Trabalho 3 - Asteroides e Cometas

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

Estudo de Asteroides Troianos no Sistema Solar

Cristiane de Paula Oliveira 00261424


FIS02015 Astronomia de Sistemas Planetrios
Departamento de Astronomia IF UFRGS
29 de novembro de 2016

RESUMO

Palavras-chaves: sistema solar. asteroides troianos.

Introduo e entre elas. O ponto L2 fica na linha que une as


duas massas porm alm da menor das duas. O
O primeiro asteroide troiano foi descoberto ponto L3 fica na linha que une as duas massas
em 1906 por Max Wolf, que o nomeou 588 Achilles, porm do lado oposto massa menor. Os pontos
em referncia ao heri da guerra de Troia. Quase L4 e L5 ficam em um vrtice do tringulo equil-
um sculo depois, em 1990, foi descoberto 5261 tero cujos outros dois vrtices so as duas massas,
Eureka, o primeiro troiano de Marte. Em 2001, sendo o ponto L4 frente na orbita da menor massa
descobre-se o primeiro troiano de Netuno, em 2010 em torno da maior e o L5 atrs.
o primeiro troiano da Terra e em 2011 o primeiro
troiano de Urano. A figura 1 ilustra as posies dos pontos
lagrangianos.
Asteroides troianos so objetos coorbitais,
ou seja, orbitam a mais ou menos a mesma dis-
tncia do objeto principal. Existem vrios tipos
de objetos coorbitais, porm os objetos troianos
so aqueles que libram em torno de dois pontos
lagrangianos, L4 e L5, 60 a frente e atrs na r-
bita do objeto (no casos dos asteroides troianos
este objeto o planeta) em torno do objeto prin-
cipal (o Sol), respectivamente.
Os pontos lagrangianos so posies numa
configurao orbital de dois grandes corpos onde
um corpo menor afetado somente pela gravidade Figura 1 Posies dos pontos lagrangianos.
permanece numa posio estvel em relao aos
dois corpos maiores.
Os parmetros orbitais que so usados para
Existem cinco pontos lagrangianos, todos
descrever a relao de objetos coorbitais so a dife-
no plano orbital dos dois corpos maiores. O ponto
rena da longitude de periastro () e a diferena
L1 fica na linha que une as duas massas maiores
da longitude mdia ().

1
Figura 2 Nmero de asteroides troianos na rbita de cada planeta nos pontos L4 e L5.

A longitude de periastro a soma da Planeta ( ) ( ) M ( )


longitude do n ascendente e do argumento de Terra 348,73936 114,20783 205,8
periastro , Marte 46,562 286,537 312,6
= + . Jpiter 100,492 275,066 163,2
Urano 73,98982 95,54132 212,1
Para um objeto que orbita em torno do Netuno 131,79431 265,64685 292,4
Sol, a longitude do n ascendente o ngulo Tabela 1 Longitude do n ascendente, argumento do pe-
com vrtice no Sol medido sob o plano da ecltica riastro e anomalia mdia para os planetas com asteroides
desde o Ponto ries at o n ascendente da rbita troianos.
do objeto, no sentido de translao. O argumento
de periastro o ngulo medido no plano da or-
bita do objeto desde o n ascendente at o ponto L5; Urano com 1 objeto no L4 e a Terra tambm
de periastro. No caso de objetos orbitando o Sol, com 1 objeto no L4.
podemos chamar de argumento de perilio. Como podemos ver pelo grfico da Figura
A longitude mdia a soma da longitude 2, existem mais asteroides no ponto L4 que no L5,
de periastro e da anomalia mdia , com exceo de Marte. Em Jpiter, que possui
quase 6500 asteroides troianos descobertos, espe-
= + . raramos que o nmero de objetos em cada ponto
fosse aproximadamente igual, podem notamos que
A anomalia mdia a converso para no ponto L4 tem quase o dobro de objetos do L5.
ngulo do tempo desde que o astro passou pelo Neste trabalho, buscamos investigar os pa-
periastro em uma rbita. rmetros fsicos e orbitais dos asteroides para iden-
No caso dos asteroides troianos, a tificar se h alguma diferena entre os parmetros
diferena entre a longitude do perilio do asteroide dos asteroides nos pontos L4 e L5 de cada planeta
e do planeta, assim como a diferena entre e compar-los com de outros planetas.
a longitude mdia do asteroide e do planeta.
Os troianos no orbitam exatamente em 1 Origem e Anlise dos Dados
um dos pontos lagrangianos, mas permanecem re-
Os dados utilizados para as anlises foram
lativamente prximos dele, aparentando orbitar
os fornecidos pelo Minor Planet Center da Unio
lentamente em torno deles. Em termos tcnicos,
Internacional Astronmica (IAU). Os dados so
eles libram em torno de (, ) = (60 , 60 ).
de distncia no perilio e no aflio, magnitude vi-
O ponto em torno dos quais eles libram o mesmo,
sual absoluta, anomalia mdia da poca (que no
a despeito de sua massa ou excentricidade orbital.
caso dos dados presentes na lista do MPC eram do
No Sistema Solar, os planetas que tem as- dia 31 de Julho de 2016), elementos orbitais como
teroides troianos em sua orbita so Jpiter, com argumento de perilio, longitude do n ascendente
4188 objetos no ponto L4 e 2268 no L5; Netuno e inclinao, excentricidade orbital e semieixo.
com 13 no L4 e 4 no L5; Marte com 1 no L4 e 3 no
Os dados necessrios para anlise dos pla-

