Ebook Revisaoccp Icjp2016
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A REVISÃO
DO CÓDIGO DOS
CONTRATOS PÚBLICOS
-
Dezembro de 2016
ISBN: 978-989-8722-17-1
Alameda da Universidade
1649-014 Lisboa
www.fd.ulisboa.pt
Imagem da capa:
Comstock - Thinkstock Archive
-
Produzido por:
OH! Multimédia
mail@oh-multimedia.com
2
Índice
5 Nota prévia
7 Programa da conferência
98 Planeamento da contratação e
consultas preliminares ao mercado
José Duarte Coimbra
3
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
4
Nota prévia
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5
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Assinale-se que foi conferida total liberdade aos autores quanto a re-
dação dos textos, tendo alguns optado por espelhar fielmente as inter-
venções realizadas enquanto outros aproveitaram a oportunidade para
aprofundar os temas propostos.
As coordenadoras,
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6
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Instituto de Ciências Jurídico-Políticas
Coordenação científica:
Professora Doutora Maria João Estorninho
Professora Doutora Ana Gouveia Martins
Programa
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
9.30 h – 11 h: 4º painel:
• Agrupamentos de entidades adjudicantes, Centrais de compras,
Acordos quadro, Sistemas de aquisição dinâmicos, Catálogos eletró-
nicos.
Professor Doutor Miguel Assis Raimundo
Professora Doutora Cláudia Monge
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8
11.30 h- 13 h: 5º painel
• Regime substantivo: principais novidades, em particular, a invalida-
de do contrato e as modificações objetivas e subjetivas.
Professora Doutora Ana Gouveia Martins
Professor Doutor Lourenço Vilhena de Freitas
14.30 h – 16 h 6º painel:
• Novidades da arbitragem e outos meios de resolução alternativa de
litígios.
Professor Doutor João Miranda
Mestre João Tiago Silveira
Dr. Tiago Serrão, Assistente convidado
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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e, sobretudo, pela pressão das muitas sensibilidades e dos muitos in-
teresses que, nestas matérias, esgrimem no terreno. Como estudiosa
e espetadora imparcial, há muitos anos, deste mundo dos contratos
públicos, senti que era meu dever aceitar esse desafio, como tarefa de
extensão universitária e missão de serviço público.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Em 2006, em pleno processo de preparação da transposição das Di-
retivas de 2004, tive ocasião de escrever (4) que ao legislador português
se colocava, à época, sobretudo, o “imenso desafio” de conceber um
Código dos Contratos Públicos que conseguisse “dosear, na medida cer-
ta, a flexibilidade necessária para garantir a eficiência e o dinamismo na
contratação pública e a inflexibilidade – diria até intransigência – neces-
sária ao combate ao desperdício de recursos públicos e à corrupção”.
Infelizmente, a meu ver, como tenho repetidamente afirmado, o Código
dos Contratos Públicos – na versão de 2008 – falhou rotundamente es-
ses objetivos.
4 () Maria João Estorninho, Direito Europeu dos Contratos Públicos, 1.ª ed., Al-
medina, Coimbra, 2006, p. 11.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Quero acreditar, com uma nota de esperança, que ainda seja possí-
vel Portugal dotar-se de um Código dos Contratos Públicos desempoei-
rado assente, por um lado, numa moderna visão estratégica da contra-
tação pública como instrumento privilegiado de promoção de políticas
públicas inovadoras e de crescimento económico e, por outro lado, na
genuína vontade (e capacidade) política de enquadrar a contratação pú-
blica em regimes jurídicos amigos da transparência, da sustentabilidade,
da responsabilidade, em suma, do bem comum.
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Insustentável, na medida em que as próprias Diretivas (como vere-
mos adiante) não são minimalistas, o que significa que, ao contrário do
que se tem dito, a transposição não pode ser minimalista e muito menos
pode vir a traduzir-se numa mera operação de cosmética. Aliás, basta
ter presente que o Anteprojeto de transposição das Diretivas, de maio
de 2015, pretendendo ser minimalista, acabava por implicar a alteração
a quase 60 artigos e o aditamento de cerca de 40 novos artigos ao Có-
digo dos Contratos Públicos. Ou seja, uma transposição minimalista (i.
e., que pretendesse “enxertar” todas essas alterações nos atuais quase
500 artigos do Código, mantendo-o intacto no essencial) iria agravar –
de modo intolerável – a “floresta labiríntica em que se transformou o
emaranhado de normas” (6) do Código dos Contratos Públicos na versão
de 2008.
Inaceitável, uma vez que a transposição das Diretivas não pode sig-
nificar, por um lado, consagrar, soluções das Diretivas acrescentando
uma série de artigos ao Código dos Contratos Públicos e, por outro lado,
manter tudo o resto na mesma, criando contradições insanáveis que
acabam por desvirtuar o sentido das Diretivas.
panhola. Ao contrário do que sucedeu na Alemanha e em vários outros países que proce-
deram à transposição das Diretivas de 2014 através de diplomas nacionais, ainda antes de
terminar o prazo de transposição, a Espanha reconheceu, em março de 2016, não estar
em condições de proceder à transposição das Diretivas (em virtude das vicissitudes polí-
ticas decorrentes da crise parlamentar e governamental) e adotou umas normativas esta-
belecendo uma grelha de correspondência entre as disposições das Diretivas consideradas
diretamente aplicáveis, a partir de 18 de abril, e as disposições da legislação nacional que
se mantêm em vigor.
6 () Maria João Estorninho, Curso de Direito dos Contratos Públicos, Almedina,
2012, p. 369.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
f) Incentivar a inovação;
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g) Aumentar a transparência e combater a corrupção e os con-
flitos de interesses;
Não.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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compreensíveis para o comum dos operadores económicos e jurídicos)
relações entre o âmbito de aplicação das Partes II e III do Código e, den-
tro delas, dos mais diversos regimes jurídicos deviam, de uma vez por
todas, ser ultrapassadas. A autonomização sistemática do tratamento
de determinados contratos, como os contratos nos setores especiais ou
os contratos de concessão, contribuiria também para a desejada simpli-
ficação.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Sim.
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8. O Anteprojeto de 2016 contribui para fomentar procedimentos
abertos à concorrência?
Não.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Não.
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Infelizmente, ao optar por manter a sistemática da Parte II do CCP de
2008 e o labirinto da tramitação dos procedimentos adjudicatórios que
ela contém, nele pretendendo enxertar as muitas alterações que de-
correm das Diretivas, este Anteprojeto de agosto de 2006 não contribui
para a desejada simplificação dos procedimentos e, por conseguinte,
para o fomento à transparência, no quadro de uma contratação pública
eficiente e sustentável.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Não.
Europeu dos Contratos Públicos, cit., pp. 7-8, pp. 48-49, pp. 53 e segs.,
e, em especial, Curso de Direito dos Contratos Públicos, cit., Lição n.º 9.
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mos, ultrapassando-se definitivamente o “mito” da dicotomia que tra-
dicionalmente existiria no Direito Europeu entre os regimes aplicáveis
aos procedimentos de formação dos contratos públicos (regulados pelas
Diretivas) e os regimes aplicáveis à execução dos mesmos contratos (re-
metidos para os ordenamentos jurídicos nacionais).
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Sim.
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ponderação acerca da questão de saber se a invalidade de atos adminis-
trativos dos procedimentos adjudicatórios deve ou não, ainda assim, re-
percutir-se na validade dos contratos públicos celebrados ou se, apesar
dessas ilegalidades procedimentais, tais contratos podem ser “salvos”.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
1. Nota prévia
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do Código dos Contratos Públicos (CCP), aprovado pelo Decreto-Lei n.º
18/2008, de 29 de Janeiro, tendo em vista a obrigação de transposição
das novas Directivas Europeias de Contratos Públicos aprovadas em
20143, cujo prazo terminaria em Abril de 2016, compreende-se que, por
vicissitudes político-constitucionais ocorridas entre o segundo semestre
de 2015 e o primeiro semestre de 2016, Portugal tenha sentido
dificuldades em manter recentemente qualquer iniciativa legislativa
de maior fôlego jurídico-científico. Na verdade, a sucessão de três
diferentes Governos Constitucionais acabou por implicar que o processo
legislativo de Revisão do CCP fosse conduzido de forma multifásica –
e reiteradamente interrompida ou paralisada –, incluindo a formação
de dois sucessivos grupos de trabalho que, fruto dos condicionamentos
temporais que lhes foram impostos, só puderam dispor de pouquíssimas
semanas para apresentar aos respectivos Governos os seus projectos
legislativos, e continuando com a apresentação de múltiplos contributos
políticos e sectoriais que interferiam com aqueles projectos iniciais e que
largamente os modificavam de forma muito pouco coerente e uniforme.
Não surpreende, por isso, que tal atribulado percurso legiferante não
pudesse dar origem a um projecto uniforme e dotado de uma unidade
de sentido.
Assim, sem que tal deficiência possa ser imputada a qualquer dos
participantes no processo legislativo – antes derivando, pelo exposto,
das circunstâncias objectivas que afectaram os trabalhos –, a verdade
é que o melting pot normativo que constitui o articulado final do
Anteprojecto, respondendo a visões radicalmente diferentes sobre
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
o que deve ser o Direito dos Contratos Públicos e sobre como devem
ser conduzidos os procedimentos de contratação pública, justifica que
muitas das parcelas desse articulado sejam afectadas por uma falta
de coerência intrínseca e por uma falta de articulação das soluções ali
sugeridas.
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salomónica destinada a conciliar as posturas radicalmente antagónicas
das diferentes sensibilidades que participaram no processo legislativo,
descamba numa regulação jurídica incomportável que inclui algumas
das disposições mais censuráveis que o Direito Português dos Contratos
Públicos alguma vez conheceu.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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suscetíveis de identificação como entidades adjudicantes – revela um
preocupante desconhecimento da evolução dos trabalhos legislativos
europeus que concluíram na aprovação das Directivas de 2014. Com
efeito, nos textos iniciais que foram cogitados pela Comissão tendo
em vista a Revisão das Directivas6, colocou-se a hipótese – que ainda é
objecto de uma referência no texto preambular da Directiva 2014/24/
UE (cfr. Considerando 10) – de densificar os elementos normativos
disponíveis para o intérprete, no sentido de “integrar um certo número
de precisões, conferidas pela referida jurisprudência” do Tribunal de
Justiça. Nos termos do mesmo Considerando, essas precisões poderiam
permitir “esclarecer que um organismo que opera em condições
normais de mercado, que tem fins lucrativos, e que assume os prejuízos
resultantes do exercício da sua actividade, não deverá ser considerado
um «organismo de direito público» uma vez que as necessidades
de interesse geral, para satisfação das quais foi criado ou que foi
encarregado de cumprir, podem ser consideradas como tendo carácter
industrial ou comercial”.
6 Cfr., com essa sugestão, a alínea a) do § 6.º do artigo 2.º do texto inicial da
proposta apresentada pela Comissão em 20 de Dezembro de 2011 (COM (2011) 896 final).
7 Cfr., no texto final, a alínea a) do § 4.º do n.º 1 do artigo 2.º da Directiva
2014/24/UE.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Numa palavra: o aditamento proposto mesclaria i) um dos indícios
de qualificação de uma pessoa colectiva como entidade adjudicante ii)
com o denominador comum que reúne o feixe mais amplo de indícios
onde o primeiro se inclui.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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de disciplina legislativa resulta – não se duvida – de uma preocupação
bem-intencionada com a salvaguarda de princípios gerais que orientam
a actividade contratual das entidades adjudicantes; mas o modo como
é concretizada redunda em resultados que seguramente não terão
sido previstos pelos seus defensores. Tal proposta é, aliás, inspirada
numa mera fase anterior do percurso interpretativo que as instituições
europeias vieram desenvolvendo para densificar o conteúdo dos
princípios de contratação pública, a qual, contudo, já pertence ao
passado, tendo sido abandonada por aquelas instituições justamente
em atenção aos perigos entretanto verificados.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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que o legislador pode tomar no contexto do regime de contratação
pública – a decisão de delimitação dos contratos sujeitos a procedimentos
concorrenciais –, tal interpretação, a ser aceite, implicaria a anulação da
vontade legislativa.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Mas a reversão do anterior entendimento jurisprudencial
ocorreu, sobretudo, no Acórdão Strong v. Município de Sintra (de
17-03-2011 – Processo C-95/10), quando o Tribunal de Justiça
foi chamado a pronunciar-se sobre a questão colocada por uma
empresa participante num procedimento adoptado em Portugal, que,
inspirando-se na jurisprudência anterior, alegava que as entidades
adjudicantes, mesmo na formação de contratos excluídos do âmbito de
aplicação das Directivas (previstos no seu Anexo II-B), deveriam ficar
sujeitas às obrigações “substantivas” inerentes aos procedimentos
concorrenciais previstos nas mesmas Directivas, de modo a assegurar
os princípios gerais dos Tratados, ainda que, quando muito, pudessem
ser dispensadas das suas obrigações “processuais”. Numa palavra:
no tocante ao essencial das obrigações que permitem a abertura à
concorrência, a requerente pretendia a anulação da vontade legislativa
que compartimentara contratos submetidos e contratos excluídos dos
procedimentos concorrenciais (através da divisão entre os Anexos II-A
e II-B), submetendo todos os contratos ao mesmo regime concorrencial
substantivo. No contexto da ideia de concorrência intermédia que
fora sufragada pela Comissão (e pelo próprio Tribunal), aquela
compartimentação só poderia ser operativa para regras de carácter
processual.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Mais importante ainda seria notar – num ponto que é crucial para
o trabalho do legislador português – que esta compartimentação não
se limitaria sequer a ser justificada por uma divisão formal inerente ao
princípio da separação de poderes – a qual, obviamente, em qualquer
caso, já colocaria uma barreira suficiente à criatividade judicial. Sucede
que tal alegação claudicava inclusivamente em compreender os
(muito razoáveis) motivos substantivos que convenceram o legislador
a tal compartimentação. Por um lado, o legislador entendeu que os
contratos em apreço “não têm, a priori, tendo em conta a sua natureza
específica, um interesse transfronteiriço suscetível de justificar que
a sua adjudicação se faça na sequência de um processo de concurso
que vise permitir a empresas de outros Estados Membros tomarem
conhecimento do anúncio de concurso e apresentarem propostas”.
Neste âmbito, a invocação dos princípios gerais da transparência e
da igualdade de tratamento decorrentes dos artigos 49.° TFUE e 56.°
TFUE só poderia ocorrer se o juiz provasse que tais contratos criam um
“interesse transfronteiriço certo” (cfr. n.º 35).
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personalizado e específico, as propostas individuais dos candidatos. É o
caso, por exemplo, dos «serviços jurídicos», dos «serviços de colocação
e de fornecimento de pessoal», dos «serviços de educação e formação
profissional» ou dos «serviços de investigação e de segurança»” (cfr.
n.º 43).
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Foi por isso que, de um lado, o legislador europeu fixou, nas alíneas c)
e d) do artigo 10.º da Directiva 2014/24/UE, o leque de contratos dotados
de natureza pessoalíssima que dispensam sempre, independentemente
do respectivo valor, a adopção de um procedimento concorrencial: entre
eles se encontram os serviços de arbitragem e conciliação e os serviços
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jurídicos de patrocínio judiciário ou de assessoria e aconselhamento que
sejam directamente conexos com estes. Neste primeiro plano, é sabido
que a confiança pessoal que é exigida para a representação de um cliente
perante um Tribunal ou numa arbitragem é simplesmente incompatível
com qualquer tipo de concorrência, mesmo restrita (v.g., fixação de número
mínimo de entidades a convidar num procedimento sem anúncio). E isto
pela simples razão de que não é sequer concebível forçar um sujeito
jurídico (seja público ou privado) a aceitar ser patrocinado em Tribunal
por um advogado que não seja livre e directamente escolhido por si – sob
pena de o próprio advogado que é escolhido de modo forçado pelo seu
cliente ser estatutariamente obrigado a renunciar ao patrocínio (cfr., no
caso português, artigo 97.º, n.º 1, do Estatuto da Ordem dos Advogados).
