Maçonaria - Cmi Relatório Pesq
Maçonaria - Cmi Relatório Pesq
Maçonaria - Cmi Relatório Pesq
1. APRESENTAÇÃO
Esta pesquisa teve por objetivo, de modo geral, saber a opinião dos maçons regulares
membros das obediências maçônicas brasileiras confederadas à CMI – Confederação Maçônica
Interamericana (24 Grandes Lojas confederadas à CMSB, 07 Grandes Orientes confederados à
COMAB, e o Grande Oriente do Brasil), sobre a Maçonaria de hoje e as perspectivas para a mesma no
restante deste século XXI.
Com seus resultados, busca-se conhecer um pouco mais das opiniões e percepções do
maçom brasileiro sobre as forças e fraquezas de sua Maçonaria, bem como seus anseios de
realização da mesma para os próximos anos. Assim, além de uma análise de ambiente interno da
Maçonaria brasileira, que pode servir de informação útil ao desenvolvimento de planos de ação pelas
diferentes obediências; pode-se, sobretudo, compreender as diferentes vertentes orgânicas de
pensamento que se destacam entre os maçons que formam a base da pirâmide maçônica.
2. MÉTODO
Neste capítulo, são apresentados a estrutura do instrumento de coleta de dados, os
procedimentos que conduziram a coleta, os métodos adotados para análise dos dados coletados e a
amostra participante da pesquisa.
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“não deveria fazer e está fazendo”. A outra pergunta era aberta, ou seja, de caráter mais qualitativo,
e consistia na seguinte indagação: “Como você gostaria de ver a Maçonaria neste século XXI?”
2.2. Participantes
A representatividade da amostra também foi constatada pela distribuição das respostas válidas entre
todas as 32 obediências maçônicas brasileiras atualmente confederadas à CMI, seguindo certa
proporcionalidade ao quantitativo de membros declarado de cada uma. Dos respondentes
computados, 58% são membros de Grandes Lojas confederados à CMSB, 28% são de Grandes
Orientes confederados à COMAB, e 14% são de membros do Grande Oriente do Brasil - GOB. A baixa
participação de maçons do GOB em comparação com seu market-share, de quase 30%, pode ser
reflexo da discordância de seu Soberano Grão-Mestre com a divulgação e realização da pesquisa.
Com o objetivo de obter um conhecimento preliminar dos dados quantitativos coletados, foi
realizada uma análise estatística exploratória. Tal análise permitiu identificar e tratar problemas
inerentes aos dados, como, por exemplo, a existência de outliers e respostas incompletas.
Considerando essa etapa, as análises sequenciais puderam ser interpretadas com mais confiança,
tanto pelo conhecimento do pesquisador das características dos dados quanto pelo reconhecimento
e tratamento dos possíveis problemas detectados.
Para realizar o conjunto de análise dos dados do presente estudo, foram utilizados os
softwares Microsoft Excel 2013 e SPSS 23.0. O primeiro passo realizado foi a descrição das
estimativas básicas das variáveis, calculando, porcentagem, média e o desvio-padrão das mesmas ao
nível agregado da amostra. Também foram obtidas as matrizes de correlação, indicando o
relacionamento entre as variáveis.
Como uma complementação desse estudo quantitativo, foi realizada uma análise de
conteúdo das respostas coletadas na questão aberta (de número 4) presente no questionário, que
trata sobre a expectativa do maçom para a Maçonaria neste século XXI. A compreensão das
diferentes expectativas dos maçons pode colaborar para uma melhor compreensão de suas visões e
opiniões organizacionais, as quais não são examinadas nas questões quantitativas 5 e 6.
O processo de análise do conteúdo das respostas dissertativas utilizado tem por base e
referência principal Bardin (2009). Para essa autora, a análise de conteúdo é tida como um método
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de análise textual de forma a interpretar sua mensagem e compreender seus significados. O método
utilizado dá ênfase à presença de determinada característica ou conjunto de características em uma
mensagem com o objetivo de encontrar o elemento que dá sentido à comunicação. No caso de
múltiplos elementos, optou-se por categorizar o primeiro elemento apresentado, por entender que
foi o primeiro que o respondente desejou expor. A partir daí, é realizada a categorização, agrupando
os dados e definindo temas comuns às repostas.
As categorias geralmente são definidas de duas formas distintas. Seguindo uma orientação
positivista, elas podem ser definidas a priori, baseadas em hipóteses que norteiam o estudo. Ou
podem ser definidas a posteriori, com base unicamente na interpretação do conteúdo obtido
(BARDIN, 2009). Optou-se, neste caso, em realizar a categorização pelo segundo modo.
Importante registrar que as análises realizadas são interpretações que conferem significados
às mensagens coletadas. Os textos expostos podem se diferenciar dos originais coletados apenas por
pequenas correções quanto ao emprego correto da língua portuguesa, mas sem modificar o sentido
de seus conteúdos.
Seguindo o método sugerido por Bardin (2009), durante a exploração dos dados coletados foi
realizada a codificação dos temas de forma a se obter a representação temática do conteúdo. Os
dados foram enumerados e agregados em unidades conforme a identificação das características em
comum entre as respostas. As categorias e subcategorias foram então determinadas, contendo
unidades selecionadas conforme critérios de exclusão mútua, homogeneidade, pertinência,
objetividade e fidelidade (BARDIN, 2009).
3. RESULTADOS
3.1. Distribuição
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Tabela 1: Distribuição dos participantes por Obediência
Fonte: elaborada pelo autor
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3.2. Idade
Figura 1: Gráfico de distribuição dos participantes por Idade
Fonte: elaborada pelo autor
Como pode-se observar, a faixa etária de concentração dos participantes está entre os 38 e
os 64 anos de idade, com pico aos 57 anos e idade média geral de 52. Considerando a legislação
nacional vigente, que determina o status de idoso a partir dos 60 anos de idade, 37% da amostra
participante desta pesquisa é de maçons idosos e, em apenas 05 anos, a maioria dos respondentes,
aproximadamente 51%, será idosa.
