Tratado de Fonoaudiologia PDF
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Audiologia
Clnica
2 Fonoaudiologia Prtica
Deficincia Auditiva 3
1
Deficincia Auditiva
CLASSIFICAO
As perdas de audio podem ser classificadas segundo a sua
localizao topogrfica (condutivas, sensorioneurais, mistas, cen-
trais e funcionais) ou conforme sua expresso clnica (hipoacusia,
disacusia, surdez e anacusia).
FIGURA 1.1 Corte das trs orelhas (externa, mdia e interna) com a limitao topogrfica das leses
fundamentais: condutivas, sensoriais e neurais.
6 Fonoaudiologia Prtica
DEFINIES
fundamental o conhecimento adequado dos termos empre-
gados para exprimir as vrias formas de deficincia auditiva, a fim
de evitar confuses, especialmente numa rea onde a maioria dos
termos de conceituao recente e em funo do emprego de
novas tcnicas de semiologia. Foi HALLOWELL DAVIS, em seu livro
HEARING AND DEAFNESS, quem procurou definir de modo correto
estes termos.
Hipoacusia
A hipoacusia expressa uma diminuio na sensitividade da
audio. H uma diminuio dos limiares auditivos sem, no
entanto, expressar qualquer alterao da qualidade da audio.
Assim sendo, na hipoacusia o paciente escuta menos os sons
menos intensos, mas, com o aumento da intensidade da fonte
sonora, ele poder escutar de modo bastante adequado. As
perdas de audio relativas hipoacusia so expressas em
decibels, nas curvas audiomtricas. Para DAVIS a hipoacusia se
inicia quando a perda de audio maior que 27 dB NA na mdia
das freqncias da fala e vai at 92 dB NA.
Disacusia
A disacusia expressa um defeito na audio. Defeito este que
no pode ser expresso em decibels. Nela, as alteraes da
discriminao auditiva so as responsveis pela qualidade da
audio. Nestes pacientes, mesmo que se aumente a intensidade
Deficincia Auditiva 7
Surdez
A palavra surdez tem sido empregada para designar qual-
quer tipo de perda de audio, parcial ou total. Recentemente,
a surdez adquiriu novo significado. Surdo um termo muito forte
e depreciativo da condio do indivduo, da a tendncia atual
em utilizar deficincia auditiva em seu lugar. Concordamos
com D AVIS, quando procura dar palavra surdez uma definio
mais precisa. Em ingls deafness tinha o mesmo significado que
surdez, sendo substituda mais recentemente por hard of hearing,
e deafness passou a significar perda de audio profunda, isto
, quando a mdia das trs freqncias da fala maior que 93
dB NA.
Surdez significa audio socialmente incapacitante. O surdo
incapaz de desenvolver a linguagem oral, evidentemente por-
que no a ouve. Os limiares auditivos destes pacientes so de tal
forma elevados, que no conseguem escutar o som de modo
adequado. Escutam rudos, mas no sons. As perdas de audio
so maiores que 93 dB nas freqncias de 500, 1.000 e 2.000 Hz
(como sugere DAVIS).
Anacusia
Literalmente significa falta, ausncia de audio. diferente
de surdez, onde h resduos auditivos. Na anacusia, o comprome-
timento do aparelho auditivo de tal ordem que no h nenhuma
audio.
AVALIAO DA AUDIO
A avaliao da funo auditiva pode ser feita atravs de vrios
testes que nos informam sobre a sua origem, localizao, qualida-
de, evoluo, prognstico, etc. Os testes mais empregados so os
8 Fonoaudiologia Prtica
Diapases.
Audiometria tonal.
Discriminao auditiva.
Imitanciometria.
Audiometria automtica de Bksy.
Teste de Fowler.
Teste SISI.
Teste tone decay.
Audiometria de tronco cerebral.
Eletrococleografia.
Emisso otoacstica.
Zumbidos
Nas deficincias auditivas condutivas, os pacientes podem
apresentar queixa de zumbidos. Costumam compar-los com
rudos de tonalidade grave como cachoeira ou rudo das ondas do
mar. Nas sensorioneurais relatam como sendo semelhante a uma
cigarra ou um apito, etc.
Falar baixo
Os condutivos, quando bilaterais, costumam falar baixo. Eles
escutam bem a prpria voz (tm audio pela via ssea conservada)
e, quando falam, baixam propositadamente a voz, pois a escutam
por via ssea e no podem controlar seu volume de modo adequado.
Deficincia Auditiva 9
Paracusias
Muitos pacientes apresentam alguns fenmenos interes-
santes, denominados de paracusia. Isto , em presena de
rudo ambiental escutam melhor que em ambientes silenciosos.
No rudo, as pessoas tendem a aumentar o volume de sua voz,
ultrapassando os limiares da perda auditiva e assim os deficien-
tes auditivos escutam melhor, constituindo a denominada
paracusia de Willis. Quando mastigam, pelo fato de escutarem
o rudo da mastigao, os hipoacsicos escutam pior. Esta
denominada paracusia de Weber.
Rinne negativo
Aos testes de diapaso apresentam Rinne negativo na orelha
comprometida, ou em ambas quando bilateral. Quando unilate-
rais, o Weber lateraliza para o lado pior e quando bilaterais o
Weber central. O teste de Schwabach prolongado na orelha
condutiva e o Friedreich mais ouvido no trago.
Discriminao
Como assinala DAVIS, a discriminao nas orelhas condutivas
sempre 100% e quando houver algum comprometimento da
discriminao haver sempre algum componente sensorioneural.
Perda mxima de 60 dB NA
O gap mximo que poder ser encontrado de 60 dB NA. O
encontro de diferenciais maiores entre as vias area e ssea,
certamente correr por conta de algum erro na execuo da
audiometria tonal.
Critrios de certeza
Os seguintes achados so considerados como critrios de
certeza para o diagnstico de uma hipoacusia:
Sensorioneurais
Caractersticas gerais
Voz alta (quando bilateral) uma caracterstica importante,
pois nos condutivos bilaterais a tendncia inversa. Quanto maior
a perda auditiva, maior a tendncia de elevar o volume da voz.
Esta apresenta-se distorcida nas perdas mais severas, pela
impossibilidade do paciente ouvir a prpria voz. Em crianas,
quando a deficincia surge aps o aprendizado, a tendncia a
progressiva reduo da qualidade vocal, enquanto que, quando
pr-aprendizado, a tendncia de no haver desenvolvimento da
palavra falada.
O zumbido de tonalidade mais aguda, comparado a uma
cigarra ou um apito intermitente ou no e que se acentua no
silncio, especialmente noite, dificultando o sono. O prprio
zumbido pode dificultar o entendimento da palavra, agravando
ainda mais o problema. No costuma responder terapia habi-
tualmente empregada e tem uma tendncia a diminuir com o
tempo (muitos pacientes se habituam e acabam por ignor-lo).
H ausncia de gap, ao contrrio das condutivas. A curva
area tende a acompanhar a via ssea, quer nos graves ou nos
Deficincia Auditiva 17
Caractersticas
Quando a perda de audio apresenta caractersticas
condutivas e sensorioneurais, diz-se que mista. Pode se iniciar
como condutiva, como na otosclerose, otites crnicas e evoluir
com caractersticas sensorioneurais causadas pela mesma etio-
logia inicial ou por outra causa associada. O inverso muito difcil
de acontecer, isto , iniciar como sensorioneural e evoluir com
caractersticas condutivas.
Deficincia Auditiva 23
Caractersticas
As emisses otoacticas podem ser encontradas com am-
plitudes dentro da normalidade, e no teste de BERA no encon-
tramos respostas.
Limiares auditivos normais Os limiares audiomtricos,
quando possvel de ser obtidos, estaro nos limites da normalidade.
Discriminao muito ruim A complexidade da comunicao
verbal faz com que as maiores dificuldades estejam na inteligibili-
dade das palavras, na impossibilidade da codificao da linguagem
e da imagem auditiva. Estes pacientes no interpretam mensagens
complexas, podendo, no entanto, obedecer ordens simples.
Comprometimentos neurolgicos So muito significati-
vos, impedindo uma adequada avaliao destes pacientes. Nesta
24 Fonoaudiologia Prtica
Caractersticas
Sendo funcionais e no havendo leso orgnica, os testes
objetivos revelam-se absolutamente normais. Os problemas emo-
cionais, como ansiedade neurtica, conflitos de personalidade e
histeria, costumam ser causas freqentes. Pacientes que simulam
perdas de audio, com determinadas finalidades, tambm podem
aqui ser englobados. Costumam ser de incio sbito, apresentando
flutuaes da audio com curvas audiomtricas inconsistentes.
Diagnstico instrumental O diagnstico destas deficincias
auditivas s poder ser feito utilizando-se testes especiais (Stenger),
ou mesmo mtodos objetivos como imitanciometria, eletrococleo-
grafia, audiometria de tronco cerebral e emisses otoacsticas.
Leitura recomendada
DAVIS, H. & SILVERMAN, S. R. Hearing and Deafness . 4 ed. New
York, Holt, Rinehart & Wilson, 1978.
DELK, J. Comprehensive Dictionary of Audiology. Iowa, The Hearing
Aid Journal, 1974.
HUNGRIA, H. Otorrinolaringologia. 6 ed. Rio de Janeiro, Guanabara
Koogan, 1991.
KEITH, R. W. & PENSAK, M. L. Central auditory function in clinical
audiology. Otol. Clin. N. Amer., 24:2, 1991.
LOPES FILHO, O. et al. The early diagnosis of a glomic tumor in the
middle ear by means of acoustic impedance. Imp. News Letter,
1(5):1972.
LOPES FILHO, O. et al. Produtos de distoro das emisses
otoacsticas. Rev. Bras. Otorrinol. , 61(6):485-494, 1995.
LOPES FILHO, O. et al. O estudo comparativo entre a emisses
otoacsticas transitrias e produtos de distoro em recm nasci-
dos de berrio. Caderno de Otorrinolaringologia. A Folha Mdica,
112 (Supl.1): p. 85, 1996.
LOPES FILHO, O. et al. Emisses otoacsticas transitrias e produtos
de distoro na avaliao da audio em recm-nascidos com
poucas horas de vida. Rev. Bras. ORL, 62(3):220-228, 1996.
PORTMANN, M. & PORTMANN, C. Audiometria Clnica. Toray-
Mason, Barcelona, 1967.
RINTELMANN, W. F. et al . Pseudohypacusis in clinical audiology. Otol.
Clin. N. Amer., 24:2, 1991.
SATALOFF, J. Hearing Loss. Philadelphia, J. B. Lipincot Co., 1966.
Perda Auditiva de Origem Gentica 25
2
Perda Auditiva de Origem
Gentica
Ldio Granato
Carla Franchi Pinto
Maristela de Queirz Ribeiro
I
1 2
II
1 2 3 4 5
III
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
IV ?
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
FIGURA 2.1 Heredograma de uma genealogia hipottica (cortesia do Prof. Dr. BERNARDO BEIGUELMAN).
Perda Auditiva de Origem Gentica 27
Anomalias cromossmicas
O caritipo, ou seja, a constituio cromossmica de um
indivduo normal constitudo de 23 pares de cromossomos (cada
par formado por um cromossomo de origem materna e outro de
origem paterna). Vinte e dois pares de cromossomos so seme-
lhantes em ambos os sexos e so chamados autossomos. O par
restante constitui os cromossomos sexuais . Os cromossomos
foram convencionalmente reunidos em 7 grupos (de A at G) de
acordo com o seu tamanho e com a posio de sua constrio
28
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12 X
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22 Y
FIGURA 2.2 Caritipo com bandamento G de um homem normal (46,XY) (cortesia do Servio do Prof.
Dr. WALTER PINTO JNIOR).
Perda Auditiva de Origem Gentica 29
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12 X
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22
FIGURA 2.3 Caritipo com bandamento G de uma mulher normal (46,XX) (cortesia do Servio do Prof.
Dr. WALTER PINTO JNIOR).
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12 X
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22
A
14 1421 21
1 2 3 4
FIGURA 2.5 Esquema representativo da gametognese de um indivduo com caritipo 45,XX ou XY,
t(Dq21q) e do resultado da unio dos gametas desse indivduo com os de um indivduo normal. A)
Cromossomos das gnias. B) Cromossomos dos gametas. C) Cromossomos dos zigotos. 1. Com
caritipo normal. 2. Com a translocao robertsoniana. 3. Com a trissomia funcional do cromossomo
21, que determina a sndrome de Down. 4. Com monossomia do cromossomo 21 que, em geral,
determina inviabilidade (cortesia do Prof. Dr. BERNARDO BEIGUELMAN).
Perda Auditiva de Origem Gentica 31
II
III
2 2 2
IV
FIGURA 2.6 Heredograma de uma genealogia com padro de herana autossmica dominante
(cortesia do Prof. Dr. BERNARDO BEIGUELMAN).
II
III
II 2 2
III 9 2 2
IV 4 4 2 5 2 2 6 2
FIGURA 2.7 Heredogramas de duas genealogias com padro de herana autossmica recessiva
(cortesia do Prof. Dr. BERNARDO BEIGUELMAN).
34
I
1 2
II
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
III 2 2 2
1 2 3 6 7 8 11 12 13 14 15 16 19 20 21 22
4-5 9-10 17-18
FIGURA 2.8 Heredograma de uma genealogia com padro de herana dominante ligada ao X. As
mulheres portadoras apresentam quadro clnico mais brando (cortesia do Prof. Dr. BERNARDO
BEIGUELMAN).
II
III 3
IV
2 2 3 2 2
V
FIGURA 2.9 Heredograma de uma genealogia com padro de herana recessiva ligada ao X (cortesia
do Prof. Dr. BERNARDO BEIGUELMAN).
Congnita
A maior parte dessas perdas so de natureza sensorioneural,
decorrentes de alteraes estruturais e(ou) funcionais do ouvido
interno, de forma que apenas o estudo histopatolgico capaz de
identificar o local da leso primria que compromete a parte ssea
ou membranosa do labirinto, mas podem resultar de alteraes
dos centros corticais cerebrais.
Vrios estudos da Biologia Molecular tm analisado famlias de
deficientes auditivos na tentativa de identificar a localizao dos
genes responsveis pela perda auditiva. A identificao desses
genes e de seus produtos permitir maior compreenso da fisiologia
e da fisiopatologia da audio, alm de possibilitar o diagnstico pr-
natal da deficincia auditiva, um tratamento especfico para cada
tipo de deficincia e, futuramente, a terapia gnica.
STEEL & BOCK (1983), baseando-se em modelos animais,
propuseram uma classificao das deficincias auditivas genti-
cas congnitas em trs categorias: morfogenticas, neuroepite-
liais e cocleossaculares.
As alteraes da morfognese incluem defeito sseo e
membranoso do ouvido interno. As alteraes do labirinto
Perda Auditiva de Origem Gentica 37
Tardia
Enquanto as deficincias auditivas congnitas de etiologia
gentica so resultantes de fenmenos de aplasia, aquelas que
aparecem aps o nascimento apresentam degenerao progres-
siva do rgo de Corti, que j estava totalmente desenvolvido.
As principais deficincias auditivas isoladas tardias so doen-
a sensorioneural progressiva familial, otosclerose e presbiacusia.
A doena sensorioneural progressiva familial, por apresentar
incio insidioso, exige maiores cuidados na anamnese e valoriza-
o dos antecedentes familiais para que o clnico afaste uma srie
de diagnsticos diferenciais. Essa anomalia acomete crianas na
pr-puberdade ou adolescentes e progride, com gravidade, na
idade adulta. Freqentemente essa doena confundida com a
otosclerose coclear, guardando com ela muitas semelhanas.
Segundo PAPARELLA (1973), o estudo do osso temporal mostra
ausncia do rgo de Corti e degenerao do gnglio espiral,
ambas alteraes na poro basal da espira coclear, alm de
degenerao irregular da estria vascular.
Na espcie humana, a incidncia de perda da audio aumen-
ta progressivamente aps os 55 anos de idade, pela interao de
fatores genticos e ambientais. CAMP e cols. (1995) estudando
uma famlia alem, na qual a deficincia auditiva com incio em
altas freqncias tinha padro dominante, concluram que ela
deve ter sido causada por um gene localizado no cromossomo 7.
Antes de finalizar este tpico, parece-nos oportuno tecer
algumas consideraes sobre genocpias e fenocpias. Genes
diferentes que determinam heredopatias aparentemente idnti-
cas so chamados genocpias. Exemplo clssico o que ocorre
com a deficincia auditiva de etiologia autossmica recessiva.
Alguns casais de deficientes auditivos, pertencentes a famlias
diferentes, geram todos os filhos com audio normal, ao invs de
todos deficientes, como era de se esperar. A explicao plausvel
que, nesse caso, a deficincia auditiva do cnjuge feminino foi
determinada por um gene autossmico (a ) diferente daquele que,
em homozigose, produziu a deficincia auditiva no cnjuge mas-
culino (b). Assim, o cnjuge feminino tem constituio genotpica
aaBB, e o cnjuge masculino, AAbb. Dessa unio, todos os filhos
sero duplos heterozigotos (AaBb) e, portanto, portadores dos
genes da deficincia auditiva, porm nenhum ser afetado.
Perda Auditiva de Origem Gentica 39
Sndrome de Waardenburg
uma anomalia com padro de herana autossmica domi-
nante, cujos genes mutantes responsveis j foram localizados,
permitindo o diagnstico pr-natal para casais de risco. Esses
genes apresentam alta penetrncia e expressividade varivel, o
que quer dizer que, quando presentes, os genes mutantes quase
sempre se manifestam, porm, a intensidade do quadro clnico
entre seus portadores muito varivel. Essa anomalia apresenta
trs formas clnicas. No Tipo I (Fig. 2.10), os pacientes apresen-
tam deficincia auditiva sensorioneural uni ou bilateral, epicanto,
deslocamento lateral do canto interno dos olhos, heterocromia ou
bicromia de ris, faixa branca no cabelo, que pode aparecer com
qualquer idade, e alterao da pigmentao da pele (cerca de
A B
A B
Sndrome de Klippel-Feil
A fuso de vrtebras cervicais o nico sinal constante
dessa anomalia e determina, clinicamente, pescoo curto com
limitao da movimentao e implantao baixa de cabelos na
nuca (Fig. 2.13). As fuses vertebrais podem ocorrer tambm
na coluna torcica e lombar, alm de serem freqentes hemivr-
tebras e spina bifida. Malformao de vias urinrias, agenesia
renal unilateral, hipospadia, alteraes oculares, fenda palati-
na, anomalias do ouvido mdio e atresia do conduto auditivo
externo so achados comuns. A perda auditiva, quando presen-
te, do tipo sensorioneural, condutiva ou mista.
Vrios casos foram descritos como tendo ocorrncia espor-
dica, porm o estudo de famlias mostrou que a sndrome de
Klippel-Feil pode manifestar-se com padro de herana autoss-
mica dominante ou recessiva. Por essa razo, o estudo minucioso
42
A B
FIGURA 2.13 Sndrome de Klippel-Feil. A) Pescoo curto devido fuso das vrtebras cervicais. B)
Pescoo curto, anomalia de ouvido externo e pavilho.
Sndrome de Duane
Caracteriza-se pela alterao da movimentao ocular, com
dificuldade para aduzir ou abduzir os olhos, estreitamento da
fenda palpebral e retrao do globo ocular aduo do olho.
Outros achados incluem torcicolo, costela cervical e a perda
auditiva condutiva (Fig. 2.14).
A maioria dos casos parece ser espordica, sendo que apenas
5 a 10% apresentam recorrncia familial. Quando associada
sndrome de Klippel-Feil e na presena de deficincia auditiva, o
padro de herana autossmica dominante.
A B
FIGURA 2.14 Sndrome de Duane. Plpebra estreita, estrabismo com inabilidade para abduzir os
olhos. A) Antes da cirurgia para correo do estrabismo e da timpanotomia exploradora. B) Correo
do estrabismo e recuperao da perda condutiva da audio com fechamento do gap areo-sseo.
Perda Auditiva de Origem Gentica 43
A B
FIGURA 2.15 Sndrome de Treacher Collins. A) Fenda palpebral antimongolide com defeito na
plpebra inferior, hipoplasia da mandbula e do zigomtico. B) Agenesia do conduto auditivo externo.
Ouvido interno normal.
A B C
Sndrome de Usher
uma anomalia autossmica recessiva que se caracteriza por
retinite pigmentosa associada a deficincia auditiva congnita
sensorioneural grave (Fig. 2.19).
De acordo com GORLIN e cols. (1979), a sndrome de Usher
pode ser classificada clinicamente em quatro subgrupos:
Tipo I Ausncia de funo vestibular, deficincia auditiva
congnita profunda e incio da retinose pigmentar aos 10 anos de
idade. Constitui quase 90% dos casos.
Tipo II Funo vestibular normal ou diminuda, queda da
audio em altas freqncias e retinose pigmentar de incio na
adolescncia ou por volta dos 20 anos. Constitui quase 10% dos
casos.
Tipo III Disfuno vestibular, perda progressiva da audio,
retinose pigmentar iniciando na puberdade ou aps dcadas.
responsvel por 1% dos casos.
Tipo IV nico com padro de herana recessiva ligada ao
sexo, sendo o fentipo semelhante ao Tipo II.
A sndrome de Usher determina perda progressiva da viso,
de forma que, at o final da segunda ou terceira dcada de vida,
esto completamente cegos. Por essa razo, os pacientes devem
ser orientados e treinados para que estejam adaptados antes da
perda completa da viso.
46
Sndrome de Hurler
Tambm conhecida como mucopolissacaridose tipo I, um
erro inato do metabolismo, de etiologia autossmica recessiva,
na qual o defeito primrio a deficincia de uma enzima
lisossmica, a alfa-L-iduronidase, responsvel pela degradao
dos glicosaminoglicanos, sulfato de heparan e sulfato de
dermatan. O quadro clnico resulta do acmulo de mucopolissa-
cardeos nos tecidos. Os pacientes apresentam face progressi-
vamente grosseira, macrocefalia, lbios grossos, macroglossia,
dentes afastados, cabelos grossos, abdome proeminente, ore-
lha de implantao baixa, hipertelorismo, prega epicntica,
turvao da crnea, hepatoesplenomegalia, baixa estatura e
involuo do desenvolvimento neuropsicomotor (Fig. 2.20). A
mucosa do ouvido mdio apresenta clulas grandes esponjo-
sas, chamadas clulas gargilicas, que se coram pelo PAS. O
diagnstico pr-natal possvel por intermdio da dosagem da
alfa-L -iduronidase em cultura de amnicitos.
Sndrome de Hunter
conhecida como mucopolissacaridose tipo II, causada pela
deficincia da sulfatase de iduronato, com excesso de sulfato de
dermatan e sulfato de heparan. O quadro clnico semelhante ao
descrito para a sndrome de Hurler, diferindo apenas pela ausncia
de opacidade de crneas, por apresentar uma evoluo mais lenta
e pelo padro de herana recessiva ligado ao sexo, comprometendo
apenas indivduos do sexo masculino (Fig. 2.21).
Sndrome de Alport
A sndrome de Alport responsvel por 1% das perdas auditivas
hereditrias (Fig. 2.22), caracterizando-se pela associao de perda
auditiva sensorioneural e glomerulonefrite. A deficincia auditiva
bilateral e simtrica, desenvolve-se nos primeiros anos de vida e
afeta principalmente as freqncias mais agudas. As provas calri-
cas mostram hipofuno vestibular. Histologicamente, h degene-
rao do rgo de Corti e da estria vascular.
A nefrite progressiva, com hematria e proteinria que se
iniciam na primeira ou segunda dcada de vida.
Alteraes oculares, como lenticone, esferofaquia e catarata
esto presentes em 15% dos pacientes.
Na maioria das famlias com a sndrome de Alport, o padro de
herana dominante ligado ao X, e por essa razo, as mulheres
Sndrome de Goldenhar
Trata-se de uma associao de malformaes que resultam de
defeitos na morfognese do primeiro e segundo arcos branquiais,
freqentemente associados a anomalias oculares e vertebrais. Os
pacientes apresentam hipoplasia da regio malar e maxilar, assime-
tria facial, macrostomia, microtia, apndices pr-auriculares, ano-
malia do ouvido mdio, podendo haver deficincia auditiva do tipo
condutivo, diminuio da secreo da partida, hemivrtebras,
dermide epibulbar, alm de malformaes cardacas e geniturin-
rias (Fig. 2.23). A deficincia mental est presente em cerca de 13%
dos casos. Ocasionalmente, pode haver malformao do ouvido
interno com deficincia auditiva do tipo sensorioneural. A etiologia
desconhecida, sendo a maioria dos casos espordica. O risco de
recorrncia da anomalia para parentes em primeiro grau do afetado
aproximadamente 2%. Raros casos foram descritos compatveis
com herana autossmica dominante.
Sndrome de Mbius
A sndrome de Mbius caracterizada por paralisia do VI e do
VII pares cranianos, com conseqente amimia. Pode haver para-
lisia de outros pares de nervos cranianos, alm de estrabismo,
micrognatia e deformidades do pavilho auricular e do conduto
auditivo externo (Fig. 2.24). Essa sndrome tem ocorrncia fami-
lial, sendo que, em algumas genealogias, compatvel com
padro de herana autossmica dominante. Quando associada a
malformao reducional de membros, conhecida como seqn-
cia de Mbius e tem ocorrncia espordica. Acredita-se que seja
decorrente de fenmenos isqumicos ocorridos no feto.
Perda Auditiva de Origem Gentica 49
A B
FIGURA 2.24 Sndrome de Mbius. A) Diplegia facial. B) Deformidade de pavilho.
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12 X
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22
A B
FIGURA 2.26 Sndrome de Down (trissomia do 21). A) Fenda palpebral oblqua para cima, hipotonia
e dismorfismos caractersticos da sndrome. B) Caritipo de uma mulher com sndrome de Down,
47,XX,+21.
A B
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12 X
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22
C
FIGURA 2.27 Sndrome de Edwards (trissomia do 18). A) Criana com microcefalia, implantao baixa
do pavilho auricular, fendas palpebrais curtas, microstomia. B) Dedo em gatilho. C) Caritipo de uma
mulher com sndrome de Edwards, 47,XX+18.
52
A C
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12 X
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22
B D
FIGURA 2.28 Sndrome de Patau (trissomia do 13). A) Recm-nascido com fenda palatina e labial,
com proeminncia da pr-maxila. B) Mltiplas anomalias incluindo micrognatia. C) Microftalmia. D)
Caritipo de uma mulher com sndrome de Patau, 47,XX,+13.
Perda Auditiva de Origem Gentica 53
De cromossomos sexuais
Sndrome de Turner
A sndrome de Turner (45,X) caracteriza-se pela monossomia
do cromossomo X na ausncia de cromossomo Y. Cabe ressaltar
que a monossomia do cromossomo Y, na ausncia de cromossomo
X, incompatvel com a vida. Os pacientes freqentemente apre-
sentam ao nascimento sinais sugestivos dessa alterao, como
baixa estatura, linfedema transitrio de ps e mos, fendas palpe-
brais antimongolides, orelhas discretamente rotadas para trs,
pele redundante na nuca, implantao baixa de cabelos na nuca e
aumento da distncia intermamilar. Muitas vezes, o linfedema pode
ser observado durante a gestao pela deteco ultra-sonogrfica
do higroma cstico, que corresponde pele redundante na nuca
observada aps o nascimento. Essa pele redundante d origem,
posteriormente, s pregas pterigonucais (pescoo alado). As mal-
formaes internas principais so as gnadas disgenticas, que
apresentam folculos durante a vida embrionria, mas sofrem
hipoplasia, dando origem a ovrios vestigiais. Alm dessas, podem
ocorrer malformaes renais, como rins em ferradura e duplicao
ou separao do bacinete e malformaes cardiovasculares, sobre-
tudo coarctao da aorta, que corresponde a 70% das cardiopatias
na sndrome de Turner. Cerca de 50% das pacientes apresentam
deficincia auditiva de percepo. Essas pacientes so mais susce-
tveis tireoidite, hipertenso arterial e diabetes mellitus, devendo
ser acompanhadas periodicamente. A inteligncia costuma ser
normal, porm, problemas psicolgicos decorrentes do fentipo so
comumente relatados.
Apesar da sndrome de Turner apresentar um quadro clnico
compatvel com a vida, existe seleo natural muito grande
contra os fetos portadores da anomalia, sendo muito elevada a
freqncia da sndrome de Turner (18%) em material de aborto.
GRAVHOLT e cols. (1996) em um estudo realizado na Dinamarca
entre 1970 e 1993 observaram uma freqncia de sndrome de
Turner de 32/100.000 nascimentos, enquanto entre fetos do
sexo feminino, cujas mes se submeteram amniocentese no
segundo trimestre de gestao para deteco do caritipo fetal,
essa freqncia foi de 176/100.000, e de 392/100.000 quando
o estudo foi realizado em mes que se submeteram puno
das vilosidades corinicas no primeiro trimestre de gravidez.
Geralmente o cromossomo X de origem materna, o que
significa que a falta de disjuno ocorre durante a meiose II
paterna. Em geral, as aberraes de cromossomos sexuais no
tm associao com a idade materna avanada, excetuando-se
quando ocorrem na meiose I materna.
54
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10 11 12 X
13 14 15 16 17 18
19 20 21 22
A B
FIGURA 2.29 Sndrome de Turner. A) Baixa estatura, fenda palpebral oblqua para baixo, orelhas
rotadas para trs, B) Caritipo de uma paciente com sndrome de Turner, 45,X.
TRATAMENTO
Inicialmente, deve-se buscar o diagnstico precoce da deficincia
auditiva e defini-la como sendo de origem gentica. O tratamento
depender do tipo de perda, e deve ser iniciado o mais breve possvel.
A grande maioria das deficincias auditivas do tipo sensorio-
neural e, portanto, o tratamento deve ser direcionado atravs da
protetizao e acompanhamento fonoterpico.
Quando a perda for do tipo condutiva ou mista, com um
componente condutivo com bom intervalo areo-sseo, pode-se
protetizar num primeiro tempo, em se tratando de crianas, para
num segundo tempo, em poca oportuna, submet-las cirurgia
funcional. Esta conduta aconselhvel em alguns casos, como
nas sndromes de Treacher Collins, Duane ou van der Hoeve.
Naquelas sndromes com perda auditiva bilateral associada a
malformao do conduto auditivo externo e ouvido mdio, porm
com o ouvido interno normal, h necessidade de corrigir um dos
lados, ou pelo menos tornar prvio o conduto auditivo externo para
a protetizao. Essa cirurgia costuma oferecer melhor resultado
quando a criana operada por volta dos 5 anos de idade.
ORIENTAO FAMILIAR
Feito o diagnstico de deficincia auditiva, o clnico dever
realizar uma anamnese bem direcionada aos antecedentes pes-
soais e familiais, alm de caracterizar com o mximo de preciso,
o tipo de deficincia e as caractersticas da perda auditiva. Dever,
ainda, pesquisar outras malformaes e caracteriz-las bem. No
caso das deficincias de etiologia gentica, o otorrinolaringolo-
gista dever fazer um estudo criterioso dos genitores do afetado,
inclusive com audiometria, que ser muito til para concluir a
respeito do padro de herana.
Cabe ainda ao otorrinolaringologista orientar os pacientes e
seus familiares sobre a possibilidade de recorrncia da anomalia
em outros descendentes e encaminhar a famlia ao geneticista
para uma avaliao e aconselhamento gentico.
O aconselhamento gentico pode ser definido como um proces-
so de comunicao sobre o risco de ocorrncia ou recorrncia
familial de anomalias genticas, com a finalidade de fornecer a
indivduos ou famlias ampla compreenso de todas as implicaes
relacionadas s doenas genticas em discusso, as opes que a
medicina atual oferece para a teraputica ou para a diminuio dos
riscos de ocorrncia ou recorrncia da doena gentica em questo
e eventual apoio psicoteraputico (BEIGUELMAN, 1982).
O objetivo principal do aconselhamento gentico o bem-estar
do paciente e da famlia que est procurando o aconselhador. Ao
contrrio dos princpios eugnicos, os do aconselhamento gentico
visam, pois, primordialmente, defesa dos interesses dos indiv-
duos e das famlias, e no os da sociedade (BEIGUELMAN, 1982).
56
AGRADECIMENTO
Prof. Dr. BERNARDO BEIGUELMAN , pela reviso do captulo.
Leitura recomendada
ARNOS, K.S.; ISRAEL, J.; DEVLIN, L.; WILSON, M.P. Genetics
counseling for the deaf. Otolaryngol. Clin. North Am., 25:953-971,
1992.
BEIGUELMAN, B. Citogentica Humana . 1 ed. Guanabara Koogan,
Rio de Janeiro, 1982.
Perda Auditiva de Origem Gentica 57
3
Noes Bsicas sobre
Acstica, Psicoacstica e
Calibrao
INTRODUO
Violino 1,0
Piano 1,0
FIGURA 3.1 Representao esquemtica de trs ondas sonoras: forma de onda e espectro de
amplitude.
62 Fonoaudiologia Prtica
+
Amplitude
Amplitude
A outra dimenso da onda sonora a chamada amplitude (A)
que a medida do afastamento ou deslocamento horizontal das
partculas materiais de sua posio de equilbrio. A amplitude
pode ser instantnea, quando medida em um tempo ou ngulo
(A) (P-P)
Pico mximo Pico a pico
Presso sonora instantnea em Pa
B
4
A
2
0
A
4
B
90 180 270 360
em graus
FIGURA 3.3 Representao de dois movimentos ondulatrios de mesma freqncia com diferentes
amplitudes.
Noes Bsicas sobre Acstica, Psicoacstica e Calibrao 63
+
Amplitude
FIGURA 3.4 Representao gr-
0,0005 0,001 0,0005 0,002 fica de uma onda senoidal (tom
Tempo (s) puro).
Onda complexa
Uma onda complexa pode ser definida como sendo qualquer
onda sonora composta de uma srie de senides simples que
podem diferir em amplitude, freqncia ou fase. A voz humana e
o som produzido por instrumentos musicais constituem alguns
exemplos de sons complexos, ou seja, constitudos por mais de
uma freqncia (Fig. 3.5).
O grau de complexidade de uma onda sonora complexa
depende do nmero de ondas senoidais combinadas, bem como
dos valores dimensionais especficos de amplitude, freqncia e
fase dos componentes senoidais. Este teorema foi primeiramen-
te proposto por um matemtico francs que viveu na poca de
Napoleo I, chamado JOSEPH FOURIER. A srie de ondas senoidais
que combinadas formam a onda complexa conhecida como
srie de Fourier, em homenagem a este matemtico. Desta srie
deriva um processo denominado anlise de Fourier que significa
que qualquer forma de onda complexa, pode ser decomposta ou
Deslocamento (cm)
2
1 5
0
0 5 10
3
Distncia (cm)
Onda peridica
Quando a onda sonora se repete a iguais intervalos de tempo
ela conhecida como onda peridica, isto , as caractersticas do
ciclo da onda so duplicadas exatamente nos demais ciclos.
De acordo com o teorema de Fourier, qualquer onda complexa
consiste de um nmero de ondas senoidais simples somadas.
Entretanto, para que uma onda complexa seja peridica, seus
componentes senoidais no podem ser selecionados ao acaso.
Ao invs disso, precisam obedecer a um requisito matemtico
chamado de relao harmnica.
O termo relao harmnica quer dizer que as freqncias de
todas as senides que compem a srie devem ser mltiplas integrais
(nmeros inteiros) da freqncia senoidal de mais baixa freqncia da
srie. Todas as senides includas na srie harmnica so chamadas
de harmnicos. Estes, por sua vez, so numerados, consecutiva-
mente, a partir da freqncia mais baixa da srie freqncia
fundamental (f0) conhecida como primeiro harmnico de f1, f2, f3....
at a mais alta, ou at o ltimo componente da srie harmnica.
Assim, para compreendermos melhor o conceito de timbre,
suponhamos agora que a nota musical l, cuja freqncia predomi-
nante e fundamental de 440 Hz, seja tocada em um instrumento
como o violo e, ao mesmo tempo, ao piano e no diapaso. Certa-
mente, ao ouvi-las, no teremos maiores dificuldades em diferenci-
las, pois apesar de sabermos que se trata da mesma nota musical,
a quantidade e a qualidade dos harmnicos iro variar em funo
das caractersticas fsicas de cada fonte sonora (RUSSO, 1993).
Onda aperidica
A principal caracterstica distintiva das ondas peridicas com-
plexas a sua regularidade no tempo ou periodicidade. Elas se
repetem indefinidamente. A onda aperidica, contudo, uma se-
gunda categoria de forma de onda e seu nome deriva exatamente
da falta de periodicidade. Assim, muito difcil e quase impossvel
prever a forma da onda num intervalo de tempo a partir do conhe-
cimento de suas caractersticas durante outro intervalo de tempo de
igual durao. O movimento vibratrio de uma onda aperidica , ao
acaso, aleatrio e, por esta razo, imprevisvel.
As ondas aperidicas so encontradas diariamente e exem-
plos familiares so os rudos produzidos por avies, automveis,
cachoeiras e, at mesmo, alguns sons de fala, principalmente os
sons sibilantes so caracterizados por movimentos vibratrios
aleatrios, isto , aperidicos (RUSSO, 1993).
66 Fonoaudiologia Prtica
I
NIS =10 log
I0
Noes Bsicas sobre Acstica, Psicoacstica e Calibrao 69
P
NPS1 = 20 log
P0
Psicoacstica
Durante toda a vida o homem recebe uma corrente contnua
de informaes sonoras que so captadas por seus ouvidos,
classificadas e arquivadas na memria de seu crebro. Desde o
batimento cardaco no peito de nossas mes, a cantiga de ninar,
a msica preferida, at um grito de socorro, a buzina de um carro,
o disparo de um canho, a decolagem de um avio a jato... nada
escapa ao sensvel ouvido humano, considerado como uma das
mais perfeitas obras de engenharia da qual somos dotados.
Dependendo do indivduo, os sons podem provocar as mais
diversas reaes fsicas e emocionais: sustos, risos, lgrimas,
sensaes de prazer ou desprazer, participao e segurana
vitais, as quais compartilhamos com os nossos semelhantes,
principalmente por intermdio da linguagem falada, adquirida
basicamente atravs da audio. Como se fosse um radar, nossa
audio estende-se em todas as direes e a grandes distncias,
fornecendo-nos informaes sobre a localizao e a distncia que
nos encontramos da fonte sonora, constituindo, assim, um meca-
nismo de defesa e alerta extremamente importante para nossa
70 Fonoaudiologia Prtica
Durao
Os indivduos diferem extraordinariamente nas suas habilida-
des para julgar intervalos de tempo em segundos, minutos ou dias.
A durao est relacionada habilidade em detectarmos diferen-
as nos estmulos sonoros em funo do tempo. Podemos detec-
tar diferenas de cerca de 10 milionsimos de segundo de
intervalo de tempo entre os estmulos sonoros que atingem
nossas orelhas, graas audio estereofnica. Com apenas um
ouvido podemos detectar mudanas temporais da ordem de 1
milionsimo de segundo, percebendo a ordem de dois eventos
sonoros distintos, separados por apenas 1/50 de segundo
(BOOTHROYD, 1986).
STEVENS & D AVIS revelaram que o ouvido humano muito
aguado pode detectar uma diferena no tempo de duas notas
musicais da ordem de 0,01 segundos. Por outro lado, ouvidos
menos sensveis podem requerer 0,10 ou 0,20 segundos para
perceberem a diferena.
140
Nvel de presso sonora (dB) Ref. 2.10 5 N/m 2
130 130
120 120
110 110
100
90
80 80
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
Limiar da 10
10
Audibilidade
0 Fone
FIGURA 3.6 Curvas de igual audibilidade ou isofnicas (FLETCHER & MUNSON, 1933).
Timbre
Na natureza pode ser encontrada uma infinita srie de
variedades na qualidade de um tom e, ainda possvel desco-
brir neles uma base fundamental e relativamente simples para
sua classificao e descrio. O que torna possvel a distino
entre a mesma nota musical executada em instrumentos dife-
rentes depende da qualidade e da quantidade de harmnicos
presentes na onda sonora complexa, modificados pela sensa-
o de freqncia absoluta e pela intensidade total, definido
Noes Bsicas sobre Acstica, Psicoacstica e Calibrao 73
Pascal dB (NPS)
Dor
200 140
Intolerncia
Desconforto
20 120
2 100
rea dos sons audveis
Sons audveis
0,2 80
Sons inaudveis
0,02 60
rea da fala
0,002 40
200 20
Zonas de limiar
20 0
A IMPORTNCIA DA CALIBRAO
Por que calibrar?
A calibrao um processo que visa controlar as caractersticas
de freqncia, intensidade e tempo e verificar o funcionamento dos
equipamentos utilizados em Audiologia. Ela necessria para
assegurar que um audimetro produza um tom puro em um nvel e
freqncia especficos e que este sinal esteja presente somente no
transdutor ao qual foi direcionado, estando livre de distoro ou
interferncia de rudo indesejvel (WILBER, 1994).
Equipamentos calibrados com a freqncia exigida podem
contribuir para aumentar a confiabilidade do fonoaudilogo nos
resultados dos testes audiomtricos realizados, uma vez que a
calibrao peridica determina se o equipamento est de acordo
com os padres apropriados para cada um dos instrumentos ou se
sofreram alteraes com o tempo de uso.
Processo de calibrao
O primeiro passo para aprender como verificar o funciona-
mento e calibrar o equipamento a leitura do manual de instru-
es que o acompanha. Algumas vezes os resultados dos testes
por si mesmos revelam a necessidade de calibrao do instru-
mento. prefervel assumir que o problema do equipamento
antes de atribu-lo ao paciente sob teste.
Inicialmente, recomendvel que o fonoaudilogo faa a
calibrao biolgica do audimetro, verificando com o uso de seu
prprio ouvido, a sada do sinal acstico nos diferentes transduto-
res: fones, alto-falantes e vibrador sseo.
76 Fonoaudiologia Prtica
SUMRIO
Este captulo procurou fornecer as noes bsicas da Acsti-
ca Fsica e da Psicoacstica e sua importncia para a Audiologia,
uma vez que constituem a pedra fundamental sobre a qual esta
cincia foi edificada. Aspectos acsticos da onda sonora, tais
como: suas caractersticas, atributos fsicos mensurveis, bem
como aspectos psicoacsticos da percepo auditiva e a determi-
nao do nvel de audio foram aqui enfatizados.
Finalmente, o captulo ressaltou a responsabilidade do audiolo-
gista na verificao da sada do equipamento de teste usado na
avaliao audiolgica. Mesmo que alguns dos problemas possam
ser detectados por ouvidos humanos treinados e mais sensveis,
isto no suficiente para garantir a preciso necessria para
assegurar o funcionamento adequado dos instrumentos. Desse
modo, verificaes eletroacsticas peridicas so imprescindveis
uma vez que os resultados obtidos nos testes espelham, dentre
outros, o funcionamento dos equipamentos utilizados na avaliao
audiolgica rotineira.
Leitura recomendada
AMERICAN STANDARDS ASSOCIATION American standards
specification for audiometers for general diagnostic purposes: ASHA
Z, 24:5, 1951.
AMERICAN NATIONAL STANDARDS INSTITUTE Specification for
audiometers. ANSI, S3:6, New York, 1969.
AMERICAN SPEECH AND HEARING ASSOCIATION Commitee on
audiometric evaluation. Guidelines for audiometric symbols. Rockville,
ASHA, 17(5):260-264, 1974.
AMERICAN NATIONAL STANDARDS INSTITUTE Methods for ma-
nual pure-tone threshold audiometry. ANSI, S3:21, New York, 1978
e R-1986.
AMERICAN NATIONAL STANDARDS INSTITUTE Specifications for
instruments to measure aural acoustic impedance and admittance
ANSI, S3:39, New York, 1987.
AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION
Commitee on audiometric evaluation. Guidelines for audiometric
symbols. Rockville, ASHA, 30(12):39-42, 1988.
AMERICAN NATIONAL STANDARDS INSTITUTE Specification for
audiometer. ANSI, S3:6, New York, 1989.
AMERICAN NATIONAL STANDARDS INSTITUTE Maximum
permissible ambient noise for audiometric testing ANSI, S3:1, New
York, 1991.
AMERICAN NATIONAL STANDARDS INSTITUTE Standard reference
zero for the calibration of pure-tone bone-conduction audiometers.
ANSI, S3:43, New York, 1992.
82 Fonoaudiologia Prtica
4
Testes Bsicos de Avaliao
Auditiva
DIAPASES
O exame audiomtrico deve ser sempre precedido por uma
detalhada avaliao acumtrica pelo otorrinolaringologista, uti-
lizando-se dos diapases. Cabe ao especialista a avaliao
prvia, de modo a ter uma idia a respeito da audio de seu
paciente, qual o grau de perda (leve, moderada ou severa) e qual
tipo de perda (sensorioneural ou condutiva). Poderia parecer
extemporneo recomendar o emprego destes testes numa poca
em que dispomos de testes sofisticados como a audiometria tonal,
a audiometria de respostas evocadas (audiometria de tronco
cerebral, eletrococleografia) e mesmo a imitanciometria. No en-
tanto, h ainda um grande nmero de otorrinolaringologistas que
no dispe de um audimetro em seu consultrio, ou mesmo em
84 Fonoaudiologia Prtica
Teste de Weber
Neste teste verifica-se em que orelha o paciente escuta melhor
o diapaso quando encostado na fronte (ou na regio da raiz do nariz
ou junto aos dentes incisivos). Antes de fazer este teste, deve-se
verificar em que orelha ele tem melhor audio pela via area.
Nos casos em que a audio normal ou existe perda igual em
ambas as orelhas, ele dir que escuta apenas no local em que o
diapaso foi colocado (na fronte); diz-se que o Weber foi central.
Quando o paciente escuta melhor o diapaso na mesma
orelha em que tem melhor audio, diz-se que o Weber lateraliza
para o lado melhor e caracterstico de leso sensorioneural no
lado comprometido. Se, no entanto, o Weber lateralizar para o
lado em que o paciente escuta pior, diz-se que a perda de audio
na orelha comprometida de conduo.
Teste de Rinne
O teste de Rinne permite comparar a audio pela via area
e pela via ssea de uma orelha. O diapaso (em indivduos com
audio normal) pode ser ouvido pela via area pelo dobro do
tempo em que ouvido pela via ssea. O diapaso colocado
a vibrar (cada especialista tem sua maneira para isto) e posto
pela sua base na regio retroauricular, na parte mais saliente da
mastide (via ssea) e em seguida seus arcos so colocados
defronte ao meato acstico externo a mais ou menos 2 cm deste
(via area), evitando-se tocar a pele do paciente. Os arcos do
diapaso no devem estar paralelos ao plano do pavilho da
orelha e sim perpendicular a ele. Quando apresentado parale-
lamente ao pavilho, pequenos movimentos de lateralidade
podem determinar o aparecimento de uma zona muda em que
nenhum som ouvido (experimente em sua orelha, movendo os
arcos do diapaso quando colocados paralelamente ao pavi-
lho auditivo).
Quando o paciente escuta mais forte pela via area do que
pela via ssea, diz-se que o Rinne positivo, se o paciente escuta
apenas pela via area diz-se que positivo patolgico. O Rinne
positivo costuma ser compatvel com audio normal ou com
perdas sensorioneurais moderadas e o Rinne positivo patolgico
com perdas mais severas.
Quando o paciente escuta melhor pela via ssea do que pela
area, diz-se que o Rinne negativo. Eventualmente o paciente
poder ouvir apenas pela via ssea, o que caracteriza o Rinne
negativo patolgico. Esta eventualidade deve ser analisada com
Estgio 1 Estgio 2
Tom ouvido mais tempo pela via area = Rinne positivo: indica perda perceptiva
Tom ouvido mais tempo pela via ssea = Rinne negativo: indica perda condutiva
Teste de Schwabach
O teste realizado colocando-se a base do diapaso sobre a
mastide do paciente e do examinador de modo alternado.
Poder ocorrer que o paciente escute o diapaso por um tempo
menor que o examinador (o que caracteriza o Schwabach encur-
tado) ou que o examinador escute-o por um tempo menor que o
paciente (Schwabach prolongado).
Este teste permite comparar a audio pela via ssea do
examinador com a do paciente. Considerando-se que o examina-
dor tenha audio normal, diz-se que o Schwabach prolongado
quando a audio pela via ssea do paciente for mais prolongada
que a do examinador, e nestes casos ser interpretado como
perda de audio condutiva. Quando for percebido por um tempo
menor (Schwabach encurtado) ser interpretado como sendo
uma perda sensorioneural. Quando igual para ambos diz-se que
sua audio normal ou muito prxima do normal.
Teste de Friedreich
Este teste permite confirmar se o paciente tem uma perda
predominantemente sensorioneural ou condutiva. O diapaso
colocado (por sua base) inicialmente na mastide e em seguida
sobre o trago, comprimindo-o sobre a abertura do meato acstico
externo de modo a fazer deste um tubo fechado. Isto far com que
o som seja amplificado pela camada area da orelha externa. Em
pacientes sem deficincia de audio ou perdas sensorioneurais,
o diapaso ser melhor escutado quando for colocado nesta
ltima posio e, quando a perda for condutiva, ser mais audvel
88 Fonoaudiologia Prtica
Mascaramento
Em certas situaes, pode se tornar necessrio o emprego de
um rudo mascarante na orelha oposta que estamos testando
com os diapases. Durante muitos anos utilizou-se o mascarador
de Barany, que hoje no est mais disponvel no mercado.
Qualquer tipo de rudo feito prximo orelha a ser mascarada
poder ser eficiente. Recomenda-se que seja feito rudo prximo
orelha com um pedao de papel celofane ou de cigarros. No se
deve tentar mascarar a orelha oposta colocando as mos como
uma concha com o objetivo de vedar a orelha. Esta manobra
poder favorecer a transmisso pela via ssea e confundir ainda
mais o exame. Neste mesmo captulo ser tratado o assunto do
mascaramento na audiometria tonal e justificados com maior rigor
as suas necessidades e cuidados.
Embora a grande maioria dos pacientes responda com bas-
tante preciso aos testes com diapaso, sempre haver um grupo
de pacientes difceis e com os quais no sero obtidas respostas
confiveis.
AUDIOMETRIA TONAL
Embora existam inmeros exames cujos resultados permitem
fazer afirmaes precisas sobre a audio do indivduo, a audio-
metria tonal o teste mais freqentemente usado para a avaliao
da funo auditiva. Resultados de outros testes so geralmente
interpretados em conjunto com a audiometria de tom puro.
A finalidade da audiometria tonal a determinao da menor
quantidade de energia acstica audvel o limiar auditivo. Observa-
es na clnica diria e estudos experimentais mostram que quando
se procura estabelecer a menor quantidade de energia sonora que
provoca uma sensao auditiva, existe uma intensidade que ora
provoca resposta, ora no. Desta forma, limiar de audibilidade de um
estmulo sonoro deve ser definido como a menor intensidade sonora
para a qual o paciente responde a 50% das apresentaes.
Para um estudo adequado do estado do sistema auditivo
preciso o conhecimento dos limiares por via area e via ssea, que
so os meios possveis de transmisso da energia sonora para a
cclea. Atravs da via area, a energia sonora entra pelo meato
acstico externo e transferida mecanicamente pelo sistema de
transmisso da orelha mdia para a cclea, enquanto a energia
sonora conduzida por via ssea estimula diretamente a cclea
atravs da vibrao dos ossos do crnio, sem depender pratica-
mente da orelha externa e das estruturas da orelha mdia. Desta
forma, a anlise dos limiares obtidos por estas duas vias fornece
informaes sobre o tipo e grau da deficincia auditiva.
Testes Bsicos de Avaliao Auditiva 89
a) Mtodo ascendente
Neste mtodo a pesquisa do limiar feita partindo-se da
inaudibilidade para a audibilidade. Aps a obteno da primeira
resposta, o estmulo diminudo em 10 dB e aumentado de 5 em
5 dB at o paciente apresentar novamente uma resposta.
considerado como limiar a menor intensidade para a qual o
paciente responda, pelo menos 50% das vezes, quando o estmu-
lo for apresentado de maneira ascendente. Este mtodo reco-
mendado pela ASHA (1978) e baseado nas recomendaes de
CARHART & JERGER (1959).
b) Mtodo descendente
Neste mtodo a pesquisa do limiar realizada partindo-se da
intensidade maior para a menor. O estmulo inicial deve ser apresen-
tado numa intensidade audvel, porm no muito intenso para no
provocar desconforto. Recomenda-se 30 a 40 d BNA para indivduos
com audio aparentemente normal e 70 d BNA para indivduos com
90 Fonoaudiologia Prtica
c) Mtodo descendente-ascendente
Neste mtodo o limiar pesquisado atravs da combinao das
duas tcnicas anteriores. Inicia-se o teste sempre atravs da apre-
sentao de um som audvel. considerado limiar a intensidade em
que se obtiver resposta em 50% das vezes, independentemente se
a apresentao do som for ascendente ou descendente.
Seja qual for o mtodo adotado, importante muita habilidade
e rapidez na obteno dos resultados para se evitar cansao ou
distrao por parte do paciente, especialmente os que apresen-
tam comprometimento fsico, mental ou neurolgico, uma vez que
se trata de um exame que exige muita ateno e concentrao.
Instrues ao paciente
Num primeiro contato, o avaliador deve demonstrar interesse
pelo problema do paciente, atravs de perguntas sobre seus sinto-
mas (qual a orelha melhor ? qual a orelha que prefere quando usa
o telefone ? sons intensos incomodam ? tem zumbido?), as
quais, alm de fornecerem dados importantes para o conhecimento
do caso, colaboram para diminuir a ansiedade que geralmente
antecede qualquer testagem. O audiologista deve aproveitar este
dilogo, modificando a intensidade de voz, alternando presena e
ausncia de pistas visuais, observando a qualidade da voz e articu-
lao da fala do paciente. Estas observaes auxiliam na escolha do
FIGURA 4.7 Dois tipos de fones usualmente empregados. O da direita tem um abafador de rudo e pode
ser til quando a cabine no muito eficaz.
92 Fonoaudiologia Prtica
Audiograma
Os limiares determinados pela audiometria tonal so coloca-
dos em um grfico adotado universalmente denominado audio-
grama. Ele expressa, na abscissa, as freqncias sonora em Hz,
variando de 250 a 8.000 Hz, dispostas de forma logartmica, ou
seja, as freqncias so apresentadas em intervalos regulares.
94 Fonoaudiologia Prtica
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110 FIGURA 4.9 Audiograma com via area e
via ssea.
Mascaramento
Durante a realizao da audiometria tonal, quando houver assi-
metria entre os limiares auditivos de uma orelha a outra, podem
ocorrer situaes em que as respostas encontradas no representem
a audio real da orelha pior, mas sim respostas da orelha contrala-
teral. Isto ocorre quando o estmulo apresentado orelha pior de tal
intensidade que percebido pela orelha melhor, antes mesmo de
atingir o limiar da orelha testada. Esta situao denominada
lateralizao (ou audio contralateral) e aparece no audiograma
como um traado semelhante curva audiomtrica da orelha melhor,
porm num nvel de intensidade mais elevado (curva sombra).
Um som, quando apresentado a uma orelha, pode atingir a
orelha oposta, mas perde uma certa quantidade de energia. Esta
perda de energia denominada atenuao interaural.
Um som intenso, quando apresentado por via area a uma
orelha, pode estimular a cclea da orelha contralateral por via area
ou por via ssea. Estudos realizados por CHAIKLIN (1967) demonstra-
ram que a lateralizao (ou audio contralateral) de um som
apresentado por via area se processa por via ssea antes de ocorrer
por via area, isto , a atenuao interaural para a transmisso do
som por via ssea (atravs dos ossos do crnio) menor do que a
atenuao interaural por via area (ao redor da cabea). Quando o
som apresentado por via area a uma orelha, o fone pode transmitir
uma certa energia, como vibrao, atravs dos ossos do crnio, para
a cclea da outra orelha, com uma atenuao interaural que varia de
40 a 85 dB. Esta grande variao de intensidade foi observada em
estudos realizados por alguns autores (LIDN, NILSSON, ANDERSON,
1959; CHAIKLIN, 1967; COLES & PRIEDE, 1970; SMITH & MARKIDES,
1981) e decorrente do tipo de fone utilizado, da freqncia testada
e de variaes anatmicas individuais.
Um som, mesmo de fraca intensidade, quando apresentado
atravs do vibrador sseo colocado em qualquer ponto do crnio,
estimula ambas as ccleas simultaneamente o que torna a atenua-
o interaural por via ssea praticamente igual a zero dB.
Desta forma, sempre que houver possibilidade de ocorrer uma
lateralizao do som, devemos utilizar o mascaramento que a
elevao artificial dos limiares da orelha no-testada, para que
esta no interfira nas respostas da orelha que se quer testar.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Intensidade de mascaramento
Quando se trata de excluir uma orelha para testar a outra,
poder-se-ia pensar que o ideal fosse a utilizao do mximo de
rudo disponvel no aparelho para evitar qualquer participao
da orelha no-testada. Entretanto, no se pode esquecer que o
fenmeno da lateralizao ocorre com qualquer som apresen-
tado por via area com a mesma atenuao interaural. Conse-
qentemente, o rudo mascarante pode cruzar o crnio da
mesma forma que o tom puro, atingir a orelha que est sendo
testada, e, erroneamente, elevar seus limiares. Este fenmeno
denominado supermascaramento.
Portanto, ao se considerar a quantidade de mascaramento
que deve ser empregada, importante conhecer qual o mnimo e
o mximo de rudo mascarante que pode ser utilizado, isto , qual
a intensidade de rudo que efetivamente comea a mascarar a
orelha no-testada e a intensidade onde o rudo passa a
supermascarar a orelha testada.
Vrios mtodos e frmulas foram descritos para a determina-
o da quantidade de mascaramento a ser utilizada. No entanto,
a tcnica introduzida por HOOD, tambm conhecida como mtodo
do plateau, tem sido a preferida pela maioria dos audiologistas
devido a sua eficcia e facilidade de entendimento.
Nesta tcnica, o limiar obtido inicialmente sem mascara-
mento. O rudo mascarante ento apresentado numa intensi-
dade de 10 dB acima do limiar da orelha no-testada,
pesquisando-se novamente o limiar. Aumentos sucessivos de
mascaramento so apresentados, em passos de 10 em 10 dB,
com redeterminao do limiar em cada nvel de rudo mascarante.
A finalidade encontrar um limiar na orelha testada que no
sofra modificaes com os incrementos de rudo mascarante na
orelha no-testada. A seguir, so apresentados alguns exem-
plos para melhor demonstrar esta tcnica:
Exemplo 3 (supermascaramento)
Orelha direita Orelha esquerda
via area 0 dB 40 dB (sem mascaramento)
via ssea 0 dB 0 dB (com mascaramento)
Rudo mascarante (NB) Reteste do limiar
10 dB 50 dB
20 dB 60 dB
30 dB 60 dB
40 dB 60 dB
50 dB 70 dB
60 dB 80 dB
70 dB 90 dB
AUDIOMETRIA VOCAL
A comprenso da fala um dos requisitos fundamentais
para a eficincia da comunicao. Desta forma, a avaliao da
capacidade auditiva de um indivduo no pode ser restrita
apenas sua habilidade para captar os tons puros. Mesmo
sendo enormemente influenciada pela configurao do audio-
grama (nvel de perda, graves x agudos, etc.), a compreenso
da fala nem sempre pode ser presumida somente pelos limiares
tonais, o que torna a audiometria vocal um instrumento clnico
indispensvel.
Os testes bsicos para esta avaliao so: limiar de recepo
de fala e ndice de reconhecimento de fala.
30
40
50
60
70
80
90
100
110
FIGURA 4.11
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110 FIGURA 4.12 Audiograma Deficincia
auditiva condutiva.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
110 FIGURA 4.13 Audiograma Deficin-
cia auditiva sensorioneural.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
normal: at 25dB
leve: de 26 a 40 dB
moderada: de 41 a 55 dB
moderadamente/severa: de 56 a 70 dB
profunda: maior que 91 dB
Leitura recomendada
ALMEIDA, K.; RUSSO, I.C.P.; SANTOS, T.M. A aplicao do masca-
ramento em Audiologia. So Paulo, Ed. Lovise Ltda, 1995.
AMERICAN ACADEMY OTOLARYNGOLOGY & HEAD NECK
SURGERY Clinical Auditory Evaluation , 1981.
108 Fonoaudiologia Prtica
5
Avaliao do Processamento
Auditivo Central
CONCEITUAO
Processamento auditivo central o termo utilizado para se
referir srie de processos que envolvem predominantemente
as estruturas do sistema nervoso central: vias auditivas e crtex.
A desordem do processamento auditivo central um distrbio da
audio no qual h um impedimento da habilidade de analisar e/
ou interpretar padres sonoros. O processamento auditivo, se-
gundo PHILIPS (1995), envolve a deteco de eventos acsticos;
capacidade de discrimin-los quanto ao local, espectro, amplitu-
de, tempo; habilidade para agrupar componentes do sinal acs-
110 Fonoaudiologia Prtica
(OD + OE)
IR = 100
24
116 Fonoaudiologia Prtica
Total 4 a 5 6 a 15 16 a 35 36 a 100
Orelha 6 a 10 11 a 20 21 a 40 41 a 100
Condio 9 a 15 16 a 25 26 a 45 46 a 100
CLASSIFICAO DA DESORDEM DO
PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL E TERAPIA
FONOAUDIOLGICA
A fonoterapia dever realizar o treinamento auditivo verbal
envolvendo as habilidades auditivas de ateno seletiva, localiza-
o, memria, fala e linguagem, desenvolvendo estratgias de
seqencializao sonora, figura-fundo auditivo, monitorao au-
ditiva da produo de fala, ampliao do vocabulrio (treino do
lxico); melhorar o conhecimento das regras da lngua (treino da
sintaxe); discriminao auditiva, associao fonema-grafema. Ao
se preparar um plano de fonoterapia, o objetivo o de criar
condies para que o indivduo possa se reorganizar quanto aos
aspectos envolvidos na comunicao no que se refere utilizao
dos fonemas e regras da lngua. Para cada tipo de distrbio do
processamento auditivo central, alguns aspectos devero ser
predominantemente treinados.
Nos distrbios do processamento auditivo central classifica-
dos como:
Avaliao do Processamento Auditivo Central 123
COMENTRIO FINAL
Acredita-se que a classificao da Desordem do Processamen-
to Auditivo Central auxilia a compreenso dos problemas que um
indivduo possa apresentar no que se refere ao seu sistema de lin-
guagem. Alm disso, possibilita o planejamento de estratgias que
podem ser utilizadas no processo de reabilitao fonoaudiolgica.
Cabe, neste momento, pesquisar mais amplamente estas ques-
tes para que se possa rever a metodologia tradicional de reabilita-
o fonoaudiolgica, objetivando uma fonoaudiologia cada vez
melhor. Alm disso, acredita-se que a ampliao do conhecimento
da importncia e dos processos envolvidos na audio poder levar
a uma atuao em fonoaudiologia educacional, visando melhora
da comunicao entre pais e filhos, professores e alunos.
Leitura recomendada
ALMEIDA, C.I.R. & CAETANO, M.H.U. Logoaudiometria utilizando
sentenas sintticas. Rev. Bras. Otorrinolaringol., 54:68-72, 1988.
ALMEIDA, C.I.R.; CAMPOS, M.I.; ALMEIDA, R.R. Logoaudiometria
peditrica (PSI). Pediatric speech intelligibity test. Rev. Bras.
Otorrinolaringol., 54:73-76, 1988.
AQUINO, A.M.C.M.; ALMEIDA, C.I.R.; OLIVEIRA, J.A.A. Teste de
identificao de sentenas sintticas (SSI) em portugus com men-
sagem competitiva: uma padronizao. Rev. Bras. Otorrinolaringol.,
59(3):160-163, 1993.
AQUINO, A.M.C.M.; OLIVEIRA, J.A.A.; AQUINO, T.J.M.; ALMEIDA,
C.I.R. Audio Central (1): nas leses supratentoriais das vias
auditivas. Rev. Bras. Otorrinolaringol., 61(5):349-356, 1995.
BOCCA, E.; CALEARO, C.; CASSINARI, V. A new method for testing
in temporal lobe tumors. Acta Otolaryngol., 44:219-221, 1954.
BORGES, A.C.L.C. Teste de escuta ditica de disslabos alternados,
SSW em portugus. In: PEREIRA, L.D. & SCHOCHAT, E. op. cit.
CMARA, C.; IORIO, M.C.M.; PEREIRA, L.D. Anlise dos ndices
percentuais de reconhecimento de fala filtrada e no sensibilizada
em crianas com audio normal e sem queixa de escolaridade.
Acta AWHO, 14(4):184-189, 1995.
CRUZ, P. & PEREIRA, L.D. Comparao do desempenho das habili-
dades auditivas e de linguagem em crianas com queixa de dificul-
dade de aprendizagem. Acta AWHO, 15(1):21-26, 1996.
124 Fonoaudiologia Prtica
6
Testes Audiolgicos para a
Identificao de Alteraes
Cocleares e Retrococleares
INTRODUO
FIGURA 6.1 Corte transversal ligeiramente esquemtico atravs de uma espira da cclea. (PUTZ, R.
& PABST, R. Cabea e pescoo e extremidade superior. Sobotta. Atlas de Anatomia Humana. Vol. 1.
Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1995.)
130 Fonoaudiologia Prtica
OD OE
dB dB
0 0
10 10
20 20
30 30
40 40
50 50
60 60
70 70
80 80
90 90
100 100
FIGURA 6.2 Grfico exemplificando o fenmeno do recrutamento.
FIGURA 6.4 Audiograma de disacusia sensorio- FIGURA 6.5 Audiograma de disacusia sensorio-
neural leve bilateral, mostrando assimetria discre- neural descendente assimtrica de um indivduo
ta em um indivduo apresentando neurinoma do apresentando neurinoma do acstico do lado
acstico do lado direito. direito.
Audiometria vocal
A bateria vocal bsica inclui a medida do limiar de recepo de
fala (speech reception threshold SRT), o ndice de reconheci-
mento de fala (IRF) e a curva de inteligibilidade (PI-PB perfor-
mance/intensity with phonetically balanced words).
Como rotina so usados o SRT e o IRF, sendo a curva PI-PB
um teste de escolha para complementao da investigao inicial.
O SRT representa o limiar para materiais de fala e no tem
valor diagnstico, entretanto, sua contribuio est na confirma-
o dos limiares tonais, sendo precioso naqueles casos de
respostas assistemticas ou duvidosas.
O IRF determinado pela habilidade de identificar corretamente
palavras monossilbicas. Indivduos normais podem reconhecer
palavras facilmente, quando apresentadas em intensidade onde
possam ser ouvidas claramente. O IRF normal, ou seja, um reconhe-
cimento de fala normal esperado entre 88 e 100% de identificao
correta, quando apresentadas a 40 dB NS (GATES & CHAKERES,
Testes Audiolgicos para a Identificao de Alteraes Cocleares e Retrococleares 135
FIGURA 6.6 Audiogramas com resultados tonais de disacusia sensorioneural mostrando diferentes
resultados de IRF. A) Um caso de um senhor de 74 anos de idade, com diagnstico audiolgico de
presbiacusia neural. B) Uma senhora de 61 anos de idade, com hiptese diagnstica de otosclerose
coclear. C) Um caso de neurinoma do acstico esquerda. D) Um caso de neurinoma do acstico
esquerda. OD = ( ) ; OE = ( ).
136 Fonoaudiologia Prtica
Audiometria tonal
250 500 1000 2000 4000 8000 Hz
dB SRT IRF
0
10 OD: 55 dB OD: 85 dB = 12%
20 OE: 20 dB OE: 50 dB = 100%
30
40
50
60
70
80 FIGURA 6.7 Resultado audiolgico de um pa-
90 ciente portador de neurinoma do lado direito,
100 mostrando desproporcionalidade entre a porcen-
tagem de IRF e a mdia tonal (PTA).
Testes Audiolgicos para a Identificao de Alteraes Cocleares e Retrococleares 137
Audiometria tonal
250 500 1000 2000 4000 8000 Hz
dB
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
SRT IRF
Imitanciometria
A imitncia acstica um teste que fornece informaes obje-
tivas e eficientes sobre a integridade funcional do sistema auditivo,
atravs da timpanometria e da pesquisa do reflexo estapediano. Tem
sido largamente aplicada na avaliao de leses do ouvido interno,
do VIII par e do ngulo pontocerebelar (NORTHERN & ROUSH, 1985).
A timpanometria utilizada para a avaliao das condies do
ouvido mdio. Portanto, no discutiremos sua interpretao.
Entretanto, necessrio lembrar que a anlise dos limiares do
reflexo estapediano tem relao direta com a integridade do
sistema tmpano-ossicular. O exame otolgico cuidadoso, asso-
ciado a timpanometria normal e ausncia de gap areo-sseo,
permitir a validade da pesquisa das vias aferente e eferente do
reflexo estapediano. Caso contrrio, a ausncia do mesmo ser
atribuda a alteraes do ouvido mdio que impediram sua capta-
o, e no de alterao em outras estruturas.
Testes Audiolgicos para a Identificao de Alteraes Cocleares e Retrococleares 139
Timpanometria Timpanometria
8 8
7 7
6 6
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
400 300 200 100 0 +100 +200 daPa 400 300 200 100 0 +100 +200 daPa
A B
FIGURA 6.10 Resultado audiolgico mostrando a presena de alterao coclear pela presena de
recrutamento de Metz. A) Um indivduo apresentando meningioma do lado direito. B) Um indivduo
apresentando neurinoma do acstico do lado direito. OD = ( ) ; OE = ( ).
140 Fonoaudiologia Prtica
Timpanometria Timpanometria
8 8
7 7
6 6
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
400 300 200 100 0 +100 +200 daPa 400 300 200 100 0 +100 +200 daPa
OD 110 100 90 90 OD
OE OE 80 85 80 80
A B
Reflex: Decay Left CONTRA TDH39 Reflex: Decay Left CONTRA TDH39
Speed: Fast Speed: Fast
500 Hz 95 dB 500 Hz 110 dB
+ 150 + 150
ul 12s ul 12s
150 150
Reflex: Decay Right CONTRA TDH39 Reflex: Decay Right CONTRA TDH39
Speed: Fast 1000 Hz 90 dB Speed: Fast 1000 Hz 110 dB
+150 +150
ul 12s ul 12s
150 150
A B
Audiometria tonal
250 500 1000 2000 4000 8000 Hz
dB
SRT IRF 0
10
OD: 10 dB OD: 50 dB = 100% 20
OE: NPE OE: 110 dB = 0% 30
40
50
60
FIGURA 6.13 Resultado audiomtrico mostrando 70
a limitao da pesquisa de outros sinais audiolgi- 80
cos devido presena de disacusia sensorioneural 90
severa, em um paciente portador de neurinoma do 100
lado esquerdo. NPE = no pode ser estabelecido.
CONCLUSO
Hoje sabemos que os testes bsicos como audiometria tonal
limiar, ndice de reconhecimento de fala e imitncia acstica
podem trazer informaes suficientes quanto a presena ou no
de envolvimento retrococlear, evitando a aplicao de uma bateria
exaustiva e contraproducente.