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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consegue proteger a especificidade dos contratos pessoalíssimos, não
assegurando meios procedimentais suficientes para que a entidade
adjudicante proceda a uma escolha directa e pessoal daquele prestador
relativamente ao qual precise – até por decorrência de normas legais
e estatutárias – de manter uma plena confiança subjectiva nas suas
qualidades pessoais. Por outro lado, no tocante aos contratos dotados
de uma personalização mitigada, relativamente aos quais se admite (e
impõe) a fixação de uma fronteira certa que afaste a incerteza jurídica, o
Anteprojecto cria critérios ambíguos que, mais do que não impedirem,
convidam mesmo os aplicadores e os juízes a formularem as suas
próprias normas para-legislativas, que recriam uma fronteira alternativa
para distinguir os contratos sujeitos ou subtraídos a procedimentos
concorrenciais, inviabilizando a possibilidade de qualquer entidade
adjudicante ter um mínimo de segurança quanto às decisões que tome
no âmbito da contratação excluída.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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procedimentos concorrenciais abertos com a publicação de anúncio
marca a verdadeira fronteira entre a aplicação ou a desaplicação dos
procedimentos de contratação pública, o intérprete descobre que o
regime da contratação excluída verdadeiramente não o é, visto que
assenta em procedimentos concorrenciais não tipificados na lei, mas
não menos concorrenciais (nem menos abertos à generalidade dos
operadores de mercado) do que estes últimos – os quais, todavia, só
serão aplicáveis se a própria entidade adjudicante, primeiro, e o juiz,
depois, o considerarem “adequado” à luz da apreciação casuística que
realizarão.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Este perigo, que o legislador europeu temeu ao optar por fixar aquela
fronteira quantitativa, é bem real no caso português e não constitui o
produto de qualquer exagero: alguns sectores jurisprudenciais invocam
abertamente os “princípios gerais da contratação pública” para formar
um Direito dos Contratos Públicos paralelo, de origem pretoriana, que
substitui o Direito legislado pela sua própria opinião subjectiva. Para esse
efeito, recorre-se à invocação selectiva da jurisprudência do Tribunal de
Justiça, produzindo um curioso fenómeno pelo qual, mesmo nos anos
mais recentes, inclusivamente após o abandono da posição dubitativa
inicial do juiz europeu através do Acórdão Strong, se acena unicamente
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com o entendimento jurisprudencial mais antigo e estranhamente se
omite a jurisprudência posterior que vincou a necessidade de respeito
pela vontade legislativa13.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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mas que não se proceda à aprovação de um regime concorrencial
encapotado em cujos termos o legislador se demite de esclarecer quais
as reais obrigações procedimentais a cargo das entidades adjudicantes
e delega tal responsabilidade a um juiz-legislador que inevitavelmente
promoverá a insegurança jurídica e a anarquia procedimental.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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(primeiro realizado por si próprias e só depois pelo juiz)
sobre se consideram “adequado” ou não (!) adoptar um
procedimento concorrencial;
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
s1s 2
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referir que a matéria sobre a qual me deterei – no essencial, os novos
tipos de procedimentos pré-contratuais – mereceu uma esmerada aten-
ção. Para tanto concorreu, como em seguida se explicitará, não ape-
nas um nítido imperativo de ordem europeia ligado à introdução de
um novo procedimento de formação de contratos, mas também uma
reflexão, desta feita, isolada por parte do legislador português sobre a
arquitectura legalmente dispensada aos referidos procedimentos, re-
dundando em múltiplas alterações neste domínio.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Já a parceria para a inovação corresponde a uma figura procedimen-
tal desenhada para quando as soluções já disponíveis no mercado não
permitirem o desenvolvimento necessário de um produto, serviço ou
obra inovadores, nem a posterior aquisição dos fornecimentos, serviços
ou obras daí resultantes. Este procedimento específico foi criado pelo
legislador europeu para possibilitar às entidades adjudicantes a institui-
ção de uma parceria a longo prazo tendo em vista o desenvolvimento e
posterior aquisição de produtos, serviços ou obras novos e inovadores,
sem haver necessidade de um procedimento de contratação separado
para a aquisição. Resta saber se o mesmo foi correctamente transposto,
ou, mesmo, transposto de algum modo que não se restrinja a uma mera
opção de decalcar as soluções normativas das Directivas para o Código.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
No que toca ao citado n.º 1 note-se que essa norma é, ainda, repro-
duzida no n.º do artigo 114.º do Anteprojecto.
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à luz das opções que neste domínio figuram no Anteprojecto, resultará
apenas reservado ao procedimento de consulta prévia.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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a que sobre esta impendesse um verdadeiro dever de potenciar um uni-
verso concorrencial, ainda que, naturalmente, restrito.
6 V. preâmbulo do Anteprojecto.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
7 Sublinhado nosso.
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A norma em apreço põe em evidência que um dos casos em que as
entidades adjudicantes podem recorrer a um destes procedimentos é
precisamente para a obtenção de soluções inovadoras. Esta arquitectu-
ra procedimental suscita, então, a questão de saber por que razão foi
introduzido um novo procedimento de parceria para a inovação? E que
vantagens é que este último oferece relativamente ao procedimento de
negociação ou ao diálogo concorrencial?
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Tendo presente que o artigo 29.º do CCP foi revisto com o objectivo
de acomodar a inovadora norma do n.º 4 do artigo 26.º da Directiva
2014/24/UE (levando, consequentemente, à revogação do artigo 30.º
do mesmo Código), curioso é observar que a alínea b), por exemplo, se
refere à concepção de soluções inovadoras quando a homóloga norma
europeia [v. artigo 26.º, n.º 4, a), ii)] prevê os casos em que “os produtos
ou serviços incluem a conceção ou soluções inovadoras”.
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outro procedimento então igualmente inovador na Directiva 2004/18/
CE, o diálogo concorrencial. Aí apenas se estabelecia a possibilidade de
os Estados Membros preverem o recurso a este procedimento e, para
mais, em termos meramente residuais10.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
12 Idem.
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qua à necessidade que pretende ver satisfeita com o lançamento do
competente procedimento pré-contratual. Tudo isto ainda antes de,
sequer, apurar se é possível escolher o procedimento de parceria para
a inovação. Reclama-se aqui à entidade adjudicante uma precisão que
não encontra eco no procedimento vizinho de diálogo concorrencial,
onde esta procuraria, desta feita, colher soluções.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Veja-se, só se pode recorrer à parceria para a inovação se o merca-
do não oferecer ou disponibilizar uma solução para uma necessidade
de determinados bens, serviços ou obras da entidade adjudicante. Ora,
para chegar a esta conclusão impõe-se à entidade adjudicante uma ve-
rificação – através de um estudo profundo e preciso do mercado – de
que a necessidade que ora subjaz ao lançamento da parceria não se
encontra satisfeita pelas soluções já disponíveis no mercado.
Por outro lado, a configuração legal das fases em que este proce-
dimento se desdobra propugnada pelo Anteprojecto não faz jus à sua
complexidade. Cabe, pois, preliminarmente, concluir que o legislador
do Anteprojecto terá entendido que a ideia de flexibilidade procedimen-
tal – a pedra de toque deste procedimento – resultaria melhor servida
no nosso ordenamento com um regime legal que se encontra longe de
estar completo e acabado.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Prosseguindo para a apresentação das candidaturas (segunda fase),
o prazo mínimo para a apresentação das candidaturas encontra-se fixado
na Directiva 2014/24/UE e corresponde a 30 dias a contar da data do
envio do anúncio; já o prazo para apresentação de propostas, relevante
na fase seguinte, será livremente fixado pela entidade adjudicante15.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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por natureza, passível de comportar sucessivas fases, que podem incluir
o fabrico do bem, a prestação do serviço ou a realização da obra com
os respectivos objectivos a atingir. Esse será, pois, um regime ad hoc,
fixado nas peças do procedimento, em concreto.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Questões em aberto
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investigação, desenvolvimento e inovação necessárias para o desenvol-
vimento de uma solução inovadora que ainda não se encontre disponível
no mercado”. Conviria, porém, não perder de vista o disposto no n.º 4
do artigo 218.º-A do Anteprojecto, porquanto um aspecto tão sensível
como a duração de um contrato (a par do valor do mesmo) resultar re-
gulado em termos tão vagos presta-se a um recurso ao mesmo com o
intuito de restringir ou falsear a concorrência.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
desenvolvimento, pelo que em boa hora caiu. Sem prejuízo, uma fixação
do valor em termos tão vagos como os que constam da aludida norma
do Anteprojecto e do n.º 7 do artigo 31.º da referida Directiva comporta
riscos para a concorrência, como acima apontado, a propósito da duração
do contrato.
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Pergunto-me se enxertar o procedimento de parceria para a inova-
ção na Parte II do CCP sem mais (não obstante o referido artigo 301.º-A),
será a opção sistematicamente mais correcta: talvez a estrutura siste-
mática do Código não seja apta a acolher de forma enxuta a normativi-
dade da Directiva dedicada a este procedimento, como se de qualquer
outro procedimento se tratasse, pelo que conviria reflectir se a necessá-
ria introdução deste procedimento no nosso ordenamento não resulta-
ria melhor servida se se adoptasse uma solução como a espanhola, de
remeter a regulação da matéria da execução do contrato para o respec-
tivo regime substantivo, com as devidas adaptações.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Regras especiais de contratação
pública: os serviços sociais e
outros serviços específicos
DOMINGOS SOARES FARINHO1
a1
1. Introdução
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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se enquadrado pela exclusão da aplicação da parte II do Código dos
Contratos Públicos decorrente da alínea f) do n.º 4 do art. 5.º. Significa
isto que, à partida, todo o regime respeitante aos procedimentos pré-
contratuais de seleção do co-contratante privado nestas áreas não é
aplicável.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Serviço Nacional de Saúde (SNS) com as instituições particulares de
solidariedade social (IPSS), enquadradas no regime da Lei de Bases da
Economia Social, aprovada pela Lei n.º 30/2013, de 8 de maio. Olhando
especialmente para o seu artigo 6.º, percebemos que a preocupação do
legislador foi a de afastar a concorrência, apesar de uma proclamação
formal de preocupação com a escolha que melhor assegure o interesse
público. No referido artigo 6.º pode ler-se:
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
3. A Diretiva 2014/24/UE
administração, em particular in Carla Amado Gomes, Ana Fernanda Neves e Tiago Serrão
(coord.), Comentários ao novo Código do Procedimento Administrativo, Lisboa, AAFDL
Editora, 2015, 2.ª edição, pp. 169-206.
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86
da União Europeia a optar por uma solução intermédia: acabou com a
exclusão até agora prevista nos termos que acabámos de analisar, mas
também não submeteu estes setores às regras gerais da contratação
pública. Na Diretiva 2014/24/UE encontramos estas áreas cobertas por
um novo regime especial com a previsão de um regime pré-contratual
restrito, a partir de contratos de 750 000 EUR, por força do artigo 74.º.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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que razão não podem estes serviços ficar sujeitos ao regime geral da
contratação pública, sendo os procedimentos aí previstos utilizados com
as necessárias adaptações aos critérios de adjudicação? A única razão
juridicamente aceitável é defender-se que não existem formas de aferir
e medir de modo objetivo os critérios específicos que podem presidir
às escolha dos prestadores destes tipos de serviços. Embora esta razão
nos pareça longe de estar demonstrada, a sua controvérsia parece
suficiente para justificar que o legislador da União não tenha querido ir
mais longe. Assim as entidades adjudicantes, ainda que se decidam pelo
critério da proposta economicamente mais vantajosa, devem temperá-
la com critérios que, não sendo objetivamente mensuráveis, atribuem
uma maior liberdade de escolha à entidade adjudicante, ao mesmo
tempo que dificultam o escrutínio da adequada opção à luz do interesse
público. Voltaremos a este tema quando olharmos para a transposição
efetuada pelo anteprojeto.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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setores, não obstante a norma prever que se aplica “o disposto na Parte
II”. Como abordou o anteprojeto a tarefa de transposição?
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
3 Cf., por todos, Marc J. Epstein e Kristi Yuthas, Measuring and Improving Social
Impacts - A Guide for Nonprofits, Companies, and Impact Investors, São Francisco, Collins-
Bk, 2014.
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4.2. Um novo regime contratual substantivo (e a ligação a um novo
procedimento pré-contratual)
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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intermédias de avaliação dos resultados, sem outra compensação além
do pagamento dos valores despendidos com a tentativa de obtenção
dos resultados.
4 Avulta aqui a novel figura dos Títulos de Impacto Social (Social Impact Bonds,
no original inglês) que já foi alvo de um piloto em Portugal e que à data da elaboração
deste artigo é objeto de um procedimento de candidaturas por parte da Estrutura de
Missão Portugal Inovação Social.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
5. Um balanço preliminar
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material e temporal da reserva de contratos para certas organizações de
economia social, assim promovendo maior transparência e igualdade.
Em segundo lugar, a falta de normas que integrassem a priori os regimes
das parcerias para a inovação e de contração de serviços sociais e
outros serviços específicos, assim evitando dúvidas sobre o modo como
cada entidade adjudicante o poderá fazer quando confrontada com a
necessidade de lançar um procedimento de aquisição de serviços sociais
inovadores.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Planeamento da contratação
e consultas preliminares
ao mercado
JOSÉ DUARTE COIMBRA1
a1
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do Código do Procedimento Administrativo2. O «Direito da Contratação
Pública», enquanto componente de um mais vasto «Direito dos Contra-
tos Públicos» é, por isso, Direito Administrativo especial procedimental,
recortando a sua autonomia, no essencial, em função do tipo de ato
conclusivo subjacente: o contrato público3.
2 Cfr., aliás, para o reconhecimento dessa especialidade, no que diz respeito aos
contratos cujo procedimento de formação é especificamente regulado pela Parte II do
Código dos Contratos Públicos (isto é, e numa terminologia que o Anteprojeto não afas-
ta, os “contratos cujo objeto abranja prestações que estão ou sejam suscetíveis de estar
submetidas à concorrência de mercado”), o n.º 1 do artigo 201.º do CPA. Sobre a norma
de relação normativa aí contida, que em bom rigor é puramente declarativa, cfr. J. M.
Sérvulo Correia, sub artigo 201.º, in F. Quadros et al., Comentários à revisão do Código
do Procedimento Administrativo, Coimbra: Almedina, 2016, p. 447.
3 Cfr., neste sentido, P. Costa Gonçalves, Direito dos Contratos Públicos, Coim-
bra: Almedina, 2015, p. 28. Assinalando, precisamente no sentido do texto, mas de forma
generalizada, que o recorte e o conteúdo de cada procedimento variam em função da
especificidade inerente ao tipo de norma ou decisão cuja emissão o procedimento an-
tecede, cfr. D. Duarte, A Norma de Legalidade Procedimental Administrativa. A Teoria
da Norma e a Criação de Normas de Decisão na Discricionariedade Instrutória, Coimbra:
Almedina, 2006, p. 431. Aponta-se no texto o «contrato público» como constituindo o ato
conclusivo dos procedimentos pré-contratuais, embora não se ignore a não univocidade
desta perspetiva: a corrente locução «procedimentos adjudicatórios» aponta, precisa-
mente, para a ideia de que os procedimentos pré-contratuais se destinam à prática do ato
unilateral de adjudicação (artigo 73.º), do qual emergirá, posteriormente mas de forma
relativamente autónoma, o ato bilateral de outorga do contrato (artigo 104.º). Não inte-
ressa desenvolver o ponto, embora se avance que, em bom rigor, o ato de adjudicação só
é conclusivo de uma das fases em que pode desdobrar-se o procedimento pré-contratual
no seu todo: a sua funcionalização a um dever de posteriormente celebrar o correspon-
dente contrato, que o CCP aliás acentua (cfr., designadamente, os n.os 4 e 5 do artigo
105.º), comprova a relativa falta de autonomia do ato adjudicatório. O mesmo é afirmar,
portanto, o “papel instrumental do ato relativamente ao contrato, pois que é este último
que representa o momento culminante do procedimento contratual”, o que significa caber
em relação a qualquer ato pré-contratual, e portanto também à adjudicação, a perspetiva
de estar em causa um “ato ordenado ao contrato” (cfr. J. M. Sérvulo Correia, Legalidade
e Autonomia Contratual nos Contratos Administrativos, Coimbra: Almedina, 1987, pp. 647
e 649). Configurando, do modo que parece correto, o procedimento de adjudicação como
um subprocedimento (por seu turno divisível em outros subprocedimentos) integrado no
mais amplo procedimento de formação do contrato, cfr. P. Costa Gonçalves, Direito, cit.,
p. 333.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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A conservação da decisão de contratar como momento genético
dos procedimentos pré-contratuais não significa, no entanto, que do
Anteprojeto não resulte uma impressiva alteração de perspetiva quan-
to à faseologia inicial típica deste tipo de procedimentos. Basta olhar à
nova designação do Capítulo I do Título II da Parte II para compreender
a “aposta” que é agora feita em mecanismos – já antes naturalmente
cabíveis ao abrigo da discricionariedade instrutória garantida através da
norma (geral) de legalidade procedimental da função administrativa7,
mas expressamente reduzidos aos anúncios pré-procedimentais (artigos
34.º e 35.º) – globalmente destinados à preparação do procedimento.
