovadoresco teno.
Variedades temticas
Grande diversidade:
A personificao dos olhos e do corao adquire o valor de uma alegoria simblica: exprimindo
o estado de alma do poeta, sugere simultaneamente o desdobramento da personalidade, justificando a
estrutura dialogante da composio potica.