As alteraes assimtricas diante de uma perda auditiva
sensorioneural tanto na audiometria tonal, audiometria vocal ou
medida do reflexo estapediano, sero os sinais que levantaro
hipteses diagnsticas, conduzindo a escolha apropriada de
testes audiolgicos complementares. Na avaliao comple-
mentar, a utilizao de testes em intensidades fortes como a
pesquisa do fenmeno de rollover e do declnio do reflexo
estapediano mostraram-se como os melhores testes nesta
investigao. Essa escolha est em concordncia com JERGER
(1987), onde ele afirma que a lio mais importante que a prtica
pode nos dar de que os melhores sinais de envolvimento
retrococlear so dados em intensidades fortes.
Testes Audiolgicos para a Identificao de Alteraes Cocleares e Retrococleares 145
Timpanometria Timpanometria
8 8
7 7
6 6
5 5
4 4
3 3
2 2
1 1
0 0
200 0 +200 200 0 +200
Leitura recomendada*
BRUNT, M.A. Tests of cochlear function. In: KATZ, J. Handbook of
Clinical Audiology. 4 ed. Baltimore, Williams & Wilkins, 1994.
CLEMIS, J.D. & MASTRICOLA, P.G. Special audiometric test battery in
121 proved acoustic tumors. Arch Otolaryngol., 102:654-656, 1976.
DALLOS, P. The active cochea. J. Neuroscience., 12(12):4575-4585,
1992.
GANANA, F.F.; MATSUHAMA, C.; TESTA, J.R.G.; MUNHOZ, M.S.L.;
FUKUDA, Y.; GANANA, M.M.; MANGABEIRA ALBERNAZ, P.L.
Schwannoma vestibular: sintomas e sinais tpicos e atpicos. Acta
AWHO, 8(1):33-38, 1994.
GATES, G.A. & CHAKERES, D.W. Interpretation of Diagnostic Tests
for Acoustic Neuroma. American Academy of Otolaryngology-Head
and Neck Surgery. Rochester, 1988.
HART, M.J. & LILLEHEI, K.O. Management of posterior cranial fossa
meningiomas. Ann. Otol. Rhinol. Laryngol., 104:105-116, 1995.
HIRSCH, A. & ANDERSON, H. Audiologic test results in 96 patients
with tumours affecting the eighth nerve. Acta Otolaryngol., (Suppl.)
369:1-26, 1980.
HOMBERGEN, G.C.J.H. Audiometry: cochlear versus retrocochlear
pathology. Adv. Oto-rhino-laryng., 34:39-46, 1984.
HUDSPETH, A.J. How the ears works work. Nature, 341:397-404, 1989.
JERGER, J. & JERGER, S. Audiological comparison of cochlear and
eight nerve disorders. Ann. Otol., 83:275-285, 1974.
JERGER, J. & JERGER, S. Auditory Disorders. Boston, Little Brown
Co., 1981.
7
Perda Auditiva Funcional
Sintomas comportamentais
A entrevista que precede qualquer exame audiolgico deve
ser um bom momento para observar a atitude geral do sujeito a ser
examinado. Perguntas detalhadas sobre o problema do paciente
so sempre de grande valor e o examinador deve ser perspicaz
para poder detectar pistas discretas que o paciente pode apre-
sentar.
Durante esta anamnese importante conhecer a histria
pregressa relativa relao empregado-empregador, quando e
como surgiu o problema em questo, como o sujeito se encontra
atualmente. importante observar como so as respostas e se
so seguidas de informaes adicionais, como se o paciente
tentasse convencer o examinador da veracidade de suas queixas:
Procedimentos especiais
Teste de Lombard
Baseado no princpio de que uma pessoa monitora sua voz
a partir do feedback acstico, ou seja, a partir do que consegue
ouvir do que produz, L OMBARD elaborou o seguinte procedi-
mento:
O paciente colocado na cabina acstica com os fones sobre
os ouvidos, e solicitado a ler em voz alta, um trecho de um livro.
Ao comear a faz-lo, introduz-se nos fones rudo mascarante de
banda larga que vai sendo aumentado progressivamente. Ao
mesmo tempo, atravs de um microfone e de um medidor de
volume, controla-se a mudana na intensidade da voz do exami-
nado. Se o aumento da voz ocorre ao mesmo tempo que o
aumento da intensidade do rudo acontece, porque o sujeito sob
teste est sofrendo os efeitos do rudo e perdendo sua capacidade
de automonitorar sua produo vocal.
Teste de Doerfler-Stewart
Consiste em observar a alterao que se produz na
inteligibilidade da palavra, quando se mistura a voz com o rudo.
O princpio do teste est na dificuldade que indivduos com
audio normal tm em manter respostas supraliminares consis-
tentes quando em presena de rudo competitivo ipsilateral,
porm o que chama mais a ateno o fato de que portadores de
perdas auditivas funcionais costumam apresentar dificuldades
maiores que os indivduos normais. Exageram sua dificuldade.
Neste procedimento, determina-se em primeiro lugar a curva
logoaudiomtrica do examinado sem rudo competitivo, em segui-
da, a mesma curva obtida, porm com rudo de banda larga
homolateral ao ouvido onde as palavras esto sendo apresenta-
das. O simulador, to logo o rudo apresentado (s vezes abaixo
do nvel de audio apresentado na audiometria), mostra queda
na sua habilidade de repetir o sinal de fala introduzido.
Em trabalho publicado por VENTRY & CHAIKLIN (1965), os
autores referiram que o teste de Doerfler-Stewart (teste D-S)
identificou incorretamente 50% do grupo com perda auditiva
orgnica como funcional e 58% do grupo com perda auditiva
funcional como orgnica. M ENZEL (1960) encontrou resultados
indicadores de perda funcional em 58% dos pacientes testados
(n = 83).
O teste D-S deve ser considerado um teste de triagem, e se os
resultados so positivos, este paciente deve ser submetido a
outras avaliaes com outros procedimentos.
Perda Auditiva Funcional 161
QUADRO 7.2 Sugesto de estria para realizao do teste de voz alternada. (Adap-
tada de MARTIN Pseudohypoacusis. In: KATZ, J. Handbook of Clinical Audiology. 4
ed. Cap. 36, 1994. p. 560.)
Ouvido ruim Ambos ouvidos Ouvido bom
1. Lyons aproximava-se na floresta
silenciosa e perigosamente
de sua presa
2. carregando seu rifle Seu instinto animal e anos de experincia
confiantemente.
3. reforados pela inteligncia deixaram-no confiante atravs da caminhada.
educada
4. Jim Lyons era h muito reconhecido como o mais esperto caador
da floresta.
5. Exceto por aqueles que vivem sobre quatro patas Lyons nunca voltou para casa
insatisfeito
6. ou com as mos vazias. Os veados eram sua presa devido sua carne suculenta
preferida
7. e sua bela pele.
Teste de Stenger
um dos testes mais antigos para a identificao de perdas
auditivas funcionais. Foi inicialmente elaborado por STENGER
(1907) para ser usado com um par de diapases, cujas freqn-
cias sejam idnticas.
O teste de Stenger se baseia nos princpios de que: 1.
quando um som com diferena de intensidade de 5 a 10 dB
apresentado simultaneamente aos dois ouvidos de um indiv-
duo com audio normal, este sujeito capaz de localizar qual
o lado em que o som foi apresentado mais forte; 2. quando o
mesmo procedimento realizado em um paciente com perda
auditiva unilateral, ele referir como, mais forte, o lado em que
tem sua audio preservada.
5 25
10 50
20 75
28 88
32 92
40 100
Perda Auditiva Funcional 163
0
10
20
30
40 traado para som
mcontnuo
50 traado para som
60 mintermitente
70
80
90
100
110
125 250 500 1k 2k 4k 8k Hz
FIGURA 7.1 Traados obtidos audiometria automtica de Bksy classificados como (Tipo V) por
JERGER & HERER, 1961.
Prova de Carhart
CARHART (1945) elaborou este procedimento que permite ob-
servar a relao entre a perda auditiva para tom puro e a perda
auditiva para fala. Tal relao tem mostrado que a perda auditiva
para tom igual perda para fala, com uma margem de diferena
de at 5 dB.
Perda Auditiva Funcional 165
Audiometria tonal
Hz .25 .5 1K 2K 3K 4K 6K 8K LRF IRF MONO DIS
OD 20 20 15 15 10 10 10 15 15 dB 55 dB 100% 100%
FIGURA 7.2 Nesta figura pode-se visualizar a discrepncia entre os resultados obtidos audiometria
tonal e a medida do reflexo acstico contralateral.
Emisses otoacsticas
Segundo NORTON & STOVER (1994), emisses otoacsticas
so os sons gerados dentro de uma cclea normal que podem ser
registrados no conduto auditivo externo. KEMP (1978) foi o primei-
ro pesquisador a registrar e medir as emisses otoacsticas.
Acredita-se que as emisses otoacsticas refletem a atividade de
mecanismos biolgicos ativos que existem dentro da cclea,
responsveis pela sua extrema sensitividade em relao fre-
qncia e intensidade do estmulo.
Existem dois tipos de otoemisses: 1. a espontnea, que
ocorre na ausncia de estimulao externa e; 2. a evocada, ocorre
durante ou aps estimulao acstica externa.
Por ser uma tcnica no invasiva e por serem muito sensveis
ao estado da cclea, as emisses otoacsticas evocadas so um
instrumento muito valioso na clnica audiolgica. Tem sido de-
monstrado que sujeitos, com audio perifrica normal, apresen-
tam, na maior parte dos casos, registros de emisso otoacstica
com alta reprodutibilidade e baixa distoro, e que pacientes
portadores de perda auditiva perifrica coclear tm seus registros
alterados ou ausentes.
168 Fonoaudiologia Prtica
CONCLUSO
A audiologia clnica dos ltimos 20 anos trouxe muitas
novidades tecnolgicas que facilitaram a vida dos examinado-
res que atuam na rea da percia mdica, onde avaliam simula-
dores voluntrios ou involuntrios que examinam pacientes com
distrbios psicolgicos, perceptuais, com deficincias neurol-
gicas e/ou sensoriais associadas.
O desenvolvimento de procedimentos tais como: audiometria
de tronco cerebral, pesquisa da emisso otoacstica e pesquisa
do reflexo acstico permitiram ao fonoaudilogo concluir com
mais segurana e confiana se determinado paciente ou no
portador de pseudo-hipoacusia.
A observao cuidadosa do comportamento, das atitudes, da
qualidade da voz, da fala, da linguagem oral e corporal do paciente
podem fornecer pistas importantes para que o examinador venha
a suspeitar de audio normal, quando a queixa de dificuldade
parcial ou total para ouvir.
Leitura recomendada
AZZI, A. Le prove per svelare la simulazione di sordita. Riv. Audiologia
Prat., 5-6:23-55, 1952.
CAMPBELL, R. Na index of pseudo-discrimination loss. J. Speech
Hearing Res., 8:77-84, 1965.
DOBIE, R. Physiological techniques used in assessment of the auditory
system. In: KEITH, R. Audiology for the Physician. Baltimore, Williams
and Wilkins Co.(5), 1980.
FOURNIER, J. The detection of auditory malingering. Trans. Beltone
Inst. Hear. Res., 8, 1958.
HOPKINSON, N.T. Speech tests for pseudohypoacusis. In: KATZ, J.
Handbook of Clinical Audiology . 2 ed. Baltimore, Williams and
Wilkins, 1978. pp. 291-303.
JERGER, J. & HERER, G. An unexpected dividend in Bksy audiometry.
J. Speech Hearing Disorders, 26:390-391, 1961.
JERGER, J.; BURNEY, I.; MAULDIN, L.; CRUMP, B. Predicting hearing
loss from the acoustic reflex. J. Speech Hear. Disord., 39:11-22,
1974.
170 Fonoaudiologia Prtica
8
Imitncia Acstica:
Aplicaes Clnicas
Timpanometria
Timpanometria o mtodo utilizado para a avaliao da
mobilidade da membrana do tmpano e das condies funcionais
da orelha mdia. realizada medindo-se a capacidade que tem a
membrana de refletir um som introduzido no meato acstico
externo, em resposta a graduais modificaes de presso no
mesmo conduto.
JERGER, estudando mais de 400 pacientes, determinou trs
tipos fundamentais de curvas timpanomtricas, conforme a afec-
o encontrada na orelha mdia:
a) A curva A caracterizada por um pico mximo ao redor de
0 (zero) decaPascal de presso, e foi encontrada em indivduos
normais ou em portadores de otosclerose.
b) Na curva do Tipo B no existe aquele pico de mxima
complacncia e a curva se mostra inaltervel, mesmo que as
variaes de presso no meato acstico externo sejam grandes.
Estas foram encontradas em pacientes portadores de otite mdia
secretria.
c) O terceiro tipo foi denominado de C e seu ponto mais alto,
isto , de mxima complacncia, estava deslocado para presses
muito negativas, em torno de 100 daPa. Foi encontrado em
pacientes portadores de malfuncionamento tubrio.
O mesmo JERGER e cols., aps a realizao de mais de mil
timpanometrias em pacientes com vrios tipos de alteraes da
orelha mdia e com membrana do tmpano normal, descrevem
duas outras curvas classificadas dentro do Tipo A:
Uma delas, a denominada de Ar (curva de rigidez) mostra-
se achatada, porm seu perfil semelhante ao da curva A,
que passou a ser denominada An. Esse tipo Ar foi achado
em pacientes com otosclerose, timpanosclerose ou com
membranas timpnicas espessas.
178 Fonoaudiologia Prtica
1
2
3
4
5
6
7
8
9 FIGURA 8.3 Timpanograma Tipo A. Encontrado
10 em pacientes com orelha mdia normal.
1
2
FIGURA 8.4 Timpanograma Tipo B. Encontrado
3 em pacientes portadores de otite mdia secretria
4
com fluido na orelha mdia. Esta curva tambm
5
6 poder ser observada em pacientes com peque-
7 nas perfuraes da membrana do tmpano com
8
9 tuba auditiva obstruda ou ainda em otuloses,
10 porm sem valor diagnstico.
1
2
3
4 FIGURA 8.5 Timpanograma Tipo C. encontra-
5
6 do em pacientes com disfuno da tuba auditiva.
7 Semelhante ao Tipo A, porm com o ponto de
8
9 maior complacncia deslocado para o lado de
10 presses negativas.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
FIGURA 8.6 Timpanograma Tipo Ar. Encontrado
10 em pacientes portadores de otosclerose.
1
2
3
4
5
6 FIGURA 8.7 Timpanograma Tipo Ad. encontra-
7 do em pacientes portadores de hipoacusia condu-
8
9 tiva causada por disjuno traumtica da cadeia
10 ossicular.
Imitncia Acstica: Aplicaes Clnicas 179
Complacncia esttica
A expresso complacncia esttica usada em contraste com
a da medida de complacncia dinmica, exemplificada pela
timpanometria e pesquisa do reflexo do msculo do estribo.
Usando a ponte eletroacstica, medida no ponto de mxima
complacncia do timpanograma. No caso de uma orelha normal
este ponto dever ser encontrado prximo da presso zero daPa,
podendo ser ligeiramente negativo.
80 2
60 4
40 10
20 10
Zero 55
+20 16
+40 2
FIGURA 8.8 Medida das presses encontra- +60
das na orelha mdia num grupo de pacientes
0 20 40 60 80
normais. Notar a variao de presses des-
de negativas a positivas observadas naque- Pacientes %
les pacientes.
180 Fonoaudiologia Prtica
Normais
Otite mdia secretria
Sensorioneurais
60% Otosclerose
50%
40%
30%
20%
10%
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
1,1
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
1,8
1,9
2,0
FIGURA 8.9 Curva de distribuio das freqncias das complacncias encontradas em pacientes com
orelhas mdias normais, portadores de disacusias sensorioneurais, otosclerose e otite mdia secretria.
Imitncia Acstica: Aplicaes Clnicas 181
Segundos Normal
Flexo
Otosclerose
On Off
1,5s Tempo
+200
daPa
+100
+200
daPa
+100
Presso
residual
FIGURA 8.12 Prova de funo tubria em um 0
paciente com obstruo parcial da tuba audi-
tiva. Degluties
+200 Presso
residual
daPa
+100
0
FIGURA 8.13 Prova de funo tubria em um
paciente com obstruo da tuba auditiva. Degluties
0
Caso Data
Segundos Tempo
1
Examinador
RF
2 2
3 3
4 4
R
Segundos
5 5
6 6
7 7
SR
FIGURA 8.14 Registro das modificaes da imitncia em um paciente com tuba auditiva muito
permevel: RF = em respirao forada; R = em respirao normal; SR = paciente sem respirar, no
h modificao da imitncia da orelha.
250 500 1K 2K 4K 8K Hz
10
E.B.A. = completo
20
I.S.I. = 100%
30
40
50
60
70
80
FIGURA 8.15 Nveis do reflexo do msculo
90 R R do estribo em um paciente que apresenta o
R R
100 fenmeno do recrutamento. H uma acen-
110 tuada reduo dos valores diferenciais entre
os nveis tonais e para o reflexo (recrutamen-
dB NA Doena de Mnire to de Metz).
Imitncia Acstica: Aplicaes Clnicas 185
IMITANCIOMETRIA NO DIAGNSTICO
OTONEUROLGICO
GREISEN e cols. descreveram dois casos de pacientes porta-
dores de tumor do tronco cerebral, nos quais no se conseguiu
obter o reflexo do msculo do estribo (contralateral), embora a
audio de ambos estivesse dentro dos limites da normalidade. A
despeito de apresentarem nveis normais e de no haver paralisia
facial, o reflexo contralateral se encontrava abolido em ambas
%
100
% Normal
100
50
50
0
0
0 5 10 15 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Segundos Segundos
1.000 Hz intensidade 100 dB 100 Hz intensidade 100 dB
FIGURA 8.16 Registro da contrao do msculo FIGURA 8.17 O mesmo registro num paciente
do estribo. Observar que o msculo permanece com afeco retrococlear (neural). H uma acen-
contrado durante o tempo do estmulo sonoro tuada queda da contrao (> 50%) aps 5s de
(100 dB NA a 1.000 Hz). estmulo sonoro (100 dB NA a 1.000 Hz).
186 Fonoaudiologia Prtica
Ltp = Lrb
Normal Sensorioneural
LD LDA
Nvel Tom
Tom
puro
puro
Limiar para
rudo branco
N M
FIGURA 8.19 Diferenas entre os nveis para o reflexo do msculo do estribo para um tom puro e para
o rudo branco em paciente com audio normal e com disacusia sensorioneural (adaptado de
JERGER).
190 Fonoaudiologia Prtica
TABELA 8.1
Categoria Nvel auditivo predito
Normal perdas menores de 20 dB (NA)*
Suave a moderada perdas entre 20 e 49 dB (NA)*
Severa perdas entre 50 e 84 dB (NA)*
Profunda perdas maiores de 85 dB (NA)*
* Mdia das freqncias 500, 1.000 e 2.000 Hz.
disacusia prevista = D E + F
TABELA 8.2
Valor do DP Valor de Lrb Nvel predito
20 ou mais qualquer normal
15 a 19 90 dB ou menos normal
15 a 19 mais de 90 dB suave a moderada
10 a 14 qualquer suave a moderada
menos que 10 100 dB ou menos suave a moderada
menos que 10 mais de 100 dB severa
ausncia de reflexos qualquer profunda
Nota Adaptada de JERGER.
Nossos resultados
Estudamos um grupo de 82 orelhas, sendo 47 com audio
normal e 35 portadores de deficincia auditiva sensorioneural.
Em nossos estudos tivemos um acerto de 76,8% na predio
dos nveis auditivos e um erro moderado de 21,9%. A Tabela 8.3
oferece em detalhes os resultados de nosso estudo.
Se considerarmos a simplicidade do mtodo da imitancio-
metria e seus resultados na predio da audio do nvel
auditivo, verificamos o horizonte que nos abre na possibilidade
da avaliao da audio, principalmente em crianas pequenas
com deficincias auditivas. Em nenhum caso de perda severa
ou profunda foi feita predio de audio normal, assim como o
inverso tambm foi verdadeiro. Se associarmos os dados obti-
dos por este mtodo com as informaes conseguidas da
anamnese, exame fsico e outros dados obtidos por mtodos
convencionais, poderemos valoriz-lo dentro de uma correta
interpretao. A preciso do mtodo surpreendentemente
boa, pois raros foram os erros graves (1,3%). Esta tcnica
especialmente til na confirmao de audio normal em crian-
as que, tendo sido submetidas a fatores determinantes de
leso do aparelho auditivo na gestao, parto ou ainda nos
primeiros meses de vida, trazem srias preocupaes famlia
quanto possibilidade da existncia de uma deficincia auditi-
va. Embora parea ser difcil e demorado, pelos clculos neces-
srios, o mtodo simples e pode ser realizado em menos de
10min. Algumas vezes e principalmente em crianas pequenas,
necessria uma sedao que no prejudica os resultados,
como j havamos estudado em trabalho anterior. bvio que
os resultados no podem ser considerados isoladamente, sem
uma avaliao global, como tambm o resultado de uma audio-
metria de tronco cerebral ou eletrococleografia (que so muito
mais precisos) no podem ser aceitos em separado.
A predio obtida pela imitanciometria deve fazer parte de
um conjunto de dados na avaliao global do paciente com
TABELA 8.3
Nvel previsto
Nvel medido Normal Suave a Severo Profundo
moderado
Normal 41 (87,2%) 6 (12,7%)
Suave a 9 (36%) 15 (60%) 1 (4%)
moderado
Severo 1 (16,6%) 5 (83,3%)
Profundo 1 (25%) 3 (75%)
Imitncia Acstica: Aplicaes Clnicas 193
Ipsilateral
Diagonal
Contralateral
Ipsilateral
L invertido
Contralateral
Ipsilateral
Vertical
Contralateral
Ipsilateral
Normal
Contralateral
FIGURA 8.20 Padres de respostas que podem ser
Ipsilateral obtidas atravs do reflexo ipsilateral combinado com
o contralateral.
Configurao horizontal
A configurao horizontal aquela obtida quando no encon-
tramos os reflexos contralaterais em ambas orelhas.
Contralateral
Ipsilateral
Configurao diagonal
Neste tipo de configurao, os reflexos esto ausentes quan-
do a orelha lesada a orelha eferente (isto , orelha oposta no
estmulo contralateral e orelha comprometida no ipsilateral).
Contralateral
Ipsilateral
Configurao em L invertido
Na configurao em L invertido, o reflexo encontra-se ausente
em ambos estmulos contralaterais e ausente na orelha lesada,
quando do estmulo ipsilateral.
Contralateral
Ipsilateral
Configurao vertical
Neste tipo de configurao, o reflexo encontra-se ausente
quando a orelha lesada a eferente (no estmulo contralateral e
ipsilateral).
Imitncia Acstica: Aplicaes Clnicas 197
Contralateral
Ipsilateral
Configurao normal
Na considerada normal, todos os reflexos esto presentes,
quer no estmulo contra, quer no ipsilateral.
Contralateral
Ipsilateral
Contralateral
Sonda e Fone dir. Sonda e fone esq.
Diagonal
Num paciente com uma leso sensorioneural no-recrutante
numa orelha (por exemplo, um schwannona vestibular) ou ainda
com uma leso sensorioneural com perdas maiores que 85 dB NA,
encontraremos o reflexo contralateral quando a orelha normal for
estimulada e o ipsilateral apenas na orelha normal.
A configurao diagonal e s poder ser obtida nestes dois
tipos de leses.
Fone dir. (aferente) Fone esq. (aferente)
Sonda dir. (eferente) Sonda esq. (eferente)
Contralateral
Sonda e Fone dir. Sonda e fone esq.
L invertido
Um paciente portador de uma deficincia auditiva condutiva
unilateral, por exemplo, do lado esquerdo, e com orelha direita
normal teria a seguinte configurao (desde que sua perda
auditiva do lado comprometido seja maior que 45 dB NA) ausncia
de reflexos em ambas orelhas no contralateral (na aferente
esquerda por falta de nvel auditivo para desencadear o reflexo e
na aferente direita pela presena de uma leso condutiva na
eferente esquerda). Quando da pesquisa do ipsilateral, haver o
encontro de reflexo normal na orelha direita (a normal) e ausncia
na esquerda (pelos dois fatores, falta de nvel e presena de uma
leso na orelha mdia). Este paciente teria uma configurao
denominada de L invertido. Este tipo de configurao s poder
ser encontrada em um paciente com uma leso condutiva unila-
teral com perda maior que 45 dB NA.
Fone dir. (aferente) Fone esq. (aferente)
Sonda dir. (eferente) Sonda esq. (eferente)
Contralateral
Sonda e Fone dir. Sonda e fone esq.
Vertical
Se um paciente tiver uma perda condutiva leve (menor que 45
dB NA) em um das orelhas, a pesquisa dos reflexos mostrar o
seguinte quadro:
Fone dir. (aferente) Fone esq. (aferente)
Sonda dir. (eferente) Sonda esq. (eferente)
Contralateral
Normal
Ser configurao normal quando o reflexo for encontrado em
ambas orelhas, quer no estmulo contra quer no ipsilateral. Este
achado ser possvel em pacientes normais ou naqueles com
perdas sensorioneurais recrutantes uni ou bilaterais, menores
que 85 dB NA.
Fone dir. (aferente) Fone esq. (aferente)
Sonda dir. (eferente) Sonda esq. (eferente)
Contralateral
Sonda e Fone dir. Sonda e fone esq.
Resumo e interpretao
Configurao Interpretao
Horizontal Apenas em leses do tronco cerebral
Diagonal Leso sensorioneural
retrococlear unilateral
Leso sensorioneural coclear
unilateral com perdas maiores
que 85 dB NA
L invertido Leso condutiva unilateral
(perdas maiores que 45 dB NA)
Vertical Leso condutiva unilateral
leve (menor que 45 dB NA)
Paralisia facial supra-estapediana
200 Fonoaudiologia Prtica
Leitura recomendada
ANDERSON, H. et al. The early detection of acoustic tumours by the
stapedius reflex test. In: WOLTENHOLME, G.E. & KNIGHT, J.
Sensorial Hearing Loss. London, J.A. Churchil, 1970.
FELDMAN, A.S. & WILBER, L.A. Acoustic Impedance & Admittance.
The Measurement of the Middle Ear Function. Baltimore, The Williams
& Wilkins Co., 1976.
HOLMQUIST, J. Eustachian tube function assessed with tympanometry.
Acta Otolaryng., 68:501-508, 1969.
JERGER, J. et al. Studies in impedance audiometry. Arch. Otolaryng.,
96:513-523, 1972.
JERGER, J. et al. Handbook of Clinical Impedance Audiometry. New
York, American Eletromedical Co., 1975.
KIRIKAE, I. The structure and function of the middle ear. Tesis
University. Tokyo Press, 1960.
KLOCKHOFF, I. Middle ear reflex in man. Acta Otolaryng., Suppl. 162,
1961.
LOPES FILHO, O. Contribuio ao Estudo Clnico da Imitncia Acs-
tica. Tese Universidade de So Paulo, 1972.
LOPES FILHO, O. The early diagnosis of a glomic tumor in the middle-ear
by means of acustic impedance. Impedance New letter, 1:1-5, 1972.
LOPES FILHO, O. Da imitncia acstica do ouvido mdio e do
diagnstico otolgico. Rev. Brasil. O.R.L., 39:66-76, 1973.
LOPES FILHO, O. Estudo clnico da atividade dos msculos do ouvido
mdio, pelo mtodo da imitncia acstica. Rev. Brasil. O.R.L.,
41:111-140, 1975.
LOPES FILHO, O. Mtodo objetivo no diagnstico otolgico. Atual em
Otol. e Fon., 2:113-126, 1973.
LOPES FILHO, O. Predio do nvel auditivo por meio da impedancio-
metria. Rev. Brasil, O. R. L., 41:238-246, 1975.
LOPES FILHO, O. & CAMPOS, C.A.H. Estudo clnico de alteraes na
imitncia do ouvido mdio em pacientes com hipertenso intracra-
niana. Rev. Bras. O.R.L., 43:154-160, 1977.
LOPES FILHO, O. et al. O reflexo ipsilateral em impedanciometria.
Rev. Brasil O.R.L., 44:54-64, 1978.
METZ, O. The acoustic impedance measured on normal and pathological
ears. Acta Otolaryng., Suppl., 63, 1946.
Audiometria Eletrofisiolgica 201
9
Audiometria
Eletrofisiolgica
INTRODUO
A audiometria de respostas eltricas (Electric Response
Audiometry ERA) o conjunto de mtodos que avaliam a
atividade eletrobiolgica ao longo do sistema auditivo, da orelha
interna ao crtex cerebral. Atualmente ela apresenta grande
interesse, pelo seu emprego em Audiologia, como exame comple-
mentar em diversas situaes da audiologia clnica.
Os primeiros potenciais evocados auditivos no ser humano
foram captados e reconhecidos como respostas a estmulos
acsticos em 1939, por DAVIS. Estas respostas, denominadas na
poca de complexo K, de origem provvel no crtex cerebral,
eram modificaes do traado do eletroencefalograma, que ocor-
riam de forma inespecfica a uma srie de estmulos sensoriais,
tais como luz e ao som. Em 1945, LEMPERT e cols. obtiveram com
sucesso potenciais sensoriais do ouvido interno no transcurso de
cirurgias otolgicas e com eletrodo implantado diretamente na
janela redonda. Nesta poca, a anlise dos potenciais era feita por
superposio de imagem fotogrfica e a diminuta amplitude dos
mesmos impediu uma aplicao clnica imediata dos potenciais
gerados pelo sistema auditivo.
Na dcada de 60, com a introduo de promediadores desti-
nados a evidenciar as respostas do sistema auditivo, atravs da
extrao das respostas eletrobiolgicas e do rudo de fundo, a
ERA adquiriu grande desenvolvimento.
202
Da orelha interna
Do ponto de vista fisiolgico, o ducto espiral da cclea
dividido em dois compartimentos, pela membrana basilar: a esca-
la vestibular e o ducto coclear de um lado e a escala timpnica de
outro. A escala vestibular e ducto coclear so separados pela
membrana de Reissner, delgada e flexvel, e sua funo pode ser
considerada desprezvel considerando as propriedades acsticas
da onda de propagao na orelha interna.
A membrana basilar, que separa o ducto coclear da escala
timpnica e aonde se situa o rgo de Corti, muito importante do
ponto de vista fisiolgico. Ela espessa, estreita e rgida na espira
basal, tornando-se fina, larga e flexvel na espira apical da cclea.
Quando a orelha interna estimulada acusticamente, via janela
oval, ocorre ao longo da membrana basilar um movimento
sinusoidal que progride da espira basal espira apical da cclea,
denominado de onda de propagao coclear. A amplitude da onda
Audiometria Eletrofisiolgica 203
3
2
1
OP IHC
NF FIGURA 9.2 Microscopia eletrnica de
SN
varredura (SEM) do rgo de Corti, de-
TC monstrando as clulas ciliadas internas
NP
(IHC), as clulas ciliadas externas (1/2/3),
a clula do pilar (OP), feixes de fibras
neurais (NF), o espao de Nuel, o tnel
BM de Corti (TC) e a membrana basilar (BM).
Nas setas os estereoclios das clulas
ciliadas.
Audiometria Eletrofisiolgica 205
, 0,6
mm
OHC
Potenciais sinpticos
Outra forma de atividade neuronal so os potenciais ps-
sinpticos oriundos dos dendritos e dos corpos celulares da
substncia cinzenta do SNC. Os potenciais sinpticos represen-
tam a atividade de integrao entre os diversos ncleos do
206
POTENCIAIS AUDITIVOS
Potenciais cocleares
Eletrococleografia (ECochG)
A ECochG caracteriza-se por avaliar o receptor perifrico da
audio, a orelha interna e nervo coclear, sendo a resposta mais
caracterstica o potencial de ao global do nervo coclear.
O eletrodo de captao, usualmente empregado, um eletrodo
transtimpnico, com formato de uma agulha, que se insere ao nvel
Audiometria Eletrofisiolgica 207
5
2
4
3
dB NA dB NA
110 1 V
110 1 V
100
100
90
90
80
80
70
1 V
60 70 1 V
50 60
40
50
30
40
20
15
1 V Sem estmulo 1 V
Sem estmulo
Tempo
Tempo (ms)
0 10 0 10 (ms)
Estmulo Estmulo
FIGURA 9.6 Respostas ECochG normal, com FIGURA 9.8 Respostas de ECochG recrutante,
limiar eletrofisiolgico a 15 dB NA. com limiar eletrofisiolgico a 40 dB NA. Notar a
pequena variao dos valores da latncia, das
altas intensidades ao limiar eletrofisiolgico.
dB NA dB NA
110
1 V 110
1 V
100 100
90
90
80
80
70
1 V
70
60
60
50
50 40
30
40
Sem estmulo 1 V
Tempo (ms)
0 10
Sem estmulo 1 V Estmulo
Tempo
F IGURA 9.9 Respostas de ECochG dissocia-
0 10 (ms)
Estmulo
da, com limiar eletrofisiolgico a 50 dB NA.
Notar o potencial com duplo pico negativo e a
FIGURA 9.7 Respostas de ECochG condutiva, latncia extremamente prolongada ao limiar
com limiar eletrofisiolgico a 40 dB NA. eletrofisiolgico.
Audiometria Eletrofisiolgica 209
PS
Normal
PA
PS
hidropisia endolinftica
PS > 30% PA
PA
FIGURA 9.10 Potencial de ao largo na hidropisia FIGURA 9.11 Potencial de ao anormal. Notar a
endolinftica. Notar a amplitude do potencial de morfologia larga e a presena do pico positivo
somao significativa (amplitude relativa maior precoce.
que 30%), negativo e precedendo o potencial de
ao.
V
III
IV
I
II
VI
VII
I III V
BSER normal
I III
DA neural
I III V
0 5 10
Esclerose mltipla
SN10
20 dB
40 dB
60 dB
P2
P1
4 V
N1
N2
Indicaes em adultos
A deficincia auditiva sensorioneural apresenta, em muitas
ocasies, um srio desafio para a definio do topodiagnstico
correto. Em audiologia clnica, estas so situaes em que a
ECochG e a BSER so muito teis, principalmente pela observa-
o da velocidade de conduo central.
A ECochG avalia principalmente a orelha interna e o nervo
coclear; os potenciais do nervo coclear podem ser estudados
principalmente nas curvas de entrada/sada da latncia. As for-
mas das curvas de entrada/sada da latncia, associadas
variao morfolgica do potencial de ao, permitem estabelecer
as quatro curvas bsicas da ECochG: 1. normal; 2. condutiva; 3.
recrutante; e 4. dissociada. A morfologia do potencial de ao
permite, em certas circunstncias, o diagnstico da deficincia
auditiva. Os potenciais de ao largos, caracterizados pela super-
posio de um potencial de somao negativo a um potencial de
ao normal, so caractersticos de hidropisia endolinftica e,
portanto, de uma deficincia auditiva sensorial; os potenciais de
ao largos, com morfologia bizarra, so caractersticos de leso
neural ao nvel do nervo coclear. A ECochG pode ser particular-
mente til para a obteno do potencial de ao de nervo coclear,
a P:I da BSER nas situaes em que pela BSER no foi possvel
a obteno dos potenciais, particularmente da P:I.
As deficincias auditivas sensorioneurais com velocidade de
conduo central atestada pela BSER normais so compatveis
com leses predominantemente sensoriais; por outro lado, defi-
cincias auditivas com velocidades de conduo central altera-
das, atestadas pelo aumento significativo da latncia interpico P:I-
V, so compatveis com leses neurais e/ou centrais.
Como foi comentado, a velocidade de conduo central de P:I-
V em mdia de 4ms s estimulaes ao redor de 60 a 80 dB NA;
aumento de P:I-V (acima de 4,5ms) custa de P:I-III indica leses
neurais e/ou de tronco enceflico baixo: aumento de P:I-V custa
de P:III-V sugestivo de leso de tronco enceflico alto, pela
BSER.
Alteraes na morfologia da BSER tambm so sugestivas de
leses neurais; a ausncia de todas as ondas; a ausncia de P:III
e/ou P:V so as alteraes morfolgicas mais comumente encon-
tradas.
A associao dos dois exames permite alta sensibilidade e
especificidade no topodiagnstico das deficincias auditivas sen-
sorioneurais.
216
Indicaes em crianas
A ERA tem se revelado um exame extremamente til na
avaliao audiolgica da populao peditrica, permitindo deter-
minar a natureza da deficincia auditiva e a predio do limiar
auditivo. Especificamente, a ECochG e a BSER sempre devem
ser consideradas em conjunto com a avaliao audiolgica con-
vencional; a avaliao isolada de tais testes pode incorrer em
erros diagnsticos, em determinadas situaes.
A ECochG permite a avaliao mais precisa do limiar eletro-
fisiolgico, por ser um teste monoaural, por avaliar o fenmeno do
recrutamento coclear e pela proximidade dos geradores dos
potenciais com os eletrodos. Deve ser utilizada nos casos de
indicao de aparelhos de amplificao sonora individual, tendo
em vista a orelha mais adequada para a protetizao, e a escolha
adequada das caractersticas eletroacsticas da prtese auditiva
a ser selecionada.
A BSER permite uma avaliao mais ampla do sistema
auditivo, da orelha interna ao tronco enceflico. Alm de poder ser
utilizada para a predio do limiar psicoacstico, tendo em vista
uma possvel adaptao de aparelho de amplificao sonora
individual, permite a deteco de anormalidades ao nvel de
tronco enceflico, por imaturidade, leses degenerativas e/ou
tumorais ao nvel do SNC. Especificamente, ao neonato de alto
risco, nosso pensamento que, para a deteco de provvel
deficincia auditiva, deve ser estabelecido um programa de teste
tipo Passa/Falha, a ser aplicado a cada quadrimestre at os 12
meses de idade. Deve ser salientado que neonatos de alto risco
Audiometria Eletrofisiolgica 217
RN de 30 semanas
Pr-exsangneo OD-L= 80 dB
I V
III
OE-L=?
Ps-exsangneo OD-L= 40 dB
I III
0 10 20
V OE-L= 40 dB
I III FIGURA 9.18 Respostas pela BSER em
um neonato com hiperbilirrubinemia mode-
rada/severa (bilirrubina indireta em 20
mg/dl), pr e ps-exsangineotransfuso.
Notar a melhora acentuada das respostas
80 dB NA - 20 est./s 20ms aps correo dos nveis de bilirrubina.
Leitura recomendada
DAVIS, H. Principles of electric response audiometry. Ann. Otol.,
Rhinol. & Laryngol ., 28(Suppl):95, 1976.
HALL III, J.W. Handbook of Auditory Evoked Response. Massachussets,
Alyn & Bacon, 1992. 871 p.
HYDE, M.L. Objective tests of hearing Auditory evoked potentials. In:
Adult Audiology. Otolaryngology. 5 ed. Scott-Browns London,
Butterworths, 1987. pp. 272-297.
KEIDEL, W.D. & NEFF, W.D. Handbook of Sensory Physiology. Vol. 3.
Berlin, Springer-Verlag, 1976. 811 p.
OWEN, J.H. & DAVIS, H. Evoked Potential Testing Clinical Applications.
New York, Grune & Stratton, Inc., 1985. 259 p.
RUTH, R.A. & LAMBERT, P.A. Auditory evoked potentials. In:
Otolaryngol. Clin. of North Amer., 24(2):349-370, 1991.
Deficincia Auditiva 1
Emisses Otoacsticas 221
10
Emisses Otoacsticas
INTRODUO
CURSOR (dB,Hz)
Freq.: 69,9 NF: 3 dB 0
Level: 2 dB SPL
FIGURA 10.1 Esta figura representa a tela do monitor de vdeo com as informaes que so fornecidas
pelo exame, no caso mostrando um paciente com emisses espontneas bem significativas. No
quadro principal, o maior, temos ento um espectro que relaciona a amplitude da emisso nas diversas
freqncias. Notar a presena de dois picos, sendo o maior e mais significativo em torno de 1.621, 2
Hz com uma amplitude de 4 dB NPS e um menor de 0 dB NPS na freqncia de 1.328,8 Hz; resultados
que podem ser lidos no quadro menor acima e esquerda.
SYSTEM PARAMETERS
Max Frq. : 5000 Hz 20
Gain (A) : 57 dB
Prg. Swp : 1000
Acc. Swp : 251 10
Rej. Swp : 235
CURSOR (dB,Hz) 0
Freq.: 1.551,3 NF: 4 dB
Level: 4 dB SPL
FIGURA 10.2 Representao da tela do analisador num caso onde no encontramos emisses
espontneas.
226 Fonoaudiologia Prtica
CURSOR
0,00 mS
A&B
Pa
F1: Start
F2:
F3: L/R A+B
F4: Subj.
F5: Save
F6: Load
F7: Adj. AB
F8:
F9: Setup
F10: Prnt.
PgUp: 0 5 10 15 mS
PgDn:
SYSTEM PARAMETER c
f2/f1 : 1,22 dB DP-GRAM
f0 : 500 Hz SPL
f1 : 452 Hz 50
f2 : 553 Hz
2*f1f2 : 351 Hz 40
2*f2f1 : 654 Hz 30
f1 Level : 70 dB SPL
f2 Level : 70 dB SPL 20
Gain (A) : 30 dB
Acc.Swp : 200 (200) 10
Rej.Swp : 31 SD3 0
CURSOR (dB,Hz) 10
Freq.: 654,9 NF: 16 dB
Level: 8 : 184 Dg 20
SYSTEM PARAMETERS c
f2/f1 : 1,22 DP-GRAM
f0 : 1006 Hz dB
f1 : 910 Hz SPL
f2 : 1112 Hz 50
2*f1f2 : 708 Hz 40
2*f2f1 : 1314 Hz
f1 Level : 70 dB SPL 30
f2 Level : 70 dB SPL
Gain (A) : 27 dB 20
Acc.Swp : 0 (200) 10
Rej.Swp : 0 SD3
0
CURSOR (dB,Hz)
Freq.: NF: 21 dB 10
Level: 17 : 24 Dg 20
F1: Start F6: Load 30
F2: F7: DP-Rec.
F3: L/R F8: D-Mode 40
F4: Subject F9: Setup
F5: Save F10: Pr. Scr
50
250 [Hz] 500 750 1k 1k5 2k 3k 4k 6k 8k
SYSTEM PARAMETERS c
f2/f1 : 1,22 dB INPUT/OUTPUT GRAPH
f0 : 1006 Hz SPL
f1 : 910 Hz 40
f2 : 1112 Hz
2*f1f2 : 708 Hz 30
2*f2f1 : 1314 Hz 20
f1 Level : 40 dB SPL
f2 Level : 40 dB SPL 10
Gain (A) : 21 dB
Acc.Swp : 10 (100) 0
Rej.Swp : 9 SD3 10
CURSOR (dB,Hz) 20
Freq.: NF: dB
Level: : Dg 30
FIGURA 10.6 Como nos exemplos anteriores, temos a faixa de normalidade (faixa sombreada) e as
amplitudes das respostas representadas pelos crculos e tambm no quadro superior direita. Neste
caso, o limiar das EOAPD na freqncia de 1.006 Hz (f0) foi de 40 dB NPS.
SYSTEM PARAMETERS c
f2/f1 : 1,22 dB AMPLITUDE SPECTRUM
f0 : 1006 Hz SPL
f1 : 910 Hz
70
f2 : 1112 Hz
2*f1f2 : 708 Hz 16 60
2*f2f1 : 1314 Hz 10
f1 Level : 70 dB SPL
50
f2 Level : 70 dB SPL 40
Gain (A) : 21 dB
Acc.Swp : 10 ( 100) 30
Rej.Swp : 9 SD3 20
CURSOR (dB,Hz) 10
Freq.: 705,7 NF: 1 dB
Level: 16 : 42 Dg 0
F1: Start F6: Load 10
F2: DP 1-2 F7: Mark IO
F3: L/R F8: D-Mode
20
F4: Subject F9: Setup 30
F5: Save F10: Pr. Scr 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 kHz 2,5
FIGURA 10.7 Nesta figura temos o espectro relacionando freqncia e amplitude. Nele podemos
observar dois grandes picos que seriam os estmulos que esto sendo apresentados (f1 = 910 kHz e
f2 = 1.112 kHz). Ao lado destes picos encontramos dois outros menores (708 kHz = 2(f2-f1) no valor
de 16 dB NPS e 1.314 kHz = 2(f1-f2) no valor de 10 dB NPS), porm de menor amplitude que
representam as EOAPD nesta freqncia e intensidade.
Emisses Otoacsticas 235
Leitura recomendada
BONFILS, P. Spontaneous otoacoustic emissions clinical interest.
Laryngoscope, 99:752-756, 1989.
CERANIC, B.J.; PRASHER, D.K.; LUXON, L.M. Tinnitus and otoacoustic
emissions. Clin Otolaryngol ., 20:192-200, 1995.
LONSBURY-MARTIN, B.L.; CUTLER, W.M.; MARTIN, G.K. Evidence
for the influence of aging on distortion product otoacoustic emissions
in humans. J. Acoust. Soc. Am., 89(4):1749-1759, 1991.
LONSBURY-MARTIN, B.L.; MARTIN, G.K.; PROBST, R.; COATS, A.C.
Acoustic distortion product in rabbit ear canal. I. Basic features and
physiological vulnerability. Hear. Res., 28:173-189, 1987.
LOPES FILHO, O. & CARLOS, R.C. Produtos de distoro das
emisses otoacsticas. Revista Brasileira de Medicina ORL, 3(5):
224-237, 1996.
LOPES FILHO, O. & CARLOS, R.C. Emisses otoacsticas transit-
rias e produtos de distoro na avaliao de audio em recm-
nascidos. Arquivos Mdicos Hosp. Albert Einstein, 1(3):78-83, 1996.
LOPES FILHO, O.; CARLOS, R.C.; REDONDO, M.C. Produtos de
Distoro das Emisses Otoacsticas. Rev. Bras. ORL, 61(6): 485-
494, 1995.
LOPES FILHO, O. et al. Emisses otoacsticas. Produtos de distoro
na hidropisia endolinftica aguda. Caderno de Otorrinolaringologia.
A Folha Mdica, 112 (Suppl. 1): 87, 1996.
LOPES FILHO, O. et al. Emisses otoacsticas transitrias e produtos
de distoro na avaliao de audio em recm-nascidos com
poucas horas de vida. Rev. Bras. ORL, 62(3):220-228,1996.
MARTIN, G.K.; PROBST, R.; LONSBURY-MARTIN, B.L. Otoacoustic
emission in human ears: normative findings. Ear Hear., 11:106-120,
1990.
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otoacoustic emissions. J. Acoust. Soc. Am., 76:443-448, 1984.
OWENS, J.J.; McCOY, M.J.; LONSBURY-MARTIN, B.L.; MARTIN, G.K.
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PROBST, R.; COATS, A.C.; MARTIN, G.K.; LONSBURY-MARTIN, B.L.
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from normal ear. Hearing Research ., 21:261-275, 1986.
STRICKLAND, A.E.; BURNS, F.M.; TUBIS, A. Incidence of
Spontaneous Otoacoustic Emissions in Children and Infants. J.
Acoust. Soc. Am., 78:931-935, 1985.
TYLER, R.S. & CONRAD-ARMES, D. Spontaneous acoustic cochlear
emissions and sensorineural tinnitus. British Journal of Audiology,
16:193-194, 1982.
ZUREK, P.M. Spontaneous narrow band acoustic signals emitted by
human ears. J. Acoust. Soc. Am., 69:514-523, 1981.
ZUREK, P.M.; CLARK, W.W.; KIM, D.O. The behavior of acoustic
distortion products in the ear canals of chinchillas with normal or
damaged ears. J. Acoust. Soc. Am., 72:774-780, 1982.
Deficincia Auditiva 1
Avaliao Audiolgica no Primeiro Ano de Vida 239
11
Avaliao Audiolgica no
Primeiro Ano de Vida
3 5 meses
N = 51 T = 24/PT = 27
5 7 meses
N = 58 T = 27/PT = 31
7 9 meses
N = 56 T = 28/PT = 28
9 11 meses Freqncia
N = 60 T = 37/PT = 23 de ocorrncia
Termo Pr-termo
(%) (%)
11 13 meses
N = 50 T = 28/PT = 22
Recm-nascido a 3 meses
Procedimento
A criana, em estado de sono leve, colocada deitada, livre de
cobertas para facilitar a observao das respostas corporais.
Os estmulos sonoros de 70 a 80 dB NPS (guizo e sino) so
acionados em ordem crescente de intensidade,no plano lateral
direita e esquerda, com 10 a 20s de durao, distncia de
20 cm do pavilho auricular. Espera-se observar respostas de
ateno . Quando a criana estiver em alerta, verificar a ocorrn-
cia de resposta de orientao ao som, acionando o estmulo por
20s, estando a criana na posio facilitadora (com apoio de
cabea). A resposta de orientao ao som aparece em 50 a 70%
dos neonatos, sendo que h decrscimo de resposta com o
aumento da idade (MUIR & FIELD, 1979; FIELD e cols, 1980;
COSTA, 1993; C OSTA e cols., 1993).
248 Fonoaudiologia Prtica
Resultados
Respostas observadas por AZEVEDO (1993) em 50 crianas
nascidas a termo sem intercorrncias de at 3 meses de idade:
Idade Crianas Sobressalto Ateno RCP
(meses) (n) (%) (%) (%)
01 16 56,3 25 100 Habituao
12 21 33,3 38 100 2
23 13 23 76,9 100 estmulo
De 3 a 6 meses
Procedimento
Criana em alerta, recostada ou sentada no colo da me, com
brinquedo pouco atrativo frente para distrair sua ateno.
Estmulos sonoros de 60 a 70 dB NPS so acionados em
ordem crescente de intensidade, no plano lateral, direita e
esquerda, com 2s de durao, distncia de 20 cm do pavilho
auricular. Espera-se observar, nas crianas de 3 meses, respos-
tas de ateno e nas crianas de 4 e 5 meses respostas de procura
da fonte e localizao.
Pesquisa do reflexo cocleopalpebral com estmulos de 90 a
100 dB NPS (black-black e agog), que deve estar presente.
Resultados
Respostas observadas por AZEVEDO (1993) em 37 crianas
nascidas a termo e sem intercorrncias de 3 a 6 meses:
Avaliao Audiolgica no Primeiro Ano de Vida 249
De 6 a 9 meses
Procedimento
Criana em alerta, sentada no colo da me com brinquedo
pouco atrativo distraindo-a.
Estmulos sonoros de 50 a 60 dB NPS (guizo nico) so
acionados em ordem crescente de intensidade, no plano lateral,
direita e esquerda, e 20 cm abaixo e acima do pavilho
auricular. Espera-se observar respostas de localizao (direita e
esquerda) e localizao indireta para baixo e para cima.
Pesquisa do reflexo cocleopalpebral com estmulo sonoro de
100 dB NPS (agog), que deve estar presente.
Resultados
Respostas observadas por AZEVEDO (1993) em 42 crianas
nascidas a termo sem intercorrncias:
De 9 a 13 meses
Procedimento
Criana em alerta, sentada no colo da me com brinquedo
pouco atrativo em sua frente.
Estmulos sonoros de 40 a 50 dB NPS (guizo nico com
aumento da distncia) so acionados em ordem crescente de
intensidade, no plano lateral, direita e esquerda, abaixo e
acima do pavilho auricular. Espera-se observar respostas de
localizao direita e esquerda, direta para baixo e indireta para
cima. A partir dos 12 meses pode-se encontrar a localizao direta
para cima.
Pesquisa do reflexo cocleopalpebral com estmulo sonoro de
100 dB NPS (agog), o qual deve estar presente.
Resultados
Respostas observadas por AZEVEDO (1993) em 64 crianas
nascidas a termo e sem intercorrncias:
TABELA 11.2 Resumo das respostas a sons de crianas de baixo e alto risco
(AZEVEDO, 1993).
Idade Estmulos acsticos Respostas
meses (NPS)
Termo Pr-termo
Recm-nascido 3 70 80 dB Ateno Ateno
Orientao
90 100 dB Sobressalto Sobressalto
RCP RCP
36 60 70 dB Ateno (3 meses) Ateno
Procura fonte Procura fonte
local. (5 meses) *
90 100 dB RCP RCP
Sobressalto
69 50 60 dB Local. lateral Local. lateral
Indireta baixo Indireta baixo
Indireta cima *
100 dB RCP RCP
9 13 40 50 dB Local. lateral Local. lateral
Direta baixo Direta baixo
Indireta cima Indireta cima
100 dB RCP RCP
* Diferena estatisticamente significante.
T ABELA 11.3 Audiometria com reforo visual: nveis mnimos de resposta espera-
dos por faixa etria (AZEVEDO, 1993).
Idade (meses) Nvel mnimo de resposta (dB NA)
36 60 80
69 40 60
9 13 20 40
Leitura recomendada
AMERICAN SPEECH LANGUAGE HEARING ASSOCIATION:
Guidelines for the audiologic assessment of children from birth
through 36 months of age. Asha, 33(Suppl. 5):37-43, 1991.
AZEVEDO, M. F. Avaliao e acompanhamento audiolgico de neona-
tos de risco. Acta Awho, 10(3):107-116, 1991a.
Avaliao Audiolgica no Primeiro Ano de Vida 261
12
Avaliao da Audio na
Criana
Katia Rabinovich
INTRODUO
DESENVOLVIMENTO NORMAL DO
COMPORTAMENTO AUDITIVO
Antes do examinador iniciar a avaliao audiolgica da crian-
a essencial que se tenha um bom conhecimento e experincia
na observao das respostas comportamentais a estmulos sono-
ros apresentados em crianas com desenvolvimento normal da
funo auditiva. Tambm, durante a avaliao deve-se observar
o desenvolvimento motor, mental, de fala e linguagem, sempre
levando-se em considerao o nvel de maturao da criana.
NORTHERN & DOWNS (1985) descreveram o desenvolvimento
normal do comportamento auditivo em crianas de 13 a 24 meses
da seguinte forma:
Procedimentos
1. Avaliao instrumental.
2. Observao do reflexo cocleopalpebral.
3. Reao voz.
4. Tcnicas de condicionamento operante reforo visual.
Avaliao da Audio na Criana 269
1. Avaliao instrumental
Para avaliarmos crianas pequenas (entre 6 meses e 2 anos
de idade), crianas difceis e/ou com outros comprometimentos,
em que no se consegue o condicionamento, podemos utilizar
sons no-calibrados (ambientais e instrumentais). Este tipo de
testagem tambm vai ajudar na avaliao auditiva, seleo de
aparelhos auditivos e no trabalho de estimulao auditiva em
crianas com deficincia auditiva.
DOWNS (1978) estabelece uma relao entre os limiares
auditivos e os espectros dos sons apresentados na testagem de
indivduo, concluindo que possvel prever quais as faixas de
freqncias mais comprometidas; desde que estes sons no
tenham um espectro muito amplo. Alguns destes sons tm
caractersticas muito semelhantes, isto , abrangem as mes-
mas faixas de freqncias e atingem as maiores intensidades
aproximadamente nas mesmas reas, o que torna redundante
o uso dos mesmos instrumentos na avaliao. Os instrumentos
apresentam faixa de freqncia de banda muito larga quando
comparados aos sons calibrados (tons puros e rudo de banda
estreita narrow band ).
O uso de sons no-calibrados um procedimento de fcil
realizao, rpido e de baixo custo, pois no requer aparelha-
gem sofisticada. Tm sido indicados como estmulos sonoros
muito eficientes na obteno de respostas comportamentais
(OLIVEIRA e cols.).
Em nosso trabalho realizado atualmente no Setor de Audiolo-
gia Clnica do Departamento de Otorrinolaringologia da Irmanda-
de da Santa Casa de So Paulo utilizamos instrumentos musicais
(Fig. 12.2) com caractersticas acsticas diferentes entre si, em
que foram medidas suas faixas de freqncias e intensidades por
um aparelho de medio sonora (decibelmetro) na prpria sala de
avaliao, acusticamente tratada.
Intensidade em dB Intensidade em dB
80 90
70 80
60 70
60
50
50
40
40
30
30
20 20
10 10
0 0
1.250 2.500 3.150 8.000 10.000 16.000 20.000 800 1.250 5.000 8.000 10.000 20.000
Percusso forte Freqncia em Hz Freqncia em Hz
Percusso forte
FIGURA 12.4 Espectograma do instrumento guizo. FIGURA 12.5 Espectograma do instrumento sino.
Intensidade em dB Intensidade em dB
100 80
90 70
80 60
70
50
60
50 40
40 30
30 20
20
10
10
0 0
1.250 2.500 3.150 6.300 20.000 800 1.250 1.600 5.000 8.000 10.000 20.000
Percusso forte Freqncia em Hz Percusso forte Freqncia em Hz
FIGURA 12.6 Espectograma do instrumento cla- FIGURA 12.7 Espectograma do instrumento reco-
ve-de-rumba. reco.
272 Fonoaudiologia Prtica
Intensidade em dB Intensidade em dB
90 90
80 80
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
250 800 1.600 6.300 16.000 20.000 800 1.500 3.150 6.000 10.000 20.000
Freqncia em Hz Freqncia em Hz
Percusso forte Percusso forte
Intensidade em dB Intensidade em dB
100 100
90 90
80 80
70 70
60 60
50 50
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
1.000 1.250 2.500 5.000 8.000 20.000 125 1.600 6.300 8.000 20.000
Percusso forte Freqncia em Hz Freqncia em Hz
Percusso forte
Intensidade em dB Intensidade em dB
120 120
100 100
80 80
60 60
40 40
20 20
0 0
200 400 800 3.500 5.000 20.000 125 250 400 800 6.300 12.500
Percusso forte Freqncia em Hz Percusso forte Freqncia em Hz
3. Reao voz
A avaliao feita com o examinador atrs da criana, sendo
chamada pelo nome, oferecendo um brinquedo ou fazendo algu-
ma pergunta de seu interesse.
A testagem da reao voz iniciada com voz sussurrada
variando a intensidade at a criana reagir.
Alm da obteno da intensidade de reao voz, tambm
se observa se a criana capaz de compreender e obedecer
ordens simples, e em que intensidade isto ocorre, ou se faz
necessrio o uso de gestos para se comunicar.
FIGURA 12.14 Tcnica de SUZUKI & OGIBA sendo realizada em uma criana de
2 anos de idade.
Avaliao da Audio na Criana 275
Procedimentos
1. Tcnica do peep-show.
2. Audiometria ldica ou condicionada.
3. Uso de mascaramento.
4. Testes de fala.
1. Tcnica do peep-show
DIX & HALLPIKE (1947) elaboraram esta tcnica como exemplo
de audiometria ldica, para crianas de 2 a 6 anos de idade,
baseando-se no princpio de condicionamento de Pavlov. Para
obteno das respostas desejadas, a criana tem de associar
Avaliao da Audio na Criana 277
3. Uso de mascaramento
O uso de mascaramento na audiometria de crianas to
necessrio quanto na audiometria de adultos e impede que a orelha
no-testada responda pela orelha testada (HODGSON, 1985).
Com crianas pequenas, ao se usar o rudo, deve-se contar
uma estria para que a atividade tenha um significado concreto,
e com crianas maiores pode-se realizar o uso do rudo como nos
adultos.
Em muitos casos, s vezes, no se consegue usar o masca-
ramento, sendo assim, o exame deve ser interpretado de acordo
com o caso e os dados obtidos.
4. Testes de fala
Muitos autores relatam que do ponto de vista funcional, a
medida mais importante da audio de uma criana a habilidade
de ouvir, compreender e discriminar a fala (HODGSON, 1985;
BELLMANN, 1987; DOWNS, 1991).
280 Fonoaudiologia Prtica
Procedimentos
a) Limiar de recepo da fala (LRF).
b) Limiar de deteco da fala (LDF).
c) ndice de reconhecimento da fala (IRF ou discriminao
auditiva).
Leitura recomendada
BELLMAN, S. Testing and screening of hearing. In: KERR, A.G. Scott-
Browns Otolaryngology. 5 ed. Vol. 3, Butterworth, 1987.
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Avaliao da Audio na Criana 283
Audiologia
Educacional
286 Fonoaudiologia Prtica
Anamnese 287
13
Anamnese
FORMAS DE ENTREVISTA
Pode-se conduzir a entrevista de forma diretiva e no diretiva. Na
primeira hiptese, as respostas objetivas vm de perguntas tambm
objetivas. J na segunda, h mudanas na forma, mas no no
contedo, pois so feitas questes mais amplas, deixando o paciente
ou pais vontade para suas prprias colocaes, o que j permite
maior aproximao do profissional. Na prtica, essas duas formas de
entrevista podem e devem coexistir, pois quando no h uma
imposio seqencial de questes ou tpicos, o paciente/pais discor-
rem sobre o problema com base nas informaes que j possuem,
e suas necessidades emergenciais surgem com mais facilidade,
sendo possvel a conduo da entrevista. O paciente tem liberdade
para expor seus problemas reais, incluindo sentimentos em relao
a eles. Cabe ao profis-sional perceber o que essencial entre
informao, orientao ou escuta. De qualquer forma, uma anamne-
se sempre uma investigao para melhor conhecimento do pacien-
te, alm de um momento que estabelece relao entre as partes.
Sendo assim, nada mais natural que transcorram perguntas e
respostas. Uma pergunta sempre induz ao dilogo e tem a finalidade
de descobrir algo. Geralmente provoca uma resposta, o que leva
tambm reflexo, colocao de sentimentos ou ponto de vista.
A principal vantagem de se fazer perguntas numa anamnese
centrar a conversao no paciente. O modo como essa pergunta
feita que faz toda a diferena. Atrs de uma pergunta est o
conhecimento terico do profissional, seu estilo pessoal, expecta-
tivas, forma de interao e vivncia. O estado emocional deste
tambm pode influenciar na reao do paciente, e portanto, na
interpretao de suas respostas.
290 Fonoaudiologia Prtica
APRESENTAO DE UM CASO
M.R. procurou o pediatra da filha M.G. (4 anos) porque esta
estava com febre muito alta, foi diagnosticada amigdalite aguda e
aps tratamento com antibitico o quadro regrediu. Nada mais foi
investigado, pois a queixa naquele momento era visvel e se
resolvera com medicamento. Neste meio tempo, os pais resolve-
ram ento assumir algumas dificuldades apresentadas pela filha:
falava pouco e muitas vezes de modo enrolado (sic).
Diante deste novo dado, o pediatra encaminhou-a para o
especialista que realizou uma srie de exames diagnosticando uma
deficincia auditiva sensorineural moderadamente severa bilateral.
Imediatamente os pais realizaram uma campanha para a compra do
aparelho auditivo e em seguida vieram as terapias fonoaudiolgicas.
As observaes da fonoaudiloga foram se somando a um
questionamento constante com relao histria da queixa da
deficincia auditiva e o prprio desenvolvimento da mesma. Os
pais, por sua vez, relataram outros fatos que os perturbavam,
ocorridos no mesmo perodo da febre: um tombo da grade do bero,
encontrando-a chorando; e um pouco depois estava no colo de uma
tia e sofreu um ataque de um cachorro (dogue alemo) e chorou sem
voz. Estes eram os medos que assombravam a me ao tentar
aceitar a deficincia auditiva na rotina familiar.
Ainda que com certa timidez, os pais mencionavam cenas do
cotidiano quando a criana reagia mesmo sem o aparelho de
amplificao ao barulho do molho de chaves do pai, quando este
chegava em casa; fatos que fizeram com que o pai realizasse uma
srie de imagens em vdeo da criana em situaes rotineiras do
tipo: aniversrio da criana e da prima, cenas de frias, na
tentativa de reunir dados e questionar sobre o diagnstico. Rea-
lizada uma investigao aprofundada do caso, reunindo as obser-
vaes da terapeuta ao relato dos pais, novos exames foram
realizados, chegando assim a um novo diagnstico: Dispraxia
motora dos rgos fonoarticulatrios. O aparelho auditivo foi
retirado e a criana vem apresentando uma melhora significativa
e os pais a confiana desejada.
Evidentemente, o que foi exposto no se trata de uma cena
comum. A idade da criana na poca do primeiro diagnstico (1
ano e 9 meses) poderia levantar dvidas e a prpria doena
causar dubiedade. Foram necessrias investigao minuciosa,
observaes pertinentes e oportunidade para a famlia expor suas
Anamnese 295
Vnculo
Coleta de dados
Troca de informaes
Conhecimento adquirido
Hipteses diagnsticas
Encaminhamentos
necessrios
Acomodao dos fatos
CONSIDERAES FINAIS
Uma ocorrncia scio-patolgica provoca instabilidade no
sistema em que estiver inserida. Trabalhar com o paciente requer
a incluso de seus familiares como membros ativos no processo,
contribuindo com informaes e incentivos.
A anamnese tem a funo de levantar dados da histria
clnica, circunstancial, relaes pessoais e interpessoais.
O interesse voltado ao estudo da natureza e significado do que
traz o paciente ao profissional dever ocorrer atravs de uma troca
entre ambos. O primeiro dever abster-se de tirar vantagens e
296 Fonoaudiologia Prtica
Leitura recomendada
BLEGER, J. Psicologia da Conduta. Porto Alegre, Artes Mdicas, 1984.
CLARK, J.G. Understanding, building, and maintaining relationships
with patients in effective counseling. In: Audiology. New Jersey
Simon & Schuster Company, 1994. pp. 18-37.
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TOMM, K. Entrevistamento interativo. Parte III. Pretendendo Fazer
Questes, Lineares, Circulares, Estratgicas ou Reflexivas. Revista
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WEILER, M.C.C.R. A primeira entrevista na clnica fonoaudiolgica:
um estudo preliminar. Tese de Mestrado. PUC, So Paulo, 1992.
Importncia do Diagnstico Precoce na Deficincia Auditiva 297
14
Importncia do Diagnstico
Precoce na Deficincia
Auditiva
INTRODUO
Este captulo tem como objetivo servir de guia de orientao
para os profissionais da rea de fonoaudiologia que tm contato
com crianas e pais, onde haja suspeita ou confirmao de uma
Deficincia Auditiva.
Os deficientes auditivos e os profissionais que trabalham
nesta rea sabem da importncia deste dficit sensorial no
comportamento do indivduo. O ouvido o rgo que possibilita
uma das nobres funes superiores do homem que a comunica-
o.
A criana com deficincia auditiva, pela impossibilidade de se
comunicar, pode tornar-se um indivduo introvertido, com proble-
mas de origem nervosa, e acaba isolando-se do mundo que a
rodeia por no compreender e no ser compreendida. essencial
que a criana, ao nascer, tenha audio normal para a aquisio
da fala durante seu desenvolvimento. A integridade perifrica e
central do sistema auditivo essencial para a aquisio da
linguagem verbal e para seu desenvolvimento (ZARNOCK &
NORTHERN, 1988).
Observando uma criana pequena em fase de aquisio de
suas funes, podemos nos maravilhar ao perceber que atravs
da linguagem que ela consegue organizar o seu universo, enten-
der o mundo que a rodeia, compreender o outro, transmitir e
298 Fonoaudiologia Prtica
Mudanas histricas
As variveis que afetam a eficcia dos estudos em identifica-
o precoce de perdas auditivas e o incio de programas de
reabilitao, tambm precoces, so numerosas e complexas:
Importncia do Diagnstico Precoce na Deficincia Auditiva 299
DEFINIO
O PEATC o registro das respostas eltricas desencadeadas
por um estmulo sonoro ao longo da via auditiva at o tronco
cerebral. tambm chamado de respostas de latncias curtas e
rpidas, pois analisam o complexo de 5 a 7 ondas que ocorrem nos
10ms aps a apresentao do estmulo. As respostas podem ser
consideradas de campo distante, pois os eletrodos esto coloca-
dos longe da origem de seus geradores. Os eletrodos de superf-
cie captam o EEG, os artefatos e os PEATC. Essas respostas vo
para um pr-amplificador e so filtradas e ampliadas em uma
ordem de mil vezes. As respostas obtidas so promediadas por
meio de tcnica especfica que elimina os artefatos e soma as
respostas, sendo observadas em forma de registro no monitor.
302 Fonoaudiologia Prtica
tudo o que faz com seu filho na rotina dos primeiros meses de vida:
amamentao, troca de fralda, banho, adormecer, acordar, des-
coberta do ambiente, contato com os primeiros brinquedos, e sons
da casa, dor, etc.
O beb por sua vez, produz sons, chora e murmura de forma
distinta quando tem fome, est desconfortvel, tem dor, tem sono
ou quando acorda. A me identificando cada um destes sons
atende o beb.
Porm, para que este processo ocorra normalmente, o beb
necessita ouvir a voz materna, o que ocorre j na segunda
semana de vida (MAUK & B EHRNS, 1993), os bebs identificam
e reconhecem a voz materna, at gravada ou distorcida, neste
perodo.
Esta voz tem o poder de antecipar a presena materna, saciar
fome, sede e significa ainda aconchego e segurana.
Imagine um bebezinho que acorda, chora de fome e pelos
sons produzidos pela me na casa e sua voz, quando vai se
aproximando do beb, este j se acalma e pra de chorar, mesmo
antes de v-la. E, a me pode se afastar do quarto e o beb se
tranqiliza, pois sabe que ela vai e volta e percebe todas as
marcas maternas sonoras pelo ambiente.
O beb vai crescendo, cada dia compreende mais e mais do
que dito por sua me e desta forma me/beb iro construindo
a linguagem no dia-a-dia.
Aos 6 meses, o beb percebe que ouve sua prpria voz, tem
prazer em produzir sons e ouvi-los. o incio do uso do feedback
acstico-articulatrio que vai marcar o incio do balbucio. Balbucio
este que vai se diferenciando, tornando-se mais e mais rico,
silbico at ao redor dos 12 meses, este ser to pequeno, por ter
compreendido a linguagem materna e pelo fato de se ouvir vai
iniciar a produo de suas primeiras palavras.
Este processo fantstico do desenvolvimento da criana ou-
vinte no vai ocorrer da mesma forma com a criana deficiente
auditiva.
A me vai agir da mesma maneira, pois na maioria das vezes
no sabe, que seu beb ao nascer no ouve. E este por no
perceber os sons da me, suas marcas no ambiente e sua voz, s
tem a sensao de ter a me, quando esta est no seu campo
visual. No antecipa a presena materna e quando esta se afasta,
no tem a noo de que a me voltar. uma criana que vai
demorar um tempo maior para incorporar a me interna, que
um pr-requisito importante para o incio da formao da identida-
de (DILORETTO).
Vrias pesquisas foram feitas estudando-se o comportamento
destas crianas deficientes auditivas. E os relatos dos pais coin-
cidem com os estudos que mostram que estes bebs, por terem
a me s quando possvel v-la, tm uma sensao de descon-
tinuidade materna e quando a me se ausenta, de abandono
precoce. So bebs classificados em dois grupos: os que choram
306 Fonoaudiologia Prtica
CONCLUSO
Cabe, para concluir uma citao de VYGOTSKY (1934) que
afirmou ser a unidade bsica do pensamento verbal o significado
de uma palavra. Uma palavra sem significado um som vazio.
Significado um ato do pensamento semntico. Assim sendo, a
falta de tudo isto constitui um mundo vazio.
E citando os prprios pais: em mais de 50% dos casos, nos
primeiros contatos, a frase que comumente ouvimos possui a
seguinte mensagem:
a deficincia auditiva invisvel e a prtese auditiva torna-a
to visvel...
Anos mais tarde, essa mensagem se transforma:
o que torna os nossos filhos diferentes das outras crianas
da mesma faixa etria a defasagem no desenvolvimento
da linguagem e inadequao social e educacional, causa-
das pela dificuldade na comunicao.
