Tese Sergio Ricardo Fiori
Tese Sergio Ricardo Fiori
Tese Sergio Ricardo Fiori
SÃO PAULO
2007
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SÃO PAULO
2007
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AGRADECIMENTOS
Mais uma vez agradeço a Deus por ter me concedido paciência durante a espera.
Como resposta às inúmeras orações, recebi maturidade, mas também realizações e
alegrias ao longo de minha carreira acadêmica e profissional.
Aos amigos que ajudaram ou se fizeram presentes em algum momento desta tese.
Em especial, gostaria de registrar o nome de alguns deles: Waldirene Ribeiro,
Carmem Marega, Aline Souza, Daniel Zungolo Teixeira, Giovanni Ballarin e todos os
professores que participaram do Projeto Caminhos do Futuro.
A meus pais, Antônio e Cleuza, pelas conversas, proteção, carinho e amor sempre
constantes. Vocês são um grande exemplo para nova etapa da minha vida que se
inicia.
RESUMO
Os mapas inserem-se no dia-a-dia das pessoas de forma cada vez mais presente. A
mídia – telejornais, revistas, anúncios de propaganda imobiliária, internet, jornais,
mapas artísticos e de propaganda, etc. – ao utilizá-los como um meio de
comunicação, na maioria das vezes, ignora algumas regras básicas na relação
produtor e público usuário.
Entretanto, é bom frisar que os símbolos e mapas convencionais também farão parte
do produto cartográfico final, até porque, mesmo trabalhando potencialmente com
mapas pictóricos para o setor do turismo, algumas informações são particularmente
mais apropriadas e diretas se feitas por meio da convencionalidade.
ABSTRACT
The maps are going into people’s day-to-day on an increasingly basis. The media
(telenews, magazines, real estate advertisements, the Internet, newspapers, artistic
and advertising maps, etc.), when using them as a communication means, most of
times pays no attention to some basic rules in the user-producer relation.
In the heart of these cartographic materials are the tourist maps usually elaborated by
artists and illustrators, instead of geographers and/or cartographers. Therefore, this
research based essentially on the thematic cartography, aims at going deeper and
narrower into the methodology initiated and experienced in the master degree, which
dealt with the use of pictoric representations and the oblique vision in maps oriented
specifically to tourists and laymen in cartography. The reason is that such graphics
resources allow a lower level of abstraction of the graphics representation, bringing
unmistakably a higher simplicity to the cartographic reading. Besides, it is visually
more attractive as it evokes visual, affective and emotive connotations.
In addition, a specific subtitle is suggested to the tourist maps by making use of the
pictography and symbols of public information. Such symbols are elaborated in order
for people to see them, interpret them and understand them without have never seem
them before.
However, it’s important to emphasize that the conventional symbols and maps will
also be part of the final cartographic product, because even working potentially with
pictoric maps to the tourism sector, some information is especially more adequate and
obvious trough the conventionality.
The development of thematic tourism maps for use in the digital media is also added
to this study. These new technical resources allow the development of maps which
are not limited to a sheet of paper, providing interactive, animated, sonorized
representations, in different languages, among many other resources.
In this item, besides the elaboration and use of the product itself, there is a special
concern on the map, the interactivity and the user, without never forgetting that the
thematic material – tourism – must always bring a good understanding of the
information (reading), and motivation (attractiveness, curiosity) towards the locality
represented.
SUMÁRIO
CD – ANEXOS
Pasta 1 – Mapas pictóricos – Trabalho de Graduação Individual (TGI) - 1999:
“Atlas Pictórico - proposta metodológica para a confecção e uso didático”.
Pasta 2 – Mapas convencionais e pictóricos de Ilhabela (SP) e São Vicente (SP) –
Dissertação de Mestrado - 2003:
“Mapas turísticos: o desafio do uso da arte na era digital”.
Pasta 3 – Mapas convencionais e pictóricos desenvolvidos durante a pesquisa:
Foz do Iguaçu (PR), Caxambu (MG), Manaus (AM) e
São Raimundo Nonato (PI).
Pasta 4 – Mapa turístico (escaneado) de Caxambu – Edição janeiro de 2003.
Todos os direitos reservados a Editora Buz.
Pasta 5 – O site elaborado para a pesquisa.
Pasta 6 – O protótipo mapa-site turístico de Caxambu elaborado para a pesquisa.
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ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE TABELAS
INTRODUÇÃO
Para atingir meus objetivos, iniciei os estudos tendo como base teórica a semiologia
gráfica proposta por J.Bertin. Neles enfatizei as seguintes variáveis visuais: tamanho;
cor (buscando um suposto volume) e forma (grande uso da perspectiva).
O mestrado foi iniciado em março de 2000 e, por diversas razões, acima de tudo
acadêmicas e metodológicas, optei por trabalhar com a confecção de mapas voltados
a um outro tipo de público, o turista, que se caracteriza por ser um grupo muito
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Em julho de 2000, obtive uma nova bolsa de pesquisa pela FAPESP (processo
00/03940-4) por um período de 24 meses (07/2000 a 07/2002), para desenvolver um
trabalho de mestrado. A dissertação final foi intitulada: “Mapas turísticos: o desafio do
uso da arte na era digital”.
Essa etapa proporcionou uma discussão referente ao uso dos formatos analógico –
com todo o processo técnico de confecção desenvolvido manualmente (uso de lápis
colorido, caneta nanquim e a tinta aquarela) – e digital – utilização do computador
(programas Corel DRAW e Adobe Photoshop).
Kokkonen e Peltonen (1999) nos ensinam que um bom mapa turístico deve permitir
que o usuário planeje e prepare suas atividades, além de se caracterizar como um
produto funcional e esteticamente prazeroso, podendo contribuir com a expectativa
dos visitantes e em uma total satisfação pela viagem.
A justificativa e o tema
A necessidade de recortar o vasto campo oferecido pelo estudo dos mapas forçou o
estabelecimento de limites à área de atuação. Assim, circunscreve-se o interesse aos
mapas turísticos, justificando que:
b. Os mapas pictóricos são muito utilizados pelo setor do turismo e por turistas,
cuja maioria é constituída por leigos em semântica cartográfica.
A hipótese e o problema
A hipótese segundo a qual os mapas com grande uso da pictografia têm mais
aceitabilidade tanto por leigos na semântica cartográfica quanto por turistas, já havia
sido considerada em trabalhos anteriores (Fiori 1999 e 2003). Além dessa,
pressupõem-se outras hipóteses:
d. Quais recursos devem ser utilizados para que se atinjam pessoas de perfis
diversificados.
A tese
f. Formular uma legenda específica para esse tipo de material a fim de facilitar a
leitura ao usuário.
Fundamentação teórica
É importante considerar ainda que, para atingir a contento seu objetivo, a cartografia
não deve relevar cuidados com a estética. A lembrança evoca, portanto, referências
feitas a teorias que se preocupam com o belo.
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Metodologia
Estrutura da tese
CAPÍTULO 1
Com isso, a inovação estética também foi deslocada para as tecnologias eletrônicas,
tornando a comunicação mais fácil e rápida. Antes havia formas artesanais ou
eruditas, porém hoje os recursos técnicos geram hipertextos e rápidas edições
audiovisuais ou eletrônicas. Por volta de dez anos atrás, conhecer as inovações de
diferentes países, utilizá-las e compor com elas requeria viagens freqüentes,
assinaturas de revistas estrangeiras e vultosas contas telefônicas. Atualmente, basta
renovar periodicamente o equipamento do computador e ter um bom serviço de
Internet para solucionar os problemas (Canclini, 2003: XXXVI).
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Segundo Beni (1998: 37; 149) são aqueles visitantes temporários que permanecem pelo menos vinte
e quatro horas no país visitado. A viagem pode ser classificada em vários tipos: lazer - descanso,
recreação, férias - de negócios e compras, desportivo, ecológico, rural, de aventura, religioso, cultural,
gastronômico, estudantil, de congressos - convenções, encontros e encontros similares - familiar e de
amigos, de saúde ou médico-terapêutico. Existem ainda, os excursionistas, que são os visitantes
temporários que permanecem menos de vinte e quatro horas no país visitado - incluindo viajantes de
cruzeiros marítimos. Contudo, nesta pesquisa o usuário dos mapas turísticos pictóricos interativos
podem ser tanto os turistas e excursionistas internacionais quanto nacionais.
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Galeffi (1977: 90) então esclarece que atualmente, em português, a palavra design
não significa desenho, mas sim desígnio, ou seja, plano ou projeto de intenção. Aliás,
o mesmo problema de conceituação ocorre na língua francesa, italiana e alemã.
Desse modo, houve uma internacionalização da palavra design, sendo adotada
principalmente nos meios profissional e acadêmico (Souza, 1992: 12).
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É um processo de “destilação”, ou seja, de redução dos fatores visuais múltiplos aos traços mais
essenciais e característicos daquilo que está sendo representado (Dondis, 1991: 91). O conceito é
mais bem explicado entre as páginas 49 – 51.
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Em geral, o ato de motivar ocorre quando um indivíduo quer satisfazer uma necessidade. Os motivos
implicam ação, ou seja, o indivíduo é movido a fazer alguma coisa. Já (em relação à) a motivação
turística - que é o caso desta pesquisa - canaliza e desencadeia um processo de decisão (Goossens,
2000).
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conteúdo (o que se quer dizer) em uma forma (meio de expressão), por meio do
controle exercido pela técnica (Dondis, 1991: 135). Souza (1992: 12) conclui que:
Partindo de Souza (1992: 32), pode-se afirmar que o trabalho a ser desenvolvido
nessa pesquisa tem a ver com o design gráfico, pois trabalha com a informação e
com os veículos de comunicação. Diferentemente do desenho industrial, que lida com
objetos e equipamentos. A autora (1992: 56) conceitua design gráfico como uma das
formas de conversação social em que as pessoas partilham informações e instruções
por intermédio dos estímulos visuais gráficos. Portanto, a comunicação pode resultar
das várias modalidades do desenho (desenho gráfico, técnico, ilustrativo, publicitário,
etc), isto é, a comunicação visual também está sujeita a algumas condições básicas:
Como foi dito anteriormente, o tipo de material cartográfico proposto implica situar,
tornar acessível a localização e o reconhecimento de pontos e áreas de uma
determinada localidade no espaço. Todavia, pretende-se ir além, ou seja, fazer com
que o mapa temático traga o máximo de boas sensações e recordações possíveis. E,
para isso, conta-se com o uso da pictografia.
Desejos
Memórias
Ao se transportarem seis rios e três cadeias de montanhas surge Zora, cidade que
quem viu uma vez nunca mais consegue esquecer. Mas não porque deixe, como
outras cidades memoráveis, uma imagem extraordinária de recordações. Zora tem
a propriedade de permanecer na memória ponto por ponto, na sucessão das ruas
e das casas ao longo das ruas e das portas e janelas das casas, apesar de não
demonstrar particular beleza ou raridade (op. cit.:19).
Trocas
Olhares:
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Diferenças
Presume-se que Isaura, cidade dos mil poços, esteja situada em cima de um
profundo lago subterrâneo. A cidade se estendeu exclusivamente até os lugares
em que os habitantes conseguiram extrair água, escavando na terra longos
buracos verticais (op. cit.: 24).
Nomes
A minha mente continua a conter um grande número de cidades que não vi e não
verei, nomes que trazem consigo uma figura ou fragmento ou ofuscação de figura
imaginada: Getúlia, Odila, Eufrásia, Margara (op.cit. 87, 88).
Símbolos
Um bom mapa turístico deve permitir que o usuário planeje e prepare suas atividades,
além de se caracterizar como um produto funcional e esteticamente prazeroso,
podendo contribuir com a expectativa dos visitantes e uma total satisfação pela
viagem (Kokkonen e Peltonen, 1999).
Canclini (2003: 274) continua a reflexão dizendo que a cultura é o capital pertencente
a toda e qualquer sociedade, sendo interiorizada pela prática. É produto de uma
encenação, na qual se escolhe e se adapta o que vai ser representado, de acordo
com o que os receptores possam escutar, ver e compreender. Todo ato de
transmissão cultural implica necessariamente a afirmação do valor da própria cultura
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Sobre os mapas em particular, Harley (1991) informa que, desde tempos mais
remotos até os dias de hoje, a humanidade das mais diversas culturas representa o
espaço. Contudo, durante um longo período, os mapas de culturas não-européias só
receberam certa atenção quando apresentavam alguma semelhança com os mapas
europeus.
Segundo Harley (1994: 277-278), talvez a grande questão não seja responder
categoricamente se os mapas são verdadeiros ou falsos, precisos ou imprecisos,
objetivos ou subjetivos, geométricos ou pictóricos, ou se são baseados na integridade
científica e contrários à distorção ideológica. O autor aponta ainda outros elementos
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Latour (1994:102) afirma que não existem nem culturas (diferentes ou universais)
nem uma natureza universal. O que existem apenas são naturezas-culturas, as quais
constituem a única base possível para comparações. O autor (op. cit.: 102-104),
então, apresenta quatro maneiras (figura 2) para conceituá-las:
____________________________________________________________________
Figura 2 – Naturezas-culturas: quatro tipos de relação
3ª) Universalismo particular: ocorre quando a natureza é vista sem estar atrelada a
uma cultura em particular. Logo, uma das sociedades – que é sempre a nossa –
define o quadro geral da natureza em relação ao qual as outras estarão situadas. Dito
isso, projeta-se um argumento dividido em suas partes: o primeiro permite um
relativismo modesto – somos apenas uma cultura entre outras; o segundo permite um
relativismo arrogante – continuamos a ser absolutamente diferentes dos outros.
... todas as medidas, tanto na ciência rígida quanto na ciência flexível, são sempre
medidas medidoras e estas constroem uma comensurabilidade que não existia
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Alguns dos sentidos da palavra relativismo: estabelecer relações; tornar comensurável; regular
instrumentos de medida; instituir cadeias metrológicas (estudos de descrição dos povos); redigir
dicionários de correspondências; discutir sobre a compatibilidade das normas e dos padrões; estender
redes calibradas; montar e negociar os valorímetros (Latour, op.cit.:111).
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Latour (1994: 112) cita a etnologia como uma destas medidas medidoras que pode
solucionar na prática a questão do relativismo, pois cotidianamente constrói certa
comensurabilidade, sendo que o relativismo relativista pode se tornar um dos
recursos essenciais na relação entre os diferentes coletivos, por servir como um
negociador planetário sobre os universais relativos que são construídos aos poucos.
Neste trabalho, o desafio maior é avaliar até que ponto o mapa-site pode ser
compreendido (lido, decodificado) e aceito (pela atratividade, motivação) levando-se
em consideração desde um contexto local (município, estado, país) até global (outros
países) a partir de itens como simbologia utilizada (convencionais e pictóricas) e a
posterior inserção na Web (rede mundial computadores). Por exemplo, tendo como
base os diferentes coletivos, a figura 3 apresenta graus de relativismo menores ou
maiores, decorrentes do contexto local-global.
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Figura 3 – O contexto e a escala do relativismo
Na verdade, essas redes não são, por natureza, nem locais nem globais, sendo
melhor dizer redes, mais ou menos longas, mais ou menos conectadas (Latour, 1994:
119-120). Com base em Latour (1994), a seguir, detalham-se melhor essas relações
de escala.
Primeiro, é preciso dizer que o coletivo é resultado do laço social que une os
humanos entre si. Nele atuam paixões, interesses, desejos, entre outros sentimentos.
São essas forças personificadas que estruturam uma sociedade. A partir das histórias
contadas (o sistema da língua) de uns para outros, geram-se processos de
significação a partir de narrativas, textos e discursos – estes são alguns dos
elementos que designam o império dos signos (Latour, op. cit.: 63; 87).
Dito isso, como pensar o mapa e o seu universo de símbolos disponíveis na rede
mundial de computadores, que pode alcançar desde os coletivos locais até os
globais?
Entretanto, os diferentes coletivos podem vir a se estranhar. É o que Latour (op. cit.:
99) denomina de exotismo, ou seja, as diversidades das culturas, como, por exemplo,
o sistema de crenças, técnicas, hábitos, jogos de poder, familiaridades e
similaridades, economias, em suma, a totalidade da existência de um sujeito.
As palavras local e global possibilitam pontos de vista sobre redes que não são,
por natureza, nem locais nem globais, mas que são mais ou menos longas e mais
ou menos conectadas. O exotismo moderno consiste em tomar estas duplas de
oposições como sendo aquilo que define nosso mundo e que nos tornaria distintos
de todos os outros (Latour, op. cit.:120).
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O produtor cunha um arco interpretativo entre o “estar lá” – criação feita a partir de
inúmeras informações coletadas sobre a localidade, em folderes, sites, livros, por
informações repassadas por pessoas que habitam a localidade – e o “representar
aqui” – trabalho de gabinete (normalmente distante da localidade representada). Na
verdade, então, o produtor representa o outro a partir de uma visão externa – não é
seu coletivo, sua realidade – tal como na tradição, no folclore.
O próprio ato da coleta dos dados de uma localidade, realizada pelo produtor do
mapa, ocorre de diferentes maneiras, isto é, ele pode ou não ter um contato direto
com a coletividade representada, assim, pode conhecê-la porque vive no local ou
porque realizou nela um trabalho de campo. Mas, pode também conhecê-la por meio
de conversas, internet, correio, etc. – materiais e informações (mapas-base,
inventário turístico – destaques da história e cultura, arquitetura, hábitos, serviços,
atrativos naturais) da coletividade que não é a sua.
Outro ponto a ser destacado é que se elabora o produto (mapa temático turístico)
sempre pensando no estrangeiro, isto é, aquele indivíduo que não mora na cidade
representada e que precisa ser atraído, motivado a querer conhecê-la, saber mais
sobre ela, para que, a partir daí, quem sabe, ter vontade de visitá-la e indicá-la a
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outras pessoas.
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Figura 4 - O arco interpretativo entre a natureza, o mediador e a cultura
a paisagem era bonita demais, antes quando queimava dava para ver o
Chapadão. Os animais foram espantados após a formação do Parque. Quando
não havia o Parque havia o fogo e os animais gostavam dos brotos das plantas.
(alfaiate, morador há mais de 55 anos)
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O conceito de paisagem foi criado no século XVI, visando gerar um modelo visual, ou
seja, a invenção pictórica da natureza. Com isso, os elementos do espaço passaram
por um processo de dessacralização, por remeterem a outras coisas que não a eles
próprios (seres únicos), tornando-se imagens plenamente significantes por si
mesmas. Por exemplo, ao se desenhar uma árvore, um rio, uma montanha, está
subentendido que esses elementos são parte constituinte da paisagem, fazendo-a
existir com tal (Alcântara e Sader, 1999). As autoras continuam esclarecendo que o
termo paisagem é definido por possuir uma realidade material, pois é uma extensão
de espaço oferecida ao olhar. Mostra-se como uma realidade é subjetiva, pois ela
simplesmente não existiria se não existisse um observador. É um espaço
enquadrado, um recorte significativo do mundo, logo, a percepção de um fragmento
do espaço, ao ser percebido é automaticamente interpretada. O objeto percebido é
um objeto refigurado, provido de atributos anteriormente sabidos, tanto que, quando a
percepção transforma um recorte do espaço em paisagem, ela está aplicando-lhe
julgamentos de conformidade, realidade e identificação. Por isso, a paisagem
caracteriza-se como:
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É sempre um processo seletivo da apreensão. Mesmo se as pessoas partem de uma única realidade,
cada uma a vê de maneira diferenciada. Isso faz com que a visão do homem em relação às coisas
materiais seja sempre deformada. A percepção não é tida como conhecimento – pois depende da
interpretação – e terá maior validade quanto mais limitar o risco de tomar por verdadeiro o que é só
aparência (Santos: 1996: 62).
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O aparelho cognitivo tem um papel crucial na apreensão da paisagem, pelo fato de que toda
educação (formal e informal) é feita de forma seletiva, ou seja, pessoas diferentes apresentam
diversas versões para o mesmo fato (Santos: 1996: 62).
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A paisagem compreende dois tipos distintos de elementos: os objetos naturais, que não são obra do
homem nem jamais foram tocados por ele. E os objetos sociais, testemunhas do trabalho humano
tanto no passado como no presente (Santos, 2004: 54).
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te. Como, por exemplo, uma região produtora de algodão, café, trigo ou, então, uma
paisagem urbana – cidade, centros, periferias – de tipo européia, americana ou
asiática. Todas são paisagens e concentram formas mais ou menos duráveis,
possuindo um traço comum: a combinação de objetos naturais e fabricados, que em
conjunto formam os objetos sociais, resultado da acumulação da atividade humana
por muitas gerações (Santos: 2004: 53).
O outro – tanto o turista quanto o produtor – não se envolve nem se relaciona com as
vidas e os valores dos habitantes locais. Já o morador da localidade representada
tem uma atitude mais complexa, resultado de sua imersão no ambiente (Tuan: 1980:
72; 74). O autor ainda exemplifica a postura superficial do turista em relação a uma
cidade medieval européia – ver também a figura 4.
Manifestam seu deleite sobre as ruas escuras, calçadas com seixos, as esquinas
e recantos íntimos, as pitorescas construções compactadas de casas e as
encantadoras lojas antigas, sem parar para pensar como as pessoas realmente
viveram. Ou então, um turista em Chinatown fica encantado com o estímulo de
seus sentidos da visão e do olfato; ele sai com uma feliz ignorância do
apinhamento, das vidas apáticas, do jogo atrás das vistosas fachadas
(Tuan: op.cit.: 74).
Mas, por outro lado, o mesmo turista é capaz de perceber méritos e defeitos em um
meio ambiente que já não são mais visíveis ao residente (Tuan, op.cit.:75).
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Segundo Lacan (apud Gomes, 1996) é uma ficção real e vivida. Para compreender o imaginário, é
necessário nos colocar em consonância com o outro mesmo quando a comunicação ultrapassa as
possibilidades de interpretação racional. A função empática da arte inscreve-se neste gênero de
comunicação, por utilizar um vocabulário inconsciente para fazer transitar sensações reais e vividas
sob a aparência de irrealidades. A valorização da arte pelos geógrafos humanistas explica-se
exatamente por esta dimensão do conhecimento espontâneo, inconsciente e não racional.
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Figura 5 – Fotos de uma cidade medieval
Por isso, em sociedades primitivas, com menor comércio, os códigos simbólicos eram
mais estáveis do que nas sociedades contemporâneas. Hoje, o mundo é marcado
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Essa dinâmica dá à paisagem um sentido móvel, isto é, cada vez que a sociedade
passa por um processo de mudança, também mudam, em ritmo variado, a economia,
as relações sociais e políticas. Por conseguinte, o mesmo fenômeno acontece com o
espaço e a paisagem, que se transformam, buscando se adaptar às novas
necessidades da sociedade (Santos, 2004: 54).
Ratifique-se, portanto, que paisagem e espaço não são sinônimos, sendo a primeira
um conjunto de formas, contextualizada em recorte temporal, cumulativo e
substitutivo, resultado da lógica de produção do espaço. As paisagens se formam
umas sobre as outras, sendo constituídas pelo conjunto de objetos de diferentes
idades, que representam as sucessivas relações entre a humanidade e a natureza.
Reafirme-se, então, que a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e
presentes, ou seja, suas formas ocorrem em momentos históricos diferentes –
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Visto de maneira mais direta, o espaço do local trabalhado pelo setor do turismo,
concentra um determinado número de objetos reais-concretos e paisagens, que são
“filtradas” e aproveitadas no desenvolvimento dos mapas. Isto decorre das diversas
parcelas e maneiras de utilização do espaço, que se constituem por um conjunto de
mercadorias que recebem valores – maiores ou menores – em um dado momento,
pela sociedade, refletido em cada fração da paisagem. O que significa que os objetos
não mudam de lugar, mas de função, isto é, de significação, de valor sistêmico
(Santos, op.cit.:103-104).
Citem-se então alguns exemplos: um rio, que antes servia somente para a pesca de
subsistência e irrigação de lavouras, hoje oferece um grande potencial aos esportes
de aventura como o rafting, o bóia-cross ou o canyoning. Um antigo galpão, que
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É o que fica do passado como forma, espaço construído, paisagem, ou seja, são reminiscências dos
processos de supressão, acumulação e superposição, com que as coisas se substituem e acumulam
em todos os lugares. O tempo atual se defronta com o tempo passado, cristalizado em formas (Santos,
2002: 140).
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Deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo
de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais e, de outro, a vida que preenche e os anima,
ou seja, a sociedade em movimento (Santos, 1996:26). Por trás dos padrões sociais, das formas
criadas, dos usos do solo, das repartições e distribuições, dos arranjos locacionais, estão concepções,
valores, interesses, mentalidades, visões de mundo. Enfim, todo o complexo universo da cultura, da
política e das ideologias (Moraes: 2002: 16). O autor ainda alerta (op. cit.: 19) que não se deve perder
o contexto histórico, pois o sujeito exprime uma época, sendo estruturado dentro de limites e
possibilidades.
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Também chamado de recursos turísticos, os quais constituem o patrimônio turístico. Esses
elementos são passíveis de provocar deslocamentos de pessoas e integram o marco geográfico-
ecológico-cultural de um lugar, podendo, por sua origem, ser subdivididos em naturais e culturais
(Beni: 1998: 57).
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antes abrigava uma tecelagem, hoje pode ser um espaço cultural, como um teatro.
Cite-se hipoteticamente o centro urbano de uma cidade qualquer, que outrora fora
rico, ativo e efervescente, porém com o tempo se tornou inóspito, perigoso. No
entanto, com um trabalho de restauração e incentivo governamental (arquitetura,
infra-estrutura, volta de moradores, etc) pôde se tornar um importante e atrativo
destino turístico da cidade. Desse modo, o que hoje é valorizado por determinada
parcela da sociedade (material acumulado das ações humanas através do tempo)
amanhã pode não ser (animado pelas ações atuais) e vice-versa. Santos (2002: 105)
complementa que, só por sua presença, os objetos técnicos não têm outro significado
senão o paisagístico. Mas eles aí estão também em disponibilidade, à espera de um
conteúdo social.
Dentro dessa lógica, pode-se trabalhar a paisagem como conjuntos, como se fossem
cartões postais, ou seja, trazer ao olhar um conjugado de formas ou formas isoladas.
Até porque, de um modo ou de outro, temos a tendência de negligenciar o todo;
mesmo os conjuntos que se encontram em nosso campo de visão nada mais são do
que frações de um todo (Santos, 2004: 35). O autor continua esclarecendo que a
percepção que se tem da paisagem está longe de englobar o objeto em sua realidade
profunda: o que se capta é uma aparência. O objeto caracteriza-se por duas faces: a
verdadeira, que não se dá diretamente ao observador; e a face visível, amoldada pela
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O conteúdo (da sociedade) e a forma (objetos geográficos) são dependentes entre si. Até porque,
cada forma encerra uma fração do conteúdo, que pode ser comparado a uma sociedade em
andamento, em evolução, em movimento. Ou, melhor ainda, ao seu presente ainda não realizado
(Santos, 1996: 27).
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ideologia 13.
Como resultado, as formas (em si), os objetos geográficos, passam a ter mais do que
um papel funcional, pois são preenchidos de simbolismo, representatividade,
intencionalidade. Impõe-se sobre eles um conteúdo e um valor que na realidade não
têm; logo, seu significado é deformado por sua aparência (Santos, 2004: 59).
13
Os construtores do espaço estão atrelados à ideologia dominante ao conceber uma casa, uma
estrada, um mapa, uma cidade. O ato de construir está submetido a regras que procuram nos modelos
de produção e nas relações de classe suas possibilidades atuais (Santos: 2004: 36-37).
45
outras.
Todo o processo de criação tem como base a diversidade cultural, trazendo à tona
informações que precisam ser interessantes, de fácil reconhecimento e leitura ao
maior número de pessoas. Conseqüentemente, procura-se um tipo de representação
cartográfica com grande apelo ao senso comum, ao imaginário coletivo e também ao
lúdico. O intuito é gerar sempre a dualidade: traços de identidade, igualdade, visando
à leitura, compreensão do mapa; e de diferença, como o exotismo, que motivam,
instigam o querer conhecer, viajar.
Para que isso ocorra, o mapa turístico deve se tornar natural e naturalizado, criando
possibilidades com base nos mapas já existentes, ou seja, aqueles constituídos por
uma semântica para iniciados como os provenientes do ensino formal: os mapas e
símbolos convencionais. Estes podem ser retrabalhados e adaptados ao público
potencial: o leigo em cartografia e que deseja conhecer novos lugares. Nesse caso,
ocorre um hibridismo, resultante da composição entre símbolos pictóricos e
ilustrações: os chamados “símbolos culturais” familiares ao senso comum. Contudo,
deve-se sempre estar atento aos itens fundamentais da composição de um mapa
convencional, como escala, legenda, título e sistema de referências (indicação de
norte, latitude, longitude).
Tendo como parâmetro o mapa para o setor do turismo e com base no capital cultural
e suas nuances – grande variedade e níveis de relações entre coletivos – surgem
muitas preocupações referentes à boa funcionalidade do produto, devido à
diversidade do público usuário e, portanto, à necessidade de uma instrução prévia.
A finalidade é criar convenções com base no que já existe, ou seja, nos mapas
convencionais que trazem uma semântica para iniciados. A partir daí adaptar,
adequar e elaborar os mapas temáticos para o turismo, que mesclam o convencional
(símbolos abstratos, normas mais rígidas, representações e leitura mais simples e
direta) com a pictografia (símbolos pictóricos, suposta tridimensão, ilustrações, leitura
mais lenta, lúdica). Procurando referenciar (restringir minimamente) o público a ser
pesquisado e analisado, é importante esclarecer que os mapas turísticos são
disponibilizados na Web. Isso faz com que o usuário do então mapa-site turístico
46
Nesse contexto, conceitua-se o habitus 14, que exige dos grupos e/ou classes sociais
o controle e domínio mínimo de um código comum, mesmo que ainda não seja um
registro consciente. Carneiro (2001:31) complementa que o uso de códigos facilita o
processo de comunicação das informações semânticas a partir do momento em que
utiliza unidades ou elementos significativos que são de conhecimento prévio do
receptor-usuário.
14
Toda a ação histórica reflete dois estados do social: o Habitat - estado objetivado – história
acumulada ao longo do tempo nos objetos, nas máquinas, edifícios, monumentos, livros, teorias,
costumes, direito, etc. E o Habitus - estado incorporado. Por exemplo: Quando um homem tira o
chapéu para cumprimentar alguém, está reativando, sem saber, um sinal convencional herdado da
Idade Média, pois este gesto remonta aos homens de armas, que costumavam tirar o seu elmo para
manifestações pacíficas. Esta atualização da história é conseqüência do habitus, isto é, produto de
uma aquisição histórica que permite a apropriação do adquirido histórico (Bourdieu, 2000: 82). Por
outro lado, quando duas pessoas são dotadas de habitus diferentes, isto é, não foram expostas às
mesmas situações e aos mesmos estímulos, terão razões para fazer julgamentos de valor de maneiras
diferentes (Bourdieu, 1996: 333).
47
Ocorre, então, que o sistema de ensino é umas das instituições mais preocupadas
em transmitir a cultura, por desenvolver um papel fundamental quanto à participação
de um senso comum, entendido como um fundamento comunicação. A escola dá ao
indivíduo primordialmente um repertório para abordar os problemas de maneira
comum. Bourdieu (1974: 288) trata de tal relação ao afirmar que, para que os homens
cultivados de uma época possam discordar a respeito das questões que discutem,
devem ao menos estar de acordo com certas questões, para assim, discutir sobre
outras. Até porque o processo de transformações e reestruturações do campo cultural
é contínuo e não radical, abraçando os mais variados temas. Assegura também a
continuidade da comunicação entre as gerações intelectuais. E, em todos os casos, é
o sistema escolar que torna inteiramente compreensível os esquemas que organizam
o pensamento de uma época, consagrando-os e constituindo-os, pelo exercício, como
hábitos de pensamentos comuns a toda uma geração (Bourdieu, 1974: 208).
Esta pesquisa parte de bases topográficas (sistemáticas), que são o pano de fundo
para que se instaure e aprofunde uma metodologia voltada à cartografia temática,
objetivando a elaboração de mapas turísticos.
Neste instante, é importante citar Guerrero (2004: 43), que trata do ato de
aprendizagem. O ato ocorre de maneiras diferentes entre os sujeitos. Tal
diferenciação está intrinsecamente ligada às estruturas cognitivas, às experiências de
vida e ao aprofundamento da significação, resultante do maior ou menor contato com
a informação que proporciona maior ou menor conhecimento dos seres humanos em
relação aos mais diversos temas de seu cotidiano.
É necessário deixar mais claro o conceito de abstração utilizado neste trabalho. Ele é
definido por deixar de lado os “detalhes irrelevantes” da realidade, enfatizando os
traços distintos do elemento real-concreto. De acordo com Dondis (1991: 91), esse é
um processo de “destilação”, ou seja, de redução dos elementos visuais a traços mais
essenciais e característicos. A graduação ligada à eliminação dos detalhes segue
dois caminhos: a abstração voltada ao simbolismo que, às vezes, proporciona um
significado identificável, e, outras vezes, um significado arbitrariamente atribuído; e a
abstração pura, ou redução da manifestação visual aos elementos básicos, que não
conserva relação alguma com qualquer representação representacional extraída da
experiência do meio ambiente.
Aliás, mesmo a abstração voltada para o simbolismo requer uma simplificação radi-
cal, ou seja, a redução dos detalhes visuais do elemento disposto no espaço a seu
mínimo irredutível. Além disso, para ser eficaz, um símbolo não deve apenas ser visto
e reconhecido; deve também ser lembrado, e até reproduzido (Dondis, op.cit.: 91).
____________________________________________________________________
Figura 7 – Traços visuais: o conceito de uma girafa
____________________________________________________________________
Figura 8 – Traços característicos do elemento representado: a schemata
É fato que, quanto mais abstrato for o símbolo, mais intenso deve ser o trabalho de
educação do público em relação ao significado da representação (Dondis, 1991: 92).
Isso faz com que as representações não tenham limites muito precisos e uniformes
53
Com base nesse autor (1974: 290-291) pode-se concluir que aqueles indivíduos que
têm a possibilidade de convívio prolongado com os mapas, trazem consigo uma
interiorização consciente e inconsciente das regras de produção e um sentimento de
familiaridade e de maior compreensão do objeto. Conseqüentemente, não há uma
escala possível para se quantificar qual o maior ou menor grau de compreensão da
leitura cartográfica. O que se pode apontar são algumas situações sociais
facilitadoras como: os pais mostrarem e incentivarem o uso do mapa, o gosto
pessoal, o acesso facilitado, a educação formal, etc. Dessa mesma perspectiva,
pode-se justificar que o uso e compreensão das representações se ajustam à visão
de mundo da experiência prática.
Por fim, insere-se a mídia (jornal, rádio, televisão, Internet, etc.) como um dos
principais atores de reprodução das práticas sociais, consagrando, ao longo do
tempo, sua grande força na transmissão da comunicação de massa. Gombrich (1991:
129) ilustra a seguir essa forte influência sobre a sociedade contemporânea:
O que dizer então do novo e rápido crescimento do mundo digital, com as imagens de
satélite, a internet, os cds interativos, a realidade virtual e a inserção de sons, cheiros,
entre outros recursos tecnológicos? Brown, Emmer & Worm (2001) complementam
que há grandes progressos em várias áreas da comunicação, como, por exemplo,
navegadores (browser) com vozes, o que aumentará a utilização do som. De fato, a
alta condição de interatividade é uma revolução quando comparada aos métodos
mais tradicionais (imprensa escrita, rádio e televisão) de se comunicar a informação.
O profissional deve estar sempre alerta para saber como será concebido o mapa para
a indústria cultural. O ato de concepção do material passa primeiramente por um
processo de interiorização (realidade-mapa), ou seja, é por intermédio do produtor
que acontece uma espécie de filtragem das imagens, impressões e sentimentos
naturais. Segundo Galeffi (1977: 148), aquilo que pertencia à vida real ou prática,
transforma-se em experiência contemplada – característica distintiva e imprescindível
– essência da verdadeira criação estética.
O habitus faz o produtor do mapa ser parte integrante de uma coletividade, de uma
época. E, sem que ele tenha consciência, seus atos de criação aparentemente mais
especiais, individuais, são orientados e dirigidos (Bourdieu, 1974: 242). Segundo,
Canclini (2003: 195) a relação que se tem com os atrativos naturais e culturais – e
sua representação técnica e artística: o mapa turístico – ocorre a partir de um
determinado capital cultural que não dispõe do conjunto de bens estáveis e neutros,
com valores e sentido fixos. Isto significa que, por fazer parte de um processo social,
o ato de cartografar se apropria de forma diferenciada e desigual do capital cultural,
devido aos diversos setores, que se acumulam e se reestruturam ao longo do tempo.
A noção de indústria cultural continua servindo como referência ao fato de que cada
vez mais os bens culturais não são gerados de maneira artesanal ou individual, mas
sim por meio de procedimentos técnicos, máquinas e relações de trabalho
equivalente àqueles produtos gerados pela indústria (Canclini, 2003: 257).
A partir de tudo que foi exposto até aqui e pensando na cultura de massa 15, a
elaboração do mapa turístico em meio digital traz muitos questionamentos. Desde já
fica evidente a aproximação e as combinações entre algumas dualidades, a saber:
15
É impossível sintetizar formatos e processos tão variados sob um único nome. Alguns rótulos, os de
cultura de massa ou para massa, podem ser usados com a precaução de que designam um único as-
pecto e não o mais recente. As noções de indústria cultural, cultura eletrônica ou tele-informação são
pertinentes para designar aspectos técnicos ou pontuais da cultura de massa (Canclini, 2003: 258).
57
aqueles da direita.
_______________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Nesse tipo de mapa, trabalha-se mais o senso comum, sendo que temas como arte e
cultura recebem uma importância preponderante, pois os desenhos idealizados,
selecionados e confeccionados são resultado de um conjunto de contextos mentais
de uma dada sociedade.
Este outro tópico tem a ver com o que se pretende e com a intenção de cada símbolo
e ilustração dispostos sobre um mapa temático para o turismo, já pensando no uso
efetivo da pictografia. As simbologias também se dividem em dois tipos: as
denominadas superficiais, que são aquelas reconhecidas mais rapidamente, sendo
diretas, simples, rasas; com elas, busca-se uma padronização. Como exemplos
citam-se os símbolos para sinalização do trânsito, em estrada, turística, em área
pública e privada, entre outros. Mesmo assim, não são alheias às influências culturais
(Figura 12).
____________________________________________________________________
Cabe então ao produtor do mapa, que também não faz parte da coletividade
representada, procurar formas de conhecê-la, coletando dados dentro de um contexto
O produtor filtra e direciona as informações, preocupado com o efeito que se quer dar
da localidade ao turista.
pessoas (meio digital e a internet), aliada aos traços característicos das coletividades.
Neste segundo item, cite-se Canclini (2003: 256-257), ao partir do pressuposto de
que a construção de uma nação requer um projeto político e cultural unificado, um
consumo simbólico compartilhado que favoreça o desenvolvimento do mercado. Os
meios de comunicação integrados traduzem a idéia de nação por estabelecer um
sentimento e cotidianidade, por exemplo, por meio da mídia.
Nesse aspecto, os mapas pictóricos seriam de grande valia, pois, além da ação
fundamental de auxiliar o usuário a se localizar, pode compor maneiras de
representar os atrativos natural e cultural.
Minha única ambição é a de ser lido com facilidade pelo maior público possível. Eu
nunca almejo a “obra-prima” e não escrevo para intelectuais. Deixo esta tarefa pa-
ra outros. Para mim, um bom livro é aquele que nos cativa ao fim de três páginas.
Faça-se aqui apenas uma consideração: esta pesquisa é feita para intelectuais
preocupados em encontrar novos caminhos que levem o mapa a resultados práticos,
para que, assim, prontamente informe e posteriormente motive sobretudo o público
não-familiarizado com a semântica formal dos mapas a querer conhecer, saber mais
sobre a localidade retratada.
16
A análise do discurso não trabalha com o que a linguagem quer dizer, mas como o que a linguagem
diz (Orlandi, 2004: 20).
62
É ainda Orlandi (op.cit.: 20-21), quem esclarece ser a ideologia obra justamente do
ponto de encontro da materialidade da língua com a materialidade da história, sendo
que é pelo discurso que se dá o encontro. No discurso – onde está a materialidade
específica da ideologia – é que melhor se pode observar esse ponto de articulação.
Compreender o que é efeito de sentidos, em suma, é compreender a necessidade da
ideologia na constituição dos sentidos e dos sujeitos. Logo, é da relação regulada
historicamente entre múltiplas formações discursivas que se constituem os diferentes
efeitos de sentidos entre locutores.
É por isso que um mesmo símbolo pode ter diferentes sentidos, por sofrer influências
diretas de seus coletivos (ideologias, imaginários) e da História. Segundo a mesma
autora (op.cit.: 22) os discursos estão duplamente determinados: de um lado, pelas
formações ideológicas que relacionam os discursos a formações discursivas definidas
e, de outro, pela autonomia relativa da língua. São ainda de Orlandi as seguintes
palavras:
dito, os sentidos institucionais, admitidos por todos como “natural” (Orlandi, 1997:
100), sendo fabricada pela história. Já a incompletude é característica de todo o
processo de significação. Isto porque a relação linguagem-pensamento-mundo é
aberta e, vendo pela perspectiva discursiva, é também o lugar do possível (Orlandi:
2004:19). A incompletude é o indício da abertura do simbólico, do movimento do
sentido e do sujeito, da falha do sentido (Orlandi: 2005:114). Além disso, sem ela –
apagamento necessário para a constituição do sujeito – haveria a asfixia do sujeito e
do sentido, pois o sujeito não poderia atravessar, e não seria atravessado pelos
diferentes discursos (Orlandi: 1997:81).
O que deve ficar claro é que o produto final (o mapa-site turístico) tem que fazer
sentido para quem o utiliza, consome, isto tanto em relação ao entendimento da
informação (leitura) quanto à motivação, de querer conhecer a localidade. E Orlandi
(2005:19) deixa claro que não há sentido sem a interpretação. Contudo, faz uma
ressalva: a interpretação é posta em questão pela análise do discurso, pois reiterando
o que já foi dito, ela não se fecha. O que se tem é a ilusão de seu fechamento, pois o
sujeito...
Isso faz com que o produto mapa-site turístico trabalhe uma visão mais superficial,
genérica, funcional, de fácil leitura e compreensão, e ao meso tempo motivadora,
lúdica da informação. Orlandi (2005: 52) resume todo o processo buscado pelo
pesquisador:
17
Como exemplo, cite-se uma oficina de mapas para alunos de escolas públicas, realizada em
Brasília: Amanda Cardoso, 13 anos, recortou a gravura de uma plataforma de petróleo e colou no
mapa da Venezuela. Sem perceber, ela estava estudando geografia e aprendendo a cultura daquele
país com a ajuda de jogos e atividades lúdicas desenvolvidas pelo projeto Caminhos do Futuro. (...) "É
bem melhor do que aprender nos livros. Eu gravei o conteúdo rapidinho", conta Amanda, que cursa a
sétima série do ensino fundamental no Centro de Educação Fundamental Incra 8, em Brazlândia, a 45
quilômetros de Brasília (MEC, 2007).
65
Inicialmente, Harley (1991) evidencia que a história da cartografia surge com o ato do
desenho de um mapa (representação do espaço) sobre um suporte disponível (pedra,
barro) possibilitando uma existência concreta à antiga abstração. Esse processo de
transposição do espaço real para o analógico gera um domínio intelectual do
universo.
linhas. O mapa certamente representa uma área de várzea do rio Eufrates, ao norte
da Mesopotâmia, datado de 2.500 a.C. (Raisz, 1969:9).
____________________________________________________________________
Em outro momento histórico, a segunda metade do século XIII, marcado pelo aumen-
to da atividade comercial, surge um tipo diferente de mapa: as Cartas Portulanas.
Esses mapas, segundo Raisz (1969: 21-22), teriam sido idealizados por almirantes e
capitães da frota genovesa, apresentando fins práticos de navegação pelo Mediterrâ-
neo, ou seja, baseados em medições feitas à bússola e a toponímia era estritamente
disposta nas áreas de portos, cabos e outros detalhes da costa (Figura 17).