1
Fonte: http://agenciabrasil.ebc.com.br/pesquisa-e-inovacao/noticia/2017-12/expectativa-de-vida-do-
brasileiro-e-de-758-anos-diz-ibge
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Os dados indicam que há uma concentração de aproximadamente 50% dos participantes
com 10 anos ou mais de filiação maçônica, seguido de quase 22% na faixa entre 5 e 10 anos
incompletos, com índices caindo por faixa com menos tempo de filiação, sendo que aqueles que
ingressaram há menos de 1 ano corresponderam a aproximadamente 6%.
Isso sugere uma capacidade crescente de retenção entre os maçons com 5 ou mais anos de
instituição, o que acarreta em um envelhecimento do maçom dentro da Maçonaria; e uma
deficiência progressiva de renovação dos quadros.
Para testar as proposições surgidas da análise dos dados de tempo de ordem, foi feito o
cruzamento desses dados com o de faixa etária, de forma a verificar se realmente há um problema
de seleção e retenção de maçons mais jovens.
Tabela 3: Faixa etária x de tempo de Ordem
Fonte: elaborada pelo autor
A tabela indica um fenômeno no qual, abaixo dos 40 anos de idade, a quantidade de maçons
é inversamente proporcional ao tempo de Ordem, enquanto que, a partir dos 50 anos de idade, a
quantidade de maçons é proporcional ao tempo de Ordem.
O que também pode-se observar é que, enquanto há mais de 10 anos a faixa dos candidatos
iniciados era, em média, entre 40 e 69 anos de idade, nos últimos 05 anos essa faixa tem sido
reduzida para entre 30 e 49 anos.
Considerando tais dados, se for possível reduzir aos altos níveis de evasão ocorridos nos
primeiros 05 anos de filiação maçônica e, partindo da expectativa de vida do brasileiro, a maçonaria
brasileira poderá “surfar” por mais tempo essa parábola em forma de onda do seu contingente de
membros.
Ainda, esses dados reforçam a hipótese sociológica apresentada por Ismail (2017), de que há
um choque de duas gerações na maçonaria brasileira, tendo como marco divisor de gerações,
aproximadamente, o ano de 1972, a partir do qual passou a nascer a nova geraçãoatualmente
presente (aproximadamente 35%) e ingressante na Maçonaria, com perfil diverso e incongruente
com o perfil predominante e governante da instituição, dos maçons nascidos antes de 1972.
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Figura 2: Gráfico de Faixa Etária x Tempo de Ordem
Fonte: elaborada pelo autor
3.5. O que a Maçonaria deveria fazer e não está (ou está fazendo pouco)
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É interessante observar que essa questão fechada foi apresentada no questionário em ordem
posterior à questão aberta, que pergunta “Como você gostaria de ver a Maçonaria neste século XXI”.
Ressalta-se que os participantes não viram essa questão sobre “O que a Maçonaria deveria fazer”
antes de escrever seus comentários sobre como gostariam de ver a Maçonaria neste século. E, como
poderá ser observado, as 06 opções mais votadas nessa questão fechada coincidem com algumas das
categorias mapeadas na análise de conteúdo das respostas para a pergunta aberta, o que evidencia,
tanto a correta seleção de opções para a questão fechada quando do desenvolvimento do
questionário, quanto a confirmação entre os dados “quanti” e “quali” obtidos, bem como a coerência
e seriedade na resposta do questionário pelos participantes.
Importante ressaltar que, apesar de temas similares, as abordagens desta questão fechada e
da questão aberta que a precedeu são diferentes. Enquanto essa questão fechada trata de um
diagnóstico de não satisfação, a questão aberta trata de demanda, ou seja, de desejo, de busca por
satisfação. De toda forma, elas estão relacionadas, visto que a não satisfação impacta naquilo que se
espera. Assim, com a análise de conteúdo, será possível melhor compreender os pensamentos dos
participantes quanto a essas três variáveis que têm gerado mais insatisfação: seleção de membros,
formação maçônica e preservação.
Conforme verificou-se com o cruzamento, os mais jovens têm uma tendência a esperar mais
benefícios da Maçonaria, como incentivo a negócios e auxílio mútuo aos maçons e familiares,
provavelmente por ainda estarem em fase profissional de busca por estabilidade. Em contrapartida,
os mais velhos tendem a defender a preservação dos rituais e segredos maçônicos e uma melhor
seleção de membros para a Ordem, ao mesmo tempo em que rejeitam o uso de novas tecnologias de
comunicação e informação na Maçonaria.
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3.6. O que mais lhe desagrada na Maçonaria atualmente?
Essa questão teve por objetivo verificar o nível de insatisfação do maçom brasileiro para com
as variáveis apresentadas. Similar à questão fechada anterior, além da possibilidade de criar novas
opções não previstas, o participante podia selecionar de uma a cinco opções, incluindo as que ele
criasse. Registra-se que as opções também foram automaticamente randomizadas. Segue o
resultado:
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3.7. "Não deveria e faz" & "Deveria e não faz"
Tabela5: "Não deveria e faz" & "Deveria e não faz"
Fonte: elaborada pelo autor
Com uma visão por faixa etária, selecionou-se, para melhor visualização, aqueles fatores que
apresentaram maior diferença entre o grupo de mais jovens e o grupo dos mais velhos, indicando,
como pode-se verificar nas faixas intermediárias, uma mudança de foco conforme a idade.