308 Fonoaudiologia Prtica
Muito ainda tem que ser feito para que mais e mais crianas
sejam diagnosticadas num perodo ideal, diminuindo a defasa-
gem de desenvolvimento entre crianas deficientes auditivas e
ouvintes de mesma faixa etria.
Somos responsveis pela preocupao e divulgao do que
pode ser feito (ROSLYNG-J ENSEN, 1995).
Para finalizar:
Qualquer coisa que faamos, necessrio ter em mente, que
quando testamos e tratamos uma criana pequena com deficin-
cia auditiva, ns tambm estamos lidando com os pais, seus
sonhos por seu filho e, mais alm, o que fazemos tem um impacto
que transcende tempo e lugar. So as crianas e suas famlias que
precisam viver com as conseqncias de nossas aes precoces
(ROSS MARK, 1992).
Leitura recomendada
BERG, F.S. O foco da educao da criana deficiente auditiva. In:
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Importncia do Diagnstico Precoce na Deficincia Auditiva 309
15
Reabilitao Aural: a Clnica
Fonoaudiolgica e o
Deficiente Auditivo
INTRODUO
Para melhor compreender a reabilitao aural na perspectiva
da terapia fonoaudiolgica, interessante lembrar de sua origem
na Educao Especial. No passado, na tentativa de organizar
procedimentos pedaggicos que resultassem no aprendizado
acadmico, religioso ou de outra natureza, alguns educadores
fizeram propostas que tinham como finalidade ultrapassar em
alguma medida a barreira da ausncia ou precariedade da lingua-
gem oral imposta pela surdez. Surgem ento os chamados
mtodos orais, bem como os gestuais. Convm lembrar que
essas propostas datam de uma poca em que ainda no se
contava com a tecnologia para diagnstico, nem tampouco com
recursos de amplificao do som.
Se, anteriormente, se contava apenas com outros sentidos,
principalmente a viso para o acesso linguagem oral, atualmen-
te, para muitos indivduos, a amplificao e, mais recentemente,
o implante coclear, possibilitam que a audio seja o canal
principal para acess-la.
A reabilitao da criana surda esteve tradicionalmente sob a
responsabilidade da educao especial. Seus objetivos incluem,
alm do desenvolvimento acadmico dos alunos com deficincia
de audio, o desenvolvimento da linguagem, quer seja oral ou
gestual. Desta forma, na maior parte dos pases, o trabalho com
312 Fonoaudiologia Prtica
PROCESSO TERAPUTICO
Diagnstico
Em se tratando de crianas muito pequenas, preciso ter em
mente que os limiares audiomtricos podem no ficar totalmente
definidos a partir dos primeiros exames realizados. de extrema
importncia que elas sejam submetidas a avaliaes eletrofisiol-
gicas, alm dos outros exames que compem a bateria de testes
audiolgicos. A observao das mudanas de comportamento da
criana frente ao estmulo sonoro, com e sem amplificao, auxilia
na identificao dos resduos auditivos presentes. conveniente
observar que muitas crianas podero no apresentar respostas
auditivas numa avaliao inicial, o que, no entanto, no significa
ausncia de resduo auditivo.
Poderiam ser necessrias inmeras sesses de avaliao
para se observar respostas auditivas de crianas muito pequenas.
Neste sentido, nossa opinio, que o conhecimento do compor-
tamento auditivo pode ser complementado no processo terapu-
tico: terapia e uso de amplificao fazem parte do processo
diagnstico. A prtica clnica mostra que experincias auditivas
podem ser determinantes para que a criana volte sua ateno
para o som. claro que o diagnstico audiolgico deve ser
criterioso, no entanto, imprescindvel, que o processo terapu-
tico seja iniciado o mais cedo possvel.
Portanto, a natureza da perda auditiva da criana, ou melhor
dizendo, suas possibilidades auditivas, iro melhor se configurando
a partir do momento em que a deteco do som esteja garantida pelo
uso de amplificao adequada, favorecendo o e vir a dar ateno
ao som, em funo de um enfoque teraputico que esteja voltado
tambm para os aspectos perceptuais auditivos.
Algumas crianas, cujos resultados da avaliao audiolgi-
ca inicial apontavam para perdas auditivas profundas, podem
surpreender em relao ao aproveitamento do resduo auditivo;
quer este funcione apenas como um importante vnculo com o
ambiente, quebrando barreiras para a aproximao da famlia
316 Fonoaudiologia Prtica
Uso da amplificao
Embora o tema seleo de aparelhos no seja assunto deste
captulo, gostaramos de fazer algumas consideraes a respeito
de sua adaptao, uma vez que acreditamos que tal processo
esteja extremamente relacionado atitude da famlia frente
criana e frente surdez.
Quanto escolha do aparelho de amplificao sonora, esta
deve se basear em todos os dados provenientes dos exames
realizados, da histria e de observaes dos comportamentos
apresentados diante das experincias com amplificao.
Para algumas crianas, mais tarde, em processo de desenvol-
vimento de linguagem oral, a informao auditiva pode no ser a
nica ou a principal pista. Isto se deve a fatores que vo desde as
caractersticas da perda auditiva, at aspectos de ordem relacional,
alm da habilidade de integrao de outras pistas sensoriais.
Entretanto, nos momentos iniciais de trabalho, principalmente
quando a criana ainda muito pequena, o significado do uso da
audio, a partir do som amplificado, pode ter uma conotao que
vai alm do sensrio. O aparelho de amplificao sonora pode
passar a representar muito mais do que o auxlio auditivo imediato
que ele possa oferecer criana. Pode ser, para uma determinada
famlia, a concretizao da surdez atravs dele denunciada. Isto
pode interferir no processo de adaptao, mas, por outro lado, vai
permitir que esses contedos de carter emocional sejam de
alguma forma trazidos pela famlia e possam ir sendo reconheci-
dos pelo terapeuta.
Para outras famlias, o aparelho poder representar uma
possibilidade de atingir a criana. Poder encobrir tambm, um
no conformismo com a condio de surdez e a busca de
caminhos que modifiquem, ou pelo menos minimizem, essa
condio. Poder, quem sabe, dar uma iluso de audio. O fato
que esses aspectos, e mesmo outros, devero ir sendo com-
preendidos pelo terapeuta e, dentro do possvel, apontados para
a famlia, no sentido de ajud-los em seus relacionamentos, uma
vez que dificuldades aparecem nessas situaes.
Assim, a incluso da adaptao do aparelho no processo
teraputico d condies ao terapeuta tanto para intervir junto
famlia, quanto para descobrir o som com a criana.
Reabilitao Aural: a Clnica Fonoaudiolgica e o Deficiente Auditivo 317
Audiograma
Na anlise do audiograma deve-se levar em conta as caracte-
rsticas acsticas da fala em relao aos limiares auditivos da
criana com amplificao.
O princpio proposto por LING (1989) de se analisar o audiogra-
ma da criana a partir das pistas acsticas disponveis a ela e, no
a partir do que ela no ouve, nos parece bastante apropriado.
Trata-se de olhar, no aquilo que falta, e sim, o que existe em
termos de audio, que poder ser utilizado por cada criana de
maneira muito diversa.
O conceito de campo dinmico de audio deve ser utilizado.
Entende-se por campo dinmico de audio a rea compreendida
entre o limiar de deteco e o limiar de desconforto. O objetivo
colocar dentro do campo dinmico de audio da criana o maior
nmero possvel de informaes acsticas da fala com o auxlio de
amplificao.
Outro tipo de anlise pode ser feita, sobrepondo-se os
limiares de deteco com amplificao ao espectro de fala. A
partir disto, podemos fazer consideraes sobre quais aspec-
tos acsticos da fala so detectados, e que tipo de ajustes
devem ser feitos no sistema de amplificao. Embora esta
medida seja de grande valia para que o terapeuta certifique-se
de que a criana est recebendo a melhor amplificao poss-
vel, ela no o suficientemente sensvel para fazer previses
exatas sobre as habilidades perceptuais auditivas que a crian-
a ir desenvolver.
AUDIO E LINGUAGEM
Um beb, quando nasce, tem seu mecanismo auditivo total-
mente formado, e poder detectar todos os sons que sejam
audveis para o ser humano. Para que estes sons e, mais
particularmente, a voz da me, sejam identificados pela criana,
preciso que esta os experiencie em diferentes situaes. Expe-
rincias essas que no so puramente auditivas, mas so acom-
panhadas das sensaes advindas de seus primeiros relaciona-
mentos. As experincias com o som vo tendo lugar e este, como
um dos objetos do mundo, vai sendo revestido de significados.
Assim, se inicialmente um rudo do ambiente faz a criana
interromper o seu choro, ser provavelmente a voz da me que,
num outro momento, poder acalm-la, j que, pela audio, pode
inclusive antecipar sua presena.
Um beb portador de uma deficincia auditiva, ainda no
suspeitada pela famlia, poder interagir de forma comunicativa
independentemente da falta do sentido auditivo. comum encon-
trar no relato de mes, quando falam dos primeiros meses de vida
da criana, referncias a algo de diferente no comportamento de
seu beb sem, no entanto, ter conseguido identificar a deficincia
de audio. Entretanto, a privao sensorial, mesmo que no
esteja permeando as relaes da me e criana, pode significar
para a ltima, diferena de oportunidades quanto ao conhecimen-
to do mundo e aquisio de linguagem.
No caso de crianas surdas, filhas de pais surdos fluentes em
lngua de sinais, os efeitos da privao sensorial no se fazem
sentir de maneira to forte, uma vez que no implicar num dficit
de linguagem, j que interagem, desde o nascimento, com um
interloculor competente na lngua de sinais.
Com certeza, o maior impacto da deficincia de audio
recai sobre filhos de pais ouvintes, devido principalmente, s
diferenas de status lingstico (MEADOW, 1981). Estas crian-
as apresentaro alteraes de linguagem e requerem interven-
o teraputica.
A maior parte das crianas surdas, aproximadamente 95%,
so filhas de pais ouvintes. A maioria dessas famlias no teve, ou
teve muito pouca experincia com pessoas surdas. Na sua
maioria, tambm no fizeram reflexes aprofundadas sobre a
natureza do desenvolvimento da linguagem e podem fazer hip-
teses equivocadas sobre a relao deste com a perda de audio.
Tambm no incomum que faam associaes entre o no
ouvir e o no falar com dificuldades de ordem intelectual. Assim
sendo, as mais diferentes representaes de surdez podem ser
esperadas. claro que a representao que os pais fazem de sua
criana, agora surda, poder de alguma maneira influenciar no
desenvolvimento da linguagem. Na literatura sobre reabilitao
aural, o papel dos pais bastante valorizado e encontramos
autores que sugerem orientaes especficas a serem dadas aos
Reabilitao Aural: a Clnica Fonoaudiolgica e o Deficiente Auditivo 321
TERAPIA
Passaremos a discutir o processo teraputico, quanto s
diferentes formas de atendimento fonoaudiolgico propostas para
a criana deficiente auditiva, nas quais flexibilidade tem sido a
tnica. O esquema de atendimento fonoaudiolgico mais freqen-
te (duas sesses individuais semanais), algumas vezes, limita a
ao do terapeuta junto criana deficiente auditiva e, por isso,
temos procurado criar outras opes.
322 Fonoaudiologia Prtica
Leitura recomendada
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Deficincia Auditiva 1
Histria e Educao: o Surdo, a Oralidade e o Uso de Sinais 327
16
Histria e Educao: o
Surdo, a Oralidade e o Uso
de Sinais
INTRODUO
A educao do surdo s pode ser compreendida a partir de
uma perspectiva mais ampla que abranja a sua histria e que
mostre quais as fundamentaes tericas, filosficas, polticas
e ideolgicas que a embasaram desde o seu incio. Nosso
espao aqui pequeno para podermos nos aprofundar nestes
aspectos, mas tentaremos, ainda que de uma forma resumida,
abordar a histria e as suas conseqncias na educao do
surdo. Para tanto, lanaremos mo dos seguintes autores: PAUL
C. HIGGINS, autor de O UTSIDERS IN A HEARING WORLD (1990),
CARLOS SKLIAR com seu trabalho L A HISTORIA DE LOS SORDOS:
UNA CRONOLOGA DE MALOS ENTENDIDOS Y DE MALAS INTENCIONES
(1996) e H ARLAN LANE em seu livro WHEN THE MIND H EARS. A
HISTORY OF THE D EAF (1989). Num segundo momento estare-
mos discutindo alguns conceitos bsicos que dizem respeito a
este trabalho. Passaremos ento a relatar o status atual da
educao do surdo com Sinais e, finalmente, uma vez que o
objetivo maior deste texto mostrar como se d o trabalho com
surdos e qual o papel da fonoaudiologia neste campo, expli-
citaremos a forma pela qual entendemos este papel.
328 Fonoaudiologia Prtica
cido como Instituto de Paris. O seu grande mrito foi ter reconhe-
cido que os surdos possuam uma lngua que servia para prop-
sitos comunicativos que ele usou para o ensino de surdos. Ele
considerava esta lngua sem gramtica e sem utilidade (na sua
forma normalmente usada pelos surdos) para o ensino da lngua
escrita. Para poder adapt-la a seus objetivos, ele construiu um
sistema baseado na Lngua de Sinais, criando outros Sinais para
as palavras francesas que no eram representadas pela Lngua
de Sinais e terminaes que marcavam a gramtica da lngua oral
(que so representados na Lngua de Sinais ou por sua caracte-
rstica espacial ou por outras formas). Ele deu a este sistema o
nome de Sinais Metdicos. Atravs desta forma modificada da
Lngua de Sinais ele ensinava os surdos a ler e a escrever
qualquer texto de forma gramaticalmente correta.
Para ele o treinamento da fala tomava tempo demais dos
alunos, tempo este que deveria ser gasto na educao. Alm disto
considerava que, mesmo para aqueles que poderiam aprender a
falar, isto seria de pouca utilidade, considerando-se o tempo
despendido e a utilidade real que seria esta fala. Por esta razo ele
foi muito criticado por outros educadores de surdos, tanto na
poca como posteriormente. Para estes outros educadores a
oralizao deveria ser o objetivo principal do trabalho educativo do
surdo, por questes ainda de sua humanizao, de insero na
sociedade de ouvintes ou outras no to claras e objetivamente
colocadas. Veremos, no momento em que nos referirmos ao
Congresso de Milo e implantao definitiva do oralismo no
mundo, que razes foram estas.
O ABE DE lEPE criticado nos dias de hoje por no ter
considerado a Lngua de Sinais uma lngua passvel de ser
utilizada para o ensino da leitura e escrita, desde que modificada
para este fim. O importante, entretanto, foi o fato dele t-la
reconhecido como uma lngua, ter considerado os surdos como
humanos, apesar de no falarem, e ter propiciado a estes indiv-
duos um grande desenvolvimento onde eles puderam demonstrar
as suas habilidades em diversos campos, antes dominados
apenas pelos ouvintes. Foi a poca de ouro para os surdos.
Comunicao total
Na dcada de 60, a insatisfao com os resultados do trabalho
de reabilitao dos surdos numa linha oralista era muito grande nos
EUA. Novos conhecimentos tericos e a realizao de pesquisas
levaram a questionar o trabalho feito at aquele momento, pois este
no levava ao desenvolvimento esperado de fala, leitura orofacial,
desenvolvimento de linguagem e habilidades de leitura.
Estas pesquisas baseavam-se em comparaes de filhos
surdos de pais ouvintes (FSPO) com filhos surdos de pais surdos
(FSPS). Os FSPS eram expostos Lngua de Sinais desde o
nascimento e normalmente colocados em escolas oralistas. Os
resultados mostraram que eles tinham melhor desempenho aca-
340 Fonoaudiologia Prtica
PAPEL DO FONOAUDILOGO
Com relao ao trabalho fonoaudiolgico com indivduos
surdos com a utilizao de Sinais ou Lngua de Sinais, existem
formas diferentes de atuao, referenciadas pela formao e
Histria e Educao: o Surdo, a Oralidade e o Uso de Sinais 349
Abordagem bimodal
Como vimos anteriormente, na abordagem bimodal, a fala
acompanhada de Sinais, tornando-a visvel para o surdo. Os
aspectos relacionados audio (indicao e adaptao de
aparelhos de amplificao sonora, aproveitamento de restos
auditivos) e treinamento de fala e leitura orofacial so realizados
de forma paralela, com o objetivo de fazer com que o surdo
desenvolva estas habilidades.
Como j vimos, a forma de trabalho vai refletir a viso que
o fonoaudilogo tem do surdo. Queremos dizer com isto que o
profissional pode entender o seu trabalho como um treinamento
especfico, tcnico, ou como parte de um todo, relacionado a
caractersticas especficas de cada indivduo.
No primeiro caso, ele pode no ter domnio da lngua sinalizada
(ou com Sinais) a que a criana est sendo exposta, ou at ter, mas
o seu objetivo realizar um treinamento por etapas, que obviamen-
te depende da sua viso terica de aquisio de linguagem, fala e
habilidades auditivas. O objetivo maior fazer com que o surdo
desenvolva a oralidade, sendo os Sinais um apoio que pode ou no
ser utilizado. Existem profissionais que acreditam que a nfase
muito grande nos Sinais levar a criana a no desenvolver seus
potenciais auditivos e a fala, e da no se valem dos Sinais na
terapia fonoaudiolgica. A criana treinada, ento, para apresen-
tar respostas frente a estmulos auditivos ou a responder atravs
da repetio aos estmulos apresentados. A situao, muitas
vezes, no contextualizada, ou quando o , exige obrigatoria-
mente uma resposta-padro da criana. A preocupao, neste
caso, com uma performance isolada das habilidades trabalhadas
no contexto da linguagem oral.
No consideramos que esta seja uma forma adequada de
trabalho, por ver o surdo como um indivduo separado em duas
partes: a fala ou sua linguagem oral e a sua comunicao por
Sinais. Normalmente, nestes casos, o primeiro aspecto valoriza-
do em detrimento do segundo. Em primeiro lugar, acreditamos ser
impossvel dividir estes dois aspectos em qualquer indivduo, eles
esto interligados, mesmo quando as modalidades de expresso
so to diversas. O surdo fala a partir das representaes internas
que tem de mundo, construdas atravs da linguagem. No
apenas um aspecto articulatrio as ser trabalhado. Realizar esta
separao no tem fundamentao do ponto de vista terico e
pode levar o surdo a sentir a sua forma de comunicao, atravs
de Sinais, como de segunda categoria. Ele pode tambm rejeitar
esta oralidade, negando-a como uma forma de comunicao
350 Fonoaudiologia Prtica
Bilingismo
Temos que considerar o trabalho do fonoaudilogo no
Bilingismo, tendo como base o referencial terico e os trabalhos
realizados em outros pases, uma vez que as propostas no Brasil
esto ainda em fase inicial.
Neste sentido, importante observar que a proposta do
Bilingismo educacional, social e cultural, independente da manei-
ra como concebe a segunda lngua a ser adquirida pelo surdo (como
veremos a seguir). Assim, o papel do professor, dos pedagogos e
dos lingistas muito maior do que o do fonoaudilogo. Nada
impede que um fonoaudilogo atue nos aspectos pedaggicos,
educacionais, lingsticos e sociais, dentro da escola, mas o seu
trabalho clnico se torna muito mais restrito, uma vez que o ambiente
escolar o que vai ser responsvel pelo desenvolvimento global do
surdo. Portanto, este trabalho deve ser realizado numa equipe que
partilhe dos mesmos pressupostos tericos.
Certamente h um espao para o fonoaudilogo, na clnica,
voltado para o desenvolvimento das habilidades orais. Vejamos
qual este e em que circunstncias pode ser realizado.
Muitas das colocaes anteriores, que explicitam a forma do
fonoaudilogo encarar o trabalho com Sinais no Bimodalismo, so
igualmente vlidas para o Bilingismo.
Entretanto, neste trabalho, existem outros condicionantes para
a atuao fonoaudiolgica. A fundamentao terica do Bilingismo
pode levar a duas formas de implantao. As duas coincidem no que
tange primeira lngua a ser adquirida pela criana (Lngua de
Sinais), mas diferem quanto segunda. Para uma, a segunda lngua
a oral e para outra a escrita. Esta ltima uma viso mais radical,
que considera que o aprendizado da fala muito demorado e no
compensa o trabalho despendido em relao aos resultados alcan-
Histria e Educao: o Surdo, a Oralidade e o Uso de Sinais 353
CONCLUSO
Atravs de uma breve reviso histrica da educao dos
surdos tentamos mostrar os caminhos que esta percorreu, os
obstculos que lhes foram impostos na manuteno da sua
comunidade, da sua lngua e da sua cultura. Desde o incio
desta histria os princpios filosficos, polticos, sociais, ideol-
gicos e os interesses pessoais regeram os rumos desta educa-
o e o destino dos surdos. Estamos atualmente em outro
momento, com os mesmos princpios atuando, ainda que de
forma diferente.
Enquanto profissionais que trabalham com surdos, temos que
estar conscientes da presena destes determinantes e escolher
uma forma de atuao que esteja de acordo com o que acredita-
mos. As nossas crenas so determinadas por princpios sociais
que esto acima de ns, mas somos livres para escolher aqueles
que nos fazem sentido e atravs deles delimitarmos nossa condu-
ta enquanto profissionais.
O que trouxemos neste captulo reflete o nosso ponto de vista,
baseado nos princpios nos quais acreditamos. Existem outros,
que se baseiam em outras concepes de mundo e de indivduos,
nos quais os profissionais que os defendem mostram outras
formas de atuao. A nossa compreenso do surdo no a nica.
Se a defendemos porque acreditamos que ela contempla
aspectos lingsticos, sociais, educacionais, e principalmente, o
respeito pela diferena.
O uso de Sinais na educao do surdo, a importncia da
Lngua de Sinais e da cultura do surdo, o movimento surdo, tudo
isto faz parte de um momento em que as minorias reivindicam a
sua cidadania e os seus direitos. A educao do surdo tambm
um movimento poltico de grandes propores para quem surdo.
A grande questo : estamos ou no envolvidos neste processo?
Na verdade estamos, e o problema se relaciona a outras ques-
tes: De que lado estamos? Por que? Como? Somente a resposta
a estas questes pode fazer com que possamos realizar bem o
nosso trabalho.
O nosso lado est definido. Esta definio veio atravs de
estudos, pesquisas, vivncias, trabalho, pensamentos, anlises e
questionamentos. Passamos os nossos conhecimentos, tentan-
do fundament-los e informar aos profissionais que existem estes
pontos de vista. Cabe agora a cada um realizar o seu prprio
processo e descobrir como vai conduzir seu trabalho.
Leitura recomendada
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PRILLWITZ, S. & VOLLHABER, T. Sign Language Research and
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356 Fonoaudiologia Prtica
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Histria e Educao: o Surdo, a Oralidade e o Uso de Sinais 357
17
Escolas e Escolhas:
Processo Educacional dos
Surdos
Kathryn M. P. Harrison
Ana Claudia B. Lodi
Maria Ceclia de Moura
INTRODUO
Bimodalismo
O Bimodalismo surgiu na dcada de 60 nos EUA como decor-
rncia do desenvolvimento de pesquisas sobre a Lngua de Sinais
(STOKOE, 1960) e de constataes sobre o melhor desenvolvimento
acadmico de crianas surdas filhas de surdos, se comparadas aos
seus pares, filhos de ouvintes (MOORES, 1978). Entretanto, por trs
364 Fonoaudiologia Prtica
Bilingismo
A proposta educacional Bilnge, como o prprio nome diz,
pressupe que os surdos desenvolvam competncia em duas
lnguas: a Lngua de Sinais e a lngua utilizada pela comunidade
majoritria ouvinte. Desta forma, como exposto no Captulo 16,
no pode ser considerada como uma abordagem ou mtodo
teraputico/educacional. fundamentalmente uma postura que
concebe os indivduos surdos de uma forma distinta das discuti-
das at o momento neste texto, ou seja, enquanto indivduos
diferentes (porque no ouvem), com as mesmas capacidades e
potencialidades que qualquer indivduo ouvinte, pertencentes a
uma comunidade minoritria e usurios da Lngua de Sinais. A
diferena destes indivduos , ento, lingstica, ou seja, em sua
forma primeira de comunicao.
366 Fonoaudiologia Prtica
por sua vez, poder adquirir uma lngua sem dificuldades, lngua
esta utilizada e aceita socialmente e por seus pais. A prpria
convivncia da criana com adultos iguais a ela far com que ela
possa ter modelos positivos para fazer as identificaes necess-
rias sua constituio, podendo, portanto, construir sua identida-
de, constituindo-se como sujeito inteiro em sua diferena.
Estes princpios bsicos, aqui brevemente discutidos, subja-
centes ao modelo Bilnge de educao, carregam em si uma
postura de respeito humano aos indivduos portadores de surdez,
ou seja, demonstram que a diferena destes indivduos pode ser
aceita, no sendo necessrio, desta forma, normaliz-los. Assim
sendo, a nica escolha educacional coerente dentro desta postu-
ra a da escola especial.
Esta escola contar, em seu corpo docente, com indivduos
surdos e ouvintes, sendo que todos eles devero ser fluentes em
Lngua de Sinais. Como j discutido anteriormente, ser, ento,
com base nesta lngua que os contedos pedaggicos sero
apresentados s crianas, assim como ocorrer o desenvolvi-
mento da leitura e escrita.
A lngua escrita apresentada desde cedo s crianas em sua
forma narrativa, ou seja, atravs de contos e de estrias infantis
(BOUVET, 1990; DAVIES, 1994). Estes, por sua vez, tero, inicial-
mente, seu significado e contedos apresentados e discutidos em
Lngua de Sinais para posterior apresentao em sua forma
escrita. Como ocorre na educao da criana ouvinte, o tempo
individual das crianas quanto maturidade para o desenvolvi-
mento nesta nova lngua respeitado pois, para que possam
dominar e desenvolver seus conhecimentos, devero aprender as
diferenas estruturais entre a Lngua de Sinais e a escrita.
SNCHEZ e cols. (1991), ao propor os fundamentos de uma
proposta educativa Bilnge para os indivduos surdos na Venezuela,
descreve que esta deve contemplar os seguintes objetivos:
AS ESCOLHAS
Escola comum
H vrias denominaes para as escolas de crianas ouvintes
(com audio normal), que cumprem o programa oficial determi-
nado pelas Secretarias de Educao dos Estados e Municpios:
escola comum, escola regular, escola normal.
Neste texto optamos por utilizar o termo escola comum para
nos referirmos s escolas que seguem este currculo e atendem
populao em geral, sejam elas municipais, estaduais ou
particulares.
Como j vimos anteriormente, a escola comum uma das
escolhas possveis quando se pensa na educao da criana
surda, sendo a opo preferencial para os que baseiam seu
trabalho no mtodo aural-oral, mas podendo tambm ser uma
opo para os profissionais que trabalham numa linha bimodal.
Acreditamos que se deva levar em conta uma srie de fatores,
sempre pensando sobre o que seria o melhor para cada criana
surda em idade escolar. Como em todas as escolhas feitas, h
pontos positivos e negativos a serem considerados, tentaremos
falar um pouco sobre cada um deles e das condies necessrias
para que esta escolha tenha os resultados esperados.
Um dos aspectos considerado positivo e bastante menciona-
do se refere possibilidade da criana surda estar em contato com
crianas que ouvem e falam e, portanto, bons modelos para a
leitura oro-facial e a aquisio de vocabulrio cotidiano. Ao
mesmo tempo, ter de se comunicar oralmente com elas, caso
queira ser entendida, o que far com que tente melhorar sua
articulao e utilizar o vocabulrio aprendido. Todo o ambiente da
criana ser falante e ouvinte, o que pode vir a favorecer suas
relaes na vida posterior escola.
Escolas e Escolhas: Processo Educacional dos Surdos 369
Classe especial
Classes especiais so classes inseridas dentro de uma escola
comum, que atendem crianas com algum tipo de dificuldade para
acompanhar a classe regular. Esta dificuldade pode ser decorren-
te de problemas de aprendizado em geral, de problemas visuais
graves, perda auditiva acentuada, deficincia mental, ou outros
casos sem diagnstico preciso.
A idia surgiu pela primeira vez em 1911, no ento Instituto
Nacional de Surdos Mudos, atual Instituto Nacional de Educao
de Surdos (INES), no Rio de Janeiro, com o planejamento de
abertura de um curso normal para professores de surdos. Como
o nmero de crianas surdas que chegavam ao Instituto aumen-
tava, era necessrio que houvesse professores que pudessem
ser formados no pas, pois todos os anteriores tiveram sua
formao realizada na Europa, principalmente na Frana, s
custas do governo.
Nesta poca, j havia cursos para professores de surdos nos
EUA, no Uruguai e na Argentina, e se pensava em seguir o mesmo
currculo de formao destes pases.
Houve um estudo que fez a primeira previso demogrfica
da populao surda no pas, e se constatou que esse nmero
seria grande num futuro prximo, inviabilizando que todos
fossem atendidos pelo Instituto. Alm disso, esta populao
estaria dispersa por todo o territrio nacional, e a construo de
escolas especiais em todos os grandes municpios seria muito
onerosa. Ento se fez a opo de se formar professores de
surdos, no s para trabalharem no INES, mas para poderem
retornar a seus estados natais e l abrirem classes especiais
inseridas em escolas comuns, tanto na rede pblica como na
particular.
O princpio, portanto, era de que esta opo seria a ideal, por
ser econmica para o governo e colocar a criana surda em
contato com crianas ouvintes para o aprendizado da linguagem
falada (RIBEIRO, 1942).
As primeiras turmas foram formadas em 1951, comparveis
ao atual segundo grau, o que permitiria a entrada das alunas na
faculdade posteriormente, se assim o desejassem. Alguns esta-
dos custearam a estada de professoras para fazerem este curso
no INES, para depois retornarem e desenvolverem suas funes
junto s escolas comuns (DRIA, 1958).
Hoje, o curso de formao de professores de surdos um
curso superior, sendo uma habilitao do curso de pedagogia
(EDAC Educao dos Distrbios da udio-Comunicao).
Em So Paulo, existem dois tipos de classes especiais: as
classes inseridas na rede estadual de ensino e as inseridas em
escolas comuns particulares. Na rede municipal o que existe
so escolas especiais para deficientes auditivos, as EMEDAS
(Escolas Municipais de Educao de Deficientes Auditivos).
374 Fonoaudiologia Prtica
Escola especial
As escolas especiais surgiram em nosso pas, em decorrncia
da grande demanda de crianas e adolescentes com necessida-
des especiais e de experincias de deficientes de famlias ilustres
que estudaram no exterior e procuraram trazer para seus colegas
brasileiros a mesma possibilidade.
A primeira escola especial que se conhece foi o Instituto de
Ensino para Cegos, aberto em 1854, no Rio de Janeiro, por
iniciativa de LVARES DE AZEVEDO, cego que estudou em Paris e
retornou ao Brasil em 1851.
Da mesma forma, teve incio a educao especial dos surdos,
a partir da chegada capital do imprio, em 1855, de um professor
surdo, o Sr. HUET, advindo do Instituto de Paris (para maiores
referncias sobre o Instituto de Paris, ver Captulo 16). Ele
pretendeu abrir um Instituto para Surdos no Brasil nos mesmos
moldes do francs, e apresentou um programa de ensino ao
Imperador em 1856.
Em 1857 aprovada a abertura do Instituto Nacional de
Surdos Mudos, atual Instituto Nacional de Educao de Surdos
INES no Rio de Janeiro, sob direo de HUET. No h referncia
explcita ao mtodo utilizado por HUET, mas acredita-se que tenha
sido o mesmo utilizado naquela poca pelo Instituto de Paris,
fundado pelo ABB DE lEPE (ver Captulo 16 para maiores
Escolas e Escolhas: Processo Educacional dos Surdos 377
ESCOLA IDEAL
Nesta seo, discorreremos sobre o que imaginamos ser uma
escola ideal para crianas e adolescentes surdos. Falar no ideal
significa expor uma idia na qual se projetam os desejos no
possveis de se realizar no momento em que se pensa ou escreve.
Significa falar de um lugar melhor e diferenciado de onde se est
(que obviamente no o ideal). Significa falar em Utopia, de um
momento visionrio, em que a realidade entra como contraponto.
Na verdade, nosso projeto de escola ideal no invivel. J
existe em pases nrdicos, h aproximadamente 15 anos. Nossa
idealizao se configura ao pensarmos na dura realidade educa-
cional brasileira. Isto porque, em nosso pas, grande parte da
populao no tem acesso a uma educao digna, que faa de
nossas crianas adultos cientes de seus direitos e deveres,
cidados atuantes e crticos frente a preconceitos, enfim, sujeitos
de suas histrias. Tal situao pode ser estendida sade,
cultura, ao lazer e a vrias outras questes importantes de que se
possa lembrar.
, ento, frente a esta realidade, que a nossa proposta se
torna utpica. Mas frente ao status da surdez e do indivduo surdo
em nosso pas, ela pode parecer visionria.
Desde o incio deste captulo trouxemos dados de pesquisas
e estudos de vrios pases do mundo, com o objetivo de informar
o leitor sobre as questes relativas educao do surdo no Brasil
e no exterior. Falamos de concepes, abordagens, mtodos, que
do sustentao aos trabalhos realizados. Analisamos as vanta-
gens e desvantagens de cada um, os problemas que podem
decorrer destas concepes, porque acreditamos que a se en-
contra um ponto vital da nossa proposta de escola ideal: a escola
Bilnge.
Na verdade, o primeiro passo para a construo da escola
ideal para crianas e adolescentes surdos comea antes da pr-
escola. Comea na famlia, quando ela percebe que h algo
diferente com seu filho, e que esta diferena a surdez. A partir
da constatao de que a criana surda, muitos sentimentos e
mudanas acontecero na famlia (HARRISON, 1994). Os profis-
sionais procurados neste momento tero um papel importante no
rumo destas mudanas e na forma da famlia olhar esta criana
surda.
A compreenso da importncia do papel da linguagem para o
desenvolvimento do indivduo, e de que a surdez no impede sua
capacidade lingstica desde que numa modalidade em que a
criana no tenha nenhuma restrio em perceb-la, faz com que
a famlia comece a perceber aquela criana como um futuro ser
lingstico e, portanto, plenamente humano. Esta concepo de
394 Fonoaudiologia Prtica
CONCLUSO
Esperamos, com este captulo, ter contribudo para trazer aos
leitores uma srie de reflexes e consideraes sobre a educao
do surdo tanto em nosso pas como fora dele. Optamos por expor
as vrias vertentes tericas e prticas mais estudadas atualmente
e, ao final, explicitar nossa opinio frente a estas linhas conceptuais.
Esta opo no teve a inteno de ditar uma frmula a ser seguida,
Escolas e Escolhas: Processo Educacional dos Surdos 399
Leitura recomendada
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400 Fonoaudiologia Prtica
18
Reabilitao e Implante
Coclear
FIGURA 18.1 Sistema de implante coclear multicanal Nucleus. A) Dispositivo interno: 1. feixe de
eletrodos; 2. receptor-estimulador. B) Dispositivo externo: 3. microfone; 4. antena transmissora; 5. fios;
6. processador de fala; 7. m.
404 Fonoaudiologia Prtica
Adultos
At o momento, 31 adultos receberam o implante coclear
multicanal no CPA. A experincia com esses pacientes tem
demonstrado que o mais importante fazer com que consigam
decodificar o sinal da fala por meio do sistema do implante coclear.
Reabilitao e Implante Coclear 407
Crianas
At o momento, 29 crianas foram implantadas, sendo 7 ps-
linguais e 22 pr-linguais.
As crianas ps-linguais se comportam de maneira semelhan-
te dos adultos. O que difere e que solicita uma maior ateno
o fato de ainda estarem em desenvolvimento e no terem,
portanto, uma competncia prpria e responsabilidade para faze-
rem a monitorao da audio e da linguagem oral. Assim sendo,
importante um cuidado especial, por parte de pais e terapeutas,
em manterem o sistema de implante coclear sempre em boas
condies de funcionamento e prosseguirem o processo terapu-
tico at o momento em que a prpria criana e a famlia tenham
condies de automonitoramento.
A tnica do processo de reabilitao e habilitao com crian-
as implantadas (ps ou pr-linguais) o trabalho efetivo junto
famlia. Observa-se que, quando a famlia mais disponvel e
aberta s caractersticas da criana, abraando o processo tera-
putico, esse processo apresenta resultados mais rpidos e de
melhor qualidade.
Se considerarmos que, na maior parte do tempo, a vida da
criana est diretamente ligada sua famlia, fundamental
que os pais percebam o quanto atuam como modelo de comu-
nicao para a criana. Cabe ao terapeuta conscientiz-los e
conduzi-los para que as atitudes de comunicao utilizadas
junto criana realmente se convertam para um modelo efeti-
vo. So os pais as pessoas mais prximas criana e, portanto,
capazes de modificar o seu comportamento. Para tanto, neces-
sitam estar aptos a escolher atividades, estratgias e compor-
tamento que possam favorecer a qualidade da interao com a
criana (nos aspectos verbal ou no-verbal), possibilitando
410 Fonoaudiologia Prtica
Leitura recomendada
BALKANY, T.; HODGERS, A.V.; LUNTZ, M. Update on cochlear
implantation. Otolaryngologic Clinics of North America , 29(2):277-
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Famlia e Fonoaudiologia: o Aprendizado da Escuta 415
19
Famlia e Fonoaudiologia:
o Aprendizado da Escuta
ORIGEM DA FAMLIA
Um breve histrico da origem da famlia ocidental mostrar a
passagem do anonimato materno harmonia de um estilo familiar
moderno. Nos primeiros anos o importante para as crianas a
confiana no amor dos pais, conquistada devido necessidade de
maior privacidade entre os membros desta famlia. A importncia do
amor entendido como sentimento afetivo foi valorizada h alguns
sculos, quando as relaes interpessoais representavam papis e
funes nos diferentes grupos.
416 Fonoaudiologia Prtica
Estilos
Direcionador Indivduo que faz o seu caminho atravs de
seus dogmas; parece saber o que quer da vida. Caracteriza-se por
expor e controlar seus sentimentos.
Suas foras: determinado; meticuloso; decidido e eficiente.
Suas fraquezas: controlador; teimoso; dominador e impessoal.
Expressivo Indivduo que enfatiza mais os relacionamentos
do que as tarefas; geralmente confia mais em suas intuies do
que em informaes objetivas. Comportamento caracterizado por
exposio e emoo.
Suas foras: entusistico; pessoal; dramtico e ativo.
Suas fraquezas: opinante; excitado; atacante e promocional.
Amigvel semelhana dos sujeitos expressivos, expem
abertamente seus sentimentos, porm com menos agresso e
mais segurana. Parece interessado em estabelecer relaciona-
mentos e seu comportamento pode ser caracterizado de trs
formas: cordato, emotivo e questionador.
Suas foras: cooperativo; confivel e pessoal.
Suas fraquezas: tmido; evasivo; emocional e conformado.
Analtico Aquele que pergunta e controla; hbil em controlar
suas emoes e reunir informaes para que possa examinar um
assunto sob todos os aspectos.
Suas foras: trabalhador; persistente; preciso e sistemtico.
Suas fraquezas: reservado; esquivo; exigente e impessoal.
aa
profissional.
A
C
50
45
40
35
30
25
20
15
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50
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30
20
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100
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0
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Fonoaudiologia Prtica
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S1
S1
S1
Ruptura de expectativas
VERNON (1977) afirma que a no confirmao do diagnstico
tem duas srias conseqncias: a) retarda a reabilitao, passan-
do do perodo fundamental para o desenvolvimento psicolgico e
educacional da criana; b) provoca confuso, ansiedade, temor,
ira e sentimento de culpa nos pais.
O momento em que os pais recebem a confirmao do
diagnstico muito traumatizante. Os pais sofrem muito, mas
geralmente no tm a oportunidade de contar com algum para
ouvir o seu sofrimento (DIB, 1989).
A confirmao do diagnstico gera um grande impacto no
sistema familiar, causando ruptura de expectativas, alteraes
no relacionamento afetivo, social e de linguagem da famlia com
a criana. importante ressaltar que a maneira como o diagns-
tico transmitido influencia diretamente o processo de aceita-
o da deficincia auditiva (SCHMAMAN, 1980). preciso reco-
nhecer que este um momento ambivalente para a famlia.
424 Fonoaudiologia Prtica
Variveis condicionantes
Respostas
Resultado
Condies Efeito, ao
favorveis ao Percepo da surdez construtiva
estresse
FIGURA 19.2
428 Fonoaudiologia Prtica
aquilo que sente est certo; os pais no precisam fazer nada alm
de ouvi-las sem preconceito e com muito carinho.
O desafio est na tentativa de acentuar os aspectos positivos
das relaes entre irmos, assim como em promover uma ligao
saudvel, encorajando-os a ter sua individualidade e a se sentirem
bem. Seu papel e suas necessidades so to importantes quanto os
de qualquer outra criana da famlia.
Suporte clnico A disponibilidade de servios de atendi-
mento clnico, a qualidade destes servios e a gama de informa-
es recebidas influenciaro o senso de controle e conseqente-
mente o grau de ao construtiva que esses pais iro atingir.
Exemplo: Quando no h programa de atendimento apropria-
do prximo moradia da famlia, a percepo da surdez pode ser
vista como algo desorganizador (MITCHELL, 1981; LUTERMAN,
1984).
Incapacidade (surdez em si) Tipo e grau de perda, idade,
causa, poca da suspeita e do diagnstico da surdez afetam a
percepo do evento, as respostas e os efeitos.
Exemplo: Embora a maioria dos pais sinta a surdez como um
diagnstico devastador (MITCHELL, 1981), aqueles que ficaram
suspeitando por um longo perodo podem se sentir aliviados
quando fornecido um diagnstico aos problemas apresentados
por seu filho (L UTERMAN, 1984; MITCHELL, 1981).
Todas estas variveis tm um impacto significativo na percep-
o parental sobre a deficincia auditiva da criana; preciso que
o terapeuta compreenda e busque a inter-relao destas para que
consiga realizar uma anlise mais complexa da situao.
O longo processo
Um dos objetivos do trabalho de reabilitao fazer com
que os pais percebam que seu filho surdo , em primeiro lugar,
uma criana e um interlocutor capaz, que necessita interagir
para poder crescer e se desenvolver. Uma das tarefas do
fonoaudilogo prover a criana e sua famlia de estratgias
para que ocorra uma comunicao efetiva nas situaes do
cotidiano.
Faz-se necessrio oferecer subsdios informativos e apoio
emocional para a conquista de uma harmonia familiar, possibili-
tando sucesso teraputico e aceitao social.
O avano da tecnologia na rea auditiva foi intenso e isso faz
com que o profissional deposite extrema confiana no valor dos
aparelhos auditivos e da estimulao auditiva. Esta confiana
normalmente passada para os pais, mas no existe uma
previso de quando os resultados sero alcanados. Por esta
razo ser de grande ajuda criar uma estrutura de expectativa
baseada nas possibilidades e conquistas alcanadas, sendo a
criana o seu prprio modelo de referncia.
fundamental que pais e profissionais estejam cientes da
gangorra emocional de frustrao, medo, raiva, negao, reco-
nhecimento e adaptao na qual as famlias vivem.
Importante tambm se mostra o silncio clnico; saber quando
calar requer a mesma sensibilidade necessria para interpor o
comentrio apropriado.
Aceitar os sentimentos de uma pessoa, independente de
quem seja, imprescindvel para o estabelecimento de uma
relao saudvel consigo mesmo e com aquele que se ama,
especialmente seu filho.
Famlias inteiras podem aprender muito sobre si mesmas
enquanto indivduos e unidade familiar. Entre os vrios desafios
que enfrentam, esto a descoberta e a busca de recursos
internos.
Famlia e Fonoaudiologia: o Aprendizado da Escuta 435
Leitura recomendada
AIRS, P. Histria Social da Criana e da Famlia. 2 ed. Rio de Janeiro,
Editora Guanabara, 1981.
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436 Fonoaudiologia Prtica
20
Aparelhos Auditivos
D
C
E F
FIGURA 20.1 Tipos de prteses auditivas. A) Prtese auditiva convencional; B) prtese auditiva em
haste de culos; C) prtese auditiva retroauricular; D) prtese auditiva intra-auricular; E) prtese
auditiva intracanal; F) prtese auditiva microcanal.
Prtese intra-auricular
Estas prteses auditivas ocupam parte do meato acstico
externo e do pavilho auricular. Se ocuparem totalmente a concha
440 Fonoaudiologia Prtica
Prtese intracanal
As prteses deste tipo localizam-se inteiramente dentro do
meato acstico externo. Atualmente existem prteses deste
tipo ditas intracanais convencionais e prteses microcanais,
as quais ocupam somente a parte mais interna do meato
acstico externo, no preenchendo sua abertura. Se uma pr-
tese deste tipo for colocada em um ponto muito profundo do
meato, diz-se que ela peritimpnica.
Ganho acstico
Um indivduo que tem dificuldade em escutar sons de baixa
intensidade precisa que estes sons sejam amplificados, conforme
j foi dito. Quanto maior a perda de audio, maior ser a
amplificao necessria. A quantidade de amplificao fornecida
por uma prtese auditiva o seu ganho acstico.
Tecnicamente, o ganho acstico a diferena em decibels entre
o som que sai e o som que entra na prtese auditiva. Desta forma,
para uma prtese auditiva com 40 dB de ganho, um som ambiente
de 60 dB ser fornecido ao usurio com uma intensidade de 100 dB.
O ganho acstico deve ser sempre expresso em decibels.
O ganho de uma prtese deve ser fornecido pelo fabricante na
ficha tcnica que acompanha a mesma. Entretanto, nenhuma
prtese auditiva tem um ganho acstico perfeitamente igual em
todas as freqncias e existem controles que permitem modificar
este ganho.
Assim, o ganho pode vir descrito como um valor nico, represen-
tando toda a faixa de freqncias atravs de uma mdia ou de
uma nica freqncia considerada representativa. Idealmente, po-
rm, o ganho deve ser analisado atravs de um grfico, onde o valor
de ganho em cada freqncia possa ser verificado (Fig. 20.2).
O ganho acstico fornecido por uma prtese auditiva para um
determinado indivduo tambm pode ser verificado diretamente
atravs de medidas especficas. Quando o ganho de uma prtese
definido em termos da diferena dos limiares de audibilidade em
campo livre com e sem a prtese auditiva, d-se a este valor o
nome de ganho funcional (COSTA e cols., 1993).
Por outro lado, determinados equipamentos permitem verifi-
car qual a presso sonora que est sendo liberada pela prtese no
meato acstico externo do indivduo. Quando o ganho acstico da
prtese definido em termos da presso sonora em um ponto da
orelha do usurio com a prtese e o nvel de presso sonora neste
mesmo ponto sem a prtese, d-se a este valor o nome de ganho
de insero.
Em alguns casos, o ganho funcional e o ganho de insero se
equivalem, enquanto que em outros no, dependendo das possi-
bilidades de aproveitamento da amplificao por parte do indiv-
duo. Entretanto, tanto o ganho funcional como o ganho de inser-
o dificilmente equivalem aos valores de ganho acstico forne-
cido nas fichas tcnicas, uma vez que este ltimo determinado
atravs de mtodos e equipamentos artificiais.
Resposta de freqncias
Conforme foi comentado anteriormente, quanto maior o grau
de perda auditiva, maior a amplificao necessria. Entretanto, a
Aparelho Auditivo 443
Ganho dB
60
50
40
30
20
A 10
50 100 200 500 1.000 2.000 5.000 10.000 Hz
Ganho dB
60
50
40
30
N H
20
B 10
50 100 200 500 1.000 2.000 5.000 10.000 Hz
Sada dB (NPS)
130
120
110
100
90
C 80
50 100 200 500 1.000 2.000 5.000 10.000 Hz
FIGURA 20.2 A) Grficos de ganho; B) resposta de freqncias; C) sada mxima de uma prtese
auditiva fictcia.
Sada mxima
Todos os indivduos, normais ou com perdas de audio,
possuem um limite a partir do qual qualquer som mais forte se
torna desconfortvel. Este limite chamado nvel de desconforto.
Nos indivduos com perdas auditivas, particularmente aqueles
com perdas neurossensoriais, o nvel de desconforto no se altera
na mesma proporo que o limiar de audibilidade, fazendo com
que os sons muito intensos sejam to desconfortveis para os
mesmos quanto so para indivduos normais (em um fenmeno
conhecido como recrutamento).
Assim, uma prtese auditiva no pode amplificar indefinida-
mente os sons, sob pena de estes sons se tornarem insuportveis.
Do mesmo modo, todos os aparelhos sonoros possuem limita-
es inerentes sua construo que limitam a intensidade mxi-
ma que os mesmos conseguem reproduzir.
Assim, a sada mxima de uma prtese auditiva o maior nvel
de presso sonora que ela deve ou capaz de produzir. Nova-
mente, a sada mxima um dado que costuma ser fornecido em
uma freqncia em particular ou atravs de um grfico em funo
da freqncia nas fichas tcnicas (Fig. 20.2).
Se a sada mxima de uma prtese auditiva no for adequada,
pode impedir a utilizao da prtese ou, ainda, gerar um desloca-
mento temporrio ou mesmo permanente, dos limiares de audibi-
lidade. Um fato importante na anlise da sada mxima o fato de
o nvel de presso sonora gerado em uma cavidade (como o
formado entre a ponta do molde auricular e a membrana timpni-
ca) ser dependente do tamanho desta cavidade.
Os nveis de sada mxima fornecidos em fichas tcnicas
costumam ser medidos em cavidade de 1,26 ou 2 ml conforme a
norma utilizada para a confeco da ficha tcnica. Em uma
criana, porm, o volume residual existente entre a ponta do
molde e a membrana timpnica pode ser igual ou inferior a 0,5 ml,
o que aumentaria em muito a presso sonora existente na
cavidade em relao ao descrito na ficha tcnica. Este fato exige
um cuidado adicional na anlise da sada mxima desejada ou
obtida em uma criana pequena, para que se evitem danos.
Aparelho Auditivo 445
Distoro
Considera-se distoro qualquer alterao, devida exclusiva-
mente ao sistema de amplificao, na onda sonora. Esta alterao
pode ser desejada, como no caso das variaes na resposta de
freqncias importantes para a adaptao da prtese, mas tam-
bm pode ser indesejada, como quando a onda modificada de
uma forma desnecessria ou prejudicial.
Normalmente, as distores no desejadas geram uma dimi-
nuio na qualidade de som do aparelho, sendo que as distores
mais graves podem at mesmo afetar a inteligibilidade. Em algum
grau, toda prtese auditiva tem distoro, mas quanto menor esta
for, mais limpo ser o som da prtese.
Realimentao acstica
A realimentao acstica um processo que ocorre quando o
som liberado pelo receptor captado novamente pelo microfone
da prtese auditiva, gerando um apito audvel tanto para o
usurio da prtese (em alguns casos) como para aqueles que
esto ao seu redor. Este mesmo fenmeno conhecido popular-
mente como microfonia.
Este problema especialmente grave para aqueles indivduos
com perdas auditivas importantes, que necessitam de grandes
valores de ganho e, normalmente, os maiores problemas com
realimentao acstica ocorrem com prteses auditivas com
nfase nas altas freqncias (POLLACK, 1988). Entretanto, com
tcnicas adequadas, estes problemas podem ser resolvidos na
maior parte dos casos.
A realimentao acstica tambm se inicia freqentemente
por deteriorao do molde auricular ou, no caso das crianas, pelo
crescimento da orelha externa. Nestes casos, a dificuldade pode
ser facilmente solucionada com a troca do molde por um novo.
Fichas tcnicas
Um ponto importante na anlise das caractersticas eletroa-
csticas de uma prtese auditiva saber como os dados constan-
tes nas fichas tcnicas foram obtidos. Existem vrios modos de se
verificar estas caractersticas e vrias normas que regulam a
construo das fichas tcnicas.
Todas as caractersticas eletroacsticas de uma prtese au-
ditiva podem ser medidas da mesma forma: com os controles
446 Fonoaudiologia Prtica
Controle
Microfone Amplificador de Filtro Amplificador Receptor
volume
Conversor Conversor
analgico/digital digital/analgico
Sistema de amplificao
Microfone Receptor
Programador Memria
Microfone
Qualquer sistema que transforme um tipo de energia em
outro denominado transdutor. O microfone, que converte o
sinal acstico do ambiente em um sinal eltrico equivalente,
portanto denominado transdutor de entrada da prtese audi-
tiva.
Existem vrios materiais possveis para a confeco de micro-
fones (carbono, cristal, cermica) e vrios deles foram utilizados
em aparelhos auditivos. Atualmente, entretanto, praticamente s
utilizado o microfone de eletreto, um material sinttico com
propriedades eltricas especiais.
Este tipo de microfone tem sido utilizado em funo de suas
vantagens, tais como uma resposta de freqncias plana e ampla,
pouca sensibilidade a vibraes, impacto e variaes de tempe-
ratura e, ainda, pequena possibilidade de interferncia por parte
dos outros componentes da prtese.
Os microfones podem apresentar caractersticas especiais no
que diz respeito sensibilidade direo da fonte sonora e
resposta de freqncias transmitida. Quanto sensibilidade
direo da fonte sonora, os microfones podem ser omnidirecionais
ou direcionais.
Os microfones omnidirecionais captam da mesma forma os
sons vindos de qualquer direo, sendo atualmente os mais
utilizados. Podem ser reconhecidos pela existncia de uma nica
abertura para a entrada do som.
J os microfones direcionais captam melhor os sons frontais
at um ngulo de 45 e, em funo de suas caractersticas,
atenuam a resposta de baixa freqncia da prtese auditiva. Este
tipo de microfone pode ser reconhecido por suas duas entradas de
som: a dianteira, comum, e uma segunda abertura na parte de trs
da prtese.
Alm dos microfones direcionais, algumas outras construes
especiais de microfones permitem que os mesmos sejam mais
sensveis a determinada regio de freqncias. Com isto, os
microfones podem alterar de forma efetiva a resposta de freqn-
cias da prtese.
Assim os microfones podem ter uma resposta semelhante
para todas as freqncias, sendo chamados de microfones de
resposta plana. Se, por outro lado, apresentarem uma sensibilida-
de menor para as baixas freqncias, tm-se os microfones em
rampa ou meia-rampa.
450 Fonoaudiologia Prtica
Amplificador
O amplificador o sistema que tem a funo de aumentar
a intensidade do sinal eltrico gerado pelo microfone. o
principal responsvel pelas caractersticas de ganho da prte-
se auditiva.
Os sistemas amplificadores atuais so componentes monta-
dos em circuitos integrados, o que permite uma alta complexidade
em um espao muito reduzido, como pedem as prteses auditivas
mais modernas.
Uma prtese auditiva normalmente no possui apenas um
amplificador, mas vrios estgios de amplificao (na realidade
uma seqncia de amplificadores). O tipo do ltimo amplificador
do conjunto (STAAB & LYBARGER, 1994) identifica algumas ca-
ractersticas da prtese auditiva. Os amplificadores usados em
prteses auditivas dividem-se em Classe A, Classe B push-pull,
Classe D ou, mais recentemente, Classe H.
O amplificador Classe A normalmente usado em prteses
auditivas de pequeno ganho e sada mxima reduzida. Apresen-
ta um nvel importante de distoro quando usado em altas
intensidades de sada e possui um consumo de pilha bastante
grande.
O amplificador Classe B push-pull, por sua vez, caracte-
rizado pela baixa distoro, sendo capaz de fornecer um maior
ganho, melhor resposta de freqncias e maior sada mxima,
com menor consumo de pilha, do que o amplificador Classe A.
Sua grande desvantagem o espao necessrio na prtese
para sua construo.
J os amplificadores Classe D e Classe H (KRAUSS, BOSTIAN
& RAAB , 1980) so amplificadores de alta eficincia que tambm
fornecem uma melhor resposta de freqncias, maior ganho e
maior sada mxima, com menor consumo de pilha, do que o
amplificador Classe A. Sua principal vantagem em relao ao
Classe B push-pull , porm, o fato de serem pequenos o
suficiente para permitir que prteses como as intracanais incorpo-
rem os benefcios anteriormente descritos.
Receptor
O receptor o componente da prtese auditiva que tem a
funo de retransformar o sinal eltrico amplificado em sinal
acstico. Sendo assim, tal qual o microfone, um transdutor, no
caso o transdutor de sada, da prtese auditiva.
Todos os receptores utilizados em prteses auditivas so
magnticos, embora o tipo varie conforme seja um receptor
interno (em prteses retroauriculares e intra-aurais) ou externo
(em prteses auditivas convencionais).
At pouco tempo atrs, os receptores eram os grande
limitadores da resposta de freqncias (especialmente de alta
freqncia) dos aparelhos auditivos. Entretanto, os receptores
Aparelho Auditivo 451
Pilha
A pilha no exatamente um componente da prtese auditiva,
mas a fonte de energia necessria para o sistema funcionar. Uma
pilha , conceitualmente, um reservatrio de energia qumica que
pode ser convertida em energia eltrica quando desejado. Nor-
malmente, a pilha constituda por dois metais diferentes (eletro-
dos) imersos em um meio qumico (eletrlito).
Os diferentes tipos de prteses auditivas utilizam tipos
diferentes de pilhas. Normalmente, as prteses auditivas con-
vencionais utilizam pilhas alcalinas comuns do tipo AA ou AAA.
J as prteses retroauriculares e intra-aurais necessitam de
pilhas especiais.
Estas pilhas especiais so pilhas em forma de boto de
diversos tamanhos, sendo que cada prtese deve usar a pilha
de um tamanho (com conseqentes caractersticas de volta-
gem e corrente) especfico. Assim, temos a pilha 675, 13, 312,
10-A e 5, entre outras, da maior para a menor. De uma forma
geral, quanto menor a pilha, menor a sua capacidade.
A grande vantagem das pilhas especiais usadas em prteses
auditivas o fato de elas manterem uma tenso (entre 1,3 V e 1,5 V)
praticamente constante durante toda sua vida til. Isto evita que a
sada e o ganho da prtese diminuam progressivamente, conforme
a pilha se desgasta.
A durao das pilhas de prtese auditiva varia conforme o tipo
de amplificador usado. J foi comentado que o amplificador
Classe A tem um consumo relativamente alto em relao aos
demais tipos de amplificadores. Isto acontece porque, neste tipo
de amplificador, o consumo constante, no importando se h ou
no som entrando na prtese. Os amplificadores Classe B push-
pull, Classe D e Classe H, por sua vez, no consomem em locais
silenciosos, sendo o Classe D ainda mais econmico, neste
aspecto, do que o Classe B push-pull (KILLION, 1993).
A maioria das pilhas especiais utilizadas em prteses atual-
mente do tipo zinco-ar ou mercrio. As pilhas de zinco-ar so
as mais usadas, pois tm custo menor e maior durabilidade que
as de mercrio. Possuem pequenos orifcios que permitem a
entrada de ar aps a retirada de um selo de segurana, o que faz
com que comecem a funcionar. Seu inconveniente , aps a
entrada de ar, no ser mais possvel evitar o desgaste, mesmo
sem uso.
As pilhas de zinco-ar, entretanto, podem no responder ade-
quadamente quando prteses auditivas de grande ganho encon-
452 Fonoaudiologia Prtica
Sistemas alternativos
Entradas alternativas
Em algumas situaes pode ser desejado que o som no entre
atravs do microfone, mas seja captado diretamente de um
sistema especfico para melhor aproveitamento. Este o caso
tpico do telefone e de alguns sistemas de udio usados tanto para
recreao como na educao.
A bobina de induo eletromagntica ou bobina telefnica
um sistema que capta as variaes de um campo eletromagntico
exterior e as converte em um sinal eltrico equivalente, que pode
ser processado normalmente pela prtese auditiva.
Este sistema importante no uso do telefone para alguns
indivduos, e tambm permite utilizar os chamados circuitos de
induo eletromagntica em salas de aula, conferncias e deter-
minadas salas de espetculo.
Algumas prteses auditivas tambm possuem encaixes para
a adaptao de fios que trazem sinais eltricos gerados por outros
equipamentos de udio, chamados de entrada direta de udio.
Estes sinais so ento processados normalmente pela prtese
auditiva.
A grande vantagem tanto da bobina telefnica como da
entrada direta de udio a reduo da interferncia do rudo
ambiente, fazendo com que o som de interesse chegue limpo ao
usurio. So importantes tambm na utilizao de certos sistemas
educacionais, tais como o FM e determinadas formas de amplifi-
cao coletiva em salas de aula.
Vibrador sseo
O vibrador sseo um dispositivo com a funo de transfor-
mar o sinal eltrico da prtese auditiva em estmulo para o usurio,
tal como o receptor. Mas, diferente deste, ao invs de transformar
o sinal eltrico em sinal sonoro, ele o transforma em vibraes,
transmitindo o som ao indivduo por conduo ssea.
Este tipo de sistema tem usos especficos, conforme j foi
comentado, e restritos. Seus principais problemas dizem respeito
fragilidade do vibrador, muito sensvel a impactos, conforto
reduzido e, principalmente, limitao importante na resposta de
freqncias.
Aparelho Auditivo 453
Sistemas de programao
As prteses auditivas digitalmente programveis permitem
que o processamento do sinal acstico seja controlado digital-
mente. Isto pressupe a existncia de componentes especficos,
tanto dentro como fora da prtese.
Para permitir o funcionamento deste tipo de prtese auditiva,
alm de todo circuito normal da prtese, necessrio basicamen-
te um sistema controlador e um sistema de memria. A memria
permite que os dados utilizados pelo controlador para regular os
parmetros de amplificao sejam disponveis e modificveis
sempre que necessrio. Uma unidade de programao, geral-
mente externa prtese, possibilita o ajuste do controlador
conforme as necessidades do usurio.
Controle de volume
O controle de volume ou potencimetro um resistor varivel
que regula a quantidade de amplificao fornecida. Dessa forma,
o controle de volume determina o ganho da prtese auditiva.
Normalmente, quanto mais baixa a posio do controle de volu-
me, menor o ganho da prtese; quando o controle est na sua
posio mxima, todo o ganho possvel ao amplificador liberado.
Assim, o controle de volume sempre reduz o ganho nominal da
prtese auditiva (porque este ganho costuma ser medido com o
controle de volume na posio mxima ou quase mxima), nunca
o aumenta.
A principal funo do controle de volume colocado em uma
posio de fcil acesso ao usurio permitir ao indivduo ajustar
a intensidade em que o mesmo est recebendo o som, adaptando-
se aos diferentes ambientes acsticos. Por este motivo, recomen-
da-se que uma prtese auditiva nunca seja usada com o controle
de volume em uma posio mxima ou mnima, pois isto impediria
o referido ajuste.
A quantidade de reduo do ganho obtida por um controle de
volume em determinada posio no um dado que se possa
estimar. Algumas prteses apresentam uma relao mais ou
menos proporcional entre a rotao do controle de volume e a
reduo do ganho, enquanto outras apresentam discrepncias
relativamente grandes entre as duas coisas (MENEGOTTO, IORIO &
BORGES, 1993). Desta forma, o ideal que sejam tomadas
454 Fonoaudiologia Prtica
Controle de tonalidade
Conforme j foi comentado, necessrio que a resposta de
freqncias da prtese auditiva seja adaptada configurao da
perda auditiva do usurio da prtese. Entretanto, existem inme-
ras configuraes de audiograma, sendo improvvel encontrar
duas exatamente iguais. Seria impraticvel ter-se uma prtese
auditiva para cada configurao possvel de audiograma. Assim,
o controle de tonalidade tem a funo de alterar a resposta de
freqncias da prtese auditiva, permitindo um ajuste mais parti-
cularizado da mesma.
O controle de tonalidade atua filtrando regies de freqn-
cia, de forma que haja um destaque para os sons graves e/ou
agudos. Quando desejada uma nfase nos sons agudos,
usado um filtro passa-alto, que reduz a amplificao das baixas
freqncias. Para uma nfase em sons graves, usado um filtro
passa-baixo, que reduz a amplificao das altas freqncias.
Um filtro atua reduzindo a amplificao da faixa de freqncias
escolhida em uma determinada proporo, a partir de uma cha-
mada freqncia de corte. A freqncia de corte a freqncia a
partir da qual a amplificao comea a ser atenuada (no caso dos
filtros passa-baixo, as freqncias menores que a freqncia de
corte sero atenuadas, o inverso acontecendo no caso dos filtros
passa-alto). A proporo de atenuao dada sempre em decibels
por oitava (dB/oitava). Assim, quanto maior a proporo, maior
ser o corte da regio de freqncias escolhida.
Existem basicamente dois tipos de controles de tonalidade: os
controles de tonalidade passivos e os controles de tonalidade
ativos. Os primeiros atuam atravs de filtros simples, fornecendo
uma menor capacidade de reduo em dB/oitava. J os controles
de tonalidade ativos utilizam um sistema de realimentao que
permite uma maior atenuao.
Os controles de tonalidade habitualmente se localizam em
chaves internas especficas dentro da prtese, normalmente com
Aparelho Auditivo 455
Controle de sada
Conforme j foi referido, importante que a prtese auditiva jamais
se torne desconfortvel ao seu usurio. Assim, um parmetro muito
importante na adaptao da mesma o controle da sada mxima.
Existem basicamente dois modos de se realizar este controle:
atravs do corte dos picos de intensidade ou atravs da compres-
so. A compresso, como uma forma de processamento auto-
mtico de sinal, ser discutida adiante.
O modo mais tradicional de se efetuar o controle de sada
mxima da prtese auditiva atravs do corte dos picos de
intensidade (peak clipping). Todos os equipamentos sonoros
possuem um limite mximo para a intensidade que conseguem
reproduzir. Os sons mais intensos que este valor, simplesmente
so cortados para que se encaixem dentro do limite. Isto
conhecido como nvel de saturao do equipamento (Fig. 20.6).
O mesmo ocorre com as prteses auditivas. Quando os sons
atingem o limite de saturao, eles tm seus picos de intensidade
simplesmente eliminados, enquanto os sons menos intensos so
reproduzidos normalmente. Este modo de amplificao denomi-
nado amplificao linear , pois a presso sonora de sada da
prtese aumenta na mesma medida que a presso de entrada at
que o nvel de saturao seja atingido.
entrada
compresso
sada
limiar de desconforto
corte de picos
sada
FIGURA 20.6 Comparao entre a limitao
de intensidade da onda sonora realizada por
um sistema de compresso e por um sistema
de corte de picos. limiar de desconforto
456 Fonoaudiologia Prtica
Compresso
A compresso um mecanismo de processamento autom-
tico de sinal que ajusta automaticamente o nvel de sada da
prtese auditiva em funo do nvel de sinal presente dentro do
aparelho. Isto gera um tipo de amplificao chamada de no-
linear, porque a sada da prtese no aumenta de forma idntica
entrada (LETOWSKI, 1993).
No Brasil os sistemas de compresso so muitas vezes
denominados AGC (automatic gain control) mas, na realidade, o
AGC apenas um dos tipos de compresso existentes.
Qualquer sistema de compresso funciona basicamente atra-
vs do monitoramento do nvel de sinal em um ponto do circuito da
prtese auditiva (ver Fig. 20.3). A partir do nvel deste sinal, o
sistema faz ajustes no ganho acstico, de forma a que a sada
mxima no ultrapasse um nvel preestabelecido (Fig. 20.6).
Assim, o ganho da prtese auditiva com este tipo de sistema
altera-se conforme o nvel de sinal acstico do ambiente. O modo
como estas alteraes so feitas em funo dos nveis de presso
sonora de entrada no aparelho so descritas atravs das caracte-
rsticas estticas da compresso. Estas caractersticas costumam
ser demonstradas em um grfico contendo os nveis de entrada no
Aparelho Auditivo 457
130
120
Nvel de saturao
110
sada
Valores de sada em dB NPS
100
Limiar de
compresso (50 dB) entrada
90
80
70
60
50
40
30
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
Leitura recomendada
ANSI AMERICAN NATIONAL STANDARD INSTITUTE American
National Standard for an Occluded Ear Simulator. ANSI S3.25-1979.
New York, 1979.
ANSI AMERICAN NATIONAL STANDARD INSTITUTE Specification
of Hearing Aid Characteristics. ANSI S3.22-1987. New York, 1987.
COSTA, M.J.; COUTO, C.M.; IORIO, M.C.M.; BORGES, A.C.L.C.
Estudo comparativo entre mtodos de avaliao do desempenho
de prteses auditivas em indivduos com disacusia neurossensorial
de graus severo e profundo. Sade (Santa Maria), 19(1-2):81-89,
1993.
CUDAHY, E. & KATES, J. Measuring the performance of modern
hearing aids. In: STUDEBAKER, G.A. & HOCHBERG, I. Acoustical
460 Fonoaudiologia Prtica
21
O Processo de Seleo e
Adaptao de Aparelhos de
Amplificao Sonora
Katia de Almeida
Consideraes pr-seleo
So muitos os fatores individuais que devem ser considera-
dos, quando selecionamos aparelhos de amplificao para um
determinado indivduo: o grau e a simetria da perda de audio, a
configurao audiomtrica, o crescimento da sensao de
intensidade, as habilidades de reconhecimento de fala e, no caso
dos adultos, a motivao para o uso da amplificao.
A informao audiolgica forma a base para que se inicie o
processo de seleo da amplificao. Portanto, fundamental
que os resultados dos testes que compem a avaliao audiol-
gica bsica (audiometria tonal liminar, testes logoaudiomtricos e
imitanciometria) estejam disponveis. Alm destes testes, pode
ser necessria a incluso de outros, como a pesquisa do limiar de
desconforto que deve nortear a determinao dos nveis de sada
mxima do aparelho de amplificao.
Os resultados da audiometria de tons puros so fundamentais
uma vez que descrevem o tipo, o grau e a configurao da perda
de audio. Os resultados dos testes logoaudiomtricos auxiliam
na determinao da faixa dinmica da audio.
A faixa dinmica da audio a faixa em decibel compreen-
dida entre os limiares para tons puros ou para fala e o ponto onde
o estmulo (fala ou tons puros) torna-se desconfortavelmente
intenso. No processo de seleo da amplificao o estabeleci-
mento da faixa dinmica de audio importante porque repre-
senta a rea-alvo da amplificao, isto , os limites mnimo e
mximo da amplificao. Vale ressaltar que para os indivduos
portadores de perdas de audio neurossensoriais, que consti-
tuem a maioria da populao candidata ao uso da amplificao, a
faixa dinmica significativamente reduzida.
466 Fonoaudiologia Prtica
3. Molde auricular
O sucesso na adaptao de um aparelho de amplificao
pressupe o uso de um molde auricular adequado orelha do seu
usurio, de acordo com as suas necessidades audiolgicas e
caractersticas eletroacsticas do aparelho selecionado, garan-
tindo plenamente os benefcios da amplificao (TAGUCHI &
ALMEIDA, 1996).
Sabemos que a confeco de determinados tipos de apare-
lhos depende de um molde especfico, cujo objetivo melhorar o
seu desempenho eletroacstico. Alm disso, vrios estudos de-
monstraram que o molde auricular, quando adaptado orelha,
pode modificar, intencionalmente ou no, as caractersticas da
amplificao do sistema em uso. Portanto, os testes com apare-
lhos de amplificao devem sempre ser realizados utilizando-se
um molde auricular adequado ao tipo de aparelho e confecciona-
do individualmente para cada caso. Modificaes acsticas de-
vem ser feitas quando necessrio, uma vez que tm como
finalidade incrementar o ganho acstico em determinadas bandas
de freqncias, promovendo melhor inteligibilidade de fala, facili-
tando o processo de adaptao do usurio e tornando a amplifi-
cao mais natural.