Podem ser citados outros rápidos exemplos de relação entre mapas e a História. Em
Ramos (2000:35), lê-se que, se não fosse o forte imaginário popular ibérico, a viagem
às Índias poderia ter ocorrido antes. A igreja estimulava ainda mais esse medo. A
figura 18 mostra um mapa do período, repleto de representações dos supostos
elementos misteriosos.
__________________________________________________________________________
Nos séculos XV e XVI, o material cartográfico foi utilizado com vários fins: como
suporte à reivindicação de terras antes da efetiva ocupação e, logo em seguida, o
mapeamento, que servia ao reconhecimento, informações gerais e legitimava a
realidade da conquista do império. Eventualmente era usado como dispositivo de
pacificação, civilização, de exploração das colônias então definidas, e como
instrumento de divulgação das terras do Novo Continente (Harley, 1994: 281-282).
Acerca do último caso citado, Delano-Smith (1991) conta que, durante a elaboração
dos mapas, os cartógrafos europeus representavam o Novo Mundo à imagem do
Velho. Ilustrações procuravam não desestimular as futuras imigrações de colonos.
Desse modo, sobre a base do mapa, eram confeccionadas paisagens aprazíveis e
iguais às européias. Quanto aos habitantes nativos, os índios, quase nunca eram
lembrados, para que se alimentasse o mito de uma América européia.
____________________________________________________________________
Figura 19 – Exemplo de desenhos pictóricos encontrados
em guias náuticos dos séculos XVI e XVII
71
Essa nova cartografia teve sua expressão maior na França, tanto que o país foi o
primeiro a confeccionar um mapa preciso e detalhado de seu território (com
importante precisão topográfica), baseando-se na triangulação (um conjunto de
pontos que servem de referência) e símbolos codificados (figura 20). Para
confeccionar esse tipo de mapa se tornava indispensável conhecer a real forma da
Terra (Thrower, 1991).
____________________________________________________________________
Figura 20 – Mapas com base na triangulação
18
Grava a energia eletromagnética (a mais evidente é a luz refletida, natural ou artificial) que emana
dos corpos na superfície terrestre. O olho é um perfeito exemplo de sensor remoto, sendo que a
câmara fotográfica é provavelmente o mais familiar tipo de sensor remoto; logo, a fotografia nada mais
é que uma gravação gráfica de intensidade de energia (Cruz, 1981).
19
Destina-se ao processamento informatizado de dados georeferenciados, desde a sua coleta até a
geração de saídas na forma de mapas, relatórios, arquivos digitais, etc., devendo prever recursos para
a estocagem, gerenciamento, manipulação e análise (INPE, 2004).
72
Desonestidade.
20
É um sistema que processa dados gráficos e não-gráficos (alfanuméricos) com ênfase a análises
espaciais e modelagens de superfícies (INPE, 2004).
73
2ª) O sistema de referências, que se divide em dois grupos: o primeiro parte dos
mapas de pequenas e médias escalas mas que abrangem grande extensão de terra,
sofrendo interferência da curvatura do planeta. Esse conjunto utiliza as coordenadas
geográficas, em que o "x" determina a longitude e o "y" a latitude. Do segundo grupo,
74
fazem parte os mapas com grande escala – abrangem uma quantidade de terra
pequena em relação ao tamanho do planeta, sendo consideradas porções de
espaços planos. Esse conjunto utiliza as coordenadas retangulares, em que o eixo "x"
determina as letras para as coordenadas horizontais e o "y" determina os números
para as coordenadas verticais do plano cartesiano. Além disso, o sistema de
referências permite-nos o processo de orientação espacial geográfica, determinada
em graus, obedecendo às direções cardeais Norte, Sul, Leste e Oeste.
Criou-se, assim, o imaginário sobre qual seria a forma mais correta de elaborar um
produto cartográfico, associando o mapa às disciplinas modernas, somada à visão
eurocêntrica e ao crescente avanço tecnológico. Isso fez com que fossem
desconsideradas a maiorias dos mapas produzidos até então, purgando-os a ponto
de atingir um padrão considerado aceitável. O crivo era estabelecido pelo tempo
(história), cultura e uso da matemática no traçado dos mapas. Essa é a cartografia
científica que valoriza:
Harley (1991) continua relatando que os mapas da baixa Idade Média (o Hereford e o
Ebstorf) foram chamados de monstruosidades não-científicas e absolutamente
inúteis. Já mapas elaborados na Índia antes da ocupação britânica, com signos
desconhecidos e estilo pictórico, eram considerados simples curiosidades
cartográficas. Nesse mesmo caso estão os mapas dos índios americanos, os planos
de batalha traçados no solo pelos guerreiros maoris da Nova Zelândia, entre muitos
outros. Todos eram meros objetos de coleções etnográficas.
círculos imaginários, você poderia traçar milhões de milhões deles, cada qual
cortando o Equador num pontinho” (Seemann, 2006).
___________________________________________________________________________
Até que ponto as sociedades produzem mapas objetivos, precisos, em oposição aos
aspectos simbólicos, subjetivos, míticos 21, psicológicos? Kozel (2006) salienta que
este aporte cartográfico é identificado como instrumento de dominação e
manipulação, ancorada na conotação cientificista da verdade ou representação real.
21
Mito é uma mensagem sob a qual incide um uso social. Qualquer mensagem poderia, a rigor, ser um
mito, porém, consideram-se como mito mensagens que visem à naturalização da cultura. Todo sistema
semiológico é um sistema de valores, porém o consumidor do mito considera a significação como um
sistema de fatos (Girardi, 2006).
77
cada sociedade tem ou teve sua própria forma de perceber e produzir imagens
espaciais, chegamos a esta definição de mapa: “representação gráfica que facilita
a compreensão espacial de objetos, conceitos, condições, processos e fatos do
mundo humano”. O motivo de uma definição tão ampla é facultar sua ampliação a
todas as culturas de todos os tempos, e não apenas às da era moderna. Além
disso, ao considerar os mapas uma forma de “saber” em geral, ao invés de meros
produtos de uma prolongada difusão tecnológica a partir de um foco europeu, tal
definição permite escrever uma história muito mais completa.
Isso faz com que a velha história da cartografia passe por uma constante revisão.
Além disso, a nova história da cartografia permite que se entenda muito melhor o
objetivo da criação dos mapas. Voltando ao exemplo dos mapas chineses, é
comprovada a utilidade dos mapas como instrumento de poder: cadastral e
demarcatório de fronteiras, plano de conservação das águas, meios de fixar impostos,
etc. Contudo, os mapas chineses também recebiam influência da literatura, da
pintura, desempenhavam uma função ritual (comprovada pela presença em túmulos),
serviam como instrumento de adivinhação, predição astrológica, de fenômenos
celestes ou de proteção contra forças invisíveis (Harley, 1991).
No Brasil, esse tipo de material já é produzido há muito tempo, contudo, não por
profissionais especializados no assunto (como geógrafos e cartógrafos), o que
acarreta em materiais “cartográficos” de baixa qualidade.
Decisão por impulso – turista que age de maneira rápida, impulsiva, ou seja, o
consumidor muitas vezes atraído por folhetos, por material audiovisual, vídeos,
imagens na internet, programas de TV, filmes de roteiros. Logo, a conduta
impulsiva pode ser provocada a partir do uso adequado desses materiais de
comunicação informativa e publicidade, divulgação. As sugestões de viagens
não-consideradas pelo turista-cliente fazem parte de um segmento da técnica
de marketing do turismo, utilizadas nessas tomadas de decisões impulsivas.
O autor (Beni: 1998: 218) apresenta ainda, nove fases que o turista levará em conta
em seu processo de decisão quanto à escolha de um serviço e localidade, sendo
essencial serem conhecidas ao se elaborar um mapa direcionado ao setor do turismo:
79
A partir do que foi exposto, reitera-se o que já dito anteriormente: um mapa voltado ao
setor turístico deve ser funcional – indicar localizações, proporcionar aos turistas
conhecimento sobre as distâncias entre atrativos, ter símbolos eficazes, etc.
Entretanto, além disso, têm que apresentar um tipo de design que cumpra a função
de divulgar a localidade turística, e, por esta razão, sua aparência estética é
fundamental.
Dentro do complexo Sistema de Turismo – Sistur – criado por Beni (1998: 177), o
mapa turístico pode participar da política de distribuição, tanto como material
informativo (pontos e referências das atrações, distâncias, etc) quanto como material
de divulgação que é enviado aos intermediários (postos de vendas e central de
reservas, como hotéis, empresas de transporte, agências de viagens) e transmitido
aos consumidores.
O exemplo acima ilustra um entre uma grande variedade de contextos que procuram
métodos que disponibilizem maneiras distintas de visualização e experimentação dos
dados e das informações. Segundo Cartwright & Heath (2002), como resultado, tem-
se a possibilidade de várias interpretações de uma mesma informação, pois
diferentes usuários merecem diferentes estilos de representação. Faça aqui uma
ressalva: o estilo do cartógrafo deverá sempre respeitar as reais condições do usuário
em ter acesso à informação pelo usuário que ainda pode preferir usar somente um ou
diferentes tipos de mapa da mesma localidade, buscando, assim, um melhor
entendimento da destinação representada.
22
Pesquisa desenvolvida em 1995, que analisou mapas de visitação confeccionados em Israel entre
os anos de 1984 e 1994. Os mapas foram coletados nos escritórios de Informação Turística Cristã de
Jerusalém e de Turismo do Governo, hotéis, albergues, lojas de suvenir, livrarias, igrejas, e editoras de
mapas. Os mapas continham fundamentalmente representações de igrejas, locais sagrados e para
compras, ou seja, informações que interessam potencialmente a peregrinos e turistas (Collins-Kreiner,
1997).
81
(Cartwright & Heath, 2002), o que também facilitaria a compreensão (leitura), graças
ao recurso da redundância de informações.
____________________________________________________________________________
Inicialmente, é importante frisar que, com o rádio e o cinema, iniciou-se uma fase
decisiva na formação de símbolos de identificação coletiva (Canclini, 2003: 196-197).
E, após o advento do satélite, as possibilidades de comunicação instantânea
tornarem-se um fato, com destaque à televisão e à rede mundial de computadores.
____________________________________________________________________
Figura 24 - Comunicação em cibercartografia
O cartógrafo, então deve definir parâmetros com respeito ao que Canclini (2003: 152)
chama de comunidade hermenêutica possível em uma sociedade e seu tempo,
permitindo aos designers saber que graus de variabilidade e inovação podem
manejar, que públicos se relacionarão, definindo, assim, políticas de comunicação
para que os receptores entendam da melhor forma possível a atividade produtora de
sentido.
Cartwright & Heath (2002) apresentam quatro perfis de usuários quanto à elaboração
83
Tendo como referência o que foi exposto acima, conceitua-se o recurso comunicativo
da multimídia como o único produto que congrega o conjunto de várias mídias
agrupadas. Em Cartwright (1993), encontram-se algumas definições para multimídia.
Destacam-se aqui duas:
É inegável que tal tecnologia favorece e cria enormes possibilidades aos cartógrafos
na elaboração de inúmeros tipos de representações e interpretações dos fenômenos
espaciais nos novos mapas (Cartwright, 1993). As áreas discretas dos gráficos,
outrora representadas de uma forma mais singela, atualmente, podem fazer uso de
imagens, animação, filme, vídeo (Cartwright, 1996).
Tais recursos também fazem com que a tecnologia em multimídia permita o controle
84
Podem ser citados também – como já analisado em Fiori (2003: 125-127) – trabalhos
artísticos com mapas turísticos pictóricos, que empregam ilustrações de uma maneira
pobre e sem criatividade. É comum ver ilustrações que são simplesmente retiradas de
algum arquivo de figuras, sendo em seguida copiadas e coladas.
Finaliza-se esta parte com Vasconcellos (1993: 47) que, ao longo de anos de
experiência prática e de resultados concretos, relata: acredito que é preciso mais do
que motivar, despertar o interesse e conquistar... É fundamental “seduzir”... Um
caminho é desenvolver a percepção, usando todos os sentidos para aprender.
Santaella (1983: 58) brevemente conceitua o signo como um elemento que sempre
representa outro (coisa): seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar
esse poder de representar, substituir algo diferente dele. Conseqüentemente, o signo
não é o objeto, apenas está no lugar dele, representando-o de um certo modo e
numa certa capacidade. Ele pode ser interpretado por experiências concretas,
sentimentos ou pensamentos. Tudo dependerá da natureza e do potencial do signo,
além das condições intrínsecas de vivência de cada pessoa. O signo ainda é
composto de duas partes:
Sendo que o significado do signo não está no próprio signo, mas nos conceitos ou
imagens formadas na mente das pessoas. Isto nos faz supor que o significado de um
signo é outro signo, ou seja, uma imagem mental ou real, uma ação ou mera reação
87
gestual, uma palavra, um sentimento de alegria, e assim por diante (Santaella, 1983:
58).
____________________________________________________________________
Dondis (1991: 26) deixa claro não haver nenhuma maneira fácil, milagrosa, de se
desenvolver o alfabetismo visual. No entanto, atualmente ele é tão vital para o ensino
e acesso aos modernos meios de comunicação, quanto a escrita e a leitura foram
para o texto impresso.
O contato com o texto de Barthes (1964, 1984, 1989) permite concluir que os
mesmos conceitos trabalhados para a lingüística ajudaram a trazer uma maior
familiarização a outros níveis de comunicação referentes a mensagem gráfica. Por
exemplo: o autor fez formulações sobre a natureza da mensagem produzida pela
pintura, pelo desenho e pela fotografia, apresentando diferenças em relação à
mensagem escrita.
Conforma-se pela imagem pura, podendo estar ou não ordenada. Neste caso, pode
ser linear – a,b,c... 1,2,3 ou não linear – desenhos, mapas. As letras, os números, as
linhas, as formas e cores são os primeiros elementos visuais a serem compreendidos.
Esse domínio comum dos significados de conotação é o da ideologia, que deve ser
único em uma mesma sociedade, levando em consideração qualquer um dos
significantes de conotação ao qual recorra. Barthes (1990) continua esclarecendo que
a ideologia geral corresponde na verdade, a significantes de conotação chamados de
conotadores, sendo que o conjunto dos conotadores foram uma retórica, a qual
aparece, como a face significante da ideologia.
As retóricas variam fatalmente em razão de sua forma: som, imagem, gesto, etc. Já a
retórica da imagem – isto é, a classificação de seus conotadores – é, assim,
específica na medida em que é submetida às imposições físicas da visão (diferentes,
por exemplo, das imposições auditivas, táteis, etc). Em geral, as figuras nunca são
mais do que relações formais dos elementos; e esta retórica só poderá ser constituída
a partir de um inventário suficientemente vasto (Barthes, 1990).
c) A lingüística
23
Parte do plano simbólico da linguagem que corresponde a um conjunto de práticas e de técnicas. É
o caso de diferentes leituras da imagem, onde cada signo corresponde a um conjunto de “atitudes”,
como por exemplo, o turismo, a vida doméstica, o conhecimento no campo da arte, as leis de trânsito,
etc. (Barthes, 1990: 38).
90
A fixação pode ser ideológica e esta é, sem dúvida, sua função principal; o texto
conduz o leitor entre os significados da imagem, fazendo com que se desvie de
alguns significados e assimilem outros (Barthes, 1990).
91
O autor esclarece que a palavra, vista em sua forma literal, ou seja, denotada,
responde de maneira mais ou menos direta e parcial a pergunta: “o que é?”,
auxiliando pura e simplesmente na identificação dos elementos contidos na cena e na
própria cena. A função denominativa corresponde a uma fixação de todos os sentidos
possíveis (denotados) do objeto. Por exemplo, havendo um cartaz que representa um
determinado prato de um restaurante, o consumidor pode hesitar na identificação das
formas e volumes dispostos pela representação. Contudo, havendo um texto: “arroz e
atum com cogumelos”, aumenta-se consideravelmente o nível da percepção,
permitindo adaptar o olhar e a compreensão.
1) A dimensão sintática:
estudo das relações dos signos com outros signos
Souza (1992: 72) informa que, estando a sintaxe preocupada em estudar a estrutura
lógico-gramatical da linguagem, – as qualidades materiais do signo em seu jeito
concreto e particular de existir – os elementos gráficos de preocupação do designer
são: a forma, a cor, a textura, a magnitude, a intensidade, o movimento, o ritmo, a
composição, a pertinência a um sistema, etc.
intérprete, a saber:
Universal – pode denotar qualquer coisa, pois tem uma significação universal.
Por exemplo, a palavra algo, o pictograma de masculino, de hospital, etc.
2) A dimensão semântica:
estudo das relações dos signos com os objetos a que se referem
Segundo Souza (1992: 46), é nesta dimensão que os profissionais em design gráfico
deveriam despender noventa por cento de seu tempo.
____________________________________________________________________
A opção por um código é feita a partir de uma escolha que tem como referência o
meio de comunicação que transmitirá a mensagem (neste caso, um mapa) a alguém
(turista) através de um canal (folha de papel e tela de computador). Tal escolha não é
aleatória, pois analisa a natureza da mensagem e as particularidades do canal e do
meio de comunicação, para que, assim, os sinais ou unidades de significação (signos,
representações potencialmente pictóricas) sejam transmitidos da melhor maneira.
Oliveira (1977: 23), Santaella (1990: 63-68), Souza (1992: 73-83) e Carneiro (2001:
31-36) apontam três tipos de relações semânticas que se estabelecem entre o signo
e seu referente.
____________________________________________________________________
» O índice (ou indicador) – geralmente, dirige a atenção para aquilo que representa,
porém não se caracteriza por propriedades de semelhança com o objeto/idéia. É um
tipo de signo que funciona quando a mente interpretadora estabelece uma conexão
dual, ou seja, o interpretante do índice constata apenas a existência dos elementos
físicos: o real-concreto e a representação, normalmente tendendo a um maior nível
de abstração. O raciocínio não ultrapassa a compreensão do signo como existência
94
concreta, por interpretar simplesmente o que vê, sem maiores implicações quanto a
querer identificar, particularizar uma imagem. Por exemplo, ao se elaborarem
representações para caracterizar a morfologia do terreno, pode-se trabalhar com as
técnicas de sombreamento – simulando uma tridimensionalmente das formas, mas
não buscando uma ilustração particular, única e sim genérica – ou então, com cores e
tons identificam-se as diferentes altitudes do terreno (Figura 31).
____________________________________________________________________
Figura 31 – O índice: o desenho não guarda
semelhança direta com o que representa
Essa dimensão faz com que o produtor se preocupe mais com a representação e com
o fato de ela ser compreendida e aceita, desenvolvendo símbolos que sejam
eficientes aos mais diferentes tipos de pessoas (pertencentes ou não a mesma
cultura).
Por fim, Joly (1990, 18, 19) divide os símbolos em várias categorias (Figura 33):
O autor (1990: 19) complementa que o uso dos símbolos naturais, figurativos ou
analógicos tem sido a tendência histórica mais antiga na elaboração de mapas.
____________________________________________________________________
Figura 33 – Símbolos cartográficos
Essa dimensão com problemas relativos à função da representação – para que e qual
96
____________________________________________________________________________
Figura 34 – Dois níveis diferentes de representação da mesma realidade
Bertin (1996) afirma que o emprego das variáveis visuais no plano bidimensional faz
uso das propriedades perceptivas de cada uma delas. Neste momento, é importante
ressaltar que MacEachren (1994, 1995) vem trabalhando e aumentando a relação
das variáveis visuais, tendo como base as duas dimensões do plano, uma
perpendicular à outra: a longitude (X) e latitude (Y). Elas originam as coordenadas
geográficas, também chamadas de componentes de localização, determinando uma
superfície. Some-se ainda o componente de qualificação (Z), que permite uma
modulação do fundo do mapa por uma mancha (cor ou sinal) – característica do lugar
representado – que pode ser qualitativa, quantitativa ou ambas. A extensão (mancha)
do objeto ou fenômeno divide-se em três modos de implantação: pontual, linear e
zonal (Joly, 1990: 14) – Figura 35. É importante ressaltar que Fiori (2003: 72-88) já
apresentou detalhadamente cada uma das variáveis visuais.
E, para que isso aconteça, o redator gráfico (cartógrafo) precisa analisar a natureza
quantitativa, ordenada ou diferencial dos dados a serem transcritos, selecionando a
variável visual correspondente. Deste modo, o processo de escolha dos signos
condiciona-se pelas propriedades limitadas das variáveis visuais, permitindo assim
uma leitura de conjunto – mapas para ver – o principal objetivo da representação
gráfica (Vasconcellos, 1993: 35).
98
liberdade não existe em cartografia! É por esta razão que a cartografia é uma
linguagem universal, uma linguagem finita e rigorosa que tem apenas UMA
ORDEM VISUAL. Adotar qualquer convenção, outra que não imposta pela
fisiologia é afirmar que 2 é igual a 5... é ser cego!
Dacey (1978) finaliza que a linguagem das informações geográficas e dos modelos
cartográficos tradicionalmente se caracteriza pela linguagem dos símbolos
(usualmente abstratos, fisiológicos) de maneira multidirecional, necessitando, assim,
99
de uma estrutura organizada com conceitos de ordem. Essa estrutura faz a junção
dos símbolos entre dois mapas ou entre os símbolos de vários mapas de um modelo
cartográfico, e é denominada de linguagem bidimensional.
____________________________________________________________________
Assim, o emissor é livre para escolher os signos do mapa que elabora, devendo
encontrar o caminho mais eficaz em sua comunicação com o receptor, logo o
produtor deve levar em consideração:
100
24
Realização de cursos e oficinas com alunos e, principalmente, professores da rede pública,
trabalhando conteúdos referentes à cartografia temática e ao turismo. Inicialmente as atividades
ocorriam por meio de uma parceria entre o LEMADI (Laboratório de Ensino e Material Didático), a AVT
(Academia de Viagens e Turismo) e o IAP (Instituto de Academias Profissionalizantes).
Posteriormente, fui convidado a participar do Projeto Caminhos do Futuro - parceria do Ministério do
Turismo com o IAP, a AVT e o Núcleo de Turismo da Universidade de São Paulo - onde continuei
realizando oficinas. A oportunidade possibilitou aplicar alguns pontos de minha pesquisa em cidades
de 16 estados brasileiros (Caminhos do futuro, 2007).
101
Grosso modo, pode-se definir a imagem como um ato fisiológico, ou seja: surge de
um feixe de luz que entra pelo olho e chega até a retina, sendo capaz de se adaptar a
graus de iluminação e diferenças de intensidade de radiação da luz a partir dos
diferentes pontos do campo visual (Keates, 1982: 15). Entretanto, agregam-se a esse
ato perceptivo implicações mais profundas envolvendo, por exemplo, valores sociais
e culturais, que imprimirão percepções e impressões à imagem, tornando-a afetiva,
imprecisa e estabelecida em campo semântico não-delimitado (Coelho, 1993: 21).
Beni (1998: 220) ratifica o que foi dito acima, afirmado que a percepção é um
processo pelo qual o indivíduo apreende a realidade pelos sentidos, selecionando,
organizando e interpretando a informação. Há uma interação entre o estímulo do
entorno físico (fisiológico) e o estímulo social (experiências já vividas e armazenadas
na memória, com as do presente), criando assim quadros do mundo e fazendo da
percepção um contínuo fluxo de idéias.
Até porque, a polissemia é inerente à imagem, que tem como característica uma
“cadeia flutuante” de significados entre a linguagem literal denotada e a linguagem
simbólica conotada (figura 37). Como reação à incompreensão, as sociedades
produzem diversas técnicas destinadas a fixar tal cadeia de significados (Barthes,
1990: 32).
25
A busca da objetividade na comunicação visual faz com que o produtor pesquise – incessantemente
– o universo de imagens de cada indivíduo extraindo somente aquelas que são comuns a todos num
dado momento e local, independentemente do gosto pessoal do seu criador (Souza, 1992: 44).
103
____________________________________________________________________________
Por fim, o artigo da Tourismus Börse (1987) discorre sobre os denominados mapas
104
Em seu estudo, Lubbe (1988) exemplifica que as imagens primárias são concebidas
em diferentes perspectivas, contudo, foca-se na cultura. A autora apresenta e
compara dois tipos distintos de visão: os sauditas (moradores locais da Arábia
Saudita) e os visitantes (moradores não-nativos do país). Entre vários resultados de
sua pesquisa, Lubbe apresenta diferenças significativas relacionadas à motivação e
seleção do destino, pois estes dois públicos constroem suas imagens primárias
baseadas em diferentes fatores push e pull. A principal diferença percebida pelos
agentes de viagem sauditas é que os não-nativos (e particularmente os ocidentais)
são um público mais aventureiro, desejam ver, experimentar novos lugares, com
menor familiaridade. Em contrapartida, os sauditas são geralmente motivados a
26
É um novo estilo cartográfico, que consiste em uma adaptação moderna do antigo estilo
tridimensional. A visão oblíqua favorece uma rápida compreensão da geografia e suas várias “texturas”
– grafismo da paisagem – (bairros, monumentos e edifícios significativos e de interesse) resultando em
uma fácil localização (Guia T de Barcelona, 1992).
27
Está relacionado aos serviços de lazer que geram sentimentos de prazer rápido, que emocionam e
por fim, motivam. Qualidades díspares como excitação e relaxamento são imprescindíveis aos fatores
push (Chon, 1989).
28
Está relacionada aos fatores onde a familiaridade, a similaridade de cultura, de tradição ou da
alimentação é maior (Chon, 1989).
105
Segundo Goossens (2000), o que conectaria dois perfis de turistas tão distintos é o
conceito da emoção. Os consumidores, e em particular os turistas, são “empurrados”
por suas necessidades (emocionais) e “puxados” (emocionalmente) pelos benefícios
dos serviços de lazer. Portanto, as necessidades emocionais e de experimentação 29
são relevantes na procura do prazer e no comportamento de escolha da destinação.
Isto faz com que o lazer seja uma experiência positiva e subjetiva, acompanhada de
satisfatórios e agradáveis humores, emoções e sentimentos.
Wolfgram (1994: 7) complementa que, para gerar uma resposta emocional, é preciso
estimular os sentidos apropriados. Até porque,
29
Os processos de experimentação, tais como a imaginação, devaneio, emoções e desejos possuem
um importante papel no consumo hedonista (Goossens, 2000).
106
Tais emoções podem ser operacionalizadas por experiências subjetivas 30, avaliação
afetiva e relatos de sentimentos sobre os produtos de lazer e atrações turísticas. No
entanto, a motivação traz intenções comportamentais em direção às atrações
turísticas (Goossens, 2000).
Some-se ainda que as emoções do visitante são realmente obtidas durante o período
de consumo, quando sinais afetivos na memória integram-se aos sinais de satisfação,
gerando assim a possibilidade de julgamento, escolha (Gnoth, Zins, Lengmueller &
Boshoff, 2000).
30
A questão da grande subjetividade da imagem de uma destinação turística é resultado da existência
dos diferentes tipos de públicos: residentes, vendedores, turistas, planejadores, etc., somada à
intangibilidade do serviço turístico, que depende de uma visita e/ou gosto pessoal em relação a uma
destinação. Portanto, são as percepções que motivam os consumidores a viajar (Gallarza, Saura &
Garcia, 2002).
31
Referem-se às representações mentais, sendo um processo lento, onde ocorre o conhecimento que
se tem de uma classe de objetos ou de fenômenos que possuem uma característica comum,
apoiando-se no concreto. Por exemplo: para saber o que é um homem, nada melhor que vê-lo
(fisicamente) ou por meio de uma foto/desenho, pois assim se perceberá que existem homens de
tamanhos e cores diferentes, mas que não deixaram de ser homens, pois todos possuem
características comuns; por exemplo, todos têm duas pernas e variáveis a cor dos olhos (Falcão,
1988).
32
É freqüentemente descrito por sentimentos intensos, associado a um estímulo específico. Refere-se
ao impulso, sentimentos e instintos (Goossens, 2000). Todos os indivíduos têm sentimentos, valores,
atitudes, emoções, etc., em relação a estímulos ambientais. Por exemplo: um indivíduo sente-se bem
ao ver seu quarto limpo, arrumado, porque ele aprendeu a gostar da limpeza: a sujeira para ele é vista
de forma desprazerosa. Dessa forma, também pode se apresentar graus de afetividade em relação à
democracia, ao gosto pelo estudo, a ideais de vida, ao tipo de destino das férias e assim por diante
(Falcão, 1988).
33
A informação pode ser descrita como viva quando atrai, mantém a atenção e excita a imaginação de
forma emocionalmente interessante, concreta e desencadeadora de imagens. Está relacionada a uma
aproximação das vias sensoriais, temporais ou espaciais (Goossens, 2000).
107
Naturais ou artificiais.
De alimentação;
Sirgy & Su (2000) ressaltam, pela longa tradição em pesquisas com consumidores,
que as idéias que os turistas têm sobre uma destinação são usadas como uma forma
de referência cognitiva na avaliação da memória dos símbolos da localidade. Essas
lembranças dos produtos simbólicos referem-se a imagens estereotipadas 34 – não
controláveis pelos planejadores do turismo – dos usuários sobre o destino turístico,
como por exemplo: está na moda, é excitante, é moderno, é novo, é ultrapassado,
etc.
Mackay & Fesenmaier (1997), Lubbe (1998) e Gallarza, Saura & Garcia (2002)
balizam ainda a imagem da localidade em três níveis de variáveis:
34
Apresenta duas formas positivas de aproveitamento: atua como atrativo turístico e revaloriza a
cultura local (Norrild, 2001).
35
Refere-se a atratividade vem da complexidade do espaço, como por exemplo: suavidade, excitação,
conhecido/desconhecido e natural/antropomorfizado, etc. (Mackay & Fesenmaier, 2000).
109
____________________________________________________________________
Figura 38 – Motivações para se viajar: fatores “push e pull”
Por isso, o emissor da mensagem (no caso, o cartógrafo), deve estar muito
consciente da imagem que quer comunicar e quais serão os receptores da imagem.
Até porque ele funciona como um “porta-voz”, por transmitir características culturais
pertencentes a um grupo social (Norrild, 2001).
Goossens (2000) sugere que sejam dadas instruções claras quanto ao contexto que
fará uso da imaginação. Considerando o processamento das informações turísticas e
as necessidades relacionadas à visão de consumo, propõem-se duas situações
distintas:
A partir do que foi exposto até aqui, passa-se a outra questão: como transformar as
imagens percebidas na realidade em representações gráficas pictóricas eficazes.
Carneiro (2001: 26; 29) afirma que pelos canais de percepção – os cinco sentidos
básicos (visão, audição, tato, olfato e paladar) – o ser humano pode decodificar uma
idéia e, a seguir, codificá-la novamente em uma nova estrutura – mensagem –
transmitindo finalmente a um receptor que a perceberá por meio de seus sentidos. O
sucesso quanto à compreensão da mensagem virá desde que o repertório 36 seja
conhecido. A autora ressalta ainda, que grande desafio da comunicação é que...
36
São coleções, compilações de itens de mesma natureza que, reunidos, conformam um conjunto
(Carneiro, 2001:8). Pode-se entender como um conjunto ou estoque de símbolos conhecidos (uma
espécie de vocabulário) utilizados por um ou mais indivíduos. (...) Quanto mais rico for o repertório da
mensagem e o número de seus elementos, maior será o seu alcance, ainda que não existam repertó-
rios de extensões idênticas, em virtude das diferentes experiências pessoais (Carneiro, 2001: 26-27).
111
Controle seus movimentos oculares de busca. Isso faz com que o exercício da
percepção ocorra de um modo ativo, pois os olhos realizam uma espécie de
varredura visual. Explicando melhor, o observador sem que se dê conta, em
um lance de visão pode registrar, passear por algo que está percebendo e,
nesse acontecido, pára e recolhe os elementos que o são importantes.
Em qualquer uma das três unidades funcionais do cérebro, o observador sempre tem
uma intenção em sua maneira de perceber, pois vê o que o interessa, o assombra,
lhe agrada. O passo seguinte é identificar, acomodar e até – quem sabe – modificar
tais percepções condicionadas pelas experiências anteriores. Neste momento se faz
presente a importância da intervenção da inteligência, do estabelecimento de juízos,
de comparações, que vão situando com maior objetividade o que é percebido.
Tuan (1980: 71) aponta vários estudos realizados acerca das diferenças de
percepção diante dos valores ambientais. O autor exemplifica que, em seu cotidiano,
cada membro de uma família ocidental possui diferentes mapas mentais. Isto ocorre
112
O aventureiro: viaja com amigos e não com turistas, desconhecidos, porém faz
amizade com novas pessoas. Viagem não-organizada; valoriza atividades
opcionais. Não é disciplinado, organizado. Evita aborrecimento e tédio pela
parada em muitos lugares. Explora diferentes culturas, busca atividades
estimulantes, tem senso de liberdade.
Outro ponto observado diz respeito às atitudes e reações, inclusive estéticas, que se
tem com relação ao meio ambiente estabelecido em um tempo e espaço. Tuan (1980:
81-85) aborda as mudanças de atitude em relação às montanhas. Na Antiguidade,
eram vistas com aversão e terror pelos gregos, ou mistério e divindade pelos
chineses. No século XVIII, por se tornarem acessíveis, perdem muito de sua
113
Um último tópico destacado por Tuan (1980: 236) refere-se a imagem que promove
favoravelmente um destino, mas que pouco respeita a complexidade, a verdade local,
deixando clara a preocupação de grupos que desejam chamar a atenção do público –
externo a localidade – para uma característica particular dela. Isso pode ocorrer a
partir de um epíteto ou frase atraente, como: a Cidade luz (Paris), a Capital da vela
(Ilhabela), Cidade maravilhosa (Rio de Janeiro), etc. Ou por uma cena ou fotografia
de uma vista panorâmica de Nova Iorque, São Paulo, Ouro Preto, Brasília, e assim
por diante. Entretanto, é bom ressaltar que essa imagem, para ser eficaz, deve estar
fundamentada em alguns fatos. O autor frisa que cidades dos Estados Unidos – o
mesmo pensamento pode ser aplicado às cidades brasileiras – carecem de uma
identidade visual, existindo, porém, algumas exceções. No entanto, mesmo as
cidades menores vendem cartões postais, que valorizam aspectos de suas
localidades, aceitos por favorecê-la, divulgando seus monumentos, parques, ruas
principais, proporcionando um direciona-mento quanto ao imaginário local.
37
Detalhes sobre o Projeto Caminhos do Futuro nas páginas 16 – 17.
114
Deste modo, o meio ambiente pode não ser a causa direta da topofilia 38, mas fornece
estímulo sensorial que, ao agir como imagem percebida, dá forma às nossas alegrias
e ideais (Tuan, 1980: 129). O autor prossegue afirmando que os estímulos sensoriais
são potencialmente infinitos, por existirem valores subjetivos, individuais àquilo que a
pessoa decide prestar atenção, valorizar. A época histórica e as respectivas forças
culturais têm papel preponderante nessas escolhas.
Posto isso, Souza (1992: 97) divide a imagem em dois tipos básicos:
Souza (1992:97-98) ainda esclarece que as imagens feitas pela humanidade são uma
elaboração gráfica, cultural e povoam um mundo artificial denominado iconosfera,
sendo produto do design gráfico. As imagens são todas aquelas desenhadas para
serem apresentadas em formato digital ou impressas e capazes de serem
decodificadas pelo maior número de pessoas. Quanto às técnicas de produção,
podem ser feitas à mão – desenho, pintura, grafite – ou podem ser resultado de
procedimentos mais complexos pertencentes ao domínio da tecnografia – fotografia,
computação gráfica. As imagens ainda podem ser:
38
Associa sentimento ao lugar. Inclui todos os laços afetivos e emocionais que os seres humanos têm
com o meio ambiente. Os laços diferem profundamente em intensidade, sutileza e modo de expressão,
ou seja, pode-se olhar para o meio ambiente de forma estética, variando desde o prazer efêmero de
uma vista até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas com maior intensidade, até uma resposta
tátil-contato físico: o deleite do sentir a ar, a água, a terra. Já mais difícil é expressar os sentimentos
que se nutre pelo lugar, lar, o locus de reminiscências (passado que evoca orgulho) e o meio de
ganhar a vida. Contudo, quando o lugar ou o meio ambiente é irresistível, eles se tornam veículos de
acontecimentos emocionalmente fortes ou são percebidos como símbolos (Tuan, 1980: 107).
116
O próximo passo então é a apropriação e escolha dessas imagens para que se inicie
o estágio da codificação direcionada à mensagem gráfica. Brill (1988: 35) parte do
princípio de que o homem é um ser racional, o que o torna capaz de simbolizar sua
própria experiência vivida. Essa função simbólica possibilita captar a sua vivência,
expressando-a, podendo memorizá-la para si mesmo ou transmiti-la a outras
pessoas. O ato de comunicação entre os homens está na base da função simbólica,
possibilitando trocas de idéias entre indivíduos do mesmo grupo social, por meio dos
códigos encontrados, por exemplo, na linguagem falada, escrita e nas artes (como o
desenho). Tal recurso da comunicação codificável faz com que os grupos possam
constituir-se em sociedades, estabelecendo funções que caibam a cada indivíduo, e
regras que regem a comunidade. Pelo processo de ação dos códigos, regras e
costumes, há uma cristalização de formas relativamente permanentes, o que
determina o aparecimento da tradição.
Souza (1992: 221) ratifica que, quando o designer passa pelo processo de escolha
dos traços visíveis do objeto (enfatizando-os ou excluindo-os propositalmente), ele
exprime um saber não apenas pessoal, mas também social. Isso ocorre porque traz
consigo um jeito convencional de observação da realidade, profundamente
governada pela intenção comunicativa que deseja transmitir pelo desenho. Portanto,
a imagem funcional mostra não somente a maneira como o designer vê o mundo: vai
além, mostrando de que maneira ele traduz o modo de a sociedade ver o mundo.
sua vida. E é a partir daí que as formas gráficas são percebidas, cabendo, então, ao
cartógrafo trabalhar incansavelmente com o poder denotativo e conotativo das
representações.
Para isso, ele tem o dever de dominar o uso das linhas, formas (seus limites e
texturas), cores, da luz, volumes e perspectivas, possibilitando várias sensações
visuais e emocionais ao espectador. Cabanellas (1976: 17) complementa que esses
elementos plásticos básicos se desenvolvem sobre uma superfície, sendo dispostos
em uma determinada ordem, de modo que, paralelamente ao ato compositivo 39, cria
um espaço plástico – que é a obra propriamente dita.
De acordo com Bourdieu (1974: 293), uma obra contemporânea – que pode ser o
mapa turístico – é assimilada a partir da relação que os produtores mantêm com uma
determinada época e sociedade, gerando, assim, códigos. Esse contexto é fruto da
relação que o produtor do mapa possui com o restante da sociedade e, em particular,
com as demais células das classes dominantes, ou seja, os consumidores, com seus
gostos e suas demandas.
39
Com base em Cabanellas (1976: 45), pode-se dizer que a composição do mapa pictórico é uma
disposição ordenada dos elementos plásticos – visuais – tendo como referência o espaço. Dada uma
composição, as formas são subordinadas a um esquema, situadas umas ao lado das outras em ordem
mais ou menos complexas. Portanto, ao olhar para as várias ilustrações em um mapa pictórico, o
observador agrupa mentalmente as formas, selecionando-as em ordem de modo que sua visão possa
percorrê-las com facilidade. Ás vezes, os elementos são agrupados por similaridade de direção, forma,
semelhança de cor, textura, etc.
40
É um conjunto de esquemas implantados desde a primeira educação familiar, sendo continuamente
repostos e reatualizados ao longo da vida social do indivíduo (Bourdieu, 1974: XLII). Toda ação
histórica e/ou social reflete(m) dois estados: o objetivado, que é a história acumulada ao longo do
tempo nos objetos, nas máquinas, edifícios, monumentos, livros, teorias, costumes, direito, etc., e o
incorporado: podendo se tornar um habitus, que constitui a matriz que dá conta de uma série de
estruturações e reestruturações pelas quais passam as diversas modalidades de experiências
diacronicamente (evolução de fatos no tempo) determinadas pelos agentes (Bourdieu, 2000: 83).
118
Tendo como princípio que se vive num mundo socialmente construído, os principais
elementos relacionados à produção e ao consumo dos mapas são a identidade – dos
produtores dos mapas e usuários – e as percepções relacionadas tanto ao ato de
desenvolvimento quanto à utilização desse tipo de material cartográfico. Esses itens
podem esclarecer não somente os motivos encontrados por trás dos eventos
cartográficos, mas também o quanto o mapa pode ser eficaz em comunicar a
informação (Harley, 1994: 281).
Para entender melhor o que seriam estes aspectos materiais e imateriais, introduz-se
o conceito de patrimônio, estabelecido pela UNESCO (2007): é o legado que
recebemos do passado, vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações.
Nosso patrimônio cultural e natural é fonte insubstituível de vida e inspiração, nossa
pedra de toque, nosso ponto de referência, nossa identidade.
Natural
Cultural
Imaterial
A natureza e sua respectiva fauna, flora, ecossistema e paisagem – esta última sendo
a principal variável como ponto de confluência entre os fatores ambientais e
antrópicos – são atrativos por excelência do ecoturismo, que tem maior importância
quanto mais elevado for o seu grau de intocabilidade e de aspectos singulares e
únicos. Portanto, o ecoturismo prioriza a preservação do espaço natural onde é
realizado, e seu projeto contempla a conservação diante de qualquer outra atividade.
Por sua vez, a população autóctone, sua cultura e seu modo de vida estreitamente
apegados à natureza que lhes serve de meio de vida e de entorno é o foco de uma
abordagem ecoturística que valoriza a autenticidade e a dignidade dessas
populações e sua cultura. Além disso, essa população local participa dos serviços
prestados aos turistas (Pires, 1998: 76;157-158).
Posto isso, deve-se levar em consideração que, na última década do século passado,
visitantes e turistas que nunca haviam pensado em sair dos roteiros convencionais ou
mesmo do meio urbano, começaram a se interessar por atividades que antes
(décadas de 60, 70 e 80 do século XX) eram desenvolvidas principalmente por
pessoas caracterizadas pelo alto espírito de aventura, desprendimento quanto ao
41
Podem estar relacionadas ao uso indireto e direto. As UCs de uso indireto referem-se às áreas
destinadas somente à conservação integral da biodiversidade, à pesquisa científica, à educação
ambiental e à recreação. É terminantemente proibido explorar os recursos naturais desse tipo de UC.
Esta categoria abrange os parques (Nacionais, Estaduais e Municipais), as estações ecológicas,
reservas biológicas e ecológicas, áreas de relevante interesse ecológico, reservas particulares do
Patrimônio Nacional e áreas sob proteção especial. Já as UCs de uso direto são as “áreas destinadas
à proteção e manejo de recursos naturais”, como: as florestas nacionais, as áreas de proteção
ambiental e as reservas extrativistas (Furlan, 2000: 195-196).
121
Pires (1998: 59) cita o novo ecoturista como possuidor de uma menor informação e
experiência do/no meio natural. Podem ser qualificados como curiosos que têm poder
aquisitivo para comprar pacotes atrativos, motivados pela onda ecológica ou ainda
pela simples influência de conhecidos que experimentaram a atividade. De acordo
com Lima (2002: 94), ocorre uma adaptação desse tipo de viagem, não dirigida a
especialistas.
O interesse crescente atinge vários países da América Latina (entre eles o Brasil),
África e Ásia (Pires, 1998: 58). Nessas áreas, há um apelo do turismo de aventura e
esportivo, que envolve uma atmosfera de descobertas, desafios, isolamento e contato
com o inusitado, no qual se desenvolvem as mais diversas modalidades e riscos dos
chamados esportes da natureza entre eles, a escalada, o trekking, o canyoning, o
rafting, o vôo livre, o rapel, o surfe, o windsurfe, o mergulho, o esqui-aquático, a
motocross, etc. (Pires, op. cit.:122).
42
Excursionistas, alpinistas, aventureiros, naturalistas, cientistas, estudiosos, estudantes (universitários
ou participantes de excursões escolares voltadas ao estudo do meio) e aficionados. Seja qual for à
categoria de ecoturista, este só pode ser considerado como tal desde que seja envolvido ou que se
envolva com aspectos conservacionistas e educativos que dão a verdadeira dimensão ao ecoturismo,
sem a qual serão considerados simplesmente turistas (Pires, 1998: 15). Entretanto, na década de 90
do século XX, houve uma evolução do ecoturismo, visando a um melhor atendimento ao público mais
geral, isto é, o empreendedor, mesmo mantendo sua capacitação para atender o segmento do
mercado puro, original, também teve que se adaptar à nova tendência, passando a oferecer um tipo de
produto compatível com as preferências do novo ecoturista (Pires, op. cit.: 58-59).
