A Criança Surda Na Educação Infantil Bilíngue
A Criança Surda Na Educação Infantil Bilíngue
A Criança Surda Na Educação Infantil Bilíngue
Resumo
Palavras-chave
1- Universidade Federal de São Paulo, Guarulhos, SP, Brasil. Contatos: egarrutti@yahoo.com.br; nunestarsila@gmail.com
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202248234024
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Abstract
Keywords
Introdução
Tendo em vista que os anos iniciais da vida de uma criança constituem também
os anos iniciais da socioconstrução da linguagem e do pensamento, este estudo analisa
situações de interação de crianças surdas matriculadas em uma turma de educação infantil
bilíngue, tendo a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua e o português
escrito como segunda língua, acompanhadas num período de três semestres consecutivos.
A educação bilíngue para surdos é mais intensamente estudada e discutida no Brasil
a partir da década de 1990, ganhando destaque essencialmente a partir dos anos 2000,
quando importantes normativas legais são sancionadas, como a Lei nº 10.436, de 24
de abril de 2002 e o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que dispõem sobre
o reconhecimento da Libras, seu ensino, uso e difusão no Brasil, e trazem importantes
orientações quanto à educação bilíngue.
O artigo 22 do referido decreto estabelece a garantia da comunicação em todos os
níveis, etapas e modalidades da educação, sempre tendo a Libras como língua de acesso
ao currículo. Na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental, a educação
deve acontecer em salas em que a Libras seja a língua da mediação direta do professor
com os alunos e, desse modo, o docente deve ser fluente nessa língua. A partir dessa etapa
A fala interior é, em grande parte, um pensamento que expressa significados puros. É algo dinâmico,
instável e inconstante, que flutua entre a palavra e o pensamento, os dois componentes mais ou
menos estáveis, mais ou menos delineados do pensamento verbal. (VYGOTSKY, 2008, p. 185).
Tendo em vista que não há uma transição direta do pensamento para a palavra,
o pensamento passa pelos significados e pelas palavras, complementa Vygotsky. Assim,
quando um sujeito intenciona comunicar uma ideia, o pensamento não está completamente
formado, pronto para ser expresso; o pensamento, tal como uma nuvem descarregando
uma chuva de gotas, precipita-se em palavras. Nesse sentido, o pensamento se constitui na
linguagem e pela linguagem. Da parte de seu interlocutor, há uma busca da compreensão do
pensamento e não das palavras isoladamente. Percorre-se, por assim dizer, um movimento
contínuo de vaivém: do pensamento para a palavra, e da palavra para o pensamento, até
que a ideia seja expressa pelo falante e compreendida pelo outro. Há, então, um vínculo
social indesatável entre linguagem e pensamento, seja na fala interior, ou numa situação
de troca comunicativa.
O surgimento de tais funções psicológicas superiores está em estreita articulação
com a experiência sociocultural da criança. Vygotsky (2008, p. 63) nos diz inclusive que,
desde a evolução da fala e do intelecto em crianças muito pequenas para a fala interior
e o pensamento verbal em crianças maiores, “a natureza do próprio desenvolvimento se
transforma, do biológico para o sócio-histórico”. Somos seres biopsicossociais.
As linhas de evolução do desenvolvimento da linguagem e pensamento em crianças
surdas no decurso do pré-linguístico ao pensamento verbal, pressupõem experiências com
um código linguístico e não necessariamente com o aparelho fonador; ela pode acontecer
em sistemas sígnicos distintos (VYGOTSKY, 2011).
Crianças surdas e ouvintes passam pelo mesmo processo de socioconstrução da
linguagem, independentemente das modalidades de expressão e recepção das línguas
em uso, ou seja, uma língua de modalidade oral-auditiva ou espaço-visual podem ser
adquiridas facilmente na interação com pares coetâneos e adultos. Os interlocutores dessas
crianças precisarão propiciar trocas nos códigos linguísticos que lhes são plenamente
acessíveis. Crianças surdas imersas em um cotidiano com circulação da língua de sinais
se desenvolvem da mesma forma que crianças ouvintes imersas em um ambiente que
partilhe de uma língua oral-auditiva.