Subjacente a esta opção parece estar, portanto, a compreensão de que
os objetivos reguladores do Direito da Contratação Pública não se bas-
tam com a previsão complexa e criteriosa de procedimentos de forma-
ção em sentido estrito, reclamando, num momento prévio ao início des-
tes procedimentos, a institucionalização de mecanismos destinados ao
refinamento da concreta necessidade de interesse público a prosseguir
com a atividade procedimental posterior e ao refinamento dessa pró-
CCP são as seguintes: (i) desde logo, é acrescentada a referência expressa à necessidade
da sua fundamentação (n.º 1); (ii) em segundo lugar, é regulada a necessidade de emissão
de uma espécie de decisão de contratar «qualificada», cuja fundamentação deve integrar,
para além de uma avaliação do custo/benefício, um conjunto de outras referências, quan-
do se trate da formação de contratos de valor igual ou superior a € 5 M (n.º 3) ou, no caso
de se tratar de estar em causa a utilização da parceria para a inovação, a € 2,5 M (n.º 4). Se
a exigência de fundamentação acentua a validade da proposição – já relativamente incon-
testável, de resto – segundo a qual está em causa, na decisão de contratar, um verdadeiro
ato administrativo, as demais especificações revelam, ainda que de modo circunscrito em
relação a contratos de elevado valor, o que de imediato se assinalará no texto em relação
à função de síntese que a decisão de contratar ocupa em relação à atividade pré-procedi-
mental anterior.
7 Sobre a norma de legalidade aplicável ao exercício procedimentalizado da fun-
ção administrativa e o seu efeito atributivo de competência e de discricionariedade, cfr. D.
Duarte, A Norma, cit., pp. 403 e ss. e 465 e ss.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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orienta, já identificada em torno de uma ideia comum de refinamento
da atividade procedimental posterior. Sob esta perspetiva, mantendo-se
válida a proposição segundo a qual a decisão de contratar traduz o início
do esquema comum de ordenação dos procedimentos pré-contratuais
previstos no Código dos Contratos Públicos, parece poder adicionar-se,
em complemento, a proposição segundo a qual a decisão de contratar
constitui, ela própria, o fecho de um conjunto de atividades instrutó-
rias anteriores, que o Anteprojeto ordena sob a designação de prepara-
ção do procedimento10. Para além de marcar o início do procedimento
pré-contratual, a decisão de contratar marca, agora de forma bastante
acentuada pelo legislador do Anteprojeto, o fim das atividades instrutó-
rias pré-procedimentais, devendo, por isso mesmo, refletir o resultado
do material aí eventualmente recolhido e que empreste à definição da
necessidade de interesse público sintetizada nessa decisão propulsora
maior refinamento e, também, maior legitimação11.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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No essencial, resulta das normas contidas no artigo 35.º-A: (i) o de-
ver de as entidades adjudicantes – portanto, quaisquer entidades adju-
dicantes assim qualificadas nos termos dos artigos 2.º ou 7.º – aprova-
rem um programa bienal (n.º 1) do qual conste a previsão, meramente
orientadora (n.º 2), dos contratos de aquisição ou locação de bens e ser-
viços, das empreitas e concessões de obras públicas e das concessões
de serviços públicos que projetem celebrar nos dois anos seguintes; (ii)
o dever de esse programa, apesar da sua vocação bienal, ser atualizado
anualmente (parte final do n.º 1); (iii) a faculdade de nesse programa os
contratos projetados serem indicados por “grandes categorias” (parte
inicial do n.º 3); (iv) o dever de nesse documento se indicarem, de for-
ma autonomizada, os «contratos comunitários» cujo valor estimado se
revele superior aos limiares de aplicação das Diretivas (parte final do n.º
3); e (v) o dever de publicitar a versão final do programa bienal no sítio
da Internet da entidade adjudicante e no portal dos contratos públicos
(n.º 4).
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
13 Sobre estas e outras «linhas de força» que resultam das Diretivas de 2014, cfr.,
v.g., S. Arrowsmith, Law of Public and Utilities Procurement, I, 3.ª ed., London: Sweet
& Maxwell, 2014, paras. 3-46 e ss; na literatura nacional, por exemplo, M. J. Estorinho,
Curso, cit., pp. 117 e ss., Idem, Uma oportunidade perdida… Breve apreciação crítica do
Anteprojeto de agosto de 2016 de revisão do Código dos Contratos Públicos, Cadernos
de Justiça Administrativa, n.º 118 (julho/agosto 2016), p. 5 e R. Medeiros, The New Di-
rective 2014/24/EU on Public Procurement: A First Overview, in L. Valadares Tavares/R.
Medeiros/D. Coelho, The New Directive 2014/24/EU on Public Procurement, Lisboa: AP-
MEP, 2014, pp. 32-33.
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– oriundos das Diretivas – já previstos nos artigos 34.º e 35.º do Código:
os anúncios de pré-informação e os anúncios periódicos indicativos. Essa
conexão é, de resto, pressuposta pela parte final do n.º 2 do próprio artigo
35.º-A, ao apontar para a circunstância de o programa bienal poder servir
de base para a publicação desses anúncios pré-procedimentais, cujo regi-
me – reconhecidamente inefetivo nos anos de vigência do CCP14 – pode-
ria, aliás, ser objeto de uma revisão mais profunda do que aquela que o
Anteprojeto lhe dedica, designadamente tendo em vista o esclarecimento
da obrigatoriedade ou facultatividade da sua publicação15 e, em especial,
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
ben” e “podrán dar a conocer”), assim se invertendo, de forma aliás muito clara, a solu-
ção das Diretivas de 2004; (ii) diferente é o cenário relativamente aos anúncios de pré-
-informação relativos a concessões de serviços sociais: o n.º 3 do artigo 31.º da Diretiva
2014/23/UE aponta efetivamente, e em qualquer versão linguística, para a deverosidade
da sua publicação; (iii) noutro plano, e ao contrário do pressuposto pela remissão que o
n.º 2 do artigo 35.º do Anteprojeto efetua para os n.os 2 e 3 do artigo 31.º desta última
Diretiva, importa ter em conta que, em rigor, o n.º 2 não trata da matéria dos anúncios de
pré-informação, mas sim dos anúncios de concessão, o que naturalmente escapa ao obje-
to de todo o artigo 34.º do Anteprojeto. O que daqui se retira é, em termos pragmáticos,
o seguinte: o alinhamento dos artigos 34.º e 35.º do CCP na versão Anteprojeto com o
disposto nas Diretivas de 2014 exige: (i) que o n.º 1 do artigo 34.º se harmonize com o n.º
1 do artigo 35.º, no sentido de ambos passarem a determinar que os anúncios em causa
podem ser enviados; (ii) que no n.º 2 do artigo 34.º se assuma a solução inversa: os anún-
cios aí previstos devem ser enviados para publicação; (iii) por fim, que se elimine desse
mesmo n.º 2 do artigo 34.º a referência ao n.º 2 do artigo 31.º da Diretiva 2014/23/UE. De
resto, a impropriedade de configurar a publicação dos anúncios de pré-informação como
objeto de um dever ressalta da forma como o n.º 2 do artigo 136.º do CCP (quer na versão
vigente, quer na versão do Anteprojeto) configura a possibilidade de encurtamento do
prazo para apresentação de propostas: o facto de se referir “quando tenha sido publicado
o anúncio” é a prova de que o ordenamento jurídico admite a possibilidade de o anúncio
poder não ter sido publicado.
16 É certo que as Diretivas de 2004 pareciam configurar os anúncios de pré-infor-
mação e os anúncios pré-indicativos como mecanismos de programação anual das enti-
dades adjudicantes: nos termos do artigo 35.º da Diretiva 2004/18/CE, por exemplo, era
clara a indicação de que desses anúncios deveria constar a indicação do “valor estimado
dos contratos ou dos acordos-quadro, por grupo de produtos, que tencionam celebrar du-
rante os doze meses seguintes”, sendo no entanto certo que o conteúdo de tais anúncios
tal como resultava do Anexo VII A parecia apontar, diferentemente, para uma lógica contra
a contrato. Das Diretivas de 2014 parece resultar, diferentemente, a clara assunção de que
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108
«planeamento da contratação» revela é, muito provavelmente, a desne-
cessidade de esses anúncios pré-procedimentais servirem, como lhes era
apontada, a missão de um “plano anual de contratação pública”17. Essa
missão, agora numa lógica bienal, é entregue, precisamente, ao progra-
ma previsto no artigo 35.º-A, não se descortinando, portanto, qual possa
ser a utilidade da duplicação de instrumentos previsionais do mesmo gé-
nero.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Desta assumida aproximação do programa bienal a um instrumento
de puro soft law resultam, de forma aliás bastante natural, duas con-
sequências principais: (i) nenhuma entidade adjudicante pode ser com-
pelida a dar início aos procedimentos pré-contratuais projetados no
programa bienal20; (ii) e a nenhuma entidade adjudicante pode ser impu-
tada qualquer ilegalidade sempre que decida dar início a procedimentos
pré-contratuais não projetados no programa bienal. Não está em causa,
portanto, um instrumento de autovinculação das entidades adjudican-
tes, o que facilmente se compreende à luz dos objetivos subjacentes:
a aprovação e divulgação de um programa bienal de aquisições serve,
para além do já apontado objetivo de racionalização interna da atividade
de contratação, também um propósito de comunicação com o mercado,
da qual pode resultar, muito justamente, e mesmo sem necessidade de
realização de qualquer consulta preliminar nos termos do artigo 35.º-B,
a impossibilidade (técnica ou de condições contextuais de mercado) ou a
inadequação (por exemplo, ao nível da divisão em lotes) das previsões e
expetativas da entidade adjudicante. Nessas hipóteses, a publicação do
programa bienal servirá, então, para o despiste de projetos de contrata-
ção; qualquer vinculatividade que se associasse ao seu conteúdo contrai-
ria, de forma injustificada, a prossecução deste objetivo.
é obrigatória, o que já se viu não ser o caso (cfr. a nota 15). Uma alternativa global de
redação para todo o n.º 2 poderia ser, portanto, a seguinte: «o programa bienal tem carác-
ter meramente indicativo e serve como documento orientador da planificação de futuros
procedimentos pré-contratuais e da gestão eficiente dos contratos já celebrados».
20 Também com esta conclusão, à luz das soluções italianas do Codice de 2006, S.
Ruscica, La programazione, cit., pp. 985-986 e E. Sticchi Damiani, La programazione, cit.,
pp. 1050-1051.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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112
sobre o conteúdo de um dado programa bienal dificilmente escaparia à
interferência com opções de pura gestão definidas pela entidade adjudi-
cante, o que, de acordo com o modelo de separação de poderes vigente,
naturalmente conduziria à restrição da intensidade da fiscalização juris-
dicional. Se em função do primeiro aspeto é difícil não antecipar outra
decisão que não a de inadmissibilidade de uma ação de impugnação do
programa bienal, já este segundo conduziria, em qualquer caso, para a
sua necessária improcedência. Em tese colocável, a hipótese da reação
jurisdicional contra um dado programa bienal tem, por isso, pouquíssi-
mas condições para poder vir a revelar-se bem-sucedida23.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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114
Diferente é a questão de saber qual a consequência associada ao
eventual não cumprimento desse dever. O artigo 35.º-A não estabele-
ce qualquer mecanismo de enforcement capaz de forçar a aprovação do
programa bienal, não associando igualmente qualquer cominação (para
a entidade em causa ou para os titulares dos respetivos órgãos) à eventu-
alidade da sua não aprovação ou à sua não atualização anual, o que con-
fere ao regime do «planeamento da contratação» a natureza global de
uma lex imperfecta. O que se compreende – e justifica – em função da já
assinalada natureza «programática» e não-vinculativa do seu conteúdo.
A «filosofia» inspiradora do programa bienal, em parte assente num es-
quema destinado à obtenção de vantagens de eficiência e racionalidade
na contratação para as próprias entidades adjudicantes, deverá conduzir,
num cenário ideal, a que a aprovação dos programas bienais seja perspe-
tivada como uma boa aposta, sem que por isso se julgue necessário ou
sequer útil blindar o regime com qualquer mecanismo, mais ou menos
intenso, de enforcement26 ou de cominação. Mais do que uma omissão
do regime, está em causa, segundo se julga, uma opção declarada – e
que deve ser preservada – de não juridificar em demasia um tipo de ins-
trumento que o Anteprojeto de Revisão do CCP assumidamente configu-
ra, acima de tudo, como emergindo de um quadro global de boa gestão.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
27 É para esta última solução que aponta o Codice italiano: nos termos da parte
final do n.º 1 do artigo 21.º, “i programmi sono approvati nel rispetto dei documenti pro-
gramatori e in coerenza con il bilancio”.
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116
cumento desse tipo enfrentaria previsíveis dificuldades organizacionais.
Por essa razão, talvez não fosse de descurar a possibilidade de, para
estas entidades, o programa bienal ter um âmbito circunscrito em rela-
ção a cada Ministério/Secretaria Regional, daí resultando a aprovação
de tantos programas bienais quantos os Ministérios/Secretarias Regio-
nais concretamente existentes. Mas, mesmo nessa hipótese, talvez fos-
se ainda necessário que no artigo 35.º-A se esclarecesse sobre quais os
termos da relação (temporal, mas não só) dos programas bienais com os
instrumentos previsionais típicos do Estado e das Regiões Autónomas,
e, em especial, com o Orçamento do Estado/Regional.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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118
possuir sítio próprio na Internet (é o que acontece, desde logo, em
relação aos Ministérios [enquanto departamentos da entidade adjudi-
cante Estado], que não possuem um sítio «próprio» na Internet). Por
essa razão, talvez fosse conveniente prever que a publicação tivesse
lugar no sítio da Internet, caso existisse, e no jornal ou boletim oficial
da entidade adjudicante, devendo igualmente ser divulgado no portal
dos contratos públicos. Para obviar à circunstância de em algumas en-
tidades adjudicantes não ser sequer possível identificar um jornal ou
boletim oficiais, outra opção possível seria estabelecer simplesmente
a publicação no sítio da Internet, caso exista, e, em qualquer caso,
sempre no portal dos contratos públicos.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
30 A este respeito, duas últimas opções poderiam ainda ser ponderadas: (i) a de,
à semelhança do regime italiano, limitar a obrigação de inscrição no programa bienal a
contratos de um certo valor, não apenas de modo a evitar que, em alguns casos, os progra-
mas bienais se tornassem prolongadíssimos elencos de projeções contratuais, mas tam-
bém porque, verdadeiramente, o propósito de informação ao mercado surte tanto mais
efeito quanto seja a apetecibilidade dos contratos projetados. Para esse efeito, poderia,
por exemplo, utilizar-se o paralelo do regime da adjudicação por lotes, em cujos termos
se impõe a fundamentação nas hipóteses de não divisão apenas para contratos de valor
superior a € 100.000 (bens e serviços) ou a € 300.000 (empreitadas de obras públicas);
(ii) a de, em novo paralelo com a solução italiana (cfr. o n.º 8 do artigo 21.º do Codice),
prever um «modelo de programa bienal» que definisse as linhas gerais do seu conteúdo,
a aprovar a nível ministerial ou, por exemplo, pelo Instituto dos Mercados Públicos, do
Imobiliário e da Construção.