122
____________________________________________________________________
Figura 41– Estabelecimento de três níveis de dificuldade
para as trilhas em Ilhabela
O outro tópico já relacionado e que pode ser representado sobre o mapa são os
atrativos culturais, sejam materiais sejam imateriais.
Nos últimos vinte anos do século XX, os atrativos culturais vêm recebendo uma maior
atenção do público-turista no plano mundial (Patin, 2005).
Alzua, O’Leary, Morrison (1998) reiteram que a cultura e, por conseguinte, todo o seu
patrimônio está se transformando nas duas maiores forças de revitalização urbana e
econômica. O turismo cultural torna-se cada vez mais importante às destinações
preocupadas em atrair mais visitantes internacionais.
O termo turismo cultural e patrimonial tem sido usado para descrever não somente o
consumo da arte, monumentos, folclore, mas também para tratar de experiências e
motivações dos turistas no local da destinação escolhida. Em um sentido amplo, o
significado da cultura e do patrimônio é resultado da estrutura étnica e social. E, em
um sentido particularizado, são as influencias provenientes da experiência familiar, do
grau de escolaridade, da vizinhança e de muitas outras experiências do dia-a-dia. O
patrimônio e a cultura, quando combinados com o lazer e o turismo, podem ser
considerados um dos fenômenos mais significativos ao rápido crescimento do turismo
(Alzua, O’Leary, Morrison, 1998).
43
As dimensões temporais estão no âmago da compreensão das estruturas cognitivas. Toda a vida
social com suas múltiplas manifestações culturais é antes a orquestração da diversidade do que a
réplica da uniformidade (Coelho, 1993: 20).
44
Pessoas no mundo inteiro (crianças e adultos) adquirem a schemata por meio da arte conceitual,
que parte da premissa de que todo o registro visual não é uma certeza, mas uma conjectura
condicionada a um público e uma tradição. Portanto, julgando a arte de maneira conceitual, não se
pode afirmar se as pinturas ou os conceitos (substantivos comuns que representam, classificam algo,
como, por exemplo, um homem, um cachorro ou uma flor) são verdadeiros ou falsos, pois podem ser
apenas mais ou menos úteis à formação de descrições (Gombrich, 1995).
124
Um artista gráfico treinado possui uma grande quantidade de schematas que servem
de apoio para as representações das imagens que estão em sua memória. E,
logicamente, esses registros jamais serão uma réplica, pois a quantidade de
informações que chega do mundo visível é incalculavelmente grande, e os meios à
disposição do artista são restritos. Conseqüentemente, as formas de arte, antigas e
modernas, não são mais do que as duplicações as quais o homem vê do mundo
exterior. Essas transcrições são feitas a partir de um dado veículo adquirido, que se
desenvolveu pela da tradição e habilidade. A representação não sendo, portanto,
uma réplica, constata sua eficácia, desde que retenha a natureza eficaz do protótipo,
isto é, deve funcionar tão bem, ou melhor que o real (Gombrich, 1995). Assim, o
grande desafio do cartógrafo é inventar representações gráficas da realidade que
funcionem para o maior número de pessoas.
A questão central a enfrentar está relacionada à subjetividade, uma vez que muitos
materiais visuais, como o desenho documental e a fotografia, costumam ser
associados a um grau de autenticidade da informação que, na verdade, não
possuem. As ciências sociais tratam as imagens de forma positivista, como
descrições da realidade e não como representações simbólicas, cuja leitura não
apenas varia segundo o olhar do espectador como também é decorrente da própria
natureza construída da imagem (Porto Alegre, 1988: 75-76).
Esse autor (op. cit.: 80-81) ressalta, então, os cuidados que devem ser tomados em
uma pesquisa iconográfica:
Cite-se ainda Pires (1996), ao afirmar que as qualidades visuais do território são
compostas de elementos naturais e artificiais, sendo que é pela visão que se
percebem e se discriminam quatro grandes componentes paisagísticos no território: o
relevo, a água, a vegetação e as atuações humanas 45, que são capturados da
realidade. Para isso, utiliza-se das mais variadas técnicas – representações artísticas
tais como gravuras, quadros e ilustrações, documentos históricos, fotografias e
filmagens – gerando assim formas substitutas da paisagem. A figura 43 apresenta
dois exemplos do trabalho de Pires (1996), que utilizou as imagens turísticas de
cartões postais da região litorânea de Santa Catarina.
____________________________________________________________________
Figura 43 - As formas substitutas da paisagem
45
Os componentes da paisagem mais detalhados são: 1) Forma da terra: é o aspecto exterior da
superfície terrestre representado pelo relevo, pelas formas do terreno, por sua disposição e por sua
natureza. 2) Água: caracteriza-se pelas formas em superfície (mares, rios, lagos, neve e gelo), sua
disposição, monotonia e movimento. 3) Vegetação: apresentam distintas formas de vida vegetal
(árvores, arbustos e vegetação herbácea) com suas características específicas, sua distribuição,
densidade, etc. 4) Estruturas e elementos artificiais: são criadas por diferentes tipos de usos do solo ou
concentrações diversas de caráter pontual, linear ou superficial (Pires, 1996).
46
São os tipos diferentes de formas das quais o desenhista dispõe para fazer uma ilustração. É
importante frisar que apenas um único elemento visual, ou a composição com outros, configuram o
plano pictórico.
127
Mukarovsky (1981: 308) complementa que nenhum desses elementos visuais, nem
mesmo os mais simples de todos, como a linha e a cor, são meros fatos de
percepção sensorial, pois sempre têm uma determinada relação com a realidade
representada, isto é, cada um desses elementos significa de alguma maneira a
realidade, por trazer referência, destacar alguns de seus aspectos. Estabelecem, no
interior da obra pictórica, relações mútuas, pois as suas significações parciais unem-
se para formar a significação final e as suas relações parciais com a realidade dão,
como resultado, a referência global a ela.
Uma pesquisa realizada por Fiori (2003: 173-191) com os mapas turísticos pictóricos
de Ilhabela e São Vicente, constatou empiricamente que por volta de 85% de 160
entrevistados, aprovaram a escolha das imagens percebidas nos mapas. O resultado
descrito abaixo relaciona a preocupação do cartógrafo e a reação dos usuários:
Ilustrando tudo o que foi dito acima, a seguir serão são apresentadas algumas
respostas dissertativas retiradas de Fiori (2003: 181-183). Elas exemplificam a reação
dos usuários que utilizaram o mapa turístico pictórico, caracterizado pela grande
quantidade de imagens representativas:
Neste momento, é oportuno citar Arnold (1992), ao testemunhar que a ênfase dada
aos símbolos pictóricos no Pilbara Street Smart Touring Map 47 não foi por acaso,
pois tal recurso estilístico possibilitou o desenvolvimento de um mapa sem uma
legenda extensa, satisfazendo ainda aos visitantes que não tinham o idioma inglês
como língua mãe. A pictografia gerou um processo de simplificação da leitura do
mapa, provendo uma comunicação visual eficaz. Além disso, buscou estimular a
atividade turística naquele local pela descrição visual da paisagem, criando uma
atmosfera de aventura.
Esse tipo de recurso vem sendo usado, como aponta Harley (1994: 296), desde a
Renascença, quando a imagem do mapa vinha acompanhada por uma grande
quantidade de símbolos decorativos, presentes nos títulos e letras, na vinheta, na
rosa-dos-ventos e nas bordas. Todos esses elementos decorativos formavam o
vocabulário expressivo do artista e somavam-se ao assunto principal representado,
no caso, ajudando a fortalecer e focalizar os significados políticos do mapa.
A definição de estilo pode ser uma tarefa complexa e difícil de descrever com clareza.
Dondis (1991: 161) sugere que talvez a melhor maneira de estabelecer uma definição
seja vê-lo como uma categoria ou classe de expressão visual, modelada pela
plenitude de um ambiente cultural. Isto porque o estilo é uma síntese visual de
elementos representados, a escolha e utilização de técnicas, a sintaxe adequada, o
processo de inspiração, a forma de expressão e a finalidade básica do produto.
Segundo Wolfgram (1994: 104-110), pode-se dividir em: desenho livre (cartoon,
caricaturas, etc.); tradicional (é informativo, não muito interessante visualmente, mas
franco e informativo); alta tecnologia (focaliza ilustrações contemporâneas e imagens
47
Foi publicado em 1992 por órgãos públicos australianos; o Western Australian Departament of Land
Administration, Cartographic Services Branch e Department of Conservation and Land Management. A
confecção desse mapa turístico tinha como característica fundamental procurar atrair aqueles usuários
que não têm familiaridade com as técnicas de leitura de mapas (Arnold, 1992).
130
Veja-se, por exemplo, o caso dos pintores-etnográficos realistas citados por Porto
Alegre (1988: 88); o autor destaca o grande e rico acervo desses artistas que, mesmo
procurando não cunhar uma interpretação arbitrária e fantasiosa a suas
representações, apresentam certa ambigüidade nas imagens, devido à tensão entre o
realismo (mundo concreto) e o não-realismo (pictografia). Essa relação é intrínseca
ao processo de criação e interpretação vivida pelos artistas.
131
Entre outras áreas de estudo, essa definição coloca a cartografia muito próxima do
design, da comunicação e da arte.
Galeffi (1977: 41) ensina que uma obra de arte tem o poder de encantar, arrebatar o
observador que se dispõe a contemplá-la. Naquele instante de graça, não se pensa
em outra coisa: é como se vivesse num mundo ideal. Só depois, ao despertar do
sonho, é que o observador pode tornar-se crítico e, assim, analisar a mensagem que
o artista conseguiu transmitir.
Primeiro, pode ser vista como um objeto, por exemplo, um artesanato, uma
música, um quadro, um desenho, um discurso, que geram um efeito
psicológico, pois a obra é percebida, sentida e apreciada pelo receptor. Ela
visa tanto comover a alma quanto aliar utilidade ao belo.
O mundo da arte faz-se então pela cooperação material e social, a partir do grau de
132
Sendo assim, ao longo da história, cada tipo de arte produziu suas técnicas e, por
conseqüência, um conjunto de regras úteis ao processo de execução da obra. Desde
a Antigüidade, formou-se uma tradição normativa. Na realidade, é correto dizer que
foram gerados certos padrões estilísticos na vida simbólica de todos os povos, que
resistiram durante os séculos, resultado da regularidade interna e do enraizamento
comunitário (Bosi, 2000:17).
Brill (1988: 76) complementa que a função do artista deve ser a do mediador entre a
arte e a técnica, ambas indispensáveis e complementares. Para poder ser veículo
legítimo da expressividade de sua época e de seu meio, o artista deve estar arraigado
nesse meio. Logo, na época da cultura de massa, é justificável uma arte reproduzível,
seriada, divulgada. Todavia, não se pode esquecer que a arte é uma linguagem de
descoberta, e que também tem uma função conscientizadora, devendo ser sempre
renovada na mesma medida em que a sociedade se renova.
48
Segundo a sociologia e a antropologia são normas de ação ou costumes – aproxima-se do que
Bourdieu (1974) designa de capital cultural – ou seja, as convenções tornam possível que uma
orquestra funcione com coerência e se comunique com o público (Canclini, 2003: 39). Ou então: regras
e normas para o desenvolvimento de um mapa, entre tantos outros exemplos.
133
Desse modo, existe uma justificativa coerente para que se trabalhe com mapas
turísticos que utilizam amplamente os símbolos pictóricos, índices e ícones, mesmo
havendo uma resistência teórico-metodológica quando comparados aos mapas
convencionais. Todavia, é fato a existência e produção desse tipo de “mapa artístico”.
Tal material, na maioria das vezes, é desenvolvido por pessoas que não têm
preocupação com a qualidade cartográfica, tanto que freqüentemente, tais materiais
nem poderiam ser chamados de mapa 49. Por isso, ninguém melhor que um
cartógrafo para buscar soluções coerentes a esse tipo de material utilizado pelas
destinações turísticas.
Fiori (1999 e 2003) pôde perceber que o uso da pictografia, quando bem utilizada,
configura-se como uma forma de comunicação cartográfica alternativa para o mapa.
O mais importante é que o cartógrafo tenha consciência, respeito pelo limites
estilísticos idealizados durante a elaboração de suas representações. Logo, a
49
Grande parte dos “mapas” apresenta muitas deficiências cartográficas tais como: ausência de
escala, deficiência no sistema de referências (latitude/longitude e direções cardeais), legendas pobres
ou confusas, descaracterização da base cartográfica (sendo flagrante, por exemplo, a omissão de
grande parte das ruas, rios, trilhas); as ilustrações são empregadas de uma maneira pobre e sem
criatividade (pois provavelmente foram tiradas de algum arquivo de figuras, sendo, em seguida,
copiadas e coladas várias vezes), etc. Ver Fiori, 2003: 125-127.
134
prioridade é oferecer ao usuário códigos estéticos que sejam pré-conhecidos por ele,
mesmo que superficialmente.
O mapa turístico é configurado por uma dualidade: primeiro objetiva informar sobre as
atrações – quer naturais quer culturais – as atividades e as áreas de apoio (infra-
estrutura) de uma determinada destinação, localizando-as no espaço. Contudo, como
já citado anteriormente, também pode ser um subproduto de sua utilidade, servindo
como instrumento publicitário ou pôster (suvenir) para decorar um quarto, um
restaurante, uma loja, etc.
A autora ainda pontifica (Dondis, 1991: 184) que os objetivos dos meios visuais se
misturam, interagem e se transformam. Para que se compreendam os meios de
comunicação visuais, é preciso haver um conhecimento sobre eles, fundamentando-
se num critério de grande amplitude. As respostas a questionamentos sobre as
motivações que levaram o artista a conceber e produzir um dado objeto são fluidas e,
portanto, as perguntas também devem ser. O idealizador ou o artista deve, então,
interrogar a natureza de cada meio de comunicação que utiliza em seu trabalho, a
função ou níveis de função, a adequação, a clientela a que se destina e, por último, o
porquê histórico do produto.
Um outro ponto ressaltado por Canclini (1984: 54) deixa claro que a arte, como toda a
linguagem que quer ser comunicada, deve ater-se a códigos produzidos e manejados
socialmente. Deste modo, sendo a arte 50 resultado da vida em sociedade, pelo
menos desde as vanguardas do século XIX – por um lado participando da marcha
histórica e, de outro, pelo simples prazer da invenção – sofre condicionamentos, leis,
necessárias à ordem vigente. No entanto, mesmo condicionada, o que a distingue de
outros modos de transformação da realidade material e cultural é que a arte não
resulta só de privações, sendo foco de criatividade e de iniciativa social. Procura
mudar a realidade, indo além das leis, contribuindo, assim, para a ampliação no
campo do possível (Canclini, op.cit.:33).
O autor (Canclini, op.cit.:35) ainda enfatiza que a atividade artística é produtiva por se
apropriar da realidade por meio do trabalho, buscando satisfazer uma necessidade
social, de acordo com a ordem vigente de cada sociedade. Essa definição parece-nos
a mais válida em razão de sua capacidade de abarcar a totalidade do processo
artístico e de suas modalidades em diferentes sistemas econômicos e culturais.
50
Dondis (1991: 9) apresenta os “extremos” representativos de artes, ou seja, de um lado àqueles
referentes às belas-artes até as artes aplicadas: pintura, escultura, arquitetura, artesanato, fotografia,
artes gráficas e desenho industrial.
135
O trabalho ainda é fixado em padrões formais, como acesso rápido a cada link
(tempo), características técnicas padronizadas (como se dá apresentação no monitor
do computador, acesso pela linha discada ou banda larga), custo, etc.
Segundo Canclini (1984: 103), esse momento histórico permite que os artistas vivam
de seu trabalho. Em contrapartida, precisam submeter suas obras à homogeneidade
dos preços e às determinações estéticas dos usuários. Esta homogeneização resulta
do processo sócio-econômico que acabou sujeitando o artista ao intercâmbio
comercial, ou seja, um mesmo tipo de produto feito em São Paulo se parece com o
de Nova York, Roma ou Tóquio. Nessa perspectiva, é evidente que a arte é produzida
sob uma máscara promissora de uma expressão universal, porém sofrendo forte
influência da arte dominante, cuja universalidade é a do sistema capitalista. Outrora
os artistas sujeitavam-se às igrejas e às cortes, hoje dependem do mercado.
Deste modo, é essencial que o produtor do mapa tenha a clara consciência de como
seu material será utilizado pelo usuário e deve procurar maneiras para que ele seja
aceito e compreendido por diferentes povos e culturas. Contudo, deve busca ir além,
fazendo uso de seu conhecimento científico e técnico na área da cartografia e de sua
criatividade como artista, buscando encontrar um meio termo, senso comum na
elaboração de mapas específicos para o setor do turismo não partindo daquelas
idéias já usuais dos mapas convencionais.
Entretanto, é bom frisar que o cartógrafo do mapa turístico – que busca um produto
híbrido entre as técnicas convencionais e a pictografia – deve estar sempre atento e
preocupado com as regras cartográficas essenciais, como a escala, referências
geográficas e legendas coerentes. Levando-se em consideração pesquisas anteriores
(Fiori 1999 e 2003), justifica-se que o atual trabalho enfatize o uso da pictografia e
seu recurso de tornar as informações mais emotivas, atrativas, sedutoras.
Desenhar é um ato de criação, onde o artista busca soluções novas e coerentes para
se comunicar, e é esta sua faceta humana mais importante, porque não se pode
esquecer que a humanidade sempre contribuiu com novas soluções para aquilo que
se apresenta. De acordo com Cabanellas (op.cit.: 6), na intenção representativa da
realidade, o produtor escolhe o tipo de desenho mais adequado, tendo como
referência uma determinada finalidade. Assim, a ilustração pode ter um caráter
estético ou representativo e, dentro deste último caso, pode estar ou não sujeito a
normas e convenções. A representação obedece ainda a leis distintas segundo as
formas que se desenham: geométricas ou naturais (figura 44). O mapa pictórico trará
em seu desenvolvimento tanto intenções estéticas quanto representativas.
____________________________________________________________________
Figura 44 – Maneiras de se elaborar um desenho
humano.
____________________________________________________________________
Figura 45 – Três tipos de representações pictóricas
Ao tratar das escolhas e da elaboração dos vários itens que culminam no mapa final,
Mukarovsky (op. cit.:125) ressalta a importância da estética, que se configura como
atriz coadjuvante da função prática, por sua capacidade de atenuar conflitos e, por
conseqüência, buscar o aperfeiçoamento do aspecto técnico. Todos esses elementos
encontram apoio nessa espécie de prazer desinteressado e plácido que acompanha
a atitude estética.
Desde Kant até Umberto Eco, a maioria das teorias estéticas afirma que a expe-
riência artística é produzida na relação direta entre um sujeito e um objeto. Nesse
diálogo, prevalece à função. Por exemplo, ao pedir um lápis emprestado para anotar
um endereço, uma pessoa é atraída por um instante e se detém somente à forma
(design) do objeto. Esta percepção é propriamente estética, pois se posterga o ato
prático, ou seja, elimina-se momentaneamente a função do lápis. Faça-se aqui uma
ressalva à afirmativa feita anteriormente, segundo a qual a forma predomina sobre a
função, pois ela não é válida para todas as épocas. Refere-se somente a trabalhos
artísticos produzidos a partir do sistema capitalista, que proporcionou a autonomia de
certos objetos ou de certas qualidades de alguns objetos (Canclini, 1984: 10-12).
Canclini (1984: 25) prosseguiu informando que devido à facilidade de produzir vários
tipos de formas para uma mesma função – por exemplo, diversos mapas de uma
mesma localidade que a divulgam como localidade turística – o estilo e a freqüência
das obras do artista são determinados pelas exigências do planejador e do usuário.
Isto faz com que o ser humano viva cada vez mais em um mundo fluido,
interconectado por conjuntos históricos com maior ou menor estabilidade, que se
reestruturam em meio a conjuntos interétnicos, transclassistas e transnacionais.
Acentua-se a interculturalidade (migratória, econômica e midiática) gerando mercados
139
51
É resultado de hibridação, pois não podem ser consideradas fontes puras. Isto porque, ao longo da
história, o ser humano passa de formas mais homogêneas a outras mais heterogêneas e vice-versa,
sem que nenhuma seja plenamente pura (Canclini, 2003: XIX, XX).
52
O termo é usado para explicar as estratégias mediante as quais um pintor se converte em designer,
os operários que reformulam sua cultura de trabalho ante as novas tecnologias produtivas, etc.
(Canclini, 2003: XXII).
140
____________________________________________________________________
Figura 46 - A mudança das representações icônicas ao longo do tempo e cultura
Por essas razões, sustenta-se que o objeto de estudo nesta pesquisa não é a
hibridez, mas sim, os processos de hibridação. A análise empírica desses processos,
articulados com estratégias de reconversão, demonstra que a hibridação interessa
tanto aos setores hegemônicos como aos populares, pois ambos querem se apropriar
dos benefícios da modernidade (Canclini, 2003: XXII).
Um último e importante enfoque a ser exposto tendo como resposta o grande uso da
pictografia em mapas turísticos diz respeito ao problema da subjetividade, problema
apontado ao longo de todo o trabalho como potencial e inerente a este tipo de
representação gráfica.
Partindo desta afirmação, pode-se afirmar que a alfabetização pela linguagem verbal
(aprendizagem da leitura e escrita) é mais eficaz do que a linguagem visual?
De uma maneira geral, Dondis (1991: 15) ressalta que, devido a sua estrutura
sintética, pela linguagem verbal as pessoas se alfabetizam em um processo dividido
141
Entretanto, é exatamente aí que o alfabetismo visual tem uma força especial, pois a
linguagem verbal encerra-se em um grupo de pessoas que compartilha o significado
atribuído a um corpo comum de informações. Todavia, de acordo com Dondis (1991:
16) existem mais de três mil línguas em uso corrente no mundo, todas elas mais ou
menos independentes e únicas. Conseqüentemente, em termos comparativos, a
linguagem visual é considerada mais universal, por fazer uso de conjuntos lógicos.
Faça-se aqui um destaque quanto à enorme importância que esta autora confere ao
uso da palavra alfabetismo em conjunção com a palavra visual. Segundo suas
palavras, mesmo a visão sendo natural, a criação e compreensão da mensagem
visual são naturais até certo ponto, pois sua total eficácia só pode ser alcançada por
meio do aprendizado. Expandir a capacidade de “ver” (formar imagens mentais)
significa ampliar a capacidade de entender e criar uma mensagem visual.
A informação visual advém de significados obtidos pelo ensino formal e informal, que
são paulatinamente incorporados pelo indivíduo a partir de experiências
compartilhadas no ambiente e na vida, fazendo com que ele possa manter uma
relação mais competente com o mundo. Compartilha-se, por exemplo, o mundo da
natureza: o céu azul, o mar verde-esmeralda, as árvores verticais, a areia áspera, a
terra úmida, o fogo vermelho-alaranjado-amarelo, a noite e o dia (claro-escuro).
Dondis (op. cit.: 85-86) ratifica que tanto instintiva quanto intelectualmente grande
parte do processo de aprendizagem é visual. A reprodução desse tipo de informação
deve ser acessível a todos, sendo ensinada e podendo, portanto, ser aprendida.
Porém é preciso sempre observar que, na aprendizagem visual, não existe um
sistema estrutural arbitrário e externo semelhante ao da linguagem verbal. Então, de
que maneira a comunicação visual pode ser entendida, aprendida e expressa?
142
Parte-se do pressuposto de que a informação visual é facilmente obtida por meio dos
diversos níveis de experiência direta ao ato de ver e reconhecer (Dondis, 1991: 86-
87), como, por exemplo, um pássaro, uma casa, uma bicicleta, uma árvore, uma
montanha, uma praia, etc. Essa capacidade ainda amplia o conhecimento da
realidade-concreta do indivíduo, que generaliza toda uma espécie a seus atributos
básicos, ou seja, o tipo pássaro, casa, homem, mulher, bicicleta, são definidas em
termos visuais elementares, podendo ser identificados de uma forma geral. Isto
significa que todos os elementos compartilham referências visuais comuns dentro de
uma categoria mais ampla. Apesar disso, ao querer representar um elemento em
classificações individuais, deve-se trabalhar com os detalhes mais sutis de cor,
proporção, tamanho, movimento e sinais específicos (mais linhas) para que se possa
distinguir, por exemplo, uma gaivota de uma pomba ou uma cegonha (Figura 29).
____________________________________________________________________
Figura 47 – Maneiras de se representar um pássaro
Em relação ao ensino formal, Dondis (1991: 17) critica o sistema educacional (em
todos os níveis) por tratar a abordagem visual com quase desinteresse. Métodos
construtivos de aprendizagem visual são pouco explorados e ficam a critério da
intuição e do acaso, a não ser quando se trata daqueles alunos especialmente
interessados e talentosos para o desenho. A sociedade persiste ainda em conferir
mais importância à expressão verbal, excluindo o restante da sensibilidade humana.
No caso da criança, a experiência visual é fundamental em sua aprendizagem.
Posteriormente, a utilização de recursos visuais – filmes, slides, projeções
143
Todo esse desinteresse atribuído ao sistema visual pode ter como causa dominante a
complexidade, pois, mesmo sendo composto de um sistema perceptivo básico (linha,
forma, luz e sombra, cor, textura e proporção) comum a todos os seres humanos, tal
sistema está sujeito a variações nos temas estruturais básicos. De maneira simplista,
pode-se exemplificar o que foi dito acima, pontuando que ninguém desenha da
mesma forma um elemento ou ação encontrada na realidade, sem contar as outras
nuances constitutivas do desenho, como a perspectiva, a cor, etc.
Segundo Dondis (1991: 19) uma coisa é certa, no geral: o alfabetismo visual jamais
poderá ser um sistema tão lógico e preciso quanto a linguagem verbal, pois sua
estrutura tem uma lógica que o alfabetismo visual é incapaz de alcançar.
Por outro lado, a compreensão visual é um processo natural. O que precisa ser feito é
um refinamento de percepção permitido pelo alfabetismo visual. O caminho não é o
mesmo que o da linguagem verbal, onde existe um substituto que precisa ser
reduzido de um estado para outro. No ato perceptivo visual 53, uma maçã é a mesma
coisa tanto para um inglês quanto para um francês, ainda que o primeiro a chame de
apple, e o segundo de pomme, e assim por diante. Dentro desse contexto, o que a
linguagem verbal difere da comunicação visual é a possibilidade de evitar a
ambigüidade das pistas visuais, tentando então, expressar as idéias de modo mais
simples e direto. Sofisticação excessiva e a escolha de um simbolismo complexo
podem trazer dificuldades na comunicação visual intercultural (Dondis, op. cit.:186).
Por isso, faz-se necessário cada vez mais o entendimento sobre a comunicação
visual, devido a sua inegável força como meio de comunicação. Não se poderá
manter por muito mais tempo uma posição de ignorância diante do alfabetismo visual.
Dondis (op. cit.: 11; 185) aclara sobre o poder constituído à mensagem visual a partir
de alguns casos históricos:
53
Pela percepção visual, a pessoa vivencia uma interpretação direta daquilo que está vendo. Todas as
unidades individuais dos estímulos visuais interagem, criando um mosaico de forças saturadas de
significado, exclusivo do alfabetismo visual e passível de ser diretamente absorvido com muito pouco
esforço, se comparado à lenta decodificação da linguagem vebal (Dondis, 1991: 188). A inteligência
visual transmite informação em uma extraordinária velocidade, tanto que, estando os dados
claramente organizados e formulados, a informação fica mais fácil de ser absorvida, retida e utilizada
referencialmente (Dondis, op.cit.:188).
144
____________________________________________________________________
Figura 48 – O experimento de Ryan e Schwarz
O que deve ser feito é adaptar, aproveitar e melhorar este certo alfabetismo visual
buscando abranger o maior número de culturas possíveis. Abre-se então um outro
questionamento, alusivo ao tipo de representação que seria mais bem aproveitada na
elaboração dos mapas pictóricos turísticos.
A caricatura tem sido definida desde o século XVII como um modo de representação
que objetiva a semelhança em relação ao elemento contido na realidade. Entretanto,
nesse processo de transformação, todas as partes componentes – propriedades
físicas dos objetos – passam por mudanças. Tanto que a caricatura captura somente
a essência do objeto representado – faz possível um vocabulário visual mais
compacto – sendo a prova de que as imagens da arte podem ser convincentes sem
serem objetivamente realistas (Gombrich, Hochberg & Black, 1992:1).
Ryan e Schwarz (apud Gombrich, Hochberg & Black, 1992:74) compararam quatros
tipos de representações, tendo como referência o mesmo elemento – uma mão –
(figura 30), que foi representada em fotografia (a), em desenho sombreado (b), em
contorno traçado diretamente de uma fotografia (somente linhas) (c) e em cartoons
(desenho, caricatura) (d). As representações eram expostas e recolhidas em
pequenos espaços de tempo. O resultado foi o seguinte:
CAPÍTULO 2
Souza (1992: 123) sustenta que existem técnicas visuais para controle do significado
icônico fundamentadas em uma poderosa ferramenta de expressão, que é o
contraste entre dois opostos semânticos. Isso porque, o contraste tem a capacidade
de intensificar e simplificar a comunicação. Dondis (1991: 129-147) apresenta e
Souza (1991: 124-126) sistematiza então as vinte técnicas de composição dotadas de
qualidades sintático-semânticas mais habitualmente utilizadas na relação harmonia –
contraste (figura 50).
Em um outro momento, Souza (1992: 236) complementa que essa concisão gráfica é
resultado de uma redução semântica do conceito aos seus atributos mínimos de
discriminação.
1) A linha
54
Por um ano e meio, tive aulas regulares de desenho mecânico em um curso do SENAI.
Posteriormente, ao longo de alguns três anos fiz parte de cursos de pintura (óleo sobre tela). E, já no
mestrado, por quase um ano fiz um curso de história em quadrinhos.
149
Essa flexibilidade inerente à linha faz com que se possa elaborar desde um solto e
despreocupado esboço, até a rigidez de um desenho técnico (Figura 51).
Figura 51 – A linha
Mesmo com toda sua importância, a linha é o único dos elementos visuais aqui
abordados que não existe no plano concreto, existindo verdadeiramente somente no
plano pictórico.
Como ficou sugerido acima, a linha é capaz de conceber formas. E essas formas já
vêm carregadas de significação, pois não são simplesmente observadas, vistas, mas
sim lidas, traduzidas, reproduzidas. Conseqüentemente, a impressão que se tem das
coisas é terciária e nos vem indiretamente, já manipulada, pela memória ou pelo
hábito (Pedrosa & Arantes, 1996: 142,143).
Dondis (1991: 57) distingue três formas básicas: o quadrado, o círculo e o triângulo
eqüilátero, as quais possuem características específicas, e a cada uma atribui uma
grande quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação
arbitrária, e outros, ainda, através de nossas próprias percepções psicológicas e
fisiológicas. Essas formas permitem combinações e variações infinitas e possibilitam
compor outras formas físicas da natureza e da imaginação humana (Dondis, 1991:
59). O exemplo a seguir (Figura 54) remete à cena de em uma feira livre.
Esse discurso ainda leva em consideração que é inerente, à maior parte das formas,
apresentar a dimensão e o volume ocupado no espaço, ou seja, a representação de
um elemento necessita de técnicas preocupadas em ilustrar as formas tridimensionais
(comprimento, largura e altura), mesmo que estejam compreendidas em um plano
2D,
152
____________________________________________________________________
Figura 54 – Feira livre: formas básicas de uma representação gráfica
Dondis (1991: 75) esclarece, então, que o ilustrador faz uso do ilusório para
dimensionar a representação em formatos visuais de natureza bidimensional. Graças
a esse recurso, que é subentendido pelo observador uma vez que ele não possui
uma dimensão real da representação, o aspecto ilusório pode ser reforçado de muitas
maneiras. O principal artifício para simulá-lo é a convenção técnica da perspectiva,
sendo que a intensificação da ilusão pode ocorrer de forma ainda mais forte ao se
fazer uso da variação tonal (claro-escuro), enfatizando a luz e a sombra.
Tuan (1980: 155) data o uso desse tipo de representação somente a partir do século
XIV. As primeiras experiências com profundidade espacial se deram na França e na
Inglaterra. A nova técnica era então utilizada nas paredes das vilas italianas no
período Renascentista, onde se pintavam paisagens que serviam tanto para alardear
as riquezas de seus proprietários como para permitir o desfrute da ilusão de
perspectiva panorâmica.
Essa técnica produz o efeito de representar o plano pictórico tal como é visto no plano
concreto, ou seja, o(s) elemento(s) ocupa(m) e define(m) determinado lugar no
espaço: vertical, horizontal, oblíquo, caracterizando-se por uma determinada posição,
forma e tamanho. O produtor, ainda auxiliado pelas formas em três dimensões, cria
possibilidades de sensações espaciais 3D em representações 2D (Cabanellas: 1976:
153
40). Entretanto, é importante ressaltar que um objeto único é infinitamente mais fácil
de ser representado se comparado a um recorte da paisagem.
_____________________________________________________________________
Figura 55 - Figuras e sólidos geométricos
O desenhista mais atento, por exemplo, irá se defrontar com diferentes tipos de
formas do terreno (vales, colinas, morros, falésias), de vegetação, da hidrografia, de
ações humanas, etc. Enfim, abstrair, suprimir, ressaltar e estilizar os elementos
contidos na paisagem faz parte da realidade do mais meticuloso ilustrador, que
sempre recorrerá a uma técnica que lhe possibilite dar, a um desenho, a sensação de
realismo ou a “caricatura” de uma realidade.
3) Luz e sombra
fonte artificial) ou de tom são os meios pelos quais o observador percebe, distingue
oticamente, a complexidade da informação visual do ambiente (Figura 57).
____________________________________________________________________
Figura 56 – Exemplos de planos pictóricos em perspectiva
____________________________________________________________________
Figura 57 – Luz e sombra proporcionando o efeito tridimensional
155
Ainda dentro do tema claro-escuro, não se pode deixar de lembrar que, ao compor
uma ilustração, também se trabalham os contrastes que, sem dúvida, é um poderoso
instrumento de expressão, por ter a capacidade de intensificar o significado, e,
portanto, facilitar a comunicação. O contraste é uma força de oposição tonal que
desequilibra, choca, estimula, chama a atenção (Dondis, 1991:108). A autora finaliza,
na página 109 dizendo que, no alfabetismo visual, a importância do significado do
contraste começa no nível básico da visão ou da ausência desta, através da presença
ou da ausência de luz.
4) Cor
Segundo o site Desenhador Virtual (2005), encontrar a cor perfeita para uma
representação gráfica não é tarefa fácil. Por exemplo, é importante saber utilizar o
verde mais adequado para representar uma floresta que remeta à grandiosidade da
natureza, a aparência “sadia” da paisagem. Contudo, ao se recorrer a um tom verde
mais amarelado e/ou fraco, é bem provável que esse esplendor desapareça. Efeito
157
Inicialmente, pode-se dizer que a cor é um fenômeno biofísico, sendo uma resposta
sensorial, relacionada à radiação eletromagnética. O espectro do comprimento de
ondas visível ao olho humano está entre 0,4 e 0,7 mícrons (banda visível). Isto quer
dizer que, entre esses limites, o olho e o cérebro conseguem distinguir facilmente os
comprimentos de ondas associados a cores denominadas: violeta, azul, verde,
amare-lo, laranja e vermelho – Figura 60 (Monmonier, 1996: 164).
____________________________________________________________________
Figura 60 – O espectro das cores
Deste modo, o intuito é trabalhar com cores que possam trazer a mínima diferença
158
possível entre o mapa na tela (cor-luz) e o mapa impresso (cor matéria, pigmento 55).
Posto isso, Dondis (1991: 65-66) e Monmonier (1996: 164-167) afirmam que, sendo a
cor um fenômeno perceptivo e da arte gráfica, ela é gerada tanto pela luz quanto pelo
pigmento. A cor apresenta um comportamento único, possuindo três dimensões, que
podem ser definidas e medidas:
A seguir Monmonier (1996: 165, 166), Desenhador Visual (2005) e Macmania (2005)
expõem as diferenças básicas entre a cor-luz e a cor-pigmento, divididas
respectivamente em cores primárias aditivas e subtrativas.
55
O pigmento fornece cor a tudo que é material, podendo ser conseguido por vários meios. Os índios o
retiram de sementes (urucum), mas também está nas folhas verdes (clorofila), nos minerais (o
amarelo/vermelho do óxido de ferro, azul do cobalto, no roxo da terra), etc. O homem então, extrai os
pigmentos da natureza, utilizando-os como tinta. Contudo, o desenvolvimento tecnológico fez surgir os
pigmentos sintéticos, ou seja, cores conseguidas graças a produtos químicos. Já a tinta é formada pela
combinação de resinas, solventes, pigmentos e aditivos. O pigmento dá a cor, o solvente a
viscosidade, os aditivos o brilho, opacidade e consistência, e as resinas são responsáveis pelo
transporte físico (Macmania, 2005).
159
O processo de misturada das cores pode ser feito desde a utilização de luzes até
pigmentos extraídos das tintas, vegetais, minerais e produtos químicos (Figura 61 E).
Veja os exemplos: ao apanhar uma maçã vermelha num ambiente claro, a luz que
bate e brilha sobre a fruta e o comprimento de onda de vermelho da luz refletem-se
da maçã para os olhos do observador, enquanto os comprimentos de onda azul e
verde são absorvidos pela maçã. Sensores nos olhos do observador reagem à luz
refletida, enviando uma mensagem que é interpretada pelo cérebro como sendo a cor
vermelha. Já ao olhar para um girassol, vê-se a cor amarela, pois os comprimentos
de onda da luz vermelha e verde são refletidos de volta ao observador, enquanto o
azul é absorvido pela planta. E, por fim, quando se vê uma folha branca, todos os
comprimentos de onda são refletidos ao observador, porém uma folha preta absorve
todos os comprimentos de onda.
Uma rápida explicação técnica é que, por exemplo, quando o observador vê a cor
vermelha, isso significa que o monitor ativou o feixe de luz vermelha, ascendendo um
pixel vermelho na tela.
b) Cor-pigmeto-subtrativa (CMYK)
56
O modelo RGB refere-se àqueles equipamentos que emitem luz própria quando mostram suas
imagens, como o CRT (tubo de raios catódicos) ou o LCD (cristal líquido); ou seja, monitores e
aparelhos de TV (Macmania, 2005).
161
Vale aqui ressaltar que a dualidade: a mistura de pigmentos está diretamente ligada à
quantidade de luz absorvida e refletida pelos objetos. Por exemplo, o pigmento
branco não absorve, mas reflete todas as cores. Portanto, a cor-luz é a soma de
todas as cores, que é refletida pelos elementos iluminados pela luz branca.
Conseqüentemente, ao se misturar um pigmento preto a uma tinta branca, obtêm-se
diferentes tons de cinza.
Partindo para o processo efetivo da impressão dos mapas, tendo como fato que a
folha de papel não emite luz, só absorve e reflete, uma impressora não pode usar as
cores RGB. O cartógrafo, então, necessita de um outro modelo que transporte as
cores do monitor para o papel: o CMYK. Ele está baseado em quatro cores: ciano,
magenta, amarelo e preto; usadas na mistura de pigmentos, principalmente para
imprimir imagens de tons contínuos como fotos e ilustrações digitalizadas, etc. Tais
cores combinadas podem reproduzir uma parte significativa do espectro visível de
cores.
Além dos aspectos fisiológicos relacionados às três dimensões das cores, devido à
linha de pensamento seguida, não se pode ignorar que a percepção da cor esteja
impregnada de emoção. A força intrínseca a essa variável visual pode ser usada com
muito proveito na expressão e intensificação do conteúdo informado (Dondis,
1991:67).
A cor faz parte do cotidiano, tanto que muitas vezes se estabelecem até regras de
harmonia para utilizá-las. Por exemplo, na moda, na decoração, etc., procura-se uma
estética coletiva. Por meio dela, o homem se manifesta, e não somente pela
transmissão de sensações, como também pelo estabelecimento de códigos
completos para a liturgia, para o trânsito, para a publicidade, etc (Cabanellas, 1976:
75).
Outras vezes, por meio da experiência, o significado simbólico da cor pode ser
compartilhado de maneira particular ou universal, sempre apresentando um valor
informativo. Levando-se em consideração o meio ambiente, o sujeito compartilha
significados associativos da cor das árvores, do céu, da terra e de inúmeros
elementos dispostos no espaço, nos quais vêem-se as cores como estímulo. Tudo é
coligado a significados associativos e simbólicos (Dondis, 1991: 69).
Monmonier (1996: 171) complementa o que foi dito até aqui, relatando que através da
história, as cores dispostas sobre os mapas, por exemplo, reforçaram uma certa
metáfora da paisagem. Por muitos séculos, os cartógrafos exploraram e encorajaram
a associação do verde à vegetação, do azul à água, do vermelho às altas
temperaturas e do amarelo ao ambiente desértico. Contudo, essa associação
164
somente pode ser considerada segundo um contexto que seja correto e apropriado,
gerando, então, associações que promovam uma eficiente decodificação.
Pouco se conhece sobre os efeitos e reações subjetivas que os usuários dos mapas
têm em relação às cores. É fato que a maioria delas estão relacionadas a várias
sensações. A cor vermelha, por exemplo, está associada a fogo, perigo, calor,
sangue, raiva, amor e também ao comunismo. Logo, deve-se estar atento ao contexto
ao qual a cor está inserida. Alguns produtores de mapas procuram cores que
reforcem – de forma inteligente ou óbvia – os símbolos pictóricos. Como, por
exemplo, o amarelo pode reforçar símbolos que exemplificam a riqueza. Outros
símbolos que valorizam as cores são os trevos (verdes), as cruzes simétricas e
vermelhas das ambulâncias e hospitais, as cruzes pretas dos cemitérios e igrejas
(Monmonier, 1996:171).
Tuan (1980: 27) disserta sobre as cores avançadas e recuadas. O vermelho, laranja e
amarelo parecem mais próximas do expectador, por estimular o sistema nervoso e
fazer com que o objeto pareça mais quente, mais pesado do que é. Já o verde, azul e
o azul esverdeado promovem distância aos olhos, sugerem frieza, o objeto é julgado
mais leve do que é. Como visto, as cores afetam o sentido de peso e também o
sentido de indicação acima e abaixo, pois quando os elevadores possuem luzes
coloridas, a seta vermelha invariavelmente indica descida, a seta azul subida.
165
A figura 63 demonstra-nos que a cor possui uma ação móvel. As distâncias visuais
tornam-se relativas. O próprio volume de qualquer elemento pode ser alterado pelo
uso da cor sendo que a superfície mais clara sempre aparecerá maior, pois a luz que
reflete lhe confere amplidão.
____________________________________________________________________
Por fim, Mayhew (1992) apresenta alguns itens que merecem destaque em relação
aos princípios e diretrizes das cores:
Devem ser usadas de acordo com a necessidade, valor e não com exagero ou
substitutas de outras técnicas mais eficazes para a representação.
O azul deve ser evitado em textos, detalhes e símbolos pequenos. Essa cor é
boa para fundos e áreas grandes.
167
Cores quentes devem ser utilizadas para criar uma aparência de aumento das
imagens.
5) Textura
... uma textura real, as qualidades táteis e óticas coexistem, não como tom e cor,
que são unificados em um valor comparável e uniforme, mas de uma forma única
e específica, que permite à mão e ao olho uma sensação individual, ainda que
projetemos sobre ambos um forte significado associativo (Dondis, op.cit.:70).
Aliás, a maior parte da experiência vivenciada com relação à textura é ótica e não
tátil. Ilustrações e pinturas muitas vezes proporcionam aparências convincentes de
uma ou mais texturas (Dondis, op.cit.: 71).
MacEachren (1994: 27) pontua que o atributo mais importante da textura é que esta
variável visual gráfica, já à primeira vista, facilita a percepção dos diferentes tipos de
texturas.