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3.8. Análise de conteúdo
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Figura 6: Categorias
Fonte: elaborada pelo autor
Como pode-se observar, as categorias foram divididas em dois grupos, um de categorias cujo
foco é o exterior da Maçonaria e outro de categorias com foco interior. Aquelas com foco no exterior
indicam uma maior preocupação dos maçons em como a Maçonaria se apresenta ou atua na
sociedade, enquanto uma célula da sociedade civil organizada. Já as com foco no interior revelam
uma maior preocupação dos maçons com os problemas, pontos de atenção ou questões prioritárias
percebidas por eles dentro da instituição. Segue-se um breve relato da análise de cada categoria,
acompanhada de frases reais de respondentes selecionadas com o intuito de representar as demais
respostas classificadas naquela categoria.
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apresentam certa resistência ao envolvimento da Maçonaria com política e acreditam que a
Maçonaria brasileira está muito “teórica” e pouco “prática”, devendo atuar mais “fora do templo”.
Seus entendimentos são no sentido de que não há como “fazer feliz a humanidade” sem atuação
social.
“Gostaria de ver uma maçonaria mais engajada nos problemas sociais, menos interessada ou,
pelo menos, mais imparcial em relação à classe política de todos os níveis” (R645).
“Mais atuante em assuntos que afetam a população em geral, tais como: democracia,
educação, saúde, segurança pública, erradicação do nível de pobreza, etc.” (R667).
“Mais ativa e menos preocupada com questões irrelevantes. Ou seja, mais atuante no âmbito
social e moral do nosso país” (R711).
“Gostaria que fosse mais atuante, participando efetivamente nas áreas de saúde, educação e
segurança, incentivando a moral e a ética e defendendo as virtudes propostas nos nossos
manuais” (R2074).
“Interagindo com mais dinamismo na sociedade. Atuar de forma mais objetiva preocupando-
se com os problemas que afligem a coletividade e contribuir para a criação de melhores
perspectivas para a sociedade e para o Brasil” (R2270).
“Atuante, voltada para a sua essência na nobre e talvez inatingível missão de tornar feliz a
humanidade. Todavia, sem engajamentos políticos que infelizmente, neste momento,
desgraçam e contaminam a Ordem. Somos discretos, continuemos assim. Todas as vezes que
a Ordem se envolveu com política resultou em prejuízos imensos à fraternidade, com
perseguições e injustiças a irmãos, traições e conchavos, adormecimento compulsório,
desvirtuação e afronta aos princípios da maçonaria” (R5322).
“Gostaria de ver a Ordemse tornando cada vez menos um clube de favorecimento pessoal e
cada vez mais uma entidade altruísta e socialmente responsável” (R6929).
“Menos envolvida em política partidária e muito mais envolvida em política social. Mais
participativa junto ao cidadão, principalmente nas causas sociais” (R3184).
O grupo dessa categoria, formado por 8,11% dos participantes, provavelmente impactado
pela série de escândalos de corrupção na esfera federal que têm, desde 2016, ocupado a mídia
nacional, e pelo fato deste ano de 2018 ser um ano eleitoral, com eleições em nível federal e
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estadual, ambicionam por uma Maçonaria brasileira mais voltada ao ativismo político, buscando
eleger maçons-políticos e expulsando de seus quadros políticos-maçons envolvidos com corrupção.
Acreditam que a Maçonaria pode fazer valer sua ética nas casas legislativas por meio de irmãos
eleitos e, assim, retomar sua posição de uma das protagonistas da elite política brasileira, como foi
no século XIX.
“Participando de perto da vida política, e cobrando com rigor que maçons políticos guiem
seus atos conforme o que aprenderam com a Ordem” (R313).
“Com uma participação ativa junto aos seus membros, com mandato parlamentar, seja na
câmara federal ou no senado, no sentido de que os mesmos apliquem na prática os princípios
fundamentais da ordem, fazendo valer a ética, a moral, os bons costumes e a boa gestão no
trato do bem público. Enfim convocando esses irmãos a prestarem contas junto às suas lojas,
e a todos os irmãos, ouvindo e debatendo de forma transparente suas ações” (R331).
“Mais atuante nas questões políticas, que tivéssemos nossos representantes na câmara,
Senado, irmãos os quais nós tivéssemos acesso para juntos tentarmos mudar os rumos do
nosso país” (R848).
“Eu gostaria de ver a Maçonaria mais Participativa nas decisões políticas de cunho social, mais
enérgica com Irmãos políticos envolvidos em corrupção, defendendo o interesse coletivo em
prol da população, tanto na área da saúde, educação, segurança como em outras áreas
necessárias para o bem estar da população, enfim ser mais Justa e Perfeita” (R2943).
“Que os irmãos não ficassem "em cima do muro", que tomassem posições em suas
comunidades, principalmente no âmbito político partidário. Vejo a maçonaria bastante
acovardada nesse aspecto. Se os bons não ocupam posições, os maus ocupam!! Entendo que
não há saída democrática fora da política” (R5091).
“Gostaria de vê-la atuante no que diz respeito à política brasileira. Fazer um verdadeiro dossiê
dos candidatos, e talvez mesmo eleger irmãos para os cargos” (R5104).
“Gostaria de ver a Maçonaria apresentando para a sociedade bons cidadãos para a política e
não buscando políticos mal intencionados para compor nosso quadro de Irmãos” (R6460).
Essa categoria anseia por uma Maçonaria mais preocupada com o próximo, em especial as
comunidades carentes. Que se ocupe de auxiliar e socorrer os mais necessitados. Eles acreditam que
somente assim, atuando diretamente junto a quem mais precisa, poderá a Maçonaria colaborar
diretamente para com a felicidade da humanidade. O perfil dessa categoria é muito próximo daquele
da categoria de Atuação Social no que tange a ser, de forma geral, contrária ao envolvimento da
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Maçonaria com a política profana e por acreditar que a Maçonaria precisa agir também fora de seus
templos. Por essas razões, essa categoria também pode ser considerada como uma “subcategoria”
da Atuação Social.