A grande desvantagem no desenvolvimento das crianças surdas consiste no fato
de que a língua de sinais raramente se faz presente nas trocas sociais, uma vez que
a sociedade, majoritariamente ouvinte, reconhece exclusivamente a validade da língua
oral oficial do país, distanciando substancialmente os surdos do que precisaria ser a sua
primeira língua.
Tendo em vista que a maioria dos surdos integram famílias não usuárias da Libras
e/ou que não a aceitam como código linguístico suficiente de acesso ao patrimônio cultural
construído pela humanidade – o que pode ser consequência das orientações profissionais
Se o surdo tem sua interação pela Libras comprometida, logo se percebe que a apropriação dos
conceitos científicos não passará satisfatoriamente pela mediação do professor e não estabelecerá
conexões com os saberes espontâneos emergidos da vivência coletiva em ambientes não escolares.
Procedimentos da pesquisa
Em uma situação de contação de história, a professora sentou no chão e pediu que as crianças
se sentassem com ela em círculo. Mostrou uma das versões de Chapeuzinho Vermelho que a sala
conhece e perguntou se elas se lembravam e sabiam do que se tratava. Laura e Fábio sinalizaram
“chapeuzinho vermelho”. Taiana observou os colegas, olhou para o livro e fez os mesmos sinais.
(Relato do diário de campo, primeiro semestre, primeiro ano).
No espaço de informática, Laura escolheu um jogo e brincou sozinha por alguns instantes.
Taiana a observava e, em seguida, cutucou-a apontando para a tela da coleguinha e depois para
a sua própria tela. Laura sinalizou “jogo igual?”, Taiana respondeu que sim gesticulando com
a cabeça. Laura colocou o jogo para a amiga e se sentou. O jogo carregou lentamente, Taiana
começou a ficar inquieta e cutucou a colega (uso de gestos). Laura olhou e sinalizou “calma,
demorado”. Taiana me olhou, apontou para o computador e sinalizou “demorado”. (Relato do
diário de campo, primeiro semestre, primeiro ano).
Nos dois momentos anteriores, notamos que Taiana ainda não se apropriou da
língua de sinais, mas se identificou com a modalidade visuoespacial, copiando os sinais
para interagir com os pares que lhe apresentavam a língua. Esta mesma criança, um ano
depois, foi a primeira a reconhecer uma das pesquisadoras no retorno das observações e a
mediar atividades da rotina, conforme relato seguinte.
Conversou comigo em Libras sobre diversos assuntos, foi até a pilha de livros que ficava à
disposição das crianças, pegou um livro, veio até mim e contou toda a história conforme virava
as páginas, me ensinou sinais que eu não sabia e, em uma atividade de quebra-cabeça, tomou a
iniciativa, começou a montar e gerenciou todos os coleguinhas durante a atividade, indicando
quais peças iam onde e qual peça estava errada, tudo por meio da Libras.
Carlos, que integrou o grupo no final do primeiro semestre do primeiro ano de observação,
sem conhecimento da língua de sinais, também aparentava saber o que tinha que ser feito, mas
tentava juntar peças aleatoriamente. Taiana ajudou-o, mostrando o desenho da peça e a parte já
montada e perguntou em Libras: “mulher” (aponta para a peça) “onde?” (aponta para a parte já
montada do quebra-cabeça). Carlos pegou a peça e começou a procurar na parte montada. Ficou
todo feliz ao encontrar a outra parte do corpo da personagem e apontou para Taiana “ali”, correu
e colocou a peça no lugar certo. (Relato do diário de campo, primeiro semestre, segundo ano).
tal como acontece no relato seguinte. Nele, Bianca orienta os colegas em relação à
incoerência de estarem agasalhados em um dia de calor. O pensamento é impulsionado
“[…] pela própria inserção da criança num grupo cultural” (OLIVEIRA, 2011, p. 45).