31 O que se reflete, desde logo, pela similitude dos enunciados correspondentes,
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120
40.º e 41.º da Diretiva 2014/24/UE e nos artigos 58.º e 59.º da Diretiva
2014/25/UE32. Embora a admissibilidade do recurso às consultas preli-
minares ao mercado – também conhecidas por diálogos técnicos – já
resultasse, tímida mas genericamente, dos considerandos das Direti-
vas de 1997/1998 e das Diretivas de 200433, certo é que do Código dos
Contratos Públicos não constava qualquer referência (direta)34 a este
circunstância que, ao contrário do que poderia julgar-se, não contribuiu para o rigor da
legística, como pode ver-se, entre outros aspetos, (i) pela utilização da expressão – pouco
técnica no Direito português – “abertura de um procedimento” na parte inicial do n.º 1,
onde talvez se impusesse referir o “início do procedimento” e (ii) pela omissão (esta não
imputável à Diretiva), nos n.os 3 e 4 da referência também aos candidatos e não apenas
aos concorrentes. Sobre estes e outros aspetos formais em torno do artigo 35.º-B, cfr.,
em termos que se subscrevem, J Amaral e Almeida/P. Fernández Sánchez, Comentários,
cit., pp. 88-89.
32 Sobre as soluções das Diretivas de 2014 quanto às consultas preliminares ao
mercado, cfr. S. Arrowsmith, Law of Public and Utilities Procurement, I, 3.ª ed., London:
Sweet & Maxwell, 2014, paras. 7-60/7-65, M. Assis Raimundo, Primeira análise das novas
diretivas (Parte I), Revista de Contratos Públicos, n.º 9 (setembro/dezembro 2013), pp. 30-
34, P. Costa Gonçalves, Direito, cit., pp. 176-177, L. Oliveira, Publicação e transparência
nas novas directivas de contratação pública, in As Novas Directivas da União Europeia para
a Contratação Pública Electrónica, Lisboa: Wolters Kluwer, 2015, pp. 30-31 e F. Noronha,
Os Conflitos de Interesses e a Participação Prévia de Candidatos ou Proponentes, Revista
de Contratos Públicos, n.º 13 (2016), pp. 23-41.
33 Quanto às primeiras: cfr. o considerando (10) da Diretiva 97/52/CE e o consi-
derando (13) da Diretiva 98/4/CEM quanto às segundas: cfr. o considerando (8) da Diretiva
2004/18/CE e o considerando (15) da Diretiva 2004/17/CE. Para uma ilustração do regi-
me – relativamente lacunar – das consultas preliminares ao mercado com esse contexto
normativo a nível europeu, cfr., no essencial, S. Arrowsmith, The problem of discussions
with tenderers under the E.C. Procurement Directives: the current law and the case for
reform, Public Procurement Law Review, 1998, 3, pp. 66-69, S. Treumer, Technical dialo-
gue prior to submission of tenders and principle of equal treatment of tenderers, Public
Procurement Law Review, 1999, 3, pp. 147-160, Idem, Technical dialogue and the principle
of equal treatment – dealing with conflicts of interest after Fabricom, Public Procurement
Law Review, 2007, 2, pp. 99-115 e, na literatura nacional, C. Viana, Os Princípios Comuni-
tários na Contratação Pública, Coimbra: Coimbra Editora, 2007, pp. 160-161.
34 A participação de candidatos ou concorrentes na preparação do procedimento
ressaltava, no entanto, da causa de exclusão prevista na alínea j) do artigo 55.º do CCP, à
qual se regressará.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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informações ou pareceres a operadores do mercado (ou a peritos ou
autoridades independentes) sobre determinada solução ou bem que
projete adquirir, a entidade adjudicante não estará apenas a anunciar as
suas previsões de contratação futura; estará, mais intensamente, a co-
envolver os agentes do mercado na própria na tarefa de refinamento da
concreta necessidade de interesse público a satisfazer com a abertura
futura (mas eventual) de dado procedimento pré-contratual.
38 Cfr., desde logo, S. Arrowsmith, The problem, cit., pp. 69 e ss; na literatura
nacional, M. Assis Raimundo, A formação, cit., p. 702.
39 Sobre o regime do procedimento de diálogo concorrencial tal como previsto
na versão originária do CCP, cfr., v.g., M. Kirky, O diálogo concorrencial, in P. Costa Gonçal-
ves (org.), Estudos, I, cit., pp. 275-326.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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124
1 do artigo 55.º). É a forma como cada uma destas situações jurídicas
surge inscrita no texto do Anteprojeto que interessa agora apreciar.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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como iniciativas procedimentais oficiosamente promovidas, quer como
iniciativas externamente impulsionadas; no n.º 1 do artigo 35.º-B do
Anteprojeto, diferentemente, parece assumir-se a perspetiva exclusiva
de consultas oficiosas. Não parece, mais uma vez, que desta diferença
resultem quaisquer consequências, tanto mais que (i) a possibilidade
de esses pareceres ou informações ou pareceres serem oferecidas por
iniciativa de operadores de mercado ou qualquer outro terceiro resulta,
para estes sujeitos, da sua natural liberdade de atuação, juridicamente
garantida43; (ii) já a possibilidade de esses contributos externos serem
aceites pela entidade adjudicante resulta, também muito naturalmente,
de competências instrutórias mais uma vez resultantes da norma de le-
galidade procedimental da função administrativa44.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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128
Sob este ponto de vista, pode apontar-se às consultas preliminares o
aspeto já atrás associado ao regime do programa bienal, e que se traduz
na circunstância de esta atividade instrutória não constituir, em nenhu-
ma medida, um instrumento de autovinculação da entidade adjudicante
que a promova. Aliadas ao seu fundamento transpositivo numa ideia
global de boa gestão, as consultas preliminares podem, para além dis-
so, ser mobilizadas se e quando uma entidade adjudicante as prefigure
como instrumento útil de refinamento da sua atividade procedimental
posterior; se esse for o caso, a entidade adjudicante poderá adotar qual-
quer modelo (escrito ou oral, com realização de sessões de diálogo ou
não, com abertura de consulta pública através de um sítio da Internet
ou não, et cetera).
45 Cfr. a parte final do 2.º par. do artigo 40.º da Diretiva 2014/24/UE e a parte
final do 2.º par. do artigo 58.º da Diretiva 2014/25/UE.
46 Para o conceito de norma convergente pressuposto no texto, cfr. D. Duarte, A
Norma, cit., pp. 584 e ss.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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com a enunciação dos correspondentes princípios mediadores. A garantia
de que o recurso a consultas preliminares ao mercado não se traduz numa
distorção da atividade procedimental posterior resulta, em concreto, da
previsão de medidas preventivas e de medidas reativas, cujo alcance im-
porta conhecer.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
do n.º 3 do artigo 35.º-B (e da alínea j) do artigo 55.º), o cenário é bem distinto: o que está
em causa é a relação entre dois operadores de mercado, um dos quais participa numa
consulta preliminar e outro vem a participar no correspondente procedimento. É duvido-
so, por isso, que os critérios do artigo 14.º (e do n.º 2 do artigo 4.º, para o qual remete o
artigo 29.º da Diretiva 2014/24/UE) sirvam diretamente para a delimitação do que se deva
entender por «empresa associada» nos termos do n.º 3 do artigo 35.º-B, embora se possa
admitir que as situações aí previstas são demonstrativas da proximidade que para efeitos
de reação contra fenómenos de «dupla participação» deva ser considerada. Mas essas
podem não ser as únicas situações relevantes: pense-se, por exemplo, na hipótese em que
a empresa x contrata a empresa y para a específica missão de esta última se aproximar de
uma entidade adjudicante para efeitos de preparação de um determinado procedimento,
no qual vem – a empresa x – depois a participar, colhendo as informações que a empresa
y tenha eventualmente garantido na aproximação à entidade adjudicante; é evidente que,
nesta hipótese, a correia de transmissão da informação recolhida pela empresa y impele
a que sejam tomadas “medidas adequadas” em relação à participação procedimental da
empresa x e a que, num cenário de efetiva distorção, a empresa x possa ser excluída ex vi
alínea j) do artigo 55.º. O âmbito exato da referência a «empresa associada» nos termos
do n.º 3 do artigo 35.º-B não pode, por isso, limitar-se às hipóteses projetadas pelo artigo
14.º.
48 As Diretivas exigem que as medidas (preventivas e reativas) adotadas no con-
texto das consultas preliminares ao mercado constem do relatório do procedimento. Esta
exigência, que no contexto português apela ao relatório da contratação previsto no artigo
108.º do CCP (bem revisto pelo Anteprojeto, aliás), não substitui a possibilidade de, nos
termos do n.º 4 do artigo 35.º-B, essas medidas serem também inscritas nas peças do
procedimento. Trata-se de divulgações cumulativas, não alternativas.
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132
inscrição terem lugar após o início do procedimento pré-contratual e
após a constatação de que se apresenta como candidato ou concorrente
um sujeito que tenha tido participação (mais ou menos intensa) numa
anterior consulta preliminar.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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procedimento pré-contratual a que entretanto deu início não pode, por
isso, de deixar de levar em linha de conta as limitações que proíbem
uma divulgação plena e incondicionada de material instrutório «reser-
vado».
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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136
tenha sido acompanhada da previsão de um novo motivo de exclusão
destinado a reagir perante a hipótese em que da realização de consul-
tas preliminares resulte uma efetiva distorção da concorrência que não
possa ser “corrigida por outras medidas, menos invasivas”52. Para além
de nas disposições que especificamente regulam o regime das consul-
tas preliminares ao mercado ser reforçada esta perspetiva da exclusão
dos candidatos ou concorrentes intervenientes em anteriores consultas
como medida de ultima ratio53, adiciona-se, ainda, a garantia procedi-
mental segundo a qual “antes de qualquer exclusão por esses motivos, é
dada aos candidatos ou proponentes a oportunidade de demonstrarem
que a sua participação na preparação do procedimento de contratação
não é suscetível de distorcer a concorrência”54.
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137
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
56 Entre outras, a referência tem por objeto, no essencial, a decisão do caso Fa-
bricom (processos apensos C-21/03 e C-34/03), de 3 de março de 2005, cujo Acórdão pode
ser consultado aqui.
57 Cfr. M. Assis Raimundo, A formação, cit., p. 709. Sempre nesse sentido, cfr.
também L. Verde de Sousa, A Negociação, cit., pp. 125-126, R. Esteves de Oliveira, Restri-
ções à participação em procedimentos de contratação pública, Revista de Direito Público e
Regulação, n.º 1, 2009, pp. 32-34, Idem, Os princípios gerais da contratação pública, in P.
Costa Gonçalves (org.), Estudos, I, cit., pp. 97-98, M. Olazabal Cabral, O artigo 55.º, alínea
j) do CCP: mais vale ser do que parecer, Revista de Contratos Públicos, n.º 1 (janeiro-abril
2011), pp. 125-171 e M. Esteves de Oliveira/R. Esteves de Oliveira, Concursos, cit., pp.
525-530.
58 Nos termos assumidos pelo próprio preâmbulo do Decreto-Lei n.º 149/2012,
a alteração situou-se “em linha com a posição do Tribunal de Justiça da União Europeia”.
Sobre esta alteração, louvando-a, cfr. P. Costa Gonçalves, Alterações ao Código dos Con-
tratos Públicos na sequência do «Memorando de Entendimento com a Troika», Revista de
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138
mento: o impedimento previsto naquela alínea j) deixou de funcionar
de modo automático, eliminando-se, por isso, a presunção absoluta de
que da participação pré-procedimental de um candidato ou concorrente
na preparação e elaboração das peças do procedimento resulta, ipso
facto, uma situação de distorção concorrencial, garantindo-se, portanto,
a possibilidade de ilisão dessa presunção através da demonstração de
que essa participação pré-procedimental não decorrer, efetivamente,
qualquer situação de anomalia concorrencial.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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140
segundo para dar conta de que a exigência de contraditório prévio à
exclusão com fundamento na alínea j), exigido pelas Diretivas, resulta,
no regime português, da própria ordenação procedimental já prevista
no código: tendo em conta que a exclusão de candidatos ou concorren-
tes deverá constar do Relatório Preliminar e que sobre este documento
instrutório recai a audiência prévia dos candidatos ou concorrentes59,
assim fica garantido, em termos que se julgam adequados, o exigido
pelo legislador europeu; (iii) um terceiro e último para assinalar que
o novo impedimento agora projetado para alínea k) do n.º 1 do arti-
go 55.º do CCP60 também pode revelar pertinência nas hipóteses de
«dupla participação» subsequentes à realização de consultas prelimi-
nares, sendo perfeitamente configurável que da consulta preliminar re-
sulte uma influência indevida sobre a decisão de contratar ou a obten-
ção de informações confidenciais suscetíveis de conferir ao candidato/
concorrente vantagens indevidas no procedimento; trata-se, em todo o
caso, e novamente, de uma contingência, a apreciar caso a caso. Nas
hipóteses em que se assim seja, porém, não há como escapar à dire-
triz de ultima ratio que a Diretiva formula genericamente a propósito
de qualquer situação de exclusão por efeito de participação prévia em
consultas preliminares.
59 Cfr., no essencial, os artigos 122.º, 123.º, 146.º, 147.º, 184.º e 185.º do CCP.
60 Sobre este novo impedimento, assinalando, pertinentemente, o relativo equí-
voco que envolve a utilização do advérbio «indevidamente» nessa disposição (importada
da alínea i) do n.º 4 do artigo 57.º da Diretiva 2014/24/UE), cfr. J. Amaral e Almeida/P.
Fernández Sánchez, Comentários, cit., p. 75.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Anteprojeto (em linha direta com o disposto pelas Diretivas sobre o as-
sunto) para um futuro artigo 35.º-B são meritórios e merecem, também,
ser salvaguardados. Mas, como também ali se concluiu, importa que
os termos da regulação destes novos mecanismos pré-procedimentais
evitem o risco da sua inefetividade. Se no caso do programa bienal esse
risco resulta essencialmente do facto de o artigo 35.º-A deixar «em
aberto» alguns aspetos de regime que parecem fundamentais, já a res-
peito das consultas preliminares ao mercado a perspetiva é diversa: é
talvez o excesso de garantias que as envolvem que podem conduzir a
que as mesmas sejam assumidas pelas entidades adjudicantes (e pelos
operadores do mercado) como apostas demasiadamente arriscadas.
Sobre se assim será não cabe, porém, fazer futurologia: só a experiência
(administrativa e jurisdicional) de aplicação e de controlo da aplicação
do mecanismo poderá ditar se com a previsão do novo artigo 35.º-B
as consultas preliminares ao mercado serão muito ou pouco utilizadas
pelas entidades adjudicantes portuguesas e, no caso de o serem, se o
serão devidamente.
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142
O novo regime
dos erros e omissões
no anteprojecto de revisão do
Código dos Contratos Públicos
MARCO CALDEIRA
1 Embora a nossa intervenção nesse debate tenha incidido sobre o “Novo regi-
me dos esclarecimentos, retificação e alteração das peças procedimentais, novo regime de
esclarecimentos e suprimento de propostas e candidaturas”, o presente texto debruçar-
-se-á apenas sobre as soluções do Anteprojecto relativamente aos erros e omissões do
caderno de encargos.
Sobre o (polémico) tema do suprimento de candidaturas e propostas, constante dos
n.os 3 e 4 que o Anteprojecto se propõe aditar ao artigo 72.º do CCP, cf. entretanto, com
muito interesse, Luís Verde de Sousa, in AA.VV. Relatório de análise e de reflexão críti-
ca sobre o Anteprojeto de Revisão do Código dos Contratos Públicos, CEDIPRE, Coimbra,
2016, página 27 (disponível em www.cedipre.fd.uc.pt), bem como João Amaral e Almei-
da e Pedro Fernández Sánchez, Comentários ao Anteprojeto de Revisão do Código dos
Contratos Públicos (Agosto de 2016) – Regime da Contratação Pública, páginas 48 a 50
(disponível em www.servulo.com).
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143
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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144
matéria, pelo que as soluções contidas neste Anteprojecto de
revisão do CCP agora submetido a discussão pública consti-
tuem opções livremente assumidas pelo legislador nacional;
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145
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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146
o quadro actual suscita, no que se refere à compatibilização, dentro do
prazo geral de apresentação de propostas, de dois (sub-)prazos distintos
que correm simultaneamente, para (pedidos e resposta aos) esclareci-
mentos e para (apresentação de lista e resposta aos) erros e omissões6.