“Uma sociedade de bons costumes, de homens de bem e que faça bem a humanidade pela a
pratica da caridade” (R322).
“Com mais filantropia, homens de bem, sem fanatismo por política, religião e futebol” (R715).
“Mais aberta a propostas de filantropia e que suas fileiras passem a ter menos irmãos
egocêntricos e soberbos” (R1149).
“Cumprindo seus propósitos sociais com mais vigor, no auxílio, na caridade e na orientação
dos menos favorecidos e cobrar das autoridades o cumprimento integral de suas obrigações,
denunciando as mazelas que atingem as pessoas, tudo isso de forma discreta como convém
ao bom maçom” (R2928).
São as categorias que concentram uma maior preocupação dos respondentes com os
problemas, pontos de atenção ou questões prioritárias percebidas por eles dentro da instituição.
Quase 5% dos respondentes esperam que a Maçonaria brasileira volte-se mais para a
formação maçônica, assumindo-se como uma escola de moralidade e ética social e cumprindo sua
missão institucional de aperfeiçoamento dos maçons, de forma que os mesmos possam fazer a
diferença em suas comunidades. Esse grupo se incomoda com a política maçônica existente pela
disputa de cargos e credita isso à vaidade dos maçons, entendendo que isso é reflexo da deficiência
ou ausência de uma educação maçônica de qualidade, que tem sido, em suas opiniões, negligenciada
pelas obediências e, consequentemente, pelas lojas.
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Os termos mais utilizados foram: formação, instrução, estudo, moral, intelectual.
“Uma maçonaria voltada para o estudo, o conhecimento. Uma maçonaria que explore o
debate, a discussão, o contraditório. Que ouse, que saia da zona de conforto. Que entenda
que não somos um clube de serviços, que a nossa matéria-prima é a luz do conhecimento.
Nossa contribuição é expandir mentes. Precisamos ser formadores de opinião. Para isso
precisamos de muita leitura e discussão. Precisamos desengessar a loja, trabalhando mais em
recreação para o debate fluir. O maior inimigo da maçonaria é o próprio maçom, que ingressa
numa loja completamente despreparada, se retira e passa o resto da vida falando mal da
maçonaria” (R741).
“Cumprindo sua verdadeira finalidade, instruir o homem maçom para que se torne melhor,
com capacidade de contribuir para a melhora da sociedade. Sem envolvimentos políticos,
principalmente dentro das potências” (R1186).
“Entendo que a Maçonaria brasileira deva ser voltada ao crescimento moral e intelectual de
seus membros. Gostaria de ver mais trabalhos filosóficos e simbólicos dentro de Loja, mais
Irmãos engajados no estudo, na busca de conhecimento, na sua formação pessoal. As
Grandes Lojas mais ativas e perto das Lojas e dos trabalhos sociais e intelectuais. Mais cursos,
especialmente patrocinados pelas Grandes Lojas e Grandes Orientes. Enfim: de a Maçonaria
ser Maçonaria, um centro de aperfeiçoamento pessoal, moral, ético e intelectual, unindo os
Irmãos e permitindo que eles melhorem a sociedade que vivem. Penso que seja um dinheiro
muito grande que é dado para pouco retorno. As potências, na grande maioria, viraram meio
de lucratividade e não de gestão consciente de suas áreas de atuação” (R1925).
“Mais estudos dentro das lojas, nas sessões. Hoje perde-se tempo com leitura de ofícios e
quase nenhum estudo. Qualquer coisa que os aprendizes ou companheiros apresentem são
aceitas. Não há debate. Os complementos repassados são pedaços de outros livros, muitas
vezes sem coerência. Não há material de estudo que permita ao aprendiz ou companheiro
entender o que se pretende. Parece existir confusão entre manutenção do ritual e forma
moderna de ensino. Todas as instituições que tratam de ensino têm buscado metodologias de
ensino atuais, e não existe isto dentro da maçonaria. E não se diga que não é papel da
maçonaria se preocupar com a forma de transmissão de seus ensinamentos. Se assim se
entender, o final está próximo. Deve-se, urgentemente, rever a metodologia de transmissão
dos ensinamentos maçônicos. Portanto, a maçonaria no século XXI que espero é uma
maçonaria mais preocupada na formação de seus membros através do repasse dos
conhecimentos de forma plena, auxiliando no crescimento pessoal de cada irmão” (R3470).
“Gostaria de uma maçonaria menos política e mais voltada a instrução e crescimentos moral
e intelectual de seus membros” (R6400).
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“Uma maçonaria que dê menos importância a política maçônica e se dedique mais ao
aprimoramento do ser humano” (R7639).
Os irmãos que compõem essa categoria estão preocupados com o futuro quantitativo da
maçonaria brasileira. Eles acreditam que a Maçonaria pode não ser atrativa para as novas gerações,
estão preocupados com os altos índices de evasão voluntária, e desejam que a Maçonaria seja
fortalecida em seu quantitativo, de forma a garantir seu futuro e relevância social.
“Uma maçonaria mais profissional; mais forte; com uma capilarização maior na sociedade,
contribuindo para o bem estar da comunidade de forma mais efetiva” (R360).
“Forte. Atuante. Respeitada por todos. Uma referência para toda a sociedade, um exemplo,
que todos os irmãos pensassem nos interesses de todos e não somente nos interesses
individuais” (R982).
“Atrativa pelos novos membros aceitos e não como está hoje com uma evasão muito grande
de iniciados que não chegam nem a 5anos na ordem!” (R3432).
“Gostaria de vê-la crescendo, muitos irmãos estão deixando os nossos quadros por falta de
interesse e falta de motivação, pois as reuniões são muitas vezes improdutivas” (R5469).
“Com fortalecimento das colunas e mais ativa perante a sociedade, para sermos mais
reconhecidos e que os não maçons não criem falsas ideias e preconceito contra nossa ordem”
(R7693).