A receita escrita, e com imagem do bolo, foi fixada na lousa. A professora distribuiu uma cópia
igual à lousa para cada um, mostrou que era igual e chamou atenção para partes da receita:
ingredientes e modo de fazer. Toda comunicação foi feita em Libras.
A professora pediu que as crianças, uma por vez, dissessem quais ingredientes estavam na lista,
através de soletração ou sinal, colocando-os na mesa e experimentando-os.
Depois era a vez da leitura do modo de preparo, realizado passo a passo. A leitura era feita com
a mediação dela, que auxiliava na soletração, e mostrava os sinais quando se tratava de algum
ingrediente ou procedimento que não reconheciam. Durante a leitura, enfatizava-se a relação do sinal
com a escrita, principalmente em sinais já internalizados com escrita simples, por exemplo, ovo.
A massa foi batida no liquidificador e, ao ligá-lo, Fábio fez uma expressão de incômodo e pôs as
mãos nas orelhas. As outras crianças não entenderam e a professora convidou uma a uma para
sentir a vibração do aparelho com as mãos. Tocavam com ele desligado, ela apontava o botão,
ligava o liquidificador e deixava que sentissem o aparelho ligado. Taiana esboçou um grande
sorriso, e a professora relembrou os ingredientes que foram postos, explicando que o sinal de
liquidificador representava o movimento da máquina, que podia ser sentido pelo toque.
Na cozinha, questionou: “como assaremos o bolo, ele precisa de frio ou calor?” “precisamos do
forno (apontou para o forno, fez o sinal de forno e de calor) ou da geladeira (apontou para o
eletrodoméstico e fez o sinal de geladeira e de frio)?” Fábio e Laura afirmaram que precisariam
usar o forno, e Taiana disse que usariam a geladeira.
A professora explicou que precisavam do forno, pois o fermento (usou a receita escrita na
explicação) precisa do calor para que o bolo cresça, e que na geladeira, por ser fria, o bolo não
cresceria. Perguntou se faziam bolo na casa deles e se usavam a geladeira ou o forno. Fábio
sinalizou que a avó também usa o forno para fazer bolos.
Explicou o funcionamento do forno, onde e como ligava, a luz que acendia indicando que estava
ligado, a numeração da temperatura e que sua posição deixava o forno mais ou menos quente, e
convidou criança por criança para sentir a temperatura do forno ainda frio e ver o bolo ainda cru
e explicou “vamos esperar meia hora, voltaremos e vamos ver como está o bolo e a temperatura
do forno”. (Relato do diário de campo, primeiro semestre, primeiro ano).
O episódio “Fazendo uma receita de bolo” ilustra como a mediação na língua de sinais é
o que permite compreender situações do cotidiano das crianças surdas. Os integrantes da turma,
mesmo tendo presenciado momentos de preparo da receita de bolo em suas casas, encontram
na atuação da professora fluente em Libras o significado do gênero textual receita e de seu
preparo, desde o conhecimento dos ingredientes ao cozimento do bolo, saboreado pela turma no
dia seguinte, caminhando na perspectiva da transformação de um saber cotidiano em científico.
O conhecimento da professora sobre assuntos trabalhados anteriormente com a
turma e sobre a individualidade de cada criança direciona as estratégias utilizadas, que
incidem no que Vygotsky denomina como zona de desenvolvimento proximal. Trata-
se, conforme Oliveira (2011), de um domínio psicológico em constante transformação
até que seja consolidado. A surpresa de Fábio ao sentir a vibração do liquidificador
leva a professora a explicar o que está envolvido na ação e relaciona-a, inclusive, ao
conhecimento da própria língua, especificamente do vocábulo liquidificador na Libras.