Isso quer dizer que a elaboração de um mapa turístico deve valorizar e criar texturas
convincentes e diretas da paisagem que contém: vegetações (florestas, savanas,
climas temperados e frios), tipos de morfologia de terreno (montanhas, vales,
planícies, praias), presença do homem (cidades, aldeias, tribos), etc (Figura 65). E
essas “qualidades” de separação visual entre camadas de informação da paisagem
se mostram por meio de características gráficas de suavidade, aspereza, volume,
168
6) Escala e proporção
A preferência de uma escala para a ilustração é feita por elaborações visuais fluidas,
não absolutas e sujeitas a muitas variáveis modificadoras a partir da composição
pretendida pelo ilustrador. Nessa pesquisa, a escala torna-se muito útil na definição
dos vários planos da paisagem, sendo trabalhada conforme as referências que são
pré-estabelecidas. A figura 66 exemplifica claramente essa relação.
169
de forma fácil e direta, mensagens que podem ser aprendidas com naturalidade por
qualquer pessoa capaz de ver (Dondis, 1991: 82).
Desde já, é certo que todo o processo de colorização será feito em meio digital, por
sua maior praticidade e menor custo, como comprovado em Fiori (2003:147). Além
disso, a idealização dos inúmeros tipos de ilustrações pictóricas trabalhadas sobre
uma base topográfica tem o intuito de causar um forte impacto visual – imagem inicial
– buscando enfatizar a vocação turística do destino representado – balneário,
histórico, rural, saúde, ecoturismo, religioso, etc. Posteriormente, virão outras
“imagens menores”, auxiliares e complementares, que apresentarão os patrimônios
natural, cultural e a infra-estrutura presente na localidade.
Essas observações remetem aos fatores push e pull (item 1.6: 109), ou seja, o
cartógrafo pode pensar em criar inicialmente um primeiro impacto visual ao mapa. Tal
impressão objetivaria enfatizar a principal vocação turística do destino representado,
configurando a localidade, por exemplo, como balneária, histórica, rural, serrana,
cosmopolita, de instância, de atração singular, etc. A figura 67 exemplifica mapas
panorâmicos que fornecem tal atmosfera.
Some-se ainda, uma junção entre as variáveis visuais de Bertin (1967), com
atualização de MacEachren (1995), e os elementos visuais até agora descritos em
suas qualidades sintático-semânticas. Todos esses recursos gráficos possibilitam
representar o espaço por meio do mapa, proporcionando ao plano bidimensional uma
aparente tridimensio-nalidade, como demonstrado na figura 68.
____________________________________________________________________
Figura 68 – Composição de um mapa pictórico com variáveis e elementos visuais
E, por se tratar de um mapa, não se poderia deixar de abordar que sempre haverá
algum tipo de texto, pois a palavra escrita é um recurso eficiente e a articulação
desenho / texto verbal constitui uma técnica importante para facilitar a decodificação
de uma mensagem.
O texto usado no mapa turístico pictórico serve tanto para reforçar a representação
pictórica quanto para enriquecê-la com outras informações complementares (Figura
69). Aliás, a divulgação pelo marketing turístico tem o poder de influenciar, direcionar,
informar, facilitar a seleção ou escolha do usuário sobre uma determinada destinação,
que conta com diferentes propostas paisagísticas ao turista, como rotas, lugares,
áreas, atividades específicas da localidade.
____________________________________________________________________________
Figura 69 – Articulação texto e imagem
Moreira Leite (1998: 44) complementa que, embora habitualmente a linguagem visual
seja considerada de transmissão direta, pode apresentar uma postura parasitária em
relação à linguagem verbal. As imagens visuais precisam das palavras para que
sejam transmitidas e, freqüentemente, a palavra já inclui em si um valor figurativo a
ser considerado. Entretanto, em grande parte das vezes, as palavras não conseguem
evocar exatamente o que a imagem propõe.
Barthes (1990: 33, 34) reitera que, de um lado, o texto verbal traz a possibilidade de o
criador, e também de a sociedade, exercer um controle sobre a imagem: a fixação é o
controle, detém uma responsabilidade sobre o uso da mensagem frente ao poder de
projeção das ilustrações. Mostra-se como um valor repressivo em relação à liberdade
dos significados da imagem. Por outro lado, a mensagem icônica possibilita que o
leitor apressado não tenha que se incomodar com as descrições verbais, acreditando
174
Por tudo que foi exposto, pode-se estabelecer que não existe um tipo de mensagem
lingüística, verbal, visual ou icônica absoluta. A idéia, então, é utilizar da melhor forma
possível as três possibilidades de elaboração da mensagem: icônica codificada,
icônica não-codificada e lingüística, apontadas por Barthes (1990: 28-40), para que,
assim, o mapa pictórico se torne mais facilmente compreendido. Até porque os três
tipos de mensagens apresentadas capacitam a trabalhar a redundância, podendo
tornar o mapa mais informativo e esteticamente mais rico e agradável.
____________________________________________________________________
57
A popularização do turismo e das viagens internacionais ocorreu principalmente após a Primeira
Guerra Mundial, fazendo com que houvesse a necessidade de se criar um sistema de comunicação
que não fosse limitado pela fronteira da língua. Gerou-se então, o interesse pela linguagem dos signos:
o pictograma (Carneiro, 2001: 1), denominado por Frutiger (apud Carneiro, 2001: 25) como signo de
segurança, possibilitando ao usuário apreender a informação com maior rapidez e facilidade.
177
Esse tipo de imagem funcional, sinalética, gráfica, sem valor fonético, de natureza
icônica é conhecida no âmbito da comunicação visual pelo nome de pictogramas,
símbolos de sinalização, ou ainda, SIPs. Além disso, é auto-explicativo, devendo
apresentar como características básicas a concisão gráfica, a densidade semântica e
uma funcionalidade comunicativa que ultrapasse as barreiras comunicativas (Souza,
1992:6).
58
Sinaléticos – compreende os signos gráficos - tais como: os pictogramas, os códigos gráficos de
âmbito profissional, as marcas e logotipos institucionais, a sinalização viária (Souza, 1992: 132) - que
transmitem informações essenciais a um grande número de pessoas, inclusive de línguas diferentes,
para orientar o seu comportamento social.Tais imagens indicam reações comportamentais apropriadas
em determinada situação social. Na tabela 72 podem-se classificar as imagens por sinais indicativos
(fig. 3,14), designativos (fig. 1, 2, 4 , 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 15, 16) e proibitivos (fig.9) (Souza, 1992:
5).
178
Figura 73 – O pictograma
A figura 75 refere-se ao fato de que, além do princípio básico de que todo pictograma
deve ser compatível a várias culturas, faz-se ainda uma segunda ressalva: devido ao
desenvolvimento natural da sociedade, correlacionado ao tempo e sua dinâmica, é
bem provável que alguns símbolos necessitem de uma reavaliação periódica de suas
representações. Por exemplo, citam-se as diferentes formas – reflexo do processo
evolutivo – de representação para telefone, isto é, será que o pictograma elaborado
para as Olimpíadas de 1968 no México não está ultrapassado? Até porque,
atualmente, é raro se deparar com um telefone discado.
____________________________________________________________________
Figura 75 - As modificações das representações gráficas ao longo do tempo
Souza (1992: 178; 182) ainda lembra que, mesmo havendo um princípio normativo
para a criação de pictogramas, é comum surgirem várias versões do mesmo conceito,
isto é, o mesmo pictograma pode apresentar diferenças gráficas sem que isso altere
sua significação (Figura 76A). Acrescente-se que, embora o plano de representação
do pictograma seja preferencialmente frontal, ainda existem os pictogramas
longitudinais e, mais raramente, os em perspectiva (Figura 76B).
182
59
Compreende todo sinal gráfico (lingüístico, pictórico ou misto) que promova a correta orientação do
usuário/ turista dentro de uma destinação ou equipamento turísticos (Carneiro, 2001: 11).
184
Quanto a fontes nacionais, a autora optou por aqueles sistemas elaborados por
órgãos oficiais de turismo, federal e estadual: o CONTRAN (Conselho Nacional de
Trânsito), a EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) e a Secretaria Estadual de
Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SEET), o sistema de sinalização do
Código de Transito Brasileiro, além do Guia Quatro Rodas Brasil, reeditado
anualmente pela Editora Abril.
Posto isso, concorda-se com Carneiro (2001: 30) no tocante ao desafio que os
comunicadores têm quanto ao coeficiente de repetição da informação – no caso, os
pictogramas – em um determinado tempo, ou seja, quanto mais um mesmo Símbolo
de Informação Pública for usado, mais haverá a probabilidade de ser conhecido por
um maior número de pessoas. Cresce, dessa forma, a inteligibilidade.
60
Associação sem fins lucrativos fundada em 1914. Desenvolve nos E.U.A. um programa que inclui
eventos, publicações, exposições e atividades educativas, com a finalidade de promover a qualidade e
a excelência no terreno do desenho ou design gráfico. Ao longo deste tempo, elaboraram, por exemplo,
sistemas gráficos de sinalização e programas de identificação para clientes na Europa, África, Ásia e
Estados Unidos (Carneiro, op.cit.:46).
61
Coletou e inventariou pictogramas ao longo de sete anos (1980 a 1987) em 76 cidades de 39 países
da Europa, Ásia e Américas (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro), resultando na publicação desse
diretório. Em 1993, foi lançado o segundo diretório (Carneiro, op.cit.:65).
62
Essa associação requisitou de Todd Pierce (presidente da empresa Design Pacifica International
LLC) e sua equipe a criação e organização de um repertório de pictogramas. Em 1996, foi publicado
um livro com a intenção de ser um indicador de sinalização completo para a cidade de Portland
(E.U.A.).
185
Entretanto, o mapa turístico em meio digital pode ser mais atrativo por poder incluir
uma quantidade enorme de informações se comparado aos tradicionais mapas
impressos, pois utilizar recursos como: vídeo clips, composição de vários layers –
camadas e possibilidade de representar uma mesma informação de diferentes
formas – textos em pop up, que não poluem visualmente o mapa, indicação de
links, entre outros recursos.
Toda essa remodelação tecnológica ajudou a expandir, por exemplo, o uso dos
bens patrimoniais e o campo da criatividade. Assim como o vídeo game tornou
trivial as batalhas históricas, e alguns videoclipes ofereceram tendências
experimentais à arte, os computadores e outros usos do vídeo facilitaram a
obtenção de dados, a visualização e inovação gráfica. Isso permitiu simular o uso
de novas peças e informações, reduziu a distância entre concepção e execução,
conhecimento e aplicação, informação e decisão. Essa apropriação múltipla de
produtos culturais abre as possibilidades originais de experimentação e
comunicação (Canclini, 2003: 308). Entretanto, é necessário se fazer uma ressalva,
apoiada no mesmo autor (Canclini, op.cit.:150), que coloca a noção de público
como sendo muito perigosa se caracterizada como um conjunto homogêneo e de
comportamentos constantes. Deve-se levar em consideração que a sociedade está
dividida em estratos econômicos e educacionais diversos, com hábitos de consumo
194
Romanov (apud Cartwright & Heath, 2002) lembrou que, na Quarta Conferência
Anual sobre World Wide Web, sustentou-se que a questão-chave na interatividade
inteligente está no conteúdo emocional, que fundamenta a elaboração de produtos
aos usuários. A promessa de novas tecnologias para artefatos cognitivos, como os
mapas, tem proporcionado e aumentado a interação da comunicação
contemporânea. Todavia, essas novas formas de representação e artefatos trarão
novos questionamentos relacionados, por exemplo, ao entendimento e à eficácia
da informação geográfica retratada, visualizada e percebida. A cartografia
contemporânea precisa, então, encontrar maneiras de avaliar esse tipo de
196
Segundo Brown, Emmer & Worm (2001) o grande negócio da interação é capacitar
o usuário a encontrar e reagir às informações gráficas e textuais disponibilizadas. A
cartografia, do mesmo modo que outras áreas do conhecimento, está sendo
amplamente afetada pela revolução dos computadores e da Internet.
Brown, Emmer & Worm (2001) acrescentam serem poucas as vezes em que se
encontram mapas que combinam elementos atrativos, de motivação e interativos. E
nos casos em que se aplica especificamente a interatividade, ela é, em sua maior
parte, limitada a ações como zoom, pan e acesso a outros sites. Essas falhas
ocorrem mesmo havendo programas que possibilitem a criação de uma grande
variedade de formas interativas e de apresentação, trabalhadas por meio do design
cartográfico. Especificamente, a produção de mapas para a Web, incluindo os
turísticos, ainda continua muito restrito a reproduções feitas em papel, isto é,
197
Wolfgram (1994) ratifica a proposta, a idéia de que o objetivo principal é não deixar
que a apresentação pare de fluir, disponibilizando, por exemplo, recursos para
informar ao usuário que o programa está rodando, ou para que ele saiba que, ao
pressionar uma determinada tecla, aparecerá um determinado assunto. Deve-se
evitar a demora no reconhecimento das informações: o usuário não pode, por
exemplo, ficar parado por muito tempo em frente ao monitor do computador só para
entender o que acontece no site. Todos esses fatores vão causando aborrecimento
ao usuário, fazendo com que o produtor corra um sério risco de gerar perda das
emoções e da motivação.
Miller & Pupedis (2002), ao verificar outros sites, chegaram a algumas conclusões:
normalmente, o produtor é muito técnico e, na maioria das vezes, faz suposições
que generalizam o público alvo. Eles enfatizam que a implementação técnica, ou
seja, acreditam que o produtor está muito mais preocupado com o tempo de
download do que com a eficaz navegação do site pelo usuário. Além disso, devido
ao custo, muitos produtores acabam desenvolvendo o site sem fazer um
reconhecimento mais aprofundado e experimentado de seu usuário potencial.
Os autores (Miller & Pupedis, 2002) ainda alertam para o fato de que pesquisas
relacionadas ao uso dos mapas para Web – e, por que não dizer, os mapas
interativos em geral – ligados às ciências geoespaciais estão normalmente focados
em ferramentas de geovisualização voltadas àqueles usuários que já dominam o
Sistema de Informação Geográfica (GIS). Por isso, os pesquisadores também
precisam se preocupar com o uso do design daqueles sites elaborados para os
usuários não-especializados, leigos em cartografia e/ou GIS. Os autores terminam
a explanação, apontando alguns problemas de sites baseados em GIS:
Simbolização inconsistente.
198
Faz-se justo afirmar que a boa transmissão da informação, além da alta tecnologia
e suas respectivas facilidades técnicas, jamais deve dispensar um profissional
especializado e competente preocupado em estabelecer um processo de
desenvolvimento compatível com o produto idealizado.
63
Diferente da maioria dos jogos de computador, o SimCity 2000 ® não foi concebido com o intuito
de vencer ou perder, pelo contrário; invoca um pensamento construtivo para educar o usuário sobre
os conceitos geográficos e espaciais associados ao desenvolvimento urbano (Johnston &
Cartwright, 2000).
200
___________________________________________________________________
Figura 80: Simcity® :referência para os mapas turísticos interativos
201
interativa que, entre seus inúmeros recursos, tem como principais elementos:
Posto isso, a partir de agora são arroladas e exemplificadas as técnicas ainda não
abordadas pelo item 2.1. Ao final, todas as técnicas apresentadas comporão um só
conjunto que vão auxiliar no desenvolvimento dos mapas turísticos pictóricos
interativos. Até porque, como enfatiza Dondis (1991: 24), as técnicas são os
agentes do processo de comunicação visual e é por meio da sua energia que o
caráter de solução visual adquire forma.
5.3.1 – O texto
Um bom texto deve sempre estar bem escrito, ser interessante e fácil de ler;
precisa ainda prender a atenção, mesmo que não esteja acompanhado de
animações ou efeitos de imagens. Na elaboração do mapa no formato digital,
pontua-se que:
O texto aplicado nas bordas do mapa pode ser tratado como qualquer outro
tipo de aplicação de texto em um mapa interativo ou página da Web. Deve
haver precauções quanto ao controle do texto “flutuante” (onde e como
localizá-lo nos pontos extremos do mapa), espaçamento e tamanho das
letras, o tipo de fonte mais adequada, etc. Esse conjunto de texto comporá
a(s) legenda(s), a(s) escala(s), o título, a borda (moldura) e outros itens
complementares do mapa.
5.3.2 – O fundo-cenário
Finalizando esta parte, ressalte-se que, muitas vezes, não é necessário utilizar a
linha do horizonte e pontos de fuga para compor uma ilustração. A técnica da
perspectiva paralela, além de ser mais simples, também proporciona bons efeitos
visuais. A figura 88 demonstra que tanto os lados verticais como os horizontais são
feitos a partir de linhas paralelas.
207
___________________________________________________________________
Brown, Emmer & Worm (2001) enfatizam que uma convenção parece estar se
formando em torno dos símbolos pontuais interativos. Ela busca um efeito
tridimensional para que eles pareçam flutuar sobre o fundo do mapa. O
sombreamento é grandemente aplicado no desenvolvimento dos mapas interativos
e da Web para criar objetos em 3D clicáveis, ou seja, acionados por meio de
botões. O uso da sombra projetada sobre os objetos cria a impressão de estarem
projetados sobre o fundo (Figura 89).
____________________________________________________________________________________________________
Os autores (Brown, Emmer & Worm, 2001) ainda alertam para o cuidado em
relação àquelas “legendas interativas” que são meramente escaneadas ao lado do
mapa, não oferecendo nenhuma possibilidade de interação. Aliás, um dos grandes
problemas associados à simples escanerização das legendas em mapas ocorre
quando o usuário utiliza recursos como o zoom ou o pan e a legenda normalmente
desaparece. Não se pode esquecer que a legenda é parte importante e
fundamental do processo informativo de um mapa e, portanto, deve ser tratada
como um objeto separado e móvel, o que possibilitará sempre seja vista na tela.
5.3.4 – Animação
Brown, Emmer & Worm (2001) esclarecem que as animações podem ser aplicadas
em símbolos:
5.3.5 – Áudio
Música – é utilizada para criar um clima, uma atmosfera que deve envolver o
espectador, influenciando a marcha das cenas seguintes. Tem diversas
funções em uma apresentação, podendo determinar o início da exibição,
enfatizar emoções ou ilustrar pontos particulares.
5.3.6 – Interatividade
como a forma mais poderosa de provocar emoções, trazendo à tona todo um nível
de controle implícito do produtor.
No entanto, esse recurso exige que o usuário sempre saiba onde está, como
chegou ali e como deve proceder para ir de um lugar a outro; caso contrário, o
produtor o perde. Portanto, a comunicação bem-sucedida sempre depende de
manter a atenção do usuário ao assunto exposto.
64
Na literatura especializada, o termo hipermapa não é usado somente em sistemas de hipermídia
geo-referenciada, mas também em mapas dinâmicos mais elementares, que apresentam uma
exibição mais simples, com um número limitado de links. Já os mapas “clicáveis” são sistemas
hierarquicamente orientados e proporcionam uma flexibilidade limitada, porém geo-referenciados.
Menno-Jan, K. & VAN DRIEL, R. (1997).
212
Comumente, encontram-se mapas na tela sem uma escala fixa, porém o produtor
tem que decidir sobre alguns tipos de escalas “ideais”, e isso depende da
quantidade e precisão dos detalhes que quer apresentar. Brown, Emmer & Worm
(2001) distinguem três estratégias de zooms que podem ser aplicadas:
5.3.7 – Download
Em outra reportagem da IDG now! (06/2005), lê-se que, no Brasil, de cada dez
internautas domésticos, quase cinco já possuem conexão em banda larga. A
tendência é que, até 2009, por volta de 7,4 milhões de brasileiros estarão
conectados a alta velocidade.
65
São as coordenadas geográficas e/ou UTM (Projeção Universal Transversa de Mercator) que
revelam a latitude, longitude; indicação do Norte.
219
Nesse momento, trabalha-se, na prática, o mapa híbrido, ou seja, aquele que tanto
faz uso das regras cartográficas básicas, da semântica para iniciados e da
semiologia gráfica de Bertin, quanto da teoria da comunicação, do senso comum e
da pictografia.
Fiori (1999, 2003) e outros trabalhos empíricos evidenciam que, em geral, o público
leigo em cartografia e o turista tendem a optar pelos mapas pictóricos, mesmo que
a compreensão do conteúdo ocorra mais lentamente. Isso acontece devido ao
melhor entendimento da informação, à atratividade e ao poder de sedução exercido
pelo produto pictórico.
Além disso, é instigante pensar que o mapa pictórico possibilita uma maior visão do
outro, ao enfatizar símbolos locais e nacionais, atrativos naturais e culturais,
fornecendo ao usuário da Internet – “o turista virtual” – informações de que ele
pode se apropriar e que é capaz de adaptar com o propósito de conceber um senso
distinto de nacionalidade. Palmer (1999) afirma que a idéia de nação está
poderosamente presente na linguagem do turismo patrimonial. A apropriação da
identidade nacional para o turismo – e, por que não inserir o mapa turístico? – vai
além do interesse comercial: perpassa o coração do povo e serve para definir uma
identidade tanto para os que são representados quanto os que devem entender a
representação.
informações nelas dispostas. Por isso, foi necessário consultar outros materiais
visando à atualização das bases, como imagens de satélite (Google Earth) e
principalmente outros “mapas” sem escala, que forneceram subsídios para
referências como hidrografia, estradas, curvas de nível, etc. As bases cartográficas,
principalmente aquelas usadas nos mapas pictóricos, passaram por ampliações,
com tamanho suficiente para a caracterização das ilustrações, símbolos e textos
em geral.
Alguns mapas já vieram em formato digital (programa AutoCAD), mas a maioria foi
escaneada e posteriormente digitalizada em AutoCAD ou CorelDraw.
A partir de uma mesma base cartográfica, elaboram-se dois mapas que, entretanto,
apresentaram diferentes versões de representação para a mesma localidade: um
mapa convencional e um mapa pictórico. A seguir, destacam-se os itens comuns às
duas versões:
Para finalizar, é necessário que se faça uma ressalva quanto à elaboração das
bases temáticas pictóricas. Mesmo que o grau de abstração da realidade seja
menor, se comparado aos mapas convencionais, a base pictográfica continua
sendo uma representação gráfica muito reduzida da realidade.
___________________________________________________________________
Figura 99 – A pictografia e a generalização da realidade física
227
3.4 - O símbolo
3.5 - O texto
3.6 - A legenda
O mapa turístico divide a legenda em dois tipos: geral, caracterizado por elementos
usualmente encontrados em qualquer mapa como, por exemplo, o símbolo de
capital, cidade, rodovia pavimentada ou sem pavimentação, hidrografia, limites
municipal, estadual e federal entre outros do mesmo gênero. E a legenda turística,
com símbolos relacionados à acomodação, alimentação, hospedagem, serviços,
atrativos naturais e culturais, entretenimento, práticas desportivas, recreação e
transporte (Figura 102).
Aliás, esta pesquisa continua o estudo de Fiori (2003), que propõe a elaboração de
uma legenda para mapas turísticos, utilizando-se dos Símbolos de Informação
Pública (SIPs). A escolha dos símbolos empregados nas legendas dos dez mapas
desenvolvidos ao longo deste trabalho seguiu alguns critérios:
230
___________________________________________________________________
3.7 - A borda
A borda em um mapa turístico serve para auxiliar o usuário que procura relacionar
o item da legenda com sua localização no mapa. Por exemplo: como encontrar no
mapa um hotel que se vê na legenda. Nesse caso, o simples e já usado processo
de dividir a borda do mapa com letras e números resolve de maneira eficaz o
problema (104 A).
É Importante ressaltar que, mesmo utilizando a visão oblíqua para a confecção dos
mapas pictóricos, estes foram concebidos sobre uma base cartográfica em escala,
o que possibilitou a inserção do sistema de referências geográficas (latitude,
longitude e pontos cardeais).
Após a confecção dos mapas turísticos de Ilhabela (SP), Foz do Iguaçu (PR),
Caxambu (MG), Manaus (AM) e São Raimundo Nonato (PI): cinco convencionais e
cinco pictóricos (ver mapas em CD - anexos – pasta 3), Caxambu foi selecionada
para o desenvolvimento de um protótipo para um mapa-site turístico. A escolha se
deve ao processo de elaboração dos dez mapas turísticos, ou seja, se comparado
às outras cidades, Caxambu dispõe de uma maior quantidade de mapas
convencionais e pictóricos e, ainda, escalas mais diversificadas, divididas em:
A interatividade do site aconteceu nos vários tipos de caixas de texto e botões que,
ao serem clicados, abrem legendas, proporcionam informações direcionadas
(entrar, ir até, voltar), apresentam alguns atrativos como as igrejas, o centro
238
CAPÍTULO 3
E é por isso que esta pesquisa, fundamentada em Fiori (2003), apresenta uma
dualidade crítica quanto a dois tipos distintos de mapas para o setor do turismo: o
convencional e o pictórico, por proporcionarem graus diferentes de abstração e
formas distintas de representar a informação. Portanto, três tópicos são
averiguados:
2) Estética: qual dos mapas tem um maior grau de empatia – emotiva, sedutora
– e atração quando expostos aos turistas.
Gerber, Burgen & Stanton (1990) identificam oito aspectos que atuam sobre as
pessoas quando adquirem informação cartográfica: a habilidade espacial, a
percepção espacial, a habilidade de leitura, a idade, a habilidade para desenhar, a
experiência prévia quanto ao uso dos mapas, a atitude (pessoas que gostam de
observar mapas) e a disponibilidade de mapas em casa ao decorrer da vida, ou
seja, o mapa não é visto como um objeto estranho. A apreensão dessas
características determinará o maior ou menor grau de abstração dos símbolos pelo
usuário.
O tempo de download.
Devido a todos esses fatores, costuma-se estabelecer apenas uma idade mínima
para a aplicação dos questionários: as pessoas deveriam ter uma idade acima dos
quinze anos. Sem entrar no mérito da discussão, a escolha da idade mínima é
apoiada em Cavalcanti (1996). Segundo o estudioso, somente aos onze, doze anos
um indivíduo, uma pessoa é capaz de realizar abstrações que vão além dos
significados ligados a suas práticas imediatas. Contudo, o autor ressalta ainda que
essa competência não se consegue simplesmente pela idade: é preciso levar em
conta a experiência do usuário. Isso quer dizer que, se o ambiente no qual o
adolescente vive não oferece desafios e tarefas necessárias para estimular seu
intelecto, seu raciocínio poderá não alcançar o nível adequado para sua faixa
etária.
3.2.1 - Procedimentos
População
Sujeitos
68
O projeto Caminhos do Futuro é uma parceria do Ministério do Turismo com o Instituto de
Academias Profissionalizantes (IAP), a Academia de Viagens e Turismo (AVT) e o Núcleo de
Turismo da Universidade de São Paulo (USP). Essa parceria resultou em qualificações em 16
estados brasileiros, nos principais temas ligados ao turismo (Caminhos do Futuro, 2007).
244
Idade Escola-
ESTADO Profissão
20-30 31-40 41-50 > 50
Total ridade
Sujeitos
1- ALAGOAS 9 16 14 4 43
2- AMAZONAS 6 9 18 12 45
3- BAHIA 4 16 14 6 40
4- CEARÁ 14 21 11 7 53 Professores
5- DISTRITO FEDERAL 5 15 6 8 34 de escolas
públicas do
6- ESPÍRITO SANTO 12 15 12 4 43 ensino
7- GOIÁS 6 22 8 10 46 fundamental
8- MARANHÃO 20 18 8 2 48 e médio.
Superior
Outros
9- PERNAMBUCO 13 10 13 8 44 profissionais
10- PIAUÍ 11 15 16 10 52 ligados às
11- RIO GRANDE DO SUL 8 8 15 9 40 secretarias
da educação
12- SANTA CATARINA 12 9 13 6 40 e do turismo.
13- SERGIPE 4 11 14 5 34
14- TOCANTINS 9 19 15 4 47
TOTAL GERAL 133 204 177 95 609
1- Maragogi (AL), Manaus (AM), Mata de São João (BA), Jijoca (CE), Brasília (DF),
São Mateus (ES), Caldas Novas (GO), Barreinhas (MA), Cabo de Santo Agostinho
(PE), São Raimundo Nonato (PI), Pelotas (RS), Balneário de Camboriú (SC),
Aracaju (SE) e Palmas (TO).
245
Instrumento de medida
Propõe-se, então, um tipo de legenda para mapas turísticos que se baseie nos
símbolos de informação pública. Para isso, é necessário adaptar, melhorar
graficamente e avaliar, por pesquisas empíricas, os vários pictogramas já
existentes. É preciso que se mantenha o esforço de formular um inventário, de
ordenar, padronizar e divulgar, em escala internacional, um sistema de sinalização
para o setor. Desse modo, pode-se vislumbrar a composição de um sistema único,
normatizado, pelo menos no que se refere a ações, situações e locais de senso
comum. Carneiro (2001:193) complementa que, ser oficial, não é uma qualidade
imposta pelos órgãos ou entidades, mas sim a condição legítima de uso e
inteligibilidade.
4ª.) O texto deve ser direto e objetivo, trazendo informações úteis – serviços,
curiosidades, história, referências – aos turistas. A escala precisa ser adequada
aos elementos que serão dispostos sobre o mapa-base. A orientação (pontos
cardeais, latitude e longitude) é necessária, pois é um item que traz referências ao
turista.
Atribuição de pontos
A) BRASIL B) ESTRANGEIROS
TEMA TEMA
1 2 3 1 2 3
RESPOSTA RESPOSTA
Aceita 56 56 28 Aceita 23 23 13
Rejeitada 3 8 0 Rejeitada 1 5 0
TOTAL 59 64 28 TOTAL 24 28 13
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
TEMA
1 2 3
RESPOSTA
Aceita 56 56 28
Rejeitada 3 8 0
TOTAL 59 64 28
255
A) BRASIL B) ESTRANGEIROS
QUESTÃO 1 QUESTÃO 1
TIPO DE a B c d TIPO DE A B C d
MAPA MAPA
Convencional Convencional
15 6 23 4 6 12 13 5
(1) (1)
Pictórico Pictórico
41 50 33 52 17 11 10 18
(2) (2)
Total Geral Total Geral
56 23
(1+2) (1+2)
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
QUESTÃO 1
TIPO DE a B c d
MAPA
Convencional
21 18 36 9
(1)
Pictórico
58 61 43 70
(2)
Total Geral
79
(1+2)
A) BRASIL
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
A b a b
6 4
Positiva 19 17 26 28 28 17 I II 16
15 3
Negativa 9 11 2 0 0 11 III IV 12
TOTAL
(Positiva + 28
negativa)
B) ESTRANGEIROS
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
A b a b
- -
Positiva 5 6 7 12 12 10 I II 6
5 8
Negativa 8 7 6 1 1 3 III IV 7
TOTAL
(Positiva + 13
negativa)
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
A b a b
6 4
Positiva 24 23 33 40 40 27 I II 22
20 11
Negativa 17 18 8 1 1 14 III IV 19
TOTAL
(Positiva + 41
negativa)
261
A estrutura é a seguinte:
1) Bondinho
Bonde, teleférico, pão de açúcar, transporte por cabo.
________________________________________________________________________________
2) Teleférico
Estação de esqui, poltrona, esqui, trem de esqui.
________________________________________________________________________________
_____
3) Táxi
Ponto de táxi, carro, polícia, ambulância, locação de veículos, parada de táxi.
________________________________________________________________________________
4) Rodoviária
Ônibus, ponto de ônibus, transporte coletivo, transporte rodoviário.
________________________________________________________________________________
5) Porto
Navio, embarcação, transporte fluvial, área portuária, transporte marítimo, viagem
marítima, hidrovia.
________________________________________________________________________________
6) Metrô
Estação de trem, trem-metrô, bonde, estação de metrô.
________________________________________________________________________________
7) Heliponto
Helicóptero, heliporto, táxi aéreo, aeroclube, local de pouso.
________________________________________________________________________________
8) Estação ferroviária
Trem, Ferrovia, Estação de trem, Linha de trem, linha férrea, locomotiva, metrô, trem de
superfície.
________________________________________________________________________________
9) Balsa
Carro, transporte fluvial, transporte aquático de carro, transporte por barca, carro na balsa.
265
10) Aeroporto
Avião, transporte aéreo, aeroporto-avião.
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
18) Bebedouro
Lavatório, lixo, lixeira, pia, lavatório, limpeza, lavabo.
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
266
________________________________________________________________________________
22) Banco
Dinheiro, empréstimo, câmbio, financeira, cifrão.
________________________________________________________________________________
23) Delegacia
Policial, segurança, guarda de trânsito, área militar, posto policial, guarda, policiamento.
________________________________________________________________________________
25) Correio
Correspondência, carta, serviço postal.
________________________________________________________________________________
26) Artesanato
Cerâmica, utensílio, jarra, laboratório, vinho, louça, indústria química, artesanato-cerâmica,
química, farmácia, ciência, pote, vaso.
________________________________________________________________________________
_____
27) Estacionamento
Permitido estacionar, parada, estacionamento proibido, permitido estacionar,
estacionamento privado.
________________________________________________________________________________
28) Hotel
Hospedagem, dormitório, repouso, pernoite, hospital.
________________________________________________________________________________
31) Camping
Acampamento, barraca, local para acampamento, cabana, área de camping.
________________________________________________________________________________
32) Pousada
Chalé, casa de aluguel, casa, casa na praia, residência, guarita, moradia, área residencial.
________________________________________________________________________________
33) Windsurfe
Velejar, barco a vela, vela, surfe, jangadeiro, regata, prática de iatismo.
267
________________________________________________________________________________
34) Vôlei
Quadra de vôlei, Pólo aquático, basquete.
________________________________________________________________________________
35) Natação
Piscina, área para nadar.
________________________________________________________________________________
36) Futebol
Quadra de Futebol, campo de futebol, jogo de futebol.
________________________________________________________________________________
37) Tênis
Quadra de tênis, ping-pong.
________________________________________________________________________________
38) Golfe
Campo de golfe.
________________________________________________________________________________
39) Basquete
Quadra de basquete.
________________________________________________________________________________
43) Pára-quedismo
Pára-quedas, pára-quedista.
________________________________________________________________________________
49) Balonismo
Balão, pára-quedismo, balonista, baloagem.
________________________________________________________________________________
50) Surfe
Surfista, skate, skatista.
________________________________________________________________________________
52) Mergulho
Mergulhador, área de mergulho, prática submarina, nadador.
________________________________________________________________________________
54) Playground
Gangorra, parque, parquinho, parque infantil, balanço.
________________________________________________________________________________
55) Bar
Drink, taça, frágil, adega, bebida, taça de vinho.
________________________________________________________________________________
56) Cervejaria
Choperia, chope, bar, milk shake, bar.
________________________________________________________________________________
57) Sorveteria
Sorvete.
________________________________________________________________________________
58) Supermercado
Carrinho de supermercado, mercado.
________________________________________________________________________________
59) Lanchonete
Lanche, fast food, lancharia.
________________________________________________________________________________
60) Restaurante
Refeição, talheres.
269
61) Cafeteria
Café, casa de chá, café expresso.
________________________________________________________________________________
62) Biblioteca
Livraria, leitura, livro, jornal.
________________________________________________________________________________
64) Parque
Floresta, árvores, bosque, reserva florestal, parque natural, campo, mata, área verde.
________________________________________________________________________________
66) Monumento
Farol, marco, obelisco.
________________________________________________________________________________
68) Mesquita
Noite, lua, lua crescente, boate, templo islã, místico, lual, lua minguante, muçulmanos,
símbolo do islã.
________________________________________________________________________________
69) Sinagoga
Estrela de Davi, judaísmo, templo judeu, judeu, israelense, maçonaria, pentagrama.
________________________________________________________________________________
70) Igreja
Catedral, cristão, igreja católica, igreja cristã, templo cristão.
________________________________________________________________________________
71) Farol
Farol alto, porto, foguete.
________________________________________________________________________________
73) Caverna
Gruta, túnel.
________________________________________________________________________________
74) Cachoeira
Catarata, cascata, corredeira.
________________________________________________________________________________
75) Zoológico
Animal selvagem, elefante, safári, selva, circo, cuidado: animais.
________________________________________________________________________________
76) Museu
Circo, palácio, mesquita, teatro, ruínas, Grécia.
________________________________________________________________________________
77) Teatro
Carnaval, museu, máscara do teatro, baile de máscara.
________________________________________________________________________________
78) Hipismo
Hipódromo, rodeio, corrida de cavalo, hípica, jóquei, corrida de cavalo, equitação, festa de
rodeio, haras.
________________________________________________________________________________
79) Praia
Chuva, sombrinha, balneário, guarda-sol, área para banhista.
________________________________________________________________________________
82) Internet
Arroba, cyber café, e-mail, endereço eletrônico, informática, lan house, acesso a Internet.
___________________________________________________________________
Acertaram o contexto
A partir dos 56 símbolos já inclusos, ainda restam 26 com índice menor de acerto
que 300 sujeitos. Desses 26, 12 símbolos foram respondidos corretamente por
menos de 200 sujeitos – acerto do contexto (incluindo-se o acerto do símbolo):
A) BRASIL B) ESTRANGEIROS
QUESTÃO 1 (%) QUESTÃO 1 (%)
TIPO DE a B c D TIPO DE A b C d
MAPA MAPA
Convencional Convencional
26,8 10,7 41,0 7,0 26,1 52,2 56,5 21,7
(1) (1)
Pictórico Pictórico
73,2 89,3 59,0 93,0 73,9 47,8 43,5 78,3
(2) (2)
Total Geral Total Geral
(1+2)
100 (1+2)
100
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
QUESTÃO 1 (%)
TIPO DE A B c d
MAPA
Convencional
26,6 22,8 45,6 11,4
(1)
Pictórico
73,4 72,2 54,4 86,6
(2)
Total Geral
(1+2)
100
perfect for hikink with the shown contour lines etc... there we need precise scales
e.g. for measuring and suggesting the time for trips - type 2 seems to me being
good for planning trips and getting to know the main features - told with pictures it
attracts the visitors and helps the tourist in setting priorities. Maybe he sees which
atrractions are in a near surroundings and its importance for the family trip that
could be made in a specific time - tourist maps should give a feeling of pre-
happyness of the upcoming trip” (geo informática e mídia, 30, Alemanha). “...em
alguns momentos seria interessante levar os dois mapas...” (professora, 29, MT).
___________________________________________________________________
Questão 2 (tema 1)
Já em relação ao texto disposto dentro dos quadros, você os acha:
a) Necessários. Reforçam a curiosidade e o conhecimento sobre o lugar.
b) Desnecessários. As informações são exageradas e poluem visualmente o
mapa.
___________________________________________________________________
1) Entre os brasileiros
A partir dos 74 símbolos já inclusos, ainda restam 8 com índice de aceitação menor
que 70% entre os sujeitos, a saber:
2) Entre os estrangeiros
Dos 65 símbolos já inclusos, ainda restam 17 com índice de acerto menor que 70%
entre os sujeitos, a saber:
A) BRASIL
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
a b a B
21,4 14,3
67, 60, 92, 60, 57,
Positiva 100 100 I II
6 7 9 7 1
53,6 10,7
32, 39, 39, 42,
Negativa 7,1 0 0 III IV
1 3 3 9
TOTAL
(Positiva + 100
negativa)
B) ESTRANGEIROS
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
a b a B
- -
38, 46, 53, 92, 92, 46,
Positiva 77 I II
5 2 8 3 3 2
38,5 61,5
61, 53, 46, 53,
Negativa 7,7 7,7 33 III IV
5 8 2 8
TOTAL
(Positiva + 100
negativa)
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
a b a B
14,6 9,8
58, 56, 80, 97, 97, 65, 53,
Positiva I II
5 1 5 6 6 9 7
48,8 26,8
41, 43, 19, 34, 46,
Negativa 2,4 2,4 III IV
5 9 5 1 3
TOTAL
(Positiva + 100
negativa)
279
__________________________________________________________________________
Questão 1 (tema 3)
O que achou da navegação?
Questão 2 (tema 3)
a) O que achou dos recursos zoom, pan e as mudanças de escalas?
b) O que achou dos pop ups (caixas de texto) contidos nos mapas?
___________________________________________________________________
1º) As respostas às questões formuladas com alternativas revelaram que este item
também teve problemas, apresentando uma média geral positiva regular (53, 7%),
sendo que entre os estrangeiros a rejeição chegou a quase 54%.
Primeira afirmação
Segunda afirmação
No entanto, pode-se afirmar que alguns pictogramas são eficazes, mesmo não
utilizando o texto complementar. São eles os que representam o: aeroporto,
restaurante, sorveteria, hotel, correio, supermercado, hospital, praia, telefone
público, banco, vôlei, natação, futebol, tênis, golfe, basquete, asa delta, igreja,
teleférico, táxi, posto de gasolina, lanchonete, e internet. Ao olhar as respostas
dissertativas dadas a esses pictogramas, percebe-se que os poucos entrevistados,
mesmo que não acertassem exatamente o contexto, chegaram muito próximos do
significado pretendido pelo produtor.
283
Terceira afirmação
___________________________________________________________________
Quarta afirmação
Por exemplo, o modo como foram elaborados os pop ups, onde a informação (texto
e/ou figura) só mantinha aberta se o cursor permanecesse sobre a caixa, ou então,
a falta de indicações mais claras e diretas ao internauta, o que fez com que grande
parte dos entrevistados não conseguisse ou tivesse dificuldades em acessar a
seqüência dos quatro mapas em zoom (escala menor para maior) até chegar ao
questionário do tema 3. Essa limitação é flagrante quando se compara a
quantidade de sujeitos que responderam os outros temas:1 e 2 (ver tabelas 11 A,
B e C).
O acesso ao tema 3 pôde ser melhorado quando foi inserida no site uma página de
advertência sobre como prosseguir para chegar ao questionário (Figura 110).
___________________________________________________________________
Quinta afirmação
Mesmo com a alta aprovação dos itens, os entrevistados alertam para a grande
quantidade de informação (textos, ilustrações), que, se reduzidas, podem melhorar
ainda mais o produto.
Kolacny (1994) pondera que o mapa só atinge seu objetivo quando o produtor
considera a produção e o consumo como dois processos interligados. Por isso,
desde a primeira pesquisa que nos propusemos fazer, sempre foram elaborados
testes e análises empíricas após o planejamento e posterior confecção do material
idealizado. Acredita-se se essa a maneira mais acertada de quantificar e qualificar
a eficácia do produto finalizado. Colocam-se então, duas situações distintas, mas
complementares, desenvolvidas durante o processo de comunicação elaborado por
Board (1996):
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
289
4 – Considerações finais
De acordo com a linha de estudo adotada, a história da cartografia, em todo
registra inúmeras e distintas formas de representação do espaço; logo, é preciso
dar à devida importância ao contexto cultural em que o mapa está inserido.
Até porque é o público potencial que deve conduzir o produtor do mapa na escolha
de quais representações devem ser mais usadas e eficazes do que outras.
O passo seguinte apresenta questões trabalhadas por Fiori (1999 e 2003), que são
retomadas e aprofundadas nesta tese, cumprindo três etapas seqüenciais:
1. O fundamento teórico
2. O design e as técnicas
Os materiais utilizados vão desde lápis, papel vegetal, folha branca e caneta
nanquim, até os recursos encontrados nos programas CorelDRAW, Photoshop e
Dreamweaver.
3. Avaliação empírica
*
293
BIBLIOGRAFIA
294
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306
Cartas
FOLHA ASSUNCIÓN. Rio de Janeiro: IBGE, 1998. Mapa color, 75 x 60 cm, SG-21.
Esc. 1:1.000.000.
FOLHA BARBACENA. Rio de Janeiro: IBGE, 1979. Mapa color, 75 x 60 cm, SF-23-
X-C. Esc. 1: 250.000.
FOLHA BARRAGEM. Recife: DSG, 1974. Mapa color, 72 x 62 cm, SC.23-X-B-VI,
MI -1435, 1974, Esc. 1:100.000.
FOLHA CANTO DO BURITI. Recife: DSG, 1974. Mapa color, 72 x 62 cm, SC.23-X-
B-II, MI - 1356, Esc. 1:100.000.
FOLHA CARAGUATATUBA. Rio de Janeiro: IBGE, 1974. Mapa color, 75 x 60 cm,
SF-23-Y-D-VI-1. Esc. 1: 50.000.
307
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MAPA SANTIAGO TURÍSTICO. SERNATUR: Santiago do Chile, 2005.