Além disso, julga-se que, na mente do legislador, terá estado também
o intuito de evitar a suspensão automática e potestativa do prazo de
apresentação das propostas por parte de um qualquer interessado, que
poderia ser entendido como um “convite” implícito à apresentação de
supostos “erros e omissões” (por mais descabidos que fossem), apenas
para “ganhar mais tempo” para a elaboração das respectivas propos-
tas7. Por último, na base desta proposta legislativa poderá também ter
estado a constatação de que, na prática, os pedidos de esclarecimentos
apresentados pelos interessados no primeiro terço do prazo de apre-
sentação das propostas contêm já, com alguma frequência, verdadeiros
erros e omissões, o que poderia justificar a fixação de um prazo único
para os dois efeitos (apresentação de pedidos de esclarecimentos e de
listas de erros e omissões).
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147
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Por outro lado, não pode deixar de se notar que a nova solução pro-
posta se revela produto de uma diferente concepção político-legislativa
quanto ao que deve ser o equilíbrio relativo e a tensão entre os interes-
ses e a posição da entidade adjudicante e dos potenciais concorrentes.
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148
1) O prazo para a (detecção e) apresentação da lista de erros e
omissões pelos concorrentes é mais curto do que o previsto
no CCP: passa de 5/6 para 1/3 do prazo de apresentação das
propostas – prazo esse que, por seu turno, também passa a
(poder) ser mais exíguo9, no que se traduz numa dupla dimi-
nuição para os concorrentes;
9 Nos termos dos artigos 135.º e 136.º do CCP, na versão do Anteprojecto, nos
termos dos quais o prazo mínimo para a apresentação das propostas, em procedimentos
para a celebração de contratos de empreitada de obras públicas, passa de 47 para 30 dias
(nos concursos públicos com publicidade internacional) e de 20 para 14 dias (nos concur-
sos públicos sem publicidade internacional), podendo ainda este último prazo ser reduzi-
do para 6 dias, em caso de “manifesta simplicidade dos trabalhos necessários à realização
da obra”.
10 É verdade que, sendo (ou podendo ser) os prazos de apresentação das pro-
postas mais reduzidos, poderá suceder que, na prática, este aumento não tenha impacto
significativo na esfera da entidade adjudicante, já que 1/6 de um prazo muito longo pode-
rá corresponder a um hiato temporal mais dilatado do que 1/3 de um prazo mais curto.
Também aqui, em qualquer caso, continua a valer a regra de os prazos para apresentação
das propostas deverem ser fixados em função da complexidade do objecto do contrato (cf.
artigo 63.º/2 do CCP).
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
11 É certo que, em rigor, o Anteprojecto não impõe que este prazo seja supe-
rior, mas, evidentemente, não se afigura plausível que, na prática, a entidade adjudicante
pretenda vincular-se a um prazo inferior ao 1/3 que a lei sempre lhe garante, sobretudo
quando a consequência da falta de resposta atempada aos erros e omissões apresentados
pelos concorrentes continua a ser a da responsabilidade integral pelo valor dos trabalhos
de suprimento que se revelem necessários (cf. artigo 378.º/3, in fine, do CCP).
Questão diferente é a de o Anteprojecto não fixar um limite a este prazo, o qual, por
esse motivo, como notam João Amaral e Almeida e Pedro Fernández Sánchez, pode ser
fixado pela entidade adjudicante “de forma discricionária, e aparentemente em termos
ilimitados” (cf. Comentários..., cit., página 69).
12 Resta saber se, caso a entidade adjudicante fixe, para si mesma, um prazo pos-
terior ao segundo terço do prazo para apresentação das propostas para responder à lista
de erros e omissões, este prazo é prorrogado na medida do período excedente, isto é, se
os potenciais concorrentes continuarão a dispor do último terço do prazo para acomodar
as suas propostas às alterações resultantes da resposta da entidade adjudicante – o que
parece ser a solução mais lógica (até pela similaridade com a solução consagrada, e bem,
no artigo 64.º/2), mas que o Anteprojecto não esclarece, e devia esclarecer.
Igualmente assinalando que o regime do Anteprojecto não prevê qualquer garantia
de que os interessados disporão de um prazo adequado para a reformulação da sua pro-
posta, para a adaptar à resposta da entidade adjudicante às listas de erros e omissões
apresentadas, cf. João Amaral e Almeida e Pedro Fernández Sánchez, Comentários...,
cit., página 70.
13 Já agora, e embora este reparo possa parecer um mero preciosismo de
redacção, refira-se que esta norma continua a aludir aos “trabalhos de suprimento de
erros e omissões”, o que é contraditório com a abolição destes trabalhos enquanto
categoria autónoma. Neste sentido, afigura-se que o legislador deveria antes, e mais
rigorosamente, referir-se a trabalhos complementares cuja execução se deva à necessida-
de de suprimento de erros e omissões.
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150
Assim, à primeira vista, os co-contratantes poderão vir a enfrentar
sérias dificuldades quando, já durante a execução dos trabalhos, se de-
pararem com deficiências que poderiam ser ter sido detectadas ante-
riormente e sobre eles recair o ónus de demonstrar que, no concreto
prazo de que dispuseram para o efeito, não lhes seria razoavelmente
exigível que se tivessem apercebido do erro ou omissão em causa.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
doutrina ao longo dos anos16, antecipa-se que esta medida possa vir
a sofrer grande contestação, até porque as regras sobre repartição da
responsabilidade se mantêm intactas e porque a diminuição do prazo
para a detecção de erros e omissões não é “compensada” pelo aumento
do prazo agora concedido aos concorrentes para conformarem as suas
propostas em função das respostas da entidade adjudicante, visto que
se trata de medidas que não operam no mesmo plano ou produzem
idênticos efeitos, não se anulando reciprocamente17.
Isto só não será exacto caso se entenda (como nos parece dever en-
tender-se) que o grau de exigência que recai sobre os interessados nesta
fase passará, doravante, a ser inferior – na medida em que não pode
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152
pedir-se a um potencial concorrente, num prazo mais curto, o mesmo
grau de minúcia e detalhe na análise que razoavelmente se poderia
esperar dele num prazo mais longo18. Mas, se for assim, então o novo
regime vem afinal, contra as evidências iniciais, a revelar-se mais desfa-
vorável (não para os concorrentes, mas) para a entidade adjudicante,
em virtude de reduzir o elenco dos erros e omissões cuja detecção seria
exigível aos interessados na fase de apresentação das propostas e, por
conseguinte, aqueles cujo suprimento poderia vir a ser parcialmente im-
putado ao co-contratante na fase de execução do contrato.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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execução de uma obra pública, apenas pelo facto de o valor do contrato
não ser superior a € 150.000 – conforme a certeira crítica que, amiúde,
se faz ouvir22.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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discutidos na jurisprudência26 e na doutrina27, até o legislador ter vindo
resolver o problema28 –, ao contrário do que sucedeu anteriormente,
dizia-se, parece-nos que, hoje, o regime dos prazos de apresentação das
(e da resposta às) listas de erros e omissões não carece de revisões, que
podem inclusivamente vir a mostrar-se contraproducentes.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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Novidades na tramitação dos
procedimentos: causas de exclusão
de propostas, impedimentos, preço
ou custo anormalmente baixo
e preço base1
JORGE PAÇÃO2
e1o2
I. Nota introdutória
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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base. Tal será naturalmente feito com o intuito de análise e discussão
das novidades vertidas no Anteprojeto de revisão do Código dos Con-
tratos Públicos.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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concorrentes, este alargamento do dever de comunicação nos casos em
que a entidade adjudicante, tendo decidido não excluir a proposta, veri-
ficou a existência de indícios de práticas restritivas de comércio, poderá
vir a revelar-se essencial no combate ao dumping e à “manipulação” dos
preços e custos associados às propostas.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Por fim, ainda quanto ao regime geral indicativo das causas de ex-
clusão, refira-se que o 146.º mantém-se intato no Anteprojeto do CCP,
visto não resultar da transposição da Diretivas a necessidade de altera-
ção, nem se vislumbra motivo para o seu aperfeiçoamento face à versão
atual.
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na elaboração do Anteprojeto do CCP na medida em que as Diretivas
de 2014, tirando alterações de mera “cosmética”, não modificaram, na
substância, os preceitos relativos às causas de exclusão insolvenciais.
7 Cfr. artigo 192.º, n.º 3, do CIRE (“3 - O plano que se destine a prover à recupe-
ração do devedor designa-se plano de recuperação, devendo tal menção constar em todos
os documentos e publicações respeitantes ao mesmo.”).
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Assim sendo, a nosso ver, a parte final da alínea a) deve ser altera-
da, determinando o legislador que a excepção de verificação do impe-
dimento apenas é aplicável nos casos em que o plano de insolvência
corresponde a um “plano de recuperação”. Caso contrário, as entidades
adjudicantes continuarão, de forma injustificada, a ver-se forçadas a ad-
mitir a concurso concorrentes com planos de insolvência cuja aprovação
determina a liquidação total do património e correspondente cessação
da atividade, tornando-se muito provável que, deste modo, fique preju-
dicada o pontual cumprimento do contrato a celebrar8.
8 Acresce que esta modificação na alínea a) do artigo 55.º é também ela exigida
por motivos de coerência normativa: como pode o legislador determinar que a mera
pendência de processo de insolvência é causa de exclusão do concorrente (impedimento
que continua a constar da alínea a) do artigo 55.º do CCP, na versão do Anteprojeto) e,
simultaneamente, estabelecer que a aprovação de um plano de insolvência destinado à
liquidação da empresa permita a este concorrente concorrer à adjudicação e celebração
de um contrato público?
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das exceções à verificação de um impedimento insolvencial. Ora, uma
destas situações prende-se com a pendência de processo especial de
revitalização (doravante, PER) e a correspondente aprovação de plano
especial de revitalização.
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dência do processo de insolvência não irá afetar a atividade desenvolvi-
da pelo concorrente11.
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dos órgãos sociais, justificando-se plenamente este acrescento, caso a
presente alínea venha a ser preservada pelo legislador.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
ii) e desde que tal tenha sido determinado por decisão judicial
ou administrativa, transitada em julgado e com efeito vincu-
lativo.
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Ora, o Anteprojeto não reflete esta novidade assente numa inequí-
voca diferenciação da gravidade do incumprimento das obrigações para
com a segurança social e a administração tributária. Levantamos, por
isso, dúvida semelhante à já levantada acima quanto às alíneas b) e c)
do artigo 55.º do CCP, sobre se a não consideração do regime constante
das novas Diretivas nesta matéria terá ocorrido por mero “esquecimen-
to”, ou se estamos perante uma opção do legislador, e quais os motivos
subjacentes à mesma, considerando ainda que a nova solução norma-
tiva presente nas Diretivas favorece a concorrência e participação dos
interessados na adjudicação dos contratos.
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174
ção europeia, em consonância com as Diretivas, e procede-se ao adita-
mento dos seguintes novos impedimentos de natureza criminal, tam-
bém por imposição das diretivas comunitárias: (i) infrações terroristas
ou infrações relacionadas com atividades terroristas; (ii) financiamento
de terrorismo; (iii) trabalho infantil e outras formas de tráfico de seres
humanos.
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175
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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176
do qual resulta uma restrição injustificada do valor concorrência e do
princípio da igualdade de tratamento dos concorrentes. As situações
subsumíveis a este impedimento aproximam-se, em boa verdade, ao
crime de corrupção, pelo que estaremos, em grande medida, perante
casos de soft corruption15.
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177
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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178
vista a prevenção de situações de potencial parcialidade, o
que se elogia.
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179
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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180
contrato a adjudicar19.
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181
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Ainda que esta não seja a sede própria para uma abordagem cabal
ao “problema maior” que de seguida exporemos, importa realizar um
breve apontamento, considerando que a revisão do Código dos Contra-
tos Públicos seria, em teoria, o momento ideal para o resolver.
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182
do concorrente é um poder-dever a ser exercido pelas entidades ad-
judicantes, consoante os contornos do caso concreto21. Neste âmbito,
importa ter em consideração o Acórdão Forposta, no qual o Tribunal de
Justiça da União Europeia revelou ser de rejeitar, por princípio, a “trans-
formação” acrítica de uma causa de exclusão facultativa em causa de
exclusão obrigatória22.
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183
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184
de três condições, e que se encontrava previsto no n.º 1 do artigo 69.º
da proposta de Diretiva relativa aos contratos públicos. As mencionadas
condições eram as seguintes:
europa.eu
25 Cfr. Parecer do Comité das Regiões sobre o pacote “Contratos Públicos”, p. 73,
disponível em: www.eur-lex.europa.eu
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185
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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186
O que pensar deste novo regime do preço ou custo anormalmente
baixo?
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187
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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188
Todavia, o Anteprojeto de revisão, apesar de, no novo artigo re-
ferente aos princípios da contratação pública (artigo 1.º -A, n.º 2, em
transposição do artigo 18.º, n.º 2 da Diretiva), estabelecer uma obri-
gação de respeito pelas normas em matéria ambiental, social, laboral,
decorrentes do direito internacional, europeu, nacional ou regional, não
transpõe, nem sequer parcialmente, as normas que no regime do pre-
ço anormalmente baixo dizem respeito ao cumprimento das obrigações
em matéria social, ambiental e laboral.
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189
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190
Podem as entidades adjudicantes, nos casos de fixação prévia do li-
miar do preço anormalmente baixo, considerar anómala uma proposta
cujo preço tenha ficado acima desse limiar?
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191
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192
iii) Definição de um critério de determinação do preço base
quanto aos contratos que não impliquem o pegamento de
preço, assente no montante previsível a receber pelas pres-
tações que constituem o objeto do contrato (n.º 2 do artigo
47.º, na versão do Anteprojeto);
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193
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ANEXO
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194
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195
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196
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198
2. Uma proposta de maior amplitude: a bad past performance
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199
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3. Duas clarificações
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200
ii) Alíneas f) e m) do artigo 55.º
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201
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202
(I) Aspectos gerais:
Até hoje, o CCP (2008) elencava, no artigo 74.º, n.º 1, dois critérios
de adjudicação: (i) o critério da proposta economicamente mais van-
tajosa e (ii) o critério do mais baixo preço.
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203
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204
processo específico em relação a outra fase do seu ciclo de vida, mesmo
que estes fatores não façam parte da sua substância material.
Estes critérios podem estipular, por exemplo, que o fabrico dos pro-
dutos comprados não envolve produtos químicos tóxicos, ou que os
serviços adquiridos são prestados utilizando máquinas eficientes em
termos energéticos.
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205
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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206
luentes e energeticamente eficiente, transposta para o direito nacional
pelo Decreto-Lei n.º 140/2010 de 29 de Dezembro.
O atual CCP (2008) prevê que, no artigo 75.º, n.º 1, que devam ser
fixados os fatores de avaliação e eventualmente os subfatores dentro
de cada fator, nenhum dos quais podem, direta ou indiretamente, dizer
respeito “a situações, qualidades, características ou outros elementos
de facto relativos aos concorrentes”.
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207
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Mais tarde, em 2015, o TJUE veio admitir, à luz das diretivas de 2004,
que a entidade adjudicante estabeleça um critério que permita avaliar a
qualidade das equipas concretamente propostas pelos concorrentes para
a execução desse contrato, critério esse que tem em conta a constituição
da equipa assim como a experiência e o currículo dos seus membros.8
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208
pados num só), segundo a qual “a relação qualidade-preço (…) compre-
ende, nomeadamente (…) organização, qualificações e experiência do
pessoal encarregado da execução do contrato em questão”.
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209
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210
Decisão de não adjudicação
e caducidade da adjudicação1
CECÍLIA ANACORETA CORREIA
151
O tema que me foi confiado para abordar nesta Conferência - “Deci-
são de não adjudicação e caducidade da adjudicação” – tem especial in-
cidência sobre a redacção proposta pelo Anteprojecto de CCP (“ACCP”)
para o artigo 79.º, cuja epígrafe é “Causas de não adjudicação”, e redac-
ção do novo artigo 87.º-A, cuja epígrafe é “Outras causas de caducidade
da adjudicação”.
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211
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212
em conta que o artigo 80.º n.º 1 do CCP, conjugado com o artigo 36.º
n.º 1 do mesmo código, já têm o mesmo sentido normativo, sendo que
nenhum destes dois artigos sofreu alteração.