Ganho acstico
O princpio subjacente em qualquer estratgia para selecionar
e adaptar um aparelho para o deficiente auditivo assegurar
uma amplificao que melhore o reconhecimento dos sons da
fala, com boa qualidade sonora e sem causar desconforto ao seu
usurio. Para realizar esta tarefa, a resposta de ganho por fre-
qncias do aparelho deve ser moldada de modo a compensar a
perda de audio existente.
Durante muitos anos foi utilizado o procedimento comparativo
(CARHART,1946), cujo princpio era a comparao do desempe-
nho entre vrios aparelhos experimentados. Este mtodo selecio-
nava como melhor aparelho, aquele que proporcionasse: 1. o
melhor limiar de recepo de fala; 2. o melhor ndice de reconhe-
cimento de fala em ambiente silencioso; 3. a maior rea dinmica
de audio; e 4. melhor ndice de reconhecimento de fala na
presena de rudo competitivo. O procedimento comparativo foi
muito aplicado at o aparecimento dos mtodos prescritivos, que
tm sido hoje os preferencialmente utilizados no processo de
seleo de aparelhos de amplificao.
Vrios so os mtodos prescritivos em uso clnico e todos so
baseados na amplificao seletiva que, de maneira simples, pode
ser definida como sendo a manipulao da resposta de freqncia
para obter um desempenho ideal por parte do paciente. Em outras
palavras, o ganho ou a amplificao deve ser maior onde a perda
auditiva maior. Atravs da utilizao destes mtodos possvel
prescrever, para cada freqncia, o ganho necessrio para atingir
um determinado limiar de audibilidade. Posteriormente, realiza-se
uma avaliao para verificar se a prescrio efetivamente permitiu
que a resposta esperada fosse alcanada (IRIO, 1996).
Dentre os inmeros procedimentos prescritivos existentes,
alguns utilizam os limiares de audibilidade como base para o
clculo de ganho acstico necessrio para amplificar os sons,
especialmente os da fala. Outros especificam que os sinais de fala
devem ser seletivamente amplificados em nveis confortveis de
audio, a partir de medidas supraliminares de maior conforto e de
desconforto.
importante ressaltar que nenhum destes mtodos perfeito,
sendo impossvel prever com preciso as necessidades audiol-
474 Fonoaudiologia Prtica
Regra do 12 ganho
LYBARGER (1944) foi o primeiro a propor cientificamente um
mtodo prescritivo, onde o ganho acstico do aparelho deveria ser
equivalente metade da perda auditiva. Recomendou que o limiar
de audibilidade fosse multiplicado por uma constante matemtica
de 0,5 com uma reserva de ganho de 15 dB. Em 1963, uma nova
verso da regra do meio ganho foi apresentada onde: GO o
ganho operacional, X a mdia aritmtica dos limiares de audibili-
dade nas freqncias de 500, 1.000 e 2.000 Hz e Fgap um fator
de correo proporcional ao gap areo-sseo.
X
GO = + Fgap + 5dB
2
Freqncia Frmulas
250 1 L.A. 10
2
500 1 L.A. 05
2
1.000 1 L.A.
2
2.000 1 L.A.
2
3.000 1 L.A.
2
4.000 1 L.A.
2
Freqncia Frmulas
250 1 L.A. + 1 (L.A. 65) 10
2 2
500 1 L.A. + 1 (L.A. 65) 05
2 2
1.000 1 L.A. + 1 (L.A. 65)
2 2
2.000 1 L.A. + 1 (L.A. 65)
2 2
3.000 1 L.A. + 1 (L.A. 65)
2 2
4.000 1 L.A. + 1 (L.A. 65)
2 2
Regra de 13 de ganho
LIBBY (1985) descreveu uma modificao da regra POGO,
propondo uma variao do ganho em funo do grau da perda
auditiva, uma vez que verificou que pessoas portadoras de perdas
auditivas de grau leve e moderado preferiam ganho igual a um
tero da sua perda auditiva ao invs da metade. Em seu procedi-
mento recomendou a atenuao do ganho em 5 e 3 dB nas
freqncias abaixo de 1.000 Hz; a reduo de 3 dB nas adapta-
es binaurais; o acrscimo de 12 do diferencial areo-sseo
(atingindo no mximo 8 dB) no ganho calculado para perdas
condutivas ou mistas e, ganho progressivamente maior quanto
mais severa fosse a perda auditiva.
As frmulas propostas para o clculo do ganho na posio
habitual do controle de volume foram:
476 Fonoaudiologia Prtica
Freqncia Frmulas
250 1 L.A. 5
3
500 1 L.A. 3
3
1.000 1 L.A.
3
2.000 1 L.A.
3
3.000 1 L.A.
3
4.000 1 L.A.
3
6.000 1 L.A. 5
3
Mtodo de Berger
BERGER (1976) descreveu um mtodo para o clculo do ganho
acstico baseado na regra de meio-ganho. Este mtodo passou por
diversas revises, tendo sido a ltima publicada por BERGER, HAGBERG,
RANE (1990). Estes autores tambm estabeleceram fatores de
correo para adaptaes binaurais (subtraindo 3 dB do ganho por
freqncia), para perdas condutivas (somando 20% do diferencial
areo-sseo) e para moldes abertos. Alm de prescrever o ganho,
este mtodo determinava o nvel de sada mximo do aparelho de
amplificao. Este era estabelecido em funo do nvel de descon-
forto do paciente, medido com estmulos pulsteis em dB NA e depois
convertido em dB NPS. Os autores recomendaram tambm o uso do
controle automtico de ganho (AGC) quando a rea dinmica de
audio fosse menor do que a considerada apropriada para a fala
amplificada. Assim sendo, eram necessrias equaes especficas
para determinar o ganho para perdas auditivas neurossensoriais,
adaptao monoaural e para os diferentes tipos de aparelhos. As
equaes foram as seguintes:
Freqncia Frmulas
250 X + 0,31 (L.A. 0250) 17
500 X + 0,31 (L.A. 0500) 08
750 X + 0,31 (L.A. 0750) 03
1.000 X + 0,31 (L.A. 1000) + 01
1.500 X + 0,31 (L.A. 1500) + 01
2.000 X + 0,31 (L.A. 2000) 01
3.000 X + 0,31 (L.A. 3000) 02
4.000 X + 0,31 (L.A. 4000) 02
6.000 X + 0,31 (L.A. 6000) 02
X = 0,05 (L.A. 500 + L.A. 1000 + L.A. 2000)
Sada mxima
A seleo da sada mxima crucial para o ajustamento e
adaptao adequada do deficiente auditivo ao uso da amplificao.
Quando a sada mxima estiver excedendo o limiar de desconforto,
o usurio do aparelho de amplificao poder: 1. alterar constante-
mente o controle de volume para ajust-lo aos diferentes nveis de
entrada sonora; 2. utiliz-lo apenas em ambientes silenciosos onde
os nveis de entrada sejam menos intensos; 3. simplesmente deixar
o controle de volume em uma posio fixa onde o ganho acstico
acrescido dos nveis de entrada no exceda o seu limiar de descon-
forto, evitando a manipulao constante; e 4. deixar de usar o
aparelho (HAWKINS, 1984).
A premissa na seleo dos nveis de sada mxima que o
usurio de um aparelho de amplificao no vivencie o desconfor-
O Processo de Seleo e Adaptao de Aparelhos de Amplificao Sonora 479
2. Mensuraes in situ
Avaliao do ganho acstico
Sem dvida alguma, o desenvolvimento dos equipamentos
com microfone-sonda foi o mais importante avano ocorrido nos
ltimos anos na rea de adaptao de aparelhos de amplificao,
uma vez que fornecem informaes essenciais durante o proces-
so de seleo, permitindo mais preciso nos ajustes e na avalia-
o das caractersticas da amplificao recebida pelo indivduo
deficiente auditivo.
A mensurao in situ que mais ateno recebe durante o
processo de adaptao do aparelho a resposta de insero.
definida como a curva de resposta em freqncias resultante da
diferena entre a resposta sem e com aparelho, em decibels,
obtidas no mesmo ponto no meato acstico externo. Represen-
ta o ganho fornecido por um aparelho quando inserido na orelha
do indivduo.Se estivermos nos referindo ao ganho em apenas
uma freqncia, o termo empregado ganho de insero, que
uma resposta eletroacstica, objetiva e considerada como
equivalente ao ganho funcional.
Uma das principais aplicaes da resposta de insero
verificar se o ganho acstico desejado foi obtido. A maioria dos
equipamentos capaz de calcular o ganho acstico do aparelho,
desde que sejam fornecidos os limiares tonais do paciente e
escolhido o mtodo prescritivo desejado. Dessa forma, pode-se
observar no monitor a curva de ganho prescrito e compar-la com
aquela obtida com o aparelho (COSTA, COUTO, ALMEIDA, 1996).
Os equipamentos com microfone-sonda so extremamente
versteis e sua utilizao deve ir muito alm do que simples-
mente determinar a resposta de insero. Quando bem-utiliza-
dos, permitem o registro do desempenho de qualquer tipo de
aparelho de amplificao, bem como de quaisquer circuitos
especiais presentes, os quais no poderiam ser avaliados por
outros meios.
484 Fonoaudiologia Prtica
nrio PHAB. Para cada item so dadas duas respostas, uma sem e
outra com o aparelho, avaliando desta forma o desempenho do
indivduo em cada situao de vida diria com e sem aparelho.
Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit (APHAB)
COX & ALEXANDER (1995) desenvolveram, a partir do questio-
nrio PHAB, um modelo reduzido com o objetivo de utiliz-lo como
instrumento clnico. O APHAB apresenta 24 itens distribudos em
quatro subescalas: facilidade de comunicao, reverberao,
rudo ambiental e desconforto para sons. As trs primeiras
subescalas destinam-se a avaliar a inteligibilidade da fala em
vrias situaes de vida diria, enquanto a quarta quantifica as
reaes negativas aos sons ambientais.
RADINI (1994) desenvolveu o primeiro questionrio adaptado
ao portugus brasileiro, com o objetivo de pesquisar o grau de
satisfao do usurio de aparelhos analgicos e digitalmente
programveis em diversas situaes de vida diria. Este instru-
mento foi elaborado a partir da combinao de dois questionrios
HAPI e SHAPI. O questionrio possui quatro partes: 1. dados de
identificao; 2. FASE A 32 situaes quanto ao desempenho
dos aparelhos em diversas situaes (em casa, no carro, na rua
e locais diversos), com seis opes de resposta; 3. FASE B 10
itens referentes s queixas dos usurios quanto ao desempenho
dos aparelhos de amplificao (desconforto a sons intensos,
qualidade sonora, amplificao insuficiente, dificuldades na com-
preenso de fala, tamanho inadequado, problemas de realimen-
tao acstica constante); e 4. FASE C 8 itens resumindo o
desempenho dos aparelhos em vrias situaes (compreenso
de fala no silncio, com rudo de fundo; reconhecimento de sons
ambientais; qualidade sonora; rudos internos do aparelho; apre-
ciao de msica; qualidade da voz do usurio e avaliao geral).
Dessa forma, os questionrios de auto-avaliao, assim como
as medidas do ganho funcional, ganho de insero e testes de
reconhecimento de fala, devem ser utilizados conjuntamente
pelos profissionais com o objetivo de avaliar o desempenho de
indivduos usurios de aparelhos de amplificao, verificando sua
adequao nas inmeras situaes de vida diria e permitindo a
identificao de possveis modificaes que se faam necess-
rias em suas regulagens (MATAS & IRIO, 1996).
Leitura recomendada
ALFORD, B.R. & JERGER, J. Audiology and otolaringology a
continuing partnership. Arch.Otolaryngol., 103:249-250, 1977.
ALMEIDA, K. Mensuraes de prteses auditivas in situ e no acoplador
de 2.0 ml. Tese de Mestrado Escola Paulista de Medicina, So
Paulo, 1993.
ALMEIDA, K. A seleo e a verificao da sada mxima. In: ALMEIDA,
K. & IRIO, M.C.M. Prteses Auditivas: Consideraes Tericas e
Aplicaes Clnicas. So Paulo, Editora Lovise, 1996. pp.101-108.
BENTLER, R.A. Amplification for the hearing-impaired child. In:
ALPINER, J. & McCARTHY P.A. Rehabilitative Audiology: Children
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BERGER, K.W. Prescription of hearing aids. J. Audiol. Soc., 2:71-78, 1976.
BERGER, K.W.; HAGBERG, E.N.; RANE, R.L. La Adaptacin de
Prtesis Auditivas Fundamentos, Mtodo y Resultados. 2 ed.
Alicante, Laem, 1990. 60 p.
BYRNE, D. & DILLON, H. The National Acoustic Laboratories (NAL)
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CAMPOS, C.A.H.; RUSSO, I.C.P.; ALMEIDA, K. Indicao, seleo e
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O Processo de Seleo e Adaptao de Aparelhos de Amplificao Sonora 495
22
Moldes Auriculares
INTRODUO
ORELHA EXTERNA
Por orelha externa compreende-se o pavilho auricular e o
meato acstico externo (MAE).
O pavilho serve para coletar as vibraes areas que cons-
tituem as ondas sonoras, e o meato dirige-se do fundo do pavilho
para dentro, conduzindo as vibraes que so transmitidas
membrana timpnica.
A superfcie lateral da orelha irregularmente cncava, com
numerosas eminncias e depresses.
As estruturas anatmicas do pavilho auricular so: hlice,
tubrculo auricular, anti-hlice, fossa triangular, fossa escafide,
concha auricular, cimba da concha, trago, antitrago, incisura
intertrgica e lbulo (Fig. 22.1).
Moldes Auriculares 499
Fossa escafide
Fossa triangular
Tubrculo da orelha
Cimba da concha
Hlice Concha
Trago
Anti-hlice
Incisura intertrgica
Antitrago
Lbulo
REALIZAO DE PR-MOLDAGEM
O ponto de partida para a boa impresso de um molde
auricular a inspeo criteriosa das condies da orelha externa.
Essa avaliao mostra, basicamente, o dimetro e comprimento
do canal, direo das curvas, presena de plos e cermen ou de
problemas que inviabilizam a pr-moldagem.
Na presena de qualquer anomalia no MAE, o paciente deve
ser encaminhado ao mdico otorrinolaringologista.
O ideal que esta inspeo seja feita com um otoscpio e
no com uma lanterna especial para o ouvido com ponta de
acrlico. Observe-se que tal procedimento no consiste numa
otoscopia.
Na certeza de um meato acstico externo sadio, inicia-se o
processo de pr-moldagem, que deve ser previamente explicado ao
paciente, colocando-se um tampo ou bloqueador da massa a ser
introduzida no canal (Fig. 22.2A). No adulto, deve-se horizontalizar
o canal tracionando-se o pavilho auditivo para cima e para trs,
enquanto na criana a trao deve ser para baixo, para a colocao
do tampo. Esse tampo, tambm chamado de oto-block pode ser
feito com algodo ou espuma e geralmente preso no centro por um
fio resistente e higinico, tal como o fio dental.
O tamanho do bloqueador a ser feito individualmente deter-
minado pela inspeo prvia do dimetro do canal.
A insero do tampo feita com auxlio de uma pina,
seguida de uma lanterna (ear light). O local exato para sua
colocao o incio da segunda curva do MAE em se tratando de
molde para aparelhos retroauriculares ou intracanais.
No caso de aparelhos peritimpnicos e microcanais, a locali-
zao mais profunda, devendo definir toda a segunda curva. Tal
procedimento merece ateno especial.
Aps a colocao do tampo, importante nova inspeo do
canal para garantir que todo o dimetro foi bloqueado, evitando
que a massa atinja a membrana timpnica causando um acidente.
Em nvel prtico, observa-se maior aceitao dos pacien-
tes quando o tampo feito de espuma densa. A bucha de
algodo, quando muito comprimida, parece desconfortvel
introduo.
Realizada a perfeita vedao do canal, parte-se para a inser-
o da massa que pode ser feita segundo trs tcnicas: a manual,
com seringa, e mista.
A tcnica manual consiste na manipulao da massa base
de silicone e catalisador, e insero da mesma forma. Com esta
tcnica, observa-se maior dificuldade para a penetrao do mate-
rial e pouca fidelidade das curvas.
Moldes Auriculares 501
A B
C D
E F
A B
C D
E F
FIGURA 22.3 A) Molde direto. B) Molde invisvel concha. C) Molde invisvel duplo. D) Molde invisvel
simples. E) Molde passarinho. F) Molde canal.
MOLDES ESPECIAIS
A B
C D
FIGURA 22.4 A) Molde tampo para natao. B) Molde para estetoscpio. C) Molde para colabamento
de canal. D) Molde protetor de rudo.
APARELHOS MICROCANAIS
Graas a estudos dirigidos reduo do efeito de ocluso,
surgiram as prteses completamente no canal (CIC). Neste tipo
de adaptao, a ponta da caixa ou cpsula do aparelho fica muito
prxima da membrana timpnica, isto , alm da segunda curva
do MAE, na poro ssea.
As vantagens desses aparelhos referem-se maior aceitao
esttica, reduo do efeito de ocluso e menor requisio de
ganho e sada, pois a curva de ressonncia natural do ouvido no
perdida pela insero de um molde como geralmente ocorre nos
demais tipos de prteses.
As condies clnicas para a realizao da pr-moldagem so
as mesmas j referidas anteriormente, ou seja, um MAE livre de
corpos estranhos e absolutamente saudvel.
A colocao do tampo requer um cuidado especial, pois deve
ultrapassar a segunda curva, atingindo a poro ssea do MAE.
O tampo de algodo pode ser lubrificado com vaselina lquida ou
glicerina para tornar menos incmodo ao paciente a sua insero.
O profissional deve ser bastante experiente e considerar que
reaes como dor, ardor, hiperemia e at sangramento podem
ocorrer em funo da pele delgada dessa poro do meato.
O material utilizado para este procedimento tambm difere da
massa base de silicone usada habitualmente com catalisador
Moldes Auriculares 507
Materiais
Os materiais utilizados mais habitualmente para a confeco
so o acrlico rgido ou flexvel e o silicone.
O nome cientfico do acrlico rgido metacrilato de metil que
pode ser termo-polimerizvel ou autopolimerizvel. O acrlico
termopolimerizvel considerado totalmente antialrgico, pois
cozido a 100C por algumas horas consecutivas. mais resisten-
te, no sofre alteraes de cor com o tempo e comercialmente
mais caro. O acrlico autopolimerizvel no cozido a altas
temperaturas e, por isto, no totalmente antialrgico, sofrendo
alterao de cor com o tempo. Pode ocorrer de um paciente
desenvolver alergia ao molde aps algum tempo de uso, cuja
explicao o fato de no ter havido total polimerizao do
produto.
Para pacientes com indicao de moldes macios, por diferen-
tes razes, existe o acrlico flexvel ou metacrilato de etil. Este
tipo de molde no hipoalergnico, pode sofrer alterao de cor
e textura, requerendo trocas em menor espao de tempo. Com o
advento do silicone, o acrlico flexvel perdeu sua aplicabilidade.
O silicone o mais novo material disponvel no mercado.
bastante resistente e macio. No apresenta alterao de cor e textura
com o tempo. Pode ser usado em todos os tipos de perdas auditivas
e admite diferentes modificaes estticas. Sua grande limitao
refere-se a modificaes acsticas alm de no permitir a fixao de
arruela no caso de molde direto. considerado hipoalergnico e
comercialmente mais caro que os outros materiais.
Para a seleo do tipo de material a ser usado na confeco
de um molde, alguns fatores devem ser considerados. O tipo de
deficincia auditiva associado idade do paciente so de grande
importncia. Quanto maior for a perda do indivduo, mais oclusivo
deve ser o molde. Em geral, crianas pequenas e idosos, nestes
casos, se beneficiam com moldes de silicone, que so mais
aderentes pele, e mais suaves na colocao. Em deficincias
auditivas de leves a moderadas que necessitem de modificaes
508 Fonoaudiologia Prtica
MODIFICAES ACSTICAS
A indicao de uma prtese auditiva tem como objetivo
principal tornar os sons ambientais, e especialmente os de fala,
audveis ao usurio. Os indivduos portadores de deficincia
auditiva esto sempre requerendo modificaes nas caractersti-
cas de suas prteses, a fim de us-las mais confortvel e eficien-
temente. Estas mudanas podem ser realizadas atravs dos
controles internos das prteses, porm nem sempre so suficien-
tes para atender s necessidades do paciente.
Estudos tm mostrado que a amplificao das altas freqn-
cias fundamental para maior inteligibilidade dos sons de fala.
H tambm necessidade de minimizar as baixas freqncias
porque a amplificao dos sons de fala de baixas freqncias e
de rudos ambientais tem interferido na percepo de consoan-
tes de freqncias altas pelo fenmeno do mascaramento
(DANAHER e cols., 1975).
O desenvolvimento tecnolgico tem possibilitado, tambm,
modificaes nos prprios moldes auriculares que permitem en-
fatizar determinada faixa de freqncia.
As modificaes acsticas nos moldes determinam mudan-
as nas respostas dos sons amplificados pelas prteses. Estas
modificaes so possveis com o uso de ventilao, dampers ou
filtros acsticos e efeito corneta, sendo que cada uma delas atua
em determinada faixa de freqncia (Fig. 22.5A).
As prteses atuais, com faixa de freqncia ampla, permitem
que estas modificaes possam ser usadas em conjunto ou
individualmente. Tais alteraes nem sempre trazem mudanas
mensurveis na resposta de freqncia da prtese, porm os
usurios referem melhora na qualidade do som. So comuns
queixas dos pacientes concernentes sensao de plenitude
a b c
Ventilao
A ventilao consiste na abertura de um segundo canal no
molde, diferente do canal de conduo do som amplificado pela
prtese auditiva, que estabelece uma comunicao entre o am-
biente e espao do MAE no preenchido pelo molde.
A ventilao foi criada por GROSSMAN em 1942, tendo sido o
primeiro mtodo a ser utilizado como modificao acstica nos
moldes. Faz com que os sons graves, por refletirem com maior
facilidade, escapem atravs dela. Isto ocorre porque a massa
acstica, produzida dentro da abertura da ventilao, oferece maior
oposio ao fluxo de energia para altas freqncias. A ventilao
normalmente indicada para pacientes com preservao da audio
em freqncias baixas. Tecnicamente, pode ser feita em paralelo ou
diagonalmente ao canal de conduo do som, ou ainda, em forma
de canaleta externa ao canal do molde (Fig. 22.5B).
A ventilao em paralelo no intersecciona o canal de conduo
do som, sendo to longa quanto este. A imitncia desta ventilao
grande devido massa acstica e reduz o escape das altas
freqncias. A ventilao em diagonal intersecciona o canal de
conduo do som sendo seu comprimento e dimetro importantes,
e sua imitncia varivel em funo do ponto de interseco com o
canal de conduo do som. Com o uso da ventilao em diagonal,
pode ocorrer escape da energia das altas freqncias com maior
facilidade. Devido a esta caracterstica, a ventilao em paralelo
mais efetiva. Muitas vezes, determinados aspectos anatmicos
obrigam o uso de ventilao em diagonal, devendo ser a inter-
seco, nestes casos, o mais prximo possvel da ponta do molde,
o que aumenta a impedncia da ventilao assegurando perda
mnima de energia nas altas freqncias (LEAVITT, 1986).
A ventilao externa usada quando o MAE estreito no permite
a ventilao em paralelo. Neste caso, faz-se uma canaleta na poro
inferior do molde, em toda a sua extenso. Este tipo de ventilao
bastante empregado nas prteses intra-auriculares e intracanais, pois
minimiza-se a possibilidade de realimentao acstica.
a b c
100
90
80
70
60
FIGURA 22.5 C) Efeito da ventilao no
fenmeno de ocluso. Molde fechado ___,
50 ventilao de 1mm - - - - -, 2 mm -.-.-, 3 mm
0,025 0,500 0,125 0,250 0,500 1 2 4 KHz -..-..-, sem molde.....
Moldes Auriculares 511
select-a-vent SAV;
positive venting valve PVV;
variable venting valve VVV.
a b c d
db
a
b
130 c
d
e
120
110
100
e
100 200 500 1.000 2.000 5.000 10.000
Freqncia (Hz)
FIGURA 22.5 E) Diferentes posies dos filtros acsticos nos moldes auriculares.
Moldes Auriculares 513
Efeito corneta
Outra forma de tambm produzir mudanas na resposta de
freqncia de uma prtese auditiva inclui variao de dimetro
e comprimento do tubo plstico e reduo ou aumento do
molde. Quanto menor o dimetro do tubo plstico, menos ganho
nas altas freqncias alcanado. Uma forma de compensar
esta perda utilizar um tubo cujo dimetro interno aumente
gradativamente da concha para a ponta do molde, em forma de
corneta. Aumentando-se ou diminuindo-se o dimetro do tubo
nos 10 mm finais do molde, h uma mudana considervel nas
respostas para as altas freqncias.
O tubo plstico de um molde padro tem dimetro aproximado
de 2 mm. O aumento deste dimetro para 4 mm nos ltimos 10 mm
do molde enfatiza a resposta das altas freqncias, enquanto sua
reduo para 1 mm atenua estas freqncias. So empregados,
respectivamente os termos horn e reverse horn para descrever
estas duas situaes (MCHUGH & MORGAN, 1988) (Fig. 22.5F).
Som Som
Horn Reverse horn
FIGURA 22.5 F) Transmisso sonora na corneta e na corneta invertida.
2 mm
4 mm
2 mm
4 mm
4 mm
19 mm 11 mm
11 mm
Belled canal
G H I
FIGURA 22.5 G) Dimenses do Libby horn (BERGENSTOFF, 1985). H) Bakke horn (BERGENSTOFF,
1985). I) Canal em forma de boca-de-sino.
Leitura recomendada
BERGENSTOFF, H. Earmold design and its effect on real ear insertion
gain. Hear. Instrum., 34(9):46-49, 1985.
COURTOIS, J. ; JOHANSEN, E. A.; LARSEN, B.V.; CHRISTENSEN, P.;
BEILIN, J. Open Molds. In: JENSEN, J.H. Hearing Aid Fittings.
516 Fonoaudiologia Prtica
23
Mensuraes In Situ
INTRODUO
HISTRICO
O acoplador de 2,0 ml (ou acoplador 2 cc) desenvolvido por
ROMANOW em 1942, foi o primeiro passo em direo ao desenvol-
vimento das mensuraes in situ. ROMANOW relatou que, para
expressar quantitativamente o desempenho de um aparelho
auditivo, necessrio especificar um referencial ao qual o seu
desempenho possa ser comparado, bem como o mtodo para
efetuar tais comparaes. Desta forma, como um mecanismo de
fcil fabricao, o acoplador teria a funo de padronizar as
mensuraes das caractersticas eletroacsticas dos aparelhos
auditivos. No deveria simular uma orelha externa, e sim ser um
mecanismo no qual as medidas das caractersticas eletroacsticas
dos aparelhos auditivos poderiam ser obtidas, funcionando como
um padro consistente para controle de qualidade, comparao
de aparelhos e troca de dados tcnicos entre diferentes fbricas.
Em 1946, WEINER & R OSS utilizaram os primeiros microfones-
sonda e mediram o nvel de presso sonora em diferentes
posies do meato acstico externo para uma faixa em freqncia
de 200 a 5.000 Hz. Neste estudo, concluram que a orelha externa
age como um amplificador natural, pois observaram que o nvel
de presso sonora na membrana timpnica maior que o nvel de
Mensuraes In Situ 519
TERMINOLOGIAS, PROCEDIMENTOS E
APLICAES CLNICAS
H uma srie de mensuraes in situ que podem ser realiza-
das para a adaptao do aparelho auditivo. Sero descritos os
sete procedimentos mais utilizados e algumas de suas aplicaes
clnicas empregando uma terminologia que, embora seja a mais
aceita e mais utilizada, ainda no est padronizada. Os termos
escolhidos para a traduo da terminologia americana seguem a
proposta de COSTA e cols. (1996).
Procedimento
A posio do tubo-sonda e o nvel do sinal de teste merecem
ateno especial para a realizao deste procedimento.
O primeiro passo a colocao do tubo-sonda no MAE, de
maneira adequada, j que a REUR obtida de forma incorreta pode
522 Fonoaudiologia Prtica
dB
140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
125 250 500 1k 2k 4k 8k Hz
Aplicaes clnicas
Devido a caractersticas anatmicas particulares, os indiv-
duos tm diferentes valores de REUR. Quando inserido o molde
auricular, o volume residual e o dimetro da abertura para a
entrada sonora no MAE diminuem, fazendo com que a amplifica-
o natural seja perdida ou modificada. O resultado que os
valores obtidos na orelha com aparelho auditivo iro variar de um
indivduo para outro.
O primeiro e mais comum uso clnico da REUR servir como
valor de referncia para determinar a resposta de insero (REIR)
ou o ganho de insero (REIG). Desta forma, a resposta de
freqncia do aparelho auditivo deve compensar de maneira
adequada a perda de insero provocada pelo molde. importan-
te levar em considerao os valores da REUR a fim de selecionar
as caractersticas eletroacsticas necessrias para atingir o gan-
ho desejado. Compensao excessiva ou inadequada da perda
de insero pode resultar em picos ou vales na curva da resposta
Mensuraes In Situ 523
Procedimento
Aps a REUR ser realizada, o aparelho deve ser colocado
desligado na orelha, com o cuidado do tubo-sonda permanecer
no mesmo local do meato acstico externo. O sinal de entrada
ento apresentado em campo livre, utilizando o mesmo tipo
de sinal e mesmo nvel de intensidade utilizados na avaliao
da REUR.
A maneira utilizada para demonstrar a REOR no monitor
varivel de acordo com o equipamento utilizado. Alguns mode-
los permitem equalizar a REUR, sendo o zero a linha de
referncia. Desta forma, no mostrada a REOR, mas a
diferena entre a resposta de ressonncia (REUR) e a resposta
de ocluso (REOR) (Fig. 23.2A). Outros equipamentos exigem
que as medidas da REOR sejam realizadas em uma escala
absoluta e a rea que estiver abaixo do nvel de entrada vai
representar a REOR (Fig. 23.2B).
dB dB
90 140
80 130
70 120
60 110
50 100 REUR
40 90
30 80
20 70
REOR
10 60
0 50
-10 40
Hz 125 250 500 1k 2k 4k 8k Hz
125 250 500 1k 2k 4k 8k
A B
FIGURA 23.2 A) Exemplo de curva de resposta resultante da diferena entre REUR e REOR. B)
Exemplo de curva de resposta de ressonncia na orelha externa (REUR) e de resposta de ocluso
(REOR).
524 Fonoaudiologia Prtica
Aplicaes clnicas
A diferena entre REUR e REOR fornece uma estimativa da
perda de insero, determinando qual o efeito que a colocao do
molde auricular exerce na REUR do paciente. importante realizar
a REOR isoladamente no momento da adaptao do aparelho
auditivo para melhor definio das caractersticas da amplificao e
modificaes no molde para o indivduo em questo.
Pode ser utilizada como uma medida indireta do efeito de
ocluso. Geralmente, quanto mais a REOR estiver abaixo da
REUR, maior ser o efeito de ocluso. Desta forma, possvel
determinar o tamanho adequado da ventilao (combinada com a
resposta de insero).
Procedimento
Levando em considerao que a REAR normalmente con-
duzida logo aps a REUR, o tubo-sonda j est no meato acstico
externo. O aparelho auditivo deve, ento, ser colocado tomando-
se o cuidado para que o tubo-sonda no se desloque. Se no for
utilizada esta seqncia, o tubo-sonda deve ser colocado segun-
do os parmetros j citados na REUR.
Aps a colocao do aparelho na orelha, deve-se estar atento
ao nvel de intensidade do sinal de entrada e a posio do controle
de volume do aparelho auditivo.
dB
140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
125 250 500 1k 2k 4k 8k Hz
FIGURA 23.3 Exemplo de curva de resposta com aparelho auditivo na orelha externa (REAR).
Mensuraes In Situ 525
Aplicaes clnicas
Embora a resposta de insero (REIR) seja atualmente o
mtodo mais conhecido para verificar o desempenho do aparelho
auditivo, a REAR provavelmente ser, brevemente, o mtodo
escolhido para determinar a qualidade da adaptao do aparelho
auditivo. Em alguns casos, a REAR a mais til a fim de solucionar
queixas do paciente em relao ao desempenho do aparelho
auditivo. Ela detecta picos inadequados na curva de resposta em
freqncia, os quais causam desconforto ao usurio ou queda na
qualidade sonora. Se estes picos ocorrerem prximos ao pico da
REUR, no sero observados na resposta de insero.
O uso mais comum da REAR servir como referncia para o
clculo da resposta de insero (REUR subtrada da REAR para
obter os valores da resposta de insero). Por esta razo, muitos
equipamentos fazem este clculo automaticamente e no apre-
sentam a REAR.
A REAR tambm a mensurao mais adequada para
avaliar distoro intermodulada e circuitos especiais, tais como
microfone direcional, compresso ou circuito de processamento
de sinal.
Outra aplicao clnica importante da REAR medir a sada
mxima do aparelho auditivo na orelha do usurio. Quando
utilizada desta forma, o termo correto resposta de saturao na
orelha externa (RESR), descrita a seguir.
dB
140
130
120
110
100
90
80
70
60
50
40
125 250 500 1k 2k 4k 8k Hz
Procedimento
O procedimento basicamente o mesmo utilizado na REAR,
exceto que neste caso essencial assegurar que o aparelho
auditivo deva operar no seu nvel mximo de sada (saturao). Para
isto, o nvel do sinal de entrada deve ser 90 dB NPS e o controle de
volume deve ser posicionado logo abaixo do ponto de realimentao
acstica. A fim de evitar desconforto e/ou como medida de seguran-
a, h um outro procedimento para realizao do RESR. Utilizando
nveis de intensidades menores, pode-se obter a resposta desejada
atravs de um fator de correo individual, em relao ao acoplador
2 cc, que ser descrito na RECD (diferena entre os valores do
acoplador e da orelha externa).
Convm lembrar que, segundo MUELLER & BRIGHT (1994), se
os limiares de desconforto foram obtidos e se o aparelho auditivo
adequado foi selecionado (com a sada mxima regulada adequa-
damente), ento um sinal de 90 dB NPS no dever causar
desconforto ao usurio.
Aplicaes clnicas
Sabe-se que um aparelho auditivo com valores de sada mxima
excessivos pode causar desconforto e, em alguns casos, rejeio ao
seu uso mesmo que o ganho acstico seja, por outro lado, a sada
mxima regulada aleatoriamente em nveis desnecessariamente
reduzidos, a faixa dinmica pode ser restringida, levando a distores
que podem comprometer a inteligibilidade dos sinais de fala.
Mensuraes In Situ 527
dB
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
-10
125 250 500 1k 2k 4k 8k Hz
dB
140
130 REAR
120
110
100 REIR
90
80
70 REUR
60
50
40
125 250 500 1k 2k 4k 8k Hz
FIGURA 23.6 Exemplos de curvas de respostas obtidas na orelha externa: resposta de ressonncia
(REUR) e resposta com aparelho auditivo (REAR). Desta forma REAR REUR = REIR.
Procedimento
Depois de efetuada a equalizao do campo livre e calibrao
do tubo-sonda, a medida subseqente a REUR. Com o
cuidado de no tirar o tubo-sonda do local, o aparelho coloca-
do ligado na orelha do paciente. O nvel de sinal de entrada e o
tipo de sinal deve ser o mesmo utilizado na REUR. A posio do
tubo-sonda no to crtica, desde que seja a mesma utilizada
na REUR.
Todos os equipamentos calculam automaticamente a diferen-
a entre as medidas com e sem aparelho auditivo. Em alguns,
podem-se observar as curvas REUR e REAR separadamente,
antes do clculo.
Aplicaes clnicas
O propsito principal da REIR verificar se o ganho pre-
determinado pelo mtodo prescritivo escolhido (regras de gan-
ho) foi alcanado. A maioria dos equipamentos calcula o ganho
necessrio de acordo com os limiares tonais do indivduo.
Esta mensurao considerada equivalente ao ganho funcio-
nal (avaliao comportamental, resultante da diferena entre os
limiares tonais em campo livre, com e sem aparelho auditivo).
Para MUELLER (1992), a REIR apresenta vrias vantagens em
relao ao ganho funcional:
As informaes so obtidas por toda a faixa de freqncia e
no apenas a intervalos de uma oitava ou meia-oitava.
Mensuraes In Situ 529
Procedimento
O primeiro passo para a obteno da RECD realizar a REAR,
evitando a saturao do aparelho auditivo ou o acionamento da
compresso. Desta forma, um nvel de sinal de entrada de 60 dB
NPS suficiente. O controle de volume colocado, na maioria das
vezes, na posio de uso.
Aps a realizao da REAR, o aparelho auditivo deve ser
retirado da orelha e a resposta no acoplador deve ser obtida com
o mesmo sinal de entrada e sem modificar a posio do controle
de volume.
A RECD a subtrao dos valores da REAR e do acoplador 2 cc.
Aplicaes clnicas
A RECD utilizada como um fator de correo individual. Uma
aplicao fundamental seria na seleo de um aparelho auditivo
apropriado baseado em informaes do acoplador 2 cc. A fim de
saber qual ser a resposta na orelha externa (REAR) de um
aparelho auditivo cujas caractersticas eletroacsticas foram
mensuradas no acoplador 2 cc, somam-se os valores da RECD
aos valores do acoplador 2 cc.
Outra aplicao importante seria a determinao da sada
mxima do aparelho auditivo, quando o usurio apresentou descon-
forto na RESR, com um sinal de entrada de 90 dB NPS. Realiza-se
a curva da SSPL90 no acoplador e soma-se a ela a RECD.
530 Fonoaudiologia Prtica
Ambiente de teste
O teste pode ser realizado dentro ou fora de um ambiente
acusticamente tratado. A melhor utilizao seria em uma sala
acusticamente tratada, pois pode-se garantir baixo nvel de rudo,
poucas superfcies refletoras e pequeno tempo de reverberao,
porm se o espao no for suficiente em salas acusticamente
tratadas, o prprio equipamento pode se tornar uma superfcie
refletora.
Salas no-tratadas acusticamente podem ser utilizadas se
forem tomadas medidas a fim de haver a mesma validade e a
mesma confiabilidade. HAWKINS & MUELLER (1992) listam as
seguintes condies para a realizao dos testes em salas
reverberantes:
Posicionamento do paciente
O posicionamento do paciente interfere na realizao das
mensuraes na medida em que diferentes nveis de presso
sonora sero obtidos no meato acstico externo dependendo da
localizao a ser utilizada. Deve-se considerar como pontos
importantes a distncia em relao ao alto-falante e o ngulo de
incidncia da fonte sonora.
Quanto ao ngulo de incidncia da fonte sonora em relao ao
alto-falante, existem opinies diversas mas, de maneira geral,
considera-se o 0 ou 45 azimute. Utilizando o 0, o alto-falante
permanece exatamente em frente ao paciente durante toda a
testagem. Utilizando 45, o alto-falante deve ser movido para o
lado da orelha testada.
Para a distncia do paciente em relao ao alto-falante, a
maioria dos fabricantes recomenda entre 0,5 a 1 m.
COSTA e cols. (1996) referem que a distncia de 1 m a mais
utilizada, pois proporciona conforto ao paciente, preciso nas
medidas e, alm do que, uma distncia que se aproxima de uma
situao de conversao normal. Sugerem tambm, que o pa-
ciente seja posicionado a 0 azimute, quando possvel, no centro
da sala, com os braos ao longo do corpo, as mos apoiadas nas
coxas, as pernas no devem estar cruzadas e os cabelos, quando
forem compridos, devem ser presos.
Utilizao do tubo-sonda
Calibrao da sonda
Dependendo do equipamento que est sendo utilizado,
necessria a calibrao do tubo-sonda de silicone. A extenso do
tubo de silicone considerada parte do microfone, portanto os
efeitos acsticos da passagem do som pelo tubo devem ser
levados em considerao. O propsito desta calibrao fazer
com que o tubo-sonda se torne acusticamente desprezvel. Desta
forma a mensurao ser registrada como se o prprio microfone
estivesse prximo membrana timpnica.
Mensuraes In Situ 533
Posicionamento do tubo-sonda
A localizao do tubo-sonda no meato acstico externo um
dos aspectos mais importantes para garantir medidas precisas
com microfone-sonda. A posio inicialmente utilizada deve ser
mantida sem alteraes at o final do teste.
A profundidade de insero particularmente importante para a
determinao de medidas absolutas, como a REUR e REAR. As
respostas nas freqncias altas so diretamente relacionadas
distncia entre a sonda e a membrana timpnica. Quanto mais
prxima a sonda estiver da membrana timpnica, mais precisa ser
a mensurao nestas freqncias. Na REIG, por ser medida relati-
va, a localizao da sonda no to importante quanto a necessi-
534 Fonoaudiologia Prtica
dade que ela permanea no mesmo local tanto para a REUR quanto
para a REAR (j que REIG = REAR REUR).
Existe uma variedade de mtodos para a colocao do tubo-
sonda numa profundidade adequada. Alguns profissionais prefe-
rem determinar medidas fixas de acordo com o comprimento
mdio do meato acstico externo, variando este parmetro para
adultos ou crianas. Outros utilizam pontos de referncia como o
tragus ou a entrada do meato acstico externo at a ponta do
molde. O anel marcador no tubo-sonda, facilita a utilizao destes
procedimentos.
De maneira geral, HAWKINS & MUELLER (1992) colocam duas
consideraes bsicas para a utilizao na prtica clnica: 1.
colocar o tubo-sonda o mais prximo possvel da membrana
timpnica tendo a medida de 5 mm da membrana como o ideal; e
2. que o tubo se estenda no mnimo 5 mm da ponta do molde.
comum e efetivo usar o molde como guia para a insero do tubo-
sonda (Fig. 23.8).
Considerando ento que normalmente a avaliao de desem-
penho do aparelho auditivo envolve a utilizao de vrias medi-
das, coerente procurar satisfazer tanto o critrio de profundidade
quanto de localizao constante.
O bom senso deve estar sempre presente na avaliao de
cada caso em particular. O cuidado na colocao da sonda em
crianas fundamental, pois a forma com que isto ser feito
poder possibilitar, dar prosseguimento ou dar fim ao teste que se
pretende realizar. Este aspecto ser discutido posteriormente.
A
B
C
FIGURA 23.8 Utilizao do molde como guia para medida de insero do tubo-sonda. A) Anel
marcador; B) tubo-sonda; C) microfone-referncia.
Mensuraes In Situ 535
Sinal de teste
Tipo de sinal
Alguns equipamentos com microfone-sonda possuem vrios
tipos de sinais: tom puro, rudos de banda estreita, rudos de
banda larga, tons modulados e rudos de espectro de fala. A
escolha do estmulo sonoro depender de qual mensurao o
profissional est querendo obter. Existem vrias pesquisas em
relao a qual sinal seria o mais adequado para cada mensura-
o, porm no existem padronizaes e sim algumas recomen-
daes.
De forma geral, tons modulados e rudos de banda larga,
normalmente so os mais escolhidos, pois suas caractersticas
permitem a utilizao em um maior nmero de procedimentos.
importante ressaltar que, se as mensuraes forem efetuadas
em seqncia, deve-se manter o mesmo tipo de sinal para todas as
avaliaes. Do contrrio, os valores no sero confiveis.
Nvel do sinal
O nvel de sinal escolhido vai depender da mensurao que
ser realizada. A maioria dos equipamentos disponveis no mer-
cado podem emitir sinais de 50 a 90 dB NPS.
A escolha do nvel do sinal de entrada para registro da REAR
no tem grande importncia se este valor for suficientemente forte
para estar acima do rudo ambiental e suficientemente fraco para
prevenir o desconforto do paciente. HAWKINS & MUELLER (1992)
referem 60 e 70 dB NPS como nveis adequados para abranger os
dois critrios.
Para alguns procedimentos como REIR ou RESR, o nvel
do sinal importante. Desde que o objetivo seja registrar o nvel de
536 Fonoaudiologia Prtica
OUTRAS APLICAES
Alm das aplicaes mais comuns realizadas pelas mensu-
raes in situ, o desempenho de adaptaes CROS e BICROS,
circuitos especiais do aparelho auditivo (microfone direcional, circui-
to de compresso e processamento automtico de sinal), e equipa-
Mensuraes In Situ 539
CONSIDERAES FINAIS
As mensuraes in situ, realizadas com equipamentos com-
putadorizados de microfone-sonda, trouxeram a possibilidade de
avaliao de vrios parmetros importantes para a adequada
seleo e adaptao de aparelho auditivo.
um mtodo rpido, objetivo, que produz respostas por toda
a faixa de freqncias e que, se bem-utilizado, proporciona maior
preciso nos ajustes e avaliao das caractersticas da ampli-
ficao.
J que pesquisas comprovam sua confiabilidade e validade,
pode e deve ser usado na prtica clnica desde que se esteja
atento aos conceitos e adequada realizao dos procedimentos,
evitando assim artefatos e resultados invlidos.
Embora o desenvolvimento das mensuraes in situ tenha
colaborado para aprimorar o processo de seleo e adaptao do
aparelho auditivo, difcil avaliar os benefcios de um procedimen-
to de avaliao sobre outro. Desta forma, nenhum mtodo de
avaliao pode ser interpretado como melhor do que qualquer
outro.
necessrio ainda ressaltar que, mesmo sendo instrumento
de grande valor, as mensuraes in situ apenas fornecem a
informao de qual o nvel de presso sonora que se est obtendo
com a amplificao, no meato acstico externo prximo mem-
brana timpnica. A utilizao que o paciente ir fazer deste
estmulo acstico, depender de fatores inerentes patologia,
fatores ambientais e emocionais e tambm de caractersticas e
possibilidades individuais. Assim, a observao do paciente e
todo o processo de acompanhamento e reabilitao alm de
outras formas de avaliao, tm seu papel fundamental.
540 Fonoaudiologia Prtica
Leitura recomendada
ALMEIDA, K. Estudo das mensuraes in situ na orelha externa:
fundamentos tericos e aplicaes clnicas. Monografia do Curso de
Especializao em Distrbios da Comunicao Escola Paulista de
Medicina, So Paulo, 1989.
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12(3):216-220, 1991.
Deficincia Auditiva 1
Tecnologia Computadorizada Aplicada a Aparelhos de Amplificao Sonora Individuais 543
24
Tecnologia Computadorizada
Aplicada a Aparelhos de
Amplificao Sonora
Individuais
30
20
LI - 40
10
LI - 65
0
10 LI - 90
20
125 25 5 1 2 4 8kHz
Freqncia (kHz)
FIGURA 24.1 Exemplo de circuito WDRC ganhos diferentes para sinais de entrada diferentes (40,
65 e 90 dB NPS).
A B
FIGURA 24.2 A) esquerda um aparelho microcanal e (B) direita um aparelho peritimpnico, ambos
posicionados no meato acstico externo. O fio de nylon preso ao face-plate (parte externa dos
aparelhos) facilita a colocao e permite a retirada.
Entrada Amplificador
MIC Pr-AMP Filtro Filtro Receptor
KEMAR KEMAR
VG VG
dB 1 dB 2
40 40
20 20
0 0
-20 -20
70 70
50 50
KEMAR KEMAR
VG VG
dB 3 dB 4
40 40
20 20
0 0
-20 -20
70 70
50 50
FIGURA 24.6 Exemplo de aparelho auditivo multicanal e multiprograma. Cada canal pode ter ganhos
e limiares de compresso diferentes para cada faixa, alm das vrias curvas de resposta serem
utilizadas para situaes acsticas determinadas (neste caso: 1. fala no silncio; 2. fala no carro; 3. fala
no supermercado; 4. msica).
552 Fonoaudiologia Prtica
Tec.
digital
Tecnologia
programvel
Tecnologia
miniaturizada
Tecnologia avanada
Tecnologia standard
FIGURA 24.7 A pirmide da tecnologia inicialmente descrita por MIMS, modificada por LIBBY (1994),
agora recebe mais um degrau a tecnologia totalmente digital.
NOAH is here!
DG 1992
NOAH
One standard for integrated hearing care software
FIGURA 24.9 O desenho sugestivo mostra o carter de integrao do NOAH.
Tecnologia Computadorizada Aplicada a Aparelhos de Amplificao Sonora Individuais 555
IMPRESSO
As opes de impresso incluem o relatrio do paciente ou o que
est atualmente na tela a partir de qualquer ponto do programa. O
relatrio pode ser padro, consistindo de uma ou duas pginas
sobre dados gerais, informaes bsicas audiolgicas e da adapta-
o de aparelhos, ou extenso, com dados completos de trs ou
quatro pginas. Algumas empresas oferecem um resumo simples
de seu prprio programa, cujo contedo pode ser manipulado. A
verso 2.0 introduz a alternativa de carregar para fora do programa,
como para o editor de texto por exemplo, as informaes sobre o
paciente, os aparelhos e controle remoto (ROBERTSON, 1996).
At recentemente no existia nenhum software padro que
fizesse a tecnologia computadorizada compatvel com toda a inds-
tria de aparelhos auditivos. A criao do NOAH foi feita primariamen-
te para possibilitar que os mltiplos softwares e unidades programveis
trocassem informaes e funcionassem como um nico sistema
integrado. Hoje ele faz muito mais que isso transformou-se em uma
plataforma que rene os aparelhos auditivos, equipamentos audio-
lgicos e outras ferramentas disponveis para o trabalho na rea de
audiologia. Atualmente 44 empresas no mundo inteiro esto
compromissadas a dar suporte para o padro NOAH. Estas empre-
sas ou j lanaram, ou esto em vias de lanar, produtos compatveis
com NOAH, principalmente aparelhos auditivos, equipamentos e
programas clnicos especficos (RADCLIFFE, 1996).
Vrias firmas de aparelhos tm seus mdulos correntemente
em uso e cada uma delas recebe um nome peculiar, relacionado
ou no com a empresa a qual pertence. Alguns deles so:
1. COMPASS (v 1.11) Este mdulo comporta a linha completa
de aparelhos auditivos WIDEX programveis e analgicos. A linha
completamente digital da empresa ainda est sendo utilizada
atravs de unidade exclusiva, porm em breve poder ser acessada
pelo COMPASS. A primeira parte do programa oferece dados
tcnicos, grficos, ilustraes e um texto provendo informao geral
FIGURA 24.12 A tela do NOAH mostra os mdulos de diferentes empresas contendo o banco de dados
de seus aparelhos auditivos.
Tecnologia Computadorizada Aplicada a Aparelhos de Amplificao Sonora Individuais 559
23/09/96 S
Session Date Name
23/09/96 09/09/42
Patient File Date Birthdate
80 MCL 80 MCL
100 100
UCL UCL
120 120
LF 35 LF 25
None None
Hook Hook
None None
HF (G) 55 HF (G) 55
Earmold Earmold
2.3 mm 2.3 mm
Vent Vent
HF (P) 55 HF (P) 55
Leitura recomendada
BERLIN, C.; HOOD, L.; HURLEY, A.; HAN WEN, M. Hearing aids: only
for hearing impaired patients with abnormal otoacustic emissions. In:
BERLIN, C. Hair Cells and Hearing Aids. San Diego, Singular
Publishing Group, 1996. pp. 99-113.
BLASCA, W. O Aproveitamento da Audio atravs do Uso de AASI
Digitalmente Programvel. Dissertao de Mestrado pela Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo, 1994.
CHASIN, M. The acoustic advantages of CIC hearing aids. The Hearing
Journal, 47(11):13-17, 1994.
Tecnologia Computadorizada Aplicada a Aparelhos de Amplificao Sonora Individuais 565
25
Acessrios para Deficientes
Auditivos
INTRODUO
A necessidade diria de uma pessoa deficiente auditiva no se
restringe nica e exclusivamente a escutar em situaes espe-
ciais ou em ambientes acusticamente controlados.
Devemos pensar que o portador de uma deficincia auditiva
deve aproximar-se o mximo possvel da vida normal, e para tanto
quando propomos o processo de aparelhamento, devemos con-
siderar a vida do indivduo como um todo, levantando os aspectos
possveis no s no que concerne sua perda ou etiologia, mas
tambm s suas expectativas e condies de vida. Desta forma,
estaremos fornecendo ao paciente todas as condies para que
dentro de suas dificuldades, consiga a reabilitao esperada por
todos que dela participam, pais, parentes, amigos, profissionais e
o prprio paciente.
Conectores telefnicos
O uso do telefone com certeza, nos dias de hoje, um dos
principais meios de ligao com o mundo, e tem sido um fator de
deciso acerca de qual tipo de aparelho, ou at, opo de uso ou
no, tamanha a importncia que o telefone tem na vida do
paciente.
Mais comumente, o paciente tem usado o aparelho conectado
ao telefone atravs da entrada T, ou seja, o microfone no recebe
estmulos (desconectado), e a nica entrada de som ser a gerada
e captada por induo magntica; o usurio escutar sem interfe-
rncias o que est sendo falado ao telefone.
Esta seria uma soluo definitiva se todos os aparelhos
possussem bobina de induo magntica ou se esta amplificao
fosse efetiva para todas as perdas auditivas em termos de
qualidade e quantidade.
Ento, alguns pacientes tm que lanar mo de recursos
diferentes para melhor uso. O mais comum a sobreposio do
fone do telefone ao microfone da prtese usando-a normalmente
na posio M. Embora no sendo uma forma recomendada pelos
fabricantes, muitos pacientes se beneficiam da amplificao des-
ta forma. A no-recomendao deste tipo de uso de fcil
entendimento, a possibilidade de microfonia na adaptao supra
bastante grande, alm de o paciente, em cada acionamento
telefnico, ter que procurar a melhor posio para que consiga
escutar de forma satisfatria sem microfonia.
A microfonia neste caso se d pela proximidade de fonte e
microfone; sempre que esta situao criada o fenmeno de
feedback acstico ocorre, porm h como evitar esta situao,
quando o indivduo insiste nesta forma de uso uma espcie de
argola de espuma (ear pad), que afasta a fonte do aparelho a uma
distncia suficiente para diminuir significativamente a possibilida-
de da microfonia ou feedback acstico.
Mas h alguma outra forma de melhorar significativamente o
uso do aparelho em relao ao telefone?
Acessrios para Deficientes Auditivos 571
1 2
M T
Amplificadores de udio
Estes tm a finalidade de amplificar o som emitido pelo
telefone, acrescendo intensidade sonora, auxiliando no uso por
pessoas que porventura tenham perda pequena que cause dificul-
dade para entendimento nesta situao. Este tipo de aparelho no
necessita de acoplamento ao aparelho auditivo, embora algumas
pessoas ainda assim associem-no ao microfone deste, incremen-
tando ainda mais o sinal sonoro que se deseja ouvir.
Outra categoria de adaptadores j necessitam de um aparelho
auditivo para seu uso, so os amplificadores de corrente de
induo magntica. Estes amplificadores tm a capacidade de
aumentar significativamente a corrente de induo que gerada
pelo fone do telefone, e tal aumento faz com que o paciente
572 Fonoaudiologia Prtica
Amplificadores de linha
A vantagem deste tipo de amplificador o menor custo de
aquisio, e, seu funcionamento bastante semelhante a outros
Modelo K
Modelo G
A
Para o telefone
Transformador
de potncia
Amplificador
B C Para o fone
A B
FIGURA 25.6 Equipamento de teledatilografia com (A) impresso grfica; com (B) display grfico.
Acessrios para Deficientes Auditivos 575
Acessrios de manuteno
Para as pessoas que trabalham diariamente com a prtese
auditiva, muitas so as queixas em termos de umidade, proble-
576 Fonoaudiologia Prtica
A B
C D
Umidade
Uma das primeiras orientaes que o paciente recebe quando
da implantao de um aparelho auditivo a de evitar o contato
com gua ou qualquer lquido, direta ou indiretamente com o corpo
deste ou circuito do mesmo.
E por que tal medida deve ser tomada?
O circuito de amplificao bastante sensvel umidade e
se este for exposto mesma, regularmente ou demasiadamen-
te, com certeza criar-se-o condies para corroso do circuito,
e a funo de amplificao estar comprometida. E, mesmo ao
ser retirado o aparelho, a ao da umidade continua, ainda que
fora do pavilho.
Para sanar esta ao h um desumidificador (dri-aid), com-
posto de um pote com material altamente absorvente e que pode
atuar durante toda a noite, e, pela manh, toda a umidade que agia
dentro da prtese foi retirada.
A prtese auditiva colocada dentro do pote e mantida neste
por longas horas.
Acessrios para Deficientes Auditivos 577
Sistemas de infravermelho
O sistema de conduo infravermelha constitudo de uma
unidade emissora que tem por finalidade transformar o som em luz
(fazendo aqui a funo de um transdutor-transformador de ener-
gia) e uma segunda unidade, a receptora, que tem a capacidade
de receber esta energia transformada e retransform-la em ener-
gia sonora, traduzindo os impulsos luminosos em som novamen-
te. Algumas so as particularidades deste tipo de conexo:
Direcionabilidade Como se trata de um facho de luz, esta
se propaga em linha reta e portanto o posicionamento do indivduo
que faz uso do sistema deve ser em frente o emissor, pois pode
no haver a devida captao do estmulo sonoro.
Sensibilidade Como se trata de um facho luminoso, outro
tipo de energia luminosa pode interferir nesta transmisso.
Aplicabilidade Todo o ambiente de ensino pode receber
este modo de transmisso, tomando-se os cuidados de colocao
do pessoal em posio ideal para recepo.
Acessrios para Deficientes Auditivos 581
Caixa acstica
Transmissor
infravermelho
Amplificador
misto
Indivduos
com perda
auditiva
Ouvintes normais
Caixa acstica
Amplificador
d c
Indivduos com
deficincia auditiva Ouvintes normais
A B
FIGURA 25.12 A) Circuito de induo magntica em uso. B) Circuito de induo magntica: a = fio;
b = amplificador; c = microfone; d = rea de escuta.
582 Fonoaudiologia Prtica
A B
CONCLUSO
Pudemos observar claramente, no decorrer de todo o captulo,
que s o aparelho auditivo sem o auxlio de alguns acessrios pode
no suprir todas as necessidades do paciente, que por vezes,
inabilita ou restringe o uso em muitas situaes. Embora alguns
destes sistemas tenham inconvenientes, o usurio que determina-
r quais suas prioridades e qual o sistema que melhor lhe convm.
No podemos restringir a vida do usurio a algumas situaes
sociais controladas, de muita valia a ampliao do universo da
pessoa portadora de uma deficincia de audio. E o profissional
deve estar sempre atualizado e atento no sentido de se manter por
dentro de todas as modificaes e novos equipamentos que iro
surgir com o passar do tempo e evoluo da tecnologia.
Garantindo ao paciente a melhor condio de aprendizado, de
condio comunicativa individual ou coletiva, garantindo percep-
o dos sinais sonoros de alerta e chamados telefnicos, sentire-
mos que proporcionamos ao usurio a maior e melhor condio de
uso possvel de seu aparelho auditivo.
Leitura recomendada
BEAULAC, D.A; PEHRINGER, J.L.; SHOUGH, L.F. Assistive listening
devices: available options. In: COMPTON, C.L. Seminars in Hearing.
Vol 10, n 1, 1989. pp. 11-30.
BESS, F.H. & SINCLAIR, S. Sistemas de amplificao usados na
educao. In: Tratado de Audiologia Clnica. So Paulo, Editora
Manole Ltda. 1989. pp. 986-1000.
BONALDI, L.V. & ALMEIDA, K. Equipamentos e sistemas auxiliares
para o deficiente auditivo. In: ALMEIDA, K. & IORIO, M.C.M. Prte-
ses Auditivas:Fundamentos Tericos & Aplicaes Clnicas. Editora
Lovise, 1996. pp. 205-217.
HODGSON, W.R. Special cases of hearing aid assessment. In:
HODGSON, W.R. Hearing Aid Assessment and Use in Audiologic
Habilitation. 1986. pp. 208-214.
JENSEMA, C.J. & COMPTON, C.L. Television for the hearing
impaired In: COMPTON, C.L. Seminars in Hearing Vol. 10, n 1,
1989. pp. 57-66.
Acessrios para Deficientes Auditivos 585
26
Aconselhamento em
Audiologia
INTRODUO
ACONSELHAMENTO: DEFINIES E
DIRETRIZES BSICAS
Segundo HODGSON (1989), aconselhamento em audiologia
pode ser definido como o fornecimento de informaes, explica-
es e apoio para guiar as opes, atitudes ou comportamentos
dos indivduos deficientes auditivos. Destina-se fundamental-
mente a capacitar o indivduo a encontrar solues para suas
dificuldades.
No existem teorias ou metodologias elaboradas especifica-
mente para o aconselhamento no processo de reabilitao audi-
tiva. Existem, inmeras abordagens que so tambm utilizadas
em outras reas da sade.
De uma maneira geral, o aconselhamento inclui aprendiza-
gem, embora atravs de formas ou mecanismos diversos. Procu-
ra-se ajudar o indivduo a aprender a pensar, sentir ou comportar-
se de maneira diferente. Assim, dentro de uma estrutura didtica
e simplista, pode ser dividido em dois aspectos que visam:
severidade da deficincia;
idade do aparecimento e progresso da perda auditiva;
idade atual;
interesse pessoal;
inteno de usar aparelho auditivo;
atitude do usurio sobre o uso da amplificao;
atitudes dos membros da famlia e conhecidos sobre o
usurio de aparelho auditivo e o uso do aparelho auditivo;
experincia prvia e conhecimento sobre aparelhos auditi-
vos;
complexidade do sistema de amplificao utilizado;
inteligncia e habilidades de linguagem;
existncia de reabilitao prvia;
presena de outros comprometimentos, tais como deficin-
cia visual, retardo mental, distrbios psiquitricas ou artrites
nas mos.
O PAPEL DO FONOAUDILOGO
Em diversas reas da fonoaudiologia inquestionvel a
importncia do papel do profissional que atua na orientao e
aconselhamento do paciente e sua famlia, e sua prtica j est
estruturada na rotina clnica.
A tarefa do aconselhamento, como parte especfica do pro-
cesso de seleo e adaptao do aparelho auditivo, vem se
estabelecendo gradualmente e de forma cada vez mais clara e
definida, embora h muito tempo faa parte de programas de
reabilitao. CARHART em 1946 j descrevia procedimentos de
seleo de aparelhos auditivos usados com militares durante a
Segunda Guerra Mundial que incluam atividades designadas
para familiarizar adultos com o uso do aparelho auditivo.
A preocupao do profissional deve ser a de propiciar ao
paciente a superao de suas dificuldades durante todo o proces-
so de reabilitao. No se pode segmentar a atuao realizando
apenas parte deste processo. Desde sua formao enquanto
estudante, at sua atuao clnica como profissional competente,
o fonoaudilogo deve assumir o aconselhamento, como parte de
sua funo, de maneira consciente e responsvel.
O deficiente auditivo precisa da ajuda de um profissional
especializado para auxili-lo nos problemas de comunicao e
reaes emocionais causadas pela perda da funo auditiva
normal.
ERDMAN (1993) cita que os fonoaudilogos so os profissio-
nais mais adequados para o aconselhamento de pessoas defi-
cientes auditivas e seus familiares, devido a compreenso da
deficincia auditiva e os problemas associados a ela.
Segundo SANDERS (1988) e ERDMAN (1993), os fonoau-
dilogos relutam em aceitar este papel ou sentem-se pouco
confortveis com esta responsabilidade. Tal comportamento
pode ser justificado pelo medo ou insegurana de no saber o
que dizer ou como lidar com as reaes dos pacientes. Alm
disto a falta de uma metodologia especfica para o aconselha-
mento do deficiente auditivo em particular pode colaborar para
acentuar esta dificuldade.
Aconselhamento em Audiologia 591
ACEITAO E MOTIVAO
Aceitao e motivao so dois aspectos intimamente relacio-
nados e fundamentais que devem ser levados em conta durante
o aconselhamento. A aceitao da perda auditiva e do uso da
amplificao, assim como a motivao para buscar ajuda e fazer
uso do aparelho auditivo, no s influenciam o trabalho a ser
realizado, como devem ser diretamente includos como objetivos
a serem alcanados.
Enquanto o fonoaudilogo tem a clara noo do benefcio
proporcionado pelo uso do aparelho auditivo, a maioria dos
indivduos com deficincia auditiva simplesmente no aceita a
perda da audio ou podem sequer admitir que o uso da amplifi-
cao seja uma soluo lgica ao seu problema. Aparelhos de
amplificao raramente so vistos pelos indivduos como a melhor
forma de se lidar com a sua deficincia auditiva, mesmo que eles
proporcionem uma comunicao mais fcil (GARSTECKI, 1994). Os
motivos para tamanha rejeio so muitos e podem variar desde
razes estticas, emocionais ou econmicas.
Muitas vezes difcil para o indivduo perceber ou assumir a
sua deficincia auditiva, pois a diminuio da audio pode ter se
instalado de forma suave, onde muitos sons vo, gradativamente,
deixando de ser ouvidos e outros passam a ser ouvidos numa
intensidade bem menor. Desta maneira, as pessoas vo se
acostumando a essa nova forma de ouvir. muito comum que
sejam os familiares ou amigos prximos os primeiros a percebe-
rem, denunciarem ou sofrerem com essa diminuio da audio.
592 Fonoaudiologia Prtica
INDIVDUOS IDOSOS
O processo de envelhecimento traz consigo uma srie de
mudanas fsicas, psicolgicas e sociais. Apesar de haver ca-
ractersticas comuns a esses indivduos, preciso saber reconhe-
cer e respeitar as particularidades de cada sujeito como se ele
fosse nico. O profissional que lida com esta populao tem que
estar familiarizado e consciente dessas mudanas, suas influn-
cias e conseqncias.
A diminuio da audio uma dessas conseqncias.
Segundo KASTEN (1992), alguns idosos aceitam passivamente
a deficincia auditiva, encarando-a simplesmente como um dos
muitos outros problemas que os acometem, e muito freqente-
mente deixada para um segundo plano de preocupaes, j
que teria pouca importncia se comparado com outros proble-
Aconselhamento em Audiologia 595
ORIENTAES BSICAS
O indivduo deficiente auditivo candidato ao uso de aparelho
auditivo dever ter noes bsicas, claras e precisas quanto ao
seu problema de audio, sobre as possibilidades, limitaes e
uso de amplificao, assim como da importncia de sua co-
responsabilidade no sucesso de sua reabilitao. Dever tambm
ser orientado quanto aos cuidados bsicos necessrios para o
uso e aproveitamento efetivo da amplificao.
O aparelho auditivo
sempre conveniente perguntar ao indivduo deficiente audi-
tivo se ele sabe o que ou se j viu um aparelho auditivo antes.
Assim pode-se no s entender o grau de seu desconhecimento,
como tambm responder sua fantasia ou expectativa. Aparelhos
auditivos so para alguns equipamentos barulhentos, incmodos
e ineficientes. Para outros, so a soluo para os seus problemas,
pois acham que vo ter sua audio normal restabelecida. No se
deve iludir o paciente na tentativa de motiv-lo e sim fornecer
informaes realistas, mostrando benefcios e tambm limita-
es. fundamental adequar a linguagem e a abrangncia das
explicaes de acordo com cada indivduo.
No necessrio usar terminologia tcnica, mas em linhas
gerais, o indivduo precisa saber o que um aparelho auditivo,
seus componentes e funes bsicas. Dever ser orientado
quanto aos modelos existentes e possveis de uso para o seu
caso, discutir suas vantagens, desvantagens e indicao clnica.
Um dado importante, ser o de esclarecer que o aparelho
auditivo apenas uma ajuda externa e, desde que corretamente
indicado, no influenciar ou modificar a perda auditiva. Em
outras palavras, ele no tem funo de cura nem ser responsvel
pela estabilizao ou piora da audio. Alm disto, embora o
aparelho auditivo seja uma grande ajuda, no significa que ele
possa proporcionar ao indivduo ouvir com a naturalidade de
antes.
Desta forma, o aparelho auditivo tem por funo bsica
amplificar os sons para que eles possam ser ouvidos de forma
confortvel pelos indivduos deficientes auditivos sem ter a pre-
tenso de substituir o desempenho e funo natural do ouvido.
Ao aumentar a intensidade original do sons de fala haver,
indiretamente, uma facilidade maior para a sua inteligibilidade. No
entanto, isto no significa corrigir os problemas associados
diminuio da habilidade na discriminao auditiva caractersti-
cas de determinadas patologias da audio.
prudente esclarecer ao indivduo que, apesar dos aparelhos
auditivos serem todos muito parecidos externamente, existe gran-
de diferena interna nos seus componentes, que existem ainda
regulagens para adaptar a problemas determinados e que o seu
desempenho vai variar dependendo do ambiente em que
utilizado. So muitos os problemas e dificuldades comuns relata-
dos e enfrentados na vida diria pelos usurios de aparelho
auditivo: compreenso da fala em ambientes ruidoso ou com mais
de um interlocutor, uso de telefone, grande distncia da fonte
sonora, ambientes amplos e com acstica inadequada, entre
outras.
Em todo caso, preciso explicar com clareza a natureza e
extenso do seu problema, dando uma estimativa do aproveita-
mento auditivo e do benefcio esperado com o uso do aparelho
600 Fonoaudiologia Prtica
Cuidados e manuteno
Com o aparelho auditivo
A durabilidade de um aparelho auditivo depende, como qual-
quer outro aparelho eletrnico, dos cuidados dirios de manuten-
o. Segundo SHIMON (1992), a vida til desses aparelhos deveria
ser, em mdia, de 5 anos.
Cabe aqui ressaltar que a necessidade de mudana de
aparelho auditivo no depende somente de sua vida til. O
indivduo deficiente auditivo deve ser orientado de que trocas
podero ser necessrias caso surjam mudanas no grau, configu-
rao da perda auditiva, ou por novos achados audiolgicos.
Neste caso, poder ser colocada em questo a eficincia do
aparelho auditivo em uso e ser determinada a sua troca, mesmo
que esteja em condies tcnicas satisfatrias.
Para a manuteno de um padro e qualidade de uso, as
recomendaes mnimas so as seguintes:
guard-lo sempre em local apropriado;
no exp-lo desnecessariamente poeira, umidade ou calor
excessivos;
no usar sprays ou produtos qumicos;
limp-lo diariamente com um leno ou pano seco;
evitar quedas ou batidas;
no molh-lo;
usar somente pilhas adequadas ao tipo e modelo de apare-
lho e, quando fora de uso por tempo prolongado, retirar a
pilha;
solicitar limpeza e revises tcnicas periodicamente.
Com o tempo, o paciente ir familiarizar-se com as caracters-
ticas de funcionamento normal e dever aprender a verificar
diariamente o funcionamento de seu aparelho auditivo.
602 Fonoaudiologia Prtica
Com o molde
O molde dever ser refeito periodicamente, sempre que
surgirem sinais de desgaste, deteriorao do material ou modifi-
caes no pavilho auricular, causando em geral retroalimentao.