MAPA TURÍSTICO DA REGIÃO DE NAGANO. Kem: Nagano: [s.d.]
MAPA TURÍSTICO DA DUTRA. RDE Empreendimentos Publicitários Ltda: Rio de
Janeiro, [s.d.]
MAPA TURÍSTICO DE CAXAMBU. Tour Mapas. Editora Buz: Caxambu, 2003.
309
SÃO PAULO
2007
3
SÃO PAULO
2007
4
AGRADECIMENTOS
Mais uma vez agradeço a Deus por ter me concedido paciência durante a espera.
Como resposta às inúmeras orações, recebi maturidade, mas também realizações e
alegrias ao longo de minha carreira acadêmica e profissional.
Aos amigos que ajudaram ou se fizeram presentes em algum momento desta tese.
Em especial, gostaria de registrar o nome de alguns deles: Waldirene Ribeiro,
Carmem Marega, Aline Souza, Daniel Zungolo Teixeira, Giovanni Ballarin e todos os
professores que participaram do Projeto Caminhos do Futuro.
A meus pais, Antônio e Cleuza, pelas conversas, proteção, carinho e amor sempre
constantes. Vocês são um grande exemplo para nova etapa da minha vida que se
inicia.
RESUMO
Os mapas inserem-se no dia-a-dia das pessoas de forma cada vez mais presente. A
mídia – telejornais, revistas, anúncios de propaganda imobiliária, internet, jornais,
mapas artísticos e de propaganda, etc. – ao utilizá-los como um meio de
comunicação, na maioria das vezes, ignora algumas regras básicas na relação
produtor e público usuário.
Entretanto, é bom frisar que os símbolos e mapas convencionais também farão parte
do produto cartográfico final, até porque, mesmo trabalhando potencialmente com
mapas pictóricos para o setor do turismo, algumas informações são particularmente
mais apropriadas e diretas se feitas por meio da convencionalidade.
ABSTRACT
The maps are going into people’s day-to-day on an increasingly basis. The media
(telenews, magazines, real estate advertisements, the Internet, newspapers, artistic
and advertising maps, etc.), when using them as a communication means, most of
times pays no attention to some basic rules in the user-producer relation.
In the heart of these cartographic materials are the tourist maps usually elaborated by
artists and illustrators, instead of geographers and/or cartographers. Therefore, this
research based essentially on the thematic cartography, aims at going deeper and
narrower into the methodology initiated and experienced in the master degree, which
dealt with the use of pictoric representations and the oblique vision in maps oriented
specifically to tourists and laymen in cartography. The reason is that such graphics
resources allow a lower level of abstraction of the graphics representation, bringing
unmistakably a higher simplicity to the cartographic reading. Besides, it is visually
more attractive as it evokes visual, affective and emotive connotations.
In addition, a specific subtitle is suggested to the tourist maps by making use of the
pictography and symbols of public information. Such symbols are elaborated in order
for people to see them, interpret them and understand them without have never seem
them before.
However, it’s important to emphasize that the conventional symbols and maps will
also be part of the final cartographic product, because even working potentially with
pictoric maps to the tourism sector, some information is especially more adequate and
obvious trough the conventionality.
The development of thematic tourism maps for use in the digital media is also added
to this study. These new technical resources allow the development of maps which
are not limited to a sheet of paper, providing interactive, animated, sonorized
representations, in different languages, among many other resources.
In this item, besides the elaboration and use of the product itself, there is a special
concern on the map, the interactivity and the user, without never forgetting that the
thematic material – tourism – must always bring a good understanding of the
information (reading), and motivation (attractiveness, curiosity) towards the locality
represented.
SUMÁRIO
CD – ANEXOS
Pasta 1 – Mapas pictóricos – Trabalho de Graduação Individual (TGI) - 1999:
“Atlas Pictórico - proposta metodológica para a confecção e uso didático”.
Pasta 2 – Mapas convencionais e pictóricos de Ilhabela (SP) e São Vicente (SP) –
Dissertação de Mestrado - 2003:
“Mapas turísticos: o desafio do uso da arte na era digital”.
Pasta 3 – Mapas convencionais e pictóricos desenvolvidos durante a pesquisa:
Foz do Iguaçu (PR), Caxambu (MG), Manaus (AM) e
São Raimundo Nonato (PI).
Pasta 4 – Mapa turístico (escaneado) de Caxambu – Edição janeiro de 2003.
Todos os direitos reservados a Editora Buz.
Pasta 5 – O site elaborado para a pesquisa.
Pasta 6 – O protótipo mapa-site turístico de Caxambu elaborado para a pesquisa.
10
ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE TABELAS
INTRODUÇÃO
Para atingir meus objetivos, iniciei os estudos tendo como base teórica a semiologia
gráfica proposta por J.Bertin. Neles enfatizei as seguintes variáveis visuais: tamanho;
cor (buscando um suposto volume) e forma (grande uso da perspectiva).
O mestrado foi iniciado em março de 2000 e, por diversas razões, acima de tudo
acadêmicas e metodológicas, optei por trabalhar com a confecção de mapas voltados
a um outro tipo de público, o turista, que se caracteriza por ser um grupo muito
16
Em julho de 2000, obtive uma nova bolsa de pesquisa pela FAPESP (processo
00/03940-4) por um período de 24 meses (07/2000 a 07/2002), para desenvolver um
trabalho de mestrado. A dissertação final foi intitulada: “Mapas turísticos: o desafio do
uso da arte na era digital”.
Essa etapa proporcionou uma discussão referente ao uso dos formatos analógico –
com todo o processo técnico de confecção desenvolvido manualmente (uso de lápis
colorido, caneta nanquim e a tinta aquarela) – e digital – utilização do computador
(programas Corel DRAW e Adobe Photoshop).
Kokkonen e Peltonen (1999) nos ensinam que um bom mapa turístico deve permitir
que o usuário planeje e prepare suas atividades, além de se caracterizar como um
produto funcional e esteticamente prazeroso, podendo contribuir com a expectativa
dos visitantes e em uma total satisfação pela viagem.
A justificativa e o tema
A necessidade de recortar o vasto campo oferecido pelo estudo dos mapas forçou o
estabelecimento de limites à área de atuação. Assim, circunscreve-se o interesse aos
mapas turísticos, justificando que:
b. Os mapas pictóricos são muito utilizados pelo setor do turismo e por turistas,
cuja maioria é constituída por leigos em semântica cartográfica.
A hipótese e o problema
A hipótese segundo a qual os mapas com grande uso da pictografia têm mais
aceitabilidade tanto por leigos na semântica cartográfica quanto por turistas, já havia
sido considerada em trabalhos anteriores (Fiori 1999 e 2003). Além dessa,
pressupõem-se outras hipóteses:
d. Quais recursos devem ser utilizados para que se atinjam pessoas de perfis
diversificados.
A tese
f. Formular uma legenda específica para esse tipo de material a fim de facilitar a
leitura ao usuário.
Fundamentação teórica
É importante considerar ainda que, para atingir a contento seu objetivo, a cartografia
não deve relevar cuidados com a estética. A lembrança evoca, portanto, referências
feitas a teorias que se preocupam com o belo.
21
Metodologia
Estrutura da tese
CAPÍTULO 1
Com isso, a inovação estética também foi deslocada para as tecnologias eletrônicas,
tornando a comunicação mais fácil e rápida. Antes havia formas artesanais ou
eruditas, porém hoje os recursos técnicos geram hipertextos e rápidas edições
audiovisuais ou eletrônicas. Por volta de dez anos atrás, conhecer as inovações de
diferentes países, utilizá-las e compor com elas requeria viagens freqüentes,
assinaturas de revistas estrangeiras e vultosas contas telefônicas. Atualmente, basta
renovar periodicamente o equipamento do computador e ter um bom serviço de
Internet para solucionar os problemas (Canclini, 2003: XXXVI).
1
Segundo Beni (1998: 37; 149) são aqueles visitantes temporários que permanecem pelo menos vinte
e quatro horas no país visitado. A viagem pode ser classificada em vários tipos: lazer - descanso,
recreação, férias - de negócios e compras, desportivo, ecológico, rural, de aventura, religioso, cultural,
gastronômico, estudantil, de congressos - convenções, encontros e encontros similares - familiar e de
amigos, de saúde ou médico-terapêutico. Existem ainda, os excursionistas, que são os visitantes
temporários que permanecem menos de vinte e quatro horas no país visitado - incluindo viajantes de
cruzeiros marítimos. Contudo, nesta pesquisa o usuário dos mapas turísticos pictóricos interativos
podem ser tanto os turistas e excursionistas internacionais quanto nacionais.
25
Galeffi (1977: 90) então esclarece que atualmente, em português, a palavra design
não significa desenho, mas sim desígnio, ou seja, plano ou projeto de intenção. Aliás,
o mesmo problema de conceituação ocorre na língua francesa, italiana e alemã.
Desse modo, houve uma internacionalização da palavra design, sendo adotada
principalmente nos meios profissional e acadêmico (Souza, 1992: 12).
2
É um processo de “destilação”, ou seja, de redução dos fatores visuais múltiplos aos traços mais
essenciais e característicos daquilo que está sendo representado (Dondis, 1991: 91). O conceito é
mais bem explicado entre as páginas 49 – 51.
3
Em geral, o ato de motivar ocorre quando um indivíduo quer satisfazer uma necessidade. Os motivos
implicam ação, ou seja, o indivíduo é movido a fazer alguma coisa. Já (em relação à) a motivação
turística - que é o caso desta pesquisa - canaliza e desencadeia um processo de decisão (Goossens,
2000).
26
conteúdo (o que se quer dizer) em uma forma (meio de expressão), por meio do
controle exercido pela técnica (Dondis, 1991: 135). Souza (1992: 12) conclui que:
Partindo de Souza (1992: 32), pode-se afirmar que o trabalho a ser desenvolvido
nessa pesquisa tem a ver com o design gráfico, pois trabalha com a informação e
com os veículos de comunicação. Diferentemente do desenho industrial, que lida com
objetos e equipamentos. A autora (1992: 56) conceitua design gráfico como uma das
formas de conversação social em que as pessoas partilham informações e instruções
por intermédio dos estímulos visuais gráficos. Portanto, a comunicação pode resultar
das várias modalidades do desenho (desenho gráfico, técnico, ilustrativo, publicitário,
etc), isto é, a comunicação visual também está sujeita a algumas condições básicas:
Como foi dito anteriormente, o tipo de material cartográfico proposto implica situar,
tornar acessível a localização e o reconhecimento de pontos e áreas de uma
determinada localidade no espaço. Todavia, pretende-se ir além, ou seja, fazer com
que o mapa temático traga o máximo de boas sensações e recordações possíveis. E,
para isso, conta-se com o uso da pictografia.
Desejos
Memórias
Ao se transportarem seis rios e três cadeias de montanhas surge Zora, cidade que
quem viu uma vez nunca mais consegue esquecer. Mas não porque deixe, como
outras cidades memoráveis, uma imagem extraordinária de recordações. Zora tem
a propriedade de permanecer na memória ponto por ponto, na sucessão das ruas
e das casas ao longo das ruas e das portas e janelas das casas, apesar de não
demonstrar particular beleza ou raridade (op. cit.:19).
Trocas
Olhares:
28
Diferenças
Presume-se que Isaura, cidade dos mil poços, esteja situada em cima de um
profundo lago subterrâneo. A cidade se estendeu exclusivamente até os lugares
em que os habitantes conseguiram extrair água, escavando na terra longos
buracos verticais (op. cit.: 24).
Nomes
A minha mente continua a conter um grande número de cidades que não vi e não
verei, nomes que trazem consigo uma figura ou fragmento ou ofuscação de figura
imaginada: Getúlia, Odila, Eufrásia, Margara (op.cit. 87, 88).
Símbolos
Um bom mapa turístico deve permitir que o usuário planeje e prepare suas atividades,
além de se caracterizar como um produto funcional e esteticamente prazeroso,
podendo contribuir com a expectativa dos visitantes e uma total satisfação pela
viagem (Kokkonen e Peltonen, 1999).
Canclini (2003: 274) continua a reflexão dizendo que a cultura é o capital pertencente
a toda e qualquer sociedade, sendo interiorizada pela prática. É produto de uma
encenação, na qual se escolhe e se adapta o que vai ser representado, de acordo
com o que os receptores possam escutar, ver e compreender. Todo ato de
transmissão cultural implica necessariamente a afirmação do valor da própria cultura
30
Sobre os mapas em particular, Harley (1991) informa que, desde tempos mais
remotos até os dias de hoje, a humanidade das mais diversas culturas representa o
espaço. Contudo, durante um longo período, os mapas de culturas não-européias só
receberam certa atenção quando apresentavam alguma semelhança com os mapas
europeus.
Segundo Harley (1994: 277-278), talvez a grande questão não seja responder
categoricamente se os mapas são verdadeiros ou falsos, precisos ou imprecisos,
objetivos ou subjetivos, geométricos ou pictóricos, ou se são baseados na integridade
científica e contrários à distorção ideológica. O autor aponta ainda outros elementos
32
Latour (1994:102) afirma que não existem nem culturas (diferentes ou universais)
nem uma natureza universal. O que existem apenas são naturezas-culturas, as quais
constituem a única base possível para comparações. O autor (op. cit.: 102-104),
então, apresenta quatro maneiras (figura 2) para conceituá-las:
____________________________________________________________________
Figura 2 – Naturezas-culturas: quatro tipos de relação
3ª) Universalismo particular: ocorre quando a natureza é vista sem estar atrelada a
uma cultura em particular. Logo, uma das sociedades – que é sempre a nossa –
define o quadro geral da natureza em relação ao qual as outras estarão situadas. Dito
isso, projeta-se um argumento dividido em suas partes: o primeiro permite um
relativismo modesto – somos apenas uma cultura entre outras; o segundo permite um
relativismo arrogante – continuamos a ser absolutamente diferentes dos outros.
... todas as medidas, tanto na ciência rígida quanto na ciência flexível, são sempre
medidas medidoras e estas constroem uma comensurabilidade que não existia
4
Alguns dos sentidos da palavra relativismo: estabelecer relações; tornar comensurável; regular
instrumentos de medida; instituir cadeias metrológicas (estudos de descrição dos povos); redigir
dicionários de correspondências; discutir sobre a compatibilidade das normas e dos padrões; estender
redes calibradas; montar e negociar os valorímetros (Latour, op.cit.:111).
34
Latour (1994: 112) cita a etnologia como uma destas medidas medidoras que pode
solucionar na prática a questão do relativismo, pois cotidianamente constrói certa
comensurabilidade, sendo que o relativismo relativista pode se tornar um dos
recursos essenciais na relação entre os diferentes coletivos, por servir como um
negociador planetário sobre os universais relativos que são construídos aos poucos.
Neste trabalho, o desafio maior é avaliar até que ponto o mapa-site pode ser
compreendido (lido, decodificado) e aceito (pela atratividade, motivação) levando-se
em consideração desde um contexto local (município, estado, país) até global (outros
países) a partir de itens como simbologia utilizada (convencionais e pictóricas) e a
posterior inserção na Web (rede mundial computadores). Por exemplo, tendo como
base os diferentes coletivos, a figura 3 apresenta graus de relativismo menores ou
maiores, decorrentes do contexto local-global.
___________________________________________________________________
Figura 3 – O contexto e a escala do relativismo
Na verdade, essas redes não são, por natureza, nem locais nem globais, sendo
melhor dizer redes, mais ou menos longas, mais ou menos conectadas (Latour, 1994:
119-120). Com base em Latour (1994), a seguir, detalham-se melhor essas relações
de escala.
Primeiro, é preciso dizer que o coletivo é resultado do laço social que une os
humanos entre si. Nele atuam paixões, interesses, desejos, entre outros sentimentos.
São essas forças personificadas que estruturam uma sociedade. A partir das histórias
contadas (o sistema da língua) de uns para outros, geram-se processos de
significação a partir de narrativas, textos e discursos – estes são alguns dos
elementos que designam o império dos signos (Latour, op. cit.: 63; 87).
Dito isso, como pensar o mapa e o seu universo de símbolos disponíveis na rede
mundial de computadores, que pode alcançar desde os coletivos locais até os
globais?
Entretanto, os diferentes coletivos podem vir a se estranhar. É o que Latour (op. cit.:
99) denomina de exotismo, ou seja, as diversidades das culturas, como, por exemplo,
o sistema de crenças, técnicas, hábitos, jogos de poder, familiaridades e
similaridades, economias, em suma, a totalidade da existência de um sujeito.
As palavras local e global possibilitam pontos de vista sobre redes que não são,
por natureza, nem locais nem globais, mas que são mais ou menos longas e mais
ou menos conectadas. O exotismo moderno consiste em tomar estas duplas de
oposições como sendo aquilo que define nosso mundo e que nos tornaria distintos
de todos os outros (Latour, op. cit.:120).
36
O produtor cunha um arco interpretativo entre o “estar lá” – criação feita a partir de
inúmeras informações coletadas sobre a localidade, em folderes, sites, livros, por
informações repassadas por pessoas que habitam a localidade – e o “representar
aqui” – trabalho de gabinete (normalmente distante da localidade representada). Na
verdade, então, o produtor representa o outro a partir de uma visão externa – não é
seu coletivo, sua realidade – tal como na tradição, no folclore.
O próprio ato da coleta dos dados de uma localidade, realizada pelo produtor do
mapa, ocorre de diferentes maneiras, isto é, ele pode ou não ter um contato direto
com a coletividade representada, assim, pode conhecê-la porque vive no local ou
porque realizou nela um trabalho de campo. Mas, pode também conhecê-la por meio
de conversas, internet, correio, etc. – materiais e informações (mapas-base,
inventário turístico – destaques da história e cultura, arquitetura, hábitos, serviços,
atrativos naturais) da coletividade que não é a sua.
Outro ponto a ser destacado é que se elabora o produto (mapa temático turístico)
sempre pensando no estrangeiro, isto é, aquele indivíduo que não mora na cidade
representada e que precisa ser atraído, motivado a querer conhecê-la, saber mais
sobre ela, para que, a partir daí, quem sabe, ter vontade de visitá-la e indicá-la a
37
outras pessoas.
____________________________________________________________________
Figura 4 - O arco interpretativo entre a natureza, o mediador e a cultura
a paisagem era bonita demais, antes quando queimava dava para ver o
Chapadão. Os animais foram espantados após a formação do Parque. Quando
não havia o Parque havia o fogo e os animais gostavam dos brotos das plantas.
(alfaiate, morador há mais de 55 anos)
38
O conceito de paisagem foi criado no século XVI, visando gerar um modelo visual, ou
seja, a invenção pictórica da natureza. Com isso, os elementos do espaço passaram
por um processo de dessacralização, por remeterem a outras coisas que não a eles
próprios (seres únicos), tornando-se imagens plenamente significantes por si
mesmas. Por exemplo, ao se desenhar uma árvore, um rio, uma montanha, está
subentendido que esses elementos são parte constituinte da paisagem, fazendo-a
existir com tal (Alcântara e Sader, 1999). As autoras continuam esclarecendo que o
termo paisagem é definido por possuir uma realidade material, pois é uma extensão
de espaço oferecida ao olhar. Mostra-se como uma realidade é subjetiva, pois ela
simplesmente não existiria se não existisse um observador. É um espaço
enquadrado, um recorte significativo do mundo, logo, a percepção de um fragmento
do espaço, ao ser percebido é automaticamente interpretada. O objeto percebido é
um objeto refigurado, provido de atributos anteriormente sabidos, tanto que, quando a
percepção transforma um recorte do espaço em paisagem, ela está aplicando-lhe
julgamentos de conformidade, realidade e identificação. Por isso, a paisagem
caracteriza-se como:
5
É sempre um processo seletivo da apreensão. Mesmo se as pessoas partem de uma única realidade,
cada uma a vê de maneira diferenciada. Isso faz com que a visão do homem em relação às coisas
materiais seja sempre deformada. A percepção não é tida como conhecimento – pois depende da
interpretação – e terá maior validade quanto mais limitar o risco de tomar por verdadeiro o que é só
aparência (Santos: 1996: 62).
6
O aparelho cognitivo tem um papel crucial na apreensão da paisagem, pelo fato de que toda
educação (formal e informal) é feita de forma seletiva, ou seja, pessoas diferentes apresentam
diversas versões para o mesmo fato (Santos: 1996: 62).
7
A paisagem compreende dois tipos distintos de elementos: os objetos naturais, que não são obra do
homem nem jamais foram tocados por ele. E os objetos sociais, testemunhas do trabalho humano
tanto no passado como no presente (Santos, 2004: 54).
39
te. Como, por exemplo, uma região produtora de algodão, café, trigo ou, então, uma
paisagem urbana – cidade, centros, periferias – de tipo européia, americana ou
asiática. Todas são paisagens e concentram formas mais ou menos duráveis,
possuindo um traço comum: a combinação de objetos naturais e fabricados, que em
conjunto formam os objetos sociais, resultado da acumulação da atividade humana
por muitas gerações (Santos: 2004: 53).
O outro – tanto o turista quanto o produtor – não se envolve nem se relaciona com as
vidas e os valores dos habitantes locais. Já o morador da localidade representada
tem uma atitude mais complexa, resultado de sua imersão no ambiente (Tuan: 1980:
72; 74). O autor ainda exemplifica a postura superficial do turista em relação a uma
cidade medieval européia – ver também a figura 4.
Manifestam seu deleite sobre as ruas escuras, calçadas com seixos, as esquinas
e recantos íntimos, as pitorescas construções compactadas de casas e as
encantadoras lojas antigas, sem parar para pensar como as pessoas realmente
viveram. Ou então, um turista em Chinatown fica encantado com o estímulo de
seus sentidos da visão e do olfato; ele sai com uma feliz ignorância do
apinhamento, das vidas apáticas, do jogo atrás das vistosas fachadas
(Tuan: op.cit.: 74).
Mas, por outro lado, o mesmo turista é capaz de perceber méritos e defeitos em um
meio ambiente que já não são mais visíveis ao residente (Tuan, op.cit.:75).
8
Segundo Lacan (apud Gomes, 1996) é uma ficção real e vivida. Para compreender o imaginário, é
necessário nos colocar em consonância com o outro mesmo quando a comunicação ultrapassa as
possibilidades de interpretação racional. A função empática da arte inscreve-se neste gênero de
comunicação, por utilizar um vocabulário inconsciente para fazer transitar sensações reais e vividas
sob a aparência de irrealidades. A valorização da arte pelos geógrafos humanistas explica-se
exatamente por esta dimensão do conhecimento espontâneo, inconsciente e não racional.
40
____________________________________________________________________
Figura 5 – Fotos de uma cidade medieval
Por isso, em sociedades primitivas, com menor comércio, os códigos simbólicos eram
mais estáveis do que nas sociedades contemporâneas. Hoje, o mundo é marcado
41
Essa dinâmica dá à paisagem um sentido móvel, isto é, cada vez que a sociedade
passa por um processo de mudança, também mudam, em ritmo variado, a economia,
as relações sociais e políticas. Por conseguinte, o mesmo fenômeno acontece com o
espaço e a paisagem, que se transformam, buscando se adaptar às novas
necessidades da sociedade (Santos, 2004: 54).
Ratifique-se, portanto, que paisagem e espaço não são sinônimos, sendo a primeira
um conjunto de formas, contextualizada em recorte temporal, cumulativo e
substitutivo, resultado da lógica de produção do espaço. As paisagens se formam
umas sobre as outras, sendo constituídas pelo conjunto de objetos de diferentes
idades, que representam as sucessivas relações entre a humanidade e a natureza.
Reafirme-se, então, que a paisagem é transtemporal, juntando objetos passados e
presentes, ou seja, suas formas ocorrem em momentos históricos diferentes –
42
Visto de maneira mais direta, o espaço do local trabalhado pelo setor do turismo,
concentra um determinado número de objetos reais-concretos e paisagens, que são
“filtradas” e aproveitadas no desenvolvimento dos mapas. Isto decorre das diversas
parcelas e maneiras de utilização do espaço, que se constituem por um conjunto de
mercadorias que recebem valores – maiores ou menores – em um dado momento,
pela sociedade, refletido em cada fração da paisagem. O que significa que os objetos
não mudam de lugar, mas de função, isto é, de significação, de valor sistêmico
(Santos, op.cit.:103-104).
Citem-se então alguns exemplos: um rio, que antes servia somente para a pesca de
subsistência e irrigação de lavouras, hoje oferece um grande potencial aos esportes
de aventura como o rafting, o bóia-cross ou o canyoning. Um antigo galpão, que
9
É o que fica do passado como forma, espaço construído, paisagem, ou seja, são reminiscências dos
processos de supressão, acumulação e superposição, com que as coisas se substituem e acumulam
em todos os lugares. O tempo atual se defronta com o tempo passado, cristalizado em formas (Santos,
2002: 140).
10
Deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo
de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais e, de outro, a vida que preenche e os anima,
ou seja, a sociedade em movimento (Santos, 1996:26). Por trás dos padrões sociais, das formas
criadas, dos usos do solo, das repartições e distribuições, dos arranjos locacionais, estão concepções,
valores, interesses, mentalidades, visões de mundo. Enfim, todo o complexo universo da cultura, da
política e das ideologias (Moraes: 2002: 16). O autor ainda alerta (op. cit.: 19) que não se deve perder
o contexto histórico, pois o sujeito exprime uma época, sendo estruturado dentro de limites e
possibilidades.
11
Também chamado de recursos turísticos, os quais constituem o patrimônio turístico. Esses
elementos são passíveis de provocar deslocamentos de pessoas e integram o marco geográfico-
ecológico-cultural de um lugar, podendo, por sua origem, ser subdivididos em naturais e culturais
(Beni: 1998: 57).
43
antes abrigava uma tecelagem, hoje pode ser um espaço cultural, como um teatro.
Cite-se hipoteticamente o centro urbano de uma cidade qualquer, que outrora fora
rico, ativo e efervescente, porém com o tempo se tornou inóspito, perigoso. No
entanto, com um trabalho de restauração e incentivo governamental (arquitetura,
infra-estrutura, volta de moradores, etc) pôde se tornar um importante e atrativo
destino turístico da cidade. Desse modo, o que hoje é valorizado por determinada
parcela da sociedade (material acumulado das ações humanas através do tempo)
amanhã pode não ser (animado pelas ações atuais) e vice-versa. Santos (2002: 105)
complementa que, só por sua presença, os objetos técnicos não têm outro significado
senão o paisagístico. Mas eles aí estão também em disponibilidade, à espera de um
conteúdo social.
Dentro dessa lógica, pode-se trabalhar a paisagem como conjuntos, como se fossem
cartões postais, ou seja, trazer ao olhar um conjugado de formas ou formas isoladas.
Até porque, de um modo ou de outro, temos a tendência de negligenciar o todo;
mesmo os conjuntos que se encontram em nosso campo de visão nada mais são do
que frações de um todo (Santos, 2004: 35). O autor continua esclarecendo que a
percepção que se tem da paisagem está longe de englobar o objeto em sua realidade
profunda: o que se capta é uma aparência. O objeto caracteriza-se por duas faces: a
verdadeira, que não se dá diretamente ao observador; e a face visível, amoldada pela
12
O conteúdo (da sociedade) e a forma (objetos geográficos) são dependentes entre si. Até porque,
cada forma encerra uma fração do conteúdo, que pode ser comparado a uma sociedade em
andamento, em evolução, em movimento. Ou, melhor ainda, ao seu presente ainda não realizado
(Santos, 1996: 27).
44
ideologia 13.
Como resultado, as formas (em si), os objetos geográficos, passam a ter mais do que
um papel funcional, pois são preenchidos de simbolismo, representatividade,
intencionalidade. Impõe-se sobre eles um conteúdo e um valor que na realidade não
têm; logo, seu significado é deformado por sua aparência (Santos, 2004: 59).
13
Os construtores do espaço estão atrelados à ideologia dominante ao conceber uma casa, uma
estrada, um mapa, uma cidade. O ato de construir está submetido a regras que procuram nos modelos
de produção e nas relações de classe suas possibilidades atuais (Santos: 2004: 36-37).
45
outras.
Todo o processo de criação tem como base a diversidade cultural, trazendo à tona
informações que precisam ser interessantes, de fácil reconhecimento e leitura ao
maior número de pessoas. Conseqüentemente, procura-se um tipo de representação
cartográfica com grande apelo ao senso comum, ao imaginário coletivo e também ao
lúdico. O intuito é gerar sempre a dualidade: traços de identidade, igualdade, visando
à leitura, compreensão do mapa; e de diferença, como o exotismo, que motivam,
instigam o querer conhecer, viajar.
Para que isso ocorra, o mapa turístico deve se tornar natural e naturalizado, criando
possibilidades com base nos mapas já existentes, ou seja, aqueles constituídos por
uma semântica para iniciados como os provenientes do ensino formal: os mapas e
símbolos convencionais. Estes podem ser retrabalhados e adaptados ao público
potencial: o leigo em cartografia e que deseja conhecer novos lugares. Nesse caso,
ocorre um hibridismo, resultante da composição entre símbolos pictóricos e
ilustrações: os chamados “símbolos culturais” familiares ao senso comum. Contudo,
deve-se sempre estar atento aos itens fundamentais da composição de um mapa
convencional, como escala, legenda, título e sistema de referências (indicação de
norte, latitude, longitude).
Tendo como parâmetro o mapa para o setor do turismo e com base no capital cultural
e suas nuances – grande variedade e níveis de relações entre coletivos – surgem
muitas preocupações referentes à boa funcionalidade do produto, devido à
diversidade do público usuário e, portanto, à necessidade de uma instrução prévia.
A finalidade é criar convenções com base no que já existe, ou seja, nos mapas
convencionais que trazem uma semântica para iniciados. A partir daí adaptar,
adequar e elaborar os mapas temáticos para o turismo, que mesclam o convencional
(símbolos abstratos, normas mais rígidas, representações e leitura mais simples e
direta) com a pictografia (símbolos pictóricos, suposta tridimensão, ilustrações, leitura
mais lenta, lúdica). Procurando referenciar (restringir minimamente) o público a ser
pesquisado e analisado, é importante esclarecer que os mapas turísticos são
disponibilizados na Web. Isso faz com que o usuário do então mapa-site turístico
46
Nesse contexto, conceitua-se o habitus 14, que exige dos grupos e/ou classes sociais
o controle e domínio mínimo de um código comum, mesmo que ainda não seja um
registro consciente. Carneiro (2001:31) complementa que o uso de códigos facilita o
processo de comunicação das informações semânticas a partir do momento em que
utiliza unidades ou elementos significativos que são de conhecimento prévio do
receptor-usuário.
14
Toda a ação histórica reflete dois estados do social: o Habitat - estado objetivado – história
acumulada ao longo do tempo nos objetos, nas máquinas, edifícios, monumentos, livros, teorias,
costumes, direito, etc. E o Habitus - estado incorporado. Por exemplo: Quando um homem tira o
chapéu para cumprimentar alguém, está reativando, sem saber, um sinal convencional herdado da
Idade Média, pois este gesto remonta aos homens de armas, que costumavam tirar o seu elmo para
manifestações pacíficas. Esta atualização da história é conseqüência do habitus, isto é, produto de
uma aquisição histórica que permite a apropriação do adquirido histórico (Bourdieu, 2000: 82). Por
outro lado, quando duas pessoas são dotadas de habitus diferentes, isto é, não foram expostas às
mesmas situações e aos mesmos estímulos, terão razões para fazer julgamentos de valor de maneiras
diferentes (Bourdieu, 1996: 333).
47
Ocorre, então, que o sistema de ensino é umas das instituições mais preocupadas
em transmitir a cultura, por desenvolver um papel fundamental quanto à participação
de um senso comum, entendido como um fundamento comunicação. A escola dá ao
indivíduo primordialmente um repertório para abordar os problemas de maneira
comum. Bourdieu (1974: 288) trata de tal relação ao afirmar que, para que os homens
cultivados de uma época possam discordar a respeito das questões que discutem,
devem ao menos estar de acordo com certas questões, para assim, discutir sobre
outras. Até porque o processo de transformações e reestruturações do campo cultural
é contínuo e não radical, abraçando os mais variados temas. Assegura também a
continuidade da comunicação entre as gerações intelectuais. E, em todos os casos, é
o sistema escolar que torna inteiramente compreensível os esquemas que organizam
o pensamento de uma época, consagrando-os e constituindo-os, pelo exercício, como
hábitos de pensamentos comuns a toda uma geração (Bourdieu, 1974: 208).
Esta pesquisa parte de bases topográficas (sistemáticas), que são o pano de fundo
para que se instaure e aprofunde uma metodologia voltada à cartografia temática,
objetivando a elaboração de mapas turísticos.
Neste instante, é importante citar Guerrero (2004: 43), que trata do ato de
aprendizagem. O ato ocorre de maneiras diferentes entre os sujeitos. Tal
diferenciação está intrinsecamente ligada às estruturas cognitivas, às experiências de
vida e ao aprofundamento da significação, resultante do maior ou menor contato com
a informação que proporciona maior ou menor conhecimento dos seres humanos em
relação aos mais diversos temas de seu cotidiano.
É necessário deixar mais claro o conceito de abstração utilizado neste trabalho. Ele é
definido por deixar de lado os “detalhes irrelevantes” da realidade, enfatizando os
traços distintos do elemento real-concreto. De acordo com Dondis (1991: 91), esse é
um processo de “destilação”, ou seja, de redução dos elementos visuais a traços mais
essenciais e característicos. A graduação ligada à eliminação dos detalhes segue
dois caminhos: a abstração voltada ao simbolismo que, às vezes, proporciona um
significado identificável, e, outras vezes, um significado arbitrariamente atribuído; e a
abstração pura, ou redução da manifestação visual aos elementos básicos, que não
conserva relação alguma com qualquer representação representacional extraída da
experiência do meio ambiente.
Aliás, mesmo a abstração voltada para o simbolismo requer uma simplificação radi-
cal, ou seja, a redução dos detalhes visuais do elemento disposto no espaço a seu
mínimo irredutível. Além disso, para ser eficaz, um símbolo não deve apenas ser visto
e reconhecido; deve também ser lembrado, e até reproduzido (Dondis, op.cit.: 91).
____________________________________________________________________
Figura 7 – Traços visuais: o conceito de uma girafa
____________________________________________________________________
Figura 8 – Traços característicos do elemento representado: a schemata
É fato que, quanto mais abstrato for o símbolo, mais intenso deve ser o trabalho de
educação do público em relação ao significado da representação (Dondis, 1991: 92).
Isso faz com que as representações não tenham limites muito precisos e uniformes
53
Com base nesse autor (1974: 290-291) pode-se concluir que aqueles indivíduos que
têm a possibilidade de convívio prolongado com os mapas, trazem consigo uma
interiorização consciente e inconsciente das regras de produção e um sentimento de
familiaridade e de maior compreensão do objeto. Conseqüentemente, não há uma
escala possível para se quantificar qual o maior ou menor grau de compreensão da
leitura cartográfica. O que se pode apontar são algumas situações sociais
facilitadoras como: os pais mostrarem e incentivarem o uso do mapa, o gosto
pessoal, o acesso facilitado, a educação formal, etc. Dessa mesma perspectiva,
pode-se justificar que o uso e compreensão das representações se ajustam à visão
de mundo da experiência prática.
Por fim, insere-se a mídia (jornal, rádio, televisão, Internet, etc.) como um dos
principais atores de reprodução das práticas sociais, consagrando, ao longo do
tempo, sua grande força na transmissão da comunicação de massa. Gombrich (1991:
129) ilustra a seguir essa forte influência sobre a sociedade contemporânea:
O que dizer então do novo e rápido crescimento do mundo digital, com as imagens de
satélite, a internet, os cds interativos, a realidade virtual e a inserção de sons, cheiros,
entre outros recursos tecnológicos? Brown, Emmer & Worm (2001) complementam
que há grandes progressos em várias áreas da comunicação, como, por exemplo,
navegadores (browser) com vozes, o que aumentará a utilização do som. De fato, a
alta condição de interatividade é uma revolução quando comparada aos métodos
mais tradicionais (imprensa escrita, rádio e televisão) de se comunicar a informação.
O profissional deve estar sempre alerta para saber como será concebido o mapa para
a indústria cultural. O ato de concepção do material passa primeiramente por um
processo de interiorização (realidade-mapa), ou seja, é por intermédio do produtor
que acontece uma espécie de filtragem das imagens, impressões e sentimentos
naturais. Segundo Galeffi (1977: 148), aquilo que pertencia à vida real ou prática,
transforma-se em experiência contemplada – característica distintiva e imprescindível
– essência da verdadeira criação estética.
O habitus faz o produtor do mapa ser parte integrante de uma coletividade, de uma
época. E, sem que ele tenha consciência, seus atos de criação aparentemente mais
especiais, individuais, são orientados e dirigidos (Bourdieu, 1974: 242). Segundo,
Canclini (2003: 195) a relação que se tem com os atrativos naturais e culturais – e
sua representação técnica e artística: o mapa turístico – ocorre a partir de um
determinado capital cultural que não dispõe do conjunto de bens estáveis e neutros,
com valores e sentido fixos. Isto significa que, por fazer parte de um processo social,
o ato de cartografar se apropria de forma diferenciada e desigual do capital cultural,
devido aos diversos setores, que se acumulam e se reestruturam ao longo do tempo.
A noção de indústria cultural continua servindo como referência ao fato de que cada
vez mais os bens culturais não são gerados de maneira artesanal ou individual, mas
sim por meio de procedimentos técnicos, máquinas e relações de trabalho
equivalente àqueles produtos gerados pela indústria (Canclini, 2003: 257).
A partir de tudo que foi exposto até aqui e pensando na cultura de massa 15, a
elaboração do mapa turístico em meio digital traz muitos questionamentos. Desde já
fica evidente a aproximação e as combinações entre algumas dualidades, a saber:
15
É impossível sintetizar formatos e processos tão variados sob um único nome. Alguns rótulos, os de
cultura de massa ou para massa, podem ser usados com a precaução de que designam um único as-
pecto e não o mais recente. As noções de indústria cultural, cultura eletrônica ou tele-informação são
pertinentes para designar aspectos técnicos ou pontuais da cultura de massa (Canclini, 2003: 258).
57
aqueles da direita.
_______________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Nesse tipo de mapa, trabalha-se mais o senso comum, sendo que temas como arte e
cultura recebem uma importância preponderante, pois os desenhos idealizados,
selecionados e confeccionados são resultado de um conjunto de contextos mentais
de uma dada sociedade.
Este outro tópico tem a ver com o que se pretende e com a intenção de cada símbolo
e ilustração dispostos sobre um mapa temático para o turismo, já pensando no uso
efetivo da pictografia. As simbologias também se dividem em dois tipos: as
denominadas superficiais, que são aquelas reconhecidas mais rapidamente, sendo
diretas, simples, rasas; com elas, busca-se uma padronização. Como exemplos
citam-se os símbolos para sinalização do trânsito, em estrada, turística, em área
pública e privada, entre outros. Mesmo assim, não são alheias às influências culturais
(Figura 12).
____________________________________________________________________
Cabe então ao produtor do mapa, que também não faz parte da coletividade
representada, procurar formas de conhecê-la, coletando dados dentro de um contexto
O produtor filtra e direciona as informações, preocupado com o efeito que se quer dar
da localidade ao turista.
pessoas (meio digital e a internet), aliada aos traços característicos das coletividades.
Neste segundo item, cite-se Canclini (2003: 256-257), ao partir do pressuposto de
que a construção de uma nação requer um projeto político e cultural unificado, um
consumo simbólico compartilhado que favoreça o desenvolvimento do mercado. Os
meios de comunicação integrados traduzem a idéia de nação por estabelecer um
sentimento e cotidianidade, por exemplo, por meio da mídia.
Nesse aspecto, os mapas pictóricos seriam de grande valia, pois, além da ação
fundamental de auxiliar o usuário a se localizar, pode compor maneiras de
representar os atrativos natural e cultural.
Minha única ambição é a de ser lido com facilidade pelo maior público possível. Eu
nunca almejo a “obra-prima” e não escrevo para intelectuais. Deixo esta tarefa pa-
ra outros. Para mim, um bom livro é aquele que nos cativa ao fim de três páginas.
Faça-se aqui apenas uma consideração: esta pesquisa é feita para intelectuais
preocupados em encontrar novos caminhos que levem o mapa a resultados práticos,
para que, assim, prontamente informe e posteriormente motive sobretudo o público
não-familiarizado com a semântica formal dos mapas a querer conhecer, saber mais
sobre a localidade retratada.
16
A análise do discurso não trabalha com o que a linguagem quer dizer, mas como o que a linguagem
diz (Orlandi, 2004: 20).
62
É ainda Orlandi (op.cit.: 20-21), quem esclarece ser a ideologia obra justamente do
ponto de encontro da materialidade da língua com a materialidade da história, sendo
que é pelo discurso que se dá o encontro. No discurso – onde está a materialidade
específica da ideologia – é que melhor se pode observar esse ponto de articulação.
Compreender o que é efeito de sentidos, em suma, é compreender a necessidade da
ideologia na constituição dos sentidos e dos sujeitos. Logo, é da relação regulada
historicamente entre múltiplas formações discursivas que se constituem os diferentes
efeitos de sentidos entre locutores.
É por isso que um mesmo símbolo pode ter diferentes sentidos, por sofrer influências
diretas de seus coletivos (ideologias, imaginários) e da História. Segundo a mesma
autora (op.cit.: 22) os discursos estão duplamente determinados: de um lado, pelas
formações ideológicas que relacionam os discursos a formações discursivas definidas
e, de outro, pela autonomia relativa da língua. São ainda de Orlandi as seguintes
palavras:
dito, os sentidos institucionais, admitidos por todos como “natural” (Orlandi, 1997:
100), sendo fabricada pela história. Já a incompletude é característica de todo o
processo de significação. Isto porque a relação linguagem-pensamento-mundo é
aberta e, vendo pela perspectiva discursiva, é também o lugar do possível (Orlandi:
2004:19). A incompletude é o indício da abertura do simbólico, do movimento do
sentido e do sujeito, da falha do sentido (Orlandi: 2005:114). Além disso, sem ela –
apagamento necessário para a constituição do sujeito – haveria a asfixia do sujeito e
do sentido, pois o sujeito não poderia atravessar, e não seria atravessado pelos
diferentes discursos (Orlandi: 1997:81).
O que deve ficar claro é que o produto final (o mapa-site turístico) tem que fazer
sentido para quem o utiliza, consome, isto tanto em relação ao entendimento da
informação (leitura) quanto à motivação, de querer conhecer a localidade. E Orlandi
(2005:19) deixa claro que não há sentido sem a interpretação. Contudo, faz uma
ressalva: a interpretação é posta em questão pela análise do discurso, pois reiterando
o que já foi dito, ela não se fecha. O que se tem é a ilusão de seu fechamento, pois o
sujeito...
Isso faz com que o produto mapa-site turístico trabalhe uma visão mais superficial,
genérica, funcional, de fácil leitura e compreensão, e ao meso tempo motivadora,
lúdica da informação. Orlandi (2005: 52) resume todo o processo buscado pelo
pesquisador:
17
Como exemplo, cite-se uma oficina de mapas para alunos de escolas públicas, realizada em
Brasília: Amanda Cardoso, 13 anos, recortou a gravura de uma plataforma de petróleo e colou no
mapa da Venezuela. Sem perceber, ela estava estudando geografia e aprendendo a cultura daquele
país com a ajuda de jogos e atividades lúdicas desenvolvidas pelo projeto Caminhos do Futuro. (...) "É
bem melhor do que aprender nos livros. Eu gravei o conteúdo rapidinho", conta Amanda, que cursa a
sétima série do ensino fundamental no Centro de Educação Fundamental Incra 8, em Brazlândia, a 45
quilômetros de Brasília (MEC, 2007).
65
Inicialmente, Harley (1991) evidencia que a história da cartografia surge com o ato do
desenho de um mapa (representação do espaço) sobre um suporte disponível (pedra,
barro) possibilitando uma existência concreta à antiga abstração. Esse processo de
transposição do espaço real para o analógico gera um domínio intelectual do
universo.
linhas. O mapa certamente representa uma área de várzea do rio Eufrates, ao norte
da Mesopotâmia, datado de 2.500 a.C. (Raisz, 1969:9).
____________________________________________________________________
Em outro momento histórico, a segunda metade do século XIII, marcado pelo aumen-
to da atividade comercial, surge um tipo diferente de mapa: as Cartas Portulanas.