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213
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214
fundamentais, mediante prorrogação do prazo de apresentação de pro-
postas (art. 64.º n.º 2 e artigo 175.º n.º 2 do ACCP).
Por isso, fazendo uma leitura integrada do CCP, seria mais adequa-
do que o intróito deste n.º 1 do artigo 79.º referisse “Pode não haver
lugar à adjudicação” em vez de “Não há lugar à adjudicação”, fórmula
que aponta para um dever de não adjudicação menosprezando o dever
de prévia ponderação casuística do interesse público, sendo essa pon-
deração a ratio destas novas previsões legais.
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215
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216
atempada de erros e omissões, na medida em que se atribui relevo à
exigibilidade ou não dessa mesma detecção para efeitos indemnizató-
rios (cfr. art. 378.º n.º 3 e 4 ACCP).
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217
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218
que consta da redacção ainda em vigor da alínea e).
Fazendo uma análise crítica geral das novas alíneas c), d), e) e h) do
n.º 1 do artigo 79.º do ACCP, trata-se de introduzir alterações que sur-
gem na linha de posições doutrinárias que advogavam a necessidade de
se conferir ao princípio do interesse público um maior peso relativo no
âmbito de um Direito de base comunitária enformado pelo princípio da
concorrência.
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219
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220
Respondo que é um facto que nenhuma entidade adjudicante indem-
niza ex officio um particular lesado e que, de entre todas as acções de
responsabilidade civil que acompanho, de há 10 anos para cá nenhuma
chegou sequer à fase de julgamento. Portanto, é muito difícil explicar a
um cliente que pondera investir em Portugal os efeitos práticos destas
novas soluções legais sem fazer uma análise de risco desencentivadora.
Independente da ineficiência da tutela indemnizatória, a verdade é que
do lado das PME portuguesas, há uma folga muito estreita- senão nula –
para acomodar as perdas (absolutas ou recuperáveis depois de décadas
de tribunal) que uma decisão de não adjudicação lhes pode causar.
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221
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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222
não caberá aos Estados signatários cercear uma tal disposição mas an-
tes respeitá-la.
Para já, importa frisar que um travão ao uso abusivo ou mal ponde-
rado desta discricionariedade decisória de não adjudicação e de invoca-
ção da caducidade da adjudicação está procedimentalmente assegura-
do, através da consagração legal expressa no ACCP da necessidade de
fundamentação da decisão de contratar para todos os contratos, com
requisitos adicionais, especialmente exigentes, para os contratos a ce-
lebrar de valor superior a 5 000 000€, com base numa avaliação custo-
-benefício (nova redacção do art. 36.º ACCP).
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223
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224
II. Principais alterações em matéria de caducidade da adjudicação -
artigos 86.º, 87.º e novo 87.º-A4
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225
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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226
e) Art. 227.º (ex art. 234.º): caducidade da decisão de selecção
dos trabalhos de concessão por não apresentação dos docu-
mentos comprovativos das habilitações profissionais especí-
ficas.
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227
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228
xecução de sentenças” (cfr. Cecília Anacoreta Correia, A Tutela Executiva
dos Particulares no Código de Processo nos Tribunais Administrativos,
Almedina/Instituto do Conhecimento AB, 2013, pág. 312 e seguintes).
Terceira nota, o n.º 1 do novo artigo 87.º-A refere como causa de ca-
ducidade da adjudicação a ocorrência superveniente de certas circunstân-
cias, não exigindo - como faz na al. c) do n.º 1 do art. 79.º ACCP relativa-
mente às causas de não adjudicação-, que tal ocorrência seja imprevista,
no sentido de não previsível segundo o nosso entendimento acima expo-
mos.
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229
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Por isso, quando o art. 87.º-A n.º 3 refere que: “O adjudicatário deve
indemnizar a entidade adjudicante, nos termos gerais, pelos prejuízos
que culposamente tenha causado”, importa referir que o inverso tam-
bém válido. Aplica-se, pois, neste domínio um regime de responsabili-
dade subjectivo (baseado na aferição da culpa) relativamente à parte a
quem for imputável a ocorrência da causa de caducidade.
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230
Catálogos electrónicos
e sistemas de aquisição
dinâmicos no anteprojecto
de Revisão do CCP - breve nota1
MIGUEL ASSIS RAIMUNDO
a1o2
1. Catálogos electrónicos
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231
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
mente o campo de eleição para este instrumento. Contudo, vale a pena dizer que essa
omissão não pode, a nosso ver, encarar-se como uma impossibilidade de utilização dos ca-
tálogos (que podem ser úteis, em alguns contextos concessórios que se caracterizem pela
fragmentação territorial, como sucede, por exemplo, com os transportes colectivos de
passageiros por via rodoviária). Com efeito, a omissão dessa matéria da Directiva 2014/23
prende-se, antes, com a diferente perspectiva regulatória adoptada por essa directiva
quanto ao procedimento de formação de contratos de concessão. A Directiva 2014/23
deixa ao legislador nacional (maxime através do artigo 30º) uma margem de liberdade de
conformação em matéria de procedimentos pré-contratuais que excede em muito aquela
que é atribuída pelas Directivas clássica e dos sectores especiais. Por isso, nada obsta a
que o legislador nacional habilite a utilização dos catálogos, também, para contratos de
concessão.
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232
gressão pelo tema dos “catálogos gerais por oposição a catálogos espe-
cíficos”, que, apesar de algo heterodoxa (talvez mesmo bizantina), nos
fornece, como se verá, uma ideia importante sobre aquilo que para o
legislador europeu é um catálogo electrónico.
1.2. É preciso travar uma batalha árdua para extrair das normas e
dos considerandos da directiva uma resposta à pergunta mais básica,
que é a de saber o que são, para o legislador europeu, os catálogos
electrónicos. Essa falta de clareza, a nosso ver, repercute-se nos diversos
Estados Membros: a transposição conservadora, muito próxima da letra
da directiva, que tem ocorrido em diversos países próximos do nosso
(França e Itália, por exemplo), revela que os legisladores nacionais não
estão propriamente confortáveis com a figura.
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233
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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234
Vale a pena reflectir sobre este elemento, pois o seu sentido não é
imediato. É evidente que, num certo sentido (amplo), qualquer informa-
ção que se envie a outra pessoa é susceptível de tratamento electrónico.
O que aqui se visa, porém, é dizer que a informação que um concorrente
apresenta sobre os bens que ele oferece tem de “encaixar” no formato
do catálogo definido; mais precisamente, a informação tem de vir em
formato que possa ser manipulado sem necessidade de uma actividade
relevante de processamento por parte de quem recebe essa informa-
ção. O exemplo da folha de cálculo, ainda que um pouco caricato, trans-
mite a ideia: numa folha de cálculo, a informação tem de ser inserida em
campos determinados, permitindo operações automáticas que movem
a informação dali para outros sítios ou que a relacionam com informa-
ção semelhante, ou ainda, que permitem a sua replicação; tudo isso de
forma automática. Isso permite, por exemplo, que o valor da célula A13
da folha de cálculo do concorrente “A” seja comparado com o valor da
mesma célula da folha de cálculo do concorrente “B”, sem necessidade
de intervenção humana. O mesmo não acontece, por exemplo, se os
dois concorrentes enviam a mesma exacta informação, mas em folhas
de papel impressas e digitalizadas: nesta modalidade mais rudimentar,
pouco se avança face à via tradicional, pois terá, em princípio, de haver
uma intermediação humana: uma pessoa terá de ler a folha e inserir a
informação dela constante num outro formato.
ção, como nota R. MARTÍNEZ GUTIÉRREZ, La contratación pública electrónica, p. 156, que,
aliás, parece criticar a solução, injustificadamente, a nosso ver.
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235
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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236
A razão de ser desta opção não é facilmente compreensível. Aliás, é
mesmo contra-intuitivo, porque de imediato se percebe que o carácter
específico é gerador de um encargo para o concorrente, expresso nos re-
cursos humanos e materiais que irá utilizar na “adaptação” do seu “catá-
logo geral”8. Ainda do considerando 68, parece retirar-se que o legislador
visou, com esta medida, que as propostas para um certo procedimen-
to só tenham bens que tenham sido solicitados naquele procedimento.
Além de uma ideia geral de adequação entre oferta e procura e de defesa
da posição do concorrente, talvez se possa ver aqui uma tentativa de
evitar a prática anti-concorrencial das chamadas “vendas ligadas”. Adi-
cionalmente, poderá presumir-se que esta característica reforça a igual-
dade entre os participantes: todos eles têm de efectuar este esforço de
adaptação.
d) Uma última nota não está presente em todos os casos, mas diría-
mos que é equacionada pelo legislador europeu – e bem – como uma es-
pécie de domínio de eleição para a utilização dos catálogos electrónicos.
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237
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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238
trato específico em questão (…)”, podendo os concorrentes recusar a
proposta se existir algum erro.
1.3. Numa apreciação geral, o regime das directivas relativo aos ca-
tálogos electrónicos apresenta-se, desde logo, com um nível de regu-
lação de grande detalhe. Pode perguntar-se se tal é justificado. Como
notou Roger Bickerstaff, a utilização de catálogos electrónicos, embora
não prevista nas directivas de 2004, já ocorria, na prática, sem que os
Estados Membros e as suas entidades adjudicantes tivessem sentido
que existia necessidade de qualquer habilitação da figura nas directi-
vas, mesmo quando estivessem em causa contratos abrangidos pelas
mesmas10. A afirmação é verdadeira também para Portugal, onde desde
muito cedo, no âmbito da centralização de compras, se utilizam catá-
logos electrónicos11, igualmente sem base expressa e sem que tenha
havido dúvidas sobre a conformidade desse instrumento com as regras
europeias de contratação pública.
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240
hoje são chamados a apresentar informação cumprindo esses critérios,
sem que tal seja considerado como constituindo um catálogo. Segura-
mente, na parte em que o legislador europeu fala num catálogo elec-
trónico como parte da proposta, isso parece não ter grande autonomia
face ao que já acontece nos procedimentos que decorrem através de via
electrónica (maxime, plataforma electrónica) em Portugal.
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242
O nº 1 deste artigo 62º-A, seguindo de perto a Directiva, enquadra
a utilização dos CE “como forma de proposta” e como “parte de pro-
posta”. Como se viu, trata-se de duas coisas diferentes e que podem
subsumir-se, essencialmente, a dois graus diferentes de integração tec-
nológica e de fidelidade à ideia de rede.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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244
mais estruturadas, que permitem, com facilidade, a realização de proce-
dimentos rápidos de natureza competitiva entre os agentes económicos
presentes nessa plataforma18.
18 Este último aspecto permite compreender a razão pela qual esta possibilidade
aparece referida não apenas para os casos em que seria possível o ajuste directo, mas
também para aqueles em que seria possível a consulta prévia.
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246
e, por fim, o artigo 261º, nº 1, alínea e), deixa claro que as centrais de
compras podem instituir catálogos eletrónicos para utilização por parte
das entidades adjudicantes.
tálogo quando o acordo quadro seja monoatributivo. A nosso ver, é o caso, mas a redacção
deixa dúvidas. Além disso, provavelmente o regime previsto nesta sede deveria ganhar
maior detalhe, face ao disposto no artigo 36º, nº 5, da Directiva 2014/24 e 54º, nº 5, da
Directiva 2014/25: são concretizações do princípio da transparência, mas talvez não sejam
imediatas para os aplicadores.
20 Faríamos duas sugestões de alteração na matéria: a forma como o preceito
está redigido pode permitir suscitar a dúvida sobre se também será possível haver ca-
tálogo quando o acordo quadro seja monoatributivo. A nosso ver, é o caso, mas a redacção
deixa dúvidas. Além disso, provavelmente o regime previsto nesta sede deveria ganhar
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2.2. Diremos, a começar, que a questão do âmbito de incidência da
figura é provavelmente a mais controvertida. Na versão do anteprojec-
to, dispõe-se que “A entidade adjudicante pode celebrar contratos de
locação ou de aquisição de bens móveis ou de aquisição de serviços de
uso corrente, cujas especificações técnicas se encontram totalmente es-
tandardizadas e que geralmente se encontram disponíveis no mercado,
através de sistemas de aquisição dinâmicos.”
Talvez haja razões para repensar a solução. A solução dos SAD pode
adaptar-se aos casos em que interesse às entidades adjudicantes ter um
conjunto pré-seleccionado de fornecedores para pequenas obras, de
reparação ou reabilitação, de baixa complexidade e muitas vezes baixo
valor. A prática demonstra mesmo que, mesmo utilizando mecanismos
contratuais tradicionais, já se chega a resultados equivalentes24.
Seria, pois, positivo, a nosso ver, que se previsse a utilização dos SAD
também para pequenas empreitadas de complexidade baixa. As direc-
tivas não o vedam: embora, de facto, o artigo 34º, nº 1, da Directiva
2014/24, ao delimitar o âmbito da figura, a refira apenas como sendo
essa vinculação desde que obtenha preço mais baixo “fora” do acordo quadro do que
nele, o anteprojecto está a procurar criar, no acordo quadro (em contexto de centraliza-
ção), uma pressão concorrencial semelhante à que existe, por natureza, no SAD. Um dos
efeitos colaterais disso pode ser (e seria bom que assim fosse) que as entidades adjudican-
tes sejam conduzidas a uma maior utilização do SAD.
24 Designadamente com as figuras que na prática têm sido designadas como “em-
preitadas continuadas”.
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250
tandardizadas, como faz o Código na redacção ainda em vigor. Seme-
lhante identificação não existia nas directivas de 2004 e continua a não
existir nas de 2014. No fundo aquela identificação expressa a tendência
da versão originária do CCP para querer regular tudo com pormenor,
incorrendo, a esse respeito, em alguns excessos bem conhecidos, de
que este é um dos exemplos. Repare-se também que o uso corrente
é uma categoria que apela a uma qualidade relacionada com o tipo de
utilização, enquanto a estandardização é uma qualidade ontológica do
bem. Pode haver bens totalmente estandardizados mas que não são de
uso corrente (por exemplo: peças para naves espaciais), e bens que não
são totalmente estandardizados mas são de uso corrente (por exemplo:
maçãs).
25 Como diz a versão inglesa das Directivas, de forma mais precisa do que a versão
portuguesa.
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252
sistemas que poderá introduzir uma concorrência mais efectiva do que
a resultante dos acordos quadro. A propósito, deve sublinhar-se que,
se existisse, por parte das centrais de compras, no Código actual, algu-
ma dúvida de que essas entidades têm a faculdade de instituir SAD que
depois podem ser utilizados pelas entidades adjudicantes, tais dúvidas
ficam definitivamente ultrapassadas com a nova redacção introduzida
ao artigo 261º, nº 1, alínea d), e o mesmo se diga para os agrupamentos
de entidades adjudicantes, por força do artigo 39º, nº 1, alínea c), do
anteprojecto.
27 M. A. RAIMUNDO, “Primeira análise das novas directivas (Parte II)”, pp. 159-
160.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Agrupamentos de
entidades adjudicantes,
centrais de compras,
acordos-quadro1
CLÁUDIA MONGE
e1
Sumário:
I. Introdução: Pontos em comum e objetivos; II. Agrupamento de
entidades adjudicantes; III. Centrais de compras; IV. Acordos-quadro; V.
Conclusões
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254
I. Introdução: Pontos em comum e objetivos
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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256
seja do interesse de todas», passa a ler-se, acordo com o anteprojeto,
«com vista à: a) Formação de contratos cuja execução seja do interesse
de todos» (negritos nossos).
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258
das entidades adjudicantes sejam tomadas «eventualmente através de
conferência procedimental, nos termos gerais».
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Para fazer face a essa questão, era possível recomendar que, nas
peças do procedimento do contrato visado, no caderno de encargos,
fosse estabelecido: a) «em primeiro lugar, como se distribuem por
cada uma das entidades adjudicantes as várias parcelas da prestação
a realizar pelo adjudicatário»; b) «em segundo lugar, menções
não só à medida da responsabilidade de cada uma [das entidades
adjudicantes] pela contraprestação devida, mas também se se trata
de uma responsabilidade conjunta ou solidária»; c) e, «finalmente, aos
eventuais reflexos no agrupamento do incumprimento do contrato por
parte de um seu membro»8.
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260
por força da presente diretiva. Tal aplica-se também nos casos em
que uma autoridade adjudicante gere o procedimento, agindo em seu
próprio nome e em nome das outras autoridades adjudicantes em causa.