No caso de aparelhos tipo retroauricular, preciso orientar
quanto importncia da integridade, transparncia e flexibilidade
do tubinho plstico, e que portanto, na ocorrncia de qualquer
modificao de suas caractersticas dever ser trocado. Quanto
limpeza diria e/ou peridica do molde propriamente dito, dever
ser limpo diariamente com um leno de papel para ser retirado o
excesso de gordura e cermen nele depositado. Alm disso, deve
ser lavado periodicamente com gua e sabo neutro, tomando-se
o cuidado de sec-lo totalmente interna e externamente.
Os aparelhos intra-auricular ou intracanal so montados den-
tro do prprio molde, por isso no podem ser lavados. No caso de
acmulo de cermen no orifcio de sada do som, a limpeza dever
proceder segundo a indicao do fabricante ou realizada pelo
tcnico especializado.
Em nenhum caso deve-se passar produtos qumicos, de
limpeza ou desinfetantes.
CONSIDERAES FINAIS
Leitura recomendada
BOCHAT, E.M. Ouvir Sob o Prisma da Estratgia. Tese de Mestrado
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, 1992.
CLARK, J.G. Understanding, building, and maintaining relationships
with patients. In: GEER, C.J. & McCARTHY, P.A. Rehabilitative
Audiology: Children and Adults. 2 ed. Baltimore, Williams & Wilkins,
1993. pp. 18-37.
ERDMAN, S.A. Counseling hearing impaired adults. In: ALPINER, J.G.
& McCARTHY, P.A. Rehabilitative Audiology: Children and Adults.
2 ed. Baltimore, Williams & Wilkins, 1993. pp. 374-413.
GARSTECKI, D.C. Hearing aid acceptance in adults. In: GEER, C.J. &
MARTIN, F.N. Effective Counseling in Audiology: Perspectives and
Practice. Englewood Clifts, Prentice Hall, 1994. pp. 210-245.
604 Fonoaudiologia Prtica
Terapia
Fonoaudiolgica
606 Fonoaudiologia Prtica
Avaliao e Terapia de Voz 607
27
Avaliao e Terapia de Voz
1. Disfonias funcionais.
2. Disfonias organofuncionais.
3. Disfonias orgnicas.
1. Disfonias funcionais
As disfonias funcionais so, por excelncia, o campo de
domnio do fonoaudilogo, onde se tem mais condio de atuao
e reabilitao do paciente, dependendo quase que exclusivamen-
te do trabalho vocal realizado. As disfonias funcionais represen-
tam, na verdade, disfonias do comportamento vocal, ou seja, no
processo de emisso vocal que decorre do prprio uso da voz, isto
, da funo de fonao.
A compreenso de que essas disfonias dependem do compor-
tamento vocal do paciente nos remete ao conceito de que a voz
um comportamento adquirido como qualquer outro e, portanto,
passvel de novas regras de aprendizagem.
Embora a fonao seja uma funo neurofisiolgica inata, a
voz o resultado de vida de cada indivduo e grande parte desse
processo realizado por imitao de padres e por desejo de
comunicao.
Portanto, as disfonias funcionais so as alteraes no proces-
so de emisso vocal que decorrem do uso da prpria voz, isto ,
da funo de fonao da laringe.
A disfonia funcional por uso incorreto da voz geralmente
favorecida pela falta de conhecimento sobre a produo vocal,
pela ausncia de noes bsicas sobre a voz e as possibilidades
do aparelho fonador o que pode levar o indivduo a selecionar
ajustes motores imprprios a uma produo normal de voz.
Convm lembrar que, noes, tais como inspirar antes de falar,
articular corretamente e com a boca aberta, no competir com
rudo de fundo e usar roupas confortveis, principalmente na
regio do pescoo e do trax, so conhecimentos muito simples
de nossa parte, mas o paciente no um especialista em
comunicao e necessita ser suficientemente orientado.
Falar um atributo natural de nossa espcie, e o uso incorreto
representa simples desvios do processo bsico de produo
natural da voz. As alteraes mais encontradas abrangem os
nveis respiratrio, gltico e ressonantal.
As disfonias funcionais devido s inadaptaes vocais tm
recebido de nosso grupo uma ateno bastante especial, pois so
de difcil enquadramento, considerando-se que uma laringe nor-
mal, simtrica e estvel, tanto na funo respiratria quanto na
610 Fonoaudiologia Prtica
FIGURA 27.1 Imagem de laringe simtrica, onde se observa que a metade direita da laringe
aproximadamente a imagem especular da metade esquerda.
Avaliao e Terapia de Voz 611
FIGURA 27.2 Imagem de assimetria larngea, onde se observa que as hemilaringes so diferentes
entre si, o que revela uma inadaptao vocal.
2. Disfonias organofuncionais
Na maioria dos casos, uma disfonia organofuncional uma
disfonia funcional diagnosticada tardiamente, ou por atraso na
busca da soluo do problema pelo prprio paciente ou pelo
no-reconhecimento da potencialidade de se desenvolver uma
leso secundria. O objetivo primrio do tratamento promover
a reabsoro da leso, corrigindo o desvio funcional, do momen-
to em que se reconhece como causa primria a alterao no
comportamento vocal. Nesta categoria essencial a integrao
ORL-FONO, porque em determinados casos deve-se definir a
conduta cirrgica e bsica a troca de informaes entre esses
profissionais.
Existe uma lista extensa de critrios que podem ser conside-
rados para auxiliar a definir essa conduta, sendo que o primeiro ,
sem dvida, como est configurada a equipe de atendimento ao
paciente.
Existe uma srie de leses que podem ser consideradas
como decorrentes do uso inadequado ou abusivo da voz, dentre
as quais a mais comum o chamado ndulo vocal.
O ndulo vocal se apresenta como uma leso de massa em
ambas as pregas vocais (leso nodular) de aparncia simtrica
ou no, de relevo edematoso ou puntiforme, que geralmente
Avaliao e Terapia de Voz 613
FIGURA 27.3 Imagem da laringe. Ndulos bilaterais de pregas vocais com fenda gltica.
614 Fonoaudiologia Prtica
3. Disfonias orgnicas
No existe tradio de atendimento fonoaudiolgico no campo
das disfonias orgnicas, porm, cada vez mais aceito o benefcio
que dele resulta. Tais disfonias no advm do comportamento vocal
em si, mas so o resultado de alteraes independentes do uso da
voz, porm, com conseqncia direta sobre essa. Assim, tanto as
alteraes vocais devido a quadros inflamatrios ou infecciosos
agudos, como gripes e laringites, como s alteraes vocais por
carcinoma da laringe ou doenas neurolgicas, como a doena de
Parkinson e a esclerose lateral amiotrfica so disfonias orgnicas.
As alteraes vocais aps cirurgias da laringe, as chamadas disfonias
do ps-operatrio, so tambm disfonias orgnicas.
Desta forma, por exemplo, uma vez terminado o tratamento
mdico para uma leso orgnica, como uma leucoplasia, podem
permanecer alteraes nas estruturas do trato vocal ou mesmo
nas funes musculares que exigem um processo de reabilitao.
616 Fonoaudiologia Prtica
FIGURA 27.6 Imagem da laringe aps laringectomia parcial para remoo de carcinoma. Observe que
a fonte sonora deslocou-se da regio gltica para a regio supragltica, atravs de constrio ntero-
posterior, com aproximao das cartilagens aritenideas e da epiglote.
AVALIAO FONOAUDIOLGICA
A avaliao fonoaudiolgica constitui-se da obteno da his-
tria do distrbio vocal e da avaliao do comportamento vocal
propriamente dita, que pode empregar mtodos subjetivos ou
objetivos.
618 Fonoaudiologia Prtica
Identificao
A avaliao de voz necessita antes de tudo, como em qualquer
pronturio clnico, de identificao pessoal. Nela ressaltamos,
alm das informaes demogrficas bsicas, a importncia da
profisso e da ocorrncia de outra atividade secundria em que se
empregue a voz.
Avaliao e Terapia de Voz 619
Queixa e durao
A queixa o motivo da consulta. por ela que a entrevista
inicia-se e muitas vezes, ela que encerra grande parte das
informaes necessrias. Ela revela o grau de conscientizao do
paciente sobre sua alterao e expressa a habilidade em organi-
zar verbalmente a informao sobre a dificuldade atual e o tempo
de sua evoluo. O clnico deve investigar no apenas o incio da
queixa, mas como a disfonia se comporta, os principais sinais e
sintomas, consistncia ou variabilidade desses sintomas e trata-
mentos anteriormente efetuados.
Hbitos
A investigao dos hbitos inadequados concentra-se em
dois aspectos distintos: os agressores externos, como o tabagis-
mo, o etilismo, o uso de drogas e as condies ambientais de uso
da voz e os agressores do prprio comportamento vocal o abuso
e o mau uso de voz que possam levar ao fonotrauma.
Os hbitos vocais perniciosos apresentam-se sob diferen-
tes formas e raramente o paciente ter apenas um tipo de abuso ou
mau uso vocal. mais freqente haver uma combinao, ou seja,
o paciente que grita tambm fala excessivamente e com alta
velocidade. O grau de influncia desses fatores sobre a voz
bastante individual e deve ser pesquisado detalhadamente.
Investigao complementar
Na investigao complementar procura-se levantar uma srie
de alteraes que podem ter influenciado no estabelecimento do
quadro e podem estar contribuindo para a manuteno ou a
recorrncia da disfonia. As principais alteraes dizem respeito a
distrbios alrgicos, farngicos, bucais, nasais, otolgicos, pulmo-
nares, digestivos, hormonais e neurovegetativos.
Antecedentes pessoais
Aqui so investigados estados mrbidos e tratamentos clni-
cos ou cirrgicos realizados anteriormente, quer estejam ou no
relacionados diretamente ao quadro vocal atual.
620 Fonoaudiologia Prtica
Antecedentes familiares
A pesquisa dos antecedentes familiares pesquisa a ocorrn-
cia de distrbios vocais em outros membros da famlia, podendo
evidenciar quadros familiares de inadaptaes fnicas, altera-
es estruturais mnimas ou malformaes congnitas que fazem
com que membros de uma mesma famlia tenham um tipo de voz
semelhante. Outros distrbios de comunicao na famlia (como
deficincia auditiva, por exemplo) tambm devem ser pesquisa-
dos, pois podem ser fatores desencadeantes do quadro vocal
apresentado pelo paciente.
Tratamentos anteriores
No apenas os tipos de tratamentos j efetuados, mas tam-
bm os resultados obtidos devem ser investigados. No caso de
tratamentos fonaoudiolgicos anteriormente realizados, pesqui-
sa-se a linha de trabalho, o tempo de tratamento, a motivao do
paciente e tambm os resultados obtidos.
Tipo de voz
O tipo de voz relaciona-se ao ajustes motores larngeos e
ressonantais utilizados habitualmente pelo falante. Existem mais
de cinqenta tipos de voz descritos na literatura (SONNINEN &
HURME, 1992), muitos dos quais so ambguos ou imprecisos. Na
622 Fonoaudiologia Prtica
Voz rouca
A voz rouca a mais comum alterao vocal. uma qualidade
vocal do tipo ruidosa, com altura e intensidade diminudas e com
maior presena de rudo no sinal sonoro. Este tipo de voz est
geralmente relacionado a leses orgnicas da laringe nas quais
h alterao do padro vibratrio da mucosa das pregas vocais,
como ndulos, plipos, edemas ou mesmo neoplasias. tambm
a voz tpica da gripe.
Voz soprosa
Na voz soprosa h a presena de ar no-sonorizado durante a
emisso, representado por um rudo audvel fonao. Esta quali-
dade vocal est relacionada a disfonias hipocinticas, quadros de
fadiga vocal, a certas inadaptaes fnicas ou ainda a casos
neurolgicos de paralisia vocal, miastenia gravis ou parkinsonismo.
Voz spera
A voz spera caracteriza-se por uma emisso rude e desagra-
dvel, com grande esforo fonao. Representa a rigidez da mucosa
das pregas vocais, comum em leucoplasias e retraes cicatriciais,
ou ainda em alteraes estruturais mnimas do tipo sulco-estria.
Voz comprimida
uma voz tensa e desagradvel, caracterizada por vibrao
restrita da mucosa das pregas vocais e contrao exagerada do
vestbulo larngeo, tanto mediana como ntero-posterior.
Voz bitonal
A voz bitonal caracterizada por dois diferentes sons com
qualidade vocal, altura e intensidade diversas. Ocorre em condi-
es de diferena de nvel, tenso ou tamanho entre as pregas
vocais, comuns nas paralisias do nervo larngeo inferior, bem
como em irregularidades da mucosa da prega vocal, como a
depresso criada pelo sulco-estria.
Sistema de ressonncia
O sistema de ressonncia o conjunto de elementos do
aparelho fonador que moldam e projetam o som no espao. Este
conjunto de elementos formado pelas caixas de ressonncia, a
saber: pulmes, laringe, faringe, cavidade da boca, cavidade
nasal e seios paranasais.
Quando h equilbrio da distribuio da ressonncia nas
diferentes caixas de ressonncia, diz-se que h uma voz de
ressonncia difusa. Quando h o predomnio de determinada
Avaliao e Terapia de Voz 623
Caractersticas da emisso
Alm do tipo de voz e da ressonncia, necessrio analisar
determinados aspectos da emisso, como o ataque vocal, o pitch
e a loudness.
O ataque vocal corresponde ao disparo inicial do som larngeo,
havendo trs opes: ataque vocal isocrnico; ataque vocal aspirado
e ataque vocal brusco. O ataque vocal isocrnico, tambm chamado
suave ou normal, ocorre quando no h nem tenso nem perda de ar
excessivas, havendo uma sincronia entre o disparo de vibrao das
pregas vocais e o incio da expirao do ar. O ataque vocal brusco
corresponde a uma forte aduo das pregas vocais em toda a sua
extenso, gerando o aumento da presso area subgltica e o
afastamento brusco das pregas vocais ao incio da emisso. O ataque
vocal brusco uma caracterstica freqente nas disfonias
hiperfuncionais. O ataque vocal aspirado ocorre por uma coaptao
insuficiente das pregas vocais, com conseqente escape de ar ao
incio da fonao. Este tipo de ataque comum s disfonias
hipofuncionais, como nos casos de paralisia de prega vocal e aos
casos de fendas hiperfuncionais fusiformes com retrao de mucosa.
Pitch o termo utilizado para o correlato psicoacstico da
freqncia fundamental. A freqncia fundamental o parmetro
acstico quantitativo que relaciona o nmero de ciclos glticos
vibratrios por unidade de tempo no caso, segundos. Quanto
maior a freqncia fundamental, ou seja, quanto mais ciclos
vibratrios por segundo, mais aguda a voz; quanto menor a
freqncia fundamental, mais grave a voz. Para a anlise
perceptiva auditiva, faz-se uma avaliao qualitativa, consideran-
do-se o pitch adequado ao falante e circunstncia de comunica-
o ou elevado ou ainda agravado.
Loudness o correlato psicoacstico do parmetro acstico
quantitativo de intensidade da voz. A intensidade da voz o nvel
de presso sonora medida em valores numricos de decibels. A
loudness a avaliao qualitativa deste parmetro, podendo uma
voz ter loudness adequada, reduzida ou elevada para o falante ou
para a situao de comunicao.
122,5 0%
0,4 Time (s) 2,9 0,4 Time (s) 2,9
Jitter (%) = 0,17 Mean F0 (Hz) = 124,52 Mean Period (ms) = 8,03
Shimmer (%) = 2,16 S.D. F0 (Hz) = 0,65 S.D. Period (ms) = 0,04
HNR (dB) = 24,42 Max. F0 (Hz) = 126,36 Mean Amp. (%) = 77,35
SNR (dB) = 24,44 Min. F0 (Hz) = 122,50 S.D. Amp. (%) = 9,21
NNE (dB) = 3,99 Mode F0 (Hz) = 124,53 F0 Tremor (Hz) = 2,96
(Glottal Noise) (Habitual Pitch) Amp Tremor (Hz) = 1,00
Comparison
10
FIGURA 27.7 Anlise acstica de paciente com disfonia funcional por tcnica incorreta (programa
computadorizado Dr. Speech Sciences, da TIGER ELETRONICS , de Seattle, EUA). Observe os parme-
tros obtidos da anlise da voz do paciente (em preto), sendo que os alterados apresentam valores que
vo alm dos limites das barras brancas.
Avaliao e Terapia de Voz 627
pode trazer mais vantagens que outras, o que deve ser conside-
rado pelo terapeuta. A partir deste trabalho, BEHLAU & PONTES
(1995a) organizaram, para cada uma das filosofias de reabilitao
vocal, o foco da linha teraputica em questo, sua premissa
bsica, as vantagens e as possveis crticas s orientaes
propostas, apresentado a seguir.
Vantagens
Eliminada a causa da disfonia, as chances de recidiva so
praticamente inexistentes.
O paciente sente-se confortvel porque vivencia o seu
tratamento embasado na eliminao da gnese do distrbio.
Crticas
Nem sempre pode-se eliminar ou at mesmo identificar a
causa de uma disfonia e mesmo assim h recursos para se
tratar o paciente.
A relao causa-efeito no necessariamente direta e
nica.
Muitas disfonias apresentam causa j inoperante, porm a
voz continua alterada por fixao funcional dos ajustes
motores inadequados.
Crticas
Exige conhecimento profundo e amplo de diversas reas
relacionadas voz, comunicao, psicologia e medicina.
Os terapeutas pouco experientes podem se sentir perdidos
ou com poucas condies de uma atuao satisfatria.
O paciente pode se sentir bombardeado de procedimentos
pelas tentativas do terapeuta nas diversas facetas do pro-
blema.
Questes peculiares a um caso podem ser colocadas num
segundo plano.
Sons facilitadores
O treinamento vocal propriamente dito utiliza uma srie de
facilitadores da emisso, os chamados sons facilitadores, tambm
chamados de sons de apoio da emisso (BEHLAU & PONTES, 1990b).
Esses sons tm como objetivo propiciar um melhor equilbrio funcio-
nal da produo vocal. Assim, para se chegar normalizao da
fonao, um mesmo som de apoio poder ser utilizado tanto numa
disfonia hipercintica que constitui a maioria dos quadros clnicos,
em mdia 85% das disfonias, como num quadro hipocintico.
Apesar da emisso dos sons de apoio, por definio, propiciar uma
produo vocal equilibrada, para alguns pacientes certos sons no
funcionam desta forma, provocando ainda mais desequilbrios e
tenses. Assim, devem ser realizadas provas teraputicas que vo
dirigir a escolha das abordagens a serem utilizadas.
Avaliao e Terapia de Voz 635
Sons nasais
Procedimento bsico
sons m, n ou nh contnuos, sustentados, modulados
ou em escalas
Efeitos esperados
suavizao da emisso
reduo do foco de ressonncia laringofarngeo
dissipao da energia sonora no trato vocal
aumenta os tempos mximos de fonao sem esforo
auxilia o monitoramento da voz
Aplicao principal
universal da voz
laringe isomtrica (fenda triangular mdio-posterior)
ndulos vocais
Sons fricativos
Procedimento bsico
sons f, s ou x contnuos (ou seus correspondentes
sonoros)
ou em passagem de sonoridade, de som surdo para
sonoro, por exemplo, s.. -> z.. ou x.. -> j..
Efeitos esperados
direo de fluxo areo para o ambiente
dissociao entre a intensidade e o esforo larngeo,
usando-se os sons sonoros
suavizao do ataque vocal
aumento dos tempos mximos de fonao sem esforo
Aplicao principal
ps-operatrio imediato de leses de massa
coordenao pneumofnica
Sons vibrantes
Procedimento bsico
vibrao de lngua: rrr.... ou trrrr...., ou vibrao de
lbios: brrr...., sustentadas, moduladas ou em escalas
musicais
Efeitos esperados
mobilizao da mucosa
reduo do esforo fonatrio
aquecimento vocal
Aplicao principal
universal da voz
laringites agudas, gripes ou resfriados
ndulos
edema de Reinke
cicatrizes na mucosa
sulco vocal
636 Fonoaudiologia Prtica
Sons plosivos
Procedimento bsico
emisso repetida de p, t ou k ou seus sonoros,
associados a vogais
Efeitos esperados
coaptao das pregas vocais
clareza da emisso
Aplicao principal
disfonias hipocinticas
Parkinson
paralisia unilateral de prega vocal
ps-laringectomias parciais
Som basal
Procedimento bsico
emisso contnua em registro pulstil, com a sustentado,
ou slaba l repetidas vezes
emisso na expirao ou inspirao, som produzido se-
melhante a motor de barco
Efeitos esperados
grande contrao do msculo tiroaritenideo
relaxamento do msculo cricotireideo
mobilizao e relaxamento da mucosa
melhor coaptao gltica
fonao confortvel aps o exerccio
Aplicao principal
ndulos vocais
fadiga vocal
fenda triangular mdio-posterior
fonao desconfortvel
Sons hiperagudos
Procedimento bsico
emisso contnua em falsete
associar um sopro emisso de um som hiperagudo, se
necessrio
Efeitos esperados
relaxamento do msculo tiroaritenideo
contrao do msculo cricotireideo
emisso mais equilibrada em registro modal, aps o exer-
ccio
Aplicao principal
disfonia vestibular
constrio medial do vestbulo
paralisia unilateral de prega vocal
edema de Reinke
Avaliao e Terapia de Voz 637
Efeitos esperados
reduo da hipercontrao da musculatura da cintura
escapular
Aplicao principal
disfonias por tenso muscular
fenda triangular mdio-posterior
hipertonicidade secundria a quadro orgnico de base
Tcnica do b prolongado
Procedimento bsico
prolongamento da ocluso bucal da consoante b
seguida de emisso das vogal a, tona e nasal, na slaba
b, repetida vrias vezes
Efeitos esperados
aumenta a ressonncia
maior energia na regio aguda do espectro
evita atrito entre as pregas vocais
relaxa e abaixa a laringe
Avaliao e Terapia de Voz 639
Aplicao principal
disfonia por tenso muscular
falsete mutacional, de converso ou paraltico
fendas diversas
Efeitos esperados
suavizao da emisso
eliminao da interferncia das pregas vestibulares
subida da ressonncia
Aplicao principal
fonao vestibular
disfonias por tenso muscular
Procedimento bsico de emisso com cabea e tronco para
baixo
dobrar o tronco (de p ou sentado), emitir o som facilitador
selecionado enquanto se sobe o tronco
Efeitos esperados
mucosa vibrando a favor da fora da gravidade
disperso de energia no trato vocal
afastamento das pregas vestibulares
Aplicao principal
ressonncia laringofarngea
edema de Reinke
disfonia por pregas vestibulares
Efeitos esperados
suavizao de ataques vocais
reduo da compresso medial das pregas vocais
aumento do tempo mximo de fonao
Aplicao principal
disfonias por tenso muscular
ndulos de pregas vocais
disfonias hipercinticas
remoo de compensaes negativas nas paralisias
larngeas
Tcnica do bocejo
Procedimento bsico
inspirar profundamente e imitar um bocejo, com lngua
baixa e anteriorizada, sonorizando-o com uma vogal
aberta
aproveitar tambm os bocejos naturais
642 Fonoaudiologia Prtica
Efeitos esperados
reduz ataques vocais bruscos
amplia o trato vocal
auxilia na projeo vocal
abaixa a laringe
amplia a faringe
sintoniza fonte e filtros de ressonncia
Aplicao principal
travamento articulatrio
disfonias com foco ressonantal farngeo ou laringofarngeo
ndulos vocais
disfonia por tenso muscular
disfonia por pregas vestibulares
Mtodo mastigatrio
Procedimento bsico
mastigar ativamente, com a boca aberta e movimentos
amplos dos lbios, da lngua e das bochechas, emitindo-
se uma grande variedade de sons, evitando-se um
montono iam iam iam...
Efeitos esperados
universal da voz
equilbrio da qualidade vocal
reduo de constries inadequadas
aquecimento vocal
aumento de resistncia vocal
Aplicao principal
disfonias por tenso muscular
foco ressonantal baixo
aquecimento vocal
Avaliao e Terapia de Voz 643
Efeitos esperados
efeito Lombard
supresso do monitoramento auditivo sobre a voz
aumento de monitoramento proprioceptivo
Aplicao principal
diagnstico diferencial entre psicognicas e neurolgicas
disfonias a afonias de converso
disfonias hipocinticas
controle de competio sonora em vozes profissionais
Efeitos esperados
formao de um esquema corporal vocal
conscientizao da emisso correta e incorreta da voz
Aplicao principal
vozes profissionais
disfonias por tcnica vocal deficiente
uso de voz em ambientes inspitos
Tcnica de sobrearticulao
Procedimento bsico
exagerar os movimentos fonoarticulatrios, com ampla
excurso muscular e grande abertura de boca
Efeitos esperados
reduo da hipertonicidade larngea
maior volume e projeo vocal
aumento da preciso articulatria
Aplicao principal
vozes profissionais
disfonias neurolgicas (disartrias hipocinticas, por exem-
plo, Parkinson)
maior volume e projeo
hipernasalidade
Fonao inspiratria
Procedimento bsico
esvaziar os pulmes e inspirar enquanto se emite a vogal
i, prolongada, seguida por vogal relaxada: ihn
inspiratrio (oral ou nasal) ah relaxado
Efeitos esperados
aproximao das pregas vocais
afastamento das pregas vestibulares
Aplicao principal
fendas por paralisias e paresias das PPVV
fonao com pregas vestibulares
fonao ariepigltica
remoo de disfonia psicognica
alteraes da muda vocal
Fonao sussurrada
Procedimento bsico
emisso de seqncias articulatrias, seqncias auto-
mticas e leitura de texto em voz sussurrada
Avaliao e Terapia de Voz 647
Efeitos esperados
aproximao forada da regio anterior das pregas
vocais
Aplicao principal
fechamento de fendas anteriores
granulomas e leses de comissura posterior
Escalas musicais
Procedimento bsico
escalas, glissandos ascendentes e descendentes,
vocalises com sons facilitadores
escalas em stacatto
Efeitos esperados
alongamento e encurtamento das PPVV
Aplicao principal
fendas fusiformes
fendas triangulares em toda extenso
disfonias hipocinticas
Tcnicas de empuxe
Procedimento bsico
socos no ar, com os punhos cerrados e emisso de slabas
com consoantes oclusivas sonoras
empurrar ou levantar pesos, associado emisso sonora
mos em gancho e emisso de vogais sustentadas
Efeitos esperados
aproximao das estruturas larngeas
socos no ar aproximao inclui pregas vestibulares
mos em gancho aduo mais firme das pregas vocais
na linha mdia
Aplicao principal
paralisia unilateral de prega vocal
disfonias hipocinticas
648 Fonoaudiologia Prtica
FIGURA 27.8 Imagem da laringe. Disfonia organofuncional, com ndulos vocais bilaterais, em uma
paciente infantil, em posio respiratria e fonatria.
Avaliao e Terapia de Voz 649
Exame otorrinolaringolgico
O exame otorrinolaringolgico especfico para a avaliao da
laringe foi feito atravs da telelaringoscopia, com anestesia tpica,
e revelou a presena de ndulos vocais bilaterais, grandes, com
fenda triangular mdio-posterior e constrio ntero-posterior
fonao, configurando uma disfonia organofuncional. Demais
regies: n.d.n.
Conduta do caso
O tratamento de eleio dessa paciente a reabilitao vocal
cujo objetivo imediato o uso saudvel da voz e uma comunica-
o mais efetiva. A terapia visa reduo dos ndulos e ao
fechamento da fenda gltica associado retirada de mecanismos
compensatrios negativos. A modificao de gesto motor negati-
vo e o aprendizado de um novo comportamento vocal procura
tambm prevenir recidivas posteriores. Os exerccios foram sele-
cionados durante o processo teraputico aps prova teraputica
positiva com cada um deles.
Os principais tpicos do planejamento teraputico incluram:
Orientao sobre a produo da voz e higiene vocal, onde
procuramos informar o paciente sobre os mecanismos en-
volvidos na fonao, assim como cuidados bsicos que
deveriam ser tomados.
Orientao aos pais com o objetivo de incorpor-los ao
processo teraputico, a partir de sua contribuio em casa
no que diz respeito higiene vocal e realizao dos exerc-
cios fonoaudiolgicos juntamente com a paciente; procurou-
650 Fonoaudiologia Prtica
Evoluo teraputica
A paciente apresentou boa evoluo durante o processo tera-
putico, com melhora global da qualidade vocal e evidente reduo
da soprosidade e eliminao das quebras de sonoridade, o que
indica melhor aproximao das pregas vocais durante a fonao. Os
tempos mximos de fonao dobraram (8s) e a relao s/z reduziu
a 1,4, o que reflete uma maior eficincia gltica. A paciente mostrou
boa colaborao durante o tratamento, mostrando ter desenvolvido
maior conscientizao vocal, com reduo dos abusos vocais. A
ressonncia mostrou-se mais equilibrada e os ataques vocais
suaves, o que propiciou a reabsoro dos ndulos.
A paciente obteve melhora significativa da qualidade vocal,
no tendo sido necessria a remoo cirrgica dos ndulos. O
processo total de reabilitao durou 7 meses.
Exame otorrinolaringolgico
O exame otorrinolaringolgico especfico para a avaliao da
laringe foi realizado atravs da telelaringoscopia onde se diagnos-
ticou paralisia unilateral de prega vocal direita, em posio inter-
mediria, com fechamento gltico insuficiente, configurando uma
disfonia orgnica. A avaliao estroboscpica mostrou padro
652 Fonoaudiologia Prtica
Conduta do caso
O paciente foi inicialmente encaminhado reabilitao vocal,
com o objetivo imediato de uso de uma voz menos disfnica na
vigncia da paralisia, enquanto se busca uma compensao
funcional. A terapia procura compensar a paralisia atravs de
exerccios que propiciem uma emisso vocal mais equilibrada,
atravs de melhor coaptao gltica, reduo do fluxo de ar
excessivo e aumentando-se a eficincia gltica.
Os principais tpicos do planejamento teraputicos incluram:
Exerccios de coaptao gltica, com objetivo de promover
uma compensao da prega vocal sadia, que aproxima-se da
prega vocal paralisada, podendo gerar um mecanismo muito
prximo da normalidade. A tcnica de deglutio incompleta
sonorizada foi a que apresentou os melhores resultados.
Exerccios de flexibilidade vocal, com variao de freqn-
cia e intensidade, para melhorar a biomecnica larngea.
Exerccios vibratrios a fim de estimular a vibrao da tnica
mucosa e aumentar sua excurso lateral, o que contribui
para uma melhor coaptao das pregas vocais, alm de
melhorar a qualidade vocal produzida.
Exerccios de sobrearticulao e projeo vocal, com o
objetivo de aproveitar ao mximo as cavidades de ressonn-
cia para a obteno de uma emisso mais eficiente, com o
menor esforo gltico possvel.
Reduo da sndrome de tenso musculoesqueltica, com
o objetivo de reduzir a tenso da musculatura extrnseca e
permitir que a laringe permanea mais solta e relaxada, o
que facilita uma emisso mais eficiente.
Melhor equilbrio ressonantal a fim de facilitar a projeo
vocal e reduzir o esforo larngeo.
Evoluo teraputica
O paciente passou a apresentar uma qualidade vocal ainda
rouca, embora com menos soprosidade, o que diminui a fadiga
vocal significativamente, havendo, portanto, melhoria na relao
s/z e conseqente aumento da eficincia gltica. O padro
articulatrio mostrou-se mais definido, o que facilitou a projeo
vocal e melhorou a inteligibilidade da fala. Houve reduo da
hipertonia cervical e melhora da coordenao pneumofonoar-
ticulatria, o que propiciou uma emisso mais eficiente.
O tempo de terapia fonoaudiolgica foi de, aproximadamente,
quatro meses, com a compensao da paralisia pela prega vocal
sadia. O dado mais importante referido pelo paciente foi a reduo
da fadiga vocal, possibilitando o retorno s suas atividades profis-
sionais.
Avaliao e Terapia de Voz 653
Exame otorrinolaringolgico
O exame otorrinolaringolgico especfico da laringe foi realiza-
do atravs de telelaringoscopia e evidenciou uma inadaptao
vocal, com presena de microdiafragma larngeo e fenda fusiforme
fonao, configurando um quadro de disfonia funcional por
inadaptao vocal. A mucosa mostrou reduzida vibrao de sua
tnica, estroboscopia. Demais regies: n.d.n.
654 Fonoaudiologia Prtica
LRN Telelaringoscopia
LRN Pr-fono
LRN Ps-fono
FIGURA 27.10 Imagens da laringe. Disfonia funcional por inadaptao vocal, com microdiafragma
larngeo e fenda fusiforme, pr e ps-reabilitao vocal. Observe na imagem superior, durante a
respirao, a presena do microdiafragma larngeo; na imagem do meio observe a grande fenda gltica
fonao e na imagem inferior perceba a maior aproximao das pregas vocais, com a conseqente
reduo da fenda gltica, aps a reabilitao vocal.
Avaliao e Terapia de Voz 655
Conduta fonoaudiolgica
A conduta do caso foi reabilitao vocal, com o objetivo de
melhoria da qualidade vocal e reduo da freqncia fundamental
da voz atravs de exerccios que propiciem um aumento da
vibrao de onda de mucosa, reduo da fenda gltica e conse-
qente aumento da eficincia vocal. A reduo de mecanismos
compensatrios negativos, uma orientao completa e profunda
sobre o uso profissional da voz as possveis limitaes do paciente
foram tambm trabalhados em terapia.
Os principais tpicos do planejamento teraputico incluram:
Orientao sobre o uso profissional da voz e higiene vocal.
Procuramos esclarecer ao paciente o mecanismo normal de
produo da voz, assim como identificar e reduzir possveis
hbitos vocais que possam contribuir para uma piora do
quadro apresentado.
O trabalho de orientao abordou a limitao vocal que o
paciente apresenta em funo do diagnstico mdico.
Exerccios vibratrios foram enfatizados a fim de ampliar a
vibrao da tnica mucosa, na tentativa de reduzir a fenda gltica,
gerando uma qualidade vocal mais estvel e menos soprosa.
Tcnica do /b:/ prolongado para abaixar a laringe no pesco-
o, melhorar a coaptao das pregas vocais e reduzir a
freqncia fundamental.
Hidratoterapia, ou seja, ingesto de cerca de 2 litros dirios
de gua foi altamente recomendado.
Exerccios de ressonncia foram realizados a fim de melho-
rar a eficincia gltica e reduzir tanto o esforo quanto a
tenso cervical.
Exerccios de associao corpo-voz para melhorar a emis-
so global da voz.
Evoluo teraputica
O paciente apresentou melhora evidente da qualidade vocal, o
que pode ser observado na anlise do traado espectrogrfico, o que
indica uma emisso menos soprosa, mais eficiente, estvel e durvel
(Fig. 27.11). O aumento nos tempos mximos de fonao de 8 para
14 segundos, e uma relao s/z mais prxima a 1 (relao s/z = 1,3)
tambm contriburam para o melhor ajuste vocal. A freqncia
fundamental reduziu para 160 Hz, quase que no limite da emisso
masculina. Houve tambm melhora do padro articulatrio e um
melhor equilbrio ressonantal, o que contribuiu para uma tonicidade
mais adequada das estruturas envolvidas. O melhor equilbrio adqui-
rido mostrou-se tambm bastante evidente na avaliao laringolgica.
O paciente obteve, assim, maior satisfao com sua voz, contribuindo,
inclusive, para um melhor rendimento profissional.
Apesar da melhora obtida na qualidade vocal, com maior
estabilidade e facilidade emisso, no houve eliminao com-
pleta da disfonia. O perodo de reabilitao foi de cerca de 8
656 Fonoaudiologia Prtica
COMENTRIO FINAL
Todo o indivduo que vai se submeter a um processo de
reabilitao vocal, ou mesmo a um trabalho de desenvolvimen-
to de voz falada ou cantada profissional, deveria passar por
uma avaliao fonoaudiolgica e otorrinolaringolgica deta-
lhada.
Os dados desta avaliao no devem ser considerados
como uma realidade esttica, mas sim, como um subsdio para
o tratamento, no caso de um paciente com disfonia, ou para o
controle da anatomofisiologia, no caso de indivduos normais
que sero submetidos a um processo de transformao vocal
para a fala ou para o canto profissionais. Nem sempre os dados
permitem ter um diagnstico preciso, o que dar maiores subs-
dios ao atendimento fonoaudiolgico, porm, pode-se trabalhar
nos casos de dvida diagnstica e at mesmo de ausncia de
diagnstico formado, desde que se compreenda a atuao
exploratria como um procedimento excepcional e de curta
durao e que, muitas vezes, apresenta finalidade diagnstica
e de avaliao do prprio caso.
Alm disso, quando o tratamento proposto a reabilitao
vocal, importante procurar oferecer ao paciente um atendi-
mento abrangente que inclua a orientao, a psicodinmica e o
treinamento vocal. Quando consideramos o treinamento vocal
como trabalho direto e o trabalho de base (representado pela
orientao e pela psicodinmica) como indireto, no escalonamos
a importncia de um sobre o outro e sim, identificamos como
direto aquele trabalho que atua sobre o indivduo, na relao
psicossocial no momento e situao da comunicao. Acredita-
mos que ambos os trabalhos devem ser realizados no tratamen-
to das disfonias, pois o treinamento vocal por si s no garante
ao indivduo o uso automatizado do ajuste motor conseguido
durante os exerccios. Da mesma forma, o trabalho de funda-
mento sozinho no leva mudana do comportamento vocal.
Acreditamos, no entanto, que a associao de orientao,
psicodinmica e treinamento vocais oferece as melhores condi-
es para a transferncia do comportamento em terapia para a
vida diria.
Muitos pacientes tero alta fonoaudiolgica com uma voz
que pode ser considerada normal, outros com a melhor voz
possvel e, ainda outros indivduos tero sua produo vocal
sob controle, porm, sero passveis a episdios de disfonia,
seja por traos de personalidade ou questes idiossincrsi-
cas, seja por aspectos anatomofuncionais; nessa ltima situa-
o, ensinar o paciente a lidar com sua prpria voz e a
melhorar sua produo vocal, mesmo nas situaes de disfonia,
pode ser o grande objetivo da atuao fonoaudiolgica.
658 Fonoaudiologia Prtica
Leitura recomendada
ARONSON, A.E. Clinical Voice Disorders. 3 ed. New York, Thime-
Stratton, 1990.
BEHLAU, M. Consideraes sobre a anlise acstica em laboratrios
computadorizados de voz. In: ARAJO, R.B.; PRACOWNIK, A.;
SOARES, L. Fonoaudiologia Atual. Rio de Janeiro, Revinter, 1996.
pp. 93-115.
BEHLAU, M. & PONTES, P.A. Avaliao Global de Voz. So Paulo,
EPPM, 1990a.
BEHLAU, M. & PONTES, P. Princpios de Reabilitao Vocal nas
Disfonias. 2 ed. So Paulo, EPPM, 1990b.
BEHLAU, M. & PONTES, P. Avaliao e Tratamento das Disfonias.
So Paulo, Lovise, 1995a. 312pp.
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L.P. Um Pouco de Ns Sobre Voz . Barueri, Pr-Fono, 1992.
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escala perceptual. In: ANAIS do 3 Congresso Brasileiro de
Laringologia e Voz e 1 Encontro Brasileiro de Canto. Rio de Janeiro,
1995b. 36pp.
BERNSTEIN, L. & BERNSTEIN, R.S. Interviewing, a Guide for Health
Professionals. East Norwalk, Appleton Langue, 1985.
BOONE, D. & McFARLANE, S. The Voice and Voice Therapy. 4 ed.
Englewood Cliffs, Prentice Hall, 1988.
CASPER, J.K.; BREWER, D.W.; COLTON, R.H. Variations in normal
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ZIEMER, R. Mitologia pessoal e padres de comunicao. Dist.
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Trabalho Corporal no Atendimento ao Disfnico 659
28
Trabalho Corporal no
Atendimento ao Disfnico
INTRODUO
a) A voz som
A observao tem mostrado que o som vocal acontece em
funo de uma vibrao das pregas vocais, proveniente de uma
ao comandada ou no pelo sujeito. Esta ao implica um
movimento de energia. Entende-se o conceito de energia como:
1. maneira como se exerce uma fora; 2. vigor; 3. Aristteles:
o exerccio da atividade em oposio potncia da atividade; 4.
propriedade de um sistema que lhe permite realizar trabalho.
Pode ter vrias formas: calorfica, cintica, eltrica, eletromag-
ntica, mecnica, potencial, qumica, radiante; transformveis
umas nas outras, e cada uma capaz de provocar fenmenos
bem determinados e caractersticos nos sistemas fsicos. A
energia no pode ser criada, apenas transformada (AURLIO ,
1986, p. 650).
Fazendo-se uma comparao da voz com a msica, pode-se
notar as semelhanas ao descrev-las: qualidade-timbre, tons-
altura, ritmo, extenso, entonao-melodia, ressonncias, ata-
ques e intensidade. A voz a msica no ser humano.
Para se obter uma msica de boa qualidade faz-se necess-
rio um instrumento de boa constituio-construo e afinado,
alm de um msico com ouvido bem desenvolvido para toc-lo.
E para se obter uma voz de boa qualidade, o que necessrio?
fundamental um instrumento, isto , um corpo com vitalidade e
flexibilidade, um falante com um ouvido bem desenvolvido e uma
postura (interna) para conduzir os sons com determinao e poder,
atendendo s suas necessidades e/ou desejos. Sem essas condi-
es, pode-se dizer que h uma disfonia funcional, onde o indivduo
est submetido a fatores diversos, que impedem a plena utilizao
do seu potencial vocal.
662 Fonoaudiologia Prtica
c) A disfonia um sintoma
um resultado. fim de um processo. Assim como qualquer
sintoma foi a soluo encontrada pelo corpo para dar conta de
uma dinmica, que de certa forma no pde ser percebida, tratada
ou cuidada. Que dinmica esta?
Assim como a neurose um sintoma de uma srie de conflitos
inconscientes, a disfonia essencialmente um sintoma de uma
srie de bloqueios energticos. O que se pretende, ento, no
tratar de um resultado, propondo-se um outro resultado. Conti-
nuando com a comparao, seria como pedir a um neurtico que
deixe de se comportar de uma maneira para se comportar de outra
(NOGUEIRA , Superviso Clnica). Isto pode ter eficincia, apresen-
tar alteraes rpidas, mas no se harmonizam com a natureza
do fenmeno. Pretende-se que a terapia fonoaudiolgica v alm
da correo de padres corporais e fonatrios inadequados e
busque uma profundidade maior em sua interferncia, procurando
transformar a estrutura e a dinmica destes padres. Deve-se
lembrar que as defesas psquicas e as defesas-corporais-
sintomas visam preservar a vida e, portanto, no podem ser
tratadas simplesmente como inadequaes ou comportamentos
passveis de mudana consciente, bastando vontade.
Realizado o diagnstico, volta-se a ateno para a dissoluo
dos impedimentos possveis (ao nvel do corpo e da percepo
corporal) e o despertar da vontade do indivduo de comandar
novamente esta fora inata, a voz, para suas necessidades. A
imagem de um cavaleiro que aprende a dominar um cavalo pode
aqui ser utilizada.
Outra comparao que pode ser feita para favorecer a com-
preenso visualizar a figura de um maestro regendo uma
orquestra. Se o maestro (indivduo) no souber conduzir com
preciso e determinao, a orquestra (sons) se perde. assim
que se vem as distores da voz: perde-se a altura, a ressonn-
cia, a intensidade e o indivduo fica submetido aos fatores que no
pode controlar.
O fonoaudilogo no se ocupando apenas com o resultado
mas com o processo de redescoberta do paciente, pode se libertar
da necessidade de estabelecer regras e condutas que interferem
diretamente no problema; assim ocupa-se em estabelecer um
clima de tranqilidade diante dos erros no comportamento e
produo vocal, confiando que mudanas possam ocorrer natu-
ralmente, medida que se vo conhecendo os fatores envolvidos
no processo.
664 Fonoaudiologia Prtica
O que energia?
O prlogo do livro de GERDA BOYESEN, na obra Entre Psiqu
e Soma (1985), traz um pensamento que expressa uma verdade:
Antes da fotografia Kirlian e as descobertas cientficas russas
sobre a Energia Bioplasmtica, eu no teria ousado apresentar
este livro ao pblico ou utilizar o conceito de Energia. A energia
vital hoje um conceito cientfico e o tema central deste livro
(p.18).
666 Fonoaudiologia Prtica
Nveis de energia
A energia a fora motriz e primordial. Ela se organiza em
nveis de densificao da matria viva, numa escala que inclui
do mais sutil (energtico) ao mais denso (somtico). Existem no
organismo humano cinco nveis diferentes, estabelecidos con-
forme as funes que desempenham.
670 Fonoaudiologia Prtica
1. Do-in
O Do-in uma tcnica oriental de automassagem. Presume-
se que o Do-in tenha surgido h cinco mil anos, na China, durante
o reinado de Huang Ti, o lendrio Imperador Amarelo, considera-
do o pai da Acupuntura e o formulador de toda a Medicina
Chinesa (LANGRE, 1995, p.7).
Para se compreender a proposta de trabalho de automassagem
e massagem de Do-in, preciso esclarecer:
Trabalho Corporal no Atendimento ao Disfnico 671
O uso do Do-in
No se pretende utilizar o Do-in como tcnica diagnstica de
sintomas e nem curativa. O propsito de incluir a automassagem
na terapia aumentar a vitalidade do paciente, atravs da prtica
diria de ativar os pontos, possibilitando um fluxo de energia mais
eficaz at os rgos e impulsionando a circulao de energia que
est ou poder estar estagnada na regio subcutnea do corpo.
De acordo com a minha experincia, os disfnicos apresen-
tam, geralmente, um excesso de energia estagnada nos meridianos
ligados aos rgos que tem a funo de controle, tanto emocional
como fsico, isto , nos meridianos do Pulmo e do Intestino
Grosso e da Vescula Biliar e Fgado.
A presena de pontos doloridos ao longo dos meridianos
revela excesso de energia e a presso, contnua e profunda, com
a polpa dos polegares, pode dissipar (sedar) a energia. Quando
existe alguma deficincia energtica, necessrio tonificar o
ponto, aplicando-se presses superficiais, rpidas, leves e repe-
tidas com as pontas dos dedos (LANGRE, 1995).
Utiliza-se a tcnica de automassagem, composta de uma
srie de movimentos da mo sobre o corpo, numa certa seqn-
672 Fonoaudiologia Prtica
2. Shiatsu e alongamento
O shiatsu uma massagem de origem japonesa, que se
realiza atravs da presso (atsu) com a polpa dos dedos (shi ),
especialmente dos polegares e da regio tenar e hipotenar das
mos, sobre os msculos ao longo do corpo. No shiatsu procura-
se seduzir o corpo do paciente ao relaxamento (PRADIPTO,
1986).
A aplicao da presso superfcie do corpo, de uma maneira
gradual e rtmica, tem como objetivo relaxar os msculos e torn-
los flexveis. Durante e/ou depois de sua aplicao podem surgir
descargas emocionais, de uma forma natural, de acordo com a
condio do indivduo. Para que o shiatsu seja eficaz no
necessrio e nem objetivo provocar descargas emocionais. Elas
podem ou no acontecer.
Ao fazer um toque de shiatsu no se est consciente da pele
e msculos, mas da energia ali contida. Tal percepo um
desenvolvimento de quem pratica esta tcnica. O efeito do shiatsu
est ao nvel muscular e subcutneo. Observa-se, tambm, um
efeito ao nvel do metabolismo celular, pois a tenso e a fadiga
impedem que a nutrio das fibras musculares se d de maneira
satisfatria.
O alongamento, como o prprio nome expressa, se refere ao
ato de estender os msculos numa certa medida, favorecendo o
aumento da flexibilidade e elasticidade. A funo do msculo
propiciar o movimento dos ossos e do ser humano como um todo
Trabalho Corporal no Atendimento ao Disfnico 673
3. Exerccios psicocalistnicos
Psicocalistenia significa relaxamento psquico. A srie de
exerccios, proposta por M. LUIZA A. SIMES, na prtica de seus
cursos, tem como propsito levar o indivduo a um relaxamento
psicofsico, associando movimentos corporais com movimentos
respiratrios. utilizada em trabalhos de sensibilizao em gru-
pos, na rea principalmente da psicologia.
Utiliza-se esta srie de exerccios, adaptados para a terapia de
voz, com o objetivo de despertar no indivduo a percepo e a
conscincia corporal, no que se refere ao ato da respirao.
Mostra-se ao paciente, atravs da experincia, que respirar no
simplesmente colocar o ar para dentro e para fora dos pulmes
(ventilar). Esse o primeiro contato que o paciente tem com o
trabalho com a respirao. Nos exerccios, d-se nfase ao
trabalho com as articulaes, principalmente a dos ombros, que
retm grande quantidade de energia e que impedem os movimen-
tos naturais dos braos.
Nesta abordagem, no se trabalha a respirao de uma
maneira isolada, mas sempre associada a movimentos com o
corpo, isto , estabelece-se a relao: respirao-movimento
corporal. Cuida-se para que o exerccio no seja realizado como
ginstica, sendo que o que vai diferir o despertar da conscincia
do paciente ao movimento respiratrio.
Pretende-se que o paciente perceba como acontece sua
respirao, toda a tenso envolvida e que impede que o movimen-
to respiratrio seja lento e tranqilo. O principal objetivo desen-
volver no paciente a habilidade de perceber e soltar o corpo,
deixando-se levar pelo ar. Orienta-se que o ar deve levar o
movimento corporal e no que ele seja levado pelo sujeito com
Trabalho Corporal no Atendimento ao Disfnico 675
4. Tai-chi-chuan
A experincia com a prtica de tai-chi-chuan mostra que a sua
filosofia e objetivo casam, perfeitamente, com um dos objetivos da
terapia de voz: a percepo do ato de respirar e a associao
deste ao movimento do corpo. A respirao profunda, tranqila,
provoca um aumento na capacidade vital e determinante princi-
pal da emisso vocal.
Tai significa homem centrado (integrado); chi, extremos, os
plos, ou a eterna luta do homem entre o pensamento (cu) e a
ao (terra); chuan, forma, punho, uma mo, a arte de lutar.
Pode-se dizer que tai-chi-chuan, significa a seqncia de movi-
mentos usados para a defesa, ou ainda, o desenvolvimento de
atitudes e atos que contribuem para que o homem conviva e se
defenda (num sentido positivo, de preservao) na dinmica da
vida (HUANG, 1979). Pretende-se desenvolver no indivduo uma
atitude de aceitao do limite, para super-lo.
Citar-se-o alguns aspectos importantes do tai-chi (no do tai-
chi-chuan, pois a proposta de luta, chuan, no est includa
nesta abordagem) considerados por HUANG (1979):
a) Enfatiza um sistema respiratrio contnuo e circular; isto
significa que no paramos de expirar para podermos inspirar e
vice-versa. A expirao o comeo da inspirao e a esta segue-
se, sem interferncia, uma nova expirao. Diferentemente de
outros exerccios, o que vale no a contagem ou correo dos
mesmos, mas que se desenvolva a ateno do indivduo
dinmica do movimento como um todo.
b) Envolve a perspectiva da aceitao, da tolerncia, do
incluir, e no a rejeio e diviso, to comuns em nossas atitudes
mentais, expressadas no corpo atravs de tenses excessivas.
676 Fonoaudiologia Prtica
5. Massagem integrativa
A massagem integrativa, desenvolvida pela Prof AGNES
GECZE, refere-se tcnica que envolve um trabalho minucioso
ao nvel muscular, utilizando-se de manobras especficas.
A massagem integrativa, como o prprio nome sugere, busca
desenvolver no indivduo a conscincia do corpo como uma
unidade, um conjunto. Proporciona um relaxamento profundo e
tambm promove uma movimentao dos lquidos do corpo
evitando que a estase se instale. Dependendo da habilidade do
terapeuta, o indivduo poder vivenciar um contato mais natural
com a vida emocional.
Na prtica clnica, os pacientes tm demonstrado prefern-
cia por essa tcnica, pois elimina ou diminui as dores muscula-
res que apresentam, e tambm, por ser uma experincia
gratificadora e que leva a um intenso relaxamento. Pode-se
associar a massagem ao shiatsu, reflexologia, drenagem
linftica trazendo benefcios quantitativos e qualitativos emis-
so vocal.
O que se pretende utilizar o recurso poderoso da massagem
na terapia, durante um certo tempo, se esta for selecionada como a
mais indicada tcnica corporal para o paciente, com o objetivo de
afrouxar a couraa muscular, como citado anteriormente. Muitas
vezes, o paciente percebe os benefcios e at pede indicao de
massagista, que poder contribuir paralelamente terapia de voz.
Utiliza-se a massagem, dentro do processo teraputico, com
critrios e limites, pois o meu olhar fonoaudiolgico, que tem
como meta recuperar a voz, no deve se perder.
Todo trabalho com o corpo deve ter um sentido interno para
quem o faz, no podendo ser realizado ancorado num sentimento
de dever e obrigao, o que estaria em total desarmonia com a
proposta do trabalho.
A massagem um toque que envolve os aspectos da sensua-
lidade e sexualidade e, portanto, se torna intimista e sensorial. As
mos vo se moldando ao corpo da outra pessoa. Qualquer
indivduo que se dispe a trabalhar com massagem necessita
compreender a prpria sexualidade e no reprimi-la, mas ser
capaz de aceitar seus sentimentos sexuais e se relacionar com
eles harmonicamente. Caso contrrio no se sentir livre fsica e
psicologicamente para exercer uma massagem (PRADIPTO , 1986).
As principais manobras utilizadas na massagem so: desliza-
mentos; massagens circulares com os dedos; amassamentos;
presses fortes e suaves com mos, punhos e dedos; toro nos
msculos; alongamentos; movimentos nas articulaes; puxamentos;
rolamentos e manobras de drenagem (DOWING, 1987).
As reas so divididas em: cabea e pescoo; trax e estma-
go; abdmen; braos e mos; pernas e ps; ndegas e costas.
Elas podem ser trabalhadas associadas ou isoladas, conforme o
comprometimento do paciente observado na avaliao corporal.
678 Fonoaudiologia Prtica
6. Tcnicas de relaxamento
Segundo SANDR (1974, p. 4): O relaxamento um mtodo
de recondicionamento psicofisiolgico. H muitas tcnicas exis-
tentes e hoje so bastante utilizadas na rea da psicoterapia,
fonoaudiologia, medicina e vrias especialidades como terapia
ocupacional, fisioterapia, pedagogia, assistncia social, nas belas
artes, teatro, esportes, e na vida religiosa. uma prtica que se
ancora no fenmeno tenso- descontrao. O relaxamento propi-
cia a libertao de energias at ento amarradas, retidas ou no
usadas (SANTIS, 1974, p.19).
Considerando que o relaxamento um recondicionamento
psicofisiolgico, as possveis transformaes que ocorrem, como
conseqncia do uso das tcnicas, possibilitam ao paciente um
contato mais prximo com os contedos mentais (sonhos, dese-
jos, fantasias, conflitos, etc.). Durante a terapia, muitas vezes, o
paciente busca a compreenso destes contedos e importante
que o fonoaudilogo tenha uma atitude acolhedora, no-inter-
pretativa ou repressora, aproveitando a oportunidade para lhe
apontar que so aspectos relacionados vida interna e que
necessitam ser esclarecidos de maneira lenta e trabalhosa, po-
dendo ser auxiliado por um psicanalista ou psiclogo. Pode-se
abrir um espao rico para a autopercepo. As tcnicas devem,
portanto, ser utilizadas com muito critrio e observao das
reaes positivas e negativas do paciente.
Na prtica clnica, as tcnicas de relaxamento que mais tm
apresentado resultados no atendimento de disfnicos, tm sido
Calatonia e Treinamento Autgeno de Schultz. Ambas so utiliza-
das freqentemente em psicoterapias de orientao Junguiana.
Tanto a Calatonia como o Treinamento Autgeno requerem a
colaborao do paciente, no sentido de um treino fora da sesso
teraputica. Sabe-se o quanto isto difcil na maioria dos casos,
onde as questes prticas da vida tomam um lugar prioritrio.
Com o tempo, o paciente poder assumir a responsabilidade de
participar ativamente do seu processo.
Calatonia
Calatonia significa tono descontrado, soltura, deixar-se ir
(SANDR, 1974). uma tcnica, geralmente aprendida pelo fo-
noaudilogo em sua formao. A sua aplicao se faz utilizando
toques extremamente sutis, montonos, tendo a durao de 3min
Trabalho Corporal no Atendimento ao Disfnico 679
7. Outras tcnicas
Alm dessas tcnicas descritas, pode-se utilizar outras, a
saber: Tui-N (massagem chinesa), Tcnica da Polaridade, ma-
nobras bsicas de Quiropatia, Reflexologia Podal, Drenagem
linftica e exerccios de Kum-Ny.
CONSIDERAES FINAIS
No amor, h muito pouco descanso.
(GEOFFREY CANCER)
Pretende-se que este trabalho seja uma contribuio ao
fonoaudilogo e profissionais afins, quanto ampliao da com-
preenso dos fatores envolvidos na produo vocal.
Espera-se que o fonoaudilogo possa atuar de maneira mais
tranqila e confiante no que se refere aplicao das tcnicas
corporais que conhea ou que possa vir a conhecer, sabendo que
no so apenas elas, mas o modo de aplic-las que o determi-
nante da eficcia do trabalho.
As relaes entre o corpo-mente e a voz quando considera-
das de maneira cuidadosa, podem contribuir para diminuir as
rescidivas.
importante frisar que a medida que a percepo e condio
corporal vo se desenvolvendo associadas ao desenvolvimento
da percepo auditiva, pode-se criar um feedback muito efetivo,
como nos distrbios articulatrios, onde o paciente, mesmo em
momentos de muito estresse poder utilizar os seus recursos,
pois a vivncia consciente auxilia neste processo.
O fonoaudilogo no se confunde com o massagista, o psicote-
rapeuta corporal ou o professor de tai-chi; utiliza-se destas tcnicas
sempre atento para a sua meta. O que necessrio desenvolver
um olho para ver o corpo, avaliar e determinar a tcnica ou tcnicas
a serem utilizadas com cada paciente, por quanto tempo, e tambm
encaminhar quando for necessrio a terapeutas especficos.
A quantidade de tcnicas til dado o fato de que os bloqueios
energticos podem estar nos vrios nveis, requerendo uma tcnica
especfica.
Deseja-se enfatizar que a experincia dever ser sempre a
nossa mestra e que o esprito investigador sempre seja alimentado.
Compreender o ser humano em suas inmeras formas de
expresso no tarefa fcil; exige muita dedicao.
RESUMO
A autora, inicialmente, descreve como a busca de uma com-
preenso mais ampla sobre a voz se fez necessria na sua prtica
fonoaudiolgica.
Trabalho Corporal no Atendimento ao Disfnico 681
Leitura recomendada
AMARAL, S. Chi-kun. So Paulo, Summus, 1984.
ANDERSON, B. Alongue-se. So Paulo, Summus, 1983.
BASTOS, S.R.C. O Livro do Shiatsu. So Paulo, Ground, 1982.
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682 Fonoaudiologia Prtica
29
Avaliao e Terapia de
Voz nas Disfonias
Neurolgicas
INTRODUO
REVISO
O termo disartria originou-se do grego dys + arthroun, que
significa a inabilidade para articular distintamente. Na fonoau-
diologia, disartria definida como um grupo de distrbios da fala
resultante de uma leso no mecanismo neurolgico (central e/ou
perifrica) que regula os movimentos da fala, caracterizado por
lentido, fraqueza, impreciso e/ou incoordenao (YORKSTON e
cols., 1988).
A reviso dos distrbios larngeos fonatrios observados nas
disfonias neurolgicas ser baseada nos estudos realizados por
DARLEY e cols., em 1975, na Mayo Clinic, nos quais foram avaliadas
caractersticas perceptuais da fala em grupos de indivduos
disrtricos. Concomitantemente, ser considerada a adaptao
feita por ARONSON, em 1980, sobre o estudo feito anteriormente. Tal
opo deve-se ao fato de serem estudos clssicos e por ainda
serem usados nos dias de hoje como base no diagnstico diferencial
clnico entre as disartrias.
No ser possvel, neste trabalho, fazer uma reviso de todos
os tipos de disartrias, como por exemplo, as disartrias congnitas.
A disfonia espstica e a paralisia perifrica de pregas vocais
tambm no sero includas. Tais distrbios foram revistos com
detalhes em outros estudos (ARONSON , 1980; PRATER & SWIFT,
1984; YORKSTON e cols., 1988).
As caractersticas perceptuais e fsicas das disfonias neurol-
gicas sero apresentadas a seguir:
Disartria flcida
Normalmente observada em pacientes que apresentam o qua-
dro neurolgico denominado paralisia bulbar, com leses no neur-
nio motor perifrico, afetando os nervos cranianos (V, VII, IX, X, XII).
Como o assunto discutido neste captulo refere-se voz, sero
comentadas apenas as leses do nervo vago, que afetam vrios
rgos importantes na produo da fala, incluindo vu, faringe e
msculos larngeos intrnsecos (ARONSON, 1980; PRATER & SWIFT,
1984). As leses podem ser unilaterais ou bilaterais.
As principais caractersticas perceptuais na disartria flcida,
relacionadas produo da voz so: qualidade vocal soprosa,
rouquido, loudness (sensao psicofsica relacionada intensida-
de) reduzida, pitch (sensao psicofsica relacionada freqncia)
grave, tosse fraca, hipernasalidade, vocal fry (voz com uso do
registro em freqncia mais grave da tessitura do P, ou prxima da
mesma) em alguns casos.
A disartria flcida comumente observada nos distrbios
devido a trauma craniano, distrbios vasculares, miastenia
grave, sndrome Guillain-Barr, esclerose lateral amiotrfica
(ELA) com predomnio de forma flcida, e esclerose mltipla
(YORKSTON e cols., 1988).
Avaliao e Terapia de Voz nas Disfonias Neurolgicas 685
Disartria hipocintica
Comumente observada no parkinsonismo, um distrbio do
sistema extrapiramidal, geralmente progressivo e degenerativo.
A clssica descrio da fala destes pacientes consiste em
loudness reduzida, voz montona, qualidade vocal rouca ou
aspirada, pitch grave, impreciso articulatria, reduo na tessitura
da voz falada e alteraes de fluncia (RAMIG & GOULD, 1986;
HARADA, 1987; BEHLAU & HARADA, 1988; SMITH & RAMIG, 1994;
DROMEY e cols., 1995); incoordenao larngea.
Distrbios da fonao so comuns, podendo ocorrer em
porcentagens elevadas, chegando a 89% dos pacientes
parkinsonianos.
O aspecto fsico das pregas vocais pode parecer normal em
sua aparncia (ARONSON, 1980), mas a aduo incompleta um
dado comumente observado (RAMIG & GOULD, 1986; BEHLAU &
HARADA, 1988).
HARTMAN & ABBS (1988) relatam que similarmente, a disartria
hipocintica pode ser observada na disartria mista de atrofia de
mltiplos sistemas (sndrome de Shy-Drager); sndrome neurolgica
associada a distrbio heptico (doena de Wilson); paralisia
supranuclear progressiva (sndrome de Steele-Richardson-Olszewski).
Disartria hipercintica
Coria
Distrbio neuromotor caracterizado por movimentos rpidos,
desordenados e amplos, causados por leses no gnglio basal.
Diferentes formas de coria incluem:
686 Fonoaudiologia Prtica
Distonia
O termo refere-se manuteno persistente de postura devi-
do ao tnus muscular exagerado, o qual piora com o estresse,
varia com mudanas na postura e desaparece durante o sono.
Quando manifestada na idade adulta, parece haver uma tendn-
cia em ser focal, como por exemplo, torcicolo espasmdico
(G RIFFITHS & BOUGH, 1989).
Observam-se ritmo lento, mudanas na qualidade vocal es-
trangulada-rouca, soprosidade, excesso de variao de loudness,
quebras de voz na fala espontnea, monoloudness, monopitch,
falta de tonicidade.
ARONSON (1980) refere que estudos dos aspectos fsicos no
tm sido estudados com detalhes. GRIFFITHS & BOUGH (1989)
observaram hiperaduo de pregas vocais.
Mioclonia palatofaringolarngea
Mioclonia um distrbio de movimento abrupto e de curta
durao; uma forma de tremor lento, resultando em movimentos
Avaliao e Terapia de Voz nas Disfonias Neurolgicas 687
Disartria atxica
O cerebelo freqentemente considerado o modulador dos
movimentos iniciados em outras partes do Sistema Nervoso
Central e tambm exerce influncia no tnus muscular (HARTMAN,
1984; GRIFFTHS & BOUGH, 1989).
As caractersticas perceptuais envolvem qualidade vocal s-
pera, monopitch, monoloudness, entoao montona ou excessi-
va, excesso de loudness assistemtico, tremor vocal.
As caractersticas fsicas parecem normais na estrutura e
funo (ARONSON, 1980) ou pode-se observar hipotonia da mus-
culatura larngea (G RIFFITHS & BOUGH, 1989).
Disartria mista
Leses envolvendo mltiplas reas do Sistema Nervoso Pe-
rifrico e/ou Central podem resultar em vrios graus e tipos de
disartria (HARTMAN, 1984; SMITH & RAMIG, 1994).
Doena de Wilson
Degenerao hepatolenticular, ocasionada por erros no meta-
bolismo do cobre, de natureza hereditria.
Observa-se a disartria espstica-atxica-hipocintica envol-
vendo leses degenerativas no corpo estriado, cerebelo, substn-
cia negra e o prprio crtex cerebral.
As caractersticas fonatrias incluem aspereza, qualidade
tensa-estrangulada, pitch grave, hipernasalidade, monopitch e
monoloudness.
Sndrome de Shy-Drager
Distrbio neurolgico progressivo, apresentando como sin-
toma primrio hipotenso ortosttica (vertigem, fraqueza e
distrbios de viso ou conscincia ).
HARTMAN (1984) refere que a disartria caracterizada como
disartria espstica-atxica- hipocintica ou disartria flcida-atxica-
hipocintica, variando de acordo com a localizao da rea da
leso no paciente.
HIROSE & JOSHITA (1987) relataram que comum observar no
exame laringolgico, reduo no movimento de abduo das
pregas vocais, associado inspirao ruidosa.
CONSIDERAES FINAIS
Neste captulo foram descritos aspectos fonoaudiolgicos dos
distrbios neurolgicos da laringe.
A terapia de voz para pacientes que apresentam disfonias
neurolgicas deve ser intensiva, vigilante e coordenada com
outras formas de tratamento. Os tratamentos neurofarmacolgico
ou neurocirrgico so designados para tratar o distrbio neurol-
gico e podem interferir na performance da fala e fonao. Os
tratamentos larngeo, fonocirrgico ou comportamental so desig-
nados para tratar diretamente a disfuno na fonao e melhorar
a voz. O trabalho multiprofissional, ou seja, o trabalho integrado do
fonoaudilogo, neurologista e otorrinolaringologista propiciar ao
paciente com distrbio neurolgico da laringe a maximizao de
uma comunicao inteligvel.
O sistema larngeo pode ser considerado como o microcosmo
de todo o mecanismo da fala (NETSELL & ROSENBEK, 1986),
podendo os distrbios da fonao serem relatados como sintoma
inicial de vrios distrbios neurolgicos (como na doena de
Parkinson, por exemplo). Portanto, a avaliao da fonao deve
ser considerada como um pr-requisito para que possa contribuir
ao mximo no sucesso do tratamento.
Avaliao e Terapia de Voz nas Disfonias Neurolgicas 695
Leitura recomendada
ARONSON, A.E. Clinical Voice Disorders . New York, Thime, 1980.
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Deficincia Auditiva 1
Disfonia Infantil 697
30
Disfonia Infantil
INTRODUO
A necessidade de interveno teraputica em crianas que
apresentam alteraes vocais, ainda hoje tema de controvr-
sias. Com freqncia debate-se o grau de prejuzo que a
disfonia pode acarretar na vida de um jovem e tambm a
validade de se esperar que com o desenvolvimento da criana,
a alterao vocal regrida espontaneamente.
Sabemos atravs da experincia clnica que as alteraes de
voz na infncia podem interferir de modo bastante negativo no
desempenho social ou mesmo no desenvolvimento afetivo-emo-
cional de qualquer criana. Como isso pode ocorrer?
Eis alguns exemplos:
Eu fico muito chateada todas as vezes que me confundem
com meu irmo quando atendo o telefone. Minha voz rouca,
grave e feia... Eu adoro cantar, mas no consigo!
Essa a queixa de uma menina de 10 anos de idade que
estuda numa escola onde msica e canto so atividades extrema-
mente valorizadas. Ela j havia comentado com os pais sobre a
sua dificuldade, mas nada foi feito at que a professora de canto
notasse a alterao.
O exame laringolgico revelou cisto vocal unilateral e reao
contralateral na prega vocal oposta ao cisto. A criana evoluiu bem
com a fonoterapia, no sendo necessria a cirurgia. Muito ajudou-
a o seu conhecimento musical.
698 Fonoaudiologia Prtica
Sistema de ressonncia
Crianas com alterao vocal freqentemente apresentam
desequilbrio do sistema de ressonncia, caracterizado por con-
centrao excessiva da energia sonora em alguma regio espe-
cfica do aparelho fonador.
702 Fonoaudiologia Prtica
Ataque vocal
A avaliao do ataque vocal ou do modo como a criana inicia
a fonao, ocorre durante a conversao espontnea e tambm
na repetio de palavras e sentenas iniciadas por vogais. Crian-
as pequenas podem ser solicitadas a nomear figuras que iniciam
por vogais, enquanto se avaliam em suas emisses os ataques
vocais suaves, bruscos ou aspirados.
importante notar que o ataque vocal pode variar dependendo
da inteno da mensagem e da situao de comunicao em que
a criana se encontra. Em momentos de grande euforia e excitao
provvel que predominem os incios bruscos, enquanto em
situaes de susto ou medo, prevalecem os incios aspirados.
O ataque vocal brusco ocorre na maioria das emisses de
crianas com caracterstica vocal hipertnica, assim como em
crianas agressivas ou de temperamento autoritrio.
A observao de ataques vocais aspirados, sugere aduo
insuficiente das pregas vocais, com expirao de ar antecedendo
o incio da vibrao das pregas vocais.
704 Fonoaudiologia Prtica
Articulao
A articulao dos sons da fala refere-se aos diferentes ajustes
motores entre os rgos envolvidos na produo dos sons, assim
como ao encadeamento destes na fala.
Pode-se avaliar as zonas articulatrias dos sons da fala,
pedindo-se criana que repita uma lista de palavras ou nomeie
uma srie de figuras que possuam todos os sons do portugus. Na
presena de um distrbio articulatrio observado na fala da
criana, deve-se identific-lo cuidadosamente, pois no raras
vezes, tal alterao acarreta um desequilbrio na dinmica fonatria
devido a ajustes motores compensatrios, esforo muscular e
tenso.
O tipo articulatrio pode variar entre normal, indiferenciado,
travado e exagerado. Entre as crianas disfnicas, nota-se o
predomnio do tipo articulatrio travado, seguido pelo tipo
indiferenciado.
Velocidade de fala
A velocidade de fala pode ser avaliada como sendo normal,
rpida ou lenta enquanto se observa a criana em vrias situaes
de comunicao.
Para se obter o nmero de palavras por minuto (ppm), deve-
se retirar uma amostra de 60s de gravao da fala encadeada da
criana e contar o nmero de palavras emitidas (WILSON, 1987).