Esses mapas, segundo Raisz (1969: 21-22), teriam sido idealizados por almirantes e
capitães da frota genovesa, apresentando fins práticos de navegação pelo Mediterrâ-
neo, ou seja, baseados em medições feitas à bússola e a toponímia era estritamente
disposta nas áreas de portos, cabos e outros detalhes da costa (Figura 17).
Podem ser citados outros rápidos exemplos de relação entre mapas e a História. Em
Ramos (2000:35), lê-se que, se não fosse o forte imaginário popular ibérico, a viagem
às Índias poderia ter ocorrido antes. A igreja estimulava ainda mais esse medo. A
figura 18 mostra um mapa do período, repleto de representações dos supostos
elementos misteriosos.
__________________________________________________________________________
Nos séculos XV e XVI, o material cartográfico foi utilizado com vários fins: como
suporte à reivindicação de terras antes da efetiva ocupação e, logo em seguida, o
mapeamento, que servia ao reconhecimento, informações gerais e legitimava a
realidade da conquista do império. Eventualmente era usado como dispositivo de
pacificação, civilização, de exploração das colônias então definidas, e como
instrumento de divulgação das terras do Novo Continente (Harley, 1994: 281-282).
Acerca do último caso citado, Delano-Smith (1991) conta que, durante a elaboração
dos mapas, os cartógrafos europeus representavam o Novo Mundo à imagem do
Velho. Ilustrações procuravam não desestimular as futuras imigrações de colonos.
Desse modo, sobre a base do mapa, eram confeccionadas paisagens aprazíveis e
iguais às européias. Quanto aos habitantes nativos, os índios, quase nunca eram
lembrados, para que se alimentasse o mito de uma América européia.
____________________________________________________________________
Figura 19 – Exemplo de desenhos pictóricos encontrados
em guias náuticos dos séculos XVI e XVII
71
Essa nova cartografia teve sua expressão maior na França, tanto que o país foi o
primeiro a confeccionar um mapa preciso e detalhado de seu território (com
importante precisão topográfica), baseando-se na triangulação (um conjunto de
pontos que servem de referência) e símbolos codificados (figura 20). Para
confeccionar esse tipo de mapa se tornava indispensável conhecer a real forma da
Terra (Thrower, 1991).
____________________________________________________________________
Figura 20 – Mapas com base na triangulação
18
Grava a energia eletromagnética (a mais evidente é a luz refletida, natural ou artificial) que emana
dos corpos na superfície terrestre. O olho é um perfeito exemplo de sensor remoto, sendo que a
câmara fotográfica é provavelmente o mais familiar tipo de sensor remoto; logo, a fotografia nada mais
é que uma gravação gráfica de intensidade de energia (Cruz, 1981).
19
Destina-se ao processamento informatizado de dados georeferenciados, desde a sua coleta até a
geração de saídas na forma de mapas, relatórios, arquivos digitais, etc., devendo prever recursos para
a estocagem, gerenciamento, manipulação e análise (INPE, 2004).
72
Desonestidade.
20
É um sistema que processa dados gráficos e não-gráficos (alfanuméricos) com ênfase a análises
espaciais e modelagens de superfícies (INPE, 2004).
73
2ª) O sistema de referências, que se divide em dois grupos: o primeiro parte dos
mapas de pequenas e médias escalas mas que abrangem grande extensão de terra,
sofrendo interferência da curvatura do planeta. Esse conjunto utiliza as coordenadas
geográficas, em que o "x" determina a longitude e o "y" a latitude. Do segundo grupo,
74
fazem parte os mapas com grande escala – abrangem uma quantidade de terra
pequena em relação ao tamanho do planeta, sendo consideradas porções de
espaços planos. Esse conjunto utiliza as coordenadas retangulares, em que o eixo "x"
determina as letras para as coordenadas horizontais e o "y" determina os números
para as coordenadas verticais do plano cartesiano. Além disso, o sistema de
referências permite-nos o processo de orientação espacial geográfica, determinada
em graus, obedecendo às direções cardeais Norte, Sul, Leste e Oeste.
Criou-se, assim, o imaginário sobre qual seria a forma mais correta de elaborar um
produto cartográfico, associando o mapa às disciplinas modernas, somada à visão
eurocêntrica e ao crescente avanço tecnológico. Isso fez com que fossem
desconsideradas a maiorias dos mapas produzidos até então, purgando-os a ponto
de atingir um padrão considerado aceitável. O crivo era estabelecido pelo tempo
(história), cultura e uso da matemática no traçado dos mapas. Essa é a cartografia
científica que valoriza:
Harley (1991) continua relatando que os mapas da baixa Idade Média (o Hereford e o
Ebstorf) foram chamados de monstruosidades não-científicas e absolutamente
inúteis. Já mapas elaborados na Índia antes da ocupação britânica, com signos
desconhecidos e estilo pictórico, eram considerados simples curiosidades
cartográficas. Nesse mesmo caso estão os mapas dos índios americanos, os planos
de batalha traçados no solo pelos guerreiros maoris da Nova Zelândia, entre muitos
outros. Todos eram meros objetos de coleções etnográficas.
círculos imaginários, você poderia traçar milhões de milhões deles, cada qual
cortando o Equador num pontinho” (Seemann, 2006).
___________________________________________________________________________
Até que ponto as sociedades produzem mapas objetivos, precisos, em oposição aos
aspectos simbólicos, subjetivos, míticos 21, psicológicos? Kozel (2006) salienta que
este aporte cartográfico é identificado como instrumento de dominação e
manipulação, ancorada na conotação cientificista da verdade ou representação real.
21
Mito é uma mensagem sob a qual incide um uso social. Qualquer mensagem poderia, a rigor, ser um
mito, porém, consideram-se como mito mensagens que visem à naturalização da cultura. Todo sistema
semiológico é um sistema de valores, porém o consumidor do mito considera a significação como um
sistema de fatos (Girardi, 2006).
77
cada sociedade tem ou teve sua própria forma de perceber e produzir imagens
espaciais, chegamos a esta definição de mapa: “representação gráfica que facilita
a compreensão espacial de objetos, conceitos, condições, processos e fatos do
mundo humano”. O motivo de uma definição tão ampla é facultar sua ampliação a
todas as culturas de todos os tempos, e não apenas às da era moderna. Além
disso, ao considerar os mapas uma forma de “saber” em geral, ao invés de meros
produtos de uma prolongada difusão tecnológica a partir de um foco europeu, tal
definição permite escrever uma história muito mais completa.
Isso faz com que a velha história da cartografia passe por uma constante revisão.
Além disso, a nova história da cartografia permite que se entenda muito melhor o
objetivo da criação dos mapas. Voltando ao exemplo dos mapas chineses, é
comprovada a utilidade dos mapas como instrumento de poder: cadastral e
demarcatório de fronteiras, plano de conservação das águas, meios de fixar impostos,
etc. Contudo, os mapas chineses também recebiam influência da literatura, da
pintura, desempenhavam uma função ritual (comprovada pela presença em túmulos),
serviam como instrumento de adivinhação, predição astrológica, de fenômenos
celestes ou de proteção contra forças invisíveis (Harley, 1991).
No Brasil, esse tipo de material já é produzido há muito tempo, contudo, não por
profissionais especializados no assunto (como geógrafos e cartógrafos), o que
acarreta em materiais “cartográficos” de baixa qualidade.
Decisão por impulso – turista que age de maneira rápida, impulsiva, ou seja, o
consumidor muitas vezes atraído por folhetos, por material audiovisual, vídeos,
imagens na internet, programas de TV, filmes de roteiros. Logo, a conduta
impulsiva pode ser provocada a partir do uso adequado desses materiais de
comunicação informativa e publicidade, divulgação. As sugestões de viagens
não-consideradas pelo turista-cliente fazem parte de um segmento da técnica
de marketing do turismo, utilizadas nessas tomadas de decisões impulsivas.
O autor (Beni: 1998: 218) apresenta ainda, nove fases que o turista levará em conta
em seu processo de decisão quanto à escolha de um serviço e localidade, sendo
essencial serem conhecidas ao se elaborar um mapa direcionado ao setor do turismo:
79
A partir do que foi exposto, reitera-se o que já dito anteriormente: um mapa voltado ao
setor turístico deve ser funcional – indicar localizações, proporcionar aos turistas
conhecimento sobre as distâncias entre atrativos, ter símbolos eficazes, etc.
Entretanto, além disso, têm que apresentar um tipo de design que cumpra a função
de divulgar a localidade turística, e, por esta razão, sua aparência estética é
fundamental.
Dentro do complexo Sistema de Turismo – Sistur – criado por Beni (1998: 177), o
mapa turístico pode participar da política de distribuição, tanto como material
informativo (pontos e referências das atrações, distâncias, etc) quanto como material
de divulgação que é enviado aos intermediários (postos de vendas e central de
reservas, como hotéis, empresas de transporte, agências de viagens) e transmitido
aos consumidores.
O exemplo acima ilustra um entre uma grande variedade de contextos que procuram
métodos que disponibilizem maneiras distintas de visualização e experimentação dos
dados e das informações. Segundo Cartwright & Heath (2002), como resultado, tem-
se a possibilidade de várias interpretações de uma mesma informação, pois
diferentes usuários merecem diferentes estilos de representação. Faça aqui uma
ressalva: o estilo do cartógrafo deverá sempre respeitar as reais condições do usuário
em ter acesso à informação pelo usuário que ainda pode preferir usar somente um ou
diferentes tipos de mapa da mesma localidade, buscando, assim, um melhor
entendimento da destinação representada.
22
Pesquisa desenvolvida em 1995, que analisou mapas de visitação confeccionados em Israel entre
os anos de 1984 e 1994. Os mapas foram coletados nos escritórios de Informação Turística Cristã de
Jerusalém e de Turismo do Governo, hotéis, albergues, lojas de suvenir, livrarias, igrejas, e editoras de
mapas. Os mapas continham fundamentalmente representações de igrejas, locais sagrados e para
compras, ou seja, informações que interessam potencialmente a peregrinos e turistas (Collins-Kreiner,
1997).
81
(Cartwright & Heath, 2002), o que também facilitaria a compreensão (leitura), graças
ao recurso da redundância de informações.
____________________________________________________________________________
Inicialmente, é importante frisar que, com o rádio e o cinema, iniciou-se uma fase
decisiva na formação de símbolos de identificação coletiva (Canclini, 2003: 196-197).
E, após o advento do satélite, as possibilidades de comunicação instantânea
tornarem-se um fato, com destaque à televisão e à rede mundial de computadores.
____________________________________________________________________
Figura 24 - Comunicação em cibercartografia
O cartógrafo, então deve definir parâmetros com respeito ao que Canclini (2003: 152)
chama de comunidade hermenêutica possível em uma sociedade e seu tempo,
permitindo aos designers saber que graus de variabilidade e inovação podem
manejar, que públicos se relacionarão, definindo, assim, políticas de comunicação
para que os receptores entendam da melhor forma possível a atividade produtora de
sentido.
Cartwright & Heath (2002) apresentam quatro perfis de usuários quanto à elaboração
83
Tendo como referência o que foi exposto acima, conceitua-se o recurso comunicativo
da multimídia como o único produto que congrega o conjunto de várias mídias
agrupadas. Em Cartwright (1993), encontram-se algumas definições para multimídia.
Destacam-se aqui duas:
É inegável que tal tecnologia favorece e cria enormes possibilidades aos cartógrafos
na elaboração de inúmeros tipos de representações e interpretações dos fenômenos
espaciais nos novos mapas (Cartwright, 1993). As áreas discretas dos gráficos,
outrora representadas de uma forma mais singela, atualmente, podem fazer uso de
imagens, animação, filme, vídeo (Cartwright, 1996).
Tais recursos também fazem com que a tecnologia em multimídia permita o controle
84
Podem ser citados também – como já analisado em Fiori (2003: 125-127) – trabalhos
artísticos com mapas turísticos pictóricos, que empregam ilustrações de uma maneira
pobre e sem criatividade. É comum ver ilustrações que são simplesmente retiradas de
algum arquivo de figuras, sendo em seguida copiadas e coladas.
Finaliza-se esta parte com Vasconcellos (1993: 47) que, ao longo de anos de
experiência prática e de resultados concretos, relata: acredito que é preciso mais do
que motivar, despertar o interesse e conquistar... É fundamental “seduzir”... Um
caminho é desenvolver a percepção, usando todos os sentidos para aprender.
Santaella (1983: 58) brevemente conceitua o signo como um elemento que sempre
representa outro (coisa): seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar
esse poder de representar, substituir algo diferente dele. Conseqüentemente, o signo
não é o objeto, apenas está no lugar dele, representando-o de um certo modo e
numa certa capacidade. Ele pode ser interpretado por experiências concretas,
sentimentos ou pensamentos. Tudo dependerá da natureza e do potencial do signo,
além das condições intrínsecas de vivência de cada pessoa. O signo ainda é
composto de duas partes:
Sendo que o significado do signo não está no próprio signo, mas nos conceitos ou
imagens formadas na mente das pessoas. Isto nos faz supor que o significado de um
signo é outro signo, ou seja, uma imagem mental ou real, uma ação ou mera reação
87
gestual, uma palavra, um sentimento de alegria, e assim por diante (Santaella, 1983:
58).
____________________________________________________________________
Dondis (1991: 26) deixa claro não haver nenhuma maneira fácil, milagrosa, de se
desenvolver o alfabetismo visual. No entanto, atualmente ele é tão vital para o ensino
e acesso aos modernos meios de comunicação, quanto a escrita e a leitura foram
para o texto impresso.
O contato com o texto de Barthes (1964, 1984, 1989) permite concluir que os
mesmos conceitos trabalhados para a lingüística ajudaram a trazer uma maior
familiarização a outros níveis de comunicação referentes a mensagem gráfica. Por
exemplo: o autor fez formulações sobre a natureza da mensagem produzida pela
pintura, pelo desenho e pela fotografia, apresentando diferenças em relação à
mensagem escrita.
Conforma-se pela imagem pura, podendo estar ou não ordenada. Neste caso, pode
ser linear – a,b,c... 1,2,3 ou não linear – desenhos, mapas. As letras, os números, as
linhas, as formas e cores são os primeiros elementos visuais a serem compreendidos.
Esse domínio comum dos significados de conotação é o da ideologia, que deve ser
único em uma mesma sociedade, levando em consideração qualquer um dos
significantes de conotação ao qual recorra. Barthes (1990) continua esclarecendo que
a ideologia geral corresponde na verdade, a significantes de conotação chamados de
conotadores, sendo que o conjunto dos conotadores foram uma retórica, a qual
aparece, como a face significante da ideologia.
As retóricas variam fatalmente em razão de sua forma: som, imagem, gesto, etc. Já a
retórica da imagem – isto é, a classificação de seus conotadores – é, assim,
específica na medida em que é submetida às imposições físicas da visão (diferentes,
por exemplo, das imposições auditivas, táteis, etc). Em geral, as figuras nunca são
mais do que relações formais dos elementos; e esta retórica só poderá ser constituída
a partir de um inventário suficientemente vasto (Barthes, 1990).
c) A lingüística
23
Parte do plano simbólico da linguagem que corresponde a um conjunto de práticas e de técnicas. É
o caso de diferentes leituras da imagem, onde cada signo corresponde a um conjunto de “atitudes”,
como por exemplo, o turismo, a vida doméstica, o conhecimento no campo da arte, as leis de trânsito,
etc. (Barthes, 1990: 38).
90
A fixação pode ser ideológica e esta é, sem dúvida, sua função principal; o texto
conduz o leitor entre os significados da imagem, fazendo com que se desvie de
alguns significados e assimilem outros (Barthes, 1990).
91
O autor esclarece que a palavra, vista em sua forma literal, ou seja, denotada,
responde de maneira mais ou menos direta e parcial a pergunta: “o que é?”,
auxiliando pura e simplesmente na identificação dos elementos contidos na cena e na
própria cena. A função denominativa corresponde a uma fixação de todos os sentidos
possíveis (denotados) do objeto. Por exemplo, havendo um cartaz que representa um
determinado prato de um restaurante, o consumidor pode hesitar na identificação das
formas e volumes dispostos pela representação. Contudo, havendo um texto: “arroz e
atum com cogumelos”, aumenta-se consideravelmente o nível da percepção,
permitindo adaptar o olhar e a compreensão.
1) A dimensão sintática:
estudo das relações dos signos com outros signos
Souza (1992: 72) informa que, estando a sintaxe preocupada em estudar a estrutura
lógico-gramatical da linguagem, – as qualidades materiais do signo em seu jeito
concreto e particular de existir – os elementos gráficos de preocupação do designer
são: a forma, a cor, a textura, a magnitude, a intensidade, o movimento, o ritmo, a
composição, a pertinência a um sistema, etc.
intérprete, a saber:
Universal – pode denotar qualquer coisa, pois tem uma significação universal.
Por exemplo, a palavra algo, o pictograma de masculino, de hospital, etc.
2) A dimensão semântica:
estudo das relações dos signos com os objetos a que se referem
Segundo Souza (1992: 46), é nesta dimensão que os profissionais em design gráfico
deveriam despender noventa por cento de seu tempo.
____________________________________________________________________
A opção por um código é feita a partir de uma escolha que tem como referência o
meio de comunicação que transmitirá a mensagem (neste caso, um mapa) a alguém
(turista) através de um canal (folha de papel e tela de computador). Tal escolha não é
aleatória, pois analisa a natureza da mensagem e as particularidades do canal e do
meio de comunicação, para que, assim, os sinais ou unidades de significação (signos,
representações potencialmente pictóricas) sejam transmitidos da melhor maneira.
Oliveira (1977: 23), Santaella (1990: 63-68), Souza (1992: 73-83) e Carneiro (2001:
31-36) apontam três tipos de relações semânticas que se estabelecem entre o signo
e seu referente.
____________________________________________________________________
» O índice (ou indicador) – geralmente, dirige a atenção para aquilo que representa,
porém não se caracteriza por propriedades de semelhança com o objeto/idéia. É um
tipo de signo que funciona quando a mente interpretadora estabelece uma conexão
dual, ou seja, o interpretante do índice constata apenas a existência dos elementos
físicos: o real-concreto e a representação, normalmente tendendo a um maior nível
de abstração. O raciocínio não ultrapassa a compreensão do signo como existência
94
concreta, por interpretar simplesmente o que vê, sem maiores implicações quanto a
querer identificar, particularizar uma imagem. Por exemplo, ao se elaborarem
representações para caracterizar a morfologia do terreno, pode-se trabalhar com as
técnicas de sombreamento – simulando uma tridimensionalmente das formas, mas
não buscando uma ilustração particular, única e sim genérica – ou então, com cores e
tons identificam-se as diferentes altitudes do terreno (Figura 31).
____________________________________________________________________
Figura 31 – O índice: o desenho não guarda
semelhança direta com o que representa
Essa dimensão faz com que o produtor se preocupe mais com a representação e com
o fato de ela ser compreendida e aceita, desenvolvendo símbolos que sejam
eficientes aos mais diferentes tipos de pessoas (pertencentes ou não a mesma
cultura).
Por fim, Joly (1990, 18, 19) divide os símbolos em várias categorias (Figura 33):
O autor (1990: 19) complementa que o uso dos símbolos naturais, figurativos ou
analógicos tem sido a tendência histórica mais antiga na elaboração de mapas.
____________________________________________________________________
Figura 33 – Símbolos cartográficos
Essa dimensão com problemas relativos à função da representação – para que e qual
96
____________________________________________________________________________
Figura 34 – Dois níveis diferentes de representação da mesma realidade
Bertin (1996) afirma que o emprego das variáveis visuais no plano bidimensional faz
uso das propriedades perceptivas de cada uma delas. Neste momento, é importante
ressaltar que MacEachren (1994, 1995) vem trabalhando e aumentando a relação
das variáveis visuais, tendo como base as duas dimensões do plano, uma
perpendicular à outra: a longitude (X) e latitude (Y). Elas originam as coordenadas
geográficas, também chamadas de componentes de localização, determinando uma
superfície. Some-se ainda o componente de qualificação (Z), que permite uma
modulação do fundo do mapa por uma mancha (cor ou sinal) – característica do lugar
representado – que pode ser qualitativa, quantitativa ou ambas. A extensão (mancha)
do objeto ou fenômeno divide-se em três modos de implantação: pontual, linear e
zonal (Joly, 1990: 14) – Figura 35. É importante ressaltar que Fiori (2003: 72-88) já
apresentou detalhadamente cada uma das variáveis visuais.
E, para que isso aconteça, o redator gráfico (cartógrafo) precisa analisar a natureza
quantitativa, ordenada ou diferencial dos dados a serem transcritos, selecionando a
variável visual correspondente. Deste modo, o processo de escolha dos signos
condiciona-se pelas propriedades limitadas das variáveis visuais, permitindo assim
uma leitura de conjunto – mapas para ver – o principal objetivo da representação
gráfica (Vasconcellos, 1993: 35).
98
liberdade não existe em cartografia! É por esta razão que a cartografia é uma
linguagem universal, uma linguagem finita e rigorosa que tem apenas UMA
ORDEM VISUAL. Adotar qualquer convenção, outra que não imposta pela
fisiologia é afirmar que 2 é igual a 5... é ser cego!
Dacey (1978) finaliza que a linguagem das informações geográficas e dos modelos
cartográficos tradicionalmente se caracteriza pela linguagem dos símbolos
(usualmente abstratos, fisiológicos) de maneira multidirecional, necessitando, assim,
99
de uma estrutura organizada com conceitos de ordem. Essa estrutura faz a junção
dos símbolos entre dois mapas ou entre os símbolos de vários mapas de um modelo
cartográfico, e é denominada de linguagem bidimensional.
____________________________________________________________________
Assim, o emissor é livre para escolher os signos do mapa que elabora, devendo
encontrar o caminho mais eficaz em sua comunicação com o receptor, logo o
produtor deve levar em consideração:
100
24
Realização de cursos e oficinas com alunos e, principalmente, professores da rede pública,
trabalhando conteúdos referentes à cartografia temática e ao turismo. Inicialmente as atividades
ocorriam por meio de uma parceria entre o LEMADI (Laboratório de Ensino e Material Didático), a AVT
(Academia de Viagens e Turismo) e o IAP (Instituto de Academias Profissionalizantes).
Posteriormente, fui convidado a participar do Projeto Caminhos do Futuro - parceria do Ministério do
Turismo com o IAP, a AVT e o Núcleo de Turismo da Universidade de São Paulo - onde continuei
realizando oficinas. A oportunidade possibilitou aplicar alguns pontos de minha pesquisa em cidades
de 16 estados brasileiros (Caminhos do futuro, 2007).
101
Grosso modo, pode-se definir a imagem como um ato fisiológico, ou seja: surge de
um feixe de luz que entra pelo olho e chega até a retina, sendo capaz de se adaptar a
graus de iluminação e diferenças de intensidade de radiação da luz a partir dos
diferentes pontos do campo visual (Keates, 1982: 15). Entretanto, agregam-se a esse
ato perceptivo implicações mais profundas envolvendo, por exemplo, valores sociais
e culturais, que imprimirão percepções e impressões à imagem, tornando-a afetiva,
imprecisa e estabelecida em campo semântico não-delimitado (Coelho, 1993: 21).
Beni (1998: 220) ratifica o que foi dito acima, afirmado que a percepção é um
processo pelo qual o indivíduo apreende a realidade pelos sentidos, selecionando,
organizando e interpretando a informação. Há uma interação entre o estímulo do
entorno físico (fisiológico) e o estímulo social (experiências já vividas e armazenadas
na memória, com as do presente), criando assim quadros do mundo e fazendo da
percepção um contínuo fluxo de idéias.
Até porque, a polissemia é inerente à imagem, que tem como característica uma
“cadeia flutuante” de significados entre a linguagem literal denotada e a linguagem
simbólica conotada (figura 37). Como reação à incompreensão, as sociedades
produzem diversas técnicas destinadas a fixar tal cadeia de significados (Barthes,
1990: 32).
25
A busca da objetividade na comunicação visual faz com que o produtor pesquise – incessantemente
– o universo de imagens de cada indivíduo extraindo somente aquelas que são comuns a todos num
dado momento e local, independentemente do gosto pessoal do seu criador (Souza, 1992: 44).
103
____________________________________________________________________________
Por fim, o artigo da Tourismus Börse (1987) discorre sobre os denominados mapas
104
Em seu estudo, Lubbe (1988) exemplifica que as imagens primárias são concebidas
em diferentes perspectivas, contudo, foca-se na cultura. A autora apresenta e
compara dois tipos distintos de visão: os sauditas (moradores locais da Arábia
Saudita) e os visitantes (moradores não-nativos do país). Entre vários resultados de
sua pesquisa, Lubbe apresenta diferenças significativas relacionadas à motivação e
seleção do destino, pois estes dois públicos constroem suas imagens primárias
baseadas em diferentes fatores push e pull. A principal diferença percebida pelos
agentes de viagem sauditas é que os não-nativos (e particularmente os ocidentais)
são um público mais aventureiro, desejam ver, experimentar novos lugares, com
menor familiaridade. Em contrapartida, os sauditas são geralmente motivados a
26
É um novo estilo cartográfico, que consiste em uma adaptação moderna do antigo estilo
tridimensional. A visão oblíqua favorece uma rápida compreensão da geografia e suas várias “texturas”
– grafismo da paisagem – (bairros, monumentos e edifícios significativos e de interesse) resultando em
uma fácil localização (Guia T de Barcelona, 1992).
27
Está relacionado aos serviços de lazer que geram sentimentos de prazer rápido, que emocionam e
por fim, motivam. Qualidades díspares como excitação e relaxamento são imprescindíveis aos fatores
push (Chon, 1989).
28
Está relacionada aos fatores onde a familiaridade, a similaridade de cultura, de tradição ou da
alimentação é maior (Chon, 1989).
105
Segundo Goossens (2000), o que conectaria dois perfis de turistas tão distintos é o
conceito da emoção. Os consumidores, e em particular os turistas, são “empurrados”
por suas necessidades (emocionais) e “puxados” (emocionalmente) pelos benefícios
dos serviços de lazer. Portanto, as necessidades emocionais e de experimentação 29
são relevantes na procura do prazer e no comportamento de escolha da destinação.
Isto faz com que o lazer seja uma experiência positiva e subjetiva, acompanhada de
satisfatórios e agradáveis humores, emoções e sentimentos.
Wolfgram (1994: 7) complementa que, para gerar uma resposta emocional, é preciso
estimular os sentidos apropriados. Até porque,
29
Os processos de experimentação, tais como a imaginação, devaneio, emoções e desejos possuem
um importante papel no consumo hedonista (Goossens, 2000).
106
Tais emoções podem ser operacionalizadas por experiências subjetivas 30, avaliação
afetiva e relatos de sentimentos sobre os produtos de lazer e atrações turísticas. No
entanto, a motivação traz intenções comportamentais em direção às atrações
turísticas (Goossens, 2000).
Some-se ainda que as emoções do visitante são realmente obtidas durante o período
de consumo, quando sinais afetivos na memória integram-se aos sinais de satisfação,
gerando assim a possibilidade de julgamento, escolha (Gnoth, Zins, Lengmueller &
Boshoff, 2000).
30
A questão da grande subjetividade da imagem de uma destinação turística é resultado da existência
dos diferentes tipos de públicos: residentes, vendedores, turistas, planejadores, etc., somada à
intangibilidade do serviço turístico, que depende de uma visita e/ou gosto pessoal em relação a uma
destinação. Portanto, são as percepções que motivam os consumidores a viajar (Gallarza, Saura &
Garcia, 2002).
31
Referem-se às representações mentais, sendo um processo lento, onde ocorre o conhecimento que
se tem de uma classe de objetos ou de fenômenos que possuem uma característica comum,
apoiando-se no concreto. Por exemplo: para saber o que é um homem, nada melhor que vê-lo
(fisicamente) ou por meio de uma foto/desenho, pois assim se perceberá que existem homens de
tamanhos e cores diferentes, mas que não deixaram de ser homens, pois todos possuem
características comuns; por exemplo, todos têm duas pernas e variáveis a cor dos olhos (Falcão,
1988).
32
É freqüentemente descrito por sentimentos intensos, associado a um estímulo específico. Refere-se
ao impulso, sentimentos e instintos (Goossens, 2000). Todos os indivíduos têm sentimentos, valores,
atitudes, emoções, etc., em relação a estímulos ambientais. Por exemplo: um indivíduo sente-se bem
ao ver seu quarto limpo, arrumado, porque ele aprendeu a gostar da limpeza: a sujeira para ele é vista
de forma desprazerosa. Dessa forma, também pode se apresentar graus de afetividade em relação à
democracia, ao gosto pelo estudo, a ideais de vida, ao tipo de destino das férias e assim por diante
(Falcão, 1988).
33
A informação pode ser descrita como viva quando atrai, mantém a atenção e excita a imaginação de
forma emocionalmente interessante, concreta e desencadeadora de imagens. Está relacionada a uma
aproximação das vias sensoriais, temporais ou espaciais (Goossens, 2000).
107
Naturais ou artificiais.
De alimentação;
Sirgy & Su (2000) ressaltam, pela longa tradição em pesquisas com consumidores,
que as idéias que os turistas têm sobre uma destinação são usadas como uma forma
de referência cognitiva na avaliação da memória dos símbolos da localidade. Essas
lembranças dos produtos simbólicos referem-se a imagens estereotipadas 34 – não
controláveis pelos planejadores do turismo – dos usuários sobre o destino turístico,
como por exemplo: está na moda, é excitante, é moderno, é novo, é ultrapassado,
etc.
Mackay & Fesenmaier (1997), Lubbe (1998) e Gallarza, Saura & Garcia (2002)
balizam ainda a imagem da localidade em três níveis de variáveis:
34
Apresenta duas formas positivas de aproveitamento: atua como atrativo turístico e revaloriza a
cultura local (Norrild, 2001).
35
Refere-se a atratividade vem da complexidade do espaço, como por exemplo: suavidade, excitação,
conhecido/desconhecido e natural/antropomorfizado, etc. (Mackay & Fesenmaier, 2000).
109
____________________________________________________________________
Figura 38 – Motivações para se viajar: fatores “push e pull”
Por isso, o emissor da mensagem (no caso, o cartógrafo), deve estar muito
consciente da imagem que quer comunicar e quais serão os receptores da imagem.
Até porque ele funciona como um “porta-voz”, por transmitir características culturais
pertencentes a um grupo social (Norrild, 2001).
Goossens (2000) sugere que sejam dadas instruções claras quanto ao contexto que
fará uso da imaginação. Considerando o processamento das informações turísticas e
as necessidades relacionadas à visão de consumo, propõem-se duas situações
distintas:
A partir do que foi exposto até aqui, passa-se a outra questão: como transformar as
imagens percebidas na realidade em representações gráficas pictóricas eficazes.
Carneiro (2001: 26; 29) afirma que pelos canais de percepção – os cinco sentidos
básicos (visão, audição, tato, olfato e paladar) – o ser humano pode decodificar uma
idéia e, a seguir, codificá-la novamente em uma nova estrutura – mensagem –
transmitindo finalmente a um receptor que a perceberá por meio de seus sentidos. O
sucesso quanto à compreensão da mensagem virá desde que o repertório 36 seja
conhecido. A autora ressalta ainda, que grande desafio da comunicação é que...
36
São coleções, compilações de itens de mesma natureza que, reunidos, conformam um conjunto
(Carneiro, 2001:8). Pode-se entender como um conjunto ou estoque de símbolos conhecidos (uma
espécie de vocabulário) utilizados por um ou mais indivíduos. (...) Quanto mais rico for o repertório da
mensagem e o número de seus elementos, maior será o seu alcance, ainda que não existam repertó-
rios de extensões idênticas, em virtude das diferentes experiências pessoais (Carneiro, 2001: 26-27).
111
Controle seus movimentos oculares de busca. Isso faz com que o exercício da
percepção ocorra de um modo ativo, pois os olhos realizam uma espécie de
varredura visual. Explicando melhor, o observador sem que se dê conta, em
um lance de visão pode registrar, passear por algo que está percebendo e,
nesse acontecido, pára e recolhe os elementos que o são importantes.
Em qualquer uma das três unidades funcionais do cérebro, o observador sempre tem
uma intenção em sua maneira de perceber, pois vê o que o interessa, o assombra,
lhe agrada. O passo seguinte é identificar, acomodar e até – quem sabe – modificar
tais percepções condicionadas pelas experiências anteriores. Neste momento se faz
presente a importância da intervenção da inteligência, do estabelecimento de juízos,
de comparações, que vão situando com maior objetividade o que é percebido.
Tuan (1980: 71) aponta vários estudos realizados acerca das diferenças de
percepção diante dos valores ambientais. O autor exemplifica que, em seu cotidiano,
cada membro de uma família ocidental possui diferentes mapas mentais. Isto ocorre
112
O aventureiro: viaja com amigos e não com turistas, desconhecidos, porém faz
amizade com novas pessoas. Viagem não-organizada; valoriza atividades
opcionais. Não é disciplinado, organizado. Evita aborrecimento e tédio pela
parada em muitos lugares. Explora diferentes culturas, busca atividades
estimulantes, tem senso de liberdade.
Outro ponto observado diz respeito às atitudes e reações, inclusive estéticas, que se
tem com relação ao meio ambiente estabelecido em um tempo e espaço. Tuan (1980:
81-85) aborda as mudanças de atitude em relação às montanhas. Na Antiguidade,
eram vistas com aversão e terror pelos gregos, ou mistério e divindade pelos
chineses. No século XVIII, por se tornarem acessíveis, perdem muito de sua
113
Um último tópico destacado por Tuan (1980: 236) refere-se a imagem que promove
favoravelmente um destino, mas que pouco respeita a complexidade, a verdade local,
deixando clara a preocupação de grupos que desejam chamar a atenção do público –
externo a localidade – para uma característica particular dela. Isso pode ocorrer a
partir de um epíteto ou frase atraente, como: a Cidade luz (Paris), a Capital da vela
(Ilhabela), Cidade maravilhosa (Rio de Janeiro), etc. Ou por uma cena ou fotografia
de uma vista panorâmica de Nova Iorque, São Paulo, Ouro Preto, Brasília, e assim
por diante. Entretanto, é bom ressaltar que essa imagem, para ser eficaz, deve estar
fundamentada em alguns fatos. O autor frisa que cidades dos Estados Unidos – o
mesmo pensamento pode ser aplicado às cidades brasileiras – carecem de uma
identidade visual, existindo, porém, algumas exceções. No entanto, mesmo as
cidades menores vendem cartões postais, que valorizam aspectos de suas
localidades, aceitos por favorecê-la, divulgando seus monumentos, parques, ruas
principais, proporcionando um direciona-mento quanto ao imaginário local.
37
Detalhes sobre o Projeto Caminhos do Futuro nas páginas 16 – 17.
114
Deste modo, o meio ambiente pode não ser a causa direta da topofilia 38, mas fornece
estímulo sensorial que, ao agir como imagem percebida, dá forma às nossas alegrias
e ideais (Tuan, 1980: 129). O autor prossegue afirmando que os estímulos sensoriais
são potencialmente infinitos, por existirem valores subjetivos, individuais àquilo que a
pessoa decide prestar atenção, valorizar. A época histórica e as respectivas forças
culturais têm papel preponderante nessas escolhas.
Posto isso, Souza (1992: 97) divide a imagem em dois tipos básicos:
Souza (1992:97-98) ainda esclarece que as imagens feitas pela humanidade são uma
elaboração gráfica, cultural e povoam um mundo artificial denominado iconosfera,
sendo produto do design gráfico. As imagens são todas aquelas desenhadas para
serem apresentadas em formato digital ou impressas e capazes de serem
decodificadas pelo maior número de pessoas. Quanto às técnicas de produção,
podem ser feitas à mão – desenho, pintura, grafite – ou podem ser resultado de
procedimentos mais complexos pertencentes ao domínio da tecnografia – fotografia,
computação gráfica. As imagens ainda podem ser:
38
Associa sentimento ao lugar. Inclui todos os laços afetivos e emocionais que os seres humanos têm
com o meio ambiente. Os laços diferem profundamente em intensidade, sutileza e modo de expressão,
ou seja, pode-se olhar para o meio ambiente de forma estética, variando desde o prazer efêmero de
uma vista até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas com maior intensidade, até uma resposta
tátil-contato físico: o deleite do sentir a ar, a água, a terra. Já mais difícil é expressar os sentimentos
que se nutre pelo lugar, lar, o locus de reminiscências (passado que evoca orgulho) e o meio de
ganhar a vida. Contudo, quando o lugar ou o meio ambiente é irresistível, eles se tornam veículos de
acontecimentos emocionalmente fortes ou são percebidos como símbolos (Tuan, 1980: 107).
116
O próximo passo então é a apropriação e escolha dessas imagens para que se inicie
o estágio da codificação direcionada à mensagem gráfica. Brill (1988: 35) parte do
princípio de que o homem é um ser racional, o que o torna capaz de simbolizar sua
própria experiência vivida. Essa função simbólica possibilita captar a sua vivência,
expressando-a, podendo memorizá-la para si mesmo ou transmiti-la a outras
pessoas. O ato de comunicação entre os homens está na base da função simbólica,
possibilitando trocas de idéias entre indivíduos do mesmo grupo social, por meio dos
códigos encontrados, por exemplo, na linguagem falada, escrita e nas artes (como o
desenho). Tal recurso da comunicação codificável faz com que os grupos possam
constituir-se em sociedades, estabelecendo funções que caibam a cada indivíduo, e
regras que regem a comunidade. Pelo processo de ação dos códigos, regras e
costumes, há uma cristalização de formas relativamente permanentes, o que
determina o aparecimento da tradição.
Souza (1992: 221) ratifica que, quando o designer passa pelo processo de escolha
dos traços visíveis do objeto (enfatizando-os ou excluindo-os propositalmente), ele
exprime um saber não apenas pessoal, mas também social. Isso ocorre porque traz
consigo um jeito convencional de observação da realidade, profundamente
governada pela intenção comunicativa que deseja transmitir pelo desenho. Portanto,
a imagem funcional mostra não somente a maneira como o designer vê o mundo: vai
além, mostrando de que maneira ele traduz o modo de a sociedade ver o mundo.
sua vida. E é a partir daí que as formas gráficas são percebidas, cabendo, então, ao
cartógrafo trabalhar incansavelmente com o poder denotativo e conotativo das
representações.
Para isso, ele tem o dever de dominar o uso das linhas, formas (seus limites e
texturas), cores, da luz, volumes e perspectivas, possibilitando várias sensações
visuais e emocionais ao espectador. Cabanellas (1976: 17) complementa que esses
elementos plásticos básicos se desenvolvem sobre uma superfície, sendo dispostos
em uma determinada ordem, de modo que, paralelamente ao ato compositivo 39, cria
um espaço plástico – que é a obra propriamente dita.
De acordo com Bourdieu (1974: 293), uma obra contemporânea – que pode ser o
mapa turístico – é assimilada a partir da relação que os produtores mantêm com uma
determinada época e sociedade, gerando, assim, códigos. Esse contexto é fruto da
relação que o produtor do mapa possui com o restante da sociedade e, em particular,
com as demais células das classes dominantes, ou seja, os consumidores, com seus
gostos e suas demandas.
39
Com base em Cabanellas (1976: 45), pode-se dizer que a composição do mapa pictórico é uma
disposição ordenada dos elementos plásticos – visuais – tendo como referência o espaço. Dada uma
composição, as formas são subordinadas a um esquema, situadas umas ao lado das outras em ordem
mais ou menos complexas. Portanto, ao olhar para as várias ilustrações em um mapa pictórico, o
observador agrupa mentalmente as formas, selecionando-as em ordem de modo que sua visão possa
percorrê-las com facilidade. Ás vezes, os elementos são agrupados por similaridade de direção, forma,
semelhança de cor, textura, etc.
40
É um conjunto de esquemas implantados desde a primeira educação familiar, sendo continuamente
repostos e reatualizados ao longo da vida social do indivíduo (Bourdieu, 1974: XLII). Toda ação
histórica e/ou social reflete(m) dois estados: o objetivado, que é a história acumulada ao longo do
tempo nos objetos, nas máquinas, edifícios, monumentos, livros, teorias, costumes, direito, etc., e o
incorporado: podendo se tornar um habitus, que constitui a matriz que dá conta de uma série de
estruturações e reestruturações pelas quais passam as diversas modalidades de experiências
diacronicamente (evolução de fatos no tempo) determinadas pelos agentes (Bourdieu, 2000: 83).
118
Tendo como princípio que se vive num mundo socialmente construído, os principais
elementos relacionados à produção e ao consumo dos mapas são a identidade – dos
produtores dos mapas e usuários – e as percepções relacionadas tanto ao ato de
desenvolvimento quanto à utilização desse tipo de material cartográfico. Esses itens
podem esclarecer não somente os motivos encontrados por trás dos eventos
cartográficos, mas também o quanto o mapa pode ser eficaz em comunicar a
informação (Harley, 1994: 281).
Para entender melhor o que seriam estes aspectos materiais e imateriais, introduz-se
o conceito de patrimônio, estabelecido pela UNESCO (2007): é o legado que
recebemos do passado, vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações.
Nosso patrimônio cultural e natural é fonte insubstituível de vida e inspiração, nossa
pedra de toque, nosso ponto de referência, nossa identidade.
Natural
Cultural
Imaterial
A natureza e sua respectiva fauna, flora, ecossistema e paisagem – esta última sendo
a principal variável como ponto de confluência entre os fatores ambientais e
antrópicos – são atrativos por excelência do ecoturismo, que tem maior importância
quanto mais elevado for o seu grau de intocabilidade e de aspectos singulares e
únicos. Portanto, o ecoturismo prioriza a preservação do espaço natural onde é
realizado, e seu projeto contempla a conservação diante de qualquer outra atividade.
Por sua vez, a população autóctone, sua cultura e seu modo de vida estreitamente
apegados à natureza que lhes serve de meio de vida e de entorno é o foco de uma
abordagem ecoturística que valoriza a autenticidade e a dignidade dessas
populações e sua cultura. Além disso, essa população local participa dos serviços
prestados aos turistas (Pires, 1998: 76;157-158).
Posto isso, deve-se levar em consideração que, na última década do século passado,
visitantes e turistas que nunca haviam pensado em sair dos roteiros convencionais ou
mesmo do meio urbano, começaram a se interessar por atividades que antes
(décadas de 60, 70 e 80 do século XX) eram desenvolvidas principalmente por
pessoas caracterizadas pelo alto espírito de aventura, desprendimento quanto ao
41
Podem estar relacionadas ao uso indireto e direto. As UCs de uso indireto referem-se às áreas
destinadas somente à conservação integral da biodiversidade, à pesquisa científica, à educação
ambiental e à recreação. É terminantemente proibido explorar os recursos naturais desse tipo de UC.
Esta categoria abrange os parques (Nacionais, Estaduais e Municipais), as estações ecológicas,
reservas biológicas e ecológicas, áreas de relevante interesse ecológico, reservas particulares do
Patrimônio Nacional e áreas sob proteção especial. Já as UCs de uso direto são as “áreas destinadas
à proteção e manejo de recursos naturais”, como: as florestas nacionais, as áreas de proteção
ambiental e as reservas extrativistas (Furlan, 2000: 195-196).
121
Pires (1998: 59) cita o novo ecoturista como possuidor de uma menor informação e
experiência do/no meio natural. Podem ser qualificados como curiosos que têm poder
aquisitivo para comprar pacotes atrativos, motivados pela onda ecológica ou ainda
pela simples influência de conhecidos que experimentaram a atividade. De acordo
com Lima (2002: 94), ocorre uma adaptação desse tipo de viagem, não dirigida a
especialistas.
O interesse crescente atinge vários países da América Latina (entre eles o Brasil),
África e Ásia (Pires, 1998: 58). Nessas áreas, há um apelo do turismo de aventura e
esportivo, que envolve uma atmosfera de descobertas, desafios, isolamento e contato
com o inusitado, no qual se desenvolvem as mais diversas modalidades e riscos dos
chamados esportes da natureza entre eles, a escalada, o trekking, o canyoning, o
rafting, o vôo livre, o rapel, o surfe, o windsurfe, o mergulho, o esqui-aquático, a
motocross, etc. (Pires, op. cit.:122).