2
Planeta ( ) ( ) e Marte so tendenciosos devido ao pequeno n-
Terra 102,94719 308,7 mero de pontos.
Marte 333,099 285,7
Na figura 6, graficamos a excentricidade
Jpiter 15,558 178,8
da rbita do asteroide em relao ao semieixo maior.
Urano 169,53115 21,6
Como na figura 5, Netuno e Marte sugerem que as-
Netuno 37,44116 329.8
teroides no ponto L5 tm maiores excentricidades
Tabela 2 Longitude do periastro e longitude mdia para e Jpiter mostra que no h correlao, asteroi-
os planetas com asteroides troianos.
des em ambos os pontos possuem uma distribuio
bastante parecida.
netas que possuem asteroides so a longitude do No grfico da figura 7, graficamos a incli-
n ascendente e argumento de perilio, encontra- nao da rbita em relao ao semieixo maior. Em
dos no Wikipedia, e anomalia mdia da poca (31 Jpiter percebemos uma concentrao de asteroi-
de Julho de 2016), obtida no Wolfram|Alpha. Estes des troianos no L4 que tem inclinao da rbita
valores so mostrados nas tabelas 1 e 2. menor que 10 que no se v nos asteroides troia-
nos no L5. Em Netuno no notvel as diferenas
A anlise dos parmetros dos asteroides
de inclinao dos asteroides dos dois grupos e em
troianos foram feitas apenas com os planetas que
Marte o nico asteroide no ponto L4 tem menor
tinham objetos em ambos os pontos L4 e L5, sendo
inclinao que os trs asteroides no L5.
assim, a Terra e Urano que s possuem um troiano
no L4 cada no so contemplados nos grficos. Na figura 8, graficamos a magnitude visual
absoluta em relao ao semieixo maior da rbita.
A magnitude visual absoluta pode nos dar uma
2 Discusso estimativa do tamanho do asteroide supondo de-
terminado albedo. Em Jpiter, os asteroides troi-
No primeiro grfico, da figura 3, grafica-
anos podem ter de 240 km (H=7) a 1 km (H=15).
mos a diferena de longitude mdia, em graus,
Os asteroides troianos de netuno podem ter de
contra o semieixo maior da rbita. Para todos os
300 km (H=6,5) a 75 km (H=9,5). Os asteroides
planetas os dados concordam com o que era espe-
troianos de Marte so bem menores, tendo entre
rado j que os asteroides troianos libram em torno
menos de 1km (H=18,5) a 3 km (H=16). No se
de 60 , ou seja, sendo a posio do planeta na
percebe diferenas significativas de tamanho entre
rbita definida como 0 , no sentido da rbita, as-
os asteroides do ponto L4 e L5 para cada planeta
teroides no ponto L4 esto a 60 e asterides no L5
individualmente.
esto a 300 .
No grafico da figura 4, graficamos a dife-
rena de longitude do periastro contra o semieixo Consideraes finais
maior da rbita. Tambm esperaria-se que os as-
O objetivo do trabalho relatado foi iden-
teroides do ponto L4 estivessem concentrados em
tificar diferenas nos parmetros fsicos e orbitais
60 e do ponto L5 em 300 , porm nota-se que a
dos asteroides troianos nos Sistema Solar que pu-
distribuio muito dispersa e os pontos do L4
dessem explicar por que na maioria dos planetas
e L5 se misturam. Somente para Jpiter que tem
h mais asteroides troianos no ponto L4 que no
um grande volume de dados que possvel notar
L5.
essa tendncia.
Graficamos vrios parmetros e no foi pos-
Na figura 5 graficamos a distncia no af-
svel perceber diferena significativa entre asteroi-
lio em relao distncia no perilio. Os grficos
des no ponto L4 e L5 que pudessem explicar o
de Netuno e Marte sugerem que os asteroides no
motivo dessa assimetria.
ponto L5 esto mais prximos no perilio e dis-
tantes no aflio que os asteroides no ponto L4. Podemos propor que algum mecanismo di-
Porm, no grfico de Jpiter no vemos esta rela- nmico do sistema pode causar essa diferena, seja
o, o que pode indicar que os grficos de Netuno mecanismos de formao, evoluo, captura, ex-