Quando um procedimento de contratação não é efetuado na totalidade
conjuntamente em nome e por conta das autoridades adjudicantes em
causa, estas ficam solidariamente responsáveis apenas pelas partes
efetuadas em conjunto. Cada autoridade adjudicante é integralmente
responsável pelo cumprimento das obrigações que lhe incumbem por
força da presente diretiva no que respeita às partes que efetua em seu
nome e por sua conta (negritos nossos).
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14. Entende-se ainda por adequado que fosse expressamente
afirmado que esse agrupamento com entidades adjudicantes de
Estados-Membros diferentes pode visar a adjudicação de um contrato
público, a celebração de um acordo-quadro, a gestão de um sistema de
aquisição dinâmico.
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participantes em agrupamento com entidades adjudicantes de outros
Estados-Membros determinar qual a legislação aplicável, o n.º 5 do
artigo 260.º dita desde logo que a legislação aplicável é a do Estado-
Membro da central de compras ao abrigo da qual a entidade adjudicante
de outro Estado-Membro recorre.
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265
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266
4. São as seguintes as alterações em confronto, quanto ao artigo
252.º, entre a atual redação do CCP e o anteprojeto de revisão:
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contratos a celebrar. Passa a admitir-se que possa ser sempre com mais
do que uma entidade.
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268
Sem prejuízo do disposto no artigo 27.º-A visado pelo anteprojeto,
e sem prejuízo do disposto no artigo 25.º, n.º 1, alínea c) (preceito este
para o qual se apresenta infra proposta de alteração), e sem prejuízo
ainda do previsto no n.º 3 do artigo 252.º na redação do anteprojeto
do qual consideramos que já assim resulta, entende-se que deve ser
clarificado que, se no acordo-quadro celebrado de acordo com a
modalidade prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 252.º o mesmo tiver
sido celebrado com mais de uma entidade (e ainda que com menos de
três), o procedimento admissível é o de consulta prévia.
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269
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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270
Em conformidade, entendemos que deve ser considerada a
seguinte proposta de alteração para os atuais n.ºs 3 e 4 do artigo 258.º
do anteprojeto: nos termos assinalados de seguida a negrito: 3 – Do
conteúdo dos contratos a que se refere o número anterior não podem
resultar para a entidade adjudicante condições menos vantajosas do
que condições contratuais estabelecidas no acordo-quadro, não sendo
necessária a elaboração de um caderno de encargos.
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271
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
públicas, na alínea c), onde se lê: «Se trate de realizar uma obra ao
abrigo de um acordo-quadro celebrado com uma única entidade, nos
termos do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 252.º», deve ser
garantida a conformidade com a alínea a) do n.º 1 do artigo 252.º e com
o artigo 258.º, n.º 1, estabelecendo-se, pois, que pode ser adotado o
procedimento de consulta prévia ou o procedimento de ajuste direto
consoante se trate de acordo-quadro celebrado com uma ou várias
entidades, na modalidade de acordo-quadro prevista na alínea a) do n.º
1 do artigo 252.º.
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272
quadro devem ser adjudicados antes do fim do período de produção
de efeitos do acordo-quadro mas a duração dos contratos celebrados
ao abrigo de acordo-quadro não tem de coincidir com o período de
produção de efeitos desse acordo-quadro, podendo ser mais longa ou
mais curta consoante o caso.
V. Conclusões
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273
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
1. Introdução
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274
ca com o regime clássico da execução dos contratos administrativos,
assim como o regime dos contratos privados reconduzíveis ao concei-
to de contrato público, retirando as devidas implicações da sua prévia
sujeição a um regime pré-contratual enformado pelos princípios da
igualdade e da transparência.
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275
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
3 Sublinhado nosso.
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276
(iii) “modifica o equilíbrio económico do contrato a favor do ad-
judicatário (...) de uma forma que não estava prevista nos ter-
mos do contrato inicial”
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277
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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278
missibilidade de modificação8, numa postura mais generosa a que não
são de todo alheias as preocupações veiculadas pelos operadores eco-
nómicos e algumas instituições comunitárias durante o procedimento
da sua aprovação no sentido da necessidade de uma abordagem mais
flexível nesta matéria.
de los contratos del setor público”, in Jornadas sobre el impacto de las nuevas Directivas
de contratos de la Unión europea en la regulación de las modificaciones de contratos del
setor público, 2 de Maio de 2016, Faculdade de Direito da Universidade da Catalunha,
in www.obcp.es; JAN BRODEC/VÁCLAV JANECEK, “How does the substancial modification
of a public contract affects its legal regime?”, in Public Procurement Law Review (PPLR),
n.º 3, 2015, p. 94. Considerando, pelo contrário, que as Directivas se limitaram a uma
codificação dos critérios jurisprudências, sem trazerem soluções inteiramente inovadoras,
cfr. PEDRO MATIAS PEREIRA/CARLA MACHADO, “Modificação e rescisão do contrato”, in
Revista dos Contratos Públicos, n.º 12, 2016, p. 79.
8 Outras inovações igualmente relevantes, embora em sentido mais restritivo,
residem: (i) no esclarecimento de que o âmbito de aplicação da construção dos limites
à modificação se estende aos acordos-quadro, (ii) a cristalização dos critérios fixados no
acórdão Pressetext não como simples presunções da substancialidade da alteração mas
como factores seguros que estabelecem uma presunção inilidível de alteração proibida,
(iii) a consagração da regra segundo a qual a substituição da identidade do adjudicatário é
por regra proibida, a que acrescem (iv) afinamentos do critérios fixados no acórdão Pres-
setext, sendo de destacar o alargamento do universo dos interessados no procedimento
adjudicatório inicial a ter em consideração aos potenciais e hipotéticos concorrentes no
art. 72º, n.º 4, alínea a) da Directiva 2014/24, art. 42º, n.º 4, a) da Directiva 2014/23 e art.
89º, n.º 4, a) da Directiva 2014/25.
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279
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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280
Todavia, o aumento de preço não pode exceder 50 % do valor do
contrato original. Em caso de várias modificações sucessivas, esse limi-
te aplica-se ao valor de cada modificação. Tais modificações sucessivas
não podem ter por objetivo a não aplicação das disposições da presente
diretiva;
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281
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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282
3. Para efeitos do cálculo do preço mencionado no n.º 2 e no n.º 1,
alíneas b) e c), o preço atualizado é o valor de referência sempre que o
contrato contenha uma cláusula de indexação.
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283
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Todavia, cumpre frisar que também estão sujeitas a limites nas Direc-
tivas as impropriamente mas frequentemente designadas modificações
‘subjectivas’ , i.e., as alterações que respeitam à identidade do cocon-
tratante. A modificação é entendida num sentido amplo, abrangendo
não apenas as alterações das obrigações contratuais, como também a
alteração da identidade das partes, ainda que não impliquem quaisquer
10 Sublinhado nosso.
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284
“alterações materiais ao contrato inicial”, i.e., ao “ âmbito de aplicação e
conteúdo dos direitos e obrigações das partes”11.
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285
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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286
admitindo-se modificações do contrato em outras constelações de ca-
sos não expressamente previstos.
regra mas apenas uma declaração de princípio, cfr. STEEN TREUMER, “Contract Changes
and the Duty to Retender Under the New EU Public Procurement Directive” in Public Pro-
curement Law Review”, nº 3, 2014, pp. 148-149. Também SUE ARROWSMITH, The Law of
Public and Utilities Procurement – regulation in the EU and UK, Sweet and Maxweell, 3ª
edição, 2014, p. 602, vem sustentar que o elenco de modificações admitidas não deve ser
considerado exaustivo, nomeadamente, no que respeita a situações que ainda não foram
objecto de apreciação pela jurisprudência.
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287
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
1) Art. 72º, n.º 1, alínea a): Modificações (i) previstas nas peças do
procedimento, em cláusula de revisão ou opção claras, precisas
e inequívocas, (ii) independentemente do seu valor, (iii) desde
que não alterem natureza global do contrato (limite qualitativo).
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288
(limite quantitativo)15 (vi) e não constitua uma forma de defrau-
dar o procedimento pré-contratual (cláusula geral de proibição
de fraude à lei). Acresce ainda a exigência de uma condição
procedimental: a necessidade de publicação de um anúncio da
modificação no Jornal Oficial da União Europeia (art. 72º, n.º 1,
último parágrafo).
3) Art. 72º, n.º 1, alínea c): Modificações ditadas por (i) circuns-
tâncias imprevisíveis por uma entidade adjudicante diligente,
desde que (ii) não alterem a natureza global do contrato (limite
qualitativo), (iii) e não excedam 50% do valor do contrato (limi-
te quantitativo)16. Acresce ainda a exigência de uma condição
procedimental: a necessidade de publicação de um anúncio da
modificação no Jornal Oficial da União Europeia (art. 72º, n.º 1,
último parágrafo).
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289
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
17 O art. 43º, n.º2, incisivo ii) da Directiva n.º 2014/23/UE, sobre os contratos de
concessão, fixa igualmente um valor de modificação inferior a 10% do valor da concessão
inicial.
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290
diferente do contrato ou acordo quadro celebrado inicialmente”18, de-
finição essa que é complementada por diversos critérios densificadores
nas alíneas a) a d) desta disposição, cuja verificação determina a sua
qualificação como substancial.
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291
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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292
ramente quantitativos) expressamente corrobora este entendimento ao
estabelecer que, “além disso”, i.e., além dos casos previstos no n.º 1,
“e sem que seja necessário verificar se se encontram preenchidas as
condições previstas no n.º 4, alínea a) a d), os contratos podem igual-
mente ser modificados sem necessidade de um novo procedimento de
contratação” reunidas que estejam as condições nele previstas, entre as
quais se destaca a proibição de a modificação corporizar uma alteração
da natureza global do contrato.
23 Neste sentido, ISABEL GALLEGO CÓRCOLES, “La modificación …” op. cit., pp.
28 e ss.; JAN BORDEC/VÁCLAV JANECEK, “How…”, op. cit., pp. 94-95.
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293
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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294
Parte III compreende-se tendo presente que é uma questão suscitada na
fase da execução do contrato e não na fase pré-contratual. A verdade,
porém, como já tivemos anteriormente oportunidade de defender24, é
que este regime, funcionalizado a garantir o respeito pelas regras da
contratação pública, terá aplicação, por via de uma aplicação conforme
com o Direito da União europeia, sempre que estejamos perante um
contrato público adjudicado na sequência de um procedimento de for-
mação regulado pela Parte II do CCP, independentemente da natureza
administrativa do contrato.
Por força desta extensão, não faz qualquer sentido que inúmeras
normas da Parte III do APCCP tenham passado a referir-se aos contratos
públicos (v.g., art. 283º, n.º 2, 284º, n.º 3, art. 285º, n.º 2 e 3, respeitan-
te à invalidade do contrato e art. 313º, n.º 1, que se reporta aos limites
à modificação), devendo manter-se a expressão simples de contratos
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295
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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3.2. Modificações previstas nas peças do procedimento
a) (….)
b) (….)”
25 Sublinhado nosso.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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298
tipo de modificações a introduzir e ao seu alcance, quer no que concer-
ne às condições e circunstâncias que legitimam a sua aplicação, é que o
princípio da concorrência e da transparência não são postos em causa.
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299
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Artigo 312.º
Fundamentos
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300
2. O contrato pode ser modificado com os fundamentos referidos no
número anterior desde que as modificações estejam previstas nas pe-
ças do procedimento em cláusulas de revisão ou cláusulas de opção
que indiquem de forma clara, precisa e inequívoca o âmbito e a na-
tureza das eventuais modificações, designadamente a percentagem
máxima de valor do contrato que pode ser atingida ou a quantidade
máxima de prestações a aditar, bem como as condições e circunstân-
cias em que podem ser aplicadas, não podendo, em caso algum, alte-
rar a natureza global do contrato.
(….) ”
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301
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
b) Proposta de alteração
Artigo 318º
Cessão e subcontratação pelo cocontratante
(….) ”
No anteprojeto do CCP, o art. 318º, n.º 1, alínea a), está redigido nos
termos seguintes:
Artigo 318º
Cessão e subcontratação pelo cocontratante
“1 – (…)
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302
mos de habilitação e de capacidade técnica e de capacidade
económica e financeira exigidos ao cocontratante;
b) (…) ”
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303
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
O art. 333º, n.º 2, alínea h) do CCP, que não foi objecto de qualquer
alteração, confere ao contraente público o poder de resolver o contrato,
a título sancionatório, no caso de o co-contratante se apresentar à insol-
vência ou esta seja declarada pelo tribunal. A resolução sancionatória
do contrato terá por efeito a extinção do contrato e, eventualmente,
no caso de o interesse público postular a continuidade da satisfação da
Voltar ao índice
304
necessidade subjacente ao contrato resolvido, a abertura de um novo
procedimento concorrencial para selecionar o futuro adjudicatário
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305
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Artigo 318º
Cessão e subcontratação pelo cocontratante
“1 – (…)
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306
d) O aumento total de preço originado pelas eventuais mo-
dificações não pode ultrapassar 25% do preço contratual
inicial, no caso da alínea a) do artigo anterior, e 10% do
preço contratual inicial, no caso da alínea b) do artigo an-
terior;
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307
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Por outro lado, esta disposição legal aplica-se igualmente aos contra-
tos administrativos, sendo que alguns deles não são contratos públicos,
razão pela qual o emprego da expressão contratos públicos se revela
redutor do âmbito aplicativo dos limites à modificação.
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308
Com efeito, parte da doutrina nacional considera que não faz sen-
tido a aplicação dos limites previsto no art. 313º relativamente às mo-
dificações subsequentes a uma alteração anormal e imprevisível das
circunstâncias - um dos fundamentos referidos no artigo anterior para
o qual o corpo do art. 313º, n.º 1 remete (artigo 312º, alínea a)). Os
limites aplicar-se-iam apenas a modificações voluntárias e intencionais
do próprio conteúdo do contrato (modificações fundadas no interesses
público) e não já quando a modificação for ditada por circunstâncias ex-
ternas ao contrato de natureza anormal e imprevisível, tanto no caso de
esta alteração ser imputável ao contraente público (facto do príncipe –
art. 314º, n.º 1, alínea a)) como no caso de não lhe ser imputável (teoria
da imprevisão – art. 314º, n.º 2)31.
31 Cfr. PEDRO GONÇALVES, Direito dos contratos públicos, Almedina, 2015, pp.
573-574. Funda-se para tanto no fundamento específico desta figura e no facto de a modi-
ficação determinada por uma alteração anormal e imprevisível das circunstâncias “não
suscitar qualquer problema concorrencial”. Já anteriormente chamara a atenção para o
facto de os limites relacionados com a protecção da concorrência fixados em geral no
art. 313º, n.º 1 não fazerem sentido quando aplicáveis a uma alteração anormal das cir-
cunstâncias. Cfr. “Gestão de contratos públicos em tempo de crise”, in AAVV, Estudos de
Contratação Pública, III, Wolters Kluwer – Coimbra Editora, 2010, p. 48. Aparentemente
no mesmo sentido, cfr. AROSO DE ALMEIDA, Teoria geral do Direito administrativo (O novo
regime do Código do procedimento administrativo), Almedina, 2016, 3ª edição, p. 458
quando afirma que os limites previstos no art. 313º valem (apenas) para o caso de a modi-
ficação ser determinada por acto unilateral do contraente público e por acordo entre as
partes.
32 Para uma análise aprofundada dos diversos institutos de modificação do con-
trato, ANA GOUVEIA MARTINS, Contributo para uma desconstrução dogmática da teoria
do facto do príncipe, dissertação de doutoramento, policopiado, Faculdade de Direito da
Universidade de Lisboa, 2012 (em vias de publicação).
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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310
de 2014 se destina principalmente a acomodar as constelações de casos
abrangidas pela teoria da imprevisão e pelo facto do príncipe34.
34 Cfr. ISABEL GALLEGO CÓRCOLES, “La modificación…”, op. cit., pp. 148-149.
ALBERT SANCHEZ GRAELLS, “What Need and Logic for a New Directive on Concessions,
Particularly Regarding the Issue of Their Economic Balance?”, in European Public Private
Partnerships Law Review, 6 de Julho de 20102, disponível em https://papers.ssrn.com/
sol3/papers.cfm?abstract_id=2101712 , p. 11, critica a falta de expressa regulação na Di-
rectiva da matéria do equilíbrio financeiro das concessões, avançando com a hipótese de
colmatar tal lacuna com a possibilidade de lançar mão da modificação fundada em circun-
stâncias imprevisíveis, embora salientando o risco de se vir a entender que as alterações
do quadro legal sejam consideradas previsíveis por uma entidade adjudicante diligente.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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312
seja altamente inconveniente ou provoque uma duplicação
substancial dos custos para a autoridade adjudicante; (iii) e
desde que cada modificação de per se não atinja o valor má-
ximo de 50% (limite quantitativo) (iv) e, no caso de modifi-
cações sucessivas, não constitua uma forma de defraudar o
procedimento pré-contratual (limite de fraude à lei)
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313
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Com efeito, tanto nos casos em que as Directivas fixam para a modi-
ficação um um tecto máximo inferior a 50% do valor do contrato inicial
(modificações fundadas na necessidade de prestações complementares
e modificações imprevistas) como em geral, para toda e qualquer modi-
ficação, fixa-se o limite inferior a 10% do preço contratual inicial, quando
esta radique em razões de interesse público (art. 313º, n.º 1, alínea d), 2ª
parte do APCCP) e de 25%, no caso de ser uma consequência de uma al-
teração anormal e imprevisível das circunstâncias (art. 313º, n.º 1, alínea
d), 1ª parte do APCCP).
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314
Não se consegue discernir a razão pela qual foi fixado um limite
para a modificação radicada em razões de interesse público em 10%,
valor manifestamente reduzido. As Directivas, de facto, prevêem o li-
mite de 10% do valor do contrato inicial mas como regra de minimis,
no contexto de um critério indiferente às razões que estão na origem
da modificação, fundado em critérios meramente quantitativos e que
habilita a alterações substanciais do contrato, com lesão da concorrên-
cia, desde que não seja subvertida a natureza global do contrato (vide
art. 72º, n.º 2 da Directiva n.º 2014/24/UE). Já se a alteração não for
substancial ou estiver prevista no contrato não está sujeita a qualquer
limite quantitativo.
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Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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316
bens de melhor qualidade ou amigos do ambiente - ou se resigne a uma
prestação de um contrato de serviços inapta ou a uma construção de
uma obra desadequada para evitar um aumento substancial de custos
e/ou a morosidade do novo procedimento adjudicatório.
Ou, mais paradoxal ainda, pode suceder que no fim de contas o con-
trato a celebrar venha a ser adjudicado ao co-contratante inicial, uma
vez que este muitas vezes reunirá as condições mais vantajosas para
tanto. Isto verificar-se-á tanto nos casos em que poderá praticar preços
naturalmente mais atractivos visto que já recebeu uma justa indemniza-
ção, como nas situações em que a modificação não implique a extinção
do contrato original. O co-contratante que já está a executar o contrato
dispõe, pela própria natureza das coisas, de um maior conhecimento
das necessidades da entidade adjudicante e total domínio sobre o con-
texto factual e jurídico contratual, pelo que dispõe inelutavelmente de
uma posição de vantagem de facto sobre os outros concorrentes.
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317
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Nos termos previstos no art. 72º, n.º 5 da Directiva relativa aos con-
tratos públicos, as modificações de contratos e de acordos-quadro que
não se enquadrem nos pressupostos de modificações previstas nos n.ºs
1 e 2 do 72º não são admitidas, sendo indispensável a abertura de novo
procedimento de contratação sempre a modificação em causa compor-
te uma alteração substancial do contrato.
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318
b) A modificação altera o equilíbrio económico do contrato ou
do acordo-quadro a favor do adjudicatário de uma forma que
não estava prevista no contrato ou acordo-quadro inicial;
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319
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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320
números ou alíneas que disciplinam os pressupostos que convocam a
aplicação deste limite mais ténue e generoso e isentam do respeito pela
alteração substancial do objecto do contrato.
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321
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Neste último caso, caso não se pretenda definir como limite máximo
o valor inferior a 50%, tal como permitido pelas Directivas em deter-
minados casos (prestações complementares e circunstâncias imprevisí-
veis), deve reflectir-se sobre a conveniência de estabelecer um limite
quantitativo mais generoso no caso de ocorrência de circunstâncias im-
previsíveis (v.g., 40%) e explicitar que, nesse caso, não é necessário que
respeite o limite de a modificação não ser substancial, bastando, para
tanto, que não atente contra a natureza global do contrato.
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322
O conceito de circunstâncias imprevistas tanto nas Directivas como
no Direito nacional é bastante mais amplo. Não se requer o grau de
anormalidade e imprevisibilidade que caracteriza a teoria da imprevisão
no Direito civil e no Direito administrativo de vários Estados-membros.
Tanto é assim que a modificação fundada em razões de interesse público
pode decorrer de “necessidades novas” (art. 312, alínea b) do CCP), ne-
cessidades essas que podem corresponder, naturalmente, à emergência
de circunstâncias imprevistas no decurso da execução do contrato.
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323
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
39 Sublinhado nosso.
40 Para efeitos do cálculo do valor/preço mencionado no n.º 1, alínea b) e c) o
art. 72º o valor/preço actualizado é o valor de referência sempre que o contrato contenha
uma cláusula de indexação (art. 72º, n.º 3). Nos contratos de concessão, prevê-se que se
não estiver prevista uma cláusula de indexação, o valor actualizado é calculado tendo em
conta a média de inflação do Estado-membro da entidade adjudicante. (art.43º, n.º 3 in
fine da Directiva relativa às concessões)
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324
cações ao contrato sem necessidade de um novo procedimento adjudi-
catório. Trata-se, assim, de consagrar uma cláusula geral de proibição
de fraude à lei.
Neste último caso, deve ser logicamente revisto o art. 315º, n.º 1 do
APCCP que fixa o limite a partir do qual a publicitação das modificações
é obrigatória no portal dos contratos públicos (modificações que “repre-
sentem um valor acumulado superior a 10% do preço contratual), como
se demonstrará.
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325
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
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326
i) Proposta de alteração
(iii) Dar nova redacção ao preceito contido no art. 313º, n.º 1, alí-
nea d) do anteprojecto, respeitante aos limites quantitativos
à modificação, no sentido de:
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Artigo 313.º
Limites
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b) Não pode configurar uma forma de impedir, restringir ou fal-
sear a concorrência;
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329
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
OU/E
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330
nea a) do n.º 1 do artigo anterior não pode conduzir à modificação
do contrato por decisão judicial ou arbitral, quando esta interfira
com o resultado do exercício da margem de livre decisão administra-
tiva subjacente ao mesmo ou implique a formulação de valorações
próprias do exercício da função administrativa.
6 – (…)
2.(…)
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331
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Deve ainda ser corrigido um erro gramatical uma vez que se empre-
ga o género feminino quando, atendendo ao sujeito em causa, deveria
empregar-se o género masculino: (…) sempre que o fundamento para a
modificação do contrato seja, para além de outros fundamentos espe-
cialmente previstos na lei (…)”.
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332
não um direito ao reequilíbrio financeiro, contrariamente às situações
previstas no n.º 1 do art. 314º, é aberrante vir o n.º 3 prever que nessas
situações afinal há direito ao reequilíbrio financeiro. Ou se elimina este
nº 3 ou a remissão deve ser realizada não para a alínea a) do n.º 1 do art.
312º mas antes para o art. 314º, n.º 1, alínea a) (alteração das circuns-
tâncias imputável ao contraente público – facto do príncipe), embora
nada se acrescente ao que já resulta do art. 314º, n.º 1 a) e do art. 282º,
n.º 2 do CCP.
c) Proposta de alteração
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333
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
Artigo 314.º
Consequências
(…)
2.(…)
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334
citadas, pelo contraente público, no portal dos contratos públicos,
até cinco dias após a sua concretização, devendo a publicidade ser
mantida até seis meses após a extinção do contrato.
Por regra, o art. 313º, n.º1, alínea d), 2ª parte do APCCP estipula que
o “aumento total do preço originado pelas eventuais modificações” fun-
dadas em razões de interesse público nunca poderá ultrapassar “10% do
preço contratual”, o que significa que estas modificações nunca serão
objecto de qualquer publicação.
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335
Atas da Conferência - A REVISÃO DO CÓDIGO DOS CONTRATOS PÚBLICOS
coaduna com o elemento literal do art. 313º, n.º1, alínea d), 2ª parte
do APCCP. Nesta disposição, a fixação de limites quantitativos máximos
é estabelecida tendo em consideração o “aumento total do preço origi-
nado pelas eventuais modificações”, pelo que aqueles limites parecem
reportar-se ao preço acumulado de várias modificações.
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pois só nesses casos poderá o seu valor ultrapassar a percentagem de
valor fixada. Consequentemente, aquela opção equivale a não exigir a
publicação quando se trate de uma modificação fundada em circunstân-
cias perfeitamente previsíveis por uma entidade adjudicante diligente,
i.e., exactamente nas situações que oferecem um maior risco de favore-
cimento ilegítimo do co-contratante.
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41 Cfr. último paragrafo do n.º 1 do art. 72º da Directiva n.º 2014/24/EU, que
impõe a publicação de anúncio da modificação, independentemente do seu valor, nos
casos previstos nas alíneas b) (prestações complementares) e na alínea c) (circunstancias
imprevisíveis).
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338
em que a modificações seja devida a circunstâncias previsíveis, caso em
que foi fixado um limite inferior a 10% (art. 370º, n.º 2, alínea b), art.
420º-A, n.º 1, alínea b) e art. 454º, n.º 2, alínea b) do APCCP) quer no
caso em que seja devida a circunstâncias imprevisíveis, em que a lei na-
cional estabeleceu um limite inferior a 25% (art. 420º-A, n.º 2) ou a 40%
(art. 370º, n.º 4 e art. 454º, n.º 3), é sempre obrigatória a publicação no
JOUE.
c) Proposta de alterações
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(iii) Aditar ao art. 315º, n.º 3 uma remissão para o art. 454º (ser-
viços complementares), sob pena de violação do Direito co-
munitário.
(iv) Corrigir remissão do art. 315º, n.º 3 para o art. 370, n.º 3
(que, além do mais, foi revogado) e para o n.º 2 do art. 420º-
A, remetendo apenas para o art. 370º e art. 420º-A, de modo
a evitar uma violação clamorosa do Direito comunitário ao
negar a obrigação de publicação às modificações que não
atinjam determinados valores, pese embora se tratem de
prestações complementares.
Artigo 315.º
Publicidade das modificações
2 – (…)
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340
3.6. Os limites às modificações fundadas na necessidade de prestações
complementares: art. 370º, art. 420ºA e art. 454º do APCCP
d) [Revogada].
3 - [Revogado].
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Por sua vez, o artigo 454.º do APCCP, sob a epígrafe “Serviços com-
plementares” prescreve que:
42 Sublinhado nosso.
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342
b) O preço desses serviços, incluindo o de anteriores serviços
complementares igualmente decorrentes de circunstâncias
imprevistas, não exceda 10% do preço contratual; e
d) [Revogada].
4- [Revogado].
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6- [Revogado].”43
43 Sublinhado nosso.
44 Sublinhado nosso.
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344
a) Justificação da proposta de alteração dos pressupostos e dos tra-
balhos complementares, serviços complementares e obras e ser-
viços complementares nas concessões e a introdução do limite da
natureza global do contrato no art. 420º-A, n.º 2.
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obra” (art. 370, n.º 1, alínea b) 2ª parte do CCP), que seria, apesar de
tudo, mais adequada.
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346
Denota-se ainda que no n.º 2 do art. 420º-A, afastando-se da opção
acolhida no art. 370º, n.º 4 e art. 454º, n.º 4, se consagra a admissibili-
dade de modificações fundadas em circunstâncias imprevisíveis sem a
condicionar aos pressupostos dos trabalhos complementares. Trata-se
de uma opção perfeitamente legítima. Todavia, deve ser acrescentado
que essa modificação, além de se ater dentro dos limites quantitativos,
não pode implicar uma alteração da natureza global do contrato.
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O art. 454º, n.º 5 do APCCP prescreve que caso “não se verifique al-
guma das condições previstas no n.º 2, os serviços complementares de-
vem ser objecto de contrato celebrado na sequência de procedimento
adoptado nos termos do disposto no título I da parte II”. Por manifesto
lapso, manteve-se a remissão para as condições previstas no n.º 2 cons-
tante do art. 454º do CCP, quando se pretendia remeter quer para o n.º
2 quer para o n.º 4 do art. 454º do APCCP.
Uma norma com a mesma redacção deve ser aditada ao art. 420º-A,
relativo às prestações complementares nas concessões.
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348
se coloca a necessidade de introdução de alterações, seja objecto de
um tratamento mais desfavorável do que os contratos de empreitada e
contratos de prestação de serviços.
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e) Proposta de alteração
Artigo 370.º
Trabalhos complementares
d) (…)
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350
c) O preço desses trabalhos, incluindo o de anteriores trabalhos
complementares igualmente decorrentes de circunstâncias
imprevisíveis, não exceda 40% do preço contratual.
Artigo 454.º
Serviços complementares
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4 – (Revogado).
6 – (Revogado).
Artigo 420.º-A
Modificações ao contrato
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352
a) não possa ser efetuada por razões económicas ou técnicas, e
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Esta disposição suscita inúmeras perplexidades. Primo, o art. 283º,
que disciplina a invalidade consequente do contrato por força da invali-
dade de actos procedimentais comina com a mera anulabilidade os con-
tratos celebrados quando “tiverem sido anulados ou forem anuláveis os
actos procedimentais em que assenta a sua celebração e se demonstre
que o vício determina a invalidade do contrato, designadamente por
implicar uma modificação subjetiva do contrato celebrado49 ou uma al-
teração do seu conteúdo essencial” (art. 283º, n.º 2 do APCCP).
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356
lebração de um novo contrato na sequência de um novo procedimento
adjudicatório para prosseguir as finalidades em causa. A verdade é que
o contrato anterior mantém-se válido, não há qualquer incumprimento
por parte do co-contratante, pelo que terá que ser extinto por razões de
interesse público, o que envolve o pagamento de justa indemnização.
Razão pela qual talvez fosse avisado prever a extinção do contrato por
impossibilidade jurídica nas situações em que a sua execução nos ter-
mos originários não se afigure viável objectivamente, ou, nos casos em
que são razões de interesses público que obstam à sua execução nos
termos inicialmente estipulados, repensar o regime indemnizatório da
resolução por razões de interesse público52.
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m1a2
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designado CPTA, contemplou que podia ser constituído um tribunal
arbitral para julgar “questões respeitantes a contratos, incluindo a
apreciação de atos administrativos relativos à respetiva execução”.
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360
envolvem matérias muito variadas, assim se impedindo uma maior
especialização. Mas também aqui poderia ser encarada a possibilidade
de criação de secções especializadas dos tribunais administrativos em
certos domínios do Direito Administrativo (por exemplo, urbanismo e
ambiente ou contratação pública). Naturalmente que esta medida seria
inexequível na generalidade dos tribunais administrativos mas poderia
ser aplicada, sem dificuldades de maior, pelo menos nos Tribunais
Centrais Administrativos do Sul e do Norte e, eventualmente, também
no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa. Deste modo, as partes já
saberiam de antemão que, em princípio, naquele que é, na maioria dos
casos, o tribunal de recurso, poderiam contar com juízes especializados
em matéria de contratação pública.
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5. Entramos agora na análise do novo artigo 476.º previsto no
Anteprojeto de revisão do Código dos Contratos Públicos.
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n.º 1, do CPTA, e não são partes na relação contratual, nem participaram
no procedimento que precedeu a celebração do contrato.
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Por outro lado, o Anteprojeto parece revelar a preocupação de
a tramitação dos litígios relativos aos processos arbitrais se realizar
de forma urgente [artigo 476.º, n.º 3, alínea b)], o que se mostra,
nomeadamente, compatível com a natureza urgente do contencioso
pré-contratual (artigos 100.º e seguintes e 180.º, n.º 3, do CPTA).
Antes de mais, não se mostra clara a razão para se ter optado por
este valor de € 10 000 000.
Por outro lado, fica por esclarecer por que motivo se exceciona o
regime definido na Lei da Arbitragem Voluntária, aprovada pela Lei n.º
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