42
Excursionistas, alpinistas, aventureiros, naturalistas, cientistas, estudiosos, estudantes (universitários
ou participantes de excursões escolares voltadas ao estudo do meio) e aficionados. Seja qual for à
categoria de ecoturista, este só pode ser considerado como tal desde que seja envolvido ou que se
envolva com aspectos conservacionistas e educativos que dão a verdadeira dimensão ao ecoturismo,
sem a qual serão considerados simplesmente turistas (Pires, 1998: 15). Entretanto, na década de 90
do século XX, houve uma evolução do ecoturismo, visando a um melhor atendimento ao público mais
geral, isto é, o empreendedor, mesmo mantendo sua capacitação para atender o segmento do
mercado puro, original, também teve que se adaptar à nova tendência, passando a oferecer um tipo de
produto compatível com as preferências do novo ecoturista (Pires, op. cit.: 58-59).
122
____________________________________________________________________
Figura 41– Estabelecimento de três níveis de dificuldade
para as trilhas em Ilhabela
O outro tópico já relacionado e que pode ser representado sobre o mapa são os
atrativos culturais, sejam materiais sejam imateriais.
Nos últimos vinte anos do século XX, os atrativos culturais vêm recebendo uma maior
atenção do público-turista no plano mundial (Patin, 2005).
Alzua, O’Leary, Morrison (1998) reiteram que a cultura e, por conseguinte, todo o seu
patrimônio está se transformando nas duas maiores forças de revitalização urbana e
econômica. O turismo cultural torna-se cada vez mais importante às destinações
preocupadas em atrair mais visitantes internacionais.
O termo turismo cultural e patrimonial tem sido usado para descrever não somente o
consumo da arte, monumentos, folclore, mas também para tratar de experiências e
motivações dos turistas no local da destinação escolhida. Em um sentido amplo, o
significado da cultura e do patrimônio é resultado da estrutura étnica e social. E, em
um sentido particularizado, são as influencias provenientes da experiência familiar, do
grau de escolaridade, da vizinhança e de muitas outras experiências do dia-a-dia. O
patrimônio e a cultura, quando combinados com o lazer e o turismo, podem ser
considerados um dos fenômenos mais significativos ao rápido crescimento do turismo
(Alzua, O’Leary, Morrison, 1998).
43
As dimensões temporais estão no âmago da compreensão das estruturas cognitivas. Toda a vida
social com suas múltiplas manifestações culturais é antes a orquestração da diversidade do que a
réplica da uniformidade (Coelho, 1993: 20).
44
Pessoas no mundo inteiro (crianças e adultos) adquirem a schemata por meio da arte conceitual,
que parte da premissa de que todo o registro visual não é uma certeza, mas uma conjectura
condicionada a um público e uma tradição. Portanto, julgando a arte de maneira conceitual, não se
pode afirmar se as pinturas ou os conceitos (substantivos comuns que representam, classificam algo,
como, por exemplo, um homem, um cachorro ou uma flor) são verdadeiros ou falsos, pois podem ser
apenas mais ou menos úteis à formação de descrições (Gombrich, 1995).
124
Um artista gráfico treinado possui uma grande quantidade de schematas que servem
de apoio para as representações das imagens que estão em sua memória. E,
logicamente, esses registros jamais serão uma réplica, pois a quantidade de
informações que chega do mundo visível é incalculavelmente grande, e os meios à
disposição do artista são restritos. Conseqüentemente, as formas de arte, antigas e
modernas, não são mais do que as duplicações as quais o homem vê do mundo
exterior. Essas transcrições são feitas a partir de um dado veículo adquirido, que se
desenvolveu pela da tradição e habilidade. A representação não sendo, portanto,
uma réplica, constata sua eficácia, desde que retenha a natureza eficaz do protótipo,
isto é, deve funcionar tão bem, ou melhor que o real (Gombrich, 1995). Assim, o
grande desafio do cartógrafo é inventar representações gráficas da realidade que
funcionem para o maior número de pessoas.
A questão central a enfrentar está relacionada à subjetividade, uma vez que muitos
materiais visuais, como o desenho documental e a fotografia, costumam ser
associados a um grau de autenticidade da informação que, na verdade, não
possuem. As ciências sociais tratam as imagens de forma positivista, como
descrições da realidade e não como representações simbólicas, cuja leitura não
apenas varia segundo o olhar do espectador como também é decorrente da própria
natureza construída da imagem (Porto Alegre, 1988: 75-76).
Esse autor (op. cit.: 80-81) ressalta, então, os cuidados que devem ser tomados em
uma pesquisa iconográfica:
Cite-se ainda Pires (1996), ao afirmar que as qualidades visuais do território são
compostas de elementos naturais e artificiais, sendo que é pela visão que se
percebem e se discriminam quatro grandes componentes paisagísticos no território: o
relevo, a água, a vegetação e as atuações humanas 45, que são capturados da
realidade. Para isso, utiliza-se das mais variadas técnicas – representações artísticas
tais como gravuras, quadros e ilustrações, documentos históricos, fotografias e
filmagens – gerando assim formas substitutas da paisagem. A figura 43 apresenta
dois exemplos do trabalho de Pires (1996), que utilizou as imagens turísticas de
cartões postais da região litorânea de Santa Catarina.
____________________________________________________________________
Figura 43 - As formas substitutas da paisagem
45
Os componentes da paisagem mais detalhados são: 1) Forma da terra: é o aspecto exterior da
superfície terrestre representado pelo relevo, pelas formas do terreno, por sua disposição e por sua
natureza. 2) Água: caracteriza-se pelas formas em superfície (mares, rios, lagos, neve e gelo), sua
disposição, monotonia e movimento. 3) Vegetação: apresentam distintas formas de vida vegetal
(árvores, arbustos e vegetação herbácea) com suas características específicas, sua distribuição,
densidade, etc. 4) Estruturas e elementos artificiais: são criadas por diferentes tipos de usos do solo ou
concentrações diversas de caráter pontual, linear ou superficial (Pires, 1996).
46
São os tipos diferentes de formas das quais o desenhista dispõe para fazer uma ilustração. É
importante frisar que apenas um único elemento visual, ou a composição com outros, configuram o
plano pictórico.
127
Mukarovsky (1981: 308) complementa que nenhum desses elementos visuais, nem
mesmo os mais simples de todos, como a linha e a cor, são meros fatos de
percepção sensorial, pois sempre têm uma determinada relação com a realidade
representada, isto é, cada um desses elementos significa de alguma maneira a
realidade, por trazer referência, destacar alguns de seus aspectos. Estabelecem, no
interior da obra pictórica, relações mútuas, pois as suas significações parciais unem-
se para formar a significação final e as suas relações parciais com a realidade dão,
como resultado, a referência global a ela.
Uma pesquisa realizada por Fiori (2003: 173-191) com os mapas turísticos pictóricos
de Ilhabela e São Vicente, constatou empiricamente que por volta de 85% de 160
entrevistados, aprovaram a escolha das imagens percebidas nos mapas. O resultado
descrito abaixo relaciona a preocupação do cartógrafo e a reação dos usuários:
Ilustrando tudo o que foi dito acima, a seguir serão são apresentadas algumas
respostas dissertativas retiradas de Fiori (2003: 181-183). Elas exemplificam a reação
dos usuários que utilizaram o mapa turístico pictórico, caracterizado pela grande
quantidade de imagens representativas:
Neste momento, é oportuno citar Arnold (1992), ao testemunhar que a ênfase dada
aos símbolos pictóricos no Pilbara Street Smart Touring Map 47 não foi por acaso,
pois tal recurso estilístico possibilitou o desenvolvimento de um mapa sem uma
legenda extensa, satisfazendo ainda aos visitantes que não tinham o idioma inglês
como língua mãe. A pictografia gerou um processo de simplificação da leitura do
mapa, provendo uma comunicação visual eficaz. Além disso, buscou estimular a
atividade turística naquele local pela descrição visual da paisagem, criando uma
atmosfera de aventura.
Esse tipo de recurso vem sendo usado, como aponta Harley (1994: 296), desde a
Renascença, quando a imagem do mapa vinha acompanhada por uma grande
quantidade de símbolos decorativos, presentes nos títulos e letras, na vinheta, na
rosa-dos-ventos e nas bordas. Todos esses elementos decorativos formavam o
vocabulário expressivo do artista e somavam-se ao assunto principal representado,
no caso, ajudando a fortalecer e focalizar os significados políticos do mapa.
A definição de estilo pode ser uma tarefa complexa e difícil de descrever com clareza.
Dondis (1991: 161) sugere que talvez a melhor maneira de estabelecer uma definição
seja vê-lo como uma categoria ou classe de expressão visual, modelada pela
plenitude de um ambiente cultural. Isto porque o estilo é uma síntese visual de
elementos representados, a escolha e utilização de técnicas, a sintaxe adequada, o
processo de inspiração, a forma de expressão e a finalidade básica do produto.
Segundo Wolfgram (1994: 104-110), pode-se dividir em: desenho livre (cartoon,
caricaturas, etc.); tradicional (é informativo, não muito interessante visualmente, mas
franco e informativo); alta tecnologia (focaliza ilustrações contemporâneas e imagens
47
Foi publicado em 1992 por órgãos públicos australianos; o Western Australian Departament of Land
Administration, Cartographic Services Branch e Department of Conservation and Land Management. A
confecção desse mapa turístico tinha como característica fundamental procurar atrair aqueles usuários
que não têm familiaridade com as técnicas de leitura de mapas (Arnold, 1992).
130
Veja-se, por exemplo, o caso dos pintores-etnográficos realistas citados por Porto
Alegre (1988: 88); o autor destaca o grande e rico acervo desses artistas que, mesmo
procurando não cunhar uma interpretação arbitrária e fantasiosa a suas
representações, apresentam certa ambigüidade nas imagens, devido à tensão entre o
realismo (mundo concreto) e o não-realismo (pictografia). Essa relação é intrínseca
ao processo de criação e interpretação vivida pelos artistas.
131
Entre outras áreas de estudo, essa definição coloca a cartografia muito próxima do
design, da comunicação e da arte.
Galeffi (1977: 41) ensina que uma obra de arte tem o poder de encantar, arrebatar o
observador que se dispõe a contemplá-la. Naquele instante de graça, não se pensa
em outra coisa: é como se vivesse num mundo ideal. Só depois, ao despertar do
sonho, é que o observador pode tornar-se crítico e, assim, analisar a mensagem que
o artista conseguiu transmitir.
Primeiro, pode ser vista como um objeto, por exemplo, um artesanato, uma
música, um quadro, um desenho, um discurso, que geram um efeito
psicológico, pois a obra é percebida, sentida e apreciada pelo receptor. Ela
visa tanto comover a alma quanto aliar utilidade ao belo.
O mundo da arte faz-se então pela cooperação material e social, a partir do grau de
132
Sendo assim, ao longo da história, cada tipo de arte produziu suas técnicas e, por
conseqüência, um conjunto de regras úteis ao processo de execução da obra. Desde
a Antigüidade, formou-se uma tradição normativa. Na realidade, é correto dizer que
foram gerados certos padrões estilísticos na vida simbólica de todos os povos, que
resistiram durante os séculos, resultado da regularidade interna e do enraizamento
comunitário (Bosi, 2000:17).
Brill (1988: 76) complementa que a função do artista deve ser a do mediador entre a
arte e a técnica, ambas indispensáveis e complementares. Para poder ser veículo
legítimo da expressividade de sua época e de seu meio, o artista deve estar arraigado
nesse meio. Logo, na época da cultura de massa, é justificável uma arte reproduzível,
seriada, divulgada. Todavia, não se pode esquecer que a arte é uma linguagem de
descoberta, e que também tem uma função conscientizadora, devendo ser sempre
renovada na mesma medida em que a sociedade se renova.
48
Segundo a sociologia e a antropologia são normas de ação ou costumes – aproxima-se do que
Bourdieu (1974) designa de capital cultural – ou seja, as convenções tornam possível que uma
orquestra funcione com coerência e se comunique com o público (Canclini, 2003: 39). Ou então: regras
e normas para o desenvolvimento de um mapa, entre tantos outros exemplos.
133
Desse modo, existe uma justificativa coerente para que se trabalhe com mapas
turísticos que utilizam amplamente os símbolos pictóricos, índices e ícones, mesmo
havendo uma resistência teórico-metodológica quando comparados aos mapas
convencionais. Todavia, é fato a existência e produção desse tipo de “mapa artístico”.
Tal material, na maioria das vezes, é desenvolvido por pessoas que não têm
preocupação com a qualidade cartográfica, tanto que freqüentemente, tais materiais
nem poderiam ser chamados de mapa 49. Por isso, ninguém melhor que um
cartógrafo para buscar soluções coerentes a esse tipo de material utilizado pelas
destinações turísticas.
Fiori (1999 e 2003) pôde perceber que o uso da pictografia, quando bem utilizada,
configura-se como uma forma de comunicação cartográfica alternativa para o mapa.
O mais importante é que o cartógrafo tenha consciência, respeito pelo limites
estilísticos idealizados durante a elaboração de suas representações. Logo, a
49
Grande parte dos “mapas” apresenta muitas deficiências cartográficas tais como: ausência de
escala, deficiência no sistema de referências (latitude/longitude e direções cardeais), legendas pobres
ou confusas, descaracterização da base cartográfica (sendo flagrante, por exemplo, a omissão de
grande parte das ruas, rios, trilhas); as ilustrações são empregadas de uma maneira pobre e sem
criatividade (pois provavelmente foram tiradas de algum arquivo de figuras, sendo, em seguida,
copiadas e coladas várias vezes), etc. Ver Fiori, 2003: 125-127.
134
prioridade é oferecer ao usuário códigos estéticos que sejam pré-conhecidos por ele,
mesmo que superficialmente.
O mapa turístico é configurado por uma dualidade: primeiro objetiva informar sobre as
atrações – quer naturais quer culturais – as atividades e as áreas de apoio (infra-
estrutura) de uma determinada destinação, localizando-as no espaço. Contudo, como
já citado anteriormente, também pode ser um subproduto de sua utilidade, servindo
como instrumento publicitário ou pôster (suvenir) para decorar um quarto, um
restaurante, uma loja, etc.
A autora ainda pontifica (Dondis, 1991: 184) que os objetivos dos meios visuais se
misturam, interagem e se transformam. Para que se compreendam os meios de
comunicação visuais, é preciso haver um conhecimento sobre eles, fundamentando-
se num critério de grande amplitude. As respostas a questionamentos sobre as
motivações que levaram o artista a conceber e produzir um dado objeto são fluidas e,
portanto, as perguntas também devem ser. O idealizador ou o artista deve, então,
interrogar a natureza de cada meio de comunicação que utiliza em seu trabalho, a
função ou níveis de função, a adequação, a clientela a que se destina e, por último, o
porquê histórico do produto.
Um outro ponto ressaltado por Canclini (1984: 54) deixa claro que a arte, como toda a
linguagem que quer ser comunicada, deve ater-se a códigos produzidos e manejados
socialmente. Deste modo, sendo a arte 50 resultado da vida em sociedade, pelo
menos desde as vanguardas do século XIX – por um lado participando da marcha
histórica e, de outro, pelo simples prazer da invenção – sofre condicionamentos, leis,
necessárias à ordem vigente. No entanto, mesmo condicionada, o que a distingue de
outros modos de transformação da realidade material e cultural é que a arte não
resulta só de privações, sendo foco de criatividade e de iniciativa social. Procura
mudar a realidade, indo além das leis, contribuindo, assim, para a ampliação no
campo do possível (Canclini, op.cit.:33).
O autor (Canclini, op.cit.:35) ainda enfatiza que a atividade artística é produtiva por se
apropriar da realidade por meio do trabalho, buscando satisfazer uma necessidade
social, de acordo com a ordem vigente de cada sociedade. Essa definição parece-nos
a mais válida em razão de sua capacidade de abarcar a totalidade do processo
artístico e de suas modalidades em diferentes sistemas econômicos e culturais.
50
Dondis (1991: 9) apresenta os “extremos” representativos de artes, ou seja, de um lado àqueles
referentes às belas-artes até as artes aplicadas: pintura, escultura, arquitetura, artesanato, fotografia,
artes gráficas e desenho industrial.
135
O trabalho ainda é fixado em padrões formais, como acesso rápido a cada link
(tempo), características técnicas padronizadas (como se dá apresentação no monitor
do computador, acesso pela linha discada ou banda larga), custo, etc.
Segundo Canclini (1984: 103), esse momento histórico permite que os artistas vivam
de seu trabalho. Em contrapartida, precisam submeter suas obras à homogeneidade
dos preços e às determinações estéticas dos usuários. Esta homogeneização resulta
do processo sócio-econômico que acabou sujeitando o artista ao intercâmbio
comercial, ou seja, um mesmo tipo de produto feito em São Paulo se parece com o
de Nova York, Roma ou Tóquio. Nessa perspectiva, é evidente que a arte é produzida
sob uma máscara promissora de uma expressão universal, porém sofrendo forte
influência da arte dominante, cuja universalidade é a do sistema capitalista. Outrora
os artistas sujeitavam-se às igrejas e às cortes, hoje dependem do mercado.
Deste modo, é essencial que o produtor do mapa tenha a clara consciência de como
seu material será utilizado pelo usuário e deve procurar maneiras para que ele seja
aceito e compreendido por diferentes povos e culturas. Contudo, deve busca ir além,
fazendo uso de seu conhecimento científico e técnico na área da cartografia e de sua
criatividade como artista, buscando encontrar um meio termo, senso comum na
elaboração de mapas específicos para o setor do turismo não partindo daquelas
idéias já usuais dos mapas convencionais.
Entretanto, é bom frisar que o cartógrafo do mapa turístico – que busca um produto
híbrido entre as técnicas convencionais e a pictografia – deve estar sempre atento e
preocupado com as regras cartográficas essenciais, como a escala, referências
geográficas e legendas coerentes. Levando-se em consideração pesquisas anteriores
(Fiori 1999 e 2003), justifica-se que o atual trabalho enfatize o uso da pictografia e
seu recurso de tornar as informações mais emotivas, atrativas, sedutoras.
Desenhar é um ato de criação, onde o artista busca soluções novas e coerentes para
se comunicar, e é esta sua faceta humana mais importante, porque não se pode
esquecer que a humanidade sempre contribuiu com novas soluções para aquilo que
se apresenta. De acordo com Cabanellas (op.cit.: 6), na intenção representativa da
realidade, o produtor escolhe o tipo de desenho mais adequado, tendo como
referência uma determinada finalidade. Assim, a ilustração pode ter um caráter
estético ou representativo e, dentro deste último caso, pode estar ou não sujeito a
normas e convenções. A representação obedece ainda a leis distintas segundo as
formas que se desenham: geométricas ou naturais (figura 44). O mapa pictórico trará
em seu desenvolvimento tanto intenções estéticas quanto representativas.
____________________________________________________________________
Figura 44 – Maneiras de se elaborar um desenho
humano.
____________________________________________________________________
Figura 45 – Três tipos de representações pictóricas
Ao tratar das escolhas e da elaboração dos vários itens que culminam no mapa final,
Mukarovsky (op. cit.:125) ressalta a importância da estética, que se configura como
atriz coadjuvante da função prática, por sua capacidade de atenuar conflitos e, por
conseqüência, buscar o aperfeiçoamento do aspecto técnico. Todos esses elementos
encontram apoio nessa espécie de prazer desinteressado e plácido que acompanha
a atitude estética.
Desde Kant até Umberto Eco, a maioria das teorias estéticas afirma que a expe-
riência artística é produzida na relação direta entre um sujeito e um objeto. Nesse
diálogo, prevalece à função. Por exemplo, ao pedir um lápis emprestado para anotar
um endereço, uma pessoa é atraída por um instante e se detém somente à forma
(design) do objeto. Esta percepção é propriamente estética, pois se posterga o ato
prático, ou seja, elimina-se momentaneamente a função do lápis. Faça-se aqui uma
ressalva à afirmativa feita anteriormente, segundo a qual a forma predomina sobre a
função, pois ela não é válida para todas as épocas. Refere-se somente a trabalhos
artísticos produzidos a partir do sistema capitalista, que proporcionou a autonomia de
certos objetos ou de certas qualidades de alguns objetos (Canclini, 1984: 10-12).
Canclini (1984: 25) prosseguiu informando que devido à facilidade de produzir vários
tipos de formas para uma mesma função – por exemplo, diversos mapas de uma
mesma localidade que a divulgam como localidade turística – o estilo e a freqüência
das obras do artista são determinados pelas exigências do planejador e do usuário.
Isto faz com que o ser humano viva cada vez mais em um mundo fluido,
interconectado por conjuntos históricos com maior ou menor estabilidade, que se
reestruturam em meio a conjuntos interétnicos, transclassistas e transnacionais.
Acentua-se a interculturalidade (migratória, econômica e midiática) gerando mercados
139
51
É resultado de hibridação, pois não podem ser consideradas fontes puras. Isto porque, ao longo da
história, o ser humano passa de formas mais homogêneas a outras mais heterogêneas e vice-versa,
sem que nenhuma seja plenamente pura (Canclini, 2003: XIX, XX).
52
O termo é usado para explicar as estratégias mediante as quais um pintor se converte em designer,
os operários que reformulam sua cultura de trabalho ante as novas tecnologias produtivas, etc.
(Canclini, 2003: XXII).
140
____________________________________________________________________
Figura 46 - A mudança das representações icônicas ao longo do tempo e cultura
Por essas razões, sustenta-se que o objeto de estudo nesta pesquisa não é a
hibridez, mas sim, os processos de hibridação. A análise empírica desses processos,
articulados com estratégias de reconversão, demonstra que a hibridação interessa
tanto aos setores hegemônicos como aos populares, pois ambos querem se apropriar
dos benefícios da modernidade (Canclini, 2003: XXII).
Um último e importante enfoque a ser exposto tendo como resposta o grande uso da
pictografia em mapas turísticos diz respeito ao problema da subjetividade, problema
apontado ao longo de todo o trabalho como potencial e inerente a este tipo de
representação gráfica.
Partindo desta afirmação, pode-se afirmar que a alfabetização pela linguagem verbal
(aprendizagem da leitura e escrita) é mais eficaz do que a linguagem visual?
De uma maneira geral, Dondis (1991: 15) ressalta que, devido a sua estrutura
sintética, pela linguagem verbal as pessoas se alfabetizam em um processo dividido
141
Entretanto, é exatamente aí que o alfabetismo visual tem uma força especial, pois a
linguagem verbal encerra-se em um grupo de pessoas que compartilha o significado
atribuído a um corpo comum de informações. Todavia, de acordo com Dondis (1991:
16) existem mais de três mil línguas em uso corrente no mundo, todas elas mais ou
menos independentes e únicas. Conseqüentemente, em termos comparativos, a
linguagem visual é considerada mais universal, por fazer uso de conjuntos lógicos.
Faça-se aqui um destaque quanto à enorme importância que esta autora confere ao
uso da palavra alfabetismo em conjunção com a palavra visual. Segundo suas
palavras, mesmo a visão sendo natural, a criação e compreensão da mensagem
visual são naturais até certo ponto, pois sua total eficácia só pode ser alcançada por
meio do aprendizado. Expandir a capacidade de “ver” (formar imagens mentais)
significa ampliar a capacidade de entender e criar uma mensagem visual.
A informação visual advém de significados obtidos pelo ensino formal e informal, que
são paulatinamente incorporados pelo indivíduo a partir de experiências
compartilhadas no ambiente e na vida, fazendo com que ele possa manter uma
relação mais competente com o mundo. Compartilha-se, por exemplo, o mundo da
natureza: o céu azul, o mar verde-esmeralda, as árvores verticais, a areia áspera, a
terra úmida, o fogo vermelho-alaranjado-amarelo, a noite e o dia (claro-escuro).
Dondis (op. cit.: 85-86) ratifica que tanto instintiva quanto intelectualmente grande
parte do processo de aprendizagem é visual. A reprodução desse tipo de informação
deve ser acessível a todos, sendo ensinada e podendo, portanto, ser aprendida.
Porém é preciso sempre observar que, na aprendizagem visual, não existe um
sistema estrutural arbitrário e externo semelhante ao da linguagem verbal. Então, de
que maneira a comunicação visual pode ser entendida, aprendida e expressa?
142
Parte-se do pressuposto de que a informação visual é facilmente obtida por meio dos
diversos níveis de experiência direta ao ato de ver e reconhecer (Dondis, 1991: 86-
87), como, por exemplo, um pássaro, uma casa, uma bicicleta, uma árvore, uma
montanha, uma praia, etc. Essa capacidade ainda amplia o conhecimento da
realidade-concreta do indivíduo, que generaliza toda uma espécie a seus atributos
básicos, ou seja, o tipo pássaro, casa, homem, mulher, bicicleta, são definidas em
termos visuais elementares, podendo ser identificados de uma forma geral. Isto
significa que todos os elementos compartilham referências visuais comuns dentro de
uma categoria mais ampla. Apesar disso, ao querer representar um elemento em
classificações individuais, deve-se trabalhar com os detalhes mais sutis de cor,
proporção, tamanho, movimento e sinais específicos (mais linhas) para que se possa
distinguir, por exemplo, uma gaivota de uma pomba ou uma cegonha (Figura 29).
____________________________________________________________________
Figura 47 – Maneiras de se representar um pássaro
Em relação ao ensino formal, Dondis (1991: 17) critica o sistema educacional (em
todos os níveis) por tratar a abordagem visual com quase desinteresse. Métodos
construtivos de aprendizagem visual são pouco explorados e ficam a critério da
intuição e do acaso, a não ser quando se trata daqueles alunos especialmente
interessados e talentosos para o desenho. A sociedade persiste ainda em conferir
mais importância à expressão verbal, excluindo o restante da sensibilidade humana.
No caso da criança, a experiência visual é fundamental em sua aprendizagem.
Posteriormente, a utilização de recursos visuais – filmes, slides, projeções
143
Todo esse desinteresse atribuído ao sistema visual pode ter como causa dominante a
complexidade, pois, mesmo sendo composto de um sistema perceptivo básico (linha,
forma, luz e sombra, cor, textura e proporção) comum a todos os seres humanos, tal
sistema está sujeito a variações nos temas estruturais básicos. De maneira simplista,
pode-se exemplificar o que foi dito acima, pontuando que ninguém desenha da
mesma forma um elemento ou ação encontrada na realidade, sem contar as outras
nuances constitutivas do desenho, como a perspectiva, a cor, etc.
Segundo Dondis (1991: 19) uma coisa é certa, no geral: o alfabetismo visual jamais
poderá ser um sistema tão lógico e preciso quanto a linguagem verbal, pois sua
estrutura tem uma lógica que o alfabetismo visual é incapaz de alcançar.
Por outro lado, a compreensão visual é um processo natural. O que precisa ser feito é
um refinamento de percepção permitido pelo alfabetismo visual. O caminho não é o
mesmo que o da linguagem verbal, onde existe um substituto que precisa ser
reduzido de um estado para outro. No ato perceptivo visual 53, uma maçã é a mesma
coisa tanto para um inglês quanto para um francês, ainda que o primeiro a chame de
apple, e o segundo de pomme, e assim por diante. Dentro desse contexto, o que a
linguagem verbal difere da comunicação visual é a possibilidade de evitar a
ambigüidade das pistas visuais, tentando então, expressar as idéias de modo mais
simples e direto. Sofisticação excessiva e a escolha de um simbolismo complexo
podem trazer dificuldades na comunicação visual intercultural (Dondis, op. cit.:186).
Por isso, faz-se necessário cada vez mais o entendimento sobre a comunicação
visual, devido a sua inegável força como meio de comunicação. Não se poderá
manter por muito mais tempo uma posição de ignorância diante do alfabetismo visual.
Dondis (op. cit.: 11; 185) aclara sobre o poder constituído à mensagem visual a partir
de alguns casos históricos:
53
Pela percepção visual, a pessoa vivencia uma interpretação direta daquilo que está vendo. Todas as
unidades individuais dos estímulos visuais interagem, criando um mosaico de forças saturadas de
significado, exclusivo do alfabetismo visual e passível de ser diretamente absorvido com muito pouco
esforço, se comparado à lenta decodificação da linguagem vebal (Dondis, 1991: 188). A inteligência
visual transmite informação em uma extraordinária velocidade, tanto que, estando os dados
claramente organizados e formulados, a informação fica mais fácil de ser absorvida, retida e utilizada
referencialmente (Dondis, op.cit.:188).
144
____________________________________________________________________
Figura 48 – O experimento de Ryan e Schwarz
O que deve ser feito é adaptar, aproveitar e melhorar este certo alfabetismo visual
buscando abranger o maior número de culturas possíveis. Abre-se então um outro
questionamento, alusivo ao tipo de representação que seria mais bem aproveitada na
elaboração dos mapas pictóricos turísticos.
A caricatura tem sido definida desde o século XVII como um modo de representação
que objetiva a semelhança em relação ao elemento contido na realidade. Entretanto,
nesse processo de transformação, todas as partes componentes – propriedades
físicas dos objetos – passam por mudanças. Tanto que a caricatura captura somente
a essência do objeto representado – faz possível um vocabulário visual mais
compacto – sendo a prova de que as imagens da arte podem ser convincentes sem
serem objetivamente realistas (Gombrich, Hochberg & Black, 1992:1).
Ryan e Schwarz (apud Gombrich, Hochberg & Black, 1992:74) compararam quatros
tipos de representações, tendo como referência o mesmo elemento – uma mão –
(figura 30), que foi representada em fotografia (a), em desenho sombreado (b), em
contorno traçado diretamente de uma fotografia (somente linhas) (c) e em cartoons
(desenho, caricatura) (d). As representações eram expostas e recolhidas em
pequenos espaços de tempo. O resultado foi o seguinte:
CAPÍTULO 2
Souza (1992: 123) sustenta que existem técnicas visuais para controle do significado
icônico fundamentadas em uma poderosa ferramenta de expressão, que é o
contraste entre dois opostos semânticos. Isso porque, o contraste tem a capacidade
de intensificar e simplificar a comunicação. Dondis (1991: 129-147) apresenta e
Souza (1991: 124-126) sistematiza então as vinte técnicas de composição dotadas de
qualidades sintático-semânticas mais habitualmente utilizadas na relação harmonia –
contraste (figura 50).
Em um outro momento, Souza (1992: 236) complementa que essa concisão gráfica é
resultado de uma redução semântica do conceito aos seus atributos mínimos de
discriminação.
1) A linha
54
Por um ano e meio, tive aulas regulares de desenho mecânico em um curso do SENAI.
Posteriormente, ao longo de alguns três anos fiz parte de cursos de pintura (óleo sobre tela). E, já no
mestrado, por quase um ano fiz um curso de história em quadrinhos.
149
Essa flexibilidade inerente à linha faz com que se possa elaborar desde um solto e
despreocupado esboço, até a rigidez de um desenho técnico (Figura 51).
Figura 51 – A linha
Mesmo com toda sua importância, a linha é o único dos elementos visuais aqui
abordados que não existe no plano concreto, existindo verdadeiramente somente no
plano pictórico.
Como ficou sugerido acima, a linha é capaz de conceber formas. E essas formas já
vêm carregadas de significação, pois não são simplesmente observadas, vistas, mas
sim lidas, traduzidas, reproduzidas. Conseqüentemente, a impressão que se tem das
coisas é terciária e nos vem indiretamente, já manipulada, pela memória ou pelo
hábito (Pedrosa & Arantes, 1996: 142,143).
Dondis (1991: 57) distingue três formas básicas: o quadrado, o círculo e o triângulo
eqüilátero, as quais possuem características específicas, e a cada uma atribui uma
grande quantidade de significados, alguns por associação, outros por vinculação
arbitrária, e outros, ainda, através de nossas próprias percepções psicológicas e
fisiológicas. Essas formas permitem combinações e variações infinitas e possibilitam
compor outras formas físicas da natureza e da imaginação humana (Dondis, 1991:
59). O exemplo a seguir (Figura 54) remete à cena de em uma feira livre.
Esse discurso ainda leva em consideração que é inerente, à maior parte das formas,
apresentar a dimensão e o volume ocupado no espaço, ou seja, a representação de
um elemento necessita de técnicas preocupadas em ilustrar as formas tridimensionais
(comprimento, largura e altura), mesmo que estejam compreendidas em um plano
2D,
152
____________________________________________________________________
Figura 54 – Feira livre: formas básicas de uma representação gráfica
Dondis (1991: 75) esclarece, então, que o ilustrador faz uso do ilusório para
dimensionar a representação em formatos visuais de natureza bidimensional. Graças
a esse recurso, que é subentendido pelo observador uma vez que ele não possui
uma dimensão real da representação, o aspecto ilusório pode ser reforçado de muitas
maneiras. O principal artifício para simulá-lo é a convenção técnica da perspectiva,
sendo que a intensificação da ilusão pode ocorrer de forma ainda mais forte ao se
fazer uso da variação tonal (claro-escuro), enfatizando a luz e a sombra.
Tuan (1980: 155) data o uso desse tipo de representação somente a partir do século
XIV. As primeiras experiências com profundidade espacial se deram na França e na
Inglaterra. A nova técnica era então utilizada nas paredes das vilas italianas no
período Renascentista, onde se pintavam paisagens que serviam tanto para alardear
as riquezas de seus proprietários como para permitir o desfrute da ilusão de
perspectiva panorâmica.
Essa técnica produz o efeito de representar o plano pictórico tal como é visto no plano
concreto, ou seja, o(s) elemento(s) ocupa(m) e define(m) determinado lugar no
espaço: vertical, horizontal, oblíquo, caracterizando-se por uma determinada posição,
forma e tamanho. O produtor, ainda auxiliado pelas formas em três dimensões, cria
possibilidades de sensações espaciais 3D em representações 2D (Cabanellas: 1976:
153
40). Entretanto, é importante ressaltar que um objeto único é infinitamente mais fácil
de ser representado se comparado a um recorte da paisagem.
_____________________________________________________________________
Figura 55 - Figuras e sólidos geométricos
O desenhista mais atento, por exemplo, irá se defrontar com diferentes tipos de
formas do terreno (vales, colinas, morros, falésias), de vegetação, da hidrografia, de
ações humanas, etc. Enfim, abstrair, suprimir, ressaltar e estilizar os elementos
contidos na paisagem faz parte da realidade do mais meticuloso ilustrador, que
sempre recorrerá a uma técnica que lhe possibilite dar, a um desenho, a sensação de
realismo ou a “caricatura” de uma realidade.
3) Luz e sombra
fonte artificial) ou de tom são os meios pelos quais o observador percebe, distingue
oticamente, a complexidade da informação visual do ambiente (Figura 57).
____________________________________________________________________
Figura 56 – Exemplos de planos pictóricos em perspectiva
____________________________________________________________________
Figura 57 – Luz e sombra proporcionando o efeito tridimensional
155
Ainda dentro do tema claro-escuro, não se pode deixar de lembrar que, ao compor
uma ilustração, também se trabalham os contrastes que, sem dúvida, é um poderoso
instrumento de expressão, por ter a capacidade de intensificar o significado, e,
portanto, facilitar a comunicação. O contraste é uma força de oposição tonal que
desequilibra, choca, estimula, chama a atenção (Dondis, 1991:108). A autora finaliza,
na página 109 dizendo que, no alfabetismo visual, a importância do significado do
contraste começa no nível básico da visão ou da ausência desta, através da presença
ou da ausência de luz.
4) Cor
Segundo o site Desenhador Virtual (2005), encontrar a cor perfeita para uma
representação gráfica não é tarefa fácil. Por exemplo, é importante saber utilizar o
verde mais adequado para representar uma floresta que remeta à grandiosidade da
natureza, a aparência “sadia” da paisagem. Contudo, ao se recorrer a um tom verde
mais amarelado e/ou fraco, é bem provável que esse esplendor desapareça. Efeito
157
Inicialmente, pode-se dizer que a cor é um fenômeno biofísico, sendo uma resposta
sensorial, relacionada à radiação eletromagnética. O espectro do comprimento de
ondas visível ao olho humano está entre 0,4 e 0,7 mícrons (banda visível). Isto quer
dizer que, entre esses limites, o olho e o cérebro conseguem distinguir facilmente os
comprimentos de ondas associados a cores denominadas: violeta, azul, verde,
amare-lo, laranja e vermelho – Figura 60 (Monmonier, 1996: 164).
____________________________________________________________________
Figura 60 – O espectro das cores
Deste modo, o intuito é trabalhar com cores que possam trazer a mínima diferença
158
possível entre o mapa na tela (cor-luz) e o mapa impresso (cor matéria, pigmento 55).
Posto isso, Dondis (1991: 65-66) e Monmonier (1996: 164-167) afirmam que, sendo a
cor um fenômeno perceptivo e da arte gráfica, ela é gerada tanto pela luz quanto pelo
pigmento. A cor apresenta um comportamento único, possuindo três dimensões, que
podem ser definidas e medidas:
A seguir Monmonier (1996: 165, 166), Desenhador Visual (2005) e Macmania (2005)
expõem as diferenças básicas entre a cor-luz e a cor-pigmento, divididas
respectivamente em cores primárias aditivas e subtrativas.
55
O pigmento fornece cor a tudo que é material, podendo ser conseguido por vários meios. Os índios o
retiram de sementes (urucum), mas também está nas folhas verdes (clorofila), nos minerais (o
amarelo/vermelho do óxido de ferro, azul do cobalto, no roxo da terra), etc. O homem então, extrai os
pigmentos da natureza, utilizando-os como tinta. Contudo, o desenvolvimento tecnológico fez surgir os
pigmentos sintéticos, ou seja, cores conseguidas graças a produtos químicos. Já a tinta é formada pela
combinação de resinas, solventes, pigmentos e aditivos. O pigmento dá a cor, o solvente a
viscosidade, os aditivos o brilho, opacidade e consistência, e as resinas são responsáveis pelo
transporte físico (Macmania, 2005).
159
O processo de misturada das cores pode ser feito desde a utilização de luzes até
pigmentos extraídos das tintas, vegetais, minerais e produtos químicos (Figura 61 E).
Veja os exemplos: ao apanhar uma maçã vermelha num ambiente claro, a luz que
bate e brilha sobre a fruta e o comprimento de onda de vermelho da luz refletem-se
da maçã para os olhos do observador, enquanto os comprimentos de onda azul e
verde são absorvidos pela maçã. Sensores nos olhos do observador reagem à luz
refletida, enviando uma mensagem que é interpretada pelo cérebro como sendo a cor
vermelha. Já ao olhar para um girassol, vê-se a cor amarela, pois os comprimentos
de onda da luz vermelha e verde são refletidos de volta ao observador, enquanto o
azul é absorvido pela planta. E, por fim, quando se vê uma folha branca, todos os
comprimentos de onda são refletidos ao observador, porém uma folha preta absorve
todos os comprimentos de onda.
Uma rápida explicação técnica é que, por exemplo, quando o observador vê a cor
vermelha, isso significa que o monitor ativou o feixe de luz vermelha, ascendendo um
pixel vermelho na tela.
b) Cor-pigmeto-subtrativa (CMYK)
56
O modelo RGB refere-se àqueles equipamentos que emitem luz própria quando mostram suas
imagens, como o CRT (tubo de raios catódicos) ou o LCD (cristal líquido); ou seja, monitores e
aparelhos de TV (Macmania, 2005).
161
Vale aqui ressaltar que a dualidade: a mistura de pigmentos está diretamente ligada à
quantidade de luz absorvida e refletida pelos objetos. Por exemplo, o pigmento
branco não absorve, mas reflete todas as cores. Portanto, a cor-luz é a soma de
todas as cores, que é refletida pelos elementos iluminados pela luz branca.
Conseqüentemente, ao se misturar um pigmento preto a uma tinta branca, obtêm-se
diferentes tons de cinza.
Partindo para o processo efetivo da impressão dos mapas, tendo como fato que a
folha de papel não emite luz, só absorve e reflete, uma impressora não pode usar as
cores RGB. O cartógrafo, então, necessita de um outro modelo que transporte as
cores do monitor para o papel: o CMYK. Ele está baseado em quatro cores: ciano,
magenta, amarelo e preto; usadas na mistura de pigmentos, principalmente para
imprimir imagens de tons contínuos como fotos e ilustrações digitalizadas, etc. Tais
cores combinadas podem reproduzir uma parte significativa do espectro visível de
cores.
Além dos aspectos fisiológicos relacionados às três dimensões das cores, devido à
linha de pensamento seguida, não se pode ignorar que a percepção da cor esteja
impregnada de emoção. A força intrínseca a essa variável visual pode ser usada com
muito proveito na expressão e intensificação do conteúdo informado (Dondis,
1991:67).
A cor faz parte do cotidiano, tanto que muitas vezes se estabelecem até regras de
harmonia para utilizá-las. Por exemplo, na moda, na decoração, etc., procura-se uma
estética coletiva. Por meio dela, o homem se manifesta, e não somente pela
transmissão de sensações, como também pelo estabelecimento de códigos
completos para a liturgia, para o trânsito, para a publicidade, etc (Cabanellas, 1976:
75).
Outras vezes, por meio da experiência, o significado simbólico da cor pode ser
compartilhado de maneira particular ou universal, sempre apresentando um valor
informativo. Levando-se em consideração o meio ambiente, o sujeito compartilha
significados associativos da cor das árvores, do céu, da terra e de inúmeros
elementos dispostos no espaço, nos quais vêem-se as cores como estímulo. Tudo é
coligado a significados associativos e simbólicos (Dondis, 1991: 69).
Monmonier (1996: 171) complementa o que foi dito até aqui, relatando que através da
história, as cores dispostas sobre os mapas, por exemplo, reforçaram uma certa
metáfora da paisagem. Por muitos séculos, os cartógrafos exploraram e encorajaram
a associação do verde à vegetação, do azul à água, do vermelho às altas
temperaturas e do amarelo ao ambiente desértico. Contudo, essa associação
164
somente pode ser considerada segundo um contexto que seja correto e apropriado,
gerando, então, associações que promovam uma eficiente decodificação.
Pouco se conhece sobre os efeitos e reações subjetivas que os usuários dos mapas
têm em relação às cores. É fato que a maioria delas estão relacionadas a várias
sensações. A cor vermelha, por exemplo, está associada a fogo, perigo, calor,
sangue, raiva, amor e também ao comunismo. Logo, deve-se estar atento ao contexto
ao qual a cor está inserida. Alguns produtores de mapas procuram cores que
reforcem – de forma inteligente ou óbvia – os símbolos pictóricos. Como, por
exemplo, o amarelo pode reforçar símbolos que exemplificam a riqueza. Outros
símbolos que valorizam as cores são os trevos (verdes), as cruzes simétricas e
vermelhas das ambulâncias e hospitais, as cruzes pretas dos cemitérios e igrejas
(Monmonier, 1996:171).
Tuan (1980: 27) disserta sobre as cores avançadas e recuadas. O vermelho, laranja e
amarelo parecem mais próximas do expectador, por estimular o sistema nervoso e
fazer com que o objeto pareça mais quente, mais pesado do que é. Já o verde, azul e
o azul esverdeado promovem distância aos olhos, sugerem frieza, o objeto é julgado
mais leve do que é. Como visto, as cores afetam o sentido de peso e também o
sentido de indicação acima e abaixo, pois quando os elevadores possuem luzes
coloridas, a seta vermelha invariavelmente indica descida, a seta azul subida.
165
A figura 63 demonstra-nos que a cor possui uma ação móvel. As distâncias visuais
tornam-se relativas. O próprio volume de qualquer elemento pode ser alterado pelo
uso da cor sendo que a superfície mais clara sempre aparecerá maior, pois a luz que
reflete lhe confere amplidão.
____________________________________________________________________
Por fim, Mayhew (1992) apresenta alguns itens que merecem destaque em relação
aos princípios e diretrizes das cores:
Devem ser usadas de acordo com a necessidade, valor e não com exagero ou
substitutas de outras técnicas mais eficazes para a representação.
O azul deve ser evitado em textos, detalhes e símbolos pequenos. Essa cor é
boa para fundos e áreas grandes.
167
Cores quentes devem ser utilizadas para criar uma aparência de aumento das
imagens.
5) Textura
... uma textura real, as qualidades táteis e óticas coexistem, não como tom e cor,
que são unificados em um valor comparável e uniforme, mas de uma forma única
e específica, que permite à mão e ao olho uma sensação individual, ainda que
projetemos sobre ambos um forte significado associativo (Dondis, op.cit.:70).