3
Jupiter Jupiter
350 350

Longitude do periastro ()
300 300
Longitude media ()

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
5 5.05 5.1 5.15 5.2 5.25 5.3 5.35 5.4 5 5.05 5.1 5.15 5.2 5.25 5.3 5.35 5.4
Semieixo maior [UA] Semieixo maior [UA]

Netuno Netuno
350 350
Longitude do periastro ()

300 300
Longitude media ()

250 250

200 200

150 150

100 100

50 50

0 0
29.9 29.95 30 30.05 30.1 30.15 30.2 30.25 30.3 30.35 29.9 29.95 30 30.05 30.1 30.15 30.2 30.25 30.3 30.35
Semieixo maior [UA] Semieixo maior [UA]

Marte Marte
350 200
180
Longitude do periastro ()

300
Longitude media ()

160
250 140
120
200
100
150 80
100 60
40
50
20
0 0
1.5235 1.524 1.5245 1.525 1.5255 1.5235 1.524 1.5245 1.525 1.5255
Semieixo maior [UA] Semieixo maior [UA]

Figura 3 Relao entre a longitude mdia () e semieixo Figura 4 Relao entre a longitude de periastro () e o
maior da rbita de asteroides troianos no ponto L4 (azul) semieixo maior da rbita de asteroides troianos no ponto
e no ponto L5 (vermelho) para cada planeta. L4 (azul) e no ponto L5 (vermelho) para cada planeta.

4
Jupiter Jupiter
6.8 0.3
6.6
0.25

Excentricidade orbital
Distancia Afelio [UA]

6.4
6.2 0.2
6
0.15
5.8
5.6 0.1
5.4
0.05
5.2
5 0
3.6 3.8 4 4.2 4.4 4.6 4.8 5 5.2 5.4 5 5.05 5.1 5.15 5.2 5.25 5.3 5.35 5.4
Distancia Perielio [UA] Semieixo maior [UA]

Netuno Netuno
37 0.2
0.18
36
Excentricidade orbital

0.16
Distancia Afelio [UA]

35 0.14
34 0.12
0.1
33 0.08
32 0.06
0.04
31
0.02
30 0
24.5 25 25.5 26 26.5 27 27.5 28 28.5 29 29.5 30 29.9 29.95 30 30.05 30.1 30.15 30.2 30.25 30.3 30.35
Distancia Perielio [UA] Semieixo maior [UA]

Marte Marte
1.68 0.11
1.67 0.1
Excentricidade orbital

1.66
Distancia Afelio [UA]

0.09
1.65
1.64 0.08
1.63 0.07
1.62 0.06
1.61
0.05
1.6
1.59 0.04
1.58 0.03
1.37 1.38 1.39 1.4 1.41 1.42 1.43 1.44 1.45 1.46 1.47 1.5235 1.524 1.5245 1.525 1.5255
Distancia Perielio [UA] Semieixo maior [UA]

Figura 5 Relao entre as distncias no perilio e aflio Figura 6 Relao entre excentricidade e semieixo maior
de asteroides troianos no ponto L4 (azul) e no ponto L5 da rbita de asteroides troianos no ponto L4 (azul) e no
(vermelho). ponto L5 (vermelho).