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Os termos mais utilizados foram: evoluir, modernizar, tecnologia, atualizar.
“Com a real prática do conceito de irmandade. Mais humanista e menos mística. Tratando de
assuntos atuais e futuros com uso das tecnologias disponíveis para que possamos evoluir,
sem apenas olhar e falar saudosamente de um passado glorioso” (R1709).
“Gostaria que a maçonaria fosse menos repetitiva e chata. Reuniões enfadonhas e o sistema
instrucional é simplesmente estúpido” (R1972).
“Gostaria de ver a Maçonaria moderna, adaptada aos tempos atuais, usando a tecnologia a
seu favor, mas preservando sua origem secular sem descaracteriza-la com procedimentos que
não condizem com sua origem” (R3663).
“Zelando pela tradição, moral e bons costumes como sempre. Porém, se atualizando em
termos administrativos, reuniões mais enxutas e produtivas” (7612).
A categoria intitulada “Moralização”, terceira mais concentrada entre todas as dez categorias
válidas, concentrando quase 13% das respostas, ressalta uma insatisfação com a Maçonaria atual,
almejando uma melhoria para os próximos anos por meio de uma limpeza interna, alcançada através
de uma conscientização e transformação dos membros atuais e exclusão daqueles que mantenham
um padrão moral abaixo do esperado no meio maçônico. A palavra “vaidade”, registrada por muitos
integrantes do grupo “Formação Maçônica” como um dos males que assolam a maçonaria atual,
aparece com ainda mais frequência e destaque nesta categoria de “Moralização”. A diferença é que,
enquanto esta categoria se concentra em destacar a necessidade de se combater a vaidade no meio
maçônico, a categoria da “Formação Maçônica” apontou a melhoria na educação maçônica como
solução para esse problema.
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“Que os homens que se dizem ser homens de bons costumes deixassem seus egos de serem
maçons, honrassem mais a maçonaria com virtudes, sem mentiras, com seriedade, brilho nos
olhos e realmente tendo bons costumes,honestidade e vergonha na cara. Sei que nãosão
todos, mas a maioria está aqui para dizer à sociedade que é maçom” (R20).
“Com IIr.'. presentes nas sessões maçônicas e com vontade de trabalhar. O que falta é
humildade das gralhas soberbas que produzem-se, todas com as penas dos pavões. Simples
assim” (R365).
“Como uma instituição mais séria e fraterna, onde irmãos que tivessem problemas na justiça
não pudessem participar de reunião e ficassem afastados até que seus problemas fossem
resolvidos (R503).
“Que a fraternidade seja mais transparente com os IIr.’. , sendo menos complacentes com
OObr.’. que não condizem com a leis maçônicas. Deixando mais de lado a política e focando-
se em fazer valer o que é ser Maçom” (R1171).
“Sem vaidade, sem astrologia e invenções como ''egrégora'', sem se vangloriar por ser o que
não é (ex: influente na política do país), seguindo suas próprias regras (potências declarando
apoio ao Aécio em eleição é irregular e deplorável). Precisamos de uma maçonaria que
aposta nos DeMolays, que são o futuro salvador da Ordem” (R3453).
“Eu gostaria que os problemas e vaidades profanas estivessem fora do Ordem. Justifico minha
resposta nos vários exemplos de má conduta na Ordem, parecendo que os ensinamentos que
recebemos foram em vão. Que a política profana não reverbere e contamine a Ordem, e que
todos possamos ser justos, buscando sempre a perfeição” (R5092).
“Uma Maçonaria que siga os principais princípios maçônicos e que comece a expurgar os
maus Maçons. A limpeza tem que começar no nosso quintal. Uma Maçonaria que não se
envolva com políticas partidárias e que não seja ávida pelo poder” (R6449).
“Que não tenhamos essa política que estamos vivenciando na maçonaria. Que acabe com
essa vaidade dentro das lojas, onde está existindo mais conflitos entre irmãos do que entre os
profanos” (R7683).
“Gostaria de ver a Maçonaria como uma instituição realmente compromissada com os ideais
que estão presentes em sua filosofia. Uma maçonaria que consuma menos tempo com
questões de natureza administrativa e política interna e mais tempo com a formação do
maçom e de suas Lojas. Não consigo imaginar como a maçonaria poderia continuar
contribuindo com a humanidade a não ser pela formação de bons maçons” (R7777).
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Algumas citações diretas de respostas selecionadas nessa categoria:
"Resgatar os seus valores de origem; preservar suas tradições usos e costumes; ter
consciência que a maçonaria não é uma instituição moderna e que seus ensinamentos,
embora de antiga origem, são atuais diante do caos que estamos vivendo" (R1125).
"Mais tradicional, voltada a sua essência, com menos influência tecnológica, onde seus
trabalhos de ritualística respeitassem o que foi originalmente criado sem esse excesso de
mudanças ritualísticas" (R1455).
"Hermética, sem profanação como está hoje, sendo que em qualquer meio encontramos de
tudo relacionado a ordem. Também que tenhamos orgulho daqueles que nos antecederam, e
possamos fazer do mundo, um mundo mais justo e perfeito..." (R2068).
"Gostaria de uma maçonaria que não tente se adaptar as novas gerações e sim o contrário, os
novos obreiros entenderem as regras antigas e se adaptarem a elas. Existe uma corrente
muito forte de que, para angariar novos quadros, a maçonaria se modernize, flexibilize ou
qualquer ou termo que vá de encontro ao anseio destes jovens e deve ser justamente o
contrário" (R3224).
"Uma maçonaria sem reformas, com os mesmos rituais de outrora, sem cada grão mestre
modificando os rituais anteriores. Queria ver uma maçonaria sem modismo, preservando os
antigos costumes" (R4894).