Com a fala de Taiana identificando a geladeira como utensílio para cozimento do bolo – o
acesso recente a Libras pode justificar tal escolha da menina - o grupo recebe a explicação
sobre o preparo de alimentos que vão para o forno e para a geladeira.
A atividade com a receita mostra-nos ainda o quanto aspectos não verbais são
importantes no planejamento de práticas educativas com surdos. Taveira e Rosado (2017),
pontuam que o planejamento de tais práticas surge da combinação das linguagens verbal
e visual, dos aspectos culturais que contextualizam os saberes envolvidos e da leitura
crítica de todos esses elementos.
A linguagem visual recebe destaque na educação de alunos surdos, uma vez que,
como explicam Silva e Favorito (2009, p. 31), para os alunos surdos “são as imagens
que ficam na memória”. Tal exploração de imagens no cotidiano, como complementa
Lebedeff (2010, 2017), insere-se no contexto do letramento visual, isto é, de uma leitura
e interpretação de tudo o que se vê, da linguagem visual, de uma significação pelo uso
articulado da linguagem verbal. Nas situações de interação entre as crianças anteriormente
apresentadas, essa manipulação de informações visuoespaciais se fizera presente com
destaque, o que também notamos no trabalho das professoras.
Com essa compreensão acerca do ser surdo, a professora bilíngue em “Fazendo
uma receita de bolo” faz uso de imagens, correspondência da escrita com soletração e
sinais da Libras, leva as crianças a observarem e sentirem o movimento do liquidificador
e prepara a receita passo a passo. A mediação sustentada no uso da linguagem verbal e
acompanhada da leitura das pistas não verbais é central para a internalização do saber
compartilhado socialmente, para a formação conceitual das crianças. O preparo da receita
de bolo pode ser compreendido desde a seleção dos ingredientes ao modo de fazer.
A organização do trabalho da professora considera a visualidade como elemento
do planejamento das práticas com o grupo, o que podemos observar também na situação
seguinte, que contou com a intervenção de um instrutor surdo.
Crianças sentadas. Cada uma em seu computador. Taiana parecia ter uma dúvida sobre o conteúdo
do seu jogo, levantou-se timidamente e olhou a tela dos colegas, olhou para o grupo de adultos
que conversava em outro canto da sala. Taiana se aproximou do grupo e segurou o professor de
Libras pela mão e o conduziu até seu computador. (Relato do diário de campo, segundo semestre,
primeiro ano).
Mesmo Taiana tendo contato há mais tempo com os outros adultos presentes,
ouvintes, ela escolheu o instrutor surdo para ajudá-la. É do encontro com outros surdos
que se acessa a diversidade de representações e o trânsito entre novas identidades surdas;
narrativas distintas são referências para a construção da própria identidade. Este é um
dos exemplos que nos mostram o quanto um par surdo é importante para a construção
identitária da criança (DE PAULA, 2009). “O surdo tem que estar rodeado de surdos”,
afirma uma das professoras da sala bilíngue. Notamos, assim, o que afirma Skliar (1998):
a educação de surdos nos apresenta questões que não são meramente metodológicas e
linguísticas, são também culturais.
A criança surda precisa estar imersa em um ambiente permeado pela língua de
sinais e, muito mais, pela cultura surda. A educação infantil assume importante papel
nessa construção na primeira infância e, como Ladd (2003) observa, o acesso à língua e
tradições surdas se fazem presentes em escolas para surdos, tal como é o caso da escola
campo deste estudo.
Como Vygotsky afirma e identificamos nos episódios aqui relatados, a mediação
e interação com adultos ou pares mais experientes e as vivências no meio social são as
geradoras da construção da linguagem na criança. Neste estudo, tal como observado em
Gurgel et al. (2016), as experiências de jogos, brincadeiras, atividades de leitura e demais
atividades dirigidas que integram a rotina das turmas de educação infantil, tendo a Libras
como a língua das interações, permitem ampliar a capacidade linguística das crianças
surdas e a internalização dos saberes culturais.