No estudo realizado por SEYMOUR (1975), foram julgadas
extremamente lentas as crianas que apresentaram mdia de 58
ppm; velocidade normal com mdia de 119 ppm e extremamente
rpidas, crianas com mdia de 188 ppm.
Observa-se que crianas com alterao vocal apresentam
velocidade de fala rpida, o que gera excessiva sobrecarga do
aparelho fonador e tambm compromete a inteligibilidade da
fala.
Disfonia Infantil 707
Orientao familiar
Primeiramente importante esclarecer os pais sobre o meca-
nismo de produo da voz, as caractersticas peculiares da laringe
infantil e o distrbio vocal que a criana apresenta. Aconselha-se
o emprego de terminologia simples porm correta, sem exagero
em detalhes tcnicos. O ideal informar e satisfazer a curiosidade
Disfonia Infantil 709
Conscientizao da criana
O procedimento de conscientizao geralmente tem seu incio
com um esclarecimento criana sobre o motivo de seu encami-
nhamento e indicao para a terapia.
De forma simples, explica-se o mecanismo da fonao e
tambm a alterao vocal apresentada pela criana, empregan-
do-se exemplos, conceitos e terminologia adequada, a fim de
evitar que a mesma crie falsas idias sobre o assunto. Prefere-se
o emprego do termo ndulo vocal, ao invs de calo ou carocinho,
o adjetivo rouca, ao invs de feia e o verbo machucar ao invs de
estragar.
Em alguns casos aconselhvel transmitir essas explicaes
sob a forma de pequenas estrias, adaptadas ao grau de compre-
enso e maturidade da criana. Os desenhos realizados com a
prpria criana para ilustrar tais estrias ajudam a fixar os concei-
tos j apresentados.
O terapeuta deve sempre demonstrar seu empenho e dispo-
sio em ajudar a criana a superar a alterao vocal, e tambm
reforar que para isso, h necessidade de colaborao e partici-
pao da mesma.
Com relao aos abusos vocais, julga-se necessrio esclare-
cer e orientar a criana sobre os danos que eles podem causar
voz, porm demonstrando compreenso pois, muitos desses
comportamentos fazem parte do cotidiano da criana.
O menino no deve se sentir culpado porque gritou no jogo ou
numa competio na escola, mas deve saber que falar habitual-
mente aos berros representa uma sria barreira ao processo de
comunicao interpessoal.
A menina por sua vez, no precisa esconder que cantou por
horas, acompanhando o seu toca-fitas e danando como se fosse
uma artista famosa. No entanto necessrio esclarecer que sua
voz ainda no alcana todas as notas musicais de determinadas
canes de sucesso.
As estrias tambm costumam ser valiosas estratgias para
se abordar exemplos de abusos vocais e nessa rea, a criativida-
de do terapeuta representa uma tima fonte de recursos.
Para se conscientizar a criana mais velha, pode-se utilizar o
mesmo material empregado na orientao aos pais e tambm um
questionrio que o/a jovem dever responder com o terapeuta
contendo perguntas bsicas sobre o mecanismo de produo
vocal, higiene vocal e exemplos de alteraes. muito importante
se averiguar o que o/a jovem sente em relao a atual condio
de sua voz e como reage frente aos comentrios (WILSON, 1987).
Costuma-se ainda, discutir com os jovens o processo
interpessoal de comunicao que envolve a percepo do outro,
da situao, do ambiente e tambm dos aspectos no-verbais,
como os gestos, postura, expresso facial, contato visual, pausa
e silncio.
Disfonia Infantil 711
Treinamento vocal
O treinamento vocal tem por objetivo a obteno de um padro
de fonao adequado atravs de procedimentos teraputicos que
estimulam por via auditiva, visual e proprioceptiva, o monitora-
mento vocal da criana, tornando-o mais concreto e motivante.
ANDREWS (1986) prope que a primeira etapa do treinamento
vocal, vise ensinar a criana a identificar caractersticas vocais
especficas, realizadas por outra pessoa e somente numa segun-
da fase, deve-se solicitar criana que identifique e descreva o
que ela prpria produziu.
WILSON (1987) salienta que o treinamento auditivo a chave
para se obter sucesso com a terapia de voz em crianas. Enfatiza
a importncia de se realizar com a criana disfnica, atividades de
reconhecimento e discriminao dos parmetros vocais, a princ-
pio com diferenas marcantes e depois com diferenas discretas.
Nota-se na prtica que inicialmente til trabalhar os diferen-
tes atributos sonoros, como intensidade, altura e durao, atravs
de instrumentos musicais e posteriormente nas emisses do
terapeuta. Com as crianas pequenas, empregam-se fitas com
gravaes de diversas vozes de pessoas, animais, sons ambien-
tais e domsticos para se estimular a percepo e discriminao
das mesmas.
O treinamento auditivo pode ser considerado como prepara-
trio para a fase de produo vocal, mas no deve se estender
muito, a no ser que a criana demonstre ter dificuldade nas
tarefas propostas.
Quanto ao treinamento vocal propriamente dito, diversas
abordagens podem ser utilizadas porm, deve-se ter em mente
que os exerccios enfocam um determinado parmetro vocal,
enquanto a voz representa uma totalidade. A forma ordenada de
se apresentar a prtica teraputica portanto, apenas um recurso
didtico (BEHLAU & PONTES, 1995).
A escolha acertada de sons facilitadores que aumentam as
chances da criana em obter a emisso mais adequada e
producente muito importante, principalmente na etapa inicial do
tratamento.
Quando se prope um trabalho de respirao com a criana
disfnica, normalmente se associa a expirao emisso de
sons, tendo-se por objetivo a coordenao pneumofnica.
Recomenda-se a produo dos sons facilitadores fricativos
surdos, fricativos sonoros e vibrantes, enquanto a criana realiza
exerccios respiratrios associados a gestos, desenhos ou mes-
mo durante o relaxamento especfico cervical. Deve-se estar
atento para que no ocorra esforo excessivo nas emisses.
CONSIDERAES FINAIS
O sucesso da terapia de voz com crianas depende de
diversos fatores e quando existem limitaes anatmicas que so
permanentes e irreversveis, como malformaes congnitas ou
distrbios neurolgicos, a fonao da criana ser a resultante da
melhor adaptao e compensao possvel.
A terapia de voz para crianas um tema extremamente
vasto, pois permite ao fonoaudilogo, aproveitar as inmeras
situaes oferecidas pela prpria criana, sendo portanto uma
contnua descoberta de novas possibilidades.
Acredita-se que com o avano da tecnologia j presente em
nossos dias, logo sero incorporados rotina teraputica, os
recursos computadorizados, especialmente voltados para a ree-
ducao vocal em crianas.
Leitura recomendada
ANDREWS, M.L. Voice Therapy for Children . New York, Longman,
1986.
ANDREWS, M.L. Manual of Voice Treatment: Pediatrics Through
Geriatrics. San Diego, Singular, 1995.
BEHLAU, M.S. & PONTES,P.A. Avaliao e Tratamento das Disfonias.
So Paulo, Lovise, 1995.
BEHLAU, M.S.; PONTES, P.A.; TOSI, O. Determinao da
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intensidade (shimmer) para falantes do portugus brasileiro.
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Prentice-Hall, 1983.
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Physiological Perspective for Diagnosis and Treatment. Baltimore,
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716 Fonoaudiologia Prtica
31
Atendimento em Grupo ao
Disfnico
Wanderlene Anelli
Leitura recomendada
BION, W.R Experincias com Grupos. 2 ed., EDUSP, So Paulo,
1975.
BLEGER, J. Grupos operativos no ensino. In: Temas de Psicologia.
Entrevista e Grupos. 2 ed., Ed. Martins Fontes, 1985.
BLEGER, J. O grupo como instituio e o grupo nas instituies. In:
Temas de Psicologia Entrevista e Grupos. 2 ed., Ed. Martins Fontes,
1985.
LUTERMAN, D. The parents in the Group. In: Couseling Parents of
Hearing Impaired Children. D. Ed., 1979.
32
Voz Profissional
Atuao Fonoaudiolgica no
Trabalho com Cantores
Alcione Ramos Campiotto
INTRODUO
AVALIAO
Toda avaliao fonoaudiolgica comea com uma anamnese
completa e no deve ser diferente no caso do atendimento a
cantores, profissionais ou no, que podem tanto apresentar
queixa da voz falada ou cantada, como simplesmente querer
desenvolver mais suas potencialidades vocais.
Do mesmo modo, tambm essa anamnese pode comear
pela caracterizao da queixa quanto a sua descrio, desenvol-
vimento, durao, sinais e sintomas associados.
Perguntaremos em seguida sobre outras queixas, sade
geral e resultados de exames anteriormente realizados, lem-
brando que tais indivduos devero sempre ser encaminhados
para avaliao otorrinolaringolgica, caso ainda no tenham
passado por uma.
Atuao Fonoaudiolgica no Trabalho com Cantores 725
EXAME CLNICO
A avaliao dos profissionais da voz deveria ter incio,
medida do possvel e de acordo com a necessidade verificada
na histria pregressa, com uma avaliao mdica global
enfocando possveis distrbios endcrinos, digestivos ou mes-
mo neurolgicos.
Atuao Fonoaudiolgica no Trabalho com Cantores 729
TERAPIA/DESENVOLVIMENTO VOCAL
Pelo valor que demos, durante a anamnese, ao detalhamento
em relao rotina de atividade vocal e fsica do cliente que nos
procura para um trabalho com o canto, possvel antecipar que
consideramos um dos objetivos principais e iniciais desse traba-
lho, as orientaes no que se refere a noes de anatomia e
fisiologia da voz e do canto; hbitos vocais nocivos (gritar, falar em
ambiente ruidoso, pigarrear, etc.); sade vocal (fatores prejudi-
ciais voz e/ou trato vocal: cigarro, lcool, drogas, ar condiciona-
do, alguns medicamentos, como os anti-histamnicos, distrbios
hormonais, etc.), entre outras.
Na realidade, o termo orientao aqui empregado passa a
designar toda a assessoria tcnica que o fonoaudilogo pode
realizar com relao a dicas quanto aos exerccios fisiologicamen-
te mais convenientes para o aquecimento e desaquecimento
vocais; utilizao de vesturio adequado que no impea ou limite
os movimentos costodiafragmticos durante a respirao; hbitos
vocais saudveis; programao das apresentaes quanto ao
nmero e durao dos intervalos; importncia da hidratao;
possibilidade do uso de paliativos como vaporizao; e tudo o
mais que se vislumbre como rea de desinformao ou prejuzo,
a partir dos dados colhidos em anamnese.
No entanto, o trabalho fonoaudiolgico com esta populao
no deve jamais se limitar a uma lista de pode e no pode,
como s vezes costumamos observar. Muito mais importante do
Atuao Fonoaudiolgica no Trabalho com Cantores 731
Leitura recomendada
CANCIAN, P. & CAMPIOTTO, A. R. A voz cantada na muda vocal. Rev.
Pr-fono, 7(2), 1995.
CLEVELAND, T.F. A clearer view of singing voice: 25 years of progress.
Journal of Voice, 8(1):18-23, 1994.
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Realizado no Setor de Terapia Fonoaudiolgica Departamento de
Otorrinolaringologia da Santa Casa de Misericrdia de So Paulo,
1996.
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Singing: A Study in National Tonal Preferences and How They Relate
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SEGRE, R. & NAIDICH, S. Princpios de Foniatria. Madrid, Panameri-
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multiprofissional. In: MARCHESAN, I.Q. Tpicos em Fonoaudiologia
II. So Paulo, Lovise, 1995.
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res atendidos na Santa Casa de So Paulo 1990 a 1995. Anais do
3 Congresso Brasileiro de Laringologia e Voz . Rio de Janeiro, 1995.
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VENNARD, W. SINGING The Mechanism and The Technic. New
York, Carl Fischer, 1967.
734 Fonoaudiologia Prtica
Atuao Fonoaudiolgica no
Teatro da Leitura Partitura
Lucia Helena Gayotto
Suely Sula Master
Pascoal da Conceio
Ensaios de mesa
Os ensaios de mesa so assim chamados porque normalmen-
te acontecem com os atores em torno de uma mesa ou em roda,
onde, normalmente, no h nenhuma movimentao, embora
algumas vezes seja necessrio movimentar-se para dar maior
clareza ao que est sendo falado. Nestes ensaios ocorrem, a
princpio, leituras do texto por inteiro, ao final, atores, diretor e o
conjunto do grupo que vai participar da montagem, discutem os
vrios aspectos do que foi visto.
Podem ser feitas vrias leituras de mesa e vrias discusses.
Essas discusses abordam, ainda, inmeros aspectos dos inte-
resses de cada um dos artistas envolvidos, por exemplo, o
figurino, o cenrio, a iluminao, a preparao vocal, a prepara-
o corporal, mas basicamente, estas devem coincidir com o
sentido que o diretor quer dar ao trabalho, o que quer expressar
o autor e os atores que representaro o texto. O prximo passo
a anlise das situaes propostas aos personagens, envolvendo
mltiplos elementos, como a sua psicologia, a sua histria pesso-
al, suas intenes , seus anseios, os porqus, as certezas, ou seja,
sua trajetria durante a pea que por fim dever revelar uma
faceta de sua humanidade: na vida, no amor, na dor, no dio, na
ambio, no trabalho, na famlia.
Participar deste momento, como preparador vocal, rico e
instigante, pois a se efetua o conhecimento, na prtica da
montagem, de cada ator com seu personagem. Estas so as
primeiras vezes que os atores se ouvem e contracenam, expe-
rimentando as dinmicas e ritmos do texto a ser falado. Para o
fonoaudilogo que vai preparar a voz do elenco, esta etapa d
dicas dos recursos vocais dos atores (intensidade, freqncia,
articulao, ressonncia, respirao, velocidade, durao, rit-
mo, projeo, entonao, nfase e pausas), e esboa as primei-
ras necessidades vocais dos personagens. Perceber os recur-
sos vocais neste momento um trabalho semelhante a uma
avaliao de voz: depois de ouvir algumas vezes as leituras de
mesa, j possvel saber das facilidades e dificuldades da voz
de cada ator e, portanto, traar um plano de treinamento vocal.
A compreenso das primeiras exigncias vocais do persona-
gem d incio ao trabalho de construo da sua voz, que ser
experimentada na emisso do ator e percebida na escuta do
preparador vocal, do diretor e do prprio ator.
O personagem H AMLET, por exemplo, da pea clssica de
WILLIAM SHAKESPEARE , com frases conhecidssimas como:
736 Fonoaudiologia Prtica
* GAYOTTO (1997), uma das autoras do presente texto, desenvolveu esta noo
nesta obra referida.
Atuao Fonoaudiolgica no Teatro da Leitura Partitura 737
Espao cnico
Depois da primeira etapa com as leituras, agora o ator encon-
tra-se com o espao cnico, onde toda a encenao ir acontecer.
O termo espao aqui usado em vez do comumente termo palco,
porque a encenao pode ocorrer em outros lugares alm do
palco. Por vezes, mesmo dentro do espao fsico do teatro, as
montagens nem sempre se restringem ao palco.
Da mesma forma, voz cabe abraar este espao, atingindo
vrias direes e, para isso, tendo que ser trabalhada na percep-
o do teatro como um todo. BEUTTENMLLER (1974), ao trabalhar
com o conhecimento do espao pelo ator, ressalta a importncia
da percepo visual e diz: Ele tem que, antes de tudo, tomar
posse do espao cnico atravs da viso. fundamental obser-
var a arquitetura do teatro, com suas formas, e os materiais
usados na construo, tais como: madeira, cimento, vidro, teci-
dos, mrmore, acsticos ou no.
Tomando como exemplo alguns teatros, em suas disposies
entre palco e platia, temos:
1. Palco italiano: tem o palco no fundo, de frente para a platia.
Palco
Platia
Platia
Palco
738 Fonoaudiologia Prtica
Os ensaios
Nesta fase, que compreende o longo perodo dos ensaios, o
ritmo das descobertas mais intenso e tambm afloram, por outro
lado, as crises de impotncia, de criatividade, de tdio, desejo de
desistir, desafios que o ator ter pela frente at alcanar a
740 Fonoaudiologia Prtica
lenta
3.no ser nfase no sintagma com curva meldica descen-
dente e fora articulatria
Ensaios individuais
Algumas vezes necessria uma dedicao especial a determi-
nado ator e suas dificuldades com seu personagem. Durante o
processo de criao, o ator pode entrar por caminhos s vezes
* Esta pequena partitura foi criada para o presente texto, apenas com o intuito
de ilustrar um exemplo de interpretao desta fala. Para melhor compreenso
da partitura vocal , seus recursos e suas anlises, consultar GAYOTTO (1997).
742 Fonoaudiologia Prtica
Partitura vocal
Com os treinamentos vocais permeando todas estas etapas
do processo criativo, tem-se por fim, uma partitura vocal resultan-
te, na qual os recursos vocais esto combinados s caractersti-
cas cnicas do personagem: suas situaes, objetivos, intenes
e aes fsicas. A partitura a referncia vocal que liga os estdios
dos treinamentos e as etapas de criao do espetculo, desde a
primeira leitura, passando pelos ensaios de mesa, o contato com
o espao cnico, at os ensaios coletivos e individuais. Mesmo
assim, h ocasies em que, at depois de estar sendo apresen-
tada a pea, volta-se ao trabalho de mesa para que determinada
cena possa ser melhorada, ou porque algum ator ser substitudo
e retomam-se os ensaios com o ator que chega.
O trabalho do fonoaudilogo com as aes vocais, desenha-
das na partitura, d contribuies tcnicas e interpretativas voz
dos atores. Portanto, pode atuar tambm como uma espcie de
direo vocal do espetculo, trabalhando, ao mesmo tempo, as
necessidades vocais bsicas para o espao cnico, a sade vocal
do ator e a construo vocal dos personagens.
Neste contexto, o preparador vocal se ocupa da voz tendo a
tcnica e a criatividade como duas companheiras inseparveis.
Pode acompanhar o elenco mesmo depois do espetculo estar
em cartaz, na manuteno das vozes e, eventualmente, na
constante reelaborao da voz do personagem bons diretores e
atores parecem estar sempre inquietos e, portanto, continuam
somando novas referncias interpretativas que iro, certamente,
modificar as interpretaes das falas e suas partituras vocais.
Atuao Fonoaudiolgica no Teatro da Leitura Partitura 743
O resto silncio.
O trabalho foi ensaiado e o espetculo est pronto.
Est? No! Agora o desafio ser manter fresco e vivo o texto como
na primeira vez. E esse desafio ocorrer, dependendo do sucesso da
pea, durante meses, algumas vezes, anos. Como fazer? Ser que
o tdio de um ator, ao interpretar um personagem inmeras vezes j
representado, sentido pela platia? Sem vacilar, podemos afirmar
com toda certeza que sim. O teatro comunicao ao vivo; uma
interpretao requentada faz bocejar tanto o ator como qualquer um
que esteja presente num espetculo assim. O trabalho de criao
ininterrupto, no tem fim, no h o que j foi conseguido, o que foi feito
ontem j no existe mais. Em Hamlet, dever ser sempre pela
primeira vez que o ator receber a notcia da morte do pai, do
casamento da me e da usurpao do trono pelo tio.
O resto silncio a ltima fala do personagem HAMLET antes
de morrer, nessa grande tragdia de WILLIAM SHAKESPEARE. Con-
tam as fofocas de teatro que esta fala foi um caco, uma improvisa-
o acrescentada ao texto pelo ator que fazia HAMLET, provavel-
mente porque ele se julgava convencido de ter interpretado tanto e
to bem as suas cenas, que no valia a pena o pblico se preocupar
em ouvir, no futuro, mais que silncio. Tudo j havia sido dito.
Porm, o texto de SHAKESPEARE no termina a e muitas cenas
ainda acontecem. Homem de teatro, o bardo, sabia com certeza
que as coisas se aperfeioam, se redescobrem, morrem, vivem,
num infinito ciclo de descobertas.
Leitura recomendada
BARBA, E. Alm da Ilhas Flutuantes. Trad. Luis Otvio Burnier. So
Paulo Campinas, Hucitec Editora da Unicamp, 1991.
BERRY, C. Voice and the Actor. New York, Macmillan Publishing
Company, 1973.
BEUTTENMLLER, M.G. & LAPORT, N. Expresso Vocal e Expres-
so Corporal. Rio de Janeiro, Forense Universitria, 1974. p. 23.
GAYOTTO, L.H. Voz do Ator, a Partitura da Ao. So Paulo, Summus
(no prelo), 1997.
HARVEY, P.L.; ARONSON, D.B.; COLEMAN, R.F. Objective evaluation
of actors voices: Normative data on the trained theatrical voice. In:
21th THE VOICE FOUNDATION SYMPOSIUM,U.S.A. Oral
Apresentation. The Voice Foundation, 1992.
RUSSO, I. & BEHLAU, M. Percepo da Fala: Anlise Acstica do
Portugus Brasileiro. So Paulo, Ed. Lovise, 1993. p. 10.
STANISLAVSKI, C. A Construo da Personagem. Trad. Pontes de Paula
Lima. 4.ed. Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 1986. 326 pp.
744 Fonoaudiologia Prtica
Fonoaudiologia do Trabalho e o
Telemarketing
Eudosia Acua Quinteiro
Leitura recomendada
QUINTEIRO, E.A. O Poder da Voz e da Fala no Telemarketing:
Treinamento Vocal para Teleoperadores. So Paulo, Summus Edi-
torial, 1995.
Atuao Fonoaudiolgica com
Locutores de Rdio
Ira Bittante de Oliveira
INTRODUO
No h como negar o crescimento da rea de atuao do
fonoaudilogo junto a adultos e crianas, que utilizam a voz
profissionalmente.
Dentro deste campo, o locutor de rdio um dos profissionais
que pode se beneficiar muito da ajuda de um fonoaudilogo. Basta
considerarmos que na comunicao radiofnica no h imagem
visual. Ao contrrio, essa imagem fantasiada pelos ouvintes de
rdio, principalmente a partir das caractersticas vocais do locutor.
delegada voz a funo de veicular emoes. So canaliza-
das para a voz e a fala todas as possibilidades de comunicao,
quando esta acontece por intermdio do rdio.
Pensando assim, o fonoaudilogo que resolver atuar nesta
rea, alm de gostar muito do que ir fazer, dever estar sempre
muito atento aos detalhes da produo da voz e fala deste
profissional. Pequenas alteraes podem desviar o sentido da-
quela comunicao.
Neste trabalho so combinadas tcnicas de aprimoramento
vocal com espontaneidade de comunicao, sem interferir no
estilo individual de cada locutor, respeitando-se os diversos tipos
de locuo.
Torna-se evidente, a necessidade de se conhecer caracters-
ticas e necessidades deste profissional, identificando ainda quais
os riscos que ele possui de desenvolver uma desordem de voz,
por conta das condies do uso profissional desta.
necessrio, portanto, estar atento s tendncias aos abusos
e mau uso vocais, por parte do locutor de rdio, decorrentes de seu
tipo de demanda vocal (OLIVEIRA, 1995). Uma locuo esportiva
pode ilustrar com clareza esta situao. Basta imaginar que
nestes casos, h pelo menos 90min de fala acelerada, pratica-
mente ininterrupta, a intensidade da voz variando entre 50 e 80 dB
(em momentos de grito de gol), com uso de extensa gama tonal e
variao de entoao. Para tornar a situao mais difcil, muitas
vezes ainda, o trabalho desenvolvido em presena de rudo, sob
intenso calor, ou mesmo no ar condicionado.
Estando o fonoaudilogo informado sobre a realidade deste
profissional, alm de desenvolver o aprimoramento da comu-
752 Fonoaudiologia Prtica
CONHECENDO O LOCUTOR
Sem dvida alguma, a entrevista com o profissional de
extrema importncia. Aqui iremos saber sobre seu nvel de
escolaridade, rea de atuao no rdio: esportiva (narrao
futebolstica, reprter de campo, comentarista esportivo), locu-
o de notcias, jornalismo, reportagem externa, comerciais,
rea artstica, humorstica e outros. Neste sentido importante
saber ainda, se o locutor trabalha em estao de transmisso de
AM (Amplitude Modulada) ou FM (Freqncia Modulada). Isto
porque os estilos de locuo variam em funo das caracters-
ticas do pblico-alvo, nvel scio-cultural, idade, etc. e, conse-
qentemente, os locutores variam seus estilos de comunicao,
emprego da voz, forma de falar, pronncia, ritmo, articulao,
etc. (OLIVEIRA , 1995).
So pesquisados tambm, o tempo de atuao no rdio,
dados quanto aos cuidados com a voz, conhecimentos que este
profissional possui sobre profilaxia vocal e outras atividades
desenvolvidas pelo locutor. Muitas vezes, eles desenvolvem
atuaes paralelas, que tambm exigem um alto nvel de produ-
o vocal como no caso do canto ou trabalho com vendas e isto
ir influenciar no desempenho da voz.
So levantados ainda, aspectos relacionados sade geral e
vocal, hbitos quanto a lcool e fumo, hidratao e alimentao
(qualidade e horrios das refeies), exerccios fsicos, descanso
e lazer.
Com relao produo vocal propriamente dita, sugerimos
coletar amostras de voz, tanto de fala espontnea como simu-
lando uma situao de radiodifuso, emitindo uma notcia,
fazendo um comentrio e lendo. Esta amostra gravada em fita
cassete para comparaes futuras, de preferncia realizada
com microfone, atravs de gravao feita diretamente da mesa
de som, para se evitar interferncias ou rudos que atrapalhem
a anlise.
Aspectos bsicos de uma avaliao de voz devem ser
realizados, contando-se com a possibilidade do surgimento de
indivduos com alteraes vocais importantes, os quais devero
ser encaminhados para exames e condutas necessrias.
Atuao Fonoaudiolgica com Locutores de Rdio 753
Postura na locuo
Com relao postura, achamos que o locutor deve ser
orientado de forma global. Desde a posio para dormir, dando
preferncia quelas que facilitam a respirao nasal, para que se
evite o ressecamento da mucosa larngea, principalmente para os
locutores que trabalham logo pela manh, at a adequao da
postura ao falar. Para que a orientao seja eficiente, necessrio
que o fonoaudilogo conhea esta rea e no invada outros
756 Fonoaudiologia Prtica
Coordenao pneumofonoarticulatria
Os princpios bsicos da coordenao pneumofnica so
trabalhados com os locutores e no sero abordados aqui. Cha-
mamos a ateno para a necessidade de haver um tempo de
fonao compatvel com as necessidades de locuo. Para isto,
enfatizamos exerccios que propiciem aumento do tempo de
fonao sempre coordenados com a articulao, pois respirao,
coordenao fonao-respirao e articulao fazem parte de
uma mesma unidade funcional (BEHLAU & PONTES, 1995). Esse
dinamismo deve ser percebido pelo locutor, portanto, so propos-
tos exerccios com esta finalidade. So escolhidos frases e textos
com ocorrncia de grupos consonantais, arquifonema /r/ para
serem lidos em voz alta ao grupo ou ao fonoaudilogo e gravados
em fita cassete para que o locutor perceba suas falhas e acertos.
Os exerccios so feitos em diferentes volumes, com e sem
microfone e em diferentes velocidades, dando-se preferncia a
ritmos acelerados, contando-se que estes so os mais utilizados
nas locues e tambm os mais difceis de serem realizados. Os
primeiros ensaios de variao de entoao j so experimentados
aqui. O locutor alertado para perceber as diferentes quantidades
de ar, que esto implcitas nestas tarefas.
Ateno especial dada aos movimentos de mandbula, que
devem ser amplos e relaxados, o que chamamos de mandbula a
favor da gravidade para que ele perceba que a amplitude de
Atuao Fonoaudiolgica com Locutores de Rdio 759
CONCLUSES
Nossa inteno neste captulo foi passar uma forma de atua-
o que permita no s um trabalho com locutor, mas tambm
acreditamos que muito do que foi apresentado possa ser til em
outras reas da voz profissional.
Torna-se fascinante o trabalho nesta rea, pelo fato de arte e
cincia necessitarem caminhar juntas. Saber valorizar nuances e
buscar perfeio da arte, propor tcnicas para levar as estrutu-
ras da fonao a atingirem o que se busca, com bases em
conhecimentos anatomofisiolgicos, bem como saber prevenir a
sade vocal do usurio da voz profissional, cincia.
Entender esses dois caminhos entrelaados Fonoaudiolo-
gia, uma cincia com uma boa dose de paixo.
Agradecimento
Ao Prof. Dr. Otacilio de C. Lopes Filho, pelo convite de participao neste livro.
sempre muito bom dispor de um espao como esse, para expor nossas
experincias e as reflexes que delas emergem.
Leitura recomendada
ANDREWS, M.L. Manual of Voice Treatment Pediatrics Through
Geriatrics. San Diego, Singular Publishing Group, 1995.
BEHLAU, M.& PONTES, P. Avaliao e Tratamento das Disfonias. So
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COUTO, H.A Ergonomia Aplicada ao Trabalho. Belo Horizonte, Ergo,
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Summus, 1989.
SATALOFF, R.T. Professional singers: the science and art of clinical
care. Am. J.Otolaringol ., 2:251-266, 1981.
SATALOFF, R.T. & SPIEGEL, J.R. Care of professional voice.
Otolaryngol. Clin. North. Am., 24:1093-1124, 1991.
Deficincia Auditiva 1
Avaliando e Tratando o Sistema Estomatogntico 763
33
Avaliando e Tratando o
Sistema Estomatogntico
ANAMNESE
O que usar? Roteiros prontos? Folhas em branco? Perguntas
semidirigidas? Ou ser que melhor deixar os pais falarem sem
perguntarmos nada? Temos visto que os jovens fonoaudilogos
se perdem inicialmente a respeito do que usar ao estarem pela
primeira vez com um paciente. No importante que um questio-
nrio formal exista. Na verdade, tanto faz a forma como iremos
abordar a famlia para descobrir o que queremos saber. Se vamos
dirigi-los ou simplesmente deixar que contem livremente o que
Avaliando e Tratando o Sistema Estomatogntico 765
Segunda Parte
A partir desta primeira coleta de dados, iremos dirigir nossas
questes de acordo com a queixa apresentada na primeira parte.
Temos observado que as questes das anamneses so direcio-
nadas basicamente na busca de causas para o problema.
Estaremos em busca das causas por trs diferentes razes:
1. Para saber se a causa ainda est presente, o que dificultaria
a soluo do caso. Exemplo: mordida aberta anterior com suco
de dedo.
2. Se a causa for gentica h necessidade de orientao
mdica, principalmente para o caso de novas gestaes. Exem-
plo: sndromes.
3. Para conhecer as possveis razes que teriam levado
quele problema, embora a causa, propriamente dita, no
esteja mais presente. Isto nos fornece elementos para o plane-
jamento de futuros programas de preveno e orientao.
Exemplo: uso de mamadeira por longo prazo com furo aumen-
tado.
As questes especficas em casos de motricidade oral sero
sobre:
Desenvolvimento global
Partir da idade atual e retornar ao passado, caso seja neces-
srio. Quando partimos do momento atual mais fcil para os pais
ou para o prprio paciente relatar, com preciso, o que queremos
saber. Podemos, a partir do relato deles, perguntar se sempre foi
assim ou se antes existiam estas ou outras dificuldades, e em que
nvel.
Avaliando e Tratando o Sistema Estomatogntico 767
Alimentao
Perguntar como se comporta, desde a infncia, em relao
s caractersticas dos alimentos que come: consistncia, varie-
dade, textura e quantidade. No deixar de investigar o que a
famlia pensa sobre este assunto e como ela prpria se alimen-
ta, de uma maneira geral. Devemos nos lembrar que muito do
que aprendemos em relao a alimentos, como causa de
problemas ligados motricidade oral, so mudanas de toda
uma sociedade em relao aos seus hbitos alimentares. Isto
gera conflitos quando pretendemos orientar os pais sobre estes
aspectos, uma vez que toda a famlia pode estar se alimentando
da mesma maneira que a criana em questo.
Escolaridade
Perguntar sobre as escolas que freqentou. No caso de
mudanas, porque elas ocorreram. Como tem sido seu aproveita-
mento. Quais so as exigncias por parte dos pais. Quais so as
disciplinas nas quais a criana tem melhores rendimentos e quais
as que so piores. Obter dados gerais sobre a escolarizao
podem nos dar dois tipos de informao: primeiro, sobre as
capacidades de aprendizagem da criana e, em segundo lugar, o
nvel de interesse, concentrao e ateno do futuro paciente. s
vezes, temos nossa frente uma criana extremamente inteligen-
te, mas ligada apenas em jogos de vdeo game, entendendo que
o resto perda de tempo. Isto pode significar que seu interesse na
terapia ser baixo, dificultando sobremaneira o andamento do
tratamento.
Sono
Perguntas sobre o sono tambm so importantes em casos de
motricidade oral. Se roncam, babam, levam gua para o quarto e
bebem durante a noite, se acordam com a boca seca e se tm
apnia noturna, so dados que nos levam a conhecer melhor a
parte respiratria. Posies adotadas para dormir tambm so de
fundamental interesse para verificarmos possveis interferncias
no crescimento ou na m-ocluso.
768 Fonoaudiologia Prtica
Questes finais
A pergunta final sempre dever retornar para a queixa inicial.
De modo geral, devemos encerrar perguntando se h alguma
coisa a mais que o paciente e/ou os pais gostariam de nos
informar. Se existem outras colocaes que no foram feitas
durante a queixa inicial e que poderiam ser feitas neste momento,
caso os pais acreditem tenham importncia para o caso. Deix-los
falar livremente neste momento pode nos dar uma outra viso da
queixa inicial ou sabermos o que, de fato, eles esperam do
tratamento.
Terminada a anamnese devemos dar incio ao exame. Duran-
te o exame podemos estar retomando as questes respondidas
na anamnese. Ao examinarmos podemos observar que determi-
nada informao no corresponde ao que estamos vendo e, por
isto, devemos voltar a fazer perguntas sobre o que no est
fazendo sentido. s vezes, percebemos, durante o exame, que
faltou perguntar algo essencial. Outras vezes, os prprios pais, ou
o paciente, lembram-se de alguma informao que lhes parece
pertinente frente ao que estamos examinando. Esta a razo pela
qual devemos entender que anamnese e exame no devem ser
separados e devem vir seqencialmente. Mesmo assim, sabemos
que muitas questes no sero discutidas naquele momento pois
ficam esquecidas ou, simplesmente, no h, ainda, um vnculo
para que sejam ditas. Este um motivo pelo qual sempre apare-
cem novas informaes durante as sesses seguintes, na medida
em que os pais e/ou o paciente adquirem confiana no terapeuta.
Estes processos de colher dados e examinar, no sentido de
compreender o problema, no se esgotam no primeiro encontro.
Na verdade, at o ltimo dia estaremos fazendo novas considera-
es sobre o caso. absolutamente dinmico e interligado o
processo de avaliao e tratamento.
Respirao
Os seres humanos nascem respirando pelo nariz e, a no ser
que ocorram impedimentos mecnicos ou fisiolgicos assim con-
tinuar at a morte. Isto significa que ao encontrarmos um pacien-
te com respirao bucal devemos buscar compreender por que
ele no est realizando esta funo de forma normal. Devemos
nos lembrar que, a maior parte das vezes, a respirao no
puramente bucal, mas sim mista, isto , d-se pelo nariz e pela
boca. As causas mais freqentes de uma respirao inadequada
referem-se a problemas mecnicos. Estes problemas podem
estar na nasofaringe (adenide), na orofaringe (amgdalas), ou no
prprio nariz, como um desvio de septo ou mais comumente, as
hipertrofias de conchas que impedem ou diminuem a entrada do
ar. Para conhecermos de forma correta qual a razo da respirao
estar ocorrendo por via inadequada, uma consulta ao otorrino-
laringologista fundamental sendo que a mesma deve acontecer
antes de iniciarmos nosso tratamento. Caso o mdico nos informe
que, do ponto de vista clnico, no existem problemas, devemos
ainda considerar se o paciente tem possibilidade de ocluso labial
para que a respirao possa ocorrer pelo nariz. Se existir uma
774 Fonoaudiologia Prtica
Mastigao
Para avaliarmos esta funo precisamos, em primeiro lugar,
conhecer os dentes e como eles se relacionam. A ocluso e a
tipologia facial determinam a fora e o modo de mastigar. Em
segundo lugar, vamos pesquisar, com bastante detalhamento, os
hbitos alimentares, no s do paciente mas, principalmente, de
sua famlia. Hbito alimentar no s o que se come. necessrio
saber o como, o quando, o tempo disponvel, valores que se do
para a alimentao, dinheiro que se investe nisto, etc... Normal-
mente, o problema alimentar no s do paciente mas da
famlia, ou do meio no qual aquele indivduo vive. Como prova
especfica, pode-se utilizar, em todas as avaliaes, um mesmo
alimento para que se possa criar um padro de exame. O po
francs uma boa opo pois fcil de encontrar e, praticamente,
todos o comem.
Filmar o exame tambm aconselhvel para que seja poss-
vel fazer comparaes posteriores com maior objetividade. Lem-
brar que os limites de mastigao impostos pela ocluso s sero
resolvidos aps o tratamento da ocluso. Como prova especfica
podemos sugerir que o paciente coma o po normalmente, como
est acostumado. Aps duas ou trs dentadas, perguntamos
onde est mastigando melhor, ou seja, qual o lado de prefern-
cia mastigatria e por que prefere este lado. Caso o paciente no
saiba identificar, devemos sugerir-lhe que coma mais alguns
pedaos para observar como ele sente a mastigao acontecen-
do. Em seguida, devemos pedir que mastigue apenas de um lado
e observe relatando, em seguida, como foi. Depois repetimos a
mesma prova, usando o outro lado da boca. Por fim, sugerimos
que volte a mastigar como o faz normalmente.
Lembrar que, aps cada prova, devemos pedir ao prprio
paciente que descreva como se sentiu, se foi fcil e quais foram as
dificuldades encontradas. Esta forma de avaliar faz com que possa-
mos ter a nossa viso e tambm a do prprio paciente sobre como
est se processando sua funo mastigatria. Mesmo que o pacien-
te no saiba nada, ou s tenha uma viso parcial daquilo que ocorre,
isto no importante. Agindo desta maneira podemos saber o que
o paciente percebe e j o estaremos ajudando a ficar mais atento,
deste momento para a frente, em relao sua mastigao.
Avaliando e Tratando o Sistema Estomatogntico 775
Deglutio
Esta funo d continuidade ao processo de mastigao e,
como tal, no pode e nem deve ser avaliada em separado da
mesma. Ao observarmos a mastigao tambm observaremos o
paciente deglutindo, pois esta seqncia natural. Nada mais
lgico do que olharmos, ao mesmo tempo, as duas funes.
Assim, como no vamos pedir para que o paciente faa um bolo
alimentar e nos mostre antes de deglutir, no pediremos que abra
os lbios a fim de olharmos dentro da sua boca enquanto deglute.
Estas duas formas de avaliar levam a atipias alterando, evidente-
mente, o processo natural.
Seria bastante interessante que os terapeutas fizessem as
provas neles prprios e em pessoas normais para avaliar a
eficcia e os resultados de tais procedimentos, antes de aplic-los
ao paciente. Normalmente, vamos mastigando e engolindo. No
fazemos um nico e grande bolo de tudo o que est sendo
mastigado para ento deglutir. Quando isto ocorre, tendemos a
realizar um movimento de cabea para trs, na tentativa de
aumentar o espao orofarngeo para que todo o alimento possa
passar de uma s vez. Isto acaba sendo classificado como
deglutio atpica, quando na verdade, foi algo que provocamos
ao pedirmos uma forma de deglutio que antinatural.
Assim como esta atipia, muitas outras so provocadas pelos
examinadores. At o dentista, quando pede para que o paciente
degluta com os lbios entreabertos, numa posio em que o
corpo est reclinado dificultando a deglutio, tambm causa
uma atipia. Sugiro ao leitor atento experimentar deglutir nessas
circunstncias, no se esquecendo de um babador. Sabemos
que os sujeitos Classe II de Angle, com grandes despropores
maxilomandibulares, deglutem com os lbios separados e,
mesmo assim, procuram fazer um selamento compensatrio
que o do lbio inferior com os dentes superiores. O selamento
anterior necessrio para manter uma presso negativa no
interior da boca e todas as pessoas procuram obt-la de alguma
maneira.
s vezes, vamos ter, de fato, a projeo anterior da lngua no
momento da deglutio. Ao invs de apenas apontar tal fato
tentaremos compreender suas razes. Pode haver uma mordida
aberta anterior; podem existir amgdalas hipertrofiadas, trazendo
776 Fonoaudiologia Prtica
Fala
Avaliar a fala, em geral, requer procedimentos mais simples.
Podemos verificar como o paciente fala e que tipos de trocas
apresenta, apenas conversando com ele. Em geral, os pais
sabem quais os fonemas que os filhos omitem ou trocam. Muitas
vezes, j na anamnese, podemos ficar conhecendo, com certa
margem de segurana, quais so os problemas de fala existentes.
No entanto, para uma avaliao mais precisa importante no s
sabermos quais so as trocas ou omisses mas, mais uma vez,
tentar compreender a razo destas trocas e quais as possibilida-
des de correo. Com muita freqncia encontramos problemas
de fala que fazem parte de problemas de linguagem. Infelizmente,
muitas vezes, acabamos simplificando e realizando anlises
somente parciais, reduzindo problemas de desenvolvimento de
linguagem em meras trocas ou omisses de fonemas. As distor-
es por sua vez, podem estar relacionadas a problemas de
forma, ou seja, a caractersticas anatmicas das estruturas que
produzem fala.
TERAPIA
O grande momento chegou. Muito provavelmente alguns de
vocs, meus caros colegas, vieram direto a esta parte do captulo
sem ter lido as demais pginas que antecederam este ponto.
uma pena. Talvez seja por isto que a fonoaudiologia tem caminha-
do to lentamente. Buscamos, durante muitos anos, solues
prontas e isto no nos leva a raciocinar. Porm, se me enganei e
voc j leu o restante, j percebeu que no h uma regra nica,
nem para avaliar e, muito menos, para a terapia. Podemos falar,
talvez, de princpios teraputicos e tambm pensarmos no que
inviabilizaria a terapia. Aps a avaliao, isto , a anamnese e o
exame, indicaremos, outros profissionais e/ou exames, caso
sejam necessrios, para um melhor diagnstico. Antes da famlia
deixar nossa sala, j neste primeiro encontro, devemos dar a eles,
e ao paciente, um prognstico e um tempo aproximado de terapia.
Sempre que vamos ao mdico procuramos saber qual remdio
Avaliando e Tratando o Sistema Estomatogntico 777
Respirao
Aps o exame otorrinolaringolgico poderemos iniciar nosso
trabalho. Caso o paciente tenha apenas um hbito de respirar
inadequadamente, a terapia ser mais tranqila do que nos casos
com pacientes alrgicos. Mesmo que o paciente tenha um impe-
dimento mecnico, como hipertrofia de adenide, ser vlido
trabalharmos com ele pois as tentativas seguidas de respirao,
via nariz, podem ajudar na desobstruo ou mesmo no tratamento
mdico.
778 Fonoaudiologia Prtica
Mastigao
Pacientes com a ocluso normal
Devemos ensinar, basicamente, uma mastigao com os
lbios ocludos, utilizando os dois lados da boca, alternadamente,
para a triturao dos alimentos. A quantidade de comida colocada
na boca tambm importante. Muita comida no permite uma
mastigao eficiente. A velocidade tambm deve ser controlada.
No devemos trabalhar forando a ingesto de alimentos que o
paciente no aprecia. A alimentao deve ser algo prazeroso. No
h necessidade de iniciar com alimentos pastosos para depois
passar para slidos, a no ser em pacientes muito pequenos ou
com alteraes neurolgicas. Conversar com os pais sobre hbi-
tos alimentares e formas de alimentao tambm fundamental,
uma vez que o paciente est conosco poucas horas por dia.
Devemos trabalhar com exerccios de fora, quando houver
necessidade, solicitando que os mesmos sejam realizados uma
vez por dia, durante alguns minutos. mais importante a realiza-
o diria, com pouco tempo de durao, porm sistemtica, do
que por um tempo prolongado, mas que no seja realizada
rotineiramente.
Avaliando e Tratando o Sistema Estomatogntico 779
Deglutio
Observamos que: quando o paciente pode respirar pelo
nariz; quando tem uma boa ocluso; quando mantm os lbios
ocludos; quando o espao interno compatvel com o tamanho
da lngua e, quando ele mastiga adequadamente, tambm pode
deglutir corretamente. Os demais pacientes, que no apresen-
tam tais caractersticas, tero que adaptar seu modo de deglutir
s condies existentes. No paciente que, apesar das boas
condies de forma e de respirao, deglute com projeo
anterior, devemos verificar a postura da lngua e corporal, o
tnus, os hbitos alimentares e modific-los, caso seja neces-
srio. Em geral, aps adequarmos postura, tnus, e respirao
o paciente j consegue deglutir melhor. Os exerccios para
aumentar a fora da lngua e para melhorar a propriocepo so
fundamentais para a obteno de um melhor posicionamento da
lngua dentro da cavidade oral. De maneira geral, o trabalho com
a deglutio propriamente dita o menos importante, pois ao
darmos condies anatmicas e havendo melhora das demais
funes, naturalmente a lngua se posiciona e funciona adequa-
damente.
O trabalho com alteraes da motricidade oral vasto e exige,
de maneira geral, que o diagnstico tenha sido bem feito. Quando
est claro para ambos, paciente e terapeuta, quais so os limites
possveis e a importncia do trabalho a ser realizado, o investi-
mento de todos maior e os resultados mais favorveis.
Leitura recomendada
BIANCHINI, E.M.G. A Cefalometria nas Alteraes Miofuncionais
Orais: Diagnstico e Tratamento Fonoaudiolgico. Pr-Fono Depar-
tamento Editorial, 1993.
780 Fonoaudiologia Prtica
34
Cirurgia Ortogntica e
Fonoaudiologia
INTRODUO
A cirurgia ortogntica um ramo da cirurgia, que trata dos
pacientes portadores de deformidades dentofaciais, objetivando
restabelecer a funo mastigatria e proporcionar uma melhor
harmonia facial.
Para cumprir estes objetivos ela completada por outra
especialidade odontolgica que a Ortodontia.
Importante considerar que estes pacientes so operados
em nvel hospitalar e na grande maioria das vezes sob anestesia
geral.
Exame da face
Este exame realizado com o paciente de p e olhando para
a frente.
A princpio observamos se existe harmonia entre os teros
superior, mdio e inferior da face; se existe simetria entre os lados
782 Fonoaudiologia Prtica
Avaliao radiogrfica
A radiografia que nos auxilia muito, e que deve ser solicitada
rotineiramente, em cirurgia ortogntica a panormica, pois
atravs da mesma observaremos: a textura ssea, presena ou
no de dentes inclusos e processos patolgicos.
Estudos cefalomtricos
Os estudos antropomtricos so realizados atravs de radio-
grafia cefalomtrica de perfil, onde devem estar bem-evidencia-
das as estruturas sseas, dentrias e os tecidos moles.
Existem diversas anlises cefalomtricas difundidas por todo
o mundo, aqui discutiremos alguns aspectos da anlise cefalo-
mtrica de Steiner (Fig. 34.1).
S
SNA 82
SNB 80
B
SNA = 82 2
SNB = 80 2
ANB = 02 2 FIGURA 34.1 Anlise cefalomtrica de Steiner.
Cirurgia Ortogntica e Fonoaudiologia 783
Ortodontia
Uma vez realizado o diagnstico da deformidade, e constata-
da a presena de alteraes das arcadas dentrias, o paciente
encaminhado para o ortodontista, afim de realizar um tratamento
visando um melhor posicionamento e nivelamentos dos dentes
nas arcadas.
A finalidade deste tratamento ortodntico pr-operatrio ,
primeiro, para que o paciente possa ter a correo das giroverses
e maus posicionamentos dentrios e, segundo, para que imedi-
atamente aps a cirurgia possa se conseguir uma boa ocluso
dentria, devolvendo assim a funo mastigatria ao paciente,
e tambm uma melhor estabilidade da cirurgia, evitando com
isto as recidivas.
Avaliao fonoaudiolgica
Dentro da cirurgia ortogntica a fonoaudiologia exerce um
importante papel no diagnstico e tratamento dos distrbios e
alteraes de postura da lngua e lbios, o que uma constante
nos pacientes portadores de deformidades dentofaciais.
A orientao e tratamento prvio cirurgia auxilia em muito na
preveno das recidivas.
784 Fonoaudiologia Prtica
Avano mandibular
Esta mesma tcnica utilizada para avanos mandibulares.
Quando a mandbula se encontra retroposicionada, feita a
osteotomia sagital e ao invs de recuar, como no prognatismo,
se faz o avano da poro anterior. interessante anotar que h
um estiramento muscular importante nestes casos e que se for
de mais de 10 mm est indicada a miotomia dos depressores da
mandbula, digstrico, geniideo principalmente. Nestes casos,
tambm pode-se proceder a osteossntese entre os fragmentos
sseos com parafusos a fim de evitar o bloqueio maxilomandi-
bular.
A
B
FIGURA 34.6 A) Microgenia, pontilhado na rea de osteotomia no mento. B) Aps o avano do mento.
Cirurgia Ortogntica e Fonoaudiologia 787
A B
FIGURA 34.7 A) Macrogenia, pontilhado na rea de osteotomia. B) Aps o recuo do mento.
2. Maxilares
Deformidades maxilares so comuns em nosso meio,
principalmente devido presena da mistura racial. Deve-se
ter em conta que para o diagnstico da deformidade h
necessidade do exame clnico e radiogrfico, pois, muitas
vezes uma deformidade que aparentemente est localizada
na mandbula na realidade ocorre devido a um mau desenvol-
vimento da maxila.
So vrias as alteraes que podem ocorrer na maxila,
tanto no plano ntero-posterior, quanto no vertical, quanto no
transversal, e todas so passveis de tratamento ortodntico-
cirrgico.
Infeco
bastante rara a presena de infeco nas osteotomias para
correo das deformidades dentofaciais.
Normalmente durante estas intervenes, iniciamos antibio-
ticoterapia profiltica com 1g de cefalosporina EV antes da cirur-
gia e a cada 6h por um perodo de 72h.
Necrose pulpar
um acidente raro de acontecer, mas pode ocorrer se no
for respeitado o comprimento dos dentes localizados na regio das
osteotomias.
Toda osteotomia deve se localizar no mnimo 5 mm distante dos
pices dentrios, para preservar a vitalidade ssea, e em conseqn-
cia o feixe vasculonervoso da polpa do dente.
Necrose ssea
um acidente bastante grave que poder ocorrer se no
forem observados os princpios bsicos que so: cuidadosa
manipulao dos tecidos, respeito s estruturas que permitiro a
revascularizao e desinsero mnima dos tecidos moles das
estruturas osteotomizadas.
A B
C
FIGURA 34.10 Paciente com deformidade dentofacial. A) Frente; B) perfil; C) intra-oral mordida
aberta anterior.
790 Fonoaudiologia Prtica
FIGURA 34.13 Montagem dos modelos em FIGURA 34.14 Intra-oral ocluso aps o trata-
articulador semi-ajustvel. Cirurgia nos modelos. mento ortodntico-cirrgico na mandbula e na
maxila.
A B
FIGURA 34.15 Paciente de perfil ps-operatrio. A) Perfil. B) Frente.
Cirurgia Ortogntica e Fonoaudiologia 791
Anamnese
A entrevista inicial dos pacientes indicados para uma Cirurgia
Ortogntica deve enfocar, principalmente, os dados relativos s
principais funes do sistema estomatogntico, ou seja, respirao,
mastigao, deglutio e fala, alm de pesquisar sinais e sintomas de
desordens temporomandibulares (DTM), enfocando as possveis
adaptaes e/ou alteraes e seu grau de severidade e delimitando
o grau de conscincia do indivduo quanto a estas alteraes. de
grande importncia tambm, detectar a presena de hbitos
parafuncionais que ocorram, tais como: onicofagia, bruxismo, suco
digital (presente em boa parte dos casos de mordida aberta anterior
dentria e/ou esqueletal, mesmo em indivduos adultos), etc.
Convm lembrar que, por habitualmente se tratarem de pa-
cientes adultos ou jovens adultos de pelo menos 16 anos, no h
a necessidade de detalhar todo o desenvolvimento psicomotor do
paciente, nem mesmo o desenvolvimento do processo de alimen-
tao (aleitamento materno, introduo da mamadeira, dos ali-
mentos pastosos e slidos, e assim por diante), uma vez que o
importante determinar hbitos nocivos, tanto de alimentao,
quanto parafuncionais, que tenham participao atual sobre todo
o sistema estomatogntico.
muito importante que se aproveite este primeiro contato
para se observar questes posturais quanto cabea em
relao ao pescoo, este em relao aos ombros e assim por
diante, bem como em relao posio em repouso de lbios
e lngua, e mesmo vcios de articulao ou hbitos (mordiscar os
lbios ou bochechas, passar a lngua sobre o lbio, interpor o
lbio inferior entre as arcadas, etc.).
Quanto fala
Questiona-se o paciente quanto presena de dificuldades ou
impedimentos na articulao dos fonemas/sons. Observamos
que, embora sejam muito comuns as alteraes articulatrias,
principalmente as distores relacionadas ao ponto articulatrio
dos fonemas, em pacientes portadores de deformidades
dentofaciais, geralmente tais alteraes no so conscientes no
paciente, at mesmo por no serem acusticamente perceptveis
para um ouvido menos treinado, a no ser no caso do sigmatismo
(ceceio) frontal e/ou lateral moderado ou severo.
No podemos esquecer, ainda, de anotar os dados referentes
Sade Geral do paciente, bem como aos Antecedentes Pes-
soais e Familiares (relativos deformidade apresentada) e trata-
mentos ortodnticos, fonoaudiolgicos, medicamentosos e/ou
cirrgicos realizados, que so de suma importncia para a com-
preenso global de cada caso. Muitas vezes encontramos um
paciente que j consultou diversos profissionais em diferentes
reas (ortodontistas, primeira e principalmente, bem como cirur-
gies plsticos e bucomaxilofaciais ou fonoaudilogos) antes de
optar pelo diagnstico e condutas atuais, procura de uma
soluo para o seu problema. Desse modo, consideramos impor-
tante que se conhea, ainda, o caminho percorrido pelo paciente
at chegar consulta fonoaudiolgica. Esses dados podem
contribuir de maneira preciosa para que possamos compreender
a motivao do paciente quanto cirurgia alm de seu nvel de
ansiedade, desenvolvimento afetivo, dedicao, sua confiana na
equipe atual, etc.
Exame
O exame fonoaudiolgico baseia-se, fundamentalmente, na
observao do indivduo do ponto de vista esttico aspectos da
anatomia, morfologia e postura das estruturas orofaciais e,
principalmente, dinmicos, isto , durante a realizao das dife-
rentes atividades funcionais. O objetivo detectar desequilbrios
importantes que possam interferir negativamente na cirurgia (D
AGOSTINO, 1987 e 1988), sendo os dados obtidos, em sua maioria,
de carter subjetivo e, portanto, qualitativos e no quantitativos. ,
no entanto, importante estabelecer alguns parmetros mensur-
veis para uma comparao efetiva entre os resultados pr e ps-
cirrgicos (ALTMANN, 1987).
De um modo geral, a avaliao destes pacientes segue os
preceitos j discutidos, no captulo anterior, da avaliao habitual
do sistema estomatogntico.
796 Fonoaudiologia Prtica
Devem-se considerar:
Simetria e proporo facial: a) ntero-posterior: posio da
maxila em relao mandbula; b ) craniocaudal: relao entre
teros superior, mdio e inferior da face; c) ltero-lateral: assime-
tria de hemifaces, cuja presena, quando relacionada aos tecidos
moles, pode indicar a presena de uma mastigao unilateral,
salvo os casos de atrofias hemicraniofaciais.
Postura de cabea e ombros
A posio fisiolgica da mandbula em repouso depende da
posio da cabea, assim como mudanas na posio da cabea
tambm produzem mudanas na posio da lngua na cavidade
oral (SCHWARZ, 1928). Alm disso, a durao da fase de mascagem
do msculo masseter mostrou-se reduzida quando a cabea
estava flexionada para frente e aumentada quando flexionada
para trs, assim como a atividade integrada mxima da EMG
(eletromiografia) mostrou-se diminuda para o msculo masseter
quando a cabea estava fletida para frente em estudo realizado
por WINNBERG & PANCHERZ (1983).
Exame dos rgos fonoarticulatrios (lbios, lngua, freios
labiais e lingual, bochechas, palato mole e duro, arcos dentrios):
quanto aos seus aspectos anatomomorfolgicos; alm da inspe-
o da orofaringe com relao presena de amgdalas
hipertrficas.
A mobilidade de lbios, lngua, bochechas, palato mole e
mandbula avaliada pedindo-se ao paciente para executar, ou
reproduzir a partir de modelo, tanto movimentos simples quanto
seqencializados. Nos casos destes pacientes, a serem subme-
tidos uma cirurgia ortogntica, no comum que se apresentem
problemas significativos nessa rea, a no ser na presena de um
freio lingual muito anteriorizado, por exemplo, prejudicando a
movimentao da lngua.
Nos casos onde existam dvidas quanto integridade do
fechamento velofarngeo, na presena de uma hipernasalidade
leve ou mesmo discreta, por exemplo, deve-se realizar uma
avaliao minuciosa de tal esfncter por meio de endoscopia
flexvel (nasofaringolaringoscopia), preferencialmente. Tal proce-
dimento particularmente importante nas programaes de avan-
o maxilar, principalmente na presena de fissuras palatinas.
Devem-se sempre relacionar os dados obtidos durante a
avaliao da morfologia e fora muscular tipologia facial obser-
vada, segundo seu perfil sseo e com relao aos tecidos moles.
Relacionamos, ainda, o tipo facial ao tipo de mordida e de ocluso
apresentadas, do mesmo modo que anotamos a presena de
agenesias de elementos dentrios, falhas por extraes, altera-
es de implantao dentria, distemas, desvios da linha mdia,
o estado de conservao dos dentes, etc.
Ainda com relao interveno da forma na funo, quanto
ao tamanho e conformao do palato duro, se ogival pode estar
relacionado presena de uma respirao de modo oral e, por
Cirurgia Ortogntica e Fonoaudiologia 797
Leitura recomendada
ALTMANN, E.B.C. Avaliao miofuncional nas deformidades
maxilomandibulares. In: PSILLAKIS, J. M.; ZANINI, A.S.; MLEGA,
M.J.; COSTA, A.E.; CRUZ, L.R. Cirurgia Craniomaxilofacial
Osteotomias Estticas da Face . Rio de Janeiro, MEDSI, 1987. pp.
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804 Fonoaudiologia Prtica
35
Desordens
Temporomandibulares
Nicolas Tenorio-Cabezas
ANATOMIA DA ARTICULAO
TEMPOROMANDIBULAR
A articulao temporomandibular (ATM) est localizada entre
a regio distal e superior terminal da mandbula e a regio inferior
e lateral do osso temporal, sendo limitada posteriormente pela
espinha ps-glenide, a regio escamosa do temporal, o conduto
auditivo externo e a regio posterior da fossa mandibular, anterior-
mente pelo tubrculo articular, medialmente pela espinha do
esfenide, lateralmente pela parede lateral externa da fossa
mandibular e o msculo masseter, superiormente pelo osso
temporal e arco zigomtico.
importante enfatizar que a ocluso dentria influencia nota-
velmente a posio e movimentos das estruturas internas da
cpsula articular, o disco interarticular ajustado entre as super-
fcies articulares e serve para compensar as irregularidades
destas superfcies articulares, adaptando-se perfeitamente sobre
as superfcies recprocas contrrias.
COMPONENTES ARTICULARES
A ATM um elemento do aparelho estomatogntico, constituin-
do um sistema dinmico. As caractersticas anatmicas e funcio-
nais sero analisadas em conjunto com as morfolgicas, que as
classificam como articulao ou diartrose, sendo seu mecanismo
funcional baseado nos princpios de uma articulao cncavo-
convexa, na qual, em cada articulao, existem duas articulaes,
806 Fonoaudiologia Prtica
1 9 7
6
3
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10
6 13
5
6
14
16
4
12
15
Cndilo mandibular
O cndilo da mandbula composto pela cabea e pescoo;
a cabea de forma ovide, convexa muito mais no sentido
ntero-posterior e menos em sentido mediolateral e com conve-
xidade aumentando ao redor do plo medial; a parte superior do
cndilo a superfcie que articula junto ATM, apresentando o
eixo perpendicular ao ramo da mandbula. Numa vista lateral, o
Desordens Temporomandibulares 807
Fossa mandibular
composta inteiramente pela poro escamosa do osso
temporal, localizada na face inferior do osso temporal, anterior
aos elementos do tmpano do complexo temporal, sendo, na
parte posterior, cncava tanto no sentido lateral quanto ntero-
posterior. Sua parte anterior apresenta uma eminncia articular
convexa.
Do ponto de vista funcional, a parte cncava da fossa mandi-
bular no constitui um componente funcional da mesma, servindo
apenas como receptor para o cndilo, quando se aproxima a
mandbula da maxila; a parte superior est constituda pela
superfcie cncava superior do disco e o cndilo da mandbula. Ao
relacionar as superfcies articulares tanto da eminncia articular
quanto do cndilo mandibular, estas apresentam as superfcies
articulares convexas e, portanto, h uma relao incongruente
que torna necessria a existncia do disco que passa a ser a
compensao funcional desta incongruncia.
A fossa mandibular encontra-se localizada abaixo e na frente
do meato acstico externo, limitada, no meio, pela fissura
escamotimpnica e atrs pelo tubrculo ps-glenide do osso
temporal que forma o limite posterior da fossa mandibular. A
poro timpnica do osso temporal encontra-se atrs da ATM, e
com o tubrculo ps-glenide evita-se um deslocamento posterior
que traumatizaria esta rea.
Eminncia articular
A eminncia articular o cndilo do osso temporal que forma
o limite anterior da fossa mandibular, convexa no sentido ntero-
posterior; sua superfcie anterior apresenta uma inclinao suave
que tem continuidade com a raiz mdia do arco zigomtico; sendo
o cndilo e o disco articular movimentados para frente da eminn-
cia articular, quando se realiza a abertura bucal normal, esta
posio considerada fisiolgica.
808 Fonoaudiologia Prtica
Disco articular
O disco articular uma placa de forma ovalada, com perfil em
S itlico nos cortes sagitais. O disco separa a ATM em dois
compartimentos, que alm de dividir em duas cavidades por
intermdio das superfcies bicncavas, estas so recprocas e
congruentes nos dois compartimentos, de tal modo que, funcio-
nalmente, tanto o cndilo como a eminncia articular do osso
temporal encontram-se em contato, no entre si, mas contra a
superfcie oposta do disco. A poro central mais delgada do que
as margens, onde o tecido fibroso mais denso; a poro central
do disco tem de 1 a 2 mm de espessura e est localizada entre as
superfcies articulares que suportam presso; esta poro do
disco avascular e no est inervada.
Pela parte medial e lateral, o disco se insere dentro das
margens laterais rugosas do cndilo. Nesse sentido, o disco e a
cpsula esto separadamente unidos medial e lateralmente em
inseres independentes da cpsula, o que permite que o disco se
movimente com o cndilo (RAYNE, 1987; OKENSON , 1991).
Na parte posterior, o disco est conectado cpsula por um
coxim esponjoso retrodiscal que se curva abaixo e ao lado do
cndilo, apresentando uma rea de tecido frouxo ricamente
vascularizado denominado zona retrodiscal. Nesta rea, o disco
se une cpsula fibrosa que envolve a articulao. Ele est
formado por uma camada inferior e superior de feixes alargados
de tecido conjuntivo, denominada zona bilaminar; as camadas
emergem e divergem do disco para o fuso com a cpsula articular
acima e abaixo. O estrato superior ou lmina superior liga-se ao
processo ps-glenide e sua borda medial o verdadeiro limite
posterior da articulao. Esta lmina fixada por fibras elsticas
que exercem um efeito retrtil no disco, sob certas condies; a
lmina inferior curva-se inferiormente ao lado do cndilo, unindo-
se cpsula no limite inferior do espao articular, no colo condilar.
Pela frente, o disco encontra-se em conexo com a cpsula, onde
o feixe superior do msculo pterigide lateral se insere, atravs da
cpsula na parte mdia do bordo anterior do disco (WILKINSON,
1988; CARPENTIER e cols. 1988; WILKINSON & CHANG, 1989; DEO
e cols., 1988); outros autores no compartilham esta opinio,
acreditam que s em alguns pode-se encontrar uma verdadeira
insero (YUNG e cols., 1990; LOUGHNER e cols., 1996).
O disco estabilizado pelos ligamentos ao cndilo, de tal
forma que este fique fixo em posio, evitando que se movimente
para trs e para acima, quando a mandbula exerce uma grande
presso.
Cpsula articular
uma membrana fibrosa e fina que envolve a ATM; insere-se
no osso temporal nos limites mdio e lateral da fossa mandibular
e na frente, at a eminncia articular, e atrs, aparece na super-
Desordens Temporomandibulares 809
Ligamentos
1. O ligamento temporomandibular um ligamento denomina-
do colateral, e apresenta suas fibras orientadas de tal maneira,
que nos movimentos da articulao estas fibras no so distendidas
ou relaxadas o que indica que os ligamentos da ATM no restrin-
gem o movimento normal da mandbula e, por isso, no so
necessrios para o funcionamento da articulao. Embora acre-
dite-se que este ligamento limite os movimentos retrusivos da
mandbula, protegendo os tecidos da regio posterior da ATM.
2. O ligamento esfenomandibular um resqucio da cartilagem
de Meckel; eleva-se a partir da espinha angular do osso esfenide
e da fissura petrotimpnica e depois corre em direo posterior e
externamente at inserir-se na lngua da mandbula; este ligamento
passivo durante os movimentos da mandbula, mantendo relativa-
mente a mesma intensidade de tenso durante a abertura e o
fechamento da boca.
3. O ligamento estilomandibular uma densa concentrao
localizada na fscia cervical; estendendo-se a partir do processo
estilide para o ngulo mandibular, cobrindo a superfcie externa
do processo e do ligamento estilide e ligando-se ao osso na parte
posterior do ngulo mandibular, difundindo-se anteriormente como
ampla lmina fascial cobrindo a superfcie interna do msculo
pterigide medial; o ligamento estilomandibular est frouxo quan-
do as arcadas esto fechadas ou quando a mandbula est em
repouso e relaxa-se notoriamente quando a boca est aberta,
porque o ngulo da mandbula oscila para cima e para trs e ao
mesmo tempo o cndilo desliza para baixo e para frente.
Membrana sinovial
A membrana sinovial uma fina camada muito vascularizada
de tecido conjuntivo, que reveste as superfcies da ATM, no
suporta presso e no funcionante; esta membrana especial-
mente abundante nos setores mais vascularizados e inervados
das superfcies superior e inferior da zona retrodiscal, sempre se
apresentando nas regies perifricas rea funcional.
Estes tecidos produzem o lquido sinovial, que um dialisado
dos vasos sangneos; formado principalmente de uma
proteoglicana que contm cido hialurnico e um complexo de
mucopolissacardeos que reforam as proteoglicanas dentro de
um dialisado plasmtico, dando as caractersticas de lubrifican-
te e deslizante ao lquido sinovial. A quantidade de lquido
sinovial aumenta quando a articulao encontra-se sob maior
810 Fonoaudiologia Prtica
DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES
As desordens temporomandibulares (DTM) so caracteriza-
das como doenas que envolvem vrios problemas clnicos,
comprometendo os msculos da mastigao; a ATM e estruturas
orofaciais associadas so as principais causas de dor de origem
no-dental na regio orofacial.
O sintoma mais comumente encontrado a dor nos msculos
da mastigao, na regio pr-auricular e na ATM. Tambm
apresentam estalos articulares e dificuldade de abertura bucal.
Apresentamos a seguir os principais diagnsticos de acordo
com a American Academy of Oral Pain (1993).
Desordens internas
Deslocamentos do disco
Deslocamento do disco com reduo O disco est deslo-
cado da sua posio entre o cndilo e a eminncia para uma
posio anterior e medial ou lateral, mas reduo em abertura
total, geralmente resultando em um rudo.
A) Terapia inicial
1. Descanso articular por reduo do uso da mandbula por
dieta mole e limitao de movimentos.
2. Aplicao de bolsas de calor ou gelo.
3. Medicao analgsica e drogas antiinflamatrias no este-
rides (AINE) quando necessrias.
4. Explicao detalhada das desordens aos pacientes, com
linguagem clara e simples.
Concomitantemente realizada uma conscientizao dos
hbitos parafuncionais para se conseguir uma modificao do
comportamento:
1. Educar o paciente para evitar hbitos de apertar os dentes e de
manter tenso muscular nos msculos orofaciais e da mastigao.
2. Ensinar ao paciente exerccios de conscientizao de
postura de ombros, cabea, mandbula e lngua.
3. Realizar consulta psicolgica para detectar e reduzir estresse.
4. Indicar tratamento para conseguir o relaxamento.
D) Condies inflamatrias
a) Artralgia
Sinovite.
Tratamento
1. Se a origem da dor duvidosa, realizar bloqueio anestsico.
2. Dor intracapsular tratada como osteoartrite, incluindo
terapia inicial e placa estabilizadora.
3. Se a dor for refratria a isto e persistente, considerar
artrocentese.
Injria traumtica.
Capsulite.
Tratamento
1. Tratar com terapia inicial incluindo drogas antiinflamatrias
no-esterides.
2. Terapia fsica na fase aguda e tambm como suporte.
3. Seqelas ps-traumticas so tratadas de acordo com o
diagnstico: estalido, travamento, alteraes oclusais ou at,
em alguns casos, anquilose articular.
4. Deslocamento condilar demonstrado radiograficamente
deve ser reduzido manualmente, s vezes com sedao endo-
venosa.
5. Estiramento traumtico de ligamentos e msculos so
tratados com terapia inicial e fsica para aliviar sintomas agudos.
a) Dor miofascial
Tratamento
1. Terapia inicial por 14 a 21 dias, no mnimo.
2. Medicao antiinflamatria no-esteride para controlar o
edema e inflamao.
3. Assim que inflamao e dor cessarem, instituir exerccios de
mandbula e lngua para obter coordenao, fora, comprimento
e postura muscular.
4. Havendo hbitos de apertar e ranger dentes, devemos
indicar o uso de placa estabilizadora nas primeiras 6 a 8 semanas
(exceto durante a alimentao), para relaxar, estabilizar e prote-
ger estruturas e reduzir atividade muscular noturna. Ajustar a pla-
ca para obter contatos em relao cntrica e habitual e deso-
cluso anterior. Paciente no deve morder a placa, pois ela no
tem por finalidade repor ou realinhar a mandbula. O no uso da
placa para comer previne m-ocluso induzida pela mesma.
5. Alguns pacientes podem se queixar de ocluso instvel repe-
tida e consistente, o que pode ser corrigido com ajuste oclusal, porm
somente aps a resoluo dos sintomas mantida por algum tempo.
6. Se problemas oclusais extensos existem, pode ser necess-
rio tratamento ortodntico, prtese ou cirurgia ortogntica, porm
sua indicao no deve ser diferente daquela de pacientes normais.