"Gostaria de vê-la mais sigilosa e voltada para a perpetuação do que a trouxe até os dias de
hoje, infelizmente nossa Sublime Instituição está muito banalizada e devassada, fazendo
iniciações de pessoas que não compreendem sua natureza" (R5897).
"Inabalável. Temos que manter os LandMarks na íntegra. Qualquer mudança drástica, com
certeza, a nossa ordem perderá a sua essência. Mas temos que analisar a evolução e a
globalização. e adequar aos nosso princípios e leis e não o contrário" (R6329).
"Pelo ao menos discreta, pois a Maçonaria já foi secreta, já foi discreta, e está muito aberta
devido alguns irmãos que postam coisas da ordem nas redes sociais pra todo mundo ver. Já vi
até campanha para eleição de Grão Mestre em Facebook. Pra mim, que iniciei em 1989, está
tudo muito errado esta abertura escancarada!" (R7241).
Os maçons que compõem essa categoria fazem, de certa forma, contrapeso com os da
categoria “Grande e Forte”, pois, enquanto este último almeja que a maçonaria torne-se mais
acessível como modo de crescer quantitativamente e, assim, tornar-se mais relevante; este grupo da
categoria “Seleção” deseja o oposto, ou seja, um maior rigor da Maçonaria na seleção de seus
membros. Um termo que foi muito repetido pelos irmãos que compõem essa categoria foi “menos
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quantidade e mais qualidade”, como se quantidade e qualidade fossem incompatíveis. Essa categoria
apresentou correlação com a “Moralização”.
"Com maior rigor para o ingresso de candidatos. Mais seletiva, indicando profanos que
realmente preencham os princípios e quesitos" (R599).
"Mais seletiva, com sindicâncias de melhor qualidade e com uma ênfase maior nos estudos e
na formação de maçons mais qualificados e compromissados com a nossa ordem!" (R2206).
"A Maçonaria está virando um "clube" de amigos, onde estão sendo indicados profanos que
com certeza não merecem fazer parte da Ordem. Acredito que a primeira coisa a se fazer é
repensar como são feitas as seleções e aumentar o rigor nas escolhas" (R2650).
“Todos têm direito de polir sua personalidade e engrandecer seu espírito, mas penso que
deveria ser mais rigorosa na seleção de candidatos,muitos atritos e problemas se deve a isso"
(R3044).
"Uma Maçonaria onde só se aceite homens livres e de bons costumes, mas isso tem que ser
respeitado, para que a instituição seja respeitada. Precisamos de qualidade e não de
quantidade, onde os princípios e as virtudes devem ser regras de conduta" (R3807).
"Forte, pujante, séria, temos que melhorar muito nossa seleção de membros. Estamos cheios
de estelionatários e criminosos. Primar pela qualidade" (R4282).
"Iniciando profanos que desejam fazer maçonaria. Nomeando sindicantes capazes de não
omitir a verdade, ver se o profano preenche os requisitos da nossa Ordem, porque só assim
poderemos ter força e credibilidade e fazer com que o profano seja informado das despesas e
obrigações, para que depois não se decepcione. Enfim iniciar pessoas que se enquadram com
as normas de nossa Ordem" (R5496).
"Gostaria que a Maçonaria tivesse mais foco na orientação de seus membros no sentido da
importância de iniciação e voltasse a ser mais seletiva na escolha dos seus iniciados.
Atualmente a Instituição perde credibilidade pela falta de critérios na escolha de seus
membros. Sou da opinião que o que importa é a qualidade e não a quantidade" (R6122).
"Gostaria de vê-la mais seletiva, indicações com mais responsabilidade no que tange aos
candidatos a iniciação, instruídos, pois a maioria dos nossos Irmãos não tem o hábito da
leitura tanto da cultura maçônica como da cultura geral" (R7695).
O desejo dessa categoria para os próximos anos da Maçonaria parece ter sido influenciado
pelos problemas de intervisitação impostos pelo Grande Oriente do Brasil sobre os Grandes Orientes
confederados à COMAB nos últimos anos. Os irmãos que compõem essa categoria almejam que haja
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ampla intervisitação, creditam esses problemas à vaidade de alguns dirigentes, acreditam que a
Maçonaria brasileira deva se unir em prol de ações sociais em comum, o que mostra correlação com
a categoria “Atuação Social”, e defendem que a proliferação de obediências maçônicas irregulares
em solo brasileiro deve-se à falta de união entre as obediências regulares. Cabe também registrar a
opinião majoritária desse grupo quanto a vaidade de dirigentes, sendo que a vaidade é uma variável
que também se destacou em outras categorias: Filantropia, Formação Maçônica e Moralização.
“É visível o quanto as potências maçônicas no Brasil têm caminhado a passos curtos no que
diz respeito a atuações conjuntas e à tolerância mútua. Em alguns estados do Nordeste, por
exemplo, se veem Grão-mestres de diferentes potências que, por motivos fúteis, não se
toleram e terminam por criar empecilhos à aproximação das potências” (R1726).
“Integrada, em ações conjuntas, unida como "irmãos universais", embora cada um honrando
seus votos com sua Potência!” (R1621).
“Em primeiro lugar gostaria de vê-la unida e integrada na sua totalidade. É inadmissível ver IIr
que deveriam ser os primeiros a dar exemplos de humildade, preocuparem-se apenas com
seus cargos e sua pomposidade, não contribuindo em nada para o crescimento da Ordem”
(R3635).
“Mais unida e com menos vaidades, principalmente por parte daqueles que se acham
superiores aos demais, por ocuparem cargos de direção em potências maçônicas. Somos
todos Irmãos, Livres e Iguais, independente de que potência a nossa Loja pertença. Espero
sinceramente que o Homem não corrompa com sua vaidade tola uma das mais sublimes e
antigas Instituições que existe na Terra: A MAÇONARIA” (R5427).