Para exemplificar o rápido processo de evolução no desenvolvimento da linguagem
pela criança surda quando ela acessa os conhecimentos de mundo pela via da Libras,
descrevemos três situações protagonizadas por Rafael, em seu percurso durante três
semestres na turma.
Antes de entrar na sala as crianças formaram uma fila e, uma por uma, deram “boa tarde” em
Libras à professora e pediram para entrar. Rafael sempre chorava e deitava no chão quando tinha
que entrar ou sair de um ambiente. Ele não olhava para as pessoas diretamente, e, se comunicava
raramente com o irmão por meio de gestos. Rafael se recusou a entrar na sala e se deitou no chão
encolhido. A professora pacientemente, diversas vezes virou o rosto do menino para que ele a
olhasse e fez o sinal de “ficar de pé”. Após a criança ficar em pé, ela mais uma vez pacientemente
fez com que o menino a olhasse e sinalizou “boa tarde” até o menino responder.
Em um dado momento, o menino se afastou da atividade que o grupo desenvolvia e foi brincar
com alguns bichos de pelúcia. Após alguns minutos, ele começou a jogar os bichos nos colegas e na
professora. Esta se levantou e foi na direção de Rafael, que deitou no chão e se encolheu. A professora
o levantou, e virou seu rosto para que ele a olhasse. Ao perceber que a professora ia sinalizar, Rafael
fechou os olhos. A professora esperou até que ele abrisse os olhos e começou a sinalizar novamente,
Rafael fechou os olhos novamente. A ação da tentativa de comunicação de Lúcia com Rafael, que
fechava os olhos, aconteceu cinco vezes seguidas, até que Rafael manteve os olhos abertos e prestou
atenção na professora. (Relato do diário de campo, primeiro semestre, primeiro ano).
Toda vez que a professora sinalizava com Rafael, ele prestava muita atenção e ficava feliz. Era
perceptível que aprendia a cada contato, seu desenvolvimento na língua era notável de uma
semana para a outra. (Relato do diário de campo, segundo semestre, primeiro ano).
Ao acabar a aula de informática, a professora (substituta neste dia) veio buscar as crianças na
sala de informática. Piscou as luzes da sala para que todas a olhassem e as chamou sinalizando.
Quando todas se reuniram na porta, ela fez o sinal de fila e elas formaram a fila em ordem
crescente. Nestes dois momentos, Rafael acompanhou visualmente e demonstrou compreender as
orientações, realizando os pedidos da professora.
Quando chegaram na sala da turma, a professora entregou uma atividade de colorir, que requeria
que cada objeto fosse pintado de acordo com a cor indicada. A professora apenas entregou as
folhas e os gizes de cera e nada foi explicado, uma vez que já tinham explorado o assunto.
Rafael olhou a folha, separou quatro gizes de cores diferentes e pintou as quatro figuras conforme
as indicações. Ele foi um dos primeiros a acabar a atividade. Após todos terminarem, a professora
pegou uma das folhas e perguntou os sinais dos objetos representados e os sinais das cores
usadas, Rafael não só respondeu rapidamente como acertou os sinais. (Relato do diário de campo,
primeiro semestre, segundo ano).
A nítida evolução de Rafael no uso da língua de sinais nas situações cotidianas tem
estreita relação com a organização de um ambiente educativo onde as trocas se davam
numa língua que era plenamente acessível e que aos poucos era por ele aprendida. Vemos,
desse modo, o quanto a linguagem permite a Rafael se constituir como ser social.
A linguagem não é somente um instrumento que permite que aluno e professor estabeleçam uma
dinâmica de ensino e aprendizagem, de aquisição, processamento e produção da informação
e conhecimento; ela é elemento fundante na constituição da pessoa humana – do aluno, do
professor. (TARTUCI, 2015, p. 53).
Considerações finais
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Érica Aparecida Garrutti é doutora em educação pela Universidade de São Paulo (USP),
professora adjunta do Departamento de Educação e Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).