7. Na suspeita de tenso muscular orofacial, dar nfase ao
treinamento de postura correta e relaxamento de mandbula e
lngua. Se h travamento reflexo ou trismo so indicados exerc-
cios de estiramento.
8. Se h dor miofascial generalizada, usar vapor de gelo,
massagem, injeo anestsica (procana) em trigger points, se-
guidos de estiramento dos msculos envolvidos. Concomitante-
mente, exerccios caseiros e relaxamento devem ser institudos.
9. Se a dor persistir por mais de 3 a 4 semanas, checar o
cumprimento dos exerccios caseiros, pois muitas vezes no so
executados regular ou corretamente.
Desordens Temporomandibulares 819
b) Miosite
Tratamento
1. Terapia inicial com bolsa de gelo.
2. Medicao antiinflamatria no-esteride.
3. Terapia fsica (ultra-som, TENS).
4. contraproducente a placa oclusal, a no ser em evidente
presena de bruxismo.
c) Espasmo
Tratamento
1. Aplicar gelo e estirar o msculo nos limites suportveis.
2. Medicao relaxante muscular.
3. Placa estabilizadora.
4. Terapia de modificao de comportamento.
5. Terapia fsica de mobilizao para restabelecer comprimen-
to muscular e diminuir atividade. Programa de exerccios.
6. Bloqueio anestsico e estiramento passivo do msculo, se
necessrio.
Agradecimentos
Cirurgi Dentista Francine Ribeiro de Arruda pela reviso bibliogrfica e
correo do texto.
Leitura recomendada
ASH, C.M. & PINTO, O.F. The temporomandibular joint and the middle
ear: structural and functional correlates for aural symptoms associated
with temporomandibular joint dysfunction. Int. J. Prosthodont., 4:51-57,
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820 Fonoaudiologia Prtica
36
Atuao Fonoaudiolgica na
Desordem
Temporomandibular
Wanderlene Anelli
Questiona-se quanto:
sade geral/sono;
tenso corporal;
hbitos parafuncionais e de postura da mandbula;
funes estomatognticas;
dentes/prteses dentrias/tratamento ortodntico;
voz;
psicodinmica, incluindo satisfao pessoal e motivao no
ambiente de trabalho, social e familiar.
necessrio verificar se o paciente j fez algum tratamento
com relao queixa apresentada.
de grande importncia ouvir o paciente no que ele tiver a
necessidade de falar, esclarecer, questionar. Porque muito do que
ele tem a dizer normalmente est diretamente relacionado dor
que ele sente e o motivo pelo qual ele procura os profissionais
que o tratam e neste momento o fonoaudilogo.
A avaliao clnica fonoaudiolgica deve iniciar observando-
se a postura corporal do indivduo, principalmente quanto coluna
vertebral, ombros, posio da cabea em repouso, assimetrias
entre os lados do corpo. Observar a tonicidade muscular geral do
corpo, atendo-se regio cervical e pescoo.
Observar a face, verificando se h assimetria entre as hemifaces
e as pores superior, mdia e inferior. Constatar o tipo facial
(mesofacial, dlicofacial, braquifacial) do paciente importante
para verificarmos a adaptao feita pelos rgos fonoarticulatrios
(OFA) no repouso e nas funes estomatognticas.
Na avaliao, devem-se verificar a morfologia, tonicidade e
mobilidade dos OFAs.
Leitura recomendada
BARROS, J.J. Mioterapia na Sndrome de Dor e Disfuno da Articu-
lao Temporomandibular in Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo
Facial. So Paulo, 1993.
CORREIA, F.A.S. Aspectos fonoaudiolgicos da ATM. In: BARROS, J.J.
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ATM. Editora Santos, 1995.
FELCIO, C.M. Fonoaudiologia nas Distrbios Temporomandibulares.
So Paulo, Pancast Editora, 1994.
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MOLINA, O.F. Disfuno da ATM in Fisiopatologia Craniomandibular.
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Estomatogntico in Fisiopatologia Craniomandibular. So Paulo,
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bulares ATM. Editora Santos, So Paulo, 1995.
Fissuras Labiopalatinas e Insuficincia Velofarngea 829
37
Fissuras Labiopalatinas e
Insuficincia Velofarngea
Ldia DAgostino
Liliane Pereira Machado
Rejane Aparecida de Lima
A B
C D
E F
FIGURA 37.1 A) Fissura pr-forame incompleta unilateral esquerda. B) Fissura pr-forame completa
unilateral esquerda. C) Fissura ps-forame completa. D) Fissura ps-forame incompleta. E) Fissura
transforame unilateral esquerda. F) Fissura transforame bilateral.
A B
FIGURA 37.2 A) Fissura pr-forame cicatricial de Keith. B) Observa-se durante a protruso labial,
depresso na cicatriz.
A B
FIGURA 37.4 A) Fissura submucosa, nota-se zona translcida mediana no palato. B) Viso
nasolaringoscpica de fissura submucosa oculta, nota-se depresso na superfcie do vu palatino.
Fissuras Labiopalatinas e Insuficincia Velofarngea 833
Fissura submucosa
Na fissura submucosa ocorre a clssica trade, associada
voz de qualidade predominantemente nasal:
vula bfida.
Distase da musculatura velar, observando-se uma zona
translcida mediana.
Chanfradura na borda posterior do palato (palpvel com o
dedo).
ATUAO INTERDISCIPLINAR
A reabilitao completa dos pacientes portadores de fissuras
labiopalatinas constitui a meta principal de todo o tratamento
realizado em equipe (Fig. 37.5). O tratamento no exclusiva-
mente cirrgico, mas sim interdisciplinar, no qual todas as reas
se complementam. Cada profissional faz sua avaliao especfi-
ca, estabelece o seu seguimento pr e ps-cirrgico dentro do
Fissuras Labiopalatinas e Insuficincia Velofarngea 835
Equipe interdisciplinar:
Cirurgia plstica
Gentica
Pediatria
Otorrinolaringologia
Ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares
Nutrio
Fonoaudiologia
Sade mental
Servio social
Outros
Cirurgia plstica
Nutrio Gentica
Otorrino Outros
Fonoaudiologia
Cirurgia plstica
O cirurgio plstico faz a avaliao do tipo de fissura, planeja a
cronologia do seu tratamento e realiza a cirurgia. fundamental que
o cirurgio conhea a fundo as alteraes anatmicas especficas
das fissuras labiopalatinas, a fim de restaurar a anatomia e propor-
cionar o equilbrio muscular, restabelecendo as funes alteradas e
promovendo um crescimento facial adequado, possibilitando assim
a correo funcional a ser realizada pelo fonoaudilogo.
A cronologia e a tcnica cirrgica eleita variam segundo cada
cirurgio. A maioria dos cirurgies realiza a queiloplastia, correo
cirrgica dos lbios, por volta dos 3 meses de idade. Nesta poca,
a criana j atingiu o peso adequado, cerca de 6 kg, e a regio
labial apresenta dimenses anatmicas favorveis para serem
manipuladas cirurgicamente. Cuidados especiais devem ser to-
836 Fonoaudiologia Prtica
Gentica
O geneticista avalia o caso para determinar possveis causas
e orienta a famlia quanto ao risco de repetio da patologia. Nos
casos de fissuras labiopalatinas associadas a sndromes, o
diagnstico detalhado importante no planejamento cirrgico e
demais tratamentos. Por exemplo, na Trissomia 13 (sndrome de
Patau) h importante cardiopatia; na sndrome velocardiofacial h
risco de seco da artria cartida durante a faringoplastia devido
presena de ectopia da cartida.
O aconselhamento gentico oferece famlia a opo de gerar
ou no outros filhos mediante o conhecimento do risco de repeti-
o da patologia.
Pediatria
O pediatra avalia o desenvolvimento ponderoestatural e as
condies gerais da criana, verificando se h queixa quanto a
dificuldades constantes de deglutio comprometendo o estado
nutricional, que pode ser um problema isolado prprio da fissura,
decorrente de distrbios transitrios normais da infncia ou patolo-
gias que requerem conhecimentos de reas especficas como
neurologia, pneumologia gastroenterologia e otorrinolaringologia.
Fissuras Labiopalatinas e Insuficincia Velofarngea 837
Otorrinolaringologia
O otorrinolaringologista realiza o diagnstico, o acompanha-
mento e a conduta nos casos de infeces e alteraes auditivas,
de vias areas superiores, de faringe e de laringe.
Os indivduos portadores de malformaes craniofaciais so
de risco para o desenvolvimento de perdas auditivas de acordo
com o Joint Committee on Infant Hearing (1994). MACHADO e cols.
(1995) identificaram cerca de 76% de achados imitanciomtricos
sugestivos de alterao condutiva em indivduos portadores de
fissuras palatinas nas idades de 2 meses a 12 anos, independen-
temente da correo cirrgica do palato.
A atresia parcial de coanas outra malformao associada
s fissuras labiopalatinas, principalmente nos quadros
sindrmicos, considerada um fator determinante de dificuldade
de respirao no recm-nascido e que requer o acompanha-
mento otorrinolaringolgico.
Ortodontia e odontopediatria
A seqela ssea das fissuras labiopalatinas determina altera-
es importantes no crescimento dos processos alveolares e das
arcadas dentrias, interferindo no crescimento facial, caracteriza-
do por hipoplasia maxilar. A interveno da ortopedia funcional
pr e ps-cirrgica so de fundamental importncia para direcio-
nar o crescimento dos segmentos alveolares e propiciar correo
ortodntica (Fig. 37.6A e B; e Fig. 37.7A e B).
A B
FIGURA 37.6 A) Fissura transforame bilateral com protruso da pr-maxila. B) Fissura transforame
unilateral muito larga, com lcera de contato na mucosa do vmer causada pelo bico da mamadeira.
Indicao de uso de placa palatina pr-cirrgica em ambos os casos.
838 Fonoaudiologia Prtica
A B
FIGURA 37.7 A) Placa palatina ortopedia pr-cirrgica. B) Beb com a placa palatina. (Fotos cedidas
pela Prof. Dr. Mrcia Andr. Disciplina de Prtese Buco-maxilo-facial da Faculdade de Odontologia
da Universidade de So Paulo/FOUSP.)
Nutrio
Os pacientes portadores de fissuras labiopalatinas freqen-
temente apresentam carncia nutricional por falta de informa-
o da famlia em relao ao valor nutritivo dos alimentos e
medo de alimentar a criana frente s dificuldades de alimenta-
o por via oral. O nutricionista, em conjunto com o pediatra e
o fonoaudilogo, orienta a me principalmente nos casos em
que a presena de anemia e baixo peso impossibilitam a cirurgia
dentro da cronologia eleita.
Fonoaudiologia
O fonoaudilogo tem atuao efetiva dentro da equipe no
diagnstico e no acompanhamento pr e ps-cirrgico, com
intervenes adequadas a cada fase do seu desenvolvimento e
planejamento cirrgico.
Servio social
O assistente social faz o estudo scio-econmico da famlia,
da dinmica familiar, do ambiente e das condies de moradia
para detectar possveis fatores que interfiram no tratamento
proposto pela equipe e estabelece meios para viabiliz-lo.
ATUAO FONOAUDIOLGICA
Recm-nascido
Quando o primeiro atendimento realizado no berrio, a
atuao deve ser o mais delicada possvel, pois uma malformao
na face do recm-nascido muito difcil de ser aceita pelos pais
e familiares. O sentimento de rejeio est presente e deve ser
encarado, neste momento, como normal, pois a me no espera
nove meses por uma criana com problemas, devendo ser auxi-
liada na elaborao da rejeio e na criao de vnculos positivos
com o recm-nascido para poder colaborar efetivamente no
tratamento. um momento delicado, no qual o vnculo me-filho
no est formado e dele dependem funes vitais da criana,
como a amamentao. Este fato nos traz a questo quanto
dificuldade maior do aleitamento materno ser da criana ou da
me em aceitar amamentar um beb malformado.
O aleitamento materno um fator importante e necessrio para
a formao da imunidade contra infeces respiratrias e otites
mdias, entre outras doenas infectocontagiosas, alm de propiciar
o adequado desenvolvimento da face e a maturao do sistema
motor oral.
Anamnese
Na anamnese devem constar informaes quanto a:
intercorrncias e uso de medicamentos na gestao;
condies do nascimento;
intercorrncias no parto;
antecedentes familiares;
estado emocional da me.
Avaliao
Na avaliao do recm-nascido devem-se considerar:
classificao das caractersticas da malformao, no caso
de sndromes; no se conhecendo a classificao, devem-
se descrever as caractersticas da malformao como por
exemplo: lbio em formato de gaivota, implantao baixa de
orelha, face assimtrica, fcies atpica;
reflexos neuromotores;
condies morfofuncionais dos rgos fonoarticulatrios;
condies de alimentao por via oral: relao entre a fora
da suco e o fluxo do leite.
840 Fonoaudiologia Prtica
Alimentao
O ideal o aleitamento materno, mas diante da dificuldade da
criana na alimentao ou da me em lidar com a situao,
freqentemente adotada a mamadeira. O uso da sonda naso-
gstrica fica restrito a casos especiais como na seqncia de
Pierre Robin nos primeiros dias de vida ou cardiopatias, para se
evitar situaes de estresse e esforo e conseqente perda de
peso e risco de vida.
A postura de alimentao dever ser totalmente vertical, para
impedir o refluxo nasal e aspirao broncopulmonar.
Quanto ao bico preconiza-se o tipo ortodntico por ter o
bulbo mais curto, o que propicia a anteriorizao da lngua.
Normalmente, a lngua encontra-se inserida na fenda e, portan-
to, posteriorizada. Contudo, algumas crianas tm dificuldade
de adaptao a este formato de bico, ocorrendo perda significa-
tiva de peso. Nestes casos, temos que ser maleveis tentando
outros formatos, partindo do princpio de que o bico bom
aquele no qual a criana consegue sugar. O furo tem que ser
adequado fora de suco do beb, com o fluxo de leite
prximo ao gotejar constante, permitindo que a criana se
alimente com ritmo e coordenao da suco, deglutio e
respirao, mantendo-se sempre o bico cheio de leite evitando-
se assim a ingesto excessiva de ar.
Alguns sinais nos fazem suspeitar de incoordenao de
suco e de deglutio como a contrao e o rubor da regio
Fissuras Labiopalatinas e Insuficincia Velofarngea 841
Fonoaudilogo
Paciente Famlia
842 Fonoaudiologia Prtica
0 a 3 anos de idade
O acompanhamento nessa fase mensal, com avaliao do
desenvolvimento global da criana, incluindo orientaes me
quanto aos aspectos:
motor
auditivo
cognitivo
lingstico
nutricional
Desenvolvimento cognitivo-motor
O desenvolvimento cognitivo-motor est relacionado ao da
fala, devendo ser valorizado, explicando-se me cada fase do
desenvolvimento na qual o beb se encontra e orientando-a
quanto a atividades de estimulao. PEREIRA (1995) constatou
que geralmente estas crianas desenvolvem-se hipoativas,
manipuladoras, com contato pobre, dificuldades de vivenciar
situaes novas, inseguras e dependentes, introvertidas e emoci-
onalmente imaturas, apresentando conseqentemente dificulda-
des na rea psicomotora.
O desenvolvimento cognitivo motor adequado e a capacidade
de manter a ateno e a concentrao em atividades dirigidas so
fatores fundamentais para a realizao do processo teraputico
em torno dos 3 anos de idade.
O desempenho da criana avaliado nos retornos mensais.
Caso no se encontre dentro dos padres normais de desenvol-
vimento, deve-se procurar a etiologia orgnica ou funcional,
muitas vezes com um circunstancial agravante e realizar os
devidos encaminhamentos.
Fissuras Labiopalatinas e Insuficincia Velofarngea 843
Funo auditiva
O fonoaudilogo e a famlia devem ficar atentos para detectar
possveis sinais de alteraes auditivas. Recomenda-se avalia-
o audiolgica peridica a cada 6 meses atravs da realizao
de audiometria e imitanciometria. A otite mdia secretora a
causa mais freqente das alteraes auditivas.
PROCEDIMENTOS FONOAUDIOLGICOS NO
PS-CIRRGICO DAS FISSURAS LABIOPALATINAS
Os cuidados ps-operatrios imediatos envolvem a alimenta-
o, que deve ser reiniciada to logo a criana esteja acordada da
anestesia, mantendo dieta lquida e em temperatura ambiente,
844 Fonoaudiologia Prtica
Palato mole
Extenso em relao parede posterior da faringe.
Presena de fstulas, cicatrizes hipertrficas ou deiscncias.
Mobilidade do vu palatino e medializao das paredes
laterais da faringe atravs do reflexo de vmito ou choro em
crianas menores e atravs da emisso das vogais susten-
tadas /a/ ou /e/ em crianas maiores e adultos.
Palato duro
Aspecto da cicatriz cirrgica.
Presena de fstulas ou deiscncias.
Presena de atresia.
Fatores orgnicos
Resultado anatomofuncional do tratamento cirrgico.
Insuficincia velofarngea.
Fatores individuais, como cicatrizao.
Alteraes dentrias e oclusais.
Distrbios da audio, perifrico e/ou central.
Distrbios respiratrios.
Outros comprometimentos.
Fatores funcionais
Manuteno de padres neuromusculares aprendidos in-
corretamente.
846 Fonoaudiologia Prtica
Fatores circunstanciais
Desenvolvimento afetivo-emocional.
Atitudes inadequadas dos pais por superproteo ou aban-
dono.
Meio ambiente pouco estimulador, principalmente no que se
refere comunicao e estimulao sonora.
Orientao inadequada dos profissionais da sade.
Orgnicas
Desproporo palatofarngea congnita constituda por pa-
lato curto congnito, faringomegalia ou associao de ambos.
Desproporo palatofarngea adquirida decorrente de ade-
noidectomia.
Alteraes anatmicas dos msculos do palato e do anel
velofarngeo.
Paresia ou paralisia palatina, central ou perifrica.
Funcionais
Deficincia mental.
Deficincia auditiva.
MSCULOS PALATOFARNGEOS
Os msculos da regio da faringe nasal so:
msculo tensor do vu palatino;
msculo elevador do vu palatino;
msculo da vula (par)
msculo palatofarngeo
msculo constritor superior da faringe;
msculo palatoglosso.
850 Fonoaudiologia Prtica
Msculo palatofarngeo
Tensiona a parede lateral farngea superior e medialmente,
estreitando a orofaringe. Sem funo nos sons nasais.
Msculo palatoglosso
Movimenta o vu palatino para baixo e para frente.
Ressonncia
0. Ressonncia normal.
1. Ressonncia normal, levemente nasal mas aceitvel.
2. Ressonncia predominantemente nasal com necessidade
de tratamento.
3. Ressonncia severamente nasal com necessidade urgente
de tratamento.
4. Fala ininteligvel devido hipernasalidade.
Articulao
0. Sem articulao gltica (articulao normal).
1. Articulao com enfraquecimento de fonemas.
2. Articulao com pontos corretos e/ou com omisses e
discreta co-articulao gltica.
3. Substituio gltica ocasional e co-articulao consider-
vel.
4. Substituies glticas na maioria dos sons plosivos e
fricativos.
Conduta
Sem insuficincia velofarngea e com distrbio articulatrio
terapia fonoaudiolgica.
Lbios
Cicatrizes hipertrficas, prejudicando a mobilidade: protru-
so, distenso e ocluso labial (Fig. 37.8B).
Deiscncias por infeco ou uso inadequado das tcnicas
cirrgicas (Fig. 37.8C).
Fissuras Labiopalatinas e Insuficincia Velofarngea 855
A B
Palato anterior
A presena de fstulas e deiscncias da mucosa do palato
anterior no prejudicam a voz, porm podem proporcionar escape
nasal de lquidos durante a alimentao. A correo cirrgica
realizada aps tratamento ortopdico-ortodntico para expanso
palatina quando h colapso das lminas, provocado pela retrao
cicatricial da mucosa. A interveno cirrgica antes do procedi-
mento de separao das lminas palatinas poder ser intil pois,
com a expanso, h risco de recidiva da fstula. O palato anterior
atrsico dificulta a postura lingual em repouso, na articulao dos
fonemas linguoalveolares, assim como, a adequada coaptao
no ato da deglutio (Fig. 37.9).
856 Fonoaudiologia Prtica
Palato posterior
As seqelas do palato posterior, fstulas ou cicatrizes, so
significativas no que diz respeito fonao, sendo a gravidade
proporcional dimenso da seqela.
Fstulas
As fstulas assintomticas com menos de 5 mm provocam o
escape de lquidos mas no afetam a voz, porm, as maiores
que 5 mm, consideradas sintomticas, provocam escape de
lquidos, de alimentos e escape nasal durante a emisso fonoarti-
culatria (Fig. 37.10 A e B). A correo das fstulas deve ser feita
posteriormente terapia fonoarticulatria. No processo tera-
putico, no h preocupao com o escape nasal e sim com a
correo fonoarticulatria. Uma vez corrigida a articulao,
realiza-se a avaliao da funo velofarngea atravs da
nasolaringoscopia. Detectando-se a insuficincia velofarngea,
o cirurgio plstico realiza a correo da fstula e da insuficin-
cia velofarngea num nico tempo cirrgico. Quanto a menos
A B
Cicatrizes
As cicatrizes hipertrficas (Fig. 37.11) so seqelas que
podem ser decorrentes de grandes descolamentos periostais,
manuseio agressivo dos instrumentos cirrgicos, falta de domnio
da tcnica cirrgica ou infeces no ps-operatrio.
Na avaliao clnica, observa-se hipertrofia da cicatriz cirrgi-
ca ou mau direcionamento das fibras musculares. Em alguns
casos, na avaliao nasolaringoscpica observa-se boa mobilida-
de das paredes laterais e posterior da faringe, mas o vu palatino
no se aproxima para participar do fechamento velofarngeo,
limitado pela presena da cicatriz. O palato posterior pode, em
casos mais graves, apresentar-se sem mobilidade devido perda
de substncia por infeco ou necrose por leso arterial, podendo
ocorrer a perda total desta estrutura.
Seqela ssea
A B
FIGURA 37.12 A) Deformidade ntero-posterior. B) Alterao da ocluso dentria.
DEFORMIDADES NASAIS
Na fissura labiopalatina unilateral, a asa do nariz do lado
fissurado apresenta uma inclinao caudal e o lado so, mais
cranial, o que leva a desvio do septo cartilaginoso, horizontalizao
e estreitamento da narina fissurada, causando obstruo nasal e
alterao na respirao.
Na fissura labiopalatina bilateral, no observamos desvio do
septo cartilaginoso, uma vez que o mesmo no est implantado
sobre nenhuma das lminas palatinas, porm a columela curta, o
que leva a uma horizontalizao e estreitamento das narinas,
provocando obstruo nasal e alterao na respirao (Fig. 37.13).
Na avaliao nasolaringoscpica, estas alteraes devem ser
consideradas pelo profissional que realiza o exame.
A B
FIGURA 37.13 A) Deformidade nasal na fissura unilateral. B) Deformidade nasal na fissura bilateral.
Fissuras Labiopalatinas e Insuficincia Velofarngea 859
Leitura recomendada
AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS: JOINT COMMITTEE ON
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860 Fonoaudiologia Prtica
38
Atuao Fonoaudiolgica
nos Distrbios Articulatrios
INTRODUO
FISIOLOGIA DA FALA
Graas ao sistema nervoso central, as estruturas dos siste-
mas respiratrio e digestivo puderam associar-se e produzir a fala.
Para WEST (1971) a fala uma funo da respirao, que se
deve s mudanas neurofisiolgicas dos reflexos larngeos, que
podem ocasionar significados discriminatrios (exemplos no por-
tugus: faca vs. vaca, casa vs. caa, etc.).
A musculatura da articulao recebe impulsos voluntrios dos
nervos cranianos: hipoglosso (XII par), glossofarngeo (IX par) e
plexo farngeo glossofarngeo, vago e acessrio (IX, X e XI
pares).
Sabe-se que a menor unidade com significado na linguagem
a palavra. Para seu reconhecimento, inicialmente a pessoa
recebe os estmulos auditivo, ttil, visual, proprioceptivo e poste-
riormente estes estmulos so levados ao lobo parietal do hemis-
frio esquerdo onde se d o reconhecimento consciente (WEST,
1971). Se a situao exige que a pessoa fale a palavra, ento os
estmulos saem do lobo parietal e vo para crtex motor esquerdo
do lobo frontal, e na rea de Broca, a palavra torna-se consciente
atravs da fala. Neste momento, as clulas motoras especiais da
fissura de Rolando (borda posterior do lobo frontal esquerdo) so
acionadas levando o estmulo para o corpo caloso e transferindo-
o para o hemisfrio direito. A partir do momento em que iniciado
o processo de emisso da palavra, sensaes na rea so
recebidas. Estas vm pelas vias auditiva e proprioceptiva. Estas
sensaes iniciam os prximos movimentos envolvendo os sons
que devero ser emitidos, formando portanto as palavras.
Atuao Fonoaudiolgica nos Distrbios Articulatrios 863
SEGMENTOS p b t d k g f v s z s z c j m n R r l y w
TRAOS
SOANTE + + + + + + + + +
SILBICO
CONSONANTAL + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +
CONTNUO + + + + + + + + + + + + +
MET. RETARD. + +
NASAL + + +
LATERAL + +
ANTERIOR + + + + + + + + + + + +
CORONAL + + + + + + + + + + + +
ALTO + + + + + + + + + + +
POSTERIOR + + + +
SONORO + + + + + + + + + + + + + + + +
ESTRIDENTE + + + + + + + +
Matriz dos segmentos consonantais do portugus, segundo o modelo de traos distintivos de CHOMSKY & HALLE
(1968).
DESENVOLVIMENTO DA FALA
Como j foi citado anteriormente, o aprendizado das pala-
vras d-se devido a uma srie de sensaes que so substi-
tudas por palavras. SAUSSURE (1972) chama de signo lingstico
aquilo que une um conceito a uma imagem acstica. Este no
o som puramente fsico, mas a impresso psquica (p. 80)
desse som.
No processo de aquisio de linguagem, a criana exposta
ao seu meio ambiente e gradativamente vai depreendendo e
emitindo os sons desta lngua, que constituiro a sua fala. Entre-
tanto, nem sempre esse processo ocorre de forma adequada.
O desenvolvimento da fala, segundo PERKINS (1971), um
produto do desenvolvimento vocal e articulatrio, mas principal-
mente do desenvolvimento lingstico. A motivao para falar
um aspecto que de forma alguma pode-se esquecer: alm do
treino da habilidade para a emisso dos fonemas, a criana
precisa saber o que quer dizer, quais as palavras que devem ser
usadas. Este processo atende especificamente a necessidade de
expressar idias.
Quando a criana torna-se capaz de selecionar os sons de sua
lngua, tambm as palavras passam a ser escolhidas corretamen-
te, atravs de escolhas gramaticais e semnticas. H a seleo
sinttica que realizar a formao das frases com contedo
significativo. Neste momento, porm, ainda h uma dificuldade: a
inteligibilidade. Nem sempre a criana tem habilidade para a
realizao do fonema. Houve o desenvolvimento fonolgico ade-
quado, mas que s vezes apresenta certos contrastes com a
produo articulatria.
O que se verifica que, embora a criana consiga depreender
os fonemas e as caractersticas que os diferenciam uns dos
outros, ela ainda no capaz de produzir estas diferenas na sua
totalidade. Os ajustes motores necessrios para tal produo
ainda no so efetivos.
Imagina-se que inicialmente a criana apenas oua uma srie
de rudos que com o tempo so distinguidos pela melodia,
evidenciando a entonao. Este procedimento favorece a com-
preenso da fala.
Os mecanismos biolgicos que determinam a fala so altamen-
te especializados. A aerodinmica do trato vocal, por exemplo,
permite um melhor controle do pitch e da qualidade dos fonemas.
Alm disso, a mobilidade da lngua, lbios e palato permite a
acuidade de movimentos, fazendo com que seja relativamente fcil
emitir sons em cadeia. O ajuste larngeo para a emisso das vogais
primordial, sendo necessria uma maturao das estruturas, que
ocorre durante o desenvolvimento da criana, a partir do choro.
Alguns fatores podem interferir no processo da articulao dos
fonemas. Segundo SPINELLI e cols. (1984), existem fatores aferen-
tes e eferentes que agem diretamente na produo articulatria.
866 Fonoaudiologia Prtica
DESVIOS DA FALA
Para PERKINS (1971) a aquisio dos fonemas d-se at os 7
anos mais ou menos. Para ele, a memria imprescindvel na
aquisio da fala principalmente para o armazenamento das
informaes adquiridas durante todo o desenvolvimento, j que a
fala e a linguagem so aprendidas.
MILISEN (1971) observou que os primeiros estudos sobre as
alteraes de fala deram-se por volta da dcada de 40. O que
provocava muito questionamento e investigao era o fato da fala
ser um processo dinmico, impossvel de se estabelecer padres
imutveis. Um mesmo indivduo pode falar de mil maneiras
diferentes a cada momento, dependendo de seu desejo. Um
mesmo som pode ser modificado pela mesma pessoa desde o seu
nascimento at a sua morte. A variabilidade aumenta, tornando
portanto as situaes mais difceis, em termos de previso de
como um som ser emitido.
Por ser a fala um meio de comunicao, ela envolve o falante
e o ouvinte. No caso de desvios da fala, tanto o falante como seu
interlocutor atuam de forma diferente, interferindo na comunica-
o. Esta interferncia pode ser incmoda e desagradvel.
Toda e qualquer ao comunicativa exige ateno. No caso
dos distrbios, esta ateno desloca o seu foco mais para a forma
como o falante fala, do que para aquilo que ele quer expressar.
Esta situao pode em pouco tempo, por exemplo num dilogo,
criar uma situao embaraosa e at de rejeio. Cabe lembrar
agora, que h um ndice de aceitabilidade, que far com que a
situao acima descrita seja mais ou menos aceita pelo interlocutor
e pelo falante, que tambm pode se sentir constrangido pelo seu
defeito. Pode-se depreender portanto, que, a medida para se dizer
se um indivduo ou no portador de um distrbio mais ou menos
grave passa a ser relativa resposta de um ou de ambos
situao de comunicao. Segundo VAN RIPER (1972), este fator
de aceitabilidade muito mais tolerado nas crianas pequenas do
que nas maiores. Espera-se que crianas pequenas falem errado,
mas no se admite que crianas em idade escolar faam o
mesmo.
IRWIN (1946) estudando o comportamento verbal de crianas,
comprovou que a freqncia de produo de sons aumenta at os
30 meses de idade. Nesta poca a criana j capaz de apresen-
tar um comportamento muito parecido com o do adulto. Entretan-
to, existem variaes individuais bastante grandes, tanto de
quantidade de fonemas como da ordem de manifestao.
As variaes de fala encontradas nas crianas indicam que
um atraso na produo dos fonemas, bem como a reduo de
variedade de produo podem constituir um dado de observao
importante para se diagnosticar uma alterao de fala.
Sabe-se que os meninos so mais lentos para adquirir a fala
e apresentam alteraes mais freqentemente do que as meni-
Atuao Fonoaudiolgica nos Distrbios Articulatrios 869
TERAPIA
A partir dos dados obtidos da anamnese e avaliao de
linguagem (embora neste texto tenha-se dado maior nfase
avaliao da fala, no se deve esquecer que a linguagem, como
um todo, deve ser analisada) pode-se determinar o plano a ser
executado em terapia.
Desde que se tenha certeza do tipo de alterao de que a
criana portadora, pode-se estabelecer a conduta necessria.
Naqueles casos em que o paciente apresenta uma alterao
articulatria de origem fontica, necessrio verificar que compo-
Atuao Fonoaudiolgica nos Distrbios Articulatrios 873
Leitura recomendada
ADAMS, A.M. & GATHERCOLE, S.E. Phonological working memory
and speech production in preschool children. J. Speech Hear. Res.,
38:403-414, 1995.
BARRET, B.A. & HANSON, M.L. Oral Myofunctional Disorders. St.
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CABRAL, L.S. Introduo Lingstica . Porto Alegre, Globo, 1973.
EDWARDS, M.L. Selection criteria for developing therapy goals. J.
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113,1990.
876 Fonoaudiologia Prtica
39
Distrbios de Linguagem em
Crianas Pequenas
Consideraes sobre o Desenvolvimento, Avaliao e
Terapia da Linguagem
INTRODUO
noo pode ser vista quando ela comea a procurar objetos que
desapareceram de seu campo de percepo. Anteriormente
construo da noo de objeto, toda vez que pessoas ou objetos
deixavam de ser vistos, tocados ou ouvidos, como se tivessem
deixado tambm de existir. Porm, nesta fase, os comporta-
mentos da criana, principalmente no sentido de procurar pelos
objetos desaparecidos, revelam que agora, para ela, o mundo
continua existindo, independente dela estar vendo as coisas ou
no.
Nesta fase, a capacidade de imitar tambm mostra um grande
desenvolvimento. As crianas comeam a se interessar por mo-
delos novos, isto , sons e movimentos que elas ainda no sabiam
produzir. Comeam a se interessar tambm por imitar movimen-
tos que no so visveis no prprio corpo, como os que envolvem
movimentos na regio da face: abrir e fechar a boca, pr a lngua
para fora, segurar a orelha, tocar o dedo no nariz e assim por
diante. O interesse pelas coisas novas vindas dos outros ajuda a
criana a fazer correspondncias entre o prprio corpo e o corpo
dos outros e a descobrir possibilidades de expresso que sero
empregadas com fins de comunicao.
Brinquedo simblico
No que diz respeito ao modo de brincar, a novidade que,
agora, a criana passa a usar os objetos simbolicamente. Os
brinquedos so utilizados para representar situaes vividas
rotineiramente pela criana, como o caso do dormir, do alimen-
tar-se, do banho: ela faz de conta que est preparando comida
usando uma panelinha e uma colherinha; esfrega uma esponja no
prprio corpo como se estivesse tomando banho; encosta sua
cabea numa miniatura de cama como se fosse dormir e assim por
diante.
Condutas simblicas
4. Sistematizao da aplicao em outros
5. Seqncias de aes simblicas
6. Uso de smbolos
Esquemas simblicos
Estas condutas marcam o aparecimento de um simbolismo,
ainda elementar, no brincar infantil. Corresponde reproduo
fictcia, pela criana, daquelas aes que so rotina em sua vida. A
criana faz de conta que come, que toma banho, que dorme, etc.
Todo o simbolismo est ainda centrado no prprio corpo da criana.
Uso de smbolos
A criana comea a usar substitutos simblicos dos objetos
criados por ela mesma. Ela se mostra capaz de transformar um
objeto no representante de outro. Ao invs de ficar limitada a usar
miniaturas como smbolos dos objetos reais, a criana cria, ela
mesma, novos smbolos. Por exemplo, pondo seus bonecos para
deitar em miniaturas de camas, constata que um deles ficou sem
cama. Para resolver tal problema, recorre, por exemplo, a uma
pea de bloco de construo retangular e a utiliza como se fosse
a cama faltante para deitar seu boneco. tambm comum
observar, neste ponto, o uso das palavras para simbolizar objetos
ausentes. Por exemplo, pegando um boneco a criana diz vai
tom banho e, com sua mo, faz o gesto de abrir uma torneira
dizendo lig chuveru .
Imitao
Quanto imitao, ao invs de limitar-se a imitar aquilo que
est presenciando diretamente, ou seja, modelos perceptveis,
a criana comea tambm a imitar pessoas ou situaes ausen-
tes, isto , coisas que j ocorreram e que, para serem imitadas,
dependem de uma possibilidade de evocao. Desta forma, por
exemplo, tendo presenciado uma cena qualquer pela manh e,
sem t-la reproduzido nesta situao, s vem a imitar a mesma
cena pela noite, parecendo evocar, via imitao, o fato j
passado.
888 Fonoaudiologia Prtica
Comunicao simblica
Tambm a comunicao no-verbal comea a incorporar
atitudes simblicas.
Gestos simblicos, que representam aes ou objetos, so
incorporados s formas mais elementares de comunicao no-
verbal, at ento limitadas a gestos indicativos. A criana pode,
por exemplo, solicitar algo para tomar fazendo o gesto de beber,
pode solicitar uma boneca fazendo o gesto de ninar e assim por
diante.
O surgimento das condutas simblicas por volta dos 2 anos
de idade marca o trmino do perodo sensoriomotor e o incio de
uma nova etapa de desenvolvimento denominada perodo re-
presentativo que, como o prprio nome sugere, marcado pela
capacidade que a criana vai adquirindo de lidar com realidades
ausentes.
LINGUAGEM
cognio interao
social
comunicao
pr-verbal
capacidades cognitivas;
habilidades sociais;
nveis de comunicao.
Situao de avaliao
Primeiramente, o fonoaudilogo pode oferecer os brinquedos
para que a criana os manipule. Sem assumir uma atitude diretiva,
890 Fonoaudiologia Prtica
DISTRBIOS DE LINGUAGEM
A denominao distrbios de linguagem diz respeito a com-
prometimentos no curso evolutivo da aquisio da linguagem. Os
distrbios que mais comumente afetam o desenvolvimento da
criana pequena so os chamados retardos de aquisio da
linguagem.
Crianas apresentando condies evolutivas favorveis ten-
dem a adquirir linguagem no decorrer do segundo ano de vida,
entre 1 e 2 anos de idade. Algumas crianas j comeam a ensaiar
as primeiras palavras por volta do primeiro aniversrio. Outras
comeam mais tarde.
Podemos observar, portanto, diferenas quanto poca em
que as crianas comeam a utilizar a linguagem. H uma srie de
fatores que podem ser apontados como determinantes de tais
diferenas: ritmo de desenvolvimento de cada um, estimulao
em geral e mais especificamente, de linguagem, condies emo-
cionais e maturidade social, hereditariedade, doenas e outros
fatores que possam afetar o tempo de aquisio.
Um dos parmetros que podem ser utilizados para a caracte-
rizao dos retardos de linguagem diz respeito idade. Crianas
que chegam faixa etria dos 2 anos sem terem adquirido
linguagem merecem uma ateno especial, pois podem estar
894 Fonoaudiologia Prtica
Imitao
dificuldades maiores, em geral, para imitar sons e movimen-
tos no-visveis no prprio corpo;
dificuldades para imitar aes com os objetos;
no conseguem imitar modelos ausentes.
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 895
Imitao
dificuldades para imitar sons em geral e movimentos no
visveis no prprio corpo;
imitao de modelos ausentes ocorrendo de forma elemen-
tar, pouco precisa;
maior facilidade para imitar aes sobre objetos.
896 Fonoaudiologia Prtica
Imitao
podem no apresentar dificuldades para reproduzir movi-
mentos no-visveis no prprio corpo;
em geral, no apresentam dificuldades para reproduzir
aes realizadas com objetos;
podem no apresentar problemas para imitar modelos au-
sentes;
tendem a apresentar maior dificuldade, ou at mesmo
desinteresse, na imitao de sons e palavras.
Habilidades interativas/sociais
algumas crianas podem apresentar dificuldades para orga-
nizar comportamentos comunicativos intencionais;
algumas crianas tendem a atuar diretamente sobre o meio,
buscando a interao com os outros de modo pouco siste-
mtico;
a funo dos comportamentos comunicativos tende a ser
principalmente regulatria;
tendem a apresentar pouca habilidade para garantir a aten-
o conjunta e desenvolver atividades com outros.
ATENO
Quando as necessidades das crianas so atendidas sem
ser preciso qualquer esforo de comunicao por parte
delas, ou quando o ambiente est estruturado para que
consigam diretamente tudo o que pretendem, encontramos
situaes pouco favorveis para que elas iniciem comunica-
o e compreendam suas funes.
Crianas com dificuldades de linguagem tm, em geral,
pouca iniciativa e desistem com facilidade quando surge
algum obstculo s suas tentativas de ao. Quando
terapeutas e pais respondem prontamente a tais tentativas
podem estar dando-lhes mais confiana e aumentando sua
iniciativa na medida em que elas sentem que podem se
comunicar.
IMPORTANTE
Aprender a observar e dar sentido aos comportamentos das
crianas um dos pontos fundamentais de uma proposta
teraputica.
Aprender a observar e analisar os prprios comportamentos
ao interagir com as crianas um segundo ponto-chave do
trabalho fonoaudiolgico.
O fonoaudilogo deve ser preparado adequadamente a fim
de promover estratgias favorveis para o desenvolvimento
das capacidades comunicativas de crianas com problemas
de linguagem. Curiosamente, as atitudes inadequadas que
comumente observamos nos pais ao interagirem com seus
filhos com dificuldades de comunicao tambm podemos
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 901
EVITAR
Tomar sistematicamente a iniciativa da comunicao.
Ficar testando as capacidades das crianas com ordens e
perguntas.
Ficar dirigindo a ao da criana dizendo como ela deve agir
ou proceder.
Interromper os silncios que correspondem ao tempo de es-
pera que se deve dar para que a criana tome a iniciativa da
comunicao.
Ficar falando no lugar da criana.
Falar em excesso sem dar tempo para a criana responder
ou tomar a iniciativa.
Muitas das crianas que j atingiram nveis simblicos de
comunicao podem at ser capazes de responder pergun-
tas ou seguir instrues mas, em geral, no so capazes de
usar a linguagem para fins de comunicao espontnea.
No este o objetivo da terapia fonoaudiolgica.
Situaes desfavorveis para uma comunicao eficaz tm
por efeito afastar a criana da linguagem. Quando no tem
oportunidades para iniciar comunicao, ou quando seus
esforos para conseguir a interao no tm efeito, a criana
no tem oportunidades de experimentar suas capacidades
de comunicar.
Leitura recomendada
CANTWELL, D. & BAKER, L. Developmental Speech and Language
Disorders. Guilford Press, 1987.
Distrbios de Linguagem em Crianas Pequenas 905
40
Diagnstico e Terapia dos
Distrbios do Aprendizado
da Leitura e Escrita
DIAGNSTICO
Concepo de distrbio
Em relao ao aprendizado da leitura e da escrita, a necessi-
dade de um processo diagnstico determinada pela existncia
de sintomas e sinais de alteraes que comprometam, num
sentido estrito, a forma, e, num sentido amplo, a funcionalidade da
comunicao grfica.
O rumo deste diagnstico ser determinado a partir da
concepo que se tem de distrbio. Assim, de maneira simplista,
pode restringir-se a comprovao da presena de trocas
grafmicas, to conhecidas e freqentes, e da posterior determi-
nao da causa e da natureza das mesmas. Entretanto, sem que
se ignore a presena destes sintomas clssicos, a partir da
considerao das dimenses biolgica, cognitiva e social da
aprendizagem, o diagnstico pode seguir caminhos mais reflexi-
vos, ocupando-se em verificar o real valor simblico que a leitura
e a escrita assumem no momento em que afloram as alteraes
que motivaram o processo.
As controvrsias diagnsticas foram geradas a partir das
diferentes concepes de distrbio de leitura e escrita.
Os primeiros relatos literrios sobre o assunto tiveram seu
incio em meados do sculo XIX, poca em que os transtornos da
linguagem foram relacionados aos comprometimentos do hemis-
frio cerebral esquerdo. Nesta poca, em funo das inmeras
descries das alteraes da linguagem em afsicos, as dificulda-
des de leitura e escrita apareciam vinculadas presena de
alteraes orgnicas, sendo encontradas em diversos trabalhos
literrios com a denominao de alexia, dislexia e cegueira verbal.
No incio do sculo XX, uma srie de estudos fazem refern-
cias a um novo quadro clnico, dissociado dos quadros afsicos,
que a princpio denominou-se cegueira verbal congnita. Somen-
te aps a 1 Grande Guerra, surgia a convico da existncia de
perturbaes do aprendizado acadmico. Sob o ponto de vista
tradicional, estes distrbios especficos de aprendizagem foram
rotulados como dislexias, disgrafias e discalculias.
Posteriormente, a dislexia foi considerada como constitucio-
nal ou gentica, sendo denominada dislexia especfica de evolu-
o. A dislexia tambm esteve relacionada a algumas das chama-
das sndromes psicomotoras, pelo fato de muitas vezes encon-
trar-se associada a alteraes comportamentais como hiperativi-
dade e perseverao.
Na tentativa de descaracterizar um quadro sindrmico, partin-
do ainda de uma viso organicista, muitos autores convencidos da
complexidade do problema adotaram um termo mais amplo
distrbio de aprendizagem no qual a dislexia pode ser includa.
Dentro deste prisma, JOHNSON & MYKLEBUST observaram diferen-
as nas manifestaes do distrbio, encontrando crianas com
Diagnstico e Terapia dos Distrbios do Aprendizado da Leitura e Escrita 909
Manifestao do distrbio
Levando-se em conta as condies internas e externas de
aprendizagem e a partir das consideraes iniciais do que deve-
mos conceber como distrbio, a anlise pormenorizada das
manifestaes do mesmo torna-se indispensvel para um diagns-
tico seguro. O aprendizado da leitura e da escrita est vinculado
a um conjunto de fatores, adotando como princpios o domnio da
linguagem e a capacidade de simbolizao.
A aquisio de cada sistema de smbolos pressupe uma
capacidade para integrar experincias e perceber suas representa-
es no-verbais de maneira a diferenci-las por meio de um ou outro
smbolo, e a partir de ento atribuir-lhes significado e memoriz-los.
Uma reflexo sobre a complexidade deste processo possibi-
lita a compreenso da aquisio de um cdigo grfico pela
criana. Justifica inclusive a determinao de sintomas comuns
que caracterizam os quadros sindrmicos anteriormente descri-
tos. J que o desenvolvimento da linguagem o ponto de partida
para a simbolizao, qualquer interferncia em seu caminho
poder representar uma ameaa para o aprendizado do cdigo
grfico. por essa razo que as manifestaes de alteraes nos
aspectos cognitivos da linguagem tm sido to valorizadas.
Para determinarmos o qu, quando e quanto temos de
distrbio, precisamos entender que as freqentes alteraes
de esquema corporal, localizao espacial, temporal e lateralidade
citadas na literatura especializada no assunto so manifestaes
de alteraes no processo de desenvolvimento da linguagem e
como conseqncia, tambm do aprendizado especfico da leitu-
ra e da escrita. Sem perder de vista que estes aspectos da
linguagem so de fundamental importncia na avaliao, e muitas
vezes, o ponto de partida para tratamento, no podemos ignorar
que a suspeita de um distrbio do aprendizado baseia-se nos
parmetros de uma leitura-escrita ideal, cuja organizao seja
determinada pela perfeio da forma e do contedo grfico.
No que concerne leitura, o respeito forma estar represen-
tado por uma adequada decodificao dos smbolos grficos em
seqncia, respeitando-se o ritmo determinado pelos sinais de
pontuao. A compreenso do significado do conjunto dos ele-
mentos decodificados determina a adequao do contedo.
J em relao escrita, a adequao da forma diz respeito
emisso grfica de palavras, respeitando-se a relao entre os
fonemas da lngua e sua representao grafmica de acordo com
Diagnstico e Terapia dos Distrbios do Aprendizado da Leitura e Escrita 913
Anamnese
Toda anamnese tem por objetivo a coleta de instrumentos
gerais a partir da queixa, para posterior investigao e anlise dos
dados relevantes no processo de pesquisa diagnstica.
No caso especial dos distrbios do aprendizado da leitura e da
escrita, temos que ser muito mais cuidadosos em relao a alguns
detalhes que possam parecer irrelevantes na pesquisa das de-
mais patologias da linguagem. Um dos pontos mais importantes
o motivo da procura do fonoaudilogo.
No caso de uma suposta alterao no aprendizado da leitura
e escrita, o que leva o paciente ou seus familiares a procurarem
um diagnstico e conseqente tratamento fonoaudiolgico?
O motivo da procura nos d uma idia do objetivo do queixoso
e traduz suas expectativas quanto ao tratamento. Este aspecto
deve ser considerado na medida em que o paciente coloca o
problema como seu ou imposto por outrem.
Muito comuns so as situaes em que o paciente encaminha-
do pela escola, e a famlia s decide pela procura de um atendimento
por temor a represlias. Este um ponto de grande importncia,
tanto para o diagnstico como para o estabelecimento de um
prognstico, pois a falta de clareza na colocao da queixa sugere
baixas expectativas e pouca colaborao no tratamento, uma vez
que o paciente no enxerga o quadro como um problema.
Assim, desde o contato inicial, faz-se necessrio um esclare-
cimento das correlaes entre a queixa trazida pelo paciente e os
possveis comprometimentos a serem pesquisados, assim como
devem ser esclarecidos todos os procedimentos do processo
diagnstico, destacando-se seus objetivos.
Considerando que as crianas com distrbios do aprendizado
tm uma baixa auto-estima em funo de seus fracassos escolares,
916 Fonoaudiologia Prtica
Campos de interesse Direcionar a escolha das estratgias de avaliao Informaes da anamnese e conversa espon-
Idade tnea
Sexo
Atividades de lazer
Atividades de vida diria
Motor Movimentao geral: observao da qualidade Movimentos espontneos
e quantidade dos movimentos intencionais e
no intencionais considerando postura, equi-
lbrio, coordenao e ritmo
Motricidade fina: observao da postura e qua- Desenho e emisses grficas espontneas
lidade dos movimentos de pulso, mo e dedos
no ato da escrita
Cognitivo Orientao do corpo no espao: observao do Movimentos espontneos: esbarra em obje-
conhecimento de direo, tamanhos e posi- tos? caminha na direo correta?
es
Percepo das posies do corpo em relao s Reproduo de movimentos corporais, jogos
demais pessoas a aos objetos: observao que envolvam relaes espaciais: colocar
do conhecimento de direo, tamanhos e objetos em caixas, trilhas, labirintos, blocos
posies lgicos, etc.
Orientao e seqncia temporal: observao Conversa espontnea, seqncializao de fi-
das noes temporais guras; relatos do dia-a-dia; contar histrias a
partir de figuras
Orientao da lateralidade: observao da mo Movimentao espontnea ao pegar objetos,
preferencial e qualidade do movimento. amarrar sapatos, apontar lpis, escrever, etc.
Sensorial auditivo Percepo Identificao ou reproduo de sons produzi-
Discriminao dos pelo ambiente, pelo corpo, pela natureza
Memria Identificao ou reproduo de diferenas de
Anlise-sntese altura, intensidade, durao, ritmo
Figura-fundo Memria para sons no-verbais e verbais
Formar palavras a partir da emisso de slabas
Figura-fundo no-verbal e verbal
Localizao do estmulo auditivo: direita, es-
querda, atrs, na frente
Discriminao de fonemas ou slabas diferen-
tes e parecidas
Reconhecimento de palavras parecidas
Sensorial visual Percepo Percepo de detalhes em figuras
Discriminao Discriminao de smbolos grficos iguais, pa-
Memria recidos e diferentes
Anlise-sntese Memria para estmulos visuais: trs estmulos
Figura-fundo Quebra-cabea
Identificao de determinado elemento em fi-
gura
TERAPIA
A partir do diagnstico de um distrbio do aprendizado da
leitura e da escrita, o primeiro ponto a ser considerado a conduta
frente aos achados da avaliao.
A razo que motivou o processo diagnstico deve ser
retomada, relacionando-a s eventuais alteraes encontra-
das, devendo ser explicitadas aos familiares e ao paciente,
associadas s possveis causas do distrbio. A partir de ento
a busca de uma melhor conduta frente ao problema deve ser
adotada.
No caso da constatao da necessidade de um atendimento
fonoaudiolgico, o primeiro aspecto a ser considerado e a motiva-
o para a escrita, que s ocorre na medida em que a mesma
assuma um significado para o paciente. Essa motivao repre-
sentada por uma necessidade real de se comunicar por meio do
cdigo grfico, e, para que isto ocorra a escrita deve se tornar
parte integrante de sua vida no fornecimento de informaes;
deve deixar de ser somente uma obrigao escolar, fornecendo
elementos comunicativos essenciais.
Dependendo da natureza das alteraes, e, seguindo a linha
de raciocnio da avaliao de linguagem, forneceremos alguns
objetivos teraputicos para o distrbio do aprendizado da leitura
e da escrita, levando o princpio da motivao.
Atividades motoras
Motricidade geral
1. Conscincia global do corpo: andar, correr, saltar, rodar,
etc.
2. Equilbrio esttico e dinmico: ficar parado, ficar num p s.
3. Dissociao de movimentos: reproduzir uma srie de posi-
es de braos, pernas, mos.
4. Jogos mmicos.
Atividades cognitivas
1. Espaciais: andar em cima de espaos demarcados, entrar
e sair de compartimentos de diferentes tamanhos, passar
por baixo ou por cima de obstculos, mudar a direo ou o
sentido dos movimentos corporais, colocar objetos de
diferentes tamanhos em recipientes, imitao de movimen-
tos corporais globais ou de membros superiores e inferio-
res seguindo uma seqncia;
2. Temporais: reproduzir diferentes ritmos, criar ritmos,
seqencializar figuras, seqencializar fatos a partir da
apresentao de uma histria.
3. Lateralidade: traar linhas dividindo objetos simtricos verifi-
cando sua igualdade e a relao lado direito e esquerdo, traar
linhas dividindo figuras do corpo humano, movimentar mem-
bros superiores ou inferiores direito e esquerdo de maneira
alternada, mudar de posio (frente e costas) enquanto movi-
menta membros superiores e inferiores.
Atividades de audibilizao
A) Identificao e discriminao auditiva
1. Localizao auditiva: estmulos no-verbais e verbais em
todas as posies: na frente, atrs, do lado direito, do lado
esquerdo.
2. Identificao e discriminao de sons referentes altura
tonal e intensidade.
3. Discriminao de vozes conhecidas.
4. Identificao de sons ambientais e associaes com sua
fonte.
5. Discriminao entre sons ambientais iguais, parecidos e
diferentes.
6. Discriminao entre sons da fala iguais, parecidos e dife-
rentes.
7. Reconhecimento e discriminao de sons consonantais
especficos.
8. Exerccios de rimas com palavras.
C) Percepo discriminativa
Altura, intensidade, durao, ritmo.
1. No-verbal som isolado, pares, trios e combinaes entre
matizes.
2. Verbal vogais, slabas com fonemas parecidos, logatomas,
pares mnimos.
D) Percepo analtico-sinttica
1. No-verbal seqncias de 3 a 4 estmulos a serem
sintetizados num todo.
2. Verbal recompor palavras fragmentadas por slabas, ou
frases fragmentadas por palavras. A partir destas (slabas
ou palavras), formar novas palavras ou frases.
E) Percepo figura-fundo
No-verbal e verbal com rudo de fundo.
F) Memria
1. No-verbal 2 a 4 estmulos.
2. Verbal sries de palavras simples com aumento de
complexidade.
Aumento de ordens contidas em uma mesma mensa-
gem verbal.
Completar detalhes omitidos na segunda verso de uma
histria.
Reconhecer palavras que integrem outras, por exemplo,
soldado.
Atividades de visualizao
1. Identificao de diferenas em figuras.
2. Identificao de detalhes em figuras.
3. Discriminao de palavras com grafias iguais, parecidas e
diferentes.
4. Discriminao de grafemas iguais, parecidos e diferentes.
5. Memria para seqncia de estmulos visuais: gestos,
figuras, palavras.
6. Anlise-sntese visual: recortar figura em 2 ou 4 partes e
depois mont-la; quebra-cabea; caa-palavras.
7. Discriminar figura-fundo visual.
6. Opostos.
7. Categorias.
8. Funes.
9. Suposies.
10. Palavras com vrios significados.
11. Derivados das palavras.
C) Atividades ortogrficas
Mais uma vez, a estimulao deve seguir os princpios da
motivao. Antes da formalizao desse trabalho, a criana
deve ter conscincia de que o mais importante o contedo de
sua comunicao grfica. A correo da forma deve basear -
se na escrita produzida a partir da necessidade de comunica-
o grfica, determinada pelos diferentes contextos terapu-
ticos.
CONSIDERAES FINAIS
Algumas das colocaes feitas neste captulo tiveram
como objetivo fornecer subsdios para uma reflexo sobre
as condutas frente aos distrbios do aprendizado da leitura
e da escrita e, acima de tudo, despertar o interesse para a
busca de solues mais efetivas para o seu diagnstico e
tratamento.
De maneira alguma houve a pretenso de esgotar o assunto.
Espera-se contudo que, as colocaes ora feitas, possam servir
de motivao para a procura de novos caminhos fonoaudiolgi-
cos, atravs de pesquisas e estudos mais aprofundados dos
aspectos aqui levantados.
924 Fonoaudiologia Prtica
Leitura recomendada
CONDEMARIN, M. & CHADWICCK, M. A Escrita Criativa e Formal.
Porto Alegre, Artes Mdicas, 1987.
FERREIRO, M. & TEBEROSKY, A. Psicognese da Lngua Escri-
ta . 3 ed. Porto Alegre, Artes Mdicas, 1990.
JOHNSON, D.J. & MYKLEBUST, H.R. Distrbios de Aprendiza-
gem . 2 ed. So Paulo, Pioneira, 1987.
LE BOULCH, J. Educao Psicomotora. 2 ed. Porto Alegre, Artes
Mdicas, 1988.
PAIN, S. Diagnstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem.
Porto Alegre, Artes Mdicas, 1985.
SCHRAGER, O.L. Lengua, Lenguage y Escolaridad. Buenos Aires,
Panamericana, 1985.
VIGOTSKII, L.S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desen-
volvimento e Aprendizagem. So Paulo, cone, 1988.
A Metfora da Dislexia 925
41
A Metfora da Dislexia
INTRODUO
O primeiro objetivo deste trabalho ser revisitar historicamen-
te a literatura sobre a dislexia.* Iniciaremos com seu nascimento
no campo mdico, ocasionado pela necessidade de nomear a
perda da capacidade de dar sentido a smbolos verbais escritos ou
impressos, em alguns pacientes com afasia perda de linguagem
aps a ocorrncia de acidente vascular cerebral. O termo
dislexia foi sugerido primeiramente pelo professor BERLIN DE
STUTTGART, em 1887, mas acredita-se que a perda da habilidade
para ler j tinha sido identificada muito antes pelo mdico JOHAN
SCHMIDT (16401690). A literatura mdica reconhece KUSSMAUL
(1877) como o primeiro (e possivelmente o nico) a isolar a
inabilidade para leitura como uma entidade nosolgica autnoma,
denominando-a cegueira verbal. Para este autor possvel,
embora raro, encontrar-se dificuldades para a leitura sem nenhum
comprometimento correlato em nvel de viso, intelecto ou lingua-
gem. No entanto, seu pioneirismo no parece ter conquistado
seguidores j que a maioria dos mdicos continuou a conceb-la
como uma doena ligada ao funcionamento cerebral e ao desempe-
nho lingstico. Um cirurgio ocular chamado JAMES HINSHELWOOD,
O LETRAMENTO
Quem primeiro vai verticalizar a discusso sobre letramento
TFOUNI (1988 e 1995). Para a autora, letramento e alfabetiza-
o so processos de aquisio de um sistema escrito que
diferem entre si pelo fato do segundo pertencer ao mbito do
A Metfora da Dislexia 931
* Grifo nosso.
932 Fonoaudiologia Prtica
* Utilizaremos este termo como forma de nos referir a toda e qualquer dita
dificuldade de leitura ou de escrita.
** Cabe salientar que EMILIA FERREIRO esteve vrias vezes em So Paulo para
dar palestras a professores da rede municipal de ensino e ainda que, vrios
de seus seguidores ministraram cursos para professores da rede particular e
da rede pblica. No temos dados oficiais sobre esse assunto.
934 Fonoaudiologia Prtica
* D-se o nome de par mnimo aos fonemas que se opem por um nico trao,
no caso, o de sonoridade. Assim, subentende-se a tambm os pares /d/ e /t/,
/g/ e /k/, /v/ e /f/, /z/ e /s/, / / e / /.
936 Fonoaudiologia Prtica
O que fazer?
Esta a pergunta que os educadores geralmente fazem ao
perceber o ponto de vista aqui defendido e entender que, em
ltima instncia, cabe escola resolver questes que so de sua
responsabilidade. Se a escola no for responsvel pelo processo
de alfabetizao, quem o ser? Se esta tarefa no for entendida
como sua, que papel caber escola nesse processo? Na
realidade, a resposta a essa pergunta no deve remeter expec-
tativa de orientao quanto ao contedo de uma disciplina. Se
para a escola alfabetizar for ensinar letras, slabas, combinao
destas em palavras e de palavras em sentenas, ento no h o
que discutir. No entanto, se outro for o ponto de vista adotado a
alfabetizao enquanto uma das faces do letramento tornar o
sujeito letrado emerg-lo em situaes onde a escrita
contextualizadamente necessria. A partir deste olhar o que
realmente importa a possibilidade de reconhecer o erro como
indiciador do efeito do funcionamento do texto escrito sobre a
criana. Interpretar o texto infantil uma forma de se escutar a
criana, de ouvir o que ela tem a dizer sobre este objeto que a
domina e que ns, ilusoriamente, acreditamos que possa ser
dominado.
Salientaremos alguns pontos deste percurso. Resgatar a
funo social da escrita o ponto de partida. Isso pode ser feito
basicamente atravs da presena significada de portadores de
textos na situao escolar. Sinalizar o ambiente mesma maneira
que qualquer edifcio pblico, colocar avisos no quadro, ler os
jornais, fazer anotaes (no dirio, na agenda, no caderno),
propor a escrita de cartas, bilhetes e convites, cantar vista da
letra da msica entre outras tantas atividades que o professor/
terapeuta pode criar e que objetivam colocar a escrita/leitura em
circulao so o passo seguinte. Propor atividades como a j
tradicional brincadeira do faz-de-conta em que a escrita aparece
sob as mais variadas formas da lista de compras, do cheque, da
nota fiscal, da lio, da receita mdica ou da receita de bolo e no
dispensar a atividade de contar histrias em que as crianas
acompanham as leituras de livros infantis e sugerem formas de
dar continuidade histria ou de mudar seu final, ou ainda de
contar uma outra histria, do sentido ao percurso da relao da
criana com a escrita.
Finalmente, podemos dizer que os efeitos da mudana de
perspectiva olhar a escrita como lugar de funcionamento da
lngua e da criana so aqueles evidenciados em crianas que
se alfabetizam fora da escola, ou seja, que aprendem a ler e
A Metfora da Dislexia 937
Leitura recomendada
ABAURRE, M.B.M Indcios das primeiras operaes de reelaborao
nos textos infantis. vol. 1. Anais do XII Seminrio de Gel, 1993.
ABAURRE, M.B.M. Lingstica e pedagogia. In: SCOZ, E. et al.
Psicopedagogia O Carter Interdisciplinar na Formao e Atuao
Profissional. Porto Alegre, Ed. Artes Mdicas, 1987.
ABAURRE, M.B.M O estudos lingsticos e a aquisio da escrita.
Anais do 2 Encontro Nacional sobre Aquisio da Linguagem.
Ceaal, R.S., 1991.
DE LEMOS, C.T.G. Prefcio. In: KATO, M. A Concepo da Escrita pela
Criana. Campinas, So Paulo, Pontes Editores, 1988.
REGO, L.B O Desenvolvimento da lngua escrita pela criana: uma
perspectiva scio-funcional. In: SCOZ, E. et al. Psicopedagogia O
Carter Interdisciplinar na Formao e Atuao Profissional. Porto
Alegre, Ed. Artes Mdicas, 1987.
TFOUNI, L.V. Adultos no Alfabetizados: O Avesso do Avesso.
Campinas, Pontes Editores, 1988.
TFOUNI, L.V. Letramento e Alfabetizao. So Paulo, Ed. Cortez,
1995.
Deficincia Auditiva 1
Avaliao e Terapia dos Distrbios Neurolgicos da Linguagem e Fala 939
42
Avaliao e Terapia dos
Distrbios Neurolgicos da
Linguagem e Fala
AFASIA
Muitas so as definies encontradas para este distrbio e
elas so, de certa forma, coincidentes. Entre elas, citamos a
definio dada por COUDRY (1988)1 e a de LAPOINTE (1977)2:
Observaes
As manifestaes at ento descritas so estruturais e esto
restritas s palavras e frases. Deve-se observar suas ocorrncias,
mas, para se fazer uma avaliao, faz-se necessrio tambm
avaliar o nvel discursivo.
A nomenclatura apresentada a seguir foi nica e exclusiva-
mente escolhida, entre as muitas outras possveis, por ser a mais
comum e utilizada.
Afasias emissivas
Fazem parte deste grupo as afasias cujo dficit de expresso
maior do que o dficit de compreenso.
Afasia de Broca
a afasia de expresso mais comumente encontrada. Carac-
teriza-se por ser do tipo no-fluente, sendo que a expresso oral
pode estar comprometida em diversos graus. Na fase aguda, o
paciente pode apresentar supresso de fala e de escrita ou
estereotipia. As estereotipias so freqentes e podem se manter;
podemos ainda encontrar parafasias fonticas e/ou fonmicas,
942 Fonoaudiologia Prtica
Afasia de conduo
uma afasia fluente, caracterizada por parafasias fonmicas,
podendo ainda aparecer anomias ou parafasias semnticas
durante a fala. O discurso pode aparecer truncado, com hesita-
es e autocorrees. A caracterstica marcante deste tipo de
afasia so os erros encontrados na prova de repetio, em que
a emisso mostra-se muito mais prejudicada do que a fala
espontnea.
Na escrita espontnea e no ditado podem aparecer paragrafias
literais e grafmicas, no entanto, o paciente pode apresentar bom
desempenho na cpia. Na leitura em voz alta, o paciente apresen-
ta melhor desempenho do que nas provas de repetio.
A alterao de compreenso, similar que se encontra nas
afasias de Broca tpicas normal ou com alteraes leves fazem
supor que a afasia de conduo pode ser a evoluo de uma
afasia de Wernicke.
Afasias receptivas
Fazem parte deste grupo as afasias, cujo dficit de compreen-
so maior do que o dficit de expresso.
Afasia de Wernicke
a afasia de compreenso mais grave, definida por um
conjunto de caractersticas bastante especficas. A compreenso
oral encontra-se gravemente comprometida. A expresso mar-
cada por discurso fluente e abundante, fala logorrica e jargo-
nafsica e pela grande presena de neologismos. A fala apresen-
Avaliao e Terapia dos Distrbios Neurolgicos da Linguagem e Fala 943
Afasia amnstica/anmica
uma afasia fluente, caracterizada basicamente por altera-
es semnticas como as parafasias semnticas, perfrases e
anomias, estando o acesso lexical prejudicado. Como a anomia
uma manifestao freqente em muitas afasias, esta afasia mui-
tas vezes a evoluo de outro tipo, mais comumente, das afasias
de Wernicke ou transcortical sensorial, sendo esta a justificativa
de pertencer a este conjunto de afasias, uma vez que a compreen-
so oral est preservada ou apenas levemente comprometida
(para contedos mais complexos). Na escrita podem aparecer as
mesmas falhas encontradas no discurso oral, e a leitura geralmen-
te est preservada.
Formas mistas
Afasia transcortical mista
uma afasia que se caracteriza pela repetio preservada,
estando tanto a emisso quanto a compreenso severamente
comprometidas. A fala caracterizada por estereotipias e h
supresso da escrita. Cabe ressaltar que embora a repetio
esteja preservada, ela ocorre com falhas, ou seja, ela no to
boa quanto nos quadros de afasia transcortical motora ou sensorial.
Afasia mista
So os quadros de afasia que apresentam caractersticas de
vrios dos quadros descritos, sem se restringir a nenhum deles.
Na verdade, as afasias mistas so muito comuns.
944 Fonoaudiologia Prtica
Afasia global
a afasia mais grave, caracterizada por comprometimento
severo da emisso e da compreenso oral e grfica. Geralmente,
o paciente apresenta mutismo na emisso oral ou ela est restrita
a estereotipias e automatismos. H supresso da emisso grfi-
ca. Existe uma variedade de formas clnicas; quando a compreen-
so melhora muito, mas no chega a ficar to boa quanto a
esperada para uma afasia de Broca, temos a afasia motora mista.
No entanto, muitos dos casos evoluem para uma afasia de Broca.
Afasias subcorticais
As afasias subcorticais foram recentemente descritas e s
puderam ser melhor estudadas com o advento da neuroimagem
que propiciou melhor compreenso dos quadros numa tentativa
de maior correlao anatomoclnica. Assimetria funcional seme-
lhante observada na corticalidade encontrada em nvel
subcortical, ou seja, alguns aspectos da linguagem e da memria
verbal se relacionam predominantemente ao hemisfrio esquer-
do, enquanto outros aspectos da linguagem, bem como as capa-
cidades construtivas, visuoespaciais, de ateno e memria vi-
suais, com o hemisfrio direito. importante ressaltar que as
afasias subcorticais so extremamente variveis tanto quanto
variedade de sintomas encontrados dentro de um mesmo quadro,
quanto aos graus de severidade. PUEL e cols. (1984) descreveram
25 casos de leses subcorticais e tentaram verificar as correla-
es anatomoclnicas nestes casos. Dentre estes 25 pacientes, 4
apresentavam apenas disartria; 9 apresentavam formas clssicas
de afasia (2 apresentavam afasia global, 3 apresentavam afasia
de Broca, 3 apresentavam afasia de Wernicke e 1 apresentava
afasia de conduo); os outros 12 pacientes apresentavam for-
mas mistas de afasia, sendo 10 casos muito atpicos. Esses 10
casos muito atpicos tambm apresentavam as mais variadas
leses subcorticais. CROSSON (1985) apresentou um modelo,
segundo o qual a linguagem depende das estruturas corticais e
das subcorticais que interagem num processo dinmico. As estru-
turas subcorticais mais importantes neste processamento seriam
o tlamo, o gnglio basal, o plido e o caudado. Atravs deste
modelo, o autor consegue explicar porque poderamos encontrar
afasias clssicas (como no estudo acima citado) em leses
subcorticais e tambm casos atpicos, uma vez que se trata de um
circuito de processamento da linguagem extremamente comple-
xo. M ENDONA (1994) nos apresenta a afasia talmica, a afasia
dos gnglios da base caudado, putamen e cpsula interna:
Afasia talmica
As afasias talmicas geralmente so atpicas e, dentre os
quadros subcorticais, costumam ser as mais transitrias. Elas
Avaliao e Terapia dos Distrbios Neurolgicos da Linguagem e Fala 945
Avaliao
O fenmeno da perda da fala decorrente de uma leso
cerebral muito antigo e praticamente a totalidade dos sintomas
de afasia foram descritos muito antes do sculo XX. Durante as
trs dcadas anteriores histrica contribuio de BROCA, j
havia interesse e controvrsia crescente quanto aos mecanismos
de desordens orgnicas da fala.
No sculo XX, a grande quantidade de ex-combatentes com
leses cerebrais e problemas de fala/linguagem que sobreviveu
Segunda Grande Guerra Mundial obrigou a sociedade do ps-
guerra a organizar atividades para a reabilitao dos lesados,
principalmente as vtimas de traumatismos cranianos e baleados,
ocupando os afsicos, um lugar preponderante. Uma resposta
imediata circunstncia do ps-guerra foi a publicao de um
vasto nmero de tratados sobre a afasia e sua avaliao.
946 Fonoaudiologia Prtica
Prognstico
A maioria dos pacientes afsicos mostra uma melhora espont-
nea nos meses subseqentes leso. O perodo de recuperao
espontnea aparece de forma variada na literatura, mas a maioria
dos autores reconhece este perodo entre os 3 e os 6 primeiros
meses. Uma das questes que sempre esteve presente quando se
tratou da reabilitao da afasia o quanto esta recuperao pode
ser influenciada de modo positivo pela terapia fonoaudiolgica.
BASSO (1993) realizou uma reviso da literatura sobre os
fatores de prognstico relativos recuperao, os efeitos do
tratamento e os padres de recuperao em grupos de pacientes
e em pacientes considerados individualmente. Em seu estudo,
considerou apenas as variveis experimentais, uma vez que
existem muitos fatores que interferem no prognstico do paciente,
mas que no so quantificveis, como ocorre com a motivao,
por exemplo, que um fator importantssimo quando se fala em
reabilitao, mas que no pode ser considerado cientificamente.
Assim, a autora dividiu essas variveis em dois grupos, a saber:
fatores individuais como a idade, o sexo e a preferncia manual;
e fatores neurolgicos como a etiologia, localizao e tamanho da
leso, a severidade e o tipo da afasia. O efeito da terapia foi
considerado separadamente. A autora concluiu que os fatores
individuais tm um pequeno papel na recuperao das afasias,
sendo mais relevantes a gravidade inicial do problema, que est
relacionada extenso e localizao da leso, e a reabilitao.
A terapia no modifica o perfil da recuperao espontnea, mas
a torna possvel em um nmero de pacientes que no apresentaria
nenhuma melhora e ainda acelera a recuperao espontnea dos
pacientes em acompanhamento.
Terapia
A preocupao em se criar mtodos de reabilitao para o
paciente crebro-lesado ocupou lugar preponderante a partir da
dcada de 40. Uma reviso das metodologias usadas na terapia
das afasias permite observar diferentes pressupostos tericos
que explicam o problema e se prope a solucion-lo.
948 Fonoaudiologia Prtica
Escolas teraputicas
Segundo HORI (1991); PEA-CASANOVA; BERTRAN-SERRA &
MANERO (1995), constituem-se em:
1. Escola didtica
Presente no final do sculo passado e no incio deste sculo,
esta escola teraputica no se fundamenta em nenhum princpio
terico. A linguagem reensinada usando-se mtodos de ensi-
no tradicionais.
5. Escola pragmtica
O objetivo desta escola melhorar a atuao do paciente em
sua vida cotidiana, sendo a preocupao com a comunicao
mais importante do que a prpria linguagem.
Os princpios teraputicos bsicos desta escola so:
Contextualizar ao mximo as atividades realizadas em tera-
pia, atravs de um estudo minuncioso do meio social e da
dinmica intra e extrapessoal do paciente.
Melhor utilizao possvel das capacidades mantidas intactas.
6. Escola neoclssica
Est baseada nos modelos funcionais clssicos sobre a
linguagem e tambm prev a manuteno das habilidades intactas.
representada pelo grupo de estudiosos de Boston.
7. Escola neurolingstica
uma escola que se baseia em teorias lingsticas e se
prope a criar uma proposta terica psicolingstica da afasia, a
fim de aumentar a eficcia da terapia. Desenvolveu-se amplamen-
te na Alemanha e na Frana.
DISARTRIA
Definio Articulao imperfeita da fala causada por uma
leso no sistema nervoso central ou perifrico. As disartrias so
caracterizadas por fraqueza, incoordenao ou paralisia do apa-
relho fonador.
Caractersticas
Existem diversos tipos de disartrias.
A caracterstica comum a todas elas a impreciso na
articulao das consoantes.
So caractersticas principais: monoaltura, monointen-
sidade, qualidade ruidosa e velocidade lenta (exceto em
Parkinson).
Tipos de disartria
Disartria espstica
Caractersticas Voz spera, com esforo, tensa-estrangu-
lada, monotonia, articulao imprecisa das consoantes e
hipernasalidade.
Disartria flcida
Foi o primeiro tipo de disartria descrita. Tem por caractersti-
cas: voz soprosa, monoaltura, articulao imprecisa das consoan-
tes e hipernasalidade.
952 Fonoaudiologia Prtica
Disartria atxica
Caractersticas Voz spera, com esforo, tensa-estrangu-
lada, interrupo articulatria irregular, acentuao excessiva,
mas sem diferenciao da slaba tnica ou do elemento frasal
mais importante.
Disartria hipocintica
Caractersticas Voz montona, com monoaltura e
monointensidade, acentuao reduzida e articulao imprecisa
das consoantes.
Disartria hipercintica
Caractersticas Voz spera, monoaltura, interrupo articula-
tria irregular e articulao imprecisa/distorcida das vogais.
Desordens extrapiramidais
Parkinsonismo (gnglio basal substncia negra) Disar-
tria hipocintica.
So caractersticas desta patologia: hipocinesia, rigidez mus-
cular e tremor involuntrio.
O paciente apresenta voz trmula, com monoaltura e
monointensidade, dificuldades de deglutio/disfagia e mmica
facial inexpressiva (mscara).
Desordens cerebelares
Sndrome de Arnold-Chiari (congnita bulbo/cerebelo)
Disartria atxica.
A disartria nesta doena caracteriza-se por aspereza.
Terapia
Antes de iniciarmos a interveno teraputica fundamental
conhecermos a etiologia da disartria, pois, como vimos, algumas
aparecem como manifestao de doenas degenerativas do Siste-
ma Nervoso e neste caso, a terapia tem objetivos diferentes.
HALPERN (1986) sugeriu seis fatores que influenciam o trata-
mento de pacientes disrtricos. Esses fatores so:
1. Estado neurolgico e histria Leses subcorticais
bilaterais, doenas degenerativas e disartrias que apresentam
disfagias associadas tendem a apresentar pior prognstico.
2. Idade Crianas geralmente apresentam melhor progns-
tico do que os adultos e, pacientes muito idosos apresentam um
pior prognstico.
3. Ajustes automticos Em resposta leso, alguns pacien-
tes desenvolvem mecanismos compensatrios que podem melhorar
ou prejudicar a articulao. Os ajustes, no entanto, podem facilitar a
articulao de pacientes que apresentam prognstico ruim.
4. Tratamento multidisciplinar A interveno multidiscipli-
nar favorece a recuperao do paciente.
5. Personalidade e inteligncia do sujeito O otimismo e a
motivao com o tratamento so pontos importantes que favore-
954 Fonoaudiologia Prtica
APRAXIA
uma desordem da articulao, que resulta da perda,
causada por uma leso cerebral, da capacidade de organizar o
posicionamento da musculatura da fala e de seqencializar os
movimentos na produo espontnea de fonemas ou de uma
seqncia de fonemas; porm esta dificuldade no acompa-
nhada por fraqueza ou lentido significantes, ou incoordenao
destes msculos nos movimentos reflexos ou automticos
(JOHNS & DARLEY, 1970).
Principais caractersticas
01. Os erros de articulao aumentam proporcionalmente
complexidade do ajuste motor que a articulao exige. Assim, as
vogais so articuladas mais facilmente do que as consoantes
simples que, por sua vez, so melhor articuladas do que os grupos
consonantais. A zona de articulao do fonema outro ponto que
deve ser considerado, sendo os fonemas palatais e dentais mais
suscetveis a erros do que outros fonemas (LAPOINTE & JOHNS,
1975). A repetio de fonemas mais fcil de pontos anteriores
para posteriores do que o inverso, ou seja, mais fcil repetir -pa-
ta-ca do que ca-ta-pa.
02. Consoantes iniciais tendem a ser freqentemente pior
articuladas do que as consoantes em outras posies.
03. Leituras repetidas de um mesmo material permitiram
verificar que os pacientes aprxicos podem reincidir nos erros e,
em alguns casos, observou-se menor nmero de erros em leituras
sucessivas, no entanto, sem mudanas significantes.
04. Freqncia do fonema: fonemas que aparecem com
freqncia elevada na lngua tendem a ser melhor articulados do
que os que aparecem menos freqentemente.
05. Tipos de erros: aparecem inmeros erros fonmicos,
incluindo- se omisses, adies, repeties e, principalmente,
substituies.
06. Em relao aos aspectos seqenciais, uma anlise dos
erros destes pacientes revela trs tipos fundamentais: antecipa-
o, reiterao e metstase (inverso de fonemas).
07. Os pacientes aprxicos apresentam uma acentuada discre-
pncia entre a performance na fala automtica e a fala espontnea,
sendo boa na primeira e extremamente prejudicada na segunda.
08. A repetio se apresenta pior do que a fala espontnea,
alm de apresentar maior tempo de latncia.
956 Fonoaudiologia Prtica
CONSIDERAES FINAIS
Este captulo teve por objetivo esboar questes como avalia-
o/diagnstico e terapia/reabilitao nos quadros de Afasia,
Disartria e Apraxia em sujeitos adultos, vtimas de leses cere-
brais. Este esboo se props apenas a levantar questionamentos
e reflexes sobre o atendimento a estes pacientes, bem como,
atravs de uma viso geral, nortear o estudo destes quadros
complexos que, no atendimento fonoaudiolgico, se apresentam
com suas mltiplas facetas.
Leitura recomendada
BASSO, A. Fatores de prognstico em afasia. In: RODRIGUES, N. &
MANSUR, L. L. Temas em Neuropsicologia. So Paulo, 1993. pp. 63-77.
COUDRY, M.I.H. Dirio de Narciso. Discurso e Afasia. 1 ed. So
Paulo, Martins Fontes, 1988.
CROSSON, B. Subcortical functions in language: a working model.
Brain and Lang., 25:257-292, 1985.
DABUL, B. & BOLLIER, B. Therapeutic approaches to apraxia. J.
Speech. Hear. Dis., 41:268-276, 1976.
DELGADO, A.P.; CARAMELLI, P.; MANSUR, L.L.; JAREMA, G;
LECOURS, A.R. Estudo longitudinal em caso de afasia progressi-
va primria. Neuropsych Latina, 1(1):9-17, 1995.
GLEASON, J.B.; GOODGLASS, H.; GREEN, E.; ACKERMAN, N.; HIDE,
M.R. The retrieval of sintax in Brocas aphasia. Brain and Lang.,
2:551-471, 1975.
GOODGLASS, H. & KAPLAN, E. Evaluation de La Afasia y de
Transtornos Similares. 1 ed. Buenos Aires, Editorial Mdica Pana-
mericana, 1974.
HALPERN, H. Therapy for agnosia, apraxia and dysartria. In: CHAPEY,
R. Language Intervention Strategies in Adult Aphasia. 2 ed. Williams
& Wilkins, Baltimore, 1986.
958 Fonoaudiologia Prtica
43
Alteraes de Linguagem
Associadas a Distrbios
Emocionais
DESENVOLVIMENTO DE LINGUAGEM E O
DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL
As perspectivas pragmticas (AUSTIN, 1962; SEARLE, 1981) a
respeito da linguagem determinaram a incluso de elementos
sociais e contextuais em todos os estudos de linguagem e
especialmente na investigao de seu desenvolvimento. Nesse
sentido, so essenciais os trabalhos de HALLIDAY (1978), CAMAIONI
(1980 e 1986), SCHIEFFELIN (1983) e BATES (1976 e 1979), entre
outros.
A me ocupa papel central no desenvolvimento da linguagem
da criana, enquanto seu primeiro interlocutor, responsvel pela
incluso da criana no mundo lingstico, que no se distingue do
mundo social. Temos aqui o primeiro ponto de contato entre as
teorias sobre o desenvolvimento de linguagem e as que abordam
o desenvolvimento emocional, especialmente a psicanlise. Tam-
bm sob os pontos de vista psicanalticos (freudianos, kleinianos
ou lacanianos) a me o primeiro objeto de amor da criana, seu
interlocutor preferencial, o grande responsvel pelos primeiros
passos de seu desenvolvimento egico.
As idias propostas por BATES, especialmente a noo de
heterocronia, so muito teis para essa discusso. essencial
que estejam claras as relaes de interdependncia e interfern-
cia que se estabelecem entre as diversas reas do desenvolvi-
mento. Prope-se a noo de pr-requisito como uma estrutura
que fornece o substrato necessrio para a estrutura de um outro
sistema. Desta forma, os pr-requisitos para a linguagem no
podem ser estabelecidos em termos de manifestaes comporta-
mentais ou da performance em tarefas como permanncia de
objetos, uso de instrumentos, interao social ou qualquer outra.
As relaes estruturais entre as habilidades lingsticas e no
lingsticas esto no nvel da organizao subjacente que permite
que essas manifestaes de desenvolvimento ocorram.
claro que o termo permite estabelecer uma relao de
causalidade muito diferente das noes de causa e efeito geral-
mente envolvidas nas discusses que abordam os pr-requisitos
Alteraes de Linguagem Associadas a Distrbios Emocionais 961
DISTRBIOS EMOCIONAIS
Este um termo amplo e pouco especfico, que utilizado
neste trabalho para fazer referncia ao que se supe que sejam
alteraes do desenvolvimento ou da organizao afetiva da
criana.
962
Leitura recomendada
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION Manual de Diagnstico e
Estatstica de Distrbios Mentais DSM III-R. So Paulo, Editora
Manole, 1989. pp. 51-53.
ANZIEU, D.; GIBELLO, B.; GORI, R. et al. Psicanlise e Linguagem
do Corpo Fala. Lisboa, Moraes, 1977.
AUSTIN, J.L. Quando Dizer Fazer Palavras e Ao, Traduo de
Danilo Marcondes de Souza Filho do original em ingls How to do
Things with Words (1962), Porto Alegre, Artes Mdicas, 1990.
BATES, E. Language and Context: the Acquisition of Pragmatics. New
York, New York Academic Press, 1976. pp. 1-41.
BATES, E. On the evolution and development of symbols. In: BATES,
E.; BENIGNI, L.; BRETHERTON, A.;CAMAIONI, L.; VOLTERRA, V.
The Emergence of Simbols: Cognition and Communication in Infancy.
Cap. II. New York Academic Press, 1979. pp. 38-52.
CAMAIONI, L. La Prima Infanzia. Milano, il Mulino,1980.
CAMAIONI,L.; VOLTERRA, V.; BATES, E. La Comunicazione nel
Primo Anno di Vita. Torino, Boringhieri, 1986.
FERNANDES, F.D.M. Aspectos Funcionais da Comunicao de Crian-
as com Sndrome Autstica. Tese de Doutorado, FFLCH-USP,
1995.
FERNANDES, F.D.M. Autismo Infantil: Repensando o Enfoque
Fonoaudiolgico. So Paulo, Editora Lovise, 1996.
FERNANDES, F.D.M.; PASTORELLO, L.; SCHEUER, C. A Fonoau-
diologia em Distrbios Psiquitricos da Infncia . So Paulo, Editora
Lovise, 1996.
FREUD, S. Artigos Sobre a Tcnica e Outros Trabalhos. Edio
Standard Brasileira, Vol. XII. Trad. Jos Octvio de Aguiar Abreu,
Rio de Janeiro, Imago ed., 1969. p. 149.
HALLIDAY, M.A.K. Language as Social Semiotic The Social
Interpretation of Language and Meaning. Maryland, University Park
Press, 1978.
HERRERO, E. O Processo Teraputico Fonoaudiolgico de uma
Criana Atendida em Hospital-Dia. Tese de Mestrado em Distrbios
da Comunicao, PUC-SP, 1995.
KANNER, L. Child Psychiatry . 3 ed. Illinois, Charles C. Thomas
Publisher, 1957.
KLEIN, M. Psicanlise da Criana. 1 ed. (1932). So Paulo, Mestre
Jou, 1975.
LANG, J.L. Nas Fronteiras da Psicose Infantil . Rio de Janeiro, Editora
Zahar, 1979.
MAHLER, M. As Psicoses Infantis e Outros Estudos. 1 ed. (1979).
Porto Alegre, Artes Mdicas, 1983.
MANONI, M. A Criana Retardada e a Me. 1 ed. (1964). So Paulo,
Martins Fontes, 1988.
PASTORELLO, L.M. Linguagem e Anlise do Dilogo entre Adultos e
Adolescentes com Sndrome de Asperger. Tese de Mestrado em
Semitica e Lingstica Geral, FFLCH-USP, 1996.
970
44
Gagueira
Silvia Friedman
INTRODUO
GAGUEIRA NATURAL
A partir do contexto acima delineado, parece importante
trabalhar, em primeiro lugar, a noo da gagueira com um
fenmeno natural, para, em funo dela, formar conceitos cien-
tficos que norteiam os procedimentos e a postura clnica voltados
para a avaliao e a terapia fonoaudiolgicas tanto do falar fluente
como do gaguejado.
A manifestao da gagueira, tomada em sentido amplo, pode
ser entendida como algo natural produo de fala das pessoas,
em qualquer perodo da vida (infantil ou adulta). Tanto assim que
os lingistas, quando definem fluncia, explicam que se trata de
uma produo de fala em que, normalmente, ocorrem diferentes
tipos de interrupes como hesitaes, prolongamentos, repeti-
es e pequenos bloqueios, dependendo dos estados subjetivos
do sujeito que fala e das condies em que se d a comunicao.
A gagueira uma condio natural ao ato de falar devido a,
pelo menos, trs tipos de determinaes: as motoras, as cogniti-
vas e as emocionais. Para entender essas determinaes
necessrio examin-las em separado, considerando, entretanto,
que elas podem agir separadamente ou simultaneamente e sem-
Gagueira 973
Avaliao e terapia
A concepo que se tem sobre os fenmenos fundamental
para definir a forma de avali-los e de trat-los. Assim, coerente-
mente com o que se disse at aqui a respeito da gagueira natural,
para poder avali-la, importante, em primeiro lugar, que o
terapeuta desenvolva sua escuta para os diferentes padres de
fala e fluncia dos indivduos, nas diferentes faixas etrias,
incluindo nisso uma anlise crtica de seu prprio padro, para
familiarizar-se com a realidade e abandonar as idealizaes. Isto
visa formar uma capacidade de observao da fala no-influenciada
pelos falsos dogmas sobre a fluncia e a gagueira, para que no
se reproduzam os falsos conceitos que o senso comum e os ideais
Gagueira 977
GAGUEIRA-SOFRIMENTO
O que dissemos at aqui sobre a gagueira natural, abre o
caminho para o que temos a dizer sobre a gagueira-sofrimento. A
primeira considerao que a concepo de gagueira natural e os
procedimentos delineados evitam que se desencadeie o desen-
volvimento da gagueira-sofrimento ou, se desencadeado, possa
ser revertido o mais prontamente possvel. A reverso do proces-
so se deve justamente ao fato de que a gagueira-sofrimento se
inicia pela no-aceitao do padro de fala. Essa no-aceitao
Gagueira 981
Avaliao e terapia
Como se pode depreender de tudo quanto foi dito at aqui, a
avaliao da gagueira est centrada na anlise e compreenso das
relaes de reciprocidade entre quatro aspectos que dizem respeito
histria de vida do indivduo designado como gago: seus conte-
dos subjetivos sobre a fala; os contedos subjetivos dos outros que
para ele so significativos, sobre sua fala; as caractersticas das
relaes de comunicao que vivencia e ao padro de fala que
apresenta. Por intermdio da escuta da histria de vida do indivduo,
que est articulada daqueles que o cercam, apreendem-se as
Gagueira 983
partir da, que seria muito melhor se ela deixasse de lado esse
trabalho de procurar gagueira em palavras que ainda nem sequer
falou.
Alcanado o novo ponto de vista, investe-se numa postura
de auto-observao. Por intermdio da auto-observao o pa-
ciente passa a perceber, no dia-a-dia, quanto ele costuma prever
suas quebras, e quanto os seus momentos de gagueira esto
ligados a essa previso. Isso aprofunda o novo ponto de vista, ou
seja, a compreenso da gagueira, bem como a possibilidade de
aceit-la como conseqncia lgica de um padro peculiar do seu
modo de pensar e sentir-se numa dada situao.
Paralelamente a esse trabalho, desenvolve-se, por meio de
tcnicas de abordagem corporal, a sensibilidade para o prprio
corpo. Esse desenvolvimento visa, primeiramente, fazer com que
o paciente sinta sua efetiva capacidade de fala. Sinta e perceba
que todos os sons que aparecem gaguejados aparecem tambm
sem gagueira. Sinta, enfim, que o comportamento de gaguejar, ao
contrrio do que ele imaginava, no representa uma incapacidade
na sua habilidade de falar, mas sim um estado que sua fala pode
assumir sob certas condies que ele est comeando a reconhe-
cer. Isto d suporte e facilita o desenvolvimento da capacidade de
auto-observao crtica. Alcanado esse ponto, o trabalho com a
sensibilidade corporal prossegue, ainda, para o reconhecimento
dos padres motores da sua gagueira e para o desenvolvimento
da capacidade de gaguejar de propsito.
Para chegar a tudo isso importante descrever e vivenciar
com o paciente todos os detalhes que compem a habilidade de
fala. A respirao e a capacidade de respirar na poro baixa,
mdia e alta. A produo da voz. A produo de cada fonema. A
percepo de que se pode interferir na respirao, no padro
vocal, no modo mais ou menos preciso de articular cada fonema,
na velocidade da articulao, na entoao. A percepo de que
no se pode interferir com a seqncia de produo dos fonemas
que vo compondo as palavras e as frases, adivinhando as falhas,
porque essa produo automatizada e era, justamente, o ponto
no qual ele acreditava poder interferir. Para isso, por intermdio
das tcnicas pertinentes, pode-se levar o paciente a estados de
relaxamento fsico e mental profundos, preferencialmente na
posio sentada, para nesse estado propor-lhe fala automtica
(seqncias de nmeros, meses, dias da semana); nomeaes
de cores, lugares, objetos, conforme aparecem em sua mente;
relato da caracterstica de lugares que conhece e/ou que cria em
sua imaginao e finalmente relatos de eventos de sua vida.
Com crianas dificilmente se poder usar a tcnica de
relaxamento anteriomente descrita. Se relaxamento necess-
rio, a tcnica do toque, da massagem, pode ser mais interessan-
te. E, de uma forma ldica, pode-se vivenciar momentos de fala
automtica e espontnea que a levem a perceber-se um falante
competente.
Gagueira 989
REVISO DA LITERATURA
Embora a gagueira continue a ser um tema controvertido no
panorama dos conhecimentos sobre a produo da fala humana,
poucas pesquisas tm sido realizadas a seu respeito, em nosso
meio cientfico-acadmico, nos ltimos 10 anos. A maior parte das
publicaes que tem chegado at ns so de origem norte-
992
Leitura recomendada
BANDLER & GRINDER Sapos em Principes. So Paulo, Summus
Editorial, 1982.
DE SHAZER, S. Terapia Familiar Breve. So Paulo, Summus Edito-
rial,1986.
FRIEDMAN, S. A Construo do Personagem Bom Falante. So
Paulo, Summus Editorial,1994.
FRIEDMAN, S. Reflexes sobre a natureza e o tratamento da Gagueira.
In: PASSOS, M.C. (org.) Fonoaudiologia: Recriando seus Sentidos.
Srie: Interfaces. So Paulo, Plexus, 1996.
GOMES, I.C.D. & FRIEDMAN, S. Conversando com pessoas que
manifestam gagueira. In: MARCHESAN, GOMES, ZORZI (orgs.)
Tpicos em Fonoaudiologia III. So Paulo, Editora Lovise, 1996.
MARTINET, M. Teoria das Emoes: Introduo Obra de Henry
Wallon. Lisboa, Moraes Editores, 1972.
WATZLAWICK, P. El Lenguage del Cambio. Biblioteca de Psicologa
69, Barcelona, Herde, 1986.
Deficincia Auditiva 1
Trabalho Fonoaudiolgico em Berrio 1001
45
Trabalho Fonoaudiolgico
em Berrio
Cludia Xavier
INTRODUO
FUNCIONAMENTO DO RECM-NASCIDO
O funcionamento do recm-nascido deve ser sempre conside-
rado para que este no seja sobrecarregado durante a interven-
o e mesmo no sentido de orientar pais e demais profissionais
para que consigam um contato mais efetivo com o beb.
ALS (1986) fala bem detalhadamente sobre o modelo de
organizao e desenvolvimento do comportamento do beb
(Fig. 45.1).
Neste modelo colocado que o desenvolvimento ocorre a
partir da concepo, at que aps o nascimento possvel para
o beb de termo normal, apresentar coordenao entre suco/
respirao/deglutio, ficar em alerta por algum tempo, entrar em
contato com o ambiente e regular os estmulos externos de acordo
com a sua disponibilidade.
Com 4 semanas aps a concepo, j existe movimento de
contoro do feto. Entre a 2 e 8 semanas, o feto j adquire
postura de flexo.
No perodo embrionrio, com 9 semanas e meia, o feto j
abre e fecha a boca. De 9 a 12 semanas j realiza movimentos
isolados de cabea e membros. Com aproximadamente 11
semanas inicia a deglutio. De 13 a 16 semanas apresenta
abertura e movimentao de olhos. Com aproximadamente 17
semanas inicia suco. De 17 a 20 semanas apresenta coorde-
nao de movimentos de mo a face. a partir deste momento
Trabalho Fonoaudiolgico em Berrio 1005
Ateno/Interao
Estados
Motor
Autnomo
Ambiente Organismo
Semana/ comportamento
Social mais 47 52 Brincadeira com objetos
amplo 42 46 Reciprocidade social
37 41 Estado de alerta
32 36 Movimentos rpidos de olhos/movi-
mentos respiratrios coordenados
Familiares 28 31 Movimentos complexos, suco digital
Ambiente 25 27 Movimento respiratrio fetal
extra-uterino 21 24 Movimentos rpidos de olhos
17 20 Movimentos coordenados de mo
face
13 16 Abertura e movimentos de olhos
Familiares 09 12 Movimentos isolados de cabea e
Ambiente membros
intra-uterino 02 8 Postura em flexo
04 Movimentos de contoro
Concepo
Perodo pr-natal
Deglutio e suco j ocorrem.
Perodo ps-natal
O desenvolvimento da alimentao consiste na maturao e
integrao de todos os componentes necessrios para a alimen-
tao normal.
1008
Reflexos primitivos
Bebs normais nascem com reflexos que so bsicos para
sua sobrevivncia (reflexo de Moro, de Marcha, tnico cervical
assimtrico e depois o simtrico, preenso palmar, de mordida, de
vmito, entre outros). A maioria destes reflexos so assimilados
na medida em que o beb desenvolve mais controle de seu corpo
e ambiente. Crianas com alteraes neurolgicas podem conti-
nuar a exibir estes reflexos alm do perodo normalmente esperado.
A persistncia destes reflexos interfere no desenvolvimento
da criana em todas as reas, incluindo alimentao e deglutio.
Respirao
A respirao nasal at aproximadamente os 3 meses de vida.
A epiglote contata o palato mole. A respirao no sincronizada e
flutua entre respirao abdominal e torcica superior.
Durante a respirao observam-se depresso da cavidade
torcica e expanso do abdmen. Depresso do esterno pode
ocorrer. O diafragma puxado sem ocorrer outro controle muscu-
lar ativo para contrabalanar a ao.
Fala e linguagem
Ocorre produo de vogais abertas durante episdios de
choro e sons vegetativos durante a alimentao.
No final deste perodo ocorre a diferenciao do choro.
1010
Respirao
Aos 6 meses o beb vai apresentar mais respirao torcica.
Fica mais tempo numa posio ereta e est desenvolvendo
controle da musculatura abdominal.
Fala e linguagem
Aos 6 meses existe variao das expresses faciais. O beb
j d risadas e o choro torna-se significativamente diferenciado.
H maior estabilidade de mandbula.
Ocorre a produo de vogais mais sustenidas e menos
nasalizadas e algumas combinaes de consoante/vogal. O beb
comea a imitar alguns sons. Ocorre o incio do balbucio.
Pode ocorrer a erupo do primeiro dente.
ATUAO FONOAUDIOLGICA
Em vrios centros hospitalares atualmente, o mdico encami-
nha para avaliao fonoaudiolgica, bebs com dificuldades de
alimentao. O encaminhamento pode tambm no ser feito, no
caso do mdico no acreditar na possibilidade de alimentao por
via oral. Ou o encaminhamento pode ser tardio, sob o ponto de
vista do desenvolvimento motor oral e global e no s da alimen-
tao por via oral (MORRIS & KLEIN, 1987; ARVEDSON & BRODSKY,
1993; XAVIER & BASTIVANJI, 1994).
Muitas vezes o encaminhamento tardio por no haver um
fonoaudilogo atuando na rotina do hospital, onde neste caso ele
j estaria triando os bebs quanto necessidade de um trabalho
especfico desde o momento em que existe a necessidade e que
o quadro clnico do beb permite.
Dentro de uma abordagem mais global, a alimentao conse-
qncia e no o objetivo do trabalho em si. Ao beb ou criana
dada a possibilidade do uso apropriado da boca, explorao dos
sistemas respiratrios e fonatrios, posicionamentos mais compa-
tveis com suas necessidades e maior contato com os pais tentando
proporcionar situaes de interao mais efetivas.
O ideal seria que fosse feito o encaminhamento o mais rpido
possvel, nos seguintes casos:
incoordenao de suco e deglutio;
utilizao de sonda gstrica;
suco fraca;
falhas respiratrias e/ou durante a alimentao;
reflexo de vmito exagerado e episdios de tosse durante
alimentao;
1012
AVALIAO E CONDUTA
A avaliao deve ocorrer no momento regular de alimentao
do beb. Como etapa inicial deve-se:
questionar e pesquisar sobre a histria familiar, dados da
gestao, ambiente;
ler o pronturio e discutir dvidas com a equipe;
observar presena de sonda nasogstrica, orogstrica, gas-
trostomia ou outras;
observar a face do beb (simetria, caractersticas estrutu-
rais);
observar tono, postura global e musculatura facial;
expresses faciais;
estado de comportamento do beb durante a avaliao.
Palpao
palpar ao redor da boca, mandbula e bochechas;
verificar as estruturas intra-orais (observar palato, posicio-
namento, tono e mobilidade de lngua);
observar reaes e reflexos que ocorrem.
Reflexos
observar reflexo de procura, de suco, vmito, mordida
fsica e preenso palmar e deglutio.
1. Volume de leite / BC
2. Horrio de incio da mamada
3. Prontido para a mamada
4. Tono
5. Estado de conscincia no incio da mamada
6. Postura no incio da mamada
7. Suco
8. Grau de fora de suco
9. Variao no ritmo de suco
10. Movimentao de lngua
11. Refluxo
12. Variao na fora de suco
Sinais de estresse
13. Escape de leite
14. Variao de tono global
15. Alterao respiratria
16. Outros sinais
17. Adormece durante a mamada
18. Horrio do final da mamada
19. Tempo que permanece sugando
Eficincia
20. Ml/minutos
21. Tempo total de alimentao
Conduta
Iniciar SNN
Continuar SNN
Iniciar VO
Quantidade por VO
Suspender VO
Observaes
Realizao da SNN
O beb deve ser posicionado em decbito lateral, com inclina-
o e suporte necessrio para que fique estvel nesta posio.
Deve-se tentar promover uma posio de flexo que facilitar a
performance de suco e desenvolvimento global do beb. A SNN
pode ser iniciada quando o beb ainda se encontra na isolete,
desde que sejam respeitados os critrios citados anteriormente
(Fig. 45.2).
O beb tocado, acariciado antes de receber o leite por
gavagem. So realizados toques em todo o corpo e na face.
posicionado e lhe oferecido o dedo mnimo envolvido por luva, bico
de chupeta ou bico de mamadeira para iniciar seu aprendizado
enquanto recebe o alimento pela sonda. O ideal que a SNN seja
realizada com a utilizao de dedo de luva, para melhor avaliao
dos movimentos e tono de lngua do beb. Pode-se molhar o dedo
de luva com soluo glicosada ou leite, com a finalidade de promo-
ver mais estmulo e propriocepo para o beb.
Esta experincia tem se mostrado bastante importante para a
evoluo de bebs hospitalizados. O beb vai evoluindo gradati-
FIGURA 45.2 Recm-nascido prematuro durante situao de SNN. Recebe leite por sonda nasogstrica
enquanto estimulado com dedo de luva com um pouco de leite para aumentar a propriocepo.
Encontra-se em decbito lateral direito, leve inclinao do colcho e apoio nas costas para conseguir
permanecer nesta posio. J direciona os membros em direo linha mdia, mas o tono ainda
alterado. No consegue ainda ficar com olhos abertos durante toda a mamada.
Trabalho Fonoaudiolgico em Berrio 1017
Controvrsias
Existem diversas opinies em relao aos tipos de sondas
utilizadas (Fig. 45.4). de comum acordo que a sonda nasogstrica
e a orogstrica tendem a prejudicar toda a mucosa por onde elas
passam e tambm o desenvolvimento motor oral do beb quando
utilizada por tempo prolongado. Muitos servios optam pela sonda
orogstrica inicialmente na medida em que grande parte dos
1018
ALTA HOSPITALAR
A alta hospitalar deve ocorrer no momento em que o beb
encontra-se com o padro adequado de alimentao e a me
orientada e tranqila com relao a esta situao.
A mamada precisa ser neste momento funcional, ou seja, o
beb deve ser eficiente, no demorar demais para adquirir a
quantidade de leite necessria para ele, alm de apresentar
padro adequado de suco, deglutio, respirao e postura.
A me j deve ter vivenciado vrias situaes de alimentao
com seu beb e j deve poder reconhecer possveis sinais de
estresse e desorganizao do beb para evit-los ou para interrom-
per a mamada se estes surgirem em casa. Orientaes especficas
relacionadas ao funcionamento individual do beb devem ser da-
das. A me deve estar com prtica nas tcnicas de amamentao
vivenciadas no berrio para poder transformar esta situao que
inicialmente gerou tenso, em algo prazeroso para ela e seu beb.
Seria fundamental que estes bebs considerados de risco
fossem acompanhados aps a hospitalizao tambm em nvel
fonoaudiolgico para um melhor conhecimento quanto ao seu
desenvolvimento e tambm para a deteco precoce de crianas
que necessitam de interveno mais direta ou orientao a pais no
decorrer do acompanhamento. Vrias pesquisas mostram como
seqelas destes bebs considerados de risco, as alteraes
globais de desenvolvimento, como atraso motor relevante, paralisia
cerebral, deficincia auditiva; tambm mostram como seqelas
menos evidentes, as alteraes de fala, linguagem, desenvolvimen-
to cognitivo, dificuldades de aprendizagem, problemas comporta-
mentais, entre outros (ANDRADA, 1989; AZEVEDO, 1993; BASSETTO,
1994; XAVIER & CARDINALLI, 1995; XAVIER, TAQUES; ALVES, 1996).
de extrema importncia que programas preventivos,
educativos e de interveno no s na fase hospitalar assim como
no seguimento destes bebs denominados de risco se desenvol-
vam. Este perodo inicial bsico para a qualidade de sade e
desenvolvimento em todas as outras fases da vida. Cabe ao
fonoaudilogo investir nesta formao e atuao, alm de
conscientizar outros profissionais e a populao em geral, quanto
a esta nova possibilidade de atuao.
Leitura recomendada
ALS, H. A synactive model of neonatal behavioral organization. In:
SWEENEY, J.K. The High-Risk Neonate: Developmental Therapy
Perspectives. New York, Hawort Press, 1986.
Trabalho Fonoaudiolgico em Berrio 1021
Reabilitao
Fonoaudiolgica nos
Casos Oncolgicos de
Cabea e Pescoo
1026
Atendimento Fonoaudiolgico nas Laringectomias Parciais 1027
46
Atendimento
Fonoaudiolgico nas
Laringectomias Parciais
Mara Behlau
Maria Ins Gonalves
INTRODUO
Cordectomia
A cordectomia representa a resseco de uma prega vocal,
com margem no pericndrio interno, com ou sem aritenoidectomia
(Fig. 46.1).
A voz resultante melhora a mdio prazo, quando se forma uma
fibrose no local da prega ressecada, chamada em alguns textos de
neocorda, que passar a atuar como muro de apoio da prega vocal
remanescente. Podemos, por vezes, observar vibrao da mucosa
da cicatriz ps-resseco, quando h condies para a ocorrncia
Laringectomia frontolateral
Para a realizao de uma laringectomia frontolateral ocorre a
resseco da quilha da cartilagem tireidea, mais a exrese
subpericondrial de uma prega vocal, com ou sem aritenoidectomia
e com margem no pericndrio interno (Fig. 46.3).
O resultado vocal depende da reconstruo empregada, que
produzir uma nova anatomofisiologia. De modo geral, a voz
perde em harmnicos e em intensidade, com uma qualidade
global spera ou rouca. A voz resultante tende a ser spera
quando no realizada a aritenoidectomia e a rea submetida
resseco transforma-se em um tecido enrijecido, que passa a ser
estirado pela aritenide. Por outro lado, quando realizada a
aritenoidectomia, ocorre um colabamento dos tecidos remanes-
centes, e a quantidade de massa colocada em vibrao produz
uma voz de qualidade rouca. Convm lembrar que vozes de
Atendimento Fonoaudiolgico nas Laringectomias Parciais 1031
Hemilaringectomia
Na hemilaringectomia ocorre a resseco de uma lmina da
cartilagem tireidea, com a quilha da mesma, juntamente com o
pericndrio externo, incluindo ou no a borda posterior dessa
cartilagem, com a insero do msculo constritor inferior da faringe.
Nas estruturas ressecadas, esto includas a comissura anterior,
toda uma prega vocal, com ou sem uma cartilagem aritenidea, o
ventrculo, a prega vestibular e o tero anterior da prega vocal
contralateral, com margem no pericndrio externo (Fig. 46.4).
O resultado vocal freqentemente melhor que nas laringecto-
mias frontolaterais, devido ao motivo j apresentado anteriormente:
a tendncia ao colabamento das estruturas da laringe e a vibrao
em bloco produzem uma voz disfnica, porm, bem aceita social-
mente. Do momento em que a maioria desses pacientes pertence ao
sexo masculino, a voz rouca de freqncia grave permite a correta
identificao do sexo do falante atravs das caractersticas acsticas
de sua emisso. A voz spera, resultado da sonorizao do ar por
ativao dos tecidos cicatriciais rgidos, alm de ser desagradvel
tende a ser aguda, inaceitvel para os falantes homens.
1032
Hemilaringectomia ampliada
Por sua vez, a hemilaringectomia ampliada corresponde a
uma ampliao da hemilaringectomia, com resseco da subglote
anterior e cricoidectomia parcial e/ou pecolo da epiglote e/ou loja
pr-epigltica e/ou prega vocal contralateral at o processo vocal,
respeitando sua cartilagem aritenidea e com margem no pericn-
drio externo (Fig. 46.5).
O resultado vocal semelhante ao anterior, mas geralmente
observa-se uma intensidade mais reduzida, o que implica menor
potncia e projeo vocais, dificultando a comunicao em locais
ruidosos. Nesses casos, as tentativas de elevar a intensidade
podem resultar em fadiga fonatria, cansao fsico e tontura
devido hiperventilao.
FIGURA 46.7 Caso 1 Paciente submetido laringectomia parcial frontolateral, reconstrudo por
retalho bipediculado de msculo esterno-hiideo (BAILEY, 1965). Imagem esquerda durante a
respirao e imagem direita durante a fonao. Observe que a fonao realizada na regio
supragltica, atravs da aproximao de ambas as cartilagens aritenideas e da epiglote. A fonte
sonora eficiente e a qualidade vocal resultante discretamente tensa (BEHLAU e cols., 1994).
Atendimento Fonoaudiolgico nas Laringectomias Parciais 1039
FIGURA 46.8 Caso 2 Paciente submetido hemilaringectomia, reconstrudo por retalho miocutneo
bipediculado de platisma (BRASIL e cols., 1991). Imagem esquerda durante a respirao e imagem
direita durante a fonao. Observe que a fonao realizada na regio gltica, atravs da
aproximao de prega vocal remanescente esquerda, contra retalho de reconstruo direita, regio
esbranquiada. A fonte sonora eficiente e a qualidade vocal resultante discretamente rouca
(BEHLAU e cols., 1994).
FIGURA 46.9 Caso 3 Paciente submetido laringectomia vertical subtotal, reconstrudo por retalho
de pele regional (CONLEY, 1975). Imagem esquerda durante a respirao e imagem direita durante
a fonao. Observe que a fonao realizada com a tentativa de aproximao das estruturas
remanescentes e do retalho de pele, porm, permanece grande fenda fonatria. A fonte sonora no
eficiente e a qualidade vocal resultante rouca severa e soprosa extrema (BEHLAU e cols., 1994).
1040
aperidico, quando percebe que vai aspirar, o que pode gerar uma
voz de qualidade tensa, estrangulada ou spera (DOYLE, 1994).
Tal comportamento de natureza compensatria e, portanto, no
deve ser tratado diretamente, mas sim a base da alterao, ou
seja, a aspirao.
comum que nos casos de laringectomias horizontais supra-
glticas os cirurgies utilizem a tcnica de elevao e anteriorizao
da laringe, o que favorecer o contato da lngua com a prpria
laringe. Tal recurso auxilia na proteo das vias areas, na
abertura da regio ps-cricidea e na passagem do bolo pelo
esfago, procurando minimizar a desvantagem anatmica gerada
pela prpria resseco.
COMENTRIO FINAL
Em um tempo onde questes relacionadas qualidade de
vida tm sido foco de reflexes profundas, a reabilitao do
indivduo submetido cirurgia parcial da laringe reveste-se de
extrema importncia. As questes psicolgicas relacionadas
prpria doena, o carcinoma, merecem por si s uma ateno
especial da equipe de sade. A sensao de perda de controle
da prpria vida talvez seja a marca mais lesiva do impacto desse
diagnstico; porm, aspectos menores sobre a qualidade da voz
propriamente dita, da respirao e da deglutio podem atingir
propores desastrosas em certos indivduos, principalmente
nos que dependem de sua comunicao para a sobrevivncia.
O esclarecimento da populao leiga deveria ser prioridade
governamental, mas em nossa realidade ainda depende do
esforo individual dos profissionais envolvidos no atendimento
desse paciente. O tempo deve ser um aliado positivo e, neste
sentido, a reabilitao deve ser direta, eficaz e rpida. Todos os
esforos no desenvolvimento da contribuio fonoaudiolgica
devem ser bem-vindos e apoiados pela comunidade cientfico-
acadmica. A iniciativa dos editores deste livro, de incluir um
captulo sobre laringectomias parciais num manual bsico de
fonoaudiologia revela essa conscincia, o que nos faz extrema-
mente gratas a eles.
Leitura recomendada
ALONSO, J.M. Conservative surgery of the cancer of the larynx. Trans.
Amer. Acad. Ophthalm. Otolaryngol., 51:633-642, 1947.
Atendimento Fonoaudiolgico nas Laringectomias Parciais 1049
47
Laringectomias Quase-totais
Reabilitao
Fonoaudiolgica
INTRODUO
Por muitos anos a laringectomia total era a nica forma de
tratamento para o cncer avanado da laringe. Muito tem sido feito
para se compreender melhor o comportamento biolgico do
cncer e, desta forma, a medicina tem tentado buscar novas
formas de tratamento menos mutiladoras.
H uma grande preocupao em se realizar cirurgias mais
conservadoras, possibilitando melhor prognstico funcional, mas
sem comprometer a erradicao do tumor. SHAH & SOO (1989)
citam que a preservao da voz importante, mas no se deve
enfatiz-la em detrimento da cura do cncer.
O avano dos equipamentos endoscpicos contribuiu para a
deteco e diagnstico dos tumores larngeos, possibilitando
melhor estadiamento e, conseqentemente, indicaes cirrgi-
cas mais precisas e seguras.
Na dcada de 50 surgiram as cirurgias conservadoras da
laringe, denominadas laringectomias parciais horizontais e verti-
cais; tais tcnicas eram melhor sistematizadas e baseadas, em
sua grande maioria, em antigas tcnicas anteriormente descritas
(PINTO, 1989).
OGURA, no incio da dcada de 70, descreveu a laringectomia
denominada quase-total (near-total), mas foi PEARSON (1981)
quem a popularizou.
1052
CONSIDERAES CIRRGICAS
O termo laringectomia quase-total refere-se a uma resseco
quase total da laringe. Preserva-se apenas uma faixa estreita que
conecta a via area e a faringe atravs da aritenide no-
comprometida (PEARSON, 1981).
Essa operao uma alternativa para a laringectomia total
quando uma pequena poro da laringe est livre do tumor. Sua
indicao deve ser precisa e no deve comprometer o critrio
oncolgico da cirurgia.
Esse procedimento cirrgico indicado para tumores larn-
geos incluindo leses glticas com fixao de prega vocal, leses
subglticas e supraglticas extensas, em que no seja possvel a
realizao da laringectomia parcial (Fig. 47.1). Pode tambm ser
realizada para tumores de seio piriforme, desde que a regio da
cartilagem cricide e a regio cricofarngea estejam livres do
tumor (PEARSON, 1981). A laringectomia quase-total contra-
Laringectomias Quase-totais Reabilitao Fonoaudiolgica 1053
Faringe
Tumor
Local do shunt
Traquia
FIGURA 47.1 Viso da laringe com tumor.
Prega vocal
Linha de resseco
Aritenide
Cricide
Shunt
traqueofarngeo
Cnula
Esfago
Traquia
REABILITAO FONOAUDIOLGICA
A reabilitao fonoaudiolgica nos casos de laringectomia
quase-total pode ser dividida em duas fases: 1. orientao pr-
operatria; e 2. reabilitao fonoaudiolgica propriamente dita.
Orientao pr-operatria
A reabilitao fonoaudiolgica deve ter incio no perodo pr-
operatrio. Esse primeiro contato com o paciente importante
para que se estabeleam os vnculos teraputico e de confiana,
essenciais para a reabilitao. Alm disso, possvel se identificar
o estado emocional do indivduo, o que auxilia o fonoaudilogo a
selecionar a melhor abordagem teraputica.
Laringectomias Quase-totais Reabilitao Fonoaudiolgica 1055
Leitura recomendada
ANDRADE, R.P.; BRASIL, O.O.C.; BEHLAU,M.; PONTES, P.A.; GON-
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Laringectomias Quase-totais Reabilitao Fonoaudiolgica 1061
48
Laringectomia Total
Perspectivas de Reabilitao
Vocal
Leitura recomendada
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1078
49
Tumores de Cavidade Oral e
Orofaringe Atuao
Fonoaudiolgica
INTRODUO
A atuao do fonoaudilogo nos casos de cncer de cabea
e pescoo, at h pouco tempo, era a reabilitao vocal do
laringectomizado total. Atualmente esse quadro vem mudando,
ainda que lentamente.
A preocupao com a qualidade de vida e a melhor forma de
reabilitao dos pacientes com resseces da cavidade oral e
orofaringe tm despertado o interesse tanto dos cirurgies de
cabea e pescoo como dos fonoaudilogos para uma atuao
em conjunto.
De acordo com CASPER & COLTON (1993), o tratamento
oncolgico requer o mais alto nvel tcnico dos muitos profissio-
nais da rea da sade, que devem trabalhar como uma equipe
coordenada durante todo o processo.
O fonoaudilogo, juntamente com os outros membros da
equipe, deve decidir qual a melhor conduta a ser tomada, pensan-
do na reabilitao e no prognstico dos pacientes.
A atuao fonoaudiolgica deve ter um contexto mais amplo,
no apenas de reabilitar os comprometimentos estticos e funcio-
nais, mas tambm de ajudar e de incentivar os pacientes a se
reintegrarem socialmente, reassumirem as atividades que exerci-
am antes, quando possvel, e aceitarem as limitaes decorrentes
da interveno cirrgica. Alm disso, deve informar e conscienti-
1080
CONSIDERAES GERAIS
A cavidade oral uma localizao bastante freqente de
neoplasias malignas. Nos pases subdesenvolvidos, que concen-
tram dois teros dos casos que ocorrem no mundo, essa a
terceira localizao mais comum.
Este tipo de cncer ocorre mais no sexo masculino, em uma
proporo de aproximadamente 5:1, sendo os indivduos acima
dos 40 anos os mais freqentemente acometidos.
A ocorrncia desta neoplasia est intimamente relacionada, na
maioria dos casos, condio scio-econmica mais baixa.
Dentre os fatores relacionados gnese destas neoplasias,
o tabagismo tem papel de destaque. Sabe-se que entre a
populao de fumantes a incidncia de cncer de cavidade oral
e orofaringe significantemente mais elevada que entre no-
fumantes. A ndia o pas onde a ocorrncia de cncer nestas
regies a mais elevada no mundo. Tal achado se explica pelo
hbito bastante difundido naquele pas de se mascar tabaco.
O etilismo outro hbito que tem influncia na gnese destas
neoplasias. A anlise dos casos mostra que mais de 90% dos
pacientes so fumantes e/ou etilistas, sendo a associao destes
hbitos, o achado mais freqente.
1
2
8
5 9
5
7 3
2
1
FIGURA 49.1 Esquema mostra sub-regies de cavidade oral e orofaringe. 1= Lbios; 2= gengivas
superior e inferior; 3= lngua; 4= assoalho da boca; 5= mucosa bucal; 6= palato duro; 7= rea
retromolar; 8= palato mole; 9= vula.
Tumores de Cavidade Oral e Orofaringe Atuao Fonoaudiolgica 1081
Anatomia
A cavidade oral anatomicamente definida como uma regio
delimitada anteriormente pela transio entre o vermelho dos
lbios e a pele e posteriormente pelos pilares amigdalianos. A
orofaringe compreende a regio que se estende do palato mole e
vula base de lngua e valcula. Desta forma, temos dentro
destes limites as seguintes sub-regies anatmicas que com-
pem a cavidade oral e a orofaringe: lbios; gengivas superior e
inferior; lngua; assoalho de boca; mucosa bucal; palato duro; rea
retromolar; palato mole; vula (Fig. 49.1).
Tipos de leses
Existem trs tipos bsicos de leses neoplsicas malignas
na cavidade oral e orofaringe: vegetantes, infiltrativas e ulcera-
das, sendo que mais comumente ocorrem combinaes destas.
Temos, portanto, tumores que podem assumir aspecto lcero-
vegetante ou lcero-infiltrativo (Fig. 49.2 A, B e C). Sabe-se que
as formas predominantemente vegetantes tendem a ter uma
evoluo mais lenta e um prognstico mais favorvel em relao
s leses predominantemente infiltrativas, que mais rapida-
mente acometem as estruturas profundas da cavidade oral e
orofaringe.
A B C
FIGURA 49.2 A) Leso lcero-vegetante de lngua. B) Leso lcero-infiltrativo de assoalho de boca.
C) Leso vegetante de lngua e assoalho de boca.
Diagnstico
A dor e a presena de uma ferida na boca so os sintomas mais
freqentes do cncer de cavidade oral e orofaringe. Sempre que
estas queixas estiverem presentes, o exame minucioso de todas as
sub-regies se impe. Devido ao fcil acesso ao exame fsico, o
diagnstico pode ser feito com relativa facilidade e, frente a alguma
leso presente, a bipsia obrigatria. Outros sintomas e sinais
como dificuldade para abertura de boca (trismo) ou sangramentos,
podem estar presentes nos casos mais avanados.
1082
Tratamento
O tratamento dos pacientes portadores de cncer de cavi-
dade oral e orofaringe deve necessariamente envolver diversos
profissionais. Cirurgies, radioterapeutas, quimioterapeutas, on-
cologistas clnicos, fonoaudilogos, psiclogos, nutricionistas e
dentistas devem compor uma equipe coordenada para que os
resultados sejam atingidos.
A principal forma de tratamento para estes pacientes a
cirurgia acompanhada ou no de radioterapia. Diversos esque-
mas de tratamento podem ser utilizados, sendo a cirurgia seguida
de radioterapia, a modalidade empregada na maioria dos casos.
A quimioterapia tambm pode ser utilizada em alguns casos,
porm esta modalidade teraputica at o momento no consegue
promover isoladamente um tratamento efetivo, sendo usada
sempre em associao com as outras formas j citadas.
Os procedimentos cirrgicos realizados variam de acordo com
o estgio da doena. Assim, leses precoces podem ser tratadas
com resseces menores que praticamente no produzem com-
prometimentos funcionais, enquanto leses avanadas deman-
dam a utilizao de tcnicas cirrgicas agressivas que acarretam
em seqelas estticas e funcionais significativas.
Dentre as sub-regies citadas, as mais freqentemente aco-
metidas so a lngua e o assoalho de boca. Assim, as cirurgias
mais realizadas so as glossectomias e as pelvectomias. Ressec-
es combinadas de diversas sub-regies tambm podem ser
utilizadas como forma de tratamento.
As resseces localizadas so quase sempre reconstrudas por
meio da utilizao de suturas simples com as estruturas remanes-
centes, enquanto as resseces extensas necessitam de retalhos
para a sua reconstruo, levando a maior dificuldade na reabilitao.
Tumores de lbios
Tumores malignos dos lbios (Figs. 49.4 e 49.5), particular-
mente os de lbio inferior, so de fundamental importncia entre
os tumores de cabea e pescoo devido sua alta incidncia e alta
curabilidade, pois so tumores bem-diferenciados ao exame
histolgico e de fcil acesso para o seu diagnstico (OIIVEIRA &
MIRANDA, 1989).
Os tumores de lbio inferior so mais freqentes, por esta
regio estar mais exposta aos raios solares.
1084
FIGURA 49.8 Esquema mostra leso anterior da FIGURA 49.9 Esquema mostra leso lateral da
lngua e rea ressecada glossectomia anterior. lngua e rea ressecada hemiglossectomia.
FIGURA 49.10 Esquema mostra leso posterior FIGURA 49.11 Esquema mostra leso nos dois
da lngua e rea ressecada glossectomia teros posteriores da lngua e rea ressecada
posterior. glossectomia total.
1086
Glossectomia parcial
Cirurgias do tero anterior da lngua podem prejudicar mais a
fala, a mastigao e a higiene oral. Quando a resseco do tero
posterior, a deglutio estar mais prejudicada. Nas resseces
de hemilngua, os pacientes no apresentam grandes alteraes
de fala e deglutio pela facilidade de compensao com a parte
restante da lngua. Essas alteraes podem ser discreta distoro
articulatria e acmulo de alimento na cavidade oral do lado
ressecado.
Em resseces de lngua menores que 50%, o comprometi-
mento de fala e deglutio est relacionado ao tipo de reconstru-
o; j nas maiores que 50%, a extenso e a reconstruo
determinam a habilidade funcional (LOGEMANN, 1983).
Glossectomias menores que 50% podem apresentar altera-
es mnimas de fala e de deglutio, normalmente no ps-
operatrio imediato, sendo de fcil adaptao. Segundo
L OGEMANN (1983), a alterao de deglutio ocorre devido ao
edema, o que pode ocasionar uma pequena dificuldade no
disparo do reflexo.
J nas resseces maiores que 50%, os comprometimentos
funcionais so mais importantes e a reabilitao vai depender de
diversos fatores, como a extenso da cirurgia, tipo e aspecto da
reconstruo, grau de mobilidade da lngua remanescente, pre-
sena ou ausncia dos dentes.
As alteraes nas glossectomias maiores que 50% geralmen-
te so:
Articulao prejudicada
Ocorre pela dificuldade de contato da poro remanescente
da lngua com o alvolo e palato para a produo dos fonemas
consonantais linguodentais, linguoalveolares, linguopalatais e
velares. As vogais tambm se encontram alteradas, principalmen-
te as que requerem uma posio superior ou anterior da lngua,
devido freqncia do segundo formante ser afetada pelo grau e
lugar de constrio dentro da cavidade oral. Alguns pacientes
usam a faringe, a epiglote, um resduo qualquer de lngua rema-
nescente ou um retalho de lngua moldado e movimentos da
mandbula (rebaixamento/elevao ou protruso/retrao), como
modo de compensao, a fim de produzir a acstica apropriada
(CASPER & COLTON, 1993).
Ressonncia alterada
Segundo CASPER & COLTON (1993), a ressonncia depende
do formato, tamanho e tonicidade do trato vocal. Como resultado
de cirurgias orais ablativas, podem ocorrer alteraes em todos os
trs aspectos.
Glossectomia total
Nas glossectomias totais, os comprometimentos mais seve-
ros so:
Articulao alterada
Todas as vogais e consoantes, exceto as bilabiais e
labiodentais, esto comprometidas. Porm, este no um fator
limitante comunicao, j que glossectomizados totais conse-
guem se expressar de forma inteligvel sem utilizar outros recur-
sos, como o apoio grfico, gestual ou a ajuda dos familiares
(TIWARI e cols. 1993).
Tumores de mandbula
A resseco de pequena poro da mandbula no acarreta
problemas funcionais ou quando estes ocorrem, so mnimos,
como a dificuldade em mastigar do lado ressecado. J os tumores
mais extensos, que podem envolver outras estruturas, como a
lngua, comprometem a fala e a deglutio.
A exrese da mandbula chamada de mandibulectomia,
podendo ser do tipo marginal ou segmentar.
Na mandibulectomia marginal (Fig. 49.12), ressecada uma
parte do corpo da mandbula no sentido longitudinal. A
mandibulectomia segmentar (Figs. 49.13 e 49.14) compreende a
resseco de um segmento vertical da mandbula.
A mandibulectomia marginal no acarreta dficits funcionais
importantes. Quando associada glossectomia parcial, resulta
geralmente em uma impreciso articulatria, dificuldades de mas-
tigao e propulso do bolo alimentar do lado ressecado. Tais
Tumores de palato
Os tumores de palato (Figs. 49.15A, B e C) podem estar
localizados apenas em palato duro ou mole ou mesmo acometer
1090
A B C
FIGURA 49.15 A) Esquema mostra leso de palato duro e rea de resseco. B) Esquema mostra
leso de palato mole e rea de resseco. C) Esquema mostra leso extensa de palato e rea de
resseco.
ORIENTAO PR-OPERATRIA
A orientao pr-operatria para os tumores de cavidade oral
e orofaringe deve ser realizada com o paciente e seus familiares,
em especial o cnjuge, para que haja um maior grau de entendi-
mento sobre a cirurgia e uma melhor participao de todos no
processo de reabilitao. Seus objetivos so:
1. Estabelecer o vnculo terapeuta/paciente/famlia
Ao realizar a orientao pr-operatria, o fonoaudilogo, o
paciente e sua famlia tm a chance de estabelerem vnculos
numa situao de comunicao mais favorvel (BEHLAU & ZIEMER,
1989).
Quando a explicao for completa e os pacientes puderem
expressar seus sentimentos e esclarecer suas dvidas em rela-
o cirurgia e reabilitao, o fonoaudilogo estar transmitindo
parte da confiana necessria a este processo. A ansiedade pode
ser reduzida se eles souberem, antes da cirurgia, que um profis-
sional especializado estar disponvel para tratar suas dificulda-
des (GROHER,1996).
2. Conscientizar os pacientes do tipo de cirurgia e suas
conseqncias
Inicialmente, deve-se saber o que os pacientes conhecem
sobre a cirurgia e a partir da, reforar ou complementar tais
informaes. muito importante que essas informaes sejam
dadas de forma clara, respeitando o nvel scio-cultural e o
interesse do paciente.
Nessas orientaes devem constar esclarecimentos sobre o
local e extenso da leso, o tipo de cirurgia e reconstruo a
serem realizados, assim como as possveis alteraes de fala e
deglutio decorrentes. Convm lembrar que as cirurgias de
cavidade oral e orofaringe podem causar desde mnimas at
grandes alteraes, e por isso os esclarecimentos sobre estas
devem ser dados de acordo com o padro caracterstico de cada
cirurgia.
Os pacientes devem estar cientes de que, no ps-operatrio
imediato, permanecero temporariamente com uma sonda naso-
enteral para alimentao. Isso depender do processo cicatricial,
que se d num perodo de 10 a 15 dias, associado ao sucesso na
reintroduo da alimentao por via oral. Cirurgias mais extensas
(por exemplo, glossectomia total), ou que envolvem a retirada de
mais que uma estrutura (por exemplo, retromolar ampliada),
requerem um tempo maior de permanncia da sonda devido
disfagia comumente presente.
Tumores de Cavidade Oral e Orofaringe Atuao Fonoaudiolgica 1093
ORIENTAO PS-OPERATRIA
Segundo DOYLE (1994), a orientao ps-operatria deve
enfocar as mudanas decorrentes da cirurgia e a habilidade dos
pacientes em se adaptarem a essas mudanas.
Neste momento, deve-se retomar com os pacientes e seus
familiares alguns pontos essenciais sobre a reabilitao. Na
maioria dos casos, eles esquecem as orientaes dadas no
pr-operatrio devido ao grau de ansiedade e estresse, que faz
com que eles no assimilem todas as informaes.
Na primeira consulta ps-operatria, alm de orientar os
pacientes, ser necessria uma reavaliao da morfofisiologia
das estruturas remanescentes para entender melhor os novos
mecanismos de fala e deglutio utilizados. A sensibilidade intra
e extra-oral tambm deve ser avaliada, pois auxilia na propriocep-
o, importante para um desempenho satisfatrio destas funes.
Na avaliao de fala importante verificar o quadro fonmico,
o tipo articulatrio e a velocidade de fala.
Na avaliao da deglutio necessrio observar a habilidade
de deglutio espontnea de saliva e realizar testes com alimentos,
variando quantidades e consistncias. Deve-se estar atento a:
introduo do alimento em cavidade oral;
preparao do bolo (mastigao);
movimento de propulso do bolo alimentar;
tempo de disparo do reflexo da deglutio;
presena de resduos alimentares em sulcos, lngua, as-
soalho de boca, palato e pilares;
movimentao vertical de laringe durante a deglutio;
presena de tosse antes, durante ou aps a deglutio e;
qualidade vocal do paciente aps a deglutio.
A partir das respostas obtidas com esta avaliao, pode-se
traar um plano de terapia especfico para cada paciente e
cirurgia.
TERAPIA
O sucesso da reabilitao est relacionado motivao dos
pacientes, sua prpria capacidade de adaptao, habilidade
da equipe de reabilitao assim como aos aspectos referentes
cirurgia (CASPER & COLTON, 1993).
O conhecimento exato das estruturas ressecadas e o tipo de
reconstruo realizado fundamental para determinar o plane-
jamento teraputico e o possvel prognstico. Quanto mais
extensa for a cirurgia e mais estruturas envolver, pior ser o
prognstico.
O fonoaudilogo deve reconhecer e aceitar as limitaes
funcionais decorrentes da cirurgia, tentando ajudar os pacientes
a conviverem com suas dificuldades.
Tumores de Cavidade Oral e Orofaringe Atuao Fonoaudiolgica 1095
Resseco de lbios
Na resseco completa dos lbios, a terapia deve objetivar a
conteno salivar e alimentar e a melhora da articulao.
Para a conteno salivar e alimentar, os pacientes devem ser
orientados a deglutir com mais freqncia e tentar manter um
adequado vedamento labial, conseguido por meio de postura com-
pensatria de mandbula. Exerccios de sensibilidade, com mate-
riais de diferentes temperaturas e texturas, aplicados com variao
de velocidade, direo e fora, podem ajudar os pacientes a
conseguirem perceber o escape da saliva e do alimento.
A melhora da articulao pode ser conseguida por meio de
emisses dos fonemas plosivos com maior presso, exerccios
de sobrearticulao e diminuio do ritmo e velocidade da fala.
Resseco de lngua
Glossectomia parcial
Glossectomia total
Para este tipo de cirurgia, o essencial desenvolver movimen-
tos compensatrios com as estruturas remanescentes, a fim de
minimizar as alteraes de articulao e deglutio.
Como forma de adaptao da fala, os pacientes so orienta-
dos a encostar o lbio inferior atrs dos dentes ou alvolo superior
para produzir os fonemas /t, d, n/, ou mesmo estirar os lbios para
aproximar auditivamente as fricativas /s, z/, entre outras compen-
saes. Os pacientes, na tentativa de se adaptarem a essas
compensaes, podem acabar desenvolvendo outras que sejam
satisfatrias.
Exerccios de sobrearticulao e diminuio do ritmo e veloci-
dade de fala ajudam a diminuir a hipernasalidade, melhorar a
preciso articulatria e tornar a fala mais inteligvel.
Os exerccios de tnus e mobilidade da musculatura perioral so
importantes na terapia de disfagia, pois auxiliam na manuteno do
selamento labial e conteno de saliva e alimentos e evitam acmu-
lo de resduos alimentares em sulcos laterais e anteriores.
Devido ao atraso no disparo do reflexo da deglutio, pela falta
de contato do dorso da lngua com os pilares palatoglosso, estes
devem ser estimulados termicamente com material gelado. Para
isso, realizam-se toques repetidos nos pilares, com espelho
larngeo 0.0 embebido em gelo.
Alm disso, manobras como a deglutio supragltica, de-
glutio dura, mltiplas degluties e empuxo podem ser
ensinadas aos pacientes, a fim de que eles sejam capazes de
proteger suas vias areas para deglutio. A realizao de
exerccios com escalas de variao de tons graves e agudos
favorece a elevao larngea e, conseqentemente, o relaxa-
mento do esfncter cricofarngeo.
Para auxiliar a passagem de alimento para a faringe, pode
utilizar-se uma postura de cabea levemente inclinada para trs,
facilitando a descida do alimento, e posteriormente para baixo
evitando assim a aspirao. 0 treino destas manobras pode no
utilizar alimento inicialmente e medida que os pacientes estiverem
aptos a realiz-las, este comea a ser introduzido.
Geralmente, inicia-se por alimentos nas consistncias lquida
ou lquida-engrossada, que facilitam o trnsito da cavidade oral
para a faringe. medida que j houver um controle muscular
maior e uma adaptao s manobras ensinadas, procura-se
passar para alimentos pastosos. O simples posicionamento des-
tes alimentos mais posteriormente na cavidade oral ajuda a
eliminar as primeiras fases da deglutio. Alimentos slidos so
praticamente impossveis de serem introduzidos devido s limita-
es anatmicas e funcionais presentes.
Tumores de Cavidade Oral e Orofaringe Atuao Fonoaudiolgica 1099
Resseco de mandbula
Nas mandibulectomias segmentares deve-se realizar exerc-
cios de abertura e fechamento de boca, tentando evitar desvios da
mandbula, a fim de obter melhor selamento labial, diminuio do
defeito facial e mastigao mais adequada.
Massagens tonificadoras e exerccios isomtricos e de mobi-
lidade de outras estruturas adjacentes (lbios, lngua e boche-
chas) tambm ajudam a obter uma articulao mais precisa.
importante ressaltar que nas mandibulectomias segmenta-
res sem reconstruo, o prognstico funcional limitado.
Resseco de palato
Quando a resseco do vu palatino parcial, devem ser
realizados exerccios de mobilidade desta regio, como estimula-
o trmica gelada, emisso de fonemas plosivos-velares e fonao
sussurrada. Esses exerccios promovem a melhora do fechamento
velofarngeo, diminuindo o refluxo nasal de alimentos, principalmen-
te lquidos, e a hipernasalidade. Exerccios de sobrearticulao
tambm auxiliam no aumento da oralidade das emisses.
Quando a prtese de palato indicada, a terapia fonoaudiolgi-
ca ser necessria nos casos em que os pacientes apresentarem
articulao travada e ressonncia nasal no ps-operatrio, melho-
rando com os exerccios de sobrearticulao.
Leitura recomendada
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Tumores de Cavidade Oral e Orofaringe Atuao Fonoaudiolgica 1101
ndice Remissivo
G L
Gama tonal, 704 Laboratrio vocal, 624
Gametognese de um indivduo, 30 f Laringe
Ganho funcional, 482 artificial, 1066, 1068, 1073
Genealogia(s) simtrica, 610 f
com padro de herana, 32 f, 33 f, 35 f tipo cachimbo, 1067
hipottica, 26 f Laringectomia
Gestos indicativos, 888 parcial, 1028, 1029, 1033, 1035, 1044, 1045
Glossectomias, 1082, 1085, 1087, 1096 quase-total, 1044, 1051, 1059
Gnosia auditiva, 111 total, 1051, 1056, 1059
Laringoscopia, 723
H indireta, 691, 698
Lei de Fechner-Weber, 66
Hbitos parafuncionais, 792
Leso
Hemotmpano, 13
cerebral, 939
Herana monognica
coclear, 184
autossmica, 31, 32
de cpsula interna, 945
dominante, 34 de plido, 945
recessiva, 35 de putamen, 945
Hereditariedade, 764 Letramento, 930
Heredograma, 26 Ligamento
Hidropisia endolinftica, 4, 21, 235 esfenomandibular, 809
Higiene vocal, 726 estilomandibular, 809
Hiperaduo, 689 temporomandibular, 809
Hipernasalidade, 796 Limiar
Hipoacusia, 9 auditivo, 89
Hipoaduo, 689 de deteco da fala, 281
de recepo da fala, 101, 155, 280
I Lngua de sinais, 329
Imitao, 887, 903 Loudness, 623, 684, 705, 729 (ver tambm
condutas imitativas, 886 intensidade)
de novos sons, 885 Luxao recidivante, 817
vocal e motora, 891 M
Imitncia acstica, 138, 165, 171
em recm-nascidos, 256 Macrogenia, 787
orelha mdia, 173 Malformao da orelha externa, 10 f, 11 f
Imitanciometria no diagnstico Mandibulectomia, 1088, 1091
otolgico, 179 Mascaramento, 88, 95
otoneurolgico, 185 de crianas, 279
Implante coclear efetividade, 96, 105
multicanal, 401 na audiometria, 99
reabilitao de paciente, 406 tonal, 97, 98
seleo de pacientes, 405 vocal, 104
Inadaptaes vocais, 610 Massagem
Incoordenao fonatria, 690 de origem japonesa, 672
integrativa, 677
ndice de reconhecimento da fala, 103, 281
Mastigao, 774, 792
Insuficincia velofarngea, 829, 848
Membrana do tmpano, 14
Inteligncia, Formao da, 883
Membrana sinovial, 809
Intensidade
Meningioma, 132
sonora, 66 Meningites, 22
vocal, 705 (ver tambm loudness) Mensuraes
Interao, 880, 901 in situ, 483, 517
Interrupes, 972 microfone-sonda , 483, 517
J Mtodos
de aspirao, inalao ou suco do
Jargonografia, 941 ar, 1065
1108
Teste(s) Treinamento
da voz alternada, Weber, 161 autgeno, 679
de diapaso, 5 vocal, 632, 711
de Doerfler-Stewart, 160 Tremor vocal essencial, 686
de escuta montica e ditica, 117 Triagem auditiva, 235, 240, 241
de fala, 279 Tubrculo articular, 805
com rudo branco, 113 Tumores
filtrada e de fuso binaural, 114 da rea retromolar, 1090
de Fowler, 143 de cavidade oral e orofaringe, 1079
de Friedreich, 87 de lbios, 1083
de Lee-Azzi, 159 de lngua, 1085
de Lombard, 159 de mandbula, 1088
de reconhecimento de fala, 485 de palato, 1089
de Rinne, 86 de seio piriforme, 1052
de Schwabach, 87 glmicos da orelha mdia, 187
de Stenger, 162 larngeos, 1052
ditico, 115, 116 na orelha mdia, 13
do feedback acstico, 159
V
SISI, 144
SSW, 118, 120 Vocal fry, 690
Timpanosclerose, 13 Voz
Tipologia facial, 796 bitonal, 622
Tipos cantada, 730
de sondas, 1018 f classificao, 729
de voz, 621 esofgica, 1063
Tone decay test, 142 traqueoesofgica, 1072
Trabalho profissional, 723
corporal, 662 tipo de, 621
multiprofissional, 694 tom mdio, 729
Translocao equilibrada entre os
Z
cromossomos, 30 f
Trauma(s) Zona
acstico, 19 bilaminar, 808
cranianos, 21 retrodiscal, 808