“Gostaria de ver as obediências mais unidas. Menos ego e mais ações fraternas. As vezes
passa a impressão que um quer ser mais que o outro e isso deixa uma imagem um pouco
negativa da nossa fraternidade” (R5658).
“Uma Maçonaria mais fraterna, com menos vaidade pessoal, mais união entre as Potências e
também um maior esclarecimento para a sociedade do que é a verdadeira Maçonaria para
evitar a proliferação de impostores evitando assim que alguns grupos da sociedade nos olhe
como instituição do mal” (R6104).
“Gostaria de ver uma Maçonaria mais unida, com o ideal de irmandade forte entre os irmãos
de todas as Potências. Gostaria de ver os Grão Mestres menos preocupados e focados em
questões políticas de baixa relevância, e buscando a união e o desenvolvimento da Maçonaria
Universal. Gostaria de ver a Maçonaria voltar a ser Maçonaria” (R7270).
“A maçonaria brasileira, especialmente, deveria estar mais unida e não dividida por vaidades
de grão-mestres arrogantes. A base da maçonaria são as lojas e os irmãos dos graus 1, 2 e 3 e
não esses poderosos de alta patente que, em uma canetada, colocam lojas contra lojas e
irmãos contra irmãos. Espero mais sabedoria e fraternidade nos próximos anos...” (R7708).
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3.8.3. Correlações
A correlação indica a relação entre duas categorias, ela pode ser positiva (ou direta) e
negativa (ou inversa). Foi identificado os dois tipos de correlação nas categorias mapeadas. As
correlações positivas foram destacadas de azul, enquanto que as correlações negativas foram
destacadas de vermelho. Os espaços deixados em branco indicam que não se identificou correlação
significante.
Vê-se que as ideias da categoria de União são as únicas compartilhadas entre dois grupos
excludentes, tendo de um lado o de Ativismo Político (8,11%) e do outro os com correlação negativa
ao ativismo político (61,14%).
4. CONCLUSÕES
A partir deste ponto, são apresentadas as considerações finais sobre esta pesquisa e seus
principais resultados, bem como as contribuições práticas por eles proporcionadas.
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condenadas a privação da liberdade. São incontáveis tipos de organizações que qualquer homem
médio, com absoluta certeza, sabe conceituá-las. Então, quando pergunta-se a um maçom com anos
de Ordem o que é a Maçonaria e ele gagueja, tem-se aí um problema sério. E, ao perguntar para dois
maçons experientes o que é a Maçonaria, e se obtém duas respostas totalmente distintas, esse
problema mostra-se ainda pior.
Quando se tem membros que não sabem ao certo o que é a organização a que pertencem,
tem-se a organização em situação similar ade um barco à deriva, em que não há ventos favoráveis
simplesmente porque não se sabe para onde se quer ir. E qual o real tamanho desse problema?
Considerando que membros que não sabem ao certo o que é a maçonaria são os mesmos que
convidam, sindicam, escrutinam, iniciam e instruem novos membros na Ordem, esse problema é,
praticamente, do mesmo tamanho que a maçonaria brasileira: gigantesco. E em um ciclo vicioso.
A respeitada Coil’s Masonic Encyclopedia apresenta uma definição que colabora para uma
visão realista e, ao mesmo tempo, filosófica da Maçonaria:
Maçonaria, em seu sentido mais amplo e abrangente, é um sistema de moralidade
e ética social, e uma filosofia de vida, de caráter simples e fundamental,
incorporando um humanitarismo amplo e, embora tratando a vida como uma
experiência prática, subordina o material ao espiritual; é moral, mas não farisaica;
exige sanidade em vez de santidade; é tolerante, mas não indiferente; busca a
verdade, mas não define a verdade; incentiva seus adeptos a pensar, mas não diz
a eles o que pensar; que despreza a ignorância, mas não reprova o ignorante; que
promove a educação, mas não propõe nenhum currículo; ela abraça a liberdade
política e de dignidade do homem, mas não tem plataforma ou propaganda;
acredita na nobreza e utilidade da vida; é modesta e não militante; que é
moderada, universal, e liberal quanto a permitir que cada indivíduo forme e
expresse sua própria opinião, mesmo sobre o que a Maçonaria é, ou deveria ser, e
convida-o a melhorá-la, se puder (Coil’s Masonic Encyclopedia, COIL; BROWN,
1961, p. 159. GRIFO NOSSO).
Essa definição, assim como a primeira, citada como mais comum, apresenta a Maçonaria
como um sistema de ensino de moralidade. E quando se consulta outros autores renomados sobre o
mesmo assunto, frases muito similares se replicam. Christopher Hodapp, em sua famosa obra
Maçonaria para Leigos, afirma que a Maçonaria "é uma filosofia e um sistema de moralidade e ética
e é bem básica nisso" e ainda que ela "ensina lições de virtudes sociais e morais baseadas no
simbolismo das ferramentas e na linguagem do antigo ofício de construção".
Conforme Jay Kinney, em sua célebre obra O Mito Maçônico, a Grande Loja Unida da
Inglaterra declara que a Maçonaria é:
uma sociedade de homens preocupados com valores morais e espirituais. Seus
membros aprendem os seus preceitos através de uma série de peças rituais, as
quais seguem fórmulas antigas e usam costumes e ferramentas dos maçons como
guias alegóricos (UGLE apud KINNEY, 2010, p.24. GRIFO NOSSO).
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Assim, conforme esses conceitos e definições congruentes apresentados, pode-se afirmar
que a Maçonaria é, essencialmente,
Se não se sabe o que é, não se sabe o que realmente se deve fazer, o que pode tirar a
organização de seu correto caminho a todo e qualquer momento, distanciando-a de seus legítimos
objetivos e de sua própria razão de existir enquanto instituição.
Seguindo tal raciocínio, se um médico chegar no meio do hospital e começar a gritar que
todos os médicos e enfermeiros deveriam deixar de tratar dos pacientes e começar a pensar em uma
forma de tomar o poder no país, ele seria rapidamente conduzido à área psiquiátrica para exames.
No entanto, pelo que se pôde ver na análise de conteúdo, esse é um discurso repetido em várias
lojas maçônicas. E isso porque, sem se saber o que é e o que se deve realmente fazer, se está
propenso a seguir qualquer rumo que estiver em voga na mídia e noticiários do mundo profano. No
caso do Brasil atual, a percepção de corrupção generalizada e total perda de fé nas autoridades civis.
A Maçonaria, então, torna-se "multifuncional". Qualquer assunto que um irmão julga-se insatisfeito,
de meio ambiente ao trânsito, passando por eleições e leis, é elegível para se tornar um pseudo-
objetivo maçônico, ao introduzi-lo no amplo e flexível objetivo genérico de "fazer feliz a
humanidade". E o legítimo objetivo maçônico, de ensino de moralidade, de transformar bons
homens em melhores, vai sendo preterido, ignorado, esquecido entre as linhas dos rituais
modificados periodicamente por ritualistas que, muitas vezes, desconhecem o que é a Maçonaria.
Assim, somente a partir dessa premissa, da compreensão do que é a Maçonaria e sua real
missão, pode-se pautar informação, métodos e esforços para definir e alcançar seus objetivos
organizacionais de forma eficiente e, desse modo, cumprir com sua missão.
Mais da metade dos participantes está insatisfeita com os conflitos entre potências
maçônicas, e isso mesmo sendo a maioria filiada a Grandes Lojas da CMSB, que, de modo geral, não
foram afetadas pela proibição da intervisitação. Quase metade dos respondentes declarara-se
insatisfeita com as brigas internas em sua obediência ou loja, com os “donos de loja” e com os
“profanos de avental”. Esses quatro fatores são, pela percepção dos participantes, de ordem moral.
Sendo a Maçonaria uma “escola de moralidade”, tem-se aí um alerta vermelho.
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Ambos os aspectos, moral e administrativo, são internos e de competência e
responsabilidade das obediências e suas lojas. Deve-se buscar a correção ou maquiagem de tais
pontos, priorizando os de ordem moral, de forma a reduzir os níveis de insatisfação e o índice de
insatisfeitos.
Os resultados obtidos com esta pesquisa reforçam a teoria de duas grandes gerações
distintas no meio maçônico brasileiro, sendo a mais jovem, de até 46 anos de idade, de
aproximadamente 1/3 dos maçons brasileiros atuais. Essa geração foi educada por metodologias de
ensino pós freireanas e piagetianas (a partir de 1970), nas quais se incentiva o questionamento, o
exercício da antítese, o que parece ser, de certa forma, mal visto pela geração mais velha. A geração
mais jovem também apresenta características mais críticas, tem uma média maior de nível de
escolaridade e de hábito de leitura, e outras características que corroboram com os resultados
obtidos e apresentados no item 3.7 deste relatório, como, por exemplo, o incômodo com a falta de
conteúdo das reuniões, mais concentrado na geração mais jovem do que na mais velha.
Um dado que também reforça tal conflito está no mesmo item 3.7, no que tange à seleção de
membros. A geração mais velha é atualmente majoritária, mas é minoritária entre os novos
entrantes, como foi possível observar no item 3.4. Há entre essa geração uma preocupação
extremamente maior com uma melhor seleção de membros do que o observado na geração mais
jovem, atualmente minoritária, o que pode ser um indício da preocupação com o fim da hegemonia.
Entretanto, conflitos sempre existirão e não podem ser encarados como problemas a serem
evitados, mas a serem administrados. A gestão de conflitos é um campo que tem ganhado atenção
dos pesquisadores comportamentais ao longo dos últimos anos, havendo vasta informação e
treinamentos que podem auxiliar os gestores nesse sentido.
A análise de conteúdo (item 3.8) revelou que há 10 grupos com interesses distintos na
Maçonaria brasileira. Alguns desses grupos têm maioria jovem e outros de velhos. Alguns desses
interesses estão diretamente correlacionados, enquanto que outros estão negativamente
correlacionados. Há os que querem uma maçonaria mais exclusiva, fechada e preservada, enquanto
há outros que desejam uma maçonaria mais democrática, maior, aberta e moderna. Tem-se os
favoráveis ao ativismo político na Maçonaria e os totalmente contrários. Enquanto isso, todos da
base querem união, e uma melhor educação maçônica, assim como um pouco mais de ação social e
caridade agradam a quase todos.
Nesse sentido, sugere-se aos dirigentes das obediências focar nos interesses majoritários,
correlacionados e não-excludentes, ao mesmo tempo em que se busca o esclarecimento e
conscientização dos interesses que a obediência estrategicamente considerar incompatíveis.
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5. REFERÊNCIAS:
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, LDA, 2009.
BAUER, Martin W. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M. W. &GASKELL, G. (Orgs.).
Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002.
COIL, Henry Wilson; BROWN, William M. Coil’s Masonic Encyclopedia. New York: Ed. Macoy,1961.
HODAPP, Christopher. Maçonaria para Leigos. Tradução da 2a. edição. Rio de Janeiro, RJ: Alta Books,
2015.
ISMAIL, Kennyo. História da Maçonaria brasileira para adultos. Londrina: Editora Maçônica “A
Trolha” Ltda., 2017.
DE MORAIS, Cassiano Teixeira. Evasão Maçônica: causas e consequências. 1a. ed. Brasília: DMC,
2017.
PRESTON, William. Illustrations of Masonry. New York: Masonic Publishing and Manufacturing Co.,
1867.
ZELDIS, Leon. Illustrated by Symbols. New York, NY: Philalethes, The Journal of Masonic Research &
Letters, Vol. 64, n. 02, p. 72-73, 2011.
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