5
Jupiter Jupiter
60 16
15

Magnitude visual absoluta


50
14
Inclinacao orbital

40 13
12
30
11
20 10
9
10
8
0 7
5 5.05 5.1 5.15 5.2 5.25 5.3 5.35 5.4 5 5.05 5.1 5.15 5.2 5.25 5.3 5.35 5.4
Semieixo maior [UA] Semieixo maior [UA]

Netuno Netuno
30 9.5
Magnitude visual absoluta

25 9
Inclinacao orbital

20 8.5

15 8

10 7.5

5 7

0 6.5
29.9 29.95 30 30.05 30.1 30.15 30.2 30.25 30.3 30.35 29.9 29.95 30 30.05 30.1 30.15 30.2 30.25 30.3 30.35
Semieixo maior [UA] Semieixo maior [UA]

Marte Marte
32 18.5
30
Magnitude visual absoluta

18
28
Inclinacao orbital

26 17.5
24
22 17

20
16.5
18
16 16
1.5235 1.524 1.5245 1.525 1.5255 1.5235 1.524 1.5245 1.525 1.5255
Semieixo maior [UA] Semieixo maior [UA]

Figura 7 Relao entre inclinao e semieixo maior da Figura 8 Relao entre magnitude absoluta e semieixo
rbita de asteroides troianos no ponto L4 (azul) e no ponto maior da rbita de asteroides troianos no ponto L4 (azul)
L5 (vermelho). e no ponto L5 (vermelho).

6
pulso, ressonncia, entre outros. Talvez mecanis- [8] Di Sisto, Romina P.; Ramos, Ximena S.;
mos como estes tambm possam explicar a ausn- Beaug, Cristin. Giga-year evolution of
cia de asteroides troianos em Saturno, que apesar Jupiter Trojans and the asymmetry problem.
de ser o segundo maior planeta do Sistema Solar Icarus, Volume 243, p. 287-295. (2014)
no possui asteroides troianos. https://arxiv.org/abs/1604.05331

[9] Schwarz, Richard; Dvorak, Rudolf. Trojan


capture by terrestrial planets. eprint
arXiv:1611.07413. (2016)
https://arxiv.org/abs/1611.07413

[10] Emery, J. P.; Marzari, F.; Morbidelli, A.;


Referncias French, L. M.; Grav, T. The Complex History
of Trojan Asteroids. Asteroids IV, Patrick
Michel, Francesca E. DeMeo, and William F.
Bottke (eds.), University of Arizona Press,
[1] IAU MPC. Trojan Minor Planets. Disponvel Tucson, 895 pp. (2015)
em: https://arxiv.org/abs/1506.01658
http://www.minorplanetcenter.net/iau/
lists/Trojans.html. Acesso em 04 nov.
2016.

[2] IAU MPC. Conversion of Absolute


Magnitude to Diameter. Disponvel em:
http://www.minorplanetcenter.net/iau/
Sizes.html. Acesso em 04 nov. 2016.

[3] WIKIPEDIA. Co-orbital configuration.


Disponvel em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Co-orbi
tal_configuration. Acesso em 04 nov. 2016.

[4] WIKIPEDIA. Jupiter trojan. Disponvel em:


https://en.wikipedia.org/wiki/Jupiter_
trojan. Acesso em 04 nov. 2016.

[5] WIKIPEDIA. Longitude do n ascendente.


Disponvel em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Longitud
e_do_n%C3%B3_ascendente. Acesso em 26
nov. 2016.

[6] WIKIPEDIA. Argumento do periastro.


Disponvel em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Argument
o_do_periastro. Acesso em 26 nov. 2016.

[7] WOLFRAM. Wolfram|Alpha: Computational


Knowledge Engine. Disponvel em:
http://www.wolframalpha.com/. Acesso em
26 nov. 2016.

Você também pode gostar