Aliás, a maior parte da experiência vivenciada com relação à textura é ótica e não
tátil. Ilustrações e pinturas muitas vezes proporcionam aparências convincentes de
uma ou mais texturas (Dondis, op.cit.: 71).
MacEachren (1994: 27) pontua que o atributo mais importante da textura é que esta
variável visual gráfica, já à primeira vista, facilita a percepção dos diferentes tipos de
texturas.
Isso quer dizer que a elaboração de um mapa turístico deve valorizar e criar texturas
convincentes e diretas da paisagem que contém: vegetações (florestas, savanas,
climas temperados e frios), tipos de morfologia de terreno (montanhas, vales,
planícies, praias), presença do homem (cidades, aldeias, tribos), etc (Figura 65). E
essas “qualidades” de separação visual entre camadas de informação da paisagem
se mostram por meio de características gráficas de suavidade, aspereza, volume,
168
6) Escala e proporção
A preferência de uma escala para a ilustração é feita por elaborações visuais fluidas,
não absolutas e sujeitas a muitas variáveis modificadoras a partir da composição
pretendida pelo ilustrador. Nessa pesquisa, a escala torna-se muito útil na definição
dos vários planos da paisagem, sendo trabalhada conforme as referências que são
pré-estabelecidas. A figura 66 exemplifica claramente essa relação.
169
de forma fácil e direta, mensagens que podem ser aprendidas com naturalidade por
qualquer pessoa capaz de ver (Dondis, 1991: 82).
Desde já, é certo que todo o processo de colorização será feito em meio digital, por
sua maior praticidade e menor custo, como comprovado em Fiori (2003:147). Além
disso, a idealização dos inúmeros tipos de ilustrações pictóricas trabalhadas sobre
uma base topográfica tem o intuito de causar um forte impacto visual – imagem inicial
– buscando enfatizar a vocação turística do destino representado – balneário,
histórico, rural, saúde, ecoturismo, religioso, etc. Posteriormente, virão outras
“imagens menores”, auxiliares e complementares, que apresentarão os patrimônios
natural, cultural e a infra-estrutura presente na localidade.
Essas observações remetem aos fatores push e pull (item 1.6: 109), ou seja, o
cartógrafo pode pensar em criar inicialmente um primeiro impacto visual ao mapa. Tal
impressão objetivaria enfatizar a principal vocação turística do destino representado,
configurando a localidade, por exemplo, como balneária, histórica, rural, serrana,
cosmopolita, de instância, de atração singular, etc. A figura 67 exemplifica mapas
panorâmicos que fornecem tal atmosfera.
Some-se ainda, uma junção entre as variáveis visuais de Bertin (1967), com
atualização de MacEachren (1995), e os elementos visuais até agora descritos em
suas qualidades sintático-semânticas. Todos esses recursos gráficos possibilitam
representar o espaço por meio do mapa, proporcionando ao plano bidimensional uma
aparente tridimensio-nalidade, como demonstrado na figura 68.
____________________________________________________________________
Figura 68 – Composição de um mapa pictórico com variáveis e elementos visuais
E, por se tratar de um mapa, não se poderia deixar de abordar que sempre haverá
algum tipo de texto, pois a palavra escrita é um recurso eficiente e a articulação
desenho / texto verbal constitui uma técnica importante para facilitar a decodificação
de uma mensagem.
O texto usado no mapa turístico pictórico serve tanto para reforçar a representação
pictórica quanto para enriquecê-la com outras informações complementares (Figura
69). Aliás, a divulgação pelo marketing turístico tem o poder de influenciar, direcionar,
informar, facilitar a seleção ou escolha do usuário sobre uma determinada destinação,
que conta com diferentes propostas paisagísticas ao turista, como rotas, lugares,
áreas, atividades específicas da localidade.
____________________________________________________________________________
Figura 69 – Articulação texto e imagem
Moreira Leite (1998: 44) complementa que, embora habitualmente a linguagem visual
seja considerada de transmissão direta, pode apresentar uma postura parasitária em
relação à linguagem verbal. As imagens visuais precisam das palavras para que
sejam transmitidas e, freqüentemente, a palavra já inclui em si um valor figurativo a
ser considerado. Entretanto, em grande parte das vezes, as palavras não conseguem
evocar exatamente o que a imagem propõe.
Barthes (1990: 33, 34) reitera que, de um lado, o texto verbal traz a possibilidade de o
criador, e também de a sociedade, exercer um controle sobre a imagem: a fixação é o
controle, detém uma responsabilidade sobre o uso da mensagem frente ao poder de
projeção das ilustrações. Mostra-se como um valor repressivo em relação à liberdade
dos significados da imagem. Por outro lado, a mensagem icônica possibilita que o
leitor apressado não tenha que se incomodar com as descrições verbais, acreditando
174
Por tudo que foi exposto, pode-se estabelecer que não existe um tipo de mensagem
lingüística, verbal, visual ou icônica absoluta. A idéia, então, é utilizar da melhor forma
possível as três possibilidades de elaboração da mensagem: icônica codificada,
icônica não-codificada e lingüística, apontadas por Barthes (1990: 28-40), para que,
assim, o mapa pictórico se torne mais facilmente compreendido. Até porque os três
tipos de mensagens apresentadas capacitam a trabalhar a redundância, podendo
tornar o mapa mais informativo e esteticamente mais rico e agradável.
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57
A popularização do turismo e das viagens internacionais ocorreu principalmente após a Primeira
Guerra Mundial, fazendo com que houvesse a necessidade de se criar um sistema de comunicação
que não fosse limitado pela fronteira da língua. Gerou-se então, o interesse pela linguagem dos signos:
o pictograma (Carneiro, 2001: 1), denominado por Frutiger (apud Carneiro, 2001: 25) como signo de
segurança, possibilitando ao usuário apreender a informação com maior rapidez e facilidade.
177
Esse tipo de imagem funcional, sinalética, gráfica, sem valor fonético, de natureza
icônica é conhecida no âmbito da comunicação visual pelo nome de pictogramas,
símbolos de sinalização, ou ainda, SIPs. Além disso, é auto-explicativo, devendo
apresentar como características básicas a concisão gráfica, a densidade semântica e
uma funcionalidade comunicativa que ultrapasse as barreiras comunicativas (Souza,
1992:6).
58
Sinaléticos – compreende os signos gráficos - tais como: os pictogramas, os códigos gráficos de
âmbito profissional, as marcas e logotipos institucionais, a sinalização viária (Souza, 1992: 132) - que
transmitem informações essenciais a um grande número de pessoas, inclusive de línguas diferentes,
para orientar o seu comportamento social.Tais imagens indicam reações comportamentais apropriadas
em determinada situação social. Na tabela 72 podem-se classificar as imagens por sinais indicativos
(fig. 3,14), designativos (fig. 1, 2, 4 , 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 15, 16) e proibitivos (fig.9) (Souza, 1992:
5).
178
Figura 73 – O pictograma
A figura 75 refere-se ao fato de que, além do princípio básico de que todo pictograma
deve ser compatível a várias culturas, faz-se ainda uma segunda ressalva: devido ao
desenvolvimento natural da sociedade, correlacionado ao tempo e sua dinâmica, é
bem provável que alguns símbolos necessitem de uma reavaliação periódica de suas
representações. Por exemplo, citam-se as diferentes formas – reflexo do processo
evolutivo – de representação para telefone, isto é, será que o pictograma elaborado
para as Olimpíadas de 1968 no México não está ultrapassado? Até porque,
atualmente, é raro se deparar com um telefone discado.
____________________________________________________________________
Figura 75 - As modificações das representações gráficas ao longo do tempo
Souza (1992: 178; 182) ainda lembra que, mesmo havendo um princípio normativo
para a criação de pictogramas, é comum surgirem várias versões do mesmo conceito,
isto é, o mesmo pictograma pode apresentar diferenças gráficas sem que isso altere
sua significação (Figura 76A). Acrescente-se que, embora o plano de representação
do pictograma seja preferencialmente frontal, ainda existem os pictogramas
longitudinais e, mais raramente, os em perspectiva (Figura 76B).
182
59
Compreende todo sinal gráfico (lingüístico, pictórico ou misto) que promova a correta orientação do
usuário/ turista dentro de uma destinação ou equipamento turísticos (Carneiro, 2001: 11).
184
Quanto a fontes nacionais, a autora optou por aqueles sistemas elaborados por
órgãos oficiais de turismo, federal e estadual: o CONTRAN (Conselho Nacional de
Trânsito), a EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) e a Secretaria Estadual de
Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SEET), o sistema de sinalização do
Código de Transito Brasileiro, além do Guia Quatro Rodas Brasil, reeditado
anualmente pela Editora Abril.
Posto isso, concorda-se com Carneiro (2001: 30) no tocante ao desafio que os
comunicadores têm quanto ao coeficiente de repetição da informação – no caso, os
pictogramas – em um determinado tempo, ou seja, quanto mais um mesmo Símbolo
de Informação Pública for usado, mais haverá a probabilidade de ser conhecido por
um maior número de pessoas. Cresce, dessa forma, a inteligibilidade.
60
Associação sem fins lucrativos fundada em 1914. Desenvolve nos E.U.A. um programa que inclui
eventos, publicações, exposições e atividades educativas, com a finalidade de promover a qualidade e
a excelência no terreno do desenho ou design gráfico. Ao longo deste tempo, elaboraram, por exemplo,
sistemas gráficos de sinalização e programas de identificação para clientes na Europa, África, Ásia e
Estados Unidos (Carneiro, op.cit.:46).
61
Coletou e inventariou pictogramas ao longo de sete anos (1980 a 1987) em 76 cidades de 39 países
da Europa, Ásia e Américas (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro), resultando na publicação desse
diretório. Em 1993, foi lançado o segundo diretório (Carneiro, op.cit.:65).
62
Essa associação requisitou de Todd Pierce (presidente da empresa Design Pacifica International
LLC) e sua equipe a criação e organização de um repertório de pictogramas. Em 1996, foi publicado
um livro com a intenção de ser um indicador de sinalização completo para a cidade de Portland
(E.U.A.).
185
Entretanto, o mapa turístico em meio digital pode ser mais atrativo por poder incluir
uma quantidade enorme de informações se comparado aos tradicionais mapas
impressos, pois utilizar recursos como: vídeo clips, composição de vários layers –
camadas e possibilidade de representar uma mesma informação de diferentes
formas – textos em pop up, que não poluem visualmente o mapa, indicação de
links, entre outros recursos.
Toda essa remodelação tecnológica ajudou a expandir, por exemplo, o uso dos
bens patrimoniais e o campo da criatividade. Assim como o vídeo game tornou
trivial as batalhas históricas, e alguns videoclipes ofereceram tendências
experimentais à arte, os computadores e outros usos do vídeo facilitaram a
obtenção de dados, a visualização e inovação gráfica. Isso permitiu simular o uso
de novas peças e informações, reduziu a distância entre concepção e execução,
conhecimento e aplicação, informação e decisão. Essa apropriação múltipla de
produtos culturais abre as possibilidades originais de experimentação e
comunicação (Canclini, 2003: 308). Entretanto, é necessário se fazer uma ressalva,
apoiada no mesmo autor (Canclini, op.cit.:150), que coloca a noção de público
como sendo muito perigosa se caracterizada como um conjunto homogêneo e de
comportamentos constantes. Deve-se levar em consideração que a sociedade está
dividida em estratos econômicos e educacionais diversos, com hábitos de consumo
194
Romanov (apud Cartwright & Heath, 2002) lembrou que, na Quarta Conferência
Anual sobre World Wide Web, sustentou-se que a questão-chave na interatividade
inteligente está no conteúdo emocional, que fundamenta a elaboração de produtos
aos usuários. A promessa de novas tecnologias para artefatos cognitivos, como os
mapas, tem proporcionado e aumentado a interação da comunicação
contemporânea. Todavia, essas novas formas de representação e artefatos trarão
novos questionamentos relacionados, por exemplo, ao entendimento e à eficácia
da informação geográfica retratada, visualizada e percebida. A cartografia
contemporânea precisa, então, encontrar maneiras de avaliar esse tipo de
196
Segundo Brown, Emmer & Worm (2001) o grande negócio da interação é capacitar
o usuário a encontrar e reagir às informações gráficas e textuais disponibilizadas. A
cartografia, do mesmo modo que outras áreas do conhecimento, está sendo
amplamente afetada pela revolução dos computadores e da Internet.
Brown, Emmer & Worm (2001) acrescentam serem poucas as vezes em que se
encontram mapas que combinam elementos atrativos, de motivação e interativos. E
nos casos em que se aplica especificamente a interatividade, ela é, em sua maior
parte, limitada a ações como zoom, pan e acesso a outros sites. Essas falhas
ocorrem mesmo havendo programas que possibilitem a criação de uma grande
variedade de formas interativas e de apresentação, trabalhadas por meio do design
cartográfico. Especificamente, a produção de mapas para a Web, incluindo os
turísticos, ainda continua muito restrito a reproduções feitas em papel, isto é,
197
Wolfgram (1994) ratifica a proposta, a idéia de que o objetivo principal é não deixar
que a apresentação pare de fluir, disponibilizando, por exemplo, recursos para
informar ao usuário que o programa está rodando, ou para que ele saiba que, ao
pressionar uma determinada tecla, aparecerá um determinado assunto. Deve-se
evitar a demora no reconhecimento das informações: o usuário não pode, por
exemplo, ficar parado por muito tempo em frente ao monitor do computador só para
entender o que acontece no site. Todos esses fatores vão causando aborrecimento
ao usuário, fazendo com que o produtor corra um sério risco de gerar perda das
emoções e da motivação.
Miller & Pupedis (2002), ao verificar outros sites, chegaram a algumas conclusões:
normalmente, o produtor é muito técnico e, na maioria das vezes, faz suposições
que generalizam o público alvo. Eles enfatizam que a implementação técnica, ou
seja, acreditam que o produtor está muito mais preocupado com o tempo de
download do que com a eficaz navegação do site pelo usuário. Além disso, devido
ao custo, muitos produtores acabam desenvolvendo o site sem fazer um
reconhecimento mais aprofundado e experimentado de seu usuário potencial.
Os autores (Miller & Pupedis, 2002) ainda alertam para o fato de que pesquisas
relacionadas ao uso dos mapas para Web – e, por que não dizer, os mapas
interativos em geral – ligados às ciências geoespaciais estão normalmente focados
em ferramentas de geovisualização voltadas àqueles usuários que já dominam o
Sistema de Informação Geográfica (GIS). Por isso, os pesquisadores também
precisam se preocupar com o uso do design daqueles sites elaborados para os
usuários não-especializados, leigos em cartografia e/ou GIS. Os autores terminam
a explanação, apontando alguns problemas de sites baseados em GIS:
Simbolização inconsistente.
198
Faz-se justo afirmar que a boa transmissão da informação, além da alta tecnologia
e suas respectivas facilidades técnicas, jamais deve dispensar um profissional
especializado e competente preocupado em estabelecer um processo de
desenvolvimento compatível com o produto idealizado.
63
Diferente da maioria dos jogos de computador, o SimCity 2000 ® não foi concebido com o intuito
de vencer ou perder, pelo contrário; invoca um pensamento construtivo para educar o usuário sobre
os conceitos geográficos e espaciais associados ao desenvolvimento urbano (Johnston &
Cartwright, 2000).
200
___________________________________________________________________
Figura 80: Simcity® :referência para os mapas turísticos interativos
201
interativa que, entre seus inúmeros recursos, tem como principais elementos:
Posto isso, a partir de agora são arroladas e exemplificadas as técnicas ainda não
abordadas pelo item 2.1. Ao final, todas as técnicas apresentadas comporão um só
conjunto que vão auxiliar no desenvolvimento dos mapas turísticos pictóricos
interativos. Até porque, como enfatiza Dondis (1991: 24), as técnicas são os
agentes do processo de comunicação visual e é por meio da sua energia que o
caráter de solução visual adquire forma.
5.3.1 – O texto
Um bom texto deve sempre estar bem escrito, ser interessante e fácil de ler;
precisa ainda prender a atenção, mesmo que não esteja acompanhado de
animações ou efeitos de imagens. Na elaboração do mapa no formato digital,
pontua-se que:
O texto aplicado nas bordas do mapa pode ser tratado como qualquer outro
tipo de aplicação de texto em um mapa interativo ou página da Web. Deve
haver precauções quanto ao controle do texto “flutuante” (onde e como
localizá-lo nos pontos extremos do mapa), espaçamento e tamanho das
letras, o tipo de fonte mais adequada, etc. Esse conjunto de texto comporá
a(s) legenda(s), a(s) escala(s), o título, a borda (moldura) e outros itens
complementares do mapa.
5.3.2 – O fundo-cenário
Finalizando esta parte, ressalte-se que, muitas vezes, não é necessário utilizar a
linha do horizonte e pontos de fuga para compor uma ilustração. A técnica da
perspectiva paralela, além de ser mais simples, também proporciona bons efeitos
visuais. A figura 88 demonstra que tanto os lados verticais como os horizontais são
feitos a partir de linhas paralelas.
207
___________________________________________________________________
Brown, Emmer & Worm (2001) enfatizam que uma convenção parece estar se
formando em torno dos símbolos pontuais interativos. Ela busca um efeito
tridimensional para que eles pareçam flutuar sobre o fundo do mapa. O
sombreamento é grandemente aplicado no desenvolvimento dos mapas interativos
e da Web para criar objetos em 3D clicáveis, ou seja, acionados por meio de
botões. O uso da sombra projetada sobre os objetos cria a impressão de estarem
projetados sobre o fundo (Figura 89).
____________________________________________________________________________________________________
Os autores (Brown, Emmer & Worm, 2001) ainda alertam para o cuidado em
relação àquelas “legendas interativas” que são meramente escaneadas ao lado do
mapa, não oferecendo nenhuma possibilidade de interação. Aliás, um dos grandes
problemas associados à simples escanerização das legendas em mapas ocorre
quando o usuário utiliza recursos como o zoom ou o pan e a legenda normalmente
desaparece. Não se pode esquecer que a legenda é parte importante e
fundamental do processo informativo de um mapa e, portanto, deve ser tratada
como um objeto separado e móvel, o que possibilitará sempre seja vista na tela.
5.3.4 – Animação
Brown, Emmer & Worm (2001) esclarecem que as animações podem ser aplicadas
em símbolos:
5.3.5 – Áudio
Música – é utilizada para criar um clima, uma atmosfera que deve envolver o
espectador, influenciando a marcha das cenas seguintes. Tem diversas
funções em uma apresentação, podendo determinar o início da exibição,
enfatizar emoções ou ilustrar pontos particulares.
5.3.6 – Interatividade
como a forma mais poderosa de provocar emoções, trazendo à tona todo um nível
de controle implícito do produtor.
No entanto, esse recurso exige que o usuário sempre saiba onde está, como
chegou ali e como deve proceder para ir de um lugar a outro; caso contrário, o
produtor o perde. Portanto, a comunicação bem-sucedida sempre depende de
manter a atenção do usuário ao assunto exposto.
64
Na literatura especializada, o termo hipermapa não é usado somente em sistemas de hipermídia
geo-referenciada, mas também em mapas dinâmicos mais elementares, que apresentam uma
exibição mais simples, com um número limitado de links. Já os mapas “clicáveis” são sistemas
hierarquicamente orientados e proporcionam uma flexibilidade limitada, porém geo-referenciados.
Menno-Jan, K. & VAN DRIEL, R. (1997).
212
Comumente, encontram-se mapas na tela sem uma escala fixa, porém o produtor
tem que decidir sobre alguns tipos de escalas “ideais”, e isso depende da
quantidade e precisão dos detalhes que quer apresentar. Brown, Emmer & Worm
(2001) distinguem três estratégias de zooms que podem ser aplicadas:
5.3.7 – Download
Em outra reportagem da IDG now! (06/2005), lê-se que, no Brasil, de cada dez
internautas domésticos, quase cinco já possuem conexão em banda larga. A
tendência é que, até 2009, por volta de 7,4 milhões de brasileiros estarão
conectados a alta velocidade.
65
São as coordenadas geográficas e/ou UTM (Projeção Universal Transversa de Mercator) que
revelam a latitude, longitude; indicação do Norte.
219
Nesse momento, trabalha-se, na prática, o mapa híbrido, ou seja, aquele que tanto
faz uso das regras cartográficas básicas, da semântica para iniciados e da
semiologia gráfica de Bertin, quanto da teoria da comunicação, do senso comum e
da pictografia.
Fiori (1999, 2003) e outros trabalhos empíricos evidenciam que, em geral, o público
leigo em cartografia e o turista tendem a optar pelos mapas pictóricos, mesmo que
a compreensão do conteúdo ocorra mais lentamente. Isso acontece devido ao
melhor entendimento da informação, à atratividade e ao poder de sedução exercido
pelo produto pictórico.
Além disso, é instigante pensar que o mapa pictórico possibilita uma maior visão do
outro, ao enfatizar símbolos locais e nacionais, atrativos naturais e culturais,
fornecendo ao usuário da Internet – “o turista virtual” – informações de que ele
pode se apropriar e que é capaz de adaptar com o propósito de conceber um senso
distinto de nacionalidade. Palmer (1999) afirma que a idéia de nação está
poderosamente presente na linguagem do turismo patrimonial. A apropriação da
identidade nacional para o turismo – e, por que não inserir o mapa turístico? – vai
além do interesse comercial: perpassa o coração do povo e serve para definir uma
identidade tanto para os que são representados quanto os que devem entender a
representação.
informações nelas dispostas. Por isso, foi necessário consultar outros materiais
visando à atualização das bases, como imagens de satélite (Google Earth) e
principalmente outros “mapas” sem escala, que forneceram subsídios para
referências como hidrografia, estradas, curvas de nível, etc. As bases cartográficas,
principalmente aquelas usadas nos mapas pictóricos, passaram por ampliações,
com tamanho suficiente para a caracterização das ilustrações, símbolos e textos
em geral.
Alguns mapas já vieram em formato digital (programa AutoCAD), mas a maioria foi
escaneada e posteriormente digitalizada em AutoCAD ou CorelDraw.
A partir de uma mesma base cartográfica, elaboram-se dois mapas que, entretanto,
apresentaram diferentes versões de representação para a mesma localidade: um
mapa convencional e um mapa pictórico. A seguir, destacam-se os itens comuns às
duas versões:
Para finalizar, é necessário que se faça uma ressalva quanto à elaboração das
bases temáticas pictóricas. Mesmo que o grau de abstração da realidade seja
menor, se comparado aos mapas convencionais, a base pictográfica continua
sendo uma representação gráfica muito reduzida da realidade.
___________________________________________________________________
Figura 99 – A pictografia e a generalização da realidade física
227
3.4 - O símbolo
3.5 - O texto
3.6 - A legenda
O mapa turístico divide a legenda em dois tipos: geral, caracterizado por elementos
usualmente encontrados em qualquer mapa como, por exemplo, o símbolo de
capital, cidade, rodovia pavimentada ou sem pavimentação, hidrografia, limites
municipal, estadual e federal entre outros do mesmo gênero. E a legenda turística,
com símbolos relacionados à acomodação, alimentação, hospedagem, serviços,
atrativos naturais e culturais, entretenimento, práticas desportivas, recreação e
transporte (Figura 102).
Aliás, esta pesquisa continua o estudo de Fiori (2003), que propõe a elaboração de
uma legenda para mapas turísticos, utilizando-se dos Símbolos de Informação
Pública (SIPs). A escolha dos símbolos empregados nas legendas dos dez mapas
desenvolvidos ao longo deste trabalho seguiu alguns critérios:
230
___________________________________________________________________
3.7 - A borda
A borda em um mapa turístico serve para auxiliar o usuário que procura relacionar
o item da legenda com sua localização no mapa. Por exemplo: como encontrar no
mapa um hotel que se vê na legenda. Nesse caso, o simples e já usado processo
de dividir a borda do mapa com letras e números resolve de maneira eficaz o
problema (104 A).
É Importante ressaltar que, mesmo utilizando a visão oblíqua para a confecção dos
mapas pictóricos, estes foram concebidos sobre uma base cartográfica em escala,
o que possibilitou a inserção do sistema de referências geográficas (latitude,
longitude e pontos cardeais).
Após a confecção dos mapas turísticos de Ilhabela (SP), Foz do Iguaçu (PR),
Caxambu (MG), Manaus (AM) e São Raimundo Nonato (PI): cinco convencionais e
cinco pictóricos (ver mapas em CD - anexos – pasta 3), Caxambu foi selecionada
para o desenvolvimento de um protótipo para um mapa-site turístico. A escolha se
deve ao processo de elaboração dos dez mapas turísticos, ou seja, se comparado
às outras cidades, Caxambu dispõe de uma maior quantidade de mapas
convencionais e pictóricos e, ainda, escalas mais diversificadas, divididas em:
A interatividade do site aconteceu nos vários tipos de caixas de texto e botões que,
ao serem clicados, abrem legendas, proporcionam informações direcionadas
(entrar, ir até, voltar), apresentam alguns atrativos como as igrejas, o centro
238
CAPÍTULO 3
E é por isso que esta pesquisa, fundamentada em Fiori (2003), apresenta uma
dualidade crítica quanto a dois tipos distintos de mapas para o setor do turismo: o
convencional e o pictórico, por proporcionarem graus diferentes de abstração e
formas distintas de representar a informação. Portanto, três tópicos são
averiguados:
2) Estética: qual dos mapas tem um maior grau de empatia – emotiva, sedutora
– e atração quando expostos aos turistas.
Gerber, Burgen & Stanton (1990) identificam oito aspectos que atuam sobre as
pessoas quando adquirem informação cartográfica: a habilidade espacial, a
percepção espacial, a habilidade de leitura, a idade, a habilidade para desenhar, a
experiência prévia quanto ao uso dos mapas, a atitude (pessoas que gostam de
observar mapas) e a disponibilidade de mapas em casa ao decorrer da vida, ou
seja, o mapa não é visto como um objeto estranho. A apreensão dessas
características determinará o maior ou menor grau de abstração dos símbolos pelo
usuário.
O tempo de download.
Devido a todos esses fatores, costuma-se estabelecer apenas uma idade mínima
para a aplicação dos questionários: as pessoas deveriam ter uma idade acima dos
quinze anos. Sem entrar no mérito da discussão, a escolha da idade mínima é
apoiada em Cavalcanti (1996). Segundo o estudioso, somente aos onze, doze anos
um indivíduo, uma pessoa é capaz de realizar abstrações que vão além dos
significados ligados a suas práticas imediatas. Contudo, o autor ressalta ainda que
essa competência não se consegue simplesmente pela idade: é preciso levar em
conta a experiência do usuário. Isso quer dizer que, se o ambiente no qual o
adolescente vive não oferece desafios e tarefas necessárias para estimular seu
intelecto, seu raciocínio poderá não alcançar o nível adequado para sua faixa
etária.
3.2.1 - Procedimentos
População
Sujeitos
68
O projeto Caminhos do Futuro é uma parceria do Ministério do Turismo com o Instituto de
Academias Profissionalizantes (IAP), a Academia de Viagens e Turismo (AVT) e o Núcleo de
Turismo da Universidade de São Paulo (USP). Essa parceria resultou em qualificações em 16
estados brasileiros, nos principais temas ligados ao turismo (Caminhos do Futuro, 2007).
244
Idade Escola-
ESTADO Profissão
20-30 31-40 41-50 > 50
Total ridade
Sujeitos
1- ALAGOAS 9 16 14 4 43
2- AMAZONAS 6 9 18 12 45
3- BAHIA 4 16 14 6 40
4- CEARÁ 14 21 11 7 53 Professores
5- DISTRITO FEDERAL 5 15 6 8 34 de escolas
públicas do
6- ESPÍRITO SANTO 12 15 12 4 43 ensino
7- GOIÁS 6 22 8 10 46 fundamental
8- MARANHÃO 20 18 8 2 48 e médio.
Superior
Outros
9- PERNAMBUCO 13 10 13 8 44 profissionais
10- PIAUÍ 11 15 16 10 52 ligados às
11- RIO GRANDE DO SUL 8 8 15 9 40 secretarias
da educação
12- SANTA CATARINA 12 9 13 6 40 e do turismo.
13- SERGIPE 4 11 14 5 34
14- TOCANTINS 9 19 15 4 47
TOTAL GERAL 133 204 177 95 609
1- Maragogi (AL), Manaus (AM), Mata de São João (BA), Jijoca (CE), Brasília (DF),
São Mateus (ES), Caldas Novas (GO), Barreinhas (MA), Cabo de Santo Agostinho
(PE), São Raimundo Nonato (PI), Pelotas (RS), Balneário de Camboriú (SC),
Aracaju (SE) e Palmas (TO).
245
Instrumento de medida
Propõe-se, então, um tipo de legenda para mapas turísticos que se baseie nos
símbolos de informação pública. Para isso, é necessário adaptar, melhorar
graficamente e avaliar, por pesquisas empíricas, os vários pictogramas já
existentes. É preciso que se mantenha o esforço de formular um inventário, de
ordenar, padronizar e divulgar, em escala internacional, um sistema de sinalização
para o setor. Desse modo, pode-se vislumbrar a composição de um sistema único,
normatizado, pelo menos no que se refere a ações, situações e locais de senso
comum. Carneiro (2001:193) complementa que, ser oficial, não é uma qualidade
imposta pelos órgãos ou entidades, mas sim a condição legítima de uso e
inteligibilidade.
4ª.) O texto deve ser direto e objetivo, trazendo informações úteis – serviços,
curiosidades, história, referências – aos turistas. A escala precisa ser adequada
aos elementos que serão dispostos sobre o mapa-base. A orientação (pontos
cardeais, latitude e longitude) é necessária, pois é um item que traz referências ao
turista.
Atribuição de pontos
A) BRASIL B) ESTRANGEIROS
TEMA TEMA
1 2 3 1 2 3
RESPOSTA RESPOSTA
Aceita 56 56 28 Aceita 23 23 13
Rejeitada 3 8 0 Rejeitada 1 5 0
TOTAL 59 64 28 TOTAL 24 28 13
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
TEMA
1 2 3
RESPOSTA
Aceita 56 56 28
Rejeitada 3 8 0
TOTAL 59 64 28
255
A) BRASIL B) ESTRANGEIROS
QUESTÃO 1 QUESTÃO 1
TIPO DE a B c d TIPO DE A B C d
MAPA MAPA
Convencional Convencional
15 6 23 4 6 12 13 5
(1) (1)
Pictórico Pictórico
41 50 33 52 17 11 10 18
(2) (2)
Total Geral Total Geral
56 23
(1+2) (1+2)
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
QUESTÃO 1
TIPO DE a B c d
MAPA
Convencional
21 18 36 9
(1)
Pictórico
58 61 43 70
(2)
Total Geral
79
(1+2)
A) BRASIL
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
A b a b
6 4
Positiva 19 17 26 28 28 17 I II 16
15 3
Negativa 9 11 2 0 0 11 III IV 12
TOTAL
(Positiva + 28
negativa)
B) ESTRANGEIROS
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
A b a b
- -
Positiva 5 6 7 12 12 10 I II 6
5 8
Negativa 8 7 6 1 1 3 III IV 7
TOTAL
(Positiva + 13
negativa)
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
A b a b
6 4
Positiva 24 23 33 40 40 27 I II 22
20 11
Negativa 17 18 8 1 1 14 III IV 19
TOTAL
(Positiva + 41
negativa)
261
A estrutura é a seguinte:
1) Bondinho
Bonde, teleférico, pão de açúcar, transporte por cabo.
________________________________________________________________________________
2) Teleférico
Estação de esqui, poltrona, esqui, trem de esqui.
________________________________________________________________________________
_____
3) Táxi
Ponto de táxi, carro, polícia, ambulância, locação de veículos, parada de táxi.
________________________________________________________________________________
4) Rodoviária
Ônibus, ponto de ônibus, transporte coletivo, transporte rodoviário.
________________________________________________________________________________
5) Porto
Navio, embarcação, transporte fluvial, área portuária, transporte marítimo, viagem
marítima, hidrovia.
________________________________________________________________________________
6) Metrô
Estação de trem, trem-metrô, bonde, estação de metrô.
________________________________________________________________________________
7) Heliponto
Helicóptero, heliporto, táxi aéreo, aeroclube, local de pouso.
________________________________________________________________________________
8) Estação ferroviária
Trem, Ferrovia, Estação de trem, Linha de trem, linha férrea, locomotiva, metrô, trem de
superfície.
________________________________________________________________________________
9) Balsa
Carro, transporte fluvial, transporte aquático de carro, transporte por barca, carro na balsa.
265
10) Aeroporto
Avião, transporte aéreo, aeroporto-avião.
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
18) Bebedouro
Lavatório, lixo, lixeira, pia, lavatório, limpeza, lavabo.
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
266
________________________________________________________________________________
22) Banco
Dinheiro, empréstimo, câmbio, financeira, cifrão.
________________________________________________________________________________
23) Delegacia
Policial, segurança, guarda de trânsito, área militar, posto policial, guarda, policiamento.
________________________________________________________________________________
25) Correio
Correspondência, carta, serviço postal.
________________________________________________________________________________
26) Artesanato
Cerâmica, utensílio, jarra, laboratório, vinho, louça, indústria química, artesanato-cerâmica,
química, farmácia, ciência, pote, vaso.
________________________________________________________________________________
_____
27) Estacionamento
Permitido estacionar, parada, estacionamento proibido, permitido estacionar,
estacionamento privado.
________________________________________________________________________________
28) Hotel
Hospedagem, dormitório, repouso, pernoite, hospital.
________________________________________________________________________________
31) Camping
Acampamento, barraca, local para acampamento, cabana, área de camping.
________________________________________________________________________________
32) Pousada
Chalé, casa de aluguel, casa, casa na praia, residência, guarita, moradia, área residencial.
________________________________________________________________________________
33) Windsurfe
Velejar, barco a vela, vela, surfe, jangadeiro, regata, prática de iatismo.
267
________________________________________________________________________________
34) Vôlei
Quadra de vôlei, Pólo aquático, basquete.
________________________________________________________________________________
35) Natação
Piscina, área para nadar.
________________________________________________________________________________
36) Futebol
Quadra de Futebol, campo de futebol, jogo de futebol.
________________________________________________________________________________
37) Tênis
Quadra de tênis, ping-pong.
________________________________________________________________________________
38) Golfe
Campo de golfe.
________________________________________________________________________________
39) Basquete
Quadra de basquete.
________________________________________________________________________________
43) Pára-quedismo
Pára-quedas, pára-quedista.
________________________________________________________________________________
49) Balonismo
Balão, pára-quedismo, balonista, baloagem.
________________________________________________________________________________
50) Surfe
Surfista, skate, skatista.
________________________________________________________________________________
52) Mergulho
Mergulhador, área de mergulho, prática submarina, nadador.
________________________________________________________________________________
54) Playground
Gangorra, parque, parquinho, parque infantil, balanço.
________________________________________________________________________________
55) Bar
Drink, taça, frágil, adega, bebida, taça de vinho.
________________________________________________________________________________
56) Cervejaria
Choperia, chope, bar, milk shake, bar.
________________________________________________________________________________
57) Sorveteria
Sorvete.
________________________________________________________________________________
58) Supermercado
Carrinho de supermercado, mercado.
________________________________________________________________________________
59) Lanchonete
Lanche, fast food, lancharia.
________________________________________________________________________________
60) Restaurante
Refeição, talheres.
269
61) Cafeteria
Café, casa de chá, café expresso.
________________________________________________________________________________
62) Biblioteca
Livraria, leitura, livro, jornal.
________________________________________________________________________________
64) Parque
Floresta, árvores, bosque, reserva florestal, parque natural, campo, mata, área verde.
________________________________________________________________________________
66) Monumento
Farol, marco, obelisco.
________________________________________________________________________________
68) Mesquita
Noite, lua, lua crescente, boate, templo islã, místico, lual, lua minguante, muçulmanos,
símbolo do islã.
________________________________________________________________________________
69) Sinagoga
Estrela de Davi, judaísmo, templo judeu, judeu, israelense, maçonaria, pentagrama.
________________________________________________________________________________
70) Igreja
Catedral, cristão, igreja católica, igreja cristã, templo cristão.
________________________________________________________________________________
71) Farol
Farol alto, porto, foguete.
________________________________________________________________________________
73) Caverna
Gruta, túnel.
________________________________________________________________________________
74) Cachoeira
Catarata, cascata, corredeira.
________________________________________________________________________________
75) Zoológico
Animal selvagem, elefante, safári, selva, circo, cuidado: animais.
________________________________________________________________________________
76) Museu
Circo, palácio, mesquita, teatro, ruínas, Grécia.
________________________________________________________________________________
77) Teatro
Carnaval, museu, máscara do teatro, baile de máscara.
________________________________________________________________________________
78) Hipismo
Hipódromo, rodeio, corrida de cavalo, hípica, jóquei, corrida de cavalo, equitação, festa de
rodeio, haras.
________________________________________________________________________________
79) Praia
Chuva, sombrinha, balneário, guarda-sol, área para banhista.
________________________________________________________________________________
82) Internet
Arroba, cyber café, e-mail, endereço eletrônico, informática, lan house, acesso a Internet.
___________________________________________________________________
Acertaram o contexto
A partir dos 56 símbolos já inclusos, ainda restam 26 com índice menor de acerto
que 300 sujeitos. Desses 26, 12 símbolos foram respondidos corretamente por
menos de 200 sujeitos – acerto do contexto (incluindo-se o acerto do símbolo):
A) BRASIL B) ESTRANGEIROS
QUESTÃO 1 (%) QUESTÃO 1 (%)
TIPO DE a B c D TIPO DE A b C d
MAPA MAPA
Convencional Convencional
26,8 10,7 41,0 7,0 26,1 52,2 56,5 21,7
(1) (1)
Pictórico Pictórico
73,2 89,3 59,0 93,0 73,9 47,8 43,5 78,3
(2) (2)
Total Geral Total Geral
(1+2)
100 (1+2)
100
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
QUESTÃO 1 (%)
TIPO DE A B c d
MAPA
Convencional
26,6 22,8 45,6 11,4
(1)
Pictórico
73,4 72,2 54,4 86,6
(2)
Total Geral
(1+2)
100
perfect for hikink with the shown contour lines etc... there we need precise scales
e.g. for measuring and suggesting the time for trips - type 2 seems to me being
good for planning trips and getting to know the main features - told with pictures it
attracts the visitors and helps the tourist in setting priorities. Maybe he sees which
atrractions are in a near surroundings and its importance for the family trip that
could be made in a specific time - tourist maps should give a feeling of pre-
happyness of the upcoming trip” (geo informática e mídia, 30, Alemanha). “...em
alguns momentos seria interessante levar os dois mapas...” (professora, 29, MT).
___________________________________________________________________
Questão 2 (tema 1)
Já em relação ao texto disposto dentro dos quadros, você os acha:
a) Necessários. Reforçam a curiosidade e o conhecimento sobre o lugar.
b) Desnecessários. As informações são exageradas e poluem visualmente o
mapa.
___________________________________________________________________
1) Entre os brasileiros
A partir dos 74 símbolos já inclusos, ainda restam 8 com índice de aceitação menor
que 70% entre os sujeitos, a saber:
2) Entre os estrangeiros
Dos 65 símbolos já inclusos, ainda restam 17 com índice de acerto menor que 70%
entre os sujeitos, a saber:
A) BRASIL
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
a b a B
21,4 14,3
67, 60, 92, 60, 57,
Positiva 100 100 I II
6 7 9 7 1
53,6 10,7
32, 39, 39, 42,
Negativa 7,1 0 0 III IV
1 3 3 9
TOTAL
(Positiva + 100
negativa)
B) ESTRANGEIROS
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
a b a B
- -
38, 46, 53, 92, 92, 46,
Positiva 77 I II
5 2 8 3 3 2
38,5 61,5
61, 53, 46, 53,
Negativa 7,7 7,7 33 III IV
5 8 2 8
TOTAL
(Positiva + 100
negativa)
C) BRASIL + ESTRANGEIROS
Detalhe
QUESTÃO 2 5
1 3 4 6 Questão 5 b
RESPOSTA
a b a B
14,6 9,8
58, 56, 80, 97, 97, 65, 53,
Positiva I II
5 1 5 6 6 9 7
48,8 26,8
41, 43, 19, 34, 46,
Negativa 2,4 2,4 III IV
5 9 5 1 3
TOTAL
(Positiva + 100
negativa)
279
__________________________________________________________________________
Questão 1 (tema 3)
O que achou da navegação?
Questão 2 (tema 3)
a) O que achou dos recursos zoom, pan e as mudanças de escalas?
b) O que achou dos pop ups (caixas de texto) contidos nos mapas?
___________________________________________________________________
1º) As respostas às questões formuladas com alternativas revelaram que este item
também teve problemas, apresentando uma média geral positiva regular (53, 7%),
sendo que entre os estrangeiros a rejeição chegou a quase 54%.
Primeira afirmação
Segunda afirmação
No entanto, pode-se afirmar que alguns pictogramas são eficazes, mesmo não
utilizando o texto complementar. São eles os que representam o: aeroporto,
restaurante, sorveteria, hotel, correio, supermercado, hospital, praia, telefone
público, banco, vôlei, natação, futebol, tênis, golfe, basquete, asa delta, igreja,
teleférico, táxi, posto de gasolina, lanchonete, e internet. Ao olhar as respostas
dissertativas dadas a esses pictogramas, percebe-se que os poucos entrevistados,
mesmo que não acertassem exatamente o contexto, chegaram muito próximos do
significado pretendido pelo produtor.
283
Terceira afirmação
___________________________________________________________________
Quarta afirmação
Por exemplo, o modo como foram elaborados os pop ups, onde a informação (texto
e/ou figura) só mantinha aberta se o cursor permanecesse sobre a caixa, ou então,
a falta de indicações mais claras e diretas ao internauta, o que fez com que grande
parte dos entrevistados não conseguisse ou tivesse dificuldades em acessar a
seqüência dos quatro mapas em zoom (escala menor para maior) até chegar ao
questionário do tema 3. Essa limitação é flagrante quando se compara a
quantidade de sujeitos que responderam os outros temas:1 e 2 (ver tabelas 11 A,
B e C).
O acesso ao tema 3 pôde ser melhorado quando foi inserida no site uma página de
advertência sobre como prosseguir para chegar ao questionário (Figura 110).
___________________________________________________________________
Quinta afirmação
Mesmo com a alta aprovação dos itens, os entrevistados alertam para a grande
quantidade de informação (textos, ilustrações), que, se reduzidas, podem melhorar
ainda mais o produto.
Kolacny (1994) pondera que o mapa só atinge seu objetivo quando o produtor
considera a produção e o consumo como dois processos interligados. Por isso,
desde a primeira pesquisa que nos propusemos fazer, sempre foram elaborados
testes e análises empíricas após o planejamento e posterior confecção do material
idealizado. Acredita-se se essa a maneira mais acertada de quantificar e qualificar
a eficácia do produto finalizado. Colocam-se então, duas situações distintas, mas
complementares, desenvolvidas durante o processo de comunicação elaborado por
Board (1996):
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
289
4 – Considerações finais
De acordo com a linha de estudo adotada, a história da cartografia, em todo
registra inúmeras e distintas formas de representação do espaço; logo, é preciso
dar à devida importância ao contexto cultural em que o mapa está inserido.
Até porque é o público potencial que deve conduzir o produtor do mapa na escolha
de quais representações devem ser mais usadas e eficazes do que outras.
O passo seguinte apresenta questões trabalhadas por Fiori (1999 e 2003), que são
retomadas e aprofundadas nesta tese, cumprindo três etapas seqüenciais:
1. O fundamento teórico
2. O design e as técnicas
Os materiais utilizados vão desde lápis, papel vegetal, folha branca e caneta
nanquim, até os recursos encontrados nos programas CorelDRAW, Photoshop e
Dreamweaver.
3. Avaliação empírica
*
293
BIBLIOGRAFIA
294
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LANDESHAUPTSTADT DÜSSELDORF. City-karte. Vermessungs-und Katasteramt
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MAPA SANTIAGO TURÍSTICO. SERNATUR: Santiago do Chile, 2005.
MAPA TURÍSTICO DA REGIÃO DE NAGANO. Kem: Nagano: [s.d.]
MAPA TURÍSTICO DA DUTRA. RDE Empreendimentos Publicitários Ltda: